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ARTES VISUAIS

O ÊXTASE DE SANTA TERESA


Apresentação da pesquisa e análise sobre a obra “O Êxtase de Santa Teresa”,
feita por Gian Lorenzo Bernini, para avaliação e conclusão da disciplina de
História da Arte: Renascimento ao Pré-Impressionismo.

Larissa Lima de Almeida


Lorena Rodrigues de Oliveira
Marcella Nascimento Roseta

Bauru
2021
O CONTEXTO HISTÓRICO E O BARROCO

Em meados do século XVII, se inicia um momento histórico e cívico de novos ideais,


pontos de vistas e também rupturas com o passado do maneirismo tardio, ou seja, o início
para uma nova era, aliada aos ideais e aos interesses da Igreja Católica e redescobertas
a valores antigos – sendo elas, o teocentrismo medieval. E em evidência a relação ao
novo mundo. Colocando-se em pauta até mesmo a relação entre o antropocentrismo e
teocentrismo, onde, o homem encontra-se no centro do movimento, possuindo consigo a
divindade e dom de expressar. Enquanto, Deus se encontra no centro do universo.
O Barroco não esteve presente somente na Itália e no continente europeu, também
ocorreu na América Latina, sendo o primeiro manifesto literário no Brasil. Sendo assim, as
artes visuais, a arquitetura e a literatura possuem maior destaque e influência neste
período, consolidando as artes como atrativo, a qual, possui devida atenção a ser
contemplado, aprofundado, estudado e também interdisciplinar, presente em diversos
âmbitos e suas complexidades enquanto estilo de vida do período.

SOBRE O ARTISTA

Gian Lorenzo Bernini, nasceu em Nápoles, Itália, no dia 7 de dezembro de 1598. Filho do
escultor maneirista, Pietro Bernini (1562-1629), aprendeu a esculpir desde cedo no ateliê
do pai. Mudou-se para Roma com a família quando criança, pois seu pai iria realizar a
decoração da Capela Paulina da Basílica de Santa Maria Maggiore (na qual Lorenzo foi
sepultado quando morreu em 28 de novembro de 1680).

Foi em Roma que Gian se tornou escultor, arquiteto, urbanista, pintor e cenógrafo.
Rompeu com o maneirismo tardio e buscou um efeito de dramatismo cenográfico em suas
obras, sendo inaugurador do Barroco italiano, logo, um dos maiores escultores do século
XVII, considerado um Michelangelo contemporâneo para os historiadores. Isso tudo
porque as obras de Bernini eram excessivamente expressivas e eram feitas com um
realismo exacerbado, os personagens retratados tinham suas expressões faciais feitas
conforme suas emoções, estas davam vida às esculturas, que pareciam gritar, rir, chorar,
etc. Os corpos alongados sempre tinham traços de movimento, fosse no corpo, cabelo ou
vestimentas.
O primeiro artista a reconhecer Bernini foi Annibale Carracci, mas seus maiores
admiradores foram os Papas, já que suas obras expressivas eram de interesse nas
igrejas, para atrair os fiéis através da ideia de que a fé não precisava ser entendida e sim,
sentida. O primeiro Papa a o conhecer foi Paulo V, quando, aos 8 anos de idade, Gian
desenhou o busto de São Paulo para ele. O cardeal Barberini, Papa Urbano VIII, foi seu
maior entusiasta, tendo nomeado Gian Lorenzo como um dos arquitetos da Basílica de
São Pedro, onde fez suas mais grandiosas obras, como o Baldaquino de São Pedro e a
Colunata que rodeia o exterior da basílica, esta, feita a pedido do Papa Alexandre VII.
Porém, com o passar do tempo, a basílica começou a apresentar rachaduras e frestas,
principalmente nos campanários, pois o frágil solo do Vaticano não estava suportando o
peso, e, depois de 9 meses, o Papa morreu e o sucessor decidiu rever a estrutura da
basílica e o contrato de Bernini como arquiteto.

Ao ver a qualidade da sua arte ser questionada, Gian decidiu se auto-exilar, pois era um
homem sensível e se sentiu humilhado ao ver parte de suas obras serem destruidas. Mas
durante esse exílio, surgiu uma proposta vinda de dois irmãos que encomendaram uma
escultura (O Êxtase de Santa Teresa) e nela, Bernini viu uma oportunidade de redenção.

A INSPIRAÇÃO DE BERNINI

A pedido dos irmãos Cornaro, Bernini cria O Êxtase de Santa Teresa (1647–1652), uma
das obras mais notáveis do Barroco, se localiza na Capela Cornaro, à esquerda do altar-
mor da Igreja de Santa Maria Della Vitoria, Roma.
Assim como todas as obras do escultor possui uma riqueza de detalhes delicados que
compõe toda a teatralidade do período.
A escultura retrata Santa Teresa d Ávila, beata canonizada que mais tarde - após sua
morte - veio a se tornar Doutora mulher da Igreja.
A cena é inspirada em um relato de seu diária descrevendo a sensação que uma de suas
orações lhe proporcionou:

"Muito perto de mim [...] um anjo se manifestou em forma humana [...] não era alto [...],
porém muito belo com um rosto tão flamejante que se assemelhava a um daqueles anjos
superiores que parecem arder em chamas [...]. Em suas mãos vi uma grande lança de
ouro, em, cuja ponta de ferro, parecia haver um ponto de fogo.
Tive a sensação de que ele a cravou em meu coração várias vezes, fazendo-a penetrar
até minhas entranhas. Quando a retirou, foi como se as tivesse retirado também
deixando-me totalmente inflamada com um grande amor por Deus.

A dor foi tão forte, que me fez gemer diversas vezes. A doçura dessa dor é tão extrema
que não há como querer que termine, e a alma não se satisfaz com nada menos que
Deus. A dor não é física, mas espiritual, embora o corpo tenha participação nisso – na
verdade, uma grande participação."

A escultura de mármore e bronze, de 11,6 x 3,6 m, é marcada pela linguagem escultórica


e arquitetônica. Esculpida de maneira que os corpos estão posicionados
estrategicamente, para que um pareça estar descendo (querubim) e o outro subindo
(Santa Teresa), marcando esse ponto de encontro que é descrito por ela.
A variação na maneira como cada peça da escultura foi posicionada, permite que quem a
olhe consiga perceber as diferenças entre os detalhes que compõem a obra.
A base da escultura foi feita para representar nuvens, as curvas e contra-curvas dão ao
mármore rígido a aparência leve e "fofa", criando a ilusão de que está flutuando. Servindo
de apoio para o corpo já desfalecido da Santa, que repousa tranquilamente aguardando
sua elevação, suas vestes onduladas não definem seu corpo, ao invés disso parecem
estar somente abraçando-a, se mesclando a nuvem; o posicionamento da mão e da perna
esquerda, decaídos ao ar, sugerem a entrega e o deleile que a experiência lhe proporcina
. A expressividade mais marcante seria a do seu rosto, que não é exagerado em detalhes,
ele é gracioso e contrasta com o drama e expressividade de seus lábios e olhar. Sendo o
primeiro entre abertos como se estivesse gemendo de dor e prazer, e o segundo
direcionados para o alto, vislumbram em deleite algo além do que se pode ver.
Acima, ao lado direito da Santa, está a figura alada, com o braço direito levantando
suavente uma flecha, apontando em direção ao peito de Santa Teresa, enquanto com a
outra mão puxa levante suas vestes para dar abertura ao local que deseja atingir; sua
face é jovial e remete a inocência, porém, seu sorriso levemente enigmático sugere que
sente apreciação pelo que está prestes a fazer.
Entre os dois, no topo da escultura, foi posta uma estrutura em bronze em forma de raios
representando o Sol e Deus.
A riqueza dos detalhes utilizados para compor a obra se evidenciam ainda mais por
receber a iluminação de uma fonte de luz que fica aparentemente desconhecida - uma
janela na parte superior da capela - que formam sombras sob os relevos criados na
escultura e ao refletir na estrutura em bronze a faz brilhar, revelando a exuberância da
criação de Bernini.
É possível afirmar que Bernini não se baseou somente nesse trecho, visto que toda a
composição da obra demonstra uma intimidade com a forma como Santa Teresa se
relacionava com Deus.

QUEM FOI SANTA TERESA?

Teresa Sánchez de Cepeda y Ahumada, também chamada de Santa Teresa d'Ávila,


nasceu dia 28 de março de 1515, na cidade de Ávila, na Espanha.

Pertencente de uma família rica de comerciantes de tecidos nobres, desde criança


demonstrava um grande interesse pelas leituras e pelas escritas, e, principalmente, nos
misticismos presentes nos mártires de santos. Brincava com outras crianças de eremita e
de ser freira, rezando e fazendo penitências.
Durante sua adolescência se perdeu por um tempo às futilidades e travessuras; chegou a
ter um namoro com um primo, relação essa que a fez se desvirtuar, esse fato a levou a se
inclinar mais para Deus e seus ensinamentos, como descreve no fim do item três do cap.
II do Livro da Vida:

“A verdade é que essa amizade me transformou a tal ponto que quase nada restou da
minha inclinação natural para a virtude; e me parece que ela e outra moça, que gostava
do mesmo tipo de passatempo, imprimiam em mim seus hábitos. Isso me faz entender o
enorme proveito que vem da boa companhia, e estou certa de que, se naquela idade
tivesse tido contato com pessoas virtuosas, a minha virtude teria se mantido intacta;
porque, se tivesse tido, nessa idade, pessoas que me ensinas sem a temer a Deus, a
minha alma teria se fortalecido contra a queda. Tendo perdido esse temor de Deus, ficou-
me apenas o de perder a honra, o que, em tudo o que eu fazia, me trazia aflição.
Pensando que não se teria como descobrir, atrevi-me a fazer coisas contra a honra e
contra Deus. Foram essas coisas que, em princípio, me fizeram mal, e creio que a culpa
não devia ser dessa parenta, mas minha, visto que já bastava minha própria inclinação
para o mal.”

Aos 19 anos, entrou para a ordem das Carmelitas, uma opção para a fuga do casamento,
condição que fora imposta por seu pai. Presupunha que sem a submissões que o
casamento tinha, seria mais livre.
É importante ressaltar que Teresa foi uma mulher que, da adolescência até o final de sua
vida, enfrentou sérios problemas de saúde, sendo estes especialmente graves entre os 18
e os 25 anos, como também agudas crises existenciais. Possuía questionamentos que
confundiam até mesmo os teólogos da época e, por diversas vezes, suas perguntas
acabavam sem resposta ou com uma que não a satisfazia. Entretanto, sua relação e fé
em Cristo se fortificava e cada vez mais ela se apegava aos seus ensinamentos e
buscava forças para não se entregar às tentações da vida.
A base de suas cresça e reflexões, relatadas em seus ensinamentos e escritos, tinham
grande influência do misticismo, principalmente do misticismo espanhol, Gutiérrez, em
seu artigo A Filosofia Mística de Teresa de Ávila, cita:

"A filosofia mística espanhola é o resultado duma fusão do neoplatonismo com o


cristianismo, sem caráter reflexivo, mas se nutrindo do sentimento e deixando-
se levar pela intuição".

E, após uma crise em sua saúde que a levou a um desmaio profundo, foi considerada
morta pelas outras irmãs. Contudo, durante seu velório, despertou, chocando os
presentes, a partir deste acontecimento, suas orações se tornaram experiências muito
mais intensas, a elevando a outros estados. Experiências essas que relata em seus
escritos.
O fato de Teresa habitar um corpo doente a fazia viver entre dois mundos, por um lado
ela apreciava a beleza e a divina existência, e, por outro - quando se via em sofrimento -
ela desejava estar naquele em que não existiam essas dores.
A relação de Teresa com Deus é intensa e lhe dá esperança para continuar até o dia em
que a morte do corpo físico libertária seus espírito e a levaria aos "jardins", como ela cita,
onde, finalmente, poderia descansar nos braços de seu amado Esposo - Deus, ela não o
via apenas o Cristo - Deus, mas o também o Cristo - homem. Ela o via dessa forma, pois
acreditava que não existia nenhum homem tão perfeito quanto Deus.
Esse almejar da liberdade de seu corpo físico é possível ser percebido na escultura de
Bernini, pelo olhar de Santa Teresa em direção a um infinito, a visualização da eternidade
da continuação da sua vida.

Santa Teresa faleceu em Teresa faleceu em Alba de Tomas em 4 de outubro de 1582, aos
67 anos. Na autópsia de seu corpo foi identificado uma longa cicatriz de um corte
profundo no coração, que encontra-se em um relicário na Igreja das Carmelitas, em Alba.
REFERÊNCIAS

IMBROISI, Margaret; MARTINS, Simone. O Êxtase de Santa Teresa, Gianlorenzo Bernini.


História das Artes, 2021. Disponível em: < http://www.historiadasartes.com/sala-dos-
professores/extase-de-santa-teresa/ >. Acesso em: 17 Fev. 2021.

FEITOSA DE AMORIN JÚNIOR, Elias. Gian Lorenzo Bernini. InfoEscola. Disponível em: <
https://www.infoescola.com/biografias/gian-lorenzo-bernini/ >. Acesso em: 17 Fev. 2021.

DIANA, Daniela. Gian Lorenzo Bernini. Toda Matéria. Disponível em: <
https://www.todamateria.com.br/gian-lorenzo-bernini/ >. Acesso em: 17 Fev. 2021.

Revista Eletrônica Multidisciplinar Pindorama do Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia da Bahia – IFBA. Nº 01 – Ano I. Agosto/2010

LIMA DA SILVA, Fracisco Gleydson; ALMIR VALENTE COSTA FILHO, José; VIANA
SILVA, Lucas. O êxtase da Santa Teresa: entre o sagrado e o profano. Revista Eletrônica
Multidisciplinar Pindorama do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da
Bahia – IFBA. N° 01 – Ano I. Agosto/2010.

RODRÍGUEZ GUTIÉRREZ, Jorge Luis. A Filosofia Mística de Teresa de Ávila. Revista


Caminhando. Vol. 8, n.1 [11], 2003.

KUESTER, Sandra. A Exuberância do Barroco: O Latente Êxtase de Santa Teresa. IV


Encontro Nacional de Estudos da Imagem | Encontro Internacional de Estudos da
Imagem. 7 a 10 de maio de 2013

Coleção Objetivo, Fichas-Resumo. Editora CERED – Centro de Recursos Educacionais


Ltda.- São Paulo – SP.

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