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XII Congresso Latino-Americano de Ciências do Mar - XII COLACMAR

Florianópolis, 15 a 19 de abril de 2007

CARACTERIZAÇÃO MORFODINÂMICA DA PRAIA DA PONTA DA TULHA –


ILHÉUS-BAHIA

Teixeira, A.C.O. 1; Almeida, T.M. 2; Lavenère-Wanderley, A.A. 3; Barreto, J.M. 4


1 2
Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC, e-mail: amomgeo@gmail.com; Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC,
3
e-mail: thiarageo@yahoo.com.br ; Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC, Laboratório de Oceanografia Geológica, e-
4
mail: amelia@uesc.br; Universidade Estadual de Santa Cruz, Laboratório de Oceanografia Geológica - UESC, e-mail:
joceloriginal@gmail.com.

RESUMO
Foi realizado o estudo morfodinâmico da praia da Ponta da Tulha, localizada no litoral do município
de Ilhéus-BA, através do monitoramento de quatro perfis praiais, durante sete meses. No período de
estudo foram observadas as características das ondas e as variações do perfil praial. Foi determinada
a classificação da praia, baseada na Escola Australiana, utilizando o •teorico proposto por Klein (1997),
e o coeficiente de arrebentação (•) proposto por Galvin Jr. (1968). Os resultados indicaram que esta
é uma praia dissipativa, dominada por ondas deslizantes com alturas entre 30 a 40 cm e período de 9
a 11 segundos. O monitoramento do perfil praial demonstrou que a praia acresceu em todos os
períodos de observação, mas, enquanto na extremidade norte esta acresção ocorreu durante todo o
período, no setor sul ocorreu erosão no mês de novembro, voltando a engordar a partir de dezembro.

Palavras chave: perfil praial, ocupação desordenada, características das ondas

INTRODUÇÃO
O litoral norte da cidade de Ilhéus - localizada na Costa do Cacau, sul da Bahia – tem
experimentado intenso crescimento urbano nos últimos anos. Entretanto, tal crescimento raramente
respeita as legislações pertinentes ou mesmo as condições ambientais. Diversas são as
irregularidades observadas nesta faixa litorânea, como ocupação de áreas de preservação ambiental,
de manguezais, e destinadas à proteção de matas ciliares e restingas. Neste contexto insere-se a
vila da Ponta da Tulha. Localizada no km 22 da rodovia Ilhéus - Itacaré, a vila da Ponta da Tulha
possui praias de areias brancas, um vasto coqueiral, inúmeras pousadas, bares e cabanas,
circundados por uma vila de pescadores, alem de se situar nas proximidades de um manguezal e de
um riacho. Tais características fazem desta praia um lugar privilegiado e com grande potencial
turístico.
No entanto a pressão imobiliária e o crescimento desordenado poderão intensificar a
ocupação de áreas impróprias e sujeitas à variação da linha de costa como aconteceu nas praias de
São Domingos (PASSOS, 2004) e São Miguel (APOLUCENO, 1998) – localizadas a sul da Ponta da
Tulha – diminuindo consideravelmente o valor paisagístico, ambiental e prejudicando o turismo,
atividade que desponta no município de Ilhéus como alternativa à lavoura cacaueira que se encontra
em crise.
Neste contexto fica evidente a importância de estudos acerca da dinâmica costeira da área
onde se localiza a vila. Nesta parte do litoral o entendimento das modificações topográficas do perfil
transversal praial, bem como dos fatores que condicionam estas modificações, podem se tornar um
instrumento para o gerenciamento costeiro – ordenação da ocupação, estudo e proteção da fauna
bentônica, identificação de áreas de erosão e progradação, implantação de obras de engenharia
costeira e avaliação dos riscos a freqüentadores da praia. Este trabalho busca realizar uma análise
das variações morfodinâmicas da praia da Ponta da Tulha, privilegiando os seguintes aspectos:
altura, período e tipo da onda, modificações topográficas e estado morfodinâmico da praia.

MATERIAIS E MÉTODOS
Foram realizados sete levantamentos de quatro perfis topográficos transversais com
periodicidade mensal, perfazendo um total de 26 perfis - de setembro de 2005 a março de 2006 –
através do método das balizas de Emery (1961). No primeiro campo os perfis foram limitados a dois,
mas a partir da segunda visita o número de perfis foi ampliado para quatro com objetivo de cobrir uma
área que coincidissem com os limites da vila da Ponta da Tulha. Os pontos foram escolhidos de
acordo com a existência de referências de nível (arbitrárias), em pontos fixos que resistissem ao
tempo, tais como muros, cercas e pisos de casas.

AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia


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Os resultados do levantamento topográfico foram tabulados e convertidos em gráficos, no


software Excel for Windows para posterior análise.
Concomitantemente ao levantamento topográfico foram anotadas informações a respeito da
altura e período das ondas e do estado morfodinâmico aparente das praias.
A classificação morfodinâmica da praia foi feita segundo a Escola Australiana (WRIGHT e
SHORT, 1983) através do método indireto proposto por Klein (1997) (•teorico definido por tag• =
-1/2
0,15• ). Foi ainda realizado o cálculo do coeficiente de arrebentação proposto por Galvin Jr. (1968)
para definir os tipos de arrebentação da onda (•=Hb/(gmT²), onde Hb é a altura da onda, g a
gravidade, m a declividade do perfil praial e T o período da onda.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Tabela 1 – Parâmetros morfodinâmicos da área de estudo (18/09/ 2005 a 17/03/2006)


PERFIL 1 Data Largura Desnível Tag• Hb(m) T(s) •
18/9/05 192,21 3,625 0,018859581 0,5 11,3 0,021165
23/10/05 71,4 2,575 0,036064426 0,4 14,5 0,005377
21/11/05 110,16 2,145 0,019471678 0,3 10,5 0,014245
21/12/05 89,57 2,41 0,02690633 0,3 8 0,017759
19/1/06 66,98 1,625 0,024260973 0,3 10,5 0,011433
18/2/06 132,12 2,5 0,018922192 0,3 9,5 0,017907
17/3/06 123,13 2,322 0,018858117 0,3 8,5 0,022445
PERFIL 2 Data Largura Desnível Tag• Hb(m) T(s) •
18/9/05 162,88 4,64 0,02848723 0,6 9,9 0,021906
23/10/05 66,96 1,73 0,02583632 0,4 10 0,015782
21/11/05 98,43 2,14 0,021741339 0,4 7 0,038274
21/12/05 69,84 1,95 0,027920962 0,4 10,5 0,013246
19/1/06 72,54 1,855 0,025572098 0,2 10 0,007973
18/2/06 103,16 2,405 0,0233133 0,3 9 0,016194
17/3/06 94,72 2,17 0,022909628 0,3 7,8 0,02194
PERFIL 3 Data Largura Desnível Tag• Hb(cm) T(s) •
18/9/05 - - - - - -
23/10/05 62,59 2,01 0,032113756 0,4 10 0,012697
21/11/05 80,16 2,04 0,025449102 0,35 10,5 0,012716
21/12/05 45,33 1,745 0,038495478 0,35 11 0,00766
19/1/06 47,41 1,715 0,036173803 0,3 10 0,008454
18/2/06 100,1 2,69 0,026873127 0,3 7,8 0,018704
17/3/06 97,44 2,2 0,022577997 0,3 7 0,027642
PERFIL 4 Data Largura Desnível Tag• Hb(cm) T(s) •
18/9/05 - - - - - -
23/10/05 71,89 1,915 0,026637919 0,3 9 0,014173
21/11/05 78,73 1,78 0,022608917 0,3 10 0,013526
21/12/05 57,73 1,755 0,030400139 0,3 10 0,01006
19/1/06 56,92 1,305 0,022926915 0,3 9,5 0,014779
18/2/06 103,44 1,99 0,019238206 0,25 8 0,020698
17/3/06 82,98 2,17 0,02615088 0,3 6,7 0,026051

O estado morfodinamico aparente da praia, em todos os pontos e datas de coleta de dados,


foi dissipativo, definido por praias que se formam em resposta a condição de alta energia, com ondas
quebrando a poucas centenas de metros da costa, correspondendo a praias de baixo gradiente,
côncavas para cima com barras paralelas, canais e larga zona de surf (LEHUGEUR et al, 2003).
Concorda com esta mensuração, o estado morfodinamico obtido através do •teorico que também
classificou todos os locais de pesquisa como dissipativos. Embora o valor do •teorico oscile bastante,
as alterações são pequenas, demonstrando o equilíbrio praial.
O tipo de arrebentação de onda, calculado através da aplicação do coeficiente de
arrebentação em todos os perfis foi deslizante (•<0,068), concordando com o baixo nível de

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declividade da praia. Neste tipo de arrebentação a onda normalmente começa a quebrar


relativamente longe da face de praia, e vai se dissipando pela água, formando um rastro de espuma.
Nos últimos três meses foi possível notar um aumento gradual no valor do coeficiente de
arrebentação • nos 4 perfis; não foi no entanto possível – devido a interrupção dos trabalhos de
campo – determinar se esta é uma tendência ou se foi apenas mais uma oscilação.
Os perfis topográficos mostraram um ligeiro engordamento da face de praia, causado pela
migração de cordões arenosos em direção à praia. Mas, enquanto nos dois primeiros perfis o
engordamento foi progressivo, ocorrendo mês a mês, no terceiro e no quarto perfil (setor sul) ocorreu
ligeira erosão no mês de novembro, voltando a acrescer a partir de dezembro.

CONCLUSÕES
A praia da Ponta da Tulha se comportou no período de pesquisa como dissipativa,
predominaram ondas deslizantes com alturas entre 30 e 40 centímetros e períodos de 9 a 11
segundos. Houve um engordamento da face de praia causado pela migração de areia da parte
submersa para a emersa, influenciada pelas ondas de tempo bom. Os parâmetros • e •teorico
demonstraram boa concordância com a observação visual, se mostrando apropriados para pesquisas
na área. Este trabalho buscou analisar as variações da praia da Ponta da Tulha, através das
características das ondas e do perfil praial, assim a continuidade dos levantamentos bem como o
processamento de amostras de sedimentos fornecerão uma maior quantidade de informações que
possam servir como ferramentas para o gerenciamento desta praia.

BIBLIOGRAFIA
APOLUCENO, D.M. 1998 A Influência do Porto de Ilhéus (Ba) nos processos de
acresção/erosão desenvolvidos após a sua instalação. Dissertação (Mestrado em Geologia) –
Universidade Federal da Bahia – UFBA, 132 pp.
EMERY, K.O. A simple method of measuring beach profiles. Limnology Oceanography, 6, 1961, p.
90-93.
GALVIN, C.J., 1968, Breaker type classification on three laboratory beaches. Journal of Geophysical
Research, 73. p. 3651-3659
KLEIN, A. H. da F. 1997, Um método indireto para a determinação do estágio morfodinâmico de
praias oceânicas arenosas, SC. Congresso Da Associação Brasileira De Estudos Do
Quaternário, 6., 1997, Curitiba, p.75-78.
LEHUGEUR, L.G.O.; SILVA, P.R.F.G.; SILVA, J.G.; BRANCO, M.P.N.C.; RODRIGUES. 2003,
Morfodinâmica da praia do Barra do Ceará, município de Fortaleza, Estado do Ceará, Brasil. Arquivo
de Ciências do mar, 36, p. 7-17.
PASSOS, C.D.S. 2004 Estudo Morfodinâmico da Praia de São Domingos no Litoral Norte de
Ilhéus – Ba. Monografia (Graduação em Geografia) – Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC,
Ilhéus. 30 pp.
WRIGHT, L.D.; SHORT, A.D., 1983.- Morphodynamics of beach and surf zone in Australia. In: C.R.C.
Handbook of coastal processes and erosion. P.D. Komar (ed.), C.R.C. Press., London, 35-64p.

AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia

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