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1.3.

O NOME BRASIL

Pau-Brasil: metáfora vegetal de um país


Com nome científico de Caesalpinia echinata, o Pau-Brasil foi declarado árvore símbolo da nação brasileira e tem seu dia oficial comemorado
no dia 3 de maio. Árvore belíssima, nobre e preciosa, ela é a melhor metáfora da história do nosso país: também ele imenso, rico, generoso... e
desde sempre espoliado até à beira da extinção.

Pau-Brasil: a madeira que "sangra".

Nas três primeiras décadas, não havia nenhuma preocupação expressando um horizonte geográfico ainda mítico, como o das
consistente com o povoamento, e Portugal, que só tinha olhos ilhas Afortunadas e tantas outras miragens que a prática
para o Oriente, considerou a terra – ainda um território navegadora e a experiência acabariam por dissipar. Assim,
fragmentado, que nada tinha da unidade de hoje – uma espécie primeiro houve o nome, depois o lugar que foi nomeado.
de “espaço-reserva” para atividades posteriores. Só vieram para
cá missões de exploração e a prática de escambo do Pau Brasil. Por curto tempo, ocorreu uma denominação que não vingou,
adotada nas cartas de Pero Vaz de Caminha e de Mestre João,
Mal se iniciava o século XVI e os espanhóis já exploravam a costa ambas de 1º de maio de 1500: [1] Vera Cruz. O rei rebatizou com
nordeste da América do Sul. Os franceses também não tardaram, o nome de [2] Terra de Santa Cruz. Para outros, foi chamada até
contestando a divisão luso-espanhola do globo e enviando navios de [3] Terra dos Pagagaios. Conviveram outros nomes, como Terra
para o Atlântico Sul. Acabaram, assim, decidindo a sorte das terras dos Canibais.
achadas por Cabral, carregando, pelo menos desde 1504, os
navios de armadores normandos e bretões (etnias que habitavam Por fim, em 1512, começou a surgir o termo [4] Brasil para
a França) com pau-brasil, e estabelecendo, em 1555, uma colônia designar em âmbito oficial a América portuguesa, tornando-se
na Baía de Guanabara, a França Antártica. E desta forma cada vez mais frequente daí em diante e consagrando-se
despertaram o interesse português pelo Atlântico Sul. oficialmente entre 1516, quando D. Manuel investiu Cristóvão
Jaques das funções de “governador das partes do Brasil”, e 1530,
Entre 1351 e 1500, os mapas europeus mostram o nome Brasil e quando D. João III designou Martim Afonso de Sousa governador
variantes dele – Bracir, Bracil, Brazille, Bersil, Braxili, Braxill, da terra: “Martim Afonso de Sousa do meu conselho capitão-mor
Bresilge – em diversas fontes, para designar uma ilha ou até três, da armada que envio à terra do Brasil.”

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Apesar dos nomes, o território era na verdade uma América Portuguesa: um empreendimento ultramarino de Portugal com a principal intenção de explorar
economicamente e catequisar os nativo.

O aspecto mais curioso dessa indefinição inicial é a “disputa” que


dividiu humanistas e comerciantes, a partir de meados do século
XVI, e que teria vida longa. De um lado o clero defendia o nome
sacro enquanto os comerciantes teimavam em chamar a América
Portuguesa pelo nome mundano: Brasil fica entre uma prometida
terra mitológica de riquezas e o lugar de onde se extrai o Pau
Brasil para se obter lucro.

Tudo indica ter sido João de Barros o fundador de uma tradição,


perpetuada depois por outros autores, onde a luta entre Deus e o
Diabo aparece identificada com o surgimento da colônia luso-
brasileira. Conta o humanista que Cabral chamou-a de Santa Cruz,
homenageando o Lenho Sagrado e inscrevendo o sacrifício de
Cristo na gênese da terra encontrada, que ficava assim toda ela
dedicada a Deus, como a expressar as grandes esperanças na
conversão dos gentios.

Mas os acontecimentos tomaram rumo diverso. Se a cruz erguida


naquele lugar durou algum tempo, o demônio logo começou a
agir para derrubá-la, negando-se a perder o domínio sobre a nova
terra: valendo-se do fato que carregamentos cada vez maiores de
paubrasil chegavam a Portugal, trabalhou para que o nome da
madeira comercializada dominasse o do lenho no qual morrera
Jesus, vulgarizando-o na boca do povo. Assim, era como se
importasse mais “o nome de um pau que tinge panos” do que o
“daquele pau que deu tintura a todos os sacramentos por que
somos salvos, pelo sangue de Cristo que nele foi derramado”.

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