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Filosofia da Arte

Ao longo da evolução histórica da humanidade, o termo “estética” tem adquirido


um papel de extrema relevância, devido de ela se aplicar em diferentes contextos e, para
além disso, ser usada para a captação da atenção dos indivíduos, com o objetivo de os
levar à contemplação e à reflexão sobre aquilo que lhes é mostrado. Dentro da questão da
estética, ainda se deve salientar o facto de que ela não é apenas uma sensação, mas
também um estudo de todos os componentes que intersetam os objetos, a realidade, o belo
com as experiências decorrentes da observação crítica dos mesmos. Assim, a estética
estabelece-se como uma disciplina que pretende estudar e efetuar conclusões sobre todos
os elementos naturais, artísticos e imaginários, no entanto, ainda existem subdivisões
dentro desta mesma disciplina, como é o caso da filosofia da arte. Enquanto a estética
pretende refletir sobre todos os pequenos fragmentos da nossa imaginação e da nossa
realidade respetivos à observação, a filosofia da arte já apresenta um campo mais restrito,
uma vez que ela tem como principal finalidade a contemplação daquilo que é o “artístico”.

Antes de passar para um entendimento mais específico da filosofia da arte, é


importante esclarecer o conceito de “experiência estética” devido ao facto de que consiste
na forma como um determiando sujeito se comporta perante determiandos objetos que
lhe oferecem um momento de contemplação e de configuração individual do pensamento
do mesmo. Desta forma, existem três tipos de elementos com os quais podemos vivenciar
uma experiência estética: os seres e as coisas da natureza, uma obra de arte e o processo
de uma criação artística. Com efeito, a partir do momento que existe uma contemplação
de uma paisagem ou um fenómeno pertencente à natureza, isso poderá causar no
indivíduo diversos sentimentos e sensações, como admiração, caos, nojo, felicidade, que
serão assimilados, inicialmente, através dos sentidos que contém as informações do
objeto e, consequentemente, refletidas nas intuições afetivas do sujeito. Porém, essa
mesma contemplação também pode derivar de uma obra de arte, que se encontra ligada
com o primeiro caso da experiência estética, uma vez que ela constitui uma forma de
expressão da beleza natural antes contemplada e apreciada pelo próprio artista que a
decidiu iniciar. Desta forma, ela conta com a criação de diversos simbolos e linguagens
visuais e artísticos, com o objetivo de criar um canal de comunicação com o próprio
espetador que a contemplará. Por último, também é importante realçar a existência de
uma realidade transfigurada dentro da perspetiva das obras de arte e dos próprios
processos de criação artística, uma vez que a mesma consegue distanciar o indivíduo da
vulgaridade e da monotonia do seu dia a dia, induzindo a um tipo de contemplação e,
consequentemente, de experiência mais ligada ao inconsciente e ao imaginário.

Segundo Kant, no seu livro “Crítica da Faculdade do Juízo”, ele apresentou uma
das definições mais comuns para o “belo” e para a “experiência estética”, associando-os
ao prazer desinteressado resultante da contemplação humana, quer seja perante a
natureza, quer seja perante uma obra de arte. A questão do prazer desinteressado consiste
no facto de que é uma experiência ou um momento puramente contemplativos, não
existindo qualquer tipo de fim prático. Por exemplo, um indivíduo pode observar um
quadro, porque o considera belo, mas ele não quer tomar o mesmo para si mesmo, apenas
o quer apreciar na sua essência mais autêntica. Como contraexemplo, é possível
denominar atividades com interesses utlitários, como por exemplo, um indivíduo compra
uma peça de roupa, com o objetivo de a utilizar e satisfazer uma necessidade. Na
perspetiva de Kant, a contemplação do belo deve possuir uma finalidade não prática, mas
sim uma finalidade e um valor em si mesma, não estando dependente da existência
material de um objeto, mas da sua essência. Desta forma, na perspetiva de Kant, a beleza
deve ser concebida como um fim em si mesma.

Dentro da perspetiva da filosofia da arte, podem existir dois tipos de vertentes que
já foram definidos, primeiramente, na Grécia Antiga e, atualmente, são reavaliados e
refundamentados: o objetivismo e o subjetivismo estéticos. Antes de enumerar as
diferentes características que compõe o objetivismo estético, é necessário perceber a
origem deste conceito, bem como entender as razões pelas quais a beleza decorrente da
arte constitui algo independente ao olhar do ser humano, admitindo-se como premissa
principal a existência de uma verdade absoluta dentro deste universo. Já na Grécia Antiga,
Platão, um dos filosófos mais conceituados e também conhecido como discípulo de
Sócrates, já defendia esta ideia através da sua famosa teoria das ideias, que pretende
conciliar as virtudes com o conhecimento e a arte. Com efeito, esta teoria pressupõe a
existência de que existem dois tipos de mundos, o mundo inteligível e o mundo sensível.

Dentro do mundo inteligível, ou seja, o mundo verdadeiro, perfeito e cheio de


virtudes, existem as Ideias que são objetos de conhecimento muito importantes para que
exista uma avaliação das coisas que existem no mundo sensível, ou seja, o mundo em que
o próprio ser humano habita, aquele que é marcado pela maldade, a corrupção e a
violência. Desta forma, as Ideias constituem as Ideias de Bem e de Belo supremos,
assumindo-se como realidades verdadeiramente virtuosas e puras, servindo de meras
cópias deturpadas das ideias e dos valores existentes no mundo sensível. As Ideias são
belas porque elas participam das virtudes e da beleza em si mesmas, sendo, segundo a
perspetiva de Platão, absolutas, intemporais e imutáveis, estabelecendo-se a sua ascensão
através da purificação e da libertação da alma em relação ao corpo que forma uma prisão
e um meio de vícios e de defeitos.

Consequentemente, por existir uma Ideia da Beleza Absoluta, para Platão, isso
não significa que ela possa ser encontrada na arte através das suas propriedades
integrantes e independentes da crítica do ser humano, uma vez que o Belo se estabelece
como uma ideia tão intocável das virtudes e da moral que acaba por ser impossível
encontrar o mesmo em obras de arte, pelo facto de as mesmas serem apenas cópias
deturpadas do mundo das Ideias e das Formas. Com efeito, pelo motivo de a arte se
encontrar no mundo sensível, Platão nega a existência de qualquer tipo de belo objetivo
ou absoluto num mundo tão degenerado e descarado da verdadeira prudência moral e
intelectual. Assim, Platão foi um dos primeiros defensores da arte como imitação de uma
imitação, uma vez que os objetos no mundo sensível já são cópias dissolutas daqueles do
mundo inteligível e, a partir do momento que esses mesmos objetos são transpostos para
a arte e os processos artísticos, logo existe uma dupla imitação e, como consequência,
disso, negação da arte, perspetivando-a como um guia de má conduta por tentar copiar e
relativizar a verdadeira essência do belo.

Também existe outra perspetiva diferente daquela apresentada por Platão sobre o
objetivismo estético, logo é possível identificar, por exemplo, a visão do Monroe
Beardsley, um famoso filosófo americano da arte, que defendia a existéncia de
propriedades objetivas nas obras que são capazes de diferenciar aquilo que é belo e aquilo
que não o é. Desta forma, a partir do momento que existe uma avaliação da obra de arte,
é necessário adotar um ponto de vista estético baseado em juízos que são emitidos,
traduzindo-se nas seguintes razões: a genética, a afetiva e a objetiva. Tendo em conta os
motivos genéticos, eles pretendem sustentar as origens e as causas que se encontram por
detrás de determinada obra enquanto, por exemplo, as razões objetivas referem-se às
próprias técnicas e características internas da mesma. Por último, ele também identifica
as razões afetivas como um fator determinante sobre os efeitos psicológicos que
determinada obra pode causar no sujeito. Apesar de Beardsley reconhecer a existência
destes juízos como origem das razões para a consideração do belo numa obra de arte, ele
rejeita as genéticas e as afetivas por estarem relacionadas com as intenções e os
sentimentos do artista, apenas aceitando como válidas as propriedades objetivas que, para
ele, se traduzem em três funções distintas: a unidade, a complexidade e a intensidade.
Estas características que ele reconhece como objetivas na avaliação de uma obra de arte,
na verdade, devem se encontrar inerentes à essencia e à existência de qualquer objeto
contemplado.

Por outro lado, também existe a perspetiva do subjetivismo estético em que um


dos seus maiores defensores era precisamente Hume. Ele escreveu num ensaio intitulado
“Sobre o Padrão de Gosto” o facto de que a arte não se pode reduzir a propriedades
objetivas que se encontram no próprio objeto, mas sim aos seus fatores agradáveis que
geram sentimentos por parte do recetor. Para Hume, os juizes estéticos, ao contrário dos
objetivistas, deveriam ser particulares àqueles que contemplam as obras, ou seja, o que
importa será o sentimento dos indivíduos perante as mesmas. Também ainda se deve
salientar o facto de que Hume defendia veementemente o empirismo, ou seja, uma
filosofia decorrente da experiência, reforçando, assim, a existência de diversas culturas,
gostos, preferências e opiniões, com o objetivo de justificar a subjetividade da arte. No
entanto, apesar da sua relativização da beleza, Hume admite que não se deve reduzir tudo
ao subjetivismo radical e, com a finalidade de erradicar esse conceito, ele introduz um
princípio geral relativo da arte que é o padrão de gosto. Ao contrário das verdades
absolutas observadas no objetivismo estético, Hume admite que o padrão de gosto não
pode seguir esse tipo de imutabilidade, definindo-o como um determinado modelo em
que as pessoas, segundo a sua natureza, as suas virtudes, os seus sentidos e a sua
consciência, podem tender a gostar de coisas parecidas. Hume justifica a existência de
um padrão de gosto na sociedade através das características pessoais, do grau de
sensibilidade, dos costumes, dos hábitos, da história, das culturas e das preferências.
Desta forma, Hume classifica o fator histórico como determinante para a perduração no
tempo de algo esteticamente belo ou não. Por exemplo, os quadros de Salvador Dalí, as
composições musicais de Chopin e os filmes de Hitchcock perduram no tempo,
atravessam gerações e são apreciados por um conjunto de pessoas que, segundo Hume,
fazem parte do padrão de gosto.

Retomando a questão da satisfação desinteressada de Kant, também é possível


observar nesse conceito que ele criou um certo tipo de corrente pertencente ao
subjetivismo em relação ao belo. Com o próprio uso da palavra “desinteresse”, Kant
pretende afirmar que não pode existir qualquer tipo de fim prático para a contemplação
de uma obra, ou seja, o ser humano apenas a pode apreciar pelo valor do seu prazer ou do
seu desprazer. Assim, surge, para Kant, a distinção entre aquilo que é belo e aquilo que é
agradável, uma vez que ele associa a agradabilidade das coisas a uma sensação de bem-
estar, mas, no entanto, isso não significa que a beleza esteja necessariamente presente
nesse conceito, não fazendo parte da essência do termo “agradável”. Por exemplo, um
indivíduo pode assistir um filme de super heróis e sentir alegria com o mesmo, no entanto,
essa sua sensação não significa, de facto, que aquele filme foi bem produzido. Desta
forma, Kant admite a existência de um interesse pessoal, ou seja, um conceito com uma
significado mais subjetivo para justificar determinadas sensações e sentimentos existentes
na contemplação de uma obra. No entanto, como já foi anteriormente mencionado, Kant
estabelece essa diferença entre o belo e o agradável, com a premissa de que o termo “belo”
deve ser aquilo que agrada universalmente sem a existência de qualquer tipo de conceito.
Através de uma divergência de significados, Kant afirma que aquilo que é belo não
significa algo absoluto e comum a todos os seres humanos, mas, ao mesmo tempo,
também não se pode reduzir a uma mera inclinação pessoal que não aspira ao
reconheciemento de muitos indivíduos. Desta forma, a aspiração à universalidade,
reconhecida no conceito de “belo” por Kant, consiste na necessidade de que a satisfação
ocorrida pela contemplação de uma obra se manifeste e, até mesmo, seja experimentada
por outras pessoas, afirmando ainda o facto de que a satisfação sem o próprio interesse
não deve surgir do objeto, mas da sua representação.

Apesar da diversidade de opiniões relativas aos próprios conceitos de arte e de


belo, é possível identificar o facto de que, ao longo da história da humanidade, foram
criados diversos critérios e argumentos que, consequentemente, se transformariam em
teorias da arte. No entanto, não existe uma teoria universalmente aceite por todos os
filosófos e os artistas, ou seja, existem várias que tentam se adequar ao valor estético
daquilo que já fora apresentando dentro do âmbito da arte.

Em primeiro lugar, é possível identificar a teoria da arte como imitação que, como
já foi anteriormente mencionado, foi defendida por filósofos como o Platão e o
Aristóteles. Como Platão apenas contemplava a verdadeira essência das coisas no mundo
inteligível, ele também aceitava que tudo que estivesse no mundo sensível fosse uma mera
cópia daquilo que já tinha sido idealizado através das Formas e das Ideias, logo o artista
apenas fazia uma imitação de uma imitação de algo que já existia. Para além da conhecida
posição de Platão, Aristóteles também considerava que qualquer tipo de arte poderia ser
considerada uma imitação, como por exemplo, o ato de escrever um livro poderia
traduzir-se na imitação de ações humanas transpostas para o mesmo. Desta forma,
Aristóteles deixa claro que existem formas pelas quais a arte se estabelece como uma
imitação, como é o caso dos meios que ela usa (formas, cores linhas e traços), os objetos
que imita (as pessoas, os produtos, as coisas vulgares) e a forma como os imita (diferentes
narrativas de linguagem). Apesar da perspetiva destes dois filósofos, ainda são
importantes de realçar as críticas estabelecidas à mesma. Por exemplo. Hegel, um filósofo
alemão conhecido pela sua famosa dialética, já contrariava a redução da arte a uma mera
imitação da vida, uma vez que ela não só oferece ao recetor as habilidades e as técnicas
do artista, mas também um produto criativo capaz de se propor como algo que vai mais
além dos objetos ou da existência materiais. Também existe outra crítica relevante sobre
a teoria da arte como imitação devido ao facto de que existem obras de arte que pretendem
traduzir a transfiguração do real, ou seja, o épico, o imaginário, o inconsciente, logo essas
mesmas obras, que são estimadas de grande valor artístico, não são incluídas nesta teoria,
o que acaba por gerar uma contradição sobre ela.

Também existe a teoria da arte como expressão que pretende privilegiar a própria
emoção estética que é desencadeada pela obra de arte. Desta forma, a arte deve ser
contemplada como uma forma de gerar sensações e sentimentos não só no seu recetor,
mas também no próprio artista durante o seu processo de criação. Liev Tolstoi, um famoso
escritor russo conhecido pelos seus livros: “Guerra e Paz” e “Anna Karenina”,
considerava que a arte se estabelecia como um atividade fundamental para a formação e
a expressão de emoções, uma vez que a mesma estabelece uma comunicação com os seus
recetores, através da sua linguagem e da sua mensagem. Consequentemente, ela também
serve de meio para outras pessoas se relacionarem e se comunicarem entre si, com o
objetivo de partilharem as suas críticas, reflexões e emoções perante uma determinada
obra. Para além de ser um meio de transmissão de emoções, é necessária a existência das
emoções do artista no processo criativo da sua obra, porque a transparência nas emoções
é fundamental. Como consequência disso, o espetador é levado numa jornada de
sensações e sentimentos pelos quais a singularidade da emoção do artista também se
mostra autêntica e verdadeira, logo poderá se concretizar uma conexão entre os três
meios: o recetor, o artista e a obra. No entanto, esta teoria, veementemente defendida por
Tolstoi, parece apresentar diversas falhas devido ao facto de ela reduzir o processo
artístico a apenas uma manifestação da emoção enquanto existem outros fatores que o
movem, como é o caso das técnicas, das propriedades e das habilidades do artista. Para
além disso, a emoção que motivou o artista a realizar a sua obra pode ser diferente daquela
que ele sentiu durante o próprio processo de criação, não existindo uma coincidência entre
os diferentes estados psicológicos do mesmo. Também se pode levantar a questão sobre
a veracidade dos sentimentos experienciados pelo recetor, uma vez que ele pode exprimir
algo que não o conecta com a obra de arte, nem com o próprio artista, logo a experiência
decorrente apenas da emoção torna-se um insucesso.

Segundo o crítico de arte Clive Bell, a teoria formalista da arte assenta-se no facto
de que as verdadeiras obras de arte decorrem das qualidades pelas quais se baseiam na
forma significante. Com efeito, é necessária uma relação existente entre as partes, ou seja,
a existência da harmonia interna das características da mesma. Consequentemente, a
forma significante consiste na combinação entre as linhas, as cores e as formas,
representando os objetivos e as finalidades da obra. Ela ainda se caracteriza como algo
indefinível devido ao facto de ser reconhecida de modo intuitivo pelos críticos de arte.
No entanto, esta teoria parece apoiar-se num argumento circular, uma vez que tudo o que
resulta da emoção estética é produzido pela produção da própria emoção estética e vice-
versa, cometendo, assim, uma falácia fatal para a concretização desta teoria. Para além da
falácia cometida por esta teoria, as características decorrentes da forma significante ainda
são aplicadas numa perspetiva de semiótica já que a mesma usufrui e estuda a forma como
a emoção estética pode ser desencadeada pelas relações entre os ícones, os traços, as
tonalidades dentro da estrutura de uma obra.

Também se deve salientar, por último, a teoria institucial da arte que pressupõe o
facto de que todas as obras de arte constituem artefactos e, a partir do momento que esses
objetos são expostos numa galeria, eles já podem ser considerados como obras. Para além
disso, outro dos aspetos que envolve esta teoria está relacionado com o facto de que
apenas podem obter o estatuto de obras de arte a partir do momento em que existe uma
autoridade que lhes possa atribuir esse título. Porém, esta teoria apresenta diversas
críticas, uma vez que, tendo em conta os seus aspetos, ela acaba por reduzir a avaliação
de uma obra de arte a apenas opiniões e reflexões de críticos, que pode existir
discordância entre os mesmos. Para além disso, outra objeção decorre do facto de que
nem todos os artefactos podem ser considerados obras de arte, uma vez que os artistas
procedem a vários tipos de métodos para que a sua arte não se baseie apenas em razões
puramente arbitrárias. Em suma, desde as origens da criação e do estudo da estética, ela
transformou-se em diversas áreas que permitem a sua problematização, acabando por
influenciar outras disciplinas que, posteriormente, surgiram, como é o caso da semiótica
e da semiologia, que usufruem não só das imagens, mas também das interpretações dos
seus signos presentes em qualquer forma de representação visual existente na atualidade.

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