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Curso Português Instrumental – Módulo 1

SENASP/MJ - Última atualização em 09/10/2009


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Apresentação

O curso Português Instrumental criará condições para que você possa:

►Compreender e desenvolver a comunicação oral e escrita em situações mais


diversas, considerando o estilo pessoal e a adequação ao contexto comunicativo.

►Ampliar os conhecimentos a respeito da língua portuguesa de forma a aprimorar


as habilidades comunicativas orais e escritas para informar, argumentar, persuadir,
emocionar e se relacionar com o outro.

►Exercitar diferentes habilidades discursivas para comunicar-se com clareza e


eficiência.

►Revisar aspectos fundamentais à construção de textos em Língua Portuguesa.

►Fortalecer uma atitude crítica e autocrítica como produtor de texto.

Para atingir seus objetivos, o curso está dividido em quatro módulos:

→ Módulo 1 – Comunicação: uma experiência pessoal e coletiva

→ Módulo 2 – Produzindo textos

→ Módulo 3 – Cuidados a serem observados

→ Módulo 4 – Texto Ideal: utilizando os conceitos

A competência de expressar-se por escrito é uma exigência cada vez mais emergente
no meio profissional.

O curso Português Instrumental busca mais que qualquer outra coisa, deixar claro
que a viabilidade dessa aprendizagem existe e depende essencialmente de um
esforço pessoal em conquistá-la. Quem sabe até, depois de aprendida, possa ser a
escrita uma enorme fonte de prazer, como insinua Frei Beto:

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“Deixa tua vocação literária explodir no impulso de vida que corre em tuas veias.
Não tenhas a pretensão de escrever melhor do que os outros. Basta-te a certeza de
que ninguém pode escrever igual a ti. O estilo é o rosto do autor, e não há dois
iguais. Escreve com a pele, não com a cabeça. Entrega-te à tua obra com paixão,
ainda que ela te consuma e resulte na tua condenação e morte.

Há um tempo para cada coisa, diz o Eclesiastes. Nas letras há um tempo para ler e
um tempo para ruminar o que se leu; há um tempo para engravidar de uma
situação, idéia, imagem ou história, e um tempo para levá-las ao papel em sinais
gráficos. Não vazes o teu talento em ansiedade. Dedica-te pacientemente ao
trabalho e tem coragem de soltar feras, anjos, legiões de demônios e fantasmas
que povoam cavernas e vulcões de tua topografia interior. A alma é mais
geográfica que histórica. Tem acidentes, relevos, vales e montanhas; está sujeita a
secas e tempestades, varia de estações e climas. Ninguém embarcaria se antes
considerasse os perigos do mar. Toda travessia exige confiança no risco.

Escreve-se assim: toma-se um punhado de palavras que escorrem céleres por


veias, artérias, músculos e mãos, derramando-se entre os dedos; esparrama-as
sobre folhas secas brancas, dispondo-as ordenadamente, de forma que traduzam
idéias, sentimentos, emoções, recordações, visões e propósitos. Respeita a
respiração das palavras. Isso que a gramática chama de pontuação. Deixa que elas
descansem ao fim de um conceito, recobrem forças antes de iniciar uma nova
frase, estejam cadenciadas por vírgulas e pontos nas orações. Não exija delas
fôlego maior do que possuem e saiba que encerram curioso mistério, pois as
mesmas palavras que servem para registrar o mais insípido documento de cartório
prestam-se igualmente para compor as mais belas obras literárias. Elas formulam
sentenças de morte e esperança de vida, bulas de veneno e declarações de amor,
anúncios de guerras e tratados de paz. E, quando lapidadas pela sensibilidade e
pela intuição, delas brotam poesias, tropéis ritmados sobre nuvens. Servem
inclusive à própria loucura. Nesse caso, dizem coisas que nem mesmo o raciocínio
consegue conter e que extrapolam as leis da grafia e da sintaxe, pois refletem essa
irreprimível necessidade de exprimir o imponderável, de escrever o absurdo, de
revelar o absoluto.”

Fonte: CLAVER, Ronald. Escrever com Prazer. Belo Horizonte: Dimensão,1999, pp


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Módulo1

Comunicação: uma experiência pessoal e coletiva

Este módulo está dividido em três aulas:

→Aula1 – Cuidando da Comunicação

→Aula2 – O Processo de Comunicação

→ Aula 3 - Argumentação e a Produção de Texto

Com o objetivo de capacitá-lo a:

►Identificar as funções da linguagem presentes no processo de comunicação;

►Analisar um texto tendo como subsídios os elementos argumentativos utilizados

Aula 1 – Cuidando da comunicação

“Antes de escrever, portanto, aprendei a pensar.”


Nicolas Boileau

Como ponto de partida de um curso que trata do uso adequado da Língua


Portuguesa em diferentes contextos, é necessário estabelecer alguns pressupostos
teóricos que o ajudarão ao longo deste estudo a compreender melhor os conceitos
implicados em uma produção textual que se quer eficiente.

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A Língua

Língua é um sistema arbitrado que se concretiza a partir da interação verbal feita


através de práticas discursivas.

Essa definição traz como implicação fundamental a interlocução, que é a ação


lingüística entre sujeitos.

i n t e r + l o c u ç ã o = ação lingüística entre sujeitos

A linguagem é tomada como processo propício à comunicação de pensamentos,


idéias, conhecimentos, sentimentos, valores, etc. A língua é considerada, dessa
forma, como sistema arbitrado por configurar-se como código formado por palavras
e leis combinatórias que caracteriza o grupo social que a utiliza.

Construção lingüística

Ao se afirmar que cada grupo se utiliza de recursos específicos da língua, é possível


reconhecer a existência de diferentes combinações possíveis.

Ou seja, cada um de nós é sujeito ativo que decide, intencionalmente ou não, entre
as múltiplas possibilidades de construção lingüística.

É importante neste momento reportar-se ao título deste módulo, pois trata da língua
como sistema e o sujeito como interlocutor ativo, ou seja, apesar de se configurar
como uma experiência essencialmente social, a língua se concretiza a partir de uma
ação individual de um sujeito que mobiliza saberes sociais, lingüísticos e cognitivos.

A fala

O uso individual da língua, denomina-se fala, da qual surgem as variedades


lingüísticas. Parece complicado, mas não é! No cotidiano, você recorre a discursos
com as mais diferentes características, determinadas sempre pelo contexto
comunicativo em que está inserido. Veja:
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Ao enviar um e-mail a um amigo íntimo ou um e-mail ao diretor de uma repartição a
que você está subordinado:

oiii, Fulano. Prezado Senhor,

blz? Solicito-lhe o envio do documento


Mi manda akele doc q eu t pedi anexo devidamente preenchido para
ainda hj. x] que possamos tomar as providências
requeridas.
abraçao ai ^^
Atenciosamente,
Sandra
Sandra Mara

Variação lingüística

São diversos os fatores que determinam a variação lingüística e esses fatores se


relacionam às vivências particulares de cada falante, como:

→Fatores socioeconômicos (trazem implicações para as diferenças advindas do


nível de escolaridade e do acesso a bens culturais);
→ Fatores profissionais;
→ Fatores subjetivos;
→ Fatores regionais; e
→ Fatores situacionais.

A pluralidade cultural e as condições socioeconômicas no Brasil


superdimensionam estes aspectos e, por isso, é preciso refletir sobre os conceitos
adotados em relação ao que é linguagem certa ou errada.

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Pessoas que supervalorizam a língua culta, considerando-a como única forma a ser
aceita socialmente, muitas vezes agirão de maneira discriminadora e intolerante,
restringindo o conceito de língua e de seu uso.

Por isso, os lingüistas afirmam que não existe certo ou errado, mas uso dos
registros padrão ou não-padrão.

Quando você diz: Me dê este pacote..., está usando o registro não-padrão, pois
gramaticalmente, não se inicia frases com pronomes pessoais oblíquos.

Já na frase: Dê-me este pacote..., você está usando o registro padrão, atendendo à
regra gramatical que acabou de ser citada.

Adaptação da linguagem

Mas, qual das duas opções


você mais utiliza?

A maior parte dos brasileiros, em seu dia-a-dia, usa mais o registro não-padrão.

Pode-se dizer que estão errados?


Que não podem falar assim em suas casas com seus familiares?

Estas questões deverão ser analisadas a partir do conceito de adequação.

A linguagem utilizada deve se adequar aos diferentes contextos de comunicação.


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Se você está no meio familiar, poderá fazer uso de um registro coloquial (não-
padrão); se for apresentar um relatório ou uma palestra no trabalho, deverá utilizar o
registro culto (considerado como padrão para situações formais).

Reconhecer a importância de se adequar aos inúmeros contextos é o primeiro passo


que damos em direção a uma comunicação eficiente, seja no âmbito profissional ou
pessoal.

Seja qual for o ambiente em que se encontre e as pessoas com quem se


comunica, é primordial reconhecer a necessidade de adaptação da linguagem
utilizada entre os interlocutores, o que envolve a reelaboração discursiva.

Na tirinha abaixo, com muito humor e muita perspicácia, Luís Fernando Veríssimo
trata exatamente disto. Como você deve falar para que seja entendido?

Fonte: http://literal.terra.com.br/verissimo/biobiblio/ostipos/ostipos.shtml?biobiblio2

Aula 2 - O Processo de comunicação

Aproveitando o exemplo da tirinha anterior você estudará agora o processo de


comunicação.

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Entre os diferentes aspectos envolvidos no processo comunicativo, destaca-se a
intenção do emissor no momento da comunicação, o que implica definir:

→ O que se quer comunicar;


→ Para quem;
→ Como se vai comunicar;
→ Qual canal de comunicação será utilizado; e
→ Em que contexto ela ocorrerá.

Tais aspectos nos reportam às funções da linguagem, propostas por Roman


Jakobson: função emotiva (ou expressiva), função referencial (ou
denotativa), função apelativa (ou conativa), função fática, função poética,
função metalingüística.

Funções da linguagem

Todo processo comunicativo, implica intencionalidade. Para cada um dos elementos


da comunicação corresponde uma função da linguagem. Ao se comunicar,
entretanto, utilizam-se concomitantemente vários recursos e, conseqüentemente, o
discurso serve a diversas funções.

É importante definir qual o objetivo de comunicação para estabelecer o foco a ser


dado a partir das funções possíveis.

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Fonte: http://www.graudez.com.br/literatura/funling.htm

Função emotiva (ou expressiva)

Centralizada no emissor, revelando sua opinião, sua emoção. Nela prevalece a 1ª


pessoa do singular, interjeições e exclamações. É a linguagem das biografias,
memórias, poesias líricas e cartas de amor.

Função referencial (ou denotativa)

Centralizada no referente, quando o emissor procura oferecer informações da


realidade. Objetiva, direta, denotativa, prevalecendo a 3ª pessoa do singular.
Linguagem usada nas notícias de jornal e livros científicos.

Função apelativa (ou conativa)

Centraliza-se no receptor; o emissor procura influenciar o comportamento do


receptor. Como o emissor se dirige ao receptor, é comum o uso de tu e você, ou o
nome da pessoa, além dos vocativos e imperativo. Usada nos discursos, sermões e
propagandas que se dirigem diretamente ao consumidor.

Função fática

Centralizada no canal, tendo como objetivo prolongar ou não o contato com o


receptor, ou testar a eficiência do canal. Linguagem das falas telefônicas, saudações e
similares.

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Função poética

Centralizada na mensagem, revelando recursos imaginativos criados pelo emissor.


Afetiva, sugestiva, conotativa, ela é metafórica. Valorizam-se as palavras, suas
combinações. É a linguagem figurada apresentada em obras literárias, letras de
música, em algumas propagandas etc.

Função metalingüística

Centralizada no código, usando a linguagem para falar dela mesma. A poesia que fala
da poesia, da sua função e do poeta, um texto que comenta outro texto.
Principalmente os dicionários são repositórios de metalinguagem.

Postura comunicativa

Conhecer a língua é uma necessidade, pois é a consciência de suas múltiplas


possibilidades que nos dá condições de fazer escolhas, de optar por esta ou aquela
forma, por esta ou aquela palavra, por esta ou aquela postura comunicativa.

Quando você conhece, pode se posicionar criticamente, por exemplo, diante da


dinâmica de evolução da língua.

O que influencia uma pessoa a usar vícios de linguagem novos como o


gerundismo e incorporá-los à nossa maneira de falar com tanta rapidez?

Talvez a resposta esteja no fato de que, muitas vezes, as pessoas não analisam
como falam ou como escrevem e apenas agem por intuição...

Devemos então pensar em como utilizar os conhecimentos que temos a respeito da


língua em favor de uma comunicação eficiente. Leia o artigo publicado na Revista
Língua, da professora Beth Brait:

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Todos nós, mortais, temos a impressão de que os escritores nascem sabendo
escrever bem: seus textos saltam prontos da imaginação privilegiada para as
páginas impressas de um livro. Por mais que eles insistam em afirmar que
escrever significa mais transpiração que inspiração, que o processo é um eterno
“pisar em grilos”, exigindo rigorosa disciplina, ficamos com a sensação de que isso
tudo só vale para os que não nasceram escritores. Para poetas e prosadores natos,
basta preencher as folhas brancas com palavras, frases, parágrafos que,
magicamente, materializam-se em histórias, personagens, espaços, paisagens,
mundos cativantes. Nada de releituras, emendas, trocas de palavras, eliminação
de excessos, inclusão de trechos, correção de deslizes.

Ledo engano. A atividade da escrita é um processo trabalhoso, exigindo de seu


empreendedor bem mais que talento. Independentemente de sua finalidade,
escrever requer observação, conhecimentos, vivência, pesquisa, planejamento,
consciência das formas de circulação, muita paciência e, conseqüentemente,
leituras, releituras, construção e reconstrução. Com os grandes escritores,
podemos identificar os esforços exigidos por essa atividade, surpreendendo
alguns momentos em que eles demonstram a forte e ambígua relação que
mantêm com seus textos, expondo a maneira como administram detalhes que
envolvem a escritura e, também, após a publicação, o interesse pelas formas de
recepção. E essas exposições entreabrem uma fresta para que os demais
“escreventes” conheçam alguns percursos e percalços do escrever, do dar
acabamento a um texto, das formas de vê-lo correr mundo.

Fonte: BRAIT, Beth. Escrever, argumentar, seduzir. Revista Língua. Disponível em: <http: www.
revistalingua.com.br>. Acesso em: 25 out 2007.

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Comunicação eficiente

A consciência de que escrever exigirá muito trabalho, não quer dizer que tal ação
seja impossível. Ao contrário, você é chamado a uma atividade que impõe reflexão
e conhecimento. Se por um lado define-se o que escrever e como fazê-lo, impõe-se
que se pense também na natureza dessa escritura como algo dirigido a mais alguém
e, portanto, coletivo.

Quando você escreve um texto, seu papel é de emissor e como tal, responsável pela
elaboração da mensagem e a escolha mais adequada dos elementos que permearão
todo o texto e que determinarão o interesse do receptor.

Ao se remeter à intencionalidade do autor, remete-se também à consciência do


potencial comunicativo do texto. Inerente ao ato da escrita, está a necessidade de
socializar nossas idéias, sentimentos, certezas e incertezas sobre os mais diferentes
assuntos. Por isso é preciso considerar, no momento da produção escrita, os
elementos da comunicação e suas implicações na construção textual.

A eficiência comunicativa do seu texto está irremediavelmente ligada a todo um


trabalho consciente e bem executado.

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Aula 3 - Argumentação e a produção de texto

“Quanto mais consciência você tem do valor das


palavras, mais fica exigente no emprego delas.”

Carlos Drummond de Andrade

Em seu cotidiano, das mais diversas maneiras e com os mais diversos propósitos,
você pensa e argumenta: seja no trabalho para apresentar uma nova idéia aos
colegas ou ao chefe; seja em época de eleição para convencer que o seu voto em
determinado político tem razão de ser; seja no comércio, ao tentar convencer
alguém de que é preciso lhe dar um desconto; seja em casa, ao tentar convencer os
filhos de que ler é melhor do que conversar com os amigos no Messenger...

Veja o quadrinho na página seguinte e reflita sobre a consistência argumentativa.

Consistência argumentativa

É possível argumentar sobre o que não se conhece?

Fonte: http://www.depositodocalvin.blogspot.com/

É cabível afirmar que a argumentação é um recurso cujo propósito se centra na


tentativa de persuadir alguém.

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Ao se argumentar, se objetiva convencer alguém a pensar como nós ou
simplesmente, gostaríamos de apresentar nossas idéias. Para tanto, utiliza-se muitas
vezes a função apelativa e referencial da linguagem.

A função apelativa subsidia a argumentação com informações relevantes e


função referencial busca os recursos lingüísticos para chamar a atenção do
receptor.

Componentes do discurso

Ao se produzir textos, o uso adequado de argumentos é crucial, pois eles


representarão os fundamentos de suas idéias, as quais serão por eles validadas e
defendidas a fim de convencer o leitor de que essa é a correta ou de que essa é
apresentada de maneira aceitável.

Em um discurso argumentativo, distinguem-se variados componentes, dentre eles, a


tese, os argumentos, as premissas e a conclusão:

A tese ou proposição é a idéia fundamental defendida pelo autor de um texto e,


portanto, passível de discussão, já que expressa um ponto de vista.

Os Argumentos devem ser eficientes, pois é a argumentação que garante a


aceitação da idéia apresentada.

Premissas são as razões que o sustentam o argumento dando suporte para a


conclusão.

Conclusão é a alegação final que encerra o texto.

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O Desenvolvimento da tese

O desenvolvimento da tese considera que a mesma é sempre produto de opções


que
seguem
a
seguinte
hierarqu
ia:

Estes três pontos conduzem ao objetivo do texto.

Com uma definição antecipada é possível evitar que o texto se torne um amontoado
de idéias que pouco se correlacionam ou que não contribuam efetivamente para a
construção de um tecido argumentativo que produza o sentido desejado.

O desenvolvimento da tese exige que em primeiro lugar se delimite o tema, o que


possibilita a reflexão sobre o pressuposto do qual se partirá.

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O pressuposto está irremediavelmente ligado ao capital cultural, as ideologias,
vivências, leituras. O pressuposto traduz a visão sobre o assunto e norteia toda a
argumentação na medida em que define a coerência interna do texto.

A ordenação adequada dos argumentos determina seu encadeamento e conduz à


unidade de sentido.

O sentido do texto

Leia o poema de Clarice Lispector a seguir e depois volte a ler de baixo para cima.
Perceba o quanto a ordenação das afirmações feitas muda completamente o sentido
final do texto.

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Não te amo mais
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis
Tenho certeza que
Nada foi em vão
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada
Não poderia dizer mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
Eu te amo!
Sinto, mas tenho que dizer a
verdade
É tarde demais.
É tarde demais.
Sinto, mas tenho que dizer a
verdade
Eu te amo!
E jamais usarei a frase
Já te esqueci!
Não poderia dizer mais que
Você não significa nada
Sinto dentro de mim que
Nada foi em vão
Tenho certeza que
Ainda te quero como sempre quis
Estarei mentindo dizendo que
Não te amo mais

Argumentação eficiente

É possível utilizar vários recursos para alcançar uma argumentação eficiente, entre
eles, destacam-se:

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→ Citação: apresentação, no corpo do texto, de uma informação extraída de outra
fonte devidamente indicada e que dá autoridade ao texto. A citação pode ser direta
ou indireta.

Direta – refere-se à transcrição integral e literal de uma parte do texto pesquisado.


Nesse caso, indica-se obrigatoriamente sua fonte. Exemplo: O fenômeno bullying,
termo de gênese inglesa, é definido como: “(...) um comportamento cruel intrínseco
nas relações interpessoais, em que os mais fortes convertem os mais frágeis em
objetos de diversão e prazer, através de ‘brincadeiras’ que disfarçam o propósito de
maltratar e intimidar” (FANTE, 2005, p.29).

Indireta – refere-se à transcrição das idéias do autor consultado, porém usando as


suas palavras, ou seja, parafraseando. Exemplo: Fante (2005, p. 73) afirma que o
agressor compraz-se em oprimir, humilhar, subjugar os mais fracos. Geralmente,
pertence a uma família desestruturada, apresenta carência afetiva, tem dificuldades
de se adaptar às normas, entre outros.

→ Evidências: apresentação de informações (dados, estatísticas, percentuais) que


comprovem as idéias. As informações devem ser fidedignas e do conhecimento de
todos. Você só persuadirá seu interlocutor com informações verdadeiras, que têm
respaldo na realidade.

→ Exemplos e ilustrações – apresentação de exemplos conhecidos e de fatos que


ilustrem ou facilitem a compreensão das idéias expostas.

→ Argumentos de valor universal: apresentação de idéias universalmente aceitas


sobre as quais não se contesta.

→ Relação de causalidade: estabelecimento das relações de causa e conseqüência.

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OBS: As citações devem ter relação direta com o assunto tratado no texto,
reforçando as idéias apresentadas.

O uso adequado das citações evita que se recorra ao plágio.

Construção de textos
Além de todos os recursos, lembre-se de que a construção de textos é uma
atividade relacionada diretamente à capacidade argumentativa, o que implica o
estabelecimento de relações, confronto de idéias, análise, problematização e
criticidade.

Assim como no ato de leitura, a aquisição dessas habilidades é um processo


paulatino e que exige, portanto, a prática insistente de exercícios que instiguem o
raciocínio e oportunizem a maturação intelectual.

Importante! Não há receitas definitivas ou concludentes sobre o assunto


abordado, apenas o consenso de que trabalho árduo só pode trazer resultados
profícuos.

Antes de terminar o estudo desta aula leia as dicas do texto 10 Dicas para Aumentar
seu Poder de Persuasão.

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Resumo

Neste módulo, você estudou que ...

A língua apesar de se configurar como uma experiência essencialmente social, se


concretiza a partir de uma ação individual de um sujeito que mobiliza saberes sociais,
lingüísticos e cognitivos.

Reconhecer a importância de se adequar aos inúmeros contextos é o primeiro passo


que damos em direção a uma comunicação eficiente, seja no âmbito profissional ou
pessoal.

Entre os diferentes aspectos envolvidos no processo de comunicativo, destaca-se a


intenção do emissor no momento da comunicação, o que implica definir o que se
quer comunicar; para quem; como se vai comunicar; qual canal de comunicação
será utilizado e em que contexto ela ocorrerá.

Conhecer a língua é uma necessidade, pois é a consciência de suas múltiplas


possibilidades que nos dá condições de fazer escolhas, de optar por esta ou aquela
forma, por esta ou aquela palavra, por esta ou aquela postura comunicativa.

Quando você escreve um texto, seu papel é de emissor e como tal, responsável pela
elaboração da mensagem e a escolha mais adequada dos elementos que permearão
todo o texto e que determinarão o interesse do receptor.

A argumentação é um recurso cujo propósito se centra na tentativa de persuadir


alguém.

Em um discurso argumentativo, distingui-se variados componentes, dentre eles: a


tese, os argumentos, as premissas e a conclusão.

É possível utilizar vários recursos para alcançar uma argumentação eficiente, entre
eles, destacam-se: a citação, as evidências, os exemplos, as ilustrações,
argumentos de valor universal e a relação de causalidade.
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Módulo 2

Produzindo Textos

Este módulo está dividido em três aulas:

→ Aula 1 - Modalidades discursivas

→ Aula 2 – Recursos considerados na dissertação

→ Aula 3 - Organização textual

Com o objetivo de capacitá-lo a:

►Caracterizar os tipos textuais: narração, descrição e dissertação;

►Elaborar dissertações; e

►Enumerar os recursos que poderão contribuir para a efetividade de produção de


textos.

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Aula 1 - Modalidades Discursivas

“Quem tapa a minha boca


Não perde por esperar:
O silêncio de agora
Amanhã é voz rouca
De tanto gritar.”

Ledo Ivo

Você se comunica com facilidade? Já parou para pensar


quantos textos diferentes, seja para se comunicar por
escrito ou oralmente, você produz cotidianamente?

Comunicar idéias, pensamentos e sentimentos parece, a priori, algo fácil e simples a


qualquer pessoa, principalmente se você considerar que todos, desde crianças, usam
cotidianamente a linguagem.

Comunicação interpessoal

A comunicação diária entre as pessoas se realiza sem que se reflita sobre as teorias e
as regras mobilizadas intuitivamente no processo de comunicação.

Evidencia-se, dessa maneira, o domínio dos diferentes gêneros textuais e sua


utilização sem impor à comunicação empecilhos que a torne lenta e, portanto, sem
sentido naquele dado momento.

Ao participar de um bate-papo no Messenger, por exemplo, as pessoas não se atêm


às normas gramaticais, como uso de maiúsculas ou pontuação, ao contrário disso,
abreviam as palavras e preocupam-se mais com a agilidade do que se quer dizer.

Utilizados na comunicação interpessoal, esses textos caracterizam-se


especialmente por se aplicarem a situações sociocomunicativas, configurando-se
assim como gênero textual.

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Gêneros textuais

São gêneros textuais: e-mails, poemas, bilhetes, postais, artigos, orações, anúncios,
avisos, memorandos, requerimentos, editais, resenhas, crônicas, relatórios, listas,
ofícios, propagandas, receitas, notícias, provérbios, cartas, bulas, entre outros.

Muitos de nós, entretanto, aprendemos na escola a utilizar os textos segundo sua


tipologia: narração, descrição e dissertação.

Essa concepção é válida como modalidade utilizada no processo de composição dos


diversos gêneros discursivos, mas não dá conta da classificação e análise de todos os
textos utilizados pelos falantes de uma língua.

Veja a seguir as características das três modalidades textuais.

Narração

Contar histórias faz parte da natureza humana. As pessoas contam o que lhes
acontece de bom e de ruim, partilham experiências, compartilham acontecimentos.
Assim, a narração se vincula irremediavelmente à vida.

Narrar impõe o relato de fatos e acontecimentos, reais ou fictícios, com marcante


coerência interna para que a história seja verossímil e, portanto, convincente ao
receptor. O texto narrativo contém os seguintes elementos:

→ Enredo: também chamado de fato, trama ou ação, deve apresentar seqüência


espacial e temporal ordenada.
→ Personagem: quem participa do enredo.
→ Ambiente: o espaço onde ocorre o enredo.
→ Tempo: o momento em que se dá o enredo.
→ Narrador: quem narra o enredo. Pode ou não participar da história como
personagem.

Exemplos de narração
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Veja alguns exemplos de narração:

- Exemplo de narração em um texto cujo domínio discursivo é o jornalístico:

Acidente no Eixão mata mulher de 28 anos

No dia 10/11/2007, um grave acidente tirou a vida de uma jovem na manhã deste
sábado, na Asa Sul. Sabrina Damasceno Alencar Viana, 28 anos, seguia pelo Eixão
no sentido norte-sul, quando ao fazer uma manobra, colidiu com a mureta de um
viaduto localizado em frente ao Banco Central.
Presa nas ferragens do Pólo (placa JHH-1228) que conduzia, a vitima morreu na
hora. O acidente aconteceu por volta das 8h. O caso será investigado pela 1ª DP
(Asa Sul). De acordo com as primeiras informações, Sabrina dirigia a 90 km/h no
momento do acidente, pois o velocímetro do veículo teria travado apontando essa
velocidade – que representa apenas 10 km/h acima da velocidade permitida na
via. As informações são do Centro Integrado de Atendimento e Despacho (Ciade)
da Polícia Militar.

Fonte:http://noticias.correioweb.com.br/materias.php?id=2725177&sub=Distrito%
20Federal

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- Exemplo de narração em um texto cujo domínio é o literário:

Maneira de amar

Carlos Drummond de Andrade

O jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo. Passava


manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um
gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem
bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza. Em vão o jardineiro
tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para
não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as
outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o
pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na ocasião devida.

O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante
dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora,
depois de assinar a carteira de trabalho. Depois que o jardineiro saiu, as flores
ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar
de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a
ausência do homem. “Você o tratava mal, agora está arrependido.” “Não”,
respondeu, “estou triste porque agora não posso tratá-lo mal.
É a minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava.”

Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de. A cor de cada um. Rio de Janeiro: Record,
1998.

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- Observe um exemplo de poema em que o autor apresenta sua própria narrativa:

Vaca Estrela e Boi Fubá

Patativa do Assaré
Seu doutor me dê licença pra minha história contar.
Hoje eu tô na terra estranha, é bem triste o meu penar
Mas já fui muito feliz vivendo no meu lugar.
Eu tinha cavalo bom e gostava de campear.
E todo dia aboiava na porteira do curral.

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.

Eu sou filho do Nordeste , não nego meu naturá


Mas uma seca medonha me tangeu de lá pra cá
Lá eu tinha o meu gadinho, num é bom nem imaginar, Minha linda Vaca Estrela e o
meu belo Boi Fubá
Quando era de tardezinha eu começava a aboiar

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.

Aquela seca medonha fez tudo se atrapalhar,


Não nasceu capim no campo para o gado sustentar
O sertão esturricou, fez os açude secar
Morreu minha Vaca Estrela, já acabou meu Boi Fubá
Perdi tudo quanto tinha, nunca mais pude aboiar

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.

Hoje nas terra do sul, longe do torrão natá


Quando eu vejo em minha frente uma boiada passar,
As água corre dos olho, começo logo a chorá
Lembro a minha Vaca Estrela e o meu lindo Boi Fubá
Com saudade do Nordeste, dá vontade de aboiar

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.

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Descrição

O texto descritivo se caracteriza por capturar verbalmente as características, de


maneira mais ou menos pormenorizada, pessoas, estados de espírito, objetos ou
cenas.

A descrição aparece recorrentemente em narrações para trazer pormenores dos


personagens, do ambiente ou de algum objeto. Por isso, poucas vezes você verá
descrições isoladas de outras modalidades textuais.

A descrição pode ser:

- Objetiva: quando se restringe a descrever a realidade, sem julgamento de seu


valor.

- Subjetiva: quando as impressões do autor são transmitidas.

Tipos de descrição

Não são raras vezes em que as descrições ultrapassam o mero retrato da realidade,
apresentando uma interpretação desta. As pinturas e as fotografias são exemplo
disso. Embora retratem a realidade, permitem a expressão de um sem-número de
impressões. Veja os exemplos a seguir:

Fonte: http://www.confoto.art.br/bienal07autor.php
Fonte: http://www.historiadaarte.com.br/expressionismonobrasil.html

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Leia a seguir o texto “Dois velhinhos” de Dalton Trevisan, em que um personagem
descreve a outro o que vê de sua janela e este, ao se deparar com a realidade,
percebe que esta era bastante diferente.

Dois velhinhos

Dalton Trevisan

Dois pobres inválidos, bem velhinhos, esquecidos numa cela de asilo.


Ao lado da janela, retorcendo os aleijões e esticando a cabeça, apenas um podia
olhar lá fora.
Junto à porta, no fundo da cama, o outro espiava a parede úmida, o crucifixo negro,
as moscas no fio de luz. Com inveja, perguntava o que acontecia. Deslumbrado,
anunciava o primeiro:
— Um cachorro ergue a perninha no poste.
Mais tarde:
— Uma menina de vestido branco pulando corda.
Ou ainda:
— Agora é um enterro de luxo.
Sem nada ver, o amigo remordia-se no seu canto. O mais velho acabou morrendo,
para alegria do segundo, instalado afinal debaixo da janela. Não dormiu,
antegozando a manhã. Bem desconfiava que o outro não revelava tudo. Cochilou um
instante — era dia. Sentou-se na cama, com dores espichou o pescoço: entre os
muros em ruína, ali no beco, um monte de lixo.
Fonte: http://www.releituras.com/daltontrevisan_doisvelhinhos.asp

A subjetividade da linguagem

A percepção da realidade pode, sem dúvida, variar de uma pessoa para outra, por
isso é que em textos técnicos prevalece a objetividade e, em outros textos, a
subjetividade. Nesse sentido, Leonardo Boff, ao falar de Leitura nos traz um belo
quadro do que representa a subjetividade no uso da linguagem, sejamos nós leitores
ou produtores do discurso:
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“Ler significa reler e compreender, interpretar . Cada um lê com os olhos que
tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.
Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é
necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isso faz da
leitura sempre uma releitura.
A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender é essencial
conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer, como alguém vive, com que
convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume
os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão
sempre uma interpretação.
Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor. Porque cada um lê e
relê com os olhos que tem, pois compreende e interpreta a partir do mundo que
habita .”
Leonardo Boff

Dissertação

O texto dissertativo objetiva expor, explicar ou interpretar determinada idéia e,


para tanto, recorre-se a argumentos que a comprovem ou justifiquem. Assim como
na descrição e na narração, dissertar pressupõe uma intencionalidade discursiva que
agregará informações que evidenciam nossa forma de ver o mundo e nossas
vivências.

Trata-se antes de tudo de questionar a realidade, posicionando-se a respeito de um


assunto. Portanto, é condição imprescindível à dissertação o conhecimento do
assunto.

Você não poderá refletir sobre o que não conhece.

A intencionalidade determina o tipo de texto que será produzido.

A dissertação pode ser:

Expositiva - As idéias e os fatos são apresentados sem um posicionamento crítico


em relação ao tema abordado.

Argumentativa - Os fatos apresentados são agregados ao posicionamento do


indivíduo em relação ao tema abordado.
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Exemplo de Dissertação expositiva:

Annan: Reação à tragédia em Darfur foi 'hesitante'

Fergal Keane

"Nós fomos lentos, hesitantes, inescrupulosos, e não aprendemos nada de


Ruanda", afirmou Annan ao programa de televisão da BBC Panorama, referindo-se
ao país que foi palco do genocídio de 800 mil pessoas da etnia tutsi em 1994.

Estima-se que 200 mil pessoas já tenham morrido em Darfur, província no oeste
do Sudão, nos últimos dois anos, desde que grupos locais se rebelaram contra o
que dizem ser a marginalização da maioria negra pelo governo central de
Kharthoum. Desde então, 2,4 milhões de pessoas foram obrigadas a deixar as
suas casas por causa da violência e os problemas da fome e das doenças se
agravaram no país.

A própria ONU foi muito criticada na época do genocídio de Ruanda por não
tomar providências apesar dos avisos da equipe baseada no Sudão. No caso de
Darfur, Annan tem pressionado por medidas internacionais, mas as suas
declarações à BBC são as mais incisivas que ele já fez sobre o assunto. Há uma
pequena força da União Africana para monitorar a situação. Nas áreas em que a
força está presente, a situação melhorou.

O ministro britânico para o Desenvolvimento Internacional, Hilary Benn, acredita


que a violência tenha diminuído de uma forma geral por causa da possibilidade
de os líderes sudaneses responderem aos crimes no Tribunal Penal Internacional
de Haia, na Holanda.

Um relatório da ONU divulgado no início deste ano indicou que tanto rebeldes
como as milícias árabes que atuam no país poderão ser responsabilizados por
crimes cometidos nos últimos dois anos.

Fonte:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2005/07/050702_annansudaoc
g.shtml

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Exemplo de Dissertação argumentativa:

Quem ri?

João Pereira Coutinho

O texto merece ser lido: Ban Ki-moon, o atual secretário-geral das Nações Unidas,
publicou artigo de opinião no "Washington Post" onde oferece explicação curial
para a tragédia do Darfur. Que se passa naquela região do mundo, com 300 mil
mortos (mínimo) e um número incontado e incontável de refugiados?

A sanidade clássica apontaria culpas para o regime brutal que, instalado em


Cartum desde 1989, iniciou várias campanhas de extermínio étnico e ideológico:
primeiro, com o simpático propósito de apagar as populações cristãs e animistas
do sul; e, depois, elegendo para a matança as populações campesinas e
maioritariamente não-árabes do Darfur. A limpeza, como usualmente acontece,
não seria executada pelo governo --mas através de milícias "independentes" e
"rebeldes" que poderiam fazer o trabalho sujo sem implicar o regime.

Ban Ki-moon tem nova tese. Para o secretário-geral, o Darfur explica-se com o
aquecimento global, essa vulgata secular que tudo absolve e simplifica. Os
islamitas do Sudão andam a matar africanos com uma violência semelhante à do
Ruanda? É do tempo. Ou seja, é a nossa ganância energética que aquece os
ânimos dos islamitas sudaneses. Quando se consome energia com selvática
ferocidade, a temperatura sobe, a chuva diminui, os recursos escasseiam e,
atenção ao salto lógico, um governo africano resolve armar milícias terroristas e
iniciar a expulsão, o estupro e o extermínio de milhões de sudaneses. A
explicação é audaz, admito. Mas, infelizmente, ela não salva Ban Ki-moon e a
nobre organização que ele atualmente dirige.

Primeiro, não salva a impotência das Nações Unidas. Uma vez mais, e depois do
Ruanda em 1994, a ONU presencia mais um genocídio perante os seus olhos, um
cenário de horror que, muito compreensivelmente, obriga os burocratas do clube

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a levantá-los para o céu. Só para ver se ainda chove. E, depois, não salva nem
altera a natureza profundamente racista de um conflito que, com chuva ou sem
ela, existiria sempre enquanto o governo de Khartoum, dominado por uma
ideologia de submissão e conquista, estivesse interessado em apagar qualquer
presença não-árabe no país.

Ban Ki-moon pode acreditar que, sem tropas no terreno e com menos
desodorante matinal nas cidades do Ocidente, talvez o regime sudanês seja mais
compassivo com as populações do Darfur. As palavras do secretário-geral são
uma piada grotesca. Mas eu duvido que, a prazo, ainda haja alguém no Darfur
para rir dela.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult2707u306792.shtml

A estrutura do texto dissertativo

O texto dissertativo estrutura-se em três partes:

Introdução

É a parte em que se apresenta a idéia central que será progressivamente


desenvolvida no decorrer do texto. A idéia central traz uma declaração breve e
sintética do assunto de forma a evidenciar o posicionamento a respeito do tema
tratado.

Desenvolvimento

É nesta etapa que a idéia central ganha corpo no sentido de que são apresentados os
argumentos que comprovarão a validade do posicionamento inicial do autor. Por
isso, essa é a parte mais extensa do texto dissertativo, pois é aqui que se apresentam
causas e conseqüências, detalhamento do assunto, análise de dados e situações que
sirvam de exemplos, analogias, entre outros.

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Conclusão

Esta parte, também chamada de desfecho, retoma a questão mais relevante do


assunto tratado, apresentando as considerações finais do autor. Deve-se ter um
cuidado especial ao concluir, pois retomar não significa restringir-se a repetir o que é
óbvio. Deve, a um só tempo, fechar o raciocínio apresentado como também propiciar
condições de reflexão ao leitor.

Importante!
Lembre-se de que as partes que compõem a dissertação são complementares e
irremediavelmente interconectadas

Para fechar esta aula, leia o texto: “Qual é a maior estupidez brasileira?” . Exemplo
de um texto eminentemente dissertativo, tendo em vista que o autor apresenta e
defende seu ponto de vista sobre o assunto em questão.

Embora seja dissertativo, traz trechos descritivos, evidenciando pormenores da


situação apresentada, como também recorre à narração ao nos contar a ação
governamental que serviu de ponto de partida para a reflexão do autor.

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Qual é a maior estupidez brasileira?

Gilberto Dimenstein

Começa nesta semana um programa gerido por médicos da Universidade Federal de


São Paulo (Unifesp) para diminuir o espantoso número de estudantes que, por causa
de doenças simples de serem tratadas, têm dificuldades nas escolas. O programa é
patrocinado pela prefeitura de São Paulo, previsto para atingir todos os alunos da
rede municipal.

Faz dois meses que os médicos da Unifesp (antiga Escola Paulista de Medicina)
desenvolvem um piloto numa escola e encontraram uma galeria de horrores. É como
se crianças estivessem apodrecendo por falta de tratamento médico. Algumas
doenças são de fácil resolução como baixa acuidade visual e de audição. A taxa de
sobrepeso é de 30%; 60% têm cáries.

O que os médicos estão constatando ocorre em todas as escolas brasileiras --e ocorre
porque não se consegue um melhor entrosamento entre as áreas de educação e
saúde. Estamos falando aqui de um problema que, segundo as estatísticas, atinge
40% dos alunos da rede pública. Ou seja, algo como 25 milhões de estudantes. Sei
de meninos tratados como surdos, mas que não limpavam o ouvido. E de outros
considerados retardados pelos professores, mas que tinham distúrbios psicológicos
provocados pela violência doméstica. Há disléxicos considerados burros. Ou
anêmicos chamados de preguiçosos.

Não é fácil eleger a maior imbecilidade brasileira, tamanha a oferta de candidaturas.


Pelo impacto social, meu voto vai pela falta ou precariedade de programas de saúde
escolar. Só um estúpido completo é capaz de imaginar que vamos melhorar nossos
indicadores educacionais com crianças que não ouvem e não enxergam direito.

Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/gilbertodimenstein/ult508u32686
8.shtml

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Aula 2 – Recursos considerados na dissertação

Você já sentiu alguma dificuldade ao escrever um texto?

Já começou uma dissertação e não soube como continuar?

Iniciou um texto muito empolgado e depois de dois


parágrafos, tudo o que vinha à cabeça já estava escrito?

Diante de um tema dado, surgiram mil idéias e depois não


conseguia organizá-las?

Estes são alguns dos dilemas


por que muitos passam ao escrever...

A partir de agora você estudará alguns recursos que poderão lhe auxiliar na
produção de textos, são eles: reflexão sobre o tema, elaboração do esquema,
rascunho, reflexão sobre o estilo pessoal de escrever e revisão do texto.

Reflexão sobre o tema

Para facilitar a produção de um texto, o primeiro passo é pensar sobre o tema que
nos foi dado. É preciso que você questione: sei o suficiente sobre o assunto? Diante
da resposta a essa questão, você deverá, se preciso for, buscar textos que subsidiem
a argumentação.

Lembre-se sempre de que os textos que você lê não são apenas fonte de informação
como também modelo de escrita. Normalmente, as pessoas que lêem muito têm
maior facilidade ao escrever até por estarem habituadas aos diferentes textos
socialmente disponibilizados, como bons livros, jornais e revistas.

A partir desse ponto, você passará a delimitação do assunto. Muitas vezes são
ofertados temas amplos e é preciso, então, restringi

lo, evitando que se fique perdido em meio a um emaranhado de possibilidades e


idéias.

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Pensar e escrever

Após delimitar o tema, é preciso definir o pressuposto que gerará a idéia central do
texto, o que possibilitará a análise do ponto de vista adotado, sua forma e suas
variantes.

A dissertação exige planejamento. A reflexão cuidadosa e antecipada das partes


que compõem o texto facilita a escrita, principalmente, por permitir separar as duas
atividades complexas que envolvem o ato da escrita: pensar e escrever.

Você já estudou no módulo 1 que quando se escreve, é preciso elaborar um


esquema, para isso defina três questões fundamentais:

O que escrever?

Como escrever?

Para que escrever?

Elaboração do esquema

O próximo passo é elaborar um esquema. Quando se elabora um esquema, ou seja,


se planeja um texto, já se está prevendo o que se vai escrever. Só depois é se que
pensa em como fazê-lo... Se você não planejar o texto, terá que realizar duas
atividades complexas simultaneamente, o que gera maior dificuldade.

O esquema é um recurso que permite planejar as idéias do texto. Para elaborar


um esquema, devemos estar atentos à relação entre as idéias do texto. O esquema
tem de ser expresso de maneira simplificada para que se possa ter uma idéia clara
sobre o conteúdo a ser desenvolvido. Os esquemas podem ser organizados de
diferentes maneiras:

Esquema em chave - o título expressa a idéia central do texto e os argumentos são


apresentados com os de sentido mais amplo ficando à esquerda dos de sentido
menos amplo; as idéias que têm o mesmo tipo de relação ficam umas sobre as
outras. Exemplo:

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Mapa conceitual - Mapas conceituais são representações gráficas, que indicam relações
entre conceitos ligados por palavras. Exemplo:

A violência
nos grandes
centros
urbanos.

Causas Conseqüências Soluções

Iniciativas da
Condições Aumento de sociedade civil
socioeconômicas; crimes bárbaros; organizada;

Impunidade; Descontrole Reestruturação do


social; sistema prisional;
Precariedade da Fragilização das Revisão do código
educação básica. instituições. penal.

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Numeração progressiva - as idéias são apresentadas hierarquicamente em forma de
texto. Exemplo:

A violência nos grandes centros urbanos

1 – Causas.
1.1 Condições socioeconômicas.
1.2 Impunidade.
1.3 Precariedade da educação básica.

2 – Conseqüências.
2.1 Aumento de crimes bárbaros.
2.2 Descontrole social.
2.3 Fragilização das instituições.

3 – Soluções.
3.1 Iniciativas da sociedade civil organizada.
3.2 Reestruturação do sistema prisional.
3.3 Revisão do código penal.

Rascunho
Para a produção de uma dissertação, depois de escolhido o esquema, passe para a
próxima etapa, o rascunho, que será a primeira versão do texto.

O rascunho é um esboço inicial do texto definitivo. É fundamental exercitar a


elaboração do rascunho, pois tal ação é fruto da compreensão de que o texto não
fica pronto logo em sua primeira versão, mas é uma construção refletida que permite
o repensar de trechos inteiros, o acréscimo de informações, a substituição de
palavras, a eliminação de vícios e repetições, a revisão dos aspectos gramaticais e até
das idéias apresentadas.

Se for possível, quando estiver escrevendo um texto, deixe a versão inicial


“descansar” e volte à reelaboração algum tempo depois.

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Recursos Considerados na Dissertação

É importante também que você reflita sobre seu estilo pessoal de escrever, pois,
cada pessoa se expressa de uma forma particular a partir de suas vivências. Por
isso reflexão sobre seu estilo pessoal de escrever é mais um passo na elaboração
de uma dissertação.

Os textos escritos também serão um reflexo do que se sabe, do que se pensa e


do que se sente. Por isso, evite regras rígidas de produção de texto que não lhe
dêem a mobilidade necessária para expressar com liberdade suas idéias. Não se
prenda a números definidos de parágrafos ou a uma extensão pré-determinada para
cada parágrafo, pois tal postura intimida seu processo criativo.

Escrevemos porque pensamos... Portanto, descubra qual o seu caminho de


construção textual e mãos à obra.

Revisão

Uma boa maneira de sedimentar seu estilo é observar os textos que lê. Quando se
deparar com textos que julgar agradáveis, bem construído e cuja argumentação é
apropriada, analise como o autor iniciou o texto, que recursos utilizou, como
concluiu sua idéia. Assim, vão se criando laços a partir dos modelos que são
apresentados e aos poucos se vão incorporando os elementos que, em conjunto,
formarão seu estilo pessoal de escrever.

Um dos aspectos que deve ser considero antes de definirmos a versão final de um
texto é a revisão dos aspectos textuais, essa é a última etapa, da qual destacam-se
os seguintes aspectos:

→ Adequação: analisar se o texto está adequado ao tema e se atende ao objetivo


que se quer alcançar; →
Coerência: analisar se há um fio condutor do sentido ao longo do texto; →
Clareza: verificar se as idéias são expostas de forma a serem plenamente

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compreendidas; →
Coesão: verificar se as diversas partes do texto estão interligadas de maneira a criar
textualidade (rede lógica de sentido).

Aula 3 - Organização textual

A dissertação é uma grande unidade textual composta por unidades textuais


menores que são denominadas parágrafos, os quais são constituídos por um ou
mais períodos interligados semântica e sintaticamente.

Os parágrafos são o maior indicativo da organização das idéias de um texto,


pois é a maior pausa que se estabelece no texto. Nesse sentido, a cada parágrafo, o
leitor é chamado a parar e refletir sobre o assunto ali exposto.

O planejamento de textos em esquemas é estruturado, via de regra, a partir dos


parágrafos que você construirá. Assim, apresenta-se a idéia principal a ser abordada,
em seguida as idéias de apoio ou secundárias e, facultativamente, a conclusão, que
pode ser um desfecho ou a preparação deste para o início do parágrafo seguinte.

O parágrafo não deve ser tão curto a ponto de fragmentar a


apresentação das idéias e empobrecer a argumentação, nem
tão longo que se torne cansativo e disperse a atenção do
leitor. Reconhecer o momento adequado de se mudar de
parágrafo também é fator importante.

Não há regras rigorosas no que tange à extensão do parágrafo, mas sua


formulação exige bom senso.

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Como estudou anteriormente, a dissertação apresenta três partes básicas: a
introdução, o desenvolvimento e a conclusão. Normalmente, temos um parágrafo
de abertura para a introdução; um ou mais parágrafos para o desenvolvimento da
idéia central apresentada na introdução; e um parágrafo de encerramento para a
conclusão.

O parágrafo de introdução:

Um parágrafo inicial bem formulado facilita o trabalho do escritor e do leitor, pois


orienta o desenvolvimento de todo o texto. Pode antecipar a idéia central do texto
ou de forma criativa gerar no leitor diferentes expectativas em relação ao teor do que
vem a seguir. Dentre as possibilidades de construção inicial de um texto, optamos
pelas seguintes:

Alusão histórica: Nas savanas da África, nos idos do Paleolítico inferior, quando o
chopper (um raspador de pedra) era a nossa mais moderna tecnologia, nosso
cérebro tinha acabado de vencer o salto triplo para ultrapassar a barreira dos 1500
cm cúbicos de volume – um fato espetacular. Com isso deu-nos as vantagens do
funcionamento do neocórtex dos lobos frontais, temporais, parietais, que se
encarregam de registrar informações, envio de ordens precisas, arquivo de múltiplas
recordações, reutilização de experiências passadas, centro de associações lógicas e
complexas; nos deu o isocórtex homo típico, encarregado da ação refletida, do
conhecimento, da memória, da linguagem e da faculdade de previsão. Com todo
esse aparato, tivemos condições de elaborar todas as características formadoras da
cultura, a partir de uma essência básica: o espírito de colaboração.
Fonte: http://personal.telefonica.terra.es/web/crearmundos/Revista/Edicao01/Educacion/Edu_Outro.htm

Raciocínio dedutivo: sair de uma afirmação geral para o particular:


A capacidade de produzir textos de qualidade, nos mais diferentes níveis e
estilos, literários ou não, esteve, durante muito tempo, associada a um dom divino,
cujos agraciados deveriam ser admirados por aqueles que não tiveram tanta sorte
assim. Uma das razões que levam a isso é a relação que se estabelece entre a
capacidade de produção escrita e criatividade. Não é incomum que as pessoas
considerem criativos apenas escritores ou alguns colegas, os quais muitas vezes
destacam-se em sua turma.

Raciocínio indutivo: sair de uma afirmação particular para o geral – a narração de


um fato, por exemplo.
Uma perguntinha: vocês preferem filmes dublados ou legendados? Eu prefiro
legendado, até mesmo quando se trata de animação. Mas depois eu volto nisso. O
caso mesmo é o seguinte: mais uma vez a politicagem brasileira prova que é
totalmente desmiolada e não tem mais o que fazer. Há um projeto de lei, já em
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caráter conclusivo na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados,
que institui a dublagem obrigatória dos filmes em língua estrangeira nos cinemas. O
pai da idéia é o deputado Nilson Mourão (do PT do Acre).
Fonte: http://forum.pootz.org/viewtopic.php?t=5195

Interrogação: “Por que motivo as crianças de modo geral, são poetas e, com o
tempo, deixam de sê-lo?” Por que razão este questionamento do grande poeta
Carlos Drummond de Andrade, em 1974, parece-nos ainda tão atual?
Fonte: http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/boletins2003/lll/tetxt4.htm

Analogia e paralelo: Para expiação do pecado capital do mundo do conhecimento


que é o plágio, um primeiro passo pode ser a simples confissão. Livramos-nos da
culpa do plágio citando a fonte de uma informação ou argumento.
Fonte: In: http://www.espacoacademico.com.br/024/24wlap.htm

Citação: Segundo Ana Paula Corti, pesquisadora da Ação Educativa, de São Paulo, "a
questão está muito presente no horizonte das gerações mais novas, mas as escolas
não a incorporaram como fonte de intervenção pedagógica". O desconforto em
relação ao assunto é fácil de entender. Trazer os temas do medo e da agressividade
para a sala de aula não parece combinar com o papel construtivo e pacificador que o
universo escolar, com razão, costuma chamar para si. Mas algumas experiências,
descritas nas próximas páginas, indicam que vale a pena abandonar essa suposta
neutralidade e encarar uma realidade que, de um modo ou de outro, interfere
diretamente na vida de todos nós.
Fonte: http://www.codic.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=174

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O parágrafo de desenvolvimento

→O parágrafo de desenvolvimento (a argumentação):

Há diversos processos para se desenvolver as idéias de um texto dissertativo. Esses


processos variam de acordo com a natureza do assunto e o objetivo traçado, desde
que as idéias sejam formuladas de maneira clara, objetiva e conveniente. Entre tais
processos, destacam-se os seguintes:

Apresentar relação de causalidade: Os episódios que presenciamos, nesse caso


trágico terroristas versus Estados Unidos, ou sob outro prisma, parcelas radicais do
mundo árabe versus parcelas do mundo ocidental, revelam uma questão de fundo
que é a desconexão do homem contemporâneo com sua espiritualidade. De um
lado, um insano entendimento de um deus vingativo. De outro, uma louca reação
sem medidas. Ambos voltados a uma guerra contra o Todo, contra o outro, contra si
mesmos. Uma versão pavorosamente ampliada e hi tech da velhíssima história de
Caim e Abel. Seres humanos contra seres humanos, cegos em não perceber as linhas
de conexão que os unem como irmãos, mudos aos chamados à razão do amor,
ensandecidos no poço profundo negro do ego, rebeldes juvenis ao impulso do
divino para encontrarem, dentro de suas almas, os elos de luz que os mantém
potencialmente ligados ao Todo, que pulsa unicidade, que sorri para a diversidade,
que se alegra com o Amor, que instala a paz.
Fonte: http://www.mfn.com.br/cgi-bin/mail2/mail.cgi/archive/IVE/20061107175857/

Enumerar fatos que comprovem uma opinião – exemplificar: Definir cedo o


comportamento ético pode ser a tarefa mais importante da vida, especialmente se
você pretende ser um estagiário. Nunca me esqueço de um almoço, há 25 anos, com
um importante empresário do setor eletrônico. Ele começou a chorar no meio do
almoço, algo incomum entre empresários, e eu não conseguia imaginar o que eu
havia dito de errado. O caso, na realidade, era pessoal: sua filha se casaria no dia
seguinte, e ele se dera conta de que não a conhecia, praticamente. Aquele choro me
marcou profundamente e se tornou logo cedo parte da ética da minha vida: nunca
colocar minha ambição à frente da minha família.
Fonte: Kanitz, Stephen. Ambição e Ética. In: Revista Veja. Editora Abril: São Paulo, 2001. p.21.

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Confrontar idéias, dados, estudos ou características:Algumas escolas estão
ensinando a nossos filhos que ética é ajudar os outros. Isso, porém, não é ética, é
ambição. Ajudar os outros deveria ser um objetivo de vida, a ambição de todos, ou
pelo menos da maioria. Aprendemos a não falar em sala de aula, a não perturbar a
classe, mas pouco sobre ética. Não conheço ninguém que tenha sido expulso da
faculdade por ter colado do colega. “Ajudar” os outros, e nossos colegas, faz parte de
nossa “ética”. Não colar dos outros, infelizmente, não faz.
Fonte: Kanitz, Stephen. Ambição e Ética. In: Revista Veja. Editora Abril: São Paulo, 2001. p.21.

Apresentar conceitos, citações, alusões ou fatos históricos: Os conflitos religiosos


e culturais serão sempre cruéis e não se resolverão por diálogo. Não dá para provar
quem tem a razão. As verdades religiosas são tão poderosas porque a premissa
básica é sempre Deus, premissa inquestionável por definição. Osama bin Laden se
considera esclarecido e ético, opõe-se aos americanos que ele, e muitos ao redor do
mundo, consideram antiéticos. Ele consegue justificar plenamente as mortes que
causou, porque "os fins justificam os meios", frase repetida nas nossas universidades.
Ele não tem dúvida de que está absolutamente certo, como muita gente por aí.
Fonte: Revista Veja, edição 1723, ano 34, nº42, 24 de Outubro de 2001.

Parágrafo de conclusão

A conclusão encerra o texto dissertativo, recorrendo a basicamente três


possibilidades de variação, a saber:

Retomada - ratifica a tese apresentada: Podemos, então, concluir que uma


interdição tão severa como a que paira sobre o ato de plagiar só pode mesmo ser
explicada pela existência de um desejo de transgressão que tenha a mesma
intensidade.
Fonte: http://www.espacoacademico.com.br/024/24wlap.htm

Proposição de soluções: Embora o mundo não seja como você gostaria que fosse,
lembre-se de que o seu ideal de mundo talvez não seja o que outros estão
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almejando. A solução dos conflitos não reside na guerra, mas na tolerância, ninguém
sabe qual mundo é o melhor, por mais convicto que esteja. Portanto, se você
pretende fazer um mundo melhor, desconfie um pouco mais das teorias, aprimore
seu próprio faro e senso de observação, reavalie de tempos em tempos as suas
premissas, e seja muito tolerante.

Fonte: Revista Veja, edição 1723, ano 34, nº42, 24 de Outubro de 2001.

Reflexiva: propõe um questionamento: Pragmaticamente, em nível amplo, só a


solidariedade pode construir um país de abastança para todos. A solidariedade é, em
si mesma, uma postura política diante da vida, mas é também uma postura reflexiva,
contemplativa, terapêutica. Alguém conhece algum outro caminho que tenha dado
certo?

Fonte: http://www.segurancahumana.org.br/biblioteca/cdrom/enpc_textos/textos4/enpc_04_8.pdf

Organização textual

Lembre-se de que os exemplos apresentados não encerram todas as possibilidades


que temos à nossa disposição para a construção discursiva, mas são apenas
indicativos para ajudá-lo na escritura de textos...

Ao iniciar esta aula, você viu que os parágrafos são unidades textuais que em
conjunto formam o texto. Não basta, portanto, que você elabore bem os parágrafos
como se fossem unidades isoladas, pois se assim o fizer construirá, na verdade, uma
enorme colcha de retalhos.

Para que um texto não seja apenas um amontoado de palavras e frases que fazem
sentido separadamente, é preciso que você cuide dos aspectos relacionados à
coesão que estabelece a ligação,ou seja, a relação entre os elementos de um texto.

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A coesão textual pode ser:

→ Referencial

Quando um componente do texto faz referência a outro elemento, tais como


epítetos; palavras ou expressões sinônimas; repetição de uma palavra, nome ou
parte dele; um termo síntese; pronomes, numerais e advérbios pronominais
substituem um nome; elipse; entre outros.

→ Seqüencial:

Quando são estabelecidas relações semânticas ou pragmáticas à medida que o texto


se constitui, tais como em frases ligadas por conjunções: “Gostei da roupa, mas não
posso comprá-la”. Neste período, a conjunção mas é elemento de coesão por
impulsionar o prosseguimento do texto, imprimindo-lhe novo sentido.

Recursos de coesão

A coesão liga termos e orações dentro de um parágrafo, bem como liga um


parágrafo a outro.

Veja alguns recursos de coesão que o ajudarão a dar maior unidade aos textos, além
de chamar atenção para o sentido que neles está implícito:

Causa e conseqüência: como resultado/ em virtude de/ em função de/ em razão de/
de fato/ assim/ portanto/ por causa de/ por motivo de/ porquanto

Comparação por contraste ou por semelhança: ao contrário de/ em contraste com/


como contraponto/ em comparação com/ igualmente a/ analogamente/ assim também/ do
mesmo modo que/ da mesma forma que/ de maneira similar/ de forma idêntica/ nessa
mesma perspectiva/ em consonância com

Acréscimo: além disso/ outrossim/ ainda mais/ por outro lado/ desta feita/ nesse
sentido/ em função disto/ a esse respeito

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Recursos de coesão

Além desses recursos, é possível recorrer à utilização de palavras ou expressões


relacionais aos objetivos pretendidos:

Iniciar uma análise: é fundamental inicialmente observar/ há que se analisar,


primeiramente/ a primeira questão se referirá a/ é fato/ iniciemos a análise observando/ em
primeira instância, cabe analisar.

Ratificar a análise: não podemos deixar de lado a questão de/ é preciso frisar ainda que/
não podemos nos esquecer também/ é essencial lembrar ainda/ é fundamental insistir/ não
há como negar que/ é possível alegar ainda que/ além do mais/ paralelamente/ acrescente-
se a isso/ é inegável/ é provável também/ há ainda a possibilidade de.

Encerrar uma análise: por conseguinte/ conseqüentemente/ por isso/ desta forma/ em
suma/ em síntese, é possível dizer que/ portanto/ definitivamente/ a partir desse contexto, é
plausível afirmar/ finalmente.

Enumerar outros fatores: não podemos excluir/ uma segunda causa a ser apontada é/
outro aspecto a ser considerado/ além desse fator, chama a atenção/ como terceira razão, é
preciso salientar.

Estabelecer oposição: a despeito desta posição/ ao passo que/ não obstante sua avaliação/
vai de encontro a/ malgrado/ em que pese tal afirmação... é preciso considerar/ ainda que/
muito embora reconheça... há que se levar em conta/ entretanto, no entanto.

Como você estudou, são muitas as possibilidades de uso de elementos de coesão. O


uso correto deles é que dará ao seu texto a coerência necessária para que a
comunicação se efetive, pois o texto só faz sentido se todos os envolvidos nesse
processo de interação reconhecerem sua lógica interna.

Agora é com você.

Ler e escrever bem são habilidades e, portanto, requerem treino para serem
adquiridas.

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Resumo

Neste módulo, você estudou que ...

Aprendemos na escola a utilizar os textos segundo sua tipologia, qual seja narração,
descrição e dissertação. Essa concepção é válida como modalidade utilizada no
processo de composição dos diversos gêneros discursivos, mas não dá conta da
classificação e análise de todos os textos utilizados pelos falantes de uma língua.

Narrar impõe o relato de fatos e acontecimentos, reais ou fictícios, com marcante


coerência interna para que a história seja verossímil e, portanto, convincente ao
receptor.

O texto descritivo se caracteriza por capturar verbalmente as características, de


maneira mais ou menos pormenorizada, pessoas, estados de espírito, objetos ou
cenas.

O texto dissertativo objetiva expor, explicar ou interpretar determinada idéia e, para


tanto, recorre-se a argumentos que a comprovem ou justifiquem.

O texto dissertativo estrutura-se em três partes: Introdução, desenvolvimento e


conclusão.

Dentre os recursos que poderão auxiliar ao escrever textos é possível citar: reflexão
sobre o tema, elaboração de um esquema, elaboração de rascunho, reflexão sobre
seu estilo pessoal e revisão de texto.

Os parágrafos são unidades textuais que em conjunto formam o texto. A coesão liga
termos e orações dentro de um parágrafo, bem como liga um parágrafo a outro.

A coesão textual pode ser referencial ou seqüencial.

Ler e escrever bem são habilidades e, portanto, requerem treino para serem adquiridas.

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Cuidados a Serem Observados

Este módulo está dividido em três aulas:

→ Aula1 – Vícios e desvios de linguagem

→ Aula 2 - Depreensão do implícito: pressupostos e subentendidos

→ Aula 3 – Falácias: pensando logicamente

Com o objetivo de capacitá-lo a:

►Identificar os vícios e desvios de linguagem;

►Reconhecer que a qualidade do texto é influenciada pela forma que se escreve; e

►Compreender, identificar e evitar o uso de argumentos falaciosos.

Aula 1 -Vícios e desvios de linguagem

Ai, palavras, ai, palavras,


que estranha potência a vossa!
Cecília Meireles
Observe a placa abaixo:

(In:http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.reporterbrasil.org.br/images/articles/2
0070424familiamuda2.jpg&imgrefurl)

A frase acima esta ambígua, concorda?

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É possível pensar que “muda” é verbo (embora não apareça como pronominal), ou
seja, a família vai transferir-se para outro local. Ou pensar que “muda” é adjetivo, as
pessoas que compõem essa mesma família não falam.

Claro que, como uma placa que apresenta visivelmente um registro coloquial, o
sentido é cômico. Mas, pense você no mesmo processo em um texto escrito que
tenha uma construção mais formal. A ambigüidade irá prejudicar o sentido do
escrito e, neste caso, nada restará do cômico, pois o texto provocará o não
entendimento, ou mesmo, uma enorme confusão.

Agora, leia a charge abaixo.

(In:http://images.google.com.br/imgres?imgurl=h
ttp://sergeicartoons.blogs.sapo.pt/arquivo/Manu
elD.jpg&imgrefurl)

O autor da charge usa a imagem


associada à fala das personagens para,
também, criar um sentido “duplo”. A
oração “Não te vejo há anos e estás na
mesma” refere-se ao fato das
personagens não se encontrarem há
muito tempo, mas pode ser entendida,
não com um sentido cômico, mas crítico
e irônico, contra o uso da burca, pois
ambas não se veriam mesmo que se
encontrassem todos os dias.

Há uma diferença entre a ambigüidade da placa e a possível ambigüidade da charge.


Na charge a linguagem foi trabalhada para se obter um efeito crítico o que não
parece ter acontecido no exemplo da placa. Assim, é preciso conhecer mais do que a
estrutura gramatical de uma língua para que se seja um bom leitor e um bom
“escritor”.

É preciso conhecer mais do que a estrutura gramatical de uma língua para que se
seja um bom leitor e um bom “escritor”.

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Existem diversos “desvios de linguagem”, alguns mais outros menos comuns, alguns
mais outros menos utilizados, que podem comprometer tanto a qualidade e a
estrutura de um texto quanto a sua clareza e permissão de entendimento.

Os vícios de linguagem são a catalogação desses desvios e é importante


conhecê-los para sempre evitá-los.
Os mais importantes são:
Solecismo;
Ambigüidade ou Anfibologia;
Pleonasmo;
Barbarismo,
Estrangeirismo;
Prolixidade; e
Lugar-comum ou clichê

Veja nas próximas páginas as características desses vícios de linguagem.

Solecismo - desvio da norma culta de uma língua, como: erros de concordância,


de regência, de colocação, dentre outros.

Erro de concordância

Exemplo: Fazem cinco anos que parei de estudar.


Fazem no lugar de “faz”.

Erro de regência

Exemplo: Assisti ao filme.


“o” no lugar de “ao” (preposição)

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A norma padrão prescreve que neste uso o verbo assistir deve ser
acompanhado de preposição.

Ambigüidade ou Anfibologia - obscuridade no sentido das palavras, das


expressões, o que provoca uma hesitação entre duas ou mais possibilidades.

Exemplo: Paulo pegou o táxi correndo.

Quem “corria”? O “táxi” ou o “Paulo”?

Há alguns fatores lingüísticos que são responsáveis pela ambigüidade. Como:

- Diferentes referências para um único pronome.

Exemplo: Ele foi para sua casa. (Para a casa de


quem?)

- Diferentes construções sintáticas de uma oração, deixando dúvida quanto ao


significado denotativo ou conotativo das palavras.

Exemplo:

O juiz julga os réus culpados.

O juiz julga que os réus são culpados.

O juiz julga os réus que são culpados.

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Pleonasmo - repetição desnecessária de palavras ou idéias.

Exemplo: Ele desceu lá embaixo à procura de um estacionamento.


(descer, neste caso, só pode ser para baixo).

Importante!
O pleonasmo tem emprego legítimo em muitos casos. Quando afirmo “vi com
meus próprios olhos”, há um pleonasmo, pois só posso ver com os olhos. No
entanto, posso querer reforçar a idéia de que “realmente”, “verdadeiramente” vi.

Em textos objetivos é melhor não utilizar o pleonasmo, mas fica aqui a ressalva de
que nem sempre onde encontro um pleonasmo encontro um erro. O mesmo vale
para outros desvios.

Barbarismo – uso de formas inexistentes na norma culta.

Troca ou omissão de fonemas

Exemplo: “adevogado” em vez de advogado

“Pobrema” em vez de problema

→ Troca de letras
Exemplo: “atrazo” em vez de atraso.

→ Inadequação de flexões.
Exemplo: Sairei “menas” vezes em vez de menos vezes.

→ Inadequação de sentido.

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Exemplo: “acerca” de (que significa “a respeito de”) no lugar de cerca de (que
significa “aproximadamente”).

Estrangeirismo – uso de palavras ou expressões de outra língua. Para muitos o


estrangeirismo é um tipo de barbarismo.

Exemplo: self service; recall; mouse; on line

Importante!
É preciso ter cuidado para que o uso dos estrangeirismos não seja exacerbado (o
que muitas vezes ocorre no Brasil, sobretudo em relação à língua inglesa). O texto
“A Gestação do Portinglês” faz uma crítica ao estrangeirismo.

Prolixidade – uso de palavras em demasia e impossibilidade de ser sucinto e


objetivo. O discurso acaba se tornando difícil e enfadonho.

Exemplo: Com o propósito de centralizar e agregar os nossos atendimentos, no


que tange potencialmente as resoluções de problemas emergentes e específicos,
coloco à disposição de todos dois caminhos para o encaminhamento das
solicitações corretivas ou problemas. Peço somente que nomeiem uma pessoa
dentro de sua estrutura para que esta seja o ponto focal de controle das
solicitações. Utilizaremos a ferramenta corrente para alinharmos todos os
assuntos e versões vinculadas ao andamento dos trabalhos, bem como para
solicitações de alterações específicas nos aplicativos envolvidos no sistema de
controle. (Quem é capaz de explicar tal parágrafo?)

No site humorístico (“site” é estrangeirismo) “eu falo difícil” há uma seção que brinca
com a prolixidade.

Veja: “Aquele que se deixa prender sentimentalmente por criatura destituída de


dotes físicos de encanto ou graça acha-a dotada desses mesmos dotes que outros
não lhe vêem. = Quem ama o feio bonito lhe parece.”
(In: http://www.gun.com.br/eufalodificil/?author=3)

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Lugar-comum ou clichê – expressão de uma língua que, de tão repetida, se
banaliza.

Exemplo: E eles viveram felizes para sempre.

O texto “Enchente de Clichê” apresenta bons exemplos.

Antes de concluir é preciso acrescentar que alguns desvios da linguagem podem


funcionar como recursos estilísticos, sobretudo quando se trata de textos literários.
Assim, o que é aparentemente um erro pode se transformar em um recurso
expressivo, como poderá verificar no texto “A Eficiência da Ambigüidade”.

Aula 2 - Depreensão do implícito: pressupostos e


subentendidos
“Quem muito lê e muito anda, vai muito longe e sabe muito.”
M. de Cervantes

Veja o quadrinho.

Repare que no texto há um juízo sobre as ações dos governos que não está expresso
explicitamente no texto, ou seja, os quadrinhos não afirmam “com todas as letras”
que “os governos nada fazem”, mas as idéias estão implícitas, pois são
subentendidas. Dessa forma, é possível entender que, para que você descubra o real
sentido do que está escrito, é imprescindível saber ler.

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Os diferentes contextos

A leitura não é um procedimento simples. Muitos acreditam que sabem ler, mas na
verdade o que fazem é decodificar códigos. Ler é muito mais do que isso. Envolve o
conhecimento da linguagem, mas envolve também a experiência do ser.

Leitura é a capacidade de compreensão do mundo, requer esforço do cérebro e


envolve emoção. A leitura deve provocar o pensamento e não se pode
considerar apenas o que está visivelmente escrito (ou nos é falado), é preciso ler
(e ouvir) nas entrelinhas.

São três os contextos que garantem a compreensão do que se lê e daquilo que se


fala:

→ Contexto lingüístico
É formado pelo material lingüístico que estrutura os enunciados. Em atividades de
leitura o contexto lingüístico nos ajuda a inferir o significado de palavras que não
conhecemos.

→ Contexto situacional
São os significados acessíveis aos participantes de uma comunicação, que se
encontram no mesmo espaço físico. Quando alguém diz: “Abaixe a música” o
enunciado só terá sentido dentro de um contexto específico (alguém está ouvindo
música alta).

→ Contexto sociocultural
São enunciados que precedem de condicionamentos sociais e culturais. Como
decidir se trato uma pessoa por “você” ou “senhor”?

Domínio da língua

Quando se domina uma língua, no nosso caso a língua portuguesa, é forçoso ler as
mensagens, mas para compreendê-las, é preciso ir além da simples leitura de

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palavras. É preciso entender os pressupostos e os subentendidos, ou seja, descobrir o
implícito.

Para escrever é o mesmo processo. É necessário perceber a adequação do que está


pressuposto e conferir possíveis subentendidos para evitar que se comunique uma
idéia que não se deseja.

Os mecanismos de produção do sentido textual fundamentam-se no:


→ Conhecimento do explícito, daquilo que é dito, que é literal;
→ Conhecimento do implícito, do que não é dito, porém pode ser extraído do
que é literal, pois está contido no contexto lingüístico;

(In: Católica Virtual. Curso de Língua e Comunicação)

Pressuposto

Pressuposto é uma idéia que se supõe antecipadamente. Quando se afirma que


“Pedro lamentou ter bebido muito”, há o pressuposto de que “ Pedro bebeu muito”.

Da mesma forma, quando digo que:

Exemplos:
O policial afirmou que Pedro não era o culpado pelo choque dos automóveis.
Finalmente, o policial afirmou que Pedro não era o culpado pelo choque dos
automóveis.
Felizmente, o policial afirmou que Pedro não era o culpado pelo choque dos
automóveis.

O pressuposto identificado na oração (1) é de que “Pedro se envolveu em um


acidente”.

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Nas orações (2) e (3) as idéias expressas se modificam, pois na (2) pode-se extrair a
informação implícita pela palavra “finalmente” de que, só após diversas análises e
observações é que o policial reconheceu a inocência de Pedro.
E, na (3), há a construção de outra informação advinda do vocábulo “felizmente” que
se traduz por “por sorte”, ou seja, apenas por um acaso feliz é que Pedro não era
culpado pelo acidente.

Subentendidos

Subentendido é a idéia não expressa, que não foi dita ou escrita, mas que se
deduz.

Exemplo: Millôr Fernandes escreveu que “A corrupção é, indubitavelmente, uma


das muitas línguas pelas quais o demônio – um poliglota! – fala.” (Revista Veja.
14/11/2007, p.33).

Ao afirmar que “a corrupção é um demônio poliglota” fica subentendido que a


corrupção atinge todas as “línguas”, ou seja, todas as sociedades.

Aula 3 - Falácias: pensando logicamente

“A verdade alivia mais do que machuca. E estará sempre


acima de qualquer falsidade, como o óleo sobre a água.”

Miguel de Cervantes

Quando se afirma que: “Reconheço que não é este o trabalho que deveria ser
apresentado, mas mesmo que seja inadequado, devo ser reconhecido pelo meu
esforço e pelo tempo que empenhei neste projeto. – O que é preciso perceber?

É preciso perceber que os argumentos utilizados pelo enunciador são irrelevantes,


pois o que este deseja é sobrepor o esforço à competência em relação à execução de
um trabalho. Na verdade ele apresenta argumentos que são incompatíveis (não é

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possível justificar com seu esforço a não qualidade do trabalho), ou seja, há um erro
de argumentação.

Falácias: pensando logicamente

As falácias são enunciados que reproduzem raciocínios falsos, mas que,


entretanto, simulam um “ar” de verdade.

Você estudou que quando se busca convencer e fazer aceitar determinada hipótese
utiliza-se da argumentação. Se as premissas que você utilizar forem legítimas então a
argumentação tem fundamento e se justifica. No entanto, se as premissas forem
duvidosas ou não se justificarem a argumentação é falaciosa.

As falácias devem ser evitadas em textos escritos e orais, mas isso não acontece, ao
contrário, têm um uso bem amplo e, para aumentarem sua força de argumento
falho, têm um grande poder psicológico. O que é importante perante a isso é ao
menos, saber identificá-las, para que não se seja ludibriado por argumentos falsos.

Importante!
Não confunda um argumento falacioso com uma mentira. Quando você “mente”
comete um erro proposital em relação aos fatos da realidade, afirma ser
verdadeiro o que é falso; engana, dissimula. Quando você constrói uma assertiva
falaciosa afirma uma verdade, mas manipula certas evidências e provoca
determinadas conclusões que são erradas.

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Falácia e mentira

Verifique a situação do exemplo:

Ora, o argumento “casado e com filhos” não exime o réu de poder cometer um crime
e tê-lo, realmente, cometido, ou seja, o advogado afirma uma verdade “homem
casado e com filhos” e tenta descaracterizar o crime (repare que ele afirma: “não
poderia cometer” e não: “não cometeu”). O advogado mente? Não, mas “manipula”
os fatos.

Identificando falácias

É por isso que, escrevendo ou lendo, falando ou ouvindo, é importante conhecer de


sua língua mais do que a reprodução de estruturas gramaticalmente corretas. É
preciso identificar todos os elementos que possam interferir na compreensão dos
discursos para que não engane ou não seja “enganado”.

Quando você começar a identificar as falácias vai perceber que elas aparecem por
todos os lados: nos discursos dos políticos, na voz de vendedores, nos jornais e
revistas, nos candidatos a cargos políticos, dentre tantas outras situações. Por isso é
tão importante entendê-las.

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Importante!
Ser capaz de entender e identificar um argumento falacioso é imprescindível para
que não se aceite alegações sem fundamento o que nos levaria ao engano, ao
sermos ludibriados.

Leia o texto “Argumentos Falaciosos: um pequeno compêndio para evitar


a compra de gatos por lebres” que exemplifica bem a utilização das falácias.

Argumentos falaciosos: um pequeno compêndio para evitar a compra


de gatos por lebres

Fredric Litto

Todo mundo sabe o que é uma mentira. Feita de uma pessoa para outra, ou
para muitas outras, é uma afirmação cujos fatos enunciados não correspondem à
verdade. Mentiras são maneiras de evitar uma possível punição ou de encobrir
uma situação ridícula; pode ser também uma estratégia para não comprometer
outras pessoas injustamente. Afinal, ninguém gosta de ser, ou merece ser, vítima
de mentiras no que elas têm de condenável porque escondem a verdade. Por
exemplo, houve uma época no Brasil, quando todos sabiam que se o governo
federal anunciasse que não ia fazer alguma coisa, como criar um novo imposto,
baixar uma nova lei de emergência.... isso infalivelmente seria feito, e dentro de
pouco tempo. A vítima de uma mentira sempre está em desvantagem porque
não sabe a verdade, não tem a informação correta para tomar uma decisão
acertada, podendo ainda se sentir em dúvida, num ceticismo perturbador, até
que a verdade se imponha. A vítima de uma mentira age sob a influência de um
ardil verbal. Acredita naquilo que supõe ser verdadeiro quando não o é. Podemos
ser vitimados também por um outro tipo de desvio de pensamento que é tão
perigoso e enganador quanto a mentira: a falácia.
Enquanto a mentira é uma informação falsa, uma falácia é um argumento
falso, ou uma falha num argumento, ou ainda, um argumento mal direcionado ou
conduzido. A origem da palavra "falaz" remete à idéia do fraudulento, do ardiloso,
do enganador, do quimérico. Para entender bem isso, é preciso lembrar que
quando pessoas esclarecidas tentam convencer outras também esclarecidas a
acreditar em suas afirmações, precisam usar argumentos, isto é, exemplos,
evidências ou casos ilustrativos que confirmem a veracidade do enunciado. Como
se vê, estamos falando de discursos, de enunciados, de declarações feitas com o
fim de persuadir, levando alguém ou um grupo a acreditar numa coisa ou outra.
Você acredita em tudo o que escuta ou lê? Claro que não. A diferença entre uma
pessoa esclarecida e uma não- esclarecida é a maneira como ambas lidam com
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discursos: a primeira tem critérios para aceitar ou rejeitar argumentos; a segunda
ainda não aprendeu os critérios para distinguir argumentos que carecem de
fundamentação.(...)

Assim, uma falácia não é apenas um erro; é um erro de um certo tipo, que
resulta do raciocínio impróprio ou fraudulento. A falácia tem todo o aspecto de
um argumento correto e válido, embora não o seja. Esse é seu grande perigo:
parece correto, mas não é, além do que, leva a outros erros de pensamento, como
conclusões erradas. Existem três grandes categorias de falácias: (A) aquelas
baseadas em ''truques de palavras''; (B) aquelas que representam a perversão de
métodos de argumentos legítimos, especialmente o indutivo; e (C) aquelas que
representam argumentos extraviados ou desencaminhados.
(www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/f_litto/index.htm)

Petição de princípio

Outra característica de um argumento que pode levá-lo a não ser considerado como
aceitável é quando sua conclusão é meramente a afirmação da premissa. Isso é o
que faz um argumento ser classificado como uma “petição de princípio”.

Ao ouvir ou ler um argumento é preciso verificar se as premissas são relevantes.


Fique atento, então, e pergunte sempre a si mesmo quais seriam as razões para
considerar e aceitar determinada afirmação. Para isso é preciso também ser sempre,
e o mais possível, uma pessoa bem informada.

Exemplo: Se Deus existe há um ser bom que criou o mundo

O argumento inicial apresenta um condicional “se” que nos faz pensar se Deus existe
ou não. A conclusão afirma que “Deus existe” como verdade partindo da premissa
“um ser bom que criou o mundo”, ou seja, ela apenas afirma de forma conclusiva
uma possibilidade da premissa sem apresentar nenhum outro argumento mais
consistente.

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Principais falácias

Na falácia da petição de princípio o autor pressupõe diretamente as idéias


apresentadas como conclusões no mesmo argumento. Há ainda outras “táticas”
como, por exemplo a conhecida “ignorância da questão”. Alguém, por exemplo,
lança uma questão a qual outro responde com uma afirmação que não tem relação
alguma com o que foi perguntado.

O texto “Principais Falácias” ilustra os diversos tipos de falácias. Claro que não há
qualquer necessidade de memorizar todas elas. Leia apenas com a curiosidade e a
percepção de quem será capaz de, a partir de agora, identificar recursos utilizados
que possam induzir a uma compreensão incorreta de um discurso qualquer.

Principais Falácias
1) Ignorância da questão ou Conclusão Irrelevante (Ignoratio elenchi)- Caracteriza-se
por um "desvio temático" na intenção de substituir o assunto em pauta por outro.

2) Petição de Princípio (Petitio principii) e Círculo vicioso (Circulus in demonstrando)-


Apesar de serem duas falácias distintas encontramo-las quase sempre juntas em uma
argumentação. Na petição de princípio tomamos por evidente aquilo que deveria aparecer
na conclusão. O efeito círculo é provocado quando tentamos provar uma coisa pela outra -
igualmente carente de demonstração, gerando o efeito "Tostines" (é fresquinho porque
vende mais e vende mais porque é fresquinho...).

3) Apelo à ignorância (Argumentum ad ignorantiam)- Baseia-se na impossibilidade


momentânea de se demonstrar a sua contrária. Essa falácia é muito empregada sobretudo
em questões polêmicas onde, até o momento, não ficou suficientemente demonstrada nem
sua verdade ou mesmo sua falsidade.

4) Apelo à Piedade (Argumentum ad misericordiam)- Consiste no recurso à piedade ou


compaixão dos envolvidos com o único intuito de justificar a inferência desejada.

5) Apelo à autoridade (Argumentum ad verecundiam)- Ocorre quando nos referimos à


opinião (ou mesmo à figura) de indivíduos de prestígio para promover uma maior aceitação
de argumentos que, na verdade, encontram-se além dos limites de sua especialização ou
conhecimento.

6) Apelo popular ou populismo (Argumentum ad populum)- Falácia muito utilizada pela


mídia em geral e em campanhas eleitorais quando utilizam-se da opinião popular como fator
relevante de convencimento.

7) Contra o homem (Ad hominem) - Quando ao invés de utilizar-se de meios legítimos, o


argumentador ataca a pessoa em questão com a intenção de refutar a sua posição.

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8) Recurso à Força (Argumentum ad baculum)- Falácia cometida quando o argumentador,
visando legitimar a sua conclusão, se utiliza da "força" como forma de intimidação e
convencimento.

9) Redução ao Absurdo (Reductio ad Absurdum) – Consiste em levar um determinado


raciocínio, de modo indevido, ao extremo.

10) Paradoxo ou Oxímoro - Construto intelectual onde parte-se de uma premissa que leva
os contra-argumentadores a duas conclusões que se excluem mutuamente.

11) Falsa Causa - Argumento falacioso que conclui a partir de uma relação de causa e efeito
fundamentada numa mera antecedência de fatos.

12) Causa Comum - Trata-se de uma "confusão entre causas e efeitos". Isso se dá quando
dois acontecimentos são tomados como causa um do outro, esquecendo-se, porém, que
ambos são causados por um terceiro.

13) Anfibologia ou Anfibolia - Falácia freqüentemente utilizada pelas chamadas "ciências


esotéricas" e que consiste no emprego de frases ou proposições ambíguas e vagas de modo
a gerar múltiplas interpretações.

14) Equívoco e Ambigüidade - Apesar de serem duas falácias distintas, ambas induzem-nos
ao erro através dos múltiplos sentidos das palavras. Se no equívoco o argumentador utiliza-
se de uma mesma palavra com sentidos diferentes para coisas igualmente distintas; na
ambigüidade vê-se o emprego de palavras que nos levam a uma interpretação duvidosa do
assunto em questão.

15) Pergunta Complexa - Consiste em elaborar uma pergunta cuja resposta implicará
necessariamente na aceitação de outras premissas logicamente independentes.

16) Falácia da Composição - Ocorre quando atribuímos as características das partes ou dos
indivíduos, considerados isoladamente, ao grupo.

17) Falácia da Divisão - Inverso da falácia anterior, a divisão ocorre quando atribuímos as
características do todo ou do grupo às partes.

18) Falácia da Enumeração - Trata-se, na verdade, de uma indução pautada em casos


insuficientes. Alguns autores a identificam com a falácia da generalização apressada.

19) Ênfase – Ocorre quando algumas palavras são destacadas com o intuito de induzir o
receptor ao erro devido a aparente mudança de significado.

20) Falsa Analogia – Falácia que conclui, a partir de uma semelhança acidental ou
superficial outras de maior importância. Trata-se, portanto de uma comparação inválida.

21) Falso Dilema – Quando o argumentador oferece um número limitado de alternativas


quando, na verdade, há mais.

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Resumo

Neste módulo, você aprendeu que:

Existem diversos “desvios de linguagem” que podem comprometer tanto a


qualidade e estrutura de um texto quanto a sua clareza e permissão de
entendimento. Os vícios de linguagem mais comuns são: solecismo, ambigüidade ou
anfibiologia, pleonasmo, barbarismo, estrangeirismo, prolixidade e lugar-comum ou
clichê.

A compreensão do que se lê e daquilo que se fala pode ser garantida pelos seguintes
contextos: lingüístico, situacional e sociocultural.

A compreensão da leitura de uma mensagem exige que se vá além da simples


leitura. É preciso entender os pressupostos e os subentendidos, ou seja, descobrir o
implícito. Para escrever é o mesmo processo. É necessário perceber a adequação do
que está pressuposto e conferir possíveis subentendidos para evitar que se
comunique uma idéia que não se deseja.

Falácias são enunciados que reproduzem raciocínios falsos, mas que, entretanto,
simulam uma “ar” de verdade.

É por isso que, escrevendo ou lendo, falando ou ouvindo, é importante conhecer de


sua língua mais do que a reprodução de estruturas gramaticalmente corretas. É
preciso identificar todos os elementos que possam interferir na compreensão dos
discursos para que não engane ou não seja “enganado”.

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Módulo 4

Texto Ideal: utilizando os conceitos

Este módulo tem o objetivo de capacitá-lo a:

►Listar as principais características que devem ser identificadas em um texto


para saber o nível de informação que será disponibilizado ao interlocutor;

►Interpretar um texto a partir dos conceitos trabalhados na aula; e

►Reconhecer que um dos pontos de importância para se dominar o próprio


idioma é ser capaz de executar diversas leituras de um mesmo texto.

“Onde eu não estou, as palavras me acham.”


Manoel de Barros

O estudo da língua depende da importância que cada um confere a sua proficiência


lingüística, ou seja, seu desejo de ser capaz de falar e escrever cada vez melhor. Se
você colocar esse desejo como uma prioridade, paulatinamente, pois é preciso ter
consciência que esse é um processo contínuo e lento, essa capacidade de uso da
língua com correção, seja ela oral ou escrita, se concretizará.

Lucília Garcez, conhecida lingüista, afirma que para a compreensão efetiva e


responsiva de um texto percorre-se um longo caminho que envolve:

- Decodificação dos signos


- Interpretação de itens lexicais e gramaticais
- Agrupamento de palavras em bloco conceituais
- Identificação de palavras-chaves
- Seleção e hierarquização de idéias
- Associação com informações anteriores

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- Antecipação de informações
- Elaboração de hipóteses
- Construção de inferências
- Compreensão de pressupostos
- Controle de velocidade
- Focalização da atenção
- Avaliação do processo realizado
- Reorientação dos procedimentos mentais.

As características do texto

Existem habilidades essenciais à intelecção textual e as principais características que


devem ser identificadas em um texto para saber o nível de informação que será
disponibilizado ao interlocutor são:
- Delimitação, coerência, relevância, clareza, economia, cooperação, simetria,
exatidão, convicção/assertividade, objetividade e correção.
(In: L. Comunicação. U. Católica Virtual)

Um texto não é apenas o resultado da soma de diversas partes já que pressupõe


uma organização interna construída exatamente por essa seqüência de “partes” e
por uma articulação lógica das palavras e das idéias.

De acordo com Lucília Garcez, aquele que conhece bem sua língua passa por todo o
caminho de compreensão do texto “mentalmente” em processos “interiorizados”,
mas para se tornar um bom “usuário” de uma língua é preciso um estudo contínuo e
a consciência do tempo que se leva para que determinado conhecimento realmente
se torne de nosso domínio.

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Indagações

Quando se lê um texto é importante saber responder todas as indagações que


advêm da literalidade do texto e de todos os seus pressupostos.

Leia o texto “A fábula inumana”:

A fábula inumana

Em 1929, a revista Documents publica dois pequenos artigos anônimos, ambos


intitulados “Homem”. Lê-se no primeiro deles: “Homem. – Um eminente químico
inglês, o Dr. Charles Henry Maye, empenhou-se em estabelecer de forma exata de
que é feito o homem e qual é seu valor químico. Eis os resultados de suas sábias
pesquisas. A gordura de um corpo humano de constituição normal seria suficiente
para fabricar sete porções de sabonete. Encontram-se no seu organismo
quantidades suficientes de ferro para fabricar um prego de espessura média e de
açúcar para adoçar uma xícara de café. O fósforo daria para 2.200 palitos de fósforo.
O magnésio forneceria matéria para se tirar uma fotografia. Ainda um pouco de
potássio e de enxofre, mas em quantidade inutilizável. Essas diversas matérias-
primas, avaliadas na moeda corrente, representam uma soma em torno de 25
francos”(...)

(MORAES. Eliane Robert. O corpo impossível. São Paulo:


Iluminuras,2002, p. 125)

Após a leitura é importante responder a seqüência de perguntas a seguir:

O texto se refere a quantos artigos?


Em que revista foram publicados?
Quem publicou o primeiro artigo?
Qual seu título?
Qual é o tema central?
Qual é especificamente o valor químico de um homem?
Quais as matérias que compõem um homem?
Qual é o valor das diversas “matérias-primas” que compõem um homem?

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Todas as respostas seriam dadas seguindo a literalidade do texto. No entanto, é
preciso seguir também as indagações que determinam os pressupostos:

Em que área específica de conhecimento o pesquisador trabalha?


Qual é o seu objeto de estudo?
Quais são as características dos elementos químicos citados tais como fósforo,
magnésio, potássio, enxofre?
O que representa a soma de “25 francos”?

A seguir devem-se fazer as perguntas em torno dos subentendidos, excluindo as


possíveis falácias que, neste ponto, devem ser percebidas e entendidas, ou seja,
deve-se pensar sobre:

A imagem que decompõe o homem em porções para definir “de forma exata do
que ele é feito” reduz o corpo humano a um quase nada, poucas qualidades de
matéria e quantidades irrisórias?
O artigo publicado na revista Documents, assinado pelo “eminente químico
inglês, o
Dr. Charles Henry Maye” parte de um princípio radicalmente materialista?
De acordo com as quantidades de gordura, fósforo, ferro e magnésio imagina-se
o potencial correspondente de sabonetes, palitos, pregos e fotografias, reduzindo
o homem a nada além de 25 francos?
No título a palavra “inumana” refere-se à degradação dos corpos que parecem
não pertencer à condição humana já que desprovido de sentimentos?

Mesmo com pressupostos e subentendidos o texto “A fábula inumana” é marcado


pela clareza, considerando-se também que o vocabulário é conhecido e a estrutura
das frases é bem simples. Além disso, há objetividade no texto, há correção
gramatical e coesão textual.

A construção do texto

Para terminar, é importante reparar no vocabulário empregado e nas estruturas de


construção do texto. O uso de construções corretas e objetivas e sempre
aconselhável. Uma forma de ilustrar o uso de uma linguagem mais “complicada” é
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seguir o que muitos chamam hoje de juridiquês, ou seja, a linguagem daqueles que
pertencem ao Direito.

Leia a seguir “dois exemplos de textos jurídicos genuínos - na versão original, em


“juridiquês”, e em seguida simplificados:

O primeiro texto foi escrito pela professora Helide Santos Campos. O segundo pelo
advogado Sabatini Giampietro Netto:

V. Ex.a, data maxima venia, não adentrou às entranhas meritórias doutrinárias e


jurisprudenciais acopladas na inicial, que caracterizam, hialinamente, o dano sofrido.
Tradução: V. Ex.' não observou devidamente a doutrina e a jurisprudência citadas na
inicial, que caracterizam, claramente, o dano sofrido.

Com espia no referido precedente, plenamente afincado, de modo consuetudinário,


por entendimento turmário iterativo e remansoso, e com amplo supedâneo na Carta
Política, que não preceitua garantia ao contencioso nem absoluta nem ilimitada,
padecendo ao revés dos temperamentos constritores limados pela dicção do
legislador infraconstitucional, resulta de meridiana clareza, tornando despicienda
maior peroração, que o apelo a este Pretório se compadece do imperioso
prequestionamento da matéria abojada na insurgência, tal entendido como
expressamente abordada no Acórdão guerreado, sem o que estéril se mostrará a
irresignação, inviabilizada ab ovo por carecer de pressuposto essencial ao
desabrochar da operação cognitiva.

Tradução: Um recurso, para ser recebido pelos tribunais superiores, deve abordar
matéria explicitamente tocada peio tribunal inferior ao julgar a causa. Isso não
ocorrendo, será pura e simplesmente rejeitado, sem exame do mérito da questão.

Para o desembargador Rodrigo Collaço, presidente da Associação de Magistrados


Brasileiros, “depois da morosidade dos processos o que incomoda a população é a
linguagem usada pelos operadores do Direito”.

Assim, o importante para se dominar o próprio idioma é ser capaz de executar


diversas leituras de um mesmo texto. Com a prática isso se torna cada vez mais

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“automático” e você se tornará um verdadeiro leitor, ou seja, aquele capaz de
ler, entender, analisar e interpretar um texto escrito. E, com isso, sua capacidade
de escrita se ampliará enormemente.

Resumo

Neste módulo, você pode verificar que existem habilidades essenciais à intelecção
textual e as principais características que devem ser identificadas em um texto para
saber o nível de informação que será disponibilizado ao interlocutor são: delimitação,
coerência, relevância, clareza, economia, cooperação, simetria, exatidão, convicção/
assertividade, objetividade e correção;

Neste curso você aprendeu como aprimorar sua produção escrita e que para tal não
basta apenas conhecer a gramática de uma língua ou ter o dicionário como material
de consulta. É importante perceber e entender que a forma como você escreve vai
além das questões de estilo pessoal ou subjetividade, pois existem outros recursos
essenciais para que se consiga uma comunicação eficiente, como: reconhecer a
importância de se adequar a inúmeros contextos; perceber os diferentes aspectos
envolvidos no processo comunicativo; saber distinguir os diversos gêneros textuais e
a estrutura de um texto; e compreender os pressupostos, os subentendidos, as
falácias e os vícios de linguagem.

O domínio da língua e o aprimoramento da escrita depende de você, pois só através


da prática da escrita é que se tornará um leitor crítico, capaz de executar diversas
leituras e produzir textos cada vez melhores.

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Livros:

ABREU, Antônio Suárez. Curso de redação. São Paulo: Ática, 1994.

ANDRADE, Maria Margarida de; HENRIQUES, Antônio. Língua Portuguesa: Noções


Básicas para Cursos Superiores. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2004.

CARRAHER, David W. Senso crítico: do dia-a-dia às ciências humanas. SP: Pioneira,


1997.

FARACO, C.A. & TEZZA, C. Oficina de Texto. Petrópolis: Vozes, 2003.

FAULSTICH, Enilde L. de J. Como ler, entender e redigir um texto. Petrópolis:


Vozes, 2005.

GARCEZ, Lucília H. Técnica de redação: o que é preciso saber para bem escrever. São
Paulo: Martins Fontes, 2001.

KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e Compreender os sentidos do texto. São Paulo:


Contexto, 2006.

KOCH, Ingedore G. V. Desvendando os segredos do texto. 2. ed. São Paulo:


Cortez, 2003.

MEDEIROS, J.B. Redação científica: a prática de fichamento, resumos, resenhas. 8 ed.


São Paulo: Atlas, 2006.

NAVEGA, Sérgio. Pensamento Crítico e Argumentação Sólida – vença suas


batalhas pela força das palavras. São Paulo: Publicações Intelliwise, 2005.

SERAFINI, M. T. Como escrever textos. 7a. ed. São Paulo: Globo, 1995.

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