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Tecnologias da Informação

e da Comunicação
Material teórico
Cibercultura

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dra Andréia Dalcin

Revisão Textual:
Profª Ms Alesandra Fabiana Cavalcante
Cibercultura

Estamos iniciando a unidade “Cibercultura”. Nessa


Unidade estudaremos a nova realidade do Ciberespaço e
as discussões sobre virtualidade. Concepções abordadas
pelo teórico Pierre Levy, entre outros.

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
Contextualização

Para iniciarmos a conversa sobre a cibercultura, a primeira atividade é assistir à


conferência do professor Pierre Levy, um dos principais filósofos e antropólogo que dedicam-
se a compreender o momento histórico atual. Essa conferência foi realizada na UNISINOS,
Universidade do Vale do Rio dos Sinos em São Leopoldo no Rio Grande do Sul em 2000.

Por meio das falas de Levy poderemos compreender um pouco mais do mundo virtual
e das perspectivas da EAD, nesse Universo já tão presente em nossas vidas, embora muitas
vezes não tenhamos clareza disso.

Vale a pena assistir e refletir

http://video.google.com/videoplay?docid=6239676697541594368&ei=QSKxSbO5Bo
LorgLWxY3EBA&q=pieere+levy
Material Teórico

Cibercultura
Os avanços das tecnologias da informação e comunicação vêm causando mudanças
significativas no modo de ser e perceber o mundo, nas relações sociais e culturais. Estamos de
certa forma, vivenciando uma mudança paradigmática quanto ao modo de compreender e
lidar com o conhecimento e com a realidade. As tecnologias possibilitaram a criação de uma
nova realidade, a realidade virtual.

Mas o que é Virtual?


A palavra virtua 1l vem do latim medieval virtualis, derivado por sua vez de virtu, força,
potência. Na filosofia escolástica, é virtual o que existe em potência e não em ato. Segundo
Lèvy (1996), o virtual tende a atualizar-se sem ter passado no entanto à concretização efetiva
ou formal. O autor cita como exemplo a árvore que está virtualmente presente na semente.
Em termos rigorosamente filosóficos, o virtual não se opõe ao real, mas ao atual: virtualidade
e atualidade são apenas duas maneiras de ser diferente.

A virtualização é uma característica humana, que pode ser aplicada a qualquer área da
vida, inclusive ao exercício profissional em benefício da qualidade da mediação com nosso
sujeito interlocutor. O real, o possível, o atual e o virtual são quatro modos de ser diferentes
que operam juntos em cada fenômeno concreto.

O quadro a seguir, extraído de Lèvy (1996), nos auxilia a compreender a relação entre
estes quatro modos de ser.

Latente Manifesto

1
Algumas definições de virtual:
“algo que existe como faculdade, porém sem efeito atual. Suscetível de acontecer; potencial”
“O signo é algo que está no lugar de outra coisa, representando algo para alguém.”
Substância Possível Real
(insiste) (subsiste)

Acontecimento Virtual Atual

(existe) (acontece)

Fonte: Lèvy, 1996, p. 138

Essas maneiras de ser passam constantemente de uma para outra, formam juntas, uma
espécie de dialética de quatro pólos. O possível e o real são ambos latentes, não manifestos,
anunciam um futuro. Já o real e o atual, são patentes e manifestos, estão claramente
presentes.

Em síntese, ao processo de atualização vai de um problema a uma solução e a


virtualização de uma solução dada a um (outro) problema.

remontagem inventiva de uma

solução à uma problemática

Fonte: Adaptação de Lèvy, 1996, p. 145

Para esse autor, devemos buscar a compreensão, pensar e problematizar o virtual. O


virtual seria a dúvida, o ponto de tensão, a hipótese, o desestabilizante. A resposta à dúvida
seria a atualização e cada resposta encontrada, a tensão sugerida pelo virtual seria uma
atualização.

Essa dinâmica se repetiria e estaria intimamente associada à busca da hominização, ou


seja, do processo evolutivo da humanidade. O processo de virtualização é um processo em
que se construiu e se constrói nossa espécie.

Lèvy (1996) acredita que a virtualização do corpo começa ainda a dar os seus primeiros
passos, pois, espera-se que no futuro tenhamos velocidades cada vez maiores. Estamos cada
vez mais nos “desterritorializando”, estamos “aqui” e “ali” ao mesmo tempo, graças aos
equipamentos de comunicação e de telepresença que permitem aos indivíduos estarem num
espaço físico e noutro ao mesmo tempo, independentemente da distância.

Pierre Lèvy (1996) sugere ainda; três principais vias de virtualização que fizeram o
gênero humano:

• o desenvolvimento das linguagens (virtualização do tempo 2 e das sensações);


• a multiplicação das técnicas (virtualização das ações, do corpo 3);
• a complexificação das instituições (virtualização da violência 4 pelo contrato social)

O virtual é essencialmente “desterritorializado”, sem lugar fixo de ocupação. Para


exemplificar, citamos o caso do texto, um objeto virtual, que ao longo da história da
humanidade encontrou diferentes suportes para manifestar-se (códex, livro...) e que com as
novas tecnologias passa a existir na forma de hipertexto. As novas tecnologias acabam por
criar um novo “espaço” para o virtual, o ciberespaço (cyberspace ou espaço cibernético).

Ciberespaço
O termo ciberespaço foi criado pelo escritor de ficção científica William Gibson, sendo
projetado em seu livro Neuromancer, de 1984 . Nessa obra, o autor trata de um real que se

2
A heterogenia do mundo on-line: algumas reflexões sobre virtualização, comunicação mediada por computador
e ciberespaço. Localizado em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
71832004000100005&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
3
Figurações do corpo biológico ao virtual. Localizado em:
http://www.utp.br/interin/edicoesanteriores/04/artigos/artigo_tematico_3.pdf
4
As formas virtuais do social. Localizado em:
http://cencib.org/simposioabciber/PDFs/CC/Marcella%20Schneider%20Faria.pdf
constitui por meio do engendramento de um conjunto de tecnologias, enraizadas de tal forma
na vida em sociedade que lhe modifica as estruturas e princípios, transformando o próprio
homem, que de sujeito histórico torna-se objeto de uma realidade virtual que os conduz e
determina.

William Gibson é o escritor de um livro que inaugura uma nova era da ficção científica
que dura até os dias de hoje, a chamada “Era Cyberpunk”. Seu livro “Neuromancer”
(1984) foi um marco da ficção ao antecipar tecnologias como a internet e criar conceitos
como o de “cyberspaço” ainda na década de 70.

William Gibson nasceu em 17 de março de 1948, na Carolina do Sul (EUA). Logo cedo
ele teve de enfrentar a morte de seu pai quando tinha apenas seis anos. Doze anos depois
foi a vez de perder sua mãe. Segundo ele mesmo afirma em uma autobiografia a perda de
seu pai, que o fez se “... sentir abruptamente exilado...” teve um papel muito importante
em sua relação com a ficção científica.

Gibson publicou ainda outros romances de ficção como “Count Zero” (2008), “All
Tomorrow’s Parties” (2000), “Idoru” (1997), “Pattern Recognition” (2004), “Spook
Country” (2008).

Com os avanços das tecnologias de informação e comunicação o conceito de


ciberespaço se amplia. Lèvy, em palestra conferida no Brasil em 1994, nos coloca:

O espaço cibernético é um terreno onde está funcionando a humanidade, hoje. É um novo espaço de
interação humana que já tem uma importância enorme, sobretudo no plano econômico e científico e,
certamente, essa importância vai ampliar-se e vai estender-se a vários outros campos, como por
exemplo na Pedagogia, Estética, Arte e Política. O espaço cibernético é a instauração de uma rede de
todas as memórias informatizadas e de todos os computadores. Atualmente, temos cada vez mais
conservados, sob forma numérica e registrados na memória do computador, textos, imagens e músicas
produzidos por computador. Então, a esfera da comunicação e da informação está se transformando
numa esfera informatizada. O interesse é pensar qual o significado cultural disso. Com o espaço
cibernético temos uma ferramenta de comunicação muito diferente da mídia clássica, porque é nesse
espaço que todas as mensagens se tornam interativas, ganham uma plasticidade e têm uma
possibilidade de metamorfose imediata. E aí, a partir do momento que se tem o acesso a isso, cada
pessoa pode se tornar uma emissora, o que obviamente não é o caso de uma mídia como a imprensa
ou a televisão. Então, daria para a gente fazer uma tipologia rápida dos dispositivos de comunicação
onde há um tipo em que não há interatividade porque tem um centro emissor e uma multiplicidade de
receptores. Esse primeiro dispositivo chama-se Um e Todo.

Uma outra versão é o tipo Um e Um, que não tem uma emergência do coletivo da comunicação,
como é o caso do telefone. O espaço cibernético introduz o terceiro tipo, com um novo tipo de
interação que a gente poderia chamar de Todos e Todos, que é a emergência de uma inteligência
coletiva.

Fonte: Palestra realizada no Festival Usina de Arte e Cultura, promovido pela Prefeitura Municipal de Porto
Alegre, em Outubro, 1994. Tradução Suely Rolnik. Dispopnível em http://caosmose.net/pierrelèvy/aemergen.html

No espaço cibernético da Internet, há a multiplicação desenfreada de espaços, sites. No


tornamos migrantes de um “nó” ao outro, de uma rede a outra, não mais migrantes de
espaços geográficos, mas de espaços virtuais.

Essa nova configuração nos leva a pensar o ciberespaço como um “campo” que
viabiliza infinitas possibilidades interativas, um novo espaço de comunicação, de
sociabilidade, de reconfiguração de identidades, para além de sua dimensão mais visível e
pragmática, que seria a princípio a organização e disponibilidade da informação e do
conhecimento.

A dinâmica do ciberespaço levaria a mudanças envolvidas na gestação e concretização


do ciberespaço como um universo aglutinador de todas essas possibilidades.

Que mudanças seriam essas?

Para Gontijo (2007) as mudanças seriam:

a) Mudança na tecnologia/informática - A tela do computador não é espaço de


irradiação, mas ambiente de adentramento e manipulação, com janelas móveis e
abertas a múltiplas conexões;
b) Mudança na esfera social - Há um novo espectador menos passivo diante da
mensagem mais aberta à sua intervenção. Ele aprendeu com o controle remoto da TV,
com o joystick do videogame e agora aprende com o mouse. Essa mudança significa
emergência de um novo leitor;

c) Mudança no cenário comunicacional - Ocorre a transição da lógica da distribuição


(transmissão) para a lógica da comunicação (interatividade). Isso significa modificação
radical no esquema clássico da informação, baseado na ligação unilateral emissor-
mensagem-receptor .

Essas mudanças, em seu conjunto, produzem o que Lévy (2000) denomina de


cibercultura.

Cibercultura
O termo Cibercultura tem vários sentidos, mas nos deteremos a utilizá-lo sob a
perspectiva de Pierre Lèvy como:

“o conjunto de técnicas materiais e intelectuais, de práticas, de atitudes, de modos de


pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do
ciberespaço”.

(Lèvy, 2000, p.17)

Estamos imersos na cibercultura, no modo de viver, ser, pensar e planejar. A


virtualidade criada pelo ciberespaço está aproximando e redefinindo ações conjuntas dos
diversos setores da sociedade, de modo que técnica e cultura precisam ser pensadas em
conjunto no desenvolvimento de projetos, tanto na esfera política como pedagógica, no
público ou no privado, nas artes inclusive. Os fenômenos da tecnologia passaram a integrar de
forma intensa, mesmo que silenciosa, o mundo de artista, pedagogos, psicólogos etc, que
geralmente não se interessavam por tal temática.

Está emergindo uma nova arquitetura urbana, uma nova polis que se organiza e se
utiliza das ferramentas das tecnologias, ao mesmo tempo em que intervém sobre estas. Nesse
sentido, o grande inimigo que se coloca é o isolamento, o não fazer parte dessa inteligência
coletiva que se constrói na interação e na colaboração.

Lèvy afirma que:

“a cybercultura pode ser considerada como herdeira legítima (embora distante) do projeto progressista
dos filósofos do século XVIII. Com efeito, ela valoriza a participação em comunidades de debate e
argumentação. Na linha direta das morais da igualdade, ela incentiva uma maneira de reciprocidade
essencial nas relações humanas. Desenvolveu-se a partir de uma prática assídua dos intercâmbios de
informações e conhecimentos, que os filósofos das luzes consideravam como o principal motor do
progresso. E, se alguma vez tivéssemos sido modernos (1), a cybercultura não seria pós-moderna, mas
estaria realmente na continuidade dos ideais revolucionários e republicanos de liberdade, igualdade e
fraternidade. Só que, na cybercultura, tais "valores" encarnam-se em dispositivos técnicos concretos.
Na era da mídia eletrônica, a igualdade se realiza em possibilidade para cada um emitir para todos; a
liberdade se objetiva em softwares de codificação e em acesso transfronteiriço para múltiplas
comunidades virtuais; a fraternidade, quanto a ela, se converte em interconexão mundial.“

Trecho de Lèvy, 2000, Cibercultura

Em síntese, a cibercultura mantém a universalidade ao mesmo tempo em que dissolve


a totalidade. Corresponde ao momento em que nossa espécie, com a planetarização
econômica, com a densificação das redes de comunicação e transporte tende a formar
apenas uma comunidade mundial, mesmo que essa comunidade seja — e como é! —
desigual e conflituosa.

É nesse contexto, complexo e paradoxal, que precisamos pensar a Educação a


Distância em ambientes virtuais.
Espero que as reflexões aqui apresentadas sejam um motivador para o
aprofundamento, para a busca por mais leituras e que agucem o desejo de discutir essa
realidade.

As discussões sobre o campo da ética, política, do publico e privado, do indivíduo e


coletivo precisam ser intensificadas. Lèvy (1996) alerta para a força e velocidade com que a
virtualização contemporânea exila as pessoas de seus próprios saberes, expulsam-nas de sua
identidade, de sua profissão, de seu país. Alerta ainda que evitar, resistir à virtualização só
poderá, com o tempo, desencadear a violência brutal. Precisamos dar sentido à virtualização,
compreender o fenômeno da cibercultura e criar mecanismos de inclusão e participação
efetiva nesse processo que é muito mais social do que tecnológico.

A Educação a Distância, nesse contexto passa a ser mais que uma modalidade de
ensino, mas um espaço de experimentação e estudo.

Para avançar nessa reflexão assista ao vídeo a seguir e leia o texto complementar.

http://www.youtube.com/watch?v=08rVXi55yjE
Material Complementar

Nessa unidade deixo como texto complementar o artigo de Marcos Silva, publicado na
Revista eletrônica FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia. Este artigo mostra que a
cibercultura vem para alterar as práticas de ensino e de aprendizagem, pois oportuniza a
multidirecionalidade em rede.

• Cibercultura e educação: a comunicação na sala de aula presencial e on-line. Disponível


em:
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/viewFile/4802/3606

Como sugestão, caso queira ler Pierre Levy na fonte, deixo como dica que visite o site:
http://www.sescsp.org.br/sesc/conferencias_new/subindex.cfm?Referencia=168&ParamEnd=5

Esse site traz fragmentos de livros desse autor. Particularmente o capitulo “Educação e
Cibercultura”, seria importante que lesse para complementar seus estudos.
Referências

GONTIJO, C. R. B.; MENDES-SILVA, I. M.; VIGGIANO, A. R.; PAIXAO, E. L.; TOMASI, A.


P. N.. Ciberespaço: que território é esse?. Educação & Tecnologia, v. 12, p. 40-47, 2007.

LÉVY, Pierre. A emergência do cyberspace e as mutações culturais. Palestra realizada


no Festival Usina de Arte e Cultura, promovido pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, em
Outubro, 1994. Tradução Suely Rolnik. Revisão da tradução transcrita por João Batista
Francisco e Carmem Oliveira. Disponível em:
http://www.sescsp.org.br/sesc/conferencias_new/subindex.cfm?Referencia=168&ParamEnd=5

Levy, Pierre. Educação e Cibercultura- Disponível em:


http://www.sescsp.org.br/sesc/conferencias_new/subindex.cfm?Referencia=168&ParamEnd=5

LÉVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo: 34, 1997.

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da


informática. São Paulo: 34, 1993.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: 34, 1999.


Anotações

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