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1 – domingo, 13 de outubro de 2013

A Atividade de Inteligência Militar, os Governos Civis


e o Cenário Atual - I

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net


Por Luiz Antonio P. Valle

De forma simplificada podemos dizer que a Atividade de Inteligência (AI)


visa à obtenção, análise e difusão do conhecimento, e não tem como
escopo de trabalho colher provas e evidências acerca da materialidade
de um delito ou evidenciar sua autoria; uma vez que estes quesitos são
próprios da investigação criminal para subsidiar um inquérito policial.
Ainda que as informações colhidas em uma possam ajudar a outra, e
normalmente assim ocorre no caso da inteligência de segurança pública,
são atividades com escopos diferentes.

A AI não tem uma data clara e definida de inicio, sendo uma atividade
que se perde na noite dos tempos. De fato muito antiga quanto a
essência, não tanto quanto a forma. No formato mais familiar aos
procedimentos atuais podemos citar o ano de 1559 quando William
Cécil, primeiro-secretário da Coroa e conselheiro de Elizabeth I, cria o
"State Defense”, centralizando todas as atividades de inteligência. Em
1573, Sir Francis Walsingham, ministro do Exterior de Elizabeth I, cria o
"Serviço Secreto da Coroa da Inglaterra", com os primeiros prontuários
individuais de agentes, relatórios sistemáticos, verbas secretas e
contabilidade especial. Walsingham organizou, na verdade, o primeiro
serviço de inteligência profissional do mundo, pelo menos da forma
como o entendemos hoje.

Os EUA começaram sua experiência em 1775 quando o Segundo


Congresso Continental de Filadélfia decidiu pela criação do Comitê de
Correspondência Secreta, e com a montagem do que ficou conhecida
como a Rede Culper. A França, Alemanha e Rússia também
desenvolveram seus serviços no passado bem recuado, todavia posterior
aos ingleses. Vamos nos ater a questão inglesa e estadunidense.

Fiz este resumido histórico para situar a AI brasileira no tempo. No Brasil


a dinâmica foi diferente. Em 1946 é criado o Serviço Federal de
Informações e Contra-Informações (Sfici), que se tornou efetivamente
operacional em 1958, ou seja, quase 400 anos depois dos ingleses
aperfeiçoarem sua experiência; e perdurou até junho de 1964 com a
criação do SNI (Serviço Nacional de Informações). Em termos de
estrutura, doutrina e metodologia operacional o serviço progrediu
bastante neste período, até que em 1990 ele foi extinto pelo governo do
presidente Fernando Collor. Não entrarei aqui em aspectos doutrinários
ou ideológicos, uma vez que não cabe nesta abordagem e nem
adicionam nada ao objetivo deste artigo.

Com a extinção do SNI a AI foi relegada a um segundo plano, passando


a estar ligada ao Departamento de Inteligência (DI) da Secretaria de
Assuntos Estratégicos (SAE); destoando completamente do
posicionamento estratégico que ela ocupa em todos os países
desenvolvidos, onde a mesma está ligada diretamente ao mais elevado
mandatário da nação e tida como atividade da mais alta prioridade para
o Estado. Afinal, o ditado diz que informação é poder!

No governo Fernando Henrique, em 07/12/99 através da Lei n 9.883, é


criado o Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) e a Agencia Brasileira
de Inteligência (Abin), como órgão gestor deste ultimo, e vinculada ao
GSI/PR (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
República). A AI voltava a ter relevância, mas sem adquirir o status
anterior.

Grande parte dos progressos efetuados anteriormente foram perdidos, e


o Brasil retrocedeu significativa no pouco que tinha, tecnicamente
falando. Os profissionais da área foram depreciativamente apelidados de
“arapongas” e a mídia adquiriu o costume de enxovalha-los. Ninguém os
defendeu. Em certa medida as Forças Armadas conseguiram preservar
alguma capacidade operacional nos seus centros de inteligência, ainda
que longe dos padrões de excelência fixados atualmente para serviços
de nível internacional.

Em todos os países relevantes no cenário mundial a AI é considerada


área estratégica, de alta prioridade, e uma atividade de Estado e não do
Governo A, B ou C. Possui sempre dotações orçamentárias a altura de
suas missões estratégicas, sejam endógenas ou exógenas, e grupos de
trabalho estáveis, sem compromissos políticos ou ideológicos,
privilegiando a capacidade profissional de seus quadros. Seus quadros
estratégicos não são selecionados por concurso público, e sim em função
de uma análise de potencial. Aptidões e capacidades são o diferencial. 
Nenhum país sério abre mão desta ferramenta de poder. É impossível
conceber um Estado eficiente sem informação de qualidade e oportuna a
tomada de decisões. Os EUA, França, Inglaterra, Rússia, China e Israel
gastam bilhões de dólares para manter serviços de inteligência operando
com alto índice de eficiência. Estas montanhas de dinheiro são
direcionadas prioritariamente ao desenvolvimento de tecnologia de
ponta e formação de quadros, não sendo rara a cooperação entre as
agências na perseguição de alvos comuns.

A formação de um bom quadro pode levar de 10 a 15 anos e custa caro.


Como consequência deste trabalho estes países sabem muito do que
acontece no planeta, e podem interferir sempre que necessário na
defesa de seus interesses elegendo alvos em qualquer parte do mundo
conhecido.  Certamente não é por coincidência que estes são os países
que dominam o cenário político mundial, influenciando-o decisivamente,
e são norteados por grupos com ligações carnais com a AI; como a
família Bush ou Vladimir Putin.

Entretanto, o que temos visto no Brasil é o inverso. A visão míope e


ideologicamente orientada retira da AI a prioridade que deveria ter, e
conjugada com as restrições orçamentárias causa estragos significativos.
A distância que nos separa dos outros países só tem crescido e toma
uma dimensão astronômica, notadamente na questão da Sigint
(Inteligência de Sinais); onde a GCHQ - Government Communications
Headquarters inglesa é referência.

Para se ter uma idéia desta defasagem o tratado UKUSA (UK–USA


Security Agreement) foi assinado em março de 1946 para monitorar as
comunicações no mundo. A NSA (National Security Agency), criada em
1952, tem mais de 50 mil funcionários e uma verba de bilhões de
dólares. Está construindo o maior centro de processamento de dados do
planeta, o Utah Data Center, capaz de monitorar tudo o que transita
neste planeta no espaço cibernético; com investimento de 2 bilhões de
dólares e capacidade de processar e armazenar dados em Yottabytes
(10 à 24 potência) – uma unidade tão grande que ainda não foi
nomeada a que vem depois dela. As denuncias do Snowden são nada
perto do que já existe a décadas.

Ademais, estes países terceirizaram grande parte do serviço de


desenvolvimento de tecnologia na área de software de monitoramento,
mantendo, entretanto, limitações estratégicas aos fabricantes. A parte
altamente avançada e vital ainda permanece em órgãos como a DARPA
(Defense Advanced Research Projects Agency) criada em 1958, quando
o Brasil nem sabia o que era tecnologia de ponta. Empresas como a
Vupen (falhas na segurança), QinetiQ (Cyveillance) e Blue Coat (USA),
Autonomy (BB), i2 Limited e Gamma (UK), Amesys (França), VasTech
(Africa do Sul), ZTE (Chineses), Glimmerglass e Net Optics fazem o
serviço. No Brasil a Tempo Real Group opera em representação.

E o Brasil? Para entender melhor basta verificar que o CDCIBER (Centro


de Defesa Cibernética do Exército Brasileiro) foi criado em 02/08/2010 e
tem em torno de 40 colaboradores! Juntando todos os órgãos brasileiros
com especialistas no assunto não passam de 90 colaboradores. É uma
diferença brutal. A END (Estratégia Nacional de Defesa) elegeu 3 setores
estratégicos: o espacial, o nuclear e o cibernético. Em todos eles
estamos na época da pedra. Armas nucleares é assunto do Séc.XX. A
nova fronteira são as armas escalares.
Como um país pode aspirar relevo na arena internacional desta forma. O
que estamos esperando? Talvez que todos os dados estratégicos do
Brasil saiam, se já não saíram e continuam a sair, pela porta 137 dos
fundos; ou que nossos experts visualizem um link escrito
“notify.cia.com/notify-NSA Compliance?http/abin.gov.br/aHR”?
Falta uma análise séria, justa e imparcial do cenário. Desprovida de
sentimentos e altamente técnica. O ex-inspetor geral das Polícias e
Bombeiros Militares do Brasil, general de brigada Cesar Leme Justo,
atual chefe do CIE (Centro de Inteligência do Exército), pode ter uma
enorme surpresa no dia que precisar invocar os laços com estas
instituições.

São mais de 400 mil homens em todo o Brasil, armados, equipados e


treinados, com grupamentos especializados em combate como o BOPE e
GEFRON, e que seria um aliado vital em caso de emergência ou litigio;
ainda mais considerando que o EB (Exercito Brasileiro) tem pequeno
efetivo profissional e munição para apenas uma hora de combate.

Coloquei a vários altos oficiais da PM, em situações estanques e locais


diferentes, o cenário hipotético do comandante da corporação receber
duas ligações, uma do governador e outra de um oficial general do EB,
dando ordens opostas. Perguntei: a quem você acredita que o
comandante atenderia?

Unanimemente ouvi: ao Governador do Estado! Jamais diriam isto a um


oficial do EB, mas é o que fariam.

Luiz Antonio Peixoto Valle é Administrador de


Empresas. Continua no próximo artigo.

2-segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A Atividade de Inteligência Militar, os Governos Civis


e o Cenário Atual - II

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net


Por Luiz Antonio P. Valle

Seria correto solicitar ao leitor que, para melhor compreensão, leia a


primeira parte desta série de artigos.

Muitos desavisados ainda repercutem a velha crença de que o Brasil não


tem inimigos e nem ameaças que justifiquem investimentos. Esta é mais
uma falácia, até porque as vezes as maiores ameaças não vem dos
inimigos. Também não me parece coerente criticar estadunidenses e
ingleses por defenderem seus interesses estratégicos. Se estivéssemos
no lugar deles provavelmente faríamos o mesmo. Já foi dito que os EUA
não tem amigos, mas interesses. Isto posto, deixemos as ingenuidades
de lado.

Existem no Brasil várias organizações criminosas de alto poder ofensivo


atuando em diversas “operações”. Há células de pelos menos 5 grupos
terroristas internacionais atuando desde a década de noventa. É bem
conhecido que as redes Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah,
Jihad Islâmica e Hamas já possuem células bem estruturadas e
operacionais em nosso país.

Alguns brasileiros são treinados pelo “professor” iraniano Mohsen


Rabbani em Qom (Irã). Há organizações criminosas voltadas para o
tráfico de drogas e outros crimes, como o PCC (Primeiro Comando da
Capital) e o CV (Comando Vermelho), que deixaram mais de 100 mortos
entre a força policial de São Paulo e não foram detidas ou punidas. O
Estado quedou-se prostrado.

No campo não é diferente e grupos como a LCP (Liga dos Camponeses


Pobres) atuam ao estilo das FARCs sem nenhuma oposição. No seu
“território” as autoridades brasileiras não entram; bem como não entram
em várias outras porções do território amazônico. Ademais, aqui é o
“paraíso” das agências de inteligência estrangeiras, que sabem mais
sobre o que acontece no Brasil do que qualquer brasileiro. Ameaças
sobejam por todos os lados.

A precariedade da segurança no Brasil é de assustar qualquer leigo:


portos e aeroportos com vigilância insuficiente, deficiência de controle no
espaço aéreo, maritimo e terrestre (faixas de fronteira seca e alagada
mal patrulhadas) e equipamentos ultrapassados (baixa qualidade e
quantidade para as dimensões da operação).

Não fosse o bastante até o arcabouço jurídico é deficiente; uma vez que
o Projeto de Lei 728/2011 não foi ainda aprovado, logo não temos uma
legislação que tipifique o crime de terrorismo. Adicionalmente, vaidades
e a cultura organizacional de uma série de órgãos de inteligência,
prejudica decididamente qualquer tentativa verdadeira e sincera de
integração. São feitos lindos discursos, politicamente corretos, mas
vazios. Não existe um banco de dados único e muitas vezes, para obter
um elenco mais completo de informações, é necessário digitar 13 senhas
diferentes em ambientes cibernéticos distintos. Para um trabalho mais
completo tem de se chegar a 33!

O Sisbin simplesmente não funciona porque não há cooperação sincera,


não há instâncias eficientes de solução de controvérsias e nem linha de
comando. Basta olhar os incidentes ocorridos durante a operação
Satiagraha, na posse da Presidente Dilma, na questão da insubordinação
dos oficiais da Abin que se recusam a estar subordinados ao GSI/PR e ao
episódio da visita do Papa Francisco, para citar 4 exemplos de domínio
público quando as disputas ficaram expostas. Para não citar as
verdadeiras “guerras” internas. Não existe ninguém que possa aglutinar
os interesses divergentes dos vários atores e impor uma linha de
atuação. Tapar o céu com a peneira não resolve.

A tentativa de aprimoramento geral do SISBIN (Abin), SISP (Senasp) e


SINDE (Die) (Decreto 09 de 18 de fevereiro de 2009 que instituiu o
Comitê Ministerial para Elaboração da Política Nacional de Inteligência e
Reavaliação do Sistema Brasileiro de Inteligência) não deu em nada e
continuamos na mesma.

Os conceitos e o entendimento sobre a AI precisam mudar, levando em


conta a opinião e experiência de quem conhece o funcionamento dos
serviços nos centros de excelência. A CIA foi montada após a segunda
grande guerra com a cooperação decisiva de um grupo de militares
alemães liderados pelo General Reinhard Gehlen, conhecido como pelo
codinome de Herr Doktor ou Número 30. Em 1956 as OG (Organizações
Gehlen) viraram a base do BND (Serviço Federal de Informação da
Alemanha). Os estadunidenses precisavam de uma estrutura operacional
(uma rede montada) e conhecimento, e foram busca-lo com quem os
tinha.

O Mossad não tem nenhuma restrição em eliminar adversários com sua


divisão Kidon. Os EUA também têm identificado e subtraído adversários
com seus drones de forma maciça. A NSA vigia as comunicações globais
e identifica alvos. O pessoal da Blackwater e Craft International atua
livremente em todo o planeta, inclusive no Brasil, fazendo o trabalho
“sujo” e sem vínculos diretos que incrimine os seus mandatários. Apenas
para ficar em alguns exemplos.

Enquanto isso nossa Presidente falou na ONU, no dia 24/09/13, em


regulamentar a atividade de espionagem/inteligência. Ora, isso foi
motivo de piada em todas as rodas qualificadas, nos expondo ao
ridículo. É o mesmo que pedir ao Mossad que acabe com suas divisões
Kidon e Cesarea. Tolos que guiam tolos; e o riso (KKK......) foi geral,
para constrangimento dos raríssimos brasileiros com acesso qualificado.

Dói assistir a tanto amadorismo, tanta ignorância.

Luiz Antonio Peixoto Valle é Administrador de Empresas.


Continua no próximo artigo.

A Atividade de Inteligência Militar, os Governos Civis


3-

e o Cenário Atual - III


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Luiz Antonio P. Valle

Seria correto solicitar ao leitor que, para melhor compreensão, leia as


duas primeiras partes desta série de artigos.

Neste último artigo desta série desejo fazer uma breve reflexão sobre a
abordagem do problema, realizada no transcorrer deste processo de
“desmonte” do Poder Nacional, notadamente na sua expressão militar.

No contexto atual o Brasil perdeu mais uma vez o “bonde” da história,


só que desta vez numa área que compromete seriamente os Objetivos
Nacionais Permanentes (ONPs). Na inteligência ou na contra-inteligência
a situação é semelhante. O caso da espionagem da NSA apenas
demonstra o estado crítico desta arte no Brasil, onde falar que podemos
impedi-los de nos espionar chega a ser hilário.

Ao término do governo Lula estive com um general com várias estrelas


que trabalhou muitos anos na inteligência militar e no SNI, ao qual
foram relatados dados, fatos portadores de futuro e análises que
apontavam para um cenário porvir muito desfavorável, incluindo o
“desmonte” das Forças Armadas e sua total submissão.

Detalhavam um plano maior e mais complexo do PT e seus associados, o


que acabou se comprovando hoje. Ele, após ouvir, disse que não era
este o caso, que o Lula era um imbecil e que a questão do governo Lula
era só dinheiro! Disse: “antes era 15% e com eles é 30% e pronto. É só
isso!”. Erros graves de avaliação. O pior erro foi cometido, subestimar o
outro.

Cabe salientar que as Forças Armadas, durante o período dos governos


civis que sucederam os militares, foram as únicas organizações que
dispunham de quadros, estrutura, doutrina e metodologia para manter
uma AI operante em nível aceitável. Daí serem as únicas organizações
que podiam antever o que estava por vir e tomar as medidas
acautelatórias pertinentes. Nenhuma outra tinha esta capacidade. Se a
Inteligência Militar alertou para o que viria, seus comandantes foram
omissos ou covardes.  Se ela não avisou, ou não pôde prever, foi
incompetente. Em ambos os casos o preço a pagar está sendo caro, e
talvez fique bem pior.

Vamos para a realização da Copa do Mundo, e depois Olimpíadas,


bastante vulneráveis. Considere nossas falhas de vigilância de fronteira
(temos muitos milhares de quilômetros de fronteira), de portos e
aeroportos, e todas as demais já comentadas antes, como as relativas a
deficiência de integração dos diversos órgãos de inteligência. Considere
que temos células adormecidas de 5 ou mais organizações terroristas já
em atuação em nosso país a mais de quinze anos. Estas organizações
tem tido muito tempo e recursos para planejar suas ações. Considere
ainda que no passado recente as autoridades pertinentes não
conseguiram antecipar-se as ações do PCC em São Paulo (organização
brasileira sem metade do conhecimento, experiência e recursos destes
grupos terroristas citados) e nem montar um esquema de segurança
adequado para o Papa Francisco. Imagine a possibilidade de uma
operação de falsa bandeira. Monte o quadro. Parece factível dizer que as
autoridades brasileiras podem garantir a segurança de várias delegações
estrangeiras se movimentando em várias cidades?

Imagine a repercussão, e consequências, da ocorrência de um evento


significativo, e altamente desfavorável, antes ou durante a Copa do
Mundo. Talvez estejamos dando, ou foi criada, a oportunidade ideal para
um cenário sombrio futuro, e para justificar ações que repercutirão
decisivamente no futuro do Brasil. Talvez o caos interesse. A pergunta é:
a quem?

Somente a vaidade, arrogância, incompetência severa, miopia grave ou


motivos escusos podem fazer alguém dizer que temos uma AI adequada
em nosso país. E sem uma AI adequada o Estado fica cego e surdo,
totalmente exposto e vulnerável. O Sisbin, em todas as suas expressões
e ramais, não tem operacionabilidade mínima para atender demandas da
relevância que o cenário atual nos impõe. Vê-se muita teoria, muito
discurso com gráficos e esquemas bonitos, mas experiência zero. Todos
batem palma, parecem políticos.

O primeiro passo para a mudança é reconhecer sua correta situação.


Conhecer a si próprio é o primeiro passo, conhecer o inimigo o segundo,
e conhecer o “campo de batalha” o terceiro. A situação atual da
Inteligência Militar, e das Forças Armadas, foi fruto de suas opções e
omissões. O maior de todos os Veneráveis e Grandes Mestres proclamou
que uma arvore se conhece pelos seus frutos. A julgar pelo resultado o
trabalho feito na caserna deixou muito a desejar. Precisam de humildade
para realizar uma autocritica verdadeira.

O General Valmir Fonseca, nos artigos “Os alertas perdidos” de


24/09/13, “O Silêncio das Forças Armadas” de 28/09/13 e “O
tenentismo do sec.XXI” de 04/10/13 mostra seu inconformismo,
pondera sobre a responsabilidade em relação aos acontecimentos atuais
e avisa que não esperem das Forças Armadas a iniciativa de mudar o
rumo das coisas. Entendo que as Forças Armadas foram as principais
responsáveis por se chegar a esta situação, face o potencial que tinha de
prever e adotar medidas corretivas, e não o fizeram. Não é sensato
pedir o mesmo a Igreja, a OAB, aos sindicatos ou outras instituições,
que acabaram tragadas no processo.
Alegar que as Forças Armadas estão esperando “a hora certa”, que tem
o Plano B, como já ouvi, deixou de ser algo razoável. Chega a soar mal.
Ademais, no momento presente, mesmo que quisessem, não tem
capacidade operacional nem para iniciar sequer uma passeata. É
lamentável. Até mesmo alguns informes dependem da cooperação dos
ingleses do MI6 (section 6), designado Secret Intelligence Service ou
SIS, que poderá guia-los para onde quiserem.

A História cobrará seu preço, pois quando meu filho chega em casa
contando as barbaridades que os professores da escola falam dos
militares, eu percebo claramente que toda a trajetória desta expressão
do Poder Nacional esta por virar pó. Que cada oficial general lembre-se
do legado que deixará e como será lembrado.

Em entrevista em 2001 (Gazeta Mercantil de 02/09/2001), quando da


passagem do comando do Grupo Votorantim à 3ª geração, o empresário
Antonio Ermirio de Moraes enviou um recado aos sucessores dizendo:
“Vocês tem de ter humildade e competência. A vaidade destrói o
homem”.

Um grande instrutor, de nome Paulo, disse em ICO 10.22: “Tudo é


permitido, mas nem tudo convêm”.

Luiz Antonio Peixoto Valle é Administrador de Empresas.


Continua no próximo artigo.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Limitações de visão estratégica


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Luiz Antonio P. Valle

O grande jogo mundial foi feito para se jogar. Este é seu proposito e
razão de existir. Mesmo quem não o compreende, quem não sabe jogar,
acaba jogando ainda que de forma inconsciente. A omissão é uma ação
ou decisão em si, devidamente respaldada pelo livre arbítrio.

É um jogo com funcionamento próprio, jogado com outros parâmetros.


Enquanto os “estrategistas” brasileiros pensam de forma cartesiana, os
grandes jogadores efetivos deste jogo pensam de forma quântica.
Enquanto aqui se pensa em 3D, eles pensam em 4D. Enquanto aqui se
vê os movimentos do jogo de forma superficial e linear, eles “pensam”
de forma holográfica e estão sempre vários lances adiante. Aqui se mexe
um peão por vez no tabuleiro, lá eles movem a rainha, o bispo e o
cavalo simultaneamente. As regras são outras. Não existe paixão, existe
o jogo.

No final da década de 60, e inicio de 70, dos países do BIRC (sem S


mesmo) o Brasil era o que apresentava, junto com a URSS na época
(em versão menor a atual Rússia), a melhor situação. Crescia
economicamente a taxas elevadas, possuía um parque fabril bem
instalado, desenvolvia tecnologia, detinha controle sobre os ativos
estratégicos (telecomunicações, petróleo, mineração, energia, bancos,
etc....), tinha uma pujante indústria bélica em desenvolvimento e Forças
Armadas respeitadas em todo o continente. Não se vislumbrava no
hemisfério sul rival a altura. Qual o quadro atual? Todos sabem. Pelos
frutos se conhece a árvore.

China, Rússia e Índia tem hoje uma economia forte, mas o mais
importante, capacidade bélica de dissuasão às pretensões contrárias,
capazes de defender seus interesses estratégicos e ter sua opinião
ouvida e respeitada nos fóruns internacionais. Não estão de joelhos,
submissos. E o Brasil, como está?

Ainda que com tecnologia e recursos adequados se possa rapidamente


obter alguma capacidade nuclear, e alterando certos dispositivos de uma
rede obter armas escalares, este não parece ser o caminho disponível
para a nação brasileira de imediato, ainda que tecnicamente possível. O
que aconteceu, ou melhor, o que não aconteceu?

Os orientais sempre tiveram, em razão de sua cultura, facilidade para o


pensamento abstrato. Conseguem pensar fora da caixinha. Ademais,
tem uma paciência muito grande para observar um processo e aprender
com ele. E foi o que fizeram. Assim, no caso em tela, notadamente
chineses e indianos, perceberam como funciona o jogo, como as peças
são movidas no tabuleiro segundo as dicas antecipadas e ao ritual
estipulado, e procuraram tirar proveito dele. Ocuparam seu espaço vital.
E o Brasil? Continua desnorteado, perdendo tempo precioso, sem
entender como as coisas se passam.

No Brasil os fatos se desenrolaram desta forma porque o maior


ignorante (no sentido de ignorar) é aquele que pensa que sabe. Logo,
não procura aprender. É apressado e come cru, segundo o velho adágio.

Infelizmente, nos centros estratégicos brasileiros a humildade nunca foi


a tônica, e o resultado está aí. Jamais foram capazes de um diálogo à
altura com os reais príncipes em seus acampamentos, com os lords em
sua cidadelas, com o bispo em seu santuário ou com as rainhas em seus
palácios. Não compreendem a linguagem, não decifram os signos, tem
ouvidos mas não ouvem, tem olhos mas não enxergam. Tentando ser
soberanos tornaram-se vassalos.

O Poder procura meios para se expressar, mas ao longo da história não


encontrou muitos interlocutores à altura em terras tupiniquins. Não se
expressando acaba por manter submisso a outros poderes àquilo que
poderia ser sua expressão.

A defesa dos interesses nacionais passa por uma expansão de visão, por
uma compreensão mais acurada da atualidade, por fazer alianças, por
ouvir mais e gabar-se menos, por ceder agora para conquistar depois.
Aquilo que alguns chamam de Mal, sob outro ponto de vista, pode ser o
Bem.

É necessário abraçar a sabedoria, e deixar ir a vaidade. Alargar a visão.


Ser espectador e ator simultaneamente. Estamos num momento
estrategicamente delicado da história nacional. As decisões, ou falta
delas, vão repercutir de forma enfática no futuro da nação.

Jogando ou não o jogo continua...

Luiz Antonio Peixoto Valle é Administrador de Empresas.

Passos Estratégicos Globais e a


carta Brasil

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net


Por Luiz Antonio P. Valle

“O grande jogo mundial foi feito para se jogar”. Com esta frase iniciei
um artigo intitulado “Limitações de visão estratégica” publicado aqui
em 06 de março de 2014. E com esta frase: “Jogando ou não o jogo
continua”, conclui o artigo. Nada mudou. Se os “estrategistas”
brasileiros entenderam ou não o recado, não alterou os passos do
jogo. A julgar pelas sucessivas derrotas que sofreram, não
entenderam nada.

Avaliar os acontecimentos ocorridos no Brasil nas últimas décadas


sem conectá-los à agenda mundial prejudica substancialmente a
capacidade do analista de encaixar as peças do quebra-cabeça,
ligando causa e efeito. Ver a parte acreditando que é o todo, e não
percebendo a correlação entre forças endógenas e exógenas,
empobrece a análise e compromete a conclusão. Fazê-lo de forma
superficial, sem conhecimento de causa, também não ajuda muito.
A África e América Latina são repositórios de matérias primas e
riquezas essenciais e estratégicas. O mundo conhecido vem se
polarizando em dois grupos, aparentemente opostos, tendo de um
lado os EUA, a Europa Ocidental (com exceção a vacilante Alemanha
e algumas nações do extremo norte) e Israel; e do outro lado a
Rússia, China e agregados (Índia, alguns países árabes e outros
periféricos).

Para dar uma pálida ideia da situação seriam necessárias milhares de


linhas e o entendimento de alguns sofisticados conceitos. Como não
há espaço para tal, farei uma breve exposição, mesmo sabendo que
corro o elevado risco de não ser compreendido.

Os recentes acontecimentos na Ucrânia (incluindo aí os dois voos da


Malaysia Airlines), Siria, Iraque, Irã e em outras regiões reforçam o
antagonismo entre leste e oeste, que se diga, não começou agora.
Em 2005 Chi Haotian, Ministro da Defesa e vice-presidente da
Comissão Militar Central da China, num discurso secreto já advertia
que em 10 anos a China deveria estar pronta para um conflito militar
com os EUA e seus aliados como única forma de garantir “espaço
vital” para seu povo. Outro general de nome Mi Zhenyu já havia dito:
"Por um período relativamente longo, será absolutamente necessário
que acalentemos silenciosamente nosso sentimento de vingança...
Devemos ocultar nossas capacidades e esperar pela melhor
oportunidade". Por outro lado a Rússia, após alguns eventos que
exteriormente podem ser representados pelo que aconteceu na
Ucrânia, despertou para o fato de que o Ocidente não respeitará seus
interesses estratégicos, exceto se contido pela força.

A vitória que acalentam passa por vencer na economia levando os


EUA a ruína, conquistar posições estratégicas e realizar um ataque
inesperado e devastador, que a principio não seja identificada a
origem (deverá ser precedido de medidas de bloqueio cibernético,
ataques de sabotagem atribuída a terroristas – ataques de falsa
bandeira - e uso de armas biológicas).

Hoje a Rússia, e depois a China, já são os maiores compradores de


ouro físico do planeta. O Banco Central russo acrescentou aos
estoques mais 570 toneladas de ouro na última década, mais de um
quarto da vice-campeã em compras, a China, de acordo com dados
do FMI compilados pela Bloomberg. Para se ter uma idéia do quanto
é isso o peso do ouro acrescentado aos cofres russos é quase o triplo
do peso da Estátua da Liberdade. “Quanto mais ouro um país tem,
mais soberania ele terá se houver um cataclismo com o dólar, com o
euro, a libra ou qualquer outra moeda de reserva” declarou Evgeny
Fedorov, um parlamentar do Partido Para Rússia Unida, de Vladimir
Putin.

Em maio deste ano, a Gazprom (Rússia) e a CNPC (China), duas


gigantes do ramo de energia, assinaram um contrato, válido por 30
anos, de fornecimento de gás russo à China no valor total de US$ 400
bilhões de dólares. Os primeiros pagamentos segundo este contrato
serão realizados em yuans. Deste modo, pela primeira vez na
história, um negócio internacional no campo da energia foi realizado
sem a participação do dólar. Como a China possui boa parte de suas
reservas em dólar, sua estratégia para se livrar deles deve ser mais
cautelosa, para não chamar atenção e não transformar em pó suas
reservas. Todos sabem que se o dólar, como moeda de troca
internacional, ficar em desuso os EUA, e boa parte de seus aliados,
irão a bancarrota.

A conquista de posições geográficas estratégicas inclui vários


movimentos já em andamento. Recentemente houve uma reunião da
comissão intergovernamental russo-nicaraguense, precisamente em
09/09/14 em Moscou, para iniciar a construção de um canal na
Nicarágua ligando o Atlântico ao Pacifico a um custo de US$ 40
bilhões, com potencial de carga maior que o canal do Panamá. A
China financia a obra através da empresa HK Nicaragua Canal
Development Investment. Com este canal em funcionamento a
Rússia e China passam a ter sob seu controle um ponto estratégico
bem abaixo dos EUA de onde podem abarcar com uma só frota a
costa leste e oeste dos EUA. Cabe também citar aqui um acordo
militar estratégico assinados em 03/2011 entre a China e o
Paquistão.

O aspecto mais importante e vital deste novo acordo estratégico é


que o Paquistão concedeu permissão para que as forças militares
chinesas comecem o “uso imediato” da estrada/rodovia que atravessa
a cordilheira do Karakoram, o que permitirá as forças militares
terrestres da China um acesso total por terra ao Oriente Médio, o que
lhes dará condições de confrontar às forças do Ocidente em contato
direto, muito próximo das portas da Europa, via Estreito de
Dardanelos pela Turquia.

Todos têm lido sobre os vários ataques cibernéticos que a China tem
empreendido em relação às instalações estratégicas ocidentais.
Entende-se hoje que o ataque cibernético precede o ataque com
armas nucleares ou convencionais. A capacidade militar chinesa é
complementada e aprimorada pela excelência da tecnologia russa
nestas áreas, seja no campo nuclear, químico, biológico, espacial,
psíquico ou escalar. O resultado é uma combinação de forças e
recursos que não podem ser ignorados. Se somarmos a isso o ódio
que parte do mundo alimenta em relação aos EUA, em particular
alguns países árabes, teremos um cenário explosivo.

Neste trabalho de projetar cenários nos defrontamos com as


surpreendentes previsões, sobre vários países, da página
Deagel.com, que é uma página respeitada por oferecer dados da
aviação civil e militar, armamento e exércitos, mísseis e munição,
tecnologia militar e aeroespacial e outros dados estratégicos e
econômicos. Queremos crer que foi um exercício robusto de
imaginação, mas que deve ser citado para reflexão, uma vez que o
cenário traçado é bastante específico e repleto de dados minuciosos.

Se for uma brincadeira desta prestigiada página alguém se deu muito


trabalho. Para cada país, a Deagel.com realiza uma previsão
estimada de seu nível de população, sua renda per capita e seu
Produto Interno Bruto previsto para o ano de 2025. Para melhor
entendimento vamos a alguns exemplos destas previsões, focando
apenas nos quesitos população e PIB:

a) Nestas previsões os EUA teriam em 2025 uma população de 69


milhões e um PIB de US$ 921 bilhões (contra uma população em
2013 de 316 milhões e um PIB de US$ 17 trilhões). Israel teria em
2025 uma população de 4,4 milhões e um PIB de US$ 64 bilhões
(contra uma população em 2013 de 7,7 milhões e um PIB de US$ 273
bilhões). O Reino Unido não teria melhor sorte, pois teria em 2025
uma população de 32 milhões e um PIB de US$ 542 bilhões (contra
uma população em 2013 de 63 milhões e um PIB de US$ 2,5
trilhões).

b) Nestas previsões a China teria em 2025 uma população de 1,4


bilhões e um PIB de US$ 15 trilhões (contra uma população em 2013
de 1,4 bilhões – portanto será mantida - e um PIB de US$ 8,9
trilhões). A Rússia teria em 2025 uma população de 135 milhões e
um PIB de US$ 3,3 trilhões (contra uma população em 2013 de 143
milhões e um PIB de US$ 2,1 trilhões – o que mostra uma pequena
diminuição da população) e a Índia teria em 2025 uma população de
1,4 bilhões e um PIB de US$ 4,3 trilhões (contra uma população em
2013 de 1,2 bilhões e um PIB de US$ 1,8 trilhões).

c) A América Latina e a África praticamente não são afetadas.


Aparentemente estas previsões levam em consideração uma vitória
do eixo Rússia e China, uma vez que vemos uma queda brutal de
população e PIB nos EUA e seus aliados (a exceção da Alemanha) e
uma elevação da população e PIB da Rússia, China e seus pretensos
aliados em 2025. Estas projeções não conferem integralmente com as
nossas, mas nos surpreende que um site sediado nos EUA, e que
conta com tão boa reputação, tenha publicado estes números. Um
estrategista chinês resumiu a questão que os confronta com o
Ocidente de forma alegórica, bem ao estilo deles dizendo: “numa
montanha não pode haver dois ursos”.

E o Brasil? Ora, a América Latina seria fundamental num conflito


destas dimensões, não só por sua localização, mas também para
fornecimento de suprimentos e apoio. Para tanto foi traçada uma
inteligente e paciente estratégia para a tomada desta região, para
torná-la visceralmente antagônica aos EUA. Não comentarei sobre o
Foro de São Paulo e nem sobre Gramsci, pois muito já foi escrito, e
menos ainda sobre o papel de Cuba, pois é um peão, ainda que com
certo relevo. O fato está aí, posto as vistas de todos.
Inicialmente alguns setores ingleses e estadunidenses entenderam
que o apoio a Lula seria interessante porque, desde que ele
cumprisse os acordos assumidos (o que fez em grande medida), nada
de grave aconteceria aos interesses anglo-saxões. Ainda que a
resultante fosse uma guerra civil que fragmentasse o Brasil em três
ou quatro pedaços, não seria ruim para eles.

Pelo contrário, acabar-se-ia de vez com a possibilidade de surgir uma


grande nação na região para rivalizar com a do norte, além do
completo controle das riquezas da parte norte do atual país. Então,
deixou-se o PT agir como se fosse o protagonista da cena, quando na
verdade era uma marionete. No momento esta estratégia está sendo
reavaliada, notadamente pela pressão de setores estadunidenses
mais aguerridos como a inteligência naval.

Tal se dá também face serem aparentemente mínimas as chances de


se tirar o PT do governo, através da via democrática. O resultado
desta eleição mostrou isso, por vários motivos. Mesmo que estourem
dez escândalos e que se prove que houve fraude eleitoral, a massa
da população não se mobilizará, mas os movimentos sociais
militarizados se mexerão, dentro de uma estratégia pré-definida.
Provavelmente Lula será candidato em 2018 (apenas o agravamento
de sua doença ou a morte o impediria) e não se vê na pseudo-
oposição ninguém com verve para confrontá-lo.

Cada dia haverá mais pobres, e sempre haverá a quem culpar pela
pobreza deles. O aparelhamento do Estado caminha para a
hegemonia sonhada pelo PT. O Executivo e o legislativo são
apêndices do partido e o Judiciário segue o mesmo rumo (em 2018
dez dos onze ministros serão petistas). Os movimentos sociais serão
cada dia mais partidários e a mídia estará completamente controlada
e dependente das verbas governamentais.

As FFAA vêm sendo alvejadas e estão sangrando fortemente sem


reação. Confundiram conceitos, não foram capazes de identificar o
momento certo de atuar e como fazê-lo, não aceitaram conselhos e
iludiram-se avaliando mal sua força. Existiram à época várias opções
de atuação discreta e robusta que poderiam ter posto em ação para
deter os acontecimentos desfavoráveis em seu inicio. Não o fizeram.
A área de inteligência deixou a desejar, como exponho nos artigos
que escrevi e foram publicados aqui entre os dias 13 e 16 de outubro
de 2013, ainda que se reconheça que a ela não cabia a decisão final.
Hoje o que se ouve são desculpas mal elaboradas.

Existe uma máxima que diz que a árvore se conhece pelos seus
frutos. Os frutos estão aí. Não reconhecer isso é demonstração de
grave miopia. Usaram com as FFAA a estratégia de cozinhar o sapo,
aumentando a temperatura devagar até que ele não percebesse sua
morte se aproximando. A continuar chegarão a um ponto de onde
não há volta, se é que não chegaram ainda.

O PT divulgou manifesto após as eleições colocando entre suas


prioridades a desmilitarização das policias militares e sua
subordinação a esfera federal, bem como a revogação da Lei da
Anistia. A perda de ascendência sobre mais de 400 mil homens em
armas, que é hoje o efetivo da PM, e a defenestração dos oficiais que
ainda tenham laços com os antigos ideais do Exercito de Caxias serão
a pá de cal que faltava. Uma nova casta de oficiais mais alinhados ao
establishment chegará ao comando, ainda que se repita à exaustão
que as FFAA não foram contaminadas ideologicamente.

No passado errou-se enormemente ao deixar a educação e a mídia


ser dominada pelas forças de esquerda. Esqueceu-se que é
necessário conquistar “corações e mentes” para se governar.
Dominando a mente o fuzil é desnecessário. Hoje existem milhares
de agentes estrangeiros em atuação no Brasil e seu futuro não está,
inexoravelmente, na mão dos brasileiros.

Dentre os estrategistas globais as cartas da guerra civil, e


fragmentação do país, estão sobre a mesa (será que a NSA e a
DARPA não tem tecnologia suficiente, caso quisessem ter interferido
na totalização dos votos na eleição presidencial?). O Brasil é uma
carta no baralho do jogo global. Sem força de dissuasão nuclear, sem
força militar determinante, sem capacidade de autodeterminação, é
um “anão”, como um diplomata israelense num momento de
irresponsável sinceridade falou.

A manterem-se como estão, os pensadores estratégicos patriotas


brasileiros, serão varridos pelo tsunami, uma vez que a solução não
está na superfície pela qual circulam com ar de sábios, mas sim no
subterrâneo profundo onde suas mentes ainda não penetram.
Passar a ser protagonista deixando de ser expectador anêmico é o
desafio. As antigas alianças hoje funcionam de modo diferente.

Luiz Antonio Peixoto Valle é Administrador de Empresas.

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