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Eu fico feliz que vocês tenham gostado do formato e do conteúdo da primeira

carta que eu escrevi para vocês. A verdade é que eu ainda me sinto refém dos
textos, onde eu posso escrever, parar e pensar, revisar e ajustar antes de
postar.

Assim eu consigo organizar melhor as minhas ideias e, depois que acabo,


quando faço o áudio para vocês as coisas se organizam melhor.

Se seguirmos, de alguma forma, com esse tipo de conteúdo, provavelmente


escreverei uma carta a cada áudio enviado. Não quero ficar refém desses
modelos de seis ou sete páginas. A primeira foi desse tamanho, mas nada
garante que as outras também terão.

Pode ser que eu queria, simplesmente, mandar uma página. Meia página.
Algumas linhas...

Padrões e obrigações acabam tolhendo a minha criatividade – e, ao final das


contas, vocês teriam um texto maior e pior.

Bom, vamos começar.


Digamos que algum tempo tenha passado, as crianças cresceram e
amadureceram, cada uma do seu jeito, respeitando o próprio temperamento, e
chegaram à pré-adolescência. Digamos também que, certo dia, o Matteo se
aproxime de mim e pergunte: "Pai, o que o senhor gostaria de ter aprendido na
minha idade? O que faria de diferente? Que conselhos eu precisaria ouvir agora?".

Ele teria treze, quatorze anos nessa ficção.

"Preciso dar a ele alguns conselhos gerais", eu pensaria. "Precisam ser soluções
universais, porque eu ainda não sei o que ele fará da vida. Precisa ser algo valioso
e aplicável a qualquer realidade, para qualquer pessoa, em qualquer fase da vida,
ou não servirão. Eles precisam continuar nele, para que passe pras irmãs ou para
os filhos dele, caso eu não esteja mais aqui".

Eu sempre gosto de pensar que estou conversando com o Matteo, quando


quero passar alguns conselhos para vocês. Eu não sei, me faz sentir um
carinho maior e aumenta o meu senso de responsabilidade. Escrevo coisas
melhores quando penso neles três.

Então, que conselhos daria ao meu filho? E como esses


conselhos poderão mudar a vida de vocês.
Esses conselhos poderão ser utilizados como fonte de aprendizado, seja você
um jovem de vinte e poucos anos, ou um adulto que ainda tenta encontrar o
seu lugar no mundo.
Falarei um pouco também sobre sucesso, fracasso, modelos de sucesso e de
fracasso e como a internet – esse negócio que todos usam apenas como
entretenimento – me trouxe tudo que tenho hoje...e quando eu digo tudo, é tudo
mesmo.

A coisa mais fácil do mundo seria pensar: "Ah, ele está falando de dinheiro.
Dessa casa enorme e desse monte de empregadas que trabalham pra ele". Mas
isso é só o reflexo de uma década e meia de trabalho. De tiros que deram certo.

A internet me trouxe três coisas muito mais valiosas:

1. Me trouxe refúgio. Quando eu não queria encarar a minha vida,


quando queria fugir das coisas que tinha e encontrava em casa, eu
ligava o computador. Quando o dinheiro estava curto, as brigas
eram frequentes e eu não tinha literalmente nada para fazer dentro
de casa, ligava o computador. Eu só precisava de uma conexão
com a internet e eletricidade. Isso me bastava.

2. Me trouxe conhecimento. Eu mudava sempre. Ficava alguns anos numa


escola, criava alguns amigos, conseguia conhecer algumas pessoas… e
mudava. Rapidamente, percebia que precisaria criar tudo de novo. Eu não ia
bem na escola, não tinha muita gente para conversar – mas a internet resolvia
isso. Meus amigos, online, iam comigo para onde eu fosse. Pouco a pouco eu
percebi que a maioria das minhas amizades eram digitais. Conectado, eles
iriam sempre comigo.

3. Me trouxe cura para a solidão. Existe uma frase, do


professor Olavo de Carvalho, que dizia que a pior solidão é a
intelectual. Que você pode se sentir totalmente isolado, mesmo
numa casa cheia de pessoas. A internet também resolveu isso
para mim. Me trouxe os meus melhores amigos, me ensinou o que
eu queria saber e me abriu portas que eu jamais imaginaria que
fossem possíveis.

Bom, voltando aos conselhos:

Aqui está o primeiro conselho...


O primeiro e mais importante conselho que eu passaria para qualquer um dos
meus filhos, seria: faça tudo para proteger o seu nome. Isso parece um
conselho de avô, aquele tipo de coisa que alguém mais velho te conta e que
você dá pouca importância – mas a verdade é que nós damos pouca
importância, porque somos imaturos demais.

Não sabemos qual é a importância de mantermos o nosso nome, até


precisarmos dele. Quando eu falo "precisarmos dele", não estou falando de
pegar um empréstimo ou financiar um imóvel, estou falando da forma mais
universal que existe de geração de riquezas: oportunidades, convites e
contatos.

Pessoas ricas e bem-sucedidas precisam de lealdade. Eles já estão de saco


cheio daquele monte de gente falsa. Dos tapinhas nas costas e nos incentivos
que não valem nada. Quem já chegou lá admira mesmo é o bom e velho
trabalho duro e a lealdade.

"Integridade é o ativo mais caro do mundo. Você não encontrará isso em pessoas
baratas", diria o Warren Buffett.

Proteger o seu nome significa:

1. Andar com as pessoas certas e evitar as erradas.


2. Pagar aquilo que você deve, na data ou antes do prazo.
3. Entregar, no mínimo, aquilo que você promete.
4. Chegar e sair na hora acordada.
5. Estar pronto, disponível e disposto.

Perceba que eu não estou falando nada sobre "entregar mais do que o
prometido" e coisas do tipo. Não. Você está apenas fazendo o mínimo que a
sociedade (a boa parte da sociedade) espera de uma pessoa adulta.

Se você é o tipo de pessoa que se sente tranquila devendo um mês de


condomínio, ou algumas continhas de celulares, não porque você não pode
pagar, mas porque "você esquece" ou "não é tão importante, resolvo mês que
vem", essa é a mensagem que você passará a todos à sua volta.

E aqui vai uma dica muito importante: todos perceberão a sua integridade. E
você será conhecido por ela. E essa notícia se espalhará.

Quem aqui nunca ouviu, no meio de uma conversa: "Olha, pode contratar Fábio,
que eu garanto". Uma pessoa que é apresentada assim à outra, não precisa de
currículo. A maior parte dos contratantes prefere chamar pela indicação e
confiança que pelo papel.

Ser íntegro também significa não estar bêbado nas festas, não entrar em
conversas onde você não foi chamado, não fazer piadinhas autodepreciativas
ou venenosas com tudo e com todos. É… basicamente… não exagerar.

E, após tudo isso, eu esperaria de verdade que o Matteo entendesse a


importância desse conselho – porque ele garantirá todos os outros.

Aqui está o segundo conselho...


"Tenha uma ideia clara de quem você será nos próximos dez anos". Quando eu
falo uma ideia clara, não quero dizer detalhada. Você precisa de direção, não de
precisão.
Quando eu digo que sabia que seria rico, o que as pessoas não entendem é
que, na verdade, o que eu quero dizer é: "Eu já me comprometi demais com essa
ideia. Ela já faz parte de mim. Está dentro de mim. É nisso que eu penso e
trabalho todos os dias". Isso garante que eu chegarei lá? Não. De forma
alguma. O Everest está repleto de cadáveres motivados. O ponto é: é a única
forma conhecida para que cheguemos ao sucesso.

A maior parte dos motivados falharão, mas o ponto é que ninguém enriquece
por acidente. Não existe um único advogado, professor, empresário,
nutricionista que, lá na sua salinha, fazendo apenas o mínimo, enriqueceu.

E outra: essa ideia clara tem outra função, que é te dar motivação para três
coisas:

1. Para você continuar trabalhando e estudando, enquanto os outros


se divertem.
2. Para você continuar sendo íntegro e centrado, enquanto os outros
brincam.
3. Para você não desistir, porque sabe o tamanho do prêmio que virá.

Aqui está o terceiro conselho...


Construa o seu ciclo de amizades em torno desse objetivo.

Se você não tem uma ideia clara do que será, do que fará e de onde estará em
dez anos, significa que pode perder tempo à toa.

Sem objetivos, restam apenas as frivolidades e distrações.

Agora eu quero te dizer algo que é provável que você interprete mal – mas é o
que eu diria para os meus filhos: a maioria das pessoas atrapalharão você.

A maior parte das pessoas está perdida. Cresceram em lares disfuncionais,


não foram educados, seus pais não se preocuparam com a sua formação, com
os valores da sua criação – ou, simplesmente, chegaram à vida adulta sem
ouvirem um único conselho que preste. Estão aí, zanzando pelo mundo.

Um trabalhinho aqui, uma terapia ali, planos para o próximo carnaval e


saidinhas de final de semana. É o tipo de gente que só te trará cobranças
inúteis.

Que te cobrará presença em festinhas, que ligará perguntando porque "você


está tão distante", que te dirá que você está trabalhando muito e que a vida não
é só isso. E está tudo bem, porque no fundo essas pessoas são bem-
intencionadas – elas só não enxergam o que você enxerga, quando olha para o
longo prazo.
Aqui está o quarto conselho...
Esse é o conselho mais difícil, porque eu não sei se eu posso te ensinar a fazer
isso ou se é assim que a minha cabeça funciona.

O ponto é: eu sou um cara estranho, com as minhas obsessões e os meus


padrões. Eu não sei se você será capaz de fazer isso, ou até mesmo se já faz
isso e eu não sei.

O conselho é: você precisa viver uma realidade paralela na sua cabeça.

Se a sua casa é uma merda, e você não pode sair dela, você tem que sair "na
sua cabeça".

Quando eu morava naquele kitnet da divisa, ele era mais ou menos assim: um
pequeno retângulo, que era ao mesmo tempo sala, quarto e cozinha. Eu tinha
um armário pequeno, comprado em doze vezes e a minha cama. Havia um
banco de plástico, que tinha custado 19,90 e a minha televisão de tubo Philco,
que só passava Rede-TV.

Na verdade eram três canais, mas só a Rede-TV tinha imagem boa.

Meu chuveiro havia queimado, minha cortina estava mofada, meu único celular
havia caído da janela (tocou, estava no vibra e foi caminhando, até cair) e o
fogão mal conseguia fazer a água ferver.

Ali eu já era rico. Eu juro, juro por Deus, que poderia ter me matado se não
vivesse uma realidade completamente paralela na minha cabeça. Se não
entrasse naquele lugar, cheio de gente fodida e mal educada brigando nos
corredores, e pensasse: "Foda-se essa gente toda. Eles morrerão aqui. Eu não
pertenço a esse lugar".

Cada banho frio que eu tomava, pensava: "Não importa. Isso não será sempre
assim".

E por que é que esse conselho é tão valioso? Porque se você não for capaz de
viver uma realidade paralela na sua cabeça, se tornará essa gente. Pouco a
pouco você acreditará que merece estar ali, que ali é o seu lugar e que aquela
gente é "a sua gente". Aí você estará fadado a morrer ali.

E aqui está o último conselho...


Finais de semana e feriados destruirão você.

Nada disso que eu te disse, nenhum desses conselhos, servirá se você dividir a
sua vida em duas identidades: você de segunda a quinta e outro você de sexta
até domingo.
Você não chega lá abrindo mão de 40% da sua semana.

Você não chegará lá gastando dinheiro, saindo e comprando coisas três dias
por semana.

Você não pode dividir as suas amizades em duas – os amigos dos dias de
semana e os amigos do final de semana.

Você destruirá os três fundamentos que são imprescindíveis para a formação


da personalidade que me trouxe até aqui:

1. A visão de longo prazo.


2. A realidade paralela.
3. E a integridade.

Se você já é um adulto e já tem um trabalho, mas vive numa realidade que


ainda não é aquela que você deseja, finais de semana e feriados significam
afiar o machado.

Significa que você ganhará dias inteiros para estudar e trabalhar nos seus
projetos de verdade. Naquilo que te tirará dessa vida de merda.

Pense sempre que o seu patrão está te pagando dois dias inteiros para você
trabalhar em outro negócio: o seu negócio próprio.

Carnaval? Significa uma semana inteira trabalhando no seu negócio próprio.

Natal? Ano novo? Ótimo! Mais alguns dias para trabalhar no meu próprio
negócio.

Cada feriado significa a oportunidade para você voltar a cavar o túnel que te
tirará daquela prisão. Segunda feira você volta ao cativeiro. Volta a trabalhar
naquilo que paga as suas contas – sempre com os olhos voltados à próxima
sexta-feira à noite, que é quando você poderá trabalhar naquilo que só você
enxerga.

A conclusão.
Hoje, olhando pra trás, foi exatamente isso que eu fiz. Exatamente isso.

Sem uma vírgula a mais ou a menos.

E eu nunca havia conseguido verbalizar e organizar as ideias como eu fiz agora.


Esse é o segredo. Foi esse caminho, essa reunião de posturas, mentalidade e
de organização do tempo, que me trouxe até aqui.

É claro que o meu filho não entenderia a profundidade e a importância desses


conselhos, aos treze anos de idade. Mas não importa. As sementes teriam sido
plantadas – e, mais pra frente, mesmo que eu já estivesse morto, ele lembraria.

Agora, você que está lendo essa carta, eu acredito que poderá usar esses
quatro ou cinco conselhos para reformar a sua vida. E poderá fazer isso a
partir de agora.

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