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Uma série de brochuras sobre cooperação para o desenvolvimento, acompanhada de materiais de apoio,

produzida para a Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável
A sustentabilidade tem muitas faces

Uma Grande Pegada num Pequeno Planeta?
Contabilidade através da Pegada Ecológica
Ter sucesso num mundo com crescente limitação de recursos
As seguintes brochuras foram publicadas na série “A sustentabilidade tem muitas faces”:

1 O Desenvolvimento precisa da Diversidade 7 Quem Protege o Quê para Quem?


Pessoas, recursos naturais e cooperação inter- Participação e governança para o desenvolvi-
nacional. Contributos dos países do sul. mento e a conservação da natureza. Contributos
Editores: Stefanie Eißing e Dra. Thora Amend da Região Amazónica Brasileira.
Idiomas: Alemão, Inglês, Francês, Espanhol Editores: Dra. Thora Amend, Dr. Stephan Amend,
Dr. Elke Mannigel e Stefanie Eißing
2 Conservação da Natureza é divertido Idioma: Alemão
Gestão de áreas protegidas e comunicação
ambiental. Contributos do Panamá. 8 Natureza e Humanidade enfrentam Alterações
Editores: Dra. Thora Amend e Stefanie Eißing Climáticas
Idiomas: Alemão, Espanhol, Mongol Um planeta com muitas pessoas – qual é
o futuro? Contributos de todo o mundo e do
3 Usá-la ou Perdê-la Acampamento Internacional da Selva. Segunda
Caça turística e criação de jogos para a con- edição revista.
servação e desenvolvimento. Contributos do Editores: Barbara Kus, Britta Heine, Andrea
Benim. Fleischhauer e Judith Jabs
Editores: Monika Dittrich e Stefanie Eißing Idiomas: Alemão, Inglês
Idiomas: Alemão, Francês
9 Energia é Vida
4 Direitos à Terra são Direitos Humanos O desenvolvimento sustentável e redução da
Estratégias ganho-ganho para a conservação pobreza precisam de energia. Contributos da
sustentável da natureza. Contributos da África Bolívia.
do Sul. Editores: Jörn Breiholz, Michael Netzhammer e
Editores: Dra. Thora Amend, Petra Ruth, Stefa- Lisa Feldmann
nie Eißing e Dr. Stephan Amend Idioma: Alemão
Idiomas: Alemão, Inglês
10 Uma Grande Pegada num Pequeno Planeta?
5 Fogões de Cozinha inovadores e Espíritos Antigos Contabilidade através da Pegada Ecológica. Ter
Conservação da natureza e interface entre sucesso num mundo com crescente limitação
eficiência energética e costumes tradicionais. de recursos.
Contributos de Madagáscar. Editores: Dra. Thora Amend, Bree Barbeau, Bert
Editores: Andrea Fleischhauer, Dra. Thora Beyers, Susan Burns, Stefanie Eißing, Andrea
Amend e Stefanie Eißing Fleischhauer, Barbara Kus-Friedrich e Pati
Idiomas: Alemão, Francês Poblete
Idiomas: Alemão, Inglês, Francês, Espanhol,
6 Direitos de Utilização para Pastores e Pescadores Português
Acordos com base em leis tradicionais e
modernas. Contributos da Mauritânia. 11 Deuses da Montanha e Arroz Selvagem
Editores: Karl P. Kirsch-Jung e Prof. Dr. Win- Agro-biodiversidade como base de subsistência.
fried von Urff Contributos da China.
Idiomas: Alemão, Inglês Editores: Jörn Breiholz, Tanja Plötz e Dra. Thora
Amend
Idiomas: Alemão, Inglês, Chinês

B
Uma Grande Pegada num Pequeno Planeta?
Contabilidade através da Pegada Ecológica
Ter sucesso num mundo com crescente limitação de recursos

Editores:
Dra. Thora Amend
Bree Barbeau
Bert Beyers
Susan Burns
Stefanie Eißing
Andrea Fleischhauer
Barbara Kus-Friedrich
Pati Poblete

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Informações sobre a Publicação

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Informação bibliográfica publicada pela Deutsche Título original em Alemão


Bibliothek Beyers, Bert; Kus, Barbara; Amend, Thora & Andrea
A Deutsche Nationalbibliothek lista esta publicação Fleischhauer (2010): Großer Fuß auf kleiner Erde?
na Deutsche Nationalbibliografie; dados bibliográ- Bilanzieren mit dem Ecological Footprint – Anre-
ficos detalhados estão disponíveis na internet em gungen für eine Welt begrenzter Ressourcen. In:
www.d-nb.de/eng Nachhaltigkeit hat viele Gesichter, Nr. 10. Deutsche
Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit
Citação (GIZ) GmbH, Eschborn.
Amend, Thora; Barbeau, Bree; Beyers, Bert;
Burns, Susan; Eißing, Stefanie; Fleischhauer, A presente publicação foi originalmente elaborada
Andrea; Kus-Friedrich, Barbara & Pati Poblete para o contexto alemão. Na tradução para inglês
(2010): Uma Grande Pegada num Pequeno Planeta? e em colaboração com Global Footprint Network ,
Contabilidade através da Pegada Ecológica. Ter alguns aspectos foram modificados, de modo a
sucesso num mundo com crescente limitação de “internacionalizar” o texto. Foi esta versão em
recursos. Em: A sustentabilidade tem muitas faces, inglês que serviu de base ao texto em português.
N.º 10. Deutsche Gesellschaft für Internationale Tradução: CESTRAS/Portugal, www.cestras.org
Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, Eschborn. Revisão e adaptação: Global Footprint Network
Publicado em: 2011 Assistência técnica: Barbara Kus-Friedrich

Contacto no Ministério Federal da Cooperação


Econômica e do Desenvolvimento: Dagmar Krenz,
Departamento Meio Ambiente e Uso Sustentável dos
Recursos Naturais. Informação técnica: equipa Global
Publicado por Footprint Network e Sede Principal da GIZ , projectos:
Deutsche Gesellschaft für Internationale “Implementação da Convenção sobre Diversidade
Zusammenarbeit (GIZ) GmbH Biológica” e Rioplus . As colaborações externas não
Dag-Hammarskjöld-Weg 1-5 representam necessariamente a opinião do editor.
65760 Eschborn, Alemanha
Telefone: +49 61 96 79-0/1317 Internet
Fax: +49 61 96 79-1115/6554 www.giz.de/en
E-mail: info@giz.de/rolf.mack@giz.de www.conservation-development.net
(estão disponíveis descarregamentos de todas as
Desde 1º de janeiro de 2011, a Deutsche Gesell­ brochuras da série)
schaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) www.footprintnetwork.org
GmbH concentra, sob um mesmo teto, a competên- www.wildniscamp.de
cia e a experiência de longa data do DED, da GTZ e www.go4biodiv.org
da InWEnt . www.wwf.org/www.panda.org

2
A sustentabilidade tem muitas faces Esta brochura é um contributo para
Editores da série: Dra. Thora Amend & Stefanie Eißing a Década das Nações Unidas para
Responsável na Sede Principal da GIZ: Dr. Rolf Mack a Educação para o Desenvolvimento
Gráficos e página web: kunse.com Sustentável (2005 – 2014). A bro-
Editor DVD: www.bunter-hund.eu chura apoia os objectivos do Plano
© GIZ, 2011. Todos os direitos reservados. A repro- de Acção Nacional para a Alemanha
dução para fins não-comerciais é permitida, desde e contribui para uma rede global de
que a fonte seja citada; por favor envie uma cópia agentes, com o propósito de alcançar
de toda e qualquer reprodução feita para: GIZ, A/C o objectivo integrado da Educação
Dr. Rolf Mack, Postfach 5180, D-65726 Eschborn, para o Desenvolvimento Sustentável.
Alemanha.
Pedidos a: i-Punkt@giz.de

Crédito de Imagens
Folha de rosto: NASA/cortesia de www.nasaimages.org, M. Schulte/DBU-arquivo; p. 10: Barbara Kus-
Friedrich; p. 11: NASA/cortesia de www.nasaimages.org; p. 12: Christina Frank; p. 13: Natascha Wagner;
p. 14: Barbara Kus-Friedrich; p. 17: Bert Beyers; p. 18, em baixo, à esquerda: Jaroslaw Zdziarski;
p. 18, em baixo, à direita: Urs Schweizer; p. 20: fotografias do filme Footprint – große Ansprüche an
einen kleinen Planeten; p. 22 e p. 25, em baixo, à esquerda: Barbara Kus-Friedrich; p. 25, em baixo, à
direita, e p. 28: Guenay Ulutunçok; p. 29: Thora Amend; p. 30: Gerhard Kunsemüller; p. 32: Thora Amend;
p. 33: Guenay Ulutunçok; p. 34: Barbara Kus-Friedrich; p. 36: Monika Shikongo; p. 38: Lisa Amend, NASA/
cortesia de www.nasaimages.org; p. 42: Barbara Kus-Friedrich; p. 43: Thora Amend; p. 44: BioRegional;
p. 46: Foster + Partners; p. 51: © Kurt Michel/PIXELIO, www.pixelio.de; p. 55: Guenay Ulutunçok;
p. 58: Barbara Kus-Friedrich; p. 59: Guenay Ulutunçok; p. 61: Suhel al-Janabi; p. 63: Michael Collopy;
p. 68: Lukas Laux; p. 69, 70: Thora Amend; p. 74: Felix Sommer; p. 75: GIZ/Global Footprint Network ;
p. 76: Natascha Wagner; p. 77: Christina Frank; p. 78, em cima e em baixo: Natascha Wagner; p. 78, em
cima, ao centro: Birgit Heraeus; p. 78, em baixo, ao centro: Christina Frank; p. 80, em cima: M. Schulte/
DBU-arquivo; p. 80, em baixo, à direita: fotografia do filme Samauma‘s Call ; p. 81, em cima: Christina
Frank; p. 81, ao centro, p. 81, em baixo, e p. 82, em cima: GIZ/Kornelia Danetzki; p. 82, em baixo: Gabriel
Zeballos Castellón; p. 83, em baixo, à esquerda: GIZ/Kornelia Danetzki; p. 83, em baixo, à direita: Eva
Axthelm; p. 84: Tatjana Puschkarsky; p. 85: Verena Treber; p. 86 e p. 87: Christina Frank; p. 89: Achim
Klein/Nationalparkverwaltung Bayerischer Wald; p. 90: Natascha Wagner; p. 92: Gabriel Zeballos Castellón;
p. 94: Xiaoji Chen; p. 95: Natascha Wagner; p. 96: Barbara Kus-Friedrich; p. 97, à esquerda: Ruth Carolina
Caniullan Huaiquil; p. 97, à direita: Stefanie Eißing; p. 98: Birte Pedersen; p. 99: Elsa Leticia Esquer Ovalle;
p. 100: Richard Knodt; p. 101: GIZ Mauretanien/ProGRN; p. 102, ao centro: Natascha Wagner; p. 102, em
baixo: Reagan Chunga; p. 103: Michael Laux; p. 104: Lukas Laux; p. 105: Thora Amend; p. 106: © Michael
Graf/PIXELIO, www.pixelio.de; p. 107: Thora Amend; p. 108: David Akast, www.reallyenglish.com;
p. 109: Beatrix Kneemeyer; p. 111: © Bernd Sterzl/PIXELIO, www.pixelio.de; p. 113: Barbara Kus-Friedrich;
p. 114: ErShan Chen; p. 115: Jörn Breiholz.

3
Os nossos sinceros agradecimentos a:
• a equipa de Global Footprint Network , que Puschkarsky e Verena Treber, que partilharam
foram muito empenhados e disponibilizaram as suas impressões sobre a Cimeira da Juven-
uma grande ajuda com os seus conselhos e tude; a Christina Frank e Natascha Wagner, que
assistência durante a escrita do texto e reco- captaram essas impressões fotograficamente;
lha de material, especialmente o Dr. Mathis e para todos os participantes que relataram
Wackernagel, William Coleman, Anna Oursler, as suas experiências com a Pegada para esta
Nicole Freeman e Martin Kärcher; brochura;
• Ingrid Prem, coordenadora do Projeto “Proteção • a Fundação Bertha Heraeus e Kathinka Platz­
da Mata Atlântica II” da GIZ Brasil pelo seu hoff, que apoiou o desenvolvimento de materiais
contributo financeiro para a produccão da ver- didácticos sobre a Pegada no Acampamento
são portuguesa desta brochura; Internacional da Selva;
• os nossos colegas do Nationalpark Bayeri­ • a Deutsche Bundesstiftung Umwelt DBU, que
scher Wald, que forneceram apoio financeiro nos forneceu gravações do painel principal da
para a elaboração da brochura e ideias para a COP 9, em Bona;
implementação e aplicação da Pegada na área • Guenay Ulutunçok e todos os nomeados nos cré-
educacional: Lukas Laux, Achim Klein, Thomas ditos de fotografias para o material fotográfico,
Michler, Mónica Hinojosa, Tobias Hahner, Sabine que é tão essencial para esta série de brochuras;
Fischer e a equipa de WaldZeit; • todos os membros da equipa da GIZ , na Sede
• Duncan Pollard da WWF Internacional, Günter Principal e no exterior, especialmente Susanne
Mitlacher da WWF na Alemanha, Wolfgang Willner e Sabine Preuß (Rioplus), Dr. Konrad
Pekny da Plattform Footprint austríaca, Peter Uebelhör, Dr. Rolf-Peter Mack, Barbara Las-
Miehle do Serviço Estatal Bávaro para o Meio sen, Anja Nießen e Alina Maj Kraus (Biodiv),
Ambiente, Christoph Klebel e Christine Bund­ Christiane Weber e Sabine Tonscheidt (AgenZ),
schuh da Universidade de Augsburgo, Markus Dr. Joachim Esser e Dr. Helmut Dotzauer (GIZ
E. Langer do Forum Umweltbildung , uma Vietname), pelas suas discussões compro-
iniciativa do Ministério Federal Austríaco da metidas, apoio organizacional e financeiro, e
Agricultura, Florestas, Meio Ambiente e dos Barbara Schichler e sua equipa na Mongólia,
Recursos Hídricos e do Ministério Federal Aus- que connosco testou entusiasticamente o uso
tríaco para a Educação, Artes e Cultura, que da Pegada nas suas actividades de ensino e,
nos forneceu filmes, materiais gráficos e de finalmente,
texto; • dois importantes assistentes na equipa edito-
• os participantes na Cimeira Internacional da rial: Judith Jabs, pela sua revisão do texto e
Juventude Go 4 Biodiv, que, com a sua dedi- as suas ideias para as sugestões para traba-
cação e o seu entusiasmo, se tornaram ver- lhos futuros, e Thomas Kretzschmar, pelo seu
dadeiros embaixadores da Pegada nos seus apoio na coordenação técnica e da concepção
países. Um especial agradecimento a Tatjana de gráficos.

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Índice

1 Introdução, visão geral, estrutura 10

2 Contabilidade Ecológica 14
Quanta natureza isso custa? 14
Contabilidade ecológica: Quanta natureza nós temos? Quanta natureza nós usamos? 16
Como surgiu o conceito de Pegada 16
O método científico 19
Como calcular a oferta e a procura 19
Tipos de terra usados na contabilidade da Pegada Ecológica 21
O papel que o CO2 desempenha 22
Como é medida a Pegada 23
Como pode ocorrer o “Excesso” 24
O que pode a Pegada fazer – e o que não pode 28
Como estão associadas a Pegada e a diversidade biológica? 32
Contabilidade de Pegada sub-nacional: indivíduos, cidades e empresas 39
A Pegada Ecológica pessoal 39
Contabilidade ecológica em cidades e povoações 42
A Pegada na economia: empresas e produtos 46
A condição do nosso planeta 49
“Prosperidade” nos países com altos rendimentos 51
Uma explosão económica em países com rendimentos médios 55
O fosso crescente entre ricos e pobres 56
A biocapacidade incorporada no comércio 58
O mundo ideal não é um mundo da Pegada – uma entrevista com Mathis Wackernagel 63

3 A Pegada e a cooperação para o desenvolvimento 68


Um dia de trabalho no estrangeiro 68
Oportunidades de aplicação para a Pegada 70
Desenvolvimento para quem? 71

4 O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável 74


Um mundo que trabalha para pessoas e natureza 74
Unity in Diversity: a Cimeira Internacional da Juventude Go 4 BioDiv 76
A “Semana da Pegada” no Acampamento Internacional da Selva 87
Uma selecção de material educativo e iniciativas 91

5 Perspectiva 92

6 Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos 94


America Latina (Brasil, Chile, Ecuador, México) 96
África (Madagáscar, Mauritânia, Namíbia) 100
Ásia (Japão, Mongólia, Vietname, Rússia) 103
Os Estados Unidos da América 107
Alemanha e China: uma comparação de Pegada 108

7 Apêndice 120
Terminologia específica da Pegada 120
Glossário 125
Abreviaturas 127
Ligações & Literatura 128
Conteúdos do DVD 135

5
6
Prefácio para a série

As consideráveis desigualdades entre ricos e desenvolvimento. Desta forma, a cooperação para


pobres, a consciência da natureza finita dos recur- o desenvolvimento está a tornar-se menos numa
sos naturais e a crescente ameaça às bases ecoló- questão de procurar soluções técnicas directas, e
gicas do desenvolvimento económico e social da mais numa questão de fornecer apoio e orientação
humanidade, levaram os líderes políticos de 178 a pessoas e organizações, e de dar-lhes capacidade
países, em 1992, a desenvolver um novo conjunto para gerirem difíceis processos de transformação
de soluções. Na Conferência das Nações Unidas económica e social.
sobre Ambiente e Desenvolvimento (CNUAD), Os jovens costumam ter um elevado sentido de
no Rio de Janeiro, os líderes mundiais assinaram justiça e estão empenhados em compreender como
três tratados – a Convenção-Quadro das Nações as nossas acções aqui na Alemanha se relacionam
Unidas sobre Alterações Climáticas (CQNUAC), com o que sucede noutras partes do mundo. Eles
a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) e procuram, activamente, soluções fundamentais
a Convenção de Combate à Desertificação (CCD) e de longo prazo. As Nações Unidas sublinha-
– as perseguem um objectivo comum: o desenvol- ram a enorme importância da educação para um
vimento humano sustentado. As três convenções desenvolvimento global pacífico e equitativo, e
têm um estatuto idêntico em termos de relevância declararam os anos entre 2005 e 2014 como a
para a preservação dos nossos sistemas naturais de “Década da Educação para o Desenvolvimento
suporte de vida, para a redução da pobreza e para Sustentável”. A série de brochuras “A sustentabili-
conseguir maior justiça global. dade tem muitas faces” é um contributo para esta
Em 2000, as Nações Unidas adoptaram os Objec- Década e é, portanto, principalmente dirigida a
tivos de Desenvolvimento do Milénio, através professores e divulgadores que trabalham fora das
dos quais se comprometem a reduzir a metade a escolas, na área da educação ambiental e para o
pobreza global, a melhorar protecção do ambiente desenvolvimento. Esta série mostra como as pesso-
e a atingir um desenvolvimento equitativo dentro as em países com os quais estamos, talvez, menos
de 15 anos. No âmbito da Agenda 2015, também familiarizados, estão a encontrar formas de melho-
a Alemanha definiu os termos da sua contribui- rar as suas condições de vida, ao menos tempo que
ção para apoio aos esforços, por parte dos países desenvolvem uma relação mais sustentável com
em desenvolvimento, para atingir os Objectivos o seu ambiente natural. As “faces” da sustentabi-
de Desenvolvimento do Milénio. A protecção do lidade que são aqui retratadas são tão diversas e
ambiente e a preservação dos recursos naturais criativas quanto as pessoas por detrás delas. Elas
são elementos essenciais neste contexto. Apenas encorajam-nos a desafiarmos as nossas perspectivas
conseguiremos alcançar melhorias sustentáveis na e a tentarmos novas abordagens. Enquanto parte
condições de vida de toda a população mundial se de um processo global de aprendizagem, podemos
conservarmos estes recursos. Os países em desen- responder às suas ideias e iniciativas, fazendo inci-
volvimento são atingidos de forma particularmen- dir uma nova luz sobre nós mesmos e sobre as nos-
te severa pelos impactos das alterações climáticas sas acções, e redobrando a nossa concentração nos
e a crescente sobre-exploração e destruição dos desafios futuros. Desta forma, a sustentabilidade
recursos naturais e da biodiversidade. Portanto, o converte-se numa experiência educativa.
Governo Alemão alargou substancialmente, nos
últimos anos, os seus programas de desenvolvi-
mento relacionados com o clima e a sua contribui-
ção para a protecção da diversidade biológica. Ao
mesmo tempo, as estratégias de desenvolvimento
sustentável que integram elementos ambientais e
climáticos têm subido na agenda política de forma
constante. O Ministério Federal da Cooperação Heiko Warnken
Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) está a Chefe do Departamento 316: Meio Ambiente
aumentar a prioridade das suas actividades para e Uso Sustentável dos Recursos Naturais
Ministério Federal da Cooperação Econômica
protecção do clima, do ambiente e dos recursos e do Desenvolvimento (BMZ)
naturais, enquanto sectores-chave da política de

7
8
Prefácio para a brochura da Pegada

Onde quer que vivamos, quer seja numa aldeia, Os dados de Pegada fornecem indicadores valiosos
ou no meio de uma cidade, o fornecimento de para a governação de um país ou comunidade:
alimentação, vestuário, energia e materiais de Como devem ser a intervenção e as prioridades
construção para casas e escolas – em suma, toda a de investimento definidas de modo a inverter as
nossa vida – depende da sustentação que os ecos- tendências ameaçadoras? O que significa a procura
sistemas da Terra nos fornecem. A Pegada Ecoló- de recursos e capital natural para a estabilidade de
gica é uma forma de medir este capital natural. um país e sua capacidade de fornecer bem-estar
Dados da Pegada Ecológica mostram que estamos para a sua população?
a consumir os serviços da natureza (para produ- Cada vez mais organizações e instituições estão
zir recursos e assimilar as emissões de dióxido a usar a Pegada como um indicador em sistemas
de carbono) a uma taxa consideravelmente mais de comunicação – desde o Secretariado da Con-
rápida do que a natureza pode produzir de forma venção sobre Diversidade Biológica (SCBD), a
sustentável. diversas instituições da ONU, a UE, e Suíça até
Os dados da Pegada também tornam as diferenças ao Estado Federal da Baviera. A capacidade da fer-
globais mais claras e mais tangíveis. Se comparar- ramenta para reduzir a complexidade torna a sua
mos a Pegada Ecológica de um residente médio da aplicação na colaboração global muito útil e, em
Alemanha, por exemplo, com a de um residente última análise, necessária.
médio de Madagáscar, que usa um quinto dos Os participantes na Cimeira Internacional da
recursos, isto levanta muitas questões. Como dife- Juventude Go 4 Biodiv foram directos ao ponto
rem os estilos de vida nesses países? O que dizem na sua Declaração: “Temos apenas este plane-
sobre a economia global, quando temos estas dispa- ta”. A humanidade deve adaptar o seu consumo
ridades? Mas também, muito simplesmente, como de recursos ao que a Terra pode fornecer. Caso
queremos viver? O que é importante para nós? contrário, estamos a minar o potencial para o
A Pegada Ecológica constitui um quadro orienta- nosso próprio bem-estar, bem como das gerações
dor para o desenvolvimento sustentável, uma vez futuras.
que a disponibilidade de recursos naturais está a
tornar-se cada vez mais num factor decisivo para
o sucesso económico. Assim, Global Footprint
Network, que tem trabalhado para promover o uso
da Pegada Ecológica a todos os níveis de tomada
de decisão, está empenhada em aumentar o uso da
Dr. Stephan Paulus
ferramenta na cooperação para o desenvolvimento.
Director “Meio Ambiente e Alterações Climáticas”, Deutsche
A Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusam­ Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH
menarbeit (GIZ) já utiliza intensamente a Pegada
no campo da Educação para o Desenvolvimento
Sustentável. No Acampamento Internacional da
Selva no Falkenstein, um projecto de colaboração
entre o Nationalpark Bayerischer Wald, GIZ e
outras organizações, tornou-se um complemen-
to do programa educacional. Uma das muitas Karl-Friedrich Sinner
características originais do acampamento é a sua Director do Nationalpark Bayerischer Wald
colecção de habitações familiares típicas dos países
parceiros em todo o mundo. Através deste recurso
prático, as diferenças globais podem ser sentidas
directamente.
Além da construção de novas parcerias, há uma
oportunidade de desenvolvimento da cooperação Dr. Mathis Wackernagel
para estabelecer o conceito de Pegada em activida- Co-criador do conceito de Pegada Ecológica e Presidente de
des de consultoria económica e política e na elabo- Global Footprint Network

ração de estratégias.

9
Parte 1:
Introdução, visão geral, estrutura

Contabilidade ecológica número: a Pegada. Esta figura é extremamente


poderosa. Seja aplicada à vida diária, num muni-
A humanidade depende de serviços ecológicos cípio, em salas de reuniões empresariais ou em
do planeta para fornecer as necessidades básicas negociações internacionais, a Pegada permite a dis-
– comida, roupa e abrigo. Mas como sabemos o cussão sobre o consumo de recursos e alternativas.
quanto estamos a usar, e quanto temos? A contabilidade ecológica através da Pegada dá-nos
A Pegada Ecológica é uma ferramenta de conta- uma perspectiva clara. Afinal de contas, também
bilidade dos recursos que mede quanta natureza se pode abusar a nossa conta de natureza, abaten-
temos, quanta usamos, e quem usa o quê. Tal do árvores a um ritmo mais rápido do que podem
como num extracto bancário, a Pegada pode renascer, pescando mais peixe do que o que pode
determinar se estamos a viver dentro do nosso ser reposto, ou bombeando mais água do que a
orçamento ecológico ou se estamos a consumir os natureza pode reencher. Da mesma forma, as pes-
recursos da natureza mais rapidamente do que o soas podem continuar a recorrer a crédito, gastan-
planeta pode renová-los. Ela calcula a quantidade do mais dinheiro do que ganham. Mas as dívidas
de área de terra e água (por exemplo, floresta, acumulam-se e a certa altura, há um fim para isso,
solos agrícolas, rios, etc.) que uma população como vimos a partir da recente crise económica
humana requer para produzir os recursos que global.
usa e para assimilar os seus resíduos, utilizando a O dinheiro entrou numa nova dimensão nesta
tecnologia disponível. A capacidade da natureza crise: Operações de salvamento para os bancos,
para fornecer estes serviços é chamada de bioca- pacotes de incentivo para uma economia descon-
pacidade. É a fonte de água potável, cereais para trolada, os orçamentos nacionais a derivar cada
o nosso pão, madeira para as nossas casas, fibras vem mais em dívidas. A crise já passou milhões
vegetais ou animais para fazer as nossas roupas. de dólares ou euros, e agora envolve milhares
Em última instância, a Pegada pode responder por de milhões ou mesmo milhares de milhares de
todas as actividades humanas, respondendo à per- milhões. Ninguém sabe exactamente quando – ou
gunta: Quanta natureza é que isso consome? Esta como – ela vai acabar.
ferramenta pode ser utilizada para indivíduos, bem Quando confrontados com as somas inimagináveis
como para empresas, cidades, países e humanidade que brilham nas nossas televisões e monitores de
como um todo. computador dia após dia, muitas pessoas esque-
A Pegada Ecológica descreve através de princípios cem-se de que, em última instância, o dinheiro é
científicos a oferta de capital natural e a procura apenas um símbolo que assegura o nosso acesso
da humanidade sobre esse capital – esta é sem aos valores reais, como o capital humano (com-
dúvida a maior força desta ferramenta. Pode redu- petências, recursos humanos, conhecimento), o
zir as actividades humanas, sejam elas a alimenta- capital natural (recursos, serviços ambientais) e
ção, viagens ou jogos de computador, a um único capital físico (habitação, fábricas, linhas férreas).

Os ecossistemas saudá-
veis e, portanto, o nosso
“capital natural” estão a
tornar-se mais raros e
valiosos. Eles são a fonte
de todos os bens naturais
e garantem a disponibili-
dade de água potável, ar
puro, material de cons-
trução e fornecimento de
energia. Eles são a base
central da vida humana e
não-humana.

10 Parte 1: Introdução, visão geral, estrutura


O capital humano – e as exigências sobre natureza entrar num período posterior à escassez do petró-
que vêm com ele – continuarão a crescer, enquan- leo: A maioria dos recursos dos quais a humani-
to o capital natural se está a tornar cada vez mais dade depende, podem ficar reduzidos, incluindo
escasso e, portanto, mais crítico. A Pegada dá-nos comida e água. A distribuição de recursos e uma
uma ferramenta para descrever, avaliar e gerir estas boa administração dos recursos naturais tornar-
riquezas naturais e salvaguardar o nosso usufruto -se-á num desafio central no século XXI. Países
delas. e cidades que se preparem para a escassez de
recursos serão os vencedores. Em contrapartida,
países e regiões que possuem insuficientes recursos A Pegada responde à ques-
naturais e tenham falta de recursos económicos tão de indivíduos, empre-
irão eventualmente enfrentar sérias ameaças ao sas, cidades, países e da
seu bem-estar, especialmente se não conseguirem humanidade: “Quão grande
diminuir a sua dependência de recursos. Análises é o teu apetite por capital
de Pegada abrem novos horizontes e abordagens natural?”
para a resolução de problemas. Contra este pano
de fundo a ferramenta é, acima de tudo, útil para
a cooperação para o desenvolvimento. A Pegada
é excepcionalmente eficaz na construção de uma
compreensão da relevância dos limites ecológicos,
e tem um elevado valor instrumental para o tra-
balho educativo. Por exemplo, quando os alunos
comparam a Pegada média per capita de alguém
O século XXI já tem alguns desafios pela frente que vive na Alemanha ou nos E.U.A. à de alguém
reservados para nós, assim como para os nossos que vive no Mali ou a Índia, serão inevitáveis
filhos e netos. Actualmente (2010) nós utilizamos perguntas e discussões profundas. Para muitos, as
acima de 50 porcento mais serviços ecológicos complexas interacções decorrentes da globalização
do que a Terra pode renovar. A crescente popula- são compreensíveis pela primeira vez através da
ção – a qual, segundo estimativas oficiais, poderá Pegada.
alcançar entre 9 e 10 mil milhões até meados do A contabilidade da Pegada trata da definição de
século – está a aumentar a procura de recursos. um rumo para governos, empresas, cidades e pes-
Além disso, há o facto de que os habitantes dos soas. Trata de prioridades e, em última instância,
países emergentes, como China, Brasil, Indonésia de questões sobre como viver bem. Seguindo a
e Índia, estão a emular crescentemente os estilos directiva de “viver bem dentro dos limites de
de vida, consumidores de recursos, do Ocidente, um planeta”, a Pegada não divide o mundo entre
que são insustentáveis. o bem e o mal, e não moraliza. Em vez disso,
A situação é grave. É certamente possível que simplesmente nos informa sobre quem está a con-
problemas climáticos se possam tornar numa sumir a quantidade dos serviços ecológicos do pla-
grande ameaça para a estabilidade económica e neta, e quanto está disponível, em que local. Esta
que a pesca venha a empobrecer e eventualmente visão do mundo provou ser suficiente para levan-
colapsar. Estes são apenas dois exemplos. Contu- tar questões centrais e iniciar as conversas que são
do, um diálogo moralista entre esperança e terror necessárias para inverter as tendências actuais.
não faz muito sentido, para resolver este desafio.
Em contraste, a Pegada apresenta uma abordagem
“A Pegada Ecológica é um dos conceitos
científica, mostrando-nos onde estamos. Quando
ambientais mais importantes em voga
as empresas, cidades ou países reconhecem quan-
hoje em dia, com implicações práticas e
ta biocapacidade precisam e quanto têm à sua
educacionais praticamente ilimitadas.”
disposição, são capazes de adoptar decisões mais
informadas. Edward O. Wilson, Biólogo Evolucionista e
Se as tendências actuais continuarem, as coisas Professor Eméritos em Harvard
não ficarão definitivamente mais fáceis. Estamos a

Parte 1: Introdução, visão geral, estrutura 11


Estrutura da brochura as Nações Unidas, publicaram pela primeira vez
os registos de dados completos para mais de 170
A Parte 2 introduz o conceito e os métodos cien- países, e como o comércio internacional de bioca-
tíficos da Pegada Ecológica. Termos tais como a pacidade tem impacto na Pegada, tanto de países
biocapacidade, hectare global, tipos de terra, Pega- produtores, como consumidores.
da de carbono e Excesso são explicados através de Os dados da Pegada apresentados no presente
exemplos ilustrativos, como seja a diferença entre documento são, se não for indicado o contrá-
as Pegadas da produção e do consumo. Questões rio, Pegadas do consumo de 2005. No capítulo
sobre como os países podem apresentar défices de 2 é disponibilizada uma entrevista com Mathis
biocapacidade ou atingir reservas de biocapacida- Wackernagel.
de, ou em que dia do ano o Excesso ecológico foi A Parte 3 da brochura analisa a relevância da
atingido, também são respondidas. Breves secções Pegada Ecológica na cooperação para o desen-
históricas esclarecem porque os recursos do pla- volvimento. Iremos olhar para os bastidores do
neta se estão a tornar cada vez mais escassos, e mundo de trabalho de um membro da Deutsche
como surgiu a ideia de desenvolver um método de Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit
base científica para comparar a oferta de serviços (GIZ), e explorar as tendências futuras da Pegada.
ecológicos, a chamada “biocapacidade”, com a sua
procura – a Pegada.
A essência é bastante simples: A “procura”, como
calculada nos termos da Pegada, reflecte o quanto
da capacidade regenerativa da biosfera é usada por
actividades humanas. Ao medir quanto está dispo-
nível, também temos de considerar que esta capa-
cidade deve ser partilhada com espécies selvagens.
Quanto menos as pessoas deixam para outras
espécies, menor a probabilidade de termos uma
biodiversidade saudável. Mas a Pegada não faz essa
escolha por nós. Ela só mostra o quanto usámos, e
o quanto deixámos. Uma breve introdução a estas
opções está disponível no documentário incluído
The Footprint – large demands on a small planet,
com Dr. Mathis Wackernagel, co-criador da Pega-
da Ecológica.
A utilidade da Pegada a nível individual, político e
económico é posteriormente demonstrada através
de estudos de caso. Os diversos benefícios da ferra-
menta são ilustrados com exemplos que vão desde
o cálculo da Pegada de uma cidade como Berlim,
até à medição do consumo de recursos de um cen-
tro comercial australiano, ou o uso da Pegada no “Nós somos a ligação entre a antiga
enquadramento de discussões de desenvolvimento e a futura geração. Com o constante
global. crescimento da procura de recursos
A perspectiva do quadro geral dada pela Pegada naturais, somos confrontados
é apresentada no capítulo sobre o estado do pla- com a difícil tarefa de assegurar a
neta. Quais são as tendências para os habitantes sobrevivência da humanidade, sem
de países com alto, médio e baixo rendimento? comprometer a biodiversidade.”
Quais são os países com défices de biocapacidade,
e quais os que têm reservas de biocapacidade? O Monika Shikongo da Namíbia, Ranger e parti-
capítulo também mostra como a Pegada Ecológica cipante na Go 4 Biodiv
do mundo tem mudado desde 1961, ano em que

12 Parte 1: Introdução, visão geral, estrutura


explora possibilidades interessantes e estratégias de Os participantes na Cimei-
solução. A informação de fundo na Parte 6 for- ra Internacional da Juven-
nece dados abrangentes de Pegada, balanços eco- tude Go 4 Biodiv, que se
lógicos e as tendências de alguns dos países repre- envolveram profundamente
sentados na Cimeira Internacional da Juventude com a Pegada Ecológica,
Go 4 Biodiv, bem como para o Japão e os Estados leram a sua Declaração no
Unidos. Em conclusão, após uma comparação Acampamento Internacio-
entre China e a Alemanha, existe um vasto mate- nal da Selva.
rial educativo sobre a situação dos recursos dos
países participantes na Go 4 Biodiv. O Apêndice
contém, além de um glossário e bibliografia, um
resumo da terminologia específica da Pegada.
Esta brochura multimédia faz uso de uma mistu-
ra de exemplos, entrevistas, descrições pessoais,
caixas de informação (emoldurada em cinzento),
tabelas de visão global, material educativo (des-
tacado com a cor de cada capítulo) e várias ideias
pedagógicas para ajudar a dar vida ao material
(emolduradas com a cor do capítulo específico).
As citações de especialistas e individualidades que
representam a ciência, a política e as ONG, bem
Isto é relevante não apenas para colaborações entre como as dos jovens participantes na Cimeira Inter-
a GIZ e os governos dos países parceiros, mas nacional da Juventude Go 4 Biodiv estão dispersas
também para avaliar a eficácia dos projectos em do início ao fim (emoldurado em laranja). Entre
si. A articulação de instrumentos de Pegada, que outras coisas, estas últimas dão conta da utilização
se sobrepõem ao consumo de recursos de um país das ferramentas de Pegada nos seus países de ori-
com o seu desenvolvimento humano (tal como gem. Materiais audiovisuais no DVD de acompa-
medido, por exemplo, com o Índice de Desen- nhamento servem como pontos de entrada, ricos
volvimento Humano das Nações Unidas) abre em conteúdo, nos tópicos detalhados da Pegada
interessantes possibilidades para o debate sobre Ecológica. Além de uma série de documentos
desenvolvimento. de texto, para uma apreciação mais profunda do
A Pegada é também uma excelente ferramenta de material foram disponibilizadas fotos da Cimeira
aprendizagem para o desenvolvimento sustentável. da Juventude, e as maneiras de usar a Pegada em
A Parte 4 mostra como a GIZ a está a usar na sua vários workshops.
divulgação pública e descreve alguns dos seus usos A brochura foi concebida inicialmente para os
em escolas alemãs e ONG. Também mostra a uti- estudantes alemães, numa colaboração entre a
lidade que teve na Cimeira Internacional da Juven- GIZ, o Nationalpark Bayerischer Wald e Global
tude Go 4 Biodiv, realizada no Acampamento Footprint Network. É direccionada para profes-
Internacional da Selva no Nationalpark Bayerischer sores e educadores do ensino médio no campo
Wald e em Bona. Lá, a Pegada catalisou discussões dos estudos ambientais e de desenvolvimento, ou
entre os participantes, e estimulou workshops, líderes de grupo de actividades extra-curriculares
trabalhos artísticos, e vários elementos criativos da de aprendizagem global para o desenvolvimento
cimeira. Estas ideias permaneceram vivas e serão sustentável. Devido a este enfoque alemão, o DVD
retomadas nos eventos Go 4 Biodiv durante a pró- que acompanha a brochura inclui também vasto
xima conferência sobre biodiversidade das partes material em língua alemã. Apesar disso, a brochu-
signatárias da ONU, no Japão. ra também deverá ser útil para pessoas que não
Segue-se uma perspectiva geral (Parte 5), que falam Alemão, interessadas na Pegada Ecológica e
revela a urgente necessidade de acção, por parte na sua relevância para a redução da pobreza, rela-
de indivíduos, comunidades, governos locais e ções internacionais, desenvolvimento sustentável e
nacionais, bem como indústrias. A secção também bem-estar humano.

Parte 1: Introdução, visão geral, estrutura 13


Parte 2:
Contabilidade Ecológica

Quanta natureza isso custa? para nos abastecermos do que necessitamos, para
suportar os nossos estilos de vida, desde a roupa
A humanidade é totalmente dependente da natu- que vestimos aos alimentos que comemos, à
reza. A natureza fornece o que nós precisamos forma como viajamos de casa para a escola. Pode-
para movimentar as nossas economias e oferece mos pensar no modo como usamos a natureza
incontáveis serviços ecológicos mas, no sentido da como viver dos rendimentos da nossa “quinta
nossa economia ser “adequada para o futuro”, em global”. Sabermos o quanto temos, em relação
outras palavras, “sustentável”, não podemos usar a quanto usamos, é realmente importante, se
os recursos naturais mais rapidamente do que a queremos ter certeza de que as nossas sociedades
natureza os pode regenerar, nem podemos criar podem continuar no futuro.
mais lixo do que a natureza consegue assimilar e Ao medir a Pegada de uma população – um
processar. Finalmente, o uso excessivo pode ser indivíduo, cidade, empresa, nação ou de toda a
apenas temporário. humanidade – podemos entender melhor a nossa
A Pegada Ecológica trabalha como um extrac- pressão sobre o planeta e os seus recursos. Isso
to bancário, documentando se estamos a viver pode ajudar-nos a gerir os nossos recursos ecoló-
dentro do nosso orçamento ecológico ou não. gicos de forma mais inteligente e a agir individual
Isso permite-nos medir a área de terra necessária e colectivamente, em prol de um mundo onde a
Toda a actividade huma-
na precisa de uma área
biologicamente produtiva.
Esta área é a sua Pegada
Ecológica.

Fonte: Ministério do Meio Ambiente, Nova Zelândia

Até que ponto a humani-


dade pode viver fora da
quinta global que é o pla-
neta Terra? A contabilida-
de ecológica fornece-nos
a base para responder a
esta pergunta.

14 Parte 2: Contabilidade Ecológica


Visão global: contabilidade ecológica A nossa procura é composta pelo que a huma-
A humanidade necessita do que a natureza nidade extrai da natureza (recursos renováveis,
oferece, mas como é que nós sabemos quanto tais como alimentos e madeira), bem como a
temos, em relação a quanto podemos usar? área de floresta necessária para absorver o
Precisamos da contabilidade ecológica para CO2 resultante do nosso consumo de energia.
responder a esta pergunta. A Pegada soma a área total que é necessá-
A Pegada Ecológica surgiu, a nível mundial, ria para a manutenção deste “metabolismo”.
como a primeira medida da procura da huma- Medimos a oferta e a procura em unidades
nidade sobre a natureza. Ela mede quanta área chamadas “hectares globais” (gha), que vamos
de terra e de água é requerida pela população examinar mais de perto mais adiante.
humana, para produzir os recursos que esta
consome e para assimilar os seus resíduos, Excesso ecológico
utilizando a tecnologia actual. Transformar os recursos em resíduos, mais
rapidamente do que os resíduos podem ser
Oferta e procura transformados novamente em recursos, coloca-
Assim como na contabilidade financeira, a con- -nos numa situação de Excesso ecológico glo-
tabilidade da Pegada Ecológica olha para os bal, esgotando os próprios recursos dos quais
dois pratos da balança. O lado da oferta mede dependem a vida humana e a biodiversidade.
o que temos, o nosso orçamento ecológico. Assim como na contabilidade financeira, tam-
A capacidade dos ecossistemas produzirem bém é possível gastar mais do nosso capital
materiais biológicos úteis e absorverem os natural do que aquele que ganhámos – pelo
resíduos gerados pelo ser humano é chamada menos por algum tempo. Mas, se excedermos
de biocapacidade. Florestas, solos agrícolas, a nossa conta a longo prazo, e ampliarmos o
pastagens e áreas de pesca, todos fornecem nosso défice de biocapacidade, a natureza vai
esta biocapacidade. à falência.

humanidade vive dentro dos limites da Terra. a pressão humana e os recursos se tornam mais
Quanto custa sair para jantar? Pagar por umas limitados, será a saúde dos ecossistemas naturais
férias? Comprar um carro novo? Na nossa vida o factor decisivo para a sobrevivência humana:
diária, conhecemos estes custos com bastante O dinheiro é meramente simbólico.
precisão, uma vez que nenhum de nós tem uma
quantidade ilimitada de dinheiro. Com a nature-
“Sustentabilidade é a melhor escolha que
za, tal como com os nossos orçamentos domésti-
temos – ainda que também requeira uma
cos, precisamos de saber quanto podemos pagar.
reorientação significativa. A boa notícia
Qual é o custo ecológico de construção de uma
é esta possibilidade: Se começarmos a
estrada? De uma viagem num avião? Quase tudo o
contabilizar os nossos recursos ecológi-
que fazemos tem um custo ecológico, e isso não é
cos tão seriamente como o fazemos com
um problema, desde que vivamos dentro do orça-
os nossos activos financeiros, podemos
mento da natureza.
gerir o nosso património ecológico com
O dinheiro tem muitas funções. Por exemplo,
mais cuidado, a fim de garantir um futu-
pode ser gasto, guardado ou investido. Nós ten-
ro sustentável, melhor.”
demos a valorizar muito o capital financeiro. A
Pegada, por outro lado, mede o capital natural, Professor Dr. Emil Salim, ex-Ministro Indo-
que é geralmente subestimado nos nossos modelos nésio do Meio Ambiente, assessor do Presi-
económicos. Continuamos a comportar-nos como dente da Indonésia, Professor de Economia
se os recursos naturais fossem ilimitados e a capa- e Chefe do Estudo de Matérias-Primas do
Banco Mundial
cidade da Terra para absorver os nossos resíduos
não tivesse limites. Mas, à medida que aumenta

Parte 2: Contabilidade Ecológica 15


Contabilidade ecológica: Como surgiu o conceito de Pegada
Quanta natureza nós temos? No início dos anos 1990, o jovem suíço Mathis
Wackernagel desenvolveu a metodologia para a
Quanta natureza nós usamos?
Pegada Ecológica com o seu orientador de dou-
Assim como os gestores de investimentos seriam torado Professor William E. Rees da Universi-
cegos sem a contabilidade, também os decisores dade de British Columbia, no Canadá. O ponto
políticos são incapazes de fazer escolhas sobre o de partida para o seu trabalho foi o conceito de
uso de recursos sem ter uma forma de medi-lo. capacidade de suporte ecológica, um conceito
Uma vez que a Pegada pode mostrar-nos quanta bem conhecido da biologia animal. O conceito
área de terra biologicamente produtiva é necessá- descreve quantos indivíduos de uma determinada
ria para as actividades humanas (expressa numa espécie podem ser mantidos por um determinado
unidade comum), questões complexas sobre os habitat. Eles também se inspiraram num outro
fluxos de recursos podem ser medidas e discutidas. estudo sobre a capacidade de suporte, ou, mais
Através da Pegada ganhamos uma visão diferente precisamente, a dinâmica do crescimento econó-
do valor das coisas de que precisamos para manter mico num planeta com recursos limitados. Este
o nosso estilo de vida. Vemos qual o verdadeiro estudo, lançado em 1972, foi produzido por inves-
“custo” das nossas actividades; por exemplo, quan- tigadores na casa dos vinte, entre eles, Donella
ta biocapacidade está “contida” nessas actividades. Meadows, Jorgen Randers e Dennis Meadows.
A nossa existência está, deste forma, directamente Foi intitulado “Os Límites do Crescimento” e
relacionada com os ecossistemas do planeta. Isto financiado pelo Clube de Roma. As conclusões
significa que o material e os fluxos de energia não destes jovens cientistas do Instituto de Tecnologia
estão algures “lá fora”; a vida humana e a econo- de Massachussetts (MIT – Massachusetts Institue of
mia são parte da biosfera. Technology) foram chocantes: Com as tendências
Como actual a procura da humanidade sobre a de desenvolvimento mantidas até então (cresci-
natureza excede a oferta da biosfera, ou capacidade mento populacional, aumento da industrialização
regenerativa, estamos a esgotar o capital natural e da produção de alimentos, e um nível constante
que mantém a vida na Terra, e a acumular resíduos e elevado de exploração dos recursos naturais) os
sob a forma de CO2 na atmosfera. Compreendendo limites ao crescimento seriam alcançados no século
isto, começamos a perceber que precisamos repensar XXI. O uso excessivo dos recursos da Terra levaria
os nossos modelos de desenvolvimento e estilos de ao declínio – uma inversão forçada da população
vida, para que não prejudiquem o nosso futuro. e das tendências de consumo. Seria semelhante

Sugestão para trabalho futuro: Uma sugestão: A coisa mais importante a ter
Como calcular a sua própria Pegada? em consideração encontra-se no início desta
Posteriormente, iremos analisar os elementos parte da brochura (p. 15). Pense sobre quais os
da sua própria Pegada, e terá a oportunidade alimentos que na sua dieta precisam de mais
de calculá-la, respondendo a algumas per- área de terra agrícola para sua produção do
guntas. Mas, primeiro, vamos começar com as que outros. Considere por que razão utilizar
perguntas que já pode responder. Considere bicicleta com maior frequência pode resultar
por um momento: Quais das suas actividades numa Pegada menor. Pense sobre o efeito que
diárias são dependentes de recursos naturais pode ter o facto de andar em casa de t-shirt
renováveis? Qual das coisas que você consome em vez de camisola, no Inverno. Mas não se
ou utiliza no decurso de um dia típico acha preocupe se as suas ideias não concordam
que exigem mais recursos, ou geram mais com o questionário da Pegada – levou-se anos
resíduos? Que perguntas acha que poderiam a desenvolver as perguntas certas e a fazer o
ser colocadas a fim de calcular a sua Pegada cálculo disponível! No entanto, é certamente
Ecológica pessoal? mais interessante se você mesmo pensar sobre
as coisas antes de saber o resultado, não é?

16 Parte 2: Contabilidade Ecológica


“O cálculo das Pegadas Ecológicas vai
impressionar a comunidade mundial e
ajudar políticos, empresas, engenheiros,
e ao público em geral a encontrar novos
e emocionantes caminhos para o desen-
volvimento sustentável.”

Professor Ernst Ulrich von Weizsäcker,


Presidente Fundador do Wuppertal Institute
e ex-Presidente da Comissão Ambiental do
Parlamento Alemão Global Footprint Network
A missão desta rede é promover a sustentabilidade
através da utilização da ferramenta da Pegada Eco-
a fermento numa chávena de açúcar – em que a lógica. Ao tornar os limites ecológicos centrais na Materiais adicionais e
própria poluição ácida gerada pela levedura ao tomada de decisão, Global Footprint Network está informação:
consumir o açúcar e o seu crescimento em tama- a trabalhar para acabar com o Excesso ecológico e • www.clubofrome.org
nho acabariam por inverter as tendências de cres- criar uma sociedade onde todos possam viver bem, • Meadows, D. H. (1972 e
cimento inicial. dentro dos recursos de um planeta. Com sede em 2006)
A questão central da capacidade de carga foi então Oakland (CA, E.U.A.) e escritórios em Washing-
simplesmente invertida por Wackernagel e Rees. ton (DC, E.U.A.), Bruxelas (Bélgica), e Genebra
Em vez de perguntarem quantas pessoas a Terra (Suíça), Global Footprint Network considera-se
pode suportar (capacidade de carga), perguntaram uma think-tank internacional que funciona através
quanta área de terra é necessária para manter a de uma rede de mais de 100 organizações par-
população actual, usando a tecnologia disponível. ceiras. Vencedores de Prémios Nobel, cientistas
Após a sua invenção, o método da Pegada foi rapi- de diversas disciplinas e figuras conhecidas do
damente adoptado por cidades, organizações não- mundo da indústria e da política estão entre as
-governamentais e académicos no mundo inteiro. personalidades excepcionais que aconselham a
Em 2003, de modo a permitir aos utilizadores da rede. A Alemanha, por exemplo, está representada
Pegada uniformizarem os métodos de cálculo e no Conselho Consultivo da Rede pelo professor
colaborarem na pesquisa, Wackernagel e os seus Ernst Ulrich von Weizsäcker, Fundador do famoso
colaboradores mais próximos fundaram Global Wuppertal Institute e ex-Presidente da Comissão
Footprint Network. Ambiental do Parlamento Alemão.

Global Footprint Network,


não fortalece só a base
científica da Pegada Eco-
lógica; também torna a
ferramenta relevante para
os decisores políticos no
governo e na indústria
através de sessões de
formação, workshops e
projectos de consultoria.
A foto mostra os repre-
sentantes das empresas
indianas, em conversa com
Mathis Wackernagel.

Parte 2: Contabilidade Ecológica 17


Materiais adicionais
e informação: Materiais de Global Footprint Network em conjunto por Global Footprint Network e
www.footprintnetwork.org Além do seu trabalho científico (desenvolvimen- a Deutsche Gesellschaft für Internationale
to e padronização da ferramenta) e actividades Zusammenarbeit (GIZ). Ele une de forma
de consultoria para os decisores no governo concisa e clara os conceitos mais importan-
e na indústria, Global Footprint Network cria tes, cálculos e estatísticas actualizadas. O
materiais didácticos e de formação que tornam ficheiro PDF para o folheto está disponível
o conceito de Pegada acessível ao público em no DVD anexo (em Alemão, Inglês, Espanhol)
geral, tais como: e cópias impressas podem ser encomenda-
• Ecological Footprint Accounting: Driving das à GIZ (i-punkt@giz.de).
Competitiveness in a New Global Economy.
Este pequeno livro define as regras do jogo
para o planeta Terra e responde a questões
LA HUELLA
básicas acerca da Pegada Ecológica. As ver- ECOLÓGICA
sões alemã, inglesa e francesa podem ser
encontradas em Ecological Footprint Accoun- VI VIR BIEN
ting: Building a Winning Hand na página web D E N T R O D E LO S
www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/ LÍMITES ECOLÓGICOS
page/publications e no DVD de acompanha-
mento desta brochura.

LE CALCUL DE L’EMPREINTE ÉCOLOGIQUE

UN OUTIL D’AIDE À LA DÉCISION


POLITIQUE ET STRATÉGIQUE Está incluído no DVD desta brochura o Ecologi-
cal Footprint Atlas 2008 bem como vários livros
• The Ecological Footprint: Living Well within de registo com dados de Pegada, tendências e
the Means of Nature. Este cartão contém os vários gráficos para diferentes continentes, paí-
dados de Pegada, de 2010, e foi publicado ses e cidades.

Os mares abertos e os
desertos não estão inclu-
ídos nos cálculos de bio-
capacidade uma vez que a
sua produtividade é muito
baixa.

18 Parte 2: Contabilidade Ecológica


O método científico
Como calcular a oferta e a procura abertos, por exemplo, que são muito menos pro- Na brochura, os seguin-
A Pegada de uma pessoa, de uma empresa, uma dutivos e menos importantes para a pesca, não são tes termos são usados
cidade ou um país descreve o lado da procura: contados. Nem os desertos e as calotes polares. como sinónimos:
Qual é a nossa exigência sobre a natureza? Espe- Por outro lado, as águas costeiras, zonas ricas em • biocapacidade,
cificamente, a Pegada é uma função do tamanho nutrientes, com correntes de mar profundo, e terre- • áreas biologica-
da população, dos bens e serviços que cada pessoa nos pantanosos ou deltas de rios – que em conjunto mente produtivas
consome, e a intensidade de recursos e resíduos representam 90 porcento da pesca – são tidos em (bioprodutivas),
destes produtos e serviços. Reduções na população, conta. Ao todo, cerca de 26 porcento da superfície • recursos regenerativos
no consumo individual, e nos recursos utilizados do nosso planeta – cerca de 13,4 mil milhões de ou matérias primas, e
ou nos resíduos emitidos na produção de bens e hectares globais – fornece sustento à humanidade e • recursos renováveis
serviços, todos resultam numa menor Pegada. proporciona a eliminação dos seus resíduos. naturais ou matérias
Mas o método da Pegada pode fazer muito mais. Os dados que irá encontrar nesta brochura foram primas.
Ele também responde à pergunta: Quanta área retirados das Contas Nacionais da Pegada, de
útil de terra produtiva (biocapacidade) temos nós Global Footprint Network – edição de 2008. Estas
disponível para as pessoas? Especificamente, a bio- contas são essencialmente baseadas em conjuntos
capacidade é determinada pela quantidade de área de dados internacionais publicados pela Orga-
biologicamente produtiva disponível e pela produ- nização das Nações Unidas para Agricultura e
tividade dessa área. Alimentação (FAO), a Agência Internacional
A contabilidade da Pegada olha para ambos os de Energia (AIE), a Divisão de Estatísticas das
lados, a oferta e a procura de capital natural, como Nações Unidas, e relatórios elaborados pelo Painel
duas faces de um balanço financeiro. Intergovernamental para as Alterações Climáticas
Sabemos que apenas cerca de 21 porcento da área (IPCC). A cada dois anos há dados actualizados,
da superfície do planeta é terra bioprodutiva, e obtidos por métodos estatísticos cada vez melho-
cinco porcento da superfície do planeta é espaço res. A fonte dos números mostra não só o quanto é
marítimo biologicamente produtivo. Os mares produzido na indústria, agricultura e silvicultura,

Apenas 26 porcento da
superfície da Terra é bio-
logicamente produtiva o
suficiente para ser usada
pelos humanos – esta
biocapacidade pertence ao
lado da oferta do balanço
global da Pegada.

Fonte: Global Footprint Network

Parte 2: Contabilidade Ecológica 19


O Filme The Ecological Footprint – A Plattform Footprint austríaca (www.
Accounting for a Small Planet footprint.at) é uma aliança das principais
Em 2007, foi produzido um filme de 30 minu- organizações de políticas de ambiente e
tos sobre Pegada Ecológica por Northcutt desenvolvimento, tais como Greenpeace,
Productions e por Global Footprint Network , WWF, GLOBAL 2000, Klimabündnis Österreich,
em colaboração com a Plattform Footprint Südwind Agentur, a Agenda X e o Ökosoziales
austríaca. Mathis Wackernagel, o co-criador Forum, SERI (Sustainable Research Institu-
do conceito de Pegada, explica os conceitos te) entre outras, que desejam estabelecer a
chave e os factos que envolvem a Pegada Pegada Ecológica como medida de susten-
Ecológica. O filme explora a ligação entre tabilidade para a nossa sociedade. A bro-
alterações climáticas, protecção ambiental chura Footprint. Der Ökologische Fußabdruck
e os nossos estilos de vida, e dá exemplos Österreichs [Pegada. A Pegada Ecológica da
práticos da Pegada. Áustria] surgiu em 2007 e pode ser des-
A versão em língua Alemã pode ser enco- carregada em www.footprint.at/fileadmin/zf/
mendada em http://shop.filmladen.at e a ver- dokumente/footprint_brosch_v3LM.pdf. A ver-
são em língua Inglesa em www.bullfrogfilms. são actualizada, que foi adaptada à Alema-
com/catalog/efoot.html ou descarregada a nha, Footprint. Der ökologische Fußabdruck
partir de www.epa.vic.gov.au/ecologicalfoo- Deutschlands [Pegada. A Pegada Ecológica
tprint/about/documentarydvd.asp. A versão da Alemanha] foi lançada em Dezembro de
abreviada em língua Alemã (17 min.) está 2008 pela Green­peace Alemanha e está dis-
disponível no DVD que acompanha esta ponível em www.greenpeace.de/fileadmin/gpd/
brochura. user_upload/themen/wirtschaft_und_umwelt/
Footprint_Deutschland_2008.pdf.
Resumo do Capítulo
Duração

(versão Inglesa)
Título do capítulo mas também quantos produtos são exportados e
Porquê a contabilidade dos importados. A cada dois anos há dados actuali-
1:37 zados, obtidos por métodos estatísticos cada vez
recursos?
O que mede a Pegada 1:15
melhores.
Quando fazemos a pergunta “qual é a nossa pro-
Equilíbrio entre oferta e procura 0:56 cura sobre a natureza?” estamos a referir-nos tanto
Oferta (biocapacidade) 4:05 à “Pegada do consumo” como à “Pegada primária
Procura (Pegada Ecológica) 2:26 da produção”. Quando a maioria das pessoas fala
sobre a Pegada Ecológica, estão a referir-se à Pega-
Excesso (excedendo os limites
3:28 da do consumo. A Pegada do consumo para um
ecológicos)
dado país, mede a biocapacidade requerida, sobre
Calculo da Pegada 3:28
o consumo final de todos os residentes do país.
Rendimentos altos vs. rendimentos Isto inclui o seu consumo doméstico, bem como o
0:45
baixos dos países
seu consumo colectivo, tal como escolas, estradas,
Pegada das nações 1:42 brigadas de incêndio, etc., que servem o agregado
O funil 3:29 familiar, mas que podem não ser pagos directa-
mente pelas famílias. A coisa importante a lembrar
Exemplos: aplicações da Pegada 2:41
é que a Pegada do consumo é focada no consumo
Global Footprint Network 0:39 dos residentes do país, não importando onde estão
Oportunidades 1:39 localizados os serviços da natureza.
Conclusão do Ex-Ministro Thwaites 1:00 Em contraste, a Pegada primária da produção de
um país é a soma das Pegadas de todos os recursos
Créditos/informação de contacto 1:29
utilizados e de todos os resíduos gerados, dentro
das fronteiras geográficas do país. Incluiria, por

20 Parte 2: Contabilidade Ecológica


exemplo, a Pegada necessária para fabricar produ- conhecimento do seu balanço ecológico também Informação adicional:
tos que são exportados e consumidos por pessoas revela informações importantes. www.footprintstandards.org
fora do país. Isto inclui toda a área, dentro de Para manter resultados de alta qualidade na rea-
um país, que é necessária para suportar a actual lização de análise da Pegada, Global Footprint
colheita de produtos primários (solo agrícola, Network e as suas organizações parceiras desen-
pasto, floresta e área de pesca), as infra-estruturas volveram normas internacionais. As normas foram
e hidroeléctricas do país (área construída), e a área concebidas para assegurar que as avaliações da
necessária para absorver as emissões de dióxido de Pegada são produzidas de forma coerente e de
carbono dos combustíveis fósseis produzidos no acordo com as melhores práticas propostas pela
país (Pegada de carbono). comunidade. Elas visam assegurar que as avalia-
A Pegada do consumo difere da Pegada primária ções são realizadas e comunicadas de uma forma
da produção através do comércio: A Pegada do precisa e transparente.
consumo de um país também contém a biocapaci-
dade de produtos e serviços importados. Quando a A diferença entre Pega-
biocapacidade é disponibilizada para outros países
Pegada primária da produção­ da primária da produção
através das exportações, isso reflecte-se na Pegada + Biocapacidade nas importações e Pegada do consumo
do consumo do país importador. - Biocapacidade nas exportações iguala o comércio na
Quando a Pegada de um país excede a biocapaci- biocapacidade.
dade da área disponível dentro desse país, ocorre Pegada do consumo
um “défice de biocapacidade” e nós chamamo-lo
de “devedor de biocapacidade”. Inversamente, a
reserva de biocapacidade existe quando a bioca-
pacidade de uma região excede a Pegada da sua
população. Esses países com maior biocapacidade
à sua disposição do que aquela que a sua popula- Tipos de terra usados na
ção usa, em termos líquidos, têm uma “reserva contabilidade da Pegada Ecológica
de biocapacidade” e são chamados “credores de
biocapacidade”. As áreas biologicamente produtivas da Pegada são
Reserva ou défice de biocapacidade é análogo a divididas em diferentes categorias:
uma reserva ou défice comerciais. Numa economia 1 Solo agrícola é o mais bioprodutivo de todos
global, é importante entender se um país tem uma os tipos de terra e é constituído por áreas
reserva ou défice comerciais. Da mesma forma, o usadas para produzir alimentos e fibras para

Os cálculos da Pegada
1,4
contêm seis categorias
1,2 diferentes de área, para
as quais existe uma oferta
Número de planetas Terra

Biocapacidade mundial
1,0 e uma procura. A Pegada
de carbono tem aumentado
0,8
continuamente desde 1961.
0,6

0,4

0,2

0
1960 1970 1980 1990 2000 2005
Área construída Floresta Solo agrícola
Área de pesca Pasto Carbono Fonte: Global Footprint Network

Parte 2: Contabilidade Ecológica 21


consumo humano, ração para animais, oleagi- O papel que o CO2 desempenha
nosas e borracha. A Pegada de carbono, a Pegada das emissões de
2 Área de pasto é usada para criar gado para CO2, é responsável por mais da metade da Pegada
carne, leite, couro e produtos de lã. global e cresceu dez vezes desde 1961. Durante a
3 Áreas de pesca são calculadas como uma esti- Idade Média, o Homem obteve a maior parte da
mativa da captura de peixe sustentável máxima energia de que necessitava, principalmente para
possível em águas interiores e costeiras. aquecimento e para o cultivo, quase que exclusi-
4 Área construída é a área de terra coberta por vamente do sol, na forma de biomassa (madeira).
infra-estrutura humana – transporte, habita- Naquele tempo, os combustíveis fósseis eram fixa-
ção, estruturas industriais e reservatórios de dos em segurança na crosta terrestre. Então, a des-
hidroeléctricas. Áreas construídas, presumi- coberta do carvão, petróleo e gás, para alimentar
velmente ocupam o que anteriormente foram as máquinas, tornou possível a Revolução Indus-
solos agrícolas. Esta hipótese baseia-se na teoria trial no século XVIII. O primeiro barco movido a
de que os humanos se estabelecem geralmente vapor, obtido pela queima de carvão, atravessou o
em áreas altamente férteis. Atlântico em 1840.
5 Área florestal é calculada com base na quanti- Duas questões surgem a partir da utilização de
dade de madeira serrada, celulose, produtos de combustíveis fósseis. Primeiro, os combustíveis
madeira e lenha consumida por um país numa fósseis não são renováveis, isto é, existe uma quan-
base anual. Também serve para acomodar a tidade finita no solo. Actualmente, a humanidade
Pegada de carbono. Esta área é calculada consome tanto carvão, petróleo e gás num ano,
como a quantidade de floresta necessária para como a Terra formou ao longo de milhares, senão
absorver as emissões de dióxido de carbono. É milhões de anos. Portanto, porque as fontes res-
a maior parte da actual Pegada da humanida- tantes de petróleo são finitas e a nossa procura é
de. Em países de baixos rendimentos, porém, crescente, existem preocupações sobre a disponibi-
repesenta geralmente um pequeno contributo lidade. A falta de petróleo aumenta o seu preço, o
para a sua Pegada global. Emissões de CO2, que afecta todas as partes da nossa economia.
principalmente pela queima de combustíveis De um ponto de vista ecológico, porém, a maior
fósseis, são o único resíduo produzido que é preocupação é que emitimos muito mais CO2
incluído nas Contas Nacionais da Pegada. do que a natureza pode assimilar. Algum CO2

A queima de combustíveis
fósseis liberta dióxido de
carbono (CO2). A Pegada
de carbono indica quanta
área de terra florestal é
necessária para absorver
o CO2 que não é assimila-
do pelo oceano.

22 Parte 2: Contabilidade Ecológica


é assimilado pelos oceanos (que se tornam cada a fim de nos ajudar a deixar de usar combustíveis Informação adicional
vez mais ácidos). Outra parte é assimilada pelos fósseis. Mas, para estabelecer plantações de óleo de sobre “alterações climá-
ecossistemas terrestres. O restante acumula-se palma no Brasil, grandes áreas de floresta tropical ticas e biodiversidade”
na atmosfera, contribuindo para as alterações estão a ser destruídas. Como consequência, a sua e “energia” é encontrada
climáticas. biodiversidade está perdida e os serviços ecoló- nos volumes 8 e 9 da
Reconhecidamente, o consumo actual de combus- gicos, fornecidos para moradores e outros, não série “A sustentabilidade
tíveis fósseis não desempenha um papel directo no podem mais ser tidos em conta. Da mesma forma, tem muitas faces”.
cálculo da Pegada, porque estas fontes de energia o aumento do biocombustível etanol, que é feito
não são parte da natureza viva. A sua utilização de milho ou plantas de soja, está a criar competi-
impõe contudo, de facto, uma exigência sobre a ção por solos agrícolas, resultando em preços mais
natureza: Quando são queimados, o dióxido de altos dos alimentos.
carbono (CO2) é libertado, e tem de ser absorvido.
Até agora, uma boa parte deste CO2 foi assimilado
pelos oceanos. Uma porção adicional é assimilada Como é medida a Pegada
pelos ecossistemas terrestres. O restante permane- A Pegada de um país é a soma de todos os solos
ce na atmosfera e a sua concentração tem vindo a agrícolas, áreas de pasto, florestas e área de
aumentar – em mais de um terço nos últimos 200 pesca necessária para produzir os alimentos,
anos. fibras e madeira que os seus habitantes conso-
A metodologia da Pegada pergunta quanta super- mem; para assimilar os resíduos gerados quando
fície bioprodutiva é necessária para assimilar o usam energia; e para fornecer espaço para a sua
dióxido de carbono, resultante da produção de infra-estrutura.
energia, que não é assimilado pelos oceanos. A Um dos benefícios da Pegada é que podemos com-
pesquisa mostra que um hectare médio de floresta parar a oferta e a procura de biocapacidade com a
pode assimilar a quantidade de dióxido de carbo- ajuda de um único número. No entanto, os diver-
no libertado pela queima anual de aproximada- sos tipos de terra não podem ser simplesmente
mente 1.500 litros de petróleo. somados, pois cada tipo de terra tem uma “produ-
Desde o início da década de 1960, a Pegada de tividade” diferente. Por exemplo, os solos agrícolas
carbono global aumentou dez vezes. Na Alema- rendem quatro vezes mais biomassa por hectare do
nha os transportes contribuem para cerca de 20 que a área de pasto. A metodologia da Pegada Eco-
porcento das emissões totais de CO2. A condução lógica, portanto, utiliza factores de equivalência,
automóvel e os transportes aéreos compreendem de modo a que a produtividade de um único tipo
um total de 90 porcento da Pegada do transporte. de terra possa ser relacionado com a produtividade Fontes e informação
A quantidade de alimentos que podemos comer é média de todos os tipos de terra. adicional:
limitada pelo tamanho do nosso estômago, mas O rendimento dos tipos de terra varia conforme o • Greenpeace (2008)
o nosso apetite por combustíveis fósseis é quase país, também. A biocapacidade de um país é fun- • Calculadora de CO2
ilimitado. Por exemplo, as pessoas podem viajar de damentalmente dependente de factores geológicos, de Greenpeace: www.
avião tanto quanto elas desejem, desde que possam topográficos, climáticos e bióticos. É também greenpeace.klima-aktiv.
pagar. afectado pelas actividades humanas, como as prá- com
ticas agrícolas.
A competição pelo uso da terra Por exemplo, terras aráveis na Alemanha podem
Em teoria, se suficiente terra fosse convertida em ter rendimentos totalmente diferentes de campos
floresta, o planeta seria capaz de assimilar a nossa no Sudão por causa das ocasionais, mas severas,
produção actual de CO2. Descobriríamos então, flutuações no abastecimento de água neste país,
no entanto, que não temos área suficiente para intercaladas com seca ou inundações. Sendo assim,
produzir madeira, milho ou batata. O quadro da calcula-se anualmente um factor de rendimento
Pegada mostra-nos que a sustentabilidade exige para cada país e para todos os tipos de terra. Os
que nós consideremos este tipo de opção, perce- factores de produtividade têm em conta as diferen-
bendo que as soluções concebidas de forma isolada ças de produtividade de um determinado tipo de
podem levar a consequências indesejadas. Os terra, entre uma nação e a média mundial, neste
biocombustíveis, por exemplo, foram introduzidos tipo de terra.

Parte 2: Contabilidade Ecológica 23


Esta é a forma como chegamos ao hectare global défice, por exemplo, 1) abusando dos seus próprios
(gha), que é a unidade em que a Pegada Ecológica ecossistemas (por exemplo, colheita excessiva de
é medida. É uma área ponderada em função da madeira), 2) importando do exterior mais recursos
produtividade, usada para reportar, tanto a bioca- do que aqueles que exporta, e 3) usando os bens
pacidade da Terra, quanto e a procura sobre essa comuns globais, por exemplo, emitindo CO2 para
biocapacidade (a Pegada Ecológica). O hectare a atmosfera em quantidade maior do que seus
global é normalizado, para corresponder à produti- ecossistemas conseguem assimilar.
vidade média – ponderada em função da área – da Mas a nossa Terra como um todo não pode pros-
terra e do mar biologicamente produtivos, num seguir o comércio com outros planetas ou recorrer
determinado ano. Uma vez que a biocapacidade a distantes ecossistemas inter-galácticos. Quando a
global muda ligeiramente de ano para ano, através biocapacidade global disponível é excedida, temos
de um aumento da área de terras produtivas, as Excesso ecológico.
variáveis para o cálculo do hectare global também Segundo os cálculos da Pegada, em meados do
mudam anualmente. século passado (50 a 60 anos atrás), a humanidade
Informações adicionais: O modo de cálculo pode parecer à primeira vista usava menos de metade da biocapacidade do pla-
• www.footprintnetwork. um pouco complicado, mas reduzindo o consumo neta. Em contrapartida, em 2005 a humanidade
org/en/index.php/GFN/ para a unidade de “gha” torna-se possível com- precisava dos recursos de 1,3 planetas Terra – ou
page/methodology/ parar a procura de biocapacidade no mundo e ao mais de 130 porcento do que o planeta pode
• Ewing B. et al. (2008): longo do tempo. Isto ajuda políticos, economistas, repor.
The Ecological Foot- bem como os líderes municipais indivíduos, a gerir O que significa isto? Para gerar consumo anual
print Atlas. responsavelmente o capital do nosso planeta. da humanidade, a Terra precisa de quase um ano
e quatro meses. Vendo a questão ao contrário: Se
estimarmos o montante da biocapacidade produzi-
Como pode ocorrer o “Excesso” da num ano, podemos definir uma data simbólica
Neste momento, sabemos que a procura por recur- em que a biocapacidade do planeta será excedida
sos naturais deve ser equilibrada em função da sua no ano corrente. Todos os anos, Global Footprint
disponibilidade. Numa nação concreta que use Network calcula este “Dia do Excesso da Terra”.
mais biocapacidade do que aquela que tem den- Em 2010, o Dia do Excesso na Terra ocorreu em
tro das suas fronteiras, é possível equilibrar esse 21 de Agosto, o que significa que a partir de 1 de

O Excesso global ocorre


2,1 gha 2,7 gha
quando a Pegada é maior per capita per capita
do que a biocapacidade (biocapacidade (Pegada global
global em 2005) de 2005)
disponível. A oferta é
determinada por quanta
Fosso entre
terra nós temos e a bio- oferta e
Biocapacidade
produtividade dessa terra. Área x Bioprodutividade* = procura:
(OFERTA)
A procura é determinada EXCESSO
pelo tamanho da popula-
ção, por quanto consome
Intensidade Pegada
cada pessoa e pela efi-
População x Consumo individual x de recursos = Ecológica
ciência (intensidade de e resíduos** (PROCURA)
recursos e resíduos) com
que os bens de consumo
que são produzidos. *bioprodutividade indica quanta matéria-prima (por exemplo,
batata ou celulose) pode ser produzida numa determinada área.
**O factor de intensidade de recursos e resíduos indica quantos
produtos finais (por exemplo, batatas fritas ou papel) podem ser
produzidos a partir das matérias-primas usando a tecnologia
disponível. Fonte: Global Footprint Network

24 Parte 2: Contabilidade Ecológica


Sugestões para trabalhos futuros:
Como mudou o seu consumo? foram as suas férias e que tipos de transporte
Acabámos de aprender que o consumo humano eles usavam para viajar? Quão frequentemente
de recursos já esteve dentro dos limites do eles compravam novo mobiliário ou roupas?
que o planeta pode fornecer, pelo menos nos Quanto aqueciam (ou arrefeciam) as suas
tempos dos nossos avós. Durante o período de casas, e o que usavam para aquecer? Que
vida dos nossos pais, a humanidade caiu em quantidade de carne comiam? Depois entreviste
Excesso ecológico. Para a geração de pessoas os seus pais acerca de como eram estas coi-
nascidas nos anos de 1980 e mais tarde, nós sas quando eles eram jovens.
temos vivido inteiramente durante um período Como viveram os seus avós e os seus pais as
de dívida de biocapacidade. mudanças nos estilos de vida descritos acima?
Faça alguma pesquisa na sua família: Que vantagens e desvantagens resultaram des-
Que tipo de procura de recursos tinham a sua tas? Vivemos melhor actualmente do que eles
avó ou o seu avô (ou outros parentes nesse viveram nessa altura? Partilhe as suas expe-
grupo de idades)? Eles tinham o seu próprio riências com outros membros do seu grupo/
carro? Quão frequentemente e quão longas turma. Existem histórias semelhantes?

Janeiro de 2010 até 21 de Agosto a humanidade disponível por pessoa. Se todos os seres humanos
exigiu tanta biocapacidade – alimentos, energia, vivessem como os Europeus, precisaríamos de
assimilação de resíduos – quanto a Terra forneceu mais de duas Terras; em níveis de consumo dos
durante todo o ano de 2010. Americanos dos Estados Unidos, necessitaríamos
O Dia do Excesso da Terra tende a ocorrer mais de quase cinco. O problema é este: Só temos um
cedo a cada ano devido ao crescimento da popu- único planeta. De alguma forma, temos de apren-
lação mundial e o crescente consumo de recursos. der a viver dentro do nosso orçamento.
Estamos portanto a acumular uma dívida de Os cálculos de Pegada estimam que a humanidade
biocapacidade. Actualmente, cada pessoa na Terra passou a viver em Excesso ecológico na década
exige uma média de 2,7 gha de Pegada, em com- de 1980 ou mais cedo. O século passado foi uma
paração com a biocapacidade de 2,1 gha que está época de crescimento material sem precedentes

A humanidade precisaria
actualmente de 1,3 plane-
tas para satisfazer a sua
procura por recursos reno-
váveis e para a absorção
de resíduos. Se tivermos
em consideração as neces-
sidades dos animais selva-
gens e espécies vegetais,
esse número seria ainda
maior.

Parte 2: Contabilidade Ecológica 25


Fontes e informações a nível mundial. Alguém que tenha nascido em O Excesso ecológico é o desafio que define o sécu-
adicionais: 1950 testemunhou um crescimento quase inacre- lo XXI. Desconhecemos o quão longe podemos
• Global Footprint ditável da população mundial: desde 2,5 a 6,8 chegar em termos de Excesso, antes de causarmos
Network (2010): Earth’s mil milhões de pessoas em 2009. Entre 1950 e consequências críticas. Mas uma coisa é certa:
Overdraft Notice: On 2000, essa pessoa também terá experimentado um O Excesso tornar-se-á cada vez mais numa força
August 21st, we exceed crescimento na economia global de sete vezes. O determinante.
nature’s budget . consumo global de água aumentou três vezes, as
• www.footprintne- emissões de dióxido de carbono quatro vezes, e a O dinheiro torna o Excesso invisível
twork.org/en/index. quantidade de peixe capturado cinco vezes. Após O Excesso tem muitas faces. Pode significar uma
php/GFN/page/ a Segunda Guerra Mundial, amplos segmentos da espécie de ave expulsa do seu habitat, ou talvez
earth_overshoot_day população dos países industrializados na Europa, até levada à extinção, ou de todo um ecossistema
América do Norte e Japão, sentiram uma prosperi- danificado pelo uso excessivo.
dade que no tempo dos seus avós era reservada aos Para os moradores da cidade abastados, o que
milionários – telefones, frigoríficos, salas de estar inclui a maioria dos Alemães, o fenómeno do
permanentemente aquecidas (ou arrefecidos), as Excesso é muitas vezes experimentado apenas
suas próprias máquinas de lavar roupa e carros. esteticamente. Podemos ver de um avião como
Muitas destas tendências têm resultado em melho- as cidades se estendem cada vez mais: mais casas,
res padrões e qualidade de vida para milhões de mais ruas, e mais parques de estacionamento. O
pessoas. Mas também têm os seus custos. que demoraria talvez uma meia hora de caminho a

Uma digressão: olhando para trás – um a produtividade no vale Eufrates e Tigre).


exemplo de Excesso no início da civilização • Os limites são ultrapassados, pelo que o
A primeira prova da destruição de um ecos- sistema é decisivamente destruído (depois
sistema vem dos Sumérios, aproximadamente de um certo grau de salinização do solo, as
em 2400 AC. A geologia do vale situado entre plantas reagiram negativamente e os rendi-
os rios Tigre e Eufrates, tornou a produção de mentos afundaram-se).
alimentos especialmente difícil. Na Primavera, • Os processos de aprendizagem começaram
ambos os rios ficaram cheios com grandes demasiado tarde para corrigir o problema
caudais de água; entre Agosto e Outubro, perí- (os Sumérios não tinham conhecimento do
odo em que a maioria das quintas mais precisa problema da salinização e talvez nunca
de água, os rios encolheram e tornaram-se em tenham compreendido o que causou o
riachos minúsculos. Os Sumérios desenvolve- colapso).
ram um dos primeiros sistemas de irrigação Este exemplo mostra como o Excesso é um
artificial do mundo. A produtividade dos ecos- problema que frequentemente se arrasta len-
sistemas, assim como as colheitas de cereal, tamente; é isto que o torna tão perigoso. O
aumentaram. destino dos Sumérios, como resultado da sua
Durante o Verão faz imenso calor nesta lati- má gestão involuntária e do uso excessivo dos
tude, cerca de 40 ºC. A água de irrigação ecossistemas, repetiu-se inúmeras vezes, seja
evaporou rapidamente nos campos, deixando nos tempos bíblicos, com a destruição das
depósitos de sal para trás. A partir de 2000 florestas sobre as montanhas do Líbano, no
AC, cresceram relatos da terra “tornando-se tempo dos romanos, com a extensa erosão em
branca”. Por fim, a produção de cereal colap- torno do Mediterrâneo, até aos dias actuais.
sou devido à salinização do solo – um proble- Os ecossistemas são sensíveis; quando perdem
ma maior da irrigação, mesmo hoje. o seu equilíbrio, o colapso não costuma estar
O caso dos Sumérios revela o padrão básico do muito distante.
Excesso: Fonte: Ponting, C. (2007): A New Green History of
• O crescimento ocorre e os acontecimentos the World. The Environment and the Collapse of Great
Civilizations.
precipitam-se (a irrigação artificial aumenta

26 Parte 2: Contabilidade Ecológica


Sugestões para trabalhos futuros: Percebeu o de gases com efeito de estufa? Como iria
princípio do Excesso? isto ter impacto na vida diária das pesso-
Imagine, por exemplo, que vai ter um segundo as? Acha que esta abordagem reduziria o
emprego numa padaria. Você deve levantar- consumo? Porquê, ou por que não? Quem se
-se todas as manhãs às 3 horas. Depois de oporia a essa ideia, e quem iria apoiá-la?
um certo período de tempo, a sua capacidade Como seria implementada uma ideia destas
para realizar o seu trabalho do dia começa – qual a instituição ou organização que tem
realmente a sofrer, provavelmente porque está a capacidade de lidar com uma tarefa tão
muito cansado. Isto é Excesso? desafiadora? Onde vê riscos e/ou potenciais
Considere outras situações do seu quotidiano, consequências negativas?
na sua família, na sua comunidade, ou a um • Alguns sugerem que devemos considerar
nível global, em que possa ocorrer Excesso atribuir a todos iguais direitos de acesso à
(mesmo quando nós não o chamamos assim biocapacidade global – isto é justo? Ou a
nas conversas diárias). biocapacidade pertence a diversos países?
Vamos olhar um pouco para o futuro: A huma- Ou devemos ter acesso de acordo com
nidade percebe que não pode levantar capital nosso poder de compra?
natural a mais da sua conta, por mais tempo, • Se vivêssemos dentro dos limites do planeta,
porque está a colocar em risco a sua pró- passaríamos todos fome a partir de Septem-
pria base de sobrevivência. Imagine que é um bro em diante, após o Dia Anual de Excesso
ministro do meio ambiente, um presidente de (ver p. 24 e segs.) dado que já tínhamos
câmara ou um fabricante de automóveis – usado os nossos recursos para o ano?
como acha que serão as abordagens de base • O “imposto verde” da Alemanha (que, entre
para as soluções, a fim de promover uma outras coisas, contém impostos de electri-
melhor, mais inteligente e mais justa rela- cidade e conduz a um aumento dos impos-
ção com os recursos naturais? Que ideias lhe tos do petróleo) torna comportamentos pre-
ocorrem face a tais desafios complexos? Como judiciais ao ambiente mais caros. Deve este
seriam os diferentes argumentos do ponto de instrumento regulador ser alargado a outros
vista das partes interessadas mencionados sectores de consumo? Você vê formas de
acima (ou outras)? Por exemplo: expandi-lo para incluir a biocapacidade?
• E se cada pessoa, cada cidade, cada país Poderia ser um bom modelo para outros
ou empresa pudesse comprar ou vender países?
as suas “unidades de consumo pessoal” de • Em que outras soluções consegue você
modo semelhante ao comércio de emissões pensar?

sair da cidade e apreciar a natureza, hoje demora o difícil. Quando isso acontece por todo o mundo,
dobro do tempo. os preços dos alimentos sobem para todos. Aqueles
Mas, muitas vezes, o Excesso pode ser invisível, que possuem poder de compra suficiente podem
especialmente para pessoas com meios financeiros. resguardar-se por mais tempo.
Um exemplo é o turismo: Os ricos muitas vezes Perda de biocapacidade normalmente não é enten-
param de viajar para as regiões do mundo que se dida como um problema ambiental, a maioria vê-a
tornam empobrecidas, se aumentarem as tensões como uma má gestão, um evento relacionado com
sociais ou se tornam imprevisíveis e perigosas. condições climatéricas inesperadas como a seca,
A perda de biocapacidade é mais visível para as um problema de distribuição, ou uma combinação
populações rurais de baixo poder de compra. Elas destes. Mas se recuarmos um passo, podemos ver
estão directamente dependentes dos serviços dos que existem razões sistémicas para isso. O resul-
seus ecossistemas, se vivem, por exemplo, no Qué- tado dessa perda leva a tensões sociais e por vezes
nia ou na Índia. Quando a água secar no campo, conflitos violentos.
haverá menos para comer, e a vida torna-se mais A Pegada mostra que, em quase todos os países

Parte 2: Contabilidade Ecológica 27


a procura de biocapacidade aumentou de forma O que pode a Pegada fazer –
constante durante os últimos 40 anos. Mas a ofer- e o que não pode
ta deslocou-se no sentido oposto: A biocapacidade
disponível por pessoa encolheu. A maioria das pes- A Pegada Ecológica é um indicador antropocên-
soas pensa que isto é “normal”, uma vez que está trico (centrado no homem). Mede a procura da
a acontecer em toda parte. Mas é precisamente humanidade sobre a biocapacidade e não dita
o contrário. Dado que está a acontecer em todos especificamente a quantidade de terra necessária
os lugares, as tendências condicionam-se mutua- para outras espécies. A ferramenta também não
mente – não há outro lado para que voltar-se se os prescreve soluções prontas; em vez disso, apresenta
ecossistemas locais forem usados em excesso. informações que podem ser usadas para tomadas
No entanto, existem também alguns exemplos de decisão. Isto faz com que seja uma eficaz fer-
positivos de anos recentes, em que os países viraram ramenta de comunicação e gestão. Existem várias
as tendências ao contrário. Para fazer isso exige-se pressões ambientais importantes que a Pegada
um esforço consciente. Vamos examinar alguns não mede directamente, incluindo a diversidade
desses exemplos mais de perto, após a p. 39. biológica e gases tóxicos. Por falta de dados, a
água doce é actualmente medida apenas de forma
indirecta. Por exemplo, quando a água doce se
“Têm existido uma série de iniciativas
torna escassa, a biocapacidade cai. Ela também
de investigação inovadoras para nos
não mede a dimensão económica e social da
ajudar a obter um controlo sobre o que
sustentabilidade.
se entende por desenvolvimento sus-
Estamos todos preocupados em assegurar a sobre-
tentável. Entre os mais substanciais e
vivência da humanidade e da qualidade de vida.
iluminados, se não o único, o mais útil de
Mas há coisas além da biocapacidade suficiente
todos, é o trabalho por Mathis Wacker-
que são importantes: a estabilidade do sistema
nagel e dos seus colegas sobre Pegadas
financeiro, sistemas para assegurar a justiça, a
Ecológicas.”
distribuição equitativa de bens e recursos, eman-
O Professor Norman Myers, de Oxford, activis- cipação da violência e da guerra, a capacidade de
ta ambiental e um dos maiores especialistas combater e prevenir doenças, a preservação da
do mundo sobre o tema da biodiversidade. diversidade biológica, paisagens urbanas e rurais
estéticas, e muitos outros. A Pegada deve ser

Quando os recursos
se tornam escassos,
os mais pobres são os
primeiros a senti-lo.

28 Parte 2: Contabilidade Ecológica


considerada como uma resposta a uma questão relacionadas com a energia, a Pegada, até agora,
chave para a gestão da economia humana. Mas é apenas toma em consideração o dióxido de car-
claro que também há outras questões que precisa- bono. No futuro, os gases adicionais relevantes
mos considerar. Por isso, também são necessários para o clima, como o metano, serão conside-
outros indicadores. Mais alguns indicadores são rados. A metodologia de cálculo da Pegada é
introduzidos nas caixas de informação no decurso continuamente actualizada de acordo com as
deste capítulo. últimas descobertas. Para esse efeito, Global
Footprint Network trabalha com universidades e
Melhoria contínua do método outras redes de estatísticas, índices de conversão
Os resultados da Pegada realmente fornecem e análises de imagens de satélite. Os dados ape-
informações quantitativas úteis, e podem ser nas passam a fazer parte dos cálculos da Pegada
validados e melhorados, mas não são “exactos”. quando são suficientemente “fortes”, ou seja,
Por exemplo: Nos cálculos relativos às emissões certos.

O metano, que se liberta


para a atmosfera através
dos processos digestivos
do gado e que tem um
“potencial de aquecimento
global” mais elevado do
que o CO2, será tido em
conta em cálculos futuros
da Pegada.

Caixa de Informação: A Mochila Ecológica exemplo, os seus efeitos ambientais, no entan-


Ou a Entrada de Material por Unidade de Servi- to, não são tidas em conta. Cálculos da Pegada
ço (MIPS – Material Input per Unit of Service) recorrem a análises de fluxo de material, tal
descreve a quantidade de recursos (bióticos como os da MIPS . A Pegada acrescenta outra
e abió­ticos), em toneladas, necessários para camada ao MIPS: Mostra quanta biocapacidade
produzir um determinado serviço – por exem- é necessária para fornecer este fluxo de mate-
plo, uma viagem de carro de um quilómetro. rial. Isto permite-nos então comparar a procura
Ao fazê-lo, a metodologia MIPS monitoriza o humana com a oferta da natureza. O cientista
consumo de recursos como um todo, desde Ernst Ulrich von Weizsäcker recomenda uma
a extracção de matérias-primas da natureza, redução dos fluxos de materiais num factor de
através da produção e utilização, até às fases 4 a 5, Friedrich Schmidt-Bleek sugere mesmo
de eliminação. um factor de 10. A mochila ecológica torna
A imagem de uma mochila ecológica clarifica possível reconhecer e identificar ineficiências e
a quantidade total de matérias-primas que têm desperdício de recursos. Como uma ferramenta
de ser mobilizadas para produzir um determi- de tomada de decisão, facilita o desenvolvi-
nado produto ou serviço. No caso de um auto- mento de alternativas mais ecológicas.
móvel, este cálculo não se refere ao peso do Fontes e informações adicionais:
carro, mas ao dos minérios e dos subprodutos www.wupperinst.org/en/projects/topics_online/mips/
da sua produção. index.html; www.factor10-institute.org;
As qualidades dos recursos consumidos, por www.wupperinst.org/uploads/tx_wibeitrag/ws27e.pdf

Parte 2: Contabilidade Ecológica 29


Os métodos para calcular
o consumo de recursos
estão a ser melhorados
continuamente.

Caixa de Informação: per capita, mas também é a área exigida pela


Uma variação da Pegada – Pegada 2.0 Pegada individual, desde que a biocapacidade
Alguns cientistas e críticos têm procurado seja espalhada por mais (menos produtivos)
melhorar a Pegada Ecológica através do desen- hectares. O Excesso é ainda mais dramático
volvimento das suas próprias variações. com este método.
É o caso da Pegada 2.0, que difere da metodo- A principal crítica ao método da Redefining
logia de Global Footprint Network , das seguin- Progress é que as áreas que cumprem múl-
tes formas: tiplas funções (por exemplo, fornecem pro-
• Toda a superfície da Terra é considerada, dutos florestais e assimilam as emissões)
incluindo todos os oceanos e as Regiões são contabilizadas duas vezes, distorcendo
Polares (portanto, as áreas que não são assim os resultados. O método não é com-
biologicamente produtivas). patível com as normas da Pegada Ecológica
• 13,4 porcento da biocapacidade do mundo é (www.footprintstandards.org).
“reservada” para animais selvagens e espé- Além disso, alguns cientistas consideram como
cies de plantas, em contraste com Global arbitrária a definição uma extensão específica
Footprint Network , que não especifica uma da superfície do nosso planeta a reservar para
quantidade determinada para as espécies espécies animais e vegetais. Global Footprint
selvagens. Network deixa ao utilizador dos dados, a decisão
• Os factores de conversão (factores de de quanta biocapacidade deve ser deixada para
rendimento e de equivalência) são deter- o espaço de vida das espécies animais e vege-
minados com base no produto bruto pri- tais. Por exemplo, biólogos como E.O. Wilson,
mário relativo (biomassa total do planeta, professor emérito de Harvard, reclamam que 50
menos a respiração celular das plantas), porcento deve ser reservado para as plantas e
ao invés do que é chamado de “potencial animais selvagens. Mas mesmo esse valor pode
agro-ecológico”. levar a uma perda da diversidade biológica.
Métodos de cálculo diferentes levam a resul-
tados diferentes. Assim, com a Pegada 2.0, as Fonte e informações adicionais: Venetoulis, J. & J. Talberth
áreas de biocapacidade disponíveis são maiores (2008); www.footprintnetwork.org/faq

Caixa de Informação: quantidade espantosa. Por exemplo, a produção


A Pegada Hídrica de um quilograma de carne requer 16 mil litros
A Pegada Ecológica não mede uso de água de água; uma chávena de café cerca de 140
directamente, embora a escassez de água seja litros.
um problema cada vez mais importante e um O conceito de Pegada Hídrica e a respectiva
dos factores mais relevantes para permitir metodologia foram concebidos pelo professor
a biocapacidade. Todos os processos agríco- Arjen Hoekstra da UNESCO-IHE e foram depois
las e industriais usam água, por vezes uma desenvolvidos na Universidade de Twente, na

30 Parte 2: Contabilidade Ecológica


Holanda. A Pegada Hídrica total de um país Estes valores elevados de consumo devem ser
inclui dois componentes: a parte da Pegada considerado críticos, sobretudo tendo em conta
que ocorre no interior do país (Pegada Hídrica o contexto de uma população mundial cres-
interna) e a parte da Pegada que ocorre nou- cente, e o aumento das condições desérticas
tros países do mundo (Pegada Hídrica externa). em regiões áridas e semi-áridas. Iniciativas
A diferença refere-se à apropriação de recur- como o projecto ambiental “Água Virtual”, de
sos hídricos domésticos, contra a apropriação Deutsche Vereinigung Gewässerschutz , chamam
dos recursos hídricos estrangeiros. a atenção para estes problemas e assinalam
A Pegada Hídrica de um produto (mercadoria, como cada indivíduo pode influenciá-los. Muitas
bem ou serviço) é o volume de água doce utili- pessoas não sabem que o consumo individual
zada para produzir o produto, medida no lugar directo de água na Alemanha diminuiu nos últi-
em que o produto foi realmente produzido. mos anos graças à educação e a tecnologias
Refere-se à soma da água usada nas várias mais eficientes. Mas ainda assim, 86 porcento
etapas da cadeia de produção. A Pegada Hídri- do consumo de água é usado para produzir os
ca de um produto é a mesma que o seu “conte- alimentos que os alemães comem e outros pro-
údo de água virtual”. dutos agrícolas. A Alemanha pertence ao con-
Para uma melhor comparação, a água de con- junto dos 10 maiores importadores líquidos de
sumo dos países é convertida em consumo per água no mundo. Segundo a UNESCO, isto deve-
capita anual. Enquanto o membro médio da -se principalmente à importação de produtos
espécie humana consome 1.240 m³ de água agrícolas com consumo de água intensivo, tais
doce (1 m³ = 1.000 litros), este valor é de como chá, café e cacau. É de esperar que o
702 m³ para um Chinês, em média, e é de, comércio internacional de água virtual aumente
2.483 m³, em contrapartida, para um America- ainda mais através da crescente globalização.
no dos Estados Unidos médio. Na Alemanha, o Fonte e informação adicional:
consumo per capita de água é 1.545 m³. www.virtuelles-wasser.de; www.waterfootprint.org

Caixa de Informação:
Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) de onde vem a farinha e quantos recursos já
Esta metodologia observa sistematicamente foram perdidos ao longo do seu processamen-
os efeitos ambientais de um produto, desde a to. Assim, segue a história total ou “ciclo de
extracção de recursos até à sua eliminação. vida” de todos os ingredientes em cada fase da
Não se trata apenas de medidas quantitati- produção.
vas, como a metodologia MIPS (ver Caixa de Avaliação do ciclo de vida é a base para o
Informação: A Mochila Ecológica), mas também cálculo da Pegada Ecológica de um produto.
sobre as características dos materiais indivi- O inventário do ciclo de vida das entradas e
duais, tais como a sua toxicidade. Toda uma saídas de materiais é traduzido em áreas de
disciplina científica se preocupa com diferentes terras necessárias para a criação de materiais
procedimentos de avaliação do ciclo de vida, e absorção de resíduos. Assim, os cálculos da
que devem ser determinados de acordo com as Pegada dependem de boas avaliações do ciclo
normas internacionais. de vida e as duas ferramentas são frequente-
O método funciona como uma receita culinária mente usadas em conjunto.
em sentido inverso. Um olhar sobre uma refei- Quando as avaliações do ciclo de vida são
ção terminada e pergunta o que é necessário estendidas com o método de Pegada Ecológica,
para fazer isto? Avaliação do ciclo de vida tornam-se ainda mais úteis para a tomada de
é simplesmente um pouco mais completa e decisões.
aprofundada. Não está satisfeita com a infor- Fonte e informações adicionais:
mação “um quilo de farinha”; ela pergunta www.unep.fr/scp/lifecycle

Parte 2: Contabilidade Ecológica 31


Como estão associadas a Pegada e a diversidade biológica?
Sabemos que, aproximadamente, 26 porcento da Quem fica com o peixe?
superfície da Terra fornece a maioria dos materiais Muitas das ameaças à biodiversidade da Terra,
e serviços dos ecossistemas que o homem procura, derivam em última análise da procura humana
e que actualmente existem 2,1 hectares globais da sobre a biosfera. A perda de habitat, sobre-explora-
biocapacidade disponível por pessoa no planeta. ção de espécies devido à caça e pesca, a poluição,
No entanto, a biosfera terrestre não serve um pro- a propagação de espécies invasoras ou genes, e as
pósito exclusivamente antropogénico: A mesma alterações climáticas, são todas as forças antro-
Terra que mantém a existência humana deve pogénicas que colocam pressão sobre as diversas
também manter a existência de outras espécies. espécies da Terra.
Se a sociedade atribui um valor à biodiversidade, A perda de áreas naturais cruciais pode ser vistas
temos também de reservar terra biologicamen- tanto em sítios tropicais, como subtropicais. Na
te produtiva e recursos para outras espécies,
não-domesticadas.
“Mesmo que apenas queiramos salvar os
A Pegada Ecológica não mede a biodiversidade –
tigres e os pandas, ou criar áreas pro-
foca-se apenas na oferta disponível e na procura de
tegidas, podemos continuar a não ter
biocapacidade pelos seres humanos. Mas, com a
sucesso sem abordar a pressão humana.
Pegada, podemos quantificar a pressão que os seres
Reduzir o impacto da humanidade, no
humanos colocam no planeta, e expressar melhor
entanto, exige igualdade e cooperação,
as causas da perda de biodiversidade, incluindo
caso contrário, iríamos apenas criar mais
a pressão dos seres humanos sobre o habitat de
conflitos. Esta é uma razão importan-
espécies animais e vegetais. Temos apenas um pla-
te para monitorizar a procura humana
neta. A sua capacidade de sustentar uma próspera
através da Pegada Ecológica. Reconhecer
diversidade de espécies, seres humanos incluídos, é
os constrangimentos ecológicos é difícil,
grande, mas fundamentalmente limitada. Quando
mas é um pré-requisito para a harmonia
a procura humana sobre esta capacidade excede o
entre as pessoas e a natureza.”
que está disponível – quando entramos em Exces-
so, superando os limites ecológicos – desgastamos Claude Martin, ex Director-Geral da WWF
a saúde dos sistemas vivos da Terra, para nós pró- Internacional
prios, bem como para outras espécies.

A transformação de uma
parcela de floresta numa
pastagem usada extensi-
vamente ou num campo
utilizado intensivamente
aumenta a biocapacidade
disponível para os seres
humanos, no entanto, a
biodiversidade é reduzida.

32 Parte 2: Contabilidade Ecológica


América do Sul, grandes extensões de floresta Imagine uma área de pasto utilizada extensiva-
estão a ser arrasadas. Só no Brasil, até três milhões mente com uma infinidade de variedades de ervas
de hectares de florestas tropicais são perdidos a crescer e, dentro desse habitat, inúmeros insec-
anualmente. tos e plantas. Esta terra de pasto é extremamente
Uma das maiores ameaças à diversidade biológica produtiva em termos de ecossistemas e da vida
nas próximas décadas são as alterações climáti- que suporta, mas do ponto de vista da Pegada
cas. Já estamos a assistir aos efeitos das alterações Ecológica, poderia ser menos produtiva do que um
climáticas nas regiões polares e nos oceanos do pasto intensivo de uma terra com poucos tipos de
mundo, que sofrem de acidificação. Segundo o ervas, que apenas oferecem habitat a uma quan-
Índice Planeta Vivo da WWF, a população média tidade limitada de espécies. Se transformarmos
de espécies de vertebrados em todas as regiões do a pastagem extensiva em terras aráveis utilizadas
mundo diminuiu cerca de 30 porcento nos últi- intensivamente, a biocapacidade aumenta – mas,
mos 35 anos. Mesmo alcançar as modestas metas simultaneamente, a diversidade biológica dessa
da Convenção sobre Diversidade Biológica, para área diminui.
conter a diminuição da diversidade de espécies, Descobrimos que aumentar a biocapacidade mui-
parece agora improvável. tas vezes resulta na redução da biodiversidade.
Esta avaliação não é uma falha directa do método
Pegada Ecológica, mas um reflexo da realidade. A diversidade de espécies
Podem existir opções entre os interesses humanos caiu em todo o mundo
e a vida selvagem, e é isso que esquecemos com cerca de 30 porcento ao
frequência. longo dos últimos 35 anos.
No futuro, continuaremos a perder belas aves, a A tendência parece ser,
rica diversidade de prados com flores selvagens e quanto maior a Pegada
a brilhante variedade de plantas e animais encon- Ecológica, maior a pres-
trados nos nossos recifes de coral. Perderemos são colocada sobre a
espécies de cogumelos, que têm conteúdos medi- biodiversidade.
cinais valiosos. Perderemos os primatas, e talvez
até os rinocerontes. A luta pelos recursos entre os
seres humanos e as plantas e animais selvagens
vai aumentar. A pergunta será, quem fica com o
peixe: o leão-marinho ou o homem?

LPR_08 Port v3.qxd 14/5/09 12:59 Page 101

WWF Relatório Planeta Vivo 2008


R E L AT Ó R I O P L A N E TA V I V O 2 0 0 8
Há 10 anos que a WWF tem escrito sobre
o estado do planeta Terra no seu Relatório
Planeta Vivo. Desde 2000, tem ligado as
mudanças na diversidade de espécies global
(Índice Planeta Vivo) com o consumo de
recursos humanos (a Pegada Ecológica).
O Relatório Planeta Vivo 2008 foi desen-
volvido em estreita parceria com Global
Footprint Network e a Sociedade Zoológica
de Londres (ZSL – Zoological Society of
London). Está disponível no DVD de acom- panda.org/downloads/lpr_2008_portugue-
panhamento, ou pode ser descarregado se_final_lores_2_.pdf (Português), e http://
online via www.panda.org/livingplanet ou assets.panda.org/downloads/living_planet_
mais especificamente em http://assets. report_2008.pdf (Inglês)

Parte 2: Contabilidade Ecológica 33


O homem está em com-
petição crescente com a
restante natureza.

Sugestões para trabalhos futuros:


Que alterações ocorrem quando a diversidade as alterações climáticas, possivelmente,
biológica decresce? alterar o sustento da humanidade? Para a
Alguns conceitos foram introduzidos anterior- sua pesquisa, convidamo-lo a ver as outras
mente. Vamos reflectir um pouco mais sobre brochuras da série “A sustentabilidade tem
eles: muitas faces”. Por exemplo, volume 1, “O
• Conte quantos tipos de maçãs ou uvas exis- Desenvolvimento precisa da Diversidade”
tem no supermercado e quantos mais tipos (em Alemão, Inglês, Francês e Espanhol) ou
são vendidos por frutarias e mercearias. volume 8, “Natureza e Humanidade enfren-
Porque é que existem sempre apenas os tam Alterações Climáticas” (em Alemão e
mesmos quatro ou cinco tipos nos super- Inglês) ou o volume 11, sobre os valores
mercados? O que há de bom ou de mau agro-biodiversos na China.
nisto? • Explore a relação entre a biodiversidade
• Será que notamos quando a biodiversida- e a humanidade. Na p. 37, encontrará um
de diminui? Estaremos a perder, todos os diagrama detalhado sobre as causas da
dias, parte das espécies mais discretas, perda de biodiversidade. O lado esquerdo
não investigadas, ou ecossistemas inteiros? indica o quanto essa perda está ligada ao
Estarão essas perdas a ser documentadas? consumo humano. Investigue exemplos de
Em que medida pode a perda da diversidade ameaças à diversidade biológica (ou seja,
biológica ter também consequências graves que pesqueiros já estão sobre-explorados?
para os seres humanos? Pense sobre as Que margens de rios na sua região foram
culturas que servem como nossa principal artificializadas? Quantas vezes um rio de
fonte de alimento, como o trigo, o arroz e o caudal regular sofre inundações nas suas
milho (na Índia, já existiram 30.000 varie- margens?). Considere, com o auxílio do
dades diferentes de arroz!). Investigue a diagrama, como você, os seus amigos, a
história da batata na Irlanda do século XIX. sua família, a sua comunidade ou o Gover-
Ou o desempenho da polinização das abe- no poderiam usar a Pegada para retardar,
lhas. O que acontecerá aos seres humanos parar ou reverter a perda de diversidade
se as abelhas forem extintas? Como vão biológica.

34 Parte 2: Contabilidade Ecológica


Podem as tendências de diminuição das Outras regiões ricas em biodiversidade incluem as
populações das espécies ser revertidas? regiões costeiras e ilhas do Mediterrâneo, o sudoeste
Se quiséssemos colocar um ponto final às activida- da China, e as áreas de fronteira desde a Birmânia
des humanas que ameaçam e levam à extinção das ao Vietname. Grande parte de Madagáscar também
espécies, necessitaríamos de fazer mudanças drásti- pertence a esta lista, assim como as numerosas
cas nos nossos hábitos de vida. Isso exigiria prova- ilhas dos Oceanos Pacífico e Índico.
velmente a retirada de parcelas de terras utilizadas Quando confrontados com a extinção de biodiver-
por humanos, e devolvê-las ao seu estado natural. sidade valiosa, será suficiente ver a Terra exclusiva-
Seria também necessário mudar os nossos hábitos mente como uma área potencialmente produtiva
alimentares de forma significativa. Teríamos de pro- para o ser humano? Ou o nosso planeta é mais do
teger as regiões ecológicas mais valiosas, e podería- que uma fonte de matérias-primas para consumo
mos ter a necessidade de dar prioridade à saúde do humano, e uma bacia de dióxido de carbono para
ecossistema em relação ao nosso próprio conforto. os resíduos humanos? Para permitir o desenvolvi-
A diversidade biológica não está igualmente distribu- mento sustentável, cientistas, políticos e membros
ída por todo o mundo. Muitos sítios especiais para a da sociedade civil terão de agir, individual e colec-
biodiversidade encontram-se na América Central e tivamente, para proteger a diversidade dos ecossis-
Amazónia Ocidental, na zona do Cabo da África do temas, espécies e genes da Terra, mantendo uma
Sul, e nas montanhas e planícies da África Oriental. elevada qualidade de vida para os seres humanos.

Sugestão para trabalho futuro: um jogo mental ficas para sobreviver e agora estão separadas
Imagine que as pessoas e a biodiversidade estão delas. Mas nós estávamos aqui primeiro. Vamos
a “jogar xadrez”. Ambos querem o “peixe”, o ter de invadir o vosso espaço vital, porque
recurso natural sempre mais escasso. estamos a ficar sem lugares para viver” (os
Pessoa: “Eu sou dono de terra assim que a animais selvagens empurram as cidades, os
torne inacessível para outras espécies” (são insectos “incomodam” os seres humanos).
construídas cercas, paredes de pedra, etc.). Pessoa: “Os seres humanos têm sprays tóxi-
Biodiversidade: “OK, então eu vou mudar para cos, armadilhas e outros métodos para proibir
outras áreas.” outras espécies de invadir o nosso espaço.”
Pessoa: “Existem ainda mais de nós e pre- Biodiversidade: ....
cisamos ainda de mais espaço. Eu estou a Pessoa: ....
alargar a minha área, uma vez mais” (mais
cercas, muros de pedra e infra-estruturas são Para onde vão a biodiversidade e as pessoas
construídas). a partir daqui? Como podem coexistir e flo-
Biodiversidade: “Então todas as minhas espécies rescer sem fazerem mal um ao outro? Jogue
terão de se apertar” (sobrevivência das espé- este jogo com alguém no seu grupo/classe. O
cies que necessitam de mais espaço está cada objectivo não é derrotar ou eliminar o outro,
vez mais ameaçada). mas encontrar soluções para a sobrevivência
Pessoa: “Eu preciso ainda de mais espaço para de ambos como os recursos se tornam mais
produzir alimentos, materiais e energia. Os escassos os seres humanos, plantas e animais
meus companheiros humanos e eu estamos selvagens são forçados a ajustar-se. A compe-
a usar muito mais energia do que estávamos tição é crescente. Para cada estratégia existe
habituados” (a procura adicional dos seres uma contra-estratégia – quem acha que tem
humanos, a construção de estradas ou centrais as melhores ideias? Será a espécie humana
hidroeléctricas, e o desflorestação separaram a criatura mais flexível na Terra, ou um dos
algumas parcelas de biodiversidade). menos adaptados? Pense sobre o tempo relati-
Biodiversidade: “Agora eu estou a perder espé- vamente curto em que os seres humanos têm
cies que são dependentes uma da outra. As estado no planeta, e sobre os menores organis-
lagartas necessitam de plantas muito especí- mos que existiram desde a formação da Terra.

Parte 2: Contabilidade Ecológica 35


Como podemos nós, ape-
sar da escassez de recur-
sos, viver bem dentro dos
limites de um planeta?

Descarregue o Estudo
TEEB: Caixa de Informação: o valor económico da
www.bmu.de/english/ diversidade biológica: Estudo TEEB of Ecosystems and Biodiversity), revela as
nature/un_conferen- A vida humana depende em grande parte dos consequências dramáticas de continuar com o
ce_on_biological_diver- serviços do ecossistema, que a natureza for- “business as usual”.
sity_2008/papers/ nece gratuitamente: água limpa e ar, florestas Ao que nos arriscamos se continuarmos com
doc/41608.php e áreas de pesca – todos os quais se podem as tendências actuais? Em 2050, onze porcento
regenerar. Embora estes serviços, conhecidos das restantes áreas selvagens serão irreme-
como biocapacidade, não tenham valor mone- diavelmente perdidas através da interferência
tário, eles são utilizados e os seus recursos humana; 40 porcento das áreas ainda extensi-
são consumidos. Esta falta de valorização no vamente utilizadas serão utilizadas para agri-
sentido financeiro contribui a longo prazo para cultura intensiva, e, até 60 porcento dos recifes
um uso excessivo dos ecossistemas e à perda de coral desaparecerão permanentemente atra-
da diversidade biológica. O Relatório Stern vés da poluição da água, acidificação climática
(Stern Report) 2006, escrito por um ex-Chefe induzida e espécies invasoras.
Economista do Banco Mundial, Sir Nicholas Estimativas concretas das consequências eco-
Stern, despertou uma discussão. Pela primei- nómicas ainda não foram determinadas. Além
ra vez, um perito económico se enfocou nas disso, os investigadores têm a tarefa de des-
graves consequências económicas das altera- tacar a ligação entre a diversidade biológica
ções climáticas para a comunidade global. Em e do desenvolvimento económico e social da
Março de 2007, o então Ministro Alemão do humanidade. Eles estão a explorar uma pos-
Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, e o Comissário sível ferramenta para os sectores políticos e
Ambiental da UE, encomendaram um estudo industriais, o que permitirá aos decisores ter
semelhante sobre os efeitos económicos da em consideração a preservação da diversidade
perda da diversidade biológica. A comissão de espécies em todas as fases do planeamento.
foi dada a um banqueiro altamente respeita- As abordagens do Estudo TEEB e a Pega-
do, Pavan Sukhdev, Chefe do Departamento de da Ecológica diferem entre si principalmente
Mercados Globais da Deutsche Bank . Em 2008, num ponto: Enquanto a Pegada vê uma área
durante a Conferência das Partes na Convenção puramente bioprodutiva como capital inicial,
das Nações Unidas sobre Diversidade Bioló- independente de sua biodiversidade, o Estudo
gica, em Bona, a equipa de investigação que TEEB foca essa diversidade nos seus contextos
ele levou, publicou um relatório intercalar da económicos.
primeira fase do estudo, que será concluído em Fontes e informações adicionais:
2010. O relatório “A Economia dos Ecossiste- www.teebweb.org; www.bmu.de/un-conference2008;
mas e Biodiversidade” (TEEB – The Economics www.ufz.de/index.php?en=16828

36 Parte 2: Contabilidade Ecológica


Madeira, fibra, pasta de papel Produção de madeira e pasta de papel
Perda e fragmentação de floresta, bosque e
Recolha de lenha
Colheitas de alimentos, mangal
óleo, fibra Conversão ao cultivo
Perda e degradação de prados e savanas
Carne, lacticínios, ovos, couros Conversão a pasto
Peixe e marisco de Conversão a aquacultura Fragmentação e regulação de rios
aquacultura
Conversão a terrenos urbanos Destruição de recife de coral e habitats costeiros
Construção, cimento e construção de estradas
Construção de barragens Destruição de habitats de fundos aquáticos
Minas e metais

Pesca à rede (incluindo arrasto)


Sobre-pesca
Pesca à linha
Carne de caça, peixe Pesca acidental
e marisco Caça furtiva
Sobre-captura de espécies terrestres e aquáticas
Comércio de espécies selvagens

Carga de nutrientes/eutrofização e blooms tóxicos

Emissões de azoto e enxofre Chuva ácida


Águas domésticas Resíduos orgânicos
Processamento industrial Uso de agroquímicos Pesticidas e químicos tóxicos
Resíduos de minas e contaminação Derrames de petróleo

Acidificação do oceano
Perda de biodiversidade, pressão humana e a Pegada Ecológica

Espécies marinhas invasoras


Transporte marítimo
Transporte
Comércio Espécies de água doce invasoras
Introdução, deliberada ou inadvertida,
Turismo de espécies exóticas Espécies terrestres invasoras, especialmente em pequenas ilhas

Degradação dos ambientes do Ártico e Alpinos

Perda do gelo polar


Uso de energia Lixiviação e morte do recife de coral
Dióxido de carbono, metano e outras
Queima de combustíveis
emissões de gases com efeito de estufa
fósseis Alteração dos ciclos sazonais

Morte de floresta e seca induzidas pela seca

Perda de zonas húmidas sazonais


Fonte: WWF/ZSL/Global Footprint Network: Relatório Planeta Vivo 2008

Parte 2: Contabilidade Ecológica


37
e espécies vivas.
constantemente a ser
da procura humana de
tagem que torna a pro-

começar a desacelerar,
humana, podemos então
então a diversidade bio-
lógica é a linha de mon-

dução de capital natural

mente ligada ao aumento


possível. A diminuição da

tece a uma fábrica, cujas

de ecossistemas valiosos
parar ou reverter a perda
demos a correlação entre
Se os ecossistemas forem

linhas de montagem estão


alimentos, água, energia e

a biodiversidade e a acção
destruídas? Quando enten-
materiais. Mas o que acon-
comparados a uma fábrica,

biodiversidade está intima-


Sugestões para trabalhos futuros: • valores de uso-indirecto (serviços ecoló-
os valores da biodiversidade gicos, tais como protecção contra cheias,
Poderemos atribuir um valor económico a uma assimilação de dióxido de carbono)
caminhada na natureza? Ou num prado colorido, • valores de opção (as gerações futuras
repleto de uma variedade de flores silvestres? devem ter a oportunidade de decidir o uso
Mesmo sem um valor monetário, a diversidade da biodiversidade – estas serão talvez as
biológica tem definitivamente valor. Explore funções que actualmente são totalmente
esta ideia a partir de diferentes perspectivas: desconhecidas)
Que valores pode ter a biodiversidade? Que • valores culturais (valor colocado nos recur-
valor tem para si e para os outros? Como sos e nas paisagens que são independentes
influenciam diferentes valores culturais? do uso directo através de funções culturais,
Uma abordagem diferente: Deixe-se inspi- estéticas ou outras – ou seja, florestas
rar pela seguinte colecção de “valores” da sagradas, animais totem, paisagens culturais)
biodiversidade: Como julga estas categorias? Encontre exem-
• valores de uso-directo (remoção de mate- plos – se possível, a partir da sua própria
riais da natureza, tais como madeira, ali- experiência ou próxima de si – que confirmem
mento ou uso para o turismo) estes diferentes valores.

Na página seguinte ser-


-lhe-ão dadas diferentes
oportunidade para calcu-
lar a sua própria Pegada
Ecológica. De quantos
planetas necessitaríamos
se todos os humanos
vivessem como você?
Confirme os seus resulta-
dos em www.footprintcal-
culator.org.

38 Parte 2: Contabilidade Ecológica


Contabilidade de Pegada sub-nacional:
indivíduos, cidades e empresas
Como vivemos, produzimos e consumimos? e regionais sejam fundamentais na construção de
A Pegada não quantifica apenas a disponibilidade uma economia sustentável, nós, como indivídu-
e o consumo de recursos naturais de um país, ela os, podemos também deixar a nossa marca: Nós
também pode medir a sustentabilidade ao nível elegemos os nossos representantes políticos, esco-
pessoal, de uma cidade, e institucional. Há uma lhemos o nosso modo de transporte, e decidimos
variedade de formas de calcular a Pegada sub- os produtos que consumimos. É pertinente que
-nacional. As Pegadas médias per capita regionais exijamos acções mais sustentáveis por parte dos
ou municipais são calculadas por extrapolação dos decisores, de nós próprios, a nível da comunidade,
resultados nacionais para cima ou para baixo, com nacional e global.
base nas diferenças entre os padrões de consumo Na Parte 5 desta brochura, vamos olhar mais
nacional e local. Isso pode ser feito usando uma para os resultados nacionais e globais da Pegada
“abordagem input-output” baseada em tabelas de Ecológica. No texto a seguir, vamos examinar as
entradas e saídas monetárias, físicas ou híbridas dimensões da Pegada, a evolução dos cálculos e
para a procura global atribuído a determinadas estudos de caso.
categorias de consumo.
A contabilidade da Pegada sub-nacional pode
levantar questões sobre as nossas acções pessoais, A Pegada Ecológica pessoal
e isso ajuda-nos a tomar decisões para levar um Você tem um carro e, se sim, quantas vezes o uti-
estilo de vida mais sustentável. Ferramentas como liza? Quantas vezes come produtos carne? Em que
a calculadora pessoal da Pegada Ecológica fomen- tipo de casa mora? É uma habitação uni ou multi-
tam a nossa criatividade e testam os nossos hábitos -familiar? Quanto gasta por mês em electricidade?
de consumo pessoal. Embora as políticas nacionais Estas são as perguntas que encontrará ao calcular

Caixa de Informação: calculadora de Pegada


Existem muitas calculadoras de Pegada dife- indivíduos podem investigar a sua vida pes-
rentes disponíveis, num grande número de soal e, consequentemente corrigir acções
páginas web. Se é um cientista, técnico, entu- que são prejudiciais para o ambiente:
siasta de língua estrangeira, ou um aficionado www.mein-fussabdruck.at
de jogos de computador, a seguir encontrará • Uma variante da calculadora da Footprint
uma calculadora de Pegada que se adapta às Austríaca é personalizada para atender às
suas necessidades. gerações de jovens actuais, levando-os a
• A calculadora de Global Footprint Network habituar-se à poupança de recursos desde
é muito “amiga do utilizador” e está dis- cedo www.footprintrechner.at
ponível para a Argentina, Brasil, Ecuador, • No âmbito da Agenda Local 21 da Alema-
Perú, Colombia, Canadá, Estados Unidos nha, pode calcular a sua Pegada na página
de América, Suiza, Italia, Turquía, Surá- web da Cidade de Darmstadt:
frica, India, China, Japón y Australia: www.agenda21.darmstadt.de/index.php?vie
www.footprintcalculator.org w=article&catid=80%3Aaktionen-a-neue-
• O Ministério Federal Austríaco da Agri- -projekte&id=515%3Aoekologischer-fussabdr
cultura, Florestas, Meio Ambiente e dos uck&Itemid=108&option=com_content
Recursos Hídricos produz uma calculadora • A sua Pegada ajusta-se a esta Terra? Com
de Pegada muito detalhada, que defen- a calculadora da Pegada do BUNDjugend
de que a Pegada deve ser a base para a pode facilmente descobrir: www.latschlats-
protecção ambiental em todo o país. Os ch.de/downloads/Printversion.pdf

Parte 2: Contabilidade Ecológica 39


a sua Pegada Ecológica pessoal online. No final A Pegada destes impactos colectivos (por exemplo,
do questionário, os resultados são apresentados em a categoria “serviços” do seu resultado de Pegada)
número de hectares globais necessários para apoiar não varia e, portanto, em algumas nações, não é
o seu estilo de vida determinado. Este número é possível reduzir a sua Pegada abaixo de um plane-
então convertido em quantos planetas Terra seriam ta. É por isto que, se queremos alcançar a sustenta-
necessários se esse mesmo estilo de vida fosse bilidade, temos de nos concentrar em duas coisas:
adoptado por toda a humanidade. Para um empre- tanto no nosso estilo de vida, como em influenciar
gado urbano residente no Canadá ou nos Estados os nossos governos. Mesmo com mudanças signifi-
Unidos, a resposta é de três a quatro planetas, ou cativas no comportamento individual, uma grande
mais. Os resultados podem ser reveladores – e parcela de uma Pegada pessoal resulta da forma
chocantes. O teste mostra que a humanidade foi como a infra-estrutura nacional é projectada,
apanhada num problema colectivo. A mensagem como os bens são produzidos, e como os serviços
desta ferramenta está implícita: Nós temos apenas públicos e governamentais funcionam. A fim de
um planeta e temos de encontrar maneiras de con- permitir aos seus cidadãos alcançar um estilo de
viver dentro dos seus limites. vida que encaixe dentro dos limites de um planeta,
As calculadoras pessoais de Pegada são geralmen- os governos precisam de melhorar drasticamente
te baseadas em dados das Contas Nacionais de a eficiência do ambiente construído e investir em
Pegada de Global Footprint Network, para os países energias renováveis e num ordenamento do territó-
seleccionados. A Pegada nacional por pessoa pode rio inteligente.
ser atribuída às diferentes categorias de utilização Perante vários desafios económicos e ambientais, a
final (alimentação, habitação, mobilidade, bens e sociedade está a tornar-se cada vez mais consciente
serviços), e tipos de terras (floresta, solo agrícola, de que precisamos da cooperação internacional
área de absorção de carbono, área de pesca, área de para encontrar soluções que proporcionem uma
pasto, área construida). Isto resulta numa matriz boa qualidade de vida às pessoas, sem comprome-
que usa o perfil de consumo médio de um país ter a capacidade das gerações futuras satisfazerem
para distribuir a Pegada Ecológica nestas diferen- as suas necessidades. Com múltiplas crises globais,
tes categorias. incluindo as alterações climáticas, escassez de
A calculadora pessoal faz perguntas que aumentam recursos, e o colapso dos sistemas económicos e
ou diminuem as diferentes partes desta matriz, financeiros, esta consciência está a crescer entre
em relação ao comportamento da média nacional. os decisores políticos. A atitude, para explorar
Por exemplo, se uma pessoa indica que come duas conjuntamente soluções transnacionais, reflectiu-
vezes mais carne que a média nacional, a sua Pega- -se em Junho de 2009, quando a chanceler alemã
da de carne vai dobrar, o que será reflectido no Angela Merkel propôs o alargamento dos tra-
Informação adicional: resultado global recalculado da Pegada. Da mesma balhos do G8, que envolvem apenas oito países
www.footprintnetwork. forma, alguém que indique que come muito pouca poderosos com elevados rendimentos, ao incluir
org/atlas carne, irá receber uma fracção da Pegada média estados como a China e a Índia.
nacional de carne, que será reflectida numa menor
Pegada global.
A Pegada Ecológica de uma pessoa inclui os Sugestões para trabalhos futuros: Qual
impactos pessoais e colectivos. A Pegada associada o tamanho da sua Pegada?
aos alimentos, mobilidade e bens pode mais facil- • Calcular a sua própria Pegada: De
mente ser influenciada de forma directa, através quantos planetas Terra precisaríamos
de opções no estilo de vida (comer menos carne, se todos os seres humanos vivessem
andar menos de carro, etc.). No entanto, a Pegada como você?
de uma pessoa inclui também os impactos colecti- • Pense nos factores que podem aumen-
vos ou “serviços”, tais como o auxílio do governo, tar ou diminuir uma Pegada Ecológica.
estradas e infra-estrutura, serviços públicos e os Você pode usar as explicações sobre
militares do país que nele vivem. Todos os cida- a área de terra nas p. 21/22 para
dãos do país recebem a sua parte desses impactos ajudá-lo a entender quais os compo-
colectivos. nentes que são usados para calcular

40 Parte 2: Contabilidade Ecológica


a Pegada Ecológica. Quais são as formas na p. 45, e imagine a sua própria vida a
mais pragmáticas e práticas que podem partir dessa perspectiva. Poderia funcio-
tornar a sua Pegada menor? nar na sua vida diária sem automóvel? O
• Compare os resultados do seu cálculo que mudaria na sua vida se estivesse a
de Pegada com os dos seus pais, amigos viver em Vauban? Acha o desafio emocio-
e colegas. Todos vocês têm a mesma nante – ou deixa-o inquieto?
Pegada? Quem está mais próximo de 2,1 • O que precisa realmente – em oposição
hectares globais, a quantidade média de ao que deseja?
biocapacidade por pessoa da Terra – ou • Para ganhar perspectiva, compare a
talvez ainda mais baixos, se quiser- Pegada Ecológica média de um habitante
mos deixar algum espaço para outras de Madagascar, com a de alguém no Bra-
espécies? sil ou no Vietname, e pense sobre como
• Temos a capacidade de mudar a nossa os habitantes destes países iriam res-
Pegada Ecológica colectiva, como comuni- ponder às perguntas das calculadoras de
dade, cidade ou país? Quem pode influen- Pegada. Que peso teria a Pegada “colecti-
ciar isto? va” daqueles países no cálculo das Pega-
• Olhe para todas as áreas do seu estilo de das pessoais destas pessoas? Aprenda
vida. Pense em como vai para a escola, mais sobre isto na tabela que está nas p.
o seu computador, telemóvel ou as coisas 118 e 119, a qual fornece dados de qua-
que deita fora. Se andar de avião aumenta lidade de vida para estes países através
a sua Pegada, isso quer dizer que não do Índice de Desenvolvimento Humano
deve viajar para países distantes nunca (IDH).
mais? Ou pode compensar a sua Pegada
de carbono de outras maneiras? Se sim, Distribuir os papéis:
como? Admitamos que é um agricultor da Saxónia,
• Será que – sem coerção financeira ou ou da Floresta Negra: O que é que o Excesso
jurídica tangíveis – limitaremos o nosso ecológico global tem a ver consigo? Qual é
consumo de recursos (por exemplo, con- o seu contributo? Pode mudar alguma coisa
duzir menos)? Ou devem os governos nisto? O que torna difícil para si reduzir a
aprovar regulamentos e criar incentivos sua própria Pegada? O que podem ser opor-
(por exemplo, através de impostos)? tunidades? Para si? Para a sua comunidade?
Devem estas opções ser deixadas para o Para o seu país?
indivíduo, ou deveriam ser da responsabi- E se você fosse um político de Berlim: Quere-
lidade do Estado? Poderia você, se fosse ria que a população do seu país consumisse
ministro, motivar as pessoas a agir de menos, ou teria medo de que isso reduzisse
forma sustentável? O que serve melhor o crescimento económico e que se perdessem
o interesse da nação? Quão importante é empregos? Ou prejudicaremos a economia e o
este tema, comparado ao combate contra emprego, se não nos tornarmos sustentáveis? Na revista Konsumkul-
o desemprego? Já existem movimentos Que incentivos políticos poderia criar (impos- tur da série Aus Poli-
e/ou redes de trabalho no seu país, ou tos, subsídios, campanhas de imagem, etc.)? tik und Zeitgeschichte
mesmo na região, que divulguem estilos (APuZ 32-33/2009),
de vida sustentável? Quão eficaz é o seu Considere perspectivas diferentes – o comer- a Bundeszentrale für
alcance? Tem ideias adicionais para ini- ciante por grosso no ramo de exportação, politische Bildung fala
ciar campanhas que venham a envolver o destinatário do bem-estar, a mãe soltei- sobre a nossa socie-
as pessoas? ra com quatro filhos, o esforço do próprio dade de consumo, os
• Consegue imaginar levar uma vida saudá- homem que gosta de viajar para o exterior. padrões de consumo
vel e feliz com uma Pegada drasticamen- Pense no que representam os interesses de sustentável e novas res-
te reduzida? Investigue o estudo de caso cada pessoa. Ponha-se no lugar destes dife- ponsabilidades dos con-
na área de Vauban, na cidade de Friburgo, rentes papéis e debata. sumidores: www.bpb.de/
publikationen/0RDKRY

Parte 2: Contabilidade Ecológica 41


Contabilidade ecológica em cidades uma qualidade de vida comparável a outra, com
e povoações uma Pegada per capita menor, também é menos
dependente de importações e, portanto, mais
Vamos escolher uma cidade moderna ao acaso competitiva.
– por exemplo, Berlim, Londres ou Nova York. Se hoje a maioria das pessoas vive em cidades,
Acima dela eleva-se uma taça de vidro virada então é exactamente aí que o futuro da civiliza-
ao contrário. Nada pode penetrar neste biótopo ção será decidido. A Pegada ajuda na adaptação
artificial a partir do exterior: nenhum ar ou água, da infra-estrutura e planeamento urbano para o
nenhuma comida, nenhuma fonte de energia, futuro. Eliminar tráfego, por exemplo. No meio
como o petróleo ou o gás, quaisquer materiais de da complexidade das discussões sobre o trans-
construção, qualquer pedra ou areia. É totalmente porte e infra-estrutura, a Pegada pode reduzir a
isolada. Mesmo o esgoto, os fumos dos carros e o
lixo doméstico estão presos sob a cúpula de vidro.
“Numa economia global, os centros urba-
Apenas a luz solar tem acesso à cidade futurista.
nos ricos recebem muito do seu abas-
Com a luz do sol entra uma certa quantidade de
tecimento de longe. Eles dependem dos
energia – que é tudo o que existe para alimentar a
ecossistemas que nunca viram. Assim,
cidade.
ecossistemas usados em demasia e fragi-
Embora hipotéticas, estas abordagens reflectem
lizados, mesmo distantes, tornam-se uma
um pouco da Pegada. Quão grande deve ser a
ameaça para o bem-estar destes centros
cúpula de vidro – a quantidade de terra agrícola,
urbanos. Quantificando a relação entre
quantas florestas e outras áreas devem abranger
consumidores e os ecossistemas que os
para que a cidade seja viável? É claro que não se
suportam é politica e cientificamente um
pode simplesmente imaginar cada cidade isola-
exercício exigente. No entanto, necessita
damente. As áreas a partir das quais os centros
de ser feito.”
urbanos importam os seus recursos estão distribu-
ídas em grandes partes do mundo, e, em tempos Georgina M. Mace, Professor, Imperial College,
de globalização, as cidades competem pela oferta Londres
global de capital natural. Uma cidade que oferece

A Pegada de uma cidade


(neste caso, Paris) é a
medida de área necessá-
ria para tornar a cidade
viável. Assim, também é
adequada para o uso em
planeamento urbano.

42 Parte 2: Contabilidade Ecológica


informação num único número de cada vez: a Para manter o padrão de
área necessária. Isto é crucial quando se tomam vida dos seus morado-
decisões de investimento, seja na construção de res, a cidade de Berlim
estradas, caminhos, pontes, portos ou povoações necessita de uma área do
inteiras. Decisões de infra-estrutura e planeamento tamanho de metade da
irão moldar a forma como os moradores viverão Alemanha.
nos próximos anos; a Pegada pode ajudar os deci-
sores a equilibrar as necessidades dos cidadãos com Informação adicional:
uma crescente preocupação sobre o uso dos recur- www.footprintnetwork.
sos naturais da cidade. org/en/index.php/GFN/
page/case_stories/#local
Estudo de caso:
Berlim estende-se até ao Mar Báltico
De acordo com um estudo realizado por Matthias
Schnauss, os Berlinenses necessitam em média de semelhante (1,4 gha per capita). Consideravelmen-
4,4 gha, cerca de seis campos de futebol de terra te mais de metade da Pegada per capita resulta
biologicamente activos, para manter o seu nível de de emissões de dióxido de carbono, ou seja, da
consumo e eliminar os seus resíduos. A população energia utilizada para o transporte, produção
de Berlim, no total, usa biocapacidade que requer fabril e aquecimento. Um grande potencial para
uma área de 168 vezes o tamanho da cidade. Isto a eficiência energética pode ser deduzido a partir
equivale a quase metade de toda a República Fede- destes números. Por exemplo: A Pegada de uma
ral da Alemanha! propriedade normal alugada em Berlim poderia
Cerca de um terço da Pegada média dos Berlinen- ser reduzida em cerca de quatro hectares globais
ses é gasta em alimentação (1,7 gha), o que signi- isolando as fachadas. Essa é uma área do tamanho
fica que os alimentos que estão a ser consumidos do Lago Nicolas no distrito de Zehlendorf – para
devem ser cultivados numa área muito maior do uma única casa.
que está disponível em Berlim. Comparar os resultados de diferentes formas de
O espaço de habitação é medido numa escala transporte é especialmente interessante. Alguém

A Pegada é útil principal-


Quando criamos armadilhas para nós mesmos, e quando criamos um futuro seguro?
2 mente como ferramenta
Automóvel (10-20 anos) de planeamento quando se
Cenário conservador das Nações Unidas
enfrenta decisões relacio-
Central nuclear (EUA/Europa: 40 anos), resíduo de longo prazo nadas com investimentos a
longo prazo. Uma estrada
Auto-estrada (20-50 anos) tem uma vida útil de 20 a
Número de Terras

50 anos; centrais nuclea-


Ponte (30-75 anos) res nos E.U.A. e na Europa
1 estão em funcionamento
Central eléctrica a carvão (30-75 anos)
há cerca de 40 anos – e
produzem resíduos radio-
Humano (EVN: 32-82 anos)
activos de longo prazo.
Design de edifícios comerciais (50-100 anos) Uma pessoa nascida na
Alemanha ou nos E.U.A.
Habitação, ferrovia e barragem tem uma expectativa de
(50 à 150 ans)
vida de 75 anos ou mais.
0
1960 1980 2000 2020 2040 2060 2080 2100 Ao longo da sua vida vai
sofrer as consequências
Pegada Ecológica da Humanidade Biocapacidade da Terra Fonte: Global Footprint
Network (2008) destas decisões de investi-
mento tomadas.

Parte 2: Contabilidade Ecológica 43


que use o metro para chegar ao trabalho requer
200 vezes menos área do que alguém que se senta Materiais da Agenda Local 21 de Berlim
sozinho no seu carro. Por outras palavras, há uma Materiais na forma de apresentações de
margem considerável para tornar Berlim mais PowerPoint, transparências, textos de acom-
habitável e cada vez mais competitiva a nível inter- panhamento e tabelas de cálculos podem
nacional, através da melhoria dos aspectos técnicos ser descarregados na página web do pro-
Informação adicional: dos seus edifícios, planeamento urbano e projecção jecto (www.agenda21berlin.de/fussabdruck).
Schnauss, M. (2001) de infra-estrutura. São comunicadas acções de recomendação
concretas para uma redução da Pegada
Estudo de caso: Ecológica de uma forma amiga do utiliza-
BedZED – celestiais modos de vida e dor através da personagem Öfi, a Pegada
residenciais Ecológica de um habitante de Berlim. Öfi
Beddington Zero Energy Development (BedZED) é necessita de 4,4 gha para sustentar o seu
a maior comunidade sustentável de uso misto do estilo de vida e quer reduzir o seu “peso”
Reino Unido. Foi projectada para criar uma comu- no planeta. Ele fá-lo pela “modelação eco
nidade próspera, na qual os moradores podem des- do seu corpo” (treino fitness bem definido),
frutar de uma qualidade de vida elevada, enquanto que aperfeiçoa a sua forma.
vivem o estilo de vida “um planeta”. A construção
de três andares com 100 unidades de residenciais
viradas ao sul, escritórios virados para norte, áreas Os princípios de design para o projecto foram os
de exposição, e um jardim-de-infância. O projecto seguintes:
BedZED é considerado como um modelo bem • energia zero – o projecto foi concebido para
sucedido, de um complexo de habitação a um utilizar somente energia proveniente de fontes
preço acessível, atractivo, e de recursos amigáveis. renováveis gerada no local. Resíduos de árvores
A instalação possui uma grande quantidade de alimentam o desenvolvimento de uma central
vidro e cores, bem como projectos arquitectónicos de co-geração para fornecer o aquecimento e
inovadores, incluindo telhados relvados. electricidade no distrito.

BedZed é um projecto
residencial e de escritó-
rios, no Sul de Londres,
“acessível, atractivo e
de recursos eficientes”.
As torres coloridas do
telhado fazem parte do
sistema de ventilação
altamente eficiente. A
troca de ar utiliza energia
renovável: o vento.

Informação adicional:
• www.zedfactory.com
• www.bioregional.com

44 Parte 2: Contabilidade Ecológica


• energia eficiente – as casas viradas a sul para há também casas com técnicas de baixa energia
o máximo ganho solar, são de vidros triplos, e melhoradas, e com energia passiva e mesmo casas
têm elevado isolamento térmico. construídas pelo sistema de eficiência máxima
• água eficiente – a maioria da água da chuva plus-energy. Na parte Leste do bairro, uma insta-
que cai no local é recolhida e reutilizada. Os lação solar foi construída com 148 apartamentos.
electrodomésticos possuem elevada eficiência O aquecimento urbano vem de uma estação ali-
hídrica e usam água reciclada, quando possível. mentada com madeira para a co-geração de calor
• materiais de baixo impacto – os materiais de e energia. A água da chuva é colectada para as
construção foram seleccionados a partir de descargas do autoclismo, lavar roupa e para regar
fontes renováveis ou recicladas, numa área plantas, entre outros fins.
até 56 km do local, para minimizar a energia As lojas do bairro oferecem produtos regionais e
requerida para o transporte. ecológicos. Existem diversas instalações de lazer,
• reciclagem de resíduos – instalações para reco- uma escola primária, três creches, um centro de
lha selectiva de lixo foram projectadas para cuidados pós-escolares para crianças das escolas,
apoiar a reciclagem. e várias associações e fóruns dedicados a questões
• transporte – o condomínio trabalha em parce- ecológicas. Nem sequer há falta de natureza: Além
ria com a operadora de partilha de carro líder de extensas áreas verdes e um largo maciço arbó-
no Reino Unido, City Car Club. Os morado- reo, o ribeiro da aldeia tem provado ser um bióto- Fontes e informação
res são incentivados a utilizar esta alternativa po especialmente valioso. adicional:
amiga do ambiente em detrimento do uso do Em 11 de Maio de 2009, esta parte de Friburgo • www.freiburg.de/serv-
carro próprio; uma selecção dos veículos para foi destaque na primeira página do New York let/PB/menu/1167123/
uso está disponível no local. Times. No artigo In German Suburb, Life Goes On index.html
• incentivar transportes amigos do ambiente Without Cars, Elisabeth Rosenthal descreve Vau- • www.werkstatt-stadt.
– carros eléctricos e a gás-petróleo liquefeito ban como “may be the most advanced experiment de/en/projects/54/
têm prioridade sobre os carros que queimam in low-car suburban life”. • Rosenthal, E. (2009)
petróleo e diesel, e electricidade é fornecida nos
espaços de estacionamento para carregamento Estudo de caso:
dos carros eléctricos. arrefecimento com o sol – produção de energia
“Não é original, mas funciona”, disse Bill Dunster, regenerativa na cidade de Masdar
o arquitecto. A sua filosofia é a de que um estilo A Pegada Ecológica per capita dos Emirados Ára-
de vida ecológico pode ser atractivo. bes Unidos (EAU) é hoje a maior do mundo, com
9,5 gha por pessoa. Como parte da estratégia de
Estudo de caso: sustentabilidade dos EAU, foi criada a cidade de
Vauban – vivendo ecologicamente no sudoeste Masdar, uma eco-cidade actualmente em fase de
da Alemanha construção.
O bairro de Vauban, em Friburgo, é muito seme- A cidade, anunciada como a primeira do mundo
lhante ao BedZED no Reino Unido. A cidade sem carros, carbono zero, com uma comunida-
apoia o modo de vida sem automóveis; há uma de urbana resíduos zero, acabará como casa de
variedade de ligações de transportes públicos práti- 1.500 empresas de tecnologias limpas e 50.000
cas, partilha de automóveis, uma loja de bicicletas residentes. As ruas e os edifícios são projectados
e oficina. Com uma densidade automóvel de cerca para canalizar o ar quente do deserto para cima,
de 150 carros por 1.000 habitantes, esta parte da criando brisas para arrefecer a cidade, concentran-
cidade encontra-se significativamente abaixo da do o calor em túneis de vento para ser enviado ao
média nacional de 450 carros por 1.000. Mais da sistema de dessalinização no local. Este projecto
metade dos moradores venderam os seus carros sinérgico vai reduzir a energia necessária para ar-
quando se mudaram para Vauban. -condicionado e produção de água doce. A água
Métodos construtivos de baixa energia, com processada será usada para manter as áreas verdes
menos de 65 kWh/m² por ano, são obrigatórios dentro da cidade e a superfície agrícola em zonas
para todos os projectos de construção na área. periféricas. A cidade vai usar 100 porcento de
Para muitos proprietários, isso não é suficiente e energia renovável, grande parte dela gerada no

Parte 2: Contabilidade Ecológica 45


Cidade de Masdar: o futu-
ro ecológico dos Emirados
Árabes Unidos?

local. Um comboio liga a Cidade de Masdar à A Pegada na economia:


capital dos Emirados, Abu Dhabi. A cidade vai empresas e produtos
incentivar a deslocação a pé e um sistema eléctrico A Pegada motiva os indivíduos a reconsiderar o
de transporte pessoal rápido, totalmente automati- seu consumo e os hábitos de mobilidade. É uma
Informação adicional: zado, vai transportar as pessoas de um lado para o ferramenta importante para o planeamento de
• www.masdarcity.ae/en/ outro. Esta cidade pioneira neutra em CO2 deverá investimentos nas cidades e nas povoações. Até
index.aspx ser concluída em 2015. Ela foi projectada pelo que ponto ela pode influenciar as empresas comer-
• www.oneplanetliving.org arquitecto britânico Lord Norman Foster. ciais no desenvolvimento de modelos de negócio
mais sustentáveis, ou afectar a produção dos seus
produtos e serviços?
Sugestões para trabalhos futuros:
a Pegada na sua cidade? Estudo de caso:
• Agora você tem uma visão geral de como pequena Pegada – centros comerciais de alto
a Pegada Ecológica pode ser usada para rendimento na Austrália
o desenvolvimento de cidades sustentá- A empresa de bens imobiliá-
veis. Imagine que a Câmara Municipal na rios GPT Group está focada
sua cidade reúne e considera a possibili- na propriedade, gestão e
dade de construir uma nova via circular desenvolvimento de bens
ou investir no contrário. Como poderia a imobiliários da Austrália.
Pegada influenciar processos de tomada O GPT está activo em vários
de decisão da política municipal? locais, incluindo os E.U.A.,
• Na sua opinião, que medidas de planea- o Reino Unido e a Europa. A empresa estava inte-
mento urbano são sensíveis para a “cidade ressada em adoptar um método padronizado para
do futuro”? Como deveria ser um ambien- medir o impacto ambiental das suas propriedades.
te residencial ideal? Que critérios são Eles queriam atingir os objectivos operacionais
importantes para alcançar este objectivo? de sustentabilidade, em 2009, com redução em
• Imagine-se um arquitecto: Está a ser- 20 porcento do impacto na sua divisão comercial.
-lhe oferecida uma grande quantia de Especificamente, o GPT questionou-se sobre a
dinheiro para criar um plano original que capacidade de comparar o impacto de diferentes
irá reduzir uma Pegada específica (de um edifícios e as escolhas de design interior durante a
edifício, um desenvolvimento, etc.). Além remodelação.
das medidas já mencionadas, que outras Para atender a esta necessidade, Global Footprint
Informação adicional: ideias originais tem? Network trabalhou com a empresa e desenvol-
www.gpt.com.au veu uma calculadora que os inquilinos do GPT

46 Parte 2: Contabilidade Ecológica


O filme The Story of Stuff
Cada produto tem a sua própria história. Ela
começa com a extracção de matérias-primas e
continua através de um processo de fabricação,
incluindo a distribuição do produto acabado.
Cada história do produto tem o seu ponto alto
quando tomamos a nossa decisão de comprá-
-lo, e depois consumi-lo – mas certamente não
termina quando a embalagem é deitada fora. curta metragem The Story of Stuff. O filme, que
Annie Leonard dá-nos uma visão de bastido- é tão cheio de humor, quanto de factos, dá-nos
res das histórias de produto na sua acelerada a possibilidade de entender as consequências
sociais e ecológicas das nossas decisões de
compra. A versão em Inglês está disponível no
DVD que acompanha a brochura ou pode ser
descarregada nestes páginas web:
• www.storyofstuff.com
(Versão Inglesa Original)
• www.storyofstuff.com/international/
(Versão Inglesa Original com legendas)
• www.utopia.de/magazin/the-story-of-stuff
(dobrado em Alemão)

utilizam como requisito do processo de arren- organização que representa muitas das empresas
damento. Utilizando os dados detalhados de mais influentes do mundo, lançou a sua Visão
matérias-primas para diferentes categorias de lojas 2050 para identificar os caminhos para a econo-
(retalhistas de moda, restaurantes/fornecedores de mia de um planeta nas próximas quatro décadas.
alimentos etc.), Global Footprint Network desen- Global Footprint Network participou num processo
volveu questionários específicos e de fácil utiliza- de um ano, para estabelecer um quadro de pensa-
ção, que calculam a Pegada das implicações das mento sobre as limitações de recursos, bem como
diferentes escolhas, e encoraja os seus inquilinos a quantificar se os caminhos propostos e os cenários
seleccionar elementos de baixa Pegada para sua loja. são robustos o suficiente para alcançar uma econo-
A calculadora de retalho desenvolvida para o GPT mia de um planeta até 2050.
oferece uma métrica tangível e padronizada, atra- Em colaboração com empresas como a Boeing,
vés da qual o impacto das diferentes possibilidades a Syngenta e a Weyerhaeuser (que estão a forne-
pode ser comparado. Ela traduz os elementos de cer dados sobre a energia, a eficiência dos solos
design comercial em contas detalhadas de utiliza- agrícolas e a produtividade das florestas, respec-
ção de materiais e produção de resíduos, e conduz tivamente) Global Footprint Network desenvolveu
a soluções de poupança de custos e de impacto. A
calculadora permite ao GPT identificar as áreas-
-chave para importantes melhorias do desempenho A missão do WBCSD
ecológico e permitiu à empresa medir os progres- “A nossa missão é assegurar a lideran-
sos da sua meta de sustentabilidade em termos de ça empresarial como catalisador para a
redução da Pegada. mudança rumo ao desenvolvimento susten-
tável, e apoiar a licença empresarial para
Estudo de caso: Business Vision 2050 operar, inovar e crescer num mundo cada
O World Business Council for Sustainable Develo­ vez mais moldado pelas questões do desen- Fontes e informação
pment (WBCSD – Conselho Empresarial Mun- volvimento sustentável.” adicional:
dial para o Desenvolvimento Sustentável), uma www.wbcsd.org

Parte 2: Contabilidade Ecológica 47


uma calculadora para verificar se as soluções e apoiadas por esta iniciativa, o que está a ser rea-
inovações propostas pelo grupo de 35 empresas lizado pela GIZ em nome do Ministério do Meio
participantes estão à altura do nível de mudanças Ambiente, entre outras através da criação de um
necessárias. manual de gestão da biodiversidade na empresa.
O consenso emergente foi de que os caminhos Este guia prático fornece às empresas uma entrada
para um mundo sustentável exigirão mudanças de utilização simples e fácil no tema da diversidade
fundamentais nas estruturas de governação, qua- biológica. No processo, a conservação da natureza
dros económicos, comportamento empresarial é sempre relacionada com objectivos de negócio.
e humano. As empresas descobriram que estas Por exemplo, a produção mais eficiente não só
mudanças não são apenas necessárias, elas são pode poupar recursos e natureza, como também
viáveis e oferecem enormes oportunidades de os custos – o que corresponde inteiramente ao
negócios para as empresas que incorporam a sus- esquema da Pegada.
tentabilidade nas suas estratégias. Por exemplo, as
empresas podem desenvolver novos produtos ver- Estudo de caso:
des e tecnologias de energia de que a humanidade Diz-me o que comes e dir-te-ei quem és…
vai necessitar no futuro. A nutrição contribui substancialmente para o
consumo de recursos humanos. Um grupo de tra-
Estudo de caso: Business and Biodiversity balho da Universidade Técnica de Munique (TU
Para mais informação Sob o mote Biodiversity in Good Company, o Minis- München) está a trabalhar na questão sobre como
sobre o tópico Business tério Federal Alemão do Meio Ambiente lançou a podemos organizar a nossa alimentação para ser
and Biodiversity e a iniciativa Business and Biodiversity em 2008. Desde tão compatível com a natureza e amiga dos recur-
iniciativa: www.business- então, mais de 40 empresas de todo o mundo ade- sos quanto possível. O comércio transfronteiriço
-and-biodiversity.de/en riram a esta campanha, incluindo empresas como de produtos e o impacto global dos nossos hábitos
a Volkswagen, Bionade, Fujitsu e MARS. alimentares tornam necessária uma visão global.
Com a assinatura da Declaração de Liderança, as Do ponto de vista ecológico, as questões centrais
empresas comprometeram-se voluntariamente a são: o clima, as necessidades da área para a produ-
proteger melhor a natureza e a contribuir para a ção de alimentos, por exemplo, para a manutenção
preservação da diversidade biológica. Não se trata de hábitos alimentares específicos, bem como a
de criar a empresa perfeita, mas sim de empresas água virtual contida nos produtos (ver Caixa de
que estão prontas a aderir a um processo de serem Informação na p. 30). No âmbito das actividades
Informação adicional: mais activas na conservação da natureza. O pro- de investigação, a Pegada Ecológica é utilizada
www.wzw.tum.de/index. cesso nem sempre é fácil e apresenta às empresas para calcular a área necessária à produção dos ali-
php?id=1&L=5 grandes desafios. É por isso que elas estão a ser mentos seleccionados.

Sugestões para trabalhos futuros:


um passaporte do produto para uma produtos. Este tipo de “passaporte do produ-
melhor orientação? to” pode funcionar como a informação sobre
Talvez, em breve seja mais fácil descobrir a eficiência energética, obrigatória na Ale-
quanta biocapacidade é necessária para manha para muitos dispositivos eléctricos,
produzir os alimentos que comemos todos e tornar o consumo sustentável mais fácil
os dias ao pequeno-almoço, almoço e jantar. para o consumidor.
Uma rede de diferentes organizações não- O que acha dessa ideia? Como poderia ser o
-governamentais e institutos de pesquisa passaporte do produto? Seria tão útil quanto
(A TU München, Greenpeace de Hamburgo, a informação nutricional colocada nos pro-
a Plattform Footprint da Áustria, a Univer- dutos alimentares? Gastaria algum tempo a
sidade de Augsburgo, o Wuppertal Institute, estudar esta etiqueta ou tabela de informa-
fleXinfo, etc.) está empenhada em ter essas ções adicionais antes de colocar um artigo
informações a aparecerem nos diferentes no seu carrinho de compras?

48 Parte 2: Contabilidade Ecológica


A condição do nosso planeta
O que pode dizer-nos a Pegada sobre a condição 1961 – 2005. Desde o ano de 1961, as Nações
da Terra como um todo? Será que ela tem uma Unidas publicaram os dados completos registados
posição sobre as questões de justiça global? O indi- para mais de 170 países, que documentam não só
cador contém mensagens subjacentes sobre os altos as produtividades colhidas, mas também dados
e baixos rendimentos dos países? importantes de importação e exportação. Os
Conforme mencionado, a humanidade provavel- dados da Pegada são da “edição 2008”, que usa
mente incorreu em Excesso pela primeira vez na dados de 2005.
década de 1980. Antes dessa data, a comunidade Enquanto a população humana continuar a
global consumiu recursos e produziu dióxido de aumentar, mais área de terras e de água são neces-
carbono a uma taxa consistente com o que o pla- sárias para produzir os recursos que consome
neta podia produzir e reabsorver. Em meados da e para assimilar os seus resíduos. Como todos
década 1990, a humanidade já usava, aproximada- sabemos, no entanto, o tamanho do planeta não
mente, 15 porcento mais recursos num ano do que aumenta; e, portanto, os recursos são cada vez
o planeta poderia fornecer. As tabelas seguintes mais escassos. Num mundo de crescentes restri-
e as comparações de países referem-se ao período ções de recursos, o desenvolvimento que ignora os
2,5
O desenvolvimento global
Sugestões para trabalhos futuros: da população, da biocapa-
População
Como tem evoluído a condição do nosso 1961 3.090 milhões cidade e da Pegada (valo-
2,0
planeta nos últimos 50 anos? 2005 6.476 milhões res per capita).
Índice (1961=1,0)

Pode-se extrair muita informação da peque- Para uma comparação


na tabela e do gráfico nesta página. Consi- 1,5 directa de dados globais
dere o seguinte: com os dos países de
• Quando se calcula a percentagem Pegada altos, médios, e bai-
1,0 1961 2,3 gha per capita
de crescimento da Pegada total (em xos rendimentos, estes
2005 2,7 gha per capita
milhões gha) comparado ao da popu- gráficos são impressos
Biocapacidade
lação mundial, o resultado da Pegada 0,5 1961 4,2 gha per capita juntamente na p. 27 do
será maior. Porque isto acontece? (Dica: 2005 2,1 gha per capita Relatório Planeta Vivo
Pense nos seus avós na p. 25.) WWF 2008 (disponível
• Consegue imaginar porque é que a bio- 0 em ficheiro PDF no DVD
1960 1975 1990 2005
capacidade total aumentou globalmente, de acompanhamento).
mas diminuiu per capita? Fonte: WWF/ZSL/Global Footprint Network:
Relatório Planeta Vivo 2008

A condição do nosso pla-


1961 2005 Mudança de 1961 a 2005
neta: contabilidade ecoló-
População Mundial 3,09 6,47 + 109% gica global (1961 e 2005).
(em milhões)

Pegada 6.974 17.444 + 150%


Biocapacidade 13.011 13.361 + 3%
Défice (-) ou Reserva (+) + 6.037 - 3.900
(em milhões gha)

Pegada 2,3 2,7 + 19%


Biocapacidade 4,2 2,1 - 51%
Défice (-) ou Reserva (+) + 1,9 - 0,6
(em gha/per capita)
Fonte: Ewing B. et al. (2008): The Ecological Footprint Atlas; WWF/ZSL/Global Footprint Network: Relatório Planeta Vivo 2008;
www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/page/world_footprint/

49
Parte 2: Contabilidade Ecológica
Caixa de Informação: duradoura. Quando se olha para isso a partir
conceitos e discussões terminológicas desta perspectiva, a Alemanha e os E.U.A. têm
sobre “países em desenvolvimento”, países enormes necessidades de desenvolvimento a
emergentes e países com baixos rendimentos partir do momento em que o seu nível de pro-
Não existe uma definição oficial de um “país cura de recursos não pode ser sustentado. Por
em desenvolvimento”. Tradicionalmente, os outras palavras, a distinção países “em desen-
especialistas em desenvolvimento associam volvimento” e “desenvolvidos” pode ter perdido a
o termo “países em desenvolvimento” a bai- sua utilidade e pode até ser contraproducente.
xos padrões de vida, definidos pelas seguintes Para efeitos de comparação, pode ser útil, em
características: vez disso, classificar os países de acordo com
• fornecimento de alimentos insuficiente para seus níveis de rendimento. Por exemplo, “país
grandes grupos populacionais, com baixos rendimentos” é uma descrição,
• más condições de saúde entre níveis amplos baseada em níveis mensuráveis do PIB, enquan-
da população, to o “desenvolvimento” às vezes pode ser usado
• falta de oportunidades educacionais, como uma sentença, com base em certas con-
• elevada taxa de desemprego, cepções sobre o que supostamente é superior
• muitas vezes também: a distribuição extre- ou inferior.
mamente desigual dos bens e serviços No âmbito da cooperação pública para o
disponíveis. desenvolvimento (Assistência Oficial para o
Isto pode correlacionar-se com os baixos rendi- Desenvolvimento, AOD), é utilizada a lista dos
mentos – mas nem sempre. Portanto, focando o países com base nos rendimentos do Comitê
desenvolvimento principalmente no aumento dos de Assistência ao Desenvolvimento (CAD) e da
níveis de rendimento pode ser contraproducente OCDE (Comité de Desenvolvimento da Organi-
para outros aspectos do bem-estar humano, zação para a Cooperação e o Desenvolvimento
por exemplo, a necessidade de proteger a base Económico). Como o Banco Mundial, o CAD uti-
dos recursos. Isto está claramente documentado liza o rendimento per capita para determinar as
em vários estudos mais recentes de relevân- classificações dos países. Por exemplo, a última
cia internacional, ou seja, o “Relatório Stiglitz” lista do CAD contém 61 países com baixo ren-
promovido pelo Presidente francês, que analisa dimento per capita, 47 países com rendimentos
as insuficiências de focar as políticas apenas per capita médio-baixos, e 43 países com ren-
no Produto Interno Bruto PIB (O “Relatório Sti- dimento per capita médio-altos.
Fontes e informações glitz” é formalmente chamado de Report of the Alguns países com baixos rendimentos também
adicionais: Commission on the Measurement of Economic têm sido chamados “países menos avançados”
• BMZ (2009): Performance and Social Progress). Ainda assim, (PMA), uma categoria introduzida pelas Nações
Medien­handbuch a maioria dos documentos oficiais, incluindo Unidas em 1971. Estes países, com rendimentos
Entwicklungs­politik publicações das NU continuam a usar os termos per capita persistentemente baixos, e níveis de
2008/2009, p. 447 e países “em desenvolvimento” e “desenvolvidos”. saúde extremamente baixos recebem, signifi-
segs. Cada vez mais pessoas começam a questionar o cativamente, termos mais favoráveis em coo-
• www.bmz.de/en/coun- uso do termo “país em desenvolvimento”, desde peração com as Nações Unidas do que outros
tries/index.html (lista que é baseado num modelo de desenvolvimento países. No entanto, as diferenças entre a cate-
de países parceiros da desactualizado. Isso implica que a meta para gorização de países do Banco Mundial e da CAD
República Federal da todos os países é tornarem-se como a Alemanha existem. Elas surgem porque o Banco Mundial
Alemanha) ou os E.U.A. (“países desenvolvidos”). Mas se toda actualiza a sua lista todos os anos, enquanto a
• www.oecd.org/dac/ a população seguisse o seu modelo de desenvol- lista do CAD é revista a cada três anos. Além
stats/daclist (CAD- vimento, nós precisaríamos entre três a quatro disso, o Banco Mundial considera apenas os
-lista de países em planetas. Além disso, “desenvolvimento” é muitas países com mais de 30 mil habitantes, enquan-
desenvolvimento) vezes confundido com crescimento económico. to a lista do CAD também contém pequenos
• www.stiglitz-sen- Desenvolvimento real, no entanto, significa estados insulares, mas carece de países com
-fitoussi.fr/en/index.htm melhorar o bem-estar das pessoas de forma os quais não há nenhuma cooperação para o

50 Parte 2: Contabilidade Ecológica


desenvolvimento (por exemplo, Rússia). em projectos financeiros e técnicos, através de
Um número de países com rendimentos per acordos governamentais.
capita médios, como Brasil, China, Índia, Méxi- Os “países-âncora” desempenham um papel
co ou África do Sul, são chamados “países crucial na estabilidade económica e política
emergentes”. Isso traduz a sua rápida indus- nas suas regiões, e cada vez mais ajudam a
trialização. Os dois critérios essenciais para moldar as normas internacionais. Perante os
chamar um país “emergente” são o seu tama- desafios globais, como as alterações climá-
nho económico relativo e o seu rendimento per ticas, a degradação dos recursos naturais e
capita crescente. o desenvolvimento sustentável, as suas vozes
Os conceitos de “país parceiro” e “país-âncora” estão a tornar-se cada vez mais importantes.
são frequentemente utilizados na cooperação Os países âncora importantes para a coope-
para o desenvolvimento alemão. O termo “paí- ração para o desenvolvimento da Alemanha
ses parceiros” refere-se a Estados com os incluem a China, Índia, Indonésia, Paquistão,
quais o Governo Alemão colabora directamente Egipto, Nigéria, África do Sul, Brasil e México.

em dados de Global Footprint Network e do Rela- Na maioria dos países


tório Planeta Vivo, bem como os valores dos tectos de elevados rendimen-
de rendimento do Banco Mundial, em relação aos tos a Pegada por pessoa
seus rendimentos nacionais brutos. Por exemplo, aumenta. As causas disto
o Japão representa um país de rendimentos altos; são os níveis de consumo
México, rendimentos médios; e Mauritânia, rendi- cada vez mais elevados, e
mentos baixos. a intensidade energética
dos estilos de vida dos
habitantes.
“Prosperidade” nos países com
altos rendimentos
Países com altos rendimentos geralmente têm uma
taxa de consumo de recursos alta, que excede em
muito a Pegada média global de 2,7 gha por pes-
soa. Na Europa, a procura de biocapacidade é duas
vezes maior que a oferta da região. Em termos de
limites ecológicos simplesmente não durará. Por
algum tempo, os países mais ricos podem ser capa- 2,5
zes de obter recursos cada vez mais caros, impor- Séries temporal da Pegada
tando-os de outros países. Países menos ricos não Pegada por pessoa, da biocapa-
2,0 1961 3,6 gha per capita
terão esta opção, e talvez precisem de depender cidade por pessoa e da
Índice (1961=1,0)

2005 6,4 gha per capita


mais da sua própria biocapacidade. Mas, global- população nos países de
mente, quando a Pegada da humanidade excede a 1,5 rendimentos altos (indexa-
biocapacidade do planeta, comprar a nossa saída do a 1961).
População
não é uma opção, porque não há ninguém com 1961 690 milhões
1,0
quem negociar. O resultado desse Excesso é duplo: 2005 972 milhões
uma acumulação de resíduos como o dióxido de Biocapacidade
carbono na atmosfera, bem como a liquidação das 0,5 1961 5,3 gha per capita
2005 3,7 gha per capita
reservas do ecossistema (árvores da floresta, os
peixes no oceano), acumuladas gradualmente ao
0
longo do tempo. 1960 1975 1990 2005
Neste capítulo, os países estão divididos de acordo Fonte: WWF/ZSL/Global Footprint Network: Fonte:
com rendimentos altos, médios e baixos, com base Relatório Planeta Vivo 2008 www.worldbank.org

Parte 2: Contabilidade Ecológica 51


Arábia Saudita 0,81
Sérvia e Montenegro 0,82
Argentina 0,87
Sudão 0,53
Malásia 0,81
Brasil 0,80
Costa Rica 0,85
Maurícias 0,80
Albânia 0,80
Equador 0,77
Azerbaijão 0,75
Tailândia 0,78

52
a de 2,7 hectares globais por pessoa.
Trinidad e Tobago 0,81

m 2005, a Pegada média da humanidade


Bolívia 0,70
China 0,78 Hectares globais por pessoa Hectares globais por pessoa

0
2
4
6
8
10
0
2
4
6
8
10

HDI
HDI
África do Sul 0,67
Emiratos Árabes Unidos Síria 0,72
0,87 Emiratos Árabes Unidos 0,87
Estados Unidos daNicarágua
América 0,71
0,95 Estados Unidos da América 0,95
Faso
BurkinaKuwait 0,37
0,89 Kuwait 0,89
Mauritânia
Dinamarca 0,55
0,95 Dinamarca 0,95
Uzbequistão
Austrália 0,70
0,96 Austrália 0,96
NovaColômbia
Zelândia 0,79
0,94 Nova Zelândia 0,94
Honduras
Canadá 0,70
0,96 Canadá 0,96
Tunísia
Noruega 0,77
0,97 Noruega 0,97

Parte 2: Contabilidade Ecológica


Cuba
Estónia 0,84
0,86 Estónia 0,86
Jordânia
Irlanda 0,77
0,96 Irlanda 0,96
Chade
Grécia 0,39
0,93 Grécia 0,93
Papua Nova Guiné
Espanha 0,53
0,95 Espanha 0,95
Egipto
Uruguai 0,71
0,85 Uruguai 0,85
RepúblicaArgélia
Checa 0,73
0,89 República Checa 0,89
Níger
Reino Unido 0,37
0,95 Reino Unido 0,95
Mali
Finlândia 0,38
0,95 Finlândia 0,95
A Pegada Ecológica das nações (per capita, 2005)

El Salvador
Bélgica 0,74
0,95 Bélgica 0,95
Rep. Centro Africana
Suécia 0,38
0,96 Suécia 0,96
Peru
Suíça 0,77
0,96 Suíça 0,96
Norte
Coreia doÁustria 0,95 Áustria 0,95
Guatemala
França 0,69
0,95 França 0,95
Rep. Dominicana
Japão 0,78
0,95 Japão 0,95
Gana
Israel 0,55
0,93 Israel 0,93
Arménia
Itália 0,78
0,94 Itália 0,94
Somália
Omã 0,81 Omã 0,81
Uganda
Macedónia 0,51
0,80 Macedónia 0,80
Senegal
Eslovénia 0,50
0,92 Eslovénia 0,92
Etiópia
Portugal 0,41
0,90 Portugal 0,90
Nigéria
Holanda 0,47
0,95 Holanda 0,95
Iraque
Líbia 0,82 Líbia 0,82

senta os rankings internacionais de Pegada dos países apresentados na Parte 6 (negrito).


Gabão
Alemanha 0,68
0,94 Alemanha 0,94
Guiné
Singapura 0,46
0,92 Singapura 0,92
Área construída

Camarões
Polónia 0,53
0,88 Polónia 0,88
Vietname
Turquemenistão 0,73
0,71 Pegada de carbono Turquemenistão 0,71
Moldávia
Bielorrússia 0,71
0,80 Bielorrússia 0,80

Quem tem a maior Pegada? Em que país é que a Pegada de carbono desempenha um grande papel, em
Alimentos, fibras e madeira

FederaçãoGâmbia
Russa 0,50
0,80 Federação Russa 0,80

qual desempenha um papel secundário? Que estilos de vida são replicáveis em todo o mundo consideran-
do os limites naturais do nosso planeta? Quem já passou o limiar do “alto desenvolvimento humano”, com
valor de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) acima de 0,8? O gráfico (dados de 2005) também apre-
CoreiaEritreia
do Sul 0,48
0,92 Coreia do Sul 0,92
Tanzânia
Namíbia 0,47
0,65 Namíbia 0,65
Marrocos
Botswana 0,65 Botswana 0,65
Zimbabué
Hungria 0,51
0,87 Hungria 0,87
Mianmar
Mongólia 0,58
0,70 Mongólia 0,70
o
Vietname 0,73 Turquemenistão 0,71
Moldávia 0,71 Bielorrússia 0,80

e madeira
Gâmbia 0,50 Federação Russa 0,80
Eritreia 0,48 Coreia do Sul 0,92
Tanzânia 0,47 Namíbia 0,65
Marrocos 0,65 Botswana 0,65
Zimbabué 0,51 Hungria 0,87
Mianmar 0,58 Mongólia 0,70
Quirguistão 0,70 Letónia 0,86
Jamaica 0,74 México 0,83
Madagáscar 0,53 Cazaquistão 0,79
Lesoto 0,55 Eslováquia 0,86
Geórgia 0,75 Paraguai 0,76
Quénia 0,52 Croácia 0,85
Laos 0,60 Lituânia 0,86
Sri Lanka 0,74 Panamá 0,81
Benim 0,44 Líbano 0,77
Butão 0,58 Chile 0,87
Indonésia 0,72 Bósnia-Herzegovina 0,80
Camboja 0,60 Roménia 0,81
Moçambique 0,38 Venezuela 0,79
Iémen 0,51 Bulgária 0,82
Angola 0,45 Turquía 0,78
Guiné-Bissau 0,37 Ucrânia 0,79
Índia 0,62 MUNDO
Costa do Marfim 0,43 Irão 0,76
Filipinas 0,77 Arábia Saudita 0,81
Libéria 0,43 Sérvia e Montenegro 0,82
Burundi 0,41 Argentina 0,87
Paquistão 0,55 Sudão 0,53
Togo 0,51 Malásia 0,81
Ruanda 0,45 Brasil 0,80
Serra Leoa 0,34 Costa Rica 0,85
Zâmbia 0,43 Maurícias 0,80
Nepal 0,53 Albânia 0,80
Suazilândia 0,55 Equador 0,77
Tajiquistão 0,67 Azerbaijão 0,75
Rep. Dem. Congo 0,41 Tailândia 0,78
era de 2,7 hectares globais por pessoa.

Bangladesh 0,55 Trinidad e Tobago 0,81


Em 2005, a Pegada média da humanidade

Congo 0,55 Bolívia 0,70

(Isto também tem de incluir as necessidades das espécies selvagens.)


Haiti 0,53 China 0,78
Afeganistão 0,35 África do Sul 0,67

Em 2005, a biocapacidade disponível era de 2,1 hectares globais por pessoa.

Fonte: Global Footprint Network (2008)

Parte 2: Contabilidade Ecológica


Malawi 0,44 Síria 0,72
Nicarágua 0,71
Burkina Faso 0,37

53
Mauritânia 0,55
Uzbequistão 0,70
Colômbia 0,79
Honduras 0,70
Tunísia 0,77
Cuba 0,84
acompanhamento.

Jordânia 0,77
disponível no DVD de
impressão do gráfico
Um modelo PDF para

Chade 0,39
em grande formato está

Papua Nova Guiné 0,53


Egipto 0,71
Pegada: A biocapacidade média europeia (oferta) é embora contendo pouco mais de sete porcento da
de 2,3 gha por pessoa, enquanto a Pegada média população do mundo.
(procura) é de 4,7 gha por pessoa. No contexto A Pegada média de um americano é de 9,4 gha,
global, a população da Europa (para sermos exac- aproximadamente duas vezes maior que a de um
tos, a população da União Europeia com os seus europeu. Considere os muitos desenvolvimentos
27 Estados-Membros) utiliza pouco menos de 17 suburbanos na América do Norte. A rotina diária
porcento da biocapacidade mundial disponível, para muitos dos seus habitantes inclui a condução

Sugestões para trabalhos futuros: O que portanto de três factores, que qualquer região
podem os governos preparar para o seu país precisa de considerar: Quanta biocapacidade
para um futuro com recursos limitados? tem a sua região? Quanto existe no mundo?
Como vão eles assegurar o bem-estar huma- Qual é o seu poder de compra em relação
no, sem esgotar os recursos ecológicos? à média mundial? Se o poder de compra da
Imagine que é o Ministro do Meio Ambiente do região está abaixo da média mundial, então
seu país. Juntamente com os seus companhei- é improvável que a região possa manter um
ros membros do gabinete, está a desenvolver equilíbrio comercial positivo de biocapacidade.
um projecto para o futuro. Você quer oferecer Países com baixo poder de compra não vão
às pessoas a oportunidade de viverem satis- ser capazes de ter acesso à biocapacidade de
feitas, uma vida próspera. Mas manter este outros países. Em vez disso, os países com
padrão de vida pode significar entrar em défice maior poder de compra podem extrair recursos
de biocapacidade. Apresentar um défice de bio- de outras regiões. A gestão dos recursos não é
capacidade num mundo com recursos limitados assim tão diferente da gestão de finanças.
está a tornar-se um factor de risco crescente • Qual acha que é o consumo ideal de recur-
e, assim como os economistas agora reflectem sos para o seu país?
sobre a inflação ideal, ou a taxa de desem- • Acredita que os seus argumentos poderiam
prego, cada região pode precisar de considerar assustar os eleitores? Ou uma nova orien-
qual o seu consumo de recursos óptimo. tação oferece perspectivas ainda mais atra-
Como pode convencer os seus colegas mem- entes para certos grupos?
bros do gabinete a levarem a sério as questões • Poderia a actual crise económica e finan-
de recursos? Como pode tornar fundamental a ceira fornecer-lhe a oportunidade de
gestão da procura de recursos, para garantir sugerir e implementar novos caminhos de
o bem-estar humano? Que tipo de contra- desenvolvimento mais sustentáveis? Já
-argumentos podem eles apresentar contra si ouviu falar sobre o “Novo Acordo Verde” do
(ministros da saúde, economia, energia, negó- Programa das Nações Unidas para o Meio
cios estrangeiros, ou de defesa)? Ambiente (PNUMA) – o New Green Deal –
Se aceitar as limitações ecológicas, então, neste contexto? Faça uma pesquisa sobre
logicamente, toda a população, quer se trate este assunto.
de um projecto, uma região ou um país, tem de Talvez seja útil para si pensar e anotar os inte-
determinar para si própria o seu consumo de resses dos diferentes departamentos ou minis-
recursos, ideal ou óptimo. Uma taxa de consu- térios políticos, e recolher ideias sobre em que
mo muito baixa pode levar a uma alimentação, medida uma Pegada menor apoiaria estes inte-
habitação e serviços de saúde inadequados. resses, ou pelo menos não lutar contra eles.
Informação adicional: Uma taxa de consumo muito alta pode colocar Para exercícios relacionados: Verifique os jogos
• www.ed.gov/pubs/ a população em risco, uma vez que os défices de planeamento desenvolvidos pelo co-autor do
EPTW/eptw7/eptw7d. de biocapacidade num mundo com Excesso estudo do Clube de Roma, Dennis Meadows, por
html ecológico se tornarão uma responsabilidade exemplo Fishbanks . Em Strategem, você, como
• www.bpa.gov/Corpora- cada vez maior para as economias. ministro de um país, é desafiado a tomar deci-
te/KR/ed/step/fishing_ O consumo óptimo de recursos depende sões ecologicamente responsáveis.
game/fishing.shtml

54 Parte 2: Contabilidade Ecológica


de um carro com um único ocupante, através do Nos países de rendimentos
trânsito da manhã e de regresso a casa, todas as médios, como a China,
noites. Tudo isso tem um preço, seja medido em tanto o crescimento da
dólares ou Pegada. Os estudos de caso a seguir população como o aumento
à p. 42 mostram que existem alternativas a esta da Pegada contribuem para
rotina. o crescimento da procura
Quase mais crítica e alarmante que os números sobre a biosfera. Em 2005,
reais é a taxa a que a Pegada per capita cresceu os países de rendimentos
em Países com rendimentos altos, entre 1961 e médios tinham uma quota
2005. Este aumento (de quase 80 porcento, para de 39 porcento da Pegada
6,4 gha por pessoa) deve-se principalmente a um Ecológica global.
aumento de nove vezes da Pegada de carbono.
Paralelamente ao aumento do consumo de recur- Amazónica funciona como importante sumidouro
sos, a biocapacidade por pessoa em países com de CO2, ou seja, fixação de CO2 atmosférico no
altos rendimentos tem diminuído constantemente tecido vegetal e fornecimento de água doce. A
desde 1961, em cerca de um terço. Com 3,7 gha Bacia Amazónica é considerada um local privile-
por pessoa, é quase metade da Pegada per capita giado de biodiversidade, com uma enorme riqueza
destes países. A maioria destas nações industriali- de espécies, cujo valor global permanece em gran-
zadas tem, portanto, um défice de biocapacidade de parte desconhecido. Ela oferece subsistência e
significativo. Há três maneiras de compensar um meio de vida a várias culturas indígenas. A pro-
défice: 1) esgotando os ecossistemas nacionais, tecção destas áreas de floresta tropical únicas con-
2) importando biocapacidade líquida de outros tribuirá para assegurar o bem-estar destes povos
lugares, e 3) dependendo dos serviços ecológicos indígenas e outras comunidades locais, oferece
dos outros, bem como das florestas tropicais, para valores de oportunidade para as gerações futuras, e
fixar as emissões de CO2 do país, ou pescando em ajuda a mitigar as alterações climáticas globais.
oceanos internacionais. Nas últimas décadas, a Região Ásia Oriental-
-Pacífico tem experimentado um desenvolvimento
económico dinâmico e um grande crescimento
Uma explosão económica em países populacional; 55 porcento da população mundial
com rendimentos médios vivia nesta região em 2005. A Pegada per capita
de um habitante da Ásia aumentou muito pouco
O explosivo crescimento económico e um aumen- nas últimas décadas e o valor de 1,6 gha, continua
to acentuado no consumo de energia fóssil e
2,5
recursos naturais caracterizam alguns países com Séries temporal da Pegada
rendimentos médios; incluindo muitos dos cha- por pessoa, da biocapa-
mados “países emergentes” (ver Caixa de Infor- População cidade por pessoa e da
2,0 1961 1.510 milhões
mação, p. 50). O problema é que, quando muitas população nos países de
Índice (1961=1,0)

2005 3.098 milhões


pessoas aumentam a sua procura de biocapacidade rendimentos médios (inde-
– mesmo que ligeiramente – o impacto geral pode 1,5 xado a 1961).
ser significativo.
Muitos destes países, como México, Brasil e Chile, Pegada
1,0
estão na América Latina. Em 2005, a Pegada 1961 1,8 gha per capita
média de um Latino-Americano foi de 2,4 gha 2005 2,2 gha per capita
per capita, ligeiramente abaixo da média global de Biocapacidade
0,5
1961 4,1 gha per capita
2,7 gha. A extensa floresta tropical da Bacia Ama- 2005 2,2 gha per capita
zónica reflecte-se no alto valor de biocapacidade
da região (4,8 gha per capita, em média), Brasil, 0
1960 1975 1990 2005
Peru e outros países Latino-Americanos conti-
nuam a ser, portanto, credores de biocapacidade, Fonte: WWF/ZSL/Global Footprint Network:
com mais biocapacidade do que Pegada. A floresta Relatório Planeta Vivo 2008

Parte 2: Contabilidade Ecológica 55


a ser consideravelmente inferior à média mundial.
“Eu tenho o sonho de que um dia as
Pequenos aumentos na procura contribuem, é
regiões não irão apenas reportar o seu
claro, especialmente quando os números totais
desempenho económico, mas também
da população aumentam de forma constante. Ao
sobre a felicidade que esta actividade
mesmo tempo, as disparidades nos padrões de
gera para os seus cidadãos. E além disso
consumo são cada vez mais visíveis. Austrália e
– um dia as regiões irão também relatar
Japão têm realmente algumas das maiores Pegadas
acerca da pressão que colocam sobre a
per capita no mundo.
natureza para alcançar esta felicidade
A população da China duplicou desde 1961; um
humana.”
em cada cinco habitantes da Terra é chinês. No
início dos anos 60, a Pegada per capita da China Professor Jorgen Randers, Norwegian School
estava classificada em 114º na listagem internacio- of Management , co-autor do estudo Clube de
nal. Agora ocupa o 74º lugar. Como consequência, Roma sobre a condição do homem: “Os Lími-
o país actualmente exige mais de duas vezes a tes do Crescimento”
biocapacidade que os seus próprios ecossistemas
Informação adicional: podem fornecer, ou seja, é necessária uma área
WWF/Global Foot- equivalente a “duas Chinas”, a fim de satisfazer a per capita de África de cerca de um quinto entre
print Network (2008): procura humana. Mesmo que a Pegada per capita 1990 e 2003, impulsionada por uma população
Hong Kong. Ecologi- de um Chinês seja menor do que a média mundial em expansão, a reserva muito provavelmente não
cal Footprint Report de 2,1 gha, tendo em conta a população do país, persistirá.
2008 (disponível como só existe um país na Terra que exige mais biocapa- Apesar da sua quota acima de 14 porcento da
ficheiro PDF no DVD de cidade em termos absolutos do que a China, e é os população mundial, o continente africano contri-
acompanhamento). Estados Unidos. buiu apenas seis porcento para a Pegada global. A
Pegada média de um africano era de 1,4 gha em
2005, uma redução de 20 porcento desde 1961, e é
O fosso crescente entre ricos e a menor de todas as regiões do mundo.
pobres África tem a maior taxa de desflorestação anual
do mundo, e esta perda de cobertura florestal
Em muitos países com baixos rendimentos as pes- leva à erosão do solo. Além disso, a escassez de
soas têm actualmente Pegadas Ecológicas menores água, secas catastróficas e os efeitos das alterações
do que em 1961, significando que estão a neces-
Séries temporal da Pega- sitar de menos biocapacidade por pessoa. Muitos
da por pessoa, da bioca- países em desenvolvimento estão muito abaixo População
pacidade por pessoa e da da marca dos 2,1 gha por pessoa, o valor médio 2,5
1961 890 milhões
2005 2.371 milhões
população nos países de da biocapacidade mundial disponível per capita.
rendimentos baixos (inde- Esta discrepância pode ser explicada pelo aumento
xado a 1961). da população destes países. Quando a população 2,0
Índice (1961=1,0)

cresce, existem menos recursos naturais disponí-


veis para cada indivíduo. Em menos de 50 anos (o 1,5
período durante o qual são calculadas as Pegadas Pegada
Ecológicas) a biocapacidade disponível per capita 1961 1,3 gha per capita
2005 1,0 gha per capita
terá diminuído em cerca de um terço. 1,0

África: Este continente diverso fornece o contraste 0,5 Biocapacidade


mais gritante com o perfil dos países com altos 1961 2,4 gha per capita
rendimentos. Devido às suas áreas de floresta tro- 2005 0,9 gha per capita

pical bioprodutivas e à sua baixa média de Pegadas 0


1960 1975 1990 2005
per capita, em 2005, África tinha uma reserva de
biocapacidade de 0,4 gha por pessoa. No entan- Fonte: WWF/ZSL/Global Footprint Network:
to, e face a uma diminuição da biocapacidade Relatório Planeta Vivo 2008

56 Parte 2: Contabilidade Ecológica


Caixa de Informação: índice para a sustentabilidade da utilização dos
o Happy Planet Index (HPI) recursos. HPI expressa quantos anos de vida
O HPI é uma medida inovadora que mostra a feliz cabem em cada hectare de Pegada Ecoló-
eficiência ecológica com a qual o bem-estar gica. Portanto, o HPI é calculado dividindo-se
humano é proporcionado no mundo. É o pri- a longevidade, ajustada pela média subjectiva,
meiro índice de sempre a combinar o impacto pelos números de Pegada Ecológica per capita.
ambiental com o bem-estar, de forma a medir Enquanto a esperança de vida pode ser obtida
a eficiência ambiental com que, em cada um
dos países, as pessoas vivem vidas longas e Expectativa de vida x Satisfação de vida
HPI =
felizes. Pegada Ecológica
O índice foi criado pela New Economics Foun-
dation (nef) em Julho de 2006. O HPI é base- a partir de estatísticas internacionais da popu-
ado em princípios gerais utilitários – que a lação e da Pegada Ecológica, disponibilizadas
maioria das pessoas quer viver uma vida longa por Global Footprint Network , a satisfação de
e gratificante, e que o país que está a fazer vida (bem-estar humano subjectivo) não tem
o melhor que pode, é aquele que permite aos medidas completamente normalizadas. HPI
seus cidadãos ter essa vida, enquanto evitam retira os conjuntos de dados a partir do Ques-
infringir a oportunidade de pessoas futuras ou tionário sobre Valores do Mundo (World Values
de outros países fazerem o mesmo. Survey) e da World Database of Happiness .
O conceito de felicidade nacional bruta, que
o rei do Butão cunhou numa entrevista em Fonte e informação adicional:
1972, foi cientificamente desenvolvido, tornado www.happyplanetindex.org
quantificável, e completo com um número de www.neweconomics.org

Sugestões para trabalhos futuros: “mais felizes” de acordo com o HPI ? Inves-
Quão felizes somos nós? tigue a classificação dos países que serão
A segunda compilação do HPI global foi publi- apresentados mais detalhadamente na
cada em Julho de 2009. O mapa (em www. Parte 6 desta brochura (a partir da p. 96).
happyplanetindex.org/explore/global/) mostra a Classifique-os de “feliz” a “menos feliz” e
pontuação global da segunda compilação global compare esta ordem de classificação com
do Happy Planet Index . O relatório (www.happy- a ordem de classificação do seu produ-
planetindex.org/public-data/files/happy-planet- to interno bruto ou outro indicador à sua
-index-2-0.pdf) apresenta os resultados para escolha. Interprete as conexões.
143 países em todo o mundo – o que represen- • Pode calcular o seu próprio Happy Planet
ta 99 porcento da população mundial. Curio- Index em http://survey.happyplanetindex.org/.
samente, na “lista de classificação mundial da Quais são os elementos chave para uma
felicidade” as nações industrializadas, como vida feliz? Que papéis desempenham a
Alemanha e Japão, estão posicionadas a meio, amizade e educação, fé ou raízes culturais?
com os Estados Unidos ainda mais baixo na De que roupas, objectos e móveis do seu
lista. Muitos países latino-americanos e países quarto você poderia prescindir? E o que é
asiáticos lideram a lista, incluindo a Costa Rica mais valioso para si? Será que a compara-
e Colômbia, Vietname e China. Na tabela nas p. ção com as posses dos outros desempenha
118/119 encontrará o HPI dos países apresen- um papel?
tados nesta brochura. • Se você ganhasse a lotaria, onde gastaria
• Porque acha que alguns dos países com o dinheiro? Suponha ganhos de 10 Euros,
rendimentos médio-baixos estão entre os 1.000 Euros, e 1 milhão de Euros.

Parte 2: Contabilidade Ecológica 57


climáticas colocaram muitas comunidades Africa- Guiné-Bissau, Libéria, Angola, Congo, Gabão,
nas sob stress significativo. A pobreza e as condi- Zâmbia, Moçambique e Madagáscar. Na Ásia e
ções ambientais locais estão intimamente ligadas na Região do Pacífico, Mongólia, Laos e Papua-
no continente Africano dado que muitos vivem -Nova Guiné contêm mais biocapacidade do que
uma vida de subsistência. a procura actual da sua população residente. Entre
os poucos países industrializados, na categoria de
Haiti: Com um Índice de Desenvolvimento credores estão países com povoações relativamente
Humano (IDH, ver p. 71 Caixa de Informação) escassas, incluindo: Austrália, Canadá, Suécia e
de 0,5, o estado da ilha das Caraíbas ocupa a Nova Zelândia. Isto não se deve necessariamente à
última posição da América Latina em termos de gestão cuidadosa dos seus ecossistemas. Por vezes
padrão de vida. O que os ecossistemas do país as razões históricas desempenham também um
oferecem já não basta para alimentar a população papel, nomeadamente a baixa densidade popu-
local, embora a procura de um haitiano seja rela- lacional (por exemplo, a Mongólia), o voluntário
tivamente pequena: produção de biocapacidade ou involuntário baixo consumo de recursos (por
per capita de 0,3 gha em comparação com uma exemplo, a Guiné Bissau, Congo) ou ecossistemas
Pegada média (ou procura de biocapacidade) de altamente produtivos e/ou inacessíveis (por exem-
0,5 gha. Isto significa que cerca de metade da plo, Brasil, Canadá).
pequena Pegada do Haiti pode ser coberta através De uma perspectiva de Pegada, os países podem
da produção interna, enquanto a restante deve ser transportar um défice através das importações
feita a partir de fontes de importação, de ajudas de líquidas, esgotando a sua própria biocapacidade, e
abastecimento ou por uma maior degradação dos utilizando serviços ecológicos de outras áreas, por
ecossistemas locais. Ao mesmo tempo, o governo exemplo, emitindo CO2 para o património global.
tem menos meios para importar mercadorias, Como vimos, a Pegada de um país inclui a bioca-
agravado pela tendência de aumento dos preços pacidade adquirida através de produtos e serviços
dos alimentos no mercado mundial. Isto leva a um importados. Por outro lado, os recursos renováveis
conflito social disruptivo colocando maior pressão utilizados para a produção de bens e serviços para
sobre uma situação já por si terrível. Este cenário exportação são incluídos como parte da Pegada do
vem a repetir-se em muitas áreas do mundo; já país importador.
existem crises semelhantes em Darfur, Ruanda e Por exemplo, a Pegada Ecológica da Alemanha
Bangladesh. inclui não só as importações de matérias-primas,
como madeira tropical ou alimentos (por exemplo,
frutas tropicais), mas também os recursos utiliza-
A biocapacidade incorporada no dos no fabrico de produtos importados, por exem-
comércio plo, t-shirts. Usando um outro exemplo, quando
um cidadão espanhol compra um carro alemão,
As Pegadas dos países industrializados da Europa a Pegada não é atribuída à Alemanha mas sim a
e América do Norte são consistentemente maiores Espanha.
do que as suas biocapacidades nacionais. Em 1961,
Devido ao crescimento apenas 26 países apresentaram um défice de bioca-
da população em alguns pacidade; em 2005, 90 países estavam deficitários
países com baixos ren- e a tendência é de crescimento constante. Mesmo
dimentos, existe menos os Estados Unidos, China e Índia, três dos oito
biocapacidade disponível países com maior biocapacidade total, são devedo-
por pessoa que, devido res de biocapacidade.
à falta de riqueza para Entre os maiores credores de biocapacidade
comprar as importações, (as nações com uma Pegada menor do que a
geralmente se traduz num sua biocapacidade) estão países sul-americanos,
aumento da pressão sobre incluindo Brasil, Argentina, Peru, Bolívia, Colôm-
os recursos naturais bia e Paraguai. Muitos países Africanos são
locais. também credores de biocapacidade: Mauritânia,

58 Parte 2: Contabilidade Ecológica


Devemos observar que as nações não comer- o capital financeiro em tempos em que o capital
cializam literalmente a sua biocapacidade. Pelo natural não era tão escasso como é hoje. Estes paí-
contrário, os bens e serviços têm biocapacidade ses têm recursos financeiros para importar a bioca-
incorporada a eles associada. Por outras palavras, pacidade e, portanto, têm sido capazes de expandir
a produção de bens e serviços que consumimos suas economias.
levam à procura de biocapacidade, que é o que a Em contrapartida, países com rendimentos
Pegada realmente mede. médios, como a China ou a Índia, cuja Pegada
Em 1961, a Pegada de todos os bens e serviços das importações cresceu 30 porcento desde 1961,
comercializados em todo o mundo contabilizava só agora estão a estabelecer as bases para a sua
oito porcento da Pegada global. Em 2005, este
valor tinha aumentado para 40 porcento. Isto
“O mundo não será mais dividido por ide-
indica não só o enorme fluxo de recursos que
ologias de ‘esquerda’ e ‘direita’, mas por
flui entre os países nesta era da globalização, mas
aqueles que aceitam limites ecológicos e
também ilustra a ligação entre o consumo local e a
os que não aceitam.”
procura por capital ecológico no resto do mundo.
Em países com alto rendimento per capita, 61 Wolfgang Sachs, Chefe da secção transversal
porcento da sua Pegada do consumo vem da bio- do projecto “Globalização e Sustentabilidade”,
capacidade importada em 2005. Uma explicação no Wuppertal Institue for Climate, Environment
histórica para a situação económica dos países and Energy
de altos rendimentos é que muitos acumularam

Muitos países devedo-


res ecológicos importam
serviços ecológicos de
outros países, no sentido
de satisfazer as suas
necessidades de recursos
e energia. Os limites do
sistema são, no entanto,
determinados pelos recur-
sos disponíveis no nosso
planeta.

Parte 2: Contabilidade Ecológica 59


industrialização. Eles estão a gastar grandes quanti- Num mundo de crescente procura por recur-
dades de material e energia para construir estradas, sos cada vez mais escassos, o que acontece aos
Fontes e informação aeroportos e complexos de produção. É crucial para países com baixos rendimentos? Este grupo
adicional: esses estados fazer investimentos eficientes em infra- inclui tanto os países ricos em recursos naturais,
• www.footprintne- -estrutura, a fim de minimizar a crescente procura como a República Centro Africana, bem como
twork.org/gfn_sub. global de biocapacidade. Em tempos de crescente países pobres em recursos como o Bangladesh.
php?content=national_ escassez de matérias-primas e serviços ecológicos, As importações de biocapacidade destes países
footprints os défices crescentes irão revelar-se desvantajosos. têm aumentado desde 1961, mas ainda assim são
• www.footprintnetwork. Nações cujos investimentos não foram bem plane- significativamente inferiores aos países de altos
org/en/index.php/GFN/ ados de um ponto de vista da energia e dos recur- e médios rendimentos, correspondendo a apenas
page/ecological_deb- sos, poderão em breve sentir os efeitos em termos 13 porcento da Pegada total destes países em
tors_and_creditors/ de agitação social, conflito e instabilidade. 2005.

Os dois mapas mostram


os países devedores e
credores de biocapaci-
dade em 1961 e 2005.
Note-se que o mapa de
1961 mostra as frontei-
ras dos países a partir
de 2005, para facilitar a
comparação.

1961
(fronteiras
dos países
em 2005)

2005

Dívida de biocapacidade: Pegada relacionada com a biocapacidade


Maior em mais de 150 % 100-150 % maior 50-100 % maior 0-50 % maior
Crédito de biocapacidade: Biocapacidade em relação à pegada
0-50 % maior 50-100 % maior 100-150 % maior Maior em mais de 150 %
Dados insuficientes
Fonte: Global Footprint Network

60 Parte 2: Contabilidade Ecológica


No futuro, as nações com
reservas de biocapacidade
provavelmente desempe-
nharão um papel cada vez
maior nas negociações
internacionais (aqui na
Conferência das Partes
na Convenção das Nações
Unidas sobre Diversidade
Biológica, em Bona, 2008).

Sugestões para trabalhos futuros: credores e consumo de alimentos. Alguns estimam que
devedores de biocapacidade cerca de dois milhões de pessoas podem
Observe os mapas do mundo com os devedores ter morrido devido à falta de alimentos.
e credores de biocapacidade de 1961 e 2005 Qual o papel desempenhado pela pobreza e
na p. 60. Que mudanças vê? O que acha que pelo isolamento político de um país, e qual
levou a estas mudanças? o papel que os constrangimentos ecológicos
• Considere Espanha, por exemplo. Do ponto desempenham?
de vista económico, o país é uma das his- • Será que já pensou que países como o
tórias de sucesso da União Europeia. Nos Canadá ou a Suécia podem pertencer às
últimos 40 anos, a sua população manteve- nações credoras de biocapacidade? Afinal,
-se praticamente constante. Que factores a Pegada per capita do Canadá é de 7,1 gha
podem ter levado Espanha a tornar-se um e da Suécia 5,1! No entanto, as suas áreas
devedor de biocapacidade? Porque é que a bioprodutivas são ainda maiores. Em com-
vida continua a “funcionar” lá? paração, olhe para a Nigéria no continente
• Ou o Japão, onde a população das ilhas Africano, atormentada 10 anos pela guerra
com densidade populacional relativa é civil. Embora tenha uma Pegada per capita
dependente da importação de biocapacida- de 1,0 gha, é um devedor de biocapacida-
de. Quais são as vantagens e desvantagens de. Como será que o Canadá ou a Suécia
de depender do grande fluxo de recursos devem começar a pensar a gestão das suas
proveniente de outros locais? O que faria se biocapacidades? Como seria essa gestão
estivesse na posição do governo japonês? influenciada pela rápida evolução das reali-
• Coreia do Norte. Após o colapso da União dades económicas e ambientais? Que estra-
Soviética, as importações de petróleo e tégias poderia um país como a Nigéria usar
carvão da Coreia reduziram significati- para melhor se posicionar, tendo em vista o
vamente. Além disso, a China não pode sucesso nas próximas décadas?
fornecer quantidades suficientes de arroz. • Como avalia as tendências para o desenvol-
Reduções no fornecimento de combustí- vimento mundial? Pense sobre os diferentes
veis fósseis também levou a reduções da cenários: Como serão as coisas no futuro se
biocapacidade porque os Norte-Coreanos continuarem como estão agora? Como irão
tinham menos fertilizantes, não podiam mudar as coisas se, em termos de Pegada,
abastecer os seus tractores e não eram acontecerem desenvolvimentos positivos
capazes de produzir tanta comida como ou negativos nos países chave em todo o
no passado. Reveja como esta situação planeta? Considere os diferentes cenários,
dramática afectou a Pegada. As curvas de p. 22 – 23 do Relatório Planeta Vivo ( WWF/
Pegada mostram a significativa redução no ZSL /Global Footprint Network , 2008)!

Parte 2: Contabilidade Ecológica 61


Mais informações sobre a ecologia do empregos, novas tecnologias), ou investido
comércio em escolas, hospitais e estradas. O que
Olhemos de forma mais atenta à importação acha? Quem deve ter acesso aos traba-
de recursos naturais. Entre o início de 2007 lhos recém-criados? Por exemplo, alguns
e meados de 2008, os preços dos alimentos investidores chineses também trazem
aumentaram fortemente numa base global – trabalhadores rurais chineses. Que conse-
soja e arroz tornaram-se 130 porcento mais quências pode isto ter?
caros. Em resposta, alguns países, incluindo • Algumas pessoas têm vivido na terra onde
a Argentina, aumentaram os impostos de o gado pasta ou em campos cultivados. O
exportação para que os preços não subissem que lhes acontece quando o Estado arren-
internamente. Posteriormente, alguns comer- da ou vende essas áreas a investidores
ciantes preferiram vender os seus bens inter- estrangeiros?
namente. No entanto, estes bens eram agora • Coreia do Sul adquiriu recentemente
inexistentes no mercado mundial. Os países 689.000 hectares de terras no Sudão.
que eram dependentes da importação de ali- Os Emirados Árabes Unidos reservaram
mentos ficaram de mãos vazias. O que deve 400.000 hectares no mesmo país. A Líbia
ser feito em tais condições? Num artigo inti- tem cultivado trigo no Mali. Como é que
tulado Buying Farmland Abroad: Outsourcing’s os países com baixos rendimentos, que
Third Wave, 21 de Maio de 2009, The Eco- não podem mais alimentar-se a si pró-
nomist descreve uma nova estratégia para prios e aos quais faltam fundos para
um país garantir os recursos necessários investir em novas tecnologias agrícolas,
no presente e no futuro. Um país compra podem superar estes problemas?
ou arrenda terras férteis noutros estados, • No Sudão, os investidores exportam 70
aumenta a produção de grão ou outras porcento da colheita, enquanto ao mesmo
culturas para a sua própria população, e tempo, o país é o maior beneficiário inter-
transporta a colheita para casa em navios. nacional de doações de alimentos. Ou:
Juliane von Mittelstaedt de Spiegel-Online Entre 2007 e 2011, o Programa Mundial
entrevistou o Repórter Especial das NU no das Nações Unidas de Alimentos vai gas-
direito à alimentação, Olivier de Schutter, tar a mesma quantidade para ajudar nas
relativamente a este assunto em 2009. O entregas à Etiópia ameaçada pela fome,
artigo é intitulado Neokolonialismus in Afri- que os investidores estrangeiros pagaram
ka: Großinvestoren verdrängen lokale Bauern pelos terrenos adquiridos lá. Como isto se
(www.spiegel.de/wirtschaft/0,1518,638435,00. encaixa nos exemplos anteriores?
html). Você pode ver que estas situações são com-
O que acha desta tendência? Consegue pensar plexas e as questões estão intimamente
noutras estratégias alternativas? Algumas ligadas. Suponha que tem o trabalho, como
questões a considerar: negociador para as Nações Unidas, de criar
• Tem sido sempre assim, os investidores uma situação “ganho-ganho” com isto. Como
cultivando terras férteis noutros países? podem ambos os lados, as nações investi-
Já ouviu falar das chamadas “repúblicas doras e as nações que vendem suas terras,
das bananas” ou “cash crops” neste con- lucrar a partir de acordos de comércio
texto? O que há de novo sobre a estraté- equitativo? Desenvolva ideias, abordagens
gia descrita em The Economist ? e regras que possam conduzir a uma tal
• O capital estrangeiro pode ser atraente situação. Você vai entrar em negociações
para os países onde os campos estão com ambas as partes. Prepare-se: Quais das
disponíveis para arrendar. O capital pode suas sugestões são imperativas para enca-
ser investido no desenvolvimento da rar um mundo com recursos cada vez mais
agricultura, (novas sementes, melhores limitados?

62 Parte 2: Contabilidade Ecológica


O mundo ideal não é um mundo da Pegada – A entrevista completa com

uma entrevista com Mathis Wackernagel o Dr. Mathis Wackernagel


(29 min., em Alemão) pode
ser encontrada como um
de produção mais limitante. Foi a era do Produto ficheiro MP3 no DVD de
Mathis Wackernagel, nasceu em 1962,
Interno Bruto. No século XXI os recursos tornar- acompanhamento.
em Basileia/Suíça, é Presidente de Global -se-ão cada vez mais escassos. Por esta razão, preci-
Footprint Network, sediada em Oakland, samos de informações mais completas. Precisamos
de sistemas de contabilidade, e não apenas para a
Califórnia/E.U.A. No início dos anos 1990
dimensão monetária, mas também para serviços
ele e seu orientador de doutoramento, ecológicos, para que assim possamos administrar
William E. Rees, desenvolveram a Pegada melhor o nosso capital natural. Assim como numa
Ecológica. empresa: Se os livros mostram que as despesas
excedem a receita, aumenta o risco de falência. É
preciso entender o nosso desempenho ecológico,
por razões idênticas às quais queremos saber a
nossa situação financeira.

O contabilista numa firma não é normalmen-


te o gestor. O que pode dizer a Pegada aos
gestores?
O objectivo das contas da Pegada é fornecer infor- Informação para um mundo
mações sólidas e credíveis. Não diz às pessoas o de recursos escassos
que fazer – apenas fornece o contexto e mostra a
relação entre escolhas e consequências. Depois os
gestores podem decidir o que será do seu maior
interesse. Mas ela mostra: Qual o tamanho da
Pegada – a procura de biocapacidade – na Ale-
manha? Isto expõe onde existem riscos e onde
O que pode fazer a Pegada? O que não pode podemos eventualmente investir. Nós também
fazer? queremos saber quanta biocapacidade o país tem.
Claramente, a Pegada não nos pode dizer se esta- Quanta tem o mundo? Quais são as tendências? A De dimensões monetárias
mos felizes. Ela só nos dá uma resposta a uma nossa mensagem aos decisores políticos é de que aos serviços ecológicos
pergunta específica: Quanta biocapacidade nós queremos que os seus países tenham sucesso. O
temos, quanta devemos usar? Diz-nos quanta bio- que significam estas tendências para que a Alema-
capacidade é necessária para sustentar as activida- nha se mantenha competitiva? O que elas signifi-
des humanas, por exemplo, a minha própria vida. cam para a política nacional, para a política inter-
nacional, na qualidade de vida vista a longo prazo?
A Pegada é como um par de óculos. Com eles Que cidades precisam de ser mais eficientes com
você vê certas coisas de forma mais clara, os recursos, a fim de serem capazes de funcionar
enquanto outras coisas podem parecer des- no futuro? Os países com um défice de biocapaci-
focadas. O que pode alguém fazer com a dade crescente estão a tornar-se cada vez mais vul-
ferramenta? neráveis. Para eles, é cada vez mais caro e arriscado
A Pegada é um sistema de contabilidade para manter a sua taxa de transferência de recursos.
um mundo no qual as questões ecológicas estão
a ganhar importância. Isto diferencia o século Quais são as orientações mais importantes que
XX do século XXI. Anteriormente, pode ter sido a Pegada pode oferecer actualmente?
adequado focar a Pegada apenas sobre o capital Existe um certo número de países onde o poder
financeiro porque essa forma de capital foi o factor de compra não é tão elevado como na Alemanha.

Parte 2: Contabilidade Ecológica 63


A maior parte da sua população vive uma vida resultado a pobreza persiste. Quando as mulheres
de subsistência. Quando os recursos se tornam vão à escola, elas também têm mais hipóteses de
escassos nestes países, isso imediatamente se tra- encontrar trabalho e moldar as suas próprias vidas.
duz em menos alimentos ou menos oportunidades A sua qualidade de vida aumenta, tal como a de
de cortar madeira. A escassez de água aparece, seus filhos e todos os outros membros da sua famí-
etc. Então, qual é o problema que define o futuro lia, homens e mulheres. Além disso, as famílias
do país? Alguns apontam a água, para outros é a também se tornam menores. Como resultado, há
biodiversidade, outros ainda referem as alterações maior capacidade para todos os que vivem com
climáticas ou a degradação do solo. A questão é recursos limitados. Na economia global é benéfico
que estes problemas estão relacionados. Eles são para um país ter uma população gradualmente
sintomas da mesma dinâmica: a nossa fome cres- diminuída. Muitas pessoas pensam que o contrá-
cente de recursos. rio é verdadeiro. Elas acreditam que aumenta a
competitividade com uma população em cresci-
O que pode um político numa cidade, um mento. Num mundo ecologicamente escasso isto
ministro de um país, um executivo líder de já não representa a verdade.
uma empresa, fazer com os seus números?
Quando falamos com os responsáveis políticos, Estará a estrutura urbana relacionada com o
mostramos-lhes diagramas. Por exemplo, este (ver segundo ponto?
Alta qualidade de vida figura p. 72): Num eixo, o diagrama descreve Na verdade, sim. A forma como uma cidade é
com poucos recursos quão elevada é a qualidade de vida em determina- construída, como funciona, como se estende ou
dos países. No outro eixo mostra quantos recursos quão compacta é, quão eficiente é, ou quanto são
foram consumidos em cada país para manter essa poupados os recursos no fornecimento de energia,
qualidade de vida. Então perguntamos: Onde tudo determina a eficiência dos recursos para uma
está o seu país ou o seu cliente neste diagrama? cidade. A estrutura urbana determina pelo menos
Com este plano de fundo eles podem avaliar onde 80 porcento da Pegada dos seus moradores. A
quererão investir para garantir a sua qualidade de Pegada depende de onde vem a comida, da mobi-
vida. Cidades e países que oferecem uma elevada lidade das pessoas, do que as pessoas compram.
qualidade de vida com o mínimo consumo de Tome como exemplo Houston, uma cidade muito
recursos estarão entre os vencedores num mundo extensa no Texas. As suas casas não são eficientes
de escassos recursos. em comparação com os padrões europeus, e são
mal isoladas. Além disso, as casas são muito dis-
Onde se pode começar? persas exigindo muitas viagens de carro mesmo
A população é um factor Há dois pontos centrais para a intervenção. E para recados simples como ir comprar leite ou um
importante ambos tornam a vida melhor. Uma das maio- jornal. Os moradores de Houston utilizam cerca
res oportunidades para aumentar o bem-estar de 12 hectares globais de área ecologicamente
humano é abrandar e, eventualmente, reverter o produtiva por pessoa. Se alguém de Houston se
crescimento da população. Isso não exige medidas mudasse para Siena, Itália, iria necessitar de um
coercivas, na verdade as medidas não coercivas terço ou um quarto desta Pegada para apoiar a
são muito mais eficazes. E ainda mais importante, mesma qualidade de vida, porque se pode chegar a
esses investimentos tornam a vida melhor, prin- muitos lugares indo a pé em Siena. Além disso, as
cipalmente para aqueles que vivem em condições casas são menores e mais compactas. A comida é
mais frágeis actualmente. Acima de tudo, esta é orientada para ser local e sazonal. Em geral, Siena
a oportunidade de investir nas mulheres, dando- oferece uma vida encantadora e atraente para a
-lhes acesso à educação, mas também ao plane- qual só se necessita de um quarto ou um terço
amento familiar. Isto ajuda as mulheres a terem dos recursos. O interessante é isto: As pessoas em
mais controle das suas vidas, e a contribuir mais Siena não precisam ser instruídas para ter uma
eficazmente, por exemplo, como líderes da comu- Pegada menor. Isso acontece porque a estrutura da
nidade ou empresárias. Em muitas regiões mais cidade os convida a viver um estilo de vida par-
pobres de África, as meninas são excluídas devido ticular. Se melhorássemos Siena com as possibili-
a dificuldades económicas imediatas e, como dades tecnológicas que temos actualmente neste

64 Parte 2: Contabilidade Ecológica


planeta, a poupança resultaria ainda em maiores o capital natural, para a biocapacidade, para com-
resultados de Pegada. Por exemplo, em Itália, uma plementar as medidas tradicionais como o PIB.
grande parcela de energia ainda é produzida por Ter clareza sobre a nossa situação de biocapacida-
centrais termoeléctricas que queimam carvão. Se de está a tornar-se fundamental para alcançar o
esta energia produzida fosse renovável, ou com sucesso no século XXI.
uma tecnologia mais limpa, a Pegada de Siena O segundo ponto é focarmo-nos nas reservas que
encolheria sem que as pessoas em Siena tivessem colocamos em prática actualmente: habitação,
que mudar alguma coisa sobre o seu estilo de vida. estradas, infra-estrutura de energia, ou pessoas
que nasceram hoje, por exemplo. Estes activos
A Pegada não parece oferecer boas notícias. A têm uma expectativa de vida de 50, 75, 100 anos.
oferta global de biocapacidade ascende a 2,1 Eles vão moldar os nossos padrões de consumo
hectares globais per capita, a procura é 2,7. de recursos durante todo esse tempo. A forma
Além disso, a distribuição, vista globalmente, é como moldamos as nossas cidades actualmente
desigual se não mesmo injusta. Isto é com uma determina a procura de recursos durante um
população crescente. Como lida Global Foot- longo período. A pergunta é: Será que estamos a
print Network com estas realidades? construir armadilhas para nós próprios ou novas
Temos calculado como é que a Pegada e o for- oportunidades? Por exemplo, as pessoas nascidas Os pobres tornam-se
necimento per capita de biocapacidade se desen- hoje vivem 75 anos ou mais. Elas vão consumir mais pobres
volveu ao longo dos últimos 40 a 50 anos. Nós recursos durante mais de 75 anos. Uma central a
apresentamos estes dados. Nós podemos mostrar carvão construída hoje irá emitir carbono durante
resultados de nações, cidades ou indivíduos, ou 50 anos, se a usarmos durante toda a sua vida útil
podemos agrupar resultados, por exemplo de paí- possível. Moinhos de vento produzidos hoje, irão
ses com altos, médios, e baixos rendimentos. A produzir uma baixa Pegada de electricidade duran-
partir daqui, cabe ao leitor interpretar o que isso te décadas. As decisões que tomamos hoje têm
significa. Mas considere isto: Nos países com bai- efeitos a longo prazo. O Excesso já está a ocorrer
xos rendimentos a população triplicou no período e se a tendência continuar, poderemos encontrar-
mencionado. Actualmente, há 2,3 mil milhões de -nos em mares tempestuosos em 20 ou 30 anos.
pessoas a viverem nesses países. Nos últimos 50 Nós costumávamos pensar que a sustentabilidade
anos, a média per capita da Pegada nesses países era algo para a próxima geração – vamos então
diminuiu. Esta diminuição não foi voluntária, e construir esta nova auto-estrada! Eu não compro
colocou uma pressão significativa sobre a quali- o argumento de que não somos capazes de lidar
dade de vida destas populações. Além disso, estas com a sustentabilidade porque é a longo prazo
tendências de Pegada são apenas números médios. e as eleições realizam-se a cada quatro ou seis
Porque entre estes 2,3 mil milhões vivem 50 – 100 anos. O facto é que se espera que estes mesmos
milhões de Indianos que durante este período de funcionários eleitos construam pontes que durem
tempo se tornaram tão ricos como os europeus. E, 50 anos, que façam políticas educacionais mos-
apesar desta população indiana que aumentou tre- trando efeitos apenas 25 anos mais tarde, e fundos
mendamente o seu rendimento, a Pegada Ecológi- de pensões que as pessoas vão manter ao longo
ca média continua a ficar cada vez menor na Índia de décadas. Todos estes períodos são de tempo
e em países de baixos rendimentos. Eu considero amplo e grandes somas. Portanto, temos absoluta
este declínio da Pegada bastante preocupante. capacidade para solucionar a escassez de recursos
reconsiderando as reservas que colocamos em prá-
O que oferece então a Pegada como soluções tica actualmente. São os trilhos que construímos
possíveis? hoje para o futuro, o ponto de intervenção mais
Três pontos: O primeiro é a contabilidade. Se não significativo.
soubermos onde estamos – quanto nós usamos e O terceiro ponto é a inovação. O que é fascinante Uma vida fantástica num
quanto nós temos – se não fizermos um caderno sobre os seres humanos é que eles podem ser incri- hectare global
sério mantendo os nossos activos mais importan- velmente inovadores e empreendedores. Devemos
tes, então não podemos reagir eficazmente. Nós recorrer a todas estas habilitações para promover
oferecemos uma ferramenta de contabilidade para a sustentabilidade. Talvez Paul Hawken esteja

Parte 2: Contabilidade Ecológica 65


correcto ao dizer que somos grandes ao alcançar transferência. Isto é a troca de material entre as
metas, mas não tão bons a escolhê-las. Assim, o pessoas e a natureza. Neste domínio, corremos
que precisamos é de um objectivo claro para a contra limites quantitativos. Exemplos disso são
sustentabilidade. Simplificando: Como podemos as alterações climáticas, escassez de água doce,
levar uma vida estimulante em algo como um ou colapso da pesca por exemplo. A outra área de
hectare global e meio de área ecologicamente pro- preocupação é a saúde humana: Ambientes inse-
dutiva por pessoa? Este é o derradeiro desafio que guros ou poluídos tornam-se uma ameaça para a
temos diante nós e para o qual ainda não temos saúde humana e bem-estar. São exemplo a polui-
uma resposta. ção do ar ou da água, ou metais pesados em solos.
Este segundo domínio tem uma dimensão mais
Voltando agora mais especificamente ao qualitativa: Pequenas quantidades de substâncias
método – o que pode ele fazer e o que não erradas afectam a qualidade de vida das pessoas.
pode? Onde está a inexactidão no que está a Ambas as dimensões de impacto ambiental são
trabalhar? importantes, mas misturá-las poderia confundir-
Para calcular quanta biocapacidade um país usa -nos. Como elas representam uma dinâmica
e quanta ele tem, nós aplicamos mais de 6.000 diferente, precisam ser monitorizadas e tratadas
dados de pontos por país e por ano – quase todos separadamente. Por conseguinte a Pegada, uma
a partir de fontes de dados das NU. Isso pode medida do primeiro domínio, precisa ser comple-
soar muita quantidade, mas considerando o quão mentada com medidas para o segundo domínio.
importante a informação é, e de como devemos ser Além disso, as medidas de impacto ecológico
detalhados a fim de a tornar tão relevante quanto necessitam de ser acompanhadas de informações
possível, estes ainda continuam a ser poucos pon- sociais e económicas.
tos de dados. Nós precisamos de melhores dados
sobre a mudança de produtividade ecológica no Outra crítica: clima. Até agora os cálculos de
contexto das alterações climáticas. Precisamos de Pegada têm exclusivamente contabilizado o
entender melhor a fixação de dióxido de carbono carbono. Ao mesmo tempo existem outros gases
pelas áreas de terra – esteja ela a aumentar ou a com efeito de estufa muito efectivos como o
diminuir. Precisamos de mais conhecimento sobre metano. Neste contexto a Pegada é cega.
O único gás com efeito os recursos pesqueiros e quão produtivos eles real- Sim, alguns aspectos ainda são excluídos. Parti-
de estufa que a Pegada mente são. Existem muitas questões em aberto cularmente se nós sentimos que os dados actuais
considera é o CO2 nesta área. Precisamos também de mais capacida- ainda não são suficientemente fortes. A omissão de
de para quebrar resultados gerais, de modo a que alguns aspectos reforça a nossa afirmação de que
possamos atribuir Pegadas a actividades específi- estamos em Excesso global. Na ausência de conhe-
cas. Mas isto não é um problema apenas para Glo­ cimentos sólidos, a nossa filosofia de trabalho é
bal Footprint Network, mas também das agências subestimar a Pegada e sobrestimar a biocapacidade
de estatísticas das NU. No século XXI, será mais a fim de não exagerar o Excesso. Mas a questão
significativo para um país entender sua biocapaci- de acrescentar outras categorias à Pegada está na
dade do que saber quanto ouro está guardado no nossa agenda de trabalho e é algo que podemos
banco nacional. A ignorância tornar-se-á cada vez integrar em versões posteriores. Outros gases de
mais perigosa. efeito estufa não estão actualmente incluídos no
método por vários motivos. Não existem conjun-
Existem um número de pontos que são repeti- tos de dados consistentes para todas as nações
damente levantados como crítica ao método da do globo que documentem consistentemente as
Pegada. Uma dimensão que a Pegada não tem emissões de gases para além do CO2 e como essas
no seu ecrã de radar é a toxicidade dos mate- emissões se ligam ao consumo final. Esta é uma
riais. Porque não? de várias lacunas na investigação e informação
Uma crítica à Pegada: Os impactos ambientais podem ser divididos em que esperamos colmatar num futuro não muito
Toxinas ambientais não duas grandes categorias. Uma área está relacionada distante.
são levadas em conta com as questões da biocapacidade, ou questões
do metabolismo do material humano ou a sua

66 Parte 2: Contabilidade Ecológica


Então a Pegada não descreve o fenómeno total temos dificuldade em monitorizar este fenómeno
do Excesso? nas nossas contas usando os números que rece-
Nós realmente subestimamos o Excesso. Como bemos todos os anos a partir da Organização das O Excesso é na realidade
mencionado, certos gases permanecem fora nossos Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. muito maior
cálculos. Além disso, a perda de solo ainda não As grandes lacunas de dados são na minha opinião
entra nas nossas estimativas nacionais. A longo um reflexo de como nós subestimamos seriamente
prazo, esperamos que todos estes aspectos possam o quão essenciais são estes recursos para a nossa
ser incluídos de forma adequada e robusta, o que economia. As nossas contas podem ser melhoradas
aumentaria ainda mais a utilidade da Pegada. significativamente. Isso exige um esforço significa-
tivo para medir a produtividade dos recursos, uma
Durante a chamada revolução verde dos últi- vez que os ecossistemas são muito mais complexos
mos anos e décadas, enormes quantidades de do que contas bancárias.
adubo artificial foram colocadas em campos
por todo o mundo o que levou a um aumento Onde estará a Pegada em 10 ou 20 anos, assu-
da biocapacidade. Mas em última instância é mindo que se desenvolve como se espera?
energia fóssil, pois o fertilizante é produzido a A curto prazo, queremos ter a Pegada a ser uti- A Pegada, uma ferramen-
partir do gás natural. A crítica é: As fontes de lizada em todos os países, tal como o PIB. Os ta de transformação
energia fóssil são finitas. As colheitas são, por- ministros deveriam suar quando ouvem que o seu
tanto, insustentáveis, por conseguinte, a Pegada défice de biocapacidade é cada vez maior. Assim
está a ser calculada com números irreais. como suamos actualmente quando os números
Nós medimos a quantidade da biocapacidade que de desemprego aumentam ou quando as contas
a Terra fornece todos os anos. Se a biocapacidade da tesouraria estão vazias. Mas eu também espero
diminui porque “as entradas” já lá não estão ou os que um dia não necessitemos mais da Pegada. O
solos são lixiviados ou não existe água suficiente mundo ideal não é o mundo da Pegada. Se seguir-
disponível, então isto será apresentado em contas mos os cálculos da Pegada e agirmos em confor-
futuras – através do declínio da biocapacidade. Os midade, o mundo será um lugar melhor do que
nossos números não são previsões; ao invés, nós é hoje. Mas em última instância, a Pegada é uma
documentamos a forma como as coisas são, ano ferramenta para a transição deste mundo. É uma
após ano. As nossas análises poderão ser comple- ferramenta que destaca a importância do capital
mentadas com os dados mais detalhados do pró- natural, não só para nós, mas também para todas
prio país, ou avaliando quanto da biocapacidade as plantas e animais com os quais partilhamos o
de hoje se pode tornar frágil no futuro devido à planeta. Talvez sejamos mesmo capazes de cons-
escassez de combustíveis fósseis, esgotamento dos truir uma economia que pode funcionar abaixo da
solos ou escassez de água doce. Este conhecimento capacidade biológica do planeta, deixando grandes
mais detalhado é fundamental para a nossa segu- oportunidades para a vida não-humana também.
rança a longo prazo, e também faz parte da nossa Veremos que não é apenas mais estável e seguro,
agenda de pesquisa. mas também mais satisfatório.

A Pegada não descreve ecossistemas tais como,


florestas ou oceanos por exemplo. Em vez disso,
de acordo com a sua abordagem, diz-nos quanta
biocapacidade é criada e quanta é removida por
ano – este é um ponto fraco da metodologia? Mathis Wackernagel é retratado em porme-
É verdade que muitas coisas básicas das quais nor pelo Dr. Stefan Giljum no artigo Mathis Os dados não são
depende a nossa economia estão mal documenta- Wackernagel. Der Ökologische Fußabdruck. perfeitos
das – a biocapacidade das florestas, por exemplo. Entwicklung auf einem begrenzten Planeten
Não existem séries fiáveis de dados temporais, nem que aparece no jornal de notícias EINS (dis-
mesmo dados consistentes sobre quão produtivas ponível em ficheiro PDF no DVD de acompa-
elas são realmente. Temos défices de conhecimento nhamento, em Alemão).
enormes. Apesar do colapso dos pesqueiros, nós

Parte 2: Contabilidade Ecológica 67


Parte 3:
A Pegada e a cooperação para o
desenvolvimento
O objectivo da cooperação procura de recursos. As restrições de recursos
para o desenvolvimento é poderão também tornar-se uma ameaça à sua
trabalhar com os países via actual de desenvolvimento. Com a crescente
parceiros para melhorar procura de serviços ecológicos, os países que têm
de forma sustentável excedentes ecológicos adquirirão uma vantagem
as condições de vida competitiva, principalmente se forem capazes de
da população. A Pegada manter esses excedentes, ou seja, se conseguirem
pode ser uma ferramenta não entrar numa situação de défice.
valiosa para a realiza- A cooperação alemã para o desenvolvimento visa
ção simultânea destes melhorar as condições de vida e perspectivas para
objectivos humanos e as pessoas que vivem nos países parceiros. Como
ambientais. pode a Pegada apoiar este esforço? Poderá infor-
mar produtivamente os países sobre o seu caminho
A cooperação para o desenvolvimento visa pri- para um duradouro desenvolvimento de sucesso?
mordialmente tirar as pessoas da pobreza. O seu Fornecerá uma bússola para os processos de plane-
objectivo é melhorar as condições de vida e saúde amento político e económico?
das populações em países com baixos rendimentos
em todo o mundo. Ter acesso aos recursos naturais
é um factor significativo para permitir uma vida Um dia de trabalho no
saudável e produtiva. Esse acesso varia fortemente
de região para região: Alguns países lidam com
estrangeiro
défices de biocapacidade, com Pegadas maiores O despertador de Silke Leonhard toca às 6 da
do que sua própria capacidade biológica. Outros manhã no país quente e tropical para onde ela veio
dependem fortemente dos recursos provenientes trabalhar. Ela é membro da equipa da Deutsche
do exterior, que estão sob uma pressão crescente. Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit
Por conseguinte, a cooperação para o desenvol- (GIZ), uma empresa de cooperação internacional
vimento internacional coloca justamente uma para o desenvolvimento sustentável. Tem um
atenção significativa no comércio, que se tornou longo dia pela frente: Ela e a sua equipa devem
um factor cada vez mais importante da economia elaborar um plano que aconselhe as autoridades
global. Ora assim como é importante saber se um governamentais sobre as questões ambientais.
país apresenta um défice comercial económico, é Tem motorista e pode usar o tempo para trabalhar
também preciso compreender o balanço ecológico no lugar detrás do carro; ainda assim, o tráfego é
geral de um país aquando da avaliação da viabili- frustrante. Apesar da proximidade, a viagem até
dade do seu caminho de desenvolvimento. ao seu local de trabalho muitas vezes pode levar
Sem o poder de compra necessário para garantir até três horas, dependendo do trânsito. O ar con-
as importações, os países com baixos rendimentos dicionado do carro vai trabalhando e torna o tra-
que apresentam défices de biocapacidade acabam jecto mais suportável, embora, lá fora, uma espessa
muitas vezes por esgotar o seu próprio património camada de fumo cubra a cidade.
ecológico. O uso excessivo da biocapacidade nacio- O desenvolvimento deste centro urbano em que
nal leva à degradação dos ecossistemas e resulta vive e trabalha está a avançar rapidamente. Apenas
numa maior deterioração das condições de vida há alguns anos atrás, as ruas estavam meio vazias.
local. Em áreas do mundo que não podem pagar A cidade está a expandir-se e a população cresce,
entradas significativas de recursos vindos de outras tal como o seu consumo de recursos. As massas de
áreas, as implicações dos défices de biocapacidade emissões, que apresentam riscos para a saúde e que
podem ser devastadoras, levando à perda de recur- afectam o clima, já não podem ser ignoradas.
sos, colapso dos ecossistemas, dívida, pobreza,
fome e guerra. Perguntas sobre a forma de trabalhar
Países em rápido processo de industrialização, Apesar do conforto do seu carro com motorista, ar
como China e Índia, com altas taxas de cresci- condicionado, muitas dúvidas pairam na mente de
mento económico estão também a aumentar a Silke: Como se parecerá o seu país de acolhimento

68 Parte 3: A Pegada e a cooperação para o desenvolvimento


daqui a 10 ou 30 anos? Quais poderiam ser as a Pegada pode enriquecer o diálogo entre os diver- Desde 1 de janeiro
consequências não intencionais dos esforços de sos grupos sociais e criar um contexto sólido para de 2011, a Deutsche
desenvolvimento actual? A economia tornar-se-á explorar o significado dos limites ecológicos. Se Gesellschaft für Interna-
mais estável à medida que se expande, ou mais fosse estabelecida como um indicador no âmbito tionale Zusammenarbeit
frágil, dado que passa a depender cada vez mais da monitorização ambiental, a ferramenta poderia (GIZ) GmbH concentra,
dos fluxos de recursos? Podem os níveis actuais e ajudar a orientar as decisões políticas de um país. sob um mesmo teto, a
futuros de procura de recursos, ser satisfeitos pelo Não seria menos importante o facto de que pode- competência e a experi-
país? Se não, o país tem a capacidade para reagir ria impulsionar as estratégias do país, quando par- ência de longa data do
a choques de recursos? Como pode ela e os seus ticipassem em processos de negociação global. DED, da GTZ e da InWEnt .
colegas compreender melhor as trocas e escolhas À noite, no seu caminho de volta para casa, Silke
possíveis para tornar duradouros os esforços de revê o seu dia. A apresentação e as discussões com Informação adicional
desenvolvimento? Como podem potenciais cons- os seus colegas correram bem. É muito cedo para sobre o trabalho da GIZ :
trangimentos ecológicos futuros ser relevantes dizer, mas ela tem um bom pressentimento – os www.giz.de/en
para as decisões de hoje? Quais são as opções? As parceiros estão interessados na Pegada. A próxi-
opções populares estão a ser úteis ao país, se não ma etapa será, em conjunto, descobrir onde pode
for esse o caso, podem ser modificadas sem perde- ser aplicada a ferramenta em primeiro lugar para
rem a sua motivação? mostrar a sua utilidade e produzir um projecto de
Estas são as questões que a equipa de Silke quer sucesso. Nada ganha pessoas mais rapidamente do
abordar hoje. Juntamente com os representantes que colaborar e produzir resultados.
da sua organização parceira, quer promover o
desenvolvimento sustentável, por oposição a perse-
guir os ganhos de desenvolvimento a curto prazo.
Afinal, a principal tarefa da cooperação para o
desenvolvimento é fazer com que qualquer melho-
ria seja duradoura.
Esta missão levou à decisão da equipa do pro-
jecto de apresentar a Pegada Ecológica aos seus
parceiros no local. Esta ferramenta pode ajudar a
consolidar as informações e avaliar as tendências
actuais. A Pegada pode também ajudar as pesso-
as a pensar sobre os níveis óptimos de consumo
de recursos. Se o consumo é muito baixo, isso é
muitas vezes um indicador de pessoas com falta de
comida e abrigo; se for demasiado elevada, coloca
o país em risco uma vez que pode não ser capaz
de sustentar esse nível de taxa de transferência
de recursos para sempre. Os governos nacionais “Podemos usar a Pegada na cooperação
devem questionar-se sobre três questões funda- para o desenvolvimento para nos ajudar
mentais para determinar qual é o nível óptimo a avaliar a eficácia das nossas activi-
de consumo de recursos: Quanta biocapacidade dades – para obter uma imagem mais
está disponível no país? Quanta está disponível no precisa de se o desenvolvimento nos
mundo? Qual é o poder de compra relativo do país está a levar na direcção certa ou, de uma
em comparação com a média mundial? perspectiva ecológica, se temos de fazer
As consequências económicas e sociais destas correcções de rumo. Podemos apoiar
A entrevista completa
questões estão intimamente ligadas com qualquer e acompanhar os nossos parceiros na
com o membro da equipa
estratégia de desenvolvimento. Com a metodologia reflexão sobre estas questões.”
da GIZ Susanne Willner
da Pegada, informações valiosas podem ser produ- (9:53 min., em Alemão)
zidas que podem ser uma contribuição para deba- Susanne Willner, membro da equipa no pode ser encontrada em
tes públicos, campanhas educativas, bem como projecto Rioplus na GIZ formato MP3 no DVD de
processos de planeamento do governo. Além disso, acompanhamento.

Parte 3: A Pegada e a cooperação para o desenvolvimento 69


Oportunidades de aplicação do contexto. Mas o que a Pegada pode medir é a
procura da biocapacidade de qualquer activida-
para a Pegada de. Muitas actividades estão associadas à prática
Como pode exactamente a Pegada apoiar a coope- empresarial. Por exemplo, o fabrico de um auto-
ração para o desenvolvimento? A nível nacional, a móvel. Estamos a focar-nos apenas no consumo
Pegada pode avaliar o fornecimento e o consumo de recursos durante a produção do automóvel, ou
da biocapacidade de um país. Ao nível de projec- estamos a considerar as várias fases de pré-produ-
to, a Pegada pode ajudar a garantir a distribuição ção: aço, plástico e borracha para os pneus? Pode-
mais eficiente dos recursos para melhorar a vida mos também considerar o uso do carro, bem como
das pessoas mantendo, ao invés de liquidação, os o consumo de combustível. Mas, se quisermos
activos ecológicos. A nível local, a Pegada pode considerar todos os efeitos ambientais, também
ajudar os moradores a entender as opções para que temos de considerar a infra-estrutura necessária
possam agir. Um importante ponto de partida é para apoiar o uso do automóvel: as estradas e as
a educação. Com a Pegada, até mesmo as crian- pontes que também consomem recursos. Uma
ças podem encontrar um ponto de partida para questão importante a colocar para determinar se
as excitantes discussões sobre o estilo de vida e algo é sustentável é: A actividade é globalmente
valores. replicável? Ou pode a actividade durar – ou seja,
Finalmente, as empresas nos países em desenvol- a população tem acesso suficiente à biocapacidade
vimento, e em qualquer outro lado, podem usar necessária para manter esta actividade?
a Pegada para medir o impacto: Quanto dióxido Porque a Pegada é operacional a todas as escalas,
de carbono e outros resíduos estamos a produzir? do individual ao global, pode dar respostas a
Quais os recursos de que dependemos que estão muitos níveis. Mas para usar a ferramenta para
sob pressão? Estão as nossas actividades económi- projectos específicos de desenvolvimento, devemos
cas a exceder os nossos limites, ou será que esta- concentrar-nos em duas questões principais:
mos a operar dentro dos limites ecológicos? • Onde estamos actualmente? Qual o aspecto
Se uma prática comercial é “sustentável” depende do contexto global e regional no que diz res-
peito aos recursos naturais? Quais são os desa-
Na Mongólia, os admi- fios para um país, região ou para um projecto?
nistradores de áreas Que papéis desempenham os participantes no
protegidas e centros processo, sejam eles do governo e represen-
de formação ambiental tantes de empresas, agricultores, gestores das
discutem a Pegada de áreas protegidas, ou cidadãos do país? Como se
diferentes nações. Onde vêem a si próprios? Percebem o contexto ecoló-
estamos, e por quê? O gico e potenciais factores restritivos?
que significa para o nosso • Para onde queremos ir? Que abordagens e
trabalho, para as nos- estratégias melhorarão a qualidade de vida,
sas comunidades, para mantendo o capital natural como fonte de
o nosso governo, e para riqueza em curso para o povo? Quais são
definir os objectivos futu- alguns dos objectivos razoáveis a curto, médio
ros políticos, económicos e longo prazo?
e sociais? Usando essa abordagem, o desenvolvimento sus-
tentável deixa de ser apenas um conceito: torna-se
num processo. Também se torna mais específico:
O desenvolvimento sustentável pode ser descrito
de forma concreta e medido especificamente.
Torna-se operacional.
Dados a nível nacional – que estão amplamente
disponíveis – definem o contexto para o processo.
A um nível mais micro, a Pegada permite a análise
de projectos individuais ou de desenvolvimentos

70 Parte 3: A Pegada e a cooperação para o desenvolvimento


“Eu pergunto-me se os países com
Desenvolvimento para quem?
baixos rendimentos estão em posição de
No fim de contas, o desenvolvimento que ignora
recolher e gerir os conjuntos de dados
a disponibilidade e os limites dos recursos natu-
necessários para medir a sua própria
rais fá-lo à custa dos pobres, que muitas vezes são
Pegada e também de interpretar os
os que sofrem primeiro e de forma mais trágica
resultados. Pessoalmente, esta é para
quando a procura da humanidade sobre a natureza
mim uma pergunta ainda sem resposta.”
excede o que a natureza pode oferecer.
Susanne Willner, membro da equipa no Para entender a relação entre o desenvolvimento
projecto Rioplus na GIZ humano e limitações ecológicas, é útil usar o Índi-
ce de Desenvolvimento Humano das Nações Uni-
das (IDH, ver Caixa de Informação) em conjunto
regionais. Por exemplo, os dados são essenciais com a Pegada Ecológica.
para determinar se os investimentos em sectores O IDH mede não apenas o desenvolvimento
industriais específicos levarão a benefícios susten- económico de um país, mas também educação e
táveis para as pessoas; e se os recursos necessários expectativa de vida.
para um caminho particular de desenvolvimento É importante ampliar a análise para além do sec-
estão disponíveis em quantidade suficiente, a nível tor económico se quisermos ter uma visão mais
regional, nacional ou internacional, e a médio e completa de bem-estar humano. Por exemplo,
longo prazo. Suazilândia e Sri Lanka, têm médias comparáveis,
Considere-se o caso da construção de uma estrada. mas no que diz respeito à expectativa de vida e à
As estradas facilitam o transporte, mas também capacidade da população ler e escrever, existem
têm muitos custos associados. Será que vão servir grandes diferenças entre os dois países. Sri Lanka,
todos, ou apenas a uma pequena percentagem de que tem um sistema de ensino mais avançado, e
proprietários de carros? Quem tem que pagar por tem um número muito menor de mortes relacio-
elas? Será que travam o país numa procura alta de nadas com HIV/SIDA, tem um valor IDH maior
recursos, enfraquecendo assim a sua competitivi- do que a Suazilândia.
dade? Se os fundos são gastos em estradas, de onde O desenvolvimento humano sustentável ocorre-
são retirados os fundos para outros potenciais rá quando todos os seres humanos puderem ter
investimentos? Estamos a preparar-nos para um vidas satisfatórias sem degradarem o planeta. Isto,
futuro com recursos limitados ou estamos a cons- acreditamos, é o objectivo final. Como indivídu-
truir armadilhas ecológicas? os, organizações, países e regiões trabalhando na

Caixa de Informação: IDH – os países de altos rendimentos, tais como Ale-


Índice de Desenvolvimento Humano manha, Estados Unidos e Japão, mas também
A partir de 1990, o Programa das Nações Uni- as países emergentes, como Brasil, México e
das para o Desenvolvimento (PNUD) começou a Equador. Considera-se que setenta e cinco paí-
calcular o Índice de Desenvolvimento Humano ses apresentam um desenvolvimento humano
(IDH). Além do indicador de poder de compra médio, e 24, a maioria dos quais são estados
real por pessoa (rendimento per capita), dois Africanos, baixo desenvolvimento humano.
outros aspectos fundamentais do desenvolvi- Em contraste, um outro sistema, a lista dos
mento humano são captados: a esperança de países em desenvolvimento do CAD, está
vida ao nascer, e o nível de alfabetização de orientada para a cooperação para o desenvol-
uma população. O IDH de um país está entre vimento do sector público (ver p. 50), e des-
0 e 1. O PNUD considera que um valor de IDH taca principalmente, aspectos económicos do
de 0,8 ou superior representa “alto desenvol- desenvolvimento.
vimento”. Dos 182 países avaliados, 83 países Fonte e informação adicional:
satisfazem este critério. Estes incluem não só http://hdr.undp.org/en/statistics/

Parte 3: A Pegada e a cooperação para o desenvolvimento 71


Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) e Pega- Desenvolvimento sustentável: Onde estamos actualmente?
da nacional per capita 10
(dados de 2005) combina-
Limiar do alto desenvolvimento humano
dos. Um ficheiro PDF para
8
impressão dos gráficos
em grande formato está
Pegada Ecológica (gha por pessoa)

6
disponível no DVD de
acompanhamento. 1961
4
Biocapacidade global média
por pessoa *
2005
2
Quadrante do
desenvolvimento
sustentável
0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Índice de Desenvolvimento Humano * Isto também tem de incluir as
necessidades das espécies selvagens
América do Norte
União Europa Ásia e Médio Oriente
Europa não-UE Ásia-Pacífico
América Latina e Caribe África Fonte: Global Footprint Network

promoção da sustentabilidade e do desenvolvi- 1 Países que se encontram no quadrante inferior


mento humano, os decisores necessitam de dados esquerdo. A sua escala Pegada está dentro dos
e métricas, a fim de definir metas e acompanhar limites globais de biocapacidade per capita,
o progresso. Medidas como a Pegada Ecológica e mas o padrão de vida (medido pelo IDH) é
o IDH são essenciais para a definição de metas e bastante mais baixo.
gestão de projectos de desenvolvimento. 2 Países que se encontram no quadrante superior
Os dados de Pegada Ecológica dizem-nos, dada a direito. Têm alto desenvolvimento humano,
população actual e área de terra disponível, que mas a sua procura sobre a natureza não é repli-
uma Pegada Ecológica de menos de 2,1 hectares cável de forma sustentável a nível mundial.
globais por pessoa tornam a procura de recursos 3 Países que estão situados no quadrante inferior
de um país globalmente replicável. direito, a “caixa de desenvolvimento global
O Índice de Desenvolvimento Humano da Orga- sustentável” amarela. Países neste quadrante
nização das Nações Unidas (IDH) – que mede as proporcionam um desenvolvimento humano
realizações médias de um país nas áreas de saúde, elevado (de acordo com a medida do IDH),
conhecimento e padrão de vida – diz-nos que com uma procura de recursos que poderia ser
um IDH superior a 0,8 é considerado como “alto repetida globalmente.
desenvolvimento humano”. A maior parte dos países da região da Ásia-Pací-
Combinando estes dois indicadores obtemos con- fico (castanho), no Médio Oriente (azul escuro),
dições mínimas, claras, para o desenvolvimento e na América Latina (azul claro) têm Pegadas
humano sustentável e mostram o quanto precisa- médias típicas inferiores a 3 hectares globais por
mos ainda de “pensar dentro da caixa”. pessoa, enquanto continuam a ter um alto Índice
O objectivo, então, do desenvolvimento humano de Desenvolvimento Humano.
pode ser formulado como se segue, como encon- Os países europeus (verde) têm valores elevados de
trar formas de aumentar o desenvolvimento huma- IDH, mas o seu consumo de recursos é elevado.
no dentro dos limites da natureza, e levar os países Os Emirados Árabes Unidos e Kuwait (azul escu-
na direcção da “caixa amarela”. Com referência ao ro), os E.U.A. (vermelho), Dinamarca (verde), Aus-
diagrama acima, emergem três tipos de perfis de trália e Nova Zelândia (castanho) estão no topo
países e potenciais lições: das listas das Pegadas per capita mais elevadas.

72 Parte 3: A Pegada e a cooperação para o desenvolvimento


Ao longo do tempo, o orçamento da natureza desenvolvimento sustentável pode ser identificado
(medido numa base per capita) tem vindo a dimi- em como disponibilizar um padrão adequado de
nuir. Em 1961, o nosso orçamento era de 4 gha vida para todos dentro dos limites naturais do
per capita. No entanto, actualmente, devido a planeta.
factores, tais como crescimento populacional, o A cooperação para o desenvolvimento apoia os
nosso orçamento per capita em média é de ape- seus países parceiros a alcançar isso mesmo: Como
nas 2,1 gha. O que significará se a população podemos apoiar o desenvolvimento que permite o
chegar a 9 mil milhões como alguns prevêem? sucesso de países mais fracos, sem comprometer as
Faça o cálculo. Provavelmente o maior desafio do suas perspectivas de longo prazo?

Sugestões para trabalhos futuros: padrões de


vida e de Pegada consumo de recursos que poderia ser repli-
Examine os gráficos com pontos coloridos para cado em todo o mundo. Pode continuar a
os países, mais de perto: ser um país devedor de biocapacidade – e
• Ao longo do tempo, os números de IDH dos as pessoas podem não estar satisfeitas. Por
países Africanos têm vindo a aumentar. Dis- outras palavras, estar na caixa amarela é
cussão: Quais as estratégias de desenvolvi- uma condição necessária, mas não sufi-
mento que poderiam ter sido mais eficazes ciente, para o desenvolvimento sustentável
no aumento do IDH com nenhum ou peque- global.
nos aumentos no consumo de recursos? • Liste cinco países com os quais esteja
• Para os países com maior Pegada, como os familiarizado e identifique a sua posição no
E.U.A., que estratégias poderiam ajudar a gráfico, em comparação com este país.
reduzir o consumo de recursos sem sacrifi- • Que razões históricas poderiam ser respon-
car o IDH? sáveis pela situação deste país dentro da
• Para os países próximos da “caixa amare- caixa amarela? Um pouco de informação de
la”, que estratégias poderiam ter sido bem fundo irá dar-lhe uma melhor compreensão:
sucedidos para alcançar um desenvolvimen- Esta nação insular foi dependente durante
to humano elevado, com modestas Pegadas um longo período de tempo em alimentos e
per capita? importações de energia. Mas com o colapso
da União Soviética, a população necessitava
Vejamos agora um exemplo: de encontrar modos criativos para aten-
• Em 2005, um país sozinho estava dentro do der às necessidades humanas dentro das
quadrante de desenvolvimento sustentável limitações crescentes de recursos. Como
global no canto inferior direito. Segundo resultado, novas práticas de agricultura,
a classificação das Nações Unidas, este transporte e energia foram desenvolvidas
país atinge o alto desenvolvimento humano para lidar com a menor disponibilidade
(IDH > 0,8) sem consumir mais serviços de recursos. A menor disponibilidade de
ecológicos do que os disponíveis, em média, recursos significa, obviamente, uma menor
por pessoa na Terra. Por outras palavras, o Pegada – mas não numa base voluntária. O
seu estilo vida seria replicável em todo o ponto principal é que eles foram capazes
mundo (Pegada < 2,1 gha por pessoa). de lidar com esta redução, sem perder a
• Que país acha que é? Pode descobrir escala do desenvolvimento humano.
usando a tabela na p. 52/53 em que a • Como é que a Alemanha e os E.U.A. estão
Pegada de todos os países e dados de IDH em comparação?
estão listados. Note-se que estar na caixa • Tente encontrar um equilíbrio: O que acha
não significa que o país seja sustentável. positivo nesta “terra de sustentabilidade” e
Significa apenas que alcançaram o alto o que acha mais difícil em relação à sua
desenvolvimento humano, com um nível de vida quotidiana?

Parte 3: A Pegada e a cooperação para o desenvolvimento 73


Parte 4:
O papel da Pegada na Educação para o
Desenvolvimento Sustentável
Um homem com expe- Um dos pontos fortes da Pegada é a sua capaci-
riência em cooperação dade de quantificar se estamos a viver dentro ou
para o desenvolvimento: além dos nossos limites ecológicos. Pode ser um
Dr. Rolf-Peter Mack valo- instrumento para o planeamento futuro e inves-
riza a Pegada porque ela timentos, seja a nível local, regional, nacional ou
reduz a complexidade internacional. Ao apresentar dados complexos
das relações globais. de uma forma gráfica de fácil compreensão, é
também uma ferramenta eficaz para actividades
educativas e de comunicação. Na secção seguinte,
vamos apresentar o uso da Pegada no trabalho
educativo da GIZ. Mas vamos também lançar
algumas luzes sobre a forma como ela é empregada
como componente essencial e fonte de inspiração
para as discussões e actividades criativas da Cimei-
ra Internacional da Juventude Go 4 Biodiv e em
diversas instituições de educação ambiental e insti-
tuições na Alemanha e na Áustria.

Mack começa com respostas clássicas a estas per-


Um mundo que trabalha para guntas: energia verde, comida orgânica, baixando
pessoas e natureza a temperatura. Mas o que é realmente importante
para ele: “Temos de oferecer exemplos, porque não
Sustentabilidade e biodiversidade – são estes os faz sentido apenas continuar a emitir apelos, tais
temas que englobam os eventos da GIZ com os como,’temos, e devemos’”, disse ele. “É claro que
alunos dirigidos pelo membro da equipa Rolf-Peter não podemos mudar o modelo social apenas com
Mack. Estes não são temas fáceis, como ele pró- algumas sessões de formação deslocando-nos à
prio admite, mas considera que são extremamente escola. Mas dou aos alunos uma oportunidade de
importantes para o futuro individual e colectivo contribuir com alguma coisa.”
da nossa juventude. Nos últimos anos, Mack tem estado activo, assis-
O planejador setorial sênior de cooperação para tindo e participando em inúmeros eventos na
o desenvolvimento aprecia a Pegada, pois reduz a região de Frankfurt e Bona. As suas opiniões des-
complexidade das condições global e torna-as palá- sas viagens:
veis. Quando os alunos vêem a Pegada per capita • “A Pegada desempenha um papel central nas
dos diferentes países, torna-se um ponto de partida escolas e nas exposições que apresentamos.
ideal para as discussões. “Um Madagascarense vive Referências ao consumo e consumo excessivo
em cerca de um hectare global e um Alemão em de recursos são uma parte importante dessas
quatro”, explica Mack. “Nós começamos com isto apresentações.”
sem mais explicações. Em nossa opinião, a curiosi- • “Muitas pessoas começam a compreender
dade é a parte mais importante da aprendizagem. verdadeiramente as inter-relações do mundo
Em seguida explicamos a Pegada.” globalizado através da Pegada Ecológica. A
Os jovens são rápidos a perguntar: “e então?” Ou, ferramenta é capaz de destacar as desigualda-
como Mack diz: “O que tem isso a ver com a des no mundo. A nossa missão é utilizar esta
minha própria vida?” Um bom exemplo é o con- informação para estimular a responsabilidade
sumo de carne. Lá, vemos o grande impacto que individual.”
tem sobre a Pegada de cada qual. Outro exemplo • “Os alunos colocam questões difíceis, tais
é um voo barato. Pode ser reservado rapidamente como: ‘Por que estamos a dar ajuda ao desen-
e a um preço conveniente, mas como é que o voo volvimento, se sabemos que já estamos a
pode afectar uma Pegada? Nestes casos, a questão viver muito além dos nossos recursos? Não
“e então?” dos alunos torna-se: “O que posso fazer deveríamos estar a construir um muro para
pessoalmente na minha vida quotidiana?” manter o nosso mundo habitável para nós?’

74 Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável


Materiais: pés de diferentes tamanhos O Financial Times Online também utilizou vários
A GIZ usa diferentes tamanhos de “pé” para tamanhos de pés para representar as diferen-
ilustrar a Pegada Ecológica dos países na ças de Pegada global. Na sua edição de 28
Europa, Ásia e África. Aos participantes da Fevereiro 2009 (www.ft.com/cms/s/2/07c5d230-
Cimeira Internacional da Juventude Go 4 Bio- 0154-11de-8f6e-000077b07658.html), as Pega-
div foi dada a oportunidade de andar sobre e das per capita de cinco países representado
explorar as diferentes Pegadas, assim como aqueles com maior consumo de recursos e
ao então Presidente de Madagáscar e o então aqueles com o mínimo proporcional às suas
Presidente Alemão Horst Köhler. As enormes dimensões. A seguir às Pegadas gigantes dos
diferenças de tamanho fizeram com que muitos Emirados Árabes Unidos, dos E.U.A., Dinamarca
pensassem de modo mais profundo sobre o seu e Austrália as do Haiti, Afeganistão e Malawi
significado, e serviram como um catalisador são infinitamente pequenas – tem que olhar
para uma série de discussões multifacetada. atentamente para reconhecê-los a todos.

Um modelo PDF para


Vivendo à Larga num Planeta Pequeno impressão do gráfico
Contabilidade de Recursos com a Pegada Ecológica em grande formato está
China
Oferta e Procura Humana de Recursos Naturais em Países Seleccionados
disponível no DVD de 2,5
Pegada:

acompanhamento. 2,0

1,5
2,1 gha
por pessoa

1,0

0,5

0,0

Alemanha Países com Pegada


de tamanho similar
4,5 Burquina Faso,
Pegada: Nicarágua: 2,0 gha
4,0 4,2 gha África do Sul, Síria,
3,5 por pessoa Tailândia, Bolívia,
Haiti 3,0 Trinidade e Tobago: 2,1 gha
Azerbaijão, Equador,
2,5
Albânia: 2,2 gha
0,6 2,0
Pegada: 1,5
0,5 0,5 gha
por pessoa 1,0
0,4 0,5
0,0
0,3
Países com Pegada
0,2
de tamanho similar
Singapura: 4,2 gha
0,1
Líbia: 4,3 gha
0,0

Países com Pegada


E.U.A. de tamanho similar
Congo, Malawi, Afeganistão: 0,5 gha
Bangladesh: 0,6 gha
10 Pegada:
9 9,4 gha
8 por pessoa
7
6
5
4
3
2
1
0

Países com Pegada


de tamanho similar
Canadá: 7,1 gha
Nova Zelândia: 7,7 gha
Austrália: 7,8 gha
Dinamarca: 8,0 gha
Kuwait: 8,9 gha
Emiratos Árabes Unidos: 9,5 gha

10
Pegada Ecológica (gha por pessoa)

9
8 Área construída
7 Brasil Namíbia
6
Alimentos, 4,0
5 2,5 Pegada: Pegada:
fibras e
4 2,4 gha 3,5 3,7 gha
madeira
2,0 por pessoa por pessoa
3 3,0
2 Pegada de 1,5 2,5
1 carbono 2,0
0 1,0 1,5
1,0
Pegada multicolor – Pegada Ecológica média da humanidade por pessoa. Medía 2,7 gha em 0,5
2005. A Pegada de uma pessoa representa a área necessária para regenerar os recursos que 0,5
esta pessoa consome e para absorver o resíduo correspondente, com a tecnologia existente. 0,0 0,0

Pé com traço a preto – biocapacidade global disponível por pessoa. Países com Pegada Países com Pegada
Em 2005, era de 2,1 gha por pessoa. de tamanho similar de tamanho similar
Sudão, Malásia: 2,4 gha Botswana: 3,6 gha
Argentina: 2,5 gha Coreia do Sul, Rússia: 3,7 gha
Pé com preenchimento colorido – Pegada Ecológica por pessoa do país.
(valores em gha por pessoa em 2005)

Pé com traço colorido – Biocapacidade por pessoa do país.


(valores em gha por pessoa em 2005)

Definição de hectare global (gha): Um "hectare global" representa um hectare bioprodutivo


com uma produtividade média mundial. É a unidade de medida, tanto da oferta da natureza
(biocapacidade), quanto da procura humana de biocapacidade (a Pegada Ecológica). Embora Dados:
www.fo
a produtividade de um hectare de terra e mar varie de lugar para lugar, o "hectare global"
Conceit
permite a comparação de resultados em todo o mundo. Desenho

Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável 75


Rapidamente surgem perguntas sobre as nos- Unity in Diversity:
sas próprias sociedades e comportamentos de
consumo.”
a Cimeira Internacional da
• “É claro que a nossa mensagem não é para Juventude Go 4 BioDiv
voltar à Idade da Pedra. Devo desligar toda
a energia eléctrica agora? Devo acabar com o Independentemente do país em que se vive, a
carro? Não necessariamente. Pelo contrário, os Pegada Ecológica é um conceito universal, e lida
A entrevista completa comportamentos razoáveis e responsáveis são com questões que nos afectam a todos nas nossas
com o Dr. Rolf-Peter fundamentais. A solução deve ser alcançada vidas diárias. 50 jovens – entre 18 e 35 anos – de
Mack da GIZ (15:36 através de uma combinação de mudança de 18 países, partilharam esta experiência na Cimeira
minutos, em Alemão) comportamento e tecnologia.” Internacional da Juventude Go 4 Biodiv. O evento
pode ser encontrada em • “A Pegada dá-nos uma vantagem no conhe- teve lugar durante a 9ª Conferência das Partes na
ficheiro MP3 no DVD de cimento; dá-nos possibilidades e permite-nos Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade
acompanhamento. tomar medidas concretas.” Biológica (COP 9 da CBD) entre 16 e 31 Maio
de 2008, no Acampamento Internacional da Selva
no Nationalpark Bayerischer Wald e em Bona. A
“A Pegada Ecológica é uma grande fer-
sua “colaboração sem limites” deixou claro que os
ramenta de comunicação. Pode ajudar
nossos recursos naturais – no regime global – não
a explicar um desafio complexo para o
conhecem fronteiras. Muitos dos participantes
planeta a quaisquer audiências. Ela pode,
estão envolvidos na preservação da diversidade
pois, persuadir as pessoas porque não
biológica como guarda-florestais, oceanógrafos,
diz que deve fazer isto ou aquilo. Ela diz:
biólogos ou estudantes de ecologia nos seus países
Aqui está o desafio que todos nós parti-
de origem.
lhamos no planeta. Pode fazer sua esco-
Go 4 Biodiv foi um projecto conjunto da Deutsche
lha. Isso é muito poderoso para nós.”
Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit
Terry A‘Hearn, Chefe do Departamento para o (GIZ), o Ministério do Estado Bávaro para o Meio
Desenvolvimento Sustentável, EPA Victoria, Ambiente e Saúde, a cidade de Bona, o National­
Informação adicional: Austrália park Bayerischer Wald, e a Deutsche Bundesstiftung
www.go4biodiv.org Umwelt (DBU).

A GIZ não usa a Pega-


da apenas para o seu
trabalho educativo na
Alemanha – tornou-
-se um tema central na
Cimeira Internacional da
Juventude Go 4 BioDiv
com participantes de 18
países industrializados e
em desenvolvimento.

76 Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável


Footprint @ Go 4 BioDiv 50 jovens de 18 nações realmente discutir limpeza
Dois participantes alemães, Tatjana Puschkarsky durante dias com tanta paixão e empenho? Prova-
e Verena Treber relatam as suas experiências na velmente não. Para nós, pelo menos, as conversas
Cimeira da Juventude: não tinham nada a ver com a lama, relva e poças
As conversas foram por vezes quentes, por vezes de água, mas eram sobre Pegada Ecológica. Tínha-
cheias de entusiasmo e energia, depois sossegadas, mo-nos reunido para fazer algo sobre a perda da
perplexas e tristes, e em seguida desafiantes e diversidade biológica no nosso planeta. E alguém
corajosas. Os assuntos envolveram justiça, o nosso que queira mudar alguma coisa deve ser bem
futuro, vida e respeito – matérias importantes. E conhecedor das suas causas, até ao último detalhe
repetidamente uma palavra surgiu: Pegada. Qual é – neste ponto estamos todos de acordo.
o significado disto? As muitas Pegadas enlameadas No tempo que estivemos juntos durante a COP 9,
à entrada do Acampamento Internacional da Selva a Pegada serviu como um instrumento de medição
no Nationalpark Bayerischer Wald eram frequente- científica sobre o qual podíamos basear os nossos
mente muito fáceis de reconhecer. Mas poderiam pensamentos sobre as relações globais, a justiça, os
erros antigos e novos caminhos. Usámo-lo como
ponto de partida para pensar o nosso próprio
consumo de recursos, para dar início a discussões
sobre justiça entre o Norte e o Sul, e para questio-
nar em que tipo de mundo queremos viver, e em
que direcção devemos desenvolver-nos.
Mas a Pegada também se tornou um símbolo, um
sinal de que podemos todos entender-nos, que nos
fez aliados, e ainda o faz. Passou mesmo a fazer
parte da nossa mensagem ao público em geral e
aos decisores. Quanto mais apreciávamos as nos-
sas discussões sobre o consumo de recursos e (in)
justiça global, mais queríamos partilhar isso com
outros.
Todos nós tínhamos uma visão, quando chega-
mos na primeira noite às cabanas dos países no
Acampamento Internacional da Selva na Floresta
Bávara: parar a perda da diversidade biológica e
os valores culturais, que lhe estão intimamente
associados. Esta é uma visão que tem ligado, e
continua a ligar, 50 jovens de todo o mundo. A
Cimeira Internacional da Juventude Go 4 Biodiv
“O que é fantástico sobre a Pegada Eco-
foi, por isso, muito mais do que um encontro
lógica é que ela se baseia numa pesquisa
político. O tempo que passámos no Acampamento
muito complexa, mas pode ser expli-
Internacional da Selva e na natureza permitiu-
cada de forma fácil e clara. [...] Desde
-nos ver e observar as ameaças à biodiversidade de
que participei na Cimeira da Juventude
uma perspectiva completamente diferente. Dormir
e me familiarizei com a Pegada Ecológi-
numa cabana Ruka chilena, numa Yurt mongol,
ca, tomo banhos mais curtos, visto uma
ou numa casa comprida vietnamita, e experimen-
camisola em vez de aumentar a tempera-
tar as roupas tradicionais dos Andes ou Madagás-
tura, como muito menos carne e tenho o
car, experimentar por mim mesmo a arte de soprar
cuidado de comprar produtos regionais.”
vidro, e conversar com El Hacen, o participante
da Mauritânia, sobre a sua relação pessoal com um
Birgit Heraeus da Alemanha, Estudante de camelo – tudo isto deu-nos um sentimento muito
Economia e participante na Go 4 Biodiv. especial da diversidade. A diversidade de cultu-
ras e o seu valor para o desenvolvimento futuro

Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável 77


“Todos nós tínhamos uma do nosso mundo foi um dos primeiros pontos
visão, quando chegamos na nossa Declaração. Trabalhámos arduamente
[...] no Acampamento na Declaração Go 4 Biodiv, muitas vezes noite
Internacional da Selva dentro, até conseguirmos formular claramente as
na Floresta Bávara na nossas visões partilhadas em declarações políticas
primeira noite: parar a e exigências.
perda da diversidade A Declaração foi uma peça de bagagem pesada,
biológica e os valores que fomos capazes de levar no nosso caminho
culturais, que lhe estão para a COP 9, em Bona. Trouxemos muitas outras
intimamente associados.” coisas, também, que foram criadas durante os
dez dias juntos no Acampamento Internacional
da Selva, uma dança por exemplo. Esta dança
foi uma reflexão estética dos temas com que nos
preocupámos durante o encontro e nas nossas
vidas individuais. Também trouxemos uma grande
quantidade de novos conhecimentos – conheci-
mentos sobre o Nationalpark Bayerischer Wald e os
seus problemas, por exemplo, mas também sobre
os caçadores nos parques nacionais em Benim,
ou sobre o trabalho de um guarda de parque, na
Namíbia. Também tivemos a nossa canção – uma
canção que os músicos entre nós tocaram durante
as horas calmas à noite. Soava tão lindamente tris-
te, mas de certa forma continuávamos na esperan-
ça de ouvi-la mais e mais vezes. Em contrapartida,
“Usámos [a Pegada] também apanhámos constipações – as noites eram
como ponto de partida muito frias para alguns sulistas, e numa rede de
para pensar o nosso dormir. Tiramos muitas fotos das gargalhadas dos
próprio consumo de novos amigos, mas havia também coragem e raiva:
recursos, para dar iní- raiva sobre a forma de como as coisas são, e cora-
cio a discussões sobre gem para mudarmos as coisas em conjunto, peça
justiça entre o Norte e por peça, passo a passo. E nós tivemos as nossas
o Sul, e para questionar Pegadas connosco, grandes e pequenas, feitas de
em que tipo de mundo papel ou vidro.
queremos viver, e em Assim, “armados” partimos para Bona para trazer
que direcção devemos para casa a nossa visão da diversidade e a sua pro-
desenvolver-nos.” tecção às nossas famílias, aos transeuntes muitos
curiosos, a outros “lutadores” – e, claro, a todos os
políticos. Para trás, no Acampamento Internacio-
nal da Selva deixámos vestígios de botas enlamea-
das usadas por pés chilenos, bolivianos, brasileiros,
equatorianos, venezuelanos, mexicanos, da Mauri-
tanos, Benimenses, Namibianos, Madascarianos,
Filipinos, Chineses, Mongóis, Vietnamitas, Uzbe-
quistaneses, Russos, Checos, e os Alemães. Em
Bona, também quisemos deixar vestígios – traços
semelhantes aos que as nossas discussões com os
outros participantes na Cimeira da Juventude nos
tinham deixado.
Mas o que realmente nos dizem as Pegadas?

78 Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável


Dizem-nos algo sobre o tamanho do pé de uma mais tarde foi gravada ao lado do nome do país
pessoa, mas também sobre o seu rumo. Se ele participante, proporcional em tamanho ao consu-
assenta os seus pés com pressão, as Pegadas serão mo de recursos médio de sua população.
profundas e memoráveis. Em Inglês, a palavra Durante conversas com o público interessado nos
footprint conota esta interpretação especialmente recintos da nossa exposição, o princípio da Pega-
bem: imprimir a sua marca em alguma coisa, dei- da Ecológica pode ser claramente ilustrado com
xar uma mensagem para trás. O nosso rumo pode a Pegada de Cristal; quanto maior o pé do país,
ser diferente; mesmo alguém com os pés grandes menos espaço para a natureza, plantas e animais,
pode pisar levemente, cuidadosa e reflectidamente. vida colorida, práticas culturais compatíveis com
Pode também libertar toda a sua raiva e caminhar a natureza, e formas de expressão. O conceito
com todo o seu peso, marcando tudo – com todas pareceu iluminar todos, desde os alunos até à
as pequenas criaturas a tentarem proteger-se do Ministra do Meio Ambiente da Mongólia, a um
seu passo. representante de uma organização indígena ama-
A Pegada como ferramenta de educação política zónica vestido com jóias de penas. Isto estimulou
possui todos estes recursos – cria redes de trabalho animadas e profundas discussões. Por esta razão,
e colaboração, faz com que as pessoas pensem, a grande obra de arte em vidro deve agora dar a
causando assim uma profunda impressão. Como volta ao mundo e levar os pensamentos da Pegada
índice do consumo de recursos de uma população, Ecológica. Os presidentes de câmara da Con-
a Pegada junta dados que não foram previamente ferência Cities for Biodiversity, que decorreu em
correlacionados. Neste sentido, apresenta a possi- paralelo à COP 9, manifestaram grande interesse
bilidade de comparar os estilos de vida de várias em expor a Pegada de Cristal nas suas cidades e na
nações. De certa forma, coloca-nos a descoberto, coordenação de eventos de discussão e workshops
ela expõe o nosso comportamento e foca a atenção para as escolas com os participantes da Cimeira da
sobre nós e na nossa relação com a natureza. Reve- Juventude.
la-nos quantos recursos temos, e a quantidade que Além do grande puzzle de vidro da Pegada de
usamos – expõe os dados de forma transparente e Cristal, cada país participante desenhou uma
ilumina as inter-relações globais. vitrina de vidro que oferece uma visão rápida sobre
Transparente, clara, perspicaz, para colocar as a diversidade biológica e cultural do país. Foram
coisas em perspectiva – esse foi também o nosso penduradas numa construção de aço como Pega-
lema. Por isso, decidimos usar o vidro como o das Voadoras. Depois destas “arcas do tesouro”
material para a Pegada de Cristal. O vidro simbo- terem sido decoradas com elementos ecológicos e
liza não apenas a transparência, mas a liberdade culturais do respectivo país, também foram grava-
criativa, espaço para cores e individualidade. Tam- das num lugar de destaque com a Pegada específi-
bém associamos este símbolo às diferentes possi- ca de cada país. Aquelas secções de Pegada foscas,
bilidades de nos desenvolvermos a nós próprios. riscadas pelo jacto de areia, das vitrinas de vidro,
Para cada sociedade e para cada indivíduo, existem não permitiram apreciar mais os “tesouros” de
diversas acções que podemos adoptar para ter um cada país específico: Quanto maior era a Pegada,
impacto positivo. Os nossos diferentes ambientes, menor a margem visual deixada para os criadores
culturas e crenças, todos nos influenciam de forma da vitrina – e, portanto, para os habitantes daquele
diferente. Mas o mais importante é que traba- fragmento de Terra. A Pegada proporcional dos
lhámos em conjunto para reverter as tendências Estados Unidos era tão grande que se estendeu
actuais a uma escala global. O caminhar numa muito além da vitrina. Confrontado com os
direcção comum e olhar em frente é simbolizado receios dos organizadores da COP 9 de um imbró-
pela síntese artística com 3 x 2 metros da Pegada glio diplomático decorrente de tal “uso excessivo
de Cristal ou o Puzzle of Biodiv. Para isto, cria- de recursos”, visualmente evidente, pelos E.U.A.,
mos um grande pé num workshop do trabalho a Pegada Voadora norte-americana foi afastada
de soprar vidro na Floresta Bávara com peças do do local inicialmente previsto em frente à entrada
puzzle cujas cores e formas foram inspiradas pela do edifício da conferência para um lugar muito
topografia ou singularidade cultural das nossas menos visitado. No entanto, as outras vitrinas dis-
respectivas casas. A Pegada Ecológica nacional tribuídas por todo o espaço da exposição deixaram

Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável 79


Quanto maior a Pega-
da gravada, menor a
diversidade; cada peça
do puzzle da Pegada de
Cristal simboliza a rique-
za ecológica e cultural
de um país. A Pegada
de vidro partiu para sua
viagem à volta do mundo
a partir da Floresta
Bávara via Bona e do
Centro de Comunicação
Ambiental da DBU, em
Osnabruck.

encantados muitos visitantes e delegados e estimu- Ao co-fundador da Pegada Ecológica, Dr. Mathis
laram perguntas curiosas e debates intensos. Wackernagel, bem como ao Director Executivo
Como lembrança da Pegada, demos pendentes de do Programa das Nações Unidas para o Meio
vidro da Pegada aos visitantes da nossa bancada e Ambiente (PNUMA), Achim Steiner, também
às nossas famílias de acolhimento. As Pegadas de foram enviados Pegadas de vidro, juntamente com
vidro do tamanho de um pé humano, que podem a nossa Declaração.
ser usadas como peso de papel, foram entregues A ideia da Pegada também inspirou a nossa per-
pessoalmente ao Secretário Geral da Convenção formance de dança. Desenvolvemos uma dança
sobre Diversidade Biológica, Ahmed Djoghlaf, moderna sobre o tema no curso de uma semana
ao então Presidente Alemão Horst Köhler, e aos com dois coreógrafos da Colômbia e Índia/Alema-
dois então ministros alemães Sigmar Gabriel nha. Com uma síntese muito diferente das artes
(BMU) e Heidemarie Wieczorek-Zeul (BMZ), decorrentes das dinâmicas de grupo, acentuada
assim como aos ministros do meio ambiente dos em pequenos grupos e performances individuais,
países participantes, ao Presidente da câmara de fomos capazes de entusiasmar o público na Flores-
Bona e aos delegados para a conferência autarca. ta Bávara e em Bona pelas nossas ideias.

A exposição fotográfica
Unity in Diversity: my
environment and me e
da curta-metragem Send
Samauma’s Call Around UNITY IN DIVERSITY: MY ENVIRONMENT AND ME
the World, uma continu-
ação do filme brasileiro
Samauma’s Call também
foram contadas entre as
contribuições criativas
dos participantes da
Cimeira.

80 Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável


As Pegadas Voadoras
brasileiras…

Os participantes da Cimeira da Juventude saíram …e alemãs – duas das


com uma compreensão diferente dos limitados vitrinas penduradas que
recursos do nosso planeta, e das ramificações da marcaram o caminho da
procura corrente da humanidade sobre os recursos entrada da “Exposição da
da Terra. Isto não teria sido possível sem a Pegada Diversidade” de Bona até
Ecológica. à bancada da exposição
Para nós, como jovens adultos, a esperança reside da Cimeira da Juventude.
num futuro em que a diversidade da vida seja mais Considerando que a Pega-
vigorosamente respeitada do que actualmente. Um da brasileira (pé branco,
futuro em que todos estejamos mais desenvolvidos no topo direito da imagem)
– ainda mais e sobretudo os países “desenvolvi- deixa muito espaço para
dos”, cujas Pegadas são actualmente insuportavel- representar a biodiver-
mente grandes e fortes. Olhando para trás, para as sidade, a grande Pegada
Pegadas enlameadas na Floresta Bávara, podemos alemã (grande pé branco
reconhecer que a terra sob nossos pés não fez no fundo) limita conside-
ravelmente o espaço para
distinção de quem a pisava, se era um Vietnami- representá-la.
ta, Boliviano, ou Alemão. Eram todos humanos.
A terra não faz distinção entre os antigos países
industrializados, as países emergentes e os chama-
dos países em desenvolvimento. Todos têm a res-
ponsabilidade de respeitar a terra debaixo dos seus “Tornar palpável e per-
pés e viver em harmonia com a natureza. ceptível a destruição da
Nós, participantes na Cimeira Internacional da base de vida do nosso
Juventude Go 4 Biodiv estamos cheios de coragem planeta – isto foi bem-
e ímpeto. Estamos unidos por memórias, visões -sucedido de uma maneira
e o conhecimento reconfortante de que quando especial, graças à Pegada
voltarmos aos nossos países de origem, vamos Ecológica.”

Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável 81


Com a sua peça de tea-
tro de dança expressiva
Go 4 Biodiv! os parti-
cipantes da Cimeira da
Juventude chamaram a
atenção para temas que
“movem”. Desenvolvido e
ensaiado sob a orienta-
ção dos coreógrafos pro-
fissionais, o desempenho
na estreia dos 50 baila-
rinos amadores empolgou
o público de Bona, os
participantes da confe-
rência e representantes
da comunicação.

continuar a transmitir a mensagem da Pegada, e


isso fará com que todos nós, passo a passo, percor-
ramos um caminho na direcção certa.

Nós somos o futuro!


O DVD de acompanha- Guiados pela percepção de que a juventude de
mento fornece vários hoje deve assumir as consequências das acções em
materiais acerca da curso, a comunidade global, os participantes na
Cimeira da Juventude: Cimeira da Juventude apresentaram a sua Decla-
• uma curta metra- ração, na qual trabalharam arduamente no Acam-
gem do filme Send pamento Internacional da Selva, aos políticos e aos
Samauma’s Call delegados reunidos em Bona. Foi traduzida pelos
around the World próprios jovens em nove idiomas. Na sua Declara-
• a gravação de vídeo ção, exigem, entre outras coisas, modelos de desen-
do teatro de dança volvimento inovadores que mostrem às nações
no palco principal em industrializadas novas formas de redução da sua
Bona, produzida pela Pegada Ecológica, e que dêem, ao mesmo tempo, à
DBU maioria da população mundial uma oportunidade “Para mim a melhor maneira para comu-
• a brochura que acom- de melhorarem os seus padrões de vida, vivendo nicar o conceito de Pegada é através da
panha a exposição sem mais efeitos negativos sobre o nosso planeta. arte em todas as suas formas e expres-
fotográfica Unity in Além disso, defendem a distribuição justa dos sões. Escrevendo artigos de jornal e rea-
Diversity lucros provenientes do uso dos recursos naturais, o lizando seminários em escolas e univer-
• informação acerca da combate às causas da perda de biodiversidade – a sidades é também muito importante.”
Pegada de Cristal ignorância, a pobreza, crescimento populacional e
• fotos adicionais da os hábitos de consumo insustentável – e uma edu- Gabriel Zeballos Castellón da Bolívia, Biólogo
Cimeira Internacional cação ambiental livre e de alta qualidade e infor- e participante na Go 4 Biodiv
da Juventude mação para todos.

82 Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável


“Somos todos países em
desenvolvimento – neces-
sitamos de novos modelos
de desenvolvimento! Que-
remos fazer a diferença,
ONE NATURE • ONE WORLD • OUR FUTURE
COP 9 MOP 4 Bonn Germany 2008

trabalhando em unidade,
respeitando a diversida-
de.” A Declaração Final
da cimeira foi baseada
num projecto de decla-
rações dos participantes
e traduzida em diversas
línguas (disponível em
ficheiro PDF no DVD de
acompanhamento).

Uma rede intercultural


Através das suas intensas trocas pessoais, os par-
ticipantes da Cimeira Internacional da Juventude
Go 4 Biodiv construíram uma rede de trabalho
que fica mesmo após a sua saída da Alemanha.
Partilham ideias e encorajam-se uns aos outros a
induzir mudanças nos seus países de origem. Após
o seu regresso, muitos deles beneficiam da motiva-
ção, o entusiasmo e a vontade de agir, que experi-
mentaram durante a Cimeira da Juventude. Como
disseminadores da Pegada Ecológica, espalham a
mensagem e encorajam os outros a apoiar tanto
Os participantes na Cimei-
ra da Juventude puderam
“Para mim, as melhores formas para
não só apresentar as suas
comunicar a Pegada são meios de comu-
preocupações para um
nicação social, as iniciativas dos jovens
público mais amplo, como
e, sobretudo, a educação ambiental. Só
também se encontraram
desta forma as pessoas vão compreender
com políticos de destaque,
que irão destruir o seu próprio futuro e
como o então Presidente
o da próxima geração, se não adoptarem
Alemão, Horst Köhler, o
medidas para proteger as bases naturais
então Ministro do Meio
da vida.”
Ambiente, Sigmar Gabriel,
Pham Thi Ly do Vietname, Tradutora e parti- e a então Ministra da Coo-
cipante na Go 4 Biodiv, colaboradora da GIZ peração Econômica e do
após a Cimeira da Juventude Desenvolvimento, Heide-
marie Wieczorek-Zeul.

Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável 83


Uma conversa com
Tatjana e Verena – nove Agora, quando olhamos para trás para a até aqui. E que a natureza nos oferece alguns
meses após a Cimeira da Cimeira da Juventude em Maio de 2008, os serviços, como água limpa, florestas intactas,
Juventude temas foram a Pegada e a biodiversidade. e uma fonte de alimentos básicos. Através da
Verena e Tatjana, vocês estiveram lá. Quais Pegada, isto foi retratado de uma forma muito
foram suas impressões? Como reagiram as bonita.
pessoas? Passaram a vossa mensagem? Verena: Eu também penso que esta função,
criativa e simbólica, da Pegada foi posta a
Tatjana: Sim, tenho a sensação de que a men- bom uso. Foi a faísca de todas as nossas dis-
sagem passou. Tivemos muitas discussões com cussões sobre o que podemos fazer na nossa
os decisores e também com muitos professo- própria vida. Muitas vezes falámos sobre ques-
res, que apareceram com as turmas das suas tões muito práticas como o consumo de carne.
escolas. Acho que o interesse pelo conceito de Nas conversas, ficou claro que as questões
Pegada é muito grande. culturais estão em segundo plano. Já existem
Verena: Eu também tive a experiência que ela muitos vegetarianos entre nós, Alemães, por
passou. A Pegada é algo com que as pessoas exemplo.
se podem rapidamente identificar. É algo entre
um logótipo e uma coisa altamente científica. O Quais foram os argumentos dos outros
que eu também achei fantástico foi que todos jovens participantes dos diferentes países?
nós, todas as nações, criaram a Pegada de
Cristal em conjunto. A conservação da natureza Verena: Bem, eu sei que em alguns países
só pode ser bem sucedida quando cada um africanos, ter carne à mesa tem a ver com
fizer a sua parte. o dinheiro. Da mesma forma, houve uma dis-
cussão com duas meninas chinesas sobre
Como foram as conversas com os outros alimentos geneticamente modificados. As ques-
participantes de diferentes países? tões culturais têm o seu papel, provavelmente
também devido ao panorama mediático local.
Tatjana: A Pegada deu-nos um bom ponto de Tivemos discussões em níveis diferentes. Talvez
partida para a discussão da justiça distributiva porque não estudámos todos o mesmo ou não
no mundo. As discussões mostraram que exis- estavam igualmente familiarizados com o tema.
tem diferentes abordagens, mas que também
Tatjana Puschkarsky partilhamos uma visão comum, nomeadamente
(27 anos de idade, para dar às gerações futuras a possibilidade
Alemanha) de se desenvolverem e simultaneamente per-
manecer nos nossos limites naturais.

Lidou com a Pegada, criativa e comuni-


cativamente. Tinha menos a ver com os
aspectos científicos do que com as grandes
questões: Como podemos implementar as
coisas e manter em aberto as negociações? A
Pegada trabalha a este respeito?

Tatjana: O nosso teatro de dança foi uma


representação muito metafórica da destruição
ambiental e do consumo excessivo de recursos.
Tive a sensação de que se transmitiu muitas
coisas ao público. As pessoas compreenderam
que estamos a destruir a nossa base para a
vida, se continuarmos com as coisas como

84 Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável


comunicação com a qual posso comparar e Verena Treber
contrastar coisas. A primeira vez que tive a (25 anos de idade,
oportunidade de avaliar algo na prática com a Alemanha)
Pegada foi na COP 9, em Bona. Quantos políti-
cos viajaram para lá e que esforço foi gasto!
Pensei para mim mesma que a despesa total,
esta influência negativa resultante da conferên-
cia deveria ser calculada e pesada contra as
decisões que foram alcançados lá. O número
de decisões positivas pelo menos, justificou
os muitos voos realizados pelos políticos? Em
segundo lugar, a Pegada ecológica ajudou-me
a explicar, por exemplo, que em Madagáscar,
onde estive duas vezes, as coisas não são
maravilhosas como aqui na Alemanha. Isto não
é tão fácil, já que muitas pessoas têm uma
imagem idealizada da Alemanha. A Pegada tem
o seu papel, mesmo em conversas pessoais
com amigos sobre o facto de que eles podem
desenvolver-se e, talvez, avançar tanto quan-
to nós na Alemanha. Nós aqui na Alemanha,
pensamos que arriscámos demais ou fomos na
Que efeito teve em si o seu trabalho com a direcção errada. Nós olhamos para vocês, em
Pegada? Madagáscar e dizemos que, teoricamente, em
termos de consumo de recursos, devemos ser
Tatjana: Tenho a sensação de que mudou o meu como vocês. E que podem sentir-se orgulho-
comportamento pessoal. Por exemplo, estou a sos, mesmo se as coisas não são tão boas em
tentar não comer carne e não voar na Europa. alguns aspectos. Apesar dos meus 24 anos, o
Quero ter uma Pegada menor do que o Alemão terceiro nível relaciona-se entre a esperança
médio, porque não quero tirar recursos a outros e falta dela. Como é que os países altamente
países ou às gerações futuras. Mas também desenvolvidos como a Alemanha, os E.U.A.,
penso de maneira diferente agora sobre a ou a Suíça poderão alcançar uma Pegada tão
sustentabilidade no âmbito da ética e justiça pequena como Madagáscar? Acho que os pas-
transnacional. Durante a Cimeira, a diversidade sos que estamos a dar são muito pequenos.
cultural, foi uma palavra-chave maravilhosa. Estamos a tentar avançar na direcção certa,
Tal discurso tolerante e de respeito sobre a mas a solução ainda está longe.
necessidade de novos modelos de desenvolvi-
mento que tivemos nos nossos diversos grupos Verena acaba de levantar a questão de que
parece ser algo muito raro em conferências o testemunho da Pegada pode ser bastante
mundiais oficiais. Assim, o impacto de uma frustrante.
tal Cimeira da Juventude é imenso, quando os
jovens se encontram, têm objectivos semelhan- Tatjana: Para mim, pessoalmente, a viagem é o
tes e visões políticas e, acima de tudo desejo destino. Mesmo quando é difícil travar o consu-
de colaborar. Isso torna-a diferente de outras mo de recursos, é importante começar. Nunca
conferências mundiais que são geralmente mais é tarde demais. E acima de tudo, não é apenas A entrevista completa
sobre negociação do que cooperação. sobre as restrições – trata-se de encontrar com Tatjana e Verena
Verena: Bem, eu acho que posso responder a novas e melhores maneiras de viver dentro dos (14:58 minutos, em Ale-
isto em três níveis. O primeiro nível é que, limites ecológicos. Uma vida boa e feliz para mão) pode ser encontra-
com a Pegada, encontrei uma ferramenta de todos – é o que me anima. da em ficheiro MP3 no
DVD de acompanhamento.

Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável 85


a conservação da natureza como dos recursos e A história continua:
a preservação da diversidade cultural na qual se Go 4 BioDiv continua
baseia. Como ficou estabelecido na sua Declara-
ção, medem os seus decisores políticos de acordo O segundo Fórum Internacional da Juventude
com a forma como eles colocam as suas palavras e Go 4 BioDiv deu-se em paralelo com COP 10
os acordos internacionais em acção. em Nagoya, Japão, no mês de Outubro de 2010.
Seguindo o espírito do último Go 4 BioDiv em
Bonn, Alemanha, em 2008, os jovens inspiraram
decisores internacionais e mostraram quem deveria
sentar-se na mesa de negociação com eles: a gera-
ção jovem, dedicada, pessoas entusiastas, indíge-
nas e minorias, e pessoas directamente afectadas
pelas alterações climáticas e responsáveis pela con-
servação da biodiversidade na sua região. Manten-
do o símbolo do último Cimeira da Juventude (as
pequenas Pegadas de vidro simbolizam os passos e
acções que todos podemos tomar para contribuir
para as mudanças necessárias), o segundo Fórum
da Juventude focou-se nas áreas naturais de Patri-
mónio Mundial como emblemas de conservação
de biodiversidade.
Os 34 participantes vieram de 25 áreas de Patri-
mónio Mundial de todo o mundo, incluindo

Sugestões para trabalhos futuros:


Go 4 BioDiv!
• Como é que a Go 4 Biodiv o afecta?
A energia das pessoas da Cimeira da
Juventude foi muito contagiante. Teria
gostado de estar lá? Como teria repre-
sentado o seu país e a sua diversidade
“Acredito nas coisas simples e pequenas
biológica, o consumo de recursos natu-
que cada um de nós pode fazer – todos
rais – no palco, sob a forma de uma
nós nos podemos tornar activos e mudar
obra de arte em vidro, ou algo mais? E
as coisas! Quando falamos com os nos-
sobre os outros participantes, conquista-
sos amigos sobre a possibilidade de
riam o seu interesse? Teria feito parte da
acção, eles vão dizer a outros que por
dança ou o trabalho sobre a Declaração
sua vez dizem a outros. Comunicar o
despertou a sua atenção?
conceito de Pegada para o grande públi-
• Como é que a entrevista com os partici-
co é também um ‘dever’, é claro – com
pantes alemães Verena e Tatjana o afec-
iniciativas criativas, através da arte e
taram, por exemplo, a parte onde descre-
em colaboração com escolas, universi-
vem as mudanças na sua vida diária ou
dades e empresas. Assim, a filosofia da
como elas se sentem sobre as pessoas
Pegada terá lugar na vida quotidiana das
dos países com menor Pegada?
pessoas.”
• Você já participou num evento destes? Se
Elsa Leticia Esquer Ovalle do México, Estu- sim, faça um pequeno relatório no seu
dante de Gestão de Recursos Naturais e grupo/turma sobre isso. Se não, poderia
participante na Go 4 Biodiv imaginar participar num evento como este?

86 Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável


ilustres lugares como a Grande Barreira de Corais pessoal!” Como consequência das diferentes acti-
na Austrália, Monte Evereste no Nepal, o Icefjord vidades de jovens durante a COP 10, o Secretario A Parte 6 da brochura
na Gronelândia, o Monte Kilimanjaro na Tanzâ- Executivo da Convenção sobre Diversidade Bioló- apresenta o balanço eco-
nia e as ilhas Galápagos no Equador. Depois de gica (CBD), Dr. Ahmed Djoghlaf, se facilitou para lógico e as tendências
passarem 10 dias no Monte Fuji, um local icónico estabelecer um ponto focal permanente para a futuras dos E.U.A., do
e sagrado, discutindo as relações entre a natureza juventude no sede do Secretariado em Montreal. Japão e dos 12 países que
e os humanos, os jovens participantes ficaram Go 4 BioDiv 2010 foi uma iniciativa conjunta da estiveram representados
bem preparados para o desafio que os esperava na GTZ, IUCN, UNESCO World Heritage Center, na Cimeira da Juventude.
conferência COP 10 em Nagoya. Através das suas Universidade de Tsukuba (Japão ) e do Secretaria- Estes incluem gráficos e
demonstrações em vídeo, danças, eventos parale- do do CBD. dados numéricos.
los, das suas exibições e caixa do tesouro, chama-
ram a atenção dos decisores para a importância
de travar a perda de biodiversidade e conservar os A “Semana da Pegada” no
seus lugares preciosos.
As declarações em vídeo provaram ser um método
Acampamento Internacional
eficaz a convencer e envolver as pessoas. Avaa- da Selva
raq da Gronelândia abriu a sessão introduzindo
o esforço, falando verdadeiramente do coração: Os preparativos para a Cimeira da Juventude tive-
“Olhem para mim. Olhem para os meus amigos. ram lugar nas cabanas dos países e outras habita-
As nossas terras natal estão a sofrer as consequ- ções tradicionais no Acampamento Internacional
ências das alterações climáticas. Nós não somos da Selva no Nationalpark Bayerischer Wald. Com o
apenas mais uma história nas noticias. Nós somos apoio da GIZ e da Deutsche Bundesstiftung Umwelt
os que precisamos de tomar medidas, agora. Isto é (DBU, consulte a Caixa de Informação na p. 90)

A Cimeira Internacional
da Juventude Go 4 BioDiv
produziu um impacto em
muitos dos participantes.
Os responsáveis políticos
querem torná-lo uma carac-
terística permanente das
Conferências das Partes
na Convenção das Nações
Unidas sobre a Diversidade
Biológica.

Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável 87


e uma rede de parceiros de cooperação, o Acam- As questões centrais do programa de toda a sema-
pamento Internacional da Selva foi construído na, que é concebido para os estudantes no seu 10.º
como um lugar de actividades educativas para ao 13.º ano de escolaridade, são: O que está por
desenvolvimento sustentável. Ele transmite uma detrás da ideia da Pegada? Qual é o tamanho da
impressão das diversas formas de vida no mundo. Pegada do nosso país e de outros países? O que
Os participantes na cimeira foram acomodados tem tudo isto a ver com a preservação da natureza
em alojamentos que são típicos de programas de e áreas de conservação? Qual é o papel que cada
conservação parceiros do Parque Nacional em um de nós desempenha neste processo? “Viver
Benim, Brasil, Chile, Venezuela, Vietname, na bem dentro dos limites de um planeta” – é possí-
Sibéria, República Checa, e Mongólia. Em 10 dias vel? Se sim, como?
no Acampamento Internacional da Selva, os jovens A “Metáfora da Cadeira”, o “Jogo do Círculo” ou
desenvolveram as mensagens políticas e as contri- a “Linha de Citação” servem como pontos de par-
buições criativas, artísticas que foram apresentadas tida educativos.
anteriormente.
Mas a Pegada não foi apenas um tema central
durante a Cimeira da Juventude. Assim outros Actividade: Jogo do Círculo
temas globais como as alterações climáticas e o Este jogo é semelhante ao jogo da Metáfo-
consumo de recursos, fazem parte dos programas ra da Cadeira. Põe-se no chão cordas em
regulares de uma semana de ensino para as turmas círculos de vários tamanhos. Enquanto esti-
escolares e grupos de jovens. Estes tiveram lugar verem a cantar ou música a tocar, todos
nas cabanas dos países do Acampamento Inter- se devem manter em movimento. Quando a
nacional da Selva. Os estudantes, que vivem em música pára, os pés devem estar dentro de
habitações tradicionais, tentam compreender os um círculo. Como no “Jogo das Cadeiras”,
temas a partir das perspectivas dos seus “países de quem não encontra um lugar é eliminado.
acolhimento” ou das áreas de conservação que são Durante o decorrer do jogo, vão se reti-
parceiras do Nationalpark Bayerischer Wald. rando os círculos e as probabilidades de
encontrar um tornam-se cada vez mais
reduzidas. Além dos participantes activos,
Actividade: a Metáfora da Cadeira ou o pode existir um grupo de observadores
Jogo do Planeta neutros, que vêem as reacções à redução
Pede-se a um grupo de 25 a 30 alunos dos números de círculos (diminuição de
que se coloquem todos juntos em duas recursos), anota-as e relata-as ao grupo
ou três cadeiras, sem tocar no chão. mais tarde. As reacções são frequentemen-
Durante esta actividade, os alunos te muito semelhantes, mas podem variar
devem adquirir uma compreensão da de acordo com a idade, a imaginação e a
pressão exercida sobre as áreas de vida agilidade dos participantes. Os primeiros
e recursos. Assim torna-se mais fácil comentários na sua maioria são “está a
salientar a necessidade de distribuir os ficar apertado”. A seguir, o grupo tenta
recursos limitados do nosso planeta – é manter todos no jogo à excepção de alguns
fácil imaginar que a luta pelas cadeiras “indivíduos egoístas” afirmando-se a si
nem sempre é justa. Como uma variação próprios ou “são procuradas soluções ino-
ao jogo “Metáfora da Cadeira”, o ponto vadoras” (como ficar sentado de fora, mas
Estão disponíveis dois de entrada para o tema Pegada pode ser mantendo os pés nos círculos, ajudando os
ficheiros PDF (para pintar a Terra em duas ou três peças outros, desvinculando pequenos círculos e
diferentes tamanhos de roupa. Os participantes devem caber fazendo novos, maiores com mais espaço,
de grupo) no DVD de dentro de destas. Se isto leva a um etc.). Neste jogo animado é fundamen-
acompanhamento para equilíbrio difícil, pode imaginar como são tal discutir a questão “o que tem isto a
impressão de plane- as coisas, quando o número de planetas ver connosco e com a situação do nosso
tas Terra em grande de roupa disponível é reduzido. planeta?”
formato.

88 Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável


A Pegada Ecológica é já
um componente didáctico
estabelecido no longo pro-
grama semanal do Acam-
pamento Internacional
da Selva no Nationalpark
Bayerischer Wald.

Actividade: Linha de Citação • “Quando um sistema não pode ser extrapo-


As seguintes citações são de figuras bem lado, atinge o seu fim.” (H.P. Dürr, nascido
conhecidas que chamam a atenção para temas em 1929, físico alemão)
ligados directa ou indirectamente à Pegada • “Apenas quando os corajosos se tornarem
Ecológica. Pendure-os numa linha de roupas sábios e os sábios se tornarem corajosos
com cabides de madeira, ou em ramos de iremos sentir o que tem muitas vezes sido
árvores ou arbustos. De seguida, os alunos falsamente alegado: o progresso humano.”
podem escolher uma citação de uma série que (Erich Kästner, 1899-1974, escritor alemão)
eles concordem ou desejem examinar mais • “O futuro da humanidade já não depende
detalhadamente. Depois justificam a sua selec- mais do que fazemos, mas, mais do que
ção e discutem-na em grupo. nunca do que omitimos.” (John Irving, nas-
Alguns excertos da lista de citação: cido em 1942, escritor americano)
• “Pois, em última análise, o nosso elo • “Não se trata de ditar o que os outros
comum mais básico é o de que todos nós devem fazer para reduzir a sua Pegada,
habitamos este pequeno planeta, todos nós mas sobre como podemos viver melhor.”
respiramos o mesmo ar, todos nós preza- (Mathis Wackernagel, nascido em 1962,
mos o futuro dos nossos filhos, e todos nós Presidente de Global Footprint Network) Informação adicional
somos mortais.” (John F. Kennedy, Presiden- • “O decisivo não é dar mais às pessoas do acerca do Acampamento
te E.U.A. 1961-1963) Terceiro Mundo, mas roubar-lhes menos.” Internacional da Selva
• “Nós apenas pedimos emprestado o mundo (Jean Ziegler, nascido em 1934, sociólogo e pode ser encontrada
aos nossos filhos.” (dizendo um Americano político suíço) em www.wildniscamp.
Nativo) • “Sê a mudança que queres fazer.” (Mahatma de/flyer/english/ e na
• “Apenas quando tiveres derrubado a última Gandhi, 1869-1948, líder espiritual do movi- brochura “Natureza e
árvore e pescado o último peixe saberás mento de independência da Índia) Humanidade enfrentam
que não se pode comer dinheiro... mas, • “Vê coisas e pergunta porquê? Eu sonho Alterações Climáticas”
quem pode pagar mais, vai apostar o último com as coisas e pergunto: Por que não?” (em Alemão e Inglês) que
peixe.” (variação de um provérbio nativo (George Bernard Shaw, 1856-1950, drama- aparece como volume 8
americano) turgo irlandês) da série “A sustentabili-
dade tem muitas faces”.

Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável 89


Caixa de Informação: natural – estão voltados para os fundamentos
o promotor de projectos inovadores: a da Educação para o Desenvolvimento Susten-
Deutsche Bundesstiftung Umwelt (DBU) tável. Estes devem permitir às pessoas perce-
Como uma das maiores fundações da Europa, ber os seus problemas globais, enfrentá-los e
a DBU desempenha um papel central nos pro- resolvê-los. A fundação pretende incentivar a
jectos de desenvolvimento sustentável na Ale- cooperação entre as organizações de conserva-
manha. Foi fundada em 1989 por iniciativa do ção da natureza e a cooperação alemã para o
Governo Federal Alemão que pretendia usar os desenvolvimento em actividades como a cons-
recursos da privatização do ex-grupo siderúrgi- trução do Acampamento Internacional da Selva
co Salzgitter AG para a promoção de um futuro no Falkenstein no Nationalpark Bayerischer
orientado, numa economia de mercado ecologi- Wald e da Cimeira Internacional da Juventude
camente responsável, e iniciou suas operações Go 4 Biodiv. O conceito de Pegada Ecológica
em 1991. Desde então, a DBU apoiou mais de pode desempenhar um papel construtivo em
7.400 projectos inovadores e exemplares num projectos como ferramenta educativa. Assim, a
valor total de aproximadamente 1,3 mil milhões Pegada de Cristal que foi criada pelos partici-
de Euros. As suas actividades promocionais pantes da Go 4 Biodiv fez a primeira paragem
– medidas de educação ambiental, desenvolvi- da sua viagem no Centro para a Comunicação
mento e uso de tecnologias amigas do ambien- Ambiental da DBU em Osnabrück.
te, e manutenção e restauração do património Informação adicional: www.dbu.de/359.html

“Ter de revolucionar a nossa vida inteira e muito útil nesta semana de seminários.
o modo de pensar parece ser uma verdade Poderia ter fornecido uma compreensão
incómoda para muitos dos participantes básica sobre a matéria, os desafios e
na ‘Semana da Sustentabilidade’ durante possíveis soluções para o caminho rumo à
o meu curso de estudos em gestão sustentabilidade.”
internacional. [...] Acredito que uma
Verena Treber da Alemanha, Estudante de Gestão
ferramenta como a Pegada teria sido
Internacional e participante na Go 4 Biodiv

90 Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável


Uma selecção de material educativo e iniciativas

O Serviço Estatal Bávaro para o Meio de outras políticas de desenvolvimento.


Ambiente O Manual de actuação pode ser encomendado
Em 2009, o Serviço Estatal Bávaro para o em www.kate-berlin.de/manual.html.
Meio Ambiente criou uma brochura informati-
va e material educativo sobre a Pegada para FORUM Umweltbildung da Áustria
currículos escolares como parte da sua série Este portal da internet é uma iniciativa do
UmweltWissen (“Conhecimento do Meio Ambien- Ministério Federal Austríaco da Agricultura,
te”, em Alemão). Estes podem ser vistos nas Florestas, Meio Ambiente e dos Recursos Hídri-
páginas web: cos e do Ministério Federal Austríaco para a
• www.lfu.bayern.de/umweltwissen/doc/ Educação, Artes e Cultura. O principal parceiro
uw_86_oekologischer_fussabruck.pdf é o Umweltdachverband GmbH. O fórum apre-
• www.lfu.bayern.de/umweltwissen/doc/ senta informações completas no seu página
uw_87_oekologischer_fussabruck_im_unter- web com ligações, material educativo e a bro-
richt.pdf chura Der ökologische Fußabdruck in der Schu-
Em colaboração com o Director do Departa- le – Impulse, Szenarien und Übungen für die
mento de Didática Geografica da Universidade Sekundarstufe (disponível em ficheiro PDF no
de Augsburgo foi publicado material educativo DVD de acompanhamento): www.umweltbildung.
adicional. A última versão pode ser descarre- at/cgi-bin/cms/af.pl?ref=en.
gada em www.lfu.bayern.de/umweltwissen/doc/
uw_bm_01_schuelerblaetter_oekologischer_fus- A Federation of German Consumer
sabruck.zip. Organisations
A federação (em Alemão: Verbraucherzentrale)
KATE e.V. publica informação especializada para estudos
A independente organização sem fins lucrativos, interdisciplinares do nível primário ao nível do
KATE – ponto de encontro para meio ambien- ensino secundário e escolas profissionais:
te e desenvolvimento – em cooperação com • The Ecological Footprint and Sustainable
a registada Berliner Entwicklungspolitischer Consumption. Unidade pedagógica com
Ratschlag e.V. (BER e.V.) desenvolveu um Manu- materiais didácticos pelo Dr. Philip Devlin
al de actuação “sustainable consumption and (2003). www.verbraucherbildung.de/pro-
development” (em Alemão: Nachhaltiger Konsum jekt01/media/pdf/UE_Ecological_Footprint_
und Entwicklungszusammenhang ). Trata-se de Devlin_1003.pdf
uma ajuda para a concepção de aprendizagem • Auf großem Fuße. Nachhaltiges Verhalten
interactiva para o desenvolvimento, grupos de am Beispiel des ökologischen Fußabdrucks.
política ambiental e para as escolas. São des- Lição acompanhada de materiais didácti-
critos cinco temas diferentes como unidades de cos por Matthias Schnauss (2003). www.
actividade para o desenvolvimento sustentável verbraucherbildung.de/projekt01/media/pdf/
(vestuário, açúcar, café, pequeno almoço climá- UE_Oekologischer_Fuss_Schnauss_0803.pdf
tico e a Pegada Ecológica). Materiais de enqua- • Der ökologische Fußabdruck. Ein Beitrag
dramento e de trabalho com as suas ligações zum Thema Nachhaltigkeit. Contributo técni-
web tornam a aplicação amiga do utilizador. A co com informações adicionais por Matthias
iniciativa do manual faz parte de um projecto Schnauss (2003). www.verbraucherbildung.
patrocinado pela UE FAIRhandeln lernen que de/projekt01/media/pdf/FB_Fussabdruck_
Kate e.V. está a realizar com as organizações Schnauss_0803.pdf

Parte 4: O papel da Pegada na Educação para o Desenvolvimento Sustentável 91


Parte 5:
Perspectiva

também o défice de biocapacidade o pode ser se,


por causa desse défice, o país se encontra em risco
de esgotar o seu capital natural, incorrendo em
custos mais elevados para os recursos importados
de outros locais, ou sendo exposto a rupturas de
abastecimento.
Apesar da procura relativamente baixa de bioca-
pacidade em África e na Ásia, a procura global
“O optimismo é o principal parceiro de também está a crescer lá. Este aumento é impul-
uma boa ideia. E muito depende de nós sionado principalmente pelo crescimento das
pessoalmente – mas estamos bem no populações. O quadro geral é um crescimento
nosso caminho!” quase exponencial da procura global, enquanto a
Gabriel Zeballos Castellón da Bolívia, Biólogo biocapacidade não está a aumentar na mesma pro-
e participante na Go 4 Biodiv porção. Isto acentua o desafio, já que o consumo
de recursos do planeta não é apenas vastamente
desigual, mas é, num todo, já muito alto. O Exces-
A Pegada Ecológica é como um par de óculos. so em 2010 situou-se em cerca de 50 porcento. A
As manchas e as sombras que vêm sem as lentes espiral dramática do uso excessivo dos recursos, a
tornam-se claras e distintas: Quanta natureza nós degradação a longo prazo do ambiente e o aumen-
temos? Quanta usamos? Algumas coisas são mais to da pobreza estão a mover-se rapidamente. É um
próximas, enquanto outras tendem a desaparecer imperativo urgente perseguir novos caminhos de
no fundo. desenvolvimento.
Com a Pegada, nós somos capazes de ver a pressão A cooperação para o desenvolvimento alemã pre-
criada pela crescente procura sobre os recursos da tende apoiar os seus parceiros neste esforço. Isto
natureza em diferentes partes do mundo. exige novas ideias, análises, ferramentas – mas
A Pegada mede a quantidade de material transac- também oportunidades concretas para a exe-
cionada entre os países na nossa economia global. cução dos novos conceitos. Contabilidade dos
Isto ocorre através do comércio, da pesca em águas recursos auxiliada pela Pegada abre perspectivas
internacionais e das emissões de um país para interessantes.
outro. Se a população de um país usa mais bio- Para começar, qualquer um pode agora determinar
capacidade para a sua Pegada do que a disponível a sua própria Pegada através de uma calculadora
no seu país, gera-se um défice de biocapacidade. da Pegada pessoal na internet. Uma pessoa que
Aqueles que usam menos do que os seus ecossiste- viaja muito de avião tem uma Pegada maior –
mas podem renovar são credores de biocapacidade. como aquele que vive numa grande casa, mal
Esta representação do mundo, indica diferenças isolada. É sempre surpreendente como as coisas
e interconexões. Ela representa a realidade actual aparentemente triviais, comer carne por exemplo,
e estimula discussões acerca da procura humana afectam a Pegada pessoal. Embora a ferramenta
sobre a natureza e o nosso futuro comum. Isto não defenda mudanças de estilo de vida específi-
não significa, no entanto, que os países “devem” cas, os resultados podem ser esclarecedores. Por
caminhar para a auto-suficiência e utilizar apenas exemplo, qualquer um pode pensar duas vezes
os recursos dentro das suas próprias fronteiras, e, sobre o seu número de voos, ou pode parar de voar
portanto, não se envolverem no comércio global. completamente. Todos podem começar por tomar
Essencialmente, estamos perante o efeito líquido algumas acções individuais. É possível uma vida
do comércio: preenchida com uma pequena Pegada. O ponto
Em que extensão, um território está a importar ou da Pegada não é impor uma vida aos outros. Pelo
a exportar biocapacidade. Cabe ao país decidir o contrário, é ajudar as pessoas a antecipar a mudan-
que serve melhor os seus interesses. As análises de ça e agir antes que a realidade ecológica nos impo-
Pegada, estruturalmente, não são diferentes das nha escolhas desconfortáveis.
análises financeiras. Assim como o défice comer- Reduzir individualmente a quantidade de biocapa-
cial financeiro pode ser uma responsabilidade, cidade que usamos é apenas uma parte da solução

92 Parte 5: Perspectiva
para os desafios que enfrentamos. Pode ser ainda
“Num mundo de recursos reduzidos,
mais significativo intervir ao nível social, como em
aqueles que primeiro reconhecerem a
municípios. Estudos de Pegada demonstram que
necessidade de sustentabilidade e adop-
uma grande parte da procura sobre a natureza, de
tem estratégias adequadas terão maior
um morador de cidade, é determinada pela forma
êxito na concorrência global futura.”
como a cidade é concebida, por exemplo, que tipo
de infra-estrutura está disponível. Assim, não é Yves Manfrini, Gerente de Fundos do Union
só uma questão de consumo individual (O que Bancaire Privée, Suíça
como? O que vou vestir? Que carro posso condu-
zir?), mas uma questão de padrões de mobilidade
(Quão longe fica o trabalho? Como faço para nacional assumiu publicamente o compromisso de
chegar lá?) ou de energia (Quanta uso? Qual é a inverter as tendências em 2013.
fonte de energia?). A contabilidade dos recursos é Num futuro próximo, a contabilidade ecológica e
do auto-interesse de cada cidade, região e país. Se da Pegada tornar-se-á cada vez mais decisiva para
um governo pode oferecer uma alta qualidade de a definição de agendas políticas e direcções eco-
vida, com uma procura relativamente baixa sobre nómicas. Em muitos países, um importante ponto
a natureza, isso reduziria a sua dependência de estratégico de intervenção é apoiar a promoção das
recursos e aumentaria a sua competitividade. mulheres. Muitos projectos de cooperação para
Uma das questões centrais da capacidade refere-se o desenvolvimento estão a ajudar as mulheres a
ao número de pessoas no planeta, pois mais habi- terem acesso ao planeamento familiar, cuidados
tantes simplesmente necessitam de mais biocapa- de saúde e ao mercado de trabalho, por exemplo.
cidade. Enfrentar os números da população não se Apenas alguns anos da escola demonstraram ter
trata de culpar alguém, mas de olhar para o futuro muitos efeitos positivos; o crescimento demográfi-
– onde precisamos de investir no sentido de pro- co diminuiu e as oportunidades educativas aumen-
duzir mais qualidade de vida para todos? Mesmo taram. Assim, apoiar as mulheres na cooperação
que a população mundial continue a aumentar para o desenvolvimento vai além de ajudar um dos
no momento, a longo prazo terá de começar a géneros. Esses investimentos ajudam a sociedade
diminuir – quer queiramos ou não. A questão é se como um todo.
isso vai ser devido a maiores taxas de mortalidade, Segundo a lógica do quadro da Pegada, também
ou taxas de natalidade reduzidos. Isto depende de há muitas oportunidades para reforçar o lado da
nós. oferta da equação de recursos, tal como melhoria
Ir além da capacidade de suporte dos nossos das práticas florestais e agrícolas, incluindo reforço
ecossistemas, tem consequências especialmente dos sistemas de irrigação e prevenção da erosão do
dramáticas e mais imediatas para os países econo- solo. As lentes da Pegada não são, no entanto, ade-
micamente mais fracos. Nem eles podem satisfazer quadas para todas as vistas. Dependendo do pro-
as necessidades das suas indústrias, comunidades blema, outras ferramentas podem ter vantagem,
ou famílias, nem estão em condições de compen- por exemplo, avaliação do ciclo de vida.
sar os seus défices através do comércio ou compras A contabilização dos recursos é suficiente? Certa-
adicionais. mente que não. No final, teremos novos quadros
No entanto, as tendências negativas podem ser económicos que estão mais alinhados com as
alteradas. Já existem inúmeros desenvolvimentos realidades sócio-ecológicas globais de uma nova
positivos. O Vietname mostra aumento da bioca- era. Tal como os participantes na Cimeira da
pacidade per capita; e no Equador – um país tro- Juventude expressam de modo adequado na sua
pical muito diverso que, apesar das suas grandes Declaração, todos os países, ricos ou pobres, são
áreas florestais, estava à beira de cruzar o limiar no final “países em desenvolvimento”. A questão é
de ser um credor de biocapacidade para ser um em que direcção nos estamos a desenvolver e quem
devedor de biocapacidade – tornou-se recentemen- está a determinar o caminho? A Pegada Ecológica
te o primeiro país do mundo a definir uma meta é uma ferramenta simples que nos mostra que uma
nacional de Pegada: Depois de ser apresentado vida plena e rica é certamente possível dentro dos
aos dados muito críticos da sua Pegada, o governo limites da natureza.

Parte 5: Perspectiva 93
Parte 6:
Pegadas nacionais: vivendo sobre pés
grandes, e sobre pequenos
Os perfis dos países biocapacidade (pode consultar o gráfico de barras
“Muitas vezes penso nas nossas dis-
baseiam-se em dados “A Pegada Ecológica das nações” nas p. 52 – 53,
cussões passadas durante a Cimeira da
da Pegada que são mos- em que os países representados na cimeira estão
Juventude, e quando finalmente acordá-
trados nas p. 118-119. marcados).
mos que todos os países do mundo são
Os dados per capita são O que segue são as descrições dos balanços ecoló-
países em desenvolvimento e que todos
apresentados no gha/per gicos dos países da Cimeira da Juventude Brasil,
nós devemos mudar. Alguns têm que
capita, valores globais Chile, Equador, México, Madagáscar, Mauritânia,
ser autorizados a elevar o seu padrão
em milhões de gha. Namíbia, China, Mongólia, Vietname e Rússia,
de vida; outros devem reduzir as suas
bem como uma comparação entre a Alemanha e a
Pegadas terrivelmente grandes. [...] Esta
Os pés que seguem nas China. Além destes países, a análise inclui o Japão,
maneira de ver as coisas levanta muitas
margens representam: país anfitrião da próxima Conferência das Partes
novas questões de política internacional.
na Convenção das Nações Unidas sobre Diversida-
Eu também mudei minha atitude.”
de Biológica (COP 10), e os Estados Unidos, país
Verena Treber da Alemanha, Estudante de com uma das maiores Pegadas per capita.
Negócios Internacionais e participante na A fim de avaliar a situação actual e tendências
Go 4 Biodiv futuras destes países, nós devemos ter em conta
uma variedade de questões profundas, tais como:
• Onde estão os países em termos do seu con-
Dezoito países estiveram representados na Cimeira sumo de recursos, em comparação com o
esquerda Internacional da Juventude Go 4 Biodiv. Todos resto do mundo, e com os outros países aqui
• multicolorido: Pegada eles tinham perfis culturais, os económicos, apresentados?
global sociais, políticos e ecológicos diferentes – e estas • Qual é a relação entre a oferta ecológica
• delineado: biocapacida- diferenças ofereceram uma oportunidade de um (biocapacidade) e procura (Pegada) para
de global diálogo produtivo entre os participantes. O espec- este país? O país é um credor ou devedor de
direita tro estendido desde os países com rendimentos biocapacidade?
• cor sólida: Pegada do médios altos a países com baixos rendimentos, • Qual é a situação do comércio de biocapacida-
respectivo país de climas tropicais a áridos, a climas temperados, de – quais os países que têm saldos positivos de
• cor delineada: bioca- de países em tumulto abalada pela crise a demo- comércio ecológico, e negativos?
pacidade do respectivo cracias politicamente estáveis. Incluiu credores de • Quais os papéis que os rendimentos médios
país biocapacidade, assim como países com défices de e a taxa de crescimento da população
[valores de 2005 em
gha per capita]

Os perfis dos países


colocam questões como
esta: “Qual é a relação
entre oferta e procura de
biocapacidade?”

94 Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos


O mapa-mundo mostra os
países discutidos no texto
desde a América do Norte
e do Sul a África, Ásia e
Europa. Eles abrangem
todo um espectro de ecos-
sistemas e alcançam todo
o espectro económico.

desempenham ultimamente na Pegada do país, atribuída para outras espécies. Se queremos assu-
e como mudaram os indicadores de desenvolvi- mir que a terra é posta de lado, então, a quanti- Para uma discussão pro-
mento ao longo do tempo? dade de biocapacidade disponível per capita seria funda das tendências da
Também podemos fazer perguntas sobre a relação inferior. Pegada, existem questões
do país com o mundo em termos de comércio, Estas tabelas de dados e gráficos apoiam com- adicionais e “alimento
economia e desenvolvimento: parações futuras, reflexões e discussões sobre para o pensamento” para
• O que significa ser um credor ou devedor de um mundo em que os recursos estão a tornar-se todos os países apresen-
biocapacidade para a estabilidade de um país escassos. tados na p. 115 e segs.
ou para a sua competitividade? Quais são as
vantagens e desvantagens?
• Em que medida as crescentes restrições de
recursos influenciam as possibilidades de
desenvolvimento de um país, ou o padrão de
vida da sua população? Que vantagens terá
um país que se torne mais eficiente a nível de
recursos e proteja o seu capital natural?
Algumas destas questões serão abordadas no final
deste capítulo; outras irão surgir a partir de perfis
dos países e na investigação contínua. Para mais
conhecimento de fundo sobre estes países e temas,
consulte a tabela de dados nas p. 118-119.
Cada perfil de país também apresenta gráficos em “Cada país tem a sua História, cada
forma de “pés”, impresso no cimo de cada perfil região pode seguir um caminho diferen-
do país. Os gráficos mostram a Pegada média de te – há tantas ideias, planos, e também
um país directamente comparada com a biocapaci- projectos concretos que podem conduzir
dade nacional. À esquerda, a biocapacidade global ao desenvolvimento sustentável.”
e da Pegada global são representados, para efeitos
de comparação. Todos os números se referem ao Elsa Leticia Esquer Ovalle do México, estu-
ano de 2005 e são valores per capita. dante de gestão dos recursos naturais e
É importante ter em mente que a biocapacida- participante na Go 4 Biodiv
de global não inclui qualquer porção de terra

Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos 95


America Latina População Biocapacidade e Pegada
em milhões em gha por pessoa
200 20
Brasil 180
160
18
16
140 14
O Brasil, o país com a maior floresta tropical 120 12
do mundo, tem enorme riqueza biológica à sua 100 10
disposição. É considerado como um país muito 80 8
60 6
diverso, ou um local privilegiado de biodiversi- 40 4
dade. A população deste país de baixa densidade 20 2
populacional duplicou para 186,4 milhões de 0 0

1
5
9
3
7
1
5
9
3
7
1
5
habitantes entre 1961 e 2005. Esta economia

196
196
196
197
197
198
198
198
199
199
200
200
emergente e parceira da cooperação para o desen- População Pegada Biocapacidade
volvimento alemão pertence ao grupo de países
com “desenvolvimento humano alto” de acordo
com o PNUD. entanto, a biocapacidade do Brasil é ainda três
A Pegada média per capita do Brasil pouco mudou vezes superior à Pegada do Brasil.
desde 1961 e ficou em 2,4 gha (2005), ligeira- Juntamente com a Rússia, o Brasil está entre
mente abaixo da média global de 2,7 ha. Existem os maiores países credores de biocapacidade do
grandes diferenças na Pegada Ecológica per capita mundo. Em 2005 a reserva de biocapacidade do
entre a população. Por exemplo, muitos brasilei- Brasil de 4,9 gha por pessoa foi o dobro da reserva
ros no Rio de Janeiro ou São Paulo têm Pegadas da América Latina (média 2,4 gha). No mesmo
maiores do que a média do cidadão americano. ano, o Brasil teve um saldo comercial de Pegada
A Pegada total brasileira duplicou desde 1961. positivo de um hectare global por pessoa, ou seja,
Durante este tempo, a biocapacidade total do país a exportação da Pegada Ecológica incorporada nos
aumentou ligeiramente devido a uma agricultura bens excederam as importações nessa quantidade.
mais intensiva. Por causa do crescimento da popu- Isto significa que a Pegada do consumo brasileiro
gha/pessoa Mundo Brasil lação, no entanto, a oferta per capita foi reduzida era de um hectare global por pessoa, menor do
Pegada 2,7 2,4 em mais de metade (de quase 19 a 7,3 gha). No que a sua Pegada primária da produção.
Biocapacidade 2,1 7,3

Brasil (foto: Rio de Janei-


ro com o Corcovado)
representa um dos maio-
res credores de biocapa-
cidade do mundo com uma
biocapacidade total de
914,6 milhões de gha.

Informação adicional
sobre a região Amazó-
nica Brasileira pode ser
encontrada no volume
7 (em Alemão) da série
“A sustentabilidade tem
muitas faces”.

96 Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos


Chile
População Biocapacidade e Pegada
Chile tem o maior IDH (0,87) de qualquer país em milhões em gha por pessoa
Latino-Americano. Experimentou altos níveis de 18 10
crescimento económico durante os últimos 10 16 9
anos, período durante o qual o seu uso de energia 14 8
também aumentou. A este respeito, o Chile segue 12 7
um comportamento que é comum em muitas eco- 10 6
5
nomias emergentes. 8
4
Pegada Ecológica per capita do Chile (3,0 gha per 6
3
capita em 2005) é a terceira maior na América 4
2
2
Latina, apenas a do Uruguai e Paraguai são mais 1
0 0
elevadas. Desde 1961, a Pegada médio do Chileno 1
5
9
3
7
1
5
9
3
7
1
5
cresceu apenas um terço, mas, devido ao cresci-
196
196
196
197
197
198
198
198
199
199
200
200
mento populacional, a procura total de biocapaci- População Pegada Biocapacidade
dade quase que triplicou.
Em 2005, 16,3 milhões de pessoas viviam neste
país, mais do dobro do que em 1961. A população Embora seja verdade que a oferta total da bioca-
está concentrada principalmente na região central pacidade do Chile não mudou desde 1961, o cres-
do país. Embora a densidade populacional (habi- cimento da população reduziu a oferta per capita
tantes por km²) do Brasil e Chile sejam equivalen- em mais de metade para 4,1 gha em 2005. Apesar
tes, a biocapacidade por pessoa, é muito menor no desta queda, o pequeno país, com as suas cinco
Chile, e também a sua Pegada per capita. diferentes zonas ecológicas e a diversidade de espé-
cies de grande porte, ainda tem uma reserva de
biocapacidade de 1,1 gha per capita, e é, portanto,
considerado um país credor de biocapacidade. A
sua reserva caiu abaixo da média Latino-americana
de 2,4 gha, no entanto, muito abaixo das reservas
de biocapacidade do Brasil. gha/pessoa Mundo Chile
Em 2005, o Chile teve um saldo comercial de Pegada 2,7 3,0
Pegada Ecológica positivo de 1,2 gha por pessoa, Biocapacidade 2,1 4,1
ou seja, a exportação de Pegada Ecológica incor-
porada nos bens excedeu as importações nessa
quantidade. Isto significa que a Pegada do consu-
mo chileno foi de 1,2 hectares globais por pessoa,
menor do que a sua Pegada primária da produção.

Relativamente pouco
“Eu acredito sem dúvida que a Pega-
povoado o Chile ainda tem
da pode ser uma boa ferramenta para
reservas de biocapacidade
a gestão dos recursos renováveis em
disponíveis.
qualquer país, se as populações locais
a compreenderem. Os danos ecológicos
que cada país pode fazer de forma dife-
rente para o planeta devem ser primeiro
compreendidos e reconhecidos, antes de
podermos agir.”

Ruth Carolina Caniullan Huaiquil do Chile,


Paramédica, Estudante de Enfermagem e
participante na Go 4 Biodiv

Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos 97


Ecuador
População Biocapacidade e Pegada
Equador, um dos parceiros da cooperação para o em milhões em gha por pessoa
desenvolvimento da GIZ, tem um IDH de 0,81; 14 8
portanto, classifica-se apenas atrás do Brasil no 12 7
Índice de Desenvolvimento Humano (72.º em 179
10 6
países). Com um rendimento nacional bruto infe-
8 5
rior a 2.910 USD anuais per capita, é colocado no
4
segmento inferior do grupo de “países com rendi- 6
3
mentos médios”, segundo a OCDE-CAD-listas. 4
As tendências de desenvolvimento destes países 2
2
biologicamente ricos são dramáticas. Há quarenta 1
0 0
anos atrás, o Equador teve cerca de cinco vezes

1
5
9
3
7
1
5
9
3
7
1
5
196
196
196
197
197
198
198
198
199
199
200
200
mais biocapacidade per capita do que a sua Pega-
da. Desde então, fortes tendências têm empurrado População Pegada Biocapacidade
o Equador para o estatuto de devedor de biocapa-
cidade. A biocapacidade per capita do país dimi-
nuiu em grande parte devido à triplicação da sua população crescente e para o desenvolvimento
população para 13,2 milhões de pessoas (2005); industrial, tendo em conta os limitados recursos
isto contribuiu significativamente para que a sua financeiros? O comércio da Pegada equatoriano
Pegada excedesse a sua biocapacidade. A Pegada é ecologicamente praticamente equilibrado. Num
média de um equatoriano é de 2,2 gha de recur- mundo com Excesso, equilibrando o défice de
sos, enquanto apenas 2,1 gha de biocapacidade por biocapacidade nacional com as importações pode
pessoa estão disponíveis internamente. tornar-se uma opção cada vez mais frágil, consi-
A perda drástica da biocapacidade por pessoa com- derando tanto o poder de compra do Equador em
binada com o crescimento da Pegada por pessoa relação ao mundo, como o reconhecimento das
não representa apenas um perigo potencial real limitações crescentes de recursos em que todos
para o desenvolvimento sustentável do país, como os países que estão a funcionar. Este risco pode
gha/pessoa Mundo Ecuador também tem consequências para a sua diversidade manifestar-se em preços mais elevados para as
Pegada 2,7 2,2 biológica. O Equador é um dos chamados hotspots importações líquidas, perturbação das cadeias de
Biocapacidade 2,1 2,1 com mega-diversidade, com os seus mangais cos- abastecimento, ou conflitos violentos por recursos.
teiros, as Ilhas Galápagos, as terras altas de Andes e Depois de ser confrontado com os dados da Pega-
as florestas tropicais da Floresta Amazónica, é uma da, o governo nacional do Equador fez um com-
das regiões biologicamente mais valiosas da Terra. promisso público através do seu plano de desen-
Assim, os decisores políticos e económicos do volvimento nacional para reverter as tendências em
Equador, são confrontados com questões de con- 2013 – a primeira nação do mundo a definir uma
sequências de grande alcance: Como podem cons- meta de Pegada nacional. Este plano de desenvol-
truir o seu futuro sem degradar o capital natural? vimento nacional foi lançado em 10 de Dezembro
Onde vão obter os recursos necessários para uma de 2009.

A biocapacidade que está


disponível para o Equa-
toriano médio decresceu
desde 1961 devido a um
aumento da população de
quase 300 porcento.

98 Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos


México
População Biocapacidade e Pegada
Com um IDH de 0,84, o México está classificado em milhões em gha por pessoa
à frente do Brasil na tabela de desenvolvimento 120 5,0
humano dos países latino-americanos. Como 4,5
100
muitos estados nesta região, pertence à categoria 4,0
*
superior dos países com rendimentos médios, 80 3,5
segundo a lista de países da OCDE-CAD. Este 3,0
60 2,5
país emergente é um país parceiro da cooperação
2,0
para o desenvolvimento alemão. Tem a segunda 40
1,5
maior economia da América Latina, e é a 12ª 1,0
20
maior nação comercial e o quinto maior fornece- 0,5
dor mundial de petróleo. 0 0,0
A população deste estado da América Central quase
1
5
9
3
7

5
1
5
9
3
7
1
196
196
196
197
197
198
198
198
199
199
200
200
que triplicou desde 1961 e contava 107 milhões de
População Pegada Biocapacidade
pessoas em 2005. Com 54 habitantes por km², o * Os dados de Pegada são baseados em estatísticas das Nações Unidas, bem
país não é apenas o mais densamente povoado dos como uma série de outros conjuntos de dados internacionais. As linhas traceja-
das indicam extrapolação para os anos com inconsistências de dados. A partir
países latino-americanos apresentados aqui, em de 1997, os dados nacionais da Pegada Ecológica têm sido consistentemente
relação ao Brasil, Chile e Equador também tem a calculados e actualizados com base em conjuntos de dados globais mais
fiáveis e numa evolução do método de cálculo.
biocapacidade per capita mais baixa (1,7 gha).
A Pegada total mexicana aumentou num factor
cinco entre 1961 e 2005, com a Pegada per capita à mudança das práticas agrícolas. No entanto, é
a crescer neste período de 1,9 para 3,4 gha. As flu- apenas metade do tamanho da Pegada do Méxi-
tuações da Pegada apresentadas no gráfico podem co, fazendo com que o México seja o país com o
ser impulsionada mais por dados pouco fiáveis do maior défice de biocapacidade da América Latina.
que por variações no consumo real. O fornecimento Em 2005, o México teve um saldo comercial
de biocapacidade como um todo aumentou, devido negativo de 1,2 gha por pessoa, o que significa que
a importação de Pegada Ecológica incorporada
nos bens excede as exportações nessa quantidade. gha/pessoa Mundo México
Assim, a Pegada primária da produção mexicana Pegada 2,7 3,4
foi 1,2 hectares globais por pessoa mais pequena Biocapacidade 2,1 1,7
do que a sua Pegada do consumo.
Se a população actual e as tendências Pegada no
México continuarem, o país acumulará um défice
de biocapacidade ainda maior – uma tendência
que se torna cada vez mais vulnerável: por um
lado, através da escassez dos seus recursos renová-
veis, por outro lado, através do aumento no custo
“No México existem algumas campanhas das importações necessárias.
para tornar a Pegada conhecida entre
o público, nas empresas e nas empre- O défice de biocapacidade
sas rurais, etc., por exemplo, através do México poderia agravar
do Ministério do Meio Ambiente e dos ainda mais através do
Recursos Naturais. Mas o México é tão crescimento da população
grande quanto bonito – e é difícil chegar e das Pegadas individuais
a todos.” e através da diminuição da
biocapacidade.
Elsa Leticia Esquer Ovalle do México, Estu-
dante de Gestão de Recursos Naturais e
participante na Go 4 Biodiv

Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos 99


África População Biocapacidade e Pegada
em milhões em gha por pessoa
20 14
18
Madagáscar 16
12

14 10
Apesar de Madagáscar ser classificado pela 12 8
PNUD como um país com “desenvolvimento 10
humano médio”, com um IDH de 0,53, OCDE- 8 6
CAD classifica-o como um país menos avançado 6 4
(PMA). Além disso, embora a ilha seja um país 4
2
2
parceiro da cooperação para o desenvolvimento
0 0
alemão, actualmente não estão a ser feito com-

1
5
9
3
7
1
5
9
3
7
1
5
196
196
196
197
197
198
198
198
199
199
200
200
promissos financeiros a nível do governo, devido
à instabilidade política que ocorreu em Março de População Pegada Biocapacidade

2009.
A população de Madagáscar cresceu num factor de
quase 3,5 entre 1961 e 2005 e actualmente conta- eram, no entanto, menores em 2005 do que as
biliza 18,6 milhões. Este aumento da população exportações – o saldo comercial da Pegada era de
está acima da média africana. A Pegada total da -0,1 gha por pessoa.
ilha também tem crescido durante este tempo; Madagáscar é um país tropical com altas taxas de
mas numa base per capita caiu de quase 0,5 para plantas e animais endémicos e ricos ecossistemas
1,1 gha, e está, portanto, abaixo da média do con- florestais, que representam um alto valor para
tinente africano. a economia. No entanto, devido à procura por
Embora a biocapacidade de Madagáscar tenha solos agrícolas e de lenha, a floresta está a perder-
aumentado ligeiramente desde 1961, o crescimento -se rapidamente. O corte e práticas de queimadas
gha/pessoa Mundo Madagáscar populacional levou a uma redução global dos valo- agrícolas, estão também a causar a erosão do solo e
Pegada 2,7 1,1 res per capita; em 1961 a área bioprodutiva dis- a empobrecer a sua qualidade.
Biocapacidade 2,1 3,7 ponível por pessoa era de 12,5 gha. Desde então As tendências relacionadas com o crescimento
diminuiu em mais de dois terços para 3,7 gha por da população e diminuição da biocapacidade per
pessoa. Apesar disto, a reserva de biocapacidade capita são semelhantes às da Namíbia (discutido
de Madagáscar de 2,7 gha por pessoa, é muito abaixo). O país ainda tem um balanço ecológico
superior à média africana de 0,4 gha por pessoa. positivo, mas para manter isso, é necessário inver-
As importações deste país credor de biocapacidade ter as tendências actuais.

A riqueza ecológica de
Madagáscar e a sua
diversidade biológica
única estão em perigo
devido à perda das suas
florestas virgens.

100 Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos
Mauritânia
População Biocapacidade e Pegada
Como Madagáscar, a Mauritânia, com um IDH em milhões em gha por pessoa
de 0,56, está entre os países com “desenvolvimento 3,5 20
humano médio”, segundo a PNUD. Comparada 3 18
com outros 178 países, Mauritânia cai no terço 16
2,5 14
inferior, mas está classificado numa posição rela-
2 12
tivamente elevada em comparação com os seus 10
vizinhos subsaarianos. Na sequência de um golpe 1,5 8
militar em Agosto de 2008, a cooperação para o 1 6
desenvolvimento alemão limitou as suas activida- 4
0,5
des de desenvolvimento. 2
0 0
O número de habitantes no estado árido com
1
5
9
3
7
1
5
9
3
7
1
5
196
196
196
197
197
198
198
198
199
199
200
200
baixa densidade populacional, (três habitantes por
km²) triplicou entre 1961 e 2005. Enquanto a bio- População Pegada Biocapacidade

capacidade do país tem crescido de modo insigni-


ficante, o seu valor per capita disponível diminuiu
durante este período de 18 para 6,4 gha devido 4,5 gha por pessoa (o sexto maior em África) está
ao crescimento populacional. A Pegada Ecológica cada vez mais sob pressão: O excesso de pastoreio,
total tem aumentado desde 1961, mas a Pegada a desflorestação e a erosão do solo são agravados
per capita é agora quase metade, tendo passado de ainda mais pelo crescimento populacional, secas
3,7 para 1,9 gha gha em 2005. periódicas catastróficas, recursos hídricos limita-
A reserva de biocapacidade da Mauritânia de dos e alterações climáticas.

gha/pessoa Mundo Mauritânia


Pegada 2,7 1,9
Biocapacidade 2,1 6,4

Entre 1961 e 2005 a bio-


capacidade por pessoa na
Mauritânia foi reduzida em
dois terços.

Informação adicional
sobre Madagáscar e
Mauritânia pode ser
encontrada nos volumes
5 e 6 na série “A sus-
tentabilidade tem muitas
faces”.

Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos 101
Namíbia
População Biocapacidade e Pegada
A Namíbia, com um IDH de 0,65, é considerada em milhões em gha por pessoa
pelo PNUD como um país com “desenvolvimento 2,5 35
humano médio”. O país encontra-se no sudoeste 30
de África e tem um rendimento nacional bruto de 2
25
3.360 USD per capita (2007). A lista de países da 1,5 20
OCDE-CAD agrupa-a na categoria de países de
rendimento médio; tem sido um país parceiro da 1 15
cooperação para o desenvolvimento alemão desde 10
0,5
1990. 5
A população deste país escassamente povoado 0 0
mais do que triplicou entre 1961 e 2005. Como

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um todo, a biocapacidade da Namíbia pouco
mudou desde 1961. Numa base per capita, no População Pegada Biocapacidade

entanto, diminuiu mais de dois terços de 29,4 gha


por pessoa para 9 gha por pessoa, devido ao cres-
cimento populacional. A Pegada Ecológica per
capita também está em declínio, atingindo 3,7 gha
em 2005.
A reserva de biocapacidade da Namíbia de 5,3 gha
por pessoa, é muito superior à média africana de
0,4 gha por pessoa. No entanto, a reserva de bio-
capacidade da Namíbia, está sob ameaça; a água
“As pessoas na Namíbia são dependentes no país mais árido sul do Saara é acentuadamente
de recursos renováveis – estes represen- escassa e os solos têm vindo a ser degradados pela
gha/pessoa Mundo Namíbia tam a sua subsistência.” erosão – as duas tendências ameaçam bioproduti-
Pegada 2,7 3,7 vidade da Namíbia. Devido a inadequadas práticas
Biocapacidade 2,1 9,0 Reagan Chunga da Namíbia, Inspector Júnior agrícolas e a uma população crescente, cada vez
de Gestão de Terras e participante na
menos biocapacidade está disponível para nami-
Go 4 Biodiv
bianos que são em grande medida, directamente
dependentes dos recursos renováveis.

Com o seu défice de bio-


capacidade de 5,3 gha por
pessoa, a Namíbia tem
mais biocapacidade dispo-
nível internamente do que
o uso dos seus cidadãos.

102 Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos
Ásia População Biocapacidade e Pegada
em milhões em gha por pessoa
140 6

Japão 120 5
100
O Japão é um dos países industrializados com 4
80
maior desenvolvimento humano de acordo com o 3
PNUD. Com um IDH de 0,953, está classificado 60
2
em 8º entre 179 países – à frente da Alemanha e 40
dos Estados Unidos. Enquanto a população japo- 20 1
nesa tem crescido de forma relativamente lenta
0 0
(cerca de um terço entre 1961 e 2005), nenhum 1
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outro país apresentado nesta brochura tem uma
maior densidade populacional. População Pegada Biocapacidade
A biocapacidade japonesa caiu tanto numa base per
capita como um todo. Em 2005, existiam 0,6 gha
de área produtiva por Japonês. O arquipélago vem importante no comércio internacional. O país
em último, em comparação com os países apresen- tenta equilibrar uma parte do seu défice de bioca-
tados nesta brochura, em termos de biocapacidade. pacidade através de importações de outros países.
Como mudou a procura japonesa por recursos A Pegada japonesa das importações é de 2,8 gha
naturais (a sua Pegada), desde 1961? Tanto a Pegada por pessoa, e o seu balanço comercial global é
total como a Pegada per capita cresceu devido ao negativo – o Japão importa mais Pegada Ecológica
aumento do consumo pessoal durante este período incorporada nos bens do que exporta anualmente.
de tempo, num factor de 3,2 e num factor de 2,3, O défice de biocapacidade do Japão pode apre-
respectivamente. A Pegada média de um residente sentar riscos para o país a partir do momento que
japonês equivale a 4,9 gha. o custo da emissão de carbono provavelmente se
A procura do país por biocapacidade excede a tornará maior, e os recursos para a importação
oferta em oito vezes mais. O Japão tem um défice serão mais procurados. No entanto, a alta densi- gha/pessoa Mundo Japão
de biocapacidade de 4,3 gha per capita e é, em ter- dade populacional do Japão pode permitir investi- Pegada 2,7 4,9
mos per capita, o maior devedor de biocapacidade mentos mais eficazes em infra-estruturas de baixo Biocapacidade 2,1 0,6
na Região Ásia Oriental-Pacífico. carbono e sistemas de transporte no futuro, o que
A nível global, o Japão desempenha um papel ajudará a mitigar estes riscos.

Mesmo que a população


do Japão tenha aumentado
lentamente nas últimas
quatro décadas, a Pegada
Ecológica total cresceu
devido à energia e ao
consumo – estilo de vida
intenso dos habitantes.

Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos 103
Mongólia
População Biocapacidade e Pegada
Mongólia, com um IDH de 0,72, é classificada em milhões em gha por pessoa
pelas NU como um país com “desenvolvimento 3 50
humano médio”. Nas listas de países da OCDE- 45
2,5
-CAD está classificado na parte inferior das cate- 40
gorias de rendimentos médios. 2 35
30
Um país parceiro da cooperação para o desen- 1,5 25
volvimento alemão, a Mongólia é caracterizado 20
1
por condições climáticas extremas e, com dois 15
habitantes por km², um dos países mais escas- 0,5 10
5
samente povoados na Terra. Em 2005, apenas 0 0
2,6 milhões de pessoas viviam no país, embora a

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população tenha mais que duplicado entre 1961
e 2005. População Pegada Biocapacidade
O capital ecológico mantido por este país da Ásia
Central continua a ser tão vasto como sempre;
apesar da perda de onze porcento de sua biocapa- foi ligeiramente negativo no mesmo ano com a
cidade desde 1961. 14,6 gha por pessoa continuam Mongólia a depender da biocapacidade importada.
disponíveis actualmente. A Pegada do consumo da Mongólia excedeu a
Desde o colapso de muitas operações industriais Pegada primária da produção em 0,2 gha.
resultantes da retirada da União Soviética, tanto A reserva de biocapacidade na Mongólia está a
a Pegada total como a Pegada per capita entraram ser comprometido através do excesso de pasto-
em declínio. Mais recentemente, a procura sobre a reio, erosão do solo, desflorestação e crescimento
natureza contabilizava 3,5 gha por pessoa. populacional. As ondas de calor cada vez mais fre-
A reserva de biocapacidade da Mongólia era de quentes e as secas podem ameaçar a capacidade do
11,2 gha por pessoa em 2005. No entanto, o povo mongol se fornecerem a si próprios através da
balanço comercial em termos de Pegada Ecológica biocapacidade interna.
gha/pessoa Mundo Mongólia
Pegada 2,7 3,5
Biocapacidade 2,1 14,6

A Mongólia é um país
de grandes estepes e de
invernos frios. Devido
à sua baixa densidade
populacional, o país
Asiático actualmente
ainda tem um excedente
ecológico de 11,2 gha por
pessoa.

104 Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos
Vietname
População Biocapacidade e Pegada
Segundo o PNUD, o Vietname é um país com em milhões em gha por pessoa
“desenvolvimento humano médio”, com uma pon- 90 1,6
tuação IDH de 0,72. O Vietname tem um rendi- 80 1,4
mento nacional anual bruto de 390 USD per capi- 70 1,2
ta (ano 2006) e pertence ao grupo das nações com 60
1,0
baixos rendimentos. Vietname tem sido um país 50
0,8
parceiro da cooperação para o desenvolvimento 40
0,6
alemão desde 1990. A população do país cresceu 30
20 0,4
quase 140 porcento entre 1961 e 2005, para 84,2
milhões habitantes. 10 0,2
0 0,0
Desde 1961, a Pegada total deste país do sudeste
1
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5
asiático mais do que triplicou; a Pegada per capi-
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ta cresceu 40 porcento ascendendo a 1,3 gha em População Pegada Biocapacidade
2005. Pegada Ecológica per capita do Vietname,
está bem abaixo da média da Ásia; entre os países
aqui apresentados, apenas a Pegada de Madagáscar alterações climáticas e o aumento de eventos cli-
é menor. máticos extremos, como tufões e secas periodica-
Embora a oferta vietnamita de biocapacidade mente recorrentes. A segurança da oferta alimen-
tenha aumentado na última década por meio de tar, além disso é ameaçada pela subida do nível do
reflorestação em grande escala, o uso intensivo de mar e da infiltração de água salgada no celeiro do
fertilizantes, e as mudanças nos sistemas de gestão país, as grandes terras junto à foz do Rio Verme-
agrícola (incluindo a mudança das propriedades lho e do Mekong.
estatais para propriedades privadas), em compa- A GIZ e Global Footprint Network estão agora a
ração com 1961, a biocapacidade per capita viet- considerar como o conjunto de ferramentas da
namita diminuiu de 1,4 para 0,8 gha, devido ao Pegada pode ser aplicado no Vietname para apoiar
crescimento populacional. No entanto, as acções os processos de regulação e para conceber uma
do governo vietnamita para inverter esta tendência política clara de consultoria, tanto a nível local gha/pessoa Mundo Vietname
crítica são notáveis: A partir de 1990 a biocapa- como nacional. Pegada 2,7 1,3
cidade do Vietname não só aumentou como um Biocapacidade 2,1 0,8
todo, como também numa base per capita. Assim,
apesar da sua pequena Pegada per capita, o país é
um devedor de biocapacidade e compensa o seu
défice parcialmente devido à importação de servi- A população vietnamita
ços ecológicos. Em 2005, o balanço comercial da está a crescer. Enquanto a
Pegada do Vietname foi negativo, significando que geração dos avós continua
o país importou mais Pegada incorporada do que a viver de forma muito
exportou. tradicional, as necessida-
O poder de compra do Vietname, é fraco, embora des de recursos dos seus
tenha crescido muito rapidamente. A crescente netos está a aumentar.
consciencialização de que pode haver estrangu-
lamentos futuros na oferta dos alimentos levou o
governo a aprovar um forte programa para a auto- Informação adicional
-suficiência em alimentos para a crescente popula- pode ser encontrada
ção. Também reintroduziu políticas de população. no Footprint Factbook
Métodos agrícolas ecologicamente inadequados, Vietnam 2009 de Glo-
especialmente nas encostas das montanhas, dimi- bal Foot­print Network
nuem o desempenho a médio e longo prazo da (disponível em fichei-
produção agrícola através da perda de qualidade ro PDF no DVD de
do solo. A erosão do solo fértil será agravada pelas acompanhamento).

Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos 105
Rússia
População Biocapacidade e Pegada
Devido ao colapso da União Soviética no início da em milhões em gha por pessoa
década de 1990 e a subsequente criação da Fede- 160 9
ração Rúss de Estados Independentes, a série de 150 8
dados consistentes de crescimento populacional, 140 7
Pegada e de biocapacidade para a Rússia actual só 130 6
estão disponíveis a partir de 1992. 120 5
Com uma pontuação IDH de 0,81, a Rússia está 110 4
no limiar de entrada na classificação “desenvolvi- 100 3
90 2
mento humano alto”, de acordo com o Programa
80 1
das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Em
70 0
2005, a nação do mundo com a maior massa

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de terra tinha 143,2 milhões de habitantes.

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Em 2005, a Pegada média de um Russo era de População Pegada Biocapacidade
3,7 gha, semelhante à de um Namibiano ou da
Mongol. No entanto, o Pegada Ecológica total
Russa, 536,4 milhões gha, era substancialmente res credores de biocapacidade do mundo. O poten-
maior do que a da Namíbia, da Mongólia ou cial ecológico do país reside nas suas extensas flo-
mesmo do que a Pegada total do Alemanha. A restas: Quase 21 porcento do inventário florestal
oferta de biocapacidade deste estado escassamen- do mundo e 70 porcento de todas as florestas coní-
te povoado excede a sua Pegada num factor de feras estão na Rússia. Mais recentemente, o saldo
dois. comercial da Pegada russa foi positivo; as exporta-
Com uma reserva de biocapacidade no montan- ções da Pegada Ecológica incorporada excederam
te de 4,4 gha por pessoa, a Rússia é um dos maio- as importações em 1,1 gha por pessoa.

gha/pessoa Mundo Rússia


Pegada 2,7 3,7
Biocapacidade 2,1 8,1

Na pouco povoada Rúsia


(aqui Sibéria), existem
8,1 gha de área biologi-
camente produtiva para
cada um dos seus 140
milhões de habitantes.

106 Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos
Os Estados Unidos da América
População Biocapacidade e Pegada
Com uma pontuação IDH de 0,951, os Estados em milhões em gha por pessoa
Unidos classificam-se em 15º entre os 179 países 350 10
avaliados pelo PNUD, em termos de desenvol- 300 9
vimento humano. Desde 1961, a população dos 8
250 7
E.U.A. cresceu 60 porcento; 298,2 milhões de
200 6
pessoas viviam nos E.U.A. em 2005. Isto corres- 5
ponde a uma taxa relativamente alta de cresci- 150
4
mento populacional para um país industrializado, 100 3
principalmente devido à política de imigração e 50
2
um ambiente relativamente amigo da criança na 1
0 0
sociedade americana.
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Embora tenha a terceira maior área de terra
depois da Rússia e Canadá, e seja dotado de População Pegada Biocapacidade
riquezas naturais, a capacidade biológica dos
E.U.A. tem diminuído desde 1961, tanto em
termos per capita como um todo. Em 2005, uma Pegada de 9,4 gha devido ao alto consumo
existiam 5,0 gha de área bioprodutiva por Ameri- e infra-estruturas intensiva no uso de energia. Só
cano, descendo dos 8,6 gha em 1961. A procura os Emirados Árabes Unidos têm uma Pegada per
por recursos renováveis, já era muito alta em capita tão grande.
1961 – cresceu enormemente, no entanto, até Apesar de uma grande oferta de biocapacida-
2005, tanto em termos per capita, como no todo. de, os E.U.A. tem um défice de biocapacidade
Actualmente, um Americano médio vive com de 4,4 gha por pessoa. Este alto rendimento do
país equilibra uma parte do seu défice através de
importações, com um balanço comercial de Pega-
da de -0,8 por pessoa. Isto significa que em 2005,
as importações excederam as exportações. Numa
comparação mundial, os E.U.A. ocupa o topo da gha/pessoa Mundo E.U.A.
lista tanto de exportadores como importadores de Pegada 2,7 9,4
biocapacidade. Biocapacidade 2,1 5,0

Fontes para os perfis dos países:


• www.bmz.de/en/countries/index.html
• PNUD: Relatória de Desenvolvimento Humano, 2008.
• Ewing B. et al. (2008): The Ecological Footprint
Atlas.
• WWF/ ZSL /Global Footprint Network : Relatório
Planeta Vivo 2008.
• www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/page/
trends/
• www.giz.de/latin_america
• www.giz.de/africa
• www.giz.de/asia
• WWF /Global Footprint Network (2008): Africa.
Ecological Footprint and human well-being. Os Estados Unidos da
• WWF /Global Footprint Network (2005): Asia- América (foto: Golden Gate
-Pacific 2005. The Ecological Footprint and Natu- Bridge em San Francis-
ral Wealth. co) têm a segunda maior
• www.unep.org/geo/geo4/media/fact_sheets/Fact_ Pegada Ecológica per capi-
Sheet_12_North_America.pdf ta do mundo, com 9,4 gha.

Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos 107
Alemanha e China: finita dos recursos do nosso planeta e a urgência
de de agir torna-se especialmente evidente através
uma comparação de Pegada da comparação que podemos realizar quando se
Qual o aspecto da situação para os alemães? A olha para a Alemanha e a China. As tendências
Alemanha está entre as nações mais industriali- de desenvolvimento da China, este país gran-
zadas, com alto poder de compra per capita. Na de e extremamente populoso, têm uma grande
secção seguinte, iremos analisar de forma mais influência sobre todos nós. Políticos chineses e a
aprofundada os dados de Pegada na Alemanha comunidade internacional já reconheceram isto –,
e compará-la a um dos países emergentes mais mas podemos nós usar o tempo que nos resta para
importantes do mundo: a China. A natureza seguir novos caminhos do desenvolvimento?

Alemanha China
População Biocapacidade e Pegada População Biocapacidade e Pegada
em milhões em gha por pessoa em milhões em gha por pessoa
90 7 1.400 2,5
80 1.200
6
70 2,0
5 1.000
60
800 1,5
50 4
40 3 600 1,0
30
2 400
20 0,5
10 1 200

0 0 0 0,0
1
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População Pegada Biocapacidade População Pegada Biocapacidade

gha/pessoa Mundo China Alem.


Pegada 2,7 2,1 4,2
Biocapacidade 2,1 0,9 1,9

Através do aumento dos


padrões de vida e da eleva-
da procura de energia (aqui
Shanghai) …

108 Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos
Desenvolvimento, população, populacionais mais rápidos na Região Ásia
Pegada Oriental-Pacífico, e apesar da sua política de “uma
criança”, introduzida na década de 1970, o núme-
A Alemanha, com uma pontuação de IDH de ro de habitantes na China quase que duplicou
0,94, é um país desenvolvido altamente indus- desde 1961. A Pegada per capita do país dobrou
trializado, de acordo com o PNUD. A China, em para 2,1 gha em 2005. Esta Pegada per capita
contrapartida, é considerada um país em desen- é equivalente em tamanho à média mundial de
volvimento mais avançado, com uma pontuação biocapacidade per capita disponível. No total, no
IDH de 0,78, ligeiramente inferior ao limiar de entanto, a Pegada chinesa quadruplicou e hoje é
0,8 para “desenvolvimento humano alto”. Enquan- maior do que a da União Europeia.
to o desenvolvimento se está a processar mais
lentamente nas áreas rurais, o padrão de vida para
muitos Chineses, especialmente no sul industrial, Biocapacidade, tipos de terra,
já está num nível elevado. défices de biocapacidade
Entre 1961 e 2005, a população alemã cresceu de
modo relativamente lento (13 porcento). Com 232 Após um aumento na Pegada total entre 1961 e
habitantes por km², o país é densamente povoada. 1971 causado pelas emissões de carbono (veja grá-
Ainda em termos per capita, a Alemanha tem quase fico à esquerda na p. 108), a Alemanha conseguiu
tanta biocapacidade, quanto o mundo como um todo. estabilizar a sua Pegada através de uma política
A Pegada per capita na Alemanha foi de 4,2 gha em energética inovadora e redução do consumo de
2005, quase uma vez e meia maior do que em 1961. carvão. Principalmente devido à melhoria dos
A China tinha mais de 1,3 mil milhões de pes- métodos agrícolas e de reflorestação, a biocapaci-
soas em 2005, cerca de 20 porcento da popula- dade disponível aumentou 14 porcento, represen-
ção mundial. A densidade populacional do país tando actualmente 1,9 gha por pessoa em 2005.
ascende a 139 habitantes por km², apenas cerca de A Pegada per capita da Alemanha é a terceira
metade da Alemanha. Tem um dos crescimentos maior entre os países apresentados nesta brochura,

…a Pegada de carbono
representa a maior parte
da Pegada na Alemanha e
China.

Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos 109
Composição das Pegadas Alemanha China
da Alemanha e da China
em 2005
Solo agrícola
Solo agrícola 27 %
29 %

Pegada de carbono Pegada de carbono


54 % 54 %
Área de
pasto 2 % Área de
Área de pasto 7 %
pesca 1 %
Área de
Floresta 9 % pesca 3 %

Floresta 6 %
Área construida 3 %
Área construida 5 %

Embora a biocapacida- abaixo do Japão e dos E.U.A. No entanto, se com-


Pegada e Biocapacidade em milhões gha (2005)
de disponível para um pararmos com outros países europeus ocidentais
residente médio na China membros da UE, a Pegada alemã é menor do que 3.000
seja apenas metade da a média europeia. A Pegada de carbono per capita Pegada
2.500
biocapacidade per capita de 2,3 gha (54 porcento da Pegada total em 2005), Biocapacidade
alemã, a biocapacidade um dos principais motores do aumento da Pegada, 2.000
total da China é significa- reflecte a mobilidade da sociedade alemã, o seu
1.500
tivamente maior do que a enorme consumo de energia e a sua dependência
da Alemanha. do carvão. A utilização de solo agrícola contribui 1.000
para 29 porcento da Pegada, os produtos florestais
500
para outros nove porcento.
A Alemanha apresenta um défice de biocapacida- 0
de; a diferença entre a Pegada (procura) e biocapa- Alemanha China
cidade (oferta) foi de 2,3 gha por pessoa em 2005.
O cidadão médio alemão exigiu duas vezes mais porcento. A biocapacidade global tem aumentado
área biologicamente produtiva do que está dispo- desde 1961, principalmente através da intensifica-
nível na Alemanha. Se todas as pessoas vivessem ção da agricultura; a biocapacidade da China, é
como um Alemão médio vive seriam necessários significativamente maior do que a biocapacidade
mais de dois planetas Terra para fornecer o nosso da Alemanha (ver gráfico acima). No entanto, a
consumo de recursos, não incluindo o que a vida biocapacidade per capita na China diminuiu um
de plantas e espécies animais exigem. quinto e chegou a 0,9 gha por pessoa em 2005,
A composição da Pegada chinesa é bastante seme- principalmente devido ao forte crescimento da
lhante à da Alemanha (ver gráfico circular nesta população China precisa de mais biocapacidade do
página). O país tem vindo a construir as bases que ela pode oferecer a partir da sua própria área
para a industrialização durante a última década, de superfície, apesar de sua Pegada per capita rela-
com altos gastos de energia e material. Uma con- tivamente baixa. Usa mais do que a área de “duas
sequência do rápido crescimento económico tem Chinas”, e regista, juntamente com os E.U.A.,
sido o aumento de dez vezes das necessidades ener- a maior procura por biocapacidade mundial (21
géticas chinesas. A Pegada de carbono da China, porcento da procura global cada). China tem um
é portanto, responsável por mais da metade (54 défice de biocapacidade que actualmente está em
porcento) da procura Chinesa por biocapacidade. 1,2 gha por habitante. A um nível per capita, esse
A utilização de solos agrícolas para a produção défice não é muito elevado. Quando se examina a
de produtos agrícolas teve uma taxa de 27 por- soma total, no entanto, torna-se evidente o seguin-
cento do total da Pegada, produtos florestais seis te: Enquanto biocapacidade total chinesa, de

110 Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos
facto, cresceu 54 porcento desde 1961, um enorme Comércio e Pegada Ecológica
aumento da procura de recursos provocou um Tanto a China como a Alemanha são dependentes
aumento de mais de 300 porcento para a Pegada das importações líquidas de outros países para
total do país. equilibrar seus défices de biocapacidade. A China
Com um défice de biocapacidade crescente, o país tornou-se um centro mundial de fabrico de produ-
mais populoso da Terra está a arriscar a degrada- to. As suas relações comerciais são caracterizadas
ção dos seus ecossistemas e, em última instância, por importações de matérias-primas (por exemplo,
o colapso dos serviços dos ecossistemas, que são metais e madeira da América Latina, petróleo e
de importância vital. Tanto na China, como na algodão de África, ou lã da Austrália), dos quais Uma série de perguntas,
Alemanha, uma redução considerável das emissões apenas um quarto permanece no país. A alteração sugestões e ideias para
de carbono poderia reduzir significativamente o dos hábitos de consumo Chineses que tem acom- pesquisas futuras sobre
défice de biocapacidade. Devido ao elevado grau panhado um melhor padrão de vida (tal como o os dados da Pegada da
de urbanização em ambos os países, investimentos aumento do consumo de carne e de leite), estão a Alemanha e da China
em infra-estrutura que levem a uma redução no exigir um número crescente de importações, ou podem ser encontradas a
consumo de recursos serão importantes. seja, produtos agrícolas e produtos pastorícios. partir da p. 115.

A China importa matérias-


-primas tais como metal,
madeira, petróleo e
algodão.

Fontes e informação
adicional:
• WWF /Global Footprint
Network (2005): EURO-
PE 2005. The Ecological
Footprint .
• WWF /Global Footprint
Network (2005): Asia-
-Pacific 2005. The Eco-
logical Footprint and
Natural Wealth.
• CCICED / WWF-China /
Global Footprint
Network (2008): Report
on Ecological Footprint
in China.
• WWF/ ZSL /Global Foot-
print Network : Relatório
Planeta Vivo 2008.
• Ewing B. et al. (2008):
The Ecological Footprint
Atlas.
• Umweltbundesamt
(2007)
• Climate Change 2007
• Greenpeace (2008)

Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos 111
A Pegada incorporada
das importações da China
(acima) excedeu as suas
exportações (abaixo).
Mais de 90 porcento das
importações são pro-
venientes de 20 países
(dados 2005).

Milhões de hectares globais


Mais de 25
10–25
5–10
1–5
Menos de 1
Dados insuficientes

Milhões de hectares globais


Mais de 25
10–25
5–10
1–5
Menos de 1
Dados insuficientes

Fonte: WWF/ZSL/Global Footprint Network: Relatório Planeta Vivo 2008

Embora uma grande parte dos recursos deixe em parte pelo uso de recursos para a exporta-
novamente a China na forma de produtos acaba- ção de produtos manufacturados, por exemplo,
dos (por exemplo, papel, mobiliário ou têxteis) automóveis).
para os E.U.A., Japão, Austrália, Coreia do Sul e
UE, as importações totais excederam as exporta-
ções em 2005; o equilíbrio comercial neste ano foi Perspectivas Futuras
negativo.
A Alemanha, por outro lado, teve um saldo Alemanha
comercial positivo e exportou mais do que impor- O desenvolvimento da Alemanha de processos de
tou em 2005; a Pegada do consumo alemã foi produção amigos do ambiente, serviços e procedi-
0,4 gha per capita mais pequena do que a Pega- mentos tornam o país um pioneiro ambiental no
da primária da produção. Isto pode ser causado mundo industrializado.

112 Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos
A Pegada Ecológica está a ser cada vez mais uti- A principal causa para isto é a Pegada de carbono, Fontes e informação
lizada nas políticas alemãs e da UE e está a ser que tem aumentado nas últimas décadas através adicional:
empregada em muitos lugares a nível regional, por do consumo de combustíveis fósseis. De acordo • Bayerisches Landes­
exemplo, em processos de Agenda 21. Estudos de com os líderes políticos na Baviera, para reduzir amt für Umwelt (2007):
Pegada já foram concluídos para cidades como a sua Pegada, Baviera necessitaria de aumentar o Umweltbericht Bayern.
Berlim e Munique desde 2000 (ver o estudo de investimento em energias renováveis, mudar os • Umweltbundesamt
caso sobre Berlim na p. 43). Em 2007, a Agência hábitos de transporte dos cidadãos, use aqueci- (2007)
Federal para o Meio Ambiente (o Umweltbundes­ mento e tecnologias de isolamento mais modernas, • Klebel, Christoph
amt) patrocinou uma análise abrangente e uma e renovar os edifícios mais antigos. A redução do (2004): Nachhaltigkeit
avaliação quanto ao possível uso da Pegada Ecoló- consumo de carne reduziria igualmente a Pegada und Umweltbewusst-
gica como indicador ambiental para a Alemanha. Ecológica da Baviera. O estudo mostrou que é sein in Bayern (Resumo
possível ter na Baviera, se forem feitos esforços disponível em fichei-
A Pegada da Baviera relevantes a nível tecnológico, financeiro, de infra- ro PDF no DVD de
A Baviera é o primeiro estado alemão a ter calcu- -estrutura e educação política, uma economia sus- acompanhamento).
lado a sua Pegada Ecológica. O estudo foi reali- tentável dentro da sua biocapacidade. • Treffny, Raphael (2003)
zado no âmbito de uma tese de doutoramento na
Universidade de Augsburgo, utilizando bases de China
dados a partir do ano de 2000. A Pegada de toda Desde 1999, várias dezenas de estudos de Pega-
a população da Baviera contabilizou 51 milhões da foram realizadas na China, a vários níveis,
gha de terra biologicamente produtiva, que é de e muitos dos resultados científicos foram tidos
4,2 gha líquidos per capita. No entanto, Pegada em conta nas decisões governamentais. Políticos
Ecológica da Baviera excedeu a sua biocapacidade. chineses e o público estão conscientes de que as

Em que direcção está a


ir a Baviera? Um estudo
revelou que neste estado
federal é certamente pos-
sível ter uma economia
sustentável sem compro-
meter a qualidade de vida.

Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos 113
futuras decisões sobre o consumo de recursos estão
intimamente ligadas à sua competitividade, bem
como o destino do nosso planeta.
Seis estratégias ambientais devem moldar o desen-
volvimento futuro da China. Elas foram reunidas
numa abordagem conceptual usando o acrónimo
CIRCLE:
1 C (compacto) apoia o desenvolvimento urba-
no espacialmente compactado para limitar
a expansão urbana. Mais espaços verdes nos
centros urbanos devem fazer uma melhor uti-
lização dos serviços dos ecossistemas (ar puro,
água potável, etc.); “Sim, os políticos Chineses depositam
2 I (individual) significa o consumo responsável
valor no desenvolvimento sustentável e
de cada indivíduo e alcança-se desde a efici- na interacção entre as pessoas e a natu-
ência energética aos hábitos de poupança dos reza. Está a ser dada atenção ao proble-
recursos alimentares; ma da sobreexploração dos recursos e o
3 R (reduzir) centra-se na redução dos fluxos de
conceito de Pegada suporta a sua solu-
resíduos ocultos, especialmente quando são ção. [...] Embora existam conflitos entre o
usadas fontes de energia fósseis; desenvolvimento e a protecção ambien-
4 C (carbono) refere-se a estratégias de redução
tal, a população da minha cidade natal,
de CO2; Chengdu, está a tentar encontrar um
5 L (terra) sustenta-se no ordenamento de ter-
equilíbrio entre estes chamados extre-
ritórios alvo para manter a produtividade das mos. Por isso estou tão optimista como
áreas agrícolas, e para manter e melhorar o sempre, em relação ao futuro.”
rendimento e, consequentemente, aumentar a
biocapacidade da China; ErShan Chen da China, Estudante Gestão
6 E (eficiência) empenha-se por um modelo eco- de Florestas, Preservação dos Recursos, e
nómico cíclico no qual os resíduos são recicla- Turismo e participante na Go 4 Biodiv
dos e utilizados novamente.

Pegada e biocapacida-
16
de de todos os países
Pegada Biocapacidade
apresentados (em gha/
14
pessoa)
12

10

0
Mundo Chile México Mauritânia Japão Vietname E.U.A. China
Brasil Equador Madagáscar Namíbia Mongólia Rússia Alemanha

114 Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos
Decisões sobre o consumo
de recursos têm efeitos
directos sobre a competiti-
vidade chinesa.

Sugestões para trabalhos futuros:


Pegadas nacionais: factores de influência e tendências
Com a ajuda da tabela das p. 118 e 119 consideremos:

Entre 1961 e 2005 muitas coisas mudaram nos medida em hectares globais (gha) (a área
nossos 14 países. que pode produzir recursos renováveis) é
• Em dois países, a Pegada per capita mais cinco vezes maior que sua área territorial?
que duplicou. Quais são esses países? Quais O que significa isto?
os factores que levaram a este aumento? • A Pegada total do Chile não sofre altera-
• Em que países diminuiu a Pegada per capi- ções desde 1961. O valor per capita, no
ta? Estão estes países, como a Mongólia, entanto, tem decrescido drasticamente. Por-
a seguir a direcção certa? Existe alguma que isto acontece?
coisa que possamos aprender com eles e • No Brasil, a biocapacidade total aumen-
fazer igual? Observe também o IDH destes tou ligeiramente, mas a biocapacidade per
países. Existem acontecimentos positivos capita diminuiu. Quais são as possíveis
e negativos que podem reduzir a Pegada: razões para isso? Na bacia da Amazónia,
Aqueles que estão previstos são geralmente 17 porcento da cobertura de floresta origi-
bons; eventos dramáticos ou não planeados, nal foi destruída e grande parte desta área
como a guerra, o colapso dos sistemas é agora utilizada para o cultivo de soja.
económicos ou catástrofes naturais são Aqui temos um exemplo da perda de diver-
devastadores. sidade biológica, por um lado, e um aumen-
• Na Alemanha, a biocapacidade total aumen- to simultâneo na biocapacidade por outro.
tou ligeiramente desde 1961. Como é que Você pode explicar o porquê? Se gostaria de
aconteceu este aumento? Já lhe ocorreu ler mais, a situação é descrita mais deta-
que a biocapacidade total da Alemanha lhadamente na p. 32.

Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos 115
• Em Madagáscar, Mauritânia e Namíbia a destes países? Pense sobre o facto de que
população aumentou mais de 200 porcento. o acesso à educação, planeamento familiar
Existem muitas oportunidades para reforçar e cuidados de saúde tornam possível às
investimentos na educação das mulheres mulheres terem um emprego. Pesquise sobre
nestes países. Como pensa que a educação isto na página web do BMZ www.bmz.de/en
iria afectar a Pegada e a biocapacidade (introduza women’s rights na sua pesquisa).

Considere o papel do estilo de vida na disponi-


bilidade de biocapacidade: pequena que o seu equilíbrio comercial da
• Compare Mongólia com os Estados Unidos. biocapacidade já está a descer para a zona
Que diferenças encontra? negativa?
• Quais podem ser os factores que contri- • A reserva de biocapacidade da Mauritânia,
buem para o facto dos Estados Unidos como como em muitos países africanos, está a
um grande país, relativamente pouco povo- ser ameaçada pela seca e pelas altera-
ada e rico em recursos exija o dobro da ções climáticas. Além disso, a população é
biocapacidade da que têm disponível? Qual muito pobre. Em que sectores poderiam as
poderia ser o papel do comportamento do estratégias políticas e projectos de coope-
consumidor americano? Qual poderia ser o ração para o desenvolvimento ser lançados
papel da infra-estrutura? Que papel desem- para apoiar o país? Para mais informações,
penha a qualidade do parque habitacional? aceda à página web da GIZ : www.giz.de/
Como isto irá afectar a competitividade do mauritania.
país, se as tendências actuais continuarem? • A Cidade do México é uma das maiores cida-
Acha que os E.U.A. eventualmente acabarão des do mundo. Descubra quantos mexicanos
por reduzir a sua Pegada? E se sim, quais vivem nas cidades. Que percentagem da
as razões? Pegada nacional têm os centros urbanos do
• Na Mongólia a biocapacidade per capita é México? O que poderia ser alcançado com a
bastante elevada. Porquê? Considere que medição da Pegada das cidades mexicanas?
o país tem extensas estepes, mas que não • O que significa quando um devedor de
são muito produtivos por hectare. Observe biocapacidade usa a biocapacidade noutro
os números de população. Qual poderia país, seja por importação ou utilização gra-
ser a razão para que a biocapacidade total tuita dos serviços ecológicos? Desenvolve-
do país seja relativamente pequena – tão -se à custas dos outros?

Ser ecologicamente sustentável significa gerir biocapacidade da Rússia é contabilizada no


dentro dos limites da capacidade de regene- entanto em 8,0 gha por pessoa. Assim, o
ração da natureza e ter em consideração as país é um credor de biocapacidade. Seria
necessidades de outras formas de vida. Se a ainda assim de interesse próprio a Rússia
Pegada (procura) é maior do que a biocapa- gerir a sua Pegada? Porquê?
cidade (oferta), ou os recursos locais que são • O que significa a quantidade de Pegada
sobreexplorados ou importados de outros paí- Ecológica incorporada em mercadorias
ses aumentam. importadas de países como os Estados
• Pode-se designar a Rússia como ecologi- Unidos, China, Japão (e México!) ser muito
camente sustentável? A Rússia consome elevada, enquanto, em contrapartida, outros
significativamente mais (uma Pegada média países têm um saldo comercial positivo
de 3,7 gha) do que a biocapacidade global (exportações > importações), e outros estão
média per capita disponível (2,1 gha). A próximo de um equilíbrio entre importações

116 Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos
e exportações? O que têm os respectivos isto representa um risco para a sua com-
países em comum? Os tipos de biocapaci- petitividade e desenvolvimento económico
dade disponível internamente são os mes- futuro? Como pode o Japão mitigar esses
mos nos três países? Observe também o riscos?
PIB e os IDH dos países. • Na China, a Pegada per capita é igual à
• Madagáscar pode de facto ter uma reserva biocapacidade média mundial per capita
de biocapacidade respeitável; porém, as disponível. Este país asiático, no entanto
importações da biocapacidade incorporada usa o dobro da quantidade de Pegada tal
são ainda mais elevadas do que as suas como a quantidade de biocapacidade den-
exportações. Isto pode ser verdade? Porque tro das suas fronteiras. O que acontece se
pode Madagáscar precisar de importar uma estas actividades económicas continuam
quantidade líquida de recursos? a crescer em cinco, seis porcento por ano
• O Japão tem muito poucos recursos dispo- (como aconteceu em 2008) e se modelos de
níveis no seu próprio território. Será que desenvolvimento ocidental forem copiados?

Acima de tudo, com respeito às suas enor- conservação da natureza, tecnologias agrí-
mes crescentes populações, muitos países colas e monoculturas?
com um défice de biocapacidade, incluindo a • Quais os desafios que devem ser domina-
China, querem aumentar a sua biocapacidade dos no que diz respeito aos factores socio-
através da melhoria dos rendimentos das suas culturais, tais como o conhecimento tradi-
colheitas. cional sobre como lidar com a natureza, ou
• Como pode uma subida de biocapacidade sobre a gestão sustentável dos recursos?
influenciar os seguintes factores, ou estar Que oportunidades traria um aumento da
relacionada com eles: biodiversidade, biocapacidade?

As tendências de desenvolvimento de cada país • A biocapacidade per capita do Equador está


poderão ter consequências para todos nós. em constante queda. Para satisfazer a fome
• Por exemplo, que importância tem a posi- da sua crescente população por recursos
ção do Brasil, como uma das maiores renováveis, o país deve importar a biocapa-
nações credoras, para a preservação do cidade de outros países. Como irá financiar
ecossistema da floresta tropical? Em que esta situação no futuro? Há alguns anos
consistem as exportações de biocapacidade atrás, determinou-se que existem grandes
do país? Em que medida poderia a posição quantidades de petróleo no Parque Nacional
do Brasil no cenário mundial mudar no Equatoriano Yasuni. O governo está agora
futuro? pronto para partilhar a responsabilidade por
• A Rússia tem uma grande e cada vez mais esta área de floresta biologicamente valiosa
valiosa, reserva de biocapacidade, princi- e casa para os povos indígenas: Pretende
palmente porque as florestas são impor- permanentemente renunciar a renda da pro-
tantes como sumidouros de CO2 . Poderia dução de petróleo, se receber uma compen-
isto afectar a posição política da Rússia? sação financeira da comunidade internacional
A forte posição da Rússia poderá mudar no valor de 350 milhões de dólares por ano
quando o aquecimento da Terra derreter a ao longo de 13 anos. Como tal negociação
vasta extensão de permafrost e enormes ser configurada? Que outras opções tem o
quantidades de gases com efeito estufa governo equatoriano se quiser dar a volta às
forem libertados? tendências de biocapacidade e/ou Pegada?

Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos 117
Informação e dados dos
Mundo Brasil Chile Equador México Madagáscar
países
Dados dos Área em milhões de 51.007**** 851,2 75,7 28,4 197,3 58,7
países hectares
seleccionados
População em milhões 3.092 74,9 7,8 4,6 38,1 5,5
(1961)

População em milhões 6.476 186,4 16,3 13,2 107,0 18,6


(2005)

Densidade populacional 13 22 22 47 54 32
em habitantes por km²
(2005)

Densidade populacional 48 14 24 48 59 27
ajustada à biocapacidade
em habitantes/km² glo-
bais (2005)*

IDH — 0,81 0,87 0,81 0,84 0,53


Posição X. de 179 países 70. 40. 72. 51. 143.
(2006)

* Este valor arredon- Happy Planet Index (HPI) — 48,6 51,3 49,3 54,4 46,0
Posição X. de 178 países 63. 51. 58. 38. 71.
dado mostra quantos (2006)
habitantes partilham um
km² de biocapacidade Pegada Ecológi- Pegada do consumo 6.974 186,5 18,1 6,7 71,9 12,6
ca e biocapaci-
em termos absolutos. dade total 1961 Biocapacidade 13.011 1.339,1 67,4 34,2 164,1 68,6
Por exemplo, Brasil: bio- (em milhões
gha) Reserva de biocapacida- +6.037 +1.152,6 +49,3 +27,5 +92,2 +56,0
capacidade = 7,3 gha/ de (+) ou défice (-)
habitantes = 7,3/100
Pegada Ecológi- Pegada do consumo 17.443 439,2 49,0 29,1 361,9 20,1
gkm² = 100/7,3 habitan-
ca e biocapaci-
tes = 13,7 habitantes/ dade total 2005 Biocapacidade 13.361 1.353,8 67,4 28,3 178,4 69,7
gkm² (em milhões
gha) Biocapacidade por uni­ 0,26 1,59 0,89 1,00 0,90 1,19
dade de área em gha/ha
** Saldo comercial =
Reserva de biocapacida- -4.082 +914,6 +18,4 -0,8 -183,5 +49,6
distribuição das impor- de (+) ou défice (-)
tações e exportações
de biocapacidade incor- Saldo comercial** — +180,3 +18,9 -0,5 -131,7 -1,3
porada de um país. Pegada Ecológi- Pegada do consumo 2,3 2,5 2,3 1,5 1,9 2,3
Para um valor positivo ca e biocapaci-
dade per capita Biocapacidade 4,2 17,9 8,6 7,5 4,3 12,5
exportações > importa-
1961 (em gha
ções (saldo comercial per capita) Reserva de biocapacida- +1,9 +15,4 +6,3 +6,0 +2,4 +10,2
positivo); para um valor de (+) ou défice (-)
negativo importações Pegada Ecológi- Pegada do consumo 2,7 2,4 3,0 2,2 3,4 1,1
> exportações (saldo ca e biocapaci-
dade per capita Biocapacidade 2,1 7,3 4,1 2,1 1,7 3,7
comercial negativo)
2005 (em gha
per capita) Reserva de biocapacida- -0,6 +4,9 +1,1 -0,1 -1,7 +2,6
de (+) ou défice (-)
*** Aumento ou dimi-
nuição é calculado em Saldo comercial** — +1,0 +1,2 -0,0 -1,2 -0,1
relação a valores per
Variação População +109 +149 +108 +190 +181 +238
capita percentual
1961 a 2005 Pegada do consumo*** +19 -5 +30 +49 +79 -53
**** Superfície total da Biocapacidade*** -51 -59 -52 -71 -61 -70
Terra

118 Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos
Mauritânia Namíbia Japão Mongólia Vietname Rússia E.U.A. Alemanha China

103,1 82,5 37,8 156,4 33,0 1.707,5 982,7 35,7 959,7

1,0 0,6 95,0 1,0 34,5 — 189,1 73,4 672,8

3,0 2,0 128,1 2,6 84,2 143,2 298,2 82,7 1.323,3

3 2 339 2 255 8 30 232 138

16 11 167 7 125 12 20 53 111

0,56 0,63 0,953 0,72 0,72 0,81 0,951 0,94 0,76


140. 129. 8. 112. 114. 73. 15. 23. 94.

37,3 38,4 41,7 49,6 61,2 22,8 28,8 43,8 56,0


124. 118. 95. 56. 12. 172. 150. 81. 31.

3,8 2,9 195,8 5,4 29,8 — 1.001,0 211,2 639,4

18,5 18,0 94,7 43,7 49,7 — 1.633,6 140,4 737,7

+14,7 +15,1 -101,1 +38,3 +19,9 — +632,6 -70,8 +98,3

5,8 7,5 626,6 9,2 106,2 536,4 2.809,7 349,5 2.786,8

19,6 18,2 77,2 38,8 67,7 1.161,9 1.496,4 160,5 1.132,7

0,19 0,22 2,04 0,25 2,05 0,68 1,52 4,50 1,18

+13,8 +10,7 -549,4 +29,6 -38,5 +625,5 -1.313,3 -189,0 -1.674,1

-0,4 +0,3 -204,8 -0,6 -14,1 +163,2 -236,7 +31,3 -165,5

3,7 4,7 2,1 5,4 0,9 — 5,3 2,9 1,0

18,0 29,4 1,0 44,5 1,4 — 8,6 1,9 1,1

+14,3 +24,7 -1,1 +39,1 +0,5 — +3,3 -1,0 +0,1

1,9 3,7 4,9 3,5 1,3 3,7 9,4 4,2 2,1 Fontes:
• CIA (2009): The World
6,4 9,0 0,6 14,6 0,8 8,1 5,0 1,9 0,9
Factbook.
+4,5 +5,3 -4,3 +11,1 -0,5 +4,4 -4,4 -2,3 -1,2 • PNUD: Relatório de
Desenvolvimento Huma-
-0,1 +0,1 -1,6 -0,2 -0,2 +1,1 -0,8 +0,4 -0,1 no, 2008.
• Global Footprint
+200 +231 +35 +169 +144 — +58 +13 +97
Network
-49 -21 +137 -36 +46 — +78 +47 +122 • new economics
-65 -69 -40 -67 -44 — -42 +2 -22 foundation, www.
happyplanetindex.org

Parte 6: Pegadas nacionais: vivendo sobre pés grandes, e sobre pequenos 119
Parte 7:
Apêndice

Terminologia específica “alimentos” ou à categoria “consumo de bens e


serviços” mas também à categoria “habitação”.
da Pegada
Consumo
Muitos termos específicos associados Utilização de bens ou de serviços. No que diz res-
ao conceito de Pegada Ecológica são peito à Pegada Ecológica, o consumo refere-se ao
aplicados com base no glossário uso de bens ou serviços. Um bem ou serviço con-
do Global Footprint Network: www. sumido contém todas as matérias-primas e energia,
que eram necessárias para torná-lo disponível para
footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/
o consumidor.
page/glossary
Contas Nacionais da Pegada
Área bioproductiva/área biológicamente As Contas Nacionais da Pegada contêm dados
productiva de Pegada do mundo e mais de 150 países desde
ver Terra e água biologicamente produtiva 1961 até hoje. Dados mais completos e coerentes a
nível mundial, estão mais disponíveis para o nível
Áreas florestais para assimilação de carbono nacional, do que para os níveis da cidade ou do
Área de terra biologicamente produtiva, disponível agregado familiar. Portanto, as Contas Nacionais
que é capaz de assimilar, através da fotossíntese, da Pegada são um elemento central de contabilida-
o dióxido de carbono emitido pela combustão de de da Pegada. Elas são continuamente desenvolvi-
combustíveis fósseis (após dedução do montante das e melhoradas por Global Footprint Network e
assimilado pelos oceanos). mais de 90 parceiros.

Biocapacidade ou capacidade biológica Défice/reserva de biocapacidade


É a capacidade dos ecossistemas produzirem mate- A diferença entre a capacidade biológica e Pega-
riais biológicos úteis aos seres humanos e absorve- da Ecológica de uma região ou país. Um défice
rem os resíduos gerados pelos seres humanos, utili- de biocapacidade ocorre quando a Pegada de uma
zando os meios tecnológicos actuais. Um material população excede a área biologicamente produ-
é biologicamente útil se for usado em processos tiva. O termo défice teve origem no vocabulário
económicos, que podem mudar de ano para ano económico e transmite um estado de redução de
(por exemplo, a utilização dos caules e as folhas biocapacidade; foi cunhado pelo Global Footprint
secas do milho para produção de etanol aumen- Network. Por outro lado, existe uma reserva de
taria a biocapacidade do solo agrícola de milho, biocapacidade, quando a área biologicamente pro-
pois, além das espigas de milho, as folhas secas dutiva de uma região é maior do que Pegada de
e os caules também se iriam tornar um material sua população. Os estados tentam equilibrar o seu
útil). A biocapacidade de uma área (em hectares défice através dos seguintes mecanismos: pelo uso
globais) é calculada pela multiplicação da área excessivo de seus próprios ecossistemas (por exem-
física real pelo factor de rendimento e o factor plo, o excesso de pastoreio), através da importação
de equivalência adequado. e da apropriação (não paga) de serviços ecológicos
de outros países (por exemplo, através de emissões
Capacidade biológica de CO2 que se concentram na atmosfera).
Ver Biocapacidade
Dia do Excesso da Terra
Componentes de consumo ver Excesso
A Pegada total pode ser atribuída aos seguintes
componentes de consumo: alimentação, habitação, Dupla contagem
mobilidade, bens e serviços. Para evitar dupla con- O método de contabilidade da Pegada Ecológica
tagem, todos os bens de consumo são atribuídos evita qualquer tipo de dupla contagem. Por exem-
a apenas uma categoria de consumo. Por exem- plo, ao adicionar a Pegada Ecológica numa cadeia
plo, um frigorífico pode ser atribuído à categoria de produção (por exemplo, um campo de trigo,

120 Parte 7: Apêndice – Terminologia específica da Pegada


moinho de farinha, e padaria), o estudo deve con- biologicamente produtiva na Terra, o factor de
tar o solo agrícola para o cultivo de trigo apenas equivalência é maior do que 1. Assim, para con-
uma vez, evitando a dupla contagem. Semelhantes, verter um hectare médio de solo agrícola em hec-
porém menores, os erros podem surgir na análise tares globais, por exemplo, é multiplicado pelo
de uma cadeia de produção quando o produto factor de solo agrícola equivalente de 2,21. Áreas
final é usado para produzir as matérias-primas, de pasto, que têm produtividade menor do que
que por sua vez são usadas para fazer o produto os solos agrícolas, têm um factor de equivalência
final (por exemplo, o aço é usado em camiões e de 0,48.
equipamentos de terraplanagem, utilizados para
explorar o ferro de que é feito o aço). Uma terceira Factor de rendimento
fonte de erro surge quando a terra serve múltiplas Cada país e cada ano têm factores de produção
finalidades (por exemplo, um agricultor realiza específicos para solo agrícola, área de pasto, flo-
uma colheita de trigo no inverno e, em seguida, resta e área de pesca dado que a produtividade
planta milho para colher no Outono). Neste caso, destes tipos de terra mudam constantemente. Por
o factor de rendimento é ajustado para reflectir exemplo, em 2005, o solo agrícola alemão foi 2,5
a maior bioprodutividade da terra duplamente vezes mais produtivo do que a média mundial
cultivada. do solo agrícola. O factor de rendimento do solo
agrícola alemão de 2,5, multiplicado pelo factor
Excesso de equivalência do solo agrícola de 2,2 hectares
Ocorre quando a procura humana de recursos converte o solo agrícola alemão em hectares glo-
naturais excede os activos reais. As capacidades bais: Um hectare de solo agrícola alemão era igual
regenerativas do planeta estão sobrecarregadas a a 6,0 gha em 2005.
partir do momento em que o défice de biocapa-
cidade global não pode ser equilibrado através Hectares globais (gha)
do comércio. Se a quantidade de capacidade A unidade de medida que indica a produtividade
biológica produzida num ano for estimada, pode das áreas de terra e água biologicamente produ-
ser determinada uma data simbólica em que os tivas (a produtividade média por hectare num
recursos renováveis para o ano em curso já foram ano). Eles quantificam a capacidade biológica
utilizados. Em 2010, este Dia do Excesso da Terra do planeta, bem como a sua procura pelos seres
foi a 21 de Agosto: Isto significa que a partir de humanos (ou seja, a Pegada Ecológica).
1 de Janeiro de 2010 até esta data, a humanidade
já tinha usado tanta biocapacidade quanto a terra Margem de biodiversidade
podia oferecer para todo o ano de 2010. A fórmula A quantidade de biocapacidade contendo diver-
para calcular o Dia do Excesso da Terra é (bioca- sos ecossistemas e populações viáveis de espécies
pacidade / Pegada global) x 365. De uma pers- animais, em reservas naturais, por exemplo. A
pectiva global o Excesso é, portanto, idêntico ao quantidade que necessita de ser reservada depende
vasto défice de biocapacidade mundial. Um país, do resultado desejado e da diversidade de espé-
no entanto, pode ter um défice de biocapacidade cies designada. A Pegada não tem em conta esta
sem estar em Excesso local. Isto acontece quando biocapacidade. Global Footprint Network sugere
os recursos são importados, evitando assim o uso que 20 porcento estejam disponíveis para a vida
excessivo dos seus próprios recursos ecológicos. animal e espécies vegetais selvagens. Os principais
cientistas como o ex-professor de Harvard, E.O.
Factor de equivalência Wilson defendem que devem ser reservados 50
Com o auxílio deste factor, e do factor de rendi- porcento da biocapacidade global.
mento, tipos de terra específicos (por exemplo,
solo agrícola ou floresta) podem ser convertidos Matriz de consumo e uso do solo
numa unidade de área biologicamente produ- A matriz (abaixo) é preenchida a partir dos dados
tiva, um hectare global. Para os tipos de terra das Contas Nacionais de Pegada. No processo,
com maior produtividade, do que a produti- todos os principais seis tipos de terra (colunas)
vidade média de toda a área de terra e água e cinco áreas de consumo (linhas) são registados.

Parte 7: Apêndice – Terminologia específica da Pegada 121


Matriz de consumo e uso Solo Área de Área de Área Floresta Pegada de Total
do solo agrícola Pasto Pesca construída carbono

Alimentação

Habitação

Mobilidade

Bens

Serviços

Total

Cada área de consumo pode ser ainda mais actualmente demasiado pequena para absorver
desagregada para mostrar informações mais deta- toda a quantidade de CO2 produzida pelos seres
lhadas. As matrizes são também utilizadas para humanos. Isto resulta no aumento das concentra-
realizar cálculos a nível regional ou local. Nestes ções de CO2 na atmosfera. A Pegada de carbono é
casos, os dados nacionais são ajustadas ao padrão uma figura de destaque no debate sobre alterações
de consumo de uma região ou uma cidade. climáticas. Nem todos os métodos de cálculo
para emissões de carbono traduzem as toneladas
Normas da Pegada Ecológica de CO2 em áreas de floresta necessárias para
As normas contêm os critérios, metodologia, assimilar o CO2 – alguns apenas documentam
fontes de dados e relatórios de estudos relativos as toneladas de CO2 ou as toneladas de CO2 por
à Pegada. Elas servem para produzir resultados Euro. Os efeitos das emissões de CO2 em áreas
transparentes, fiáveis e comparáveis entre si, em biologicamente produtivas encontram-se fora do
estudos feitos para o cálculo da Pegada. Estas âmbito da Pegada.
normas são estabelecidas pelo Global Footprint
Network Standards Committee, que é composta por Pegada primária da produção
cientistas e profissionais de todo o mundo. A Pegada primária da produção inclui todas as
áreas de um país que são necessárias para a produ-
Pegada ção de produtos primários (solo agrícola, área de
ver Pegada Ecológica pasto, floresta e área de pesca), a área construída
de um país (estradas, fábricas, cidades), e a área
Pegada “colectiva” necessária para a assimilação de emissões de CO2
A biocapacidade é usada para a construção de do país, resultantes da queima de combustíveis
infra-estrutura pública, que pode ser usada por fósseis.
todos os habitantes de um país (por exemplo,
estradas, vias ferroviárias, hospitais, sistemas de Pegada do consumo
esgoto, escolas e linhas de energia). A Pegada Esta é a forma mais utilizada de Pegada Ecológi-
“colectiva” mostra que, independentemente do ca. A Pegada do consumo inclui a área necessária
estilo de vida individual e o consumo da natureza, para produzir os materiais consumidos e a área
a Pegada de um Alemão ou de um Norte-ameri- necessária para assimilar os resíduos. A Pegada do
cano é claramente superior à de um vietnamita ou consumo de uma nação é calculada nas Contas
de um benimense. Nacionais de Pegada como a Pegada primária
da produção de uma nação, menos a Pegada das
Pegada de carbono exportações e mais a Pegada das importações de
Área de terra biologicamente produtiva que é biocapacidade. Por exemplo, se um país cultiva
necessária para assimilar o dióxido de carbono algodão para exportação, os recursos naturais
(que não é absorvido pelos oceanos). A oferta da necessários para a produção não serão calculados
biocapacidade correspondente (floresta reser- como parte da sua Pegada do consumo. Pelo con-
vada para absorção de carbono) é, no entanto, trário, eles são adicionados à Pegada do consumo

122 Parte 7: Apêndice – Terminologia específica da Pegada


do país importador e consumidor de t-shirts Planetas equivalentes
produzidas a partir do algodão. A Pegada média Se todos os seres humanos vivessem como um
nacional ou per capita é igual à Pegada de um país Europeu médio, seriam necessários cerca de 3
dividida pela respectiva população. planetas; com padrões de consumo Americanos, 5.
O planeta é equivalente é a relação entre a Pegada
Pegada Ecológica individual (Pegada média por habitante) e a capa-
A medida da quantidade de terra e água biologi- cidade biológica per capita da Terra disponível
camente produtiva que um individuo, uma popu- (2,1 gha em 2005). Em 2005, a Pegada Ecológica
lação ou uma actividade requerem para produzir média mundial de 2,7 gha per capita equivale a
todos os recursos que consomem, e para assimilar mais de 1,3 planetas equivalentes. Para 2010, essa
os resíduos produzidos usando a tecnologia exis- proporção foi superior a 1,4.
tente e as práticas de gestão de recursos. A Pegada
Ecológica é geralmente medida em hectares glo- Produtividade
bais. Porque o comércio é global, a Pegada de um A quantidade de material biológico útil para o ser
país pode incluir áreas de terra de diferentes locais humano que é produzido numa determinada área.
do planeta. Na agricultura, a produtividade também é chama-
da rendimento.
Pegada energética
A soma de todas as áreas usadas para fornecer Recursos
energia que não é utilizada em produção ali- Um termo genérico para todos os recursos que os
mentar, para humanos ou animais. É a soma da seres humanos necessitam para a actividade econó-
Pegada de carbono, área hidroeléctrica, flores- mica. Uma distinção entre recursos naturais (fac-
ta para lenha e solo agrícola para culturas para tores bióticos e abióticos) e os recursos artificiais
biocombustível. (infra-estruturas, edifícios, máquinas, o conheci-
mento humano). Os recursos naturais são diferen-
Pegada neutra ou negativa ciados consoante são renováveis (plantas, animais,
As actividades humanas ou serviços que não resul- água no âmbito do seu ciclo natural) ou não
tam em qualquer aumento na Pegada Ecológica renováveis (depósitos minerais, carvão, petróleo, e
são designados neutros. Se eles resultam numa mesmo o solo). Na linguagem diária, a designação
redução da Pegada Ecológica, falamos então de recursos naturais é muitas vezes utilizada para
Pegada negativa. Por exemplo, se uma casa foi referir apenas os que são renováveis. Os recursos
substancialmente remodelada, as medidas de reno- não renováveis são finitos e esgotáveis. Nesta bro-
vação aumentam a Pegada da propriedade através chura os conceitos de recursos naturais renováveis/
do fabrico do isolamento e da sua instalação. Por matérias-primas e recursos regenerativos/matérias-
outro lado, o isolamento reduz as necessidades -primas são usados como sinónimos.
energéticas para aquecimento e arrefecimento.
Rendimento
Pegada nuclear A quantidade de produto primário que uma popu-
A partir da edição de 2008 das Contas Nacionais lação que é capaz de extrair de uma determinada
da Pegada, a energia nuclear deixou de ser inclu- área de terra ou de água biologicamente produ-
ída no cálculo da Pegada, uma vez que se revelou tiva, por ano.
ser metodologicamente questionável a expressão
da energia nuclear em termos de área. A energia Reserva de biocapacidade
nuclear implica outros riscos ambientais não abor- Ver défice/reserva de biocapacidade
dados pela Pegada, tais como fins militares, o
risco operacional e a longa vida dos resíduos radio- Reserva de biodiversidade
activos. Antes de 2008, cada kWh de electricidade A quantidade de biocapacidade que contém vários
gerada por energia nuclear era calculado como ecossistemas e populações viáveis de espécies
equivalente a um kWh de electricidade gerada por animais, por exemplo em reservas naturais. Quan-
combustíveis fósseis. ta desta reserva deve ser mantida depende dos

Parte 7: Apêndice – Terminologia específica da Pegada 123


resultados esperados e da diversidade das espécies
consideradas. A Pegada não mede esta biocapaci-
dade. Global Footprint Network sugere que se deixe
20 porcento disponíveis para as espécies selvagens
animais e vegetais. Cientistas reputados como o
Professor de Harvard E. O. Wilson reclamam 50
porcento da biocapacidade global como reserva.

Saldo comercial da biocapacidade


É calculado através da comparação das importa-
ções e exportações de biocapacidade de um país.
O resultado é negativo (importações > exporta-
ções, com a Pegada do consumo nacional a ser
maior do que a Pegada primária da produção)
ou positivo (exportações > importações, com a
Pegada do consumo nacional a ser inferior que a
Pegada primária da produção).

Terra e água biologicamente produtiva


Áreas de terra e de água são consideradas biologi-
camente produtivas se suportam uma actividade
fotossintética significativa e se a biomassa é acu-
mulada e é utilizável pelos seres humanos. Áreas
não produtivas, bem como áreas marginais, com
vegetação desigual, não estão incluídas. Biomassa
que não é de utilidade para os seres humanos tam-
bém não é incluída. O total de área biologicamen-
te produtiva em terra e água foi de aproximada-
mente 13,4 mil milhões de hectares em 2005.

Tipo de terra
A Terra tem aproximadamente 13,4 mil milhões
de hectares de terra e água biologicamente pro-
dutivas, que são classificados em cinco tipos de
terra: solo agrícola, área de pasto, floresta, área de
pesca e área construída.

124 Parte 7: Apêndice – Terminologia específica da Pegada


Glossário da convenção. Com a sua assinatura, a Alemanha
comprometeu-se não só a preservar a biodiversi-
Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) dade no seu próprio país mas também para apoiar
Uma ferramenta para captar quantitativamente e as países em desenvolvimento a adoptarem as
avaliar o impacto de um produto sobre o ambien- medidas necessárias para torná-lo uma realidade.
te. Ao observar o ciclo de vida completo de um www.cbd.int
produto – incluindo também a sua utilização e
eliminação – a ACV mede as quantidades de ener- Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusam-
gia, matérias-primas e materiais usados para sua menarbeit (GIZ)
produção e distribuição, bem como os resíduos e Desde 1 de janeiro de 2011, a GIZ concentra, sob
emissões que se geram no ar, no solo e água. um mesmo teto, a competência e a experiência
de longa data do Deutscher Entwicklungsdienst
Banco Mundial (DED) gGmbH (Serviço Alemão de Cooperação
O Banco Mundial é uma organização especial das Técnica e Social – DED), da Deutsche Gesellschaft
Nações Unidas. Foi fundada durante a conferência für Technische Zusammenarbeit (GTZ) GmbH e da
monetária e financeira dos membros fundadores sociedade InWEnt – Internationale Weiterbildung
das Nações Unidas em 1944 em Bretton Woods, und Entwicklung gGmbH (Formação e Aperfei-
E.U.A., ao mesmo tempo que o Fundo Monetá- çoamento Profissional Internacional). Para mais
rio Internacional (FMI). Após a Segunda Guerra informações consulte a página web
Mundial, o seu objectivo era promover a recons- www.giz.de/en
trução e, juntamente com o FMI, criar moedas
estáveis. Desde 1960, a sua principal missão é Diversidade biológica
combater a pobreza no mundo e melhorar as con- ver Biodiversidade
dições de vida nos países em desenvolvimento.
www.worldbank.org Ecossistema
De acordo com a Convenção sobre Diversidade
Biodiversidade Biológica (CBD), um ecossistema é definido como
O termo “diversidade biológica” engloba a varie- “um complexo dinâmico de comunidades vegetais,
dade de vida na Terra, desde a diversidade genética animais e de microrganismos e o seu meio inorgâ-
à variedade de espécies culminando na variedade nico que interagem como uma unidade funcional”.
de ecossistemas. www.onu-brasil.org.br/doc_cdb1.php
www.giz.de/biodiversity
Emissões de CO2
BMZ O dióxido de carbono é um dos gases com efeito
O Ministério Federal da Cooperação Econômica de estufa com maior contributo para as alterações
e do Desenvolvimento (BMZ) é responsável pelo climáticas. A libertação de CO2 para a atmos-
planeamento e implementação de políticas de fera, onde os seus efeitos de estufa se produzem
desenvolvimento do governo. Comissiona dife- é chamada de emissão. A concentração de CO2
rentes organizações independentes para realizar na atmosfera tem aumentado consideravelmente
projectos concretos e programas para a cooperação durante o século passado, principalmente devido
para o desenvolvimento alemão, ou permite a sua à queima de combustíveis fósseis como o petróleo
execução através de contribuição financeira. ou o carvão, mas também devido à desflorestação
www.bmz.de/en continua progressiva em cada parte da Terra.

Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)


A convenção foi aprovada em 1992 no Rio de Janei- Um indicador para comparar o nível de desenvol-
ro e liga a protecção da diversidade biológica ao vimento social. A expectativa de vida, a taxa de
desenvolvimento sustentável e à justa repartição dos alfabetização e a capacidade de gastos reais por pes-
benefícios decorrentes da sua utilização. Entretanto, soa, estão expressos no IDH. O IDH pode situar-se
191 partes (190 Nações e a UE) tornaram-se partes entre 1, o nível mais alto, e 0, o nível mais baixo.

Parte 7: Apêndice – Glossário 125


Organização para a Cooperação e o como Brasil ou China. Eles são caracterizados pelo
Desenvolvimento Económico (OCDE) crescimento relativamente rápido do poder econó-
30 países industrializados estão reunidos na mico e do aumento do rendimento per capita.
OCDE. De acordo com o artigo I da sua conven-
ção, que foi assinado em Paris em 1960, a OCDE Países menos avançados (PMA)
promove políticas destinadas a alcançar um cresci- Um comité do Conselho Social e Económico das
mento económico e emprego óptimos, e a aumen- Nações Unidas (United Nations Economic and
tar o nível de vida para os seus estados membros Social Council – ECOSOC), estabelece os critérios
e, através de uma expansão económica sólida da para classificar um país como o PMA. A decisão
economia mundial, contribuir para a expansão do final é tomada pela Assembleia Geral das Nações
comércio mundial numa base multilateral, não Unidas. Os critérios para esta classificação são,
discriminatória e em conformidade com as obriga- entre outros, o produto interno bruto (PIB); o
ções internacionais. Índice de Activos Humanos (HAI), que está rela-
www.oecd.org cionado com indicadores de saúde e educação); a
proporção da produção industrial; orientação da
“Países em desenvolvimento” exportação de um país e da sua população. Países
Não existe uma definição uniforme ou uma lista menos avançados beneficiam de condições muito
oficial mundial dos países em desenvolvimento. mais favoráveis, cooperando com as Nações Uni-
Na literatura e na comunicação social o termo das do que outros países em desenvolvimento.
“nação em desenvolvimento” é utilizado quando,
além de um baixo rendimento per capita, oferta País Parceiro
alimentar inadequada, más condições de saúde em Os países que cooperam directamente com o
amplas camadas da população, e deficientes opor- Governo Alemão no âmbito da cooperação para o
tunidades educacionais estão presentes. Global desenvolvimento técnico e financeiro com base em
Footprint Network acredita que o termo é ultra- acordos governamentais.
passado e contraproducente, uma vez que insinua www.bmz.de/en/countries/index.html
um modelo de desenvolvimento unidimensional
baseado no PIB. Já nem sequer é uma opção física Serviços de ecossistemas
que todos os países consumam à taxa da Europa, São os serviços gerados pela natureza que o
dos Estados Unidos ou do Japão. Com o actual homem pode usar. O Millennium Ecosystem Assess­
nível da população, isso exigiria cerca de 3 a 4 ment distingue quatro categorias: (1) serviços de
planetas. Em contraste, outros modelos de desen- abastecimento (por exemplo, produtos alimenta-
volvimento incentivam a descobrir como todos nós res); (2) serviços de regulamentação (por exemplo,
poderíamos viver dentro dos limites ecológicos da regulamentação do clima); (3) serviços culturais
Terra. Poucos conseguem fazer isto; neste sentido, (por exemplo, estéticos, educacionais e aspectos
todos necessitamos de desenvolvimento. A Assis- espirituais); e (4) serviços de apoio (por exemplo, o
tência Oficial ao Desenvolvimento (Official Deve- húmus e construção do solo).
lopment Assistance – ODA) guia-se pela lista de
países do CAD (Comitê de Assistência ao Desen- Sustentabilidade
volvimento) e do Comité de Desenvolvimento da Desenvolvimento sustentável significa satisfazer as
Organização para a Cooperação e o Desenvol- necessidades do presente sem restringir as oportu-
vimento Económico (OCDE). nidades das gerações futuras (Brundtland, 1987).
A sustentabilidade deve ser a base de todas as deci-
“Países emergentes” (Países com rendimento médio) sões políticas sobre a gestão dos recursos naturais,
Não existe uma definição uniforme ou uma lista sociais e técnicos. Desde a Cimeira da Terra das
mundial oficial de países emergentes. “Países Nações Unidas sobre o Ambiente e Desenvolvi-
emergentes” ou “países recentemente industria- mento, no Rio, em 1992, que o Desenvolvimento
lizados” (newly industrialized countries – NIC) Sustentável tem sido aceite como uma directiva
designam um grupo, na sua maioria de grandes global e deve ser implementado através da Agenda
economias que estão em rápida industrialização, 21, que também foi aprovada no Rio de Janeiro.

126 Parte 7: Apêndice – Glossário


Abreviaturas OCDE Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Económico
ACV Avaliação de Ciclo de Vida PIB Produto Interno Bruto
AOD Assistência Oficial para o PMA países menos avançados
Desenvolvimento PNUD Programa das Nações Unidas para o
BMU Bundesministerium für Umwelt, Naturs­ Desenvolvimento
chutz und Reaktorsicherheit PNUMA Programa das Nações Unidas para o
(Ministério Federal Alemão do Meio Meio Ambiente
Ambiente, da Proteção da Natureza e TEEB The Economy of Ecosystems and Biodi­
da Segurança Nuclear) versity
BMZ Bundesministerium für wirtschaftliche (A Economia dos Ecossistemas e
Zusammenarbeit und Entwicklung Biodiversidade)
(Ministério Federal Alemão da UNESCO United Nations Educational, Scientific
Cooperação Econômica e do and Cultural Organization
Desenvolvimento) (Organização das Nações Unidas para
CAD Comitê de Assistência ao a Educação, a Ciência e a Cultura)
Desenvolvimento USD Dólares Americanos ($)
CBD Convention on Biological Diversity WWF World Wide Fund for Nature
(Convenção sobre Diversidade (Fundo Mundial para a Natureza)
Biológica) ZSL Zoological Society of London
CO2 dióxido de carbono (Sociedade Zoológica de Londres)
COP Conference of the Parties
(Conferência das Partes)
DBU Deutsche Bundesstiftung Umwelt
(Fundação Alemã para o Meio
Ambiente)
ECOSOC United Nations Economic and Social
Council (Conselho Social e Económico
das Nações Unidas)
FAO Food and Agriculture Organization of
the United Nations
(Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação)
gha hectare global
GIZ Deutsche Gesellschaft für Inter­nationale
Zusammenarbeit GmbH
gkm² quilómetro quadrado global
GTZ Deutsche Gesellschaft für Technische
Zusammenarbeit GmbH
ha hectare
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
HPI Happy Planet Index
kWh quilowatt hora
MIPS Material Input per Unit of Service
(Entrada de Material por Unidade de
Serviço)
NIC newly industrialized countries (países
recentemente industrializados)
NU Nações Unidas

Parte 7: Apêndice – Abreviaturas 127


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• Para mais informação sobre a Pegada Ecological Footprint Accounting: Building a Winning
www.panda.org/index. Hand (em Alemão, Inglês e Francês)
cfm?uGlobalSearch=footprint www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/page/
• (2008): Relatório Planeta Vivo (Versão publications
portuguêsa)
http://assets.panda.org/downloads/lpr_2008_ Global Footprint Network & GIZ (2011)
portuguese_final_lores_2_.pdf The Ecological Footprint. Living well within the
• (2008): Relatório Planeta Vivo (Versão means of nature (cartão, em Alemão, Inglês,
Inglesa) Espanhol)
http://assets.panda.org/downloads/living_ Ordering address: i-punkt@giz.de
planet_report_2008.pdf
KATE e.V.
Ponto de encontro para meio ambiente e
Pegada Ecológica: desenvolvimento – pela economia social, igrejas e
Materiais Educativos comunidades na Europa e na América Latina
www.kate-berlin.de/about-us.html
Federation of German consumer organisations • Manual de actuação “sustainable consumption
www.vzbv.de/start/index.php?page=english and development”
• Devlin, Philip (2003): The Ecological Footprint www.kate-berlin.de/handbook.html
and Sustainable Consumption. Class unit with
educational materials.

130 Parte 7: Apêndice – Ligações & Literatura


Schnauss, Matthias (2007) Calculadoras de Pegada
Der Ökologische Fußabdruck und die Nachhaltigkeit.
In: Zenner, Cornelia & Günter Krapp: Umwelt und BUNDjugend
Energie – Leben zwischen Verantwortung und www.latschlatsch.de/downloads/Printversion.pdf
Verschwendung. Lehrer- und Schülerheft, Klasse 10
Realschulen, Baden Württemberg. Rot an der Rot. Cidade de Darmstadt
www.krapp-gutknecht.de/Produkte/Methoden/ www.agenda21.darmstadt.de/index.php?vie
Umwelt_und_Energie/Umwelt_und_Energie.htm w=article&catid=80%3Aaktionen-a-neue-
projekte&id=515%3Aoekologischer-fussabdruck&Item
Serviço Estatal Bávaro para o Meio Ambiente id=108&option=com_content
www.lfu.bayern.de/www.lfu.bayern.de/doc/profil_
englisch.pdf Earth Day Network
• (publ.) (2009): UmweltWissen. Der Ökologische http://earthday.net/footprint2/flash.html
Fußabdruck.
www.lfu.bayern.de/umweltwissen/doc/uw_86_ Federal Austrian Ministry of Agriculture, Forestry,
oekologischer_fussabruck.pdf Environment and Water Management
• (publ.) (2009): UmweltWissen – Didaktische (Ministério Federal Austríaco da Agricultura,
Konzepte. Der Ökologische Fußabdruck im Florestas, Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos)
Unterricht an Schulen. www.mein-fussabdruck.at, www.footprintrechner.at
www.lfu.bayern.de/umweltwissen/doc/uw_87_
oekologischer_fussabruck_im_unterricht.pdf Global Footprint Network
www.footprintcalculator.org
Sustainability Institute
Informação sobre os jogos estratégicos “Fish Greenpeace
banks” e “Strategem” http://greenpeace.klima-aktiv.com
www.sustainer.org
Serviço Estatal Bávaro para o Meio Ambiente
Universidade de Augsburgo www.lfu.klima-aktiv.de
Departamento de Didáctica Geográfica
www.geo.uni-augsburg.de/en/professorships/phygeo/ WWF Suíça
• Material escolar para ensinar a Pegada www.footprint.ch
Ecológica
www.lfu.bayern.de/umweltwissen/doc/
uw_bm_01_schuelerblaetter_oekologischer_ Consumo de recursos e natureza
fussabruck.zip (ferramentas, política, diversos)
Vereinigung Deutscher Gewässerschutz e.V. Bundeszentrale für politische Bildung (2009)
www.vdg-online.de Konsumkultur. Aus Politik und Zeitgeschichte,
• Projecto ambiental experimental “Água Virtual” 32-33/2009. Bonn.
www.virtuelles-wasser.de www.bpb.de/publikationen/0RDKRY

WWF Suíça Clube de Rome


www.wwf.ch Associação internacional de personalidades
• Face one planet notáveis das áreas de ciência, cultura, indústria e
http://oneplanetliving.wwf.ch política, que está empenhada num futuro habitável
e sustentável para o homem.
www.clubofrome.org
www.clubofrome.de

Parte 7: Apêndice – Ligações & Literatura 131


Factor 10 Institute Serviço Estatal Bávaro para o Meio Ambiente (2007)
www.factor10-institute.org Umweltbericht Bayern.
www.stmugv.bayern.de/umwelt/umweltbericht/index.
FishBanks, Ltd. htm
Um jogo de simulação desenvolvido por Dennis
Meadows no Instituto para a Investigação em The Economist (2009)
Ciência Social e Política. Buying Farmland abroad – Outsourcing’s third
www.ed.gov/pubs/EPTW/eptw7/eptw7d.html wave. May 21st 2009.
www.bpa.gov/Corporate/KR/ed/step/fishing_game/
fishing.shtml The Story of Stuff
Curta metragem sobre as consequências sociais e
Heinrich Böll Stiftung ecológicas das nossas decisões de compra.
www.boell.de/service/home.html www.storyofstuff.org/international/
• Toward a Transatlantic Green New Deal: • Versão alemã
Tackling the Climate and Economic Crisis. www.utopia.de/magazin/the-story-of-stuff
www.boell.de/ecology/economics/ecological-
economics-7218.html Vauban, bairro de Friburgo
www.freiburg.de/servlet/PB/menu/1167123/index.
Meadows, Donella H. et al. html
• (1972): Os Límites do Crescimento. Universe • conceito de mobilidade
Books. www.werkstatt-stadt.de/en/projects/54/
• (2006): Os Límites do Crescimento: 30 anos • Rosenthal, Elisabeth (2009): In German Suburb,
depois. Life Goes On Without Cars. In: The New York
Times – Environment of 12. Mai 2009
Painel Intergovernamental para as Alterações www.nytimes.com/2009/05/12/science/
Climáticas earth/12suburb.html?_r=1
www.ipcc.ch
• Climate Change 2007: Synthesis Report. von Mittelstaedt, Juliane (2009)
Summery for Policymakers. Neokolonialismus in Afrika. Großinvestoren
www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar4/syr/ verdrängen lokale Bauern. Interview mit dem UNO-
ar4_syr_spm.pdf Beauftragten für das Recht auf Nahrung, Olivier de
Schutter. Spiegel-Online, 29.07.2009.
PNUMA www.spiegel.de/wirtschaft/0,1518,638435,00.html
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
www.pnuma.org von Weizsäcker, Ernst U. et al. (1995)
• PNUMA Brasil Faktor 4: doppelter Wohlstand, halbierter
www.pnuma.org.br Naturverbrauch. München.
• Ciclo de Vida e Gestão de Recursos
www.unep.fr/scp/lifecycle Wuppertal Institute for Climate, Environment and
Energy
Ponting, Clive (2007) www.wupperinst.org/en/home/index.html
A New Green History of the World. The Environment • (2002): Calculating MIPS: Resource productivity
and the Collapse of Great Civilisations. New York. of products and services.
www.wupperinst.org/uploads/tx_wibeitrag/
Schmidt-Bleek, Friedrich (1998) ws27e.pdf
Das MIPS-Konzept. Weniger Naturverbrauch – mehr • A Mochila Ecológica, Entrada de Material por
Lebensqualität durch Faktor 10. München. Unidade de Serviço (MIPS)
www.wupperinst.org/en/projects/topics_online/
mips/index.html

132 Parte 7: Apêndice – Ligações & Literatura


ZEIT online: The New Green Deal Conservation & Development
www.zeit.de/themen/wirtschaft/krise-als-chance/ Publicações, material educativo e campanhas sobre o
index tema “Conservação da Natureza e Desenvolvimento”
www.conservation-development.net/?L=2&ds=176
• Série de brochuras “A sustentabilidade tem
Biodiversidade, sustentabilidade, e muitas faces”
cooperação para o desenvolvimento www.conservation-development.net/serie

Acampamento Internacional da Selva no Falkenstein Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD)


www.wildniscamp.de/flyer/english/ www.cbd.int

Banco Mundial DBU


www.worldbank.org Deutsche Bundesstiftung Umwelt
• Classificação de países Uma fundação alemã que apoia projectos nas
http://data.worldbank.org/about/ áreas de tecnologia ambiental, investigação
country-classifications ambiental e comunicação ambiental
www.dbu.de/359.html
Biodiversity in Good Company
www.business-and-biodiversity.de/pb/home.html Eißing, Stefanie & Thora Amend (2007)
Development needs Diversity. People, natural resour-
Breiholz, Jörn; Michael Netzhammer & Lisa ces and international cooperation. Contributions
Feldmann (2009) from the countries of the south. In: Nachhaltigkeit
Energie ist Leben. Nachhaltige Entwicklung und hat viele Gesichter, N.° 1, Deutsche Gesellschaft für
Armutsbekämpfung brauchen Energie – Anregungen Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, Esch-
aus Bolivien. In: Nachhaltigkeit hat viele Gesichter, born (em Alemão, Inglês, Francês e Espanhol).
Nr. 9. Deutsche Gesellschaft für Internationale www.conservation-development.net/?L=2&ds=213
Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, Eschborn.
www.conservation-development.net/?L=2&ds=221 Fleischhauer, Andrea; Thora Amend & Stefanie
Eißing (2008)
CIA – The World Factbook Zwischen Kochherden und Waldgeistern: Naturerhalt
www.cia.gov/library/publications/the-world- im Spannungsfeld von Energieeffizienz und alten
factbook/index.html Bräuchen – Anregungen aus Madagaskar. In:
Nachhaltigkeit hat viele Gesichter, N.° 5. Deutsche
Cimeira Internacional da Juventude Go 4 Biodiv Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit
www.go4biodiv.org (GIZ) GmbH, Eschborn (em Alemão e Francês).
• Brochura de fotos “Unity in Diversity” www.conservation-development.net/?L=2&ds=217
www.go4biodiv.org/wp-content/uploads/file/
go4biodiv_unity_in_div_brosch_final_pdf.pdf GIZ
• Declaração 2008 Deutsche Gesellschaft für Internationale
www.go4biodiv.org/wp-content/uploads/file/ Zusammenarbeit GmbH
Go4BioDiv_Declaration_pt.pdf www.giz.de/en
• Künstlerische Beiträge der jungen • África subsaariana
Gipfelteilnehmer/innen – eine Auswahl www.giz.de/africa
www.go4biodiv.org/wp-content/uploads/file/ • America Latina e Caribe
Go4BioDiv_Kuenstlerische_Beitraege.pdf www.giz.de/latin_america
• Ásia e Pacífico
Commission on the Measurement of Economic www.giz.de/asia
Performance and Social Progress • Projecto “Implementação da Convenção sobre
• Relatório: Diversidade Biológica”
www.stiglitz-sen-fitoussi.fr/en/index.htm www.giz.de/biodiversity

Parte 7: Apêndice – Ligações & Literatura 133


Helmholtz Center for Environmental Research Leipzig OCDE
www.ufz.de/index.php?en=11382 Organização para a Cooperação e o
• Informação sobre o TEEB Desenvolvimento Económico
www.ufz.de/index.php?en=16828 www.oecd.org
• CAD-lista de países em desenvolvimento
Kirsch-Jung, Karl P. & Winfried von Urff (2008) www.oecd.org/dac/stats/daclist
User Rights for Pastoralists and Fishermen.
Agreements based on traditional and modern law. PNUD (2008)
Contributions from Mauritania. In: Sustainability Relatório de Desenvolvimento Humano.
has many faces, N.° 6. Deutsche Gesellschaft www.hdr.undp.org/en/statistics
für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH,
Eschborn (em Alemão e Inglês). PNUMA (2007)
www.conservation-development.net/?L=2&ds=218 Visão Global do Ambiente: ambiente para o
desenvolvimento (GEO4).
Kus, Barbara; Heine Britta; Fleischhauer, Andrea & www.unep.org/geo/geo4/media
Judith Jabs (2010) • GEO4 – fichas
Nature and Mankind facing Climate Change. One www.unep.org/geo/geo4/media/fact_sheets
planet with many people – what‘s the future? • GEO4 – fichas da América do Norte
Contributions from around the world and the www.unep.org/geo/geo4/media/fact_sheets/
international wilderness camp. Completely revised Fact_Sheet_12_North_America.pdf
second edition. In: Sustainability has many faces,
N.° 8. Deutsche Gesellschaft für Internationale Rat für Nachhaltige Entwicklung (RNE)
Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, Eschborn (em Alemão Conselho Alemão para o Desenvolvimento
e Inglês). Sustentável
www.conservation-development.net/?L=2&ds=220 www.nachhaltigkeitsrat.de/en

Ministério Federal Alemão da Cooperação Econômica e respACT


do Desenvolvimento Plataforma empresarial para a responsabilidade
Bundesministerium für wirtschaftliche corporativa (CSR) e desenvolvimento sustentável
Zusammenarbeit und Entwicklung (BMZ) www.respact.at/content/site/english/index.html?SWS
www.bmz.de/en/ =a9189de3f71ca83229a4ad4fd2dcb3c6
• (2009): Medienhandbuch Entwicklungspolitik
2008/2009. Berlim, Bona. TEEB
• Países parceiros da República Federal de A Economia dos Ecossistemas e Biodiversidade
Alemanha www.teebweb.org
www.bmz.de/en/countries/index.html
Technische Universität München
Ministério Federal Alemão do Meio Ambiente, da Centro das ciências da vida e alimentação
Proteção da Natureza e da Segurança Nuclear Weihenstephan
Bundesministerium für Umwelt, Naturschutz und www.wzw.tum.de/index.php?id=1&L=5
Reaktorsicherheit (BMU)
www.bmu.de/english World Business Council on Sustainable Development
• Descarregamento dos relatórios do estudo TEEB www.wbcsd.org
www.bmu.de/english/nature/convention_on_
biological_diversity/doc/45525.php
• Informação geral acerca da COP 9 da CBD
www.bmu.de/un-naturschutzkonferenz2008
www.bmu.de/un-conference2008

134 Parte 7: Apêndice – Ligações & Literatura


Conteúdos do DVD
“Uma Grande Pegada num Pequeno
Planeta?”
The Footprint – Accounting for a Small Planet, 2007
(Alemão/17 min.)

Uma versão abreviada de um filme sobre a Pegada Ecológica, produzida por Global
Footprint Network, em cooperação com a Plattform Footprint; a versão completa do
filme pode ser encomendada em: http://shop.filmladen.at

The Story of Stuff, 2007


(English/20 min.)

Uma curta metragem sobre as consequências sociais e ecológicas das nossas


decisões de compra. Criado por Annie Leonard, apoiada por The Sustainability
Funders e pela Tides Foundation, produzido por Free Range Studios.

Cimeira Internacional da Juventude Go 4 BioDiv: Teatro de Dança


(Inglês/3 min.)

Teatro de dança com os participantes da Cimeira Internacional da Juventude


na Conferência das Partes na Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade
Biológica, em Bona, produzido pela Deutsche Bundesstiftung Umwelt DBU.

Send Samauma’s Call around the World, 2008


(Português com legendas em Inglês/8:16 min.)

Videoclip seguido por curtas sequências do Brasil, México, China, Namíbia e


Alemanha. Criado pelos participantes da Cimeira Internacional da Juventude
Go 4 BioDiv, produzido por ARPA e irrlicht Film.

Entrevistas sobre a Pegada Ecológica


(Alemão)
Produzidos por Bert Beyers em nome da GIZ com:

Dr. Mathis Wackernagel


Co-criador do conceito de Pegada e Presidente de Global Footprint Network (28:53 min.)

Dr. Rolf-Peter Mack


Planejador setorial sênior na GIZ (15:36 min.)

Susanne Willner
Membro da equipa da GIZ no projecto Rioplus (9:53 min.)

Tatjana Puschkarsky und Verena Treber


Participantes na Cimeira Internacional da Juventude Go 4 BioDiv (14:58 min.)

Material adicional

Parte 7: Apêndice – Conteúdos do DVD 135


Material adicional

Material adicional para A brochura (Ficheiro PDF, Alemão/Inglês/Francês/Espanhol/Português)


todas as brochuras que
aparecem na série “A Material educativo sobre a Pegada Ecológica
sustentabilidade tem
muitas faces” está Global Footprint Network:
também disponível na Living Well within the Means of Nature (cartão de bolso, Alemão/Inglês/Espanhol)
internet em: www.con- Driving Competitiveness in a new Global Economy (folheto, Alemão/Inglês/Francês)
servation-development.
net/?L=2&ds=248 FORUM Umweltbildung da Áustria:
Der Ökologische Fußabdruck in der Schule – Impulse, Szenarien und Übungen für die
Sekundarstufe (Alemão)

Apresentação PDF para impressão do planeta Terra e dos seguintes gráficos em grande
formato (Alemão/Inglês/Francês/Espanhol e Português)
“A Pegada Ecológica das nações”
“Desenvolvimento sustentável: Onde estamos actualmente?”
“Vivendo à Larga num Planeta Pequeno”

WWF Relatório Planeta Vivo 2008 (Alemão/Inglês/Francês/Espanhol e Português)

Informação adicional sobre a Cimeira Internacional da Juventude Go 4 BioDiv

Galeria de fotos da Cimeira da Juventude e utilização educativa da Pegada

Ligações, literatura e ficheiros PDF seleccionados sobre o assunto

Onde posso encontrar o material adicional?


Todos os materiais estão armazenados numa
página web off-line no DVD de acompanhamen-
to. Para aceder, abra simplesmente o ficheiro
“index-p.html” na pasta “Daten” no DVD.

136 Parte 7: Apêndice – Material adicional


Aviso de exclusão de responsabilidade
Pela decisão de 12 de Maio de 1998 (312 O 85/98), “Responsabilidade em matéria de ligações”, o Tribunal de Ins-
tância Superior de Hamburgo estabeleceu que a criação de uma ligação para uma página web equivale a assumir a
eventual responsabilidade pelos conteúdos dessa página. Esta responsabilidade não pode ser evitada a não ser que se
feito um distanciamento expresso dos referidos conteúdos. Distanciamo-nos expressamente de todos os conteúdos dos
sítios e páginas internet referenciadas no presente texto, e não nos apropriamos desses conteúdos.
O Desenvolvimento precisa da Diversidade
Pessoas, recursos naturais e cooperação internacional. A s u s t e n ta bil id a de t e m mui ta s fa c e s
Uma série de brochuras sobre cooperação para o desenvolvimento,
Conservação da Natureza é divertido
acompanhada de materiais de apoio, produzida para a Década das
Gestão de áreas protegidas e comunicação ambiental.
Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável
Usá-la ou Perdê-la A conservação da diversidade biológica e cultural constitui a
Caça turística e criação de jogos para a conservação e desenvolvimento. base do desenvolvimento humano. Os exemplos que se apresen-
Direitos à Terra são Direitos Humanos tam nesta série mostram diversos “rostos” da sustentabilidade
Estratégias ganho-ganho para a conservação sustentável da natureza. e sugerem ideias para a educação escolar e extra-escolar em
matéria de desenvolvimento sustentável (no âmbito da Década
Fogões de Cozinha inovadores e Espíritos Antigos das Nações Unidas para a Educação para o Desenvolvimen-
Conservação da natureza e interface entre eficiência energética e costumes tradicionais.
to Sustentável, 2005 – 2014). Através destes exemplos, pode
Direitos de Utilização para Pastores e Pescadores apreciar-se como as pessoas de países pouco conhecidos para
Acordos com base em leis tradicionais e modernas. nós encontram formas de melhorar as suas condições de vida,
adoptando ao mesmo tempo uma atitude mais respeitadora do
Quem Protege o Quê para Quem?
Participação e governança para o desenvolvimento e a conservação da natureza.
ambiente. A cooperação para o desenvolvimento significa em
primeiro lugar acompanhá-las e apoiá-las através dos difíceis
Natureza e Humanidade enfrentam Alterações Climáticas processos de mudança económica e social.
Um planeta com muitas pessoas – qual é o futuro?

Energia é Vida
O desenvolvimento sustentável e redução da pobreza precisam de energia.

Uma Grande Pegada num Pequeno Planeta?


Contabilidade através da Pegada Ecológica.

Deuses da Montanha e Arroz Selvagem


Agro-biodiversidade como base de subsistência.

Deutsche Gesellschaft für


Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH
Dag-Hammarskjöld-Weg 1-5
65760 Eschborn/Deutschland
T + 49 61 96 79 - 0
F + 49 61 96 79 - 11 15
E info@giz.de
I www.giz.de

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