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Comando do Exército escancara seu ativismo político

Desde a fundação da República, o Exército brasileiro nos ofereceu sucessivas demonstrações


do seu fisiológico ativismo político. O movimento tenentista, dos anos 1920 e 1930, pode ser
encarado como o embrião do que seria o monstro parido com o golpe de 1964 e a ditadura
militar assassina das décadas seguintes. Diante das inúmeras intromissões de militares na vida
política do país, principalmente contra governos populares que buscavam a justiça social e a
democratização da sociedade, podemos considerar que é ingenuidade (para não dizer má fé)
esperar profissionalismo dos quadros militares (de)formados para enxergar a população e a
esquerda como “inimigos”, atuando acima do bem e do mal para garantir os interesses da
corporação.

Entre os postulantes, o general Eduardo Pazuello desponta para assumir a dianteira do


ativismo político dos milicos para as eleições de 2022. Depois de mentir feito Pinóquio à CPI do
Genocídio - jogando na lata do lixo a dignidade e a ética militar que preconizam a “palavra de
fé pública” baseada na verdade, honestidade, justiça e respeito -, o “gordo favorito” foi
passear de moto com Bolsonaro para protagonizar mais uma “crise militar”. A novela, contada
diariamente pelos jornais da grande imprensa que apoiaram a ditadura, narrava a história de
uma cisão (inexistente) entre os integrantes do Comando do Exército, tendo Bolsonaro como
vetor da divisão.

Convém ressaltar que Jair marmita de milico é rebento autêntico do Partido Militar e depende
inteiramente do apoio dos quartéis para se manter no poder, e até mesmo evitar a própria
prisão (provavelmente do restante de sua família, também) por todos os crimes cometidos,
inclusive contra a vida e a saúde dos brasileiros. A narrativa de “crise” busca orientar que
Bolsonaro está ferindo a instituição militar enquanto a situação é exatamente oposta:
Bolsonaro sequer existiria na presidência da República sem o apoio dos Oficiais. Diante da
política de morte e do retumbante fracasso do governo, os milicos tentam se distanciar
evitando estar associados ao capitão através de “fakes crises”. Para isso, forjam o falastrão
general Santos Cruz como postulante “oficial” verde oliva enquanto mantêm o capitão na
condição de candidato “oficioso” caso os ventos eleitorais sigam soprando pra um segundo
turno entre Lula e Bolsonaro, em 2022.

Assim, as recentes manifestações políticas do general Pazuello indicam mais uma manobra
diversionista dos comandantes para afastar a instituição do governo por ela própria criado e
sustentado. Convocado para uma reunião com o comandante, general Paulo Sérgio, para
receber comunicação da abertura de Processo Disciplinar pelos atos cometidos, Pazuello não
compareceu por falta de tempo. É 1 colosso! Não há como acreditar que uma instituição que
se baseia nos princípios de hierarquia, disciplina e obediência permita que um subalterno
deixe de comparecer a uma reunião com superior. Seria cômico se não fosse ridículo que isso
tenha sido notícia de insubordinação, principalmente quando os fatos mostram que o general
Pazuello é o mais subordinado e condescendente de todos, ele mesmo disse: “um manda, o
outro obedece”, ao encenar o lamentável papel de Adolf Eichmann tupiniquim e recusar a
compra de vacinas.

Como recompensa por mentir e delinquir a favor do governo e do Exército, o general Pazuello
passou a integrar a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência, com salário de
R$ 16.944, em cargo ligado diretamente ao presidente da República. Sobre o processo
disciplinar dissimulado pelos comandantes para orientar nova “crise”, foi decidido pelo
arquivamento. Como o regulamento indica que é vedado ao militar “manifestar-se
publicamente sem que esteja autorizado a respeito de assuntos de natureza político-
partidária”, a falta de punição por evidente ato político do general da ativa só pode indicar o
óbvio ululante: o general Pazuello foi autorizado por superior a participar da manifestação
depois de mentir à CPI do Genocídio, salvar Bolsonaro e os comandantes, com a garantia de
que não seria punido pelo Comando do Exército e ganharia imunidade jurídica com nomeação
feita pelo Palácio do Planalto.

Com cargos no governo, benefícios orçamentários, salariais e previdenciários, os Oficiais


seguem ganhando enquanto o povo morre de fome ou da peste (ou dos dois). Cabe às
instituições e aos integrantes da sociedade civil denunciarem e investigarem o ativismo dos
generais, assim como suas responsabilidades sobre o atual genocídio provocado pela gestão
do governo que apoiam e integram. É preciso trabalhar a formação da consciência da
população sobre a necessidade de um projeto de Defesa que proteja o Brasil e os brasileiros
das ameaças externas, profissionalize as forças armadas e, por fim, extinga o Partido Militar
que serve apenas para provocar crises, ameaçar a sociedade e a democracia, e manter a cadela
do fascismo sempre no cio.

Carla Teixeira – Doutoranda em História na UFMG

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