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Procuradoria-Geral da republica e a

corrupçao recente

QUAL A IMPORTÂNCIA DO PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA?


Escolhido pelo presidente e aprovado pelo Senado, é o chefe do Ministério Público da União
responsável por as ações de inconstitucionalidade, por promover Ação Direta de
Inconstitucionalidade e é quem possui o poder de mover ações penais para denunciar
autoridades como deputados federais, senadores, ministros de Estado, o presidente e o vice-
presidente da República. Na prática, é o gestor público com poderes de efetivamente levar
adiante qualquer denúncia de corrupção supostamente praticada pelo executivo, seus
ministérios e pelo legislativo.

FHC E O ENGAVETADOR-GERAL DA REPÚBLICA


Geraldo Brindeiro foi Procurador-Geral da República durante todos os oito anos de governo de
Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 2003, quando encerrou o mandato já no governo Lula.

Sua atuação foi marcada pelo completo alinhamento aos interesses do governo tucano e
blindagem de qualquer escândalo envolvendo aliados da gestão.

Sua análise era tão escancaradamente parcial e protecionista, que Brindeiro ficou conhecido
como “engavetador-geral da República”, pela obviedade de não dar encaminhamento a
nenhuma denúncia envolvendo os membros do governo e aliados, nem mesmo a da “pasta
cor-de-rosa” e da compra de votos da emenda da reeleição, escândalos com todos os
elementos passíveis de investigação e provas abundantes de crimes.

Para entender o tamanho da responsabilidade no arquivamento, a “pasta rosa” foi apreendida


pelo Banco Central na sede do Banco Econômico, em Salvador, com a lista de candidatos que
haviam recebido dinheiro na campanha, e registros de doações às campanhas eleitorais feitas
pelo Banco Econômico. Planilhas com nomes completos de candidatos, valores de doações,
cargos em disputa e meses em que foram feitos pagamentos de despesas de campanha. Os
gastos estavam devidamente registrados em notas fiscais, duplicatas e faturas, além de ordens
de pagamento emitidas pelo Econômico em favor das empresas que prestaram serviços aos
candidatos. Havia, ainda, cópias de cheques administrativos do banco, com o nome do
candidato beneficiado escrito à mão. Era uma denúncia pronta, com todas as provas.

Quando o Diretor-Geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, apresentou a notícia crime ao STF a
partir de suas investigações, Brindeiro encaminhou parecer pedindo arquivamento, chamando
de “meras conjecturas”.

No dia 28 de janeiro de 1997, foi aprovada a emenda constitucional que permitia a reeleição
para o cargo de Presidente da República. Quatro meses depois, dois deputados federais foram
gravados confessando ter votado a favor da emenda, em troca de R$ 200 mil, recebidos em
dinheiro. Outros três deputados eram citados de maneira explícita, e dezenas de congressistas

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teriam participado do esquema. Os dois deputados gravados, Ronivon Santiago e João Maia,
do PFL do Acre, renunciaram aos seus mandatos.

Apesar da fartura de provas documentais, Geraldo Brindeiro não acolheu nenhuma


representação que pedia a ele o envio de uma denúncia ao Supremo Tribunal Federal.

GOVERNO LULA INICIA TRADIÇÃO REPUBLICANA DE ESCOLHER 1º INDICADO


PELA LISTA TRÍPLICE PARA PGR
Nos 14 anos dos governos petistas, a presidência da República escolheu o primeiro nome de
uma lista tríplice, com os três nomes mais votados pelos procuradores da Associação Nacional
dos Procuradores da República (ANPR).

Em 2003, Lula foi o primeiro presidente a respeitar o resultado da votação interna dos
procuradores, e escolher o primeiro colocado na lista tríplice. A atitude foi considerada um
passo decisivo para a autonomia do Ministério Público. Antes, o procurador-geral era
escolhido pelo presidente – durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o procurador
foi apelidado de “engavetador-geral da República”.

Com a lista tríplice, na teoria, o presidente da República deve escolher um dos três mais
votados para o cargo. Mas Lula e Dilma, instaurando uma tradição republicana, sempre
escolheram os primeiros colocados e não interferiram politicamente na PGR.

Após o golpe de 2016, Michel Temer ignorou o nome mais votado pela categoria para o cargo
de Procurador-Geral da República e escolheu o 2º lugar.

GOVERNO BOLSONARO E O NOVO “ENGAVETADOR”


Augusto Aras, nomeado por Jair Bolsonaro (sem partido) em setembro de 2019, não concorreu
à lista tríplice do Ministério Público Federal (MPF), uma tradição republicana iniciada com o
governo Lula. Foi indicado pelo deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF), ex-coronel, da
bancada da bala e envolvido em denúncias de corrupção. A demora na nomeação, que ocorreu
após o fim do mandato de Raquel Dodge, foi permeada de discursos e comentários feitos pela
família do presidente da República e por ele próprio, de que gostaria de um Ministério Público
que “não atrapalhe” o seu governo.

Em comum com Brindeiro, Aras não parece ter somente a forma da nomeação, sem
participação da categoria. Até aqui tem se mostrado também um Procurador-Geral alinhado e
leal ao governo que o colocou no cargo.

Aras rejeitou, recentemente, pedido de subprocuradores para obrigar Bolsonaro a seguir


recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) no combate à pandemia de covid-19.
E ainda deu “pito” nos colegas: "O Estado brasileiro está funcionando normalmente”. Os
colegas de Aras entenderam que o pronunciamento de Jair Bolsonaro, no dia 24 de março,
desautorizou as medidas de combate ao coronavírus, trouxe riscos de desarticular os esforços
das autoridades sanitárias, e advertiram que ele pode ter incorrido em desvio de finalidade.

Precisamente no dia 7 de abril, a PGR arquivou seis representações que pediam a abertura de
investigação criminal contra o presidente da República, justamente em decorrência dos atos
praticados por ele durante a crise envolvendo a pandemia. Atos que foram, inclusive, objeto

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de denúncias em cortes internacionais. As decisões foram comunicadas por Augusto Aras ao
ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, que havia enviado os casos para
análise pelo órgão.

Uma após a outra, Augusto Aras refuta qualquer ação que possa servir para coibir atos
abusivos do presidente da República, mesmo em juízo prévio de averiguação. Com isso, sela a
postura que assume diante do governante. Escolhe, em princípio, um dos caminhos na
encruzilhada de estar à frente de uma instituição a quem foi dado o papel de uma das
defensoras da democracia, em um governo que não tem por ela nenhum apreço. Aliás, a
cooptação da maior autoridade do Ministério Público para defender atos de governo simboliza
um deslocamento para o espaço de debate moral sobre o exercício do cargo que ocupa.

Esse modelo de relacionamento, estranho à Constituição brasileira e às normas que regem a


conduta do Ministério Público Federal, coloca ainda mais em perigo a frágil estabilidade
institucional.

Adaptado de
https://www.brasildefato.com.br/2020/04/09/augusto-aras-o-novo-brindeiro-faz-da-pgr-esteio-do-governo

PRIVATARIA TUCANA
A Privataria Tucana é um livro de autoria do jornalista brasileiro Amaury Ribeiro Júnior, ex-
repórter especial da revista Isto É e do cotidiano O Globo e ganhador de diversos prêmios Esso
de jornalismo. O título do livro ("privataria") é um neologismo que combina privatização à
pirataria, criado pelo jornalista Elio Gaspari, e "Tucano" é um apelido comum dado a membros
do PSDB, a partir de um dos símbolos do partido, o pássaro tucano.

O livro, resultado de 12 anos de investigação sobre as "privatizações no Brasil",[2] destaca


documentos que apresentam indícios e evidências de irregularidades nas privatizações que
ocorreram durante a administração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB,
além de amigos e parentes de seu companheiro de partido, José Serra. Os documentos
procuram demonstrar que estes políticos e pessoas ligadas a eles realizaram, entre 1993 e
2003,[3] movimentos de milhões de dólares, lavagem de dinheiro através de offshores -
empresas de fachada que operam em Paraísos Fiscais - no Caribe.

Privataria Tucana contém cerca de 140 páginas de documentos fotocopiados que evidenciam
que o então Ministro do Planejamento e futuro Ministro da Saúde de Fernando Henrique
Cardoso (PSDB), José Serra, recebeu propina de empresários que participaram dos processos
de privatização no Brasil.

Sem nenhuma investigação da CGP ou da Polícia Federal, o acesso aos documentos foi
conseguida a partir de uma desavença interna do PSDB. José Serra e Aécio Neves disputavam
internamente no partido quem seria o candidato sucessor de FHC. Por esse caminho o jornal
Estado de São Paulo de tendência tucana paulista saiu em defesa de José Serra acusando Aécio
Neves de ser um viciado em cocaína. Por outro lado, os donos do jornal Estado de Minas
saíram em contra-ataque o que possibilitou ao jornalista Amaury Ribeiro Júnior ter recursos
para investigar as privatizações dos governos tucanos pela fragilidade que as conexões com

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desvio de verbas públicas provocava em Serra. A investigação o levou a encontrar as contas
usadas por Ricardo Sérgio, Alexandre Bourgeois e pela filha de Serra, Verônica Serra indicando
o recebimento de propinas e contas milionárias depositadas em paraísos fiscais para driblar
qualquer averiguação.

O país teve um prejuízo de pelo menos R$ 2,4 bilhões com as privatizações do patrimônio
público dado a preço de banana a grandes corporações privadas, durante o governo FHC.

A estimativa foi feita no clássico estudo escrito pelo jornalista Aloysio Biondi, que, em seu livro
"O Brasil privatizado", afirma: "O governo diz que arrecadou 85,2 bilhões de reais com as
privatizações. Mas contas “escondidas” mostram que há um valor maior, de 87,6 bilhões de
reais, a ser descontado daquela 'entrada de caixa'"(p. 68).

O cálculo dos prejuízos das privatizações não considera os possíveis ganhos e valorizações
posteriores, cujos montantes Biondi reputa incalculáveis.

As privatizações da mineradora estatal Vale do Rio Doce, em 1997, e do sistema Telebrás, em


1998, foram as mais emblemáticas e vultosas.

No dia 6 de maio de 1997, o governo Fernando Henrique Cardoso leiloava a principal empresa
estratégica brasileira no ramo da mineração e infraestrutura.

Maior mineradora mundial de minério de ferro, a Vale é produtora de ouro, exploradora de


bauxita (matéria-prima do alumínio) bem como de titânio, no qual o Brasil é o maior detentor
mundial do minério.

A Vale tinha a participação em 54 empresas coligadas. Possui também uma grande malha
ferroviária, meio de transporte que deveria ter papel estratégico. Mas nada disso foi avaliado
no edital do leilão da companhia, assim como aconteceu com vários outros recursos minerais.

Tudo isso foi privatizado, sem debate com a sociedade, ignorando um plebiscito popular e à
revelia da economia brasileira, que hoje apresenta grande desindustrialização.

A Vale do Rio Doce (hoje apenas Vale) foi vendida por R$ 3,3 bilhões, quando somente as
suas reservas minerais eram calculadas em mais de R$ 100 bilhões à época.

A empresa foi criada em 1942 com recursos do Tesouro Nacional. Durante 55 anos, foi uma
empresa mista e o seu controle acionário pertencia ao governo.

Depois do leilão de privatização da companhia, com militância ativa de José Serra, ministro do
planejamento à época, a Vale passou a ser comandada pelo banco Bradesco, integrante do
consórcio Valepar, detentor de 32 por cento das ações, enquanto os investidores estrangeiros
passaram a somar 26,7% das ações totais da empresa.

Qual era a justificativa da venda? A desculpa foi o pagamento de parte da dívida pública
interna e externa. Sabe-se que, a exemplo de outras privatizações, isso nunca ocorreu.

Na realidade, controlada pelo capital financeiro e internacional, a opção feita pela empresa
tem sido pelo atropelo da legislação trabalhista e aumento das práticas antissindicais;
exportação com alto consumo de energia e nenhum beneficiamento dos produtos; e a

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intensificação da produção voltada para fora causa rápido esgotamento das reservais minerais,
ao lado de impactos no meio ambiente como o descaso em nome da minimização dos gastos
para a maximização dos lucros que levou ao rompimento da barragem de Mariana, em
novembro de 2015, matando 19 pessoas e o rompimento da barragem de Brumadinho, em
janeiro de 2019, o qual vitimou 270 pessoas. As duas tragédias impactaram a vida de milhares
de pessoas e ocasionaram desastres ambientais incalculáveis.

Quadro comparativo dos grandes escândalos de corrupção no período democrático.

Caso Valores em R$ Fonte

Privataria 2,4 bilhões O cálculo é de 2014 do jornalista Aloysio Biondi em seu


Tucana livro “O Brasil privatizado”. Sem atualização.
Mensalão do 739,5 milhões O cálculo é de 2014 da ação ajuizada pelo Ministério
DEM Público. Sem atualização.
TRT de São 169,5 milhões Valores calculados pelo TCU em 2001. Sem atualização.
Paulo
Mensalão (AP 102 milhões Conforme relatório da Ação Penal 470 do STF
470)

MENSALÃO DA REELEIÇÃO DE FHC


Recentemente Fernando Henrique Cardoso admitiu a compra de votos para aprovar a
reeleição em 98, mas disse que não sabe quem comprou. A compra de votos existiu em 97,
mas não deu em CPI, a PGR não aceitou as denuncias e não deu em nada porque não ocorreu
investigação.

De forma semelhante, a privatização da Telebras produziu muitas provas escandalosas de


negócios envolvendo a alta cúpula do governo composto por PSDB, MDB e o que hoje é o DEM
e que chega a um negócio de R$ 22 bilhões. Novamente não houve CPI e a PGR não
encaminhou investigação.

O QUE FOI O MENSALÃO DO PT?


O escândalo consistiu nos repasses de fundos de empresas, que faziam doações ao Partido dos
Trabalhadores (PT) para conquistar o apoio de políticos. O esquema de corrupção começou em
2002 e só em 2005 foi descoberto, por meio de uma gravação secreta. Nela, Maurício Marinho
– na época chefe do departamento de Contratação dos Correios – foi flagrado recebendo
propina de três mil reais em nome do deputado federal Roberto Jefferson, do Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB). Depois de o vídeo ter sido divulgado, Marinho fez uma delação
sobre os detalhes do Mensalão – que envolvia não apenas os Correios e o PTB, mas também o
PT e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Logo após o flagrante, Jefferson
também delatou todo o esquema de corrupção. Ele disse que Delúbio Soares, o então
tesoureiro do PT, destinava uma mesada de R$30.000 para congressistas apoiarem o governo
Lula.

O esquema consistia na manipulação política para que novos partidos se aliassem ao PT para
votar matérias importantes na estratégia de gestão do partido, o que acontecia por meio de
repasse de dinheiro – ou seja, propina.

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Em 2007, o Supremo Tribunal Federal (STF) instituiu a Ação Penal 470. Essa Ação Penal
investiga o processo do Mensalão durante a gestão da presidência pelo PT.

No mesmo período, o governo Lula multiplicou os servidores da Polícia Federal por meio de
concurso público, além de ampliar o orçamento da instituição e adquirir equipamentos de
inteligência de alta tecnologia. A ideia do ministro da justiça da época era transformar a PF em
uma agência de inteligência e policiamento altamente sofisticada ao estilo do FBI dos Estados
Unidos. Nesse sentido, ampliaram-se as varas da Justiça Federal de 100 para 513.

Foi durante o primeiro mandato de Dilma, em 2013, que a colaboração premiada acabou
sendo institucionalizada, por meio da sanção pela petista da Lei de Organizações Criminosas.
Desde então, o instrumento foi uma ferramenta largamente utilizada pela força-tarefa da
Polícia Federal denominada Operação Lava Jato, que sacudiu o mundo político e atingiu em
cheio o próprio PT, além do PMDB e do PP, partido com o maior número de condenados.

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