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Alfabetização

e Letramento
Material Teórico
Alfabetização e Letramento

Responsável pelo Conteúdo:


Profa Ms. Denise Jarcovis Pianheri

Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Alfabetização e Letramento

• Alfabetização e Letramento

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Nesta Unidade, o nosso tema será: “Alfabetização e Letramento”,
na qual apresentaremos seus conceitos, um pouco da história do
surgimento do termo “Letramento” e a importância de entendermos
seu significado no processo de ensino e aprendizagem das crianças e
até mesmo dos adultos. Também iremos contextualizar resumidamente
como a Alfabetização aparece nos índices de pesquisa em nosso país.
· Então, para iniciarmos, acesse o material teórico e depois faça as
atividades propostas no ambiente.

ORIENTAÇÕES
Para um bom aproveitamento do Curso, leia o material teórico atentamente
antes de realizar as atividades. É importante, também, respeitar os prazos
estabelecidos no Cronograma.
UNIDADE Alfabetização e Letramento

Contextualização
Para começarmos a Unidade, que tal refletirmos um pouco? Vamos ler a citação
de Paulo Freire sobre ser analfabeto ou não:

“Ninguém é analfabeto por eleição, mas como


consequência das condições objetivas em que se
encontra. Em certas circunstâncias, ‘o analfabeto é o
homem que não necessita ler’, em outras, é aquele ou
aquela a quem foi negado o direito de ler” (FREIRE
apud VALE, 2005, p. 28).

Após a leitura da citação, pense e reflita sobre o que é ser analfabeto.

Será que podemos considerar analfabeto aquele que não sabe ler e escrever? E
aquele que não sabe ler e escrever, mas faz uso das práticas sociais, consideramos
analfabeto ou não?

Essa reflexão é importante para iniciarmos o assunto sobre Alfabetização e


Letramento que iremos estudar nesta Unidade.

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Alfabetização e Letramento
Nesta Unidade, estudaremos os conceitos a respeito dos termos
“Alfabetização” e “Letramento”. Vamos conhecer um pouco da história da
Alfabetização, de como surge o Letramento, o porquê da importância desse termo
para os pesquisadores e, principalmente, para os professores alfabetizadores.

Para iniciarmos, vamos entender os vocábulos pelas definições que encontramos


no dicionário.

As primeiras palavras que precisamos conhecer um pouco melhor são:


analfabetismo, analfabeto, Alfabetização e alfabetizar. Assim, teremos maior
clareza de como surge o vocábulo Letramento e de sua significação no processo
de Alfabetização.

Vejamos as definições no dicionário Aurélio:


· Analfabetismo – De analfabeto + -ismo: estado ou condição de
analfabeto; falta absoluta de instrução;
· Analfabeto – Do grego analphábetos, “aquele que não conhece nem o
alfa nem o beta”, em latim analphabetus. Que não conhece o alfabeto;
que não sabe ler e escrever. Absolutamente ou muito ignorante. Que
desconhece determinado assunto ou matéria. Indivíduo analfabeto;
indivíduo ignorante sem nenhuma instrução;
· Alfabetização – De alfabetizar + -ação; ação de alfabetizar;
· Alfabetizar – De alfabeto + -izar; ensinar a ler; dar instrução primária a;
aprender a ler por si mesmo.

Também temos os termos que são fundamentais e colaboram na compreensão


dos termos estudados nesta Unidade.

Temos:
· Letrado – Do latim literratu; versado em letras; erudito; indivíduo letrado;
literato;
· Iletrado – Do latim illiteratu; que ou aquele que não tem conhecimento
literário; ilteratu; analfabeto ou quase analfabeto.

Agora, o termo “Letramento”, não pudemos encontrar no dicionário Aurélio.


Entretanto, outro dicionário, o Houaiss, apresenta o vocábulo:
· Letramento – Representação da linguagem por meio de sinais; escrita;
incorporação funcional das capacidades a que conduz o aprender a ler e
escrever. Condição adquirida por quem o faz.

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UNIDADE Alfabetização e Letramento

Quando pontuamos esses termos pelo dicionário, temos uma visualização e uma
ideia dos significados, facilitando nossa compreensão no processo de inserção da
palavra Letramento no mundo da Educação. E também percebemos a diferença
entre alfabetizar e letrar.

Ao falarmos da história da Alfabetização, praticamente direcionamos os


métodos utilizados durante as décadas em que visualizamos as mudanças ocorridas
nos processos de Alfabetização.

A autora Onaide Schartz Mendonça, no artigo “Percurso histórico dos métodos


de Alfabetização”, apresenta um resumo dessas mudanças.

Seguindo a pesquisa da autora, a história da Alfabetização pode ser dividida em


quatro períodos. O primeiro tem início na Antiguidade e se prolonga até a Idade
Média. Nessa época, o método utilizado foi o de soletração.

O segundo momento vai dos séculos XVI e XVIII até a década de 1960. Nesse
período, começam a criar novos métodos sintéticos e analíticos e já nessa época
foram criadas as cartilhas.

O terceiro período tem início por volta da década de 1980, tendo como
divulgação a teoria da Psicogênese da língua escrita.

E o quarto momento, considerado o atual, muitos pesquisadores denominam de


“reinvenção da Alfabetização”.

É nesse período que surge a preocupação mais pontual e aparecem os índices


que demonstram o fracasso da Alfabetização no nosso país.

Os resultados do Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) no período


2011-2012, pesquisado pelo Instituto Paulo Montenegro, mostram que apenas
26% da população são considerados alfabetizados. Os conhecidos como
analfabetos funcionais representam 27% e 47% da população possuem nível
de Alfabetização básico.

O INAF – Indicador de Alfabetismo Funcional: É um indicador que mede os níveis de


Explor

alfabetismo funcional da população brasileira adulta. O objetivo do INAF é oferecer à sociedade


informações sobre as habilidades práticas de leitura, escrita e matemática dos brasileiros entre
15 e 64 anos de idade, de modo a fomentar o debate público, estimular iniciativas da sociedade
civil e subsidiar a formulação de política nas áreas de educação e cultura.

O Brasil apresenta avanço nos níveis de Alfabetização comparado a épocas


anteriores, mas ainda não tivemos progresso considerável referente ao pleno
domínio das habilidades de leitura e escrita para o mundo letrado.

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Como podemos verificar na pesquisa, o percentual da população alfabetizada
funcionalmente foi de 61% em 2001 e em 2011 a porcentagem foi de 73%, ou
seja, para cada quatro brasileiros, apenas um domina plenamente as habilidades
de leitura e escrita. O resultado da pesquisa aponta que o avanço se dá pela
“universalização do acesso à Escola e do aumento do número de anos de estudo.”

Com essa pesquisa, conseguimos visualizar o andamento da Alfabetização no Brasil.

Outro ponto importante revelado pelo INAF são os níveis de alfabetismo, que
são divididos em quatro:
1. Analfabetos: não são capazes de realizar nem mesmo tarefas simples em
relação à leitura;
2. Alfabetizados rudimentares: conseguem identificar pequenas informações
em textos curtos e também leem e escrevem números que utilizam no
cotidiano;
3. Alfabetizados básicos: têm capacidade de leitura e compreendem textos
de média extensão, leem números e resolvem operações simples e têm noção
de proporcionalidade;
4. Alfabetizados plenos: conseguem ler textos longos, analisam, interpretam,
relacionam, fazem inferências e diferenciam fato de opinião. Resolvem
problemas com porcentagem, proporções e cálculos; também conseguem
interpretar tabelas, mapas e gráficos.

Ao observarmos e analisarmos os resultados da pesquisa, verificamos que, hoje,


o Letramento já está inserido no processo de aprendizagem da leitura e da escrita,
ou seja, não basta alfabetizar, é necessário letrar. A Alfabetização e o Letramento
não podem ser apresentados separadamente, precisam caminhar juntos.

Alfabetização: É a ação de alfabetizar, que consiste em tornar o indivíduo capaz de ler e


Explor

escrever, ou seja, tornar-se alfabeto.


Letramento: É a condição do indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas também faz uso
competente da leitura e da escrita e de suas práticas sociais.

Continuando!

O termo Letramento não surge aleatoriamente. É um vocábulo novo que aparece


nos estudos de Educação e das Ciências Linguísticas, nos anos de 1980.

A palavra Letramento é uma tradução para o português da palavra inglesa


literacy, que significa “a condição de ser letrado”, e da palavra literate, um adjetivo
que caracteriza a pessoa que domina a leitura e a escrita.

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UNIDADE Alfabetização e Letramento

Para Magda Soares, com a palavra literacy, implicitamente está inserida a ideia
de que
A escrita traz consequências sociais, culturais, políticas, econômicas,
cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que seja introduzido,
quer para o indivíduo que aprenda a usá-la. Em outras palavras: do ponto
de vista individual, o aprender a ler e escrever – alfabetizar-se, deixar
de ser analfabeto, tornar-se alfabetizado, adquirir a “tecnologia” do ler
e escrever e envolver-se nas práticas sociais de leitura e de escrita (...)
(SOARES, 2001, p. 17-8).

É nesse sentido que damos o significado para o “Letramento”, ou seja, é “o


resultado da ação de aprender a ler e a escrever.”
Vivemos em uma sociedade em que o saber ler e escrever não basta. O adequado
e o que se espera é que as pessoas possam saber fazer uso da leitura e da escrita nas
diferentes práticas sociais em que o indivíduo está inserido e que serão dele exigidas.
Percebe-se a exigência da habilidade nas práticas sociais até mesmo no critério
das pesquisas para saber sobre a quantidade de analfabetos e alfabetos no país.
Anteriormente, definia-se uma pessoa como analfabeta ou não se ela, indivíduo,
era capaz de escrever seu próprio nome. Hoje, quando são feitas as pesquisas
relacionadas à Alfabetização, a pergunta fundamental para definir se a pessoa é
alfabetizada ou não é se ela é capaz de ler e escrever um bilhete simples.
Já existe a preocupação de avaliar o nível de Letramento das pessoas. Em alguns
países como Estados Unidos e alguns outros, o objetivo dessa avaliação não é o
mesmo que no Brasil.

Magda Soares comenta a respeito:


[...] Não basta denunciar, como se costuma crer no Brasil, um alto
número de pessoas que não sabem ler e escrever (fenômeno a que nos
referimos nós, brasileiros, quando denunciamos o nosso ainda alto índice
de analfabetismo), mas estão denunciando um alto número de pessoas
que evidenciam não viver em estado ou condição de quem sabe ler e
escrever, isto é, pessoas que não incorporam os usos da escrita, não se
apropriaram plenamente das práticas sociais de leitura e de escrita: em
síntese, não estão se referindo a índices de Alfabetização, mas a níveis de
Letramento (SOARES, 2001, p. 22-3).

Outro ponto interessante é que uma determinada pessoa pode ser analfabeta,
ou seja, não saber ler e escrever, mas poderá ser considerada letrada.

Como isso pode acontecer?


O indivíduo que tem o acesso aos materiais de leitura e escrita e que faz uso
indiretamente desse material, de certa forma, é letrado. Melhor dizendo, a pessoa
que pede para alguém ler uma carta, por exemplo, não saber ler e escrever, mas
sabe e compreende a funcionalidade dessa prática social, ou também aquele que se
interessa em ouvir uma história.

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Magda Soares exemplifica muito bem essa questão em seu livro “Letramento:
um tema em três gêneros” e não podemos deixar de citar o trecho em que ela
explica sobre a criança que não sabe ler e escrever, mas que pode ser considerada
letrada.

A autora afirma:
Da mesma forma, a criança que ainda não se alfabetizou, mas já folheia
livros, finge lê-los, brinca de escrever, ouve histórias que lhe são lidas,
está rodeada de material escrito e percebe seu uso e função, essa criança
é ainda “analfabeta”, porque não aprendeu a ler e a escrever, mas já
penetrou no mundo do Letramento, já é de certa forma, letrada (SOARES,
2011, p. 24).

Portanto, o Letramento pode ter vários níveis e isso irá depender dos estudos e
pesquisas que já pensam em como medir esses níveis. Mas, o importante é termos
clareza do significado desse termo, que cada vez mais está presente entre nossos
pesquisadores, teóricos, professores e profissionais da área.

Também no livro da autora, que já mencionamos, a pesquisadora cita um poema


feito por uma estudante norte-americana, chamada Kate M. Chong, que define o
que é Letramento para ela.

Leia e veja que interessante!


Letramento não é um gancho

em que se pendura cada som enunciado,

não é treinamento repetitivo

de uma habilidade,

nem um martelo quebrando blocos de gramática.

Letramento é diversão

é leitura à luz de vela

ou lá fora, à luz do sol.

São notícias sobre o presidente,

o tempo, os artistas da TV

e mesmo Mônica e Cebolinha

nos jornais de domingo.

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UNIDADE Alfabetização e Letramento

É uma receita de biscoito,

uma lista de compras, recados colados na geladeira,

um bilhete de amor,

telegramas de parabéns e cartas

de velhos amigos.

É viajar para países desconhecidos,

sem deixar sua cama,

é rir e chorar

com personagens, heróis e grandes amigos.

É um atlas do mundo,

sinais de trânsito, caças ao tesouro,

manuais, instruções, guias,

e orientações em bulas de remédios,

para que você não fique perdido.

Letramento é, sobretudo,

um mapa do coração do homem,

um mapa de quem você é,

e de tudo que você pode ser.

(apud Soares, 2001, p. 41)

Ao ler o poema, conseguimos perceber claramente os exemplos citados pela


escritora e, assim, enxergarmos como o Letramento faz parte de nosso cotidiano.
Ou seja, utilizamos a leitura e a escrita praticamente o tempo todo, como no
trabalho, na Escola, no lazer e, é claro, em casa.

O que precisamos ter consciência é que a Alfabetização e o Letramento não são


temas que irão ser estudados e utilizados separadamente. Eles precisam “caminhar”
juntos, mas a compreensão dos conceitos de cada termo precisa estar claro porque,
nos dias de hoje, em que a sociedade espera muito mais de cada pessoa em relação
à leitura e à escrita, ou melhor, exige-se que o indivíduo não só saiba ler e escrever,
mas que faça o uso coerente da leitura e da escrita.

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Por isso é necessário engajamento por parte dos profissionais da área da
Educação, porque, sem dúvida, esses educadores e pesquisadores são os primeiros
que precisam entender, compreender e, o principal, fazer uso da Alfabetização
e do Letramento de maneira coerente, que possa levar os educandos também
à compreensão do uso da leitura e da escrita no seu dia a dia, ou seja, em suas
práticas sociais.

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UNIDADE Alfabetização e Letramento

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Vídeos
Alfabetização - Telma Weisz (1ª parte)
Acesse o link a seguir para saber mais sobre Alfabetização:
https://youtu.be/2wK9lw2cehI

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Referências
FERNANDES, Maria. Os segredos da Alfabetização. São Paulo: Cortez, 2008.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio. Século XXI: o dicionário


da Língua Portuguesa. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

HOUAISS, Antonio; VELLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua


Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2.ed. Belo Horizonte:


Autêntica, 2001.

VALE, Maria José. Paulo Freire, educar para transformar: almanaque histórico.
São Paulo: Mercado Cultural, 2005.

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