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AUTOR:
“No entanto, até agora só podemos concluir exatamente o que foi dito e nada
mais: que o reconhecimento de uma tal norma é condição necessária para a
atividade argumentativa. Disso não se segue, porém, que tal norma é, de
fato, válida. Quero dizer, verificar que é praxeologicamente necessário
pressupor uma determinada norma como válida (isto é, como correta,
verdadeira, legítima, deontologicamente justa) para realizar a ação
argumentativa não é suficiente nem necessário para concluir que tal norma
é, de fato, válida.”
SCHEFFEL:
Com o intuito de apresentar com clareza e simplicidade os argumentos do
autor, assim como os meus contra-argumentos, permito-me extrair do texto dele
uma série de proposições que guarnecem todo o poder semântico que o autor
comunica, sem que haja qualquer modificação em seu raciocínio lógico.
SCHEFFEL:
Sempre que o conteúdo de uma proposição contradiz uma de suas
condições necessárias, isto é, uma de suas pressuposições do ato de propor
essa proposição, acontece uma contradição performativa [1]. Nesse parágrafo, é
reconhecido pelo autor que, de fato, quem propõe uma refutação para uma
proposição que é condição necessária para a própria refutação entra em uma
contradição performativa. No entanto, o argumento é o de que a contradição
performativa não tem nada a ver com o valor-verdade da proposição, e ela
apenas denota uma simples incompatibilidade entre a preferência subjetiva
(juízo de valor contingente) e o conteúdo da proposição. Ou seja, a contradição
performativa não é uma justificativa suficiente para que tomemos a proposição
como verdadeira.
AUTOR:
“Nas contradições da lógica proposicional, o resultado é sempre falso, o
que é facilmente verificável numa tabela verdade, por mais que não seja
necessário, uma vez que proposições contraditórias são falsas por
definição. Tem-se duas proposições, ambas as quais não podem ser
verdadeiras simultaneamente, nem falsas ao mesmo tempo. Se uma delas é
verdadeira, a outra precisa, necessariamente, ser falsa, pois, do contrário,
todo o alicerce da lógica formal estaria destruído. Isso é o mesmo que dizer
que há uma relação de disjunção exclusiva entre elas, pois ou uma é verdadeira,
ou a outra é verdadeira (se uma é verdadeira, a outra é “excluída” de poder
conter este valor verdade, por isso disjunção “exclusiva”). Kant fala sobre a
existência de juízos disjuntivos, na Analítica Transcendental, em seu livro Crítica
da Razão Pura. Segundo ele, o juízo disjuntivo encerra uma relação de duas ou
mais proposições, porquanto a esfera de uma exclui a da outra, isto é, se se
exclui conhecimento de uma, então necessariamente se adiciona à outra, e se
se adiciona conhecimento a uma, então se exclui da outra. Há, pois, num juízo
disjuntivo, certa comunidade de conhecimentos, que consiste em se excluírem
reciprocamente, constituindo no todo o conteúdo de um só conhecimento
dado.[7]
SCHEFFEL :
O autor afirma que proposições contraditórias são falsas por definição, e,
se uma proposição é verdadeira, e a negação dessa proposição também é
verdadeira, então todo o alicerce da lógica formal estaria destruído. É evidente
que os princípios que regem e que dão vida à essas afirmações que tomamos
como evidentes e óbvias são os Princípios da Lógica, mais especificamente o
Princípio da Não-contradição.
A única coisa que deixarei clara aqui, por enquanto, é a de que o autor
não forneceu nenhuma prova ou justificativa em relação ao Princípio da
Não-contradição ao qual faz uso em todo o seu discurso, como se o seu caráter
de questionamento, a necessidade de existir uma justificativa que não é a
contradição performativa, fosse extremamente eficaz e destrutivo contra a Ética
Argumentativa, mas ele não é direcionado para a própria base que o autor utiliza
para fornecer argumentos. Não irei extrair proposições deste parágrafo pois não
sou contrário ao que foi dito.
AUTOR:
o entanto, em se tratando de uma contradição performativa, não
“N
temos mais duas proposições, como na lógica formal. Temos, agora, uma
proposição e uma condição pressuposta, de maneira que quando uma entra em
conflito com outra, a contradição prática se dá. Assim, se eu pressuponho que
tenho direito de autopropriedade, bem como meu interlocutor, e afirmo, numa
argumentação, que não há problema em agredir pessoas, ocorre aí uma
contradição performativa, uma vez que o conteúdo da minha asserção (a
permissividade da agressão) contradiz um pressuposto que eu escolhi assumir
ao argumentar (a pressuposição da validade da norma de propriedade). ...“
SCHEFFEL :
Nesse parágrafo, é dito que, quando se trata da contradição performativa,
não temos mais as duas proposições, uma inversa à outra, como na contradição
da lógica formal, porque o indivíduo não mais afirma “A e não A”, mas sim “A e
B”. É também utilizadas palavras que podem levar o leitor ao entendimento
errado de que “eu escolho assumir um pressuposto” e, além disso, “eu escolho
argumentar”. Na realidade, levando em conta que o autor concorda que o
reconhecimento da autopropriedade é condição necessária da atividade
argumentativa, se há a escolha de argumentar, se há a escolha de engajar-se na
atividade de comunicação argumentativa, então há a necessária e inconteste
aceitação da pressuposição, afinal ela é condição necessária da atividade
argumentativa. Eu não poderia argumentar sem assumir e pressupor a condição
necessária.
AUTOR:
“Porém, se tentarmos formalizar esta contradição, ver-nos-emos presos
em um problema. Se r é o reconhecimento da norma de propriedade como
válida (o que pode ser “convertido” para a proposição “eu reconheço a
norma de autopropriedade como válida”) e s é a afirmação de que é
permitido agredir, então se ocorre uma contradição performativa, ou r ou s
está errado, enquanto o que restar está correto.”
SCHEFFEL:
Neste parágrafo, o autor tenta realizar uma formalização da contradição
performativa, definindo o pressuposto da atividade argumentativa como a
proposição r, e uma proposição qualquer, arbitrária, chamada s. Na forma da
seguinte proposição:
AUTOR:
“ r:= “Eu reconheço a norma de autopropriedade como válida”
s:= “É permitido agredir”
Dada a contradição performativa, tem-se que (r ⊻ ¬s) ↔ (¬r ⊻ s).
Se há uma disjunção exclusiva (operador XOR, para quem está familiarizado
com programação) entre ambas as proposições, então é necessário que uma
seja verdadeira enquanto a outra seja falsa. Não há como ambas serem
verdadeiras nem ambas serem falsas, pois o valor-verdade de ambas deve ser
diferente, dada a própria natureza do operador lógico. É a violação disto o que
caracteriza uma contradição. D essa forma, caso tal contradição fosse
logicamente válida, chegaríamos à conclusão de que ou eu reconheço a
norma de autopropriedade como válida, ou é permitido agredir. Porém, se
isso fosse verdade, então seguiria, logicamente, que s e eu não reconhecer a
norma de autopropriedade como válida (¬r), então é permitido agredir (s).
Já ouvi alguns libertários dizerem que isto está correto (que não há obrigação
em seguir a ética a não ser que se demonstre preferência em segui-la [o que
seria um imperativo hipotético], e que isso seria amparado com o fato de que
não seria possível argumentar que tal agressão é válida, ou que uma punição
não seria justificável [vide princípio de estoppel]). Porém, como o Hoppe não
admite isso, não assumirei isso como fazendo parte de sua teoria. Quero apenas
que repare que o que está em jogo são as proposições “eu reconheço a norma
de autopropriedade como válida” e “é permitido agredir“, de maneira que a
única que tem relação com a validade da norma é a segunda, uma vez que
a primeira diz respeito a um estado de reconhecimento subjetivo do
indivíduo. É o valor verdade da segunda proposição que nos dirá se a
norma de propriedade é válida ou não. Se a segunda proposição for
verdadeira, então a norma de propriedade é inválida, pois é permitido infringi-la
(o que não deve acontecer em uma ética deontológica). Já a primeira
proposição, ela só nos pode oferecer informações acerca do que o
indivíduo reconhece como verdadeiro, o que é algo contingente, pois ele
poderia simplesmente não reconhecer a norma como válida, como quando
o faz numa agressão.”
SCHEFFEL :
Neste parágrafo, o autor utiliza a ética argumentativa e a contradição
performativa de forma confusa para formar um argumento de que o valor
verdade de uma proposição, “é permitido agredir” está intimamente relacionado
com o valor verdade de uma outra proposição “Eu reconheço a norma de
autopropriedade como válida.”, e vice-versa. Dessa forma, como reconhecer
uma proposição como válida depende de um juízo de valor, então, se o indivíduo
julgasse que ele não reconhece a norma de autopropriedade como válida, então
automaticamente seria permitido agredir. O argumento pode ser resumido na
seguinte proposição:
Proposição 6 : “Caso a contradição performativa fosse logicamente válida,
chegaríamos à conclusão de que ou eu reconheço a norma de autopropriedade
como válida, ou é permitido agredir. Então, se eu não reconhecer a norma de
autopropriedade como válida (¬r), então é permitido agredir (s).”
AUTOR:
“O que quero dizer é que na disjunção exclusiva entre o reconhecimento
da norma e a validade da norma em si, um dos termos é absolutamente
contingente (o reconhecimento da norma). Isso quer dizer que tal norma pode
ser reconhecida ou não, o que é analítico, pois a própria norma pressupõe poder
não ser seguida (do contrário, seria um juízo descritivo, não normativo). Porém,
quando um lado da disjunção é verdadeiro, o outro precisa ser falso, e
vice-versa. Assim, o valor verdade de “é permitido agredir” fica totalmente
dependente do valor verdade de “reconheço a norma de autopropriedade como
válida“, e vice-versa, o que é absurdo, uma vez que esta proposição é
contingente e totalmente subordinada aos juízos de valor do indivíduo. Afirmar a
validade de tal disjunção, isto é, a firmar a validade epistêmica/lógica da
contradição performativa, é o mesmo que dizer que não é permitido agredir
caso você não queira agredir, e só é permitido agredir caso você queria
agredir, o que é uma aberração ética.”
SCHEFFEL:
É dito que o reconhecimento de uma norma como válida é contingente,
porque depende de um juízo de valor individual que é contingente, não
necessário. Portanto, se a contradição performativa for logicamente válida, o
valor verdade da proposição “eu reconheço a norma de propriedade” que pode
ser verdadeiro ou falso, dependendo do juízo do indivíduo, rege absolutamente o
valor verdade da proposição “é permitido agredir”, resultando no absurdo ético.
Isso pode ser resumido na proposição:
Respondendo os argumentos.
Proposição 1: “Uma proposição que é conditio sine qua non da atividade
argumentativa não é necessariamente uma proposição verdadeira.”