Você está na página 1de 5

5º Ciclo Lunar do Clã das Matriarcas

Resumo elaborado por Carla Marques e Revisado por Giselle Dupin

A Guardiã do Silêncio: Aquela que Ouve nos ensina o talento de “Ouvir a Verdade”, no reino físico e
espiritual, compreendendo a harmonia através da escuta.

Talentos/Atributos: Silêncio. Plenitude. Escuta do coração. Empatia. Observação, Discernimento,


Compaixão, Quietude.
Mês: 5ª Lunação - MAIO
Cor: Preta
Oração: Ecos dos Ancestrais
Cavalgam os Ventos da Mudança
Vozes das Criaturas
Chamando meu nome.
Espíritos cantantes na brisa,
As ondas quebrando na costa,
A batida do coração da Mãe Terra
Me ensina o que escutar.
Na quietude, antes do crepúsculo e amanhecer,
Mensagens escondidas são liberadas.
Como os cantos da minha gente,
Seus ritmos falam comigo.
Meus ouvidos conseguem escutar essa música,
E meu coração consegue entender.
Matriarca do Clã do Tiyoweh,
Eu estou a seu comando.
Eu escuto seus sussurros
No curso que você traçará,
Procurando pela voz calma
Que vive dentro do meu coração.

RESUMO:
Este Clã nos ensina a entender o silêncio, e como ouvir os ensinamentos da natureza, do nosso coração, do
Espírito do Mundo, dos pontos de vista de outros humanos , das Criaturas Professoras e do Grande Mistério.
A expressão da tradição Sêneca Tiyoweh (tie-yo-whey1) foi traduzida para o inglês como quietude, também
simbolizando a experiência de Adentrar o Silêncio.

Esta Avó consegue ouvir a linguagem não verbal dos animais, das plantas, das pedras, bem como as vozes
dos ancestrais, vindas do Espírito do Mundo. Aquela que Ouve é capaz de discernir se as pessoas estão
falando a verdade, por meio das inflexões e sentindo o conteúdo de cada palavra. Inclusive, ela nos alerta
para o fato de que muitos humanos não sabem expressar sua verdade pessoal, uma vez que negam e ocultam
seus sentimentos. Essas pessoas mentem para si mesmas porque não escutaram as vozes de suas respectivas
Orendas2. Para viver em consonância com a verdade total há que se conhecer a eterna chama do amor.

Aquela que Ouve escuta cada pensamento, percebe cada sensação e recebe toda impressão em Tiyoweh, a
quietude. Ela usa seu dom de profetizar a partir da informação que lhe chega.

Adentrando a Quietude

Aquela que Ouve lembrou-se da sua primeira experiência humana depois de vir do Espírito do Mundo para
andar no planeta Terra. Muitas e muitas luas se passaram desde então, mas a doçura daquele momento
estava presente em sua memória, dando-lhe conforto em meio a todas as tarefas que assumiu sendo
conselheira de crianças humanas. Aquela que Ouve veio em forma humana dentro de uma gruta gigante
onde a escuridão era completa. Seus olhos humanos não eram capazes de alcançar toda a beleza do mundo.
Na escuridão, ela sentiu seu corpo pela primeira vez, tendo a revelação de sensações como pele macia,
músculos firmes, cabelos longos que passavam da altura dos quadris para protegê-la do frio da caverna. A
cada movimento do seu corpo sentia outras texturas, como pequenos grãos de areia que gentilmente

1 Tie-yo-whey = apesar de ter sido traduzido como quietude, considero que o sentido de estar integrado à sua essência
por meio do silêncio é importante ser considerado, não apenas o silêncio per se, mas o ato de ter atenção plena a si
mesmo. (to tie = atar, ligar, yo = você, whey = proteína do soro, ou o que estou entendendo como essência), estar em
plena atenção interna e externa.

2 Orenda expressa uma espécie de vitalismo, mais fluido do que o animismo e, provavelmente, o precede. Não há nada
na natureza que não tenha Orenda. (Fonte Wikipedia).

1
friccionavam suas pernas. A maciez arredondada dos seus seios e de sua barriga eram diferentes do tônus
muscular de suas pernas cruzadas embaixo do tronco quando sentada no chão da caverna. Dedilhando o
rosto, notou que tinha lábios carnudos e macios. Identificou a curva dos seus olhos, as pálpebras que cobriam
suas órbitas. Ao tocar um dos olhos, uma lágrima escorreu pelas bochechas, fazendo com que registrasse
mentalmente que algumas partes do seu corpo humano eram delicadas e deviam ser tratadas com cuidado.
E assim, continuou a se tocar, descobrindo o pescoço, a nuca e suas linhas graciosas até chegar nas orelhas.

Na profunda escuridão da gruta, a guardiã do conhecimento interior podia ouvir até o menor movimento de
suas mãos, o gotejar na caverna, o leve suspiro. Continuou se tocando, percebendo a coluna e sua estrutura
óssea. Foi se mexendo e identificando posições em que ouvia o gorgolejar vindo do interior de seus órgãos.
Notou que uma dorzinha surgiu bem no meio de sua barriga que roncava, ressoando pela caverna. Ela
direcionou seus pensamentos à Mãe Terra: “Pachamama3, eu não entendo o ruído e a dor. Sinto como se
algo estivesse faltando. Sei que o Grande Mistério criou a beleza das formas humanas a partir da plenitude.”

A voz de Pachamama preencheu sua mente e seu coração com a seguinte resposta: “Esses ruídos são parte
do corpo humano, filha. Às vezes, esses ruídos significam que o corpo está digerindo o combustível que
energiza sua forma humana. Outras vezes, significa que o corpo precisa manter seu vigor. Você, filha, está
sentindo a dor da fome do alimento que nutre seu corpo.”

Aquela que Ouve perguntou, então, como alimentar o invólucro do seu espírito. Pachamama respondeu
que uma cesta de comida havia sido colocada na gruta e que, usando o tato, a Matriarca conseguiria
encontrá-la e se nutrir. Ela assim o fez. Encontrou a cesta, sentiu as texturas de cada alimento, enquanto
ouvia Pachamama dizendo como provar, mastigar e engolir. Os sons eram diferentes, dependendo da
comida que ingeria. E, à medida que ia comendo, percebia diferentes sons e paladares, assim como a dor ia
aliviando até passar completamente e, consequentemente, a sensação de que faltava algo desapareceu.

A quietude foi interrompida pelo som de um líquido pingando do teto da gruta, que reverberava por toda
parte. Os pingos caíam numa grande piscina próxima à Matriarca, que foi rastejando em direção aos
respingos até sentir a umidade descendo por sua face. Aquela água doce foi usada para saciar sua sede,
outra necessidade de seu corpo humano. Em seu caminho para alcançar a água, Aquela que Ouve encontrou
uma pequena pedra. Ao empurrá-la, sentiu sua forma sólida, forte e resistente, até mais que os ossos de seu
corpo humano. Percebeu que era maior que os cascalhos que cobriam o chão da caverna. Quando o filho do
Povo-Pedra falou com ela da mesma maneira que a Mãe Terra, a Matriarca ficou tão surpresa que a deixou
cair na água. O filho do Povo-Pedra guiou as mãos d’Aquela que Ouve para trazê-la de volta à borda,
comunicando-lhe silenciosamente que poderia ajudá-la na descoberta de seus talentos, dons e habilidades.

“Sou o Filho do Povo-Pedra que mantém a biblioteca de tudo que já passou pela Mãe Terra. Juntos podemos
alcançar o mundo externo para aprender o que é necessário ser experienciado para completar sua missão.
Você já começou essa jornada ao decifrar as suas necessidades corporais, ao escutar a voz da Pachamama e
ao ouvir minhas palavras. Aqui na escuridão você está começando a desenvolver suas habilidades de ouvir e
captar os diferentes níveis de som sem que os outros sentidos a confundam. O vazio da escuridão do
desconhecido serão acolhedores e as respostas que procura virão por meio da habilidade de ouvi-las.”

Aquela que Ouve foi respirando de forma ritmada e suavemente, sentindo a afinidade com o Filho do Povo-
Pedra, que se autodenominou Jagehjih, o Idoso. Aquela amizade era o começo da jornada. O Idoso
apresentou-a à Formiga que tinha lhe ensinado a medicina da paciência. A Matriarca foi avançando nas
experiências, até alcançar o momento de sair da caverna por ter conseguido manter harmonia e sabedoria
de suas condições física, emocional e espiritual em equilíbrio, o que lhe permitiu encontrar outro ser

3 Pachamama – expressão que significa Mãe Terra na língua Quíchua dos indígenas dos Andes peruanos. Mesmo
sabendo que não corresponde às tribos do norte, egrégora de origem da autora. De toda sorte, permito-me a licença
poética de usar o termo pela proximidade com essa deidade máxima de um dos povos originários mais importantes
do nosso Continente. Ademais, adotarei o apelido carinhoso “Pacha” para os trechos mais amorosos, em homenagem
à jovem anciã Patrícia Loreaine que me ajudou a ver melhor a 4ª Matriarca ao trabalharmos juntas no resumo do
capítulo. Gratidão pela caminhada e pelas ricas contribuições, Pat.

Página 2
humano. A Tribo dos Homens falava Hail-oh-way-an, a Linguagem do Amor. A linguagem não verbal do amor
expressava o cerne de qualquer questão que os Duas-Pernas precisavam comunicar. Em silêncio, o ouvinte
deveria observar cada expressão, movimento e sentimento sendo partilhado e, para receber a mensagem
completa, deveria focar na pessoa que se comunicava, sem interrompê-la.

Aquela que Ouve era mestra na arte de Ouvir, tanto que escutava regularmente os pensamentos de outros
seres. A Matriarca lembrou-se de ter ensinado a Tribo dos Homens a acessar essa habilidade interior, e desde
então, a Mãe Terra completou tantas voltas em torno do Avô Sol que as crianças da Tribo dos Homens foram
crescendo e mudaram, uns para melhor, outros para pior. O progresso espiritual humano era competência
d’Aquela que Ouve por ter testemunhado a Verdade e conseguido identificar o tortuoso caminho de parte
da linguagem verbal, que esconde desalinhamentos e reais intenções. Sendo assim, à medida que o tempo
passou, que as estações se alternaram, a matriarca se estabeleceu como a Guardiã do Discernimento.

Houve um inverno tão rigoroso que foi quase impossível adentrar a Quietude. Por pouco a Guardiã do
Discernimento não ouviu as histórias de dois homens que lhe pediram conselho, pois tinha que diferenciar
quando tremia de frio e quando os calafrios provinham da comunicação não verbal dos filhos da Tribo dos
Homens. Durante o tempo em que os três estiveram juntos, a Anciã ouviu com atenção, sentindo a urgência
e a impaciência nos pensamentos e intenções não ditas. As visões eram tão divergentes que os tornavam
incapazes de entender a versão do outro. Depois de refletir bastante, a Guardiã pediu a eles que retornassem
no próximo sol.

Depois que eles saíram, ela ficou confusa com os relatos e incomodada com o frio que tomou parte de sua
atenção. Sentou-se, fitando as chamas da fogueira, sentindo o calorzinho agradável, e expandiu-se para além
das fronteiras da gruta, seguindo o sussurro da neblina que delimitava suas percepções. A voz foi ficando
mais clara, uma luz começou a emergir da escuridão do Vazio, e ela foi atravessando as fronteiras da
percepção e do seu corpo físico. Aquela que Ouve alcançou um estado de despertar da consciência tão
grande que descobriu a voz de sua Orenda guiando-a em direção ao seu verdadeiro Self4. Aquela luz que
começou a emergir da escuridão era a Eterna Chama do Amor, que a carregou até a voz de sua Orenda,
onde sentiu as batidas do seu coração em harmonia nutrida por Pacha. Alí não havia lugar para a discórdia,
apenas o desejo de que cada ser humano pudesse compartilhar da plenitude da criação que crescia dentro
dEla. Naquele momento, sua Orenda respondeu que ela estava experimentando uma bênção com
generosidade do espírito e que, enquanto cada ser humano que andava pelo planeta não percorresse os
caminhos internos que ela já havia trilhado, isso não seria possível. Aquela que Ouve perguntou se havia
algo que ela pudesse fazer para que os Filhos da Mãe Terra pudessem ser direcionados àquela plenitude.
Orenda orientou-a a ensiná-los como ouvir as vozes de suas respectivas Orendas. Conclame o Falcão, cuja
atribuição é ser mensageiro das palavras de sabedoria e ajudar os Duas-Pernas a ouvir. Que a lição da
paciência venha da Formiga, enquanto a sabedoria do Tatu ensina a manter sentimentos e problemas dos
outros fora dos espaços sagrados, usando limites. Mostre aos humanos a medicina do Coelho, que ensina a
não dar ouvidos a medos irreais. Apresente a medicina do Sabiá, que lembra e repete tudo que ouviu.
Conclame o Furão, cuja lição é encontrar respostas usando dedução e razão. Permita que o Porco-espinho
lhes ensine a ter fé e inocência. E eles terão que realizar suas próprias caminhadas em suas conexões com o
Grande Mistério. E, assim, a Matriarca entendeu que havia completado seu último rito de passagem. Seu
desafio seria ensinar os Duas-Pernas a ouvir as mensagens que receberem. Foi então que ela se lembrou das
habilidades das Focas e dos Leões Marinhos, que observam suas emoções e sentidos para descobrirem todas
as facetas de si mesmos. Se os Filhos da Mãe Terra confiarem em suas percepções e tiverem o discernimento
necessário para ouvir a verdade, conseguirão aprender todos os níveis dessa habilidade até alcançarem suas
próprias Orendas.

4 Self– Trata-se de um termo da psicologia. Entende-se por self aquilo que define a pessoa na sua individualidade e
subjetividade, isto é, a sua essência. O termo self pode ser traduzido em português por "si" ou por "eu", mas a tradução
portuguesa é pouco usada, em termos psicológicos. (Fonte: Infopedia).

Página 3
Assim que sua Orenda se calou, Aquela que Ouve escutou os murmúrios da brisa aos seu redor, as vozes
dos ancestrais no vento da mudança, sussurrando para quem pudesse ouvir.

“Agora é hora de voltar para o Búfalo Branco5. É tempo de deixar de lado os medos e juntar-se a nós na
jornada pela integralidade e unicidade. Filhos, chamou a Avó que pode ensinar a harmonia e paz interior do
coração. Aquela que Ouve escutou e prontamente atendeu ao chamado, sentindo-se pronta para repassar
os ensinamentos. Em Tiyoweh nós esperamos, mas te enviamos a trilha de Harmonia para que possa retornar
ao seu Lar.”

Aquela que Ouve permaneceu em Quietude e Ouviu.

O tempo para que os Filhos da Mãe Terra pudessem ouvir e alcançar a integridade espiritual, finalmente
havia chegado.

Oração do Búfalo

Búfalo...
Você nos permite reconquistar
Os dons da vida.

Ouça nossas preces,


Que se elevam da fumaça.
Assim como a Fênix,
Nós podemos renascer
Através das Palavras Sagradas.

5O Búfalo Branco, segundo a tradição dos índios Lakota, representa oração e abundância. De todos os animais
sagrados é o mais sagrado, pois sua aparência é sinal de que as preces foram respondidas, de que o cachimbo sagrado
foi louvado, e de que todas as promessas e profecias foram cumpridas. A cura do Búfalo é realizada por prece, louvor
e gratidão pelos inúmeros dons que nos foram concedidos. (fonte: Jamie Sams & David Carson – A descoberta do
poder através da energia dos animais).

Página 4

Você também pode gostar