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Michael Taussig
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Capítulo 2. O diabo e o fetichismo da mercadoria
Imagens de Deus correspondem ao modo de produção camponês, enquanto o
diabo e o mal caracterizam a metafísica do modo de produção capitalista (p. 37).
Olha! Será que a busca dos temas de pesquisa significa a busca pela
representação de elementos religiosos, divinos que são negados pela Ciência?
Pacto com o diabo para aumentar a produtividade no trabalho assalariado. O
dinheiro obtido desse pacto é estéril, ele não pode ser aplicado para a compra de terras,
pois a terra ficaria infértil. Além disso, o trabalhador que faz o pacto tem a saúde
prejudicada e pode morrer antes do tempo.
Tanto na Colômbia (canavieiros), como na Bolívia (mineiros) havia a
participação de militância política e consciência de esquerda dos trabalhadores.
Militância dos trabalhadores bolivianos é lendária.
“Nas minas de estanho bolivianas, os ritos envolvendo o diabo também podem
ter o papel de restringir a competição entre os mineradores, mas essa é uma questão por
demais complexa e que não deveria obscurecer o fato de tais ritos referirem-se à relação
político-econômica global de classes sociais em luta e ao caráter e significado do
trabalho” (p. 40).
O autor busca elaborar “a interpretação de que as crenças no diabo formam uma
mediação dinâmica de oposições que surgem em um momento histórico de
desenvolvimento particularmente crucial e sensível. Tais crenças podem ser pensadas
como mediadoras entre dois modos distintos de apreensão ou avaliação do mundo, das
pessoas e das coisas. Seguindo Marx, denomino essas formas de avaliação valor de uso
e valor de troca” (p. 43). Para isso, o autor contrasta o “misticismo popular pré-
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tudo que é comprado ou vendido deve ter sido produzido para a venda é enfaticamente
falso‟, escreve Polanyi. „O trabalho é apenas outro nome para a atividade humana que
acompanha a própria vida, que, por sua vez, não é produzida para venda, mas com
propósitos inteiramente diferentes‟. E conclui: „a definição mercantilizada de trabalho,
terra e dinheiro é completamente ficcional‟ (Polanyi, 1957, p. 72)” (p. 59).
Fetichismo da mercadoria – capital e produtos dos trabalhadores tratados com
termos usados para pessoas e animais.
VER Reificação no dicionário do pensamento marxista.
Capital é comparado à árvore que gera frutos. Reificação leva ao fetichismo.
Nas sociedades pré-capitalistas os produtos também aparecem com
características das pessoas, mas porque incorporam o contexto social onde foram
criadas (p. 68).
Capítulo 3. Religião escrava e a ascensão do campesinato livre
Dois pontos sobre a religião escrava na América Latina: a) brancos tinham
receio dos poderes sobrenaturais dos dominados e o contrário também era verdadeiro; b)
religião unida à magia, ambas presentes no cotidiano (p. 73).
Europeus definiam a magia africana e indígena como maligna.
1781 – guerra dos comuneros. Negros libertos descontentes no Vale do Cauca,
Colômbia.
Final do século XIX – tentativa dos senhores de escravo de aprovar uma lei
violenta contra os escravos. Para evitar uma rebelião venderam os negros escravizados
no mercado internacional.
1852 – abolição da escravatura.
Um pouco antes, foi estabelecido uma nova categoria de trabalhadores, os
concertados, que aceitavam trabalhar alguns dias nas haciendas em troca de um pedaço
de terra.
Mineração do ouro cessou após a abolição ao sul do Vale do Cauca.
Arboleda – família que tinha muitos escravos. Eles dividiram a mata virgem
entre os negros, que deveriam derrubar árvores, cultivar bosques e pagar dez dias de
trabalho por mês. Arboleda controlavam de forma rígida os arrendatários, restringindo a
produção nas roças e os encontros públicos.
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Trabalho em oposição à vida. “Prefiro ser gordo sem dinheiro que magro com
dinheiro”. Cana-de-açúcar é fetichizada – planta que suga e devora as pessoas.
Conhecida também como “Monstro Verde”.
1972 – povo organizou invasão aos canaviais e grandes fazendas.
Alimento x dinheiro originado da cana.
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Conceito cultural de cosmogonia para ler o pacto com o diabo feito a partir da
transformação nos meios de produção da sociedade.
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A costa
Uso diverso do muñeco na costa do Pacífico e nos canaviais do Vale. Naquele
local as pessoas o utilizam para rituais de cura e proteção contra feitiçaria.
Xamãs indígenas absorvem parte da mágica africana.
Bonecos são de argila ou madeira, em formato humano ou animal, eles têm
“papel central na cura através do exorcismo de espíritos animais ou de xamãs vingativos
que tenham sequestrado a alma do paciente” (p. 147).
Uso de bonecos não deve ser interpretado como um desejo de aumentar a
produção; e sim como a regulamentação de um processo perigoso que está em questão.
Analogia entre esferas produtiva e reprodutiva. “O aumento da produção sob
incipientes relações capitalistas dá lugar à esterilidade da natureza e à falta de poder
reprodutivo dos salários ganhos. É interessante notar que a linguagem cotidiana da
economia capitalista madura também utiliza metáforas biológicas, mas tais metáforas
exaltam o capital, dotando-o de capacidades férteis” (p. 148).
Procurar o que é machete.
Camponeses locais
Não utilizam o pacto com o diabo. Magia é utilizada para evitar que a
propriedade seja roubada. Boa magia ligada à alma dos mortos virtuosos e aos santos
católicos – com a finalidade de proteger uma roça contra o roubo ou influências
malignas.
Mulheres
Não fazem pacto porque são provedoras das famílias e das crianças. E o pacto
implica em esterilidade e destruição do crescimento.
Mulheres usam feitiçaria contra as amantes dos parceiros ou contra os parceiros
infiéis.
Charuto, vela e fósforo. Comprados com o dinheiro do marido infiel e pegos de
uma pessoa malvada. Princípio: coisas incorporam e transmitem a essência espiritual de
uma pessoa. “Por trás do princípio da mágica contagiosa pode-se perceber que, em
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certas situações, uma troca de bens e dinheiro envolve a noção de que essas coisas
incorporam e transmitem a essência espiritual de uma pessoa” (p. 150).
“A magia não tem a finalidade de aumentar a produção. O rito pretende destruir
a potência masculina quando esta ultrapassa os laços com sua parceira de reprodução e
passa a assemelhar-se ao investimento de capital apenas para aumentá-lo” (p. 151).
“A fé no rito mágico é uma manifestação da virtude do antigo sistema e a
deslegitimação do atual” (p. 151).
Cosmogonia
Tawney – revolução moral com o nascimento do capitalismo. O que era
considerado vício passa a ser virtude.
“À medida que uma nova forma de sociedade de luta para emergir a partir da
velha, que as classes dominantes tentam fazer funcionar seus princípios dominantes em
uma nova tradição, a cosmogonia preexistente dos trabalhadores torna-se uma frente
crítica de resistência, de mediação, ou ambas” (p. 151).
Isso me lembra Marx e Gramsci, com os conceitos de infra-estrutura e
superestrutura.
Evans-Pritchard – pensamento primitivo não foi assimilado pelo misticismo
ocidental moderno.
Cosmogonia lida com a mudança, o começo e o fim da existência.
“Ritos cosmogônicos criam realidade, e que seu poder persuasivo encontra-se,
precisamente, no tipo especial de conhecimento que surge de tal criação” (p. 152).
Ciências naturais e positivistas – racionalidade instrumental X Nova Ciência –
considera a experiência da vida cotidiana, modos de expressão, medos e esperanças.
“Como os escolásticos, Vico pensava que só se pode conhecer verdadeiramente
o que se cria, e que conhecer algo é alguma maneira de tornar-se esse algo, unir-se a
ele” (p. 153)
Weber – proletarização inaugura uma nova ordem natural: imenso cosmos que
se apresenta ao indivíduo como uma ordem inalterável.
Novo cosmos em processo de formação – “Criação, vida e morte, crescimento,
produção e reprodução – todas essas questões interessam à cosmogonia” (p. 154).
Classes mais baixas – não são camponesas nem proletárias.
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“Como seres liminares – não são nem o que eram, nem ainda o que se tornarão –
, a posição desses semicamponeses semiproletários é tanto de negação quanto de
afirmação de todas as posições estruturais” (p. 154).
Cosmologia em ação
Cosmologia no Vale do Cauca tem origens na Igreja Católica.
Base dos ritos e magia popular – a queda e a transcendência do mal na
ressurreição.
Proibições da Sexta-Feira Santa. Até hoje!
Versão oficial da Igreja – cosmos dividido entre Paraíso, Inferno e Terra. Versão
popular acrescenta a crença nos espíritos dos ancestrais. Exemplo: ánimas, almas ou
espíritos que se desligam do corpo e vagam pela noite.
Ánimas – principalmente mãe e avó – servem de intermediários com Deus.
Ánimas são invocados para impedir o perigo, santos para pedir a sorte. Santos estão na
Igreja, enquanto os animas estão mais próximos do cotidiano.
Associação com a morte e ressurreição de Cristo nos rituais contra feitiçaria e
também no cultivo.
“Tanto negros quanto brancos atribuem vasto poder mágico a esses nativos
forasteiros, uma vez que os veem como primitivos, ligados ao mundo natural e à criação
das primeiras coisas. A tradição local também associa os indígenas ao renascimento
mágico e ao misticismo da antiguidade mediterrânea na Cabala” (p. 161).
“Em uma incessante dialética do conquistado transcendendo seus
conquistadores, o significado social da desigualdade e do mal é mediada pela imersão
no pagão do mito de salvação dos conquistadores” (p. 161)
Incredulidade e a sociologia do mal
Cultura compartilhada para que a feitiçaria tenha validade.
Capítulo 6. Poluição, contradição e salvação.
Feitiçaria ligada à sujeira e coisas maléficas. Sujeira e poluição são formas de
proteger contra a contradição (Douglas, 1966).
“Baseada na mitologia da queda e da salvação, a religião popular e a cura
mágica no sul do Vale do Cauca são apenas a afirmação dessa unidade dialética entre
bem e mal. O diabo simboliza, por um lado, o processo antitético de dissolução e
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“O medo da feitiçaria equivale ao medo de possuir mais que os outros, o que indica que
não houve partilha. A feitiçaria é o mal. Mas suas raízes residem em preocupações
legítimas com relação a esferas em que a competição coloca individualismo e
comunitarismo em confronto” (p. 171).
Lembrar que Itana disse que Henrique Hildebrando tinha feito pacto com o diabo.
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Mulheres são responsabilizadas pelo cuidado dos filhos. Homens são mais adeptos às
tecnologias da Revolução Verde.
“Assim como com Deus, o mesmo acontece com o mercado e com as mercadorias –
entidades sociais criadas pelo homem mas que funcionam na imaginação coletiva como
seres animados dotados com a vida que o homem nega a si. Os homens criaram em
conjunto produtos que ocultam sua vida com uma objetividade fantasmagórica” (p.
176).
Batismo do dinheiro na igreja. Dava um nome para a nota e passava ela para frente
durante uma negociação, esperando que recebesse de volta o dinheiro acrescido de mais
valor.
Batismo do dinheiro – pacto feito com Deus, então o dinheiro é fértil. No pacto feito
com o diabo, o dinheiro é estéril.
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