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Comunicação
Isaac Souza1
Universidade Federal de Minas Gerais
isaac_flauta@yahoo.com.br
Angelita Broock2
Universidade Federal de Minas Gerais
angelbroock@gmail.com
Helena Lopes3
Universidade Federal de Minas Gerais
helopesster@gmail.com
Resumo: No ano de 2020 os educadores, de uma forma geral, tiveram que adaptar o ensino
para ambientes virtuais. O mesmo aconteceu com professores que trabalham diretamente
com Educação Musical Infantil. Portanto, o presente artigo apresenta um recorte de um
estudo elaborado com o objetivo de investigar, mapear, descrever e refletir como tem sido
as práticas de educadores musicais que têm atuado de forma remota ministrando aulas para
crianças até 06 anos de idade em ambientes virtuais, em diferentes contextos de ensino-
aprendizagem. Um survey foi elaborado através de um formulário on-line e ficou disponível
para respostas em julho de 2020. Obtivemos respostas de 91 educadores musicais oriundos
de diferentes regiões brasileiras e que atuavam com educação infantil. Os resultados nos
trouxeram reflexões sobre o formato de ensino virtual para a primeira infância e sua eficácia
enquanto modelo de ensino. Os participantes da pesquisa apresentaram fragilidades neste
novo modo de exercerem sua prática profissional no atual contexto, que passam por
aspectos referentes ao uso e domínio das tecnologias, pelo planejamento das aulas para os
ambientes virtuais, pela dimensão relacional via telas com crianças e famílias e ainda pelas
questões objetivas e subjetivas que as crianças apresentam a partir de suas vivências no
atual contexto.
Palavras-chave: Educação musical, Musicalização infantil, Ensino Remoto, Aulas on-
line.
1
Mestrando do curso de Educação Musical da UFMG
2
Professora da Escola de Música da UFMG
3
Professora da Escola de Música da UFMG
XII Encontro Regional Sudeste da Associação Brasileira de Educação Musical
A Educação Musical Brasileira e a construção de um outro mundo:
proposições e ações a partir dos 30 anos de lutas, conquistas e problematizações da ABEM
09 a 20 de novembro de 2020
Introdução
Afetados por este contexto e instigados por questões dele provenientes no que se
refere às aulas de musicalização infantil on-line para a primeira infância, decidimos
investigar práticas de educadores musicais brasileiros que, na atual conjuntura da pandemia
de COVID-19, trabalham com musicalização infantil na primeira infância em diferentes
contextos de forma remota, no modo on-line.
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A temática da EAD no campo da Educação Musical tem sido discutida por muitos
pesquisadores como destaca RIBEIRO (2013):
Behar (2020) apresenta em seu artigo a diferença entre Educação a distância (EAD) e
Ensino Remoto Emergencial (ERE), conceituando este último como:
4 Um marco importante para a conceituação e normatização da EAD foi o Decreto nº 5.622 de 2005, que
estabelece os parâmetros legais e conceituais desta modalidade de ensino.
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Nas aulas síncronas os alunos assistem às aulas no momento exato em que ela está acontecendo.
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A autora afirma ainda que diante da abrupta interrupção das aulas presenciais,
docentes se viram diante do desafio de construírem competências digitais, adaptarem às
aulas, aplicando estratégias pedagógicas on-line. Apesar de se referir ao contexto escolar, as
características dessa modalidade de ensino são perfeitamente aplicáveis em contextos de
ensino informal, e por não apresentar nenhuma restrição à educação infantil, é
perfeitamente extensível ao contexto de musicalização para a primeira infância em formato
on-line.
Muitos professores que atuam com musicalização infantil tiveram que reinventar
suas práticas docentes para o contexto da virtualidade neste tempo de pandemia. Este tem
sido um grande desafio para os educadores em todos os níveis de ensino e aprendizagem, e
consideramos um desafio ainda maior para aqueles que trabalham com música na primeira
infância, dadas as limitações que este modelo oferece e a necessidade de interações
humanas para esta faixa etária. Segundo Brito (2003), as interações permitem que os bebês
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Maura Penna (2010) diz que a sensibilidade musical pode ser adquirida e construída
num processo em que as potencialidades dos indivíduos são trabalhadas e preparadas para
reagir ao estímulo musical, muitas vezes de forma não consciente. Para a autora:
O termo musicalização infantil é definido por Tiago Madalozzo (2019) como “um
processo em que, com a sensibilização sonora, a criança passa a atribuir sentido aos
conceitos musicais a partir de uma série de práticas ativas em que se envolve de maneira(s)
significativa(s)” (p. 100). O autor completa ainda que a criança passa a atribuir sentido
musical a partir de suas experiências de forma duplamente significativa, incluindo tanto o
entendimento das características técnicas musicais (conceitos) quanto a sua experiência
pessoal em relação à música.
Percebemos assim que através de uma prática musical ativa (formal ou informal) as
crianças se tornam sensíveis e receptíveis ao fenômeno sonoro, atribuindo sentidos tanto
musicais quanto pessoais, incluindo sua relação com o outro neste processo. Tanto no
contexto da escola regular quanto em cursos livres, nas aulas de musicalização infantil essa
relação se dá entre a música, a criança, o professor e o cuidador. Neste contexto de aulas
virtuais, os cuidadores têm exercido também o papel de mediadores entre a criança, o
professor e a música, o que torna este trabalho ainda mais desafiador, visto que na muitas
vezes esse cuidador não é musicalizado. Salientamos, portanto, a importância do educador
com formação musical neste processo de musicalização, a fim de garantir que os objetivos
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musicais sejam contemplados nas aulas virtuais (e nas presenciais), de forma que os
cuidadores possam se envolver e se engajar nas atividades propostas, contribuindo assim
para o desenvolvimento musical dos pequenos.
do lazer.
Portanto, o objetivo deste estudo foi investigar, mapear, descrever e refletir como
tem sido as práticas de educadores musicais que têm atuado de forma remota ministrando
aulas para crianças até 06 anos de idade em ambientes virtuais, em diferentes contextos de
ensino-aprendizagem.
Metodologia
O questionário foi elaborado pelo Google Forms6, e o link de acesso foi divulgado
através de e-mails, publicações nas redes sociais e disponibilizado para respostas durante o
mês de julho de 2020. A participação foi voluntária e os respondentes poderiam se abster de
responder qualquer questão.
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Formulário online e gratuito, que pode ser criado a partir de uma conta de e-mail do Google.
https://www.google.com/forms/about/ (acesso em 03/09/2020)
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Resultados e análise
sua atenção. Não por acaso a dificuldade na utilização das ferramentas tecnológicas foi
elencada como um dos principais obstáculos na realização das aulas on-line. Por sua vez, as
limitações na produção dos vídeos, seja no manuseio de equipamentos, na edição ou na
ambiência, podem comprometer a qualidade do material audiovisual e por consequência,
colocar em risco o interesse das crianças para as quais ele será destinado.
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Corporeidade diz respeito à maneira como o cérebro utiliza o corpo para os processos de aprendizagem e de
relação com o mundo.
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Diante de um contexto tão adverso ocasionado por uma Pandemia que impôs
repentinamente o isolamento social como medida sanitária imediata e consequente
interrupção da rotina de atividades presenciais escolares, com o convívio social, com amigos,
familiares, com os ambientes comunitários e itinerários das famílias pela cidade,
encontramo-nos diante de crianças diretamente afetadas por tudo isso e que tiveram suas
rotinas totalmente modificadas.
Outra questão aberta que trouxe dados muito reflexivos dos professores foi em
relação à opinião dos que os educadores sobre o que as crianças mais precisam neste
momento de isolamento social. As respostas trouxeram reflexões sobre a necessidade do
estreitamento de vínculos e afeto. Trouxeram também a necessidade de as crianças serem
ouvidas com respeito, acolhimento empatia. Constatamos, portanto, que para além de
identificar novas práticas profissionais sustentadas por recursos tecnológicos, inclusive, que
muitos têm dificuldade em dominar, nesta nova prática a tecnologia da empatia, dos afetos,
faz-se mais necessária para que crianças, famílias e educadores musicais possam atravessar
estes tempos desafiadores com um pouco mais de leveza.
participantes desse estudo, que esses mesmos professores têm atuado com muita
criatividade, motivação e superação, e que os resultados têm sido surpreendentes.
Este estudo tem implicações diretas para a Educação Musical, pois contribui com
reflexões para a prática atual em um formato de ensino que até então não era utilizado nas
aulas de musicalização infantil. Este estudo ainda está em andamento, logo, um estudo mais
aprofundado dos dados obtidos neste survey, uma análise qualitativa das aulas e um estudo
sobre como essa educação musical tem sido recebida pelas crianças e pelas famílias, poderá
contribuir ainda mais para o aprimoramento dessa prática de ensino.
Referências
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contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29,
n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003. Disponível em:
<https://www.scielo.br/pdf/ep/v29n2/a10v29n2.pdf>. Acesso em 15/08/2020.
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BARROS, Daniela; ALVES, Lynn (Org.). Moodle estratégias pedagógicas e estudos de caso.
Salvador: EDUNEB, 2009, p. 187-201.
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BEHAR, Patrícia Alejandra. Artigo: O Ensino Remoto Emergencial e a Educação a Distância,
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1998, v.3, p.45-79. Disponível em< https://seer.ufrgs.br/renote/article/view/13782> Acesso
em 10/08/2020
BRITO, Teca de Alencar. A Música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.
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legais. Revista Científica da FASETE, p. 59-74, 2017.
GAINZA, Violeta. Estudos de psicopedagogia musical. 3.ed. São Paulo: Summus, 1988.
GOMES, Christianne L. (Org.). Dicionário Crítico do Lazer. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2004. 240 p.
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