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TEOREMAS SOBRE ELASTICIDADE

Pedro Jorge Ramos Vianna

Maio/2011
2
APRESENTAÇÃO

O presente trabalho é uma reedição do Texto Didático nº 3, editado pelo Departamento de Teoria
Econômica, da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Ceará, de maio de 1996.

Dado que desde aquele ano até agora nenhum texto veio aprimorar ou substituir o que escrevi em 1996,
torno-o público com a esperança que venha aprimorar os conhecimentos dos alunos de economia sobre
o tema.

Como o conceito de elasticidade é um dos mais usados instrumentos de análise que o economista dispõe
para efetuar seus estudos, vale congregar em um único texto os diversos teoremas e algumas aplicações
desse conceito tão importante.

Vale a princípio salientar que como é um conceito matemático, sua aplicação é universal e, em
economia, pode ser usado em qualquer situação onde haja a interação entre duas ou mais variáveis.

Entretanto, sua aplicação nos livros textos de economia, é esporádica e dispersa.

Por este motivo, neste trabalho resolvi reunir uma série de informações sobre o Conceito de Elasticidade
e suas aplicações.

O primeiro Item deste trabalho traz para o aluno quinze teoremas envolvendo o conceito de elasticidade,
mormente no campo de Microeconomia.

Os treze primeiros teoremas dizem respeito à função demanda; o Teorema 12 está vinculado à função
procura do trabalhador por hora trabalhada; os Teoremas 13 e 14 referem-se à função produção; e, o
Teorema 15 relaciona-se com a função utilidade.

Após a apresentação desses quinze teoremas, mostro no Item 2 algumas aplicações do Conceito de
Elasticidade ainda no campo da Microeconomia: a primeira diz respeito à relação curva de
oferta/utilização da capacidade produtiva no curto prazo. A segunda trata da relação curva de oferta da
indústria de longo prazo e o problema dos custos de escala. A terceira relaciona-se com a incidência do
imposto sobre consumidores e/ou vendedores.

Na quarta aplicação, discuto a comparação entre as elasticidades-preço de diferentes curvas de demanda.

No Item 3 apresento uma discussão sobre a Elasticidade de Substituição. Aqui são apresentados não só
o Conceito de Elasticidade de Substituição, como algumas características dessa elasticidade, e sua
importância para a Teoria Econômica.

Finalmente no Item 4 apresento a mais conhecida aplicação do conceito de elasticidade na Teoria do


Comércio Internacional: a Condição de Marshall-Lerner.

Espero que o presente texto seja de alguma valia para os estudantes de Ciência Econômica.

Pedro Jorge Ramos Vianna


Maio/2011
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1 - TEOREMAS SOBRE ELASTICIDADE

Como já frizamos anteriormente, um dos conceitos mais utilizados em Teoria Econômica é o conceito
de elasticidade. Tomado emprestado à Física, o conceito de elasticidade é utilizado para medir a
variação relativa de uma variável, quando há uma variação relativa em uma variável que influencia a
variável que se está analisando.

Desta forma, imaginemos que

Y = F(x)

Neste caso, definiremos a elasticidade, como a relação

%∆Y
__________
E Y,X =
%∆X

ou

∆Y
Y ∆Y ∆X ∆Y X
EY ,X = = . = .
∆X Y X ∆X Y
X

ou

dY X
EY ,X = .
dX Y

As três fórmulas medem a mesma coisa: a variação percentual na variável Y, quando há uma variação
percentual em X. As duas últimas expressões, se referem, respectivamente, ao caso onde temos
variações finitas e ao caso onde temos variações infinitesimais.
4
No presente trabalho apresentamos os mais conhecidos teoremas de aplicação do conceito de
Elasticidade em Teoria Econômica.

TEOREMA 1:

Dada uma função demanda como a do gráfico abaixo.

N P = a - bq

R E

α β = 180 - α

0 S M q

Então,
ME
Eq,p , no ponto E , é igual a
EN

DEMONSTRAÇÃO:

Devido à semelhança de triângulos, teremos

ME MS
=
EN 0S

Mas sabemos que

ES SM
= tg (180 - α) ⇒ = Cotg (180 - α )
SM ES

Sabemos ainda que

Tg ( 180 - α ) = - tg α e cotg (180 - α) = - cotg α


5
Assim, poderemos ter

SM
= cotg (180 - α ) = - cotg α
ES
Logo,

SM = - ES . Cotg α

Mas, temos que

ES = P e 0S = q

logo,

ME MS − ES .cot gα − P.cot gα
= = =
EN 0S q q

Entretanto

dq dP
Cotg α = , porque tg α =
dP dq

Logo,

dq
ME − P . dP P dq
= =− . = Eq ,P E
EN q q dP

COROLÁRIO

Dada a função demanda como no gráfico abaixo

N
E > 1 ME = EN
B
E = 1

A E < 1

M q
6
Então:

MA
Eq,pA < 1 =
ME

ME
Eq,pE = 1 =
ME

Eq,pB > 1 =
MB
ME

TEOREMA 2 :

Dado a função demanda P = 1/q (hipérbole retangular)

Então Eq,p = 1

DEMONSTRAÇÃO

Dado que
7
dq P
E q,P = .
dP q
1
e que q=
P

 1  P
⇒ E q , P = −  − 2 .
 P  q

 1  P
E q , P = −  − 2 .
 P  1
P

Logo

 1 
Eq,p = -  − 2 . P 2 = 1
 P 

COROLÁRIO: Dada a função P = R . 1/q ⇒ q = R . 1/ P

Então
Eq,p = 1

DEMONSTRAÇÃO

Como

dq P
E q ,P = − .
dP q

 1  P
= − R  − 2 .
 P  1
R
P

 1  P2
= − R  − 2 . =1
 P  R

TEOREMA 3:

Se q = constante, ou seja
8
p

qo q

⇒ Eq,p = 0

DEMONSTRAÇÃO:

Dado que

dq P
Eq , P = − .
dP q

Mas sabemos que


dq = 0
dp

⇒ E q,p = - 0 x P = 0 ⇒ Eq,p = 0
q

TEOREMA 4:

Se a função demanda é expressa por P = constante, ou seja

Po

⇒ Eq,p = ∞
9

DEMONSTRAÇÃO:

dq P
Eq , P = .
dP q

Sabemos que

dq = 1___
dP dP/dq

Então

Eq,p = 1 P = 1 P = P
dP/dq q 0 q 0

⇒ Eq,p = ∞

TEOREMA 5:

Dada a função

q = f(P)

então
nq,p = d (ln q)_
d (ln P)

DEMONSTRAÇÃO:

Aplicando logarítmo neperiano à expressão, teremos

ln q = ln [ f(P) ] = f [ ln P ]

Façamos
ln q = u
ln P = v

Então

P = ev
10

Temos então

d (lln q ) = du
d (lln P ) dv

Mas

u = ln q = f [ ln P ] = f [ ln e v ]

Logo

u = f { q [ P (v)] }

Assim

du du dq dP
= . .
dv dq dP dv

1 dq v
= . .e
q dP

1 dq
= . .P
q dP

P dq
= .
q dP

ou seja
d ( lnq ) P dq
= .
d ( lnP ) q dP

TEOREMA 6 :

Se q = F(R) e R = f (Ed)

⇒ Eq,Ed = Eq,R . E R,Ed

DEMONSTRAÇÃO
11

Sabemos que

Eq,Ed = dq . Ed
dEd q

e que

dq dq dR
= .
dEd dR dEd

Logo

dq dR Ed
Eq,Ed = . .
dR dEd q

multiplicando e dividindo esta expressão por R, encontraremos

dq dR Ed R
Eq,Ed = . . .
dR dEd q R

Reorganizando os termos, encontraremos

dq R dR Ed
Eq,Ed = . . .
dR q dEd R

Ou seja

Eq,Ed = Eq,r . Er,Ed

TEOREMA 7 :

Dada a função

q = F ( x, y, z )

Onde
F ( x , y , z ) = f ( x, y , z ) + g ( x , y , z ) + h ( x , y , z )

Então
12

Eq,x = Ef,x . f + Eg,x . g + Eh,x . h


f+g+h

DEMONSTRAÇÃO:

E q,x = dq x_
dx q

Mas

dq df dq dh
= + +
dx dx dx dx

Assim, podemos fazer

dq x df x dg x dh x
. = . + . + .
dx q dx q dx q dx q

df dg dh
.x + .x + .x
= dx dx dx
q

Mas, poderemos fazer

f df g dg h dh
x+ x+ x
dq x f dx g dx h dx
=
dx q q

df x dg x dh x
f. + g. + h.
dx f dx g dx h
=
q

Sabemos que
13
df x
E f ,x =
dx f

dg x
E g ,x =
dx g

dh x
E h ,x =
dx h
Logo

dq x f . E f , x + g. E g , x + h. E h , x
≡ Eq ,x =
dx q f + g+h

TEOREMA 8:

Se q = F ( x, y, z ) = f ( x, y, z ) . g ( x, y, z ) . h ( x, y, z )

Então

Eq,x = Ef,x + Eg,x + Eh,x

DEMONSTRAÇÃO:

Temos
dq = df . g . h + f . dg . h + f . g . dh

Logo,

dq df dg dh
= . g. h + f . . h + f . g.
dx dx dx dx

Poderemos fazer, então

dq x df x dg x dh x
= . g. h. + f . . h. + f . g.
dx q dx f . g. h dx f . g. h dx f . g. h

df x dg x dh x
= + +
dx f dx g dx h
Logo
14
dq x
= Eq,x = Ef,x + Eg,x + Eh,x
dx q

COROLÁRIO:

f ( x, y, z)
g( x, y , z)
Se q = F (x, y, z ) =

Então

Eq,x = Ef,x - Eg,x

TEOREMA 9 :

Dado que a função demanda

xi = fi ( P1, P2, ...., Pn, R )

é homogenea de grau zero em preços e renda, então


n
Σ Exi , Pj + E xi, R = 0
j=1

DEMONSTRAÇÃO:

Se xi é homogenea de grau zero em preços e renda, poderemos aplicar o Teorema de Euler.


Teremos então:

∂x i ∂xi ∂xi ∂xi ∂xi


P1 + P2 + ...+ P j + ...+ Pn + R=0
∂ P1 ∂ P2 ∂ Pj ∂ Pn ∂R

se dividirmos esta expressão por xi , teremos

∂ x i P1 ∂ x i P2 ∂ x Pj ∂x P ∂x R
+ + ...+ i + ...+ i n + i =0
∂ P1 x i ∂ P2 x i ∂ Pj x i ∂ Pn x i ∂ R x i

Temos, então

Exi,P1 + E xi,P2 + . . . + E xi,Pi + . . . + E xi,Pn + E xi,R = 0

ou
15
n

∑E xi , Pj + E xi , R = 0
j =1

TEOREMA 10 :

Dada a função demanda

’ ’
x = f ( P, P ) , onde P = g (P)

onde

P - representa o preço atual dos bens



P - representa o preço esperado dos bens

Então
E x,(p,p’) = E x,p + E x,p’ . E p’,p

DEMONSTRAÇÃO:

dx P
E x, (P,P’) =
dP x

Mas
dx = ∂x + ∂x . dP’
dP ∂P ∂P’ dP

Logo

E x,(p,P’) = ∂x P + ∂x dP’ P
∂P x ∂P’ dP x

Mas, poderemos fazer

∂x P ∂x P ' P dP '
E x ,( P , P ') = +
∂P x ∂P ' P ' x dP

∂x P ∂x P ' dP ' P
= +
∂P x ∂P ' x dP P '
mas, sabemos que
16

Ex,p = ∂x x_
∂P P

Ex,p’ = ∂x P’
∂P’ x

E p’,p = dP’ P_
dP P’

Então, teremos

E x,(P,P’) = E x,p + Ex,p’ . E p’,p

TEOREMA 11:

RM e
E q,p =
RM e − RM a

DEMONSTRAÇÃO:

Sabemos que

R = P.q

dR = P . dq + g . dP

Então

dR dP
=q +P
dq dq

Mas poderemos fazer

dR P dP q dP  q dP 
=q +P= P + P = P1 + 
dq P dq P dq  P dq 

Mas

dP q 1 1
= =
dq P dq P − E
dP q
17
Logo
dR
dR  1 dq 1
= P 1 −  ⇒ = 1−
dq  E P E

dR dR
−P
dq 1 dq 1
−1= − ⇒ =−
P E P E

como

P P
E = ⇒E =
dR dR
− +P P−
dq dq

Logo
RM e
Eq,P =
RM e − RM a

TEOREMA 12:

Dada a função procura do trabalhador pela renda, R = f (S), e dado que o número de horas de trabalho
é H = R/S

Então
S dH
EH,S = = ER,S - 1
R dS

DEMONSTRAÇÃO:

Sabemos que
H = R_
S

Então
dR R dR
dH S dS − R dH R
S
dS
−R
= ou =
dS S2 dS S2

Então
S dR  S dR 
R − R R − 1
dH R dS R dS 
= 2 = 2
dS S S
18

Mas

dH S R  S dR  S R  S dR  S 2
EH , S = = −1 = −1
dS H S 2  R dS  R S S 2  R dS  R

[
∴ EH , S = ER , S − 1 ]

TEOREMA 13:

Se há rendimentos constantes de escala na Função de Produção

Q = F ( K, L )

Então
∂ (lln Q) + ∂ (lln Q) = 1
∂ (lln K) ∂ (lln L)

Sabemos que

∂ (lln Q) = ∂ Q K
∂ (lln L) ∂K Q
e
∂ (lln Q) = ∂Q L
∂ (lln L) ∂L Q

Então, teremos

∂Q K ∂ Q L 1  ∂ Q ∂Q 
+ =  K+ L
∂K Q ∂L Q Q  ∂K ∂L 

Se a função apresenta rendimentos constantes de escala ⇒ Função de Produção Homogenea Linear.


Assim, pelo Teorema de Euler.

∂Q K + ∂Q L = Q
∂K ∂L

Logo

∂(lln Q) + ∂(lln Q) = 1 Q = 1
19
∂(lln K) ∂(lln L) Q

TEOREMA 14:

Seja Q = f (L, K, T ) uma função de Produção

Então
q = ∝ k + βl + ρ

Onde

q = dQ , taxa de crescimento do produto


Q

k = dK , taxa de crescimento do capital


K

l = dL , taxa de crescimento do trabalho


L

ρ = ∂Q dT/Q , taxa de crescimento do produto devido ao avanço tecnológico


∂T

∝ = EQ,K

β = EQ,L

DEMONSTRAÇÃO

∂Q ∂Q ∂Q
dQ = dL + dK + dT
∂L ∂K ∂T

dQ ∂ Q dL ∂ Q dK ∂ Q dT
= + +
Q ∂L Q ∂K Q ∂T Q

Mas podemos fazer


∂Q
dQ ∂ Q L dL ∂ Q K dK ∂ T dT
= + +
Q ∂L Q L ∂K Q K Q

Logo
20
∂Q
dQ dL dK ∂ T dT
= EQ, L + EQ ,K +
Q L K Q
ou

q = l . EQ,L + K . EQ,K + ρ

TEOREMA 15 :

Dado

a) A Função Utilidade: U = U (x1 , x2 , ....., xn)

n
b) A Função de Restrição Orçamentária ∑PX
i −1
i i =R

c) As Elasticidades Preço e Renda: eik - Elasticidade Preço


Ei - Elasticidade Renda

Pi X i
d) As Proporções Orçamentárias : αi =
R

Então

n
i) ∑α E
i =1
i i = 1 (Agregação de Engel ou condição de aditividade)

obs: A agregação de Engel não pode ser obtida para a demanda compensada porque a renda não é
argumento da Função.

ii) ∑α e
i =1
i iR = −αR , k = 1,2,..., n (TEOREMA DE COURNOT)

n
obs: ∑ i =1
∝i eik = 0 , se for demanda compensada

DEMONSTRAÇÃO

i) Sabemos que

∂X i R
Ei =
∂R X i
21
logo, poderemos fazer

P1 X 1 ∂ X 1 R P X ∂X 2 R P X ∂X n R
α 1 E 1 + α 2 E 2 +...+α n E n = + 2 2 +...+ n n =
R ∂R X 1 R ∂R X 2 R ∂R X n

∂X 1 ∂X 2 ∂X n
= P1 + P2 +...+ Pn
∂R ∂R ∂R

Mas, pela equação de orçamento sabemos que

∂X 1 ∂X 2 ∂X n
dR = P1 dR + P2 dR +...+ Pn dR
∂R ∂R ∂R

ou
 ∂X 1 ∂X 2 ∂X n 
dR = dR P1 + P2 +...+ Pn
 ∂R ∂R ∂ R 

∂X 1 ∂X 2 ∂ X n dR
⇒ P1 + P2 +...+ Pn = =1
∂R ∂R ∂R dR

n
⇒ ∑α
i =1
i Ei = 1

DEMONSTRAÇÃO

ii) Sabemos que

Pi X i
αi =
R
∂ X i PR
eiR =
∂ PR X i
n
R= ∑PX i i
i =1

Podemos fazer, então

P1X1 + P2X2 + .....+ Pk XR + ...... + Pn Xn - R = 0

Diferenciando essa expressão em termos de PR, obteremos


22
∂X 1 ∂X 2 ∂X R ∂X n
P1 + P2 + ....+ PR + X R + ....+ Pn =0
∂ PR ∂ PR ∂ PR ∂ PR

∂X 1 ∂X 2 ∂X R ∂X n
⇒ X R = − P1 − P2 − ....− PR − ....− Pn
∂ PR ∂ PR ∂ PR ∂ PR

Podemos fazer, também


n
P1 X 1 ∂ X 1 PR P2 X 2 ∂ X 2 PR P X ∂ X R PR P X ∂ X n PR
∑α e i i =
R ∂ PR X 1
+
R ∂ PR X 2
+...+ R R
R ∂ PR X R
+ ...+ n n
R ∂ PR X n
i =1

PK  ∂ X 1 ∂X 2 ∂X R ∂X n 
=  P1 + P2 +....+ PR + ....+ Pn 
R  ∂ PR ∂ PR ∂ PR ∂ PR 

Mas já vimos que

n
∂X i
X R = − ∑ Pi , logo a expressão entre colchetes é igual a - Xk
i =1 ∂ PR

Logo,

( −Xk ) = − k k
n
Pk PX
∑α e i i =
R R
i =1

n
⇒ ∑e α ik i = −α k
i =1
23
2 - APLICAÇÕES DO CONCEITO DE ELASTICIDADE NA MICROECONOMIA

2 . 1 - RELAÇÃO ENTRE A ELASTICIDADE DE OFERTA E A UTILIZAÇÃO DA


CAPACIDADE PRODUTIVA DA FIRMA NO CURTO PRAZO

Sabemos que no curto prazo a curva de oferta da firma é a curva de Cma para P > P*, como no gráfico
abaixo

P,CMe Cma = S |P>P*


CMa
CMe

P* RMe = RMa

0 Q* Q

Entretanto, nem sempre a curva de CMa se apresenta como a do gráfico ora apresentado. Desta forma,
podemos ter os seguintes casos:

10 CASO : CURVA DE OFERTA PERFEITAMENTE INELASTICA

dQ P
ES = =0 ⇒ dQ = 0
dP Q

⇒ Empresa já está produzindo no seu nível máximo de capacidade produtiva. Curva de


Custos Marginais é uma vertical.

20 CASO : CURVA DE OFERTA PERFEITAMENTE ELASTICA


24
dQ P
ES = =∞ ⇒ dP = 0
dP Q

⇒ Curva de Custos Marginais é uma horizontal.

30 CASO : CURVA DE OFERTA “NORMAL”

1
dQ P > 
ES =
dP Q =< 1

1

⇒ Curva de Custos Marginais é crescente.

2 . 2 - A ELASTICIDADE DE LONGO PRAZO DA CURVA DE OFERTA DA INDÚSTRIA


E O CONCEITO DE CUSTOS DE ESCALA

10 CASO : INDÚSTRIA COM CUSTOS CONSTANTES DE ESCALA

a) No longo prazo a curva de oferta da firma é uma horizontal

P
CMa

CMe

P* = S

b) EQ , P = ∞
S
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20 CASO : INDÚSTRIA COM CUSTOS CRESCENTES DE ESCALA

a) Curva de oferta crescente

b) E QS , P > 0

30 CASO : INDÚSTRIA COM CUSTOS DECRESCENTES DE ESCALA

a) Curva de oferta decrescente

b) E Q , P < 0
S
26
2. 3 - A ALASTICIDADE-PREÇO E A INCIDÊNCIA DE UM IMPOSTO SOBRE A
QUANTIDADE

Uma das questões mais discutidas em finanças públicas é a questão sobre quem recai um imposto
indireto: se sobre o vendedor ou se sobre o comprador.

Imaginemos o caso de um imposto sobre a quantidade. Imaginemos que o Governo estabeleça o imposto
de t reais sobre cada unidade vendida de um determinado produto. Quem arcará com este imposto?

A resposta depende das elasticidades-preço das curvas de oferta e demanda. Nos gráficos a seguir
mostramos essa dependência.

CASO A CASO B

P P

PC B

S
B’
PE E PC E
PV PE
A
D

PV
D A’

0 qt qE q 0 qt qE q

CASO A

t = AB = PC − PV

Como a curva de demanda é muito inelástica em relação à curva de oferta, então o imposto incidirá
quase totalmente sobre o comprador.

CASO B

t = A' B ' = PC − PV
27
Como a curva de demanda é muito elástica em relação à curva de oferta, então o imposto incidirá
principalmente sobre o vendedor.

Podemos estabelecer a seguinte metodologia

ES ED
α = ou β =−
ES − ED ES − ED

Onde,

α = é a fração do imposto que recai sobre os compradores

β = é a fração do imposto que recai sobre os vendedores

ED = Elasticidade-Preço da Demanda

ES = Elasticidade-Preço da Oferta

Obs.: a) Se ED = 0 ⇒ α = 1 e o imposto recai totalmente sobre o consumidor

b) Se ED = ∞ ⇒ α = 0 e o imposto recai totalmente sobre o vendedor

2.4 – COMPARAÇÃO ENTRE AS ELASTICIDADES - PREÇO ENTRE DIFERENTES


CURVAS DE DEMANDA

Dadas, por exemplo, duas diferentes curvas de demanda (em termos gráficos) será possível dizer qual
delas é a mais elástica?
Para responder a esta pergunta tomemos duas curvas de demanda retilíneas e paralelas (o caso mais
simples) :
28

P
D1 D0 = a0 + b0 P
D1 = a1 + b0 P
P1 D0 C

P0

D0 D1
q0 q1 q

sabemos que, dado um preço Po, tem-se


dq P0 dq P0
E0 = . e E1 = .
dP D0 q0 dP D1 q1
Como
dq dq
=
dP D0 dP D1

é fácil concluir que, àquele nível de preço P0, E0 > E1

Pode-se, então, concluir que E0 > E1 para qualquer nível de preço ? A resposta é não. E isto se pode
explicar por dois caminhos:

1) De acordo com o Teorema 1 nos pontos em que as curvas cortarem os eixos (vertical e
horizontal) as elasticidades seriam iguais ( E0 = E1 = ∞ e E0 = E1 = 0 )
2) No lugar de começarmos a discussão fixando o nível inicial dos preços, suponha que fixemos as
quantidades iniciais, digamos, no ponto q0. Dada uma variação qualquer de preços, teríamos.
29
dq P0 dq P0
E0 = . e E1 = .
dP D0 q0 dP D1 q1

Como
dq dq
=
dP D0 dP D1

teríamos

E0 < E1 , já que P1 > P0. Vale salientar que, novamente, nos pontos em que as curvas de
demanda cortassem os eixos, teríamos:

E0 = E1 = ∞ e E0 = E1 = 0

Para os outros casos especiais ( Teorema 2, 3 e 4), dados duas curvas de demandas paralelas, suas
elasticidades seriam sempre iguais entre si.

Suponhamos agora que temos duas curvas de demanda, retilíneas, porém não paralelas, como no gráfico
abaixo.

p
D
MA = AN
M D1
DB = BE
D0

C
Po A

D0 D1

qo q1 n E q
30
Se raciocinarmos em termos dos casos dos Teoremas 3 e 4, seriamos tentados a afirmar que D1
seria mais elástica que D0 . Esta afirmação seria verdadeira?

Com o auxílio do que foi exposto no Teorema 1 será fácil mostrar que para o nível de preço P0,
a curva de demanda D0 é mais elástica que a curva de demanda D1 , pois, naquele ponto,
teremos:
EDO = 1 e ED1 < 1
E, novamente, nos pontos em que as curvas de demanda cortassem os eixos, ter-se-ia.

EDO = ED1 = ∞ e EDO = ED1 = 0

Desta forma, a análise gráfica da demanda é bastante frágil no que diz respeito à comparação de
elasticidades entre duas curvas, razão por que tais comparações devem ser analisadas com
bastante cuidado. Assim, deve-se tomar as explicações, por exemplo, sobre as consequências
das desvalorizações cambiais apresentadas nos livros-textos de Economia Internacional apenas
como um expediente didático do qual o autor lança mão para facilitar sua explanação. Uma
análise mais rigorosa exige o conhecimento das curvas de demanda a serem comparadas.
31
3 - A ELASTICIDADE DE SUBSTITUIÇÃO

3. 1 - CONCEITO

Denomina-se “Elasticidade de Substituição” entre dois bens à relação entre a variação percentual da
relação entre as suas quantidades consumidas, quando a taxa marginal de substituição entre eles varia de
1%.

A análise do gráfico abaixo permite-nos dizer que a Elasticidade de Substituição mede de quantos por
y dy
cento varia a tgα = quando a tgβ = − varia de 1%.
x dx

α β

A expressão analítica para a Elasticidade de Substituição pode ser escrita da seguinte maneira:

d(y/x)
y/x
ES = ____________

d ( dy / dx )
dy / dx

onde:

dy
x, y são as quantidades consumidas, é a Taxa Marginal de Substituição entre x e y.
dx
32
Podemos fazer

 y
xd  
 x dy dx
ES = .
y d ( dy dx )

 dy 
x − y
x  dx 2 
 x 
  dy dx
= . 2
y d y dx 2

x dy - y
dx
__________________

x
_____________________________
= . _ dy / dx__
2 2
y d y / dx

dy ( x dy - y )
dx dx
________________________
=
2
xy d y
2
dx

ou seja

dy ( x dy - y )
dx dx
_____________________
ES =
2
xy d y
2
dx
33

3. 2 - O SINAL DA ELASTICIDADE DE SUBSTITUIÇÃO

Temos que

dy ( x dy - y )
dx dx
________________________
ES =
2
xy d y
2
dx

Assim, o sinal da Elasticidade de Substituição é determinado por dois importantes pressupostos da


Teoria Econômica.

Tais pressupostos são:

i. O Axioma da Não-Saciedade (Teoria do Consumidor) ou a hipótese de que as produtividades


marginais serão sempre positivas.

ii. A Proposição da Taxa Marginal de Substituição ser decrescente (Teoria do Consumidor) ou TMST
decrescente (Teoria da Produção).

Temos, então:

dy
Axioma da Não-Saciedade ⇒ < 0 , porque UX , UY > 0 no caso da Teoria do Consumidor
dx
dK
ou < 0
dL

d 2y d 2K
Taxa Marginal de Substituição Decrescente ⇒ > 0 ou > 0
dx 2 d L2

Esses dois pressupostos determinam, então, que:

ES > 0

II. 1. Casos Especiais:

a) Se a função é da forma
34

 x1 x 2 xn 
q = min  , , ... , 
 x2 x2 x2 

ou seja, apresenta proporções fixas, o que implica não haver substituição possível entre as variáveis,
então, teremos:
x2

dx 2
e ES = 0 porque =0
dx1

x1

b) Se os bens são completamente substitutos, ou seja, economicamente indistintos, então

x2

d 2 x2
e E S = ∝ , porque =0
dx12

x1
35

3. 3 - A ELASTICIDADE DE SUBSTITUIÇÃO NA TEORIA DO CONSUMIDOR E NA


TEORIA DA PRODUÇÃO

3. 3. 1 - TEORIA DO CONSUMIDOR

Suponha que temos a seguinte função utilidade:

U = u ( x,y )

Quando trabalhamos com curvas de indiferença, fazemos

0
U = u ( x,y )

Assim, podemos fazer

0
dU = Ux + Uy dy = 0
dx

dy = - Ux
dx Uy

2 0 2 2
d U = Uxx + 2U xy ( dy ) + U yy ( dy ) + Uy d y = 0
2
dx dx dx

2
d y =- 1 [ Uxx + 2U xy ( dy ) + U yy ( dy )
2
]
2
dx Uy dx dx

ou

2
d y = - 1 [ Uxx + 2U xx ( - Ux ) + Uyy Ux
2
]
2 2
dx Uy Uy Uy
36

1  U xx U y2 − 2U x U y U xy + U yy U x2 
=−  2 
Uy  U y 

=−
1
U y3
[U xx U y2 − 2U x U y U xy U x2 ]

Como sabemos que

dy ( x dy - y )
dx dx
________________________
ES =
2
xy d y
2
dx

2
Podemos substituir dy e d y pelos seus valores, obtendo
2
dx dx

Ux .Uy [ x Ux + yUy ]
_____________________________________________________
ES =
[ Uxx U2y - 2Uxy Ux Uy + Uyy U2x ]

3. 3. 2 - TEORIA DA PRODUÇÃO

Se tivermos uma função de Produção

Q = q (K, L)

e estivermos trabalhando com isoquantas, poderemos fazer


0
Q = q ( K, L)
37
De maneira análoga à utilizada para a Teoria do Consumidor, obtertemos

Q K Q L ( K.Q K + L Q L )
________________________________________________________________
ES = -
K.L ( Q Q2 - 2Q Q Q + Q Q2 )
KK L KL K L LL K

3. 3. 2.1 - A ELASTICIDADE DE SUBSTITUIÇÃO E AS FUNÇÕES DE PRODUÇÃO


HOMOGÊNEAS LINEARES

A propriedade que apresentarei abaixo é válida para qualquer tipo de função homogênea linear.
Entretanto, como ela é mais universalmente aplicada para as funções de produção, restringir-me-ei a
esse tipo de função.

TEOREMA:

Seja a função de produção

Q = q (K,L)

Homogênea Linear nos fatores, então

QK . QL
______________________
ES =
Q.Q
KL

Demonstração:

Dado que Q = q (K,L) é Homogênea Linear, teremos:

Q = K ∂Q + L ∂Q - Teorema de Euler (3a propriedade)


∂K ∂L
38

2 2
∂ Q = L . ∂ Q
2
∂K K ∂K ∂L

〉 ( 4a Propriedade)

2 2
∂ Q = - K . ∂ Q
2
∂L L ∂L ∂K

Sabemos que

Q K Q L (K Q K + L Q L )
______________________________________________________________
ES =
2 2
K.L ( Q Q - 2Q Q Q + Q Q )
KK L KL K L LL K

Assim, substituindo os valores de

K QK + L QL ; Q KK e QL

obteremos

QK QL . Q
______________________________________________________________________
ES =
K.L [ - L Q ]
2 2
Q - 2Q Q Q - K Q Q
KL L KL K L KL K
K L

QK QL .Q
______________________________________________________________
ES = -
Q [ - L 2 Q 2 - 2KL Q Q - K 2 Q 2 ]
39
KL L K L K

QK QL .Q
____________________________________________________________
=
Q [ L 2 Q 2 + 2KL Q Q + K
2
Q
2
]
KL K L K

QK QL .Q
________________________________________
=
Q [(LQ + KQ )2 ]
KL L K

QK QL . Q
_______________________
=
2
Q Q
KL

Assim,

QK.QL
_______________
ES =
Q.Q
KL

3. 3. 2. 2 - EXEMPLOS DE FUNÇÕES DE PRODUÇÃO

a) COBB - DOUGLAS

Se a função de Produção é dada como

β 1- β
Q= α K L , 0< β <1

Então,
ES = 1

Demonstração:

Como a função dada é Homogênea Linear, podemos usar a expressão

Q . Q
K L
40
_________________
ES =
Q . Q
KL

Temos, então:

β -1 1- β
∂Q = α β K L
∂K
β -β
∂Q = α (1 - β) K L
∂L

β -1 -β
2
∂ Q = α β (1 - β) K L
∂K ∂L

Então

β -1 1- β β -β
αβK L α (1 - β ) K L
___________________________________________________
ES =
β 1- β β -1 -β
αK L α β (1 - β ) K L
donde

ES = 1

b) C.E.S.

-δ -δ - 1
δ
Q = α [ βK + (1 - β ) L ]

Então

1
41
___________
ES =
1 + δ

Demonstração:

A função de Produção dada é Homogênea Linear. Logo poderemos usar a expressão

Q Q
K L
_______________
ES =
Q.Q
KL

Temos
-δ -δ - 1 -1
δ
∂Q = α (-1 ) [ βK + (1 - β) L ] x
δ
∂K

- δ -1
x β(-δ)K

( - δ -1) -δ -δ -1-δ
δ
∂Q = α β K [βK + (1 - β ) L ]
∂K

-δ -δ -1-δ -δ -1
δ
∂Q = α(-1 )[βK + (1 - β ) L ] . (1 - β ) ( - δ) L
∂L δ
-δ -1 -δ -δ -1-δ
δ
= α (1 - β ) L [βK + (1 - β) L ]

- δ -1 -δ -δ -1 -δ -1
2 δ
∂ Q = α (1 - β) L ( -1 - δ ) [ β K + (1 - β ) L ] x
∂K ∂L δ
42

-δ -1
x β(- δ)K

-δ -1 -δ -1 -δ -δ -1-δ-δ
δ
= α (1 - β ) (1 + δ) β L K [βK + (1 - β) L ]

Temos então

-δ -1 -δ -δ -1-δ -δ -1 -δ -δ -1-δ
δ δ
αβK [βK + (1 - β) L ] α (1 - β)L [βK + (1 - β) L ]
________________________________________________________________________________________________________
ES=
-δ -δ -1 -δ -1 -δ -1 -δ -δ -1-δ-δ
δ δ
α [β K + (1- β) L ] α (1 - β)(1+ δ)β L K [β K + (1 - β) L ]

Assim,

-δ -δ -1-δ-1-δ
δ
[βK + (1 - β) L ]
___________________________________________________
ES =
-δ -δ -1-δ-1-δ
δ
(1 + δ) [ β K + (1- β ) L ]

E, portanto.

1
________
ES =
1+δ

3. 4 - IMPORTÂNCIA

3. 4. 1 - RELAÇÀO ENTRE AS ELASTICIDADES DE SUBSTITUIÇÃO, PREÇO E RENDA

Sabemos que
43
Px + d = R → equação de orçamento

ux Px
_____
= _____
= P → condição de equilíbrio
ud 1

daí tiramos que

P(xu x + dud) - Pu d R
______________________________________ _______________________________________
ES = - =

2 2
x d ( u xx - 2 Pu xd + P u dd ) xd ( u xx - 2Pu xd + P u dd )

Sabemos ainda que

R ∂x
_______ . _________
E =
R
x ∂R

Mas o efeito-renda,

Pu dd - u xd
∂x ___________________________________
=
2
∂R u xx - 2 u xd + P u dd

Logo

R Pu dd - u xd
_____ . __________________________________
ER =
2
x u xx - 2u xd + P u dd
44
Sabemos também que

Ep = -P ∂x_
x ∂P

Mas o efeito - preço,

ud Pu dd u xd
∂x __________________________________ __________________________________
= - x
2 2
∂P u xx - 2Pu xd + P u dd u xx - 2Pu xd + P u dd

Assim, teremos:

Pu dd - u xd P ud
E p = P ________________________ - ____ _______________________
x
2 2
u xx - 2Pu xd + P u dd u xx - 2Pu xd + P u dd

Assim teremos

ud Pu dd - u xd
R E p = -R _P_ ______________________ + R P ______________________
x
2 2
u xx - 2Pu xd + P u dd u xx - 2 Pu xd + P u dd
45

-Pu d R
d E S = d  ___________________________ 
 xd ( u xx - 2Pu xd + P2 u dd ) 

Pu dd - u xd
Px E R = Px _R_ ______________________
x
2
u xx - 2u xd + P u dd

donde

REP = dES + Px E R

Desta expressão tiramos as seguintes conclusões

a) Quanto menor E R , menor será a E P (tendo em vista que E S , d > 0)

Isso significa que a procura de um bem é tanto menos elástica (com relação ao preço)
quanto mais essencial for o bem.

b) Quanto maior E S , maior será E P

Isso significa que a procura de um bem é tanto mais elástica, em relaçào ao seu preço,
quanto maior for a substitutibilidade do bem.

c) Se εS < E R , quanto menor _Px_ , menor será E P


R

Isso significa que os bens pouco substituíveis e de pequeno peso no orçamento do


consumidor possuem procura inelástica em relação ao preço.
46
−P ∂x
d) Bens de Giffen: E p < 0 , EP =
x ∂P

d Px
⇒ ES + E <0
R R R

como E S > 0 então E R deverá ser negativa e a elasticidade de substituição deve ser muito baixa
ou o bem deve pesar muito no orçamento do consumidor.

3. 5 - A ELASTICIDADE DE SUBSTITUIÇÃO E A PARTICIPAÇÃO DOS FATORES NO


PRODUTO NACIONAL.

Suponha que tenhamos uma função de produção que apresente rendimentos constantes de escala.

Q = F (K,L)

sabemos que

FK FL
εS =
QFKL

Façamos

k = K
L

então Q = f (k) Q = L f (k)


L

Então

∂Q = L df dk = L f ’ (k) 1 = f ’(k)
∂K dk dk L
47

∂Q = L df dk + f(k) = Lf ’(k) (- K ) + f (k)


∂L dk dL L2

= - k f ’(k) + f(k)

Sabemos que

a) - dK = F L = f(k) - k f ’(k) = R taxa marginal de substituição


dL FK f ’(k)

b) por definição

E S = d(ln k)
d(ln R)

mas

ln R = ln ( f(k) - k f ’(k)) - ln f ’(k)

donde

1 1
d [ln R ] = [f ’(k) - k f ”(k)-f ’(k) ] - f ”(k)
dk f(k) - kf ’(k) f ’(k)

= -k f ”(k) - f ”(k)
f(k) - kf ’(k) f ’(k)

= -kf ”(k) f ’(k) - f ”(k) f(k) + kf ’(k) f ”(k)


f ’(k) [ f(k) - k f ”(k) ]
48

= - f ”(k) f(k)______
f ’(k) [ f(k) - kf ’(k) ]

então:

_1_
k f ’(k) [ f(k) - kf (k) ]
______________________________ _____________________________
ES = d (ln k) = =
d (ln R) f ”(k) f(k) k f ”(k) f(k)
________________________

f ’(k) [ f(k) - kf ’(k) ]

sabemos que

f ’(k) > 0, [f(k) - kf ”(k)] > 0 e f ”(k) <0

⇒ E S > 0.

chamemos agora

w = ∂Q = [f(k) - k f ’(k)]
∂L

ρ = ∂Q = F’(k)
∂K

então teremos

w = [f(k) - kf ’(k)] ⇒ dw = f ’(k) - f ’(k) - k f ”(k) = - kf ”(R)


dk

q = f(k) ⇒ dq = f ’(k)
dk

em termos de diferencial, teremos:


49

dq = - f ’(k)_
dw kf ”(k)

então poderemos escrever

dq w_ = - f ’(k) . f(k) - k f ”(k)


dw q k f ”(k) f(k)

E q ,w = - f ’(k) [ f(k) - kf ’(k)] = ES > 0


k f (k) f ”(k)

w ↑ ⇒ k ↑ porque w ↑ ⇒ q ↑ ⇔ k ↑

Teorema:

Seja π=ρ k = kf ’(k) a participaçào dos lucros (no produto):


q f(k)

Então:

i) se ES >1 ⇒ dπ >0 , dπ >0


dk dw

ii) se ES <1 ⇒ dπ <0, dπ < 0


dk dw

iii) se E S = 1 ⇒ dπ = 0, dπ = 0
dk dw

Prova:
50
 kf ( k ) 
,

d 
 f (k)  f ( k ) [ k f ,, ( k ) + f , ( k ) ] − k ( f , ( k ) )
2

= =
dk dk ( f ( k )) 2

=
1
( f ( k )) 2 [kf ( k ) f ,,
( k ) + f ( k ) f , ( k ) − k ( f ' ( k ))
2
]

[ f ' ( k )( f ( k ) − k f ( k ) ) + k f ( k ) f ,, ( k ) ]
1
= = ,

( f ( k )) 2

1  f ( k )( f ( k ) − k f ( k ) ) k f ( k ) f ,, ( k ) 
, ,

=  + 
f (k)  f (k) f (k) 

1  f ( k )( f ( k ) − k f ( k ) ) 
, ,

=  + k f ,, ( k ) 
f (k)  f (k) 

ou

d π kf ( k )  f
,, ,
( k )[ f ( k ) − kf , ( k )] 
=  + 1
dk f (k )  kf ( k ) f ,, ( k ) 

então


=
k
dk f ( k)
[
− f ,, ( k) (ε S − 1) ]

como f ”(k) < 0 ⇒ f ”(k) > 0. Logo o sinal de d π depende de E S ≥ 1!


dk <

O que prova nosso teorema!


51
3. 6 - A ELASTICIDADE DE SUBSTITUIÇÃO E AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS.

Definição: Neutralidade de Solow

As invenções são ditas Solow-neutras se o produto por trabalhador é invariante a uma constante taxa de
salário.

Com relação à Elasticidade de Substituição, poderemos definir.

1a Definição: Invenções são neutras no sentido de que a elasticidade de substituição dos fatores é
não-afetada a uma razão constante capital-trabalho.

ou seja
y x ( y - xy x )
σ (x) = _____________
, ∂σ(x)/ ∂t = 0
-x yy xx

dessa expressão podemos obter


 n 
x  ∫ ∂lnε
∂ (ε )

∫ dx 
 n + B (t )e no 

xo  
y = A ( t )e  

Pode ser demonstrado que

A condição Hicks neutralidade é condição suficiente, mas não necessária a fim de que a elasticidade de
substituição seja constante a uma razão constante capital - trabalho.

2a Definição: Invenções são neutras no sentido de que a elasticidade de substituição é não-


afetada a uma razão constante produto-capital . CASO GERAL DA
NEUTRALIDADE DE HARROD.

dessa definição podemos obter


52

 
 
 ∫ dy

 ∫ σ ( y )∂lny 
x = A ( t )e  y − B (t )e 

3. 7 - A ELASTICIDADE DE SUBSTITUIÇÃO E A ECONOMIA BRASILEIRA

Período de 1940 a 1959 : a) emprego no setor manufatureiro, como uma percentagem do emprego
real, caiu de 9.4% para 8.9%.
b) Produto manufaturado subiu em 144%, e o setor industrial teve um
aumento na sua participação relativa do produto total de 23,4% para
25,4%.

Duas escolas surgiram para explicar o fenômeno :

a) a escola da crítica “estrutural”

b) a escola da crítica de “mercado”

De acordo com a “escola estruturalista” esse fenômeno é determinado pela limitada possibilidade de
substituição de fatores, pela importância de firmas estrangeiras que utilizam a tecnologia de seus países
de origem (“labor-saving” , na maioria dos casos) etc. Nesse caso os preços relativos dos fatores são de
pouca importância.

A escola “mercantilista” argumenta sobre a importância dos preços relativos dos fatores em determinar
as quantidades dos diferentes fatores empregados. Para essa escola as distorções introduzidas nos
mercados de fatores pelas políticas governamentais são as causas principais para esse declínio da
absorção de mão-de-obra.

O autor se propõe estimar diferentes elasticidades de substituição, para avaliar o argumento da escola
estruturalista.

Em termos empíricos, que tipo de função de produção podemos assumir para um estudo dessa natureza?

Pode-se trabalhar, por exemplo, com duas funções bastante conhecidas na literatura econômica.

A Função Cobb - Douglas:

α 1- α
Q = AK N

Ou
53

A Função de Leontief:

 x1 x 2 xn 
q = min  , , ... , 
 x2 x2 x2 

No caso da Função Cobb-Douglas, temos que ES = 1. Assim, esta função pressupõe ilimitadas
possibilidades de substituição.

Quanto à Função de Leontief, temos que ES = 0. Portanto não existe substituição possível, quando
há somente um processo produtivo.

Nesse caso os preços dos fatores são irrelevantes para o emprego dos fatores produtivos. O emprego
desses fatores é determinado exclusivamente pela tecnologia.

No entanto, na medida em que ES > 0 , os preços relativos dos fatores são determinantes do emprego
dos fatores.

Uma outra possibilidade de se trabalhar seria com uma função que não é tão conhecida como as duas
acima mencionadas.

A Função CES

-1
ρ
V= σ[ δK
-ρ -ρ
+ (1- δ) L ]

onde σ > 0, ρ < -1, 0< δ <1

e V , K , L são o produto, o capital e o trabalho

σ = coeficiente de eficiência

ρ = coeficiente de substituição

δ = coeficiente de distribuição

Hipóteses:

O produto e fatores têm mercados competitivos e o comportamento do produtor é o de maximização do


lucro
54

1 − δ (V )
ρ +1
∂V
ρ +1
dK ∂ L σρ ( L) 1− δ  K 
= = ρ +1 =  
dL ∂V δ V  δ  L
 
∂K σρ  K 

ou

K
ln ( dK ) = ln ( 1- δ ) + ( ρ + 1) ln ( )
dL δ L

Já foi demonstrado que

1
ES = _ __
1+ ρ

como dK = w
dL r

podemos fazer

ln ( w ) = ln ( 1 - δ ) + ( ρ + 1) ln ( K )
r δ L

ln ( K ) = - ( __1 _ ) ln ( _1- δ ) + ( _ 1__ ) ln ( _w_ )


L ρ +1 δ ρ +1 r

onde
ES = 1__
ρ +1

podemos fazer
55
ρ +1
1 − δ V   1− δ   V 
  = w ⇒ l nw =  l n  ρ  + ( ρ + 1) l n  
σ ρ  L   σ   L 

1 1− δ  1  V 
⇒ l nw = l n ρ   + l n 
ρ +1  σ  ρ + 1   L

V   1  1− δ  1
⇒ l n  = −   l n ρ  + l nw
 L  ρ + 1  σ  ρ + 1

ou

ln ( V ) = ln a + b ln w
L

onde

 1  1 − δ 
l na = −   l n 
 ρ + 1  σ ρ 

1
b= = ES
ρ +1

Dessa maneira a estimação do parâmetro b ( a elasticidade de substituição ) nos daria a relação


existente entre a taxa de salário e a relação produto-trabalho.
56
4 - A CONDIÇÃO DE MARSHALL - LERNER

A ABORDAGEM DAS ELASTICIDADES NO AJUSTAMENTO DO BALANÇO DE


PAGAMENTOS

HIPÓTESE PRINCIPAL:

Equilíbrio inicial no Balanço de pagamentos

B ≡ SBPC/C = 0 = πX X - πM M

onde

SBPC/C = Saldo do Balanço de Pagamento em conta corrente

πX = Preço Internacional das exportações

πM = Preço Internacional das Importações

X = Volume Exportado pelo País

M = Volume Importado pelo País

DEFINIÇÕES:

dX PX
1. εX = , Elasticidade-Preço da Oferta de exportações do País
dPX X

dX π X
2. ηX = − , Elasticidade-Preço da Demanda pelas exportações do País
dπ X X

dM π M
3. εM = , Elasticidade-Preço da Oferta das importações do País
dπ M M

dM π M
4. ηM = − , Elasticidade-Preço da Demanda por impotações pelo País
dπ M M

5. PX = tπ M
PM = tπ X
57
onde

PM = Preço Interno dos bens Importados

PX = Preço Interno dos bens Exportados

t = Taxa Cambial

PERGUNTA:

Se houver uma desvalorização em t, o que ocorrerá com o SBP ?

TESE:

d (SBP) > 0 ⇔ ηx + ηM - 1 > 0 , e se as Elasticidades-Preço das ofertas forem infinitas.

DEMONSTRAÇÃO:

Dado que

B ≡ SBPC/C = πX X - πM M = 0

Teremos

dB = d πX .X + πX dX - d πM .M - πM dM = 0 (1)

e ainda, dado que

PX = t. πX e PM = t. πM ,

ln PX = ln t + ln πX

ln PX = ln t + ln πM

poderemos fazer

1 1 1
dPX = dt + dπ
PX t πX X

1 1 1
dPM = dt + dπ
PM t πM M

Ou seja
58

P$ X = t$ + π$ X (2)

P$ M = t$ + π$ M ( 3)

Mas

dX π X 1 η 1
ηX = − = − X$ ⇒ − $X =
X dπ X π$ X X π$ X

X$
⇒ π$ X = − (4 )
ηX

dM π M 1 ε 1
εX = = M$ ⇒ $M =
M dπ M π$ M M π$ M

M$
⇒ π$ M = ( 5)
εM

dX PX 1 ε 1
εX = = X$ $ ⇒ $X = $
X dPX PX X PX

X$ X$
⇒ P$X = ⇒ X$ = P$X ε X ⇒ P$X = ( 6)
εX εX

dM PM 1 η 1
ηM = − = M$ $ ⇒ − $M = $
M dPM PM M PM

M$ M$
⇒ P$M = − ⇒ M$ = − P$M η M ⇒ P$M = − (7 )
ηM ηM

Portanto, podemos fazer

ε X PX η M P$M
π$ X = − e π$ M = −
ηX εM

Logo,
59
ε X ( t$ + π$ X ) η M ( t$ + π$ M )
π$ X = − e π$ M = −
ηX εM

Desta forma

π$ X η X = − ε X t$ − π$ X ε X ⇒ π$ X η X + π$ X ε X = − ε X t$

⇒ π$ X (η X + ε X ) = − ε X t$

ε X t$
⇒ π$ X = − (8)
ηX + εX

π$ M ε M = −η M t$ − π$ M η M ⇒ π$ M ε M + π$ M η M = −η M t$

⇒ π$ M ( η M + ε M ) = −η M t$

ηM
⇒ π$ M = − t$ ( 9)
ηM +εM

como, entretanto,

P$ X = t$ + π$ X e P$ M = t$ + π$ M

Poderemos fazer

ε X t$ t$η X + t$ε X − t$ε X ηX


P$ X = t$ − = = t$ (10)
η X +ε X η X +ε X ηX +ε X

ηM t$ε M + t$η M − t$η M εM


P$ M = t$ − t$ = = t$ (11)
ε M +η M ε M +η M ε M +η M
60
Como temos

dB = d πX .X + πX dX - d πM .M - πM dM = 0

Poderemos fazer

π π
DB = dπ X + π X dX − dπ M −π dM = 0
X M

π X
X
π M
M M

dX π
= π$ X . π X +π − π$ M . π .M − MdM = 0
M
X X .X M
X M

= π$ X . π X X +π X X . X$ − π$ M . π M .M −π M . M . M$ = 0

=π X . X [π$ X + X$ ] − π M . M [π$ M + M$ ] = 0

Substituindo, agora, os valores de π$ X , X$ , π$ M e M$ , encontraremos

 εX   ηM 
DB = π X . X  − t$ + ε X P$ X  − π M . M  − t$ − P$ M η M  = 0
 ε X +η X   ε M +η M 

Substituindo, agora, os valores de P$X e P$M , encontraremos

 ε X t$ ε X η X t$   η M t$ ε M η M t$ 
DB = π X . X  − +  − π M . M − − 
 εX +ηX εX +ηX   ε M +ηM εM +ηM 

 ε X (η X − 1)   −η M ( ε M + 1) 
= π X . X . t$  − π M . M . t$ 
 ε X + η X   ε M + η M 

Pela hipótese do equilíbrio no SBPC/C , πX X = πM M , logo

 ε (η − 1) −η M ( ε M + 1) 
DB = π X . X . t  −
X X
$ 
 εX +ηX εM +ηM 

Portanto, para que DB > 0 , deveremos ter


61
ε X (η X − 1) −η M ( ε M + 1)
− > 0
ε X +η X ε M +η M

Tendo em vista que t$ > 0 ; πX >0 e X >0

Como, por hipótese, εM = ∝ e εX = ∝

Podemos fazer

lim  ε (η − 1) −η M ( ε M + 1) 
− =
X X

ε X ,ε M → ∞  ε X + η X ε M + η M 

ε ε M 
( η X − 1) η M 
1

X
+ 
lim εX ε M ε M 
+ =
ε X ,ε M → ∞ ε X η X εM ηM 
 ε +ε εM εM
+ 
 X X 

  1 
 η M 1 + 
lim ηX − 1 +  εM 
= η X − 1+ η M
ε X ,ε M → ∞ ηX ηM 
 1 + 1 + 
 εX εM 

Assim, para que

ε X (η X − 1) η M ( ε M + 1)
+ > 0
εX +ηX εM +ηM

⇒ ηX + ηM - 1 > 0

Esta é a famosa Condição de Marshall - Lerner !

Isto é, para que uma desvalorização cambial seja benéfica (no sentido de aumentar o saldo do Balanço
de Pagamentos) para um país, necessário se faz que a soma das Elasticidades-Preço das demandas no
Comércio Internacional seja maior do que um !
62
Observações:

Notemos, entretanto, que esta condição é baseada em hipóteses que nem sempre serão verdadeiras, tais
como:

a) Que o Balanço de Pagamentos esteja em equilíbrio, ou seja

πX X = πM M

b) Que as Elasticidades-Preço de oferta das exportações sejam infinitas, isto é

εM = ∝ e εX = ∝

c) Que as desvalorizações sejam de pequena monta

Observação final

É importante ter em mente que a Condição de Marshall-Lerner só se aplica ao Balanço de Pagamentos


em Conta Corrente !

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