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Analise - 2 Fernando Mattos-Apostila
Analise - 2 Fernando Mattos-Apostila
INSTITUTO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE MÚSICA
ANÁLISE MUSICAL II
APOSTILA
ANÁLISE MUSICAL II
APOSTILA
1. CANTO GREGORIANO
1
Para cada modo há dois nomes: 1. em latim – Protus authentus (primeiro autêntico), Protus plagalis
(primeiro plagal), etc. – primeiras referências datam do séc. IX; 2. em grego – Dórico, em textos dos
séculos IX e X, a partir de interpretações errôneas de textos de Boecio (✝524) .
2
Exemplo 1.5: Jacopo da Bologna (séc. XIV), madrigal Fenice fù (modo dórico).
Modos Frígio/Hipofrígio:
Não há alterações.
Modos Lídio/Hipolídio:
• alteração da nota si para si bemol, para evitar o trítono com relação à finalis do
modo.
Modos Mixolídio/Hipomixolídio:
• alteração ascendente do VII grau, para gerar a sensível fá#.
2. ORGANUM
Exemplo 2.1: Musica Enchiriadis (séc. IX), diferentes tipos de organum paralelo.
2
Melismas são movimentos melódicos em que cada sílaba do texto é realizada por um grupo de notas. No
canto gregoriano, chama-se canto melismático aquele em que ocorrem diversos melismas em uma única
melodia; o exemplo mais comum de canto melismático ocorre nas melodias para o texto Alleluia.
8
Na prosódia clássica havia, ainda, mais um modo, que não foi utilizado pela
Escola de Notre Dame (anfíbraco: fraco-forte-fraco: ∪ − ∪ ).
3
O nome deriva da Catedral de Notre Dame, em Paris, que foi construída a partir 1163 e inaugurada em
1182.
4
Há, também, organum triplum, a três vozes, e organum quadruplum, a quatro vozes. Em geral, os
organa a três ou quatro vozes eram realizados com base no acréscimo de uma ou duas vozes a algum
organum duplum preexistente.
9
Como a Escola de Notre Dame passou a escrever organa a três e quatro vozes,
as denominações tradicionais (vox organalis e vox principalis) foram abandonadas. Em
substituição, passaram a utilizar a seguinte terminologia para as partes:
• tenor – voz que sustenta o canto gregoriano, encontra-se geralmente abaixo das
outras vozes;
• duplum – contraponto escrito imediatamente acima do tenor;
• triplum – linha melódica escrita acima do duplum
• quadruplum – linha melódica escrita acima do triplum;
Devido ao fato de que todas as partes eram escritas para vozes masculinas,
gerando um registro geral de alturas relativamente estreito, ocorrem muitos cruzamentos
de vozes no organum com três ou quatro vozes. Por esta razão, nem sempre a voz que
está escrita acima, soa realmente no registro superior, podendo ocorrer, por exemplo,
que certos trechos da parte de triplum estejam escritos em um registro mais grave do
que o duplum.
Uma seção importante no organum da Escola de Notre Dame é a clausula, que
ocorre nas proximidades do final das peças. Na clausula, a voz de tenor (aquela que
mantém o cantus) passa a se movimentar mais rapidamente, apresentando estrutura
rítmica repetitiva e definida. Em outras palavras, são aplicados padrões rítmicos modais
também à voz de tenor, que passa a se movimentar com a mesma agilidade que as
outras vozes. No Benedicamus Domino, a clausula principia no início da palavra
‘domino’ (c. 54) e estende-se até a última nota atacada pelo tenor (c. 68).
Com o tempo, as clausulae (plural de clausula) passaram a ser escritas como
peças musicais independentes dos organa nos quais se originaram. Perotinus foi um dos
primeiros músicos a compor clausulae como peças avulsas.
A importância da clausula para o desenvolvimento da polifonia reside,
principalmente, em dois aspectos:
1. todas as vozes que fazem parte da textura polifônica passam a ser tratadas
com a mesma importância rítmica;
2. deu origem à forma mais importante da música modal polifônica: o moteto.
10
3. MOTETO MEDIEVAL
Tipos de moteto
moteto simples a duas vozes duplum (motetus, solista vocal)
tenor (instrumental)
moteto duplo a três vozes triplum (solista vocal)
duplum (solista vocal)
tenor (instrumental)
moteto triplo a quatro vozes quadruplum (solista vocal)
triplum (solista vocal)
duplum (solista vocal)
tenor (instrumental)
Quadro 3.1: tipos de moteto da Ars Antiqua.
5
O termo vem do francês mot (palavra).
6
Da mesma forma, as vozes de triplum e quadruplum também eram chamadas de motetus.
11
poema). Em geral, somente a voz de tenor é isorrítmica, mas podem ser aplicadas
taleae7 às outras vozes.
Com base no conceito de utilização da talea como uma série rítmica, alguns
músicos passaram a utilizar, em seus motetos, uma série de alturas, isto é, um padrão
melódico repetido na voz de tenor, denominado color (do latim: cor, ornamento).
Além da voz de tenor, torna-se importante a elaboração de uma parte que se
contrapõe ao tenor e está escrita abaixo deste, chamada de contratenor. O tenor e o
contratenor apresentam a mesma tessitura e cruzam constantemente. Assim, não é mais
somente uma voz (o tenor) que serve de base para a composição, mas o contraponto
entre as duas vozes (tenor e contratenor) será o fundamento sobre o qual o compositor
irá elaborar as outras partes. As partes de tenor e contratenor são, geralmente,
instrumentais. O tenor continua sendo elaborado a partir do canto gregoriano (cantus
firmus). Um excelente exemplo de peça construída sobre esta base é a Missa de Notre
Dame de Guillaume de Machaut.
O moteto isorrítmico é aquele construído com base nos processos descritos
acima. Suas principais características são:
• politextualidade – o significado da poesia torna-se, muitas vezes, ininteligível pela
utilização simultânea de diferentes textos em diversas línguas e pela ruptura com
relação à métrica da poesia (muitas vezes, as frases musicais quebram as palavras,
deixando sílabas da mesma palavra em frases diferentes);
• cruzamento constante entre as vozes;
• utilização freqüente de sensíveis duplas, gerando as cadências de Landini;
• utilização mais ampla de consonâncias imperfeitas;
• tenor é geralmente mais lento do que as outras vozes;
• utilização de talea e color na voz de tenor – muitos motetos possuem uma segunda
parte em que os valores rítmicos da talea são diminuídos, tornando o tenor mais
movido no final da música. Podem ser utilizadas taleae nas outras vozes (duplum ou
triplum);
• utilização de seções em hoquetus (do latim, soluço) – o hoquetus já existe desde a
época da Escola de Notre Dame, consistindo em trechos nos quais as vozes
superiores apresentam contraponto truncado, com ritmo complementar rápido entre
as partes (com alternância de pausas de maneira que sempre que uma voz tem pausa,
a outra canta). Com o tempo, o hoquetus deixou de ser um trecho de uma peça
polifônica para converter-se em um gênero instrumental independente.
Ex. 3.2: canto gregoriano Lauda Sion, utilizado por Machaut como cantus firmus.
7
Plural de talea.
14
96 compassos 46 compassos
colores: 48 48 24 22
taleae: 24 24 24 24 12 12 12 10
Quadro 3.2: G. de Machaut, moteto Bone Pastor, estrutura isorrítmica geral.
15
Esta estrutura proporcional (2/1) serve como base para a organização de toda a
peça, o que é típico dos motetos deste período. No ponto em que se inicia a diminuição
da talea, no compasso 97, começa um processo de repetição de padrões rítmicos nas
vozes de duplum e triplum, ou seja, são aplicadas taleae também a estas vozes. Se forem
comparados os compassos 97-108 aos compassos 109-120, percebe-se imediatamente a
similaridade (há pequenas diferenças somente nos compassos 102 e 114).
Ex. 3.6: G. de Machaut, moteto Bone Pastor, talea nas vozes duplum e triplum.
Além das típicas cadências com duplas sensíveis que ocorrem por movimento
paralelo entre as vozes (cadências de Landini), Machaut emprega outro tipo de cadência
que iria se tornar comum somente a partir do século XVIII (uso do que seria chamado
posteriormente de acorde de sexta italiana). Neste caso, as duas sensíveis são resolvidas
17
por movimento contrário na mesma nota, à distância de oitava (nota lá, no exemplo
abaixo).
Ex. 3.10: G. de Machaut, moteto Bone Pastor, duplas sensíveis por movimento contrário.
18
• politextualidade:
• hoquetus:
4. POLIFONIA RENASCENTISTA
8
O termo ‘falso bordão’ originou-se da utilização constante de intervalos de terças e sextas com relação
ao baixo. Estes intervalos, segundo os princípios teóricos da música continental européia, por serem
‘imperfeitos’, somente poderiam ser realizados em pontos específicos e não no decorrer de toda a música.
Quando os franceses ouviram o bordão se movimentando o tempo inteiro com base nos intervalos
imperfeitos, chamaram-no de ‘falso’. A prática britânica de canto em terças e sextas deu origem àquilo
que, posteriormente, seria chamado de tríade.
27
• canti firmi9 de várias origens – as melodias que servem de base para a composição
de motetos não são mais retiradas somente da tradição gregoriana, porém há
diversas obras em que o cantus firmus é obtido a partir de melodias profanas
conhecidas, inclusive para a composição de missas10, ou é criado pelo próprio
compositor;
• politematismo – cada seção do moteto renascentista apresenta um novo tema
(sujeito, ou ponto de imitação, retirado de um fragmento da melodia que serve como
cantus firmus) que é imitado por todas as vozes. Quando o processo de imitação é
completado, inicia-se a nova seção com um novo fragmento melódico a ser imitado;
• texto único – volta à utilização de um só texto, em latim, em todas as vozes;
• separação das vozes em planos distintos – os cruzamentos entre as vozes ficam cada
vez mais raros na música renascentista e as vozes tornam-se cada vez mais
independentes entre si. Na segunda metade do século XVI, as vozes já estão bem
definidas com seu registro claramente distinto;
• emancipação dos intervalos imperfeitos – as consonâncias imperfeitas passam a ser
a base intervalar para a estrutura harmônica da música renascentista, o que gera, no
século XVI, o conceito de tríade como sendo a combinação vertical mais natural
entre as partes. Este princípio leva, na segunda metade do século XVI, à utilização
abundante de acordes perfeitos, formados especialmente sobre o II grau, o III grau e
o VI grau das escalas modais (a esta estrutura harmônica costuma-se chamar de
caráter modal eclesiástico);
• tratamento rigoroso das dissonâncias – se, por um lado, as consonâncias imperfeitas
tornaram-se a base para a música renascentista, por outro lado, as dissonâncias
passam a ser evitadas. Foram desenvolvidas regras e técnicas de contraponto
extremamente sofisticadas para que as dissonâncias fossem utilizadas da forma mais
suavizada possível (toda a dissonância deveria ser preparada e resolvida como
consonância – nota de passagem, bordadura ou suspensão);
• sistematização da escrita a quatro vozes11 – devido ao uso da imitação, que faz com
que o cantus firmus percorra todas partes, não há mais distinção hierárquica quanto
à importância das diversas vozes, pois todas passam a ter o mesmo valor na
estrutura polifônica imitativa;
• forma bipartida – muitos motetos da Renascença apresentam a estrutura dividida em
duas partes, chamadas na época de prima pars e secunda pars. a primeira parte é
geralmente polifônica em métrica binária, sendo, a segunda parte, homofônica em
métrica ternária (influência das danças na música vocal sacra);
• rítmica fluida e contínua – o ritmo torna-se mais fluido em comparação com a
música da Ars Nova, voltando às características de maleabilidade rítmica do canto
gregoriano;
9
Plural de cantus firmus.
10
As missas construídas a partir de canti firmi profanos tornaram-se conhecidas pelo nome das canções
que lhes deram origem. Uma das melodias mais utilizadas pelos compositores renascentistas foi a canção
L’Homme armé. São amplamente conhecidas as missas denominadas L’Homme armé de Dufauy,
Ockeghem, Obrecht, Josquin, Morales e Palestrina.
11
As vozes passam a ser divididas em soprano (do latim sopranus, superior), alto (de contratenor alto, ou
seja, voz que se contrapõe ao tenor acima deste), tenor e baixo (de contratenor baixo, isto é, voz que se
contrapõe ao tenor abaixo deste).
28
59-117) para reunir as diversas seções em duas partes distintas. A análise da prima pars
demonstra que há três seções nesta parte. Estas seções estão divididas, conforme a
segmentação do texto, da seguinte maneira:
• primeira seção – Sicut cervus desiderat ad fontes aquarum (c. 1-25),
• segunda seção – ita desiderat (c.23-44)
• terceira seção – anima mea ad te, Deus12 (c. 40-58)
Ex. 4.2: G. P. Palestrina, moteto Sicut cervus, exposição do cantus firmus da primeira seção, no tenor.
12
O texto significa: “Assim como o cervo deseja as águas da fonte / também deseja / minha alma a ti,
Deus”.
29
Ex. 4.3: G. P. Palestrina, moteto Sicut cervus, imitações do cantus firmus na exposição da primeira seção.
Quadro 4.1: G. P. Palestrina, moteto Sicut Cervus, estrutura polifônica da primeira seção.
O quadro acima demonstra que o cantus firmus está presente, em alguma voz,
durante toda a seção – esta é outra característica comum nos moteto do século XVI.
Todas as entradas do cantus firmus ocorrem no I grau ou no V grau do modo jônio em
fá. Este aspecto demonstra o grande valor dado à classificação destes graus como finalis
e confinalis ainda nesta época. O modo é considerado como sendo jônio em fá devido à
‘armadura’ com sib e porque o baixo estende-se, principalmente, em um âmbito
melódico que percorre as notas de fá1 a fá2. Sendo que a extensão total da voz inferior
amplia-se além do âmbito característico do modo (fá1-lá2), alcançando a nota sib2,
somente em dois pontos: no início (c. 10) e no final (c. 114) do moteto.
Nos compassos 22-23 há uma cadência V-I que é utilizada para finalizar a
primeira seção e separá-la da segunda, que, conforme já foi dito, inicia no baixo na
metade do compasso 23. Esta distinção entre as seções é, porém, obscurecida pela linha
melódica da voz de contralto, que permanece até o compasso 25, enquanto o baixo e o
tenor já iniciaram a nova seção. Este fato pode ser facilmente verificado se forem
comparados os textos das diferentes vozes nos compassos 23-25. Enquanto o contralto
permanece com o texto da primeira seção (Sicut cervus desiderat ad fontes aquarum), as
outras vozes já estão cantando o texto da seção seguinte (ita desiderat).
O cantus firmus da segunda seção é apresentado pelo baixo entre os compassos
23 e 30.
30
Ex. 4.4: Palestrina, moteto Sicut cervus, apresentação do segundo tema no baixo.
A linha melódica deste segundo tema está realizada de forma mais despojada na
entrada do soprano, nos compassos 26-31, do que no baixo. Além disto, as vozes de
tenor e contralto imitam um segmento maior da linha de soprano do que do baixo. Desta
forma, a apresentação da parte de soprano pode ser considerada como sendo a entrada
‘real’ do cantus firmus na segunda seção.
O contralto imita o cantus firmus a partir do IV grau (c. 28-32), sendo esta a
primeira vez, neste moteto, que a entrada de um tema ocorre em um ponto distinto da
finalis ou da confinalis.
Ex. 4.8: Palestrina, moteto Sicut cervus, apresentação do terceiro tema, no soprano.
Ex. 4.9: Palestrina, moteto Sicut cervus, imitações do terceiro tema em cascata.
Quadro 4.2: G. P. Palestrina, moteto Sicut Cervus, estrutura geral da prima pars.
Música Ficta
41
Modos eólio/hipoeólio
Modos jônio/hipojônio
Não há alterações.
• alteração ascendente do III grau dos modos menores (aqueles que têm a 3ªm a partir
da finalis: dórico, frígio e eólio, autênticos e plagais). O resultado chama-se terça de
picardia ou cadência de picardia.
42
• a alteração do VII grau do modo mixolídio (fá#) é a origem da escala de Sol Maior:
• as alterações do modo eólio (fá# e sol#) dão origem à escala de Lá Menor Melódica:
• o modo jônio, que normalmente não é alterado, é considerado como sendo a ‘escala
natural’ do Sistema Tonal.
• o modo frígio, por não sofrer alterações, foi o último modo a se converter em
tonalidade, dando origem à cadência frígia e perdurando até a época de Bach e
Haendel. A linha melódica do coral de Bach apresentado a seguir contém vários
elementos característicos do modo frígio, que são reforçados pelo predomínio de
cadências frígias existentes na harmonização bachiana. Em um total de oito frases,
ocorrem quatro cadências frígias, nos compassos: 2, 6, 12 e 17.
44
Ex. 4.21: J. S. Bach, Paixão Segundo São João, Choral N.º 21.
Ex. 4.22: J. Ockeghem, chansin D’ung aultre amer mon coeur s’abesseroit.
46
13
Da produção oriunda destas reuniões nas câmaras das residências de nobres e burgueses originou-se a
expressão ‘música de câmara’ (do italiano, musica da camera).
47
48
5. CONTRAPONTO MODAL
14
Na prática musical, o cantus firmus pode ser realizado com qualquer combinação de valores rítmicos.
15
Todos os exemplos de contraponto apresentados a seguir foram retirados da obra Counterpoint – the
polyphonic style of the sixteenth Century, de Knud Jeppesen.
54
• Contraponto Livre
O contraponto livre é a combinação de linhas melódicas compostas livremente,
sem a utilização de cantus firmus. As diretrizes de cada espécie devem ser seguidas na
relação entre as vozes. Assim, semibreves devem ser conduzidas somente como
consonâncias, mínimas podem ser tratadas como notas de passagem, semínimas podem
ser tratadas como notas de passagem, cambiatas ou bordaduras e síncopes com
dissonâncias devem ser resolvidas como suspensões16.
• Contraponto imitativo
O contraponto imitativo consiste em reproduzir, em uma voz, trechos melódicos
apresentados em outras vozes. Na imitação é necessário respeitar as diretrizes de cada
espécie na relação entre as partes.
16
Nos exemplos seguintes, o compasso 2/2 está realizado como se fosse 2/1, pois essa era uma prática
comum na música renascentista. Ainda hoje, muitos editores publicam a música desse período dessa
forma.
56
Outra maneira de dar continuidade é seguir com contraponto imitativo até o final
da seção. Se a peça inteira é composta com esse método, tem-se um cânone.
Os procedimentos para a composição de um cânone são os seguintes:
1. Compor a proposta (sujeito) em uma das vozes
2. Imitar a proposta em outra voz (resposta)
3. Compor um trecho em contraponto à resposta (continuação da proposta)
4. Imitar a continuação da proposta (segmento realizado no item 3)
Os procedimentos n.º 3 e n.º 4 devem seguir até o final ou até a preparação da
cadência. Geralmente, as cadências são preparadas com um pequeno trecho em
contraponto livre, para que todas as vozes terminem ao mesmo tempo.
O intervalo: 1 2 3 4 5 6 7 8
Transforma-se em : 8 7 6 5 4 3 2 1
Nesse processo, é necessário tomar cuidado com o intervalo de 5ªJ, pois ao ser
invertido transforma-se em 4ªJ, mudando assim da categoria de consonância perfeita
para dissonância quando ocorre em relação ao baixo. Nesse caso, o intervalo de 5ªJ deve
ser tratado como dissonância, para aparecer de forma correta na inversão.
58
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
Ex. 5.12: contraponto invertido à décima segunda (quinta), realizado por Jeppesen.
6.1. A FUGA17
Termos semelhantes:
1. cânone: imitação entre vozes quase sempre exata, a qual continua durante toda
a peça. A idéia de um tema definido que se repete não está presente.
2. round ou catch: um cânone que se repete em todas as vozes sucessivamente.
3. fugato: o uso livre ou parcial de um trecho fugal dentro de outro movimento
maior.
4. fuga acompanhada: a apresentação inicial do tema tem acompanhamento
harmônico. Ex.: o segundo Kyrie da Missa em Si Menor de Bach.
5. fuga acadêmica: a apresentação inicial do tema é sem acompanhamento.
6. fuga coral: a melodia coral é tratada de forma fugal.
EXEMPLOS HISTÓRICOS
Na Música Barroca
17
Texto elaborado pela Prof.ª Any Raquel Carvalho para a disciplina Fuga, do Departamento de Música
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
61
No Período Clássico
Séc. XIX
Século XX
O SUJEITO
A RESPOSTA
Os séculos XV e XVI
O século XVII
Com o uso cada vez menor dos modos característicos do sistema modal, a
resposta tonal torna-se cada vez mais freqüente. De acordo com John Playford
(lntroduction to the Art of Descant, 1697), os intervalos estabelecidos como os únicos
para uma resposta eram: uníssono, oitava, quarta e quinta.
É preciso lembrar a vasta diferença entre a aplicação da técnica de fuga no
século XVI e XVII. No século XVI a fuga raramente ultrapassava o equivalente
moderno de uma exposição. Já no final do século XVII encontramos um sujeito de fuga
como material suficiente para a construção de uma movimento extenso.
O século XVIII
O século XIX
Uma das obras teóricas mais importantes sobre fuga do início deste século é de
Luigi Cherubini: Cours de Contrepoint et de la Fugue (1833), a qual foi adotada no
Conservatoire National de Paris e na Royal Academy of Music, Londres. No entanto,
Cherubini tem sido muito criticado pelo seu estilo extremo que contém pouca relação
entre a teoria e a prática. Sobre a fuga, ele comenta que é a perfeição do contraponto e
que esta pode ser considerada como a transição entre o contraponto de cinco espécies e
a composição livre.
A Resposta Real
A resposta real nada mais é do que a transposição exata do sujeito uma quinta
acima. Não deve haver mudança de modo (3ªM permanece como 3ªM, por exemplo). O
ritmo permanece o mesmo e os intervalos exatos são mantidos.
A resposta real é utilizada quando não há salto entre I e V graus no sujeito, e
quando o sujeito inicia no I grau (a tônica).
65
A Resposta Tonal
A EXPOSIÇÃO
18
Em Dó Maior, se o tema inicia com o salto melódico dó-sol (5ª ascendente), a resposta será realizada
com as notas sol-dó (não sol-ré, como seria o caso em uma transposição literal).
19
Em Dó Maior, um tema modulante que tem o final com as notas lá-sol terá sua resposta com as notas
mi-dó (não mi-ré).
66
sentido melódico. Pode usar material derivado do sujeito ou ser completamente novo e
contrastante.
Continuação da Exposição
Depois da apresentação do sujeito e sua resposta (duas vozes entraram até este
momento), o compositor tem 3 opções: (1) entrar com o sujeito em seguida na terceira
voz; (2) entrar com a resposta em seguida na terceira voz (o que é muito raro); (3)
continuar com as duas vozes por mais algum tempo antes da terceira entrada, formando
uma codetta (ponte). Esta última possibilita a volta a um acorde de tônica na entrada da
terceira voz, dando maior ênfase à entrada dessa voz, uma vez que ela demora mais para
iniciar a sua apresentação do tema.
A partir deste momento, o compositor pode: (1) considerar terminada a
exposição se for uma fuga a 3 vozes; (2) reapresentar a resposta na primeira voz; (3) se
for uma fuga a 4 vozes, entrar com a quarta voz.
Finalização da Exposição
Uma vez que todas as vozes foram apresentadas, termina a exposição. A
exposição de uma fuga barroca geralmente termina num acorde de tônica ou dominante.
O EPISÓDIO
1. diatônica ou tonal
2. modulante ou real
3. simétrica
4. parcial ou acompanhada
5. dupla
6. composta
7. canônica
8. com variáveis ascendentes e descendentes
9. cujos membros se contraem vertical ou horizontalmente
A CODA
20
Fuga acadêmica, ou fuga escolástica, é aquela que segue rigorosamente os modelos deixados pelos
compositores do Período Barroco, em especial J. S. Bach.
21
Traduzido de: RICHARDSON, 1930, p. 7-15.
68
A Fuga n.º 1, bela e interessante, não é um modelo útil para o iniciante, tendo em
vista sua estrutura irregular e incomum. A Fuga n.º 2, contudo, servirá de modo
excelente para a análise. Com esta fuga aberta diante de nós, procederemos a análise.
Inicialmente, o sujeito, apresentado pelo contralto, ou segunda voz.:
Este é desenvolvido a partir de uma figura repetida três vezes, seguida por outra
que se subdivide em duas partes.
Observe o ritmo (aqui pode ser afirmado que as barras de compasso são
enganadoras nestas obras, e pode ser duvidoso se Bach as utilizou no mesmo sentido
que os estudantes atuais as realizam. O aluno aprende que ao contar quatro tempos, deve
considerar o primeiro como um tempo fortemente acentuado e o terceiro deve ser
acentuado levemente. Se este procedimento for aplicado a este sujeito, o ouvido
treinado irá se revoltar, pois é claro que os três primeiros grupos estão dispostos no
mesmo ritmo e não poderiam ser acentuados de modo diferente. Freqüentemente,
quando Bach utiliza 4/4 ele irá empregar o primeiro e o terceiro tempos de modo
indiferente em pontos onde ele possivelmente não pretenderia conduzir um efeito
rítmico variado; veja a Fuga n.º 8, onde o sujeito é apresentado no primeiro tempo e a
resposta no terceiro. Seria absurdo supor que isto significaria um ritmo cruzado. Veja-se
também as Fugas n.º 16, 27, 28, 29, 33, 43.
É bom lembrar que as barras de compasso somente chegaram a ser utilizadas de
maneira generalizada por volta do ano 1600, e a intenção na época era simplesmente
indicar o ponto onde as várias partes vocais coincidiam. Bach, nascido em 1685,
certamente compreendia o assunto deste modo, e acreditava que cada uma de suas
linhas melódicas teria seu próprio ritmo. De acordo com idéias modernas, a mesma
indicação de compasso poderia ser 2/4 ou 4/8, e o sujeito de que estamos tratando teria,
então, a extensão de quatro compassos).
Neste momento, chamaremos esta figura
formada por três notas rápidas derivadas ritmicamente do início do sujeito. Esta figura
está dividida em duas partes, estando a segunda em movimento contrário [sic] com
relação à primeira.
Olhe novamente o sujeito completo, e perceba como este inicia na tônica e
termina na mediante. O primeiro acento recai sobre a nota Láb, o segundo sobre a nota
Sol e o último sobre Mib, formando uma linha descendente obtida gradativamente.
22
O autor, aqui, certamente está se referindo às técnicas de inversão e movimento retrógrado, visto que a
expressão movimento contrário é geralmente utilizada na relação entre diversas vozes (enquanto uma
realiza movimento ascendente a outra desce). N. do T.
70
23
Aqui o autor certamente pretende afirmar que o contrasujeito está em relação perfeita com o sujeito,
visto que “harmonizado” não é adequado a uma fuga, que é uma forma contrapontística. N. do T.
24
Outro termo mal empregado. Esta diferença terminológica certamente deve-se à época em que o livro
foi escrito (1929), não estando ainda totalmente uniformizada a terminologia musical. N. do T.
71
Aqui o soprano é conduzido com a figura a, imitada à 4ªJ pelo contralto, sendo
que as duas notas
são adicionadas para completar a harmonia. Esta linha é acompanhada [sic] pela figura
b no baixo, que será relacionada com o início do contrasujeito 1. Como há somente três
vozes, o baixo reproduz a figura b, transpondo-a à 6ª inferior e unindo as duas
apresentações por uma nota de passagem. Este compasso inteiro é realizado em
seqüência, um grau abaixo.
Será observado que estas seqüências produzem modulações através de Dó
menor, Fá menor, Sib Maior e Mib Maior, permanecendo nesta última tonalidade.
25
Aqui há outro erro terminológico, pois o termo “fuga tripla” é utilizado quando uma fuga é composta
com três temas (sujeitos) e não com um único sujeito e dois contrasujeitos. N. do T.
72
são utilizadas neste ponto no episódio que examinamos anteriormente. Há uma pequena
mudança no contrasujeito 2, em que as notas intermediárias são realizadas por
movimento contrário [sic]. Esta sendo uma modificação não essencial.
Aqui, iniciamos em Mib Maior, havendo uma modulação de passagem para Sib
Maior, finalizando em Dó menor.
Note-se que este episódio é formado pela figura b no soprano, aqui em
movimento contrário [sic], acompanhada [sic] pela figura c; que faz parte do
contrasujeito 2 – sua segunda figura. Esta é utilizada em terças pelo contralto e baixo
com uma seqüência abrangendo um âmbito de 4ªJ inferior, enquanto o soprano realiza
sua seqüência abrangendo um âmbito de 5ªJ superior. Este processo se realiza em um
compasso. Na continuação, em vez de permanecerem na mesma direção, as duas vozes
inferiores realizam a seqüência uma 5ªJ acima, enquanto o soprano realiza uma 4ªJ
abaixo, criando o efeito de um desenho de um compasso duplicado em seqüência um
grau conjunto acima. Aqui podemos admirar outra ilustração de maestria de unidade e
variedade. O material utilizado inclui somente dois tempos do compasso; o modo como
é tratado proporciona interesse para a construção de oito tempos [dois compassos].
Agora, segue-se:
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Episódio III:
26
A falsa relação é o movimento de semitons cromáticos entre notas de vozes diferentes. Por exemplo,
nesta fuga, o contralto toca Sib no terceiro tempo do compasso 19, enquanto o soprano toca, no mesmo
tempo, Si natural. Note-se que meio tempo antes, o baixo também fazia Sib. A falsa relação era
terminantemente proibida nos tratados de contraponto do século XVIII. N. do T.
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Até este ponto nós simplesmente tivemos o Episódio I transposto à 5ªJ inferior.
A isto, agora, são adicionados mais dois compasso e meio nos quais os seguintes
artifícios são apresentados:
Estes três compassos são a única parte da fuga que apresenta material
independente, não sendo derivado do sujeito ou dos contrasujeitos. Assim finaliza a
fuga, como uma obra estritamente contrapontística. O compositor, contudo, adiciona
uma Coda em estilo livre com o sujeito no soprano, desta vez harmonizado de maneira
homofônica:
Note-se que a cadência final possui a terça no soprano. Esta é uma 3ªM
(picardia), seguindo a velha regra anterior aos dias de Bach que proibia a conclusão de
uma peça musical com uma terça menor.
27
Traduzido de: BENJAMIN, 1986, p. 270-275.
28
As abreviações vão como segue: S: sujeito; R: resposta (na partitura: A, do inglês Answer); CS:
contrasujeito; Exp.: Exposição; Rp.: Reapresentações, ou Reexposições (na partitura: ME, do inglês
Middle Entries, que significa Entradas Intermediárias); Ep. Episódio; Recap.: Recapitulação; CAP:
Cadência Autêntica Perfeita (ambos acordes estão em estado fundamental, ou em posição de tônica no
soprano); CAI: Cadência Autêntica Imperfeita (acorde de tônica não está em estado fundamental, ou não
tem a tônica no soprano); c.: compasso (no gráfico: m., do inglês measure); m.d.: mão direita; m.e.: mão
esquerda.
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O seguinte quadro é uma breve descrição dos principais eventos temáticos desta
fuga:
Há, ainda, breves passagens de algum material temático livre (embora estes
materiais estejam motivicamente relacionados a S e CS), o que é necessário a uma obra
de arte, prevenindo-a de se tornar seca, ou um mero exercício acadêmico. Veja-se c. 25-
26 e 29, e, em alguma extensão, a Coda.
A estrutura fraseológica é bastante regular. O S de dois compassos impõe sua
extensão [de tempo] à organização frasal. Todas as frases têm a duração de dois
compassos (mais um tempo no terceiro compasso) até o Ep. III, c. 17-19, o qual contém
uma variação sumamente necessária na estrutura das frases e evita uma total quadratura.
O Ep. IV possui uma extensão de quatro compassos e meio, o que significa que o S
entra (inicialmente) no terceiro tempo, em vez de entrar no primeiro tempo (c. 27), e a
cadência final recai sobre o terceiro tempo. Assim tanto a extensão da frase quanto o
metro são deslocados.
As modulações são alcançadas suavemente. A modulação para a tonalidade
relativa pode ser entendida como sendo obtida através do acorde comum (pivô) no c. 10,
embora a natureza seqüencial desta passagem obscureça, de certa forma, o momento da
modulação. A mudança para Sol menor ocorre por volta do c. 15, com a entrada da R na
dominante. O retorno a Dó menor é alcançado de modo muito sutil na seqüência da
passagem do c. 18-20; pode-se dizer que esta é uma modulação pela linha estrutural e
por meio de seqüência.
As derivações de materiais utilizadas na codetta e nos episódios são muito
claras. Há pouca transformação temática além das inversões melódicas (c. 13-14, na 1ª
voz) e não há stretto. A obra está quase inteiramente baseada na técnica de contraponto
duplo e triplo.
A seguir, há um gráfico de aspectos gerais da obra:
Exp. Ep. I Rp. I Ep. II Rp. II Ep. III Recap. (Rp. III) Ep. IV Rp. IV Cad CODA||
1-9 9-11 11-13 13-15 15-17 17-20 20-22 22-26 26-28 28-29 29-31
dó (sol)......... Mib.....................(dó) sol......................dó......................................................................................
CAP CAP CAI
A estrutura é binária29:
17 compassos 15 compassos
29
Esta forma é também chamada de bipartida, para diferenciá-la da forma binária das danças barrocas. N.
do T.
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Pode também, em obras como A Arte da Fuga, de J. S. Bach, significar uma fuga com
outro tema que não o principal, que é introduzido como um contraponto ou um cantus
firmus.
contraponto livre contraponto realizado com material livre, ou seja, não
derivado do sujeito, da resposta, do contrasujeito, ou de qualquer segmento importante
da fuga.
contrasujeito (tb. contratema, comes) contraponto recorrente ao sujeito, ou
seja, material temático secundário que aparece contraposto ao sujeito na exposição.
Alguns autores consideram que o contrasujeito deve aparecer pelo menos duas vezes na
exposição.
dux termo antecedente de um cânone (latim), também utilizado como sujeito de
uma fuga.
episódio (tb. divertimento) seção intermediária em que o sujeito não é
apresentado completo. O episódio ocorre sempre entre duas seções de apresentação do
sujeito, tendo por função criar contraste e/ou desenvolver os materiais apresentados nas
exposições. São características das elaborações de episódios: modulação, fragmentação
temática, imitação motívica e canônica, seqüenciação e intensificação contrapontística.
exposição (tb. apresentação) seção de abertura da fuga, na qual o sujeito é
exposto em todas as vozes, alternadamente.
fuga acompanhada tipo de fuga comum na música vocal, em que a exposição
do tema tem acompanhamento instrumental.
fuga dupla fuga com dois temas (ou sujeitos); por extensão: fuga tripla é a
fuga com três temas, fuga quádrupla é a fuga com quatro temas.
fuga de permutação fuga sem episódios.
fugato passagem ou seção em estilo fugal em uma obra com outra forma que
não a da fuga.
fughetta pequena fuga, geralmente com material simples e poucas vozes. O
termo é utilizado também para fugas longas construídas com temas leves e rápidos.
recapitulação seção final da fuga, em que o sujeito é re-exposto na tônica após
sofrer várias transposições e modulações.
resposta entrada do tema na dominante (ou, ocasionalmente, em outra
tonalidade). Alguns autores aplicam este termo somente para a exposição, considerando
como sendo sujeito as entradas do tema fora da tônica nas seções subseqüentes.
reexposição (tb. reapresentação, entrada intermediária) seção em que o
tema retorna após a exposição, geralmente ocorre entre episódios.
stretto entrada do tema nas diversas vozes em superposição. As entradas em
stretto podem ocorrer em qualquer ponto do tema, em qualquer intervalo. São comuns
os stretti em inversão, retrógrado, aumentação ou diminuição rítmica. Há dois tipos
especiais de stretto: 1. o stretto maestrale, no qual todas as vozes participam; 2. o falso
stretto, no qual uma das vozes não apresenta o tema completo.
sujeito (tb. tema, dux) material principal da fuga, apresentado na tônica na
abertura da obra. Alguns autores consideram como sujeito somente as apresentações do
material principal na tônica, diferenciando-o, então, de tema, que seria qualquer
entrada em qualquer tonalidade. Outros teóricos da fuga referem-se ao sujeito como
sendo qualquer apresentação do tema principal, diferenciando-o da resposta (entradas
em outras tonalidades) somente na exposição.
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7.1.4. Oposição/Contraposição
30
Texto elaborado a partir de estudos realizados por Jeferson Gross com base na análise dos prelúdios de
J. S. Bach (obras analisadas: suítes para cravo, alaúde e violoncelo; partitas para cravo e violino; O Cravo
Bem Temperado).
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a) monofonia
b) homofonia, melodia acompanhada
c) polifonia
d) heterofonia
e) mistura de diferentes texturas
8. BIBLIOGRAFIA