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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


DEPARTAMENTO DE CIRURGIA

ALDO DA CUNHA MEDEIROS

MANUAL DE TREINAMENTO EM
TÉCNICA OPERATÓRIA
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CRNTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE CIRURGIA

ALDO DA CUNHA MEDEIROS

MANUAL DE TREINAMENTO EM
TÉCNICA OPERATÓRIA

2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE CIRURGIA
TÉCNICA OPERATÓRIA E CIRURGIA EXPERIMENTAL

Autor

ALDO DA CUNHA MEDEIROS

Professor Titular de Técnica Operatória, UFRN


Doutor em Cirurgia Gastroenterológica
Pesquisador do CNPq
Coordenador do Núcleo de Cirurgia Experimental, UFRN
Membro da Academy of Surgical Research, USA
Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões
Presidente da Regional RN da Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento da Pesquisa
em Cirurgia

Colaboradores
Acadêmicos do Curso de Medicina-UFRN

HILKÉA CARLA DE SOUZA MEDEIROS LIMA


LAYRA RIBEIRO DE SOUSA LEÃO
GABRIELA CARMINHOLA GOMES VARELA
RENATA DE MAGALHÃES VIEIRA
MARCELO JOSÉ CARLOS ALENCAR
ADISON MITRE ALVES DE LIMA
SARAH DE LIMA ALLOUFA
JOSÉ AUGUSTO TARGINO DE ALMEIDA FILHO
VINÍCIUS MATIAS MONTEIRO CAVALCANTE
PRISCILA DE MEDEIROS SOUZA
TEREZA RAQUEL DE LIMA COSTA
HARUE SANTIAGO KUMAKURA
APRESENTAÇÃO
Manual de treinamento em técnica operatória é uma obra elaborada com o intuito de servir de guia a
estudantes do curso de Graduação em Medicina iniciantes em cirurgia, alunos da disciplina Técnica
Operatória. Há vários anos, iniciou-se um programa de treinamento em habilidades básicas de Técnica
Operatória na referida disciplina, com a utilização de materiais e modelos confeccionados por monitores e
alunos voluntários, supervisionados pelos docentes. Com essa prática, o aprendizado mostrou-se muito
positivo e, por sugestão dos próprios alunos, foi elaborado um roteiro resumido e precário para a condução
das atividades práticas.

Recentemente, com a colaboração de um grupo de alunos monitores, que têm participado na


orientação dos colegas no aprendizado de habilidades básicas e fundamentais para a prática da cirurgia,
surgiu a ideia da produção de um manual estruturado e ilustrado para uniformizar o conteúdo do programa
prático da disciplina.

Este manual foi produzido com texto rico em ilustrações, que servirá de roteiro indispensável para a
orientação do aprendizado de manobras básicas de Técnica Operatória. A utilização dos modelos
confeccionados na própria disciplina, e que também ilustram esta obra, tem comprovadamente servido para
o aprendizado de habilidades cirúrgicas básicas dos estudantes. Um dos méritos da utilização de modelos
inertes para o aprendizado de manobras de técnica operatória é que eles substituem eficazmente o uso de
animais no ensino dessas técnicas, fato notório nas aulas práticas da Disciplina de Técnica Operatória.

O manual reflete o trabalho harmônico de docentes da disciplina com os alunos de graduação, que,
com entusiasmo, têm-se beneficiado do programa de Iniciação à Docência em Técnica Operatória. Ao
mesmo tempo, eles têm contribuído para a formação dos seus colegas de períodos iniciais do Curso de
Medicina.

À Pró-Reitoria de Extensão da UFRN e à EDUFRN agradecemos a iniciativa do programa de apoio à


edição de trabalhos como este, que representa o esforço de docentes e alunos dedicados ao ensino da
cirurgia.

ALDO DA CUNHA MEDEIROS


Professor Titular da disciplina Técnica Operatória
UFRN
SUMÁRIO

1 INSTRUMENTAL CIRÚRGICO ............................................................................................... 5


Instrumental convencional utilizado de rotina na diérese ............................................................ 5
Instrumental convencional utilizado de rotina na hemostasia ...................................................... 7
Instrumental convencional utilizado de rotina na síntese............................................................. 8
Instrumentos auxiliares .............................................................................................................. 11
Instrumentos especiais ................................................................................................................ 14

2 FIOS DE SUTURA ..................................................................................................................... 21


Definição
Características do fio de sutura ideal
Classificação dos fios de sutura
Características individuais dos fios de sutura mais utilizados na rotina cirúrgica

3 SUTURAS .................................................................................................................................... 32
Materiais utilizados para treinamento de suturas .......................................................................... 34
Suturas em pontos separados ....................................................................................................... 35
Suturas contínuas.......................................................................................................................... 39
Condições para execução de uma boa sutura ................................................................................ 44

4 ANASTOMOSES GASTROINTESTINAIS ............................................................................ 46


Condições para uma boa anastomose ........................................................................................... 46
Tipos de anastomoses
Anastomose intestinal término-terminal (T-T) ............................................................................ 48
Anastomose intestinal término-lateral (T-L) ................................................................................ 49
Anastomose gastroduodenal – Billroth I ...................................................................................... 50
Anastomose gastrojejunal – Billroth II ......................................................................................... 52

5 INDUMENTÁRIA CIRÚRGICA.............................................................................................. 54
Degermação das mãos e dos antebraços ...................................................................................... 56
Colocação do avental cirúrgico e das luvas.................................................................................. 59
1 INSTRUMENTAL CIRÚRGICO

Hilkéa Carla de Souza Medeiros Lima


Layra Ribeiro de Sousa Leão
Aldo da Cunha Medeiros

Operação ou intervenção cirúrgica é o conjunto de gestos manuais ou instrumentais que o cirurgião


executa para a integral realização de ato cruento com finalidade diagnóstica, terapêutica ou estética.
O instrumental cirúrgico pode ser classificado em especial e comum. Especiais são os instrumentos
usados em apenas alguns tempos de determinadas intervenções cirúrgicas. Os comuns constituem os
instrumentos básicos de qualquer tipo de intervenção utilizados nos três tempos fundamentais das operações,
que são os seguintes:
 diérese – toda manobra destinada a criar descontinuidade de tecidos;
 hemostasia – manobra com objetivo de impedir ou coibir a hemorragia;
 síntese – trata-se da aproximação correta dos tecidos visando a restauração da contiguidade dos
tecidos e facilitar as fases iniciais do processo de cicatrização.

Instrumental convencional utilizado de rotina na diérese

Com a finalidade de criar uma via de acesso através dos tecidos, os instrumentos podem ser
utilizados para diversas manobras cirúrgicas de diérese:

MANOBRAS DE DIÉRESE INSTRUMENTOS

INCISÃO bisturi, tesoura, cisalha, faca, bisturi elétrico, bisturi a laser.

SECÇÃO tesoura, serra, lâmina de bisturi, bisturi elétrico, laser, ultrassom.

DIVULSÃO tesoura, afastador, tentacânula, pinças hemostáticas.

PUNÇÃO trocartes para laparoscopia, agulhas.

DILATAÇÃO vela de Hegar, dilatador de Beniqué.

SERRAÇÃO serra (cirurgia óssea).

Bisturi
Existe em vários tamanhos e formas de lâminas, como mostram as Figuras 1.1 e 1.21. As lâminas
para bisturi são descartáveis e podem ser encaixadas em cabos metálicos. O bisturi com lâmina

1
Todas as fotografias são originais e produzidas integralmente pelos estudantes colaboradores deste manual.
intercambiável permite que se troque de lâmina a cada operação ou durante uma mesma operação, quando o
cirurgião percebe que a capacidade de corte da lâmina não é mais eficaz. As lâminas são classificadas
quanto ao seu formato e aplicabilidade.
Os cabos mais utilizados são:
Cabo nº 3 – Utiliza lâminas menores, que possibilitam incisões mais críticas, delicadas (lâminas nº
10, 11, 12, 13, 14, 15).
Cabo nº 4 – Utiliza lâminas maiores; é mais usado em procedimentos que requerem grandes incisões
(lâminas nº 20, 21, 22, 23, 24, 25). Para operações em cavidades profundas como a torácica ou abdominal, o
cabo deve ser longo.

Cabos e lâmina de bisturi

Figura 1.1 – Cabos e lâmina de bisturi Figura 1.2 – Tipos de lâminas

Tesouras
Há uma grande variedade de tesouras usadas em cirurgia. Entretanto, na rotina cirúrgica as mais
usadas são as tesouras de Mayo (Figura 1.3), para fáscias e corte de fios de sutura, e as tesouras de
Metzenbaum (Figura 1.3), para a diérese de tecidos mais delicados. Existem delas de vários tamanhos, sendo
as mais longas utilizadas em cavidades, alcançando estruturas mais profundamente situadas.

Figura 1.3 – Tesouras cirúrgicas


Bisturi Elétrico

Figura 1.4 – Bisturi elétrico

O bisturi elétrico funciona com corrente elétrica de alta frequência através dos tecidos biológicos,
pelo princípio da diatermia. Esse princípio baseia-se no calor gerado pela resistência dos tecidos à passagem
de correntes elétricas que variam de 400 a 40.000 kilohertz. A ponta do eletrodo que leva a corrente elétrica
ao corpo do paciente não fica aquecida. É a passagem de elétrons nos fluidos biológicos que gera calor nos
tecidos. Existem dois tipos de bisturi elétrico: monopolar e bipolar. No bisturi monopolar, a corrente parte
do eletrodo ativo, que corresponde à ponta da chamada “caneta do bisturi”. Quando a ponta dessa caneta
toca o tecido a se proceder à hemostasia, a corrente elétrica percorre o corpo até o eletrodo neutro que é
colocado em contato com a pele do paciente, conhecido como placa do bisturi. O primeiro efeito da
diatermia é a coagulação dos tecidos através da dessecação e coagulação das proteínas, conseguindo-se
assim a hemostasia. O bisturi elétrico pode ser utilizado para corte de tecidos por meio de corrente de alta
amperagem.
No bisturi bipolar, os eletrodos ativo e neutro encontram-se separados por alguns milímetros e
formam os ramos de uma pinça semelhante à pinça de dissecção. A passagem da corrente somente acontece
através do tecido apreendido entre as duas extremidades da pinça, não atravessando o corpo do paciente.
Isso evita lesões a distância, que podem ser observadas na diatermia bipolar. É utilizada somente para
hemostasia, que se consegue com maior segurança e mínima lesão tecidual. Entretanto, existem tesouras
adaptadas à diatermia bipolar que servem para corte e hemostasia por coagulação ao mesmo tempo.
Outros equipamentos para hemostasia são o bisturi harmônico ou ultrassônico, coagulador com jato de
argônio e bisturi a laser.

Instrumental convencional utilizado de rotina na hemostasia


A hemostasia temporária pode ser executada, no decorrer da cirurgia, com instrumentos preensores
dotados de cremalheiras, denominados pinças hemostáticas. Elas são diferenciadas, quase sempre, pelo
desenho e pelo tipo de ranhuras da parte interna de seus ramos preensores. As pinças hemostáticas mais
frequentemente utilizadas na rotina cirúrgica são as seguintes:

Pinça de Crile
Apresenta ranhuras transversais em toda a extensão da sua parte preensora. Seu tamanho varia entre
14, 16 e 20 cm, nas versões reta ou curva (Figuras 1.5 e 1.6).
Pinça de Kelly
Em quase tudo é semelhante à de pinça Crile, com exceção das ranhuras da sua parte preensora, que
ocupam apenas os 2/3 distais da sua extensão, sendo liso o 1/3 mais distante da ponta. Os tamanhos também
variam de 14, 16 e 20 cm, nas versões reta ou curva (Figuras 1.5 e 1.6).

Figura 1.5 – Pinças hemostáticas Figura 1.6 – Pontas ativas das pinças

Pinça de Kocher
De forma semelhante às de Crile, as pinças de
Kocher têm a face interna da sua parte preensora totalmente
preenchida por ranhuras no sentido transversal. No entanto,
diferem das primeiras por possuírem "dente de rato" na sua
extremidade, o que se por um lado aumenta muito a sua
capacidade de segurar os tecidos, por outro as tornam muito
mais traumáticas. São apresentadas em tamanhos variados,
em versões retas ou curvas.
Figura 1.7 – Pinça de Kocher

Pinça de Halsted
Pinça hemostática pequena, popularmente conhecida como pinça mosquito, de ramos preensores
delicados. Presta-se muito bem para o pinçamento de vasos de menor calibre, devido à sua precisão.
Semelhante à pinça de Crile, é totalmente ranhurada na parte preensora e geralmente seu
comprimento é de 12 cm, como mostra a Figura 1.8.

Instrumental convencional utilizado de rotina na síntese


Manobra utilizada para o fechamento da ferida cirúrgica, a síntese é realizada mais frequentemente
por meio de suturas. Para isso são utilizados agulhas e porta-agulhas.

Agulhas de Sutura
Os tipos de agulhas existentes são as curvas, as em formato de S (Figura 1.9) e as retas (Figura 1.10).
As agulhas curvas cirúrgicas clássicas têm as formas de segmentos de circunferências (1/4, 3/8, 1/2 e
5/8 de circunferência). O terço anterior (próximo à ponta) das agulhas pode ter seção transversal cilíndrica
ou triangular. No primeiro caso, a agulha é pouco traumática, penetra nos tecidos sem lacerações, sendo
utilizada em veias, artérias, no estômago, útero e intestinos (órgãos bem irrigados e de paredes finas e
delicadas). A agulha triangular ou cortante, à medida que progride, corta o tecido com suas três arestas
facilitando a penetração, porém traumatizando-o mais. Esse tipo de agulha é utilizado na pele e outros
tecidos resistentes como fáscias e aponeuroses (agulhas cortantes). As agulhas retas são pouco utilizadas na
rotina cirúrgica.
As agulhas com formato S foram projetadas para utilização em necrópsias, por isso são conhecidas
como “agulhas post mortem”. São mais traumáticas e dispensam o uso do porta-agulhas, sendo muito
empregadas na sutura da pele de bovinos.
Figura 1.10 – Agulha reta

Porta-agulhas

Os porta-agulhas mais utilizados são os de Mayo-Hegar e de Mathieu (Figura 1.11).

Porta-agulhas de Mayo-Hegar

É semelhante às pinças hemostáticas clássicas, sendo preso aos dedos pelos anéis presentes em suas
hastes e possui cremalheira para travamento. A diferença fundamental do porta-agulha para a pinça
hemostática é que o tamanho do cabo (braço de potência) é mais longo que o da pinça e o segmento de
apreensão da agulha (braço de resistência) é mais curto, o que garante a firme preensão da agulha. (figura
1.11)

Porta-agulhas de Mathieu

O porta-agulhas de Mathieu difere muito do anterior na sua forma. Por não possuir anéis nas hastes,
tem a abertura da parte preensora limitada, pois há uma mola em forma de lâmina unindo suas hastes, o que
faz com que fiquem automaticamente abertos, quando não travados.

Figura 1.11 – Tipos de porta-agulhas

É utilizado preso à palma da mão, o que o faz abrir se for empregada força suficiente para a
cremalheira ultrapassar o 3º dente fixador, durante a manipulação. Sua melhor indicação é para sutura de
estruturas que oferecem pouca resistência à passagem da agulha.

Outros tipos de porta-agulhas


Porta-agulhas de Olsen-Hegar

Apresenta como característica, reunir, num só instrumento, as funções de porta-agulhas e de tesoura


para corte dos fios de sutura (Figura 1.12).

Figura 1.12 – Porta-agulhas de Olsen-Hegar

Porta-agulhas de Gillies

Possui anéis nas hastes, que são assimétricas: a mais longa para o dedo
anular e a mais curta para o polegar, o que lhe confere teoricamente maior
ergonomia. Entretanto, é muito pouco utilizado (Figura 1.13).

Figura 1.13– Porta-agulhas de Gillies

Instrumentos auxiliares
São instrumentos que criam condições propícias para a atuação de outros instrumentos. Dentre eles,
destacam-se os seguintes:
Afastadores
Têm por função afastar e reter os tecidos ou órgãos para facilitar o acesso cirúrgico a cavidades e
órgãos. Os mais utilizados são os de Balfour, Gosset, Finochietto, Farabeuf, Doyen e Volkmann. Os
afastadores de Balfour e de Gosset são usados para manter aberta a cavidade abdominal, e o Finochietto,
para a cavidade torácica. São autoestáticos, com mecanismos que os mantêm abertos sem ajuda das mãos
dos auxiliares (Figuras 1.14-19).

Figura 1.14 – Afastador de Balfour Figura 1.15 – Afastador de Doyen

Figura 1.16 – Afastador de Farabeuf Figura 1.17 – Afastador de Gosset

Figura 1.18 – Afastador de Finochietto Figura 1.19 – Afastador de Gosset

Pinças de campo operatório


As pinças de Backhaus e suas variantes (Jones e Roeder) têm por finalidade fixar os lençóis
esterilizados do campo operatório, fenestrados ou não, para impedir que a sua posição seja alterada durante o
trabalho da equipe cirúrgica (Figuras 1.20-22).

Figura 1.20 – Pinça de Figura 1.21– Pinça de Jones Figura 1.22 – Pinça de Roeder
Backhaus

Pinças de dissecção

Figura 1.23 – Pinças anatômicas Figura 1.24 – Pontas ativas das pinças

As pinças de dissecção são conhecidas como pinças tipo mola ou elásticas e existem com formato padrão
(Figura 1.23) e com dente de rato (Figura 1.24). Estão disponíveis em tamanhos que variam de 10cm a
30cm. As pinças sem dente de rato são utilizadas para manipular tecidos delicados como vasos sanguíneos,
nervos e paredes viscerais; as pinças de dissecção com dente de rato são utilizadas para manipular tecidos
mais resistentes, como pele, aponeuroses, etc.

Figura 1.25– Pinça de Adson


A pinça de Adson (Figura 1.25) é uma pinça mais delicada, com ou sem dente de rato, de grande utilização
em operações estéticas, pois determinam trauma tecidual muito pequeno.

Tenta-cânula e espátula

Figura 1.26 – Tenta-cânula e espátula

A tenta-cânula (Figura 1.26) é um instrumento de 15cm de comprimento que apresenta na sua extremidade
mais larga uma fenestração que muito facilita a liberação de freios de língua; o freio é introduzido nessa
fenestra, possibilitando sua secção exata. Na extremidade alongada, há duas faces: na face côncava há uma
canaleta que, ao se introduzir o instrumento sob um plano tecidual, permite com facilidade uma incisão
retilínea sem risco de lesar estruturas subjacentes. A espátula pode ser utilizada como pequeno afastador.

Espátula flexível ou maleável


É uma lâmina de aço especial maleável e ajustável a várias situações necessárias durante o ato operatório,
sempre que o cirurgião necessita de afastamento de estruturas ou órgãos profundos. Existe com
comprimentos e larguras variáveis (Figura 1.27).

Figura 1.27 – Espátula flexível de Ribbon

po de Espátul
Instrumentos especiais

A seguir serão relacionados os instrumentos utilizados em tipos específicos de intervenções


cirúrgicas.

Pinça de Foerster
É uma pinça de hastes longas, com anéis na extremidade de sua parte preensora, apropriada para
conduzir pequenas compressas de gaze (gaze montada) e para tracionar determinados órgãos. Seu
comprimento geralmente é de 20cm ou mais, nas versões reta ou curva (Figuras 1.28 e 1.29).

Figura 1.28 – Pinça de Foerster


Figura 1.29 – Ponta ativa

Pinça de Allis
Esta pinça é muito utilizada na preensão de tecidos, possibilitando que se gradue a compressão
necessária para segurar o órgão ou tecido. Sua porção preensora possui hastes que não se tocam, com
exceção das extremidades, que possuem delicadas ranhuras para facilitar a preensão (Figuras 1.30 e 1.31).

Pinça de Babcock
Difere da pinça de Allis, por ter a porção preensora um pouco mais larga, lisa e menos traumática
(Figuras 1.30 e 1.31).
Figura 1.30 – Pinças de Babcock e Allis Figura 1.31 – Pontas ativas das pinças

Clampes intestinais de Doyen

Os clampes intestinais de Doyen (Figuras 1.32 e 1.33) possuem ramos longos, delgados e pouco
traumáticos. Também denominados pinças gastrointestinais, são utilizados nas técnicas de ressecção de
segmentos do tubo digestório para evitar a passagem de fezes e secreções (coprostase) para a área que está
sendo manuseada. Adicionalmente, exercem hemostasia temporária nos vasos da parede dos órgãos que
estão sendo operados. A largura e a elasticidade das suas lâminas distribuem melhor a compressão, evitando
maiores traumas nas alças intestinais. Suas pontas podem ser retas ou curvas.

Figura 1.32 – Clampes de Doyen Figura 1.33 – Pontas ativas dos clampes
Clampe intestinal angulado
Atraumático, seu formato faz com que seja muito utilizado na cirurgia de esôfago, estômago e reto
(Figuras 1.34 e 1.35).

Figura 1.34– Clampe intestinal Figura 1.35 – Ponta ativa do clampe

Clampes vasculares
Os clampes de Potts e de Satinsky são pinças atraumáticas utilizadas na cirurgia vascular. A pinça de
Duval serve para preensão de órgãos e tem a mesma finalidade das pinças de Allis e de Babcock (Figuras
1.36-38).

Figura 1.36 – Clampe de Potts (curvo)


Figura 1.37 – Pinça de Satinsky Figura 1.38 – Pinça de Duval

Outros tipos de pinças


As pinças de Rochester (Figuras 1.39 e 1.40), com algumas variações, são pinças hemostáticas fortes,
longas, usadas quando o cirurgião necessita pinçar estruturas maiores e resistentes. A pinça de Mixter tem
angulação de 90 graus e presta-se para dissecção de pedículos vasculares e para auxiliar na ligadura desses
pedículos (Figura 1.41).

Figura 1.39 – Pinças de Rochester Figura 1.40 – Pontas ativas das pinças

Figura 1.41 – Pinça de Mixter


Cânulas, sondas e drenos utilizados em cirurgia
A cânula de traqueostomia metálica é utilizada nas traqueostomias de longa duração ou nas definitivas.
A plástica dispõe de balão inflável em sua extremidade distal e é mais frequentemente usada quando o
paciente necessita de respiração artificial com respiradores mecânicos. As cânulas traqueais são disponíveis
em materiais de plástico e látex, dispõem de balão inflável em sua extremidade e são utilizadas na anestesia
geral inalatória e em respiração artificial de curta duração (Figuras 1.42-44).

Figura 1.42 – Cânulas de traqueostomia

Figuras 1.43 e 1.44 – Tipos de cânulas traqueais


O dreno de Penrose é confeccionado com látex de paredes muito finas, é muito maleável, tem luz
ampla e, colocado em cavidades em que provavelmente irá se coletar líquido no pós-operatório, drena a
coleção líquida por capilaridade (Figura 1.45).

Figura 1.45 – Dreno de Penrose


O dreno de Kehr ou dreno em T é utilizado na drenagem docolédoco ou via biliar principal.
Introduzido o ramo menor do T em abertura do colédoco, o dreno serve para o escoamento da bile e
descompressão das vias biliares, bem como para via de acesso à introdução de contraste radioativo para
colangiografia pós-operatória. A sonda nasogástrica (de Nelaton) é introduzida pela narina até o estômago,
podendo, no pré e no pós-operatório, servir para descomprimir o órgão e para lavagem gástrica (Figuras 1.46
e 1.47).

Figura 1.47 – Sonda


Figura 1.46 – Dreno de Kehr (em T) Nasogástrica

Telas para cirurgia das hérnias


Algumas técnicas de correção de hérnias da parede abdominal utilizam próteses sob a forma de telas,
sendo a tela de polipropileno uma das mais empregadas, como mostra a Figura 1.48.

Figura 1.48 – Tipos de telas de polipropileno


2 FIOS DE SUTURA
Sarah de Lima Alloufa
Priscila de Medeiros Souza
Harue Santiago Kumakura
Aldo Da Cunha Medeiros

Definição
É todo material usado para ligaduras vasculares que garantem uma hemostasia perfeita, e para unir
tecidos e/ou mantê-los aproximados em sua posição normal, até que estes alcancem sua cicatrização. São
utilizados isoladamente ou montados em agulhas (Figuras 2.1 e 2.2).

Figura 2.1 Fio de polipropileno Figura 2.2 – Fio de poliglactina 910

Características do fio de sutura ideal


• Alta resistência à ruptura;
• Resistência à tensão por tempo suficiente;
• Material inerte e estéril;
• Mínima reação tecidual;
• Flexível, para facilitar o manuseio e dar segurança ao nó;
• Qualidade consistente e uniforme;
• Baixo custo;
• Se absorvível, taxas de absorção seguras;
• Se inabsorvível, deve ser encapsulado sem complicações pós-operatórias;
• Coeficiente de atrito adequado, para assegurar segurança dos nós;
• Não se degradar em produtos tóxicos;
• Não facilitar a infecção e manter-se estável na presença de infecção;
• Não ser alterado com a esterilização;
• Ter baixa capilaridade;
• Não alergênico e não mutagênico.
Figura 2.3 – Ilustração da embalagem de um fio de sutura.
Catálogo Ethicon

Classificação dos fios de sutura

• Naturais: São obtidos na natureza (origem animal, vegetal ou mineral).


• Sintéticos: São obtidos através de processos químicos.
• Absorvíveis: Após cumprirem sua função são absorvidos, por processo enzimático
(fagocitose) ou hidrólise. Podem ser de origem animal ou sintética.
• Inabsorvíveis: Após cumprirem sua função são encapsulados pelo organismo. Podem ser
biodegradáveis ou não biodegradáveis, de origem animal, vegetal, sintética ou metálica.
• Monofilamentar: Apresentam apenas um filamento.
• Multifilamentar: Apresentam vários filamentos torcidos ou trançados.

Na Figura 2.4 estão discriminados os principais fios de sutura designados pelos respectivos
nomes genéricos e por algumas marcas comerciais.
Naturais Catgut simples
(Multifilamentares) Catgut cromado

Absorvíveis
Ácido poliglicólico (Dexon)
Multifilamentares Poliglactina 910 (Vicril)

Sintéticos
Poliglecaprone (Monocril)
Monofilamentares Polidioxanona (PDS)
Poligliconato (Maxon)

Naturais Algodão
(Multifilamentares) Seda
Linho

Poliamida (Norulon)
Inabsorvíveis Poliéster (Mersilene, Dacron)
Multifilamentares Poliéster com cobertura de:
Polibutilato (Ethibond)
Silicone (Ticron)
Sintéticos Teflon (Vitalon)
Aço trançado

Poliamida (Mononylon)
Monofilamentares Polipropileno (Prolene, Surgilene)
Politetrafluoroetileno (PTFE)
Polibutester (Novafil)
Aço (Aciflex)

Figura 2.4 – Classificação dos fios de sutura

Figura 2.6 – Fio de seda


Figura 2.5 – Fio Catgut cromado 24
Figura 2.7 – Fio de nylon monofilamentar Figura 2.8 – Fio de poliéster/algodão

Figura 2.9 – Fio PSD (Polidioxanona)

Características individuais dos fios de sutura mais utilizados na rotina


cirúrgica:
CATGUT SIMPLES
Natural
Tipo de material Absorvível
Multifilamento torcido polido
Serosa de bovino
Composição
Submucosa do intestino delgado de ovinos
Força tênsil 7 a 10 dias
Tempo de
absorção 15 a 30 dias, por ação enzimática proteolítica (fagocitose)

Esterilização Cobalto 60
Cor da sutura Amarela
Apresentação 6-0 a 1
Fechamento Geral: peritôneo, subcutâneo e ligaduras de pequenos vasos
Obstetrícia e Ginecologia (Ob-Gin): episiorrafias
Gastrointestinal: anastomoses, suturas de omento
Usos frequentes
Urologia: sutura de bexiga, cápsula prostática, ureter, ligaduras de artérias
vesiculares, uretra
Oftalmologia: sutura de conjuntiva
25
Otorrinolaringologia: amigdalectomias

CATGUT CROMADO
Natural
Tipo de material Absorvível
Multifilamento torcido polido
Composição Colágeno do gado bovino banhado de sais de cromo
Força tênsil 21 dias
Tempo de
absorção 90 dias, por ação enzimática proteolítica (fagocitose)

Esterilização Cobalto 60
Cor da sutura Marrom
Apresentação 5-0 a 2
Fechamento geral: peritôneo, subcutâneo, mucosa, submucosa e
ligaduras
Gastrointestinal: anastomoses, omento
Usos frequentes Ob-Gin: anastomoses, borda vaginal, útero, parede vaginal e episiorrafia
Urologia: bexiga, ureter, ligaduras de artérias vesiculares, uretra
Oftalmologia: conjuntiva

POLIGLACTINA 910 DE ABSORÇÃO RÁPIDA


Sintético
Tipo de material Absorvível
Multifilamentar trançado
Composição Poliglactina 910 coberta com Poliglactina 370 + estearato de cálcio
Força tênsil 10 a 14 dias (50% em 5 dias, 0% em 10-14 dias)
Tempo de
absorção 42 dias, por hidrólise

Esterilização Cobalto 60
Cor da sutura Incolor
Apresentação 6-0 a 1
Fechamento de pele e mucosa
Cirurgia Plástica
Usos frequentes
Episiorrafias

26
POLIGLACTINA 910
Sintético
Tipo de material Absorvível
Multifilamentar trançado
Composição Poliglactina 910, coberta com Poliglactina 370 + estearato de cálcio
Força tênsil 28 dias (75%, 2ª semana; 50%, 3ª semana; 25%, 4ª semana)
Tempo de absorção 56-70 dias (63 dias, em média), por hidrólise
Esterilização Óxido de Etileno
Cor da sutura Violeta e incolor
Apresentação 10-0 a 2
Fechamento geral: peritôneo, aponeurose, serosa, submucosa e pele
Neurologia: duramáter, fáscia aponeurótica e músculo
Oftalmologia: esclera, conjuntiva
Gastrointestinal: anastomoses, omento
Usos frequentes
Ob-Gin: ligaduras, cúpula vaginal, útero, bexiga, parede vaginal
Ortopedia: membrana sinovial e rótula
Urologia: bexiga, ureter e uretra

POLIGLECAPRONE
Sintético
Tipo de material Absorvível
Monofilamentar
Composição Poliglecaprone 25 - Copolímero de glicolida e caprolactona
Força tênsil 21 dias (60-70%, 1ª semana; 30-40%, 2ª semana; 0%, 3ª semana)
Tempo de absorção 90-120 dias, por hidrólise
Esterilização Óxido de Etileno (ETO)
Cor da sutura Violeta
Apresentação 5-0 até 1
Fechamento geral: peritôneo, tecido subcutâneo
Gastrointestinal: anastomoses, epiplon
Usos frequentes Ob-Gin: ligadura, cúpula vaginal, útero, parede vaginal
Urologia: bexiga, ureter, ligadura de artérias vesiculares, uretra

27
POLIGLECAPRONE 25
Sintético
Tipo de material Absorvível
Monofilamentar
Composição Glicolida (75%), Caprolactona (25%)
Violeta: 28 dias (100%, 1ºdia; 60-70%, 1ª semana; 30-40%, 2ª semana)
Força tênsil
Incolor: 21 dias (100%, 1º dia; 50-60%, 1ª semana; 20-30%, 2ª semana)
Tempo de absorção 90-120 dias, por hidrólise
Esterilização Óxido de Etileno (ETO)
Cor da sutura Violeta, ouro (incolor)
Apresentação 5-0, 4-0 e 3-0
Cirurgia Plástica: pele
Usos frequentes

POLIDIOXANONA
Sintético
Tipo de material Absorvível
Monofilamentar
Composição Polimerização do polímero P – DIOXANONA na presença de catalisador
56 dias (100%, 1º dia; 70%, 2ª semana; 50%, 4ª semana; 25%, 6ª
Força tênsil
semana)
Tempo de absorção 180 dias, por hidrólise
Esterilização Óxido de Etileno
Cor da sutura Violeta, transparente
Apresentação 7-0 até 2
Fechamento geral: peritôneo e aponeurose
Transplantes: rim e fígado
Gastrointestinal: serosa, submucosa
Usos frequentes Ob-Gin: ligaduras, cúpula vaginal, útero, bexiga, parede vaginal
Ortopedia: membrana sinovial e rótula
Cirurgia cardiovascular: anastomoses vasculares, coartação de aorta

28
POLIÉSTER
Sintético
Tipo de material Inabsorvível
Multifilamentar trançado
Composição Poliéster
Força tênsil Mantém sua força tênsil inicial indefinidamente
Tempo de absorção Inabsorvível
Esterilização Cobalto 60
Cor da sutura Verde, branco
Apresentação 6-0 até 0
Oftalmologia: estrabismo, transplante de córnea
Usos frequentes Fechamento Geral: ligaduras, suturas de aponeuroses

NYLON
Sintético
Tipo de material Inabsorvível
Monofilamentar
Composição Poliamida pura
Força tênsil 5 anos (100%, 1º dia; 80%, 1º ano; 65%, 2º ano; 0%, 5º ano)
Tempo de absorção Inabsorvível
Esterilização Cobalto 60
Cor da sutura Preto, incolor
Apresentação 11-0/10-0/9-0/8-0/6-0/5-0/4-0/3-0/2-0/0
Fechamento geral: aponeurose, pleura, pele
Microcirurgia: anastomoses
Plástica: pele
Usos frequentes
Oftalmologia: extração de cataratas, queroplastia penetrante,
descolamento de retina, córnea, esclera.

29
AÇO
Sintético
Tipo de material Inabsorvível
Monofilamentar
Composição Aço Inox 316L (baixo teor de carbono)
Força tênsil Indefinido
Tempo de absorção Inabsorvível
Esterilização Óxido de Etileno
Cor da sutura Prata metálico
Apresentação 2-0 a 6
Cardiovascular: fechamento de esterno
Buco-maxilo: fixação de mandíbula
Usos frequentes
Ortopedia: fixação óssea

POLIÉSTER REVESTIDO
Sintético
Tipo de material Inabsorvível
Trançado
Composição Poliéster (recoberto de polibutilato)
Força tênsil Indefinido
Tempo de absorção Inabsorvível
Esterilização Óxido de Etileno
Cor da sutura Verde e branco
Apresentação 5-0 a 5
Gastrointestinal: cirurgia laparoscópica
Ortopedia: membranas sinoviais
Usos frequentes Cardiovascular: canulação, fechamento do esterno, fixação de próteses,
troca de válvulas

30
POLIÉSTER E ALGODÃO
Sintético
Tipo de material Inabsorvível
Torcido
Composição Filamentos de Poliéster (70%) e Fibras de Algodão (30%)
Força tênsil Indefinido
Tempo de absorção Inabsorvível
Parcialmente biodegradável (parte de algodão, 30%)
Esterilização Cobalto 60
Cor da sutura Azul e incolor
Apresentação 4-0 a 0
Fechamento geral: ligaduras e pele
Usos frequentes Gastrointestinal: anastomoses

LINHO
Natural
Tipo de material Inabsorvível
Torcido
Composição Fibras de Linum Usitatissimum
Força tênsil Indeterminado (perde a maior parte da força tênsil em menos de um ano)
Tempo de absorção Tendem a ser absorvidos em um tempo variável
Esterilização Cobalto 60
Cor da sutura Natural
Apresentação 3-0 a 1
Geral: ligaduras, sutura de aponeuroses
Usos frequentes Gastrointestinal: anastomoses

31
SEDA
Natural
Tipo de material Inabsorvível
Trançado
Casulo do bicho-da-seda (70% Proteínas + 30% Goma) – Fibroína
Composição
(Proteína orgânica)
Força tênsil Perda gradual no decorrer do tempo
Tempo de absorção Inabsorvível, biodegradável (degradação total em 2 anos)
Esterilização Cobalto 60
Cor da sutura Branco, preto e azul
Apresentação 8-0 a 1
Fechamento geral: ligaduras
Gastrointestinal: anastomoses
Neurologia: duramáter, fáscia aponeurótica, músculo
Usos frequentes Oftalmologia: extração de cataratas, queroplastia permanente, estrabismo
(esclera), descolamento de retina
Plástica: pele

POLIPROPILENO
Sintético
Tipo de material Inabsorvível
Monofilamentar
Composição Polipropileno
Força tênsil Indefinido
Tempo de absorção Inabsorvível
Esterilização Óxido de Etileno (ETO)
Cor da sutura Azul
Apresentação 10-0 a 2
Fechamento Geral: aponeurose, pleura, sutura de telas e outras próteses
Gastrointestinal: anastomoses
Plástica: pele
Usos frequentes Cardiovascular: enxerto de derivação da artéria coronária, anastomoses
vasculares, aortomia, aneurisma aorto-abdominal
Oftalmologia: fixação escleral

32
3 SUTURAS
Hilkéa Carla de Souza Medeiros Lima
Layra Ribeiro de Sousa Leão
Gabriela Carminhola Gomes Varela
Renata de Magalhães Vieira
Adison Mitre Alves de Lima
Marcelo José Carlos Alencar
Aldo da Cunha Medeiros

Sendo a mais largamente empregada, a sutura com fios corresponde ao procedimento


executado pelo cirurgião ou profissional médico qualificado com o intuito de promover a síntese
de uma ferida, cirúrgica ou não.
A síntese consiste no conjunto de manobras efetuadas para unir tecidos incisados,
seccionados ou divulsionados,

Figura 3.1 – Classificação da suturas

restituindo-lhes, assim, sua continuidade anatômica e funcional. De maneira geral, a síntese


permanente é alcançada a partir do processo biológico de cicatrização. Nas fases iniciais desse
processo cicatricial, é necessário que haja uma justaposição perfeita das margens do tecido afetado
e tal objetivo é conseguido mais frequentemente por meio de suturas (Figura 3.1), as quais tendem
a amenizar os efeitos da mobilidade relativa tecidual e acelerar a reconstituição anátomo-
funcional.
33
As suturas descontínuas ou em pontos separados, apesar de demandarem maior tempo para
a sua execução, apresentam importantes vantagens:
 São menos isquemiantes;
 Os pontos são independentes uns dos outros;
 Deixam menor quantidade de fio no interior da incisão.
As suturas são executadas mais frequentemente com o auxílio de alguns instrumentos,
como porta-agulhas, pinças de dissecção, agulhas e fios. Alternativamente, podem ser realizadas
através de grampeadores e adesivos cirúrgicos. A descrição das suturas neste manual será restrita
ao uso de suturas manuais com fios, com a utilização de vários tipos de pontos cirúrgicos em
modelos de poliuretano. Antes de iniciarmos a descrição dos pontos, algumas questões
importantes devem ser consideradas:

 Como segurar um porta-agulhas: devem ser utilizados o 2º dedo (anular) e o 5º


dedo para segurar e manusear o porta-agulhas, como está demonstrado na Figura
3.2.

Figura 3.2 – Segurando um porta-agulhas

 Como montar a agulha no porta-agulhas: tratando-se de agulha de fundo falso,


como mostrado nas Figuras 3.3 e 3.4, o porta-agulhas deve ser segurado com a
mão esquerda e a colocação da agulha no fundo falso deve ser feita como
mostrado na figura.

Figura 3.3 – Montando a agulha Figura 3.4 – Montando o


fio na agulha 34
 Utilização da agulha com fio montado. As agulhas avulsas de fundo falso e re-
esterilizáveis são raramente utilizadas na atualidade, pois provocam maior
trauma nos tecidos. Preferencialmente, no centro cirúrgico tem usado as agulhas
com fio montado de fábrica (Figura 3.5). Neste manual as demonstrações
práticas em modelos de poliuretano estão descritas com utilização de agulhas
avulsas de fundo falso número 12, pela praticidade e baixo custo.

Figura 3.5 – Agulha montada

Materiais utilizados para treinamento de suturas

Nas práticas de habilidades na disciplina de Técnica Operatória, muitos materiais e


artifícios têm sido utilizados, como pele de porco, língua de bovinos, peças de cadáveres humanos
e de animais, materiais inertes, simulação virtual, entre outros. Neste manual, serão descritas
técnicas de suturas e anastomoses gastrointestinais com a utilização de poliuretano, material de
baixo custo e de fácil aquisição. Em primeiro lugar, deve ser escolhida a densidade adequada do
material para cada tipo de modelo a ser usado para o treinamento de sutura. Na disciplina de
Técnica Operatória da UFRN, tem sido utilizada a espuma de poliuretano com densidade 33 a 45,
que simula a consistência da pele, de alças gastrointestinais e de órgãos parenquimatosos como o
fígado.
No treinamento de suturas de pele, emprega-se poliuretano densidade 33, em segmentos de
12x15cm, com espessura de 2cm. O material é fixado com ligas elásticas de látex em retângulo de
madeira, com auxílio de 6 pinos (pregos ou parafusos) estrategicamente posicionados, como pode
ser observado na Figura 3.6. Nesse procedimento, são utilizados porta-agulhas de Hegar, tesoura

35
de Mayo, pinça de dissecção sem dente de rato, agulha curva número 11 e fio de algodão;
emprega-se o fio de algodão número 10 (linha de pipa), que pode ser adquirido em lojas do tipo
armarinho.

TOCE-UFRN

Figura 3.6 – Segmento de poliuretano preso por 2 ligas de borracha e duas incisões prontas
para uso em treinamento

Suturas em pontos separados

Ponto simples
Usado em quase todos os tecidos, como pele, fáscias, músculos, suturas e anastomoses
digestivas e vasculares. A sutura em pontos separados é considerada universal, prestando-se para
quase todas as suturas de grande número de intervenções cirúrgicas. O ponto simples é o mais
utilizado e mais útil, uma vez que promove a união das bordas de quase todas as feridas
provocadas na cirurgia (Figura 3.7).

36
B

Figura 3.7 – Sequência de confecção


de pontos simples

Ponto de Donatti

Também conhecido como ponto em U vertical, (longe-longe-perto-perto) é usado


basicamente no fechamento da pele, promovendo uma justaposição dos lábios da incisão e
reduzindo a eventual tensão que exista na região (Figura 3.8). Corresponde a uma sutura útil
quando realizada em feridas com bordas irregulares, pois facilita o afrontamento, evitando
inversão e eversão de bordas e promovendo boa hemostasia.

37
A B

C D

Figura 3.8 – Sequência de confecção de pontos Donatti

Ponto em X
É usado no fechamento de paredes, em suturas musculares, e quando se necessita realizar
hemostasia de área cruentas (Figura 3.9).

A B

38
C D

Figura 3.9 – Sequência de confecção de pontos em X

Ponto em U Horizontal

É empregado na sutura de músculos e órgãos parenquimatosos como fígado, baço e rim,


bem como em anastomoses do esôfago. É particularmente útil em biópsias de órgãos
parenquimatosos e quando há necessidade de promover hemostasia de áreas cruentas.

A B

39
C D

Figura 3.10 – Sequência de confecção de ponto em U Horizontal

Remoção de pontos (Figuras 3.11 e 3.12)

A B

Figura 3.11 – Sequência para remoção de ponto simples

40
A retirada dos pontos simples separados, nas suturas de pele, deve ser realizada como está
demonstrado na Figura 3.11. As pontas expostas de cada ponto são tracionadas com auxílio de
uma pinça de dissecção sem dente de rato e o fio deve ser cortado com tesoura de pontas finas e
afiadas, rente à pele. Esta manobra faz com que o fio exposto, que está contaminado, ao ser
tracionado não passe por dentro do tecido suturado e venha a contaminá-lo. Na retirada dos pontos
de Donatti (Figura 3.12) esses mesmos cuidados devem ser observados.

Figura 3.12 – Remoção de um ponto Donati

Suturas contínuas

As suturas contínuas, por sua vez, são realizadas com um mesmo fio, de modo ininterrupto
para os diferentes pontos, mantendo tração uniforme ao longo dos tecidos a suturar. Desse fato,
provém duas de suas principais desvantagens:

 Se um único ponto afrouxar, ou se ocorrer a ruptura do fio, todo o restante da


sutura ficará comprometido e ocorre deiscência da sutura.

41
 Resulta teoricamente uma maior quantidade de fio na ferida, consistindo,
portanto, em um maior risco de reação ao corpo estranho.

Apesar disso, as suturas contínuas são largamente utilizadas pois também têm suas
virtudes: são executados mais rapidamente do que as suturas em pontos separados, possibilitam
distribuição uniforme da tensão em toda a extensão da sutura, e torna a sutura muito hermética.
Por esse motivo, são utilizadas de rotina nas suturas e anastomoses gastrointestinais e
cardiovasculares, suturas de peritôneo, pleura, pele e outros tecidos.

As principais variantes da sutura contínua são:

Sutura contínua simples ou chuleio simples

É usada em quase todos os tecidos, com destaque para o emprego em aponeurose, pleura,
anastomoses gastrointestinais e vasculares. Após dado o nó inicial em uma das extremidades da
ferida, a agulha entra sempre pelo mesmo lábio da ferida e sai sempre no lado oposto. As entradas
da agulha nas bordas da ferida devem ser equidistantes, mantendo-se tensão constante do fio desde
o início ao fim da sutura. Para concluir a sutura, o ponto final é dado com o auxílio de alça
formada pela última passada do fio e a extremidade presa à agulha (Figura 3.13).

A B

42
C D

Figura 3.13 – Sequência de confecção de um chuleio simples

Sutura contínua com pontos ancorados ou chuleio ancorado

É útil para o fechamento de parede abdominal, pleura e em hemostasia de bordas cruentas


após ressecção parcial de órgãos bem vascularizados como nas tireoidectomias parciais. No que
concerne aos aspectos técnicos, é semelhante ao chuleio simples, exceto pelo fato de que, antes de
se apertar cada ponto, a agulha deve passar por dentro da alça que se forma durante a execução de
cada ponto, para cruzar o fio (Figura 3.14). Quanto à qualidade, trata-se de uma sutura que confere
boa e segurança e hemostasia eficaz.

A B

43
C D

F
E

G H

Figura 3.14 – Sequência de confecção do chuleio ancorado

44
Sutura intradérmica

Como o nome sugere, corresponde a uma sutura empregada na pele. Ela deve ser colocada
na derme próxima da superfície cutânea, de modo que o fio de sutura permaneça inaparente após a
realização da sutura, proporcionando bom efeito estético. Pode ser realizada com fio de sutura
absorvível e inabsorvível (Figura 3.15). Se for utilizado fio inabsorvível, deve-se dar preferência
aos fios monofilamentares sintéticos como nylon e polipropileno, que devem ser removidos no
pós-operatório.

A B

C D

E F

G H

Figura 3.15 – Sequência de confecção de uma sutura intradérmica

45
Remoção da sutura intradérmica (Figuras 3.16 e 3.17)

Traciona-se suavemente uma das extremidades do nó que está exteriorizado, cortando-se o


fio rente à pele. Em seguida, o fio é tracionado paralelo à pele, na outra extremidade da ferida,
onde está o outro nó do fio inabsorvível.

Figuras 3.16 e 3.17 – Sequência de remoção do fio de uma sutura intradérmica

Condições para execução de uma boa sutura

1. Assepsia: na ausência da assepsia pode-se até obter um afrontamento e uma sutura


perfeita, mas a incidência de infecção é muito alta. Nenhum antibiótico substitui a
técnica asséptica bem executada.

2. Bordas nítidas: feridas com bordas anfractuosas ou irregulares, como ocorrem em alguns
traumatismos, resultam em afrontamento incorreto e cicatrizes defeituosas.

3. Hemostasia: com hemostasia perfeita se evitará perda de sangue e formação de


hematoma, o que poderá acarretar o comprometimento da sutura e infecção.

4. Material delicado: o fio de sutura deve ser o menos traumático e fino possível, sem
comprometer a segurança; e a agulha, atraumática.

5. Técnica delicada: a passagem da agulha deve ser suave, abrangendo sempre a menor
quantidade possível de tecido.

46
6. Tração moderada: os lábios da ferida devem ser afrontados por meio de uma tração
moderada, não comprometendo, assim, a irrigação sanguínea, o que poderá resultar em
isquemia, esfacelo e necrose de tecidos.

7. Afrontamento anatômico: a sutura deverá ser feita plano por plano, sem interposição de
corpos estranhos, tampouco de espaços mortos, que dariam lugar a afrontamento
defeituoso, antiestético e aparecimento de infecção. O afrontamento das bordas das
feridas deve ser perfeito, portanto sem inversão, eversão nem superposição de uma borda
sobre a outra.

47
4 ANASTOMOSES GASTROINTESTINAIS
Adison Mitre Alves de Lima
José Augusto Targino de Almeida Filho
Hilkéa Carla de Souza Medeiros Lima
Layra Ribeiro de Sousa Leão
Vinícius Matias Monteiro Cavalcante
Aldo da Cunha Medeiros

A reconstrução do trânsito alimentar entre os cotos gastrointestinais seccionados é


realizada por meio de anastomoses. Os fios de sutura mais indicados nesse procedimento são os
monofilamentares absorvíveis sintéticos (poliglactina) e os monofilamentares inabsorvíveis
sintéticos (polipropileno), os quais têm mostrado superioridade em relação aos demais, em
trabalhos clínicos e em estudos experimentais.

Condições para uma boa anastomose

1. Impermeável: não deve permitir a passagem do conteúdo gastrointestinal para a


cavidade peritoneal. O extravasamento de líquidos sépticos provoca peritonite.

2. Hemostática: a anastomose deve ser realizada de maneira a não permitir sangramento


nas bordas da boca anastomótica. Sangramento pós-operatório é igual a hemorragia
digestiva ou hemoperitôneo, com graves consequências.

3. Boa irrigação das bordas a serem anastomosadas assegura boa cicatrização.

4. As bordas devem ser bem regulares e coaptadas, para se obter uma síntese perfeita.

5. A anastomose deve ser realizada sem tensão na linha de sutura, evitando fístulas e
deiscência de sutura.

6. Asséptica: não deve permitir contaminação da cavidade peritoneal em nenhum


momento, durante e após o ato operatório.

7. Não deve estreitar a luz do intestino. Caso contrário, pode produzir obstrução da
anastomose.

48
8. Deve deixar a zona de sutura da anastomose completamente peritonizada. As mucosas
não devem ficar expostas ou evertidas, evitando contaminação da cavidade peritoneal.

A sutura pode ser em pontos simples separados, com distância entre eles o suficiente para
manter a anastomose hermética, ou em chuleio simples, com grande ganho no tempo de cirurgia.

Tipos de anastomoses

As anastomoses digestivas são assim classificadas:

Quanto à disposição das bocas anastomóticas:

 Témino-terminal
 Término-lateral
 Látero-lateral.

Quanto aos planos de sutura:

 Em plano único
o Extramucosa
o Incluindo a mucosa
 Em dois planos

A anastomose término-terminal é a mais utilizada, a mais simples, e de mais fácil e rápida


execução, sendo que os eixos longitudinais das estruturas anastomosadas dispõem-se alinhados.
Ao estabelecer uma comparação entre as anastomoses em plano único e em dois planos de sutura,
verifica-se que a anastomose em plano único apresenta algumas vantagens: é de mais rápida e fácil
execução; não forma esporão para a luz da anastomose; usa menos material de sutura; o trânsito
intestinal é em geral mais favorável no pós-operatório; e a epitelização na zona de anastomose é
mais rápida.

Justifica-se a prática de habilidades cirúrgicas em anastomoses digestivas com os alunos do


curso de graduação em Medicina por vários motivos: em primeiro lugar, trata-se de uma prática
em que um grande número de pontos e tipos de pontos podem ser treinados; em segundo, a
estrutura é delicada, e os alunos têm oportunidade de lidar com todos os parâmetros descritos para
as qualidades de uma boa anastomose digestiva; por último, é um ato operatório relativamente
simples. A atividade prática tem sido realizada na disciplina Técnica Operatória (UFRN) com o
emprego de modelos confeccionados com poliuretano densidade 45 em lâminas de 6mm de
49
espessura. As peças que simulam estômago e intestinos são elaboradas por monitores e docentes,
utilizando materiais de baixo custo, como espuma de poliuretano e cola de resinas sintéticas. São
empregados fios de algodão número 10 (carretéis de 80m) adquiridos em armarinhos, cortados em
pedaços de 45cm e demais instrumentos que podem ser observados nas ilustrações a seguir.

Anastomose intestinal término-terminal (T-T)

Compreende a aproximação das bordas seccionadas do intestino e sua anastomose com


suturas, realizadas sistematicamente após as enterectomias. Uma vez aproximados os cotos
intestinais a serem anastomosados, colocam-se dois pontos nas bordas, para reparo. Realiza-se
sutura em plano único extramucoso, com pontos interrompidos (simples), com intervalos de
0,5cm, inicialmente nas bordas posteriores (plano posterior), de modo que os pontos são
confeccionados através da luz do intestino e os nós ficam aparentes na mucosa. No plano de sutura
anterior os pontos são dados pela superfície serosa, sem incluir a mucosa, reconstituindo assim o
trânsito intestinal. Os modelos de poliuretano utilizados nesse procedimento são fixados em
pranchas de madeira com auxílio de elásticos, facilitando o trabalho prático, como mostra a Figura
4.1.

A B

C D

Figura 4.1 – Sequência de confecção de uma anastomose término-terminal


50
Testando a anastomose término-terminal (T-T)

Ao concluir qualquer anastomose digestiva, é de boa norma testar se a luz da zona de


anastomose está permeável, ou seja, livre de obstrução ou estenose. O teste é feito com os dedos
polegar e indicador pela superfície externa, assegurando que o dedo indicador ultrapasse a boca
anastomótica em ambos os sentidos, como pode ser observado nas Figuras 4.2 e 4.3.

Figuras 4.2 e 4.3 – Revisão da permeabilidade da anastomose T-T

Anastomose término-lateral (T-L)

A alça jejunal seccionada é mobilizada até a víscera com qual vai ser anastomosada.
Realiza-se a enterotomia na borda antimesentérica de uma das alças, com a dimensão apropriada e
compatível com o calibre da boca terminal da outra alça que será anastomosada. As suturas entre
as duas bocas serão realizadas com pontos separados, obedecendo-se à mesma sistematização
técnica empregada nas anastomoses T-T, como mostra a sequência da Figura 4.4. É feita com
frequência após hemicolectomia direita, quando se anastomosa a porção terminal do íleo com a
face lateral do cólon transverso. Da mesma forma que na T-T, a permeabilidade da anastomose T-
L necessita ser revisada após sua confecção.

51
A B
A

C D
A
A

F
E
A
A

Figura 4.4 – Sequência de confecção de uma anastomose T-L

Anastomose gastroduodenal – Billroth I

A gastroduodenostomia, denominada anastomose à Billroth I, é realizada na reconstrução


do trânsito digestivo após gastrectomia parcial, cirurgia muito comum no tratamento cirúrgico da
úlcera gástrica e dos tumores gástricos. Como o calibre do duodeno é menor do que o do
estômago, após a ressecção gástrica faz-se inicialmente o fechamento parcial da boca terminal do
estômago, do lado da pequena curvatura, de modo a tornar a boca gástrica compatível com a do

52
duodeno (Figura 4.5 – A, B, C, D). Em modelo de poliuretano, aproxima-se a boca proximal do
duodeno à boca terminal do estômago. Dois pontos simples separados são posicionados nas duas
extremidades da boca anastomótica, servindo como pontos de reparo. Em seguida, é feita a sutura
unindo a borda posterior do estômago à borda posterior do duodeno, concluindo com a sutura da
borda anterior desses órgãos (Figura 4.5 – E).

A B
A A

C D
A A

E
A

Figura 4.5 – Sequência de confecção de uma anastomose Billroth I

53
Terminadas as suturas, deve-se fazer sempre a revisão da anastomose para verificar pontos
de estenose e falhas no fechamento, evitando a possibilidade de extravasamento do conteúdo
gastrintestinal para a cavidade abdominal. A manobra final é a verificação da permeabilidade da
da boca anastomótica, atravessando os dedos indicador e polegar de um lado da anastomose para o
outro, tentando sentir as polpas digitais através das paredes do estômago e duodeno, como mostra
a Figura 4.6.

Figura 4.6 – Revisão da anastomose Billroth I

Anastomose gastrojejunal – Billroth II

A técnica de anastomose gastrojejunal à Billroth II é utilizada em casos de gastrectomias


parciais realizadas para o tratamento de câncer (Gastrectomia à Billroth II). Essa técnica
consiste basicamente na anastomose término-lateral da boca terminal do estômago com a primeira
alça jejunal após o ângulo duodenojejunal e ligamento de Treitz. Inicialmente, procede-se o
fechamento do coto duodenal e da borda seccionada do estômago ao nível de curvatura menor,
para reduzir o calibre da boca gástrica, quando se opta pela anastomose de boca parcial (oralis
parcialis).

Em seguida, faz-se a abertura lateral da alça jejunal em sua borda antimesentérica e


procede-se a anastomose término-lateral em pontos simples separados em plano único,
extramucosa. A anastomose inicia-se sempre com a colocação de dois pontos de reparo nas
extremidades da boca anastomótica, seguindo-se a sutura da borda posterior do jejuno com a borda
posterior da boca anastomótica do estômago. Conclui-se com a sutura das bordas anteriores desses

54
órgãos, concluído-se a anastomose gastrojejunal (Figura 4.7). O teste da permeabilidade da boca
anastomótica, como descrito para a anastomose Billroth I (Figura 4.6), deve ser sempre realizado.

A B
A
A

C D
A A

E
A

Figura 4.7 – Sequência de confecção de uma anastomose à Billroth II

55
5 INDUMENTÁRIA CIRÚRGICA
Layra Ribeiro de Sousa Leão
Hilkéa Carla de Souza Medeiros Lima
Renata de Magalhães Vieira
Adison Mitre Alves de Lima
Tereza Raquel de Lima Costa
Aldo da Cunha Medeiros

A equipe operatória deve trocar de roupa no vestiário do centro cirúrgico, antes de se entrar
no ambiente restrito do centro cirúrgico. Isso se torna mais importante ainda, quando o cirurgião
ou seus auxiliares trabalham em enfermarias ou laboratórios com elevado grau de contaminação.
Vestem-se a calça e a blusa, previamente lavadas e disponibilizadas no vestiário do centro
cirúrgico, após a retirada da roupa anteriormente usada.

Gorros e toucas

Devem ser de tecido compacto e de tamanho


suficiente para cobrir totalmente a área pilosa da cabeça, a
fim de evitar a contaminação (Figura 5.1).

Máscaras

O seu uso se deve ao problema da projeção de


gotículas de saliva ou muco, expelidos durante a respiração
forçada, fala, espirros ou tosse, durante o ato cirúrgico. Figura 5.1 – Gorro e máscara

A máscara deve abranger boca e nariz, como mostra a Figura 5.1. Uma pequena alça metálica
maleável na parte média de sua borda superior impede o embaçamento dos óculos, quando do seu
uso.

Alguns preceitos precisam ser obedecidos para tornar eficaz o uso de máscara:

56
 Deve ser repetidamente trocada durante as operações duradouras, uma vez que sua
eficiência decresce após ser usada por mais de 2 horas.
 Colocar a máscara junto à face, de modo a filtrar o ar eliminado.
 Evitar a expiração forçada – tosse, espirro – assim como a fala desnecessária durante o ato
operatório, para aumentar a sua segurança.
Devido à relativa ineficácia das máscaras, pessoas com infecções das vias respiratórias
superiores não devem entrar em sala operatória. Nunca se deve entrar na sala de operação sem a
máscara. Ela deve ser descartada depois de usada.

Óculos de proteção e protetor facial

Protegem os olhos e a conjuntiva da equipe operatória contra o respingo de sangue e


outros líquidos corporais.

Sapatilhas cirúrgicas

Justifica-se o seu uso para a proteção da equipe cirúrgica durante o ato operatório, bem
como para os integrantes da equipe operatória não trazerem
germes nos sapatos para o interior do centro cirúrgico.

As sapatilhas devem ser removidas imediatamente após a


intervenção cirúrgica, tomando-se o cuidado de se lavar as
mãos após calçar e descalçar as sapatilhas. Para tanto, a
sapatilha ideal é o que vai até o tornozelo, confeccionada em

tecido impermeável (Figura 5.2).


Figura 5.2 – Sapatilhas

Figura 5.3 – Vestimenta completa, utilizada antes de


iniciar a escovação das mãos e antebraços

57
Degermação cirúrgica das mãos e dos antebraços

A equipe que irá entrar no campo operatório (cirurgião, auxiliares e instrumentadora)


obrigatoriamente terá que fazer a lavagem e escovação das mãos e antebraços antes de entrar no
campo operatório. O objetivo dessa prática é a remoção da flora bacteriana transitória da
superfície da pele, além da prevenção contra um crescimento bacteriano durante o ato operatório.

Técnica de Escovação

Antes do início da escovação, deve-se verificar se as unhas estão limpas e bem cortadas.
Além disso, anéis, pulseiras e relógios devem ser retirados, e a fixação da máscara, realizada.

Sequência da escovação (Figuras 5.4- 5.7)

 Abre-se a torneira, o que pode ser feito por meio de alavancas, através de pedais ou células
fotoelétricas.

 Molhada a área a ser escovada, ensaboa-se cada braço com a mão oposta, utilizando-se sabão
ou degermante antisséptico (pode-se utilizar Popivinilpirrolidona-iodo (PVPI) degermante a
10% ou clorexidina degermante a 4%).

A B

C D

Figura 5.4 – Sequência I: ensaboando as mãos e os antebraços.


58
 Em seguida, utiliza-se água corrente, no sentido das mãos para os cotovelos para a
remoção do degermante. Mãos e antebraços devem ficar sempre em posição superior à do
cotovelo, a fim de garantir que a solução contaminada não venha a escorrer para as mãos já
escovadas, como mostra a Figura 5.5.

B
A C

Figura 5.5 – Sequência II: retirada do degermante

 Pega-se então a escova esterilizada, coloca-se o degermante (o qual, geralmente,


costuma estar em recipientes de plástico, fixados à parede e acionados pelos pés em
contato com um pedal de borracha ou através de célula fotoelétrica) e começa-se a
escovação das mãos e dos punhos.
 Escova-se primeiro a face anterior de uma das mãos, a posterior, as áreas
interdigitais e as unhas. Troca-se a escova de mão e repete-se o processo no lado
oposto (Figura 5.6).

A B

C D

59
Figura 5.6 – Sequência III: escovação das mãos
 Escovadas as mãos, inicia-se a escovação dos antebraços. A partir desse momento,
a movimentação será só no sentido mãos-cotovelos. Deve-se tomar o cuidado
também de não voltar com a escova às mãos e punhos já escovados.
 Enxáguam-se mãos e antebraços com a água corrente, para a retirada do sabão ou
degermante, no sentido já descrito, mantendo as mãos mais elevadas que os
cotovelos (Figura 5.7).

A B

Figura 5.7 – Sequência IV: escovação do antebraço

A torneira deverá ser fechada com o cotovelo ou com o artifício de célula fotoelétrica, a
fim de evitar o contato das mãos com objetos não esterilizados.

A secagem das mãos é feita com compressa estéril, e cada face dela é destinada à secagem
de uma das mãos. Com a compressa aberta, inicia-se pelas extremidades até o cotovelo; dobra-se a
compressa isolando a face já utilizada e, com a outra face, enxuga-se o outro membro da mesma
forma, como mostra a sequência da Figura 5.8. Nunca utilizar a mesma face da compressa que
enxugou o cotovelo, que é contaminado, para enxugar as mãos. A compressa esterilizada para o
enxugamento das mão deve ser entregue pela(o) instrumentador(a). Nunca deve ser feito o que

A B C

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D E F

Figura 5.8 – A secagem das mãos

mostra a figura 5.8C, pois as mãos estão ainda molhadas e respingos de água sobre os capotes irão
contaminá-los.

Colocação do avental cirúrgico e das luvas

Figura 5.9 – Vestindo o avental I


 O avental ou capote é apresentado ao cirurgião pela instrumentadora, o que facilita o ato de
vesti-lo, como mostrado na Figura 5.9. Outra maneira de proceder é o cirurgião retirar o
avental do pacote estéril, abri-lo e segurá-lo com as duas mãos de modo a não tocá-lo na sua
face externa com as mãos ainda sem luvas. Em seguida deve erguer as mãos e introduzi-las
o quanto puder nas mangas do avental; em seguida, deve-se pedir ao circulante de sala
ajuda para terminar de vestir o avental (Figura 5.9).

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 Ao segurar os cadarços laterais do avental afastados do corpo, entregam-se as pontas ao
circulante e espera-se que ele as amarre no dorso do cirurgião (Figura 5.10).

A B

Figura 5.10 – Vestindo o avental II

O próximo passo será calçar as luvas:

 Deve-se calçar a luva esquerda em primeiro lugar, se for destro, e a direita, se for
canhoto. Em seguida, calcar a outra luva.
 Nunca se deve encostar a luva calcada em uma das mãos na pele da outra mão
ainda sem luva. Isso causaria a contaminação e seria preciso recomeçar o processo.
 Os punhos das luvas devem sobrepor os punhos do avental, para vedar
completamente o contato da pele do cirurgião com os tecidos do paciente, com os
instrumentos esterilizados e com o campo operatório como um todo.

A B C

D E F

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G H I

Figura 5.11 – Sequência de como calçar as luvas

21- Vestindo o avental.

BIBLIOGRAFIA

EDLO. Indústria Brasileira. Catálogo de Instrumentos Cirúrgicos. Disponível em:


<http//:www.edlo.com.br>.

ETHICON, INC. Wound Closure Manual. Disponível em <http//: www.ethicon.com>.

GOFFI, F. S. Técnica cirúrgica: bases anatômicas, fisiopatológicas e técnicas da cirurgia. 4. ed.


São Paulo: Atheneu, 2006, p. 68-70.

LOPES, M. H. B. de M.; MOROMIZATO, S. S.; VEIGA, J. F. F. da S. Adesão às medidas de


precaução-padrão: relato de experiência. Revista latino-americana de enfermagem. Ribeirão Preto,
v. 7, n. 4, p. 83-88, out. 1999.

MARQUES R. C. Técnica operatória e cirurgia experimental. Rio de Janeiro: Guanabara-


Koogan, 2005.

MEDEIROS, A. C. Fios de sutura. In: MARGARIDO, N. F. Aspectos técnicos em cirurgia. Rio


de Janeiro: Atheneu, 1999, p. 113-121.

PARRA, Osório M.; SAAD, William A. Síntese. In: Noções básicas das técnicas operatórias. São
Paulo: Atheneu, 2001. p. 425-478.

PETROIANU, Andy. Clínica Cirúrgica do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Rio de Janeiro:


Atheneu, 2010.

63
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