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Resumo
Grande parte das patologias encontradas em edifícios de estruturas metálicas
são relacionadas aos elementos de vedação e paredes divisórias. A
movimentação do edifício, provoca deformações nas barras e distorções nos
quadros do pórtico do edifício, transmitindo esforços que provocam fissuração
nas alvenarias, arrancamento de revestimentos, entre outras manifestações
patológicas. Este trabalho tem como objetivo avaliar o desempenho dos
elementos não estruturais em pórticos de edifícios de múltiplos andares em
estrutura metálica para ações devidas ao vento. Quatorze modelos de pórticos,
com três tipologias estruturais e quatro alturas distintas foram analisados no
software SAP2000 e dimensionados. Para cada modelo analisado, foram
calculados os índices DMI (Drifit Measurement Index), para cada quadro do
pórtico. Este índice avalia a distorção média de cisalhamento provocada pelos
deslocamentos dos quatro nós dos vértices do quadro avaliado e foram
comparados com os índices DDI (Drift Damage Index), proposto na literatura,
que é o limite aceitável. Os resultados mostraram que a avaliação do
desempenho, relacionados principalmente à fissuração dos elementos de
vedação, pelo método proposto neste trabalho pode contribuir para a
verificação dos Estados Limites de Serviço, complementando as prescrições da
ABNT NBR 8800:2008, auxiliando os projetistas a elaborarem projetos onde os
elementos não estruturais possam ter a sua durabilidade compatível com a vida
útil estabelecida.
Palavras-chave: Estados Limites de Serviço; Deslocamento Lateral; Estruturas
Metálicas; Danos em elementos não estruturais; Desempenho Estrutural.
1. Introdução
A utilização de estruturas metálicas nas obras brasileiras tem crescido nos
últimos anos e isso tem promovido cada vez mais a formação de profissionais
especializados na elaboração de projetos estruturais para edifícios em aço.
Durante as últimas décadas, a evolução nos sistemas computacionais voltados
para análise e dimensionamento de estruturas, principalmente ligados à
modelagem por elementos finitos, fez com que as normas nacionais e
internacionais se desenvolvessem e passassem a considerar modelos mais
refinados, que apesar de complexos, são capazes de representar melhor o
comportamento real das estruturas em relação às abordagens mais antigas.
A possibilidade de utilização de computadores para elaboração de projetos,
aliados à adoção de normas mais modernas, principalmente após o advento do
Método dos Estados Limites, fez com que os projetos atingissem relações entre
segurança e economia mais satisfatórias.
Outro fator importante para elaboração de projetos mais econômicos foi a
inserção no mercado de aços de maior resistência, assim, os Estados Limites
Últimos, ligados ao colapso da estrutura, são atendidos com peças de seções
transversais mais esbeltas, produzindo-se, consequentemente, estruturas mais
deslocáveis, uma vez que o módulo de elasticidade do aço permanece
invariável em relação à resistência mecânica.
A ABNT NBR 8800:2008 [1] trouxe em seu texto a obrigatoriedade de
verificação de efeitos de 2ª ordem para todas as estruturas.
Consequentemente, a análise tornou-se mais complexa, fazendo com que os
projetistas recorram a softwares que considerem tal efeito.
Neste novo cenário, em que todos os projetos devem ser submetidos a uma
análise mais complexa, com a utilização de modernas ferramentas
computacionais, há uma discussão em voga sobre os critérios e procedimentos
a serem adotados para uma análise mais refinada da estrutura em situação de
serviço, com propostas inovadoras de procedimentos para verificação de
deslocamentos laterais do pórtico e critérios relacionados às ações a
considerar.
Os materiais utilizados nas paredes divisórias e fechamentos possuem em
geral boa resistência à compressão, entretanto, apresentam baixa resistência
mecânica a esforços de tração ou cisalhamento, situações nas quais ficam
sujeitos à fissuração. Uma das causas do aparecimento de esforços de
cisalhamento nas vedações é a transmissão de esforços da estrutura para a
vedação devido a deslocamentos provocados pela ação do vento (CASTRO,
1999) [2].
As normas atuais não possuem uma metodologia eficaz para avaliação dos
danos nos painéis de fechamento, o que, em alguns casos, conduz a estruturas
superdimensionadas, devido à necessidade do aumento de rigidez, e, em
outros casos, as estruturas ficam sujeitas a deslocamentos excessivos,
introduzindo esforços capazes de danificar elementos não estruturais. As
incertezas acerca da combinação de ações para o cálculo e do modelo a serem
utilizados fazem com que projetistas tendam a adotar soluções que nem
sempre atingem o objetivo principal, que é a integridade dos elementos de
fechamento.
Após a entrada em vigor da ABNT NBR 15575-2 [3], norma brasileira de
exigência de desempenho de edificações, que também traz em seu texto
prescrições sobre deslocamentos horizontais máximos, o rigor para o
atendimento a estes quesitos de desempenho em serviço passa a ser maior.
Espera-se que os projetos estruturais garantam o desempenho da estrutura
sem prejuízos aos elementos não estruturais. Ressalta-se que a norma de
desempenho também limita apenas o deslocamento horizontal, quando
estudos recentes demonstram que isto não é suficiente para garantir a
integridade dos elementos de fechamento.
Aswegan (2013) [4] pondera que não há uma metodologia clara nos códigos
internacionais, ficando a cargo do projetista a decisão sobre qual a melhor
forma para verificar o Estado Limite de Serviço relacionado ao deslocamento
lateral dos pórticos da estrutura. Existem divergências sobre qual a
combinação de serviço a ser considerada, o período de retorno associado à
ação do vento, a consideração ou não de efeitos de segunda ordem, o modelo
estrutural a ser utilizado, a influência da posição dos contraventamentos, o
material dos painéis de vedação, etc.
Este artigo visa uma análise crítica de proposições e discussões recentes
sobre as questões citadas no parágrafo precedente, com a expectativa de uma
contribuição à discussão em andamento no âmbito internacional relacionada à
avaliação dos Estados Limites de Serviço associados a deslocamentos laterais
de pórticos planos. Espera-se, com isto, obter avanços no sentido de garantir
um melhor desempenho das edificações.
O objetivo principal deste trabalho é uma avaliação dos métodos utilizados
pelos projetistas brasileiros considerando as prescrições da ABNT NBR
8800:2008 [1] para avaliação de deslocamentos laterais excessivos e compará-
los a uma metodologia proposta por Griffis (1993) [5], que considera a distorção
de cada quadro do pórtico, obtendo o efeito nos fechamentos e paredes
divisórias de forma mais realista.
2. Considerações sobre a avaliação do deslocamento lateral de
estruturas
2.1 Estados Limites de Serviço
De acordo com a ABNT NBR 8681:2003 [6], Estados Limites de Serviço são
aqueles que comprometem a durabilidade da estrutura, ou que por sua
ocorrência, repetição ou duração, causam efeitos que podem impossibilitar a
utilização normal da construção. Os estados limites considerados por essa
norma são os seguintes:
danos ligeiros ou localizados que afetam o aspecto estético da construção
ou a durabilidade da estrutura;
deformações excessivas que afetam a durabilidade da construção ou seu
aspecto estético;
vibração excessiva ou desconfortável.
Segundo a ABNT NBR 8800:2008 [1], as condições usuais referentes aos
Estados Limites de Serviço devem obedecer à Eq. (1).
(1)
onde:
Sser representa os valores dos efeitos estruturais de interesse, obtidos com
base nas combinações de serviço;
Slim representa os valores limites adotados para esses efeitos.
Este estudo terá como foco os estados limites que produzem danos localizados
que afetam o aspecto estético da estrutura ou sua durabilidade. Na Quadro 1
são apresentados os deslocamentos laterais máximos prescritos para as
estruturas de aço e mistas de aço e concreto segundo a
ABNT NBR 8800:2008.
Quadro 1 - Deslocamentos horizontais máximos permitidos pela ABNT NBR 8800:2008 [1]
Deslocamento
Descrição
máximo
Deslocamento horizontal no topo dos pilares em relação à base H/400
(1)
Deslocamento horizontal relativo entre dois pisos consecutivos h/500
(1) Os deslocamentos de corpo rígido provocados pelas deformações axiais dos pilares e
vigas devem ser desprezados.
a) b) c)
Figura 1 – Deslocamentos horizontais provocados por forças laterais em edifícios de dois
ou mais pavimentos. Fonte: FAKURY, SILVA, CALDAS (2016) [7]
Com base na Figura 1 pode-se observar que o deslocamento total será sempre
maior do que o deslocamento provocado somente pelas forças cortantes
atuantes no andar considerado.
Segundo Fakury (2016) [7], a determinação dos deslocamentos considerando
apenas as forças cortantes no edifício requer uma análise mais complexa, por
isso, na prática é comum obter o deslocamento total e de modo conservador,
limitá-lo em h/500. Assim, ao se verificar o deslocamento relativo entre pisos, a
condição relacionada ao deslocamento no topo dos pilares fica
necessariamente atendida e o comportamento real da estrutura é melhor
representado. Evita-se também realizar duas análises para cada modelo.
2.3 Determinação das combinações de ações
Em seu anexo C, no item C.2.3., a ABNT NBR 8800:2008 [1], prescreve que o
responsável técnico pelo projeto deve analisar criteriosamente cada situação e
decidir se determinado deslocamento pode ser considerado um estado-limite
reversível ou não. Na falta de uma melhor avaliação, se um elemento estrutural
suportar somente componentes não sujeitos à fissuração e se seu
comportamento em serviço for elástico, pode-se considerar o deslocamento
excessivo como um estado-limite reversível. Por outro lado, se o elemento
estrutural suportar componentes sujeitos à fissuração ou se o seu
deslocamento em serviço levar à ocorrência de deformações plásticas, deve-se
entender seu deslocamento excessivo como um estado-limite irreversível.
No item C.2.4, também do anexo C, a ABNT NBR 8880:2008 [1], diz que o
responsável técnico pelo projeto deve decidir quais combinações de serviço
devem ser usadas, conforme o elemento estrutural considerado, as funções
previstas para a estrutura, as características dos materiais de acabamento
vinculados à estrutura e a sequência de construção, exceto quando houver
indicação na tabela de valores máximos. Dependendo dos fatores
mencionados, pode ser que se tenha de alterar uma combinação de serviço
comumente utilizada. No entanto, nas situações em que esse deslocamento
venha a afetar o funcionamento de equipamentos, a causar empoçamentos na
cobertura, utilizar combinação frequente e quando causar danos permanentes
a elementos não-estruturais sujeitos à fissuração utilizar combinação rara.
A ABNT NBR 8800:2008 [1] traz em seu texto diversas informações importantes para a verificação do estado
limite relacionado ao deslocamento lateral de estruturas, entretanto gera certa confusão em alguns assuntos.
Para simplificação do entendimento, no
Quadro 2 apresenta-se resumidamente as combinações de ações a serem
utilizadas em cada caso.
DMI
D1 D2 D3 D4
(2)
2
onde:
D1 xB x A h Índice relativo ao deslocamento horizontal dos vértices A e B
3. Metodologia
Este estudo foi realizado em duas etapas. Para as duas etapas foram
analisadas três tipologias estruturais distintas, aqui denominadas; Pórtico
Rígido (PRI), Figura 4(a); Pórtico Contraventado (PCV), Figura 4(b); e Pórtico
Enrijecido (PEN) Figura 4(c).
a)
b)
c)
Figura 4 - Pórticos analisados (a) Pórtico Rígido (b) Pórtico Contraventado (c) Pórtico
Enrigecido)
3.1 Etapa 1
Na Etapa 1, foram analisados 4 pórticos, com duas tipologias estruturais e duas
alturas distintas, conforme apresenta-se no Quadro 3.
(4)
O Quadro 6, indica o quanto um DMI de 0,200%, representa de dano em um
fechamento ou parede divisória de acordo com o tipo de material, conforme o
gráfico apresentado na Figura 3.
Quadro 6- Intensidade do dano para DMI = 0,200% de acordo com o tipo de material
3.2 Etapa 2
Na Etapa 2, foram analisados 10 pórticos, com três tipologias estruturais e
quatro alturas distintas, conforme apresenta-se no Quadro 7.
Tipologia Número de
Modelo Nomeclatura
Estrutural Pavimentos
1 Rígido 4 PRI-4PAV
2 Rígido 8 PRI-8PAV
3 Rígido 16 PRI-16PAV
4 Enrijecido 4 PEN-4PAV
5 Enrijecido 8 PEN-8PAV
6 Enrijecido 16 PEN-16PAV
7 Contraventado 4 PCV-4PAV
8 Contraventado 8 PCV-8PAV
9 Contraventado 16 PCV-16PAV
10 Contraventado 24 PCV-24PAV
100%
80%
60%
40%
20%
0%
PRI-4PAV PRI-8PAV PCV-4PAV PCV-4PAV