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Vida e revelações de Santa Gertrudes, a Grande

(com leitura suplementar Uma breve vida de


Cristo)
Santa Gertrudes, a Grande

Indice

Capa
Metade da pá gina de tı́tulo
Folha de rosto
Pá gina de direitos autorais
Oblaçã o
Carta da Direita Rev. Dr. Moriarty
Conteú do
Introduçã o
Propaganda
PARTE UM: A Vida de Santa Gertrudes
CAPITULO 1: Nascimento e ascendê ncia do Santo. Sua dedicaçã o
inicial a Deus. Dons intelectuais. Comunicaçõ es divinas a respeito
de sua santidade. Nosso Senhor declara que encontra descanso e
repouso em seu coraçã o. Deseja que uma pessoa santa o busque
ali.
CAPITULO 2: Santa Gertrudes prevê a eleiçã o de Adolphus de
Nassau. Acalma os medos das irmã s, que esperam sofrer uma
perda temporal. Sua eleiçã o como abadessa. Remoçã o para
Heldelfs. Revelaçõ es de sua santidade. Nosso Senhor aparece para
ela levando a casa da religiã o. Sua generosidade de espı́rito.
CAPITULO 3: O Santo obté m um clima favorá vel. Milagres
mencionados em seu escritó rio. Uniã o de sua vontade com a de
Deus. Aconselha outros. Nosso Senhor desejava que ela escrevesse
suas revelaçõ es. Sua santidade revelada a Sã o Mechtilde.
CAPITULO 4: Ela pede a St. Mechtilde para orar por ela. Nosso
Senhor está satisfeito com sua paciê ncia e brandura. Ele declara
que mora nela; e esconde suas imperfeiçõ es.
CAPITULO 5: A Santa como Abadessa. Ternura para com os
outros. Cuidar dos enfermos. Sua ú ltima doença. Valor do
sofrimento. Ela está proibida de renunciar ao cargo. Nosso Senhor
aceita como feito a Si mesmo o que é feito por ela. St. Lebuin.
CAPITULO 6: Suas ú ltimas palavras. Devoçã o ao Ofı́cio
Divino. Ternura para seus ilhos espirituais. Nosso Senhor aparece
para ela em sua agonia. Promete recebê -la como Ele recebeu Sua
Mã e Bendita. Os anjos a chamam para o paraı́so.
CAPITULO 7: Sua morte. De suas alegrias eternas. Nosso Senhor
consola suas religiosas. Revelaçõ es de sua santidade. Reza para
que seus religiosos sejam consolados em seu tú mulo. Suas
exé quias. Nosso Senhor abençoa seu tú mulo.
CAPITULO 8: Favores concedidos no sepultamento do
Santo. Almas liberadas por sua intercessã o. Como Nosso Senhor
juntou um lı́rio. De medo na ú ltima agonia. Purgató rio na
doença. E icá cia das oraçõ es pelos mortos.
CAPITULO 9: Feliz morte de outro religioso. Nosso Senhor
recompensa especialmente sua caridade para os
outros. Purgató rio na doença. Como Nosso Senhor puri icou um
religioso moribundo. E icá cia das oraçõ es pelos que partiram. Das
Missas pelos Mortos. Recompensa de fervor ao sofrer.
CAPITULO 10: Santa Gertrudes nã o canonizada
formalmente. Histó ria de seu culto. Bento XIV. Seu escritó rio
aprovado. Nome inserido no Martiroló gio. Lanspergius. Sua
histó ria. Prefá cio para Insinuationes. Apelo pelo sexo
feminino. Conclusã o.
PARTE DOIS: As Revelaçõ es de Santa Gertrudes
CAPITULO 1: A açã o de graças da Santa a Deus pela primeira graça
concedida a ela, pela qual sua mente foi retirada das coisas
terrenas e unida a Ele.
CAPITULO 2: Como a graça de Deus a iluminou interiormente.
CAPITULO 3: Do prazer que Deus teve em fazer morada na alma de
Gertrudes.
CAPITULO 4: Dos estigmas impressos no coraçã o de Gertrudes e
seus exercı́cios em homenagem à s Cinco Chagas.
CAPITULO 5: Da ferida do amor divino; e da maneira de banhar,
ungir e amarrar.
CAPITULO 6: Da uniã o ı́ntima do Menino Jesus com seu coraçã o.
CAPITULO 7: A Divindade está impressa na alma de Gertrudes
como um selo sobre cera.
CAPITULO 8: Da admirá vel uniã o de sua alma com Deus.
CAPITULO 9: De outra maneira admirá vel em que Santa Gertrudes
estava intimamente unida a Deus.
CAPITULO 10: Como o Senhor a obrigou a escrever essas coisas; e
como Ele a iluminou.
CAPITULO 11: Ela recebe o dom das lá grimas e é avisada das
armadilhas que o demô nio armou para ela.
CAPITULO 12: Com quanta bondade Deus carrega nossas faltas.
CAPITULO 13: Da necessidade de vigilâ ncia exata sobre os
sentidos e afeiçõ es.
CAPITULO 14: Diferentes exercı́cios pelos quais a alma é
puri icada.
CAPITULO 15: Quã o agradá veis as obras de caridade sã o para
Deus; e també m meditaçõ es sobre coisas sagradas.
CAPITULO 16: Da ternura inconcebı́vel que a Virgem mais gloriosa
tem por nó s.
CAPITULO 17: Das vestes com as quais devemos vestir Jesus e sua
mã e.
CAPITULO 18: Como Deus cuida de nossos defeitos. Instruçã o
sobre humildade.
CAPITULO 19: Como Deus se agrada em condescender com Suas
criaturas; e que gló ria Deus deriva daı́ dos bem-aventurados.
CAPITULO 20: De alguns privilé gios considerá veis que Deus
concedeu a esta virgem, e da graça que Ele prometeu a seus
clientes.
CAPITULO 21: Agradecimentos pela con irmaçã o dos favores
mencionados.
CAPITULO 22: Como Santa Gertrudes foi admitida à visã o de
Deus. Do beijo da paz e outros favores semelhantes.
CAPITULO 23: Recapitulaçã o dos dons já mencionados. A Santa
reclama de sua enfermidade e ingratidã o.
CAPITULO 24: Conclusã o deste livro.
PARTE TRES: As Revelaçõ es de Santa Gertrudes
CAPITULO 1: Nosso Senhor dá sua Mã e Santı́ssima a Santa
Gertrudes para ser sua mã e, para que ela possa recorrer a ela em
todas as suas a liçõ es.
CAPITULO 2: Adversidade é o anel espiritual com o qual a alma
está prometida a Deus.
CAPITULO 3: A consolaçã o humana enfraquece o que é Divino.
CAPITULO 4: Quã o vis e desprezı́veis sã o todos os prazeres
transitó rios.
CAPITULO 5: A renú ncia perfeita de Santa Gertrudes nas mã os de
Deus em todas as adversidades, e que mé rito ela adquiriu por
meio disso.
CAPITULO 6: A cooperaçã o da alma iel no Santo Sacrifı́cio. Cinco
favores sobre os quais o Santo desejava meditar, quando nã o podia
assisti-los.
CAPITULO 7: Com que con iança devemos recorrer a Deus em
todas as nossas necessidades e tentaçõ es.
CAPITULO 8: Da e icá cia das oraçõ es pelos outros.
CAPITULO 9: Dos admirá veis efeitos da Comunhã o, e que nã o
devemos nos abster levianamente, mesmo por nossa indignidade.
CAPITULO 10: A indulgê ncia que Nosso Senhor concedeu a Santa
Gertrudes. Seu desejo ardente de se conformar em todas as coisas
com a Vontade de Deus.
CAPITULO 11: Como a alma pode buscar a Deus e se trans igurar
Nele de quatro maneiras.
CAPITULO 12: Reparaçã o pela queda de uma Hó stia, que se temia
ter sido consagrada.
CAPITULO 13: Do valor e e icá cia da con issã o. Como devemos
vencer as di iculdades que sentimos ao nos aproximarmos do
Sacramento da Penitê ncia.
CAPITULO 14: Os diferentes efeitos da caridade sã o explicados
pela comparaçã o de uma á rvore coberta por folhas, lores e frutos.
CAPITULO 15: Como as a liçõ es unem a alma a Jesus Cristo; e do
efeito de uma excomunhã o injusta.
CAPITULO 16: Uma visã o em que Santa Gertrudes viu Nosso
Senhor comunicando [dando a Comunhã o à s] irmã s.
CAPITULO 17: Como devemos nos preparar para receber o Corpo
de Jesus Cristo. Diferentes exercı́cios de piedade que Santa
Gertrudes praticava para com este augusto sacramento.
CAPITULO 18: A devoçã o de Santa Gertrudes à Mã e de Deus. Ela é
ensinada a invocá -la como o lı́rio branco da adorá vel Trindade e a
rosa vermelha do cé u.
CAPITULO 19: Como os louvores oferecidos aos santos podem ser
encaminhados a Deus.
CAPITULO 20: Como Deus deseja ser procurado pela alma que O
ama; e como Ele nos ama quando sofremos.
CAPITULO 21: O Santo recebe uma tripla absolviçã o e bê nçã o da
Santı́ssima Trindade, pelos mé ritos de Jesus Cristo.
CAPITULO 22: Favores concedidos ao Santo durante a recitaçã o do
Ofı́cio Divino.
CAPITULO 23: Da virtude abundante que lui do Coraçã o de Jesus
para a alma iel.
CAPITULO 24: Do sepulcro de Jesus Cristo na alma iel, e como
fazer um claustro espiritual no Corpo e Coraçã o de Jesus.
CAPITULO 25: Da uniã o da alma com Jesus Cristo, e como ela está
preparada, pelos mé ritos dos Santos, para ser uma morada
agradá vel para seu Deus.
CAPITULO 26: Do mé rito de uma boa vontade, e instruçõ es sobre
algumas palavras do Ofı́cio Divino.
CAPITULO 27: Por que Deus se agrada das imagens de Jesus
cruci icado.
CAPITULO 28: Da sede espiritual de Deus e da utilidade dos
sofrimentos.
CAPITULO 29: Quã o insidiosas sã o as armadilhas do demô nio,
especialmente quando cantamos.
CAPITULO 30: Que nossas oraçõ es sã o certamente ouvidas,
embora nã o percebamos seu efeito; e como suprir nossa
indignidade ao nos aproximarmos da Sagrada Comunhã o pelos
mé ritos de Jesus Cristo e Seus Santos.
CAPITULO 31: Das vantagens da comunhã o frequente e de receber
o santo viá tico.
CAPITULO 32: Como Deus corrige as negligê ncias passadas de
uma alma que O ama e remedia aquelas que podem ocorrer no
futuro.
CAPITULO 33: Sobre o valor e a importâ ncia da Comunhã o
espiritual.
CAPITULO 34: Sobre a utilidade de meditar na Paixã o de Nosso
Senhor e como Ele se oferece ao Pai Eterno em satisfaçã o por
nossos pecados.
CAPITULO 35: Do feixe de mirra e como devemos praticar a
paciê ncia nas adversidades, segundo o exemplo de Cristo.
CAPITULO 36: Essa devoçã o à Paixã o de Nosso Senhor promove a
uniã o com Deus.
CAPITULO 37: Dos cravos de cheiro adocicado que o Santo,
movido pelo amor, meteu nas feridas do cruci ixo em vez dos
cravos de ferro, e da gratidã o que Nosso Senhor deu por isso.
CAPITULO 38: Como podemos recordar a Paixã o de Cristo e
proclamar os louvores da Virgem Mã e de Deus, na recitaçã o das
Sete Horas Canô nicas.
CAPITULO 39: Que devemos dar algum sinal de nosso amor a Deus
apó s ocupaçõ es exteriores.
CAPITULO 40: Dos efeitos da oraçã o na adversidade.
CAPITULO 41: Oraçã o composta pelo pró prio nosso Senhor Jesus
Cristo, que Ele prometeu ouvir favoravelmente.
CAPITULO 42: Como os justos se deleitam em Deus e como Deus
tem prazer neles, especialmente quando eles entregam todos os
seus bons desejos a ele.
CAPITULO 43: De duas pulsaçõ es do Coraçã o de Jesus.
CAPITULO 44: Da maneira como devemos pedir a Nosso Senhor
para descansar ou dormir.
CAPITULO 45: De perfeita resignaçã o de nó s mesmos à Vontade
Divina.
CAPITULO 46: Do prazer sensı́vel que a alma encontra em Deus.
CAPITULO 47: Do langor causado pelo amor divino.
CAPITULO 48: Que a alma iel deve abandonar-se à Vontade de
Deus, para a vida e a morte.
CAPITULO 49: Do benefı́cio que podemos derivar de nossas faltas.
CAPITULO 50: Da renovaçã o dos Sete Sacramentos em sua alma e
da caridade fraterna.
CAPITULO 51: Da idelidade que só devemos esperar encontrar em
Deus e da graça da paciê ncia.
CAPITULO 52: O valor de uma boa vontade.
CAPITULO 53: Como podemos lucrar com o mé rito dos outros.
CAPITULO 54: Oraçã o composta pelo Santo.
CAPITULO 55: Nosso Senhor mostra a ela Seu Coraçã o.
CAPITULO 56: De caridade para com um irmã o errante.
CAPITULO 57: Para que o cuidado dos assuntos temporais e
deveres exteriores sejam aceitá veis a Deus.
CAPITULO 58: Pelo mé rito da paciê ncia.
CAPITULO 59: Da aversã o que Deus tem pela impaciê ncia. E como
é agradá vel para Ele que devolvamos graças por Seus benefı́cios.
CAPITULO 60: Que Deus se agrada de nó s quando estamos
descontentes conosco.
CAPITULO 61: Do efeito das oraçõ es pelos outros.
CAPITULO 62: Instruçõ es para diferentes pessoas em diferentes
estados de vida.
CAPITULO 63: Que a Igreja é representada pelos membros de
Jesus Cristo. Como devemos agir em relaçã o aos membros que
estã o enfermos e em relaçã o ao nosso Superior.
CAPITULO 64: Sobre a participaçã o espiritual dos mé ritos.
CAPITULO 65: Da utilidade da tentaçã o.
CAPITULO 66: Essa comunhã o frequente é agradá vel a Deus.
CAPITULO 67: Da maneira correta de exercer zelo.
CAPITULO 68: Que nem sempre recebemos o fruto de nossas
oraçõ es imediatamente.
CAPITULO 69: O valor da obediê ncia exata.
CAPITULO 70: Instruçõ es sobre diferentes assuntos.
CAPITULO 71: Da perda de amigos; e como devemos oferecer
nossas provaçõ es a Deus.
CAPITULO 72: Instruçõ es sobre vá rios assuntos.
PARTE QUATRO: As Revelaçõ es de Santa Gertrudes
CAPITULO 1: Com que devoçã o devemos nos preparar para
festivais. Vantagens de nos recomendarmos à s oraçõ es dos
outros. Nosso desfrute de Deus corresponde aos nossos desejos e
à nossa capacidade de recebê -lo.
CAPITULO 2: Instruçõ es para celebrar a Festa da Natividade.
CAPITULO 3: Para a Festa da Natividade. Apariçã o do Menino Jesus
e de sua Mã e Santı́ssima.
CAPITULO 4: Suas virtudes e a maneira de imitar Sua pureza.
CAPITULO 5: Do santo nome de Jesus; e a renovaçã o das nossas
boas intençõ es no inı́cio do novo ano.
CAPITULO 6: Das oblaçõ es que sã o aceitá veis a Deus.
CAPITULO 7: Santa Gertrudes recebe a absolviçã o de Nosso Divino
Senhor. Instruçõ es para a Sagrada Comunhã o.
CAPITULO 8: Apariçã o de Santa Inê s. Virtude das palavras que ela
proferiu em sua morte.
CAPITULO 9: Para a Festa da Puri icaçã o.
CAPITULO 10: Instruçõ es sobre como receber e se abster da
Sagrada Comunhã o.
CAPITULO 11: Instruçõ es sobre a arca de Noé ; um dia mı́stico
nisso.
CAPITULO 12: Devoçõ es para a é poca do Carnaval. Do valor e da
e icá cia do sofrimento.
CAPITULO 13: Quã o aceitá veis sã o as boas obras para Nosso
Senhor durante os trê s dias do Carnaval [Mardi Gras]; e como tais
obras obtê m mé rito pela uniã o com a Paixã o de Cristo.
CAPITULO 14: Como a alma é puri icada e embelezada pelos
mé ritos de Jesus Cristo.
CAPITULO 15: Da verdadeira maneira de realizar espiritualmente
as obras corporais de misericó rdia.
CAPITULO 16: Da oblaçã o dos mé ritos de Jesus Cristo pelos
pecados da Igreja.
CAPITULO 17: Como podemos obter uma participaçã o nos mé ritos
da Vida de Jesus Cristo.
CAPITULO 18: O Santo é instruı́do sobre como expiar os pecados
da Igreja.
CAPITULO 19: Da gló ria e prerrogativas de Sã o Gregó rio, e da
recompensa reservada para este Doutor da Igreja.
CAPITULO 20: A bem-aventurança e a gló ria desta Santa mostrada
a Santa Gertrudes. A recompensa particular reservada para
aqueles que observam ielmente a disciplina regular.
CAPITULO 21: Exercı́cios de devoçã o à Santı́ssima Virgem.
CAPITULO 22: Exercı́cios de devoçã o para aquele dia.
CAPITULO 23: Da Comunhã o espiritual e outros exercı́cios para
este dia sagrado.
CAPITULO 24: Para a quarta-feira da Semana Santa.
CAPITULO 25: De oferecer os mé ritos de Jesus Cristo para obter o
perdã o dos pecados da Igreja. Do Seu amor no adorá vel
Sacramento do Altar.
CAPITULO 26: O Santo é favorecido com um
arrebatamento. Exercı́cios sobre a Paixã o de Nosso Senhor.
CAPITULO 27: Como as almas sã o libertadas de suas dores. De boa
vontade. Como louvar a Deus no Aleluia.
CAPITULO 28: Que Deus leva uma conta exata de nossos mé ritos; e
como eles sã o enriquecidos pelos mé ritos de Cristo.
CAPITULO 29: Da renovaçã o das esposas espirituais.
CAPITULO 30: Que nada podemos fazer de bom sem a ajuda
divina.
CAPITULO 31: De oferecer nossas açõ es a Deus.
CAPITULO 32: Como devemos nos dispor para receber o Espı́rito
Santo.
CAPITULO 33: Das ladainhas e invocaçã o dos santos.
CAPITULO 34: Da doce memó ria de St. John. Como as imperfeiçõ es
das quais nos esquecemos de nos acusar na con issã o sã o
perdoadas por Deus.
CAPITULO 35: A maneira de saudar as Cinco Chagas de Nosso
Senhor.
CAPITULO 36: Do mé rito da condescendê ncia e compaixã o pelos
enfermos. E como devemos desejar o desprezo.
CAPITULO 37: Como devemos orar pelos justos, pelos pecadores e
pelas almas do purgató rio.
CAPITULO 38: Da renú ncia de nossa pró pria vontade. E certos
exercı́cios de piedade para este Festival.
CAPITULO 39: Como preparar-nos dignamente para receber o
Espı́rito Santo.
CAPITULO 40: Dos dons do Espı́rito Santo. E outros exercı́cios para
este dia.
CAPITULO 41: Como a oblaçã o da Hó stia Sagrada supre nossas
de iciê ncias. Exercı́cios para o Agnus Dei.
CAPITULO 42: Como a Hó stia Sagrada supre todas as nossas
negligê ncias e como o Espı́rito Santo se une em Comunhã o à s
almas santas.
CAPITULO 43: Como podemos glori icar a Santı́ssima Trindade
por nosso Senhor Jesus Cristo. E que obstá culos os afetos humanos
colocam ao nosso progresso.
CAPITULO 44: Apariçã o do Santo. Efeitos de sua intercessã o.
CAPITULO 45: Como podemos alimentar as ovelhas de Cristo
espiritualmente. Da intercessã o dos Apó stolos. E o fruto da
Sagrada Comunhã o.
CAPITULO 46: A gló ria deste Santo, e da recompensa que Deus
reserva para a menor boa açã o.
CAPITULO 47: De verdadeira penitê ncia e boa vontade.
CAPITULO 48: Vantagens da peregrinaçã o a Compostela. E como
podemos honrar os santos pela comunhã o.
CAPITULO 49: Da maneira de honrar e saudar a Santı́ssima
Virgem.
CAPITULO 50: O mé rito e a gló ria deste Santo.
CAPITULO 51: Da gló ria e virtude deste Santo. Dos mé ritos de Sã o
Francisco e Sã o Domingos.
CAPITULO 52: Exercı́cios para celebrar esta festa com
devoçã o. Com que poder a Santı́ssima Virgem protege aqueles que
a invocam; e como podemos suprir nossas negligê ncias em seu
serviço.
CAPITULO 53: Da exaltaçã o da Cruz. Do amor aos inimigos. Da
observâ ncia do jejum regular. Das verdadeiras relı́quias de Jesus
Cristo.
CAPITULO 54: Do iel cuidado que os anjos tê m de nó s e como
devemos honrá -los.
CAPITULO 55: Dos frutos da açã o de graças. Que Deus requer que
fruti iquemos Seus dons. E da Resposta Regnum mundi.
CAPITULO 56: Das diferentes ordens da Igreja Militante. Como
homenagear os Santos com açõ es de graças, para que possamos
participar de seus mé ritos.
CAPITULO 57: Como é agradá vel para os santos que devemos
louvar a Deus por sua causa.
CAPITULO 58: Do mecenato e mé ritos desta Santa.
CAPITULO 59: Para a dedicaçã o de uma igreja.
CAPITULO 60: Da presença e graça de Deus nos lugares santos. E
como os anjos suprem nossa obrigaçã o de louvar a Deus.
CAPITULO 61: De uma visã o maravilhosa em que o Santo viu
Nosso Senhor celebrando a Missa.
PARTE CINCO: As Revelaçõ es de Santa Gertrudes
CAPITULO 1: Como Sã o Mechtilde se preparou para a morte e
recebeu a Extrema Unçã o.
CAPITULO 2: Da feliz morte de Sã o Mechtilde e sua recompensa no
cé u. Dos mé ritos e intercessã o dos Santos. E como oferecer as
Cinco Chagas de Cristo para suprir nossos defeitos.
CAPITULO 3: Da morte preciosa das Irmã s M. e L. Do exato relato
feito no Purgató rio de suas faltas, e da recompensa de seus
mé ritos.
CAPITULO 4: Como uma desobediê ncia foi expiada por uma
doença.
CAPITULO 5: Da feliz morte da Irmã M. A aprovaçã o dessas
Revelaçõ es. E os favores prometidos por seus mé ritos.
CAPITULO 6: Da agonia e morte de MB, e de sua alma
abençoada. Como é salutar ajudar as almas do Purgató rio.
CAPITULO 7: Como as almas de G. e B. foram puri icadas por
negligenciar a Con issã o e por terem prazer nas coisas terrenas.
CAPITULO 8: Da feliz preparaçã o da irmã G. para a morte. Seus
desejos fervorosos e sua gló ria.
CAPITULO 9: As recompensas que o irmã o S. recebeu por sua
idelidade e benevolê ncia.
CAPITULO 10: Como o irmã o Hermann sofreu por obstinaçã o. E da
ajuda que pode ser obtida na outra vida pelas oraçõ es dos santos e
dos ié is.
CAPITULO 11: Como o irmã o John foi recompensado por seus
labores e punido por suas faltas.
CAPITULO 12: Como a alma do irmã o The: (sic) foi liberada por
oraçõ es em homenagem à s Cinco Chagas.
CAPITULO 13: O que o irmã o F. sofreu por indolê ncia e falta de
submissã o. A e icá cia da oraçã o fervorosa.
CAPITULO 14: Aqueles que perseveraram por muito tempo no
pecado nã o sã o facilmente bene iciados pelas oraçõ es da Igreja e
sã o libertados com di iculdade.
CAPITULO 15: Da oblaçã o da Hó stia. E de oraçõ es pelas almas dos
pais falecidos.
CAPITULO 16: Sobre o efeito do Grande Salté rio. Do zelo de Cristo
pela salvaçã o das almas. E como Ele está disposto a ouvir as
oraçõ es daqueles que O amam.
CAPITULO 17: Dos sofrimentos severos de um soldado. E a e icá cia
do Grande Salté rio.
CAPITULO 18: Explicaçã o do Grande Salté rio e das Sete Missas de
Sã o Gregó rio.
CAPITULO 19: A recompensa de orar pelos mortos. E a puniçã o de
desobediê ncia e detraçõ es.
CAPITULO 20: Do ardente desejo de morte que Nosso Senhor
acendeu na alma de Gertrudes.
CAPITULO 21: Como Gertrude orou pela morte.
CAPITULO 22: Das feridas do amor divino com que o Santo foi
paralisado.
CAPITULO 23: Nossos preparativos para a morte nã o sã o
esquecidos diante de Deus.
CAPITULO 24: Exercı́cios de preparaçã o para a morte. E devoçã o à
Santı́ssima Virgem.
CAPITULO 25: Como nosso Senhor Jesus e todos os santos
consolam as almas dos justos em seus ú ltimos momentos. E com
que amor Nosso Senhor se comunica aos seus eleitos no
Sacramento do Altar.
CAPITULO 26: Do doce repouso que o Santo desfrutou; e como ela
se satisfez com suas negligê ncias.
CAPITULO 27: Como a Santa supriu suas negligê ncias no serviço
da Bem-aventurada Virgem Maria.
CAPITULO 28: Como Gertrudes se preparou para a morte.
CAPITULO 29: Como Nosso Senhor autorizou este trabalho.
CAPITULO 30: Oblaçã o desta obra à Gló ria Divina. Conclusã o.
Notas
Contracapa
Uma coleçã o de obras de arte clá ssicas
Uma Breve Vida de Cristo
Capa
Metade da pá gina de tı́tulo
Mapa
Folha de rosto
Pá gina de direitos autorais
Conteú do
Introdutó rio
A con iguraçã o
Nascimento de jesus
Infâ ncia em Nazaré
John The Bapist
Jesus começa seu ministé rio
Jornada à Galilé ia
O Reino e os Apó stolos
Manifestaçõ es do Poder Divino
Falando em pará bolas
Aumentando a popularidade
Morte de Joã o Batista
Milagres dos pã es
O pã o da vida
Peter the Rock
Treinamento dos Doze
Visita a Jerusalé m
Choque com os fariseus
Ministé rio da Judé ia
A Declaraçã o Suprema
Ressurreiçã o de Lá zaro
Ultimos Dias Missioná rios
Banquete em Betâ nia
Domingo de Ramos
Segunda Limpeza do Templo
Dia de perguntas
Judas o Traidor
A ú ltima Ceia
Prisã o e Julgamento
Morte no Calvá rio
Ressuscitado e ainda vivendo
Sã o Benedito
Contracapa
Tan Classics
Torne-se um Missioná rio Tan!
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Livros Tan

Santa Gertrudes, a Grande


c. 1256 – c.1302
Gravado a partir da milagrosa pintura espanhola.

Palavras do Menino Jesus no coraçã o de Santa Gertrudes:


In corde Gertrudis invenietis me -
“No coraçã o de Gertrudes me encontrará s”.
Publicado pela primeira vez em inglê s em 1862. Reimpresso pela Newman
Press, Westminster, Maryland, em 1949, com o tı́tulo The Life and Revelations of
St. Gertrude . Reimpresso por Christian Classics, Inc., Westminster, Maryland,
em 1975, 1983, etc.

Redigite a partir da impressã o dos Clá ssicos Cristã os de 1987 e republicado


por TAN Books, um selo da Saint Benedict Press, LLC, em 2002, com algumas
traduçõ es de frases em latim adicionadas entre colchetes.

Nú mero de controle da Biblioteca do Congresso: 2001-132392

Design da capa por Caroline Kiser.

Imagem da capa: Santa Gertrudes, a Grande carregando o sagrado coração de


Jesus (ó leo sobre tela), Escola Espanhola, (sé culo 17) / Monasterio de Santa
Maria de San Salvador, Canas, Espanha / Biblioteca de Arte Bridgeman

ISBN: 978-0-89555-699-8

Impresso e encadernado nos Estados Unidos da Amé rica.

TAN Books,
uma marca da Saint Benedict Press, LLC
Charlotte, Carolina do Norte,
2012

OBLAÇAO

eu
OFERECE a Ti esta obra, ó Senhor Jesus Cristo, Fonte de luz eterna, em
uniã o com aquela caridade inefá vel que Te moveu, o Unigê nito do Pai,
na plenitude da Divindade, a assumir sobre Ti a nossa natureza e a nos
tornar Cara. Eu ofereço a Ti da parte de todas as Tuas criaturas, porque
é Tua inefá vel ternura pela humanidade que Te fez derramar aquelas
graças doces e e icazes no coraçã o de Tua esposa escolhida, para
fruti icá -las, para atraı́-la para Ti mesmo, e para uni-la a Ti
eternamente.
Suplico-Te que leve esta obra para a Tua guarda Divina, para que
glori ique a onipotê ncia do Pai, a sabedoria do Filho e o amor do
Espı́rito Santo. Eu ofereço a Ti em fervorosa açã o de graças por todas as
graças que Tu comunicaste ou desejas comunicar por meio desta obra,
até o im dos tempos. E como sou uma criatura totalmente vil e indigna,
ofereço a Ti, em satisfaçã o por todas as minhas de iciê ncias e omissõ es,
minha cegueira e ignorâ ncia, Teu pró prio coraçã o mais doce, sempre
cheio de açã o de graças divina e beatitude eterna. Um homem.
- Capı́tulo 30 Oblaçã o desta obra à gló ria divina. Conclusã o.

CARTA DA DIREITA REV. DR. MORIARTY


T HE P ALACE , K ILLARNEY , D EC . 17 TH , 1870
Minha querida irmã em Cristo,
Fiquei sabendo que você está lançando algumas Obras novas e
algumas ediçõ es novas das já publicadas. Os vossos trabalhos literá rios
traduzem a honra do vosso Convento, da vossa Ordem e desta Diocese.
Mas me alegro muito mais com isso, que você esteja contribuindo
para suprir uma de nossas maiores necessidades - uma literatura
cató lica. Sei també m que os fundos obtidos com a venda de suas obras
sã o exclusivamente dedicados ao serviço da religiã o.
Orando a Deus para abençoá -lo e preservar sua saú de e força,
Atenciosamente em Cristo,
D. Moriarty
T S S Ister M. F Rances C LARE ,
Convento das Clarissas, Kenmare, Co. Kerry

CONTEUDO
INTRODUÇAO
PROPAGANDA

PARTE UM
A Vida de Santa Gertrudes
Baseado em vá rias fontes

CAPITULO 1
O nascimento e a linhagem do Santo. Sua dedicaçã o inicial a Deus. Dons
intelectuais. Comunicaçõ es divinas a respeito de sua
santidade. Nosso Senhor declara que encontra descanso e repouso
em seu coraçã o. Deseja que uma pessoa santa o busque ali.
CAPITULO 2
Santa Gertrudes prevê a eleiçã o de Adolphus de Nassau. Acalma os
medos das irmã s, que esperam sofrer uma perda temporal. Sua
eleiçã o como abadessa. Remoçã o para Heldelfs. Revelaçõ es de sua
santidade. Nosso Senhor aparece para ela levando a casa da
religiã o. Sua generosidade de espı́rito.

CAPITULO 3
O Santo obté m um clima favorá vel. Milagres mencionados em seu
escritó rio. Uniã o de sua vontade com a de Deus. Aconselha
outros. Nosso Senhor desejava que ela escrevesse suas
revelaçõ es. Sua santidade revelada a Sã o Mechtilde.
CAPITULO 4
Ela pede a Sã o Mechtilde que ore por ela. Nosso Senhor está satisfeito
com sua paciê ncia e brandura. Ele declara que mora nela; e esconde
suas imperfeiçõ es.
CAPITULO 5
A Santa como Abadessa. Ternura para com os outros. Cuidar dos
enfermos. Sua ú ltima doença. Valor do sofrimento. Ela está proibida
de renunciar ao cargo. Nosso Senhor aceita como feito a Si mesmo o
que é feito por ela. St. Lebuin.
CAPITULO 6
Suas ú ltimas palavras. Devoçã o ao Ofı́cio Divino. Ternura para seus
ilhos espirituais. Nosso Senhor aparece para ela em sua
agonia. Promete recebê -la como Ele recebeu Sua Mã e Bendita. Os
anjos a chamam para o paraı́so.
CAPITULO 7
A morte dela. De suas alegrias eternas. Nosso Senhor consola suas
religiosas. Revelaçõ es de sua santidade. Reza para que seus
religiosos sejam consolados em seu tú mulo. Suas exé quias. Nosso
Senhor abençoa seu tú mulo.
CAPITULO 8
Favores concedidos no sepultamento da Santa. Almas liberadas por sua
intercessã o. Como Nosso Senhor juntou um lı́rio. De medo na ú ltima
agonia. Purgató rio na doença. E icá cia das oraçõ es pelos mortos.
CAPITULO 9
Feliz morte de outro religioso. Nosso Senhor recompensa
especialmente sua caridade para os outros. Purgató rio na
doença. Como Nosso Senhor puri icou um religioso
moribundo. E icá cia das oraçõ es pelos que partiram. Das Missas
pelos Mortos. Recompensa de fervor ao sofrer.

CAPITULO 10
Santa Gertrudes nã o foi formalmente canonizada. Histó ria de
seu culto . Bento XIV. Seu escritó rio aprovado. Nome inserido no
Martiroló gio. Lanspergius. Sua histó ria. Prefá cio
para Insinuationes . Apelo pelo sexo feminino. Conclusã o.
- PARTE DOIS -
As Revelaçõ es de Santa Gertrudes
Escrito por ela mesma

CAPITULO 1
O agradecimento da Santa a Deus pela primeira graça que lhe foi
concedida, pela qual o seu espı́rito se afastou das coisas terrenas e se
uniu a Ele.
CAPITULO 2
Como a graça de Deus a iluminou interiormente.
CAPITULO 3
Do prazer que Deus teve em fazer morada na alma de Gertrudes.

CAPITULO 4
Dos estigmas impressos no coraçã o de Gertrudes, e seus exercı́cios em
homenagem à s Cinco Chagas.
CAPITULO 5
Da Ferida do Amor Divino; e da maneira de banhar, ungir e amarrar.
CAPITULO 6
Da ı́ntima uniã o do Menino Jesus com o seu coraçã o.
CAPITULO 7
A Divindade está impressa na alma de Gertrudes como um selo sobre
cera.
CAPITULO 8
Da admirá vel uniã o de sua alma com Deus.
CAPITULO 9
De outra maneira admirá vel em que Santa Gertrudes estava
intimamente ligada a Deus.

CAPITULO 10
Como o Senhor a obrigou a escrever essas coisas; e como Ele a
iluminou.
CAPITULO 11
Ela recebe o dom das lá grimas e é avisada das armadilhas que o
demô nio armou para ela.
CAPITULO 12
Com quanta bondade Deus carrega nossas faltas.
CAPITULO 13
Da necessidade de vigilâ ncia exata sobre os sentidos e afeiçõ es.

CAPITULO 14
Diferentes exercı́cios pelos quais a alma é puri icada.
CAPITULO 15
Quã o agradá veis as obras de caridade sã o para Deus; e també m
meditaçõ es sobre coisas sagradas.
CAPITULO 16
Da inconcebı́vel ternura que a mais gloriosa Virgem tem por nó s.
CAPITULO 17
Das vestes com as quais devemos vestir Jesus e sua mã e.
CAPITULO 18
Como Deus tolera nossos defeitos. Instruçã o sobre humildade.
CAPITULO 19
Como Deus se agrada em condescender com Suas criaturas; e que gló ria
Deus deriva daı́ dos bem-aventurados.

CAPITULO 20
De alguns privilé gios considerá veis que Deus concedeu a esta virgem, e
da graça que Ele prometeu a seus clientes.
CAPITULO 21
Agradecimentos pela con irmaçã o dos referidos favores.
CAPITULO 22
Como Santa Gertrudes foi admitida à visã o de Deus. Do beijo da paz e
outros favores semelhantes.
CAPITULO 23
Recapitulaçã o dos dons já mencionados. A Santa reclama de sua
enfermidade e ingratidã o.

CAPITULO 24
Conclusã o deste livro.

- PARTE TRES -
As Revelaçõ es de Santa Gertrudes
Compilado pelas religiosas de seu mosteiro

CAPITULO 1
Nosso Senhor dá sua Mã e Santı́ssima a Santa Gertrudes para ser sua
mã e, para que ela possa recorrer a ela em todas as suas a liçõ es.
CAPITULO 2
A adversidade é o anel espiritual com o qual a alma está comprometida
com Deus.
CAPITULO 3
A consolaçã o humana enfraquece o que é Divino.
CAPITULO 4
Quã o vis e desprezı́veis sã o todos os prazeres transitó rios.
CAPITULO 5
A renú ncia perfeita de Santa Gertrudes nas mã os de Deus em todas as
adversidades, e que mé rito ela adquiriu por meio disso.
CAPITULO 6
A cooperaçã o da alma iel no Santo Sacrifı́cio. Cinco favores sobre os
quais o Santo desejava meditar, quando nã o podia assisti-los.
CAPITULO 7
Com que con iança devemos recorrer a Deus em todas as nossas
necessidades e tentaçõ es!
CAPITULO 8
Da e icá cia das oraçõ es pelos outros.

CAPITULO 9
Dos admirá veis efeitos da Comunhã o, e que nã o devemos nos abster
levianamente, mesmo por nossa indignidade.
CAPITULO 10
A indulgê ncia que Nosso Senhor concedeu a Santa Gertrudes. Seu
desejo ardente de se conformar em todas as coisas com a Vontade de
Deus.
CAPITULO 11
Como a alma pode buscar a Deus e se trans igurar Nele de quatro
maneiras.
CAPITULO 12
Reparaçã o pela queda de uma Hó stia, que se temia ter sido consagrada.
CAPITULO 13
Do valor e e icá cia da Con issã o. Como devemos vencer as di iculdades
que sentimos ao nos aproximarmos do Sacramento da Penitê ncia.
CAPITULO 14
Os diferentes efeitos da caridade sã o explicados pela comparaçã o de
uma á rvore coberta de folhas, lores e frutos.

CAPITULO 15
Como as a liçõ es unem a alma a Jesus Cristo; e do efeito de uma
excomunhã o injusta.
CAPITULO 16
Uma visã o na qual Santa Gertrudes viu Nosso Senhor comunicando
[dando a Comunhã o à s] irmã s.
CAPITULO 17
Como devemos nos preparar para receber o Corpo de Jesus
Cristo. Diferentes exercı́cios de piedade que Santa Gertrudes
praticava para com este augusto sacramento.
CAPITULO 18
A devoçã o de Santa Gertrudes à Mã e de Deus. Ela é ensinada a invocá -la
como o lı́rio branco da adorá vel Trindade e a rosa vermelha do cé u.

CAPITULO 19
Como os louvores oferecidos aos santos podem ser encaminhados a
Deus.
CAPITULO 20
Como Deus deseja ser procurado pela alma que O ama; e como Ele nos
ama quando sofremos.
CAPITULO 21
O Santo recebe tripla absolviçã o e bê nçã o da Santı́ssima Trindade, pelos
mé ritos de Jesus Cristo.
CAPITULO 22
Favores concedidos ao Santo durante a recitaçã o do Ofı́cio Divino.

CAPITULO 23
Da virtude abundante que lui do Coraçã o de Jesus para a alma iel.
CAPITULO 24
Do sepulcro de Jesus Cristo na alma iel, e como fazer um claustro
espiritual no Corpo e Coraçã o de Jesus.
CAPITULO 25
Da uniã o da alma com Jesus Cristo, e como ela está preparada, pelos
mé ritos dos Santos, para ser uma morada agradá vel para seu Deus.
CAPITULO 26
Do mé rito de uma boa vontade, e instruçõ es sobre algumas palavras do
Ofı́cio Divino.
CAPITULO 27
Por que Deus se agrada das imagens de Jesus cruci icado.
CAPITULO 28
Da sede espiritual de Deus e da utilidade dos sofrimentos.
CAPITULO 29
Quã o insidiosas sã o as armadilhas do demô nio, especialmente quando
cantamos.
CAPITULO 30
Que nossas oraçõ es sã o certamente ouvidas, embora nã o percebamos
seu efeito; e como suprir nossa indignidade ao nos aproximarmos da
Sagrada Comunhã o pelos mé ritos de Jesus Cristo e Seus Santos.

CAPITULO 31
Das vantagens da comunhã o frequente e de receber o santo viá tico.
CAPITULO 32
Como Deus corrige as negligê ncias passadas de uma alma que O ama e
remedia aquelas que podem ocorrer no futuro.
CAPITULO 33
Do valor e da importâ ncia da Comunhã o espiritual.
CAPITULO 34
Da utilidade de meditar na Paixã o de Nosso Senhor, e de como Ele se
oferece ao Pai Eterno em satisfaçã o por nossos pecados.

CAPITULO 35
Do feixe de mirra, e como devemos praticar a paciê ncia nas
adversidades, segundo o exemplo de Cristo.
CAPITULO 36
Essa devoçã o à Paixã o de Nosso Senhor promove a uniã o com Deus.
CAPITULO 37
Dos cravos de cheiro adocicado que o Santo, movido pelo amor, meteu
nas feridas do cruci ixo em vez dos cravos de ferro, e da gratidã o que
por isso testemunhou Nosso Senhor.
CAPITULO 38
Como podemos recordar a Paixã o de Cristo e proclamar os louvores da
Virgem Mã e de Deus, na recitaçã o das Sete Horas Canó nicas.
CAPITULO 39
Que devemos dar algum sinal de nosso amor a Deus apó s ocupaçõ es
exteriores.

CAPITULO 40
Dos efeitos da oraçã o na adversidade.
CAPITULO 41
Oraçã o composta pelo pró prio nosso Senhor Jesus Cristo, que Ele
prometeu ouvir favoravelmente.
CAPITULO 42
Como os justos se deleitam em Deus, e como Deus tem prazer neles,
especialmente quando eles entregam todos os seus bons desejos a
ele.
CAPITULO 43
De duas pulsaçõ es do Coraçã o de Jesus.

CAPITULO 44
Da maneira como devemos pedir a Nosso Senhor descanso ou sono.
CAPITULO 45
De perfeita resignaçã o de nó s mesmos à Vontade Divina.
CAPITULO 46
Do prazer sensı́vel que a alma encontra em Deus.
CAPITULO 47
Do langor causado pelo amor divino.
CAPITULO 48
Que a alma iel deve abandonar-se à Vontade de Deus, para a vida e a
morte.
CAPITULO 49
Do benefı́cio que podemos derivar de nossas faltas.
CAPITULO 50
Da renovaçã o dos Sete Sacramentos na sua alma e da caridade fraterna.
CAPITULO 51
Da idelidade que só devemos esperar encontrar em Deus e da graça da
paciê ncia.
CAPITULO 52
O valor de uma boa vontade.
CAPITULO 53
Como podemos lucrar com o mé rito dos outros.
CAPITULO 54
Oraçã o composta pelo Santo.
CAPITULO 55
Nosso Senhor mostra a ela Seu Coraçã o.
CAPITULO 56
De caridade para com um irmã o errante.
CAPITULO 57
Para que o cuidado dos assuntos temporais e deveres exteriores sejam
aceitá veis a Deus.
CAPITULO 58
Do mé rito da paciê ncia.
CAPITULO 59
Da aversã o que Deus tem pela impaciê ncia. E como é agradá vel para Ele
que devolvamos graças por Seus benefı́cios.
CAPITULO 60
Que Deus se agrada de nó s quando estamos descontentes de nó s
mesmos.
CAPITULO 61
Do efeito das oraçõ es pelos outros.
CAPITULO 62
Instruçõ es para diferentes pessoas em diferentes estados de vida.
CAPITULO 63
Que a Igreja é representada pelos membros de Jesus Cristo. Como
devemos agir em relaçã o aos membros que estã o enfermos e em
relaçã o ao nosso Superior.
CAPITULO 64
Sobre a participaçã o espiritual dos mé ritos.

CAPITULO 65
Da utilidade da tentaçã o.
CAPITULO 66
Essa comunhã o frequente é agradá vel a Deus.
CAPITULO 67
Da maneira correta de exercer zelo.
CAPITULO 68
Que nem sempre recebemos o fruto de nossas oraçõ es imediatamente.
CAPITULO 69
O valor da obediê ncia exata.
CAPITULO 70
Instruçõ es sobre diferentes assuntos.

CAPITULO 71
Da perda de amigos; e como devemos oferecer nossas provaçõ es a
Deus.
CAPITULO 72
Instruçõ es sobre vá rios assuntos.
- PARTE QUATRO -
As Revelaçõ es de Santa Gertrudes
Compilado pelas religiosas de seu mosteiro

CAPITULO 1
Com quanta devoçã o devemos nos preparar para os festivais. Vantagens
de nos recomendarmos à s oraçõ es dos outros. Nosso desfrute de
Deus corresponde aos nossos desejos e à nossa capacidade de
recebê -lo.

CAPITULO 2
Instruçõ es para celebrar a Festa da Natividade.
CAPITULO 3
Para a Festa da Natividade. Apariçã o do Menino Jesus e de sua Mã e
Santı́ssima.
CAPITULO 4
Para a festa de São João Evangelista.
Suas virtudes e a maneira de imitar Sua pureza.
CAPITULO 5
Para a festa da circuncisão.
Do santo nome de Jesus; e a renovaçã o das nossas boas intençõ es no
inı́cio do novo ano.
CAPITULO 6
Para a Festa da Epifania.
Das oblaçõ es que sã o aceitá veis a Deus.
CAPITULO 7
Para o segundo domingo após a epifania.
Santa Gertrudes recebe a absolviçã o de Nosso Divino
Senhor. Instruçõ es para a Sagrada Comunhã o.
CAPITULO 8
Para a festa de Santa Inês, Virgem e Mártir.
Apariçã o de Santa Inê s. Virtude das palavras que ela proferiu em sua
morte.
CAPITULO 9
Para a Festa da Puri icação.
CAPITULO 10
Para Septuagesima domingo.
Instruçõ es sobre como receber e se abster da Sagrada Comunhã o.
CAPITULO 11
Para Sexagesima.
Instruçõ es sobre a arca de Noé ; um dia mı́stico nisso.
CAPITULO 12
Para o sábado antes da Quinquagesima.
Devoçõ es pela é poca do Carnaval. Do valor e da e icá cia do sofrimento.
CAPITULO 13
Para Quinquagesima (continuação).
Quã o aceitá veis sã o as boas obras para Nosso Senhor durante os trê s
dias do Carnaval [Mardi Gras]; e como tais obras obtê m mé rito pela
uniã o com a Paixã o de Cristo.
CAPITULO 14
Instrução para o primeiro domingo da Quaresma.
Como a alma é puri icada e embelezada pelos mé ritos de Jesus Cristo.
CAPITULO 15
Para a segunda-feira após o primeiro domingo da Quaresma.
Da verdadeira maneira de realizar espiritualmente as obras corporais
de misericó rdia.
CAPITULO 16
Para o segundo domingo da Quaresma.
Da oblaçã o dos mé ritos de Jesus Cristo pelos pecados da Igreja.
CAPITULO 17
Para o terceiro domingo da Quaresma.
Como podemos obter uma participaçã o nos mé ritos da Vida de Jesus
Cristo.
CAPITULO 18
Para o quarto domingo da Quaresma.
O Santo é instruı́do sobre como expiar os pecados da Igreja.
CAPITULO 19
Para a festa de São Gregório, Papa.
Da gló ria e prerrogativas de Sã o Gregó rio, e da recompensa reservada a
este Doutor da Igreja.
CAPITULO 20
Para a festa do glorioso São Bento.
A bem-aventurança e a gló ria desta Santa mostrada a Santa
Gertrudes. A recompensa particular reservada para aqueles que
observam ielmente a disciplina regular.
CAPITULO 21
Para a Vigília e Festa da Anunciação.
Exercı́cios de devoçã o à Santı́ssima Virgem.
CAPITULO 22
Para o Domingo da Paixão.
Exercı́cios de devoçã o para aquele dia.
CAPITULO 23
Para o Domingo de Ramos.
Da Comunhã o espiritual e outros exercı́cios para este dia sagrado.
CAPITULO 24
Para quarta-feira da Semana Santa.

CAPITULO 25
Para a Quinta-feira Santa.
De oferecer os mé ritos de Jesus Cristo para obter o perdã o dos pecados
da Igreja. Do Seu amor no adorá vel Sacramento do Altar.
CAPITULO 26
Para a Sexta-feira Santa.
O Santo é favorecido com um ê xtase. Exercı́cios sobre a Paixã o de Nosso
Senhor.
CAPITULO 27
Para o Domingo de Páscoa.
Como as almas se libertam de suas dores. De boa vontade. Como louvar
a Deus no Aleluia.
CAPITULO 28
Para a segunda-feira de Páscoa.
Que Deus leva exatamente em conta nossos mé ritos; e como eles sã o
enriquecidos pelos mé ritos de Cristo.
CAPITULO 29
Para a terça-feira de Páscoa.
Da renovaçã o das esposas espirituais.
CAPITULO 30
Para a quarta-feira de Páscoa.
Que nada podemos fazer de bom sem a ajuda divina.
CAPITULO 31
Para quinta-feira na semana de Páscoa.
De oferecer nossas açõ es a Deus.
CAPITULO 32
Para baixo domingo.
Como devemos nos preparar para receber o Espı́rito Santo.
CAPITULO 33
Para a Festa de São Marcos, Evangelista.
Das Litanias e da invocaçã o dos Santos.
CAPITULO 34
Para a Festa de São João antes do Portão Latino.
Da doce memó ria de Sã o Joã o. Como as imperfeiçõ es das quais nos
esquecemos de nos acusar na con issã o sã o perdoadas por Deus.
CAPITULO 35
Para a Ascensão.
A maneira de saudar as Cinco Chagas de Nosso Senhor.
CAPITULO 36
Para o domingo antes da quinta-feira da Ascensão.
Do mé rito da condescendê ncia e compaixã o pelos enfermos. E como
devemos desejar o desprezo.
CAPITULO 37
Para os Dias da Rogação.
Como devemos orar pelos justos, pelos pecadores e pelas almas do
purgató rio.
CAPITULO 38
Para o dia da Ascensão.
Da renú ncia à nossa pró pria vontade. E certos exercı́cios de piedade
para este Festival.
CAPITULO 39
Para o domingo após a Ascensão.
Como preparar-nos dignamente para receber o Espı́rito Santo.
CAPITULO 40
Para a Vigília e Festa de Pentecostes.
Dos dons do Espı́rito Santo. E outros exercı́cios para este dia.
CAPITULO 41
Para segunda-feira na semana de Pentecostes.
Como a oblaçã o da Hó stia Sagrada supre nossas de iciê ncias. Exercı́cios
para o Agnus Dei .
CAPITULO 42
Para a terça-feira na semana de Pentecostes.
Como a Hó stia Sagrada supre todas as nossas negligê ncias, e como o
Espı́rito Santo se une em comunhã o com as almas santas.
CAPITULO 43
Para a Festa da Santíssima Trindade.
Como podemos glori icar a Santı́ssima Trindade por nosso Senhor Jesus
Cristo. E que obstá culos os afetos humanos colocam ao nosso
progresso.
CAPITULO 44
Para a Festa de São João Batista.
Apariçã o do Santo. Efeitos de sua intercessã o.
CAPITULO 45
Para a Festa dos Santos Apóstolos Sts. Peter e Paul.
Como podemos alimentar as ovelhas de Cristo espiritualmente. Da
intercessã o dos Apó stolos. E o fruto da Sagrada Comunhã o.
CAPITULO 46
Para a Festa de Santa Margarida, Virgem e Mártir.
A gló ria deste Santo e da recompensa que Deus reserva para a menor
açã o boa.
CAPITULO 47
Para a festa de Santa Maria Madalena.
De verdadeira penitê ncia e boa vontade.
CAPITULO 48
Para a festa de São Tiago.
Vantagens da peregrinaçã o a Compostela. E como podemos honrar os
santos pela comunhã o.
CAPITULO 49
Para a Vigília e Festa da Assunção.
Da maneira de honrar e saudar a Santı́ssima Virgem.
CAPITULO 50
Para a Festa de São Bernardo.
O mé rito e a gló ria deste Santo.
CAPITULO 51
Para a festa de Santo Agostinho.
Da gló ria e virtude deste Santo. Dos mé ritos de Sã o Francisco e Sã o
Domingos.
CAPITULO 52
Para o Festival da Natividade da Santíssima Virgem.
Exercı́cios para celebrar esta festa com devoçã o. Com que poder a
Santı́ssima Virgem protege aqueles que a invocam; e como podemos
suprir nossas negligê ncias em seu serviço.
CAPITULO 53
Para a Festa da Exaltação da Cruz.
Da exaltaçã o da Cruz. Do amor aos inimigos. Da observâ ncia do jejum
regular. Das verdadeiras relı́quias de Jesus Cristo.
CAPITULO 54
Para a Festa de São Miguel.
Do iel cuidado que os Anjos tê m de nó s, e como devemos honrá -los.
CAPITULO 55
Para a festa das onze mil virgens.
Dos frutos da açã o de graças. Que Deus requer que fruti iquemos Seus
dons. E da Resposta Regnum mundi .
CAPITULO 56
Para a Festa de Todos os Santos.
Das diferentes ordens da Igreja Militante. Como homenagear os Santos
com açõ es de graças, para que possamos participar de seus mé ritos.
CAPITULO 57
Para a festa de Santa Isabel.
Como é agradá vel para os santos que devemos louvar a Deus por sua
causa.
CAPITULO 58
Para a festa de Santa Catarina.
Do mecenato e mé ritos desta Santa.
CAPITULO 59
Para a dedicação de uma igreja.
CAPITULO 60
Para a dedicação de uma capela.
Da presença e graça de Deus nos lugares santos. E como os anjos
suprem nossa obrigaçã o de louvar a Deus.
CAPITULO 61
De uma visã o maravilhosa em que o Santo viu Nosso Senhor celebrando
a Missa.

- PARTE CINCO -
As Revelaçõ es de Santa Gertrudes
Compilado pelas religiosas de seu mosteiro

CAPITULO 1
Como Sã o Mechtilde se preparou para a morte e recebeu a Extrema
Unçã o.
CAPITULO 2
Da feliz morte de Sã o Mechtilde e sua recompensa no cé u. Dos mé ritos e
intercessã o dos Santos. E como oferecer as Cinco Chagas de Cristo
para suprir nossos defeitos.
CAPITULO 3
Da preciosa morte das Irmã s M. e L. Do exato relato feito no Purgató rio
de suas faltas e da recompensa de seus mé ritos.
CAPITULO 4
Como uma desobediê ncia foi expiada por uma doença.
CAPITULO 5
Da feliz morte da Irmã M. A aprovaçã o dessas Revelaçõ es. E os favores
prometidos por seus mé ritos.
CAPITULO 6
Da agonia e morte de MB, e de sua alma abençoada. Como é salutar
ajudar as almas do Purgató rio.
CAPITULO 7
Como as almas de G. e B. foram puri icadas por negligenciar a Con issã o
e por terem prazer nas coisas terrenas.
CAPITULO 8
Da feliz preparaçã o da irmã G. para a morte. Seus desejos fervorosos e
sua gló ria.
CAPITULO 9
As recompensas que o irmã o S. recebeu por sua idelidade e
benevolê ncia.
CAPITULO 10
Como o irmã o Hermann sofreu por obstinaçã o. E da ajuda que pode ser
obtida na outra vida pelas oraçõ es dos santos e dos ié is.

CAPITULO 11
Como o irmã o John foi recompensado por seus labores e punido por
suas faltas.
CAPITULO 12
Como a alma do irmã o The: ( sic ) foi libertada por oraçõ es em
homenagem à s Cinco Chagas.
CAPITULO 13
O que o irmã o F. sofreu por indolê ncia e falta de submissã o. A e icá cia
da oraçã o fervorosa.
CAPITULO 14
Aqueles que perseveraram por muito tempo no pecado nã o sã o
facilmente bene iciados pelas oraçõ es da Igreja e sã o libertados com
di iculdade.
CAPITULO 15
Da oblaçã o da Hó stia. E de oraçõ es pelas almas dos pais falecidos.
CAPITULO 16
Do efeito do Grande Salté rio. Do zelo de Cristo pela salvaçã o das
almas. E como Ele está disposto a ouvir as oraçõ es daqueles que O
amam.
CAPITULO 17
Dos sofrimentos severos de um soldado. E a e icá cia do Grande Salté rio.
CAPITULO 18
Explicaçã o do Grande Salté rio e das Sete Missas de Sã o Gregó rio.
CAPITULO 19
A recompensa de orar pelos mortos. E a puniçã o de desobediê ncia e
detraçõ es.
CAPITULO 20
Do desejo ardente de morte que Nosso Senhor acendeu na alma de
Gertrudes.
CAPITULO 21
Como Gertrude orou pela morte.
CAPITULO 22
Das feridas do amor divino com que o Santo foi paralisado.
CAPITULO 23
Nossos preparativos para a morte nã o sã o esquecidos diante de Deus.
CAPITULO 24
Exercı́cios de preparaçã o para a morte. E devoçã o à Santı́ssima Virgem.
CAPITULO 25
Como nosso Senhor Jesus e todos os Santos consolam as almas dos
justos em seus ú ltimos momentos. E com que amor Nosso Senhor se
comunica aos seus eleitos no Sacramento do Altar.
CAPITULO 26
Do doce repouso de que gozava o Santo; e como ela se satisfez com suas
negligê ncias.

CAPITULO 27
Como a Santa supriu suas negligê ncias ao serviço da Bem-aventurada
Virgem Maria.
CAPITULO 28
Como Gertrudes se preparou para a morte.
CAPITULO 29
Como Nosso Senhor autorizou esta obra.
CAPITULO 30
Oblaçã o desta obra à Gló ria Divina. Conclusã o.
Uma coleção de obras de arte clássicas
Uma Breve Vida de Cristo
Introdutó rio
A con iguraçã o
Nascimento de jesus
Infâ ncia em Nazaré
John The Bapist
Jesus começa seu ministé rio
Jornada à Galilé ia
O Reino e os Apó stolos
Manifestaçõ es do Poder Divino
Falando em pará bolas
Aumentando a popularidade
Morte de Joã o Batista
Milagres dos pã es
O pã o da vida
Peter the Rock
Treinamento dos Doze
Visita a Jerusalé m
Choque com os fariseus
Ministé rio da Judé ia
A Declaraçã o Suprema
Ressurreiçã o de Lá zaro
Ultimos Dias Missioná rios
Banquete em Betâ nia
Domingo de Ramos
Segunda Limpeza do Templo
Dia de perguntas
Judas o Traidor
A ú ltima Ceia
Prisã o e Julgamento
Morte no Calvá rio
Ressuscitado e ainda vivendo

INTRODUÇAO
Um resumo da conhecida apologia de Lanspergius

T
AQUI talvez nã o haja nenhuma Ordem na Igreja que, ao mesmo tempo,
comande nossa admiraçã o e conquiste nosso amor como o da grande
Ordem de Sã o Bento. Até a heresia ofereceu seu pobre meed de elogios
na tentativa de transplantá -lo para um solo estrangeiro, e está disposto
a abrigar sua dé bil imitaçã o da vida religiosa sob o nome do grande
Patriarca do Ocidente, reivindicando um patrono na Igreja, porque
nenhum pode ser encontrado fora de seu campo. Ela se ergue, como
uma loresta primitiva, ao lado do grande rio Tempo - suas raı́zes se
estendem profundas e largas, e formando uma barreira inabalá vel para
as ondas sempre crescentes: seus galhos se estendendo por toda a
parte e alto, proporcionando abrigo e proteçã o nas tempestades mais
selvagens.
Paz e força sã o as caracterı́sticas essenciais de sua Regra e de seus
ilhos; oraçã o e amor, a fonte e o suporte destes, suas gló rias mais
manifestas. E deste espı́rito Santa Gertrudes é a realizaçã o
perfeita; uma Pax vobiscum é soprada na alma em cada revelaçã o e em
cada açã o do maior dos Santos. Sua força é a calma e a bela força da
paz; pois somente a paz perfeita pode existir onde a alma permanece
no Imutá vel e, portanto, nã o pode mais ser abalada pelas rajadas
transitó rias que perturbam o menos perfeito.
Este trabalho foi realizado com sentimentos de afeiçã o
incomum. Existem poucas Ordens na Igreja que nã o devam em algum
grau ao Beneditino, mas nenhuma mais profundamente do que a da
pobre de Assis, que encontrou nos Beneditinos seus primeiros e mais
bondosos apoiadores; e quando sua segunda Ordem foi estabelecida,
foram eles que deram um lar temporá rio e um santo exemplo para a
gentil Clare de Sce i e sua jovem irmã Agnes. Di icilmente podemos
virar uma pá gina da histó ria dos Frades menores ou das Clarissas sem
descobrir como essa bondade foi continuada e aumentada. Que esta
oferenda à grande Ordem de Sã o Bento seja acolhida pelos seus devotos
ilhos como uma humilde mas pobre retribuiçã o pelo seu amor
incansá vel!
Uma recente revisã o do Gertrudenbuch von P. Maurus Wolter , que é
atribuı́do a um Pai da Ordem, entra tã o completamente nos mé ritos
peculiares e na santidade de Santa Gertrudes, que nã o podemos tolerar
um extrato. Oxalá as suas palavras eloquentes e espirituais tivessem
encontrado lugar de descanso menos efé mero do que as pá ginas em
que se insere!
“St. Gertrudes, no sentido mais amplo, era ilha do
claustro. Of icium e sacri icium , as Escrituras e a Liturgia, sã o as duas
asas pelas quais as almas puras voam para Deus na vida moná stica. O
Missal e o Breviá rio sã o as duas fontes de devoçã o litú rgica de onde
podem tirar as á guas puras da vida. Essas á guas e essas asas foram bem
compreendidas e apreciadas na Idade Mé dia; e nos sessenta mil
conventos que enviaram louvores a Deus, sicut incensum in conspectu
ejus , durante a vida de Santa Gertrudes, nã o houve um ser que
compreendeu mais plenamente estes dois meios de perfeiçã o, ou os
transformou em maior vantagem, do que Nosso Santo. Por meio deles
ela se tornou a grosseira Aebtissinn ; por meio deles, dirigida pelo terno
e amoroso espı́rito da Regra, ela se tornou a mais perfeita e marcante
expoente do espírito de Sã o Bento que pode ser encontrado na vida dos
Santos de Deus ”.
Nem é menos eloqü ente ao falar das grandes restauraçõ es, ou
melhor, devemos dizer, avanços, de sua Ordem; de Sã o Martinho,
consagrada mais uma vez aos seus usos ancestrais, onde, pela piedade
da viú va Princesa Catarina de Hohenzollern, os ilhos de Sã o Bento,
com a bê nçã o especial da Santa Sé , levam uma vida de fervor incomum
e devoçã o, sob a orientaçã o de seu santo Prior Dom Wolter; onde a
antiga e milagrosa imagem da Mã e das Dores é venerada mais uma vez
por milhares de peregrinos devotos - e de Solesmes com seu Abade,
cuja fama europé ia pelo aprendizado só é igualada por sua fama
cloistral pela santidade; onde “sessenta monges louvadores de Deus
cantaram juntos o canto do coral gregoriano” na curiosa velha igreja do
mosteiro;1 “Onde a obediê ncia alegre, o amor fraterno e a atençã o
estudiosa para com o hó spede que nunca mais quer sã o lindamente
combinados com, e reforçados por, zelo genuı́no e ardente pela
disciplina eclesiá stica e autoridade, com uma devoçã o à literatura e
uma ansiedade por seu progresso, que pode di icilmente será
superado. ”
A histó ria dos trabalhos do Abade Gueranger quase exigiria um
volume. Talvez sua maior fama eterna e sua recompensa mais brilhante
sejam para o governo de seu mosteiro, as fundaçõ es que ele efetuou e
seus esforços perseverantes, em face da oposiçã o que teria esmagado
qualquer mente comum, ao implantar a Liturgia Romana na França , no
lugar daquilo que, pelo menos, trazia uma tintura de independê ncia da
Santa Sé e um traço de racionalismo.
Lemos no livro de Gê nesis que Adã o e Eva ouviram “a voz do Senhor
Deus caminhando no paraı́so no ar da tarde”. E di icilmente podemos
duvidar que se eles tivessem preservado sua inocê ncia original, o
Criador teria encontrado Seu prazer em conversar com a criatura, e
teria se comunicado contı́nua e familiarmente aos seres aos quais Ele
mesmo deu existê ncia. O pecado impediu a continuaçã o daquilo que
teria constituı́do a maior felicidade do homem; mas onde o pecado é
subjugado e banido da alma por aquela graça vitoriosa que triunfou
sobre a perversidade do homem e fez de sua queda uma ocasiã o de
misericó rdia, aı́ podemos razoavelmente esperar e esperar que tais
favores sejam novamente renovados. O artista adora contemplar a
criaçã o de seu gê nio; o poeta, para meditar sobre a prole de sua
fantasia; o iló sofo, para re letir sobre as descobertas de seu intelecto; o
artı́ ice, para admirar as obras de suas mã os; a mã e encontra sua
alegria nas simples afeiçõ es dos ilhos; a noiva, seu ú nico prazer nas
carı́cias de seu noivo. Cada um ama com uma afeiçã o especial aquilo
que emana de seu gê nio, ou que está tã o unido a ele por laços de
consanguinidade que faz parte de seu ser. E deve-se supor que o grande
Pai é menos amoroso do que Seus ilhos; que Aquele que escondeu
alguns, escolhido entre muitos, para serem Suas noivas, irá amá -los
menos, e encontrar menos prazer em conversar com eles, do que
aqueles em quem Ele mesmo implantou os sentimentos profundos e
ardentes do amor terreno?
Nó s sabemos quã o livremente nosso Divino Senhor conversou com
Seus discı́pulos quando na terra; e podemos encontrar uma semelhança
notá vel entre este inverso, conforme registrado nos santos Evangelhos,
e o que encontramos nas Revelaçõ es de Santa Gertrudes. Ele os instruiu
por pará bolas; e essas pará bolas eram notá veis por sua simplicidade e,
se podemos usar o termo, por sua simplicidade. O reino dos cé us é
comparado a um chefe de famı́lia: onde encontraremos uma
comparaçã o mais comum? E comparado ao fermento: o que é mais
familiar? E descrito como um tesouro escondido em um campo: o que é
mais simples? E, no entanto, essas comparaçõ es comuns, familiares e
simples sã o explicadas em palavras como comuns e simples. Veremos
isso nas Revelaçõ es deste Santo; e mesmo que as instruçõ es dadas aos
apó stolos nã o se destinassem exclusivamente a eles, també m nosso
amoroso Mestre permite que conheçamos e sejamos instruı́dos por
aquilo que Ele concedeu comunicar a um de Seus santos mais
abençoados.
Depois de Sua Ressurreiçã o, nã o encontramos nenhuma mudança
em Sua maneira de se dirigir aos discı́pulos, a menos que, de fato, haja
uma ternura mais profunda em Suas palavras e açõ es. Ele está ansioso
para que eles comam quando estiverem cansados de sua longa e
infrutı́fera labuta noturna, e Ele mesmo provê sua refeiçã o; porque
quando eles vê m para a terra, eles vê em "brasas acesas, e um peixe
colocado sobre ela, e pã o." Ah! Quem, a nã o ser Jesus, teria essas “brasas
quentes” prontas e fornecido nã o apenas o alimento necessá rio, mas
até mesmo o luxo do fogo? E assim descobrimos na vida desta querida
Santa, que ela també m é muitas vezes convidada para refeiçõ es
mı́sticas, onde nã o seu corpo, mas sua alma é alimentada, e nã o
somente sua alma, mas també m as almas de todos aqueles que sã o
privilegiados. para ler ou ouvir sobre esses misteriosos banquetes.
E, no entanto, ao ler a vida daqueles santos que foram favorecidos
com comunicaçõ es ı́ntimas de seu cô njuge, existem poucas pessoas
que nã o selecionam, com base nos princı́pios mais arbitrá rios - ou
melhor, sem nenhum princı́pio - certas circunstâ ncias que consideram
imprová veis, e certas comunicaçõ es que eles consideram imprová veis
ou mesmo irracionais; e estes eles rejeitam e condenam, enquanto eles
acreditam e aceitam o que parece possı́vel ou verdadeiro para seu
julgamento. Mas quem limitará a condescendê ncia de um Deus que
morreu de amor? Quem dirá que Ele pode condescender até agora com
Suas criaturas, mas nã o mais? Quem dirá que Ele pode se comunicar
desta maneira, mas nã o daquela? Quem se aventurará a estabelecer
regras para o Espı́rito, que "sopra onde quer?"2“Quem entre os homens
é aquele que pode conhecer o conselho de Deus? Ou quem pode pensar
qual é a Vontade de Deus? Pois os pensamentos dos homens mortais
sã o amedrontadores e nossos conselhos, incertos. Pois o corpo
corruptı́vel é um fardo sobre a alma, e a habitaçã o terrestre pressiona a
mente que medita sobre muitas coisas. E di icilmente adivinhamos as
coisas que estã o na terra: e com trabalho encontramos as coisas que
estã o diante de nó s. Mas as coisas que estã o no cé u, quem as
investigará ? E quem conhecerá o teu pensamento, se nã o deres
sabedoria e enviares o teu Espı́rito Santo do alto? ”3
Nã o, antes ouçamos com temor reverente quando Deus nos permite
o favor de ouvir essas benditas comunicaçõ es que Ele tem o prazer de
fazer à queles a quem admitiu ter esta intimidade singular com Ele
mesmo. Se temos o privilé gio de ter patronos que ocupam cargos
elevados na corte, aproveitemos com gratidã o sua condescendê ncia em
nos admitir na intimidade do Rei, em nos permitir o privilé gio de
sermos participantes de Seus conselhos mais ocultos e de saber, como
somente Seu amado pode, os segredos de Seu amor. E notá vel que
somente aqueles a quem Deus favoreceu com uma intimidade mais do
que comum foram invariavelmente distinguidos pela
simplicidade. Quer seja porque o Todo-Poderoso deseja confundir a
sabedoria dos sá bios, admitindo aqueles a quem eles possam desprezar,
a uma participaçã o em Seus mais notá veis favores, ou se é que esses sã o
mais peculiarmente adequados para serem recipientes de Sua graça,
nó s nem mesmo conjeturaria; no entanto, essa parece ser a regra
comum da vida espiritual.
Talvez poucos, se é que algum, foram tã o favorecidos com a
intimidade de Nosso Senhor como o Santo de quem escrevemos. A
ausê ncia dele foi um caso excepcional, a presença dele o prazer
comum. Os sussurros de Seu amor eram ouvidos igualmente na
quietude da noite, na salmodia do coro, nos deveres comuns da vida
religiosa e nos momentos menos aceitá veis e mais provadores passados
em conversa com estranhos. A pomba parecia sempre sussurrar em sua
alma; ou melhor, nã o poderı́amos dizer que ela sempre esteve no
Coraçã o Ferido de seu Esposo - o verdadeiro lar de Seus entes
queridos; e lá que outra fala poderia cair em seus ouvidos atentos,
exceto os acentos daquela voz, cujo murmú rio mais baixo arrebata o
pró prio Sera im em transe de louvor extá tico?
E quando Jesus se compromete a falar como amigo de seu amigo -
ou melhor, como esposa de sua noiva - por que devemos nos
surpreender que Sua conversa seja daquela natureza familiar e terna
que caracteriza o amor humano que Ele sancionou, e que se tornou
puro e santo desde que Ele, por meio de Sua Igreja, o elevou à dignidade
de um Sacramento? Nã o, muito antes dessa elevaçã o e dignidade serem
concedidas ao amor humano, tal relaçã o - mesmo em um volume
inspirado - é considerada uma tipi icaçã o daquilo que existe entre a
alma e Deus.
As palavras: "Meu amor, minha pomba, minha linda!" foram
dirigidos à noiva muito antes de o Noivo aparecer como o Deus
Encarnado. E por que, quando Ele concedeu se tornar homem, quando
Ele participou das dores humanas e santi icou as afeiçõ es humanas - oh,
por que Seu sotaque seria menos amoroso ou Sua voz soaria menos
doce aos ouvidos? Quando o dia amanhecer e as sombras passarem,
nã o deveremos nó s també m ouvir aqueles acentos, e contemplar aquele
rosto, e obter alguma parte desses favores, que mesmo aqui sã o
concedidos a almas mais puras e santas?
As Revelaçõ es de Santa Gertrudes de fato diferem, ou sã o
distinguidas acima, daquelas de outros santos, na familiaridade e
frequê ncia dessas comunicaçõ es celestiais. Nã o devemos ler sobre
milagres maravilhosos, voos extá ticos, arrebatamentos prolongados,
anú ncios profé ticos, embora tais eventos sejam registrados
ocasionalmente; a Santa - se nos é permitido a expressã o - vivia em casa
com o Esposo; e, portanto, sua vida foi uma sucessã o contı́nua e quase
ininterrupta dos mais elevados estados de vida espiritual.
Se fosse necessá rio um pedido de desculpas pelos termos familiares
em que essa relaçã o sexual é descrita por ela mesma no ú nico livro
precioso em que ela registra esses favores, ou por outros, na
continuaçã o do assunto por um de seus religiosos, poderı́amos
facilmente citar muitas passagens , mesmo da Escritura, onde tais
expressõ es sã o usadas e, portanto, sancionadas. Se for objetado que os
freqü entes abraços de amor que ela recebeu de seu esposo sã o um
sı́mbolo muito familiar de ternura de um Deus para com Sua criatura,
lembremo-nos de que Ele permitiu que Madalena beijasse Seus pé s, e o
amado Apó stolo se deitasse sobre Seus seio. Ele ainda nã o é Homem, e
Seu Coraçã o Humano ainda nã o nos ama com um amor humano? Por
que, entã o, a condescendê ncia que o Filho de Deus praticou quando na
terra nã o pode ser continuada por Ele quando no cé u? Por que, se Ele
estava satisfeito por Seus pé s serem beijados e ungidos por um pecador
arrependido, Ele nã o deveria aceitar o amor daqueles que realizam
espiritualmente uma devoçã o que nã o podem realizar
corporalmente? E por que deverı́amos supor que a Fonte do Amor
deveria ser menos amorosa do que os pobres pequenos canais pelos
quais Ele permite que a impetuosa torrente de Sua caridade lua -
canais que servem apenas para esfriar aquela fonte que em sua fonte
nunca cessou de arder?
Se nosso amor fosse puri icado - se nã o tivé ssemos mancha carnal
em nossas afeiçõ es - se a trilha viscosa da serpente nã o tivesse
manchado e escurecido dentro de nó s o dom mais precioso de Deus,
aquilo que Ele declara ser - nã o deverı́amos duvidar tã o facilmente ou
nã o gosto dessas manifestaçõ es maravilhosas de Sua mais maravilhosa
caridade. Por que nã o deveria a virgem Gertrudes repousar em ê xtase
mı́stico sobre o seio de Jesus, quando o pró prio Jesus a cada dia permite
que aqueles que sã o incomparavelmente menos dignos se recebam
dentro deles?
Mas chega disso. Antes, desculpemo-nos por nossa frieza em crer do
que pelo amor de Deus em doar; e vamos agradecê -Lo por ter
encontrado almas, mesmo na terra, que O permitirã o amar como Ele
deseja amar; que irá , tanto quanto as criaturas podem, amar como Ele
pede para ser amado.
“Gostaria que os homens pudessem ser persuadidos a estudar Santa
Gertrudes mais do que o fazem”, foi a exclamaçã o de algué m cuja
pró pria alma nã o queimava com nenhum amor comum. E por que ele
deseja isso? Por causa de seu espı́rito brilhante, livre e alegre; porque
ela amou a Deus tã o pura e inteiramente, que as estreitas descon ianças
daqueles que O amam menos nunca por um instante encontraram lugar
em sua alma abençoada. Um coraçã o amoroso sempre será um coraçã o
agradecido; e assim o incenso contı́nuo de açã o de graças que ascendeu
do coraçã o de Gertrudes diante do Trono Eterno era apenas o aroma
fragrante do amor que queimava cada dia mais profundo e mais
brilhante dentro dela.
PROPAGANDA

HE Insinuationes Divinae Pietatis consiste em cinco livros. O segundo só


foi escrito pela Santa: os quatro restantes foram compilados a partir de
seus papé is, e do conhecimento pessoal de sua vida, por uma religiosa
de seu mosteiro. Esta religiosa, que esconde cuidadosamente o seu
nome, foi provavelmente a Irmã a quem Santa Gertrudes se refere, e em
quem ela evidentemente tinha a maior con iança. Como o objetivo
dos Insinuationes é manifestamente relatar os favores sobrenaturais
concedidos a Santa Gertrudes, sua histó ria pessoal é apenas
brevemente mencionada, e apenas em conexã o com as graças
concedidas a ela por Deus. Conseqü entemente, pouco se sabe sobre os
primeiros anos de vida do Santo. O primeiro livro
dos Insinuationes conté m algumas alusõ es a ele; mas consiste
principalmente em um panegı́rico e uma enumeraçã o formal de suas
virtudes. Para evitar a repetiçã o desnecessá ria e desinteressante, isso
foi omitido, e a substâ ncia disso cuidadosamente incorporada na vida
de Santa Gertrudes, para a qual nos esforçamos para reunir materiais
de todas as fontes possı́veis. A cronologia de Campacci foi seguida como
a mais con iá vel e altamente estimada pelos eruditos beneditinos de
Solesmes.
A segunda, terceira, quarta e quinta partes desta obra sã o traduçõ es
do segundo, terceiro, quarto e quinto livros dos Insinuationes. A ediçã o
mais utilizada foi a “ Insinuationes Divinae Pietatis , seu Vita et
Revelationes S. Gertrudis, Virginis et Abbatissae, Ordinis S.
Benedicti. Amendis quibus scatebant expurgatae studio et labore D [om]
N [icolas] C [anteleu] B [enedictinus]. Parisiis apud Fredericum Leonard,
Congregationis S. Mauri Ordinis S. Benedicti. Typogr. via Jacobaea
sub Scuto Veneto, M.DC.LXII. Cum privilegio et approbatione . ” O “ Scuto
Veneto ” está devidamente representado na pá gina de rosto, e o leã o
alado de Sã o Marcos segura um Evangelho aberto, com a legenda “ Pax
tibi Marce Evangelista meus ”. O lema, “ Virtute invidiam vince ”, está
gravado em um pergaminho acima do emblema.
Dom Canteleu era um sacerdote santo e culto. Diz-se que a hora de
sua morte foi revelada a ele enquanto ele estava ocupado preparando
sua ediçã o das Insinuationes . Mas ele havia começado sua obra para
Deus e també m para Ele foi consumada. As ú ltimas correçõ es foram
feitas no pró prio dia de sua morte; e embora ele nã o vivesse para ver
seu trabalho publicado na imprensa, certamente sua recompensa nã o
era menos certa ou magnı́ ica.
Esta ediçã o conté m, em primeiro lugar, uma dedicató ria da obra aos
Padres Maurist, de Leonard, o editor; em segundo lugar, um breve
Pró logo, de D. Canteleu, no qual explica as correcçõ es e emendas que
fez nas ediçõ es anteriores; e, em terceiro lugar, a conhecida apologia de
Lanspergius, da qual resumimos na Introduçã o. Há també m trechos
do Monili Spirituale de Blosius , e uma nota importante, encontrada em
um antigo Có dice de um mosteiro da Estı́ria, que menciona que o
convento de Hel ide foi destruı́do no ano de 1342, durante as guerras
entre o Duque de Brunswick e o Conde de Mans ield; mas as virgens
sagradas foram salvas por uma proteçã o evidente de Deus e removidas
para os subú rbios de Eisleben.
Nosso empenho sincero foi tornar esta traduçã o o mais iel e
precisa possı́vel. Um capı́tulo foi omitido e vá rias passagens, que
di icilmente poderiam ser traduzidas em inglê s com propriedade; e
como a substâ ncia de vá rios capı́tulos do quinto livro está contida na
Vida, eles també m foram deixados de lado. Temos o privilé gio de dizer
que fomos guiados no arranjo geral da obra pelo conselho do Rev. Dr.
Ullathorne, OSB, a cuja paternal e mais imerecida gentileza nesta, como
em muitas outras ocasiõ es, devemos um dı́vida de gratidã o
afetuosa. També m nã o podemos omitir a mais grata mençã o à
inestimá vel ajuda obtida do mundialmente famoso Abbayé de
Solesmes, por meio do Rev. Padre Wilfrid Windham, OSB, a cujas
pesquisas e aprendizado devemos muitas das notas anexadas a este
volume. Devemos també m agradecer a caridade de Dom Wolter, OSB,
Prior de Beuron, cujos esforços nobres e bem-sucedidos para reviver e
estender a Ordem Beneditina na Alemanha sã o muito conhecidos para
necessitarem de mais comentá rios.
A traduçã o francesa recentemente publicada das Insinuationes é
considerada uma reimpressã o da traduçã o feita por Dom Mege, de sua
ediçã o latina de 1664. Nesta ediçã o, muitas passagens sã o omitidas, e
outras sã o interpretadas de forma diferente das ediçõ es de Canteleu e
Tilmanni Bredenbachii , Coloniae, 1563, que coincidem
perfeitamente. Uma traduçã o italiana, que pretende ser uma traduçã o
do latim de Lanspergius, també m corresponde a essas obras. A pá gina
de rosto está assim: “ La vita della B. Virgine Gertruda, ridotta in v. Libri,
del RF Geo. Lanspergio, Monaco della Certosa… Tradotta per
l'Eccel. Medico M. Vicenzo Buondi. Venetia, 1606. ”Esta ediçã o conté m os
Exercı́cios.
De fato, os beneditinos italianos se dedicaram com fervor especial à
produçã o de ediçõ es ou traduçõ es dessas Revelaçõ es; mas talvez uma
das obras mais valiosas sobre o assunto seja a de um padre secular,
Gaspar Campacci, que publicou a Vida de Santa Gertrudes , in quarto, em
Veneza, em 1748. Sua obra se divide em duas partes; a primeira parte
conté m a Vida da Santa, a segunda parte conté m as suas Revelaçõ es. No
inal da primeira parte, ele anexou uma valiosa discussã o cronoló gica,
na qual ixa a data de seu nascimento, sua morte e os principais
acontecimentos de sua vida.
Mas uma das ediçõ es mais interessantes da Vida e Revelaçõ es deste
grande santo é a traduçã o para o espanhol de Leander, de Granada, cuja
có pia se encontra atualmente na Biblioteca do Museu Britâ nico e é
datada de Sevilha, 1606.
Como a histó ria literá ria desta obra é de mais do que interesse
comum e edi icaçã o, bem como uma explicaçã o necessá ria da origem da
gravura milagrosa, um relato dela é anexado com extensã o
considerá vel; e este relato foi traduzido da carta do santo Bispo Ypres,
de Tarragona, a Dom Leander:
«Nã o te posso dizer com que alegria e consolo recebi o livro das
Revelaçõ es de Gertrudes, que traduziste para o castelhano…. Vou agora
relatar o que aconteceu com a ediçã o latina impressa em Madrid.
“Enquanto eu era o Confessor do Rei, encontrei as obras de Blosius
acidentalmente e tive tanto prazer nelas que as li vá rias vezes. Depois,
quando mencionei isso a Dom Alphonsus Colone, agora arcebispo de
Carthagena, ele me garantiu que uma traduçã o estava entã o na
imprensa em Sevilha; e pedi-lhe que me enviasse as folhas à medida
que apareciam. Isso foi na é poca em que o rei Filipe II foi atacado por
sua ú ltima doença. Eu considerava o trabalho tã o adequado para suas
circunstâ ncias que o li para ele com frequê ncia; e ele encontrou nela tal
consolo e doçura que, na minha ausê ncia, fez com que fosse lido para
ele pela infanta Madame Elizabeth. Eu conheço bem o lucro que ele
derivou disso, e isso será conhecido por todos no cé u.
“A partir deste momento, concebi uma afeiçã o tã o forte pelas
Revelaçõ es de Santa Gertrudes que desejei ardentemente saber se
tinham sido publicadas”.
O bom prelado entã o relata como os encontrou, depois de muita
pesquisa, na biblioteca de Sã o Lourenço; que o volume nunca fora
aberto desde que lá fora colocado dez anos antes; e detalha suas muitas
e malsucedidas tentativas de obter uma traduçã o. Depois de se
aposentar em Tarragona, ele mesmo começou o empreendimento; mas
quando ele “completou, corrigiu e emendou os primeiros quatro livros”,
ele soube que a obra já estava no prelo em Salamanca.
“Eu queria que algumas có pias fossem enviadas para mim”, ele
continua; “E quando vi a traduçã o, considerei a diligê ncia com que fora
feita, o estilo sé rio, claro, eloqü ente e as anotaçõ es cuidadosas, iquei
supremamente encantado, porque o mesmo aconteceu comigo como
com Sã o Boaventura e Sã o Tomá s, a respeito do Ofı́cio do Santı́ssimo
Sacramento; e considero um favor especial que a Santa tenha ordenado
a todos que atrasou a minha ediçã o, pois o resultado será uma gló ria
maior para o seu Esposo Soberano. Quanto a mim, estou convencido de
que nada perdi com isso, e que ela recebeu meu trabalho e minha boa
vontade em seu tesouro. Devo confessar també m que nunca em minha
vida tive maior satisfaçã o na leitura de qualquer outra obra do que
esta; pois embora eu tenha lido as Revelaçõ es em latim com tanta
freqü ê ncia que as conheço quase de cor, nã o tenho menos apreço por
esta traduçã o, e vou torná -la conhecida a todos os meus amigos. Esteja
certo, meu pai, de que prestou um grande serviço a Deus, um grande
bem à s almas, e que assim garantiu sua salvaçã o. Que Deus cumpra em
você todos os privilé gios e promessas que fez aos clientes desta sublime
virgem!
“Comprei um grande nú mero desses volumes para os Carmelitas
Descalços e todos os que desejam ardentemente uma vida mais
perfeita; e eu, se fosse possı́vel, os disseminaria por todo o mundo.
“Se por acaso te encontraste com a fotogra ia deste bendito santo,
quero dizer-te a sua origem, porque espero que seja um assunto de
consolo para ti. O primeiro quadro, que foi feito na Espanha, foi
copiado, a meu desejo, de um retrato de um religioso da mesma Ordem,
que se encontrava no gabinete real de Madrid. Para distinguir a có pia
do original, pedi ao pintor que colocasse em seu coraçã o um Menino
Jesus e um pergaminho com as palavras Invenies me in corde
Gertrudis [“Me encontrareis no coraçã o de Gertrudes.”]. També m
mandei colocar sete ané is nos dedos da sua mã o direita, para serem
penhor das promessas que Nosso Senhor fez em favor dos seus amigos.
“O artista declarou-me que nunca em sua vida lhe aconteceu tal
coisa como aconteceu ao pintar esta virgem; pois embora ele sempre
tivesse tido sucesso em copiar para a vida, ele agora descobriu que nã o
poderia ter sucesso, com todas as suas dores, em imitar o original; e
cada vez que ele tentava fazer isso, ele descobria que desenhava o que
ia alé m do que ele poderia ter pensado ou imaginado; e assim sua
imagem em nada se parecia com a original, exceto no há bito. Esta foto
circulou em toda a Espanha. Mandei pintá -lo em muitos lugares, em
companhia de nossa santa madre Teresa de Jesus, a quem tantas vezes
consolou com seus discursos ”.
O santo prelado conclui assim: “Deus os tem sob Sua guarda
sagrada. Espero que Sua Majestade lhe conceda a graça de que, na hora
da sua morte, possa ser assistido por suas duas ié is esposas, que
durante sua vida sempre foram tã o cheias de gratidã o e cortesia.
“F R . D. IEGO , Bispo de Tarragona .
“ Dado em Tarragona , 15 de novembro de 1603.”
Nã o podemos nos surpreender que um favor milagroso seja
concedido a algué m tã o profundamente humilde, tã o profundamente
amoroso e tã o raramente desinteressado. Talvez os anais da literatura
raramente tenham fornecido um exemplo tã o distinto de cortesia como
aquele dado pelo Bispo de Tarragona; ou melhor, deverı́amos dizer, a
caridade cristã raramente brilhou tã o doce e brilhantemente como em
seu desejo cordial pelo sucesso de outra pessoa em um trabalho que ele
praticamente havia realizado.
Seguem-se vá rias aprovaçõ es do santo Bispo, nomeadamente uma
de Suarez, de Salamanca, 15 de julho de 1603, e outra do Padre Prior
das Carmelitas Descalças, que observa que uma ediçã o na lı́ngua
materna é muito ú til e aceitá vel, até mesmo para os eruditos.
A imagem milagrosa logo foi gravada e sua fama se estendeu por
toda a Europa. A có pia contida neste volume foi feita a partir da ediçã o
de “ PF Laurentii Clement, Monachi Ordinis S. Benedicti Congregationis
Hispanicae. Salisburgi, MDCLXII . ”

C ONVENTO DE P OOR C LARES , K ENMARE ,


Festa de São João antes do Portão Latino, 6 de maio de 1865.

Terminada essa obra, Nosso Senhor Jesus apareceu à quela que a


havia completado, segurando-a em Suas mã os; e pressionando-o contra
o Seu Coraçã o, Ele disse a ela: “Coloquei este livro assim sobre o Meu
Coraçã o, para que cada palavra nele contida seja penetrada com a
doçura Divina, assim como o mel penetra no pã o. Portanto, quem ler
este livro com devoçã o receberá grande lucro para sua salvaçã o. ”
- Capı́tulo 29 Como Nosso Senhor autorizou esta obra.

PARTE UM
A Vida de Santa Gertrudes
Com base em vá rias fontes
(conforme explicado no "Anú ncio" aqui)

CAPITULO 1
O nascimento e a linhagem do Santo. Sua dedicaçã o inicial a Deus. Dons
intelectuais. Comunicaçõ es divinas a respeito de sua santidade. Nosso Senhor
declara que encontra descanso e repouso em seu coraçã o. Deseja que uma
pessoa santa o busque ali.

O sé culo XIII foi marcante para o mundo e para a Igreja. Seu inı́cio
encontrou as grandes ordens de Sã o Domingos e Sã o Francisco
estabelecidas em quase todas as cidades da Europa, já conquistando as
coroas de má rtir, e contando seus trofé us conquistados para o Cordeiro
à s centenas e aos milhares. Santa Isabel da Hungria santi icou um
palá cio e edi icou uma naçã o com sua virtude heró ica e sua resignaçã o
mansa na adversidade. Sã o Tomá s de Aquino e o será ico Sã o
Boaventura haviam legado à Igreja tais tesouros que nunca antes
haviam sido con iados à sua guarda. Sã o Luı́s morreu vı́tima de seu
amor por Jesus cruci icado e de sua tristeza porque a terra onde seu
Senhor havia morrido fosse saqueada pelos pagã os e contaminada
pelos in ié is. Foi, na verdade, um sé culo de santos e de santos de nota
mais do que comum; no inal deste sé culo, como um presente de
coroaçã o, veio a grande e bela Santa Gertrudes, cuja histó ria foi muito
pouco conhecida entre nó s, enquanto o seu pró prio nome recebe uma
homenagem contı́nua de amor reverente.
A ilustre abadessa beneditina nasceu em Eisleben, pequena cidade
do condado de Mans ield, em 6 de janeiro de 1263;1e assim, como foi
felizmente observado, uma estrela de brilho incomum foi dada à Igreja
no dia em que aquela Igreja foi misticamente guiada por uma estrela ao
seu Deus Encarnado. Diz-se que a famı́lia dos Condes de Lachenborn
era quase parente da famı́lia imperial da Alemanha; mas qualquer que
seja sua posiçã o ou dignidade, todas as lembranças distintas dela há
muito já se foram, e só agora sã o lembrados como ilustres por causa da
santidade insuperá vel de seu ilho ilustre. Bucelinus, em seu Aquila
Imperii Benedictini , apresenta uma á rvore genealó gica da famı́lia dos
Condes de Hackeborn, começando com o pai do Santo e concluindo
com “ Fredericus, Dominus et Comes in Hackeborn, familiae suae
ultimus ”; mas nã o há data para determinar quando esse conde, o
“ú ltimo de sua famı́lia”, faleceu. Quando a Santa atingiu seu quinto ano,
foi colocada na famosa Abadia Beneditina de Rodersdorf, na diocese de
Halberstadt, onde logo se juntou a ela sua irmã mais nova, Mechtilde.2
Aqui, sob o cuidadoso treinamento das Damas Beneditinas - que
entã o, como agora, se devotaram com incansá vel solicitude e mais do
que habilidades intelectuais comuns, à educaçã o daqueles con iados a
seus cuidados - a jovem Condessa de Lachenborn avançou em
sabedoria e aprendizado , humano e divino.
Os elevados dons intelectuais com que Santa Gertrudes foi dotada
tiveram as mais amplas vantagens para o seu desenvolvimento. Em
tenra idade, ela era su icientemente familiarizada com a lı́ngua latina
para ler e conversar nessa lı́ngua; sua leitura era extensa para uma
é poca em que a literatura se limitava a manuscritos em pergaminho e
instruçõ es orais. Na verdade, sua devoçã o à s atividades literá rias -
embora fossem da melhor e mais pura espé cie, visto que as Escrituras,
os Padres e outras obras teoló gicas eram seu principal estudo - parecia,
a princı́pio, provavelmente um obstá culo para seu avanço espiritual. No
entanto, tudo foi dominado por in inito amor e in inita sabedoria. Seus
escritos deveriam ser o tesouro da Igreja em todas as é pocas, embora,
como estrelas em um cé u tempestuoso, sua luz possa icar por algum
tempo oculta dos homens, apenas por acaso para brilhar mais
gloriosamente quando eles tiverem emergido dessa obscuridade
passageira.
O aprendizado secular pode envolver a joia, mas nã o pode produzi-
la; ele poderia realçar a beleza do riacho puro e cintilante, desviando
seu curso por um canal mais cultivado, mas nã o poderia produzir o
pró prio riacho. E agora a Esposa das virgens começou a falar ao coraçã o
de Seu escolhido, e a retirá -la daquelas ocupaçõ es exteriores, nã o mais
necessá rias para o cultivo mental, para que ela pudesse ouvir sem
distraçã o ou impedimento aqueles sussurros de Seu amor que nó s
també m , apesar de nossa indignidade, temos permissã o para ouvir e
desfrutar.
A pró pria Santa nos informou quando e como a primeira dessas
comunicaçõ es celestiais foi concedida a ela. Foi na segunda-feira, 25 de
janeiro, “no inal do dia, a luz das luzes veio para dissipar a obscuridade
de suas trevas e iniciar sua conversã o”. E Jesus veio, como Ele vem
principalmente para Seus entes queridos, enquanto ela realizava um
ato de humildade e obediê ncia - recusando-se a um antigo religioso
para cumprir uma observâ ncia conventual e, sem dú vida, nã o por mero
costume habitual, mas com profunda e humilde reverê ncia por um
esposa de Cristo, a quem ela considerava incomparavelmente superior
em virtude e santidade.
Suas irmã s nã o demoraram a perceber que sua companheira era
especialmente favorecida pelo cé u. Uma religiosa, que há muito sofria
das mais dolorosas tentaçõ es, foi avisada em um sonho que pedisse
alı́vio a Gertrude e se recomendasse à s suas oraçõ es. No momento em
que ela obedeceu a essa injunçã o, a tentaçã o cessou. Outra, que temia
comunicar-se sob um julgamento semelhante e ainda mais urgente,
obteve um bocado de pano que tinha sido usado pela Santa e,
colocando-o perto do seu coraçã o, implorou a Nosso Senhor que a
libertasse pelos mé ritos de Gertrudes. O favor foi concedido, e a partir
daquele momento ela nunca mais sofreu da mesma tentaçã o. Parece, de
fato, que Gertrudes foi especialmente designada pela Providê ncia para
ajudar os outros, mesmo durante sua vida, por seus mé ritos e
intercessã o, bem como pelo dom de conselho com o qual ela foi
singularmente favorecida.
Uma pessoa cuja santidade havia se manifestado por muito tempo, e
que era especialmente favorecida pelas comunicaçõ es divinas, veio de
um paı́s distante ao mosteiro para obter uma entrevista com o
Santo. Como ela nã o conhecia nenhum religioso pessoalmente, ela orou
para que quem mais bene iciasse sua alma com a conversa fosse
enviado a ela. Foi-lhe entã o comunicado que quem viesse e ocupasse o
seu lugar ao lado dela seria realmente o mais amado de Deus e o mais
santo entre os religiosos. Em sua chegada, Santa Gertrudes veio a
ela; mas ela escondeu tã o bem qualquer aparê ncia de santidade, e
escondeu a luz sobrenatural com a qual ela foi favorecida, que o
estranho imaginou que ela tinha sido enganada e novamente orou como
ela havia feito antes. A mesma resposta foi mais uma vez concedida a
ela, e ela foi assegurada de que este era realmente o religioso tã o
querido por Deus. Pouco depois, o visitante teve uma longa entrevista
com Sã o Mechtilde, cuja conversa ela preferia muito e cuja santidade
era mais evidente. Novamente ela “inquiriu a Deus” e perguntou por
que Santa Gertrudes era preferida a sua irmã . Nosso Senhor respondeu
que Ele realmente operou grandes graças em Mechtilde, mas em
Gertrudes Ele operou, e ainda operaria, muito maiores.
Outra pessoa de grande santidade, que rezava pela Santa, sentiu por
ela um impulso singular de afeto, que ela considerou sobrenatural. “O
Amor Divino!” ela exclamou: "O que é que vê s nesta virgem que te
obriga a tê -la tanto em alta estima e a amá -la tanto?" Nosso Senhor
respondeu: “Só a minha bondade me obriga; visto que ela conté m e
aperfeiçoa em sua alma aquelas cinco virtudes que mais me agradam e
que eu coloquei nelas por uma liberalidade singular. Ela possui pureza,
por uma in luê ncia contı́nua da Minha graça; ela possui humildade, em
meio à grande diversidade de dons que eu lhe dei - pois quanto mais eu
a exerço, mais ela se rebaixa; ela possui uma verdadeira benignidade, o
que a faz desejar a salvaçã o do mundo inteiro para Minha maior
gló ria; ela possui uma verdadeira idelidade, espalhando no exterior,
sem reservas, todos os seus tesouros para o mesmo im. Finalmente, ela
possui uma caridade consumada; porque ela me ama com todo o seu
coraçã o, com toda a sua alma e com todas as suas forças; e por amor a
Mim, ela ama seu pró ximo como a si mesma. ”
Depois de Nosso Senhor ter falado assim a esta alma, Ele mostrou a
ela uma pedra preciosa em Seu coraçã o, na forma de um triâ ngulo, feito
de trevos, cuja beleza e brilho nã o podem ser descritos; e Ele disse a
ela: “Sempre uso esta joia como garantia do afeto que tenho por Meu
esposo. Eu iz desta forma, para que toda a corte celestial possa saber
pelo brilho da primeira folha que nã o há criatura na terra tã o querida
para Mim como Gertrudes, porque nã o há ningué m neste momento
entre a humanidade que esteja unida a Mim tã o intimamente quanto
ela é , seja por pureza de intençã o ou por retidã o de vontade. Eles verã o
pela segunda folha que nã o há alma ainda presa pelas correntes de
carne e sangue a quem estou disposto a enriquecer com Minhas graças
e favores. E verã o no esplendor da terceira folha que nã o há quem se
re ira apenas à Minha gló ria os dons recebidos de Mim com tanta
sinceridade e idelidade como Gertrudes, que, longe de querer
reivindicar o mı́nimo para si, mais deseja ardentemente que nada
jamais será atribuı́do a ela. ” Nosso Senhor concluiu esta revelaçã o
dizendo à pessoa santa a quem assim condescendeu em falar das
perfeiçõ es de nosso Santo: “Nã o me encontrareis em nenhum lugar em
que me agrade mais, ou que seja mais adequado para mim, do que em o
Sacramento do Altar, e depois, no coraçã o e na alma de Gertrudes,
Minha bem-amada; pois em relaçã o a ela todos os meus afetos e as
complacê ncias do meu amor divino se voltam de maneira singular. ”3
Em outra ocasiã o, um devoto que rezava pelo Santo ouviu estas
palavras: “Aquela por quem tu oras é minha pomba, que nã o tem dolo,
porque rejeita de coraçã o toda a astú cia e amargura do pecado. Ela é
Meu lı́rio escolhido, que amo levar em Minhas mã os, pois é Meu deleite
e Meu prazer repousar na pureza e inocê ncia desta alma casta. Ela é
Minha rosa, cujo cheiro é doce por causa de sua paciê ncia em todas as
adversidades e da açã o de graças que ela continuamente me oferece,
que sobe diante de Mim como os mais doces perfumes. Ela é aquela lor
primaveril que nunca murcha e que tenho prazer em contemplar,
porque guarda e manté m continuamente no seio um desejo ardente
nã o só por todas as virtudes, mas pela perfeiçã o má xima de todas as
virtudes. Ela é como uma doce melodia que arrebata os ouvidos dos
bem-aventurados; e esta melodia é composta de todos os sofrimentos
que ela suporta com tanta constâ ncia ”.
Um pouco antes da Quaresma, enquanto Gertrudes lia uma palestra
para a comunidade, segundo o costume da Ordem, ela repetiu duas
vezes estas palavras: “Amará s o Senhor teu Deus de todo o coraçã o, e de
toda a tua alma, e com toda a tua força. " ( Deuteronômio 6: 5). A Santa
vivia numa comunidade de santos, onde mais de uma alma favorecida
era concedida à comunhã o ı́ntima e frequente com o seu esposo. Uma
irmã , tocada pela devoçã o com que essas palavras foram pronunciadas,
orou para que Aquele que tanto amava Gertrudes e a ensinara a amá -lo
tanto, se dignasse transmitir a ela a mesma liçã o bendita. Nosso Senhor
respondeu: “Eu a carrego em Meus braços desde a infâ ncia. Eu a
preservei em sua pureza e inocê ncia batismal, até que ela, por sua
pró pria livre escolha e vontade, se entregou a Mim inteiramente e para
sempre; e como recompensa pela perfeiçã o de seus desejos, eu, em
troca, me entreguei inteiramente a ela. Tã o agradá vel é esta alma para
mim, que quando sou ofendido pelos homens, muitas vezes entro nela
para repousar e faço-a suportar algumas dores de corpo ou de mente,
que in lijo-lhe pelos pecados dos outros; e ao aceitar este sofrimento
com a mesma açã o de graças, humildade e paciê ncia com que recebe
tudo o que vem de mim, e oferece-o a mim em uniã o com os meus
sofrimentos, ela apazigua a minha ira e obriga a minha misericó rdia a
perdoar, por ela, um nú mero imenso de pecadores. ”
Em outra ocasiã o, tendo Gertrudes pedido humildemente as
oraçõ es de uma irmã , a religiosa acatou seu pedido, e enquanto rezava
pela Santa, ouviu estas palavras: “As faltas que aparecem em Gertrudes
podem antes ser chamadas de degraus de perfeiçã o, pois seria Seria
quase impossı́vel que a fraqueza humana pudesse ser preservada dos
sopros da vangló ria, em meio à abundâ ncia de graças que
continuamente opero nela, se suas virtudes nã o estivessem escondidas
de seus olhos sob os vé us e sombras de defeitos aparentes. Assim,
assim como a terra produz uma colheita mais rica e abundante na
proporçã o em que o trabalhador foi cuidadoso em adubá -la, a gratidã o
de Gertrudes Me dá frutos mais ricos, quanto mais a faço ver sua
pró pria fraqueza. E por isso que permito nela diferentes imperfeiçõ es,
pelas quais ela se encontra em estado de contı́nua humilhaçã o,
enviando-lhe uma graça particular para cada uma, com a qual ela as
apaga todas da Minha vista; e chegará o tempo em que transformarei
esses defeitos em tantas virtudes, para que sua alma brilhe diante de
mim como um sol glorioso ”.
Quais foram esses defeitos, nã o nos é dito. A paciê ncia do Santo na
doença e nas provaçõ es era inalterá vel; sua caridade para com as irmã s
abundava com cada necessidade de seu exercı́cio; e sua santidade era
evidente em cada açã o de sua vida santa. Um dom especial de profecia
ou presciê ncia capacitou-a a dar conselhos com prontidã o e a maior
sabedoria nas ocasiõ es mais importantes. Quando esses dons se
tornaram conhecidos, o mosteiro era freqü entemente visitado por
todas as classes de pessoas, que iam conversar com ela sobre assuntos
espirituais ou obter conselho nas di iculdades. Seu estudo profundo da
Sagrada Escritura e dos Padres agora deu frutos abundantes, e foi
observado que ela teve uma felicidade singular, e sem dú vida enviada
do Cé u, ao aplicar o que havia lido e guardado em sua memó ria à s
necessidades espirituais de aqueles com quem ela conversou.
Deus e a salvaçã o das almas - esse era o ú nico objetivo de sua vida, o
im de cada açã o. Por sua humildade, ela se convenceu totalmente de
que as graças maravilhosas que lhe foram concedidas foram dadas
apenas para os outros. Essa ilusã o sagrada serviu a dois ins
importantes - salvou-a de toda tentaçã o de complacê ncia espiritual e a
induziu a transmitir gratuitamente a outros o conhecimento das
revelaçõ es e outros favores que lhe foram concedidos. Ela era
simplesmente, de acordo com sua pró pria ideia, um canal da graça
divina para outros; e acreditando ser este o seu im, ela nã o poupou
tempo nem trabalho para a sua concretizaçã o. Freqü entemente, seu
descanso era encurtado e sua comida esquecida quando as almas
exigiam tempo ou pensamentos ansiosos. “Nã o satisfeita nem com isso,
muitas vezes ela se privava da doçura da contemplaçã o quando era
necessá rio socorrer o tentado, consolar o a lito, ou, o que ela desejava
acima de tudo, acender e aumentar o fogo do amor divino em qualquer
alma. Pois assim como o ferro, quando colocado no fogo, torna-se ele
mesmo como fogo, assim esta virgem, ardendo de amor, parecia ser
toda amor, tanto zelo tinha ela pela salvaçã o de todos ”.
Ela acreditava que Deus seria realmente glori icado assim, e que
Seus dons seriam assim multiplicados cem vezes; “Ela estava
absolutamente convencida de que nã o recebia nada para si mesma, mas
que tudo era para a salvaçã o dos outros. Ela nunca viu ningué m a quem
nã o considerasse melhor do que ela, e foi por isso que ela estava tã o
convencida de que Deus receberia mais gló ria pela comunicaçã o de
Suas graças a eles. Ela acreditava que eles mereciam mais por um ú nico
pensamento, por sua mera inocê ncia, até mesmo por sua pureza de
coraçã o, do que ela poderia fazer por todos os seus poderes mentais ou
dons espirituais. ” Podemos nos maravilhar que um vaso tã o vazio de si
mesmo tenha sido enchido até transbordar com Deus? - que o "perfume
do unguento" deveria ter permanecido por tantas centenas de anos na
casa de Deus, e que ainda oferece refrigé rio e consolo para suas esposas
escolhidas, e para as almas mais santas? Que este pobre esforço para
estender a doçura daquele perfume seja para Sua honra e gló ria, para
honra deste Santo Santo e para refresco dos pequeninos de Jesus!

CAPITULO 2
Santa Gertrudes prevê a eleiçã o de Adolphus de Nassau. Acalma os medos das
irmã s, que esperam sofrer uma perda temporal. Sua eleiçã o como
abadessa. Remoçã o para Heldelfs. Revelaçõ es de sua santidade. Nosso Senhor
aparece para ela levando a casa da religiã o. Sua generosidade de espı́rito.

eu

No ano de 1273, Rodolfo de Habsburgo ascendeu ao trono imperial


como Imperador da Alemanha, embora, como nã o foi coroado pela
Santa Sé , ele apenas carregou o tı́tulo mais humilde de Rei dos
Romanos. Diz-se que sua eleiçã o foi predita por um padre a quem ele
mostrou sinais singulares de reverê ncia e respeito enquanto levava o
Santo Viá tico a um moribundo.4Coxe, em sua Casa da Áustria , exalta
fortemente o cará ter desse prı́ncipe, mas observa que ele foi elevado ao
trono imperial principalmente pela in luê ncia do Arcebispo de
Mentz. Albert, o ú nico ilho sobrevivente do imperador, sucedeu aos
domı́nios hereditá rios de seu pai. Os eleitores provavelmente o teriam
aceitado como seu chefe, se seus modos severos e nã o conciliadores
nã o tivessem ofendido seus melhores amigos e, ao contrá rio de todas
as expectativas, Adolphus, conde de Nassau, foi elevado ao trono vago.
A nomeaçã o de Adolfo ocorreu em 10 de maio de 1292. Quã o pouco
imaginava que sua nova dignidade e seu trá gico im fossem naquele
exato momento revelados a uma freira de um claustro distante e
solitá rio! As irmã s foram fervorosas em suas oraçõ es por um sucessor
digno de seu rei mais cristã o, e intercederam, como os verdadeiros
religiosos sempre farã o, com sú plicas fervorosas pelo bem-estar de seu
paı́s. No mesmo dia, e quase no mesmo momento, quando o
importante assunto foi decidido, Gertrudes contou à abadessa de seu
mosteiro o que havia acontecido e previu o terrı́vel destino do novo
monarca.5
Os problemas da é poca nã o deixaram de afetar o mosteiro de
Rodersdorf. Certa vez, quando foi ameaçada de uma calamidade
terrı́vel, considerada inevitá vel pelas ameaças daqueles que tinham o
poder e a força ao seu lado, a Santa foi à sua Superiora e garantiu-lhe
que já nã o havia motivo para temor. Quase no mesmo momento, a
pessoa cuja raiva era tã o temida veio ao convento, e as religiosas
descobriram, para sua alegria e espanto, que os juı́zes locais haviam
apaziguado todas as diferenças e estabelecido a paz, como Gertrudes
havia previsto para a abadessa .
Santa Gertrudes foi escolhida abadessa de seu mosteiro no ano de
1294. No ano seguinte, a religiosa mudou-se para Heldelfs. A Santa foi
eleita para este cargo importante com a idade de trinta anos - nenhum
testemunho leve de sua prudê ncia singular e virtude
extraordiná ria. Por quarenta anos ela continuou a edi icar e guiar seus
ilhos espirituais, muitos dos quais haviam alcançado um alto grau de
santidade. Como Superiora, ela se distinguiu pela caridade e
zelo. Enquanto outros sofriam, fosse no corpo ou na mente, ela nã o
conseguia descansar; e onde havia necessidade de correçã o, suas
lá grimas e oraçõ es trouxeram arrependimento e fervor renovado, em
vez de qualquer severidade de reprovaçã o, que seu pró prio ofı́cio
poderia ter mais do que sancionado. A importâ ncia de sua obra, e seu
imenso valor aos olhos de seu Divino Esposo, foi manifestada a ela por
uma visã o notá vel, que deve ser sempre um assunto especial de
instruçã o e consolo para aqueles em situaçã o semelhante, e, na
verdade, para todos os religiosos .
Nosso Senhor apareceu a ela, carregando em Seus ombros sagrados
um edifı́cio vasto e magnı́ ico.6“Eis”, disse Ele, “com que trabalho,
cuidado e vigilâ ncia levo esta amada casa, que nã o é outra senã o a da
Religiã o. Está em toda parte ameaçada de ruı́na, porque tã o poucas
pessoas estã o dispostas a fazer ou sofrer qualquer coisa para seu
sustento e aumento. Você , portanto, deve sofrer Comigo ao suportá -
lo; para todos aqueles que se esforçam, por suas palavras ou açõ es,
para estender a religiã o, e que tentam restabelecê -la em seu primeiro
fervor e pureza, sã o tantos pilares fortes que sustentam esta casa
sagrada e Me confortam, compartilhando Comigo o peso desta fardo."
A partir deste momento a Santa se dedicou, com toda a energia
santi icada de um temperamento naturalmente ardente, à obra tã o cara
ao seu Esposo. O seu mosteiro tornou-se de facto uma “casa de prazer”
de deleite para a Esposa das virgens. Sob sua orientaçã o, o fervoroso
aumentou em fervor e os santos avançaram rapidamente em
perfeiçã o. Muitos foram favorecidos com comunicaçõ es ı́ntimas e
abençoadas do Cé u; pelo menos um,7 sua irmã , tanto na carne como no
espı́rito, obteve até mesmo na terra o reconhecimento de sua
santidade e uma posiçã o entre aquelas que sã o invocadas nos altares
da Igreja.
Mas a vida da jovem abadessa nã o devia ser devotada
exclusivamente ao serviço ativo; e nosso Senhor começou agora a
ensiná -la que o zelo exterior deve ter seus limites, por mais sagrado
que seja o im para o qual trabalhou; que a contemplaçã o nã o era
apenas necessá ria para a alma individual, mas també m para promover
a gló ria de Deus nos outros, visto que a oraçã o sozinha pode efetuar
conversõ es e santi icaçõ es, enquanto o esforço ativo, sem sua in luê ncia
vivi icante, é de pouco valor. Uma pessoa a quem nosso Divino Senhor
havia revelado seus desı́gnios em relaçã o à Santa escreveu-lhe assim:
“O bendita esposa de Cristo, entra no gozo do teu Senhor! O Seu
Divino Coraçã o abre-vos a sua fonte de inefá vel doçura, como
recompensa pela idelidade com que labutastes pela Sua gló ria e pela
defesa da verdade. Ele deseja agora que você descanse à sombra de
Seus consolos mais pacı́ icos:8pois, assim como uma boa á rvore,
plantada à beira do rio, cria raı́zes profundas e produz frutos
abundantes, assim você produzirá para o seu Amado o fruto de seus
pensamentos, palavras e açõ es, que Lhe agradam muito, por Sua graça
operando dentro de você . Nã o tema que o calor da perseguiçã o
enfraqueça sua alma, pois ela é continuamente banhada pelas sagradas
á guas da graça. Ao buscar em todas as suas açõ es a gló ria de Deus, e
nã o a sua, o fervor do seu zelo aumenta cem vezes os frutos que você
oferece ao seu querido Esposo, nã o apenas pelas obras piedosas que
você realmente realiza, mas mesmo por aquelas que você deseja fazer
por si mesmo ou ver feito por outros, embora nã o esteja em seu poder
realizá -los. O pró prio Jesus Cristo suprirá diante de Seu Pai as suas
necessidades e defeitos, e os dos outros por quem você é
solı́cito; portanto, nã o duvide de que Ele recompensará igualmente
tudo o que você deseja fazer, como se o tivesse realizado, e saiba que
toda a corte do Cé u se regozija com o seu avanço e retribui graças e
louvores a Deus por amor a você . ”
A uniã o da Santa com seu Senhor tornou-se agora tã o ı́ntima que
mesmo a apreensã o de uma morte repentina parecia incapaz de
perturbar sua paz por um momento. Em uma ocasiã o, enquanto ela
viajava de um convento para outro, ela foi repentinamente precipitada
por um caminho de montanha ı́ngreme. "Meu doce Senhor", ela
exclamou, "quã o feliz eu deveria ter sido se este outono tivesse me
trazido mais cedo para Ti!" Seus companheiros perguntaram se ela nã o
temeria morrer sem os sacramentos. “Desejo ardentemente”, respondeu
ela, “receber o apoio dos Sacramentos antes de morrer, mas pre iro a
Providê ncia e a Vontade do meu Senhor e do meu Deus a todos os
Sacramentos, pois creio que esta é a melhor preparaçã o para a morte. E
indiferente para mim se é lento ou repentino, desde que seja agradá vel
aos Seus olhos, a quem espero que me leve; pois con io, de qualquer
maneira que morra, que nã o serei privado da misericó rdia de meu
Deus, sem a qual minha ruı́na eterna seria inevitá vel, quer eu morra de
uma morte despreparada, quer tenha antecipado por muito tempo meu
im. ”
A con iança da Santa em Deus era, de fato, uma caracterı́stica
eminente de sua santidade, e que obtinha por seus imensos
favores. Como poderia o Coraçã o de Jesus recusar qualquer coisa a
algué m que con iava Nele tã o inteiramente? Como esta virtude era
agradá vel para seu esposo, foi revelada a uma de suas religiosas, que há
muito orava em vã o por um favor especial que ela tanto desejava. Por
im, nosso Divino Senhor autorizou-se a informá -la do motivo desse
atraso, pelo qual ela havia sentido e expressado seu profundo
espanto. “Atrasei o atendimento de suas oraçõ es porque você ainda nã o
tem con iança su iciente nos efeitos que Minha misericó rdia produz em
você . Por que você nã o age como Gertrudes, minha virgem eleita, que
está tã o irmemente estabelecida na Minha Providê ncia, que nada há
que ela nã o espere da plenitude da Minha graça; portanto, nunca lhe
recusarei nada, seja o que for que ela Me peça ”.
Certa vez, um homem santo orou fervorosamente para saber qual
virtude era mais agradá vel a Nosso Senhor em sua esposa. Ele foi
respondido que era "sua generosidade de coraçã o".9Mas como isso o
surpreendeu muito, ele se aventurou a responder: "Quanto a mim, ó
Senhor, eu imaginava que o que mais Te agradava nesta alma era o
conhecimento perfeito que ela tinha de si mesma, e o alto grau de amor
ao qual , por Sua graça, ela alcançou. " Nosso Senhor respondeu: “Esta
generosidade de coraçã o é de tal valor e um bem tã o grande, que o
cume da perfeiçã o pode ser obtido por meio dela. Por meio dele, Meus
eleitos estã o sempre preparados para receber presentes de grande
valor, o que a impede de apegar seu coraçã o a qualquer coisa que possa
Me impedir ou desagradar. ”
Um feliz efeito dessa liberdade de espı́rito foi que o Santo nã o
suportou possuir ou reter nada que nã o fosse absolutamente
necessá rio para o uso; e, no entanto, somos informados de que ela tinha
um doce e sagrado apego à s coisas que eram usadas para propó sitos
sagrados - as tá buas em que ela escreveu - e ela poderia amá -las, já que
seus escritos eram o trabalho especial para o qual a Providê ncia havia
dado ela à Igreja, e foram iniciadas por ordem expressa de seu Divino
Esposo; para as obras espirituais que prometiam a maior edi icaçã o e
se mostravam mais proveitosas para ela e suas irmã s - e isso porque ela
acreditava que essas coisas inanimadas eram usadas por seu Senhor
para prestar-Lhe um serviço especial e para obter Sua maior honra e
gló ria.
A maneira feliz como ela combinou os deveres da vida ativa com
aquela uniã o incessante com seu Amado que tã o especialmente
caracterizou sua vida espiritual foi mostrada a Sã o Mechtilde em uma
visã o. Em uma ocasiã o, enquanto ela cantava, ela viu nosso Divino
Senhor sentado em um trono alto ao redor do qual Santa Gertrudes
caminhava sem desviar os olhos de seu Mestre nem por um
momento. Ao mesmo tempo, ela parecia cumprir seus deveres
exteriores com a mais perfeita exatidã o. Enquanto sua santa irmã
re letia maravilhada sobre a visã o, ela ouviu estas palavras: “Esta é uma
imagem da vida que Minha amada Gertrudes vive; assim ela anda
sempre na Minha presença, nunca relaxando no seu desejo ardente de
saber e de fazer o que mais agrada ao Meu coraçã o. Tã o logo o tenha
veri icado, o executa com cuidado e idelidade, e entã o prontamente
passa a algum outro dever, buscando em seu zelo sempre encontrar
alguma nova virtude para praticar. Assim, toda a sua vida é uma cadeia
contı́nua de louvor, consagrada à Minha honra e gló ria. ”
"Mas, Senhor", respondeu Santa Mechtilde, "se a vida de Santa
Gertrudes é tã o perfeita, como é que ela nã o pode suportar as
imperfeiçõ es dos outros, e que parecem tã o grandes para ela?"
Nosso Senhor respondeu com admirá vel doçura: "E porque ela nã o
pode suportar que seu pró prio coraçã o seja manchado com a menor
mancha e, portanto, ela nã o pode ver sem emoçã o o menor defeito no
coraçã o de outra pessoa."
Era costume da Santa, quando lhe era oferecida qualquer escolha de
artigos de vestuá rio ou outras necessidades, fechar os olhos e depois
estender a mã o e pegar tudo o que tocasse. Entã o ela recebeu tudo o
que coube a sua sorte com a mais viva gratidã o como um presente do
pró prio Nosso Senhor. Na verdade, sua devoçã o à Divina Providê ncia
era uma caracterı́stica especial de sua santidade e que lhe rendia
muitos favores. O que poderia ser recusado a quem con iou tã o
profundamente no Amor Eterno!
A santidade de Sã o Mechtilde era bem conhecida da Santa, e ela
freqü entemente pedia seus conselhos e oraçõ es. Certa vez, enquanto
Mechtilde orava fervorosamente por ela, em conformidade com seu
desejo, ela viu nosso Senhor Divino vestido como um Noivo e vestido
com um manto verde forrado de ouro. Sua beleza superava a de milhõ es
de anjos, e ele ternamente abraçou com Seu braço direito aquela por
quem ela orava. Pareceu-lhe que Gertrudes també m abraçava o seu
Senhor e que o seu coraçã o estava apegado à ferida do lado de
Jesus. Enquanto procurava com espanto compreender esta visã o
extraordiná ria, ouviu estas palavras: “Saiba que o verde e o ouro das
Minhas vestes representam a operaçã o da Minha Divindade, sempre
nova, e sempre agindo pela in luê ncia do Meu amor. Sim ”, acrescentou,
depois de repetir novamente as mesmas palavras,“ minha operaçã o é
sempre nova e sempre em açã o na alma de Gertrudes; e a uniã o que vê s
do coraçã o dela com o Meu lado mostra que ela está tã o
inseparavelmente ligada a Mim, que está em condiçõ es de receber a
cada momento as infusõ es da Minha Divindade ”.
Santa Mechtilde entã o perguntou se Santa Gertrudes, que era tã o
querida por Deus, nunca cometeu qualquer falta, e por que ela parecia
tã o pronta a qualquer momento para mudar sua ocupaçã o, e fazer,
como por acaso, o que quer que viesse em sua mente , sua consciê ncia
parecendo estar igualmente em repouso quer ela orasse, escrevesse,
lesse, instruı́sse, reprovasse ou consolasse.
Nosso Salvador respondeu: “Uni Meu Coraçã o tã o intimamente à
sua alma pelos laços de Minha misericó rdia que ela se tornou um só
espı́rito Comigo. E por isso que ela obedece tã o prontamente a todos os
desejos da Minha vontade, de forma que a harmonia e a compreensã o
que existem entre os diferentes membros do corpo e do coraçã o nã o
sã o maiores do que as que existem entre a alma de Gertrudes e
Minha; e como no momento em que um homem deseja em seu coraçã o
um movimento de suas mã os, eles realizam seu desejo, porque estã o
inteiramente sujeitos à vontade do coraçã o; e como algué m deseja em
sua mente que seus olhos olhem para qualquer objeto e seus olhos se
abram imediatamente para obedecê -lo - assim Gertrude está sempre
Comigo e a cada momento pronta para obedecer aos movimentos que
eu sugiro. ”
Uma revelaçã o semelhante foi feita quase ao mesmo tempo a outra
pessoa santa, a quem foi dito que a uniã o da Santa com seu esposo se
tornaria ainda mais perfeita, que ela receberia os dons de Deus com
ainda maior abundâ ncia, e que ela obteria uma uniã o tã o perfeita com
Ele, que com seus olhos ela veria apenas o que Deus queria que ela
visse, com seus ouvidos apenas ouviria o que Ele queria que ela ouvisse,
e com seus lá bios apenas falaria o que Ele queria que ela falasse.
CAPITULO 3
O Santo obté m um clima favorá vel. Milagres mencionados em seu
escritó rio. Uniã o de sua vontade com a de Deus. Aconselha outros. Nosso
Senhor desejava que ela escrevesse suas revelaçõ es. Sua santidade revelada a
Sã o Mechtilde.

O que algué m tã o unido a Deus deveria ter sido especialmente


favorecido com o dom de milagres, é apenas o que poderı́amos esperar
no curso normal da vida espiritual. Aqueles que se entregam sem
reservas a Deus recebem Seus dons també m sem reservas. Eles fazem a
Sua vontade, e Ele cumpre a deles: porque a vontade do Noivo e da
noiva é uma. O Santo uma vez obteve a cessaçã o de uma geada que foi
tã o severa que se tivesse continuado por mais tempo, os frutos da terra
teriam sido totalmente destruı́dos. Sua petiçã o foi oferecida no Santo
Sacrifı́cio; e quando ela estava prestes a se aproximar do adorá vel
Sacramento do Altar, Nosso Senhor assegurou-lhe que havia atendido
seu pedido. Com santa ousadia, no entanto, ela pediu que o granizo que
entã o caı́a cessasse instantaneamente. Sua petiçã o foi atendida, mas
como ela estava absorta na grandeza da açã o que estava prestes a
realizar, ela nã o pensou mais em seu pedido. Só foi lembrado quando
ela saiu da igreja e viu o degelo que já havia começado. Aqueles que nã o
sabiam da oraçã o do Santo icaram muito surpresos com a mudança
repentina do tempo e temeram que fosse apenas uma cessaçã o
passageira da severidade temida, mas nã o foi assim: o paı́s foi poupado
da desolaçã o e da fome, embora poucos soubessem disso. a quem eles
estavam em dı́vida por este favor.
Uma vez també m, quando uma chuva longa e forte ameaçou
destruir a colheita, todas as irmã s estavam constantemente oferecendo
oraçõ es e penitê ncias para evitar a calamidade. Por im Gertrudes, com
a santa con iança de extraordiná ria santidade, declarou que nã o
cessaria de orar até que obtivesse bom tempo. Imediatamente o cé u
tornou-se sereno e claro, embora alguns momentos antes nuvens
escuras e pesadas tivessem ameaçado uma longa continuaçã o de
chuva.10
“Certa noite, depois do jantar”, diz seu bió grafo, “quando a
comunidade entrou na quadra para terminar alguns trabalhos, o sol,
que ainda estava no horizonte, de repente se cobriu de nuvens, que
ameaçavam cair sob forte chuva. Gertrude suspirou profundamente - e
eu mesmo a ouvi - falando assim com Deus: 'O Senhor meu Deus,
Criador do universo, nã o pretendo obrigar-te a obedecer à minha
vontade pecaminosa; pelo contrá rio, se Tua in inita misericó rdia nã o
quer se opor aos graus de Tua justiça, e evitar esta chuva, a nã o ser por
mim, pre iro que Tua Vontade, que adoro, seja cumprida, e que chova,
se Você desejou assim. ' Ela disse essas coisas com uma resignaçã o
perfeita à Vontade de Deus, tendo sua mente ocupada apenas com a
consideraçã o da Providê ncia Divina, cujas ordens ela desejava ver
executadas. Mas, eis que é uma maravilha! Ela mal havia terminado
essas palavras quando um trovã o foi ouvido, e grandes gotas de chuva
começaram a cair rapidamente. Ela, bastante emocionada e tocada de
compaixã o pelas irmã s, exclamou novamente: 'Tem piedade de nó s, ó
Deus da clemê ncia, pelo menos por um breve espaço, até que tenhamos
concluı́do a obra que nos foi ordenada fazer.' Deus, para mostrar que
Ele nada recusou à s oraçõ es dela, fez com que a chuva cessasse até que
tudo estivesse terminado. ” A comunidade entã o voltou ao seu recinto,
mas mal tinham alcançado a porta quando veio uma tempestade tã o
violenta de trovõ es, relâ mpagos e chuva, que aqueles que
permaneceram no tribunal foram perfeitamente inundados por ela. “E
assim”, continua o cronista, “que Deus obedece à s oraçõ es de Seus
eleitos, que renunciaram inteiramente a seus pró prios desejos por
amor a Ele”.
Era costume comum da Santa recorrer a seu esposo celestial em
todas as provaçõ es, fossem de menor ou maior importâ ncia, e suas
oraçõ es eram igualmente aceitas em todas essas ocasiõ es. O que, de
fato, é pouco aos Seus olhos, quem se preocupa tanto com Seus eleitos,
que os pró prios cabelos de suas cabeças estã o contados, e ningué m
pode cair sem Seu conhecimento? Assim, é relatado de Gertrudes, que
mesmo quando ela perdeu uma agulha com a qual ela estava
trabalhando, e a procurou por algum tempo na palha onde ela havia
caı́do, ela se voltou para o seu Senhor, para cuja gló ria ela tinha sido
usada , e pediu-Lhe que a ajudasse em sua busca; enquanto falava, ela
colocou a mã o mais uma vez no canudo e encontrou instantaneamente
o que havia tanto tempo procurado em vã o. De fato, tã o grande era o
poder da Santa sobre o Coraçã o de seu Esposo, que parecia que o
pró prio nosso Divino Senhor se incomodava em recusar qualquer
pedido. Aconteceu em uma ocasiã o, que uma longa continuaçã o de seca,
combinada com tempo tempestuoso, causou sé rios temores para os
frutos da terra. Santa Gertrudes, como sempre, recorreu à oraçã o. Nã o
era a vontade de Deus atender sua petiçã o; mas com espantosa
condescendê ncia, Ele se comprometeu nã o apenas a informá -la de Seus
desı́gnios, mas també m, ao que parecia, a desculpar-se por nã o ter
acatado seu pedido.
“A razã o que à s vezes Me obriga a conceder as oraçõ es dos Meus
eleitos nã o existe entre você e Mim, visto que nossas vontades estã o tã o
intimamente unidas pelo laço sagrado da graça, que você nã o deseja
nada senã o o que Eu mesmo desejo. Mas porque pretendo, pelos
terrores desta tempestade, conquistar alguns que se rebelam contra a
Minha Vontade, e pelo menos obrigá -los a Me buscarem por meio da
oraçã o, visto que só vê m a Mim quando nã o tê m outro recurso, é
necessá rio que Eu o faça. recusar o que você deseja. No entanto, para
que você saiba que suas oraçõ es nã o falharam em seu efeito, vou
conceder-lhe em troca algum outro favor espiritual. ” Que revelaçã o da
ternura do Pai e da santidade do ilho! Ai de mim! Entã o, há aqueles a
quem nosso querido Senhor é obrigado a conceder os favores que eles
pedem porque nã o suportam ser recusados, porque, para evitar suas
murmuraçõ es, Ele dá aquilo que, se tivessem mais fé , seria recusado! E,
infelizmente, nã o é verdade que milhares O buscam somente quando
tudo o mais falhou, e devem ser lançados nos braços que estã o abertos
o dia todo para recebê -los com tã o inefá vel ternura!
Como Gertrudes era frequentemente consultada sobre todos os
assuntos, nã o só por aqueles que tiveram a felicidade de viver sob sua
orientaçã o imediata, mas també m por centenas que vieram de longe,
atraı́dos pela fama de sua santidade, aconteceu mais de uma vez que ela
foi apreendida com santo temor de que suas palavras e conselhos
devam antes atrapalhar do que fazer avançar aqueles que recorreram a
ela. Enquanto ela orava pedindo luz sobre este assunto importante,
Nosso Senhor respondeu: “Nã o temas daqui em diante; seja consolado,
tenha coragem e descanse. Eu sou o Senhor teu Deus; Eu sou teu
Amado, que te criou por um efeito puro de Meu amor; Eu te escolhi
para fazer de ti Minha morada por Minha graça e ter Meu prazer em
ti; portanto, responderei verdadeiramente por ti à queles que Me
procuram atravé s de ti com fervor e humildade. També m prometo a
você que nunca permitirei que algué m que considero indigno de
receber Meu Corpo e Sangue peça seus conselhos sobre esse
assunto. Portanto, envia os escrupulosos e tı́midos com a maior
segurança, porque, por amor de ti, nã o vou excluir nenhum deles do
Meu afeto paternal; mas preferirei abraçá -los na mais terna caridade, e
nã o os recusarei Meu mais doce beijo de paz. ”
Certa vez, enquanto ela orava por uma certa pessoa, e se sentia
envergonhada por esta pessoa nã o ter maior fé em obter ainda mais do
que ela havia pedido, nosso Senhor disse a ela, com grande gentileza:
“Tudo o que qualquer pessoa espera obter por sua intercessã o, eles
certamente receberã o de mim; e, alé m disso, tudo o que você prometer
a qualquer um em Meu nome certamente será feito por eles, pois
embora o suplicante, por meio de enfermidade humana, nã o possa
perceber o que eu iz, eu irei cumprir Minha promessa e produzir o
efeito desejado em sua alma."
Depois de alguns dias, enquanto a Santa re letia maravilhada como
tais grandes promessas podiam ser feitas a algué m tã o indigno, e
perguntava a seu esposo como Ele poderia conceder Suas graças a uma
criatura tã o vil, Ele respondeu a ela: “Nã o é a Igreja Universal permite
que eu anteriormente disse apenas a Pedro: '... O que quer que
desligardes na terra, será desligado no cé u' ( Mt 16:19), e ao mesmo
tempo creio que os ministros da Igreja exercem agora o mesmo poder
? Por que, entã o, você nã o acredita que eu posso e vou cumprir tudo o
que o amor Divino Me pedir para prometer a você ? ” Ele entã o tocou a
lı́ngua dela e disse: “Eis que tenho posto as Minhas palavras na tua
boca” ( Jer . 1: 9); “E Eu realmente con irmo tudo o que você pode dizer
aos outros por Minha sugestã o e em Meu nome: a quem você prometer
algo por Minha bondade na terra, Eu farei isso e rati icarei no Cé u.” A
essas promessas maravilhosas, o Santo respondeu: "Senhor, icaria
triste se algué m assim incorresse na perda eterna, como se eu dissesse
que nenhum crime escaparia sem puniçã o, ou qualquer coisa desse
tipo." Ele respondeu: "Sempre que o amor pela justiça ou pelas almas o
motivar, por assim dizer, Minha clemê ncia avisará previamente o
pecador a quem você se dirige a se arrepender de seus pecados, para
que ele nã o mereça vingança ou puniçã o por menosprezar suas
instruçõ es . ”11O Santo respondeu: “Se é verdade, meu Deus, que Tu, em
tua bondade, falas assim por meu intermé dio, como é que minhas
palavras tê m tã o pouco efeito sobre algumas pessoas, apesar do desejo
ardente que tenho de conduzi-las para glori icar a Ti e para se
salvarem? " Nosso Senhor respondeu: “Nã o se maravilhe se suas
palavras à s vezes sã o infrutı́feras e nã o produzem nenhum efeito, visto
que, quando eu habitava entre os homens, Minhas pró prias palavras,
embora proferidas com o fervor e poder da Divindade, nã o produziram
o fruto da salvaçã o no coraçõ es de todos. E atravé s da Minha Divina
Providê ncia que todas as coisas sã o arranjadas e aperfeiçoadas no
tempo apropriado, conforme indicado por Mim. ”
Logo depois, tendo oportunidade de reprovar uma pessoa por uma
falta, ela temeu ter agido indiscretamente e com muita severidade. Ela
se voltou imediatamente para seu esposo e implorou a Ele que nunca
pudesse dizer nada a ningué m que nã o fosse de acordo com Seu
Coraçã o. “Nada tema, Minha ilha”, respondeu nosso Salvador, “mas
antes enche-se de santa con iança; pois Eu darei a você s esta graça
especial, que quando algué m recorrer a você s com fé e humildade, a im
de consultá -los sobre qualquer assunto, a luz da Minha verdade
descobrirá para você s as mais ocultas obscuridades do assunto, e você
vai julgá -los tã o verdadeiramente quanto eu mesmo, de acordo com o
assunto em mã os e as circunstâ ncias das pessoas. Você vai repreender
severamente, da minha parte, aqueles cuja conduta Eu faço saber a você
como tendo sido culpados; e, ao contrá rio, você será doce e afá vel com
aqueles cujas falhas foram menos graves. ” “Rei do Cé u e da Terra”, ela
exclamou, “reté m a torrente de Tuas misericó rdias, pois um fragmento
de pó e cinzas como eu é indigno de receber tantos favores”. “Por que
icar tã o maravilhada, Minha ilha”, respondeu Nosso Senhor,
acalmando-a docemente, “se te considero um juiz das causas das
Minhas inimizades, quando tantas vezes te comuniquei os segredos da
Minha amizade?” Em seguida, acrescentou as seguintes palavras:
“Todos os que, quando vencidos pela tristeza e tendo o coraçã o
oprimido por qualquer a liçã o, vã o com profunda humildade e
verdadeira sinceridade em obter de vó s conselho e consolo, nunca
icarã o desapontados; pois Eu, o Senhor, habitando em ti, no impulso da
exuberâ ncia do Meu amor, desejo fazer de ti o meio de salvar muitos, e é
certo que toda a alegria que o teu coraçã o experimentará nisto prové m
da fonte fecunda do meu coraçao."
Santa Mechtilde uma vez contemplou o coraçã o da Santa formando,
por assim dizer, uma ponte irme e está vel, cujos lados lhe pareciam
estar limitados, um com a Divindade de Jesus Cristo, e o outro com Sua
sagrada Humanidade, como acontece com duas paredes. Depois de ver
isso, ela ouviu estas palavras: “Os que vê m a Mim por esta ponte nã o
precisam ter medo de vaguear ou cair; isto é , todos aqueles que
recebem seus conselhos, e os executam ielmente, nunca devem se
desviar do caminho certo, que leva à vida de uma eternidade
abençoada. ”
Quando nosso Divino Senhor revelou ao Santo que era a Sua
Vontade que ela enviasse suas revelaçõ es por escrito, sua humildade foi
extremamente maravilhada. Mas seu esposo celestial assim a instruiu e
consolou: “Com que propó sito foi escrito que visitei Santa Catarina em
sua prisã o e a encorajei com estas palavras: 'Sê irme e imó vel, minha
ilha, porque eu estou com você '? A que serve que se saiba como visitei
John, meu favorito, e lhe disse: 'Vem a mim, meu amado'? A que
propó sito serve que essas e muitas outras coisas concernentes a eles e
a outros Meus santos sejam conhecidas, a menos que seja para
despertar o zelo daqueles que as leem e ouvem, e para manifestar a
todos os homens a grandeza do Meu amor? Desta forma, ”acrescentou o
Salvador,“ o desejo de obter os mesmos favores que aqueles que eles
verã o que você obteve de Mim produzirá devoçã o nos coraçõ es
daqueles que, considerando a efusã o de Minha graça e o excesso de
Minha misericó rdia , se esforçarã o para mudar sua vida presente por
uma mais perfeita. ”
Em outra ocasiã o, enquanto a Santa se maravilhava por que Deus a
exortava tã o fortemente a dar a conhecer as suas revelaçõ es, visto que
Ele sabia que a maioria da humanidade é tã o fraca e nã o espiritual, que,
longe de encontrar neles qualquer exemplo para sua edi icaçã o, eles
queriam mais provavelmente encontrando um assunto de desprezo e
zombaria, ela ouviu o Senhor dizer-lhe: “Eu plantei a Minha graça em
você , que espero que Me dê frutos imensos; portanto, é Meu desejo que
todos aqueles que recebem favores semelhantes, e que os desprezam
por sua negligê ncia, aprendam de você em que condiçõ es Eu lhes dei
esses dons, a im de que Minha graça possa ser aumentada neles na
proporçã o de sua gratidã o aumenta. Mas se houver algué m
su icientemente malicioso para difamar a santidade dessas obras, a
penalidade de seu pecado recairá sobre eles, e você nã o será
responsá vel por isso. Para o Profeta Ezequiel disse de mim: 'Vou colocar
uma pedra de tropeço diante dele' ( Ez 03:20.); isto é , disponho,
permito e até mesmo ordeno muitas coisas para a salvaçã o dos Meus
eleitos, embora sejam objeto de escâ ndalo para os ré probos ”.
A partir dessas palavras, Santa Gertrudes entendeu que muitas
vezes Deus inspirou Seus eleitos a fazerem o que era uma ocasiã o de
escâ ndalo para outros, embora nã o com o intuito de escâ ndalo, e que
nunca devemos nos abster de realizar qualquer bom trabalho a im de
manter um falsa paz com tais pessoas: uma liçã o, de fato, que vale a
pena guardar e observar em cada perı́odo da histó ria da Igreja - pois o
que a Igreja ou o mundo já ganhou por obediê ncias profanas, pela
ocultaçã o tı́mida de favores milagrosos ou pela falsa vergonha de
Aqueles que, pelo respeito humano, temem confessar abertamente sua
crença em acontecimentos sobrenaturais, cuja verdade nã o ousam
negar totalmente? Se o mundo está escandalizado, que se escandalize,
pois nem mesmo a pró pria Verdade Eterna foi poupada de suas
censuras.

CAPITULO 4
Ela pede a Sã o Mechtilde que ore por ela. Nosso Senhor está satisfeito com sua
paciê ncia e brandura. Ele declara que mora nela; e esconde suas imperfeiçõ es.

Em uma ocasiã o, Santa Gertrudes implorou a Santa Mechtilde para


obter por meio de suas oraçõ es duas graças das quais ela acreditava ter
grande necessidade. Essas graças eram paciê ncia e brandura. Enquanto
Sã o Mechtilde orava, Nosso Senhor falou assim a ela: “A doçura que
enche Gertrudes de uma tranquilidade perfeita e que Me agrada
in initamente, resulta de Eu fazer Minha morada na paz de seu
coraçã o,12e porque eu moro constantemente nela, ela necessariamente
deve habitar em mim, ou se ela é obrigada à s vezes a sair, deixe-a fazer
o que a noiva amorosa faz quando na companhia de seu esposo - se ela
for chamada para longe dele, ela o pega pela mã o e o traz
consigo; assim, se ela julgar necessá rio deixar o doce repouso da
contemplaçã o, para trabalhar pela salvaçã o do pró ximo, que faça o
Sinal da Cruz salvador no seu coraçã o; que ela pronuncie Meu nome
uma vez antes de falar; e depois disso, deixe-a dizer tudo o que Minha
graça a inspira. Da mesma forma, a paciê ncia deste Santo, para ser
agradá vel a Mim, deve proceder da paz e da ciê ncia.13de seu
coraçã o; isto é , ela deve estar igualmente tranquila e iluminada, e deve
ter, por um lado, o cuidado de possuir sua paz, que nenhuma
adversidade possa privá -la dela; e, por outro lado, que o motivo pelo
qual ela sofre esteja sempre presente em sua mente, e que ela nã o
tenha outro motivo para o sofrimento a nã o ser apenas o amor, para
que Me dê uma prova de sua idelidade perfeita. ”
Uma pessoa a quem a Santa era totalmente desconhecida, mas a
quem se tinha pedido que rezasse por ela, recebeu a seguinte
comunicaçã o de Nosso Senhor: “Sinto-me tanto por ela que a escolhi
para morada. Tudo o que os outros vê em e amam nela é minha obra, e
quem ama Minha obra nela, me ama; é por isso que aqueles que nã o sã o
capazes de perceber os dons interiores do seu espı́rito, admiram a sua
fala, a sua eloquê ncia e todas as outras qualidades exteriores com que a
dotei. E desejo que saibam que a afastei de seus pais e de todos os seus
amigos, para que ningué m a ame por laços de consanguinidade, mas
para que eu mesmo seja a ú nica causa do amor e da estima que eles tê m
por ela. ”
Quando Santa Gertrudes foi informada dessas e de outras
revelaçõ es que foram feitas a respeito dela, ela exclamou: “O meu
Amado! como é que Tua misericó rdia suporta minha iniqü idade, pela
ú nica razã o de que Tuas providê ncias e obras in initamente perfeitas e
adorá veis sã o sempre agradá veis para mim? - visto que isso nã o resulta
de minha virtude, mas das atraçõ es de Tuas perfeiçõ es e Teu adorá vel
bondade, que nã o faz nada de injusto, nada que nã o seja perfeitamente
bom e perfeitamente adorá vel. ” O Senhor usou este sı́mile para
responder: “Quando uma pessoa nã o consegue ler uma pequena
escrita, ela usa ó culos, para fazer os caracteres parecerem
maiores; isso é conseguido, nã o por qualquer alteraçã o na escrita, mas
pela qualidade dos ó culos.14 Da mesma maneira, Minha ilha, se eu
encontrar quaisquer imperfeiçõ es ou defeitos em você , eu os apago e
os reparo com a abundante liberalidade de Minha misericó rdia. ”
Como a Santa foi privada por algum tempo das visitas habituais de
seu esposo, ela se aventurou a perguntar por que o favor foi negado,
embora ela nã o tenha caı́do em desâ nimo nem em depressã o em
conseqü ê ncia. “Quando uma pessoa olha para quem está perto dela”,
respondeu Nosso Senhor, “a proximidade demasiada muitas vezes os
impede de ver com clareza; como, por exemplo, quando um amigo
encontra seu amigo e o abraça, essa uniã o ı́ntima o priva do prazer de
olhar para ele ”. Santa Gertrudes entendeu por estas palavras, que
muitas vezes merecemos mais quando privados da graça sensı́vel,
desde que nã o nos tornemos menos fervorosos na prá tica das boas
obras.
Nos primeiros anos da vida espiritual da Santa, Nosso Senhor
muitas vezes falava com ela em voz audı́vel, mas depois essas
comunicaçõ es assumiram um cará ter diferente. O Santo indagou o
motivo e recebeu a seguinte resposta: “Em anos anteriores, eu
costumava instruı́-lo dando-lhe vá rias respostas para que você pudesse
saber, e que você pudesse tornar conhecidos, os desı́gnios de Minha
vontade para outros; mas agora só me dou a conhecer em espı́rito e
dou-te inspiraçõ es por meio de luzes que seriam difı́ceis de expressar
em palavras. Pois eu te escolhi para este im, a im de que possa usá -lo
como repositó rio dos Meus tesouros, onde possa repousar as riquezas
da Minha graça, contanto que cada um encontre em você o que precisa,
como no cô njuge que conhece todas as segredos de seu Noivo, e, por
causa de sua uniã o Divina com Ele, reconhece Seus desejos e Sua
Vontade em todas as coisas. ” E assim foi. Pois quando a Santa rezava
por alguma coisa, mesmo que nã o recebesse resposta de Nosso Senhor,
como antes fazia, ela sentia, no entanto, o mesmo consolo e uma certa
certeza de que sua oraçã o foi ouvida. Alé m disso, quando algué m vinha
pedir conselho ou consolo a ela, ela imediatamente sentia seu coraçã o
cheio da luz necessá ria e inspirava o que dizer, sem um momento de
re lexã o - e isso com tanta segurança e certeza que ela teria lhe dado
vida pela verdade da inspiraçã o.

CAPITULO 5
A Santa como Abadessa. Ternura para com os outros. Cuidar dos enfermos. Sua
ú ltima doença. Valor do sofrimento. Ela está proibida de renunciar ao
cargo. Nosso Senhor aceita como feito a Si mesmo o que é feito por ela. St.
Lebuin.

UMA

Segundo os cá lculos de Campacci, a Santa foi eleita abadessa em 3 de


maio de 1294, e governou seu mosteiro por quarenta anos, seis meses
e quatorze dias.15No exercı́cio de seu cargo, ela se conduziu com
grande sabedoria, doçura e prudê ncia, juntamente com uma discriçã o
maravilhosa, e para a gló ria de Deus e o benefı́cio da humanidade, na
caridade e no amor para com Deus, na piedade e vigilâ ncia para com o
pró ximo, em profunda humildade e morti icaçã o para consigo
mesma. Os enfermos tinham ocasiã o especial para exaltar sua caridade
e seu cuidado, pois ela os visitava assiduamente, fornecia-lhes tudo o
que era necessá rio e, longe de se contentar em consolá -los apenas com
palavras, ela os servia com as pró prias mã os, confortando-os em seus
necessidades,16e provendo até mesmo para seu repouso e
recreaçã o. Seus religiosos, na verdade, muitas vezes eram obrigados a
interferir nesses exercı́cios de devoçã o, para que sua amada Superiora
nã o excedesse suas forças e exaurisse uma estrutura já debilitada
nesses ministé rios de amor. Mesmo em seus momentos de morte, seus
pensamentos, como veremos mais tarde, estavam constantemente
ocupados com uma irmã doente, e ela nã o podia icar satisfeita até que
fosse carregada até ela para consolá -la. Tã o verdadeira mã e foi esta
bendita Santa para os ilhos que Deus lhe deu!
"Enquanto, entã o, ela assim loresceu em todos os tipos de virtude,
e, como uma rosa mı́stica, emitiu um doce odor de santidade, agradá vel
tanto a Deus quanto ao homem, quando ela concluiu o quadragé simo
ano e o dé cimo primeiro dia de sua administraçã o do encarregada de
abadessa, ela foi atacada com uma doença, geralmente chamada de
pequena apoplexia. Esta doença foi para ela um toque favorá vel da mã o
Onipotente, que quis libertá -la dos laços da carne e das misé rias da
terra e atrair para Si esta alma nobre e generosa que, tendo se
alimentado por tanto tempo apenas com o fruto das virtudes mais
excelentes, adquiriu um vigor e uma força extraordiná rios; mas para
suas religiosas, foi um dardo que perfurou seus coraçõ es e os encheu de
extrema tristeza. Eles nã o podiam deixar de icar profundamente
comovidos e sentir-se mais agudamente ao se verem a ponto de perder
uma Superiora tã o talentosa, que, pelo menos em sua opiniã o, nã o tinha
igual no mundo, tais bê nçã os e favores que Deus derramou sobre ela,
tanto na ordem da natureza quanto na graça. Ela educou no mosteiro e
recebeu a pro issã o de mais de cem religiosas, mas deste grande
nú mero nunca conhecemos algué m que tivesse por outra pessoa a
mesma estima e veneraçã o que por sua incompará vel abadessa. Seu
poder de ganhar outros era tã o grande e envolvente, que até mesmo as
crianças que foram colocadas no convento conceberam uma afeiçã o tã o
terna e forte por ela, que assim que foram instruı́das nas coisas de
Deus, e aprenderam que ela era sua mã e espiritual, eles teriam
considerado uma falta e um desrespeito dizer que amavam o pai ou a
mã e ou qualquer outro parente mais do que o Santo.
“Um ataque de doença tã o perigoso fez os religiosos temerem que
esta estrela, que brilhava tã o intensamente à luz do Sol da Justiça,
estivesse prestes a se pô r; e, como eles perceberam, quando nã o eram
mais guiados pela sabedoria de uma mã e tã o amá vel e santa, nem
animados pelo brilho e força de seu exemplo, para que pudessem se
desviar da rigidez do estreito caminho da religiã o sagrada, eles
recorreu ao Pai da Misericó rdia e dirigiu a Ele suas oraçõ es fervorosas
por sua recuperaçã o. E Aquele que é soberanamente bom desprezou
nã o os suspiros e lá grimas dessas pobres crianças, mas porque nã o era
conveniente que Ele lhes concedesse o que era contrá rio aos decretos
imutá veis de Sua Providê ncia, Ele os ouviu de outra maneira, e da
maneira qual foi o mais ú til e vantajoso para sua salvaçã o; visto que, ao
fazê -los considerar o falecimento de sua mã e como o inı́cio de sua
felicidade, Ele os encheu de consolo e permitiu que se regozijassem em
sua alegria ”.
As religiosas já mencionadas, como singularmente favorecidas pelas
comunicaçõ es divinas, oravam agora com grande fervor pela sua
Superiora moribunda. Nosso Senhor respondeu-lhe: “Esperei com
inexprimı́vel alegria por este momento, para poder conduzir Meus
eleitos à solidã o e ali falar ao seu coraçã o. Nã o iquei desapontado com
a Minha expectativa, pois ela se conforma em todas as coisas à Minha
Vontade e Me obedece da maneira que mais Me agrada. ” O santo
beneditino compreendeu que por solidã o Nosso Senhor se referia à
doença da Santa, na qual falava ao coraçã o da amada, e nã o ao seu
ouvido; pois Sua linguagem é tal que nã o pode ser entendida de
maneira ordiná ria, assim como as coisas que sã o faladas ao coraçã o sã o
mais sentidas do que ouvidas. Tribulaçõ es e a liçõ es de coraçã o sã o a
linguagem do Senhor para Seus eleitos; quando algué m que sofre assim
re lete que eles sã o inú teis, que estã o gastando seu tempo inutilmente -
que outros estã o trabalhando por eles e em vã o, visto que nunca devem
recuperar a saú de por meio desse trabalho - a alma responde a tais
pensamentos , o que mais agrada a Deus é manter a paciê ncia interior e
desejar que neles se cumpra toda a Vontade de Deus. Tal resposta nã o
chega ao Cé u da maneira usual das comunicaçõ es humanas, mas ressoa,
por assim dizer, por meio daquele mais doce ó rgã o divino, o Coraçã o de
Jesus, que é a alegria extá tica de toda a Trindade e das hostes
celestiais. Ele continuou assim: "Minha amada me dá o deleite mais
intenso e agradá vel, porque ela nã o despreza as a liçõ es da
enfermidade, como a Rainha Vasthi desprezou as ordens do Rei
Assuero, quando ele ordenou que ela aparecesse com um diadema na
cabeça, para que ela poderia exibir sua beleza para seus
nobres. Portanto, quando tenho prazer em exibir a beleza do Meu
escolhido na presença da sempre adorá vel Trindade e das hostes
celestiais, eu a oprimo com doenças e enfermidades; e ela cumpre as
Minhas intençõ es para a Minha satisfaçã o perfeita, quando, com toda
paciê ncia, recebe com mais boa vontade e discriçã o o alı́vio e o conforto
que escolho dar ao seu corpo; e acrescenta à sua gló ria que ela à s vezes
faz isso com inconveniê ncia para si mesma: mas deve ser seu consolo
lembrar que todas as coisas contribuem juntamente para o bem
daqueles que amam a Deus ”. ( Rom . 8:28).
Em outra ocasiã o, enquanto a mesma religiosa orava por ela, o
Senhor disse-lhe: “E para mim um prazer que Meu eleito prepare uma
pousada para Mim, e entã o conceder-lhe pé rolas e lores de ouro. Por
pé rolas, quero dizer seus sentidos, por lores de ouro seu lazer, com as
quais, quando ela tem tempo e suas forças sã o um tanto restauradas,
ela cumpre seu dever o melhor que pode, preparando ornamentos mais
adequados e aceitá veis para Mim; sendo solı́cita em como pode arranjar
tudo que possa tender a aumentar e preservar a religiã o, de modo que
depois de sua morte suas regras e exemplo possam ser um pilar irme
para apoiar a religiã o no louvor eterno. Mas, no auge de seu trabalho, se
ela sente que está prejudicando sua saú de, ela imediatamente desiste e
Me deixa para terminar o trabalho; pois a verdadeira idelidade que
move Meu Coraçã o consiste em as pessoas cumprirem seus deveres
quando se encontram com boa saú de, e imediatamente desistirem e
con iarem tudo a Mim quando se sentirem indispostos ”.
A medida que a doença da Santa aumentava, ela se tornava incapaz
de qualquer trabalho manual, e sua consciê ncia sensı́vel se enchia de
medo de que houvesse alguma imperfeiçã o, mesmo nessa inatividade
compulsó ria; ela, portanto, pediu à s religiosas que tantas revelaçõ es
haviam recebido para seu consolo que orassem por ela. Nosso Senhor
respondeu:
“Um bom rei nunca se irrita com sua rainha se ela negligenciar
trazer em um determinado momento os ornamentos que ele mais se
agrada em receber, mas ele ica muito mais satisfeito em encontrá -la
sempre pronta para atender seus desejos; e a doçura de Meu benigno
Coraçã o se deleita mais na paciê ncia com que Meu escolhido suporta
sua enfermidade, com cujo alı́vio ela retoma seus labores para a
extensã o da religiã o, na medida em que pode fazê -lo sem prejudicar sua
saú de. ”
A medida que a Santa se sentia cada vez mais desigual para as
importantes funçõ es de seu cargo, ela icava ansiosa para renunciar ao
seu cargo; mas mesmo esse desejo ela nã o estava disposta a colocar em
prá tica, até ter certeza de que era a Vontade de Deus. Temerosa de que
sua pró pria inclinaçã o pudesse enganá -la, mesmo na interpretaçã o das
comunicaçõ es celestiais, ela pediu a sua ilha favorita que lhe pedisse o
conselho de que precisava da Fonte de toda a sabedoria. Nosso Senhor
condescendeu em responder - nã o podemos esperar o consolo e a ajuda
de muitos de Seus eleitos, bem como da alma tã o singularmente
favorecida, assim especialmente, para conhecer Sua Vontade? - “Por
esta doença santi ico Meu escolhido, para faça dela uma habitaçã o
adequada para Mim - como uma igreja é santi icada pela bê nçã o de um
bispo. Da mesma forma que uma igreja é trancada com cadeados, para
impedir a entrada de indignos, eu, por essa enfermidade, sela-a para
que sua mente nã o possa ser ocupada por coisas externas, que tendem
a perturbar o coraçã o e distraı́-lo de mim. , e no qual à s vezes nã o há
grande utilidade. Assim, como 'Meu deleite é estar com os ilhos dos
homens' ( Prov . 8: 3), como disse no Livro da Sabedoria, eu exercito e
puri ico Gertrudes com a doença, para que ela mereça ser Minha
morada e Meu templo; de acordo com a palavra de Meu Profeta: 'Perto
está o Senhor daqueles que tê m o coraçã o
contrito.' ( Salmos 33:19). Continuo també m a embelezá -la e adorná -la
com os ricos e preciosos dons de uma boa vontade e de uma reta
intençã o, que produzem e animam todas as suas açõ es, para que possa
erguer Meu trono e nela repousar, como um rei que está sentado em
seu leito da justiça, e nele posso gozar do Meu deleite enquanto ela
estiver na terra, até que a chame para morar Comigo no Cé u, onde
compartilharei com ela Minhas delı́cias eternas; mas, entretanto, nã o a
privei totalmente da saú de e deixei-lhe o uso dos seus sentidos
exteriores, desejando ainda empregá -la para tornar conhecida a Minha
Vontade e as Minhas respostas à comunidade que governa, como
anteriormente dei o povo de Israel a Arca da Aliança, onde entreguei
Meus orá culos e recebi seu respeito e adoraçã o. Portanto, como
Gertrudes é uma arca espiritual, desejo que ela contenha o maná - isto
é , a doçura e a ternura da caridade para consolar as almas sob sua
orientaçã o e para consolar suas dores tanto quanto puder. Desejo
també m que ela possua as Tá buas da Lei, isto é , que ela declare ou
proı́ba o que deve ser feito ou nã o feito, a im de Me agradar, e que, ao
fazê -lo, ela seja guiada pelas luzes e discernimento com o qual eu a
iluminei. Mas desejo també m que ela seja a vara de Arã o - isto é , a
autoridade e o zelo da justiça, para corrigir as pessoas que se desviam
de seu dever, prescrever e impor penitê ncias salutares e decidir e
regular tudo com um fervoroso e equilibrado. Ela deve considerar que
eu poderia facilmente reformar o que precisa de reforma, ou o que é
mal regulado, por simples inspiraçõ es, ou por provaçõ es e
desgraças; mas eu efetuo essas coisas por meio dela para aumentar seu
mé rito. E se algué m deixar de lucrar com suas advertê ncias e correçõ es,
isso nã o prejudicará Gertrudes, pois ela cumpriu seu dever e empregou
todo o cuidado e vigilâ ncia possı́veis para converter o pecador: O
homem pode plantar e regar, mas só eu posso dê o aumento. ” (Cf. 1
Coríntios 3: 6).
Como a Santa agora se incomodava por nã o poder se aproximar da
Sagrada Comunhã o com a freqü ê ncia que costumava fazer, e també m
por temer aproximar-se dela sem sua preparaçã o habitual, que sua
doença tornava impossı́vel, ela deu a conhecer sua provaçã o à amada.
companheiro que tantas vezes obtivera conselho para ela. Ela també m
se entristeceu porque os religiosos se preocuparam tanto em servi-la e
devotaram muito tempo a ela, pois todos os esforços para obter sua
recuperaçã o pareciam em vã o. A primeira di iculdade o Senhor
respondeu: “Quando é puramente por Mim que Gertrude se absté m da
Comunhã o, ou de qualquer outra boa obra que ela praticaria
voluntariamente, se pudesse ser realizada sem aumentar sua doença ou
prejudicar sua saú de, entã o a liberalidade de Minha bondade
comunicará a ela uma participaçã o em todas as boas obras que sã o
feitas pelos ié is; pois todo o bem que é feito na Igreja pertence a Mim, e
eu disponho disso como quero - e isso porque é de uma intençã o pura, e
somente para Mim, que ela nã o participou das graças desses sagrados
exercı́cios que ela omitiu. ”
A outra pergunta, Nosso Senhor respondeu: “Você s devem servi-la
com caridade respeitosa, com alegria e prontidã o, para me amar e
honrar, porque eu habito nela e iz dela a cabeça desta
comunidade; portanto, deixe cada um ajudá -la, como os membros
ajudam a cabeça. Que ela se re ira à Minha honra e gló ria o serviço que
é prestado a ela, e regozije-se por tê -la empregado como algué m que
está unido a Mim por uma amizade constante e iel para aumentar o
mé rito dos Meus eleitos; pois recompensarei todo o bem que for feito
por ela, nã o apenas em atos, mas com palavras de afeto, como se tivesse
sido feito a mim mesmo. ”
Na festa de Sã o Lebuin,17enquanto as irmã s rezavam em comum,
com especial fervor, pela recuperaçã o de sua amada mã e, as religiosas
invocavam a Santa com grande fervor; e ele respondeu: “Quando um rei
está noivo de sua rainha, você nã o acha que seria muito impró prio para
um soldado particular interrompê -lo, pedindo-lhe que desse a sua
famı́lia o prazer e o consolo de vê -la? é muito impró prio que algué m
ore pela recuperaçã o de outros, por seus pró prios pontos de vista,
quando estã o unidos pela paciê ncia e boa vontade ao pró prio Rei do
Cé u. ” Donde devemos aprender que, quando aqueles que glori icam a
Deus pela doença pedem as oraçõ es dos santos, eles tê m o mé rito de se
tornarem mais pacientes e obter frutos mais abundantes e valiosos de
sua enfermidade.

CAPITULO 6
Suas ú ltimas palavras. Devoçã o ao Ofı́cio Divino. Ternura para seus ilhos
espirituais. Nosso Senhor aparece para ela em sua agonia. Promete recebê -la
como Ele recebeu sua mã e abençoada. Os anjos a chamam para o paraı́so.

OU vá rios meses antes de sua morte, Santa Gertrudes perdeu


totalmente o uso da palavra e só foi capaz de articular as palavras "meu
espı́rito".18Aqueles que a atendiam em vã o esforçaram-se por
averiguar o que ela queria dizer; na verdade, parecia quase milagroso
que ela fosse capaz de pronunciá -los, embora totalmente privada de
expressã o. Como ela os repetia constantemente, o religioso antes
mencionado perguntou a seu esposo celestial se eles continham algum
signi icado espiritual. Nosso Senhor respondeu: “Porque Eu, o Senhor
Deus, habitando nela, atraı́ e uni o seu espı́rito ao Meu de tal maneira
que ela só Me vê em cada criatura, portanto, em suas palavras, em suas
respostas e em suas oraçõ es, ela faz mençã o a Mim como a Pessoa em
quem seu espı́rito vive. E sempre que ela age assim, digo a todo o
exé rcito celestial que é somente para mim que ela olha, e por isso terá
gló ria eterna no cé u ”.
A Santa ainda ouvia com a maior atençã o quando algué m lhe falava
de Deus; e tã o grande era seu fervor, que ela insistia em ser trazida
diariamente para assistir ao Sacrifı́cio Adorá vel, embora um de seus
membros fosse perfeitamente inú til, e o outro estava em tal estado que
ela nã o suportava ser tocado, mesmo em da maneira mais gentil, sem
sofrer as dores mais agudas. Mesmo assim, ela teve o maior cuidado em
ocultar seu estado real e evitou o mı́nimo gesto de dor, para nã o ser
privada de seu maior consolo. Sua devoçã o ao longo da vida ao
Escritó rio agora se manifestava a todos. Nos tempos em que há tanto
tempo se acostumara a vigiar e orar, ela icava acordada e alerta,
embora mesmo quando se alimentasse fosse constantemente dominada
pelo sono, conseqü ê ncia do langor de sua doença. També m foi
observado que a ú ltima vez que ela pronunciou as palavras “Meu
espı́rito”, parecia que ela pretendia ser uma oferta do Ofı́cio de
Completas, apó s o que ela caiu em agonia.
Sua caridade singular e terna afeiçã o manifestaram-se com doçura
peculiar durante esta longa doença. Como nã o podia falar com as irmã s
que a visitavam, ela fez uso de suas forças para testemunhar o prazer
que sentia pela presença delas e a profundidade de seu amor maternal,
que nã o suportava deixar ningué m inconsolá vel. Para cada um, ela
usaria docemente a ú nica expressã o, "Meu espı́rito", e para cada um
estender a mã o carinhosamente, embora ela nã o pudesse movê -la sem
dor intensa, tã o parecida com seu amado esposo, totalmente
independente de seu pró prio sofrimento, quando até mesmo um
consolo passageiro poderia ser concedido a outro. E cada vez que a
religiosa a deixava, ela levantava novamente a mã o sofredora em
bê nçã o, sabendo muito bem com que devoçã o aquele favor tantas vezes
havia sido buscado por seus ilhos ié is.
Uma irmã , poré m, nã o pô de visitar sua superiora moribunda: ela
pró pria estava con inada a um leito de sofrimento; mas ela nã o foi
esquecida. A Santa rogou com tantos sinais aos que a atendiam que
inalmente atenderam ao pedido e a levaram até as religiosas. Ela só
podia dizer as palavras tantas vezes proferidas, mas seu coraçã o
materno era engenhoso em seu amor, e ela expressou sua simpatia e
afeto pela pobre irmã por meio de sinais e carı́cias tã o gentis e ternos,
que aqueles que estavam por perto nã o conseguiam conter as lá grimas .
Um mê s depois de a Santa ter perdido o uso da palavra, ela parecia
tã o doente que foi considerado necessá rio administrar a ú ltima unçã o
sem demora. Enquanto as religiosas se preparavam para o rito sagrado,
nosso Divino Senhor apareceu a Santa Gertrudes sob a forma de uma
Esposa de grande beleza, e estendeu os braços para ela, como se para
convidá -la a si, movendo-se em qualquer direçã o que ela a dirigisse.
enfrentar. Foi revelado aos religiosos antes mencionados que Nosso
Senhor tinha tanto amor pela Sua serva iel, que desejava ardentemente
recebê -la nos braços da Sua misericó rdia e colocá -la na posse das
gló rias do cé u. As religiosas indagaram como é possı́vel que sua amada
mã e igualasse em mé rito aqueles santos virgens que a Igreja canonizou
por terem derramado seu sangue pela fé . Ela recebeu a seguinte
resposta: “Desde o primeiro ano em que exerceu o cargo de abadessa,
ela uniu e conformou sua vontade tã o perfeitamente à Minha que
mereceu igual recompensa. Mas agora que suas virtudes aumentaram
com os anos, dei a ela uma parcela ainda maior de gló ria e mé rito. ”
Quando chegou o feliz dia da libertaçã o, que a Santa há tanto
desejou com tanto ardor, Nosso Senhor apareceu-lhe com o seu
semblante divino radiante de alegria. A Sua direita estava Sua sempre
bendita Mã e, e à Sua esquerda o amado discı́pulo Joã o. Uma imensa
multidã o de santos compareceu ao Rei dos Santos, e entre suas
gloriosas ileiras foi visto um bando de virgens, que apareceram aos
religiosos do mosteiro e se juntaram a eles. Nosso Divino Senhor se
aproximou do leito do Santo moribundo, mostrando tais marcas de
ternura e afeiçã o que eram mais do que su icientes para suavizar a
amargura da morte. Quando a Paixã o foi lida, nas palavras “ Et inclinato
capite emisit spiritum ”,19Nosso Senhor inclinou-se para a sua iel
esposa e abriu amplamente o Seu adorá vel Coraçã o, como se
transportado pelo amor, derramando sobre ela toda a sua ternura. Pode
ter parecido o su iciente; mas mesmo na terra havia ainda mais
consolo reservado para ela, que fora iel usque ad mortem - mesmo até
a morte.
Enquanto as irmã s oravam e choravam ao redor de sua cama, as
religiosas tã o favorecidas por Nosso Senhor aventuraram-se a dirigir-se
a Ele assim: “O doce Jesus! Suplicamos a Ti, pela bondade que te
impeliu a nos dar uma mã e tã o querida, que, como está s para tirá -la
deste mundo, Tu condescendes com nossas oraçõ es, e a recebas com o
mesmo afeto com que izeste com a tua bendita Mã e, quando ela saiu do
corpo. ” Entã o Nosso Senhor, com extrema clemê ncia, voltou-se para
Sua Mã e Santı́ssima e disse-lhe: “Diga-me, Mã e Minha, o que eu te iz de
mais agradá vel quando estavas deixando o mundo, pois eles Me pedem
para conceder um favor semelhante a eles mã e." “Meu Filho”, respondeu
docemente a Santa Virgem, “minha maior alegria foi a graça que me
mostraste ao me receber no asilo seguro de Teus braços
sagrados”. Nosso Senhor respondeu: “Eu concedi isso porque Minha
Mã e, quando na terra, sempre se lembrava de Minha Paixã o com uma
angú stia tã o intensa”. Depois acrescentou: “Concedi este favor ao Meu
eleito em recompensa pelo cuidado que teve, ainda na terra, de meditar
com frequê ncia em sua mente e reverenciar com sua dor e suas
lá grimas o misté rio da Minha Paixã o. Gertrudes deve, portanto, render-
se de alguma forma digna desse favor, pela dor e di iculdade que ela
sofrerá hoje para respirar. A paciê ncia que ela assim será chamada a
exercer a colocará em um estado um tanto semelhante à quele a que
muitas vezes você foi reduzido pela lembrança de Meus sofrimentos ”.
Santa Gertrudes, portanto, continuou em sua agonia o dia todo, mas
nosso Senhor nã o a deixou sofrer sozinha. Seu Coraçã o já havia sido
aberto para ela, e de lá ela tirou a ajuda e o consolo de que
precisava. Espı́ritos celestiais també m cercaram sua cama e ela os viu
convidando-a para o Paraı́so e ouviu sua harmonia celestial enquanto
cantavam continuamente: “Venha, venha, venha, ó senhora! As alegrias
do Cé u esperam por você ! Aleluia! Aleluia!"20

CAPITULO 7
A morte dela. De suas alegrias eternas. Nosso Senhor consola suas
religiosas. Revelaçõ es de sua santidade. Reza para que seus religiosos sejam
consolados em seu tú mulo. Suas exé quias. Nosso Senhor abençoa seu tú mulo.

Finalmente chegou o momento de sua libertaçã o e Gertrudes passou


para os eternos abraços de seu Esposo. A religiosa, cujas revelaçõ es
pareciam pouco menos maravilhosas do que as de sua santa Superiora,
ouviram nosso Divino Senhor dirigir-se a ela assim: “Eis que agora você
deve se unir a Mim e tornar-se Minha para sempre, pelo doce abraço
que Eu darei à tua alma, e na qual Eu te apresentarei ao Meu Pai eterno
pelo estreito abraço do Meu Coraçã o ”, como se Nosso Senhor dissesse
que embora a Sua onipotê ncia a tivesse detido até aquele momento na
terra para que ela pudesse acumular um fundo de mé rito maior, Sua
extrema bondade e a impaciê ncia de Seu amor, se nos for permitido,
por assim dizer, nã o poderı́amos mais adiar a felicidade dela, ou deixar
Seu tesouro no lodo da terra, mas que Ele desejava transportar ela sem
demora para o Paraı́so, e para ter a satisfaçã o de vê -la desfrutar da
bem-aventurança eterna.
“E agora esta feliz e mil vezes abençoada alma alçou voo para o Cé u
e retirou-se para o santuá rio da Divindade - quero dizer, para o mais
doce Coraçã o de Jesus, o iel e magnı́ ico Esposo que o abriu para ela
por tã o grande um excesso de Sua generosidade. Quem pode imaginar
os sentimentos que um favor tã o extraordiná rio despertou nesta alma
sagrada, as maravilhas que ela descobriu, as gló rias com que foi
iluminada e a avidez com que bebeu nas delı́cias puras e sagradas que
luı́ram sobre ela da Divindade como de uma fonte. Nã o nos
comprometeremos aqui a falar das boas-vindas ou das carı́cias que ela
recebeu de seu Divino Esposo, que a excelê ncia de Sua generosidade e
de Suas in initas perfeiçõ es tornaram tã o amá veis, nem da alegria e das
açõ es de graças com que os Anjos e Santos assistiram. seu triunfo, nem
do louvor que deram à sua virtude eminente - pois nossa mente é muito
fraca e nossa caneta muito pobre em eloqü ê ncia para relatar tais coisas,
e é mais seguro e mais agradá vel ao nosso dever de nos contentarmos
em compartilhar na alegria comum da Beata que a ajudou a entrar na
gló ria e cantou câ nticos de agradecimento a Deus, que, por sua
misericó rdia, a elevou a tã o alta honra.
“Este sol da vida religiosa, que até agora tinha espalhado a luz do
bom exemplo, nã o resplandece mais na terra, e esta alma, que nã o era
senã o uma gotinha de á gua em comparaçã o com Deus, entrou
felizmente no in inito oceano da Divindade, de onde ela veio pela
criaçã o, as ilhas de seu mosteiro foram a princı́pio completamente
abatidas e mergulhadas na obscuridade de uma tristeza escura. Eles se
esforçaram, no entanto, para sair dessa depressã o, olhando com os
olhos da fé , por assim dizer atravé s de pequenas aberturas, a sublime
terra de gló ria na qual acreditavam que sua mã e havia sido
colocada. Mas, por outro lado, como eles consideraram a grandeza de
sua perda, e que eles tinham sido privados de uma abadessa tã o
excelente, cujo semelhante nunca tinha sido nem poderia esperar ser
visto por eles, eles caı́ram novamente em profunda tristeza e derramou
torrentes de lá grimas. Mas no inal, com a esperança da felicidade da
mã e crescendo cada vez mais em suas almas, eles começaram a se
alegrar com ela e a implorar que ela os consolasse com sua ternura e
afeiçã o materna, e entã o começaram a manifestar sua alegria por
cantando o responsó rio Surge , Virgo , et nostras , que foi iniciado por
aquela religiosa que teve a maior parte na con iança de Santa Gertrudes
e nos favores com que o Cé u a honrou, e que, portanto, estava mais
obrigada a se interessar por seu triunfo.
“Assim, este corpo virginal, que tinha sido o templo de Jesus Cristo,
foi levado pelas mã os dessas virgens para a capela e colocado diante do
altar. Entã o, toda a comunidade, prostrada em oraçã o ao redor do
cadá ver, contemplou a alma da Santa, radiante de gló ria, em pé diante
do trono da Santı́ssima Trindade, e rezando pela salvaçã o de todos
aqueles que antes estiveram sob sua orientaçã o . ”
Enquanto a missa era celebrada para o repouso de sua alma, a
religiosa que tanto lhe era querida abriu seu coraçã o a Deus e
representou para ele o excesso de sua a liçã o. Nosso Senhor dignou-se a
consolá -la com esta resposta: “Por que você está tã o a lita pela morte
de Gertrudes? Se eu a tirei de você , nã o sou capaz de fornecer o que
está querendo para você ? Se, apó s a morte de um cavalheiro, o senhor a
quem pertencem suas terras tomar posse delas e uni-las aos seus
pró prios domı́nios por um justo direito, e se esse senhor tiver uma alta
reputaçã o de equidade, pode muito bem haver con iança em a ele que
nã o abandonará os ilhos do falecido, e que lhes dará o que for
necessá rio para sua subsistê ncia - quanto mais justo, entã o, que você
con ie em Mim, que sou a pró pria bondade, e que você Devemos ter a
irme esperança de que, se voltarem para Mim de todo o coraçã o, serei
para você s tudo o que ela foi e darei a cada um de você s o que pensam
que perderam nela? ”
No dia seguinte, quando se preparavam para enterrar o corpo, antes
da primeira missa, esta serva de Deus ofereceu o Coraçã o de Jesus, com
todos os seus maravilhosos dons e graças, para o repouso da alma tã o
cara a ela. Nosso Senhor recebeu esta oferta como um vaso em forma de
coraçã o humano, cheio dos vinhos mais preciosos. Colocando-o em Seu
seio, Ele chamou o Santo assim: “Venha a Mim, meu pequeno, e dispõ e
dos bens que seus ilhos lhe enviaram.” Entã o a Santa voltou-se para o
seu Amado, e encontrou em Seu Coraçã o tesouros de todas as virtudes
e de todo o bem; ela pegou vá rios, por assim dizer com a mã o, e, movida
pela ternura e bondade com que Deus a encheu, disse: “O meu amado
Senhor, esta graça seria mais adequada para a Prioresa, e esta para
outra religiosa , e isso para outro ”; como quando na terra ela conheceu
a necessidade de cada um, que agora ela desejava suprir dos tesouros
inesgotá veis de Seu Divino Coraçã o.
Entã o Nosso Senhor, olhando-a com ternura, disse: “Aproxime-se
ainda mais de Mim, Minha amada.” A Santa levantou-se com alegria e
colocou-se ao lado esquerdo de Nosso Senhor, que a fez olhar para o
Seu Coraçã o, dizendo: “Eis-Me agora, como Eu te vejo”.21Com isso ela
aprendeu que, em seu desejo de obter graças e presentes para os
outros, havia anteriormente alguma afeiçã o natural; mas esta
comunicaçã o ı́ntima com Deus mudou seu primeiro desejo em uma
conformidade perfeita à Sua Vontade, pois, embora Ele ame os homens
muito mais do que eles podem conceber, Ele, no entanto, em in inita
sabedoria, permite que muitos continuem em certos defeitos e
imperfeiçõ es, do qual Ele poderia facilmente livrá -los por Sua graça.
Ao elevar a Hó stia, o mesmo religioso, ao oferecer a Hó stia
juntamente com o sacerdote, ofereceu també m aos defuntos todos os
movimentos de afecto ilial que o Coraçã o de Jesus Cristo tinha por Sua
Santa Mã e; entã o Nosso Senhor disse com amor à alma: “Aproxima-te, ó
ilha, para que Eu te manifeste o afeto ilial do Meu amoroso Coraçã o”. A
Santı́ssima Virgem tomou entã o nos braços esta alma e levou-a até ao
seu Filho, que se inclinou para ela e testemunhou por ela um afecto
ilial com a mais terna caridade. Os religiosos renovaram a oferta em
outras missas; mas como eram mais de vinte celebrados, ela desejou
oferecer algo ainda mais precioso, para aumentar o mé rito de sua
amada mã e. Ela, portanto, ofereceu o afeto ilial que Nosso Senhor tinha
por Seu Pai em Sua Divindade, e por Sua Mã e em Sua
Humanidade. Quando ela fez esta oferta, o Filho de Deus se levantou,
apresentou-se diante de Seu Pai e chamou a Ele a alma da falecida,
dizendo: “Vem cá , senhora e rainha; pois agora uma oferta maior é
enviada a ti. ” Entã o a Mã e de Deus a conduziu a um grau mais sublime
de gló ria, e as religiosas lhe disseram: “O minha venerá vel mã e, nã o
posso mais te ver, nem posso saber nada da categoria a que seus
mé ritos te elevaram . ” O Santo respondeu: “Você ainda pode me
perguntar o que quiser”. A religiosa entã o disse: “Minha boa mã e, por
que você nã o ora a Deus para que possamos conter nossas lá grimas,
quando você sabe que muitos de nó s sofremos por causa de nossa dor e
você nunca suportaria nos ver a ligido quando na terra? " O Santo
respondeu: “Meu Senhor tem por mim uma afeiçã o tã o terna e
condescendente, que faz com que até aquelas coisas tendam para meu
benefı́cio e gló ria que pouco valeriam para os outros; e, em recompensa
pela vigilâ ncia e discriçã o com que anteriormente te guiei, Ele permite
que eu apresente suas lá grimas a Ele em um cá lice de ouro, e em troca
Ele me dá para beber das á guas vivas de Sua doçura Divina. E por isso
que, tendo provado uma bebida tã o agradá vel, canto para Minha Amada
um câ ntico de agradecimento por minhas ilhas e por mim. ”
O religioso entã o perguntou se esse favor foi concedido apenas
pelas lá grimas que derramavam puramente por Deus, e por sua
apreensã o de que a observâ ncia regular deveria sofrer por sua
morte. Ela respondeu: “Por todas as lá grimas, mesmo quando causadas
pelo amor e ternura humana, mas quando essas lá grimas sã o
derramadas para a gló ria de Deus, o pró prio Filho de Deus canta açõ es
de graças comigo, e isso me proporciona uma alegria tã o grande quanto
a diferença entre a criatura e o Criador. ” A seguir, chamando as
religiosas pelo nome, disse-lhe: “Minha ilha, recebi uma recompensa
particular de Deus pela idelidade e pelo zelo com que te levei a agir
para a gló ria de Deus no assunto que conheces. Pois meu amado Senhor
Jesus canta continuamente em meu coraçã o uma cançã o de amor, pela
qual sou glori icado por toda a corte celestial. Meus ouvidos sã o
entretidos com uma melodia arrebatadora; meus olhos contemplam
uma luz muito gloriosa; Aspiro e saboreio uma fragrâ ncia muito doce,
mas há outros prazeres dos quais poderia ter desfrutado e dos quais
estou privado porque fui um pouco negligente neste assunto, embora
tenha feito tudo com boa intençã o e para promover a paz. ”
Quando a campainha foi tocada na elevaçã o da Hó stia, os religiosos
a ofereceram para suprir as de iciê ncias do falecido; quando ela fez
isso, apareceu à alma do falecido na forma de um cetro radiante, que
parecia mover-se diante dela de uma maneira maravilhosa. Mas quando
ela desejou tocá -lo, ela nã o conseguiu, porque o que é negligenciado
nesta vida nã o pode ser reparado ou suprido perfeitamente na
outra. No entanto, como a Santa, por um dom especial de Deus, primava
pela gratidã o e pelo agradecimento, rezava por todos os que tinham
vindo assistir à s suas exé quias; e ela obteve para muitos o perdã o de
seus pecados e um aumento da graça para regular melhor sua vida e
realizar boas obras.
Quando o sacerdote dava a bê nçã o no inal da missa, a religiosa
contemplou sua bendita mã e em pé diante do trono da Santı́ssima
Trindade, onde ela orou assim: “Doador de dons, concede, eu Te
suplico, que sempre que algum de meus as ilhas irã o ao meu tú mulo
para me mostrar suas tristezas, ou suas imperfeiçõ es e defeitos, para
que recebam consolo e apoio a ponto de saber que ainda sou sua mã e
”. Esta oraçã o foi ouvida, pois Deus, por Seu poder onipotente, Sua
sabedoria e Sua bondade, concedeu ali favores especiais a cada
religioso. Quando o corpo do Santo foi colocado no tú mulo, Nosso
Senhor, para con irmar a sua promessa, foi visto fazendo o sinal da cruz
no corpo cada vez que a terra era lançada sobre ele; e depois de
totalmente coberto, a Santı́ssima Mã e de Nosso Senhor també m fez o
Sinal da Cruz no tú mulo, como mais uma garantia de que seu Filho
havia concedido este favor ao Santo.22

CAPITULO 8
Favores concedidos no sepultamento da Santa. Almas liberadas por sua
intercessã o. Como Nosso Senhor juntou um lı́rio. De medo na ú ltima
agonia. Purgató rio na doença. E icá cia das oraçõ es pelos mortos.

UMA

DEPOIS o cadá ver foi enterrado, enquanto a resposta Regnum


mundi23estava sendo cantado, sinais maravilhosos da bem-
aventurança de Gertrudes foram vistos no cé u, e as pró prias paredes e
pavimento do mosteiro pareciam estremecer de alegria. A Santa
apareceu, com uma tropa de virgens de admirá vel beleza. Ela segurava
um lı́rio e outras lores na mã o direita e, à esquerda, conduzia as
religiosas de sua comunidade que já haviam alcançado a beatitude
eterna.
Nesse glorioso triunfo, eles se apresentaram diante do trono de
Deus, e quando as palavras quem vidi foram cantadas, Deus o Pai
concedeu dons a eles; nas palavras quem amavi , Deus Filho concedeu-
lhes Sua liberalidade; e no In quem credidi , o Espı́rito Santo concedeu
favores semelhantes. Depois de terem cantado quem dilexi , Santa
Gertrudes voltou-se para o seu Esposo celeste e saudou-o com amor
ardente. Enquanto cantavam a resposta Libera me, Domine, muitas
almas foram vistas entrando no Cé u com grande alegria, que haviam
sido libertadas por meio das Missas ditas naquele dia, e pelos mé ritos
da Santa. Entre outros estava um irmã o leigo que tinha sido um tanto
negligente nas coisas espirituais, mas que icou muito aliviado pela
intercessã o do Santo.
No trigé simo dia, Santa Gertrudes apareceu novamente a esta
religiosa, mas com um esplendor que ultrapassou em muito as visõ es
que ela tinha visto antes. A razã o para isso era que Deus desejava que o
mé rito que ela adquirira por Sua graça em sofrer suas enfermidades e
enfermidades com tanta paciê ncia aparecesse exteriormente, e que a
beleza de sua alma brilhasse visivelmente. Um livro de ouro, ricamente
adornado, foi visto diante do trono de Deus, no qual estavam escritas
todas as instruçõ es que ela havia dado à quelas pessoas que estiveram
sob sua orientaçã o enquanto ela estava na terra, à s quais ainda
deveriam ser adicionadas todas as avanço em virtude que eles
alcançaram por seu ensino ou exemplo.
Na Missa, as religiosas rezaram com grande fervor para que Nosso
Senhor recompensasse a sua bendita mã e pelo seu amor e carinho
maternal. Nosso Senhor respondeu: "Eu concedo a sua oraçã o, e
consinto que cada um de você s faça uma petiçã o semelhante a mim,
pois tenho uma boa vontade para esta alma, que di icilmente há
qualquer dom ou graça que eu nã o esteja disposto a conceder
dela." Entã o, olhando para o Santo com amor, Ele disse: “Você concedeu
bem os seus benefı́cios, uma vez que eles foram devolvidos a você com
tanta gratidã o”. Gertrude entã o prostrou-se diante do trono de Sua
gló ria para agradecê -Lo pela idelidade daqueles que antes haviam
estado sob sua orientaçã o e disse: “Eterno, ilimitado e incessante
louvor a Ti, meu doce Senhor, por todos os Teus benefı́cios; e bendito
seja o momento em que quiseste preparar-me e sustentar-me para
receber tais recompensas. O Deus da minha vida, responda por mim.
” Nosso Senhor respondeu: “Fixarei os olhos da Minha misericó rdia
sobre eles”. Ele entã o fez o Sinal da Cruz duas vezes com Sua mã o
santı́ssima, e com isso Ele deu a cada membro da comunidade a graça
de dar bom exemplo e a graça de ter uma intençã o pura de amor Divino
em seus coraçõ es.
Doze dias apó s a morte de Santa Gertrudes, uma de suas ilhas
espirituais també m foi chamada à recompensa eterna. Sua morte
aumentou muito a a liçã o dos religiosos, pois sua inocê ncia e pureza de
coraçã o a tornaram singularmente amada. Enquanto as religiosas
favorecidas choravam e oravam por ela, e pensando no quanto suas
irmã s haviam sido privadas de perder seu bom exemplo e seus sá bios
conselhos, ela se atreveu a exclamar: “Ah, meu amado Senhor! Por que
você a tirou de nó s tã o de repente? " Nosso Senhor respondeu:
“Enquanto você estava enterrando Gertrudes, minha amada, eu estava
me deliciando com a sua devotada comunidade, onde desci para me
alimentar dos lı́rios; e quando vi este lı́rio, que me agradou muito,
peguei-o em Minha mã o e, ao segurá -lo nele por onze dias antes de
parti-lo do caule, ele aumentou maravilhosamente em beleza e no
cheiro de santidade, e entã o eu levou para mim para meu pró prio
deleite especial. ” Ele entã o acrescentou: “Quando qualquer um de
você s re lete sobre o prazer que encontrou na companhia dela, e deseja
desfrutá -lo novamente, se você oferece este desejo para mim, ele
renova o prazer que encontro na fragrâ ncia deste lı́rio, e eu irei devolva
cem vezes mais. ”
Enquanto a religiosa, como irmã iel e amorosa, oferecia a Hó stia na
Elevaçã o por sua alma, com toda a idelidade do Coraçã o de Jesus, ela a
via elevada a um grau de gló ria ainda mais elevado e ainda mais
sublime, onde brilhavam as suas vestes maravilhosamente, e ela foi
honrada por espı́ritos abençoados. E ela via isso sempre que fazia esta
oferta por ela.
Entã o, ao perguntar a nosso Divino Senhor por que a irmã apareceu
com tanto medo e alarme durante sua agonia, ela recebeu esta
resposta: “Foi para o seu bem e um efeito de Minha
misericó rdia. Durante sua doença, ela desejou muito ser assistida por
suas oraçõ es, para que pudesse ser admitida no cé u
imediatamente. Prometi a você este favor, que ela acreditava que
obteria de mim. Fiquei satisfeito com sua con iança e decidido a lhe
fazer mais bem do que antes havia planejado. Mas como os jovens
raramente se puri icam de pequenas negligê ncias - como buscar muita
diversã o e ter prazer no que é inú til - e como era necessá rio que ela
fosse puri icada dessas pequenas manchas pelos inconvenientes e
dores da doença, antes que eu pudesse trazê -la para o cé u, nã o
suportaria que, depois de ter suportado tudo com tanta resignaçã o e
paciê ncia, ela ainda nã o pudesse desfrutar desta bem-
aventurança. Portanto, permiti que ela fosse ainda mais provada pelo
medo, causado pela visã o de espı́ritos malignos; e assim ela se tornou
perfeitamente puri icada e mereceu a gló ria eterna. ” "Mas onde estava
Tu, entã o, ó Senhor?" inquiriu o religioso. Nosso Senhor respondeu: “Eu
estava escondido em seu lado esquerdo; e assim que ela estava
su icientemente puri icada, Eu me mostrei a ela e a levei comigo para o
descanso eterno e gló ria. ”

CAPITULO 9
Feliz morte de outro religioso. Nosso Senhor recompensa especialmente sua
caridade para os outros. Purgató rio na doença. Como Nosso Senhor puri icou
um religioso moribundo. E icá cia das oraçõ es pelos que partiram. Das Missas
pelos Mortos. Recompensa de fervor ao sofrer.
UMA

Pouco depois morreu MAIS nenhum religioso, que desde a infâ ncia foi
especialmente devoto da Mã e de Deus. Depois de ter recebido os
ú ltimos sacramentos, e aparecendo quase morta, deu uma edi icaçã o
singular à religiosa pelo carinho e compunçã o com que beijou as feridas
de um cruci ixo que lhe foi apresentado, dirigindo-se a ele com as mais
ternas palavras. Depois de proferir as mais ardentes e fervorosas
exclamaçõ es de perdã o de seus pecados, para a proteçã o de seu esposo
em seus ú ltimos momentos, e para a ajuda da Santı́ssima Virgem, dos
Anjos e dos Santos, suas forças se esgotaram e ela passou como em um
sono tranquilo para sua recompensa eterna. Enquanto a comunidade
recitava as oraçõ es usuais pelo repouso de sua alma, Nosso Senhor
apareceu a uma religiosa com a falecida nos braços, dizendo-lhe
carinhosamente: "Você me conhece, minha ilha?" Entã o aquela que foi
favorecida com esta visã o orou para que Nosso Senhor recompensasse
especialmente aquela alma por sua caridade humilde e e icaz em tê -la
servido em muitas ocasiõ es, e por ter sido especialmente zeloso em
prestar serviço à queles religiosos que eram santos e devotados a Deus,
para que ela compartilhe de seus mé ritos e graças. Nosso Senhor,
portanto, apresentou Seu Coraçã o dei icado a ela, dizendo: “Beba
gratuitamente de Mim uma recompensa por tudo o que izeste na terra
pelos Meus eleitos”.
No dia seguinte, na Missa, a alma apareceu como se estivesse
sentada no seio de Nosso Senhor, e Sua Santı́ssima Mã e apareceu para
alegrar esta alma comunicando os seus mé ritos. Isto acontecia
especialmente enquanto a comunidade recitava para ela o Salté rio, com
a Ave Maria , de modo que a cada palavra a Mã e de Nosso Senhor
aparecia para fazer presentes a esta alma, que os recebia para
aumentar o seu mé rito perante Deus. Enquanto oravam assim, a
religiosa desejava muito saber quais as faltas que a defunta havia
cometido, das quais foi necessá rio puri icá -la antes de sua morte, e
rogou a Deus que lhe izesse isso conhecido. Como sua oraçã o foi o
resultado de uma inspiraçã o divina, e nã o de uma curiosidade ociosa,
ela foi ouvida; e Nosso Senhor respondeu: “Ela teve alguma
complacê ncia em seu pró prio julgamento; mas puri iquei-a disso,
fazendo-a morrer antes que a comunidade terminasse as oraçõ es que
estavam fazendo por ela. Isso a incomodava muito, porque ela temia
que fosse um obstá culo para sua felicidade, privando-a da ajuda que
esperava obter das oraçõ es de outros. ”
A isso os religiosos responderam: “Senhor, nã o poderia ela ter sido
puri icada disso pelos sentimentos de compunçã o que teve ao implorar
o perdã o por todos os seus pecados no ú ltimo momento de sua
vida?” Nosso Senhor respondeu: “Esta contriçã o geral nã o foi su iciente
porque ela ainda tinha alguma con iança em seu pró prio julgamento e
nã o era perfeitamente dó cil para aqueles que a instruı́am; e, portanto,
era necessá rio que ela fosse puri icada por este sofrimento. ” Ele
acrescentou: "Ela també m precisava de puri icaçã o por ter à s vezes
negligenciado a graça da Con issã o, mas Minha bondade remeteu essa
falha a ela por causa de algumas pessoas que honro com Minha
amizade, e de outros que estavam encarregados dela, e para o dor e
morti icaçã o que causei a ela, obrigando-a a se confessar contra sua
inclinaçã o no dia de sua morte; e entã o eu a perdoei por todas as
omissõ es pelas quais ela foi culpada neste assunto. ”
Na missa, quando cantaram no ofertó rio Hostias ac preces ,24Nosso
Senhor elevou a mã o direita e dela irradiou uma luz maravilhosa, que
iluminou todo o Cé u, mas especialmente esta alma, que estava no seio
de Nosso Senhor. Entã o os santos se aproximaram, cada um de acordo
com sua classe, e colocaram seus mé ritos como uma oferta no peito de
Jesus para suprir as de iciê ncias dessa alma. As religiosas sabiam que
agiam assim porque, quando aquela alma estava na terra, ela
costumava orar para que os santos dessem essa assistê ncia à s almas
dos falecidos. Os santos entã o testemunharam seu afeto por ela,
esforçando-se por aumentar sua felicidade, e as virgens a acariciaram
especialmente, como tendo, em comum com elas, a excelente graça da
virgindade.
Noutra ocasiã o, quando as religiosas rezavam por esta alma, com
poucas mas ardentes palavras, pareceu-lhe que todas as suas palavras
estavam gravadas no seio de Jesus, e ali formavam tantas janelinhas
que se abriam para o Coraçã o de Jesus. Entã o ela ouviu Nosso Senhor
dizer a esta alma: “Olhe atravé s do Cé u e veja se há alguma graça nos
Santos que você desejaria ter, e retire-a do Meu Coraçã o atravé s destas
pequenas aberturas”. A religiosa sabia, alé m disso, que cada oraçã o
feita com devoçã o por ela produzia o mesmo efeito. Na Elevaçã o da
Hó stia, Nosso Senhor apareceu para apresentar Seu corpo sagrado a
esta alma, sob a forma de um cordeiro imaculado; tendo abraçado com
devoçã o, ela mudou totalmente neste abraço porque ela obteve novas
alegrias e um conhecimento mais claro da Divindade. Em seguida, as
religiosas imploraram que ela orasse por aqueles que estavam sob sua
orientaçã o, e ela respondeu: “Eu orarei por eles, mas nã o posso desejar
nada, exceto o que vejo para estar em conformidade com a Vontade de
meu amado Senhor”. Os religiosos responderam: “Nã o é vantajoso para
eles ter esperança nas suas oraçõ es?” Ela respondeu: “Será de grande
valia para Nosso Senhor ver seu desejo sincero por nossa
intercessã o.” “Mas”, continuou o religioso, “você nã o pode orar
especialmente por seus amigos especiais, se eles nã o pediram suas
oraçõ es?” Ela respondeu: “Nosso Senhor, por Sua in inita caridade,
concede-lhes favores particulares por nossa causa”. “Sendo este o caso,
ore especialmente pelo sacerdote que se comunica por você ”. A alma
respondeu: “Ele me dará uma vantagem dupla, porque, como o Senhor
o recebe dele e o devolve para mim, assim Ele devolverá a ele o que eu
ganhei com isso, como o ouro parece ter maior vantagem quando
contrastado com as cores . ”25
“Pelo que você diz”, continuou a religiosa, “parece que é mais
salutar celebrar a missa pelos mortos do que por qualquer outra
intençã o?” Ela respondeu: “Quando isso é feito por caridade, é mais ú til
do que se a missa fosse celebrada apenas como um dever
sacerdotal”. "E como você sabe todas essas coisas?" perguntou o
religioso, "visto que você parecia saber tã o pouco quando estava na
terra?" A alma respondeu: “Eu o conheço da fonte de que fala Santo
Agostinho. Quando Deus olha para a alma, ela aprende todas as coisas.
”26
Certa vez, enquanto a religiosa contemplava essa alma vestida com
um manto escarlate e em alto grau de gló ria, ela perguntou a Nosso
Senhor como ela havia merecido tais favores. Ele respondeu: "Eu iz por
ela o que prometi atravé s de você , vestindo-a com Minha Paixã o para
recompensá -la por uma ocasiã o em que seu coraçã o estava muito
deprimido, e ainda assim ela nã o se isentou dos deveres normais da
ordem, e embora ela tivesse que fazer mais do que suas forças
permitiam, ela nã o se queixou muito disso. ” Ele acrescentou: “E pela
fraqueza e exaustã o que ela sofreu em sua doença, iz com que fosse
acompanhada pelos prı́ncipes de Meu reino, que a fazem encontrar uma
satisfaçã o especial na gló ria de que desfruta; e eu a recompensei tã o
abundantemente pelo que ela suportou, que ela deseja ter sofrido cem
vezes mais. ”
As religiosas també m viram muitas almas ajoelhadas diante dela
para testi icar sua gratidã o por sua libertaçã o do purgató rio, por meio
das oraçõ es que foram feitas por ela e das quais ela nã o precisava. Ela
perguntou se a comunidade obteria alguma vantagem com isso, e eles
responderam: “Certamente é muito vantajoso para você s, pois Nosso
Senhor derramará graça sobre você s para cada um”. Numa outra missa,
que nã o era para os mortos, as religiosas perguntavam a esta alma que
fruto ela poderia obter, já que nã o era para os mortos. A alma
respondeu: “E que parte tem uma rainha na posse do rei, seu
senhor? Saiba que estou tã o intimamente unido ao Rei meu Senhor e
minha amada Esposa, que compartilho de todos os Seus bens, como
uma rainha é admitida à mesa do rei; pelo qual, que o Rei dos reis seja
eternamente louvado e glori icado! ”

CAPITULO 10
Santa Gertrudes nã o foi formalmente canonizada. Histó ria de seu culto . Bento
XIV. Seu escritó rio aprovado. Nome inserido no Martiroló gio. Lanspergius. Sua
histó ria. Prefá cio para Insinuationes . Apelo pelo sexo feminino. Conclusã o.
S

T. GERTRUDE nunca foi formalmente canonizado. Bento XIV diz,27que


seu culto foi permitido pela primeira vez em 7 de outubro de 1606,
quatro sé culos apó s sua morte, quando, por decreto da Sagrada
Congregaçã o dos Ritos, um ofı́cio foi concedido à s freiras do mosteiro
de Sã o Joã o Evangelista, do cidade de Licia. No dia 20 de junho de 1609,
as freiras da Conceiçã o da Bem-aventurada Virgem do Mé xico
obtiveram um favor semelhante, sendo o ofı́cio duplo. Os monges e
monjas beneditinos da Congregaçã o de Cassiensis receberam um
duplo, ad lib. , em 19 de dezembro de 1654. O belo Ofı́cio do Santo,
atualmente em uso, era composto por Dom GH
Vaillant.28Na Bibliothêque Générale des Ecrivains de l'Ordre de St.
Benoît , t. iii, p. 170, encontramos os seguintes detalhes: “Dom
Bernardo Audebert, Superior Geral da Congregaçã o de Sã o Maurı́cio,
tendo instituı́do a Festa de Santa Gertrudes em 1673, cujo culto já era
famoso em Roma, Espanha e Indias, Dom Vaillant , da mesma
Congregaçã o, compô s o Ofı́cio da Santa Abadessa Beneditina, que foi
entoado a partir deste ano nos mosteiros da Congregaçã o. O autor usa
as expressõ es mais ternas do Câ ntico dos Câ nticos - uma linguagem
que só se adequa a um pequeno nú mero de almas sagradas, que se
elevam acima das coisas terrenas. ”
E mais difı́cil saber por que o Escritó rio foi transferido para
março. Os padres mauristas izeram essa mudança em um capı́tulo
geral, possivelmente porque há tantas festas em novembro; mas
novamente surge a pergunta por que eles escolheram um dia já
ocupado por Santa Gertrudes de Nivelle.29Pelo que pudemos apurar, a
festa é celebrada no dia 15 de novembro pela Ordem Beneditina, com
exceçã o desta Congregaçã o. O dia 17 de novembro foi o primeiro dia
designado para o festival, mas, como Bento XIV curiosamente observa,
veri icou-se que este dia já estava ocupado por um Bispo e Doutor da
Igreja, e como Sã o Gregó rio Taumaturgo havia mudado em sua vida
montanhas de seu lugar, nã o era apropriado que depois de sua morte
ele fosse removido de seu lugar por uma mulher, ou dar precedê ncia a
uma virgem. Alé m disso, o dia da morte de Santa Gertrudes era
duvidoso; aconteceu logo apó s a festa de Sã o Lebuin (12 de novembro),
e este foi o ú nico guia para uma decisã o. Um decreto foi entã o
publicado, urbis et orbis [sic]. A Sagrada Congregaçã o dos Ritos, a
pedido do Rei da Poló nia, aprovou um Ofı́cio conforme ao Breviá rio
Romano para “Cristã os de ambos os sexos, tanto seculares como
regulares, que estã o vinculados à s Horas Canó nicas”. Isso foi
autorizado por Sua Santidade Clemente XII, em 9 de março de 1739.
A questã o da canonizaçã o do Santo já havia sido levantada
anteriormente. No ano de 1677, foi proposta a inserçã o de seu nome no
Martiroló gio Romano. Bothinius, Arcebispo de Myra, entã o Promotor da
Fé , declarou que nã o havia nenhum documento que justi icasse sua
canonizaçã o ou beati icaçã o. “No entanto”, acrescenta Bento XIV,
“encontro a seguinte nota de sua pró pria caligra ia: 'Depois de escrever
o acima, uma indulgê ncia plená ria, autorizada por um escrito, foi obtida
na festa do Santo, o que tem muito peso para isso, porque, segundo os
decretos de Alexandre VII, de feliz memó ria, tal indulgê ncia nã o é
concedida a ningué m que nã o tenha sido previamente citado no
Martiroló gio; e atualmente (qualquer que tenha sido o caso anterior ao
decreto citado), é geralmente recusado. Mas os secretá rios o iciais
a irmaram que encontraram Santa Gertrudes descrita em seus livros
como la magna e, portanto, com direito a ser inserida no referido
Martiroló gio. ' ”
O nome foi, portanto, inserido em 22 de janeiro de 1678, mas sem
nenhum elogio especial. As palavras “que era notá vel pelo dom de
revelaçã o” foram acrescentadas posteriormente. Em geral, acredita-se
que os cinco livros conhecidos como Insinuationes Divinae
Pietatis foram traduzidos pela primeira vez do alemã o original por
Lanspergius. Bento XIV menciona uma obra anterior de Lamberto
Luscorino, escrita em 1390; “Mas isto”, acrescenta, “até onde sei, nunca
foi publicado”. Lanspergius diz, na conclusã o de seu Prefá cio, que apó s
uma pesquisa muito diligente, ele conseguiu obter apenas uma có pia
em latim, o primeiro livro do qual estava tã o rasgado e mutilado que ele
foi obrigado a traduzir o mesmo do alemã o para o latim e adotar a
có pia latina para o restante. Disto pode ser razoavelmente inferido que
a obra já havia sido traduzida e editada, mas nã o há dú vida de que a
ediçã o de Lanspergius foi a primeira a trazer as Revelaçõ es para o
conhecimento geral. Como se deseja saber se a có pia “teutô nica” que
utilizou era o manuscrito original do Santo e onde o obteve!
Lanspergius escreveu no inal do sé culo XV e no inı́cio do sé culo
XVI. Ele nasceu em Lansberg, na Baviera, e entrou para a Ordem dos
Cartuxos em Colô nia ainda jovem. Sua piedade e devoçã o
proporcionaram a ele o tı́tulo distintivo de "o justo". Ele morreu em
1539, antes de atingir seu quinquagé simo ano. Suas obras, que sã o
principalmente ascé ticas, respiram um espı́rito singularmente devoto e
piedoso; foram publicados em Colô nia, em cinco volumes in-quarto,
1693.
O prefá cio que ele pre ixou aos Insinuationes foi republicado por
todos os que editaram a obra desde entã o. O tı́tulo de Insinuationes , tã o
expressivo em latim, tã o impossı́vel de ser traduzido para o inglê s, que
ele foi o primeiro a pre ixar à s Revelaçõ es de Santa Gertrudes, també m
foi mantido. Lanspergius começa seu Prefá cio observando “que
ningué m se surpreenderia se, nos dias atuais, quando a Sagrada
Escritura é questionada por todos”, ele trouxesse um livro de
revelaçõ es; e ele antecipa objeçõ es ao trabalho observando que mesmo
aqueles que criticam tais revelaçõ es quando feitas a religiosos, nã o
podem negar que o pró prio Antigo Testamento é inteiramente um
volume de revelaçõ es. Ele sugere que os objetores a tais manifestaçõ es
divinas devem ser o mesmo nú mero daqueles de quem o pró prio Cristo
declara que Seus segredos foram ocultados pelo Pai, como sendo os
“sá bios e prudentes” do mundo. E para os “pequenos” que ele descobre
a sua vela, há muito tempo escondida debaixo do alqueire; mas,
considerando-se devedor de todos, sente-se obrigado a declarar que
nada será encontrado neste volume que seja contrá rio à s Escrituras, ou
que nã o possa ser provado por meio delas. Ele continua:
“Que o leitor aprenda mais que possuı́mos a mais profunda
veneraçã o pela Escritura, de modo que nã o atribuı́mos igual autoridade
a qualquer outra obra, por mais sublime que seja; mas devemos
confessar - tal é a bondade e profusã o do amor divino - que nã o há sexo,
idade, condiçã o, que nã o condescenderá em iluminar, ou seduzir e
convidar, de acordo com sua capacidade ou poder de ser assim
atraı́do. E assim Deus estabeleceu em Sua Igreja, nã o só vá rios
escritores eclesiá sticos, mas també m vá rios mé todos de ensino, de
frase e de expressã o, e isso em ambos os sexos, para que todos possam
ser instruı́dos, iluminados e edi icados de acordo com seu gosto.
“Mas alguns talvez objetem que essas revelaçõ es foram feitas a uma
mulher, e tanto desprezando ou suspeitando de toda a raça feminina,
pensarã o que, nã o importa quã o sagrada uma virgem ou mulher possa
ser, ela deve necessariamente ser frá gil e instá vel, tendo nada de
masculino (o que signi ica perfeito) sobre ela - como se as mulheres
sagradas nã o tivessem sido mais constantes na virtude, mais prontas
para o martı́rio, mais cautelosas com sua castidade, mais cheias de
misericó rdia, mais empenhadas em evitar a ira de Deus do que muitos
homens, e nos deram exemplos de virtudes que muitas vezes sã o
superiores à s dos homens. Nó s, homens, devemos antes icar confusos
quando re letimos sobre eles, e contemplamos todo o sexo com
veneraçã o.
“Nã o negarei que o mesmo sexo, isto é , certas virgens piedosas ou
mulheres devotadas a Deus, quando deixadas a si mesmas e sem a
ajuda de Deus, nã o estã o de forma alguma fora de suspeita; pois a
vangló ria, à qual as mulheres estã o muito expostas, ou uma vã
complacê ncia em si mesmas, as leva a acreditar que o que era
inteiramente humano era na verdade uma inspiraçã o divina; e outras
vezes, encantados com os aplausos e a estima dos homens,
consideraram-se muito melhores e superiores ao que sã o na realidade.
“Essas pessoas, no entanto, sã o facilmente detectadas. Um impostor,
especialmente uma mulher, nã o pode escapar por muito tempo, porque
onde o fundamento mais profundo de humildade nã o é colocado, todo o
edifı́cio cai ignominiosamente. Mas onde existe verdadeira humildade,
tal humildade como aqueles que possuem, e como todos deveriam
possuir, que se apegam a Deus por pura, simples e casta afeiçã o,
qualquer sexo a que pertençam, eles nã o serã o enganados nem
desejarã o enganar os outros. Pois embora eles possam sentir algum
movimento celestial, ou receber alguma graça celestial incomum, isso
os perturba, levanta muitas dú vidas em suas mentes, como isso pode
vir de Deus - como isso pode acontecer com eles, fracos, desprezı́veis,
meros nadas como eles sã o - como Deus poderia vir a conhecê -los; e
consideram quase absurdo para Deus, por tais dons singulares, preferi-
los a outros, ou fazer tal coisa por eles em preferê ncia a outros. ”
Ele entã o fala da humildade da Santı́ssima Virgem quando saudada
pelo Anjo e diz que aqueles que sã o verdadeiramente humildes e santos
nã o acreditarã o em nenhuma revelaçã o ou visã o até que seja
assegurada por aqueles que os dirigem. Deus fala a quem Lhe agrada e
nã o faz distinçã o de sexo, a menos que seja para dar mais
abundantemente aos mais fracos quando eles o merecem por
humildade e devoçã o. Mas embora ele tenha escolhido falar atravé s do
asno de Balaã o, nã o devemos, portanto, chamá -lo de bem-
aventurado. Mas chamamos Santa Gertrudes de bem-aventurada, tal
era sua santidade, pureza e sinceridade em buscar a gló ria de Deus e
Sua Vontade em todas as coisas, a ponto de merecer ser o meio de nos
revelar Seus segredos.
Lanspergius entã o mostra que o cará ter dessas Revelaçõ es é tal que
as torna de utilidade geral para a Igreja, visto que nã o há “nada
obscuro, nada duvidoso; nenhuma profecia do futuro; nada alé m do que
podemos desejar e desejar - a saber, a extensã o da bondade, clemê ncia
e compaixã o de Deus ”; e que "eles mostram com que Providê ncia
benigna Ele lida com Seus amigos singulares, que, renunciando a seus
pró prios desejos, buscam somente Sua Vontade, e como Ele os promove
a salutares, depois a melhores e, entã o, aos dons mais escolhidos".
Ele entã o enumera as vá rias mulheres mencionadas nas Escrituras
que profetizaram ou mesmo governaram o povo de Deus, começando
com Dé bora30e terminando com Elizabeth e Anna. “Nada digo da
Fê mea, a Virgem Maria, a mais digna, nã o só das mulheres, mas de
todos os seres criados, pois nã o é justo compará -la com ningué m, pois
ela supera a todos como o sol supera as estrelas. ”
O bom cartuxo volta ao que parece ser um tema favorito, e diz que
ignora os detalhes que poderia ter dado sobre os triunfos gloriosos, a
constâ ncia e a resistê ncia das mulheres má rtires e, com uma breve
condenaçã o daqueles eclesiá sticos que, por causa eles sã o, ou se julgam
"homens de grande importâ ncia e na estima do povo, desprezam o sexo
mais fraco", e impedem o devoto de se comunicar com a freqü ê ncia que
desejam, ele passa a um panegı́rico sobre o aprendizado de a Santa e a
sua santidade: “Quanto à sua santidade, ela era tã o abundante em
virtudes, que nã o se podia dizer qual era a mais proeminente. Olhe para
a humildade dela - você nã o encontrará nada parecido; em sua
castidade - você diria que ela se destacou nisso; observe sua brandura e
bondade - você os colocaria antes dos outros: pois ela era tã o avançada
em cada virtude, você diria que cada uma era sua principal. ”
Em seguida, ele considera as prá ticas de devoçã o que ela propõ e,
especialmente a de unir todas as nossas açõ es, por mais insigni icantes,
à s de nosso Divino Senhor: "Oh, a barganha!" ele exclama; “Nã o seria
considerado um tolo se nã o daria um pedaço de cobre por um monte de
ouro, ou uma pederneira por uma pé rola?” Assim, todas as nossas boas
açõ es sã o convertidas em grande conta e se tornam de grande valor
para nó s, na medida em que, por nossa intençã o de uni-las com a
oblaçã o de Cristo, elas se tornam parte integrante de Seus
mé ritos. Alé m disso, se izermos tudo isso nã o apenas para nó s
mesmos, mas para os outros, e acima de tudo para a Santa Igreja, nosso
ganho é aumentado, Deus é mais glori icado e a Igreja é fortalecida e
apoiada: “para toda propriedade, mais comum ela se torna, mais
celestial se torna ”- palavras certamente dignas de nota e entesouradas
em todas as fases de nossa vida espiritual.
Os testemunhos de vá rios teó logos e mé dicos que examinaram as
Revelaçõ es sã o apresentados a seguir. Os teó logos mais aprovados
entre os dominicanos e franciscanos foram empregados nela; entre
outros, o Irmã o Henry de Mulhusen e um certo Padre chamado Burgo,
pertencente aos Frades Menores de Halbustat, pessoa muito estimada
por sua aprendizagem por volta do ano 1300. Ele també m observa:
“Houve muitos outros eruditos, especialmente entre os Frades
Pregadores, que conversaram com ela em vida e testemunharam sua
erudiçã o e sinceridade. O testemunho de algué m que enviou o seguinte,
depois de uma revisã o muito precisa do livro, nã o posso reter:
'Considero que ningué m que tenha o Espı́rito de Deus nele pode criticar
ou contestar qualquer coisa escrita neste livro. Nervado pelo Espı́rito
da Verdade, do qual emana toda a sabedoria, ofereço-me e me
considero preso até a morte para encontrar algué m em defesa da
sagrada doutrina cató lica nele contida. ' ”
Tal testemunho de um membro de uma Ordem sempre distinta por
seu aprendizado teoló gico e julgamento calmo terá um peso com ele
que torna desnecessá ria observaçã o posterior; e como o arranjo da
obra foi totalmente explicado em outro lugar, concluiremos com as
palavras graciosas e sagradas de nosso autor: “Adeus, portanto, cortê s
leitor; Pedimos perdã o por qualquer omissã o aqui, pois nenhuma
certamente foi deliberada. Aqui, procure e estude o que é certo e
perfeito; e que Deus, pela intercessã o da mesma virgem piedosa e as
oraçõ es de todos os leitores piedosos deste, tenha misericó rdia de mim.

PARTE DOIS
As revelaçõ es de Santa Gertrudes
Escrito por ela mesma

CAPITULO 1
O agradecimento da Santa a Deus pela primeira graça que lhe foi concedida,
pela qual o seu espı́rito se afastou das coisas terrenas e se uniu a Ele.

eu

ET O Abismo da Sabedoria Incriada invoca o Abismo do Poder


Onipotente para louvar e exaltar a incrı́vel caridade que, por um
excesso de Tua in inita misericó rdia, O mais doce Deus de minha vida e
ú nico Amor de minha alma, te conduziste atravé s de um deserto, terra
á rida e sem trilhas - isto é , atravé s dos muitos obstá culos que coloquei à
Tua misericó rdia - para descer ao vale de minhas misé rias.
Eu estava no vigé simo sexto ano da minha idade quando, na
segunda-feira1antes da Festa da Puri icaçã o de Tua mais casta Mã e, em
uma hora feliz, depois das Completas, no inal do dia, Tu a verdadeira
Luz, Que é s mais claro do que qualquer luz, e ainda mais profundo do
que qualquer recesso, tendo resolvido dissipar o obscuridade de minha
escuridã o, docemente e gentilmente comecei minha conversã o
apaziguando a angú stia que despertou em minha alma por mais de um
mê s, que te dignaste a usar, como acredito, para destruir a fortaleza de
vangló ria e curiosidade que minha o orgulho cresceu dentro de mim,
embora eu tivesse o nome e o há bito de um religioso sem
propó sito. Mas Tu quiseste usar este meio, para que assim pudesse me
mostrar a Tua salvaçã o.
Estando, pois, no meio de nosso dormitó rio, na hora que nomeei, e
tendo-me inclinado a um antigo religioso segundo nossa regra, ao
erguer minha cabeça te contemplei, meu amor mais amoroso e meu
Redentor, superando em beleza o ilhos dos homens, sob a forma de um
jovem de dezesseis anos, belo e amá vel, e atraindo meu coraçã o e meus
olhos pela luz in inita de Tua gló ria, que Tu tiveste a bondade de
proporcionar à fraqueza de minha natureza; e estando diante de mim,
proferiste estas palavras, cheias de ternura e doçura: “Tua salvaçã o
está pró xima; por que está s consumido pela dor? Nã o tens conselheiro,
que tã o mudado pela tristeza? " Quando Tu falaste assim, embora eu
soubesse que estava corporalmente no lugar que mencionei, pareceu-
me, no entanto, que eu estava em nosso coro, no canto2onde estava
acostumado a oferecer minhas oraçõ es mornas, e ali ouvi estas
palavras: “Eu te salvarei, eu te livrarei; nã o tema ”; e depois de ouvi-los,
vi-te colocar a tua mã o direita na minha, como se para rati icar a tua
promessa.
Entã o Te ouvi falar assim: “Lambeste o pó com os Meus inimigos e
chupaste o mel entre os espinhos; mas volte agora para Mim - Eu te
receberei e te embriagarei com a torrente de Minhas delı́cias celestiais.
” Quando Tu disseste essas palavras, minha alma derreteu dentro de
mim, e quando eu desejei me aproximar de Ti, eu vi entre Ti e eu
(quero dizer, da Tua mã o direita para a minha mã o esquerda) uma
cerca de tamanho prodigioso que eu pude ver sem im para isso, nem
antes nem atrá s, e o topo parecia tã o cheio de espinhos que nã o pude
encontrar maneira de voltar para Ti, Tu ú nico consolo de minha
alma. Em seguida, parei para chorar minhas faltas e crimes, sem dú vida
igurados por esta sebe que nos separava. No ardor dos desejos com
que Te desejei, e na minha fraqueza, ó Pai caridoso dos pobres, "cujas
misericó rdias estã o sobre todas as tuas obras", Tu me pegaste pela
mã o e me colocaste perto de Ti instantaneamente, sem di iculdade, de
modo que, ao lançar meus olhos sobre a preciosa Mã o que me
estendeste como penhor de Tuas promessas, reconheci, ó doce Jesus,
Tuas feridas radiantes, que tornaram sem efeito a caligra ia que era
contra nó s ”.3
Por essas e outras iluminaçõ es Tu iluminaste e suavizaste minha
mente, separando-me poderosamente, por uma unçã o interior, de um
amor desordenado pela literatura e de todas as minhas vaidades, de
forma que eu apenas desprezava as coisas que antes me agradavam; e
tudo o que nã o era Ti, ó Deus do meu coraçã o, parecia vil para mim, e
Tu sozinho eras agradá vel para a minha alma. E eu louvo, abençoo,
adoro e agradeço do fundo da minha alma, tanto quanto eu posso, mas
nã o tanto quanto eu deveria, Tua sá bia misericó rdia e Tua sabedoria
misericordiosa, que Tu, meu Criador e Redentor, te esforçaste em tã o
amor uma maneira de submeter minha invencı́vel autocon iança à
doçura de Teu jugo, compondo uma bebida adequada ao meu
temperamento, que infundiu nova luz em minha alma, de modo que
comecei a correr atrá s do odor de Teus unguentos, e Teu jugo tornou-se
Doce e Tua carga leve, embora um pouco antes parecessem duros e
quase insuportá veis.

CAPITULO 2
Como a graça de Deus a iluminou interiormente.
H

AIL, Salvaçã o e Luz da minha alma! Que tudo o que está no cé u, na terra
e no abismo retorne graças a Ti pela graça extraordiná ria que levou
minha alma a saber e considerar o que se passa em meu coraçã o, do
qual antes nã o tinha mais cuidado do que (se puder assim fale) do que
se passa em minhas mã os ou pé s. Mas depois da infusã o de Tua mais
doce luz, vi muitas coisas em meu coraçã o que ofenderam Tua pureza, e
até percebi que tudo dentro de mim estava em tal desordem e confusã o
que Tu nã o pudeste permanecer nisso.
No entanto, meu amado Jesus, nem todos esses defeitos, nem toda
minha indignidade, Te impediram de honrar-me com Tua presença
visı́vel quase todos os dias em que recebi o alimento vivi icante de Teu
Corpo e Teu Sangue, embora só Te visse indistintamente , como aquele
que vê ao amanhecer: Tu te esforçaste por esta doce submissã o para
atrair minha alma, para que ela pudesse estar inteiramente unida a Ti, e
que eu pudesse Te conhecer melhor e desfrutar de Ti mais
plenamente. E enquanto me dispus a trabalhar para obter estes favores
na Festa da Anunciaçã o de Tua Mã e, quando Tu te alias à nossa
natureza em seu ventre virginal - Tu que disseste: “Aqui estou antes de
Te chamar” - Tu antecipaste este dia derramando sobre mim, embora
eu seja indigno, na Vigı́lia da Festa, a doçura de Tua bê nçã o, no Capı́tulo,
que foi realizado apó s as Matinas, por causa do Domingo seguinte.
Mas, uma vez que nã o é possı́vel para mim descrever de que
maneira tu me visitaste, ó Oriente do alto, nas entranhas de Tua
misericó rdia e doçura, permite-me, ó Doador de presentes, imolar um
sacrifı́cio de Açã o de Graças a Ti em o altar do meu coraçã o, a im de
obter para mim e para todos os Teus eleitos a bem-aventurança de
experimentar freqü entemente esta uniã o de doçura e esta doçura de
uniã o, que até entã o era totalmente desconhecida para mim. Pois,
quando re lito sobre o tipo de vida que levei anteriormente e que tenho
levado desde entã o, protesto na verdade que é um puro efeito de Tua
graça, que me deste sem nenhum mé rito meu.
Tu me deste desde entã o um conhecimento mais claro de Ti, que foi
tal que a doçura de Teu amor me levou a corrigir minhas faltas muito
mais do que o medo dos castigos com os quais Tua justa raiva me
ameaçava. Mas nã o me lembro de ter gozado tã o grande felicidade em
qualquer outro momento como durante estes dias de que falo, em que
me convidaste para as delı́cias de Tua mesa real; e nã o sei ao certo se
foi Tua sá bia Providê ncia que me privou deles, ou se foi minha
negligê ncia que atraiu sobre mim este castigo.

CAPITULO 3
Do prazer que Deus teve em fazer morada na alma de Gertrudes.

HILST Tu agiste com tanto amor para comigo, e nã o deixaste de puxar
minha alma da vaidade e para Ti mesmo, aconteceu em um certo dia,
entre o Festival da Ressurreiçã o e da Ascensã o, que eu entrei no
tribunal antes do Primeiro e me sentei perto da fonte; e comecei a
considerar a beleza do lugar, que me encantou por causa do riacho
lı́mpido e luente, o verdor das á rvores que o cercavam e o vô o dos
pá ssaros, principalmente das pombas - sobretudo, o doce calma - alé m
de tudo, e considerando dentro de mim o que tornaria este lugar mais
ú til para mim, pensei que seria a amizade de um companheiro sá bio e
ı́ntimo, que iria adoçar minha solidã o ou torná -la ú til aos outros:
Quando Tu, meu Senhor e meu Deus, que é s uma torrente de
inestimá veis prazeres, depois de me haveres inspirado com o primeiro
impulso deste desejo, quiseste ser també m o im dele, inspirando-me
com o pensamento de que se por contı́nua gratidã o te retribuo graças a
Ti quando um riacho retorna à sua fonte; se, aumentando no amor à
virtude, eu produzo, como as á rvores, as lores das boas obras; alé m
disso, se, desprezando as coisas da terra, eu voar para cima, livremente,
como os pá ssaros, e assim libertar meus sentidos da distraçã o das
coisas exteriores, minha alma entã o estaria vazia e meu coraçã o seria
uma morada agradá vel para Ti.
Enquanto eu estava ocupado com a lembrança dessas coisas
durante o mesmo dia, tendo me ajoelhado apó s as Vé speras para minha
oraçã o da noite antes de me retirar para descansar, esta passagem do
Evangelho veio de repente à minha mente: “Se algué m Me ama, manterá
Minha palavra, e Meu Pai o amará , e viremos a ele e faremos nele
morada. ” ( João 14:23). Com essas palavras, meu coraçã o sem valor Te
percebeu, ó meu doce Deus e meu deleite, presente nelas. Oh, que todas
as á guas do mar se transformassem em sangue, para que eu pudesse
passá -las sobre minha cabeça e assim lavar minha extrema vileza, que
escolheste para tua morada! Ou que neste momento meu coraçã o seja
arrancado de meu corpo e lançado na fornalha, para que seja puri icado
de suas impurezas e tornado pelo menos menos indigno de Tua
presença! Pois Tu, meu Deus, desde aquela hora, trataste-me à s vezes
com doçura e à s vezes com severidade, conforme eu corrigisse ou fosse
negligente; embora, para falar a verdade, quando a emenda mais
perfeita que eu poderia obter, mesmo por um momento, deveria durar
toda a minha vida, nã o poderia merecer obter para mim a mais
insigni icante ou a menos condescendente das graças que tenho já
recebido de Ti, tã o grandes sã o meus crimes e pecados.
O excesso de Tua bondade me obriga a acreditar que ver minhas
faltas mais Te move a temer que me verá s perecer do que excitar Tua
ira, fazendo-me saber que Tua paciê ncia em suportar meus defeitos até
agora, com tanta bondade, é maior do que a doçura com que suportaste
o pé r ido Judas durante a tua vida mortal; e embora minha mente tenha
prazer em vagar depois e em se distrair com coisas perecı́veis, ainda
assim, depois de algumas horas, depois de alguns dias, e, infelizmente,
devo acrescentar, depois de semanas inteiras, quando eu retornar ao
meu coraçã o, eu Te encontro lá , de modo que nã o posso reclamar que
Tu me deixaste mesmo por um momento, desde aquela é poca até este
ano, que é o nono desde que recebi esta graça, exceto uma vez, quando
percebi que Tu me deixaste pelo espaço de onze dias , antes da Festa de
Sã o Joã o Batista - e me pareceu que isso aconteceu por conta de uma
conversa mundana na quinta-feira anterior, e Tua ausê ncia durou até a
Vigı́lia de Sã o Joã o, quando a Missa Ne timeas, Zacharia ,4é dito. Entã o,
Tua mais doce humanidade e Tua estupenda caridade levaram-Te a me
procurar, quando cheguei a tal ponto de loucura, que nã o pensei mais
na grandeza do tesouro que havia perdido e por cuja perda nã o me
lembro de nã o senti qualquer tristeza naquele momento, nem mesmo
por ter tido o desejo de recuperá -la.
Nã o posso agora icar su icientemente surpreso com a mania que se
apossou de minha alma, a menos que, de fato, fosse porque Tu desejas
que eu soubesse por experiê ncia pró pria o que Sã o Bernardo disse:
“Quando fugirmos de Ti, Tu nos persegues; quando viramos nossas
costas, Tu te apresentas diante de nó s; quando Te desprezamos, Tu nos
suplicas; e nã o há insulto nem desprezo que Te impeça de trabalhar
incansavelmente para nos levar à realizaçã o daquilo que o olho nã o viu,
nem o ouvido ouviu, e que o coraçã o do homem nã o pode compreender
”.
E como Tu me concedeste Tuas primeiras graças sem nenhum
mé rito de minha parte, agora que tive uma segunda recaı́da, que é pior
do que a primeira, e me torna ainda mais indigno de receber a Ti, Tu te
dignaste a dar-me a alegria da Tua presença sem interrupçã o, até esta
hora: pelo qual seja louvor e açã o de graças a Ti como a Fonte de todo
bem; e para que Te agrade como a Fonte de todo o bem, e para que Te
agrade preservar esta preciosa graça em mim, ofereço-Te aquela oraçã o
excelente que proferiste com tã o incrı́vel fervor quando suava sangue
em agonia, e que a amor ardente por Tua Divindade e Tua devoçã o pura
tornada tã o e icaz, rogando a Ti, em virtude desta oraçã o mais perfeita,
que me atraias e me unas inteiramente a Ti mesmo, para que eu possa
permanecer inseparavelmente ligado a Ti, mesmo quando sou obrigado
a atender deveres exteriores para o bem do meu pró ximo, e que depois
eu possa voltar novamente para buscar a Ti dentro de mim, quando eu
os tiver cumprido para Tua gló ria da maneira mais perfeita possı́vel,
assim como o vento, quando agitado por uma tempestade, retorna
novamente à sua calma anterior quando cessou; para que me
consideres tã o zeloso em trabalhar por Ti quanto foste assı́duo em me
ajudar; e que, por este meio, Tu possas me elevar ao mais alto grau de
perfeiçã o ao qual Tua justiça pode permitir que Tua misericó rdia eleve
uma criatura tã o carnal e rebelde, para que Tu possas receber minha
alma em Tuas mã os quando eu der meu ú ltimo suspiro , e conduzi-lo
com um beijo de paz onde Tu habitas, que reinas indivisı́vel e
eternamente com o Pai e o Espı́rito Santo por sé culos sem im. Um
homem.

CAPITULO 4
Dos estigmas impressos no coraçã o de Gertrudes, e seus exercı́cios em
homenagem à s Cinco Chagas.

eu

ACREDITO que foi durante o inverno do primeiro ou segundo ano,


quando comecei a receber esses favores, que encontrei a seguinte
oraçã o em um livro de devoçõ es:
“O Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, concede que eu possa
aspirar a Ti com todo o meu coraçã o, com plena vontade e com a alma
sedenta, buscando somente Tua doçura e Tuas delı́cias, para que toda a
minha mente e tudo o que está dentro eu posso suspirar ardentemente
a Ti, que é s nossa verdadeira bem-aventurança. O misericordioso
Senhor, grava Tuas Chagas em meu coraçã o com Teu Sangue
preciosı́ssimo, para que eu possa ler nelas Tua dor e Teu amor; e que a
memó ria de Tuas Chagas permaneça sempre em meu ı́ntimo coraçã o,
para despertar minha compaixã o por Teus sofrimentos e aumentar em
mim Teu amor. Concede-me també m desprezar todas as criaturas, e que
meu coraçã o possa se deleitar somente em Ti. Um homem."
Tendo aprendido esta oraçã o com grande satisfaçã o, eu a repetia
freqü entemente, e Tu, que nã o desprezas a oraçã o dos humildes,
ouviste minhas petiçõ es; pois logo depois, no mesmo inverno, estando
no refeitó rio depois das Vé speras, para confronto, estava sentado perto
de uma pessoa a quem havia revelado meu segredo. Eu relato essas
coisas para o benefı́cio de quem pode ler o que escrevo, porque muitas
vezes percebi que o fervor de minha devoçã o é aumentado por esse
tipo de comunicaçã o; mas nã o sei ao certo, ó Senhor meu Deus, se foi o
Teu Espı́rito, ou talvez a afeiçã o humana, que me fez agir assim, embora
eu tenha ouvido de pessoas experientes em tais assuntos que é sempre
melhor revelar esses segredos - nã o com indiferença a todos, mas
principalmente à queles que nã o sã o apenas nossos amigos, mas a quem
devemos reverenciar; no entanto, como tenho dú vidas, como já disse,
entrego tudo à Tua iel Providê ncia, cujo espı́rito é mais doce que o
mel. Se este fervor surgiu de qualquer afeiçã o humana, estou ainda
mais inclinado a ter uma profunda gratidã o por isso, pois Tu te dignaste
a unir o lodo de minha vileza ao ouro precioso de Tua caridade, para
que assim as pedras preciosas de Tua graça pudessem seja envolto em
mim.
Estando sentado no refeitó rio, como disse antes, pensei com
atençã o nestas coisas, ao perceber que a graça que há tanto tempo
pedira com a citada oraçã o me foi concedida, por mais indigno que
seja; pois percebi em espı́rito que imprimiste no fundo do meu coraçã o
as adorá veis marcas de Tuas feridas sagradas, assim como estã o em Teu
corpo, que curaste a minha alma, ao imprimir estas feridas nela, e que,
para satisfazer sua sede, Tu deste a bebida preciosa de Teu amor.
Mas minha indignidade ainda nã o havia exaurido o abismo de Tua
misericó rdia, pois recebi de Tua transbordante generosidade este dom
notá vel - que cada vez durante o dia em que me esforcei para me aplicar
em espı́rito a essas feridas adorá veis, dizendo cinco versos do
Salmo Benedic, anima mea, Domino ( Sal . 102), Nunca deixei de receber
um novo favor. No primeiro versı́culo, “Bendito seja o Senhor, ó minha
alma”, eu depositei toda a ferrugem de meus pecados e minha volú pia
nas feridas de Teus benditos pé s; no segundo versı́culo, “Bendito seja o
Senhor, e nunca se esqueça de tudo que Ele fez por ti”, eu lavei todas as
manchas dos prazeres carnais e perecı́veis no doce banho de Sangue e
Agua que Tu derramaste para mim; no terceiro versı́culo, “Que perdoa
todas as tuas iniqü idades”, eu repousei meu espı́rito na Ferida da Tua
Mã o Esquerda, assim como a pomba faz seu ninho na fenda da
rocha; no quarto versı́culo, “Quem redime tua vida da destruiçã o”,
aproximei-me de Tua Direita e tirei dela tudo o que precisava para
minha perfeiçã o em virtude; e estando assim magni icamente
adornado, passei para o quinto versı́culo, "Quem satisfaz o teu desejo
com coisas boas", para que eu pudesse ser puri icado de toda a
contaminaçã o do pecado e ter a indigê ncia de minhas necessidades
supridas, para que eu pudesse me tornar digno de Tua presença -
embora de mim mesmo seja totalmente indigno - e poderia merecer a
alegria de Teus castos abraços.
Declaro també m que Tu concedeste livremente minha outra petiçã o
- a saber, que eu pudesse ler Tua dor e Teu amor juntos. Mas,
infelizmente, isso nã o durou muito, embora eu nã o possa te acusar de
tê -lo retirado de mim, mas reclamo-me de tê -lo perdido por minha
pró pria negligê ncia. Esta Tua bondade excessiva e misericó rdia in inita
se escondeu de si mesma, e obteve para mim, sem qualquer mé rito de
minha parte, o maior de Tuas dá divas - a impressã o de Tuas feridas -
pelas quais seja louvor, honra, gló ria, domı́nio e açã o de graças a Ti por
eras in initas!

CAPITULO 5
Da Ferida do Amor Divino, e da maneira de banhar, ungir e amarrar.
S

MESMO anos depois, um pouco antes do Advento, por Tua ordenança,


Que é s a Fonte de todo o bem, eu engajei uma certa pessoa para fazer
esta oraçã o todos os dias por mim diante de um cruci ixo, “O Senhor
amoroso, por Teu Coraçã o traspassado seu coraçã o com a lecha de Teu
amor, para que nada terrestre nele permaneça, e que seja inteiramente
preenchido com a força de Tua Divindade ”. Comovido, creio eu, por
estas oraçõ es, no domingo em que cantaram a Missa Gaudete em
Domino ,5Tendo Tua in inita liberalidade me permitido, por um excesso
de misericó rdia, aproximar-me da Comunhã o de Teu adorá vel Corpo e
Sangue, Tu infundiste um desejo em mim quando Eu me aproximei
Dele, que irrompeu nestas palavras: “Senhor, eu nã o sou digno para
receber o menor dos Teus dons; mas eu imploro a Ti, pelos mé ritos e
oraçõ es de todos aqui presentes, para perfurar meu coraçã o com a
lecha de Teu amor. ” Logo percebi que minhas palavras alcançaram Teu
Divino Coraçã o, tanto por uma efusã o interior de graça, quanto por um
prodı́gio notá vel que Tu me mostraste na imagem de Tua cruci icaçã o.
Depois de ter recebido o sacramento da vida, e ter me retirado para
o lugar onde oro, pareceu-me que vi um raio de luz como uma lecha
saindo da ferida do lado direito do cruci ixo, que estava em um lugar
elevado, e continuou, por assim dizer, a avançar e retirar-se por algum
tempo, docemente atraindo minhas frias afeiçõ es. Mas meu desejo nã o
estava totalmente satisfeito com essas coisas até a quarta-feira
seguinte,6quando, depois da Missa, os ié is meditaram sobre a Tua
adorá vel Encarnaçã o e Anunciaçã o, à qual eu aderi, embora
imperfeitamente. E, eis que de repente apareceste diante de mim e
imprimiste uma ferida em meu coraçã o, dizendo estas palavras: "Que
toda a maré de tuas afeiçõ es lua para cá , para que todo o teu prazer,
tua esperança, tua alegria, tua dor, tua medo, e todos os outros
sentimentos podem ser sustentados pelo Meu amor! ” E
imediatamente me lembrei que tinha ouvido falar que uma ferida
deveria ser lavada, ungida e enfaixada. Mas Tu nã o me ensinaste entã o
de que maneira eu deveria realizar essas coisas, pois Tu adiaste para
me descobrir mais claramente no inal por meio de outra pessoa, que
havia acostumado os ouvidos de sua alma a discernir muito mais
exatamente e delicadamente do que eu os doces murmú rios de Teu
amor.
Ela me aconselhou a re letir com devoçã o sobre o amor de Teu
Coraçã o quando pendurado na Cruz, e tirar desta fonte as á guas da
verdadeira devoçã o, para lavar todas as minhas ofensas; tirar da unçã o
da misericó rdia o ó leo da gratidã o, que a doçura deste amor
inestimá vel produziu como remé dio para todas as adversidades, e usar
esta caridade e icaz e a força deste amor consumado como um
ligamento de justi icaçã o para unir todos os meus. pensamentos,
palavras e obras indissoluvelmente e poderosamente para Ti. Que
todas as privaçõ es daquelas coisas que minha malı́cia e maldade
causaram sejam supridas por aquele amor cuja plenitude habita Nele
que, estando sentado à Tua mã o direita, se tornou "osso dos meus
ossos e carne da minha carne!" Visto que é por Ele, pela operaçã o do
Espı́rito Santo, que Tu colocaste em mim esta nobre virtude da
compaixã o, humildade e reverê ncia, para me capacitar a falar a Ti, é
també m por Ele que apresento a Ti minha reclamaçã o das misé rias que
suporto, que sã o tã o grandes em nú mero, e que me izeram ofender
Tua Divina bondade de tantas maneiras por meus pensamentos,
palavras e açõ es, mas principalmente pelo mau uso que iz das graças
mencionadas, por minha in idelidade, minha negligê ncia e minha
irreverê ncia. Pois se Tu deste a algué m tã o indigno até mesmo um io
de linho7 como uma lembrança de Ti, eu deveria ter sido obrigado a
respeitá -lo mais do que iz todos esses favores.
Tu sabes, ó meu Deus, de Quem nada está escondido, que a razã o
pela qual escrevi estas coisas, tanto contra a minha inclinaçã o, é que
tenho lucrado tã o pouco com a Tua generosidade, que nã o posso
acreditar que me foram reveladas somente para mim, visto que Tua
sabedoria eterna nã o pode ser enganada. Concede, entã o, ó Doador de
presentes, que tã o livre e sem reservas os concedeu a mim, que quem
ler estas coisas possa ser tocado com ternura e compaixã o por Ti; e,
sabendo que o zelo que Tu tens pela salvaçã o de almas, te induziu a
deixar tais joias reais8 por tanto tempo em meu coraçã o contaminado,
eles podem louvar, adorar e exaltar Tua misericó rdia, dizendo com seus
lá bios e com seus coraçõ es: "Louvor, honra, gló ria e bê nçã o a Ti, ó Deus
Pai, de quem todas as coisas procedem" assim, para suprir minhas
de iciê ncias.9

CAPITULO 6
Da ı́ntima uniã o do Menino Jesus com o seu coraçã o.

Altitude INATTIVEL de excelê ncia insuperá vel! O profundo abismo de


sabedoria inescrutá vel! O imensa extensã o da mais desejá vel
caridade! Quã o poderosas e exuberantes sã o as torrentes mais
deliciosas de Tua mais doce Divindade derramando-se sobre mim,
verme vil que sou, rastejando em minhas negligê ncias e pecados, visto
que me é permitido, mesmo quando vagando no exı́lio, falar, de acordo
à minha pobre capacidade, da doçura arrebatadora e delı́cias
inconcebı́veis por meio das quais aqueles que se unem a Deus tornam-
se um espı́rito com Ele; cuja bem-aventurança é derramada sobre mim
com tanta abundâ ncia, que sou apenas um pouco de pó . Visto que,
depois de me permitir beber desta preciosa bebida, ainda sou
privilegiado com a lembrança dela, usarei as palavras que puder para
descrevê -la.
Foi naquela noite sagrada em que o doce orvalho da graça divina
caiu sobre todo o mundo, e os cé us caı́ram doçura, que minha alma,
exposta como um velo mı́stico no pá tio do mosteiro, tendo recebido
em meditaçã o esta chuva celestial , foi preparado para assistir neste
nascimento divino, no qual uma Virgem deu à luz um Filho, verdadeiro
Deus e Homem, assim como uma estrela produz seu raio. Nesta noite,
digo, minha alma avistou de repente diante de si uma criança delicada,
mas recé m-nascida, em quem estavam ocultos os maiores dons da
perfeiçã o. Imaginei ter recebido este precioso depó sito em meu seio
com o mais terno carinho. Como eu o possuı́a dentro de mim, parecia-
me que de repente eu estava mudado para a cor10 deste Infante Divino,
se nos é permitido chamar de “cor” aquilo que nã o pode ser comparado
a nada visı́vel.
Entã o entendi o signi icado contido naquelas palavras doces e
inefá veis: “Deus será ( erit ) tudo em todos” ( 1 Co 15:28); e minha alma,
que foi enriquecida pela presença de meu Amado, logo soube, por seus
transportes de alegria, que possuı́a a presença de sua Esposa. Em
seguida, recebeu estas palavras com extrema avidez, que foram
apresentadas como uma bebida deliciosa para saciar o ardor de sua
sede: “Como Eu sou a igura da substâ ncia de Deus, Meu Pai, em Sua
Divindade, assim també m tu será s a igura de Minha substâ ncia em
Minha Humanidade, recebendo em sua alma divinizada as infusõ es de
Minha Divindade, assim como o ar recebe o brilho dos raios solares,
para que esses raios possam penetrar em você tã o intimamente a ponto
de prepará -lo para a mais ı́ntima uniã o Comigo ”.
O mais nobre bá lsamo da Divindade, derramando-te como um
oceano de caridade, brotando e brotando eternamente, difundindo-te
até o im dos tempos! O invencı́vel força da Mã o do Altı́ssimo, que faz
com que um vaso tã o frá gil, e que deveria ser rejeitado com desprezo,
receba dentro dele um licor tã o precioso! O testemunho evidente da
exuberâ ncia da bondade divina, para nã o se afastar de mim quando eu
vagava nos caminhos tortuosos do pecado, mas sim para me unir a si
mesmo tanto quanto minha misé ria permitir!

CAPITULO 7
A Divindade está impressa na alma de Gertrudes como um selo sobre cera.
T

O dia da santı́ssima Puri icaçã o, pois iquei con inado à cama apó s uma
doença grave e com a mente perturbada pelo amanhecer, temendo que
minha enfermidade corporal me privasse da visita divina com a qual
tantas vezes fui consolado , no mesmo dia a augusta mediadora, a Mã e
de Deus, verdadeira Mediadora, consolou-me com estas palavras:
“Como nunca te lembras de ter suportado sofrimentos corporais mais
severos do que os causados pela tua doença, saiba també m que nunca
recebeste de meu Filho dons mais nobres do que aqueles que agora vos
serã o dados e para os quais os vossos sofrimentos vos prepararam ”.
Isso me consolou muito; e tendo recebido o Alimento que dá vida,
logo apó s a Procissã o, pensei apenas em Deus e em mim; e vi minha
alma, sob a semelhança de cera suavizada pelo fogo, impressa como um
selo no seio do Senhor; e imediatamente o vi cercando e parcialmente
atraı́do para este tesouro, onde a sempre pacı́ ica Trindade habita
corporalmente na plenitude da Divindade e resplandece com sua
gloriosa impressã o.
O fogo ardente do meu Deus, que conté m, produz e imprime aqueles
ardores vivos que atraem as á guas ú midas da minha alma e secam as
torrentes das delı́cias terrenas, e depois abrandam a minha dura
obstinaçã o que o tempo tanto endureceu! O fogo consumidor, que
mesmo em meio a chamas ardentes concede doçura e paz à alma! Em
Ti, e em nenhum outro, recebemos esta graça de sermos reformados à
imagem e semelhança nas quais fomos criados. O fornalha ardente, na
qual desfrutamos a verdadeira visã o da paz, que prova e puri ica o ouro
dos eleitos, e leva a alma a buscar avidamente o seu bem supremo,
mesmo a Ti, em Tua verdade eterna.
CAPITULO 8
Da admirá vel uniã o de sua alma com Deus.

No domingo seguinte, na missa de Esto mihi ,11Acendeste o meu


espı́rito e aumentaste o meu desejo de receber dons ainda mais nobres
que estavas prestes a conceder-me; sobretudo por estas duas palavras,
que me comoveram profundamente, a saber, o versı́culo da primeira
resposta: “ Benedicenses12 benedicam tibi ”-“ Com bê nçã os te
abençoarei ”, e o versı́culo da nona resposta:“ Tibi enim et semini tuo
dabo universas regiones tem ”-“ A ti e à tua semente darei todos estes
paı́ses. ” ( Gên . 26: 3). Pois entã o Tu me mostraste quais eram esses
paı́ses que Tua ilimitada liberalidade havia prometido. O paı́s
abençoado, onde bê nçã os luem sobre bê nçã os! O campo de delı́cias,
cujo menor grã o é capaz de satisfazer a fome que qualquer um dos
eleitos pode ter por aquelas coisas que o coraçã o humano considera
desejá veis, deliciosas, amá veis, doces e alegres. Enquanto eu cuidava
dessas coisas o melhor que podia, embora nã o tã o bem quanto deveria,
a doçura e a caridade de meu Salvador e meu Deus foram feitas a mim,
nã o como um ato de justiça, pois eu estava longe de merecer tal
favores, mas como um ato de Sua misericó rdia inefá vel, fortalecendo-
me por uma caridade adotiva, e tornando minha extrema vileza - toda
indigna, miserá vel e detestá vel como é - capaz de receber uma uniã o
mais supercelestial e superinestimá vel com Ele. Mas, meu Deus, como
tenho merecido este dom inestimá vel da Tua justiça? Certamente
procede deste amor, que nã o segue nenhuma regra - este amor ardente,
que nã o é limitado pela razã o, e que Te embriagou, meu doce Senhor, se
me atrevo a dizer isso - fazendo-Te, como se desprovido de sabedoria,
unir o que é tã o diferente; ou, para falar mais corretamente, a ternura
de Tua bondade essencial e de Tua natureza, sendo interiormente
movido por Tua mais doce caridade (que faz com que nã o apenas ame,
mas seja todo amor, e a torrente da qual Tu voltaste para o salvaçã o da
raça humana), tendo-Te inclinado a tirar das profundezas da misé ria a
menor das Tuas criaturas, de iciente em todo bem, desprezı́vel por
causa de sua vida e conduta, para elevá -la a uma parte em Teu reino, ou
melhor, em Tua Divina Majestade, para com isso con irmar a con iança
de todos os que estã o na Igreja - de forma que eu tenha esperança para
todos os cristã os, e possa acreditar que nã o haverá nem mesmo um
que abusará dos dons de Deus como eu iz , ou dar tal escâ ndalo ao seu
vizinho.
Mas uma vez que podemos compreender as coisas invisı́veis de
Deus, em alguma medida, por aquelas que sã o visı́veis - como já
observei antes - eu vi (para expressar tanto quanto posso o que é
inexprimı́vel) que a parte de Seu abençoado Coraçã o onde o Senhor
recebeu minha alma na Festa da Puri icaçã o, sob a forma de cera
amolecida pelo fogo, estava, por assim dizer, pingando um suor, que
saiu com violê ncia, mesmo como se a substâ ncia da cera tivesse sido
derretida pelo calor excessivo escondido nas profundezas deste
Coraçã o. Este reservató rio sagrado atraiu essas gotas para si com força
surpreendente, poderosa e inexprimı́vel, e mesmo de forma
inconcebı́vel, que se viu evidentemente que o amor, que nã o podia ser
impedido de se comunicar, tinha um poder absoluto neste lugar, onde
descobriu segredos que eram tã o grandes, tã o escondidos e tã o
impenetrá veis.
O eterno solstı́cio! Mansã o segura, contendo tudo o que é
desejá vel! Paraı́so de delı́cias imutá veis, fonte contı́nua de prazeres
inestimá veis, onde há eterna primavera, calmante por seu doce canto,
ou melhor, por suas melodias deliciosas e intelectuais, regozijando-se
pelo odor de seus perfumes vivi icantes, inebriante pela doçura
calmante de seu licores mı́sticos, e transformadores por suas secretas
carı́cias!
O trê s vezes abençoado, trê s vezes feliz e, se assim posso falar, cem
vezes santo, é aquele que se permite ser guiado por esta graça, e que,
tendo mã os limpas e um coraçã o puro e lá bios imaculados, merece seja
assim unido e incorporado a seu Deus! O que ele nã o vê , ouve, sente e
prova? Como minha lı́ngua gaguejante pode falar disso?
Pois embora a misericó rdia divina me tenha feito experimentar isso
por um favor particular, a obstinaçã o de meus pecados, e a espessa
cobertura de negligê ncia com que estou cercado, impede-me de
compreendê -lo plenamente. Pois, se toda a ciê ncia dos homens e dos
anjos se unisse, nã o seria capaz de nos fazer compreender, mesmo no
mı́nimo, a sublime majestade de um assunto tã o elevado.

CAPITULO 9
De outra maneira admirá vel em que Santa Gertrudes estava intimamente
ligada a Deus.

OON depois, durante o jejum13quando fui con inado à cama pela


segunda vez por uma doença severa, e as outras irmã s estavam
ocupadas em outro lugar, de modo que fui deixada sozinha uma manhã ,
o Senhor, que nunca abandona aqueles que sã o privados de consolaçã o
humana, veio veri icar estes palavras do profeta: “Estou com ele na
tribulaçã o”. ( Salmos 90:15). Ele virou Seu Lado direito para mim, e saiu
de Seu abençoado e ı́ntimo Coraçã o uma corrente pura e só lida, como
cristal, e em Seu Seio havia um ornamento precioso, como um colar,
que parecia alternar entre ouro e rosa. cor. Entã o Nosso Senhor disse-
me: “Esta doença que padece santi icará a tua alma, de modo que cada
vez que saı́res de Mim, como o ribeiro que te mostrei, para o bem do
teu pró ximo, seja em pensamento, seja em palavra, ou agir, mesmo
entã o, como a pureza do cristal torna a cor do ouro e da rosa mais
brilhante, entã o a cooperaçã o do precioso ouro de Minha Divindade, e a
rosa da perfeita paciê ncia de Minha Humanidade, renderá suas obras
sempre agradá vel para mim pela pureza de sua intençã o. ”
O grandeza deste pedacinho de pó , que este Amante celestial tirou
da lama para encerrar Suas joias! O excelê ncia desta lorzinha, que o
raio do pró prio Sol verdadeiro tirou do pâ ntano, para torná -la bela
como Ele mesmo! O felicidade desta alma abençoada e favorecida, que o
Senhor da gló ria tem tã o altamente estimado, que embora Ele possa
criar tudo o que Lhe agrada, Ele atrai-o tã o docemente e embeleza ao
uni-lo a Si mesmo! Esta alma, eu digo, embora seja adornada com Sua
imagem e semelhança, está , no entanto, tã o longe Dele quanto a
criatura do Criador. Portanto, é abençoado mil vezes aquele que
recebeu a graça de perseverar neste estado, que, infelizmente, nunca
alcançarei, mesmo por um ú nico momento.
O presente superando todos os dons, estar satisfeito com a doçura
da Divindade, e estar superabundantemente inebriado com a caridade
Divina no porã o onde está reservado, de modo que nossos pé s nã o
estejam mais livres para vagar para qualquer lugar onde sua fragrâ ncia
Divina esteja nã o percebidos: a menos que, de fato, sejam conduzidos
pela caridade, quando derramar sobre os outros a riqueza da idelidade
Divina, e os capacitar a participar de sua doçura insuperá vel.
Espero, meu Senhor e meu Deus, que Tu, em Teu mais benigno
amor, me conceda esta graça, que por Teu poder onipotente Tu podes
conceder a todos os Teus eleitos. E verdade que somente Tua sabedoria
inescrutá vel sabe como podes fazer isso, apesar de minha
indignidade. Mas eu honro e glori ico Tua onipotê ncia sá bia e
misericordiosa; Eu glori ico e magni ico Tua sabedoria onipotente e
misericordiosa; Eu louvo e adoro Tua misericó rdia sá bia e
onipotente; Abençoo e agradeço Tua bondade onipotente e sá bia, ó meu
Deus, porque Tu me concedeste graças muito alé m de meus mé ritos,
apesar de todos os obstá culos que me opus a Tua generosidade.

CAPITULO 10
Como o Senhor a obrigou a escrever essas coisas; e como Ele a iluminou.
eu

CONSIDERADO que seria tã o impró prio para mim publicar esses
escritos, que minha consciê ncia nã o consentiria em fazê -lo; portanto,
adiei fazê -lo até a Festa da Exaltaçã o da Santa Cruz.14Naquele dia,
tendo decidido antes da missa dedicar-me a outras ocupaçõ es, o
Senhor venceu a repugnâ ncia da minha razã o com estas palavras:
“Esteja certo de que nã o será s libertado da prisã o da carne enquanto
nã o pagares esta dı́vida que ainda liga você . ” E quando eu re leti que já
tinha empregado os dons de Deus para o progresso do meu pró ximo -
se nã o por minha escrita, pelo menos por minhas palavras - Ele
apresentou estas palavras que eu tinha ouvido serem usadas nas
Matinas anteriores: “Se o O Senhor desejou ensinar Sua doutrina
apenas para aqueles que estivessem presentes, Ele teria ensinado
apenas por palavra, nã o por escrito. Mas agora eles foram escritos para
a salvaçã o de muitos. ” Ele acrescentou ainda: “Desejo que seus
escritos sejam uma evidê ncia indiscutı́vel de Minha bondade divina
nestes ú ltimos tempos, nos quais pretendo fazer o bem a muitos”.
Tendo essas palavras me deprimido, comecei a considerar dentro
de mim o quã o difı́cil e até impossı́vel seria encontrar pensamentos e
palavras capazes de explicar essas coisas ao intelecto humano sem
escâ ndalo. Mas o Senhor me livrou dessa pusilanimidade derramando
sobre minha alma uma chuva abundante, cuja queda impetuosa me
pesou como uma planta jovem e tenra - criatura vil que sou! - em vez de
me regar suavemente, para fazer eu aumento em perfeiçã o; e nã o
consegui tirar proveito disso, exceto de algumas palavras pesadas, cujo
sentido eu era incapaz de compreender perfeitamente. Portanto,
encontrando-me ainda mais deprimido, perguntei qual seria a
vantagem desses escritos, e Tua bondade, meu Deus, consolou meu
problema com Tua doçura usual, refrescando minha alma com esta
resposta: "Visto que este dilú vio parece inú til para você , eis que agora
irei abordá -los ao Meu Divino Coraçã o, para que suas palavras sejam
gentis e doces, de acordo com as capacidades de sua mente. ” Que
promessa, meu Senhor e meu Deus, Tu cumpriste com a maior
idelidade. E durante quatro dias, em uma hora conveniente a cada
manhã , Tu sugeriste com tanta clareza e doçura o que eu compus, que
pude escrevê -lo sem di iculdade e sem re lexã o, mesmo como se
tivesse aprendido de cor muito antes - com esta limitaçã o, que depois
de ter escrito uma quantidade su iciente a cada dia, nã o foi possı́vel
para mim, embora eu tivesse aplicado minha mente a isso, encontrar
uma ú nica palavra para expressar as coisas que no dia seguinte eu
poderia escrever livremente: instruindo e contendo assim minha
impetuosidade, como a Escritura ensina:15“Que ningué m se aplique à
açã o a ponto de omitir a contemplaçã o.” Assim, tens ciú mes de meu
bem-estar e, embora me dê tempo para desfrutar dos abraços de
Raquel, nã o me permite ser privado da gloriosa fecundidade de Lia. Que
o Teu sá bio amor se digne realizar em mim essas duas coisas!

CAPITULO 11
Ela recebe o dom das lá grimas e é avisada das armadilhas que o demô nio
armou para ela.

INCE, Senhor, tantas vezes diversi icaste o sabor salutar de Tua


presença, e preveniste minha vileza tã o assiduamente com a doçura de
Tuas bê nçã os, especialmente durante os primeiros trê s anos, e mais
especialmente quando fui admitido à participaçã o de Teu adorá vel
Corpo e Sangue - já que nã o posso retribuir a Ti por isso, nem mesmo
por uma ú nica açã o de graças por mil favores - remeto as açõ es de
graças que devo à quela gratidã o eterna, in inita e incomunicá vel pela
qual, ó sempre pacı́ ica e Resplandecente Trindade, Tu satisfazes
plenamente todas as nossas dı́vidas de Ti mesmo, por Ti mesmo e em Ti
mesmo. E eu, que sou apenas pó , ofereço minhas açõ es de graças a Ti,
por Aquele que está ao Seu lado, vestido com minha substâ ncia, pela
operaçã o do Espı́rito Santo, por todos os benefı́cios que recebi de Ti,
mas principalmente por ter instruı́do minha ignorâ ncia por um sinal
tã o evidente, que Tu me mostraste claramente como eu corrompo a
pureza de Teus dons.
Em uma ocasiã o, quando assisti a uma missa na qual eu deveria me
comunicar, percebi que Tu estavas presente, por uma admirá vel
condescendê ncia, e que Tu usaste essa semelhança para me instruir,
parecendo como se estivesse com sede de sede e desejando para que Te
dê de beber; e enquanto eu estava preocupado com isso, e nã o podia
nem mesmo arrancar uma lá grima de meus olhos, eu Te vi
presenteando-me com uma taça de ouro com Tua Pró pria Mã o. Quando
o peguei, meu coraçã o imediatamente derreteu em uma torrente de
lá grimas fervorosas. Entã o eu vi uma certa criatura desprezı́vel à minha
direita, que estava secretamente colocando algo amargo e venenoso
nela, e me incitando a colocá -la neste copo. Mas como isso foi seguido
por um movimento instantâ neo de vangló ria, facilmente entendi que
era um estratagema daquele antigo inimigo, que se volta contra nó s
com toda a sua raiva ao nos ver enriquecidos com Teus dons.
Mas graças a Tua idelidade, meu Deus, graças a Tua proteçã o, Que
é s um e verdadeiro Deus, Trindade na Unidade, Unidade na Trindade,
Que nã o permites que sejamos tentados alé m de nossas forças, embora
à s vezes Tu nos permitas ser tentados para nosso avanço na virtude; e,
quando vê s que con iamos em Ti, Tu empreendes a nossa causa e, com
generosidade sem limites, ganhas a vitó ria para nó s, e entã o nos
permite o mé rito dela, se apenas quisermos fazer o que é certo - e Tu
procuras nó s esta vantagem para aumentar nosso mé rito, que, como Tu
nã o permites que nosso inimigo inter ira em nosso livre arbı́trio, entã o
Tu nã o interferes com ele de forma alguma.
Tu també m me ensinaste, em outra ocasiã o, que ceder facilmente ao
inimigo o torna insolente em nos atacar novamente sobre o mesmo
assunto; portanto, Tua justiça requer que Tu deves à s vezes esconder a
grandeza de Tua misericó rdia em perdoar nossa negligê ncia, porque
resistimos ao mal com mais segurança, mais utilidade, mais e icá cia e
mais felicidade, quando resistimos a ele com todas as nossas forças.

CAPITULO 12
Com quanta bondade Deus carrega nossas faltas.

eu

RENDE-Te obrigado també m por outra revelaçã o, que nã o foi menos
vantajosa e aceitá vel para mim, pela qual me foi mostrado com que
paciê ncia benigna Tu suportas os nossos defeitos, para que, corrigindo-
nos assim, Tu pudesse assegurar a nossa felicidade. Por uma noite,
tendo-me permitido ceder à raiva, e na manhã seguinte, antes do raiar
do dia, encontrando-me disposto a orar, Tu te apresentaste a mim sob
uma forma tã o estranha, que me pareceu ao contemplar a Ti que Tu nã o
foste apenas privado de todo tipo de bem, mas até mesmo de
força. Entã o, minha consciê ncia sendo tocada por minha falha passada,
comecei a re letir com pesar quã o impró prio tinha sido para mim
incomodar o Autor Supremo de paz e pureza com minha paixã o mal
regulada. Achei que teria sido melhor que Tu estivesses ausente de mim
quando nã o consegui repelir Teu inimigo, enquanto ele me solicitava
que izesse o que era tã o contrá rio à Tua Vontade.
Tu aplicaste isto a mim: “Mesmo como um pobre invá lido que foi
trazido para desfrutar do sol com a ajuda de outros, com muita
di iculdade, quando vê uma tempestade a aproximar-se, nã o tem outro
consolo senã o a esperança de ver em breve bom tempo novamente -
assim, sob a in luê ncia de seu amor, pre iro morar com você em todas
as tempestades do vı́cio, esperando ver a calma de sua alteraçã o e vê -lo
entrar no porto da humildade ”.
Visto que minha lı́ngua é muito fraca para explicar a abundâ ncia das
graças que tu derramaste sobre mim durante os trê s dias inteiros em
que esta apariçã o durou, permite, ó meu Deus, que meu coraçã o possa
suprir sua fraqueza, e me ensine como para render um agradecimento
de gratidã o pela profundidade da humildade a que o Teu amor entã o se
rebaixou por esta caridade, tã o surpreendente e tã o terna, que Tu tens
por nó s.

CAPITULO 13
Da necessidade de vigilâ ncia exata sobre os sentidos e afeiçõ es.

eu

CONFESSE també m diante de Tua bondade, Deus de misericó rdia, que


usaste outro meio para animar minha languidez; e embora no princı́pio
Tu tivesses começado Tua obra pela intervençã o de uma terceira
pessoa, Tu, nã o obstante, queres consumar-te com misericó rdia e
condescendê ncia. Esta pessoa propô s à minha consideraçã o o
Evangelho que relata que depois do teu nascimento foste encontrado
por pastores; ela acrescentou que Tu lhe izeste saber que, se eu
realmente Te encontrasse, devo zelar pelos meus sentidos, como os
pastores cuidam de seus rebanhos. Tive alguma di iculdade em
acreditar nisso, e parecia-me haver poucos motivos para isso, sabendo
que Tu concedeste outras capacidades à minha alma alé m daquelas de
servir a Ti como um pastor contratado faria a seu mestre; de maneira
que, da manhã até a tarde, iquei desanimado. Depois das Completas,
quando eu estava no lugar onde oro, Tu consolaste minha dor com esta
comparaçã o: “Se uma noiva à s vezes prepara comida para os falcõ es de
seu noivo,16 ela nã o será , por causa disso, privada de suas carı́cias,
entã o se eu me ocupar por amor a Ti em zelar por minhas afeiçõ es e
sentidos, nã o devo por isso ser privado da doçura de Tuas graças ”.
Tu me deste para este propó sito o espı́rito do medo, sob a igura de
uma vara verde, a im de que, permanecendo sempre contigo, e nunca
deixando o abrigo de Teus abraços nem por um ú nico momento, eu
pudesse sem perigo estender meus cuidados a todos os meandros e
labirintos em que a afeiçã o humana tantas vezes se perde. Tu
acrescentaste isso quando qualquer coisa se apresentou a minha mente
que buscasse direcionar meus pensamentos para a direita, quanto à
alegria ou esperança; para a esquerda, quanto ao medo, tristeza ou
raiva - que eu deveria ameaçá -los com a vara do medo, e que depois,
pela restriçã o dos meus sentidos, eu deveria imolar essa afeiçã o como
um cordeiro recé m-nascido, pelo fogo do meu coraçã o, e oferece-o a Ti
como um banquete.
Mas, ai de mim, quantas vezes, quando a oportunidade apareceu,
nã o arrebatei, como se de Teus lá bios, por uma leviandade maliciosa, ou
por uma palavra ou açã o apaixonada, aquilo que Te dei e apresentei a
Teu inimigo ! E mesmo entã o Tu me olhaste com ternura e doçura,
como se nã o tivesses percebido minha in idelidade, e assim, muitas
vezes estimulaste transportes de doçura em minha alma, que serviram
para me corrigir e cuidar de mim muito mais do que o ameaças e medo
de Tua raiva.

CAPITULO 14
Diferentes exercı́cios pelos quais a alma é puri icada.
T

ELE no domingo antes da Quaresma, enquanto cantavam o Esto


mihi ,17Tu me izeste entender pelas palavras deste Introit, ó ú nico
objeto de meu amor, que, estando cansado pelas perseguiçõ es e
ultrajes que tantas pessoas in ligem a Ti, Tu pediste meu coraçã o, para
que pudesses repousar nele. Portanto, cada vez que entrei nele durante
estes trê s dias, Tu me apareceste como se estivesse deitado ali como
uma pessoa exausta de extrema langor, e nã o pude encontrar maior
consolo em Tua desgraça durante este perı́odo do que orar, manter
silê ncio , e realizar outros exercı́cios de morti icaçã o em Tua honra
pela conversã o de pessoas mundanas.
Tua graça me faz saber ainda mais, por revelaçõ es frequentes, que a
alma, habitando no corpo da humanidade frá gil, é escurecida da mesma
maneira que uma pessoa que está em um espaço estreito e é cercada
por todos os lados por um vapor que exala de um recipiente para
cozinhar. E quando o corpo é a ligido por algum mal, a parte que sofre é
para a alma como um raio de sol que ilumina o ar, e do qual recebe uma
clareza maravilhosa; portanto, quanto mais pesados sã o os sofrimentos,
mais pura é a luz que a alma recebe. Mas as a liçõ es e provas do coraçã o
na humildade, paciê ncia e outras virtudes conferem o maior brilho à
alma, ao tocá -la de forma mais aguda, e icaz e intimamente; as obras de
caridade, acima de tudo, conferem-lhe uma serenidade e um brilho
admirá veis.
Graças a Ti, ó Amante dos homens, à s vezes me conduziste à
paciê ncia por este meio! Mas, ai! - e mil vezes, ai! - quã o raramente
tenho ouvido Teus conselhos, ou melhor, quã o raramente tenho feito o
que deveria ter feito! O Senhor, Tu conheces a tristeza, a vergonha e o
abatimento de minha alma por isso; Tu conheces o desejo de meu
coraçã o de recorrer a Ti por minhas de iciê ncias.
Em outra ocasiã o, quando eu estava para me comunicar na missa,
sendo abundantemente cheio do Teu Espı́rito, e buscando dentro de
mim o que eu poderia fazer em troca de tã o grande favor, Tu me
propuseste, como um Mestre cheio de sabedoria, estes palavras do
Apó stolo: “Pois quis ser aná tema da parte de Cristo, para os meus
irmã os ...” ( Rom . 9: 3). E embora Tu me tivesses ensinado antes que a
alma tinha sua morada no coraçã o, Tu me izeste saber també m que ela
residia no cé rebro; e esta verdade, da qual eu tinha ignorado até entã o,
foi con irmada para mim depois por um testemunho das Escrituras. Tu
també m me ensinaste que a grande perfeiçã o de uma alma consiste em
renunciar ao prazer que encontra nas afeiçõ es, para ocupar-se, por
amor de Ti, em zelar pelos seus sentidos exteriores e em trabalhar nas
obras de caridade para a salvaçã o do pró ximo.

CAPITULO 15
Quã o agradá veis as obras de caridade sã o para Deus; e també m meditaçõ es
sobre coisas sagradas.

No dia de Tua adorá vel Natividade, Eu Te tirei do berço, envolto em


roupas enfaixadas, como uma criança recé m-nascida, e Te coloquei em
meu coraçã o, para que eu pudesse fazer um buquê de mirra de todos os
Teus sofrimentos infantis e incomodidades, para coloque-o no meu
peito, para que dele beba uma libaçã o18da doçura Divina. Mas como
considerei este o maior favor que tu poderias conceder a mim, Tu, que
quando menos esperamos, acompanha Tuas primeiras graças por
outras ainda mais preciosas, quis diversi icar a abundâ ncia de Tuas
graças desta maneira.
Pois no mesmo dia, no ano seguinte, como a Missa Dominus
dixit19foi dito, Eu Te recebi, saindo do ventre virginal de Tua Mã e como
um Infante dé bil e delicado, e Te carreguei por algum tempo em meus
braços. Pareceu-me que a compaixã o que demonstrara antes da festa,
por meio de algumas oraçõ es especiais por uma pessoa em a liçã o,
havia obtido este favor para mim; mas, infelizmente, depois de tê -lo
obtido, nã o o recebi com a devoçã o que deveria! Nã o sei se foi um ato
de Tua justiça ou um castigo por minha negligê ncia; Espero, no
entanto, que Tua justiça, com o intervalo de Tua misericó rdia, assim o
ordenou, para me fazer saber mais claramente a grandeza de minha
indignidade, e para me tornar menos negligente em afastar
pensamentos vã os. Mas cabe a Ti, ó Senhor, dizer a qual dessas causas
devo referir esse efeito.
No entanto, ao juntar todas as minhas forças para fazer um ú ltimo
esforço para ganhar a Ti com minhas carı́cias amorosas, percebi que
tudo isso de nada adiantava, até que comecei a orar pelos pecadores,
pelas almas do Purgató rio ou por aqueles que eram em qualquer
a liçã o, quando eu sabia que era ouvido; mas ainda mais uma noite,
quando tomei a resoluçã o de começar as oraçõ es que eu faço pelos
falecidos, oferecendo-as por aqueles mais amados por Ti, com a
Coleta, Omnipotens, sempiterne Deus, cui nunquam sine spe ,20em vez de
começar, como estava acostumado a fazer, rezando pelos meus
parentes, com a Collect, Deus, qui nos patrem et matrem , e me pareceu
que essa mudança Te agradou muito.
Acredito també m que Te agradou muito, quando cantei o mais alto
que pude, e a cada nota ixei minha intençã o em Ti, como algué m ixa
seus olhos em seu livro, que ainda nã o aprendeu o canto
perfeitamente. Ainda assim, sei que fui negligente nisto e em outras
coisas que dizem respeito à Tua gló ria; e confesso-o a Ti, Pai de
misericó rdia, pedindo perdã o atravé s da Paixã o amarga de Teu Filho
irrepreensı́vel Jesus Cristo, em quem Tu te declaraste bem satisfeito,
dizendo: “Este é o Meu Filho amado, em quem me comprazo” ( Mat. 17:
5); por meio dEle peço a graça da correçã o e expiaçã o por minhas
negligê ncias.
CAPITULO 16
Da inconcebı́vel ternura que a mais gloriosa Virgem tem por nó s.

Na Festa da Puri icaçã o, na Procissã o, quando Tu, nossa Salvaçã o e


Redençã o, foste levado como uma oferenda ao Templo, na
Antı́fona, Cum indutor ,21Tua Virgem Mã e disse-me que lhe desse o seu
ilho, o fruto bendito do seu ventre; e ela exigiu-Te novamente de mim
com um semblante severo, como se ela nã o estivesse satisfeita com o
meu cuidado por Ti, Que é s a honra e a alegria de sua virgindade
imaculada.
Entã o, lembrando-me da graça que ela recebeu de Ti de ser a
esperança dos desesperados e a reconciliadora dos pecadores,
exclamei: “O Mã e de misericó rdia, nã o foi a Fonte do perdã o dada a ti
como teu Filho, para que pudesses obter toda a graça dEle para nó s, e
para que a multidã o de nossos pecados e nossas de iciê ncias sejam
cobertos por tua abundante caridade? ” Entã o ela olhou para mim mais
uma vez com um semblante sereno e amoroso, para que eu soubesse
que se minha culpa a obrigasse a parecer severa para mim, ela estava,
entretanto, cheia da mais consumada ternura, e penetrou em seu
coraçã o com a mais doce e divina caridade. Eu logo vi os sinais disso, já
que algumas palavras removeram sua raiva, e sua doçura brilhou
resplandecente. Que esta abundante ternura de Tua Mã e interceda
junto a Ti e obtenha perdã o por minhas faltas!
E eu sei, por um testemunho mais claro que a pró pria luz, que
nenhum obstá culo poderia ter detido a torrente de Tua doçura, quando,
na Festa de Tua Natividade, no ano anterior, Tu me concedeste um favor
ainda maior, embora em um maneira, como se o tivesse merecido pelo
fervor de meu zelo no ano anterior, quando, longe de merecer uma nova
graça, era justamente digno de castigo por ter perdido a primeira.
Pois quando estas palavras do Evangelho foram lidas, " Peperit
ilium suum primogenitum ,"22Tua Mã e imaculada apresentou-Te a mim
com suas mã os puras. E Tu, ó criança amá vel, te esforçaste por me
abraçar com todas as Tuas forças; Eu, embora totalmente indigno, Te
recebi, e Tu colocaste Teus bracinhos em volta do meu pescoço,
exalando em mim de Tua boca um sopro tã o cheio de doçura, que me
nutri e abundantemente satisfeito com isso. Por isso, ó Senhor meu
Deus, que minha alma e tudo o que há dentro de mim adore e abençoe
o Teu Santo Nome! E quando Tua Santı́ssima Mã e procurou envolver-Te
em Tuas bandagens, desejei ser embrulhado nelas també m, por medo
de perder a companhia dAquele cujos sorrisos e favores excedem a
doçura do mel e do favo de mel. Tu foste entã o vestido com o manto
mais formoso da inocê ncia e envolvido com o cinto de ouro do amor; e
senti que, se desejasse estar tã o vestido e tã o amarrado, deveria
procurar ter mais pureza de coraçã o e ter mais amor.

CAPITULO 17
Das vestes com as quais devemos vestir Jesus e sua mã e.

eu

DE graças a Ti, Criador do irmamento, Formador de suas luzes


celestiais e das lores da primavera, porque, embora Tu nã o precisas de
meus bens, Tu, por minha instruçã o, me ordenaste que Te vestisse com
as vestes de uma criança no dia de Tua puri icaçã o, antes que fosses
levado para o Templo. E esta é a maneira pela qual Tu desejas que eu
retire dos tesouros ocultos de Teu amor, ou seja, exaltar com todos os
meus poderes a inocê ncia de Tua Santa Humanidade, mas com tal
idelidade e devoçã o, que se eu pudesse receber em meu pró pria pessoa
toda a gló ria devida a Tua bendita inocê ncia, eu, no entanto, renunciaria
a ela livremente, a im de aumentar assim o louvor de Tua
inocê ncia. Pareceu-me que esta intençã o pura Te revestiu com uma
tú nica branca, tal como as crianças usam: Tu, cuja onipotê ncia “chama
as coisas que nã o sã o como as que sã o”. ( Rom . 4:17).
Assim també m, quando me esforcei para penetrar com devoçã o no
abismo de Tua humildade, vi-te vestido com uma tú nica verde, como
um sinal de que Tua graça está sempre lorescendo, e que nunca
murcha no vale da humildade. Entã o, contemplando o fogo do Teu
amor, que te fez produzir tudo o que produziste, vi-te vestido de
pú rpura, para indicar que a caridade é verdadeiramente um manto real,
sem o qual ningué m pode entrar no Reino dos Cé us.
Como eu admirava as mesmas virtudes em Tua gloriosa Mã e, ela me
apareceu vestida da mesma maneira; e como esta Abençoada Virgem
loresce como uma rosa sem espinhos, e um lı́rio sem mancha, sendo
adornada com as lores de todas as virtudes, eu implorei a esta Mã e
benigna para interceder continuamente a Ti por nossas necessidades.

CAPITULO 18
Como Deus tolera nossos defeitos - instruçõ es sobre humildade.

NE dia, depois de ter lavado as mã os, e estava em volta da mesa com a
comunidade, perplexo na mente, considerando o brilho do sol, que
estava em toda a sua força, eu disse dentro de mim: “Se o Senhor, quem
tem criou o sol, e Cuja beleza é considerada a admiraçã o do sol e da lua
- se Ele, que é um fogo consumidor, está tã o verdadeiramente em mim
quanto se mostra freqü entemente diante de mim, como é possı́vel que
meu coraçã o continue assim gelo, e que eu levo uma vida tã o má ? "
Entã o Tu, cujas palavras, embora sempre doces, eram agora muito
mais doces e, portanto, as mais necessá rias para o meu coraçã o em seu
estado de agitaçã o - Tu, eu digo, respondeste assim para mim: "Em que
deveria minha onipotê ncia ser exaltada, se Eu nã o poderia Me conter
dentro de mim onde quer que estivesse, de modo que só sou sentido ou
visto como é mais adequado para o tempo, lugar e pessoa? Pois, desde a
criaçã o do Cé u e da terra, tenho trabalhado pela redençã o de todos,
mais pela sabedoria da Minha benignidade do que pelo poder da Minha
majestade. E esta benignidade da sabedoria brilha mais na Minha
tolerâ ncia para com o imperfeito, conduzindo-os, mesmo por sua
pró pria vontade, ao caminho da perfeiçã o. ” Vendo també m, em um
determinado dia de festa, que muitos que haviam se recomendado à s
minhas oraçõ es estavam indo para a Comunhã o, e que eu fui privado
dela por doença - ou melhor, impedido por causa de minha indignidade
- e re letindo em minha mente sobre o numerosos benefı́cios que recebi
de Deus, comecei a temer o vento da vangló ria, que poderia secar as
á guas da graça divina; e eu desejava ter alguma re lexã o em minha
mente que pudesse prevenir sua recorrê ncia. Entã o Tua bondade
paterna me instruiu assim: que eu deveria considerar Tua afeiçã o por
mim sob a semelhança de um pai de famı́lia, que, estando feliz em ver
tantos ilhos lindos recebendo admiraçã o de seus vizinhos e servos,
tinha, entre outros, um o pequenino que nã o era tã o belo como os seus
companheiros, a quem, no entanto, muitas vezes tomava no seio,
movido pela ternura paternal, e consolava-o com palavras gentis e
presentes amá veis; e Tu acrescentaste que, se eu tivesse essa humilde
estima de mim mesmo, a im de me acreditar o mais imperfeito de
todos, as torrentes de Tua doçura celestial nunca cessariam de luir em
minha alma.
Dou graças a Ti, Deus amoroso, Amante dos homens, pelo mé rito da
gratidã o recı́proca da adorá vel Trindade, por esta e por muitas outras
instruçõ es salutares pelas quais Tu instruiste minha ignorâ ncia tantas
vezes como o melhor dos mestres— Ofereço meus suspiros a Ti atravé s
da Paixã o amarga de Jesus Cristo Teu Filho; Ofereço a Ti Suas dores,
lá grimas e sofrimentos, em expiaçã o de todas as negligê ncias pelas
quais tantas vezes sufoquei o Espı́rito de Deus em meu coraçã o. Eu
imploro a Ti, em uniã o com a oraçã o e icaz deste Teu Filho amado, e
pela graça do Espı́rito Santo, para corrigir minha vida e suprir minhas
de iciê ncias. Suplico-Te que conceda com aquele amor que deteve Tua
ira quando Teu ú nico Filho, objeto de Tua complacê ncia, era
considerado um criminoso.

CAPITULO 19
Como Deus se agrada em condescender com Suas criaturas; e que gló ria Deus
deriva daı́ dos bem-aventurados.

eu

Dá graças a Tua misericó rdia amorosa e a Teu amor misericordioso,


Senhor amoroso, pela revelaçã o pela qual Tua bondade satisfez minha
alma fraca e vacilante quando eu tã o ardentemente desejei ser
libertado das cadeias da carne: nã o para que eu pudesse sofrer menos ,
mas para que eu pudesse liberar Tua bondade da dı́vida que Teu
excessivo amor assumiu por minha salvaçã o, embora Tua onipotê ncia
Divina e sabedoria eterna nã o fossem obrigadas a conceder-me este
favor - mas Tu o conferiste em minha indignidade e ingratidã o de Tua
superabundante liberalidade.
Quando, portanto, desejei ser dissolvido, Tu, meu Deus, que é s a
honra e gló ria do Cé u, apareceste-me, descendo do trono real de Tua
majestade, e aproximando-te dos pecadores por uma condescendê ncia
mais amá vel e favorá vel; e entã o certos rios de licor precioso pareciam
luir pelo cé u, diante do qual todos os santos se prostraram em
agradecimento; e tendo satisfeito sua sede com alegria nesta torrente
de delı́cias, irrompeu em câ nticos de louvor por toda a Tua misericó rdia
para com os pecadores. Enquanto essas coisas aconteciam, ouvi estas
palavras: “Vede como é agradá vel este concerto de louvor, nã o só para
os Meus ouvidos, mas até para o Meu amoroso Coraçã o; e tome cuidado
para o futuro como você deseja tã o importunamente ser separado do
corpo, apenas para ser liberto da carne, na qual eu derramo tã o
livremente os dons da Minha graça; pois quanto mais indignos sã o
aqueles a quem condescendo, mais mereço ser glori icado por isso por
todas as criaturas. ”
Visto que me deste este consolo no momento em que me aproximei
de Teu Sacramento doador de vida, assim que me recolhi e formulei a
minha intençã o, como era obrigado a fazer, Tu me izeste saber mais de
que maneira e com com que intençã o cada um deve aproximar-se para
se unir ao Teu sagrado Corpo e Sangue; de modo que, mesmo que este
Sacramento servisse para nossa condenaçã o, se fosse possı́vel, o amor
de Teu amor e de Tua gló ria nos faria nada pensar sobre isso, desde que
assim Tua misericó rdia resplandecesse ainda mais em nã o recusarmos
a entregar-te a aqueles que sã o totalmente indignos. Entã o eu perguntei
sobre aqueles que, por uma consciê ncia de sua indignidade, se abstê m
da Comunhã o, temendo profanar por uma irreverê ncia presunçosa a
santidade deste Sacramento; e recebi esta bendita resposta de Ti:
“Aquele que se comunica por puro desejo da Minha gló ria, como Eu
disse, nunca se comunicará com irreverê ncia”. Pelo qual louvor e gló ria
eternos sejam dados a Ti por eras in initas! ”

CAPITULO 20
De alguns privilé gios considerá veis que Deus concedeu a esta virgem, e da
graça que Ele prometeu a seus clientes.
M

AY meu coraçã o e minha alma, com toda a substâ ncia de minha carne,
todos os meus sentidos, e todos os poderes de meu corpo e minha
mente, com todas as criaturas, louvai a Ti e Te dai graças, O mais doce
Senhor, iel Amante da humanidade, por Tua notá vel misericó rdia, que
nã o apenas dissimulou a preparaçã o totalmente indigna com a qual nã o
temi me aproximar do banquete supercelestial de Teu corpo e sangue
mais sagrado, mas acrescentou este presente a mim, o mais totalmente
vil e perfeitamente inú til de Teu criaturas. Em primeiro lugar, por ter
sido assegurado por Tua graça que todos os que desejam se aproximar
deste Sacramento, e que sã o contidos pelo medo de uma consciê ncia
tı́mida, que vê m a mim, que sou o menor dos Teus servos, levados pela
humildade a buscar consolo - que Tua extrema misericó rdia os julgará
dignos, em recompensa por esta humildade, de receber este
Sacramento com fruto para a vida eterna. També m acrescentaste que
nã o permitirá s que ningué m a quem Tua justiça considere indigno se
rebaixe a pedir conselho de mim, ó Governante Supremo, Que, embora
habitas nas alturas, consideras os humildes. (Cf. Salmos 112: 5).
O que motivou Tua misericó rdia, quando Tu viste me aproximar
tantas vezes indignamente, para suspender Teu julgamento, e nã o
in ligir sobre mim o castigo que eu mereço? Tu desejas tornar os outros
dignos pela virtude da humildade; e embora Tu pudesses fazer isso de
forma mais e icaz sem minha ajuda, Teu amor, olhando para minha
misé ria, Te fez realizar isso atravé s de mim, para que assim eu possa ser
um participante dos mé ritos daqueles que, por meio de minhas
admoestaçõ es, desfrutam dos frutos de salvaçã o.
Mas, infelizmente, este nã o é o ú nico remé dio que minha
infelicidade requer; nem um ú nico remé dio satisfará a Tua
misericó rdia, ó bondoso Senhor! Pois [em segundo lugar] Tu
asseguraste a minha indignidade de que consideraria quem quer que
me expusesse seus defeitos, com um coraçã o contrito e humilde,
culpado ou inocente, como eu os havia declarado mais ou menos
culpados, e de agora em diante Tua graça o sustentaria eles nunca mais
deveriam estar em tal perigo por causa de suas faltas como estavam
antes. E assim Tu alivias a minha indigê ncia, que é tã o grande que
nunca me corrigi nem por um ú nico dia como deveria, e ainda assim Tu
me permites participar das vitó rias dos outros, quando Tu, meu bom
Deus, me condescendes para fazer uso de mim, como um instrumento
mais indigno, para dar a graça da vitó ria a Teus outros amigos mais
merecedores por meio de minhas palavras.
Em terceiro lugar. A abundante liberalidade de Tua graça
enriqueceu minha pobreza de mé rito por esta garantia - que sempre
que prometo um favor a algué m, ou o perdã o de qualquer falta, por
meio da con iança em Tua misericó rdia, Teu amor benigno rati icará
minhas palavras e executará minha promessa como ielmente como se
tivesse sido con irmado por um juramento da Verdade
Eterna. Acrescentaste ainda que, se algué m descobrir que os efeitos
salutares de minhas promessas foram adiados, deve continuamente
lembrar-te de que eu prometi esta graça de Ti. Assim Tu providenciaste
para a minha salvaçã o de acordo com as palavras do Evangelho: “Com
que medida você mede, será medido para você novamente.” ( Mat . 7:
2). E como eu, infelizmente, continuamente caio nas maiores faltas, Tu
desejas por este meio perdoar a puniçã o que eu mereço.
Em quarto lugar. Para consolar minhas misé rias, Tu me asseguraste,
entre outras coisas, que todo aquele que se recomenda humilde e
devotamente à s minhas oraçõ es certamente obterá todos os frutos que
eles esperavam obter pela intercessã o de qualquer outra pessoa: no
qual Tu providenciaste para minha negligê ncia, que me impede de
satisfazer, nã o só pelas oraçõ es que sã o feitas gratuitamente pela Igreja,
mas també m pelas de obrigaçã o; e Tu encontraste o meio de aplicar o
fruto deles a mim, de acordo com as palavras de Davi: “Minhas oraçõ es
se converterã o em meu seio”. ( Salmos 34:13); fazendo-me participar
dos mé ritos de Teus eleitos, que pedirã o essas graças de Ti em meu
intervalo, embora eu seja totalmente indigno disso, e concedendo-me
uma parte neles para suprir minha indigê ncia.
Em quinto lugar. Alé m disso, promoveste a minha salvaçã o ao
conferir-me estes favores especiais, para que todo aquele que, com boa
vontade, intençã o correta e humilde con iança, vier falar comigo sobre
o seu desenvolvimento espiritual, nunca me deixe sem ser edi icado ou
receber consolo espiritual. Nisto també m Tu supriste de maneira mais
adequada para minha indigê ncia; pois, infelizmente, desperdicei o
talento que Tu tã o generosamente me concedeste com minhas palavras
inú teis, mas agora posso ganhar algum mé rito pelo que con io a outros!
Em sexto lugar. Tua liberalidade, ó Senhor, concedeu-me este dom,
mais necessá rio do que todos - certi icando-me que quem, em sua
caridade, orará por mim - a mais vil das criaturas de Deus - ou realizará
quaisquer boas obras, seja pela emenda de minha vida, ou o perdã o dos
pecados de minha juventude, ou a correçã o de minha iniqü idade e
malı́cia, receberã o esta recompensa de Tua abundante liberalidade - ou
seja, que eles nã o morrerã o até que, por Tua graça, suas vidas tenham
se tornado agradá veis para ti; e que Tu habitará s em suas almas por
uma especial amizade e intimidade.
E isso Tu concedeste de Tua ternura paterna, para assistir minha
extrema indigê ncia, pois tu sabes quantas e quã o grandes correçõ es sã o
necessá rias para meus inú meros pecados e negligê ncias. Assim, como
Tua misericó rdia amorosa nã o permitirá que eu pereça, e, pelo
contrá rio, por razã o de Tua justiça, nã o permitirá que eu seja salvo com
todas as minhas imperfeiçõ es, Tu me proveste por meio dos ganhos e
mé ritos de outros.
Tu acrescentaste a todos esses favores, meu bom Deus, por uma
abundante liberalidade - que se algué m, apó s minha morte,
considerando quanta familiaridade Tu comunicaste com minha
indignidade nesta vida, recomende-se humildemente à s minhas
oraçõ es, Tu gostaria de ouvi-los tã o de bom grado como se invocassem
a intercessã o de qualquer outra pessoa, desde que tivessem a intençã o
de reparar suas faltas e negligê ncias, e que humildemente e
devotamente agradeceram a Ti por cinco benefı́cios especiais que Tu
me concedeste.
Primeiro. Pelo amor pelo qual Tu livremente me escolheste desde
toda a eternidade, e que eu declaro ser o maior de todos os benefı́cios
que Tu me concedeste: pois como Tu nã o ignoraste, ou melhor, previste,
a vida corrupta que Devo conduzir, o excesso de minha ingratidã o, e
como devo abusar de Teus dons, para que mereça ter nascido pagã o, e
nã o um ser humano iluminado - Tua misericó rdia, que ultrapassa
in initamente nossos crimes, me escolheu, em preferê ncia a muitos
outros cristã os, por ter o cará ter santo de um religioso.
Em segundo lugar. Porque abençoadamente me atraı́ste para ti; e
reconheço ser um efeito da clemê ncia e caridade que é natural para Ti,
que conquistaste, pelas atraçõ es de Tuas carı́cias, este coraçã o rebelde
e teimoso, que merece ser carregado com grilhõ es e correntes; e
parecia que Tu encontraste em mim a iel companheira de Teu amor, e
que Teu maior prazer era estar unido a mim.
Em terceiro lugar. Porque Tu me uniste tã o intimamente a Ti; e
declaro, como estou obrigado, que devo por isso apenas a Tua notá vel
liberalidade, como se o nú mero dos justos nã o fosse grande o su iciente
para receber a imensa abundâ ncia de Tuas misericó rdias, nã o que eu
tivesse melhores disposiçõ es do que outros, mas, pelo contrá rio, que
Tua caridade seja mais sinalizada em mim por isso.
Em quarto lugar. Que Tu tens tido prazer e deleite em habitar em
minha alma; e isto, se assim posso falar, procede do ardor de Teu amor,
que se dignou a testemunhar, mesmo por palavras, que é a alegria de
Tua sabedoria todo-poderosa rebaixar-se a algué m tã o diferente de Ti,
e tã o completamente ingrato.
Em quinto lugar. Que Te agradou realizar Tua obra com alegria em
mim; e é um favor que tenho esperado com humilde con iança da
ternura de Tua mais benigna caridade, e pelo qual Te adoro com
gratidã o, declarando, ó soberano, verdadeiro e ú nico tesouro de minha
alma, que nã o tenho em nenhum maneira contribuiu para isso por
meus mé ritos, mas que é um puro presente de Tua generosidade.
Todos esses benefı́cios vê m de Tua imensa caridade, e estando tã o
acima do meu nada, sou incapaz de agradecer por eles dignamente; mas
Tu ajudaste ainda mais a minha misé ria, estimulando os outros, pelas
mais condescendentes promessas, de render açõ es de graças a Ti, o
mé rito do qual pode suprir minhas de iciê ncias. Pelo que possam todas
as criaturas no Cé u, na terra e sob a terra, glori icar a Ti e agradecer a Ti
continuamente!
CAPITULO 21
Agradecimentos pela con irmaçã o dos referidos favores.

UMA

MONG outras coisas, aprouve a Ti, meu Senhor, na abundâ ncia da Tua
caridade inestimá vel, rati icar e con irmar estes favores. Certo dia,
enquanto meditava e comparava Tua misericó rdia e minha malı́cia,
enchi-me de extrema alegria, até mesmo com a presunçã o de reclamar
que Tu nã o me garantiste esses favores por contrato solene,23quando
Tua doce e afá vel caridade concordou em satisfazer minhas objeçõ es,
dizendo-me: “Nã o reclame disso; aproximar-se e receber a
con irmaçã o das Minhas promessas. ” E imediatamente abriste para
mim, com ambas as mã os, a arca de Teu amor divino e verdade
infalı́vel, a saber, Teu Coraçã o Dei icado; e ordenaste-me que
estendesse a minha mã o - eu, criatura perversa como sou, procurando
como os judeus um sinal; e entã o, puxando de volta Teu Sagrado
Coraçã o, com minha mã o envolvida nele, Tu disseste: “Eis que prometo
preservar inviolá veis os dons que te dei; no entanto, se eu suspender
seus efeitos por um tempo, a tı́tulo de dispensaçã o, me obrigo, pela
onipotê ncia, sabedoria e amor da Trindade, na qual vivo e reino o
verdadeiro Deus atravé s de todos os tempos, a recompensá -lo depois
triplo. ”
Depois dessas palavras tã o doces, quando retirei minha mã o,
percebi nela sete cı́rculos de ouro em forma de ané is,24um em cada
dedo e trê s no dedo do sinete; o que indicava que os sete privilé gios
foram con irmados para mim, como eu havia pedido. Em seguida, Tua
misericó rdia acrescentou estas palavras: “Cada vez que você reconhece
que nã o merece os Meus dons e con ia plenamente na Minha
misericó rdia, cada vez que você se livra das dı́vidas que Me deve por
esses benefı́cios.”
Oh, quã o engenhosa é Tua Paternidade em prover para Teus ilhos,
apesar de sua degeneraçã o vil e da maneira como eles tê m esbanjado
Tua substâ ncia, caindo da inocê ncia e privando-Te de Tua devida
adoraçã o! Ainda assim, Te dignaste a aceitar como oferenda a re lexã o
que faço sobre minhas misé rias. Faça Tu, o Doador de presentes, a
Fonte de todo o bem, sem o qual nada é bom e nada é santo - faça Tu,
para Tua gló ria e salvaçã o de minha alma, conceda-me a graça de saber
minha indignidade de todos os Teus presentes, se grande ou pequeno,
seja exterior ou interior, e em todas as coisas para ter a mais perfeita
con iança em Tua misericó rdia.

CAPITULO 22
Como Santa Gertrudes foi admitida à visã o de Deus. Do beijo da paz e outros
favores semelhantes.

eu

DEVERIA ser injusto ao recordar os dons gratuitos que recebi da Tua


misericordiosa clemê ncia, se ingrato deixei de lado o que foi concedido
à minha indignidade, pela Tua misericordiosa clemê ncia, durante uma
certa Quaresma. Pois no segundo domingo, enquanto cantavam na
missa antes da procissã o, a resposta que começa Vidi Dominum facie ad
faciem ,25um brilho maravilhoso e inestimá vel iluminou minha alma
com a luz da revelaçã o divina, e me pareceu que meu rosto estava
colado a outro rosto, como diz Sã o Bernardo: “Nã o uma forma, mas
formando; nã o atraindo os olhos do corpo, mas alegrando o
coraçã o; dando gratuitamente presentes de amor, nã o apenas na
aparê ncia, mas na realidade. ”
Nesta visã o mais encantadora, Teus olhos, brilhantes como os raios
solares, apareceram em frente aos meus, e só Tu sabes como Tu, meu
querido Senhor, afetou nã o apenas minha alma, mas até mesmo meu
corpo e todas as minhas forças. Concede, portanto, que enquanto eu
viver, posso provar que sou Teu humilde e devotado servo.
Mas assim como a rosa é mais bela e exala um perfume mais doce
na primavera, quando loresce, do que no inverno, quando seca e, como
a lembrança de uma alegria que já passou, reacende em nó s algum
prazer pensar nisso, entã o eu desejo, por alguma comparaçã o, declarar
o que eu senti nesta visã o mais alegre, para exaltar Teu amor, de forma
que se aqueles que lerem isto recebam favores semelhantes ou até
maiores, eles possam, assim, ser estimulados a agir de açã o de graças; e
eu mesmo, ao relembrá -los com frequê ncia, in lamarei a negligê ncia de
minha gratidã o sob os raios deste vidro aceso. Quando Tu exibiste Tua
face mais adorá vel - a fonte de toda bem-aventurança, como eu disse,
abraçando-me indigno - uma luz de doçura inestimá vel passou por Teus
olhos Dei icados para os meus, passando pelo meu ser mais ı́ntimo,
operando em todos os meus membros com admirá vel poder e doçura:
primeiro, parecia que a medula fora tirada de meus ossos; entã o, minha
carne e meus ossos pareciam aniquilados, tanto que parecia como se
minha substâ ncia nã o tivesse mais nenhuma consciê ncia exceto
daquele esplendor divino, que brilhava de uma maneira tã o inexplicá vel
e deliciosa que era a fonte do mais inestimá vel prazer e alegria para
minha alma.
Oh, o que direi mais sobre esta visã o tã o doce, se assim posso
chamá -la? Pois toda a eloqü ê ncia do mundo, se empregada diariamente
para me persuadir, nunca poderia me convencer de que eu deveria Te
contemplar mais claramente, mesmo na gló ria, ó meu Deus, a ú nica
salvaçã o de minha alma, se Tu nã o tivesses me ensinado por
experiê ncia. Ousarei dizer que se alguma coisa, humana ou Divina, pode
exceder a bem-aventurança de Teu abraço nesta visã o, como considero,
posso verdadeiramente dizer que, a menos que tua virtude Divina
possuı́sse aquela pessoa, a alma nunca permaneceria no corpo depois
de um gostinho momentâ neo dessa bem-aventurança.
Rendo graças a Ti, pela uniã o do amor mú tuo que reina na adorá vel
Trindade, pelo que tenho experimentado tantas vezes, e que Tu te
dignaste a favorecer-me com Tuas carı́cias; de modo que enquanto eu
me sentava meditando, ou lendo as Horas Canô nicas, ou dizendo o
Ofı́cio dos Mortos, Tu muitas vezes, durante um ú nico Salmo, muitas
vezes abraçaste minha alma com um beijo, que ultrapassa de longe os
perfumes mais fragrantes ou o mel mais doce ; e tenho observado
muitas vezes que me olhaste com bons olhos nas condescendentes
carı́cias que dispensaste à minha alma. Mas embora todas essas coisas
estivessem repletas de uma doçura extrema, declaro, nã o obstante, que
nada me tocou tanto quanto este olhar majestoso de que falei. Por isso,
e por todos os outros favores, cujo valor só Tu conheces, que te alegres
para sempre naquela doçura inefá vel que ultrapassa toda compreensã o,
que as Pessoas Divinas se comunicam mutuamente no seio da
Divindade!
Que semelhante açã o de graças - ou, se possı́vel, ainda maior - seja
prestada a Ti, por um favor extraordiná rio que me concedeste, do qual
só Tu conheces, e que é tã o grande, que nem posso expressá -lo
plenamente por meu dé bil palavras, nem ignorá -lo totalmente; e para
nã o perder a lembrança disso por causa de minha fragilidade, escrevo
isto para trazê -lo à minha memó ria e despertar minha gratidã o. Mas,
meu Deus, nã o permita que o mais mesquinho dos Teus servos seja
culpado de tal excesso de loucura a ponto de esquecer voluntariamente,
mesmo por um ú nico instante, a gratidã o que ela deve ter pelas visitas
com as quais Tu a honraste de Tua liberalidade pura e gratuita, e que
ela recebeu por tantos anos sem merecê -los. Pois, embora eu seja a
mais indigna de todas as criaturas, declaro, no entanto, que essas
visitas com as quais me favoreceste superam em muito qualquer coisa
que poderia ser merecida durante esta vida. Eu, portanto, imploro Tua
mais doce misericó rdia para preservar este presente para mim para
Tua gló ria, com a mesma bondade com a qual Tu tã o generosamente o
concedeste, sem qualquer mé rito de minha parte, para que todas as
criaturas Te glori iquem eternamente por isso, desde quanto mais
minha indignidade é revelada, mais resplandecentemente Tua
misericó rdia brilhará .
CAPITULO 23
Recapitulaçã o dos dons já mencionados. A Santa reclama de sua enfermidade e
ingratidã o.

AY minha alma te abençoe, ó Senhor Deus, meu Criador, do fundo do


meu coraçã o; e que ele declare as misericó rdias com as quais Tua
caridade abundou e me envolveu, ó meu mais doce Amor! Eu dou
graças, tanto quanto posso, a Tua imensa misericó rdia; Eu louvo e
glori ico a longanimidade de Tua paciê ncia, que me suportou, enquanto
eu passava os anos de minha infâ ncia, infâ ncia e juventude, até meus
vinte e cinco anos, em tal cegueira e loucura, que se Tu nã o tivesses
preservado mim, seja pelo temor natural que me deste para o mal, e
uma inclinaçã o para o bem, ou pelas reprovaçõ es dos outros, e por
tantas ajudas, e se nã o me tiveste salvado por Tua pura misericó rdia,
parece-me que eu teria pecado em todas as oportunidades, seja por
meus pensamentos, minhas palavras ou minhas açõ es, mesmo como se
eu tivesse sido um in iel no meio dos in ié is, e como se eu nã o soubesse,
meu Deus, que Tu eras o recompensador do bem e vingador do mal,
embora Tu me escolheste desde a minha infâ ncia - isto é , desde a idade
de cinco anos - para viver no seio da religiã o sagrada, entre Teus amigos
mais ié is.
Embora Tua felicidade, ó Senhor, nã o possa aumentar nem
diminuir, e Tu nã o precisas de nossos bens,26nã o obstante, nem
minhas negligê ncias nem minhas faltas diminuı́ram Teus louvores, se
assim posso falar - eu que sou tã o justamente obrigado a glori icar-Te
continuamente, com todas as criaturas e com todos os poderes de
minha alma. Só tu sabes o que sinto a respeito deste assunto, e quã o
profundamente minha alma é tocada por Tua condescendê ncia para
com ele.
Portanto, ó Pai amoroso, eu te ofereço, pela remissã o dos meus
pecados, todos os sofrimentos pelos quais Teu Filho amado suportou,
desde a hora em que chorou na palha na manjedoura - todos os
sofrimentos de sua infâ ncia, as privaçõ es de sua infâ ncia , as dores de
Sua juventude, e os sofrimentos amargos de Sua masculinidade, até a
hora em que Ele curvou Sua cabeça na cruz e entregou o espı́rito com
um alto clamor. Alé m disso, em satisfaçã o por todas as minhas
negligê ncias, ofereço a Ti, ó Pai amoroso, a vida de Teu Divino Filho, que
foi tã o perfeita em cada pensamento, palavra e açã o, desde o momento
em que Ele desceu de Teu trono celestial para O O ventre da Virgem, e
dali veio a este mundo, até a hora em que Ele apresentou a Teu Pai a
consideraçã o de Seu Corpo vitorioso e glori icado.
E porque é justo que o coraçã o que Te ama tenha compaixã o de
todas as tuas a liçõ es, eu Te suplico, pelo amor de Teu ú nico Filho, e
pela virtude do Espı́rito Santo, aquele que, por meu pedido, ou por
qualquer outro motivo , desejará suprir minhas de iciê ncias, seja
durante minha vida ou apó s minha morte, para Tua gló ria, mesmo por
um suspiro27ou por uma boa obra, para que recebas por eles també m,
e para a remissã o de seus pecados e negligê ncias, as ofertas que Eu
faço a Ti da conversaçã o e sofrimentos de Teu Divino Filho; e para que
eu possa efetivamente obter meu pedido, eu te conjuro para perpetuar
meu desejo por toda a eternidade, e mesmo quando eu reinar, por Tua
graça, contigo no cé u.
Eu adoro e abençoo com açõ es de graças, e com toda humildade,
Tua caridade inefá vel, ó Pai das misericó rdias, pela qual, apesar das
desordens de minha vida, Tu tens pensamentos de paz para comigo, e
nã o de severidade, me oprimindo com a grandeza e a multidã o de Teus
benefı́cios, mesmo como se eu tivesse levado uma vida de anjo entre os
homens. Tu começaste esta obra em mim durante o Advento, antes que
eu tivesse atingido meu vigé simo quinto ano, e a consumaste na
Epifania por um certo temor, pelo qual iquei tã o agitado que comecei a
ter aversã o por todos os prazeres da juventude, de modo que assim
meu coraçã o tornou-se de alguma forma preparado para receber a Ti.
Tendo entrado em meu vigé simo sexto ano, a segunda feria antes da
Festa da Puri icaçã o, no inal do dia, depois das Completas, Senhor, Que
é s a verdadeira Luz brilhando nas trevas - Tu puseste im à minha
obscuridade espiritual e escuridã o, e para minhas vaidades
juvenis. Pois neste momento Tu me deste sinais evidentes de Tua
incrı́vel caridade e de Tua amá vel presença; e Tu me ensinaste, por uma
reconciliaçã o amorosa, a Te conhecer e a Te amar; e, tendo me feito
entrar em meu interior, que até entã o era desconhecido para mim, Tu
agiste em relaçã o a mim de maneiras maravilhosas e ocultas, de modo
que parecia ter o mesmo prazer em habitar em minha alma como um
amigo em viver com seu amigo ou um noivo com sua noiva.
Tu me visitaste, entã o, em diferentes momentos e de diferentes
maneiras, para preservar este comé rcio de caridade; mas
especialmente na Vigı́lia da Anunciaçã o, e antes da Ascensã o,
começando Tua obra naquele dia pela manhã , e concluindo-a depois
das Completas, concedendo-me aquele favor que deveria ser objeto de
admiraçã o e reverê ncia a todas as criaturas, a saber , que daquela hora
até agora nunca Te encontrei ausente do meu coraçã o por um ú nico
instante quando entrei nele, exceto uma vez, quando Tu estiveste
ausente por onze dias.
Como nã o posso expressar por minhas palavras o nú mero ou o
valor dos presentes que Tu me concedeste, permite-me, ó Doador de
presentes, oferecer-Te em açã o de graças um sacrifı́cio de alegria em
um espı́rito de humildade, especialmente por ter preparado um
habitando em meu coraçã o, de acordo com o Teu desejo e o meu; de
modo que nã o ouvi nem li nada do Templo de Salomã o ou do palá cio de
Assuero que me parecesse preferı́vel à s delı́cias que, graças a Tua graça,
foram colocadas em mim e com as quais permitiste que minha
indignidade compartilhasse Tu, como uma rainha com o rei. Mas há
dois favores que estimo especialmente. A primeira é que imprimiste em
meu coraçã o as marcas gloriosas de Tuas feridas salvadoras e
perfuraste verdadeira e profundamente este mesmo coraçã o com a
ferida de Teu amor; de modo que, mesmo que nunca tivesses me
concedido maior consolo, tanto exterior quanto interiormente, Tu me
conferiste tanta felicidade por esses dois só , que mesmo que vivesse mil
anos, encontraria a cada hora mais consolo, açã o de graças e instruçã o
do que eu poderia possivelmente conter.
Alé m dessas coisas, Tu també m me concedeste Tua amizade
secreta, abrindo a sagrada arca de Tua Divindade - quero dizer Teu
Coraçã o Dei icado - para mim de muitas maneiras, a ponto de ser a
fonte de toda a minha felicidade, à s vezes transmitindo-a livremente, à s
vezes como uma marca especial de nossa amizade mú tua, trocando-a
pela minha. Tu també m me revelaste misté rios ocultos concernentes a
Teus julgamentos e Tuas bem-aventuranças; e Tu tantas vezes
derreteste minha alma por Tuas carı́cias amorosas, que se eu nã o
conhecesse o abismo de Tuas condescendê ncias transbordantes, icaria
maravilhado se me dissessem que até mesmo Tua Santı́ssima Mã e, que
reina Contigo no Cé u, foi escolhida para receber essas marcas
extraordiná rias de ternura e afeto.
Por todas essas marcas de Teu amor gentil, Tu me conduziste a um
conhecimento salutar de minhas faltas, e ao mesmo tempo poupou
minha vergonha com tanta caridade, que - perdoe-me por dizê -lo -
pareceria a perda de metade Teu reino era menos para Ti do que para
me causar uma confusã o momentâ nea por minhas
imperfeiçõ es. Portanto, a im de torná -los conhecidos por mim, Tu
usaste este sá bio expediente - descobrindo para mim os defeitos que te
desagradavam nos outros, e dos quais, quando entrei em mim mesmo,
descobri que era mais culpado do que eles, embora Nã o me deste o
menor sinal de tê -los percebido em mim.
Alé m disso, ganhaste minha alma por Tuas ié is promessas de
benefı́cios na minha morte e depois dela; e se eu tivesse obtido este
favor de Ti, seria su iciente para encher meu coraçã o com a mais viva
esperança e desejo. Mas o oceano de Tua in inita misericó rdia ainda
nã o se exauriu, pois ouviste as oraçõ es frequentes que dirigi a Ti pelos
pecadores por suas almas, ou por outras consideraçõ es; e tã o grandes
foram esses favores, que ainda nã o encontrei algué m a quem pudesse
descobri-los, como os conheço pessoalmente, por causa da
pusilanimidade do coraçã o humano, que é lento de fé . Para coroar todos
esses benefı́cios, Tu me deste Tua doce Mã e, a Santı́ssima Virgem, como
meu advogado, e Tu amorosamente me recomendaste a ela muitas
vezes com o mesmo ardor como um noivo iel recomendaria sua amada
noiva para sua pró pria mã e. Muitas vezes també m enviaste os prı́ncipes
de Tua corte para ministrar a mim, nã o apenas dentre os coros de Anjos
e Arcanjos, mas mesmo aqueles de posiçã o mais elevada, como Tua
bondade, meu Deus, julgou conveniente para meu avanço nos exercı́cios
espirituais. Mas quando, para o bem de minha alma, Tu me privaste por
um tempo de algumas de Tuas delı́cias, eu cedi a uma ingratidã o fraca e
vergonhosa, e esqueci Tuas dá divas, como se elas nã o tivessem sido de
nenhum benefı́cio para mim; e se por Tua graça descobri o que havia
perdido e Te pedi para restaurá -lo, ou para me conceder algum outro
favor, Tu imediatamente me deste tudo, como se fosse um depó sito que
eu tivesse con iado a Tua guarda.
Alé m desses favores, Tu me concedeste outros de maior valor,
especialmente no dia de Tua Natividade, o Domingo Esto mihi ; e
també m outro domingo depois do Pentecostes Tu me elevaste, ou
melhor, me violaste, para tã o perto de ti mesmo, que me maravilha mais
do que um milagre como tenho vivido desde entã o como uma criatura
entre as criaturas, e sou ainda mais pasmo, e até horrorizado, por nã o
ter corrigido minhas faltas como deveria fazer. No entanto, a fonte da
Tua misericó rdia nã o se esgotou para mim, ó Jesus, de todos os
amantes, o mais amoroso - ou melhor, o ú nico que ama o ingrato
verdadeira e desinteressadamente. Pois depois de um tempo, tendo
esquecido minha vileza, indigno que sou, e tendo começado a desprezar
as coisas que sã o a alegria e o louvor do Cé u e da terra - se fosse apenas
porque um Deus in inito se rebaixou sem reservas para com um vil e
abjeto verme - Tu, o Doador, Renovador e Preservador de todo bem - Tu
me despertaste do meu torpor e me excitaste à gratidã o, revelando a
uma certa pessoa, que era muito devota a Ti e familiarizada Contigo,
alguns detalhes dos dons que Tu me concedeste, o que eles nã o
poderiam ter conhecido por meios humanos, visto que eu nã o os tinha
revelado a nenhum ser humano, de modo que ouvi de seus lá bios o que
só era conhecido pelo meu coraçã o secreto.
Ao relembrar estas palavras e outras, cuja gló ria é devida somente a
Ti, cantarei um câ ntico sobre um instrumento harmonioso, que nada
mais é do que Teu Divino Coraçã o, em virtude do Espı́rito de
consolaçã o. Pai Eterno, que tudo o que está no Cé u, na terra ou nas
profundezas - que todas as coisas que já existiram, que existem ou que
existam - Te rendam graças e louvor! Assim como o ouro brilha mais
claramente quando cercado por vá rias cores - mesmo que o preto
pareça mais escuro em contraste com elas - assim é a escuridã o de
minha vida ingrata, quando comparada com o esplendor dos benefı́cios
Divinos tã o abundantemente concedidos a mim. Pois como Tu nã o
pudeste conceder quaisquer favores que nã o fossem proporcionais a
Tua generosidade real, eu apenas os recebi em minha grosseira
ignorâ ncia, e como um infeliz abusador de Tuas graças. Isso Tu, por
assim dizer, dissimulaste por um efeito de Tua clemê ncia natural, de
modo que parecia que nunca izeste mais por mim do que quando eu iz
menos por Ti. E mesmo quando Tu procuraste hospitalidade em minha
pobre morada - Tu, que repousas no seio amoroso de Teu Pai celestial -
eu fui tã o negligente e tã o descuidado em te entreter, que eu deveria,
mesmo da humanidade natural, ter sido obrigado a cuidar com mais
cuidado de um leproso que pediu um abrigo sob meu teto depois de me
sobrecarregar com ultrajes e ferimentos. Longe, ó Senhor, que adornou
as estrelas com beleza - longe de reconhecer as graças que Tu me
concedeste - seja enchendo-me de consolo interior, seja imprimindo em
mim Tuas feridas sagradas, ou revelando-me Teus segredos, e mesmo
aqueles de Teus amigos, ou dando-me marcas de Tua amizade e ternura
maiores do que poderiam ter sido encontradas se a terra fosse
atravessada de leste a oeste - tenho sido tã o ingrato a ponto de Te
ultrajar por desprezar essas coisas, por buscar prazeres estranhos, e
preferindo o amargor das coisas exteriores à doçura de Teu maná
celestial. Descon iei das tuas promessas, ó Deus da verdade, como se
fosses um homem que pudesse mentir ou falhar na tua idelidade!
Ai de mim! També m ofendi a bondade com que ouviste minhas
oraçõ es indignas tã o favoravelmente, endurecendo meu coraçã o contra
Tua Vontade, e, como devo declarar com lá grimas em meus olhos, à s
vezes ingindo nã o compreender Tua Vontade, para evitar as
reprovaçõ es de minha a consciê ncia deveria me obrigar a obedecê -la.
També m desprezei a ajuda de Tua mais gloriosa Mã e e dos espı́ritos
abençoados que enviaste a mim; e tenho estado tã o infeliz a ponto de
ser um obstá culo até mesmo para meus amigos terrenos, nos quais me
apoiei, em vez de con iar somente em Ti; e longe de aumentar minha
gratidã o e minha vigilâ ncia sobre minhas faltas, ao ver que Tua
caridade continuava Teus favores, apesar de minha negligê ncia, eu, ao
contrá rio, Te devolvi mal por bem, como um tirano, ou melhor, como
um demô nio, e tive a resistê ncia de viver ainda mais descuidadamente.
Mas a minha maior falha é que depois da incrı́vel uniã o que tive com
Ti, e que é conhecida somente por Ti, nã o tenho medo de manchar
minha alma novamente com os mesmos defeitos, que Tu permitiste que
continuassem em mim a im de para que eu possa conquistá -los e,
assim, obter maior gló ria contigo no cé u. Eu pequei també m, pois
quando Tu descobriste aos meus amigos Teus favores ocultos, para
excitar minha gratidã o, eu falhei em cumprir Teus desı́gnios nisto,
regozijando-me de uma maneira humana, e negligenciando
corresponder a Teus desı́gnios pelo dever de gratidã o .
E agora, ó adorá vel Criador de minha alma, permite que os gemidos
de meu coraçã o subam até o Cé u em expiaçã o de todas essas faltas, e de
outras que Tu ainda possas trazer à minha memó ria. Aceite minha dor
pelo imenso nú mero de ofensas que cometi contra a nobreza de Tua
bondade divina. Eu ofereço a Ti, com toda a gratidã o e toda a reverê ncia
que Tu me capacitas, por tudo no Cé u, na terra e nas profundezas, pelo
mé rito de Teu Filho amado e pelo poder do Espı́rito Santo.
Visto que, entã o, sou totalmente incapaz de produzir frutos dignos
de penitê ncia, imploro Tua misericó rdia, ó meu doce amor, para
inspirar aqueles coraçõ es que tê m idelidade e zelo su icientes para Te
apaziguar com um sacrifı́cio de propiciaçã o, para reparar meus defeitos
por seus suspiros, suas oraçõ es e outras boas obras, e para pagar a
dı́vida de louvor que devo a Ti somente, ó Senhor meu Deus; porque,
conforme vê s o fundo do meu coraçã o, sabes que só escrevi estas coisas
por puro amor de Tua gló ria, a im de que muitos que as lerem depois
de minha morte sejam tocados por Tua doçura e clemê ncia,
considerando o grandeza de Teu amor, que se rebaixou tanto pela
salvaçã o da humanidade a ponto de permitir que tais numerosas e
preciosas dá divas sejam abusadas, como eu, infelizmente, abusei delas!
Mas agradeço com todas as minhas forças, ó Senhor, meu Criador e
Recriador, a Tua in inita misericó rdia, que do abismo de Tua bondade
transbordante, Tu izeste saber a mim que todos os que se lembrarã o
de mim como eu disse acima, pois Tua gló ria, orando pelos pecadores,
ou dando graças pelos eleitos, ou por quaisquer outras boas obras, nã o
deixará este mundo até que Tu tenha concedido a ele a graça de se
tornar agradá vel a Ti, e assim ordenar a seu coraçã o que Tu mayest
encontrar alegria e prazer nisso. Para o qual possa o louvor eterno ser
dado a Ti, que retornará sem cessar ao Amor incriado de onde
procedeu.

CAPITULO 24
Conclusã o deste livro.

EHOLD, ó amoroso Senhor, ofereço-te o talento de Tua intimidade


condescendente, que me con iaste, criatura vil que sou. Negociei com
ele por amor de Teu amor por aquilo que escrevi ou que ainda posso
escrever. E posso corajosamente declarar, por Tua graça, que nã o tive
outro motivo para dizer ou escrever essas coisas, exceto o de obedecer
a Tua Vontade, de promover Tua gló ria e de zelo pela salvaçã o de
almas. Desejo, portanto, que todos Te louvem e Te dê em graças, porque
minha indignidade nã o te fez retirar Tua misericó rdia de mim. Desejo
també m que sejas louvado por aqueles que, lendo estas coisas, icam
encantados com a doçura de Tua caridade e interiormente atraı́dos a
desejá -la; e també m para aqueles que, estudando-os como estudantes,
começam com o alfabeto e chegam à iloso ia - sendo assim guiados
pela leitura dessas coisas, como por imagens e imagens, para procurar
o maná escondido, o que aumenta a fome daqueles que participam dela,
e que nã o é encontrada nas substâ ncias corporais.
Portanto, visto que Tu, o Todo-Poderoso Dispensador de todas as
coisas boas, concede-nos pastar durante nosso exı́lio até que,
“contemplando a gló ria do Senhor com rosto descoberto, sejamos
transformados de gló ria em gló ria na mesma imagem, como pelo
Espı́rito do Senhor ”( 2 Coríntios 3:18); entretanto, de acordo com Tuas
promessas ié is e o desejo humilde de meu coraçã o, conceda, eu Te
imploro, a todos os que lê em estes escritos com humildade, a paz de
Teu amor, compaixã o por minhas misé rias e uma compunçã o salutar
para seu avanço na perfeiçã o , para que, elevando seus coraçõ es a Ti
com amor ardente, eles possam ser como tantos incensá rios de ouro,
cujos doces odores suprirã o abundantemente toda minha negligê ncia e
ingratidã o. Um homem.

PARTE TRES
As revelaçõ es de Santa Gertrudes
Compilado pelas religiosas de seu mosteiro

CAPITULO 1
Nosso Senhor dá sua Mã e Santı́ssima a Santa Gertrudes para ser sua mã e, para
que ela possa recorrer a ela em todas as suas a liçõ es.

T. GERTRUDE, tendo aprendido por revelaçã o divina que ela estava


prestes a suportar alguma provaçã o1para o aumento de seu mé rito,
começou a temer pela fraqueza humana; mas o Senhor teve compaixã o
de sua enfermidade e deu-lhe Sua misericordiosa Mã e, a Imperatriz do
Cé u, por sua mã e e por seu dispensador; para que, quando o peso de
sua dor aparecesse alé m de suas forças, ela pudesse sempre recorrer a
esta Mã e misericordiosa, e por sua intervençã o obter alı́vio.
Algum tempo depois, como ela estava muito triste porque um
devoto a obrigou a revelar os favores singulares com que Deus a honrou
na festa anterior, ela recorreu à Mã e dos a litos, para aprender dela o
que deveria. para fazer nesta ocasiã o. “Dê de graça o que você possui”,
respondeu ela; “Pois meu Filho é rico o su iciente para retribuir tudo o
que você gasta para a Sua gló ria.” Mas como a Santa desejava ocultar o
má ximo possı́vel os grandes favores que lhe eram concedidos, ainda
que em parte os revelasse, desejava saber de seu Esposo celestial até
que ponto sua conduta Lhe era agradá vel. Prostrando-se a Seus pé s, ela
implorou-lhe que lhe izesse conhecer a Sua Vontade e lhe concedesse o
desejo de realizá -la. A sua con iança mereceu para ela esta resposta,
que recebeu da Divina Misericó rdia: “Dá o Meu dinheiro ao banco, para
que quando eu vier o receba com usura”. (Cf. Lucas 19:23). E assim ela
aprendeu que as razõ es que ela considerou boas, e mesmo inspiradas
pelo Espı́rito de Deus, eram meramente humanas, de modo que desde
entã o ela comunicou mais livremente o que foi revelado a ela, e nã o
sem razã o; pois Salomã o declarou: “E a gló ria de Deus ocultar a palavra,
e a gló ria dos reis em esquadrinhar a palavra.” ( Prov . 25: 2).

CAPITULO 2
A adversidade é o anel espiritual com o qual a alma está comprometida com
Deus.

UMA

S GERTRUDE ofereceu a Deus em suas oraçõ es tudo o que ela sofreu no


corpo e na mente, e todos os prazeres dos quais ela se privou, seja na
carne ou no espı́rito, Nosso Senhor apareceu a ela, e mostrou-lhe os
prazeres e as dores que ela Lhe ofereceu sob a forma de dois ané is,
enriquecidos com pedras preciosas, que Ele usava para adornar Suas
mã os. O Santo, percebendo isso, repetiu a oferta com freqü ê ncia; e ao
sofrer uma a liçã o corporal algum tempo depois, ela viu Jesus, seu
Senhor, tocar em seu olho esquerdo com o anel que Ele carregava em
Sua mã o esquerda, e que representava a liçõ es corporais e
sofrimentos; e a partir deste momento ela sentiu um sofrimento
extremo neste olho, que ela viu Nosso Senhor tocar em Espı́rito, e essa
dor nunca foi totalmente removida.
Ela sabia disso que, como o anel é o sinal do casamento, també m os
sofrimentos no corpo ou na mente sã o testemunhos do casamento
espiritual da alma com Deus; para que todo aquele que sofre diga com
segurança, com toda a verdade: “Meu Senhor Jesus Cristo me desposou
com o seu anel”; e se ele reconhecer nessas a liçõ es as graças que
recebeu, e retribuir graças, ele pode adicionar: "Ele me adornou com
uma coroa como Sua esposa", porque o agradecimento na tribulaçã o é
uma coroa de gló ria mais brilhante do que o ouro, e
incomparavelmente mais precioso que o topá zio.

CAPITULO 3
A consolaçã o humana enfraquece o que é Divino.

ERTRUDE recebeu outro testemunho claro, embora a princı́pio nã o o


tenha entendido muito bem, de que as contradiçõ es e a privaçã o de
consolo no sofrimento aumentam muito o mé rito. Num certo dia, por
volta da Festa de Pentecostes, ao sofrer tantas dores nas costas que os
presentes temiam que tivesse chegado a sua ú ltima hora, o seu Amado,
o verdadeiro Consolador da sua alma, retirou-se dela e, assim,
aumentou-a sofrimento, embora os cuidados e atençõ es daqueles que a
cercavam fossem redobrados; ao passo que, quando ela era menos
atentamente atendida, este amoroso Senhor permanecia perto dela,
para aliviar a severidade de sua dor com Sua presença, fazendo-a
compreender assim que quando somos privados do consolo humano, a
Divina Misericó rdia nos considera mais favoravelmente.
Ao anoitecer, como a Santa estava esgotada pelo sofrimento agudo,
ela procurou obter alguma mitigaçã o de Nosso Senhor, mas Ele ergueu
o braço direito e mostrou-lhe a dor que ela suportou o dia todo como
um ornamento precioso em Seu seio. Como este ornamento parecia tã o
perfeito e tã o completo em todas as partes, ela se alegrou, esperando
que seu sofrimento cessasse agora; mas Nosso Senhor respondeu: "O
que você sofrer depois disso irá adicionar brilho a este ornamento." E
certamente, embora fosse decorado com pedras preciosas, o ouro
parecia escuro e opaco. O que ela sofreu depois nã o foi tã o doloroso em
si mesmo, mas ela foi provada mais por ser privada de consolo do que
pela intensidade da dor.

CAPITULO 4
Quã o vis e desprezı́veis sã o todos os prazeres transitó rios.

UMA

SOBRE a festa de Sã o Bartolomeu,2Gertrude sentiu-se dominada por


uma tristeza excessiva e uma tentaçã o de impaciê ncia. Isso causou
tamanha escuridã o em sua alma que ela parecia insensı́vel a todos os
prazeres que a presença de Deus lhe concedia, e a luz nã o foi restaurada
a ela até o sá bado seguinte por intercessã o da Mã e de Deus, quando
eles cantaram em sua homenagem. a Antı́fona que começa com “Maria,
Estrela do mar”.3No dia seguinte, enquanto se regozijava interiormente
com a doçura e ternura com que Deus a tratava, ela começou a re letir
sobre sua tardia impaciê ncia e seus outros defeitos; entã o, sentindo-se
extremamente descontente de si mesma, ela orou a Deus por sua
correçã o, mas com tanto desâ nimo que, vendo a enormidade e a
multidã o de suas faltas, ela clamou em desespero: "Deus de
misericó rdia, ponha limites à minha malı́cia, visto que eu nã o coloco
nem im nem medida para isso! 'Livra-me, Senhor, e põ e-me ao teu
lado, e deixa a mã o de qualquer homem lutar contra mim.' ”( Jó 17: 3).
Nosso Senhor, compadecido de sua extrema a liçã o, mostrou-lhe um
pequeno e estreito jardim, repleto de lindas lores, mas rodeado de
espinhos, por onde corria um pequeno riacho de mel. Ele disse a ela:
“Você prefere o prazer que pode desfrutar aqui para Mim?” Ela
respondeu: "Certamente nã o, ó Senhor meu Deus." Entã o Ele mostrou a
ela outro pequeno jardim, cheio de lama e sujeira, mas coberto com um
pouco de verdura e contendo algumas lores comuns. Sendo
questionada da mesma forma se ela preferia isso, ela se afastou dele
para mostrar sua aversã o e exclamou: “Que eu nunca pre ira a temı́vel
ilusã o de um bem aparente, que esconde um verdadeiro mal, à quele
que é o ú nico soberano, verdadeiro , imutá vel e eterno Bem! ” Nosso
Senhor respondeu: “Por que, entã o, você descon ia, como algué m
privado de caridade, visto que os favores com que eu o subjugo sã o uma
prova de que você o possui? E por que você fala desesperadamente por
causa de seus pecados, visto que as Escrituras testi icam que a caridade
cobre uma multidã o de pecados, quando você nã o prefere sua vontade
à Minha, embora, seguindo-a, você possa viver sem problemas e com
honra, na estima de homens e com fama de santidade? Eu representei
essa obstinaçã o para você sob a igura de um jardim cheio de lores, e
os prazeres de uma vida sensual pela verdura que cobre a lama. ” Ela
respondeu: "Oh, desejaria a Deus mil vezes que, pelo desprezo do
jardim de lores, que me mostraste, eu pudesse ter renunciado
totalmente à minha pró pria vontade, mas temo que a insigni icâ ncia do
lugar me dispô s a fazer tã o mais fá cil! ” “E assim”, respondeu Nosso
Senhor, “que, ao guiar as consciê ncias dos Meus eleitos, Eu só os deixo
ver vantagens temporais em pequena medida, a im de evitar expor
suas fraquezas a grandes tentaçõ es, e para inspirá -los mais facilmente
com desprezo pelos falsos prazeres da terra. ”
Entã o Gertrudes renunciou inteiramente a todos os prazeres do Cé u
e da terra, e se lançou com tal constâ ncia e fervor ao seio de seu Amado,
que ela acreditou que nenhuma criatura seria agora capaz de removê -la
por um ú nico momento de Seus braços, onde ela saboreou com alegria
aquele gole vivi icante que luı́a do lado ferido de seu Senhor, e cuja
doçura ultrapassava in initamente aquela do bá lsamo mais precioso.

CAPITULO 5
A renú ncia perfeita de Santa Gertrudes nas mã os de Deus em todas as
adversidades, e que mé rito ela adquiriu por meio disso.

NA Festa do Apó stolo Sã o Mateus,4Nosso Senhor, tendo-a impedido


pela doçura de suas frequentes bê nçã os, ela ofereceu o cá lice em açã o
de graças na Elevaçã o; e tendo re letido que sua oblaçã o seria de pouco
valor se ela nã o se oferecesse voluntariamente para suportar todos os
tipos de sofrimento pelo amor de Cristo, ela se levantou, no fervor de
seu zelo, do seio de seu Esposo, no qual estava tudo seu deleite, e se
jogou no chã o como uma carcaça vil, exclamando: “Eu me ofereço a Ti,
Senhor, para suportar tudo que possa promover a Tua gló ria.” Entã o o
Senhor se apressou rapidamente até ela e colocou-se no chã o ao lado
dela, como se para ampará -la, dizendo: “Isto é meu”. “Sim”, exclamou o
Santo, voltando-se para Deus e animado de nova coragem; “Eu
pertenço a Ti - sou a obra de Tuas mã os.” “E verdade”, respondeu Nosso
Senhor; "Mas esta graça é singularmente sua, que estou tã o
intimamente unido a ti pelo amor, que nã o gostaria de desfrutar a bem-
aventurança sem ti."
Espantada com a excessiva condescendê ncia dessas palavras, ela
exclamou: “Por que me falas assim, ó Senhor, visto que tens um nú mero
tã o in inito de amigos no Cé u e na terra, com os quais poderia
compartilhar Tua felicidade, mesmo que tivesse Eu nunca fui criado?
” Nosso Senhor respondeu: “Quem sempre quis um membro nã o sente a
mesma privaçã o de quem o perde na idade avançada; da mesma
maneira, coloquei Meu amor em ti de tal maneira que nã o pude
suportar que nos separá ssemos. ”

CAPITULO 6
A cooperaçã o da alma iel no Santo Sacrifı́cio. Cinco favores sobre os quais o
Santo desejava meditar, quando nã o podia assisti-los.

NA Festa de Sã o Maurı́cio,5enquanto o celebrante pronunciava as


palavras secretas da Consagraçã o, Santa Gertrudes dizia a Nosso
Senhor: “Senhor, o misté rio que agora operas é tã o tremendo e tã o
grande, que mal me atrevo a respirar ou a falar; basta-me esconder-me
no vale mais profundo de humildade que posso encontrar, esperando
minha parte na salvaçã o que Tu ali concedes aos Teus eleitos ”. Nosso
Senhor respondeu: “Quando uma mã e deseja fazer algum trabalho com
pé rolas e pedras preciosas, à s vezes ela coloca seu ilho em um lugar
elevado para segurar seu io ou suas pé rolas, ou para lhe fazer algum
outro serviço; entã o eu coloquei você em uma posiçã o eminente para
dispor dos mé ritos desta missa; e se você elevar sua vontade até
mesmo para desejar voluntariamente sofrer todos os tipos de trabalho
e dor, a im de que este sacrifı́cio, que é tã o salutar para todos os
cristã os, vivos ou mortos, possa ser plenamente realizado em toda a
sua excelê ncia, você entã o contribuı́ram, de acordo com a sua
capacidade, para a realizaçã o do Meu trabalho. ”
Certa vez, quando a Santa estava con inada ao leito e incapaz de
assistir à missa, na qual esperava ter comunicado, disse a Deus com o
espı́rito perturbado: “A que devo atribuir o meu impedimento de
assistir hoje nos Santos Misté rios , senã o a Tua Providê ncia, meu
Amado? - e como me prepararei para receber a Comunhã o de Teu
adorá vel Corpo e Sangue, já que minha intençã o na Missa sempre me
pareceu minha melhor preparaçã o? ” “Já que atribuı́s a causa a Mim”,
respondeu Nosso Senhor, “para consolá -lo, farei com que ouça as
cançõ es de alegria com que o Cé u ressoa quando eu esposo uma alma.
“Ouve, entã o, de Mim, que meu Sangue é a tua redençã o; medite
naqueles trinta e trê s anos durante os quais trabalhei por você no exı́lio
e busquei apenas me aliar a você ; e que sirva para a primeira parte da
missa.
“Ouça-me contando como te dei dote com as riquezas do Meu
Espı́rito e que, embora tenha suportado tanto trabalho corporal
durante os trinta e trê s anos em que te procurei, també m Minha alma
sente uma alegria inefá vel por a uniã o e o casamento espiritual que
contraı́mos; e que isso seja seu consolo durante a segunda parte da
Missa.
“Ouça, entã o, o que Eu digo, enquanto eu te digo como você está
repleto de Minha Divindade, que tem o poder de fazer você saborear as
delı́cias mais puras e a doçura mais arrebatadora interiormente,
enquanto exteriormente você está sofrendo as dores mais severas. Isso
servirá para a terceira parte da missa.
“Ouça, alé m disso, como você é santi icado pelo Meu amor; saiba
que você nã o tem nada de si mesmo e que tudo o que o torna agradá vel
para mim vem de mim. Ocupe-se com estes pensamentos durante a
quarta parte da Missa.
“Por ú ltimo, ouça que você s foram unidos6para mim da maneira
mais sublime; e saiba que, como 'todo o poder me foi dado no cé u e na
terra', nã o posso ser impedido de exaltar você , como um rei exalta sua
rainha ao trono e, conseqü entemente, a torna um objeto de
respeito. Alegre-se, entã o, em re letir sobre essas coisas, e nã o se
queixe de novo por ter sido privado de ouvir a missa ”.

CAPITULO 7
Com que con iança devemos recorrer a Deus em todas as nossas necessidades
e tentaçõ es!

UMA

S GERTRUDE se preparou para a Comunhã o na Festa dos Santos


Inocentes, ela se viu distraı́da por uma multidã o de pensamentos
importunos; e tendo implorado a ajuda divina, Nosso Senhor, em Sua
extrema misericó rdia, falou assim a ela: “Se algué m, quando cercado
pela tentaçã o, se lança sobre Minha proteçã o com irme esperança, ele é
do nú mero daqueles de quem posso diga: 'Um é Minha pomba,
escolhido entre mil; ele perfurou Meu Divino Coraçã o com um relance
de Seus olhos '; de forma que se eu pensasse que nã o poderia ajudá -lo,
Meu Coraçã o icaria tã o desolado que nem mesmo todas as alegrias do
Cé u poderiam aliviar minha dor, porque ele faz parte do Meu Corpo, e
está unido à Minha Divindade; e sou sempre o advogado dos Meus
eleitos, cheio de compaixã o por todas as suas necessidades ”.
"Senhor", respondeu Santa Gertrudes, "como é que Teu Corpo
imaculado, no qual nunca teve nenhuma contradiçã o, permite-te
compadecer-te de nossas muitas fraquezas?" Ele respondeu: “Você
pode facilmente se convencer disso. Nã o disse Meu apó stolo: 'Convinha
que em todas as coisas fosse semelhante a seus irmã os, para poder
socorrer també m os que sã o tentados?' ”7Ele acrescentou: “Este olho
da Minha amada, que perfura o Meu coraçã o, é a con iança que ela deve
ter em Mim - que eu sei, que posso e que estou disposto a ajudá -la
ielmente em todas as suas misé rias; e esta con iança tem tanto poder
sobre a Minha bondade que nã o é possı́vel que Eu a abandone. ” “Mas,
Senhor”, respondeu o Santo, “visto que a con iança é um dom tã o
grande que ningué m pode recebê -la a menos que Tu a concedes, que
mé rito tê m aqueles que sã o privados dela?” Ele respondeu: “Cada um
pode pelo menos superar sua timidez, em algum grau, pelo testemunho
das Escrituras, e dizer, se nã o com todo o seu coraçã o, pelo menos com
os lá bios: 'Se eu fosse lançado no inferno, Tu, ó Senhor, me livrará '; e
novamente: 'Embora ele deva me matar, eu con iarei nele.' ”

CAPITULO 8
Da e icá cia das oraçõ es pelos outros.

Tendo OD revelado a uma certa pessoa que Ele desejava libertar um


grande nú mero de almas do Purgató rio, por meio das oraçõ es da
comunidade, uma oraçã o geral foi ordenada para todos os
religiosos. Enquanto Santa Gertrudes orava num domingo da maneira
prescrita, ela implorou com mais fervor a Deus pela libertaçã o dessas
almas e, sendo arrebatada em espı́rito, ela viu o Senhor, como um rei no
meio de Sua gló ria, ocupado em distribuir recompensas e
presentes; nã o sendo capaz de discernir exatamente por que Ele estava
tã o ocupado, ela disse-lhe: “Amado Senhor, desde que me izeste saber
no ano passado, na festa de Santa Maria Madalena, nã o obstante a
minha indignidade, que Tua pró pria bondade obrigou-Te a conceder
misericó rdia à queles que se aproximaram de Teus sagrados Pé s, visto
que tantas pessoas se prostraram diante de Ti neste dia, para imitar o
pecador bendito, Teu amante iel, dê -me a graça adicional de descobrir
aos olhos de minha alma o signi icado de Teu emprego atual, que eu
nã o entendo. ”
Nosso Senhor respondeu: “Estou distribuindo presentes.” A Santa
sabia por estas palavras que Deus aplicava à s almas as oraçõ es da
comunidade, as quais, no entanto, nã o lhe era permitida ver, embora
estivessem presentes. Entã o Ele acrescentou: “Você nã o Me oferecerá
seus mé ritos para aumentar Meus dons?” Com essas palavras, ela icou
profundamente comovida; e nã o sabendo que a comunidade estava
ocupada da mesma forma, ela se encheu de gratidã o, acreditando que
algo especial era exigido dela, e respondeu com alegria: “Sim,
Senhor; Ofereço-te nã o apenas meus mé ritos, que nada valem, mas
ofereço-te todo o bem feito por minha comunidade, que atribuo
inteiramente à uniã o que tenho, por Tua graça, com minhas irmã s; e eu
ofereço a Ti de minha livre vontade, e muito alegremente, para a honra
de Tua majestade e Tua perfeiçã o in inita. ” E o Senhor graciosamente
aceitou sua oferta.
Entã o, Nosso Senhor apareceu como se estivesse desprendido e,
cobrindo a Si mesmo e a Gertrudes com uma nuvem de luz, inclinou-se
amorosamente para ela e disse: “Ouça-me apenas e prove a doçura da
Minha graça”. Ela respondeu: "Meu Deus e meu Amado, por que me
privaste do favor que concedeste a outra, de revelar-lhe com tanta
clareza a misericó rdia que desejas exercer para com aquelas almas,
desde que me descobriste tantos segredos? ” Ele respondeu: "Re lita
freqü entemente que Minhas graças geralmente servem para humilhá -
lo, porque você se considera indigno delas, e que você acredita que elas
só sã o dadas a você como um servo que está empenhado no trabalho
diá rio, e como se você pudesse nã o seja iel a Mim sem esta
recompensa; e, portanto, você prefere outros que Me servem ielmente,
sem esses favores. E desejei torná -lo semelhante a eles nisto, de modo
que, embora você nã o soubesse mais do que os outros da misericó rdia
que desejava exercer para com aquelas almas, você trabalhou por eles
com igual zelo; portanto, você nã o está privado de uma vantagem que
tanto valoriza para os outros. ”
Com essas palavras, ela icou extremamente comovida, maravilhada
com a incrı́vel e inefá vel condescendê ncia da bondade divina para com
ela, ao derramar sobre ela tantos favores; e, ao dar menos, agir assim
para preservar aquela humildade que é o fundamento de todas as
graças. Ela aprendeu entã o como Deus providencia, para o bem
daqueles a quem ama, a concessã o ou a recusa de Seus favores; e sendo
arrebatada por um excesso de adoraçã o e gratidã o pela in inita
bondade de Deus para com ela, ela se lançou, desmaiando em total
auto-aniquilaçã o, nos braços de seu Senhor, dizendo-lhe: “Meu Deus,
meu fraqueza é incapaz de suportar o excesso de Tua misericó rdia.
” Entã o o Senhor moderou nela um pouco o poder avassalador deste
grande pensamento e, quando ela recuperou suas forças, disse-Lhe:
“Visto que Tua sabedoria inexplicá vel e incompreensı́vel deseja que eu
seja privado deste dom, eu o desejarei nã o mais. Mas, meu Deus, nã o
ouvirá s minhas oraçõ es por meus amigos? ” Entã o, Nosso Senhor
con irmou Suas palavras como um juramento, respondendo: "Eu, pelo
Meu poder divino." O Santo respondeu: “Ouve, pois, o meu pedido pela
pessoa tantas vezes recomendada para as minhas oraçõ es”. E
imediatamente ela viu um riacho, puro como cristal, luindo do Coraçã o
do Senhor para a pessoa por quem ela orou. Ela entã o perguntou:
"Senhor, o que essa pessoa vai ganhar com isso, já que ela nã o vê isso
luindo para ela?" Ele respondeu: “Quando um mé dico dá soro a um
doente, os presentes nã o o veem recuperar a saú de no momento em
que toma o remé dio, nem o pró prio doente se sente curado; no entanto,
o mé dico conhece bem o valor do remé dio e como ele será salutar para
o paciente ”. “Mas por que, Senhor, nã o a livras dos há bitos mal
regulados e de outros defeitos dos quais tantas vezes Te implorei que a
livrasse?” Ele respondeu: “Diz-se de mim, quando eu estava na Minha
infâ ncia, que 'progredi em sabedoria e em idade e na graça de Deus e
dos homens'. Assim, essa pessoa avançará de hora em hora,
transformando seus defeitos em virtudes; e eu a livrarei de todas as
enfermidades da natureza, para que depois disso ela possua a bem-
aventurança que preparei para o homem, a quem exaltei acima dos
anjos ”.
Como a hora em que o Santo deveria se comunicar se aproximava,
ela orou a Deus para que mostrasse misericó rdia a todos os pecadores
que pudessem ser salvos (pois ela nã o ousava orar pelos ré probos),
pois naquele dia Ele havia libertado almas do Purgató rio pelo mé rito
das oraçõ es que foram feitas. Mas Nosso Senhor reprovou sua timidez,
dizendo: “Nã o é a oferta de Meu Corpo imaculado e Meu precioso
Sangue mé rito su iciente para trazer de volta até mesmo aqueles que
andam nos caminhos da perdiçã o para uma vida melhor?” Entã o
Gertrudes, re letindo sobre a in inita bondade testemunhada por estas
palavras, exclamou: “Visto que Tua caridade inefá vel condescenderá
com minhas oraçõ es indignas, eu Te suplico, unindo minhas petiçõ es ao
amor e desejo de todas as criaturas, para que Te agrade para libertar
tantas pessoas que vivem em pecado e estã o em perigo, como Tu
libertaste almas do Purgató rio, sem preferir aqueles que sã o meus
amigos por consanguinidade ou proximidade. ” Nosso Senhor aceitou
esta petiçã o graciosamente e certi icou sua aceitaçã o a ela. "Eu gostaria
de saber mais, ó Senhor", ela continuou, "o que devo acrescentar a essas
oraçõ es para torná -las ainda mais e icazes?" Entã o, como ela nã o
recebeu resposta, ela continuou: "Senhor, temo que minha in idelidade
nã o mereça uma resposta a esta pergunta, porque Tu, que vê s o coraçã o
de todos, sabes que nã o cumprirei a Tua ordem." Entã o Nosso Senhor,
voltando-se para ela com um semblante cheio de doçura, respondeu:
“Só a con iança pode obter facilmente todas as coisas, mas se a sua
devoçã o o incita a acrescentar algo mais, diga o Salmo Laudate
Dominum, omnes gentes trezentos e sessenta e cinco vezes, a im de
suprir aqueles louvores que os homens falham em oferecer a Mim. ”

CAPITULO 9
Dos admirá veis efeitos da Comunhã o, e que nã o devemos nos abster
levianamente, mesmo por nossa indignidade. *

O
NA Festa de Sã o Matias8Gertrude resolveu, por muitas razõ es, se abster
da Sagrada Comunhã o. Mas como sua mente estava ocupada com Deus
e ela mesma durante a primeira missa, Nosso Senhor se apresentou a
ela, com as marcas de afeto que um amigo pode manifestar a seu
amigo. No entanto, como a Santa estava acostumada a tais favores, ela
desejou ainda mais, e desejou passar inteiramente para o seu Amado,
para que pudesse ser totalmente unida a Ele e consumida no fogo do
Seu amor. Mas como ela nã o pô de obter isso, ela começou a se ocupar
com os louvores divinos, que era um de seus exercı́cios
ordiná rios. Primeiro, ela glori icou a bondade e misericó rdia da sempre
adorá vel Trindade por todas as graças que luı́ram de seu profundo
abismo para a salvaçã o de todos os eleitos; em segundo lugar, ela
agradeceu por todos os favores que foram concedidos à augusta Mã e de
Deus; em terceiro lugar, por todas as graças infundidas na sagrada
Humanidade de Jesus Cristo; implorando a todos os santos em geral, e
a cada um em particular, que oferecessem individualmente em
sacrifı́cio à refulgente e sempre pacı́ ica Trindade, em satisfaçã o por
sua negligê ncia, todas as disposiçõ es e zelo com que foram adornados
no dia de sua elevaçã o à gló ria , e a consumaçã o de sua perfeiçã o e de
sua recompensa eterna. Para este propó sito, ela recitou trê s vezes o
Salmo Laudate Dominum : primeiro, em honra de todos os Santos; em
segundo lugar, em honra da Santı́ssima Virgem; e em terceiro lugar, em
honra do Filho de Deus.
Nosso Senhor entã o disse a ela: “Como você recompensará Meus
Santos, que izeram tais ofertas a Mim por você , já que você pretende
omitir sua oferta usual de açã o de graças por eles?” O Santo nã o
respondeu. Na oblaçã o da Hó stia, ela desejava muito saber que
oferenda de louvor eterno ela poderia fazer a Deus Pai. “Se você se
preparar para se aproximar do sacramento vivi icante de Meu Corpo e
Sangue hoje”, disse Nosso Senhor, “você obterá este triplo favor que
desejou durante a Missa, ou seja, para desfrutar da doçura do Meu
amor, e para une-se a Mim pelo poder de Minha Divindade, assim como
o ouro se une à prata, e assim possuirá um amá lgama precioso, que será
digno de oferecer ao eterno louvor de Deus Pai, e absolver-se da
gratidã o que você devo a todos os santos. ”
Essas palavras acenderam nela um desejo tã o ardente de comunhã o
que, mesmo que tivesse que forçar o caminho por meio de espadas
desembainhadas, teria parecido pouco para ela. Depois, quando ela
recebeu o Corpo do Senhor, ao fazer seu agradecimento, este Amante
dos homens disse-lhe assim: “Você resolveu por sua pró pria vontade
servir-me hoje com os outros com tijolos, palha e restolho, mas eu
escolhi colocá -lo entre aqueles que sã o reabastecidos com as delı́cias da
Minha mesa real. ”
No mesmo dia, outra pessoa se absteve da comunhã o sem qualquer
motivo razoá vel. Ela disse ao seu Senhor: "Misericordioso Deus, por que
permitiste que ela fosse assim tentada?" "O que posso fazer por ela",
respondeu Ele, "visto que ela pró pria cobriu os olhos com o vé u de sua
indignidade que nã o pode ver a ternura do Meu Coraçã o paterno?"

CAPITULO 10
A indulgê ncia que Nosso Senhor concedeu a Santa Gertrudes. Seu desejo
ardente de se conformar em todas as coisas com a Vontade de Deus.

UMA

S THE Saint soube que uma indulgê ncia de muitos anos foi publicada na
condiçã o de ofertas habituais, ela disse, de todo o coraçã o: “Senhor, se
eu fosse rica, daria de boa vontade uma grande soma de ouro e prata,
que por este meio Posso ser absolvido por essas indulgê ncias para o
louvor e gló ria de Teu nome. ” A isso o Senhor respondeu
amorosamente, dizendo: “Eu te concedo, pela Minha autoridade, a
remissã o completa de todos os teus pecados e negligê ncias”; e no
mesmo momento ela viu sua alma sem mancha, e tã o branca como a
neve.
Mas algum tempo depois, entrando em si mesma e encontrando sua
alma ainda adornada com a mesma pureza, ela temeu que o que tinha
visto antes tivesse sido uma ilusã o, pois parecia impossı́vel que nã o
tivesse sido em algum grau manchado pelas negligê ncias e falhas em
que sua fraqueza a fez cair com tanta freqü ê ncia. Mas o Senhor
consolou sua a liçã o com estas palavras: “Você pensa que possuo menos
poder do que tenho concedido à s Minhas criaturas? Se eu dei ao sol
material tal virtude que se uma vestimenta descolorida for exposta aos
seus raios ela recuperará sua brancura anterior e até mesmo se tornará
mais brilhante do que antes, quanto mais eu, que sou o Criador do sol,
posso dirigir Meus olhares sobre um pecador, removem todas as suas
manchas, puri icando-o, pelo fogo do Meu amor, de todos os pontos? ”
Em outra ocasiã o, ela estava tã o desanimada por sua indignidade e
fraqueza, que parecia nã o ter poder para louvar a Deus, nem para
saborear a doçura da contemplaçã o. Mas o Senhor, por um puro efeito
de Sua misericó rdia, restaurou sua coragem, comunicando-lhe a
santı́ssima conversa de Jesus Cristo, que todos os seus desejos foram
satisfeitos, e ela parecia ser apresentada ao Rei dos reis, sua Esposa ,
com a mesma beleza que Ester foi apresentada a Assuero. Como ela
parecia tã o adornada, o Salvador, em amorosa condescendê ncia,
dirigiu-se a ela assim: "O que tu desejas, ó rainha?" “Suplico e imploro-
Te, Senhor”, respondeu ela, “de todo o coraçã o, para que Tua adorá vel e
Divina Vontade se cumpra em mim, de acordo com Tua boa
vontade”. Nosso Senhor entã o nomeou vá rias pessoas que se
recomendaram à s suas oraçõ es e perguntou o que ela desejava para
cada uma individualmente. "Senhor", respondeu ela, "só peço que a Tua
mais pacı́ ica Vontade seja perfeitamente realizada neles." Nosso
Senhor perguntou mais: "E o que você deseja que eu faça por
você ?" “Nã o tenho outra alegria”, respondeu ela, “do que desejar que
Tua Vontade amá vel e pacı́ ica seja sempre realizada em mim e em
todas as criaturas; e estou pronto, para este im, a oferecer cada
membro do meu corpo para ser exposto, um apó s o outro, ao mais
agudo sofrimento ”. Deus, que lhe concedeu a graça de falar estas
palavras, recompensou-a por elas depois, dizendo-lhe: “Visto que
desejaste com tanto ardor ver os desı́gnios de Minha Vontade
executados, eu te recompensarei com esta recompensa, que tu deve
parecer tã o agradá vel aos Meus olhos como se você nunca tivesse
violado Minha Vontade, mesmo nas questõ es mais insigni icantes. ”

CAPITULO 11
Como a alma pode buscar a Deus e se trans igurar Nele de quatro maneiras.

HILE a Antifona In lectulo meo9foi cantada, em que as palavras quem


diligit anima mea se repetem quatro vezes, ela re letiu sobre quatro
maneiras diferentes pelas quais a alma iel pode buscar a Deus.
Pelas primeiras palavras, “A noite busquei Aquele a quem ama a
minha alma”, ela compreendeu a primeira maneira de buscar a Deus,
pelos louvores e bê nçã os que Lhe sã o oferecidos no sagrado leito da
contemplaçã o. Por isso as palavras: “Eu o busquei e nã o o encontrei”,
seguem imediatamente, porque enquanto a alma está aprisionada na
carne, ela nã o pode louvar a Deus perfeitamente.
Ela entendeu a segunda maneira de buscar a Deus nas palavras:
“Subirei e percorrerei a cidade; nas ruas e nas calçadas buscarei aquele
a quem ama a minha alma”; porque as vá rias açõ es de graças que a
alma rende a Deus por todos os dons com que Ele enriquece suas
criaturas sã o expressas pelas palavras, “as ruas e os caminhos”. E como
nã o podemos louvar a Deus neste mundo como Ele deve ser louvado
por todos os Seus dons, as palavras: “Busquei-O, mas nã o o encontrei”,
sã o acrescentadas.
Por estas palavras, “O vigia me encontrou”, ela entendeu a justiça e
misericó rdia de Deus, que fazem a alma entrar em si mesma, e entã o
comparar sua indignidade com os benefı́cios que ela recebeu de
Deus; de modo que ela começa por sua tristeza e arrependimento por
suas faltas para buscar Sua misericó rdia, dizendo: “Viste aquele a quem
minha alma ama?” E assim, como ela nã o tem fé em seus pró prios
mé ritos, ela se volta com humilde con iança para a misericó rdia divina,
e pelo fervor de suas oraçõ es, e a inspiraçã o da graça, ela inalmente
encontra Aquele a quem a alma iel busca.
Concluı́da esta Antı́fona, sentiu o coraçã o profundamente comovido
por toda a doçura com que a Divina misericó rdia o havia enchido
durante este tempo, e por muitas outras graças que seria impossı́vel
descrever, de modo que até mesmo suas forças fı́sicas lhe
faltaram. Entã o ela disse a Deus: “Parece-me que agora posso
verdadeiramente dizer a Ti: 'Eis, meu amado Senhor, nã o apenas o
ı́ntimo da minha alma, mas todas as partes do meu corpo se movem em
direçã o a Ti!' ”-“ Sei e sinto perfeitamente ”, respondeu Nosso Senhor,“
porque essas graças luı́ram de Mim e voltaram para Mim. Mas, quanto
a você , que está preso nas cadeias da mortalidade, você nunca poderá
entender toda a doçura recı́proca que Minha Divindade sente por você .
” Ele acrescentou: “Saiba, poré m, que este movimento de graça te
glori ica, como Meu Corpo foi glori icado no Monte Thabor na presença
de Meus trê s amados discı́pulos; para que eu possa dizer de você , na
doçura da Minha caridade: 'Esta é a minha ilha amada, em quem me
comprazo.' Pois é propriedade desta graça comunicar ao corpo, bem
como à mente, uma gló ria e um brilho maravilhosos. ”

CAPITULO 12
Reparaçã o pela queda de uma hó stia, que se temia ter sido consagrada.

eu
ACONTECEU um dia que, na preparaçã o para a missa, uma hó stia caiu
de algum rebanho e todos icaram em dú vida se ela havia sido
consagrada ou nã o. O Santo recorreu a Deus; e sabendo que a hó stia
nã o havia sido consagrada, ela se alegrou muito por nenhuma
irreverê ncia ter sido cometida. Ainda assim, como todo o seu cuidado
era promover a gló ria de Deus, ela disse a Ele: “Embora Tua in inita
bondade nã o tenha permitido que Tu recebesses tã o grande ultraje
neste lugar e no Sacramento do Altar - nã o obstante, ó Senhor do
Universo, porque foste tratado com igual indignidade e irreverê ncia,
nã o só pelos Teus inimigos, os pagã os e os judeus, mas, ai, até pelos
Teus mais ié is amigos, que redimiste pelo preço do Teu Preciosı́ssimo
Sangue, e, choro ao dizê -lo, à s vezes até mesmo por sacerdotes e
religiosos, nã o vou tornar conhecido que esta hó stia nã o foi consagrada,
a im de que Tu nã o seja privado da satisfaçã o que será oferecida a Ti.
” Entã o ela acrescentou: “O Senhor meu Deus, faze-me saber qual é a
satisfaçã o mais agradá vel para Ti por cada ofensa que é cometida
contra Ti, porque tentarei cumpri-la por amor à Tua honra e gló ria,
mesmo se eu consumir minha toda a força em fazê -lo. ” Nosso Senhor
entã o deu a conhecer a ela que aceitaria a recitaçã o da Oraçã o do
Senhor duzentas e vinte e cinco vezes, em honra de Seus Membros
sagrados; e de tantos atos de caridade para com seu pró ximo, em açã o
de graças a Ele que disse: “Enquanto você fez isso a um destes meus
irmã os menores, você o fez a mim” ( Matt . 25), e em uniã o com aquele
amor que fez com que Deus se izesse Homem por nó s; e que ela
deveria se privar tantas vezes dos prazeres vã os e inú teis da terra, e
ocupar-se apenas com o zelo e os verdadeiros prazeres da Divindade.
Oh, quã o grande e inefá vel é a misericó rdia e bondade de nosso
Deus mais amoroso, que aceita e recompensa como ofertas pelo que
deverı́amos merecer o mais justo castigo se omitimos!

CAPITULO 13
Do valor e e icá cia da Con issã o. Como devemos vencer as di iculdades que
sentimos ao nos aproximarmos do Sacramento da Penitê ncia.

ELE SENHOR, que é sempre zeloso da salvaçã o dos Seus eleitos, à s


vezes faz a coisa mais insigni icante parecer cheia de di iculdade, para o
aumento de nosso mé rito. Foi com essa intençã o que Ele uma vez
permitiu que Santa Gertrudes sentisse o dever da Con issã o tã o pesado
que parecia que ela nunca poderia cumprir esse dever por suas
pró prias forças. Ela, portanto, se dirigiu a Deus com todo o fervor que
podia comandar, e Ele respondeu: “Por que você nã o me con ia esta
con issã o, com tanta con iança que nã o precisa mais pensar em seu
pró prio trabalho ou esforço para torná -la perfeita?” Ela respondeu:
“Tenho plena e superabundante con iança em Tua misericó rdia e
onipotê ncia, meu amoroso Senhor; mas acho que é justo, visto que Te
ofendi com meus pecados, que devo dar-Te alguns sinais de minha
correçã o, re letindo sobre as desordens de minha vida na amargura de
minha alma. ” Nosso Senhor havia manifestado a ela que seu desı́gnio
Lhe agradava, Gertrude se ocupou inteiramente com as lembranças de
seus pecados, e parecia-lhe que sua pele estava rasgada em vá rios
lugares, e como se tivesse sido perfurada por espinhos; entã o, tendo
descoberto suas feridas e misé rias ao Pai das Misericó rdias como a um
Mé dico sá bio e iel, Ele se inclinou amorosamente para ela e disse: “Eu
aquecerei o banho da Con issã o para você s com Meu sopro Divino; e
quando você se banhar nele, de acordo com Meu desejo, você aparecerá
sem mancha diante de Mim. ” Entã o ela se preparou com toda pressa
para mergulhar neste banho, dizendo: “Senhor, eu renuncio a todo
sentimento de respeito humano por amor a Ti; e mesmo se eu for
obrigado a publicar meus crimes para o mundo inteiro, estou pronto
para fazê -lo. ” Entã o Nosso Senhor a cobriu com Seu manto e permitiu
que ela repousasse em Seu seio até que este banho fosse preparado
para ela.
Quando chegou a hora da con issã o, ela foi mais provada do que
antes. “Senhor”, ela exclamou, “visto que o Teu amor paternal sabe tudo
o que eu sofro com esta Con issã o, por que Tu me permites ser
oprimida por esta provaçã o?” “Aqueles que tomam banho”, respondeu
nosso Senhor, “estã o acostumados a se esfregar, a im de se puri icarem
mais completamente: assim, a angú stia de espı́rito que sofrem servirá
para puri icá -los”. Entã o, tendo percebido do lado direito de seu esposo
um banho que exalava um espesso vapor, ela viu do outro lado um
delicioso jardim, esmaltado de lores, das quais as mais notá veis eram
rosas sem espinhos, de rara beleza, que emitiam um odor doce e
vivi icante, atraindo todos os que se aproximavam dali. O Senhor fez
sinal para que ela entrasse neste jardim, se ela o preferisse ao banho
que ela tanto temia. “Nã o isto, ó Senhor”, ela exclamou, “mas o banho
que aqueceste para mim por Teu sopro Divino”. Nosso Senhor
respondeu: “Que isso sirva para a sua salvaçã o eterna!”
Gertrudes compreendeu entã o que o jardim representava as
alegrias interiores da graça divina, que expõ e a alma iel ao vento sul da
caridade, rega-o com o orvalho amoroso das lá grimas e num instante o
torna mais branco que a neve, assegurando-o nã o só de um perdã o
geral de todas as suas faltas, mas mesmo de um novo aumento de
mé rito. Mas ela duvidou que Deus nã o se agradasse melhor que por
amor a Ele ela tivesse escolhido o que era doloroso e recusado o que
era consolador. Entã o, tendo-se retirado para orar apó s sua con issã o,
ela sentiu uma ajuda muito poderosa de Deus neste exercı́cio, de modo
que o que Ele antes havia feito tã o doloroso para ela agora parecia leve
e fá cil. Deve-se observar aqui que a alma é puri icada da mancha do
pecado principalmente de duas maneiras: primeiro, pela amargura da
penitê ncia, que é representada sob a igura de um banho; e em segundo
lugar, pelo doce abraço do amor Divino, que é representado pelo
jardim. Antes da Con issã o, a Santa se ocupou em contemplar a Ferida
da Mã o Esquerda, para que depois desse banho pudesse descansar nela
até que pudesse cumprir a penitê ncia ordenada pelo sacerdote. Mas
como era tal que ela foi obrigada a adiá -lo por algum tempo, ela icou
extremamente a lita por nã o poder conversar familiar e livremente com
seu iel e amá vel esposo até que pagasse sua dı́vida. Por isso, durante a
Missa, enquanto o sacerdote imolava a Hó stia Sagrada, que apaga
verdadeira e e icazmente todos os pecados dos homens, ela ofereceu a
Deus açõ es de graças por tudo o que Ele fez por ela no banho de
penitê ncia e na satisfaçã o pelas suas faltas. . Este o Pai Eterno a aceitou
e recebeu em Seu seio, onde ela soube que “este Oriente do alto” a havia
visitado na plenitude da misericó rdia e da verdade.

CAPITULO 14
Os diferentes efeitos da caridade sã o explicados pela comparaçã o de uma
á rvore coberta de folhas, lores e frutos.

NO dia seguinte, enquanto a Santa ouvia a missa, foi dominada pelo


cansaço; mas o som do sino a despertou, e ela viu Jesus Cristo, seu
Senhor e Rei, segurando uma á rvore em Suas mã os, que parecia ter sido
cortada da raiz, mas que estava coberta com os mais belos frutos, e de
quem as folhas brilhavam como muitas estrelas, lançando raios de
brilho admirá vel; e tendo dado esses frutos aos santos que compunham
Sua corte celestial, eles encontraram nela uma doçura
maravilhosa. Pouco depois, Nosso Senhor plantou esta á rvore no jardim
do seu coraçã o, para que ela pudesse torná -la mais frutı́fera no cultivo,
para que pudesse repousar sob ela e ali se refrescar. Tendo recebido
este depó sito, ela começou a rezar por uma pessoa que a perseguia há
pouco, pedindo, para aumentar sua fecundidade, para que ela pudesse
sofrer novamente o que ela já havia sofrido, para atrair mais graça
abundante sobre esta pessoa. Nesse momento, ela avistou uma lor, de
uma cor belı́ssima, brotar no topo da á rvore, que prometia transformar-
se em fruto se ela executasse sua boa intençã o. Esta á rvore era o
sı́mbolo da caridade, que produz nã o apenas os frutos abundantes das
boas obras, mas també m as lores da boa vontade e as folhas brilhantes
dos desejos sagrados. Portanto, os cidadã os do Cé u se regozijam muito
quando os homens condescendem com seus irmã os e se esforçam com
todas as suas forças para consolá -los em suas necessidades. No
momento da elevaçã o da Hó stia, Nosso Senhor adornou a Santa com as
vá rias graças que lhe tinha comunicado no dia anterior.
No mesmo dia, ao meio-dia, nosso Senhor apareceu a ela sob a
forma de um belo jovem, e pediu-lhe para colher nozes para Ele da
á rvore antes mencionada; e para isso Ele ergueu a á rvore, para que ela
se colocasse nos galhos. "Mas, meu doce Senhor,"10ela respondeu: "Por
que você me pede para fazer aquilo que está muito alé m da fraqueza de
minha virtude e meu sexo, e que Tua condescendê ncia prefere inclinar-
te a fazer por mim?" “De maneira nenhuma”, respondeu Ele; “Nã o
deveria a esposa agir com mais liberdade em sua pró pria casa, entre
seus amigos e domé sticas, do que um noivo respeitoso que só entra
ocasionalmente para visitá -la? Mas se ela conceder alguma coisa à
timidez de seu noivo enquanto ele estiver com ela, ele nã o deixará de
ter a mesma consideraçã o por ela quando ela o visitar ”. Com isso ela
entendeu que desculpas irrazoá veis as pessoas dã o quando dizem: “Se
Deus quiser que eu faça isso ou aquilo, Ele me dará a graça necessá ria
para fazê -lo”; ao passo que é justo que os homens dobrem sua vontade
inteiramente à vontade de Deus, e nunca busquem sua pró pria
conveniê ncia em qualquer ocasiã o, e entã o eles desfrutarã o daqui em
diante uma recompensa eterna.
Como Gertrude agora desejava presentear seu Divino Esposo com
as nozes que Ele havia pedido, Ele subiu na á rvore e sentou-se perto
dela, ordenando-lhe que as descascasse e preparasse para comer,
ensinando-a com esta pará bola que nã o é su iciente para que
superemos nossa aversã o de fazer o bem aos nossos inimigos, se
també m nã o procurarmos fazê -lo de maneira perfeita. Assim, ele se
dignou a ensiná -la, ordenando-lhe que puxasse e preparasse aquelas
nozes, que deverı́amos fazer o bem aos nossos perseguidores; e é por
isso que nozes, cuja casca é dura e amarga, se misturaram com o fruto
macio e delicioso desta á rvore, para que pudé ssemos compreender que
a caridade para com os nossos inimigos deve ser temperada com a
doçura da graça divina, que torna os homens prontos para suportar a
pró pria morte por Jesus Cristo.

CAPITULO 15
Como as a liçõ es unem a alma a Jesus Cristo; e do efeito de uma excomunhã o
injusta.

HILE a missa, Salve, Sancte Parens ,11foi dito em honra da Mã e de Deus,
sendo o ú ltimo dia em que se permitiu a celebraçã o do Santo Sacrifı́cio,
por conta de um interdito, Santa Gertrudes dirigiu-se a Deus assim:
“Como nos consolará s, amá vel Senhor, em nossa a liçã o atual? " Ele
respondeu: “Aumentarei Minhas alegrias em você ; pois, assim como o
cô njuge se diverte mais familiarmente com a noiva na aposentadoria
de sua casa do que em pú blico, terei o Meu prazer em seu retiro. Meu
amor aumentará em você , assim como um fogo que está fechado arde
com grande força; e o deleite que encontrarei em você , e o amor que
você terá por Mim, será como um oceano reprimido, que parece
aumentar pelos impedimentos colocados ao seu progresso, até que
inalmente irrompe impetuosamente. ” “Mas por quanto tempo esse
interdito vai continuar?” perguntou o Santo. O Senhor respondeu: “Os
favores que prometo a você durarã o enquanto durarem”. Ela
respondeu: “Parece uma degradaçã o para os grandes da Terra revelar
seus segredos aos que estã o abaixo deles; nã o é , entã o, indigno de Tua
Majestade, que é s o Rei dos reis, revelar os segredos de Tua Divina
Providê ncia a mim, que sou a vergonha e a repreensã o de todas as
criaturas? E por isso, sem dú vida, que Tu nã o me fazes saber quando
este interdito terminará , embora Tu sabes o im de todas as coisas
antes que elas tenham começado. ” “Nã o é assim”, respondeu o
Senhor; “Eu escondo o segredo de você para a promoçã o de seu bem-
estar espiritual; pois, se à s vezes te admito nos Meus segredos na
contemplaçã o, excluo-te deles també m para preservar a tua humildade,
para que, ao receber esta graça, possas saber o que é s em Mim; e por
ser privado dele, você pode saber o que você é de si mesmo. ”
No Ofertó rio da Missa, Recordare, Virgo Maria ,12ao se repetir as
palavras ut loquaris pro nobis bona [“falar boas coisas por nó s”], a Santa
elevou o coraçã o à Mã e de toda a graça, e o Senhor lhe disse: “Mesmo
que nã o haja quem fale boas coisas para você , já estou preparado para
favorecê -lo. ” Mas, enquanto Gertrudes re letia sobre a multidã o de
suas pró prias faltas e as de alguns outros, ela tinha dú vidas se estava
totalmente reconciliada com Deus; mas Ele disse a ela ternamente:
“Minha bondade natural me obriga a ter consideraçã o por aqueles
entre você s que sã o os mais perfeitos; e como todos estã o rodeados
pela Minha Divindade, as perfeiçõ es escondem a imperfeiçã o. ” “O
Senhor generoso!” perguntou Gertrude, "como podes dar graças tã o
cheias de consolo a algué m tã o indigno de recebê -las?" Ele respondeu:
“Meu amor me compele”. "Onde, entã o", ela perguntou, "estã o as
manchas que contraı́ ultimamente por minha impaciê ncia, e que
manifestei com minhas palavras?" “O fogo do Meu amor”, respondeu
Ele, “os consumiu inteiramente; pois apago todas as manchas que
encontro nas almas que visito por Minha graça e amorosa graça. ”
“O Deus de misericó rdia!” continuou Gertrude, "visto que tantas
vezes ajudaste a minha misé ria com Tuas graças, desejo saber se
minhas faltas, como minha impaciê ncia tardia e outras semelhantes,
serã o puri icadas em minha alma antes ou depois de minha
morte?" Entã o, como Nosso Senhor amorosamente fez como se Ele nã o
a ouvisse, ela acrescentou: “Se a Tua justiça assim o exigisse, eu
livremente e de bom grado desceria até o Inferno, para oferecer uma
satisfaçã o mais condigna a Ti. Mas se é mais glorioso para Tua bondade
e misericó rdia naturais consumir minhas imperfeiçõ es pelo fogo de Teu
amor, arriscarei Te implorar para que este mesmo amor possa apagar
todas as manchas de minha alma, e torná -la mais pura do que eu
poderia merecer . ” E isso pareceu agradá vel a Nosso Senhor em sua
bondade e ternura.
No dia seguinte, enquanto se celebrava a missa pelo povo da
paró quia, ela disse a Deus no momento da comunhã o: “Nã o te
compadies de nó s, carı́ssimo Pai, por estarmos privados, por causa
destes bens, deste bem precioso, o alimento sagrado do corpo e do
sangue? ” “Como posso sentir mais?” respondeu o Senhor; "Se eu
conduzir minha esposa a um banquete, e perceber, antes de ela entrar,
que seu traje está desarrumado, nã o a puxarei de lado para um lugar
retirado e o arranjarei com minhas pró prias mã os, para que possa
apresentá -la com honra ? ” “Mas, meu Deus,” ela perguntou, “como eles
podem ter esta graça que sofrem este mal atravé s de nó s?” Ele
respondeu: “Nã o pense neles; Vou resolver este assunto com eles. ”
Entã o, na oblaçã o da Hó stia, ao oferecê -la ao Senhor para Seu
eterno louvor e bem-estar de sua comunidade, o Senhor A recebeu nela,
comunicando-lhe sua vivi icante doçura e dizendo: “Eu os alimentarei
com este alimento divino. ” “Nã o queres te comunicar, meu Deus, a toda
a comunidade?” ela perguntou. “Nã o”, respondeu Ele: “apenas para
aqueles que desejam comunicar-se, ou desejam comunicar-se; mas para
o resto que pertence à comunidade, eles terã o a vantagem de se
sentirem excitados para compartilhar deste alimento celestial, assim
como as pessoas que nã o pensam em comer sã o atraı́das pelo odor de
alguma comida e começam a desejar comer disso. ”
Na festa da Assunçã o, ela ouviu Nosso Senhor dizer, na elevaçã o da
Hó stia: “Vou me imolar a Deus, meu Pai, pelos meus membros”. Ela
disse: “Amado Senhor, permitir-nos-á s, que nos separamos de Ti pelo
aná tema daqueles que querem tirar nossos bens, para nos unirmos a
eles?” O Senhor respondeu: “Se algué m pudesse tirar de você a uniã o
ı́ntima pela qual você está unido a Mim, entã o, de fato, você estaria
separado de Mim. Mas, quanto à excomunhã o que é in ligida a você , ela
nã o causará mais impressã o em você do que uma faca cega faria sobre
uma á rvore, que nã o poderia penetrar, e na melhor das hipó teses
poderia apenas marcar ligeiramente. ” Ela respondeu: “Meu Senhor e
meu Deus, que é s a verdade infalı́vel, izeste-me conhecer, embora
indigno de tal revelaçã o, que aumentarias Tuas consolaçõ es em nó s e
redobrará s Teu amor; e ainda há alguns entre nó s que reclamam que
sua caridade está esfriando. ” “Eu contenho todo o bem em mim
mesmo”, respondeu Nosso Senhor; “E distribuo a cada um na estaçã o o
que precisam”.

CAPITULO 16
Uma visã o na qual Santa Gertrudes viu Nosso Senhor comunicando [dando a
Comunhã o à s] irmã s.

Domingo de NA em que caiu a festa de Sã o Lourenço e a da dedicaçã o


da igreja do mosteiro,13a Santa, tendo começado a rezar durante a
primeira Missa por algumas pessoas que se tinham recomendado à s
suas oraçõ es, percebeu uma videira verde que saiu do trono de Deus e
desceu à terra; e por sua folhagem, como por degraus, podia-se subir
de baixo para cima. Ela entendeu que esta escada mı́stica era um
sı́mbolo de fé , pela qual os eleitos sobem ao Cé u; e ao ver muitas de
suas irmã s reunidas no topo desta videira, do lado esquerdo do trono
de Deus, entre as quais Jesus Cristo se encontrava com extremo prazer
na presença de Seu Pai celestial, se aproximava a hora em que a
comunidade teria comunicados, se nã o tivessem sido impedidos pela
interdiçã o; e ela desejou ardentemente que ela e os presentes
recebessem este sacramento vivi icante, que, por um segredo
incompreensı́vel da bondade divina, dá vida aos homens, apesar de
todos os obstá culos que se opõ em a ele.
Depois disso, ela viu Jesus Cristo segurando uma Hó stia em Suas
mã os, que Ele mergulhou no Coraçã o de Deus Seu Pai; e quando Ele o
puxou para fora, parecia como se estivesse tingido de vermelhã o ou
tingido de sangue. Gertrude icou maravilhada com isso, e maravilhada
com o que isso poderia signi icar, ainda mais porque o vermelho é um
sı́mbolo da Paixã o, e o Pai Eterno nunca poderia ter quaisquer marcas
de sofrimento. Estando totalmente absorta em meditar sobre o que viu,
ela se esqueceu de pedir a realizaçã o de seus desejos; mas logo depois
ela soube, sem perceber de que maneira isso foi efetuado, que o Senhor
havia escolhido para o lugar de Sua morada e repouso os coraçõ es e
almas de todas as suas irmã s que ela tinha visto reunidas ao redor do
trono de Deus. A Santa lembrou-se agora de uma pessoa que se
recomendou à s suas oraçõ es antes da Missa com grande humildade e
devoçã o, e rogou a Deus que lhe concedesse uma parte destes
favores. Ele respondeu que ningué m poderia ascender assim, a menos
que fosse elevada pela con iança, da qual a pessoa por quem ela orava
pouco tinha. O Santo respondeu: “Parece-me, meu Deus, que a falta de
con iança nesta pessoa procede de uma humildade, sobre a qual
geralmente derramaste as tuas graças mais abundantes”. Nosso Senhor
respondeu: “Eu descerei agora e me comunicarei a esta alma e a todos
os que estã o no vale da auto-humilhaçã o”. Entã o o Filho de Deus, o
Senhor e Mestre de todas as virtudes, apareceu descendo
repentinamente por uma escada carmesim, e logo depois ela O viu no
altar da igreja do mosteiro, vestido com vestes pontifı́cias, e carregando
em Suas mã os um pyx como aqueles em que só as Hó stias consagradas
sã o reservadas, e Ele permaneceu sentado diante do sacerdote até o
Prefá cio da Missa.
Uma multidã o de Anjos O atendeu, de modo que toda a igreja do
lado norte, que estava ao lado direito do Senhor, parecia cheia deles; e
esses espı́ritos abençoados testemunharam uma alegria especial em
visitar o lugar onde seus concidadã os,14os religiosos do mosteiro,
tantas vezes dirigiram suas oraçõ es a Deus. A esquerda - isto é , no lado
sul - havia apenas um coro de anjos, que era seguido por um coro de
apó stolos, um coro de má rtires, um coro de confessores e um coro de
virgens, cada um à parte. Gertrudes, contemplando tã o augusta
assemblé ia, e re letindo que, segundo as Escrituras, é a pureza que nos
aproxima de Deus, percebida entre o Senhor e o coro das virgens mais
de perto do que os outros santos de sua esposa, pela doçura
arrebatadora de Suas carı́cias e intimidade.
Ela també m percebeu raios de uma luz mais brilhante, que foram
lançados sobre alguns membros da comunidade, como se nã o houvesse
obstá culos entre eles e Deus; embora eles estivessem materialmente
separados da igreja onde ela viu esta misteriosa apariçã o. E embora a
Santa se enchesse de extrema alegria durante este arrebatamento, ela
ainda era solı́cita para com as irmã s, e disse a Deus: “Senhor, visto que
te agradou derramar sobre mim as dá divas gratuitas de Teu amor
inefá vel, que murchará Você dá para aqueles que estã o engajados em
deveres exteriores? " Ele respondeu: “Vou ungi-los com bá lsamo,
embora pareçam estar dormindo”. Gertrude icou surpresa com isso e
nã o conseguia entender como aqueles que nã o se entregavam a uma
vida contemplativa deveriam receber, nã o obstante, a mesma
recompensa que aqueles que se devotavam inteiramente a ela. Entã o,
quando ela começou a examinar a qualidade desses perfumes dos quais
o Filho de Deus havia falado, comparando-os a bá lsamos e unguentos
aromá ticos - uma pequena porçã o dos quais será su iciente para
preservar o corpo da corrupçã o, se ele está embalsamado antes ou
depois do sono da morte, de modo que recebeu esta unçã o - ela foi
iluminada em sua di iculdade por esta comparaçã o familiar: a saber,
que quando algué m participa de um alimento, cada membro de seu
corpo é fortalecido e nutrido por ele, embora a boca só percebe a
delicadeza da comida; entã o, quando Deus, por um excesso de Sua
misericó rdia, concede qualquer graça especial a um de Seus eleitos,
todos participam dela; e principalmente aqueles que estã o unidos pelos
laços de comunidade, onde recebem um aumento e superabundâ ncia
de mé rito; e só icam excluı́dos deste benefı́cio aqueles que se excluem
por ciú me ou má vontade.
Entã o, enquanto a Gloria in excelsis era entoada, o Soberano
Pontı́ ice, Nosso Senhor Jesus Cristo, soprou em direçã o ao Cé u, para
honra de Seu Pai Eterno, um sopro como uma chama ardente. E com as
palavras: Et in terra pax hominibus bonae voluntatis , Ele soprou sobre
os presentes uma luz branca, brilhante como a neve. Com as palavras
do Prefá cio, Sursum corda , o Filho de Deus ressuscitou, e por uma
atraçã o e icaz atraiu para Si todos os que estavam presentes. Em
seguida, voltando-se para o leste, auxiliado por um nú mero in inito de
anjos, Ele se levantou e ergueu as mã os, e ofereceu a Deus seu Pai, por
meio das palavras do Prefá cio, as oraçõ es dos ié is. Depois disso,
quando eles começaram o Agnus Dei , o Senhor se levantou diante do
altar, com todo o poder de Sua majestade; comunicando-se, no
segundo Agnus Dei , por um efeito impenetrá vel de Sua sabedoria, à s
almas de todos os assistentes; no terceiro Agnus Dei , retirando-se para
dentro de si mesmo, Ele ofereceu em Sua pró pria pessoa a Deus, Seu
Pai, todas as suas oraçõ es e desejos. Entã o, derramando novamente Sua
doçura, Ele deu o pax com Seus pró prios lá bios abençoados a todos os
santos que estavam presentes; honrando com especial favor a
companhia das virgens, oferecendo este beijo tanto em seus lá bios
como em seus coraçõ es.
Depois, derramando as torrentes do seu amor, doou-se à
comunidade com as seguintes palavras: “Sou todo teu; portanto, que
cada um desfrute de Mim como deseja. ” Entã o Gertrudes respondeu ao
seu esposo: “Senhor, agora que estou farta de Tuas delı́cias incrı́veis,
parece-me que ainda está s muito longe de mim quando repousas no
altar; portanto, para a bê nçã o desta missa, une minha alma a Ti para
que eu possa sentir que está ligada a Ti. ” Isso o Senhor realizou de tal
maneira que ela soube por sua uniã o com seu esposo como seu desejo
Lhe agradava.

CAPITULO 17
Como devemos nos preparar para receber o Corpo de Jesus Cristo. Diferentes
exercı́cios de piedade que Santa Gertrudes praticava para com este augusto
sacramento.

§1. As Três Pessoas da Santíssima Trindade comunicam a sua


santidade a Gertrudes, para que ela se comunique [receba a
Comunhão] mais dignamente.
UMA

S A Santa se aproximou para receber o Sacramento da Vida - quando


cantaram o Sanctus, sanctus, sanctus , na Antiphon Gaude et laetare - ela
se prostrou no chã o, orando a Deus de todo o coraçã o para que Ele
tivesse o prazer de prepará -la para participar dignamente do Alimento
celestial, para Sua gló ria e para o benefı́cio de outros. O Filho de Deus
entã o se humilhou rapidamente em relaçã o a ela e, abraçando sua alma
enquanto cantavam a palavra sanctus , disse: “A palavra sanctus , que se
refere à Minha Pessoa, Eu te darei toda a santidade de Minha Divindade
e Minha Humanidade, como uma preparaçã o digna para abordar estes
Santos Misté rios. ”
No domingo seguinte, ao devolver graças a Deus por este favor, ela
viu o Filho de Deus, mais belo do que um milhã o de anjos,
apresentando-a condescendentemente a Deus seu Pai, vestido com a
sua pró pria santidade, que Ele havia dado a ela. O Pai Eterno teve tanto
prazer na alma, por amor de Seu ú nico Filho, que, nã o podendo deixar
de derramar Suas graças, concedeu-lhe, com o Espı́rito Santo, a
santidade que lhes é atribuı́da como sagrada ( sanctus ), para que ela
possa obter a bê nçã o plena de toda a santidade, tanto daquela que
emana da Onipotê ncia como daquela que emana da sabedoria e do
amor.
§2. Santa Gertrudes, preparando-se para a Comunhão, recebe
a garantia de Jesus Cristo de que Ele nunca se afastará dela, e que
por ela fará o bem aos outros.
Em outra ocasiã o, quando estava prestes a se comunicar, e percebeu
que muitos se abstinham por motivos diversos, ela se alegrou de
espı́rito e, comovida no coraçã o, disse a Deus: “Eu Te dou graças, meu
amor amoroso e meu Deus, que Tu me colocaste neste estado feliz, em
que nem minhas relaçõ es nem qualquer consideraçã o terrena podem
me impedir de aproximar-me de Teu banquete de delı́cias. ” Ao que o
Senhor respondeu, com Sua doçura de costume: “Visto que declarastes
que nã o há nada que vos possa separar de mim, saibam també m que
nã o há nada no cé u ou na terra, nem julgamento, nem justiça, que possa
me impedir de fazer tudo o bem para você que Meu Divino Coraçã o
deseja. ”
Em outra ocasiã o, quando Gertrudes se aproximava da Sagrada
Comunhã o e desejava ardentemente que o Senhor a preparasse
dignamente, este doce e amoroso Senhor a consolou com estas ternas
palavras: “Eu me vestirei de tua pessoa, para que eu possa estender
minha mã o15fazer o bem aos pecadores sem ser ferido pelos espinhos
que os cercam. E també m vou vesti-lo de Mim mesmo, para que todos
aqueles de quem você se lembra antes de Mim, e mesmo aqueles que
sã o naturalmente como você , possam ser elevados a esta alta
dignidade, para que Eu possa fazer o bem a eles de acordo com Minha
real generosidade. ”
§3. Santa Gertrudes é apresentada à Santíssima Trindade por
Jesus Cristo. Ela obtém alegria para os bem-aventurados, graça
para os justos, arrependimento para os pecadores e libertação
para as almas do purgatório.
Um dia, quando a Santa estava prestes a comer o Alimento Divino,
ela re letiu sobre as graças que Deus lhe concedeu e lembrou esta
passagem do Livro dos Reis: “Quem sou eu e qual é a famı́lia de meu
pai?” (Cf. 1 Reis 18,18) Depois, afastando-se destas ú ltimas palavras,
como pró prias daqueles que sempre serviram a Deus, considerou-se
uma plantinha, que, pela sua proximidade ao fogo inextinguı́vel do
Divino Coraçã o, recebeu seus benefı́cios; e ela viu que ela o
desperdiçou, hora apó s hora, por suas faltas e negligê ncias; e que,
sendo reduzida a cinzas, ela parecia um carvã o queimado, que tinha
sido jogado fora. Portanto, ela se voltou para Jesus Cristo, seu amado
Mediador, e rogou-Lhe que a apresentasse a Deus Pai e a reconciliasse
com Ele; e pareceu-lhe que seu querido Esposo a atraiu a Ele pelo vapor
do amor que brotou das Chagas de Seu Coraçã o, e que Ele a lavou na
á gua que dele luı́a, regando-a com o Sangue doador de vida. que estava
contido nele; de modo que, aos poucos, ela foi transformada de carvã o
queimado em uma á rvore coberta de verdura, cujos ramos se dividiam
em trê s partes, como um lı́rio; e o Filho de Deus, tendo-o tomado,
apresentou-o, com sinais de honra e açã o de graças, à Santı́ssima e
adorá vel Trindade; que o recebeu com tanto amor e ternura, que o Pai
Eterno, por Sua onipotê ncia, anexou aos ramos mais altos desta á rvore
todos os frutos que a alma da Santa poderia ter produzido se ela tivesse
correspondido como deveria com os comandos do Onipotê ncia
Divina. O Filho de Deus e o Espı́rito Santo, da mesma maneira,
colocaram em duas outras partes de seus ramos os frutos da sabedoria
e da caridade.
Tendo, portanto, recebido o Corpo de Jesus Cristo, e contemplando
seu Senhor, como já dissemos, sob a semelhança de uma á rvore, cuja
raiz estava na Chaga do Lado de Jesus Cristo, pareceu-lhe que uma
espé cie de seiva , formada pela Humanidade e Divindade de Jesus
Cristo, saiu de uma maneira milagrosa desta Chaga sagrada, e passou
pelo caule desta á rvore em todos os seus ramos, produzindo lores e
frutos, que pareciam brilhantes, em comparaçã o com o seu vida, como o
ouro excede o cristal em seu brilho. Isso deu prazer e uma alegria
indescritı́vel, nã o só à Santı́ssima Trindade, mas també m a todos os
bem-aventurados, que, erguendo-se por respeito, apresentaram-lhe
individualmente os seus mé ritos, em forma de coroas, e suspenderam-
nos nos ramos. desta á rvore, para Seu louvor e gló ria que lhes deu uma
nova alegria por seus mé ritos.
Entã o Gertrudes orou a Deus para que todos os que estavam no cé u,
na terra ou no purgató rio, e que deveriam sem dú vida ter colhido
alguns frutos de suas obras, se ela nã o tivesse sido tã o negligente,
pudessem pelo menos receber alguma vantagem das graças que Sua
divina bondade havia se comunicado a ela. Entã o essas boas obras, que
eram representadas pelo fruto da á rvore, começaram a destilar um
licor de extraordiná ria virtude: uma parte da qual evaporou no alto,
enchendo o bem-aventurado de alegria; outra parte desceu para o
Purgató rio, aliviando as dores dos que ali sofreram; e parte,
espalhando-se sobre a terra, aumentando a doçura da graça nos justos,
e nos pecadores a amargura da penitê ncia.
§4. Como é vantajoso ouvir a Santa Missa.
Enquanto Gertrudes oferecia a adorá vel Hó stia ao Pai Eterno, no
momento da Elevaçã o, em satisfaçã o por todos os seus pecados, e em
reparaçã o por todas as suas negligê ncias, viu a sua alma apresentada
perante a Divina Majestade com os mesmos sentimentos de alegria em
que Jesus Cristo - que é o esplendor e imagem viva da gló ria de Seu Pai,
e o Cordeiro de Deus imaculado - ofereceu-se no altar a Deus Seu Pai
para a salvaçã o de todo o mundo, porque o Pai Eterno a considerou
puri icada de todo pecado pelo mé rito da Humanidade imaculada de
Jesus Cristo, e enriquecida e adornada com todas as virtudes que,
atravé s da mesma Santa Humanidade, adornaram a gloriosa Divindade
de Seu Filho.
A medida que a Santa agradecia a Deus por estas graças com todas
as suas forças, e gostava de considerar os extraordiná rios favores que
Ele lhe tinha comunicado, foi-lhe revelado que sempre que algué m
assiste à missa com devoçã o, ocupado com Deus, que oferece Ele
mesmo neste Sacramento para todo o mundo, ele é verdadeiramente
considerado pelo Pai Eterno com a ternura merecida pela Hó stia
sagrada que Lhe é oferecida, e torna-se semelhante a quem, saindo de
um lugar escuro para o meio da luz do sol, encontra-se subitamente
rodeado de claridade. Entã o o Santo fez esta pergunta a Deus: “Aquele
que cai no pecado nã o é privado deste bem, assim como aquele que vai
da luz à s trevas perde a graça de contemplar a luz?” O Senhor
respondeu: “Nã o; pois embora o pecador oculte Minha luz divina dele,
ainda assim Minha bondade nã o deixará de lhe deixar algum raio para
guiá -lo à vida eterna; e essa luz aumentará sempre que ele ouvir missa
com devoçã o ou se aproximar dos sacramentos ”.
§5. As vestes espirituais com as quais a alma deve ser
adornada para receber a Santa Comunhão, e da necessidade de
santi icar a língua que tocou o Corpo de Cristo.
Como Gertrude estava prestes a se comunicar, e temia nã o estar
su icientemente preparada, embora o momento estivesse pró ximo, ela
se dirigiu a sua alma assim: "Eis que tua Esposa te chama: e como podes
ousar aparecer perante Ele sem estar adornada como tu deveria ser?
” Entã o, re letindo cada vez mais sobre sua indignidade - descon iando
inteiramente de si mesma e colocando sua con iança somente na
misericó rdia de Deus - ela disse a si mesma: "Por que adiar mais, já que,
mesmo tendo mil anos, nã o poderia me preparar como eu deveria, nã o
tendo nada que pudesse servir para promover as disposiçõ es corretas
em mim. Mas vou encontrá -lo com con iança e humildade; e quando
meu Senhor me vir de longe, Ele pode me preencher com toda a graça e
as atraçõ es com que Seu amor deseja que eu apareça diante Dele ”. E,
aproximando-se dos Santos Misté rios nesta disposiçã o, ela pensava
apenas em suas negligê ncias e imperfeiçõ es. Mas, à medida que
avançava, percebeu Nosso Senhor olhando para ela com um olhar de
compaixã o, ou melhor, de amor, e enviando-lhe a Sua inocê ncia, para
que nela se adornasse como com uma veste branca. Ele deu a ela Sua
humildade, que o fez conversar com criaturas tã o totalmente indignas
de tal favor; e isso serviu para ela como uma tú nica roxa. Ele a encheu
daquela esperança que a faria suspirar ardentemente por Aquele que
ela amava, para acrescentar a beleza do verde à s suas vestes. Ele a
presenteou com Seu amor pelas almas por uma vestimenta de ouro. Ele
a inspirou com a alegria que leva no coraçã o dos ié is por uma coroa de
pedras preciosas. E, por ú ltimo, deu-lhe como sandá lias aquela
con iança com que se dignou repousar sobre a inconstâ ncia da
fragilidade humana e que O fez encontrar as Suas delı́cias com os ilhos
dos homens. E assim ela era digna de ser apresentada a Deus.
Depois da comunhã o, enquanto se recolhia interiormente, Nosso
Senhor apareceu-lhe sob a forma de pelicano, como costuma ser
representado, furando-lhe o coraçã o com o bico. Maravilhada com isso,
ela disse: “Meu Senhor, o que me ensinaste com esta visã o?” - “Desejo”,
respondeu Nosso Senhor, “que consideres o excesso de amor que Me
obriga a apresentar-te tal presente ; pois depois de ter Me dado assim,
preferiria permanecer morto no sepulcro, por assim dizer, do que
privar uma alma que Me ama do fruto da Minha
generosidade. Considere també m que, assim como o sangue que sai do
coraçã o do pelicano dá vida aos seus pequeninos, també m a alma que
alimento com o Alimento Divino que apresento recebe uma vida que
nunca terá im. ”
Em outra ocasiã o, depois da Comunhã o, enquanto a Santa re letia
com que circunspecçã o deveria usar aquela lı́ngua, homenageando
sobretudo os membros do corpo por ser a depositá ria dos mais
preciosos misté rios de Jesus Cristo, foi instruı́da por esta comparaçã o:
Que aquele que nã o se absté m do discurso vã o, ocioso ou pecaminoso, e
que se aproxima da Sagrada Comunhã o sem arrependimento, é como
uma pessoa que reú ne um monte de pedras na soleira de sua porta para
atirar em seu convidado quando ele vier visitá -lo, ou bate cruelmente
na cabeça dele com uma vara.
§6. Do amor inefável de Deus no Sacramento do Altar.
Gertrudes, tendo um dia ouvido um sermã o sobre a justiça de Deus,
icou tã o dominada pelo medo que nã o ousou se aproximar deste
Divino Sacramento; mas Deus, em Sua misericó rdia, reassegurou-a com
estas palavras: “Se nã o olhares com os olhos da tua alma para as muitas
misericó rdias que tenho concedido a ti, abre pelo menos os olhos do
teu corpo e vê -Me diante de ti encerrado em um pequeno pyx, e sabe
com certeza que o rigor da Minha justiça é , mesmo assim, limitado
dentro dos limites da misericó rdia que exerço para com os homens na
dispensaçã o deste Sacramento. ”
Numa ocasiã o semelhante, a doçura da bondade divina instou-a a
uma participaçã o nos Santos Misté rios, com estas palavras:
“Considerai quã o pequeno é o espaço que vos dou a Minha Divindade
inteira e a Minha Humanidade. Compare o tamanho16disto com o
tamanho do corpo humano, e julga entã o a grandeza do Meu amor. Pois
como o corpo humano ultrapassa Meu Corpo em tamanho, ou seja, a
quantidade de espé cies de pã o sob o qual Meu Corpo está contido,
entã o Minha misericó rdia e caridade neste Sacramento me reduzem a
este estado, que a alma que Me ama está de alguma forma acima de
Mim, visto que o corpo humano é maior do que Meu Corpo. ”
Num outro dia, ao receber a Hó stia salvadora, Nosso Senhor dirigiu-
se a ela assim: “Considere que o sacerdote que te dá a Hó stia a toca
diretamente com as mã os, e que as vestes com que está vestido, por
respeito, nã o alcance alé m de seus braços; isto é para lhe ensinar que
embora eu considere com prazer tudo o que é feito para Minha gló ria,
como oraçõ es, jejuns, vigı́lias e outras obras de piedade, ainda (aqueles
que tê m pouca compreensã o nã o compreenderã o) a con iança com que
o os eleitos recorrem a Mim em sua fraqueza e Me tocam com muito
mais sensibilidade; da mesma forma que você vê , Minha carne está
mais perto das mã os do sacerdote do que suas vestes. ”
§7. Essa humildade é mais agradável a Deus do que
a devoção sensata ; e quanto Nosso Senhor deseja doar- se à alma
que O ama.
Certa vez, quando Gertrudes ouviu o sino que a chamava para a
comunhã o, e o canto já havia começado, por sentir que nã o estava
su icientemente preparada, disse a Nosso Senhor: “Eis, Senhor, tu vens
a mim; mas por que nã o me concedeste a graça da devoçã o, para que eu
pudesse me apresentar diante de Ti com uma preparaçã o melhor? ” Ele
respondeu: “O noivo admira a beleza pessoal de sua noiva mais do que
seus ornamentos; e da mesma maneira, pre iro a virtude da humildade
à graça da devoçã o. ”
Certa vez, quando muitos religiosos se abstiveram da comunhã o,
Gertrude voltou graças a Deus, dizendo: “Agradeço-te, Senhor, por teres
me convidado para o teu sagrado banquete”. Ao que Nosso Senhor
respondeu, com palavras cheias de doçura e ternura: “Saiba que te
desejei de todo o coraçã o”. "Ai, Senhor!" ela exclamou: "que gló ria pode
advir à Tua Divindade quando toco este Sacramento com meus lá bios
indignos?" Ele respondeu: “Assim como o amor que temos por um
amigo nos faz ter prazer em ouvi-lo falar, també m a caridade que tenho
pelos meus eleitos faz-me à s vezes encontrar satisfaçã o naquilo em que
eles nã o a encontram”.
Certa vez, como a Santa desejava ardentemente ver a Hó stia sagrada
como o sacerdote comunicava ao povo, mas nã o o podia por causa da
multidã o, ouviu Nosso Senhor dizer-lhe: “Um doce segredo haverá
entre nó s, que é desconhecido para aqueles que se ausentam de
mim; mas tu, se quiseres, aproxime-te; e tu nã o verá s, mas provar e
provar, a doçura deste maná escondido. ”
§8. Que não é errado se abster da Comunhão por reverência.
Quando Gertrude viu uma de suas irmã s se aproximando da
Sagrada Eucaristia com emoçõ es extremas de medo, ela se afastou dela
com um sentimento de indignaçã o; mas o Senhor caridosamente a
reprovou com estas palavras: “Nã o sabeis que sou honrada tanto pela
reverê ncia como pelo amor? Mas como a fraqueza humana nã o
consegue combinar as duas coisas em um momento, e como todos sã o
membros de um só corpo, quem tem menos deve receber de quem tem
mais. Por exemplo, quem é mais movido pela doçura do Meu amor, por
exemplo, pense menos no dever de respeito e seja grato que outra
pessoa supre sua de iciê ncia, sendo mais exata ao testemunhar sua
reverê ncia; e que aquele outro deseje obter a alegria e o consolo que
uma alma cheia da unçã o divina possui.
Uma vez també m, enquanto Gertrude orava por uma irmã em
circunstâ ncias semelhantes, Nosso Senhor respondeu: “Gostaria que
Meus eleitos nã o Me considerassem tã o severo, mas sim creiam que
recebo como benefı́cio o menor serviço que eles Me prestam à s suas
pró prias custas. Por exemplo, ela faz um sacrifı́cio a Deus à s suas
pró prias custas que, embora nã o encontre doçura na devoçã o, nunca
omite o serviço a Deus, seja por oraçõ es, prostraçõ es ou outros atos de
devoçã o, ainda esperando, em Sua misericó rdia, que Ele aceitará o
cumprimento desses deveres. ”
§9. Daí que às vezes sentimos menos fervor no momento da
Comunhão do que em qualquer outro momento.
Enquanto Gertrudes rezava por uma pessoa que se queixava de ter
menos devoçã o nos dias em que se comunicava do que nos outros,
Nosso Senhor disse-lhe: “Isto nã o aconteceu por acaso, mas por uma
Providê ncia particular, que inspira sentimentos de devoçã o ao
inesperado vezes, para elevar o coraçã o do homem, que está tã o
escravizado pelo corpo; mas nas festas e na hora da Comunhã o retiro
esta graça, preferindo ocupar os coraçõ es dos Meus eleitos com bons
desejos ou humildade; e isso pode ser mais vantajoso para o bem-estar
deles do que a graça da devoçã o. ”
§10. Deus permite que o justo caia em sua humilhação.
Enquanto o Santo orava por uma pessoa que se abstinha de receber
o Corpo do Senhor, temendo ser motivo de escâ ndalo, Nosso Senhor
deu a conhecer a Sua Vontade por esta comparaçã o: “Como quem lava
as mã os para tirar uma nó doa, remove ao mesmo tempo, nã o apenas o
que viu, mas també m limpa suas mã os perfeitamente, para que os
justos caiam em algumas falhas insigni icantes, para que se tornem
mais agradá veis a Mim por seu arrependimento e humildade; mas há
alguns que contradizem Meus desı́gnios nisto, negligenciando a beleza
interior que desejo ver depois de sua penitê ncia, pensando no exterior
e no julgamento dos homens, e isso eles fazem, quando se privam da
graça que eles podem receber no Sacramento, pelo medo de
escandalizar aqueles que nã o os consideram su icientemente
preparados. ”
§11. O próprio Jesus Cristo prepara o Santo para a Comunhão.
Quando a Santa estava prestes a receber a Sagrada Comunhã o,
sentiu-se convidada pelo pró prio Jesus Cristo. Pareceu-lhe que estava
no reino celestial e que estava sentada na gló ria perto do Pai Eterno,
para comer com Ele à Sua mesa. Mas como ela considerava que nã o
estava vestida adequadamente nem su icientemente preparada, ela se
esforçou para se retirar. Entã o o Filho de Deus veio até ela e a conduziu
a um lugar reservado para prepará -la para o banquete. E primeiro, Ele
remiu seus pecados lavando suas mã os, oferecendo Sua Paixã o pela
emenda dela. Entã o Ele deu a ela um colar, pulseiras e ané is; e tendo
assim a adornado, Ele desejou que ela andasse discretamente, como
algué m assim adornado deveria fazer, e nã o como uma pessoa tola que,
mesmo quando assim vestida, seria menosprezada do que honrada.
Ela entendeu por essas palavras que eles andam como idiotas que,
depois de curados de seus defeitos, sã o tã o pusilâ nimes como sempre,
porque nã o tê m uma con iança total de que Jesus Cristo suprirá seus
defeitos.
§12. Do valor de comunicar pelas almas do Purgatório.
Um dia, depois da Comunhã o, a Santa ofereceu a Hó stia que acabava
de receber pelas almas do Purgató rio; e percebendo o grande benefı́cio
que obtinham com isso, ela icou pasma, e disse a seu esposo: “Meu
Deus, visto que sou obrigada a declarar para Tua gló ria que Tu me
honra continuamente com Tua presença, ou melhor, que Tu habitas em
minha alma, indigna como eu sou, como é que Tu nã o trabalhaste
atravé s de mim como izeste hoje depois de eu ter recebido Teu
adorá vel Corpo? ” Ele respondeu: “Nã o é fá cil para todos se
aproximarem de um rei que permanece sempre em seu palá cio; mas
quando seu amor por sua rainha o induz a seguir em frente, entã o todos
podem ver, por meio de sua bondade, sua pompa e
magni icê ncia; assim, quando, movido pelo Meu amor, visito um dos
ié is (que está livre de pecado mortal) no Sacramento do Altar, todos os
que estã o no Cé u, na Terra ou no Purgató rio recebem imensos
benefı́cios. ”
Noutra ocasiã o, a Santa humilhou-se profundamente antes de se
aproximar da Sagrada Comunhã o, em honra e imitaçã o da humildade
do Filho de Deus ao descer ao limbo. Entã o, unindo-se a Sua descida, ela
se viu descendo até as profundezas do Purgató rio; e humilhando-se
ainda mais, ela ouviu Nosso Senhor dizer-lhe: “Eu te atrairei a Mim no
Sacramento do Altar de tal maneira que você atrairá atrá s de você todos
aqueles que perceberem o cheiro do seu desejo”.
Tendo recebido esta promessa de Nosso Senhor, ela desejou apó s a
Comunhã o que Ele liberasse tantas almas quanto ela pudesse dividir a
Hó stia em partı́culas em sua boca; mas enquanto ela tentava fazer isso,
Ele disse-lhe: “Para que saibas que a Minha misericó rdia está acima de
todas as minhas obras e que o abismo da Minha misericó rdia nã o pode
se esgotar, estou pronto a conceder-te, pelo mé rito deste sacramento
que dá vida, mais do que você ousa me pedir. ”

CAPITULO 18
A devoçã o de Santa Gertrudes à Mã e de Deus. Ela é ensinada a invocá -la como
o lı́rio branco da adorá vel Trindade e a rosa vermelha do cé u.

UMA

S GERTRUDE ofereceu-se a Deus durante sua oraçã o e perguntou como


Ele desejava que ela se ocupasse naquele momento. Ele respondeu:
“Honra minha Mã e, que está sentada ao Meu lado, e empenha-te em
louvá -la”. Em seguida, a Santa começou a saudar a Rainha dos Cé us,
recitando a estrofe, Paradisus voluptas , etc. - “Paraı́so das delı́cias”; e
exaltando-a porque ela era a morada cheia de delı́cias que a sabedoria
impenetrá vel de Deus, que conhece todas as criaturas perfeitamente,
escolheu para Sua morada; e rogou-lhe que obtivesse para ela um
coraçã o adornado com tantas virtudes que Deus pudesse ter prazer em
habitar nele. Em seguida, a Santı́ssima Virgem se inclinou para ela e
plantou em seu coraçã o as diferentes lores da virtude - a rosa da
caridade, o lı́rio da castidade, a violeta da humildade, a lexibilidade da
obediê ncia e muitos outros dons, mostrando assim com que presteza
ajuda aqueles que invocar sua ajuda.
Entã o a Santa se dirigiu a ela: Gaude, morum disciplina - “Alegrai-
vos, modelo de disciplina”; elogiando-a por ter ordenado seus desejos,
julgamento e afeto com mais cuidado e circunspecçã o do que o resto da
humanidade, e por ter servido ao Senhor, que habitava nela, com tanto
respeito e reverê ncia, que ela nunca Lhe deu a menor ocasiã o de dor em
seus pensamentos, palavras ou açõ es. Tendo rogado que ela obtivesse
també m para ela a mesma graça, pareceu-lhe que a Mã e de Deus lhe
enviava todos os seus afetos sob a forma de jovens virgens,
recomendando a cada uma em particular que unisse suas disposiçõ es
à s de seu cliente, e suprisse por quaisquer defeitos em que ela possa
cair. Por isto també m ela entendeu com que presteza a Virgem
Santı́ssima assiste aqueles que a invocam. Entã o o Santo suplicou a
Nosso Senhor para suprir suas omissõ es na devoçã o a Sua Mã e
Santı́ssima, o que Ele teve o prazer de fazer.
No dia seguinte, enquanto Gertrudes orava, a Mã e de Deus
apareceu-lhe, na presença da sempre adorá vel Trindade, sob a forma de
um lı́rio branco, com trê s folhas, uma em pé e as outras duas
dobradas. Com isso ela entendeu que nã o era sem razã o que a
Santı́ssima Mã e de Deus era chamada de lı́rio branco da Trindade, pois
ela continha em si, com mais plenitude e perfeiçã o do que qualquer
outra criatura, as virtudes da Santı́ssima Trindade, que ela nunca se
maculou com a menor mancha de pecado. A folha vertical do lı́rio
representava a onipotê ncia de Deus Pai, e as duas folhas que se
curvavam, a sabedoria e o amor do Filho e do Espı́rito Santo, de que a
Virgem Santı́ssima se aproxima tanto. Entã o, a Santı́ssima Virgem fez
saber a ela que se algué m a saudar com devoçã o como o lı́rio branco da
Trindade e a rosa vermelha do cé u, ela vai mostrar-lhe como ela
prevalece pela onipotê ncia do Pai, quã o habilidosa ela é em obter a
salvaçã o dos homens pela sabedoria do Filho, e com que grande amor
seu coraçã o está cheio da caridade do Espı́rito Santo. A Santı́ssima
Virgem acrescentou estas palavras: “Aparecerei na hora da morte
à queles que assim me saú dam em tal gló ria, que anteciparã o as
pró prias alegrias do Cé u”. Desde entã o, a Santa saudava
frequentemente a Virgem Santa ou as suas imagens com estas palavras:
“Salve, lı́rio branco da sempre pacı́ ica e gloriosa Trindade! Salve, rosa
refulgente, o deleite do Cé u, de quem o Rei dos Cé us nasceu e por cujo
leite Ele foi alimentado! Alimente nossas almas com as efusõ es de tuas
in luê ncias Divinas. "

CAPITULO 19
Como os louvores oferecidos aos santos podem ser encaminhados a Deus.

UMA

S ST. GERTRUDE costumava referir tudo o que era doce e agradá vel ao
seu Amado quando ouvia ou lia os louvores da Santı́ssima Virgem ou
dos Santos, e icou mais comovida com isso, elevou seu coraçã o a Deus,
para que pensasse mais Dele do que do Santo cuja memó ria foi
homenageada; e ao ouvir um sermã o na festa da Anunciaçã o, no qual se
falava exclusivamente da Santı́ssima Virgem, e nenhuma mençã o à
Encarnaçã o do Filho de Deus, ela icou tã o entristecida que, ao passar
pelo altar do Santı́ssima Virgem, voltando do sermã o, nã o a saudou com
a devoçã o habitual, mas antes ofereceu a sua saudaçã o a Jesus, o fruto
bendito do seu ventre. Mas depois ela temeu ter desagradado aquela
augusta rainha, até que Nosso Senhor a consolou com estas palavras
amorosas: “Nã o temas, Gertrudes, minha amada; pois embora você
tenha referido a honra e o louvor que normalmente presta à Minha
querida Mã e exclusivamente para Mim, nã o será menos agradá vel para
ela. ”

CAPITULO 20
Como Deus deseja ser procurado pela alma que O ama; e como Ele nos ama
quando sofremos.

NUMA ocasiã o, quando a Santa foi impedida de assistir à s Vé speras, por
alguma enfermidade, ela exclamou: “Senhor, nã o serias mais honrado se
eu estivesse no coro com a comunidade, empenhado na oraçã o e
cumprindo os deveres de minha Regra , do que por estar aqui, passando
meu tempo inutilmente, em conseqü ê ncia desta doença? ” Nosso
Senhor respondeu: “Esteja certo de que o noivo tem mais prazer em
conversar com sua noiva familiarmente em sua casa do que quando a
exibe perante o mundo, adornada com seus mais ricos
ornamentos.” Por essas palavras ela entendeu que a alma aparece em
pú blico, e revestida de todo o seu estado, quando ela se ocupa em boas
obras para a gló ria de Deus; mas que ela repousa em segredo com seu
esposo, quando ela é impedida por qualquer enfermidade de assistir a
esses exercı́cios, pois neste estado ela é privada da satisfaçã o de agir de
acordo com sua pró pria inclinaçã o, e permanece inteiramente
abandonada à Vontade de Deus; e, portanto, é que Deus tem mais
prazer em nó s quando encontramos menos ocasiã o de nos agradar e
glori icar.
CAPITULO 21
O Santo recebe tripla absolviçã o e bê nçã o da Santı́ssima Trindade, pelos
mé ritos de Jesus Cristo.

UMA

S A Santa ouviu a missa um dia com o maior fervor, pareceu-lhe que seu
anjo da guarda a tomou nos braços como se ela fosse uma criança,
no Kyrie Eleison , e a apresentou a Deus Pai, para receber sua bê nçã o ,
dizendo: “Pai Eterno, abençoa Teu ilhinho.” E porque por um tempo Ele
nã o respondeu, como se fosse testemunhar com Seu silê ncio que uma
criatura tã o miserá vel era indigna desse favor, ela começou a entrar em
si mesma, e a considerar sua indignidade e nada com extrema
confusã o. Entã o o Filho de Deus se levantou e deu a ela os mé ritos de
Sua santı́ssima vida para suprir seus defeitos, de modo que ela
apareceu como se vestida com um manto rico e brilhante, e como se
tivesse atingido a idade e força de Jesus. Cristo.
Entã o o Pai Eterno se inclinou amorosamente para ela e deu-lhe Sua
absolviçã o trê s vezes, como um sinal da tripla remissã o de todos os
pecados que ela havia cometido contra Sua onipotê ncia em
pensamento, palavra ou açã o. O Santo ofereceu em açã o de graças a
adorá vel vida de Seu ú nico Filho; e ao mesmo tempo as pedras
preciosas com as quais suas vestes eram adornadas emitiam um
concerto harmonioso para a gló ria eterna de Deus, o que testi icava
quã o agradá vel é para Ele oferecer-Lhe a vida santa e perfeita de Seu
Filho. O mesmo Anjo entã o a apresentou a Deus Filho, dizendo:
“Bendita a tua irmã , ó Rei dos Cé us”; e tendo recebido Dele uma trı́plice
bê nçã o, para apagar todos os pecados que ela havia cometido contra a
Sabedoria Divina, ele entã o a apresentou ao Espı́rito Santo, com estas
palavras: “O amante dos homens, abençoa a tua esposa”; e ela recebeu
Dele també m uma trı́plice bê nçã o, na remissã o de todos os pecados que
ela havia cometido contra a Bondade Divina. Que aqueles que lerem isto
re litam sobre essas trê s bê nçã os no Kyrie Eleison .

CAPITULO 22
Favores concedidos ao Santo durante a recitaçã o do Ofı́cio Divino.

NCE, enquanto a Santa recitava o Ofı́cio Divino com extraordiná rio


fervor, na Festa de uma Santa, cada palavra que pronunciava parecia
disparar como uma lecha de seu coraçã o para o Coraçã o de Jesus,
penetrando-o profundamente e enchendo-o de inefá vel satisfaçã o. De
uma das pontas dessas lechas, raios de luz saı́ram como estrelas, que
pareciam cair sobre todos os santos, mas especialmente sobre aquele
cujo festival era celebrado; da extremidade inferior das lechas, gotas de
orvalho luı́ram, fertilizando as almas dos vivos e refrescando as almas
no Purgató rio.
Como a Santa se esforçou em outra ocasiã o para atribuir alguma
intençã o particular a cada nota e a cada palavra de seu canto, ela foi
muitas vezes prejudicada pela fraqueza da natureza e, por im,
exclamou, com muita tristeza: “Ai, que fruto posso obter de este
exercı́cio, quando estou tã o instá vel? ” Mas Nosso Senhor, que nã o
suportou ver a a liçã o de Sua serva, com Suas pró prias mã os
apresentou-lhe Seu Divino Coraçã o, sob a igura de uma lâ mpada acesa,
dizendo-lhe: “Eis que apresento aos olhos de tua alma Meu amoroso
Coraçã o, que é o ó rgã o da Santı́ssima Trindade, para que possa realizar
tudo o que você mesmo nã o pode realizar, e assim tudo parecerá
perfeito em você aos Meus olhos; pois assim como um servo iel está
sempre pronto para executar as ordens de seu mestre, entã o, de agora
em diante, Meu Coraçã o estará sempre pronto, a qualquer momento,
para reparar seus defeitos e negligê ncias. ”
Gertrudes maravilhou-se e temeu, por causa desta maravilhosa
bondade do seu Senhor, pensando que nã o cabia ao adorá vel Coraçã o,
que é a tesouraria17da Divindade, e fonte fecunda de todo bem, para
permanecer continuamente perto de uma criatura tã o miserá vel, para
suprir seus defeitos, assim como um servo cuida de seu mestre. Mas o
Senhor a consolou e encorajou com esta comparaçã o: “Se você tem
uma voz bela e melodiosa, e tem muito prazer em cantar, nã o se sentirá
descontente se outra pessoa, cuja voz é á spera e desagradá vel, e que
mal consegue pronunciar um som correto, deseja cantar, em vez de
você , e insiste em fazê -lo? Assim, Meu Divino Coraçã o, compreendendo
a inconstâ ncia e a fragilidade humanas, deseja com incrı́vel ardor ser
continuamente convidado, seja por suas palavras, ou pelo menos por
algum outro sinal, a operar e realizar em você o que você mesmo nã o é
capaz de realizar; e como sua onipotê ncia o habilita a agir sem
problemas, e sua sabedoria impenetrá vel o habilita a agir da maneira
mais perfeita, també m sua alegre e amorosa caridade o faz desejar
ardentemente alcançar este im ”.

CAPITULO 23
Da virtude abundante que lui do Coraçã o de Jesus para a alma iel.

OME dias depois, enquanto a Santa re letia sobre este estupendo favor
com singular gratidã o, ela perguntou ansiosamente ao Senhor por
quanto tempo ele seria continuado com ela. Ele respondeu: “Enquanto
você desejar, icaria triste em privá -lo dele”. Ela respondeu: “Mas é
possı́vel que Teu Coraçã o Dei icado esteja suspenso como uma lâ mpada
no meio do meu, que é , infelizmente, tã o indigno de sua presença,
quando ao mesmo tempo tenho a alegria de encontrar em Ti mesmo
este mesmo fonte de todo prazer? ” “E mesmo assim”, respondeu o
Senhor; “Quando você deseja segurar alguma coisa, você estende sua
mã o e a retira novamente depois de segurá -la; assim també m o amor
que tenho por você faz com que Eu estenda Meu Coraçã o para atraı́-lo a
Mim, quando você se distrai com coisas exteriores; e entã o, quando
você se recompõ e, Eu retiro Meu Coraçã o, e você junto com ele, para
que você possa entrar em Mim; e assim eu faço você provar a doçura de
todas as virtudes. ”
Entã o, ao considerar, por um lado, com grande admiraçã o e
gratidã o, a grandeza da caridade que Deus tinha por ela, e, por outro
lado, sua pró pria nulidade e o grande nú mero de suas faltas, ela se
aposentou com profunda autocon iança. o desprezo no vale da
humildade, considerando-se indigna de qualquer graça; e tendo
permanecido ali escondido por algum tempo, Aquele que ama
derramar Seus dons sobre os humildes parecia fazer um tubo de
ouro18saı́am do Seu Coraçã o, que desceu sobre esta alma humilde em
forma de lâ mpada, fazendo um canal atravé s do qual Ele derramou
sobre ela a abundâ ncia de todas as suas maravilhas, de modo que
quando ela se humilhou com a lembrança de suas faltas, Nossa O
Senhor derramou sobre ela de Seu sagrado Coraçã o toda a virtude e
beleza de Sua perfeiçã o divina, que ocultou suas imperfeiçõ es dos
olhos da Bondade Divina. E, alé m disso, se ela desejava qualquer
ornamento novo, ou qualquer uma daquelas coisas que pareciam
atraentes e desejá veis ao coraçã o humano, era comunicado a ela, com
muito prazer e alegria, por este mesmo canal misterioso.
Quando ela experimentou a doçura dessas delı́cias sagradas por
algum tempo, e foi adornada com todas as virtudes - nã o as dela, mas
aquelas que Deus lhe deu - ela ouviu um som mais melodioso, como o
de um doce harpista tocando sua harpa, e estas palavras foram
cantadas a ela: “Vinde, ó Minha, a Mim: entra, ó Minha, em Mim: ica, ó
Minha, Comigo.”19E o pró prio Senhor lhe explicou o signi icado deste
câ ntico, dizendo: “Vem a mim, porque eu te amo e desejo que você
esteja sempre presente diante de mim, como minha esposa amada, e
por isso te chamo; e porque as minhas delı́cias estã o em você , desejo
que você entre em mim. Alé m disso, porque sou o Deus de amor, desejo
que permaneças indissoluvelmente unidos a Mim, assim como o corpo
está unido ao espı́rito, sem o qual nã o pode viver por um momento
”. Este arrebatamento durou uma hora, e a Santa foi atraı́da de maneira
milagrosa para o Coraçã o de Jesus, por este canal sagrado de que
falamos, de modo que se encontrou feliz repousando no seio de seu
Senhor e Esposo. O que ela sentiu, o que viu, o que ouviu, o que provou,
o que aprendeu com as palavras de vida, só ela pode saber, e eles que,
como ela, sã o dignos de serem admitidos nesta sublime uniã o com seu
Esposo Jesus , o verdadeiro amor de sua alma, Quem é Deus, bendito
para sempre. Um homem.

CAPITULO 24
Do sepulcro de Jesus Cristo na alma iel, e como fazer um claustro espiritual no
Corpo e Coraçã o de Jesus.

N BOA sexta-feira, ao fazerem a comemoraçã o do sepultamento de


Nosso Senhor, depois do Ofı́cio, Gertrudes implorou-lhe que se
sepultasse em sua alma e nela permanecesse para sempre. Nosso
Senhor respondeu, com in inita caridade: “Servirei de pedra para fechar
as portas dos vossos sentidos; Colocarei Minhas afeiçõ es lá como
soldados para guardar esta pedra, para defender seu coraçã o contra
todas as afeiçõ es prejudiciais e para trabalhar em você Meu poder
Divino, para Minha gló ria eterna. ”
Entã o, temendo ter julgado severamente uma pessoa por algo que a
vira fazer, disse a Deus: “Senhor, puseste soldados para guardar a
entrada do meu coraçã o; mas, infelizmente, temo que eles tenham se
retirado, visto que julguei meu vizinho tã o duramente. ” “Como podes
reclamar que eles se retiraram”, respondeu Nosso Senhor, “quando
neste momento experimentas a sua ajuda? - pois é um sinal de que
desejas unir-se a Mim quando nã o podem ter prazer no que Me
desagrada”.
Enquanto cantavam a Antı́fona nas Vé speras, Vidi aquam
egredientem - “Eu vi á gua jorrando” - o Senhor disse a Gertrudes: “Eis o
Meu Coraçã o - que seja o teu templo; depois, passe pelas outras partes
do Meu corpo e organize as outras partes do mosteiro onde achar
melhor; pois desejo que Minha sagrada Humanidade seja doravante o
seu claustro ”. “Senhor”, respondeu o Santo, “nã o sei como buscar ou
escolher, porque encontrei tal doçura em Teu Coraçã o, que me dignaste
a dar-me como templo, que nã o posso encontrar nem sossego nem
descanso fora dele - duas coisas que sã o absolutamente necessá rias no
claustro. ” “Se você desejar”, disse o Salvador, “você ainda pode
encontrar essas duas coisas em Meu Coraçã o; pois nã o ouvistes que há
pessoas que nunca saem de minha casa nem para comer ou descansar,
como Sã o Domingos? No entanto, escolha nas outras partes do Meu
Corpo os lugares de que necessita para este mosteiro espiritual. ”
Entã o Gertrudes, obedecendo aos mandamentos de Deus, escolheu
os Pé s do Esposo para seu banheiro [lavabo]; Suas mã os para sua sala
de trabalho; His Mouth para sua sala de recepçã o ou sala do
capı́tulo; Olhos dele para a escola dela, em que ela poderia ler; e seus
ouvidos para seu confessioná rio. Entã o o Senhor lhe ensinou que
sempre que ela cometesse qualquer falta, ela deveria ascender a este
tribunal sagrado pelos cinco graus de humilhaçã o, que sã o expressos
nessas cinco palavras: “Venho a Ti vil, pecadora, pobre, ı́mpia e indigna,
ó Abismo de bondade transbordante, para ser limpo de toda mancha e
puri icado de todo pecado. ”

CAPITULO 25
Da uniã o da alma com Jesus Cristo, e como ela está preparada, pelos mé ritos
dos Santos, para ser uma morada agradá vel para seu Deus.

UMA

S Gertrudes re letiu sobre diferentes instâ ncias de instabilidade, ela se


voltou para Deus e disse: “E meu ú nico bem estar unida a Ti somente,
meu Amado.” O Senhor, inclinando-se para ela e abraçando-a
ternamente, disse: “E é sempre doce para mim estar unido a ti, minha
amada”. Ao dizer essas palavras, todos os santos se levantaram e
ofereceram seus mé ritos perante o trono de Deus por sua alma, para
que se tornasse mais digna de ser Sua morada. Entã o ela soube quã o
rá pido Deus está em se inclinar para a alma que O invoca, e com que
alegria todos os bem-aventurados contribuem com seus mé ritos para
suprir nossa indignidade.
A Santa, entã o, exclamou, no fervor de seus desejos: “Saú do-Te, meu
amado Senhor, embora eu seja apenas uma criatura vil e abjeta.” E ela
recebeu esta resposta da mais doce misericó rdia de Deus: “E eu
també m te saú do, minha amada esposa.” Por isso ela sabia que cada vez
que uma alma diz a Deus: "Meu bem-amado, meu querido Senhor, meu
doce Jesus", ou quaisquer outras palavras que expressem sua ardente
devoçã o, Ele muitas vezes responde a ela de uma maneira que obtenha
para ela um privilé gio especial da graça no cé u, como a gló ria especial
que Sã o Joã o Evangelista obteve na terra, de ser chamado de “o
discı́pulo a quem Jesus amava”.

CAPITULO 26
Do mé rito de uma boa vontade, e instruçõ es sobre algumas palavras do Ofı́cio
Divino.
UMA

A Missa Veni et Ostende ,20 o Senhor apareceu a Santa Gertrudes, cheio


de doçura e graça, exalando um odor sagrado e vivi icante, e
derramando do trono augusto de Sua gló ria as in luê ncias de Seu amor
pela doce festa de sua Natividade.
Entã o, o Santo, tendo orado a Ele para enriquecer todos os que
haviam sido recomendados à s suas oraçõ es com especial graça, disse-
lhe: “Dei a cada um um tubo de ouro puro, do qual tal é a virtude, para
que por ele possam tire tudo o que precisam do Meu sagrado Coraçã o.
” Por este tubo mı́stico ela entendeu aquela boa vontade pela qual os
homens podem adquirir todas as riquezas espirituais que estã o no cé u
e na terra. Por exemplo: se algué m, queimando com o fogo dos desejos
puros e santos, se esforça por dar a Deus tanto agradecimento e louvor
e tantos testemunhos de serviço e idelidade como alguns de Seus
Santos lhe prestaram, a in inita bondade de Deus considera isto boa
vontade como se realmente tivesse sido efetuada. Mas este tubo se
torna mais brilhante do que ouro quando os homens agradecem a Deus
por ter dado a eles uma vontade tã o nobre e elevada, que eles poderiam
ter adquirido vantagens in initamente maiores do que o mundo inteiro
poderia conceder.
Ela sabia, també m, que todas as suas irmã s que cercaram Jesus
Cristo receberam a graça divina por tubos semelhantes. Alguns
pareciam recebê -lo diretamente do Coraçã o de Jesus Cristo, outros de
Suas mã os; mas quanto mais longe de Seu Coraçã o eles atraı́am essas
graças, mais di iculdade eles tinham em obtê -las; ao passo que aqueles
que os extraı́ram de Seu Divino Coraçã o os obtiveram com mais
facilidade, doçura e abundâ ncia. Aqueles que hauriam diretamente de
Seu sagrado Coraçã o representavam aquelas pessoas que se
conformam inteiramente com a Vontade Divina, que desejam acima de
tudo que esta Vontade seja realizada neles, tanto no que diz respeito
aos espirituais como aos temporais. E essas pessoas tocam o Coraçã o
de Deus tã o poderosamente, e o tornam tã o favorá vel a eles no tempo
que Deus determinou, que eles recebam a torrente da doçura Divina
com tanta abundâ ncia e prazer quanto eles se abandonaram
perfeitamente à Sua santa Vontade . Mas aqueles que se esforçaram
para obter suas graças dos outros membros do Corpo de Jesus Cristo,
representam aquelas pessoas que se esforçam para adquirir virtude de
acordo com suas inclinaçõ es naturais; e o medo e a di iculdade que
experimentam sã o proporcionais à extensã o em que con iaram em seu
pró prio julgamento e nã o conseguiram se abandonar à Providê ncia
Divina.
§1. Da maneira mais perfeita de oferecer nossos corações a
Deus.
Como Gertrudes ofereceu seu coraçã o a Deus da seguinte maneira:
“Senhor, eis o meu coraçã o, que está separado de todas as criaturas; Eu
ofereço a Ti gratuitamente, suplicando a Ti que o puri ique nas Aguas
santi icadoras de Teu Lado adorá vel, e o adorne com o Sangue Precioso
de Teu Coraçã o mais doce, e o una a Ti pelos odores da caridade ”-
Nosso Senhor apareceu a ela, e ofereceu seu coraçã o a Seu Pai Eterno,
unido ao Seu, sob a forma de um cá lice, cujas duas partes foram unidas
por cera. O Santo, percebendo isso, disse, com extremo fervor:
“Conceda-me a graça, Senhor amoroso, para que meu coraçã o esteja
sempre diante de Ti como os frascos.21que os prı́ncipes usam, para que
Tu possas limpá -lo, enchê -lo e esvaziá -lo, de acordo com os Teus bons
prazeres, quando e como quiseres. ” Tendo este pedido ouvido
favoravelmente pelo Filho de Deus, Ele disse a Seu Pai: “Pai Eterno! Que
esta alma derrame para Tua gló ria in inita o que a Minha conté m na
Minha Humanidade! ” E a partir daquele momento, sempre que a Santa
oferecia seu coraçã o a Deus, dizendo as palavras acima mencionadas,
parecia-lhe tã o cheio, que se derramava em açõ es de graças e louvores,
aumentando a alegria dos bem-aventurados no cé u e contribuindo para
o adorno dos justos na terra, como se verá a seguir. A partir deste
momento a Santa soube que Deus queria que ela se comprometesse a
escrever o que Ele lhe havia revelado, para que pudesse ser para o
benefı́cio de muitos.
§2. De con iança em Deus e de reparação pelos desprezos que
Lhe são oferecidos.
No Advento, pela resposta Ecce venit ,22 ela sabia que se algué m
formasse em seu coraçã o, com um propó sito irme, um desejo perfeito
de se submeter em todas as coisas à adorá vel Vontade de Deus, tanto
na prosperidade como na adversidade, eles, por Sua graça, renderiam a
mesma honra a Deus. por este pensamento como se eles O coroassem
com um diadema real.
E por estas palavras do Profeta Isaias: “Levanta-te, levanta-
te! levanta-te, ó Jerusalé m ”; ela entendeu a vantagem que a Igreja
Militante recebe da devoçã o dos eleitos. Pois quando uma alma, cheia
de amor, se volta para Deus com todo o seu coraçã o, e com uma vontade
perfeita de reparar, se possı́vel, toda a desonra feita a Jesus Cristo, ela
apazigua Sua ira com sua caridade amorosa, para que Ele seja disposto
a perdoar os pecados do mundo inteiro.
Pelas palavras: “Que bebeste o cá lice da sua ira até o fundo”
(cf. Is. 51:17), pode-se entender como ela evitou a severidade da justiça
divina. Mas, pelas seguintes palavras: “Que bebeste até a ú ltima gota”,
ela sabia que os ré probos tê m como porçã o a borra deste cá lice e nunca
podem obter a redençã o.
§3. De abster-se de palavras inúteis.
Por estas palavras de Isaias, “Nã o fará s os teus pró prios caminhos, e
nã o se achou a tua pró pria vontade para falar uma palavra” ( Is. 58:13),
ela sabia que aquele que regula suas palavras e açõ es pensativamente, e
se absté m até mesmo de aqueles que sã o lı́citos quando nã o sã o
necessá rios, obterã o uma vantagem tripla: primeiro, ele terá um maior
prazer em Deus, de acordo com estas palavras: “Terá s deleite no
Senhor”; em segundo lugar, os pensamentos ruins terã o menos poder
sobre ele, pois está dito: “Eu te erguerei acima dos lugares altos da
terra”; e em terceiro lugar, na eternidade o Filho de Deus comunicará os
mé ritos de Sua santı́ssima vida mais abundantemente a ele do que a
outros, porque por meio dela ele foi vitorioso sobre todas as tentaçõ es e
obteve uma vitó ria gloriosa, como expressam estas palavras: “Eu vai te
alimentar com a herança de Jacó , teu pai. ” ( Is . 58:14).
Deus a tornou conhecido també m por estas palavras: “Eis que o seu
galardã o está com ele” ( Is. 40:10), que o pró prio Nosso Senhor, pelo
Seu amor, é o galardã o dos Seus eleitos; e Ele se insinua em suas almas
com tal doçura, que eles podem verdadeiramente dizer que sã o
recompensados alé m de todos os seus merecimentos. “E sua obra está
diante dele”; isto é , quando nos abandonamos inteiramente à
Providê ncia Divina e buscamos apenas o cumprimento da Vontade de
Deus em todas as coisas, a graça já nos tornou perfeitos aos olhos de
Deus.
Pelas palavras: "Sede santos, ilhos de Israel", Gertrude aprendeu
que aqueles que se arrependem prontamente dos pecados que
cometeram e se colocam com um coraçã o sincero a guardar os
mandamentos de Deus sã o tã o verdadeiramente santi icados e
prontamente curados como o leproso a quem Nosso Senhor disse: “Eu
quero; sê limpo.” Pelas palavras: “Cantai ao Senhor um novo câ ntico”
( Sl 149: 1), ela sabia que ele canta um novo câ ntico que canta com
devoçã o, porque, quando recebeu a graça de Deus para compreender o
que canta , seu canto se torna agradá vel a Deus.
§4. Deus envia a lições para curar nossas almas.
Pelas palavras: “O Espı́rito do Senhor está sobre mim ... Ele me
enviou para curar os contritos de coraçã o” ( Is. 61), ela entendeu que o
Filho de Deus, tendo sido enviado por Seu Pai para curar coraçõ es
contritos, estava acostumado a enviar alguma a liçã o aos Seus eleitos,
mesmo que fosse apenas exterior, a im de curá -los. Mas quando isso
acontece, Ele nem sempre os livra da a liçã o que os tornou contritos,
porque nã o lhes faz mal; pois Ele prefere curar aquilo que poderia
causar-lhes a morte eterna.
Pelas palavras, In splendoribus sanctorum23- “No resplendor dos
santos” ( Salmo 109: 3), ela sabia que a luz da Divindade é tã o grande e
tã o incompreensı́vel, que mesmo que cada Santo que viveu ou que
viverá , desde o tempo de Adã o até o im do mundo, receberam um
conhecimento especial dele, tã o claro, tã o elevado, e tã o extenso
quanto poderia ser dado a qualquer criatura, de modo que ningué m
deveria ser capaz de explicá -lo ao outro, nem de compartilhar seus
conhecimento - mesmo que o nú mero de santos seja mil vezes maior
do que é - a Divindade ainda permaneceria in initamente alé m de sua
concepçã o. Assim, nã o está escrito splendore , mas em splendoribus -
“No resplendor [plural] de Teus santos; desde o ventre, antes da estrela
da manhã , eu te gerei. ”
§5. Como devemos carregar nossa cruz após Jesus Cristo, e
como a misericórdia de Deus castiga os eleitos.
No abutre Antiphon Qui24- “Se algué m quer vir apó s mim, tome a
sua cruz e siga-me” (cf. Mt 16) —Gertrude viu Nosso Senhor
caminhando por uma estrada que parecia agradá vel por causa da
beleza do verde e das lores que cobriam ele, mas que, no entanto, era
estreito e á spero com espinhos. Entã o ela viu uma cruz que ia adiante
Dele e separou os espinhos uns dos outros, tornando a estrada mais
larga e mais fá cil; enquanto o Salvador voltou-se para os que O
seguiram e os encorajou, olhando para eles com um semblante doce e
amoroso, e dizendo: “Aquele que vier apó s mim, tome a sua cruz,
negue-se a si mesmo e siga-me. ” Por isso ela sabia que nossas
tentaçõ es sã o nossas cruzes. Por exemplo: é uma cruz para uma pessoa
ser obrigada pela obediê ncia a fazer o que ela nã o gosta; para outro,
para ser contido. Agora, cada um deve carregar sua cruz de modo a
estar disposto a sofrer com um bom coraçã o tudo o que o atravessa, e
ainda assim nã o negligenciar nada do que ele pensa pode ser para a
gló ria de Deus.
Enquanto eles cantavam este verso,25“As palavras dos ı́mpios
prevalecem sobre nó s” ( Salmo 64), ela sabia que quando algué m que
pecou por causa da fragilidade humana é severamente repreendido por
isso por outro, essa severidade excessiva atrai a misericó rdia de Deus
sobre ele, e aumenta seu mé rito.
Enquanto cantavam o Salve Regina , ante as palavras “Vira-nos esses
teus olhos misericordiosos”, como a Santa desejava que Nosso Senhor a
curasse de uma enfermidade corporal, disse-lhe, com doce
familiaridade: “Nã o sabe que te vejo com olhos de misericó rdia sempre
que sofre alguma dor de corpo ou mente? ”
Em outra ocasiã o, enquanto cantavam as palavras Gloriosum
sanguinem ("sangue glorioso")26na festa de alguns má rtires, ela sabia
que mesmo como o sangue, que naturalmente inspira um sentimento
de horror quando considerado em si mesmo, é louvado na Escritura
quando é derramado por Jesus Cristo, assim as omissõ es de deveres
religiosos, por caridade ou obediê ncia , sã o tã o agradá veis a Deus, que
podem ser justamente denominados gloriosos. Ela sabia també m, em
outra ocasiã o, que Deus, por uma dispensaçã o secreta de Seus
julgamentos, à s vezes permite que os pecadores recebam uma resposta
que serve apenas para endurecê -los em sua obstinaçã o, quando
procuram por artifı́cio averiguar dos eleitos o que está oculto.
eles. Assim como o Profeta Ezequiel escreve: “Aquele que colocar as
suas impurezas no coraçã o, e levantar o tropeço da sua iniqü idade
diante de sua face, e virá ao profeta, perguntando por mim por ele; Eu, o
Senhor, responderei a ele segundo a multidã o de suas impurezas
”. ( Ezequiel 14: 4).
§6. Que sem o consentimento da vontade não pecamos, e
como somos obrigados a reprovar os malfeitores.
Enquanto cantavam essas palavras em homenagem a Sã o
Joã o, Haurit virus hic letale ,27ela entendeu que, como a virtude da fé
preservou Joã o do veneno, a açã o da vontade que resiste ao pecado
preserva a alma pura, por mais mortal que seja o veneno que desliza
para o coraçã o contra sua vontade. Pelo versı́culo Dignare,
Domine,28 ela sabia que quando o homem recorre a Deus, e implora a
Ele para preservá -lo do pecado, mesmo que ele pareça, posteriormente,
por uma permissã o secreta da Providê ncia, cair em alguma falta
considerá vel, sua queda, entretanto, nã o será tã o grande quanto teria
sido de outra forma, e a graça de Jesus Cristo o susterá de tal maneira
que ele se arrependerá facilmente.
Quando eles cantaram a Resposta Benedicens ,29ela icou exigindo a
bê nçã o na pessoa de Noé . Ao recebê -lo, o Senhor por sua vez parecia
pedir o dela. Com isso ela entendeu que o homem abençoa a Deus
quando se arrepende de ter ofendido seu Criador e quando pede Sua
ajuda para evitar o pecado no futuro. Pelas palavras, Ubi est30( Gn 4),
ela sabia que o Senhor exigiria que cada religioso prestasse contas dos
pecados cometidos por seu vizinho e que ela poderia ter evitado, seja
advertindo a pró pria pessoa ou informando seu superior; e que a
desculpa daqueles que dizem: “Nã o é minha funçã o corrigir os
outros”; ou, “Eu sou tã o mau quanto eles”, nã o será mais aceita por
Deus do que as palavras de Caim: “Sou eu o guardiã o do meu
irmã o?” ( Gên . 4: 9).
Pois cada um é obrigado perante Deus a desviar seu irmã o do
pecado e ajudá -lo a avançar na virtude; e aquele que negligencia este
dever contra sua consciê ncia ofende a Deus. E inú til para ele ingir que
nã o recebeu nenhuma comissã o, pois sua pró pria consciê ncia o
ensinará que Deus requer isso dele; e se ele o negligenciar, Deus exigirá
uma prestaçã o de contas dele ainda mais estritamente do que de um
superior que estava ausente quando o mal foi cometido, ou que nã o
percebeu quando estava presente. Assim, encontramos estas palavras
nas Escrituras: "Ai daquele que peca, mas uma dupla ai daquele que
ajuda no pecado." Tornamo-nos culpados do pecado dos outros, se
consentirmos nisso, ocultando-o, quando poderı́amos obter gló ria a
Deus por descobri-lo.
§7. Os que trabalham para o avanço da religião são
recompensados como se tivessem vestido o Salvador - os anjos
abrangem os bem-aventurados.
Pela resposta que começa Induit me ,31Gertrude aprendeu que
aquele que trabalha por suas obras e por suas palavras para o avanço
da religiã o e a defesa da justiça, age como se Ele revestisse o pró prio
Deus com uma vestimenta magnı́ ica e suntuosa; e o Senhor o
recompensará na vida eterna, de acordo com as riquezas de Sua
generosidade real, vestindo-o com um manto de alegria e coroando-o
com um diadema de gló ria; mas, acima de tudo, que aquele que sofre
pela promoçã o do bem, ou pela religiã o, é tã o agradá vel a Deus como
uma vestimenta que o aquece e o cobre a um homem pobre; e que se
aquele que trabalha para o bem da religiã o nã o progride por causa dos
obstá culos que encontra, sua recompensa nã o será menor por isso
diante de Deus.
Enquanto eles cantavam a Resposta Vocavit angelus ,32ela sabia que
os coros de Anjos, cuja assistê ncia é tã o poderosa, cercam os eleitos
para defendê -los. Mas Deus, por Sua paternal Providê ncia, à s vezes
suspende o efeito dessa proteçã o e permite que os justos sejam
tentados, para que possa recompensá -los gloriosamente quando
obtiverem uma vitó ria com menos ajuda do alto e de seus anjos.
Na Resposta Vocavit angelus Domini Abraham , ela aprendeu que
como Abraã o satisfez as reivindicaçõ es de obediê ncia levantando seu
braço, e mereceu ser chamado por um Anjo, entã o, quando os eleitos
dobraram suas mentes e suas vontades para realizar qualquer trabalho
doloroso para o amor de Deus, eles merecem provar naquele momento
a doçura da graça e serem consolados pelo testemunho da pró pria
consciê ncia. E este é um favor que a in inita liberalidade de Deus
concede antes mesmo daquelas recompensas eternas que serã o dadas a
cada um de acordo com a medida de suas obras. Enquanto a Santa
re letia sobre algumas provaçõ es que havia sofrido anteriormente, ela
perguntou a Deus por que tinha sido assim provada por aquelas
pessoas. “Quando a mã o de um pai quer castigar seu ilho”, respondeu
Nosso Senhor, “a vara nã o pode se opor a si mesma. Portanto, desejo
que Meus eleitos nunca atribuam seus sofrimentos à queles a quem eu
uso para puri icá -los; antes, deixem que eles coloquem seus olhos em
Meu amor paternal, que nã o permitiria nem mesmo um sopro de vento
se aproximar deles, a menos que promovesse sua salvaçã o eterna; e,
portanto, eles devem ter compaixã o daqueles que se maculam para
puri icá -los ”.
§8. De oferecer nossas ações por meio do Filho ao Pai Eterno.
Um dia o Santo ofereceu um doloroso dever ao Pai Eterno, dizendo:
“Senhor, ofereço a Ti esta açã o por meio de Teu ú nico Filho, no poder do
Espı́rito Santo, para Tua gló ria eterna”. E foi-lhe dado a conhecer que
esta intençã o deu um valor e preço extraordiná rios ao seu trabalho, e
elevou-o acima de uma mera açã o humana; e que esta oferta era muito
agradá vel a Deus Pai. E assim como os objetos parecem verdes quando
vistos atravé s de um vidro verde ou vermelhos quando vistos atravé s
de um vidro vermelho, entã o tudo o que é oferecido ao Pai Eterno por
meio de Seu ú nico Filho torna-se muito agradá vel e aceitá vel para Ele.
§9. Da utilidade da oração quando não produz frutos
sensíveis.
Gertrude perguntou a Deus que vantagem algumas de suas amigas
haviam obtido com suas oraçõ es, visto que nã o pareciam melhores para
elas. O Senhor a instruiu por meio desta comparaçã o: “Quando uma
criança retorna de uma visita a um imperador, que o enriqueceu com
vastas posses e uma renda imensa, aqueles que o contemplam na
fraqueza da infâ ncia pouco imaginam os tesouros que ele possui,
embora aqueles que estiveram presentes estejam bem cientes do quã o
poderoso e importante sua riqueza o tornará no futuro. Nã o se
surpreenda, portanto, se você nã o vir os frutos de suas oraçõ es com os
olhos corporais, visto que, de acordo com Minha sabedoria eterna, os
disponho para maior proveito. E saiba que quanto mais você orar por
algué m, mais feliz ele se tornará , porque nenhuma oraçã o de fé pode
icar infrutı́fera, embora nã o saibamos de que maneira ela fruti icará ”.
§10. Da recompensa eterna de dirigir nossos pensamentos a
Deus.
Gertrude desejava saber que vantagem havia em referir nossos
pensamentos a Deus, e ela recebeu esta instruçã o: que quando o
homem levanta sua mente ao cé u por meditaçã o ou re lexã o, ele
apresenta, por assim dizer, diante do trono da gló ria de Deus um
brilhante e espelho brilhante, no qual o Senhor contempla com prazer a
Sua pró pria imagem, porque Ele é o Autor e Distribuidor de todo o
bem. E quanto mais di iculdade algué m encontra nesta elevaçã o de
alma, mais perfeito e agradá vel este espelho aparece diante da
Santı́ssima Trindade e dos Santos, e permanecerá para a gló ria eterna
de Deus e o bem desta alma.
§11. Essa adversidade impede a ocasião do pecado e dos bons
efeitos de uma boa vontade.
Em um dia de jejum, * quando a Santa nã o conseguia cantar de forte
indisposiçã o e dor de cabeça, ela perguntou a Deus por que Ele tantas
vezes permitia que essas enfermidades a visitassem nas festas. Nosso
Senhor respondeu: “E para evitar que você se perca pelos prazeres da
harmonia do canto e, assim, ique menos disposto a receber a
graça”. "Mas", ela perguntou, "nã o poderia Tua graça evitar este
infortú nio?" A isso Nosso Senhor respondeu: “E uma vantagem maior
para os homens rejeitarem ocasiõ es de quedas por provaçõ es, porque
entã o eles tê m um duplo mé rito - o da paciê ncia e o da humildade”.
Uma vez també m o Santo exclamou com ardor: “O meu
Salvador! Por que nã o tenho um fogo su icientemente forte para
derreter meu coraçã o, a im de que eu possa derramar inteiramente em
Ti? ” “A tua vontade”, respondeu o Senhor, “será para ti o fogo que
desejas”. E por isso ela sabia que, pelo esforço de sua vontade, o homem
pode realizar plenamente tudo o que deseja fazer para a gló ria de Deus.
Como a Santa frequentemente buscava em suas oraçõ es obter a
extinçã o de todos os vı́cios, tanto em si mesma quanto nos outros,
parecia-lhe que esse favor só poderia ser obtido pela remoçã o da
inclinaçã o para o mal, para que a alma pudesse ser habilitada a resistir
ao mal tã o facilmente quanto ela está inclinada a ele. Mas ela percebeu
a admirá vel sabedoria da Divina Providê ncia para a salvaçã o da
humanidade, que, para o aumento de nossa gló ria eterna, nos permite
combater com nossos vı́cios, para que sejamos mais gloriosamente
coroados no cé u.
§12. Dos efeitos do amor Divino.
Tendo ouvido um pregador declarar que ningué m poderia ser salvo
sem o amor de Deus, e que todos devem ter pelo menos tanto dele que
os levasse ao arrependimento e à abstençã o do pecado, o Santo
começou a pensar que muitos, ao morrer , parecia se arrepender mais
do medo do Inferno do que do amor de Deus. Nosso Senhor respondeu:
“Quando vejo algué m em sua agonia que pensou em mim com prazer,
ou que realizou qualquer obra merecedora de recompensa, eu apareço
a ele no momento da morte com um semblante tã o cheio de amor e
misericó rdia, que ele se arrepende do fundo do coraçã o por ter Me
ofendido e é salvo por esse arrependimento. Desejo, portanto, que
Meus eleitos reconheçam essa misericó rdia por meio de açõ es de
graças, e que Me louvem por isso entre o grande nú mero de benefı́cios
que recebem de Mim. ”
Uma vez també m, enquanto Gertrudes meditava sobre sua pró pria
pecaminosidade e depravaçã o, ela começou a se maravilhar como ela
poderia ser agradá vel aos olhos de Deus, que deve ver mil imperfeiçõ es
onde ela viu apenas uma. Mas Nosso Senhor a consolou com esta
resposta: "O amor torna todos agradá veis."33 E ela aprendeu que se na
terra o amor tem tal poder que torna agradá vel até as deformidades,
muito mais facilmente pode aquele Deus que é Amor tornar agradá veis
a Si mesmo por amor a quem Ele ama!
§13. O mérito de se conformar com a vontade de Deus para a
vida ou morte.
Como a Santa desejou, como o Apó stolo, ser dissolvida e estar com
Cristo, e soltou muitos suspiros a Deus para esse im, ela foi consolada
por esta resposta: “Sempre que algué m deseja de todo o coraçã o ser
libertado da prisã o do corpo, e ainda, ao mesmo tempo, está
perfeitamente disposto a permanecer nele contanto que agrade a Deus,
Jesus Cristo une o mé rito de Sua adorá vel vida ao deles, o que os torna
maravilhosamente perfeitos aos olhos do Pai Eterno . ”
§14. Que Deus nem sempre espera um retorno completo pelas
graças que Ele concede e pelo valor dos desejos fervorosos.
Enquanto a Santa re letia sobre o pouco lucro que ela havia obtido,
para si mesma ou para os outros, das muitas graças que lhe foram
concedidas, ela foi consolada por esta garantia: “Que Deus nã o concede
Suas graças aos Seus eleitos em tais uma maneira de esperar um
retorno perfeito, pois a fragilidade humana muitas vezes o impede; mas
sua excessiva liberalidade nã o pode conter-se, embora saiba que o
homem nã o pode exercer-se em tudo; no entanto, Ele comunica
continuamente novas graças de supererrogaçã o, a im de elevá -lo assim
à mais alta bem-aventurança no mundo vindouro. E assim como a
riqueza é concedida a uma criança para que ela possa lucrar com ela no
futuro, embora ele ainda nã o saiba o valor dela, entã o o Senhor
comunica Sua graça aos Seus eleitos nesta vida, para que possa
acumular tesouros para eles, o gozo que os tornará felizes no cé u. ”
§15. Nosso Senhor prefere o sofrimento sem devoção à
devoção sem sofrimento.
Em outra ocasiã o, enquanto a Santa lamentava em seu coraçã o nã o
poder formar desejos tã o ardentes para a gló ria de Deus como ela
desejava, ela foi ensinada por Deus que Ele está perfeitamente satisfeito
com nossos desejos quando nã o somos capazes de fazer mais; e que sã o
grandes em proporçã o ao nosso desejo de que sejam grandes. Quando,
portanto, o coraçã o forma um desejo, ou deseja ter um desejo, Deus tem
o mesmo prazer em permanecer nele como os homens em morar onde
as lores estã o brotando na primavera. Uma vez també m, quando se
descobriu negligente e distraı́da da enfermidade, e, entrando em si
mesma, começou a confessar sua culpa a Nosso Senhor com humilde
devoçã o - embora temesse que demoraria muito para recuperar a
doçura da graça divina, da qual ela havia sido privada - a in inita
misericó rdia de Deus foi movida para ela, e Ele disse a ela: “Minha ilha,
tu sempre estiveste comigo, e tudo o que eu tenho é teu”. Entã o ela
soube por estas palavras, que quando, pela fragilidade, deixamos de
encaminhar nossas intençõ es a Deus, Sua misericó rdia ainda considera
nossa vontade digna de recompensa eterna, desde que nossa vontade
nã o tenha se desviado Dele, e que freqü entemente façamos atos de
contriçã o pelos nossos pecados.
Como a Santa sentiu que uma doença se abatia imediatamente antes
de uma festa, ela desejou que Nosso Senhor preservasse sua saú de até
que acabasse, ou pelo menos permitisse que ela tivesse forças para
ajudá -la; ainda assim, ela se abandonou inteiramente à Vontade de
Deus. Entã o ela recebeu esta resposta do Senhor: “Ao Me perguntar
estas coisas, e ao mesmo tempo ao submeter-me inteiramente à Minha
Vontade, tu me conduzes a um jardim de delı́cias, esmaltado com lores,
que Me agrada muito. Mas sei que se conceder o que você pede e
permitir que ajude nesses serviços, serei obrigado a segui-lo até o lugar
que lhe agrada; ao passo que, se eu te recusar, e você ainda continuar
paciente, você vai me seguir ao lugar que eu pre iro, porque eu
encontro mais prazer em você se você formar boas intençõ es em um
estado de sofrimento, do que se você tiver devoçã o acompanhada de
prazer."
§16. O prazer dos sentidos priva de prazeres espirituais.
Enquanto a Santa re letia um dia sobre os arranjos da Providê ncia,
pelos quais uns se consolam, enquanto outros só experimentam a
secura, Deus lhe fez saber que havia criado o coraçã o do homem para
conter os prazeres, como um vaso conté m á gua. Mas se este vaso deixa
sair a á gua por pequenos furos, logo se esvazia; ou se restar alguma
á gua, ela acabará por secar. Entã o, se o coraçã o humano, quando cheio
de delı́cias espirituais, se derrama atravé s dos sentidos corporais,
vendo, ouvindo, etc., ele inalmente se tornará vazio e incapaz de
saborear os prazeres que sã o encontrados em Deus, como cada pode
saber por sua pró pria experiê ncia. Se dermos uma olhada ou dissermos
uma palavra sem re letir, ela passa como a á gua que sai de um vaso. Mas
se violentarmos a nó s mesmos pelo amor de Deus, a doçura celestial
aumentará tanto em nossos coraçõ es que parecerã o pequenos demais
para contê -la. Assim, quando aprendemos a restringir os prazeres dos
sentidos, começamos a ter prazer em Deus e, quanto mais nos custa
essa vitó ria, mais alegria encontramos em Deus.
Certa vez, como a Santa estava extremamente preocupada com um
assunto de pouca importâ ncia, e ofereceu seu problema a Deus, para
Sua gló ria eterna, no momento da Elevaçã o, pareceu-lhe que Nosso
Senhor atraiu sua alma pela Hó stia como se por uma escada,34 até que
Ele o fez repousar em Seu seio, e entã o falou assim amorosamente a
ela: “Neste divã sagrado estará s isento de todo cuidado;35 mas sempre
que você o deixar, seu coraçã o se encherá de amargura como um
antı́doto contra o mal ”.
§17. Das carícias com que Deus favorece a alma iel e da
estima que devemos ter pela paciência.
Gertrude, encontrando-se um dia deprimida pela fraqueza, disse a
Deus: “Senhor, o que será de mim e o que pretendes fazer comigo?” “Eu
irei confortar você ”, respondeu Ele, “assim como uma mã e conforta seu
ilho”. Ele acrescentou: “Você nunca viu uma mã e acariciar seu
ilho?” Como ela nã o respondeu, porque nã o se lembrava de uma
circunstâ ncia desse tipo, Nosso Senhor mostrou-lhe uma mã e que ela
vira acariciar uma criança cerca de seis meses antes, e a fez notar trê s
coisas que ela nã o havia observado.
Primeiro, que essa mã e muitas vezes se ofereceu para abraçar a
criança, e que a criança se levantou para vir até ela, embora ainda fraca
e frá gil. Acrescentou que assim ela deve elevar-se pelo amor da
contemplaçã o ao gozo do adorá vel objeto de seu amor.
Em segundo lugar, que a mã e muitas vezes experimentava seu ilho,
perguntando se ele teria isso ou aquilo, mas nã o dando a ele o que ela
oferecia. Assim, à s vezes Deus tenta o homem permitindo-lhe temer as
a liçõ es que nunca acontecem; e ainda, se ele se submete livremente,
Deus está satisfeito com sua renú ncia, e obté m uma recompensa eterna
para ele.
Terceiro, que nenhum dos presentes, exceto a mã e, entendeu o que
a criança disse, porque ela ainda nã o conseguia falar claramente. Assim,
somente Deus conhece e entende as intençõ es dos homens e as julga de
acordo; no qual Ele age de maneira muito diferente de seus
semelhantes, que consideram apenas o exterior.
Gertrude perguntou um dia a Nosso Senhor como Ele desejava que
ela empregasse seu tempo à quela hora. “Desejo que você aprenda a ter
paciê ncia”, respondeu ele, pois na é poca ela estava muito
inquieta. "Mas", ela respondeu, "como e por quais meios posso
aprender?" Entã o Nosso Senhor, como um mestre caridoso que toma
seus pequenos eruditos nos braços, começou a ensinar-lhe trê s letras
diferentes pelas quais ela poderia aprender a ter paciê ncia. “Considere”,
disse Ele, “em primeiro lugar, como um rei honra aqueles que sã o mais
semelhantes a ele com sua amizade; e aprende com isso como o amor
que eu tenho por você aumenta quando, por amor de mim, você sofre
desprezos como aqueles que eu suportei. Em segundo lugar, considere
o quanto o tribunal respeita aquele que é mais parecido com o rei, e é
mais ı́ntimo com ele: e julgue disso que gló ria está preparada para você
no cé u como a recompensa de sua paciê ncia. Em terceiro lugar,
considere que consolo a terna compaixã o de um amigo iel dá a seu
amigo, e aprenda com isso que compaixã o eu sinto no Cé u, mesmo pelo
menor pensamento que a lige você aqui. ”

CAPITULO 27
Por que Deus se agrada das imagens de Jesus cruci icado.

NO RETORNO da comunidade de uma procissã o ordenada para bom


tempo, Gertrudes ouviu o Filho de Deus falar assim com Seu Pai de um
cruci ixo que havia sido carregado antes da procissã o: “Pai Eterno,
venho com todo o Meu exé rcito para suplicar-te, sob a mesma forma em
que te reconciliei com a raça humana. ” E essas palavras foram
recebidas pelo Pai Eterno com tanta complacê ncia como se uma
satisfaçã o tivesse sido oferecida a Ele que ultrapassava mil vezes todos
os pecados dos homens. Entã o ela viu Deus Pai levando a imagem do
cruci ixo à s nuvens com estas palavras: “Este é o sinal da aliança que iz
com a terra”. ( Gênesis 9).
Em outra ocasiã o, quando o povo estava sofrendo excessivamente
com as inclemê ncias do tempo, o Santo freqü entemente implorou a
misericó rdia de Deus para com os outros, mas sem efeito. Por im, ela se
dirigiu ao seu Senhor assim: “O Senhor caridoso, como podes resistir
por tanto tempo aos desejos de tantas pessoas, visto que eu, que sou
tã o indigno de Tua bondade, muitas vezes obtive favores muito mais
considerá veis apenas pela con iança que tenho em Ti? " “Por que se
surpreender”, respondeu Nosso Senhor, “que um pai permitisse que seu
ilho lhe pedisse repetidamente uma coroa, se lhe colocava cem marcos
de ouro cada vez que o pedido era feito? Você també m nã o deve se
surpreender se eu adiar a resposta à sua petiçã o; porque cada vez que
você implora Minha ajuda com a mı́nima palavra, ou mesmo em
pensamento, Eu preparo uma recompensa para você na eternidade de
valor in initamente maior do que cem marcos de ouro. ”

CAPITULO 28
Da sede espiritual de Deus e da utilidade dos sofrimentos.

HILE o Salmo Sicut cervi36foi entoado no Ofı́cio dos Mortos, Gertrudes,


ao ouvir estas palavras: "Minha alma tem sede", esforçou-se por
reanimar seu fervor e disse a Nosso Senhor: "Ai, Senhor, quã o dé beis
sã o os desejos que tenho por Ti, que é s meu verdadeiro e ú nico Bem, e
quã o raramente posso dizer a Ti: 'Minha alma tem sede de Ti'! ” “Dize-
me”, respondeu Nosso Senhor, “nã o raramente, mas sem cessar, que a
tua alma tem sede de mim; pois o amor excessivo que me faz buscar a
salvaçã o dos homens me obriga també m a crer que em todo o bem que
os meus eleitos desejam, eles me desejam, porque todo o bem procede
de mim. Por exemplo: se algué m deseja saú de, descanso, sabedoria,
conveniê ncias ou quaisquer outras vantagens, a Minha bondade muitas
vezes me faz acreditar que sou eu quem eles procuram nestas coisas,
para que Eu possa dar-lhes uma recompensa maior; a menos que eles
deliberadamente desviem sua intençã o de Mim, como desejando
sabedoria para que eles possam satisfazer seu orgulho, ou saú de para
que eles possam cometer algum pecado. E é por isso que estou
habituado a a ligir os que Me sã o queridos com enfermidades
corporais, depressã o mental e outras provaçõ es, de modo que, quando
desejam os bens que se opõ em a estes males, o amor ardente de Meu
Coraçã o pode recompensá -los com maior profusã o. ”
Gertrude també m aprendeu que “Aquele cujo deleite é estar com os
ilhos dos homens” ( Provérbios 8:31), quando Ele nã o encontra nada
neles digno de Sua presença, envia-lhes sofrimentos, seja do corpo ou
da mente, para que possa ser capaz permanecer com eles, como diz a
Sagrada Escritura: “Perto está o Senhor dos contritos de coraçã o”
( Salmo 33:19); e, "Eu estou com ele na
tribulaçã o." ( Salmos 90:15). Que tais consideraçõ es suscitem nossa
gratidã o e nos ensinem a exclamar, com o Apó stolo, e com todo o afeto
de nossas almas: “O profundidade das riquezas da sabedoria e do
conhecimento de Deus! Quã o incompreensı́veis sã o Seus julgamentos e
quã o insondá veis Seus caminhos! ” ( Rom. 11:33) - que Ele descobriu
para salvar os homens.
Uma noite, enquanto a Santa dormia, Nosso Senhor a visitou com
tanta doçura, e ela se sentiu tã o consolada com Sua Divina Presença,
que lhe pareceu que havia sido refrescada por um delicioso
banquete. Ao acordar, voltou a agradecer a Deus, exclamando: “Como
tenho eu merecido isto, meu Senhor e meu Deus, mais do que outros,
que tantas vezes sã o atormentados por sonhos horrı́veis, que os seus
pró prios gritos aterrorizam aqueles que os ouvem?” Nosso Senhor
respondeu: "Quando aquelas pessoas que decidi santi icar pelo
sofrimento buscam conforto corporal enquanto estã o acordadas, e
assim se privam de ocasiõ es de mé rito, Eu, em Meu amor, envio-lhes
sofrimentos durante o sono, para que tenham uma oportunidade de
adquirir mé rito. ” "Mas, Senhor", respondeu o Santo, "como eles podem
merecer por isso, se eles sofrem sem qualquer intençã o, e contra sua
vontade?" “E um efeito da Minha misericó rdia”, respondeu Nosso
Senhor; “Pois o mesmo acontece com essas pessoas como com aqueles
que se adornam com ornamentos de cera, e que parecem bem vestidos,
embora aqueles que usam ouro e pedras preciosas sejam considerados
mais ricos.”

CAPITULO 29
Quã o insidiosas sã o as armadilhas do demô nio, especialmente quando
cantamos.

UMA

S GERTRUDE recitou suas horas sem muita atençã o, ela percebeu nosso
antigo inimigo zombando dela no Salmo Mirabilia ,37encurtando cada
palavra e exclamando: “Teu Criador, teu Salvador e teu Redentor
concedeu-te bem os dons da fala, pois podes recitar tã o luentemente
que mesmo num ú nico Salmo omitiste tantas letras, tantas sı́labas e
tantas palavras! ” Ela sabia disso, que se este inimigo traiçoeiro tivesse
contado tã o exatamente até mesmo a menor letra ou sı́laba do Salmo
que ela tivesse omitido ou pronunciado descuidadamente, que
acusaçõ es terrı́veis ele traria apó s a morte contra aqueles que tinham o
há bito de recitar seu Ofı́cio apressadamente, sem qualquer intençã o.
Em outra ocasiã o, enquanto a Santa se ocupava de iar lã , deixou
cair alguns tufos de tufos no chã o, pensando apenas em recomendar
com grande fervor a sua obra a Deus. Nesse ı́nterim, ela percebeu que o
demô nio estava muito ocupado em recolher os tufos, como se para um
testemunho de sua culpa; mas o Santo invocou a ajuda do Senhor, que
afugentou o espı́rito maligno com indignaçã o, por ousar interferir em
uma obra que havia sido recomendada a Deus em seu inı́cio.

CAPITULO 30
Que nossas oraçõ es sã o certamente ouvidas, embora nã o percebamos seu
efeito; e como suprir nossa indignidade ao nos aproximarmos da Sagrada
Comunhã o pelos mé ritos de Jesus Cristo e Seus Santos.

NE dia, quando Gertrudes se sentiu in lamada com desejos


extraordiná rios, ela disse: “Senhor, posso orar a Ti agora?” "Você pode,
meu amado,"38Ele respondeu com ternura, "porque obedecerei a tua
vontade em todas as coisas, como um servo obedece à s ordens de seu
senhor." “Estou bem seguro”, respondeu o Santo, “O Deus, cheio de
caridade, que as tuas palavras sã o sempre verdadeiras; mas visto que
Tu manifestas tal condescendê ncia para comigo, embora eu seja tã o
indigno dela, de onde vem que minhas oraçõ es tantas vezes
permanecem sem efeito? ” Nosso Senhor respondeu: “Se uma rainha
deseja que seu servo lhe dê algum io,39o que ela supõ e, porque ela nã o
consegue ver para trá s, está pendurado em seu ombro esquerdo, e ele o
encontra à sua direita, ele nã o cumpre igualmente sua intençã o se ele o
entregar a ela do lugar em que o encontra, como se era do lugar que ela
supô s que fosse? Da mesma forma, se em Minha sabedoria inescrutá vel
nã o ouço suas oraçõ es exatamente como deseja, faço-o de uma
maneira mais ú til para você , embora a fragilidade humana o impeça de
ver isso. ”
Como a Santa estava prestes a se comunicar em uma ocasiã o, ela se
entristeceu por nã o ter se preparado o su iciente, e rogou à Santı́ssima
Virgem e a todos os Santos que oferecessem a Deus por ela todas as
disposiçõ es que cada um teve ao receber as vá rias graças que lhes foi
concedido. Ela entã o rogou a Nosso Senhor Jesus Cristo que Ele se
agradaria també m em oferecer por ela a perfeiçã o com a qual Ele
apareceu no dia de Sua Ascensã o, quando Ele se apresentou a Deus Pai
e entrou na gló ria eterna. Posteriormente, ela desejou saber de que
utilidade essa oraçã o tinha sido para ela, e Nosso Senhor respondeu:
“Ela permitiu que você comparecesse a todo o tribunal do Cé u com
todos os enfeites que desejava”. Ele acrescentou: “Por que você s
deveriam descon iar de Mim, que sou todo-poderoso e misericordioso,
visto que nã o há ningué m na terra que nã o pudesse vestir seu amigo
com seus pró prios ornamentos e vestimentas, e assim fazê -lo parecer
tã o gloriosamente vestido como ele mesmo ? ”
Ao recordar posteriormente que havia prometido comunicar
naquele dia por algumas pessoas que se recomendaram à s suas
oraçõ es, rogou a Deus com grande fervor que lhes concedesse o fruto
deste Sacramento, e recebeu esta resposta: “Vou conceder-lhes este
favor ; mas eu deixo ao seu livre arbı́trio aproveitar como quiserem.
” Ela entã o perguntou como essas almas deveriam ser preparadas para
receber essa graça, e Nosso Senhor respondeu: “Sempre que, a partir de
agora, se voltarem para Mim com um coraçã o puro e uma vontade
perfeita, invocando o auxı́lio da Minha graça, mesmo que apenas por
um uma ú nica palavra ou o mı́nimo suspiro, eles aparecerã o
imediatamente vestidos com os ornamentos que você obteve para eles
por meio de suas oraçõ es. ”

CAPITULO 31
Das vantagens da comunhã o frequente e de receber o Santo Viá tico.
O

NCE també m, quando a Santa estava prestes a se comunicar, ela disse:


“O Senhor, o que Tu me dará s?” “Eu Me entregarei a ti inteiramente”,
respondeu Ele, “com todas as virtudes de Minha Divindade, assim como
Minha Virgem Mã e Me recebeu”. "Mas o que vou ganhar com
isso?" indagou Gertrude, "mais do que aquelas pessoas que te
receberam ontem comigo, e que nã o vã o receber a ti hoje, visto que tu
sempre te dá s inteiramente e sem reservas?" Nosso Senhor respondeu:
“Se as pessoas no mundo honram algué m que foi cô nsul duas vezes
mais do que uma pessoa que apenas uma vez ocupou esse cargo, como
perderá maior gló ria na eternidade que Me recebeu com mais
freqü ê ncia na terra?” Em seguida, exclamou, suspirando: “Quã o acima
de mim na bem-aventurança estarã o aqueles sacerdotes que se
comunicam todos os dias para cumprir os deveres do seu
ministé rio!” “E verdade”, respondeu Nosso Senhor, “que aqueles que
celebram dignamente brilharã o em grande gló ria; mas o amor daquele
que se comunica com prazer deve ser julgado de maneira muito
diferente da magni icê ncia exterior que aparece neste misté rio. Haverá
uma recompensa para aquele que se aproximou com desejo e
amor; haverá outro para aquele que se aproxima com temor e
reverê ncia; e outro para aquele que é muito diligente em sua
preparaçã o. Mas aqueles que habitualmente celebram apenas por
costume, nã o terã o parte nos Meus dons. ”
Enquanto a Santa orava para que Deus permitisse que ela recebesse
o santo viá tico como seu ú ltimo alimento, imediatamente antes de sua
morte, ela foi informada interiormente que seu desejo nã o era
bom; pois o efeito do Sacramento nã o podia ser diminuı́do pelo leve
refresco recebido na doença, meramente para preservar a vida, para a
gló ria de Deus. Tudo o que há de bom no homem é enobrecido pela
participaçã o no Sacramento que o une a Deus; mas particularmente no
momento da morte, depois de ter recebido o Pã o da Vida, ele pode
merecer por tudo o que faz com uma intençã o pura, como praticar atos
de paciê ncia, comer, beber, etc., pelos quais acumula bem-aventurança
eterna de sua uniã o com o Corpo de Cristo.

CAPITULO 32
Como Deus corrige as negligê ncias passadas de uma alma que O ama e
remedia aquelas que podem ocorrer no futuro.

Festa da Santı́ssima Virgem de NA, na qual Gertrudes recebeu alguns


presentes especiais e admirá veis, ela começou a entrar em si mesma e,
considerando sua ingratidã o e negligê ncia, icou abatida, por haver
demonstrado tã o pouca devoçã o à Mã e de Deus, e os santos que foram
homenageados naquele dia, por conta dos favores singulares que
haviam recebido. Mas Nosso Senhor, desejando consolá -la, com sua
bondade ordiná ria, disse a Sua Mã e Santı́ssima e aos Santos: “Nã o me
satis iz por ela me comunicar a ela com toda a doçura de Minha
Divindade em sua presença?” Eles responderam: "A bondade com a qual
Tu forneceste o que ela nos devia realmente supera todos os nossos
mé ritos." Entã o Nosso Senhor conversou docemente com esta alma, e
disse: “Você está satisfeito com esta reparaçã o?” “Deveria ser assim,
meu Deus”, respondeu ela; “Mas uma coisa é querer para mim; Temo,
agora [que] minhas negligê ncias do passado foram apagadas, que
começarei a cometer novas - estou tã o inclinado para o mal ”. Ele
respondeu: “Eu Me entregarei a você de uma maneira tã o e icaz que
apagarei inteiramente, nã o apenas as faltas que você cometeu, mas até
mesmo aquelas que você pode cometer; só tome cuidado para se
preservar de qualquer mancha de pecado depois de receber o
Santı́ssimo Sacramento. ” Quando Ele disse essas coisas, ela respondeu:
"Ai, Senhor, temo que nem mesmo cumprirei este dever como deveria:
portanto, ó caridoso de todos os Mestres, ensina-me, eu Te imploro,
como posso me puri icar de as manchas que posso contrair. ” Ele
respondeu: “Nã o os deixes icar muito tempo em ti, mas assim que os
perceberes diga, com todo o fervor do teu coraçã o: 'Senhor, tem piedade
de mim!' ou, 'Jesus Cristo, que é s minha ú nica esperança, concede que
todos os meus pecados possam ser apagados pelo mé rito de Tua morte
salvadora!' ”
A Santa entã o se aproximou para receber o Corpo de Cristo, e ela
percebeu que sua alma havia se tornado tã o clara como cristal
transparente, e que a Divindade de Jesus Cristo, que ela acabara de
receber, estava milagrosamente encerrada ali como ouro brilhando
atravé s do cristal, e produzindo efeitos tã o doces, surpreendentes e
inconcebı́veis, que a adorá vel Trindade e todos os santos icaram cheios
de alegria. Disto podemos saber que toda perda espiritual pode ser
reparada recebendo dignamente o Corpo de Cristo. Pois na verdade os
efeitos produzidos em sua alma por Deus foram tã o excelentes, que
parecia que toda a corte celestial testi icava que seu maior deleite era
contemplar uma alma em quem tais maravilhas eram realizadas.
A promessa que Deus fez a respeito de suas falhas futuras deve ser
entendida assim: que, como se vê igualmente bem por todos os lados
um objeto que está contido no cristal, també m as operaçõ es divinas
foram vistas nesta alma, a menos que fossem obscurecidas por a nuvem
do pecado, pois só isso poderia impedir que fossem discernidos.

CAPITULO 33
Do valor e da importâ ncia da Comunhã o espiritual.
T

SUA sagrada esposa de Jesus Cristo geralmente tinha um desejo


extremo e ardente de receber o Corpo de Cristo, e aconteceu que uma
vez, quando ela se preparou para a comunhã o com devoçã o mais do
que normal, ela se sentiu tã o fraca na noite de domingo que temeu nã o
seria capaz de se comunicar; mas, de acordo com seu costume usual, ela
consultou seu Senhor, para saber o que seria mais agradá vel para
Ele. Ele respondeu: “Mesmo uma esposa que já estava satisfeita com
uma variedade de alimentos preferiria icar perto de sua noiva a sentar-
se à mesa com ela, entã o eu preferia que você se privasse da Comunhã o
por santa prudê ncia, nesta ocasiã o, ao invé s do que abordá -lo. ” "E
como, meu amoroso Senhor, pode dizer que está s assim farto?" O
Senhor respondeu: “Por sua moderaçã o no falar, por sua guarda sobre
seus sentidos, por todos os seus desejos, por todas as suas oraçõ es, por
todas as boas disposiçõ es com as quais você se preparou para receber
Meu adorá vel Corpo e Sangue - estes sã o para Mim como a mais
deliciosa comida e bebida. ”
Quando ela foi à missa, embora ainda em estado de extrema
fraqueza, e se preparava para a comunhã o espiritual, ela ouviu o som de
um sino anunciando o retorno de um padre que tinha ido a uma aldeia
dar a comunhã o a um doente. “O vida da minha alma!” ela
exclamou; “Com que alegria eu Te receberia espiritualmente, se tivesse
tempo para me preparar dignamente!” “Os olhares da Minha divina
misericó rdia”, respondeu o Senhor, “vos comunicará a preparaçã o
necessá ria”; e ao mesmo tempo, pareceu à Santa que o Senhor lançou
um olhar sobre sua alma como um raio de sol, dizendo: “Eu ixarei meus
olhos em ti”. ( Salmos 31). Com essas palavras ela entendeu que o olhar
de Deus produz trê s efeitos em nossa alma, semelhantes aos que o sol
produz em nosso corpo, e que a alma deve se preparar de trê s maneiras
para recebê -lo. Primeiro, o olhar da misericó rdia divina examina a alma
e a puri ica de todas as manchas, tornando-a mais branca que a neve; e
obtemos esse favor por um humilde reconhecimento de nossos
defeitos. Em segundo lugar, esse olhar de misericó rdia amolece a alma e
a prepara para receber dons espirituais, assim como a cera é amolecida
pelo calor do sol e se torna capaz de receber qualquer impressã o; e a
alma adquire isso por uma intençã o piedosa. Em terceiro lugar, o olhar
da misericó rdia divina sobre a alma a torna fecunda nas diferentes
lores da virtude, assim como o sol produz e amadurece diferentes tipos
de frutos; e o terceiro efeito é obtido por uma con iança iel, que nos
leva a nos abandonarmos inteiramente a Deus, con iando com
segurança na superabundâ ncia de Sua misericó rdia, crendo que todas
as coisas contribuirã o para nosso bem-estar eterno, sejam elas
favorá veis ou adversas. Depois, à medida que alguns da comunidade se
comunicavam na missa, Nosso Divino Senhor apareceu para se entregar
a cada um com a pró pria mã o, fazendo o sinal da cruz como o sacerdote
faz; o Santo, maravilhado com isso, disse-lhe: “Senhor, aqueles que Te
receberam neste Sacramento nã o obtiveram maior graça do que eu, a
quem Tu gratuitamente favoreceste com tantos benefı́cios?” “Quem é
considerado mais digno”, respondeu Nosso Senhor, “aquele que está
adornado com pé rolas e pedras preciosas, ou aquele que tem um
imenso tesouro de ouro puro escondido em sua casa?” - fazendo-a
compreender por estas palavras que enquanto aquele que se comunica
sacramentalmente recebe sem dú vida imensa graça, tanto espiritual
como corporalmente, como a Igreja acredita, ainda, aquele que se
absté m de receber o Corpo de Cristo por obediê ncia e santa discriçã o, e
puramente para o gló ria de Deus, e que, estando in lamado pelo amor
divino, se comunica espiritualmente, merece receber uma bê nçã o como
a dada ao Santo, e obté m de Deus frutos mais abundantes, embora a
ordem e o segredo desta conduta estejam inteiramente ocultos aos
olhos de homens.

CAPITULO 34
Da utilidade de meditar na Paixã o de Nosso Senhor, e de como Ele se oferece
ao Pai Eterno em satisfaçã o por nossos pecados.

NA certa sexta-feira, ao anoitecer, Gertrude lançou seus olhos sobre um


cruci ixo e, sendo invadida pela dor, exclamou: “Ah, meu Criador e meu
Amado, quantas crueldades nã o sofreste neste dia por minha salvaçã o,
enquanto eu , ai de mim, estive tã o ocupado que nã o lembrei com
devoçã o o que Tu sofreste por mim a cada hora, quando Tu, que é s a
Vida que vivi ica todas as coisas, quis morrer por meu amor. ” Ao que
Nosso Senhor respondeu da cruz: “Eu supri o que você negligenciou,
pois eu acumulei cada hora no Meu Coraçã o o que você deveria ter
acumulado no seu coraçã o; em conseqü ê ncia, está tã o in lamado de
amor que desejei ardentemente esta hora em que me dirigiste esta
oraçã o, em uniã o com a qual oferecerei a Deus meu Pai tudo o que iz
por ti durante este dia, e sem o qual nem isso poderia ser tã o vantajoso
para a sua salvaçã o. ”
Podemos aprender com isso o amor iel de Deus para com o
homem, visto que Ele satisfaz Seu Pai Eterno com uma ú nica intençã o
que Ele excita neles, e isso de uma maneira tã o sublime e excelente que
merece os louvores eternos dos homens.
Quando esta Santa tocou o cruci ixo com devoçã o, ela aprendeu que
se algué m apenas olhar a imagem da cruz de Jesus Cristo com uma
intençã o santa, Deus o considera com tanta bondade e misericó rdia que
ele recebe em sua alma, como num espelho imaculado, uma imagem
que é tã o agradá vel que toda a corte do Cé u se deleita nela; e isso serve
para aumentar sua gló ria eterna na vida futura na proporçã o em que
ele praticou esse ato de devoçã o nesta vida.
Em outra ocasiã o, ela aprendeu que quando algué m se volta para
um cruci ixo, deve se persuadir de que Nosso Senhor fala assim com
amor ao seu coraçã o: “Eis como, por amor de você s, fui preso a esta
cruz - nu, desprezado, dilacerado e feridos em Meu Corpo e em todos os
Meus membros; e ainda Meu Coraçã o tem por você uma terna caridade,
que se fosse necessá ria para a sua salvaçã o, e se nã o houvesse outro
meio de salvá -lo, eu sofreria neste momento somente por você tudo o
que sofri pelo mundo inteiro ”. Por esta re lexã o o homem deve excitar-
se à gratidã o, porque nunca acontece que algué m olhe para um
cruci ixo sem uma providê ncia particular. Nã o há cristã o, portanto, que
seja inocente, se for tã o ingrato a ponto de negligenciar o adorá vel
preço de sua salvaçã o, visto que nunca podemos olhar para um
cruci ixo pensativamente sem receber grande benefı́cio por isso.
Em outra ocasiã o, ocupada em re letir sobre a Paixã o de Nosso
Senhor, foi-lhe dito que há in initamente mais mé rito em meditar
atentamente sobre a Paixã o de Jesus do que em qualquer outro
exercı́cio. Pois assim como é impossı́vel manusear farinha sem prendê -
la a si mesmo, també m é impossı́vel meditar com devoçã o na Paixã o do
Senhor sem dela derivar grandes frutos. E quando algué m lê algo sobre
a Paixã o, ao menos dispõ e a alma para receber o fruto dela, pois é mais
meritó rio meditar sobre ela do que sobre qualquer assunto. Vamos,
entã o, nos esforçar para re letir constantemente sobre isso, para que
seja mel para nossos lá bios, mú sica para nossos ouvidos e alegria para
nossos coraçõ es.
Enquanto a Santa se esforçava por escolher, entre as vá rias graças
que Nosso Senhor lhe tinha concedido, as graças que mais
bene iciariam os outros, se lhes fossem reveladas, Nosso Senhor disse-
lhe assim: “E mais vantajoso para os homens fazer-lhes saber que seria
de extrema utilidade lembrar constantemente que Eu, que sou o Filho
de uma Virgem, estou diante de Deus Pai pela salvaçã o da humanidade,
e que sempre que cometem alguma falta em seus coraçõ es, por
fragilidade humana, ofereço Meu Coraçã o imaculado ao Pai Eterno em
satisfaçã o por eles; quando eles pecam por suas açõ es, Eu ofereço
Minhas Mã os perfuradas; e assim em relaçã o à s outras faltas que
cometem. Assim, Minha inocê ncia O apazigua e O dispõ e a perdoar
aqueles que fazem penitê ncia por suas faltas. E, portanto, desejo que
Meus eleitos Me retribuam graças sempre que obtiveram perdã o por
suas faltas, porque foi por Mim que o obtiveram tã o facilmente ”.
CAPITULO 35
Do feixe de mirra, e como devemos praticar a paciê ncia nas adversidades,
segundo o exemplo de Cristo.

A noite, um cruci ixo que a Santa tinha perto de sua cama parecia
prostrar-se diante dela e ela exclamou: “O meu doce Jesus, por que
assim te rebaixas?” Ele respondeu: “O amor do Meu Divino Coraçã o me
atrai a você s”. Em seguida, ela pegou a imagem e colocou-a no coraçã o,
acariciando-a ternamente e dizendo: “Um feixe de mirra é o meu
amado para mim” ( Cânticos 1:12); ao que Nosso Senhor respondeu,
interrompendo-a: “Eu o carregarei no meu seio”; fazendo-a entender
com isso que devemos esconder em Sua adorá vel Paixã o todas as dores
que sofremos, sejam do corpo ou da mente, como colocarı́amos um
suporte40em um feixe de gravetos. Assim, os que sã o tentados à
impaciê ncia pela adversidade devem lembrar-se da adorá vel paciê ncia
do Filho de Deus, que foi conduzido como um cordeiro manso ao
matadouro para nossa salvaçã o, e nunca abriu a boca para proferir a
menor palavra de impaciê ncia. E quando algué m estiver disposto a
vingar o mal que lhe foi feito, por palavra ou por atos, deve se esforçar
para lembrar a si mesmo com que paz de coraçã o seu amado Jesus
sofreu, nã o retribuindo mal com mal, nem testemunhando o menor
ressentimento. por Suas palavras, mas, ao contrá rio, recompensando
aqueles que o izeram sofrer, redimindo-os com Seus sofrimentos e Sua
morte; e assim esforcemo-nos, segundo o exemplo de Nosso Senhor,
por fazer o bem com o mal. Assim també m, se algué m nutre um ó dio
mortal por aqueles que o ofenderam, ele deve se lembrar da grande
doçura com que o Filho de Deus orou por Seus algozes, mesmo quando
suportando os pró prios tormentos de Sua Paixã o e na agonia da morte
orando por Seus cruci icadores com estas palavras: “Pai, perdoa-lhes,”
etc. ( Lucas 23:34); e, em uniã o com este amor, oremos por nossos
inimigos. Nosso Senhor disse entã o: “Todo aquele que esconde seus
sofrimentos e adversidades no buquê da Minha Paixã o, e os une aos
Meus sofrimentos que mais parecem se assemelhar, verdadeiramente
repousa em Meu seio, e Eu o darei, para aumentar seus mé ritos, tudo o
que Minha caridade singular tem merecido por Minha paciê ncia e por
Minhas outras virtudes. ”
O Santo indagou: “Como, Senhor, recebes a devoçã o especial que
alguns tê m pela imagem da Tua Cruz?” Nosso Senhor respondeu: “E
muito aceitá vel para mim; no entanto, quando aqueles que tê m uma
devoçã o especial por estas representaçõ es de Minha Cruz nã o
conseguem imitar o exemplo de Minha Paixã o, sua conduta é como a de
uma mã e que, para se grati icar e para sua pró pria honra, adorna sua
ilha com diversos ornamentos, mas recusa duramente o que ela mais
deseja ter. Enquanto esta mã e priva seu ilho do que ela deseja, o ilho
pouco se importa com tudo o mais que é dado a ela, porque ela sabe
que é por orgulho, e nã o por afeto. Portanto, todos os testemunhos de
amor, respeito e reverê ncia que sã o oferecidos à imagem da Minha Cruz
nã o serã o perfeitamente aceitá veis para Mim, a menos que os exemplos
da Minha Paixã o també m sejam imitados. ”

CAPITULO 36
Essa devoçã o à Paixã o de Nosso Senhor promove a uniã o com Deus.

UMA

S GERTRUDE uma vez buscou, com alguma ansiedade, uma imagem da


Santa Cruz, para que muitas vezes pudesse honrá -la por amor de seu
Senhor, ela começou a temer que esse exercı́cio exterior a impedisse de
desfrutar dos favores interiores de Deus. Mas Nosso Senhor disse-lhe:
“Nã o temas, minha amada; pois isso nã o pode atrapalhar sua
espiritualidade, pois só eu irei ocupar você ; pois nã o estou nem um
pouco satisfeito com aqueles que honram a imagem da Minha
cruci icaçã o com muito devoçã o; e como muitas vezes acontece que,
quando um rei tem uma esposa com quem nem sempre pode
permanecer, ele deixa aquele que é mais querido para cuidar dela em
sua ausê ncia, e considera todos os deveres de amizade e afeiçã o que ela
presta a ele como se tivessem sido oferecidos a si mesmo, porque ele
sabe que isso procede do amor dela por ele - entã o eu tenho prazer na
veneraçã o oferecida à Minha Cruz, quando é oferecida puramente por
Meu amor - quando a Cruz nã o é desejada por si, mas para que sirva
para renovar a memó ria do amor e da idelidade com que suportei a
amargura da Minha Paixã o, e quando há um desejo ardente de imitar o
exemplo da Minha Paixã o ”.
Uma noite, enquanto a Santa estava ocupada meditando sobre a
Paixã o, ela descobriu que o fervor de seu zelo havia afetado seu corpo e
causado uma in lamaçã o nas laterais; quando se dirigia assim a Deus:
“Doce amor, se algumas pessoas soubessem o que agora sofro,
pensariam que devo interromper este exercı́cio, para recuperar a saú de
corporal; embora Tu saibas - Tu que vê s claramente o que está mais
escondido dentro de mim - que todas as minhas forças e meus sentidos
nã o puderam resistir ao movimento mais passageiro de Tua graça. ” Ao
que Nosso Senhor respondeu: “Quem poderia ignorar isso, sem ser
totalmente insensı́vel que a doçura de Minha Divindade supera
incomparavelmente todos os prazeres da carne e dos sentidos? Pois
todo prazer terreno e corporal é apenas uma gota de orvalho para este
grande oceano. E, no entanto, esses prazeres sensı́veis muitas vezes
atraem os homens de forma irresistı́vel, embora eles saibam como
colocam em perigo, nã o apenas seus corpos, mas até suas almas. Como,
entã o, uma alma penetrada com a doçura de Minha Divindade pode
impedir-se de se deixar levar pelos atrativos de um amor que
constituirá sua felicidade eterna? ”
Ela respondeu: "Mas talvez eles diriam que, como sou professada
em uma Ordem religiosa, devo moderar o ardor de minha devoçã o para
que nã o seja um obstá culo à minha observâ ncia do governo." Entã o o
Senhor dignou-se a instruı́-la por meio desta comparaçã o: "Se um
camareiro tivesse sido colocado à mesa de um rei, a im de servir a sua
majestade com o respeito que lhe é devido, e se este rei, desde a idade
ou enfermidade, exigisse um quem icou por perto para apoiá -lo, nã o
seria uma extrema incivilidade se esse camareiro se levantasse
apressadamente e permitisse que seu mestre caı́sse, porque ele
també m tinha sido especialmente escolhido para icar de pé e servir à
sua mesa? Portanto, seria muito mais descortê s se algué m a quem
chamei em Minha misericó rdia gratuita para o gozo de Minha
contemplaçã o se retirasse dela para satisfazer os requisitos da Ordem
em que foi professado; visto que eu, o Criador e Moldador do universo,
tenho in initamente mais prazer em amar as almas, do que em
quaisquer trabalhos e exercı́cios corporais realizados sem amor e sem
uma intençã o pura. Mas se alguma pessoa nã o é realmente chamada
pelo Meu Espı́rito ao repouso da contemplaçã o, e ainda assim
negligencia a observâ ncia de sua Regra para ocupar-se nela, é como
aqueles que se colocam à mesa do rei sem serem convidados, embora
fossem destinado apenas a servir nele. E, como um servo que se sentava
à mesa do rei sem ser solicitado receberia desprezo em vez de honra,
entã o aquele que negligencia sua Regra e se esforça em suas pró prias
forças para obter o dom da contemplaçã o - que ningué m pode obter
sem um presente especial de Eu - receberia mais desvantagem do que
lucro; nã o progredindo no que havia empreendido e tornando-se
morno em seu dever. Mas quanto à quele que, sem qualquer
necessidade, e apenas por sua conveniê ncia corporal, negligencia os
exercı́cios de sua Ordem e busca satisfaçã o nas coisas exteriores, ele
age como aquele que, estando destinado a servir à mesa do rei, deveria
ir para seus está bulos e se contaminou vergonhosamente ao limpá -los.

CAPITULO 37
Das unhas dos cravos cheirosos41 que o Santo, movido pelo amor, colocou nas
feridas do cruci ixo em vez dos cravos de ferro, e da gratidã o que Nosso Senhor
testemunhou por isso.

NE sexta-feira, quando a Santa passara a noite inteira em meditaçã o e


fora impedida de dormir pelo ardor de seu amor, lembrou-se com que
ternura havia arrebatado os pregos de ferro de um cruci ixo que
sempre mantinha perto de si e recolocou eles por pregos de cravos-da-
ı́ndia de cheiro adocicado, e ela disse a Deus: “Meu Amado, como
aceitaste que eu retirasse os cravos de ferro das feridas sagradas de
Tuas Mã os e Pé s, para aı́ colocar estes cravos, que dã o um cheiro
agradá vel? ” Nosso Senhor respondeu: “Foi tã o agradá vel para Mim que
em troca derramei o nobre bá lsamo da Minha Divindade nas feridas de
seus pecados. E por isso todos os santos me louvarã o eternamente; pois
suas feridas, pela infusã o deste licor, se tornarã o agradá veis. ” "Mas,
Senhor", indagou o Santo, "nã o concederá s a mesma graça à queles que
realizam a mesma açã o?" “Nem a todos”, respondeu Ele; “Mas aqueles
que o izerem com o mesmo fervor receberã o recompensa
semelhante; e aqueles que, seguindo o seu exemplo, izerem o mesmo
com toda a devoçã o de que sã o capazes, receberã o uma recompensa
menor. ”
Gertrude entã o pegou o cruci ixo e apertou-o nos braços, beijando-
o ternamente, até que se sentiu enfraquecida por sua longa vigı́lia,
quando o deixou de lado e se despediu de seu esposo,42pediu-Lhe
permissã o para ir descansar, para recobrar as forças, quase exauridas
pela longa meditaçã o. Depois de ter falado assim, ela se afastou do
cruci ixo e se recompô s para dormir. Mas, enquanto ela repousava,
Nosso Senhor estendeu a mã o direita da cruz para abraçá -la e
sussurrou-lhe estas palavras: “Ouça-me, minha amada; Vou cantar um
câ ntico de amor para você ”. E entã o Ele começou, com uma voz terna e
harmoniosa, a cantar a seguinte estrofe ao canto do hino Rex Christe,
fator omnium :
“ Amor meus continuus
Tibi languor assiduus:
Amor tuus suavissimus
Mihi sapor gratissimus . ”43

Tendo terminado o verso, Ele disse: “Agora, meus amados, em vez


do Kyrie eleison , que é cantado no inal de cada estrofe do hino Rex
Christe , pergunte o que quiser, e eu vou conceder a você ”. A Santa entã o
orou por algumas intençõ es particulares, e suas oraçõ es foram ouvidas
favoravelmente. Nosso Senhor cantou novamente o mesmo verso e, no
inal, novamente exortou Gertrudes a orar. Ele repetiu isso muitas
vezes, em intervalos diferentes, nã o permitindo que ela descansasse um
momento, até que ela icasse completamente exausta. Ela entã o dormiu
um pouco antes do amanhecer; mas o Senhor Jesus, que está sempre
perto dos que O amam, apareceu a ela em seu sono. Ele parecia
preparar um delicioso banquete para ela na sagrada Chaga de Seu
adorá vel Lado, e Ele mesmo colocou a comida em sua boca para
refrescá -la; de modo que, ao acordar, descobriu que havia sido
maravilhosamente fortalecida durante o sono, pelo que retribuiu com a
humilde e ardente gratidã o a Deus.

CAPITULO 38
Como podemos recordar a Paixã o de Cristo e proclamar os louvores da Virgem
Mã e de Deus, na recitaçã o das Sete Horas Canó nicas.

NE noite, enquanto Gertrudes vigiava e se ocupava com a lembrança da


Paixã o do Senhor, pois se sentia muito cansada, embora ainda nã o
tivesse recitado as matinas, disse a Deus: “Ah, meu Senhor, visto que tu
sabes que é minha fraqueza requer descanso, ensine-me que honra e
que serviço posso prestar a Tua Santı́ssima Mã e, agora que nã o está em
meu poder recitar seu Ofı́cio. ”44“Glori ica-me”, respondeu Nosso
Senhor, “pelo Meu Coraçã o amoroso, pela inocê ncia daquela virgindade
imaculada pela qual ela Me concebeu, sendo virgem; gerou-me, sendo
virgem; e ainda permaneceu uma virgem pura e imaculada apó s o
parto; imitando assim Minha inocê ncia quando fui levado na hora das
matinas para a redençã o da raça humana, e fui amarrado, golpeado
com varas, esbofeteado e oprimido impiedosamente por todo tipo de
misé ria e opró brio. ” Enquanto ela fazia isso, parecia-lhe que o Senhor
apresentava Seu Divino Coraçã o à Santı́ssima Virgem, Sua Mã e, sob a
igura de um cá lice de ouro, para que ela o bebesse; e que, estando
saciada com esta bebida doce - ou melhor, abundantemente
embriagada por ela - sua pró pria alma poderia se encher de alegria
excessiva.
Em seguida, Gertrudes elogiou a Santı́ssima Virgem, dizendo-lhe:
“Saú do-te, Santı́ssima Mã e, augusto Santuá rio do Espı́rito Santo, pelo
doce Coraçã o de Jesus Cristo, teu Filho amado e Filho do Pai Eterno,
rogando-te que ajudes nó s em todas as nossas necessidades, agora e na
hora de nossa morte. Um homem." Ela sabia, quando algué m glori icava
a Nosso Senhor com estas palavras, e acrescentava, em louvor à
Santı́ssima Virgem, “Eu te louvo e te saú do, ó Mã e”, etc., que cada vez
que Ele apresentava a ela Seu Divino Coraçã o para satisfazer sua sede
em da maneira acima descrita, dava grande satisfaçã o à Rainha das
Virgens ser saudada assim; e que ela o recompensaria de acordo com a
extensã o de sua generosidade e ternura maternal.
Nosso Senhor acrescentou entã o: “Na hora do dia prima, louvai-me,
atravé s do Meu coraçã o mais doce, pela humildade mais pacı́ ica com
que a Virgem Imaculada se dispô s cada vez mais para receber-Me, e
imitou a humildade com que Eu, que sou o Juiz dos vivos e dos mortos,
desejou na mesma hora me submeter a um gentio, para ser julgado por
ele para a redençã o da humanidade.
“Na Terce, louvai-me pelos desejos fervorosos pelos quais a
Santı́ssima Virgem me puxou do seio de Meu Pai Eterno para o seu
ventre virginal, e me imitou no ardor e zelo com que desejei a salvaçã o
dos homens, quando, sendo dilacerado por chicotes e coroado de
espinhos, carreguei, na hora terceira, uma vergonhosa e infame cruz
sobre os ombros, com extrema mansidã o e paciê ncia.
“Em Sext, louvai-me pela esperança irme e segura com que esta
Virgem celestial pensou apenas em glori icar-Me pela pureza das suas
intençõ es; no qual ela Me imitou quando Eu, suspenso no madeiro da
Cruz, em toda a amargura e angú stia da morte, ansiava de toda a Minha
alma pela redençã o da raça humana, clamando: 'Tenho sede!' , para a
salvaçã o dos homens; de modo que, se fosse necessá rio que eu sofresse
tormentos mais amargos ou crué is, de bom grado os teria suportado
para sua redençã o.
“Em nenhum, louvai-Me pelo amor ardente e mú tuo que uniu Meu
Divino Coraçã o ao da Virgem imaculada, e que uniu e inseparavelmente
uniu Minha gloriosa Divindade com Minha Humanidade em seu casto
ventre, imitando-Me em Minha vida mortal até Eu expirei na cruz na
hora nona para a salvaçã o dos homens.
“Nas Vé speras, louvai-Me pela fé constante de Minha Mã e
Santı́ssima na Minha morte, durante a deserçã o dos Meus Apó stolos e
no desespero de todos; no qual ela imitou a idelidade com a qual desci
ao limbo apó s Minha morte, para que pudesse retirar aquelas almas por
Minha mã o todo-poderosa e misericordiosa, e trazê -las à s alegrias do
Paraı́so.
“Nas Completas, louvai-Me pela incompará vel perseverança com
que a Minha querida Mã e perseverou em todas as virtudes até ao im e
me imitou na obra da redençã o do homem, que cumpri com tanto
cuidado, que depois de ter obtido a sua redençã o perfeita por uma
morte muito cruel, nã o obstante, permiti que Meu corpo incorruptı́vel
fosse colocado na tumba, para mostrar que nã o há nenhum grau de
desprezo ou humilhaçã o ao qual eu nã o me submeteria para o bem-
estar do homem. ”

CAPITULO 39
Que devemos dar algum sinal de nosso amor a Deus apó s ocupaçõ es
exteriores.

eu

Foi sempre uma prova para a Santa ser obrigada, ainda que por algum
tempo, a ocupar-se das coisas exteriores; e muitas vezes, quando isso
acontecia, ela se levantava repentinamente no fervor de seu espı́rito e,
apressando-se ao lugar onde estava acostumada a orar, exclamava: “Eis,
Senhor, como estou cansada de criaturas! Eu nã o teria outra companhia
e nenhuma outra conversa exceto a Tua - eu os deixo todos para buscar
a Ti, ú nico e ú nico Bem, e deleite de meu coraçã o e alma. ” Entã o,
beijando as feridas de Cristo cinco vezes, ela dizia a cada vez: “Salve,
Jesus, meu amado Esposo! —Eu te abraço respeitosamente na alegria
da Divindade, com todo o universo, e com todo o carinho do qual eu sou
capaz; e eu Te abraço nas feridas do Teu amor. ” Assim ela derramou
todas as suas dores nas feridas do seu Senhor, e encontrou nelas todo o
seu consolo e toda a sua alegria.
Como ela freqü entemente agia assim, ela perguntou um dia a Nosso
Senhor se isso Lhe era agradá vel, porque isso a ocupou apenas por
alguns momentos. Nosso Senhor respondeu: “Cada vez que você se
voltar assim para Mim, eu aceito isso como um amigo aceitaria a
bondade de seu amigo, que freqü entemente durante o dia se esforçou
para mostrar-lhe a maior hospitalidade por palavras e atos. E mesmo
que tal pessoa considerasse como ele poderia retribuir essa gentileza
quando seu an itriã o viesse a sua casa, entã o eu re lito continuamente,
com o maior prazer, como eu devo retribuir e recompensar você em
gló ria, de acordo com a liberalidade real de Minha onipotê ncia, de
Minha sabedoria e de Minha misericó rdia, por testemunhos de caridade
e doçura multiplicados cem vezes, por cada oferta que me izestes na
terra ”.
CAPITULO 40
Dos efeitos da oraçã o na adversidade.

NCE, como a comunidade temia um ataque armado ao mosteiro, eles


recitaram todo o Salté rio e, no inal de cada Salmo, o verso, " O Lux
beatissima ",45com a Antiphon, " Veni, Sancte Spiritus ." Gertrudes, que
orava fervorosamente com as irmã s, sabia interiormente que Nosso
Senhor, por meio dessa oraçã o, havia movido pelo Espı́rito Santo as
almas de alguns a perceber suas negligê ncias e a se arrepender. Ao
sentir esses movimentos de constrangimento, o Santo viu uma espé cie
de vapor exalando do coraçã o daqueles que assim se emocionaram,
que cobriu o mosteiro e os lugares ao redor dele, e expulsou todos os
inimigos. E na proporçã o em que o coraçã o de cada um foi movido para
a compaixã o e inclinado para o bem, o vapor parecia mais poderoso em
expulsar o mal. Assim, ela sabia que esse temor era designado pelo
Senhor para atrair a Si os coraçõ es de Sua congregaçã o eleita, para que,
sendo provados pela a liçã o e puri icados de suas negligê ncias,
pudessem se refugiar sob Sua proteçã o paterna e encontrar mais
abundante socorro e consolo . Percebendo isso, ela disse ao Senhor:
“Donde vem, meu amoroso Senhor, que as revelaçõ es que me izeste na
tua misericó rdia gratuita sã o tã o diferentes daquelas que izeste aos
outros, que muitas vezes as pessoas as podem conhecer , embora eu
deseje tanto escondê -los? ” Nosso Senhor respondeu: “Se um mestre,
quando questionado por pessoas que falam lı́nguas diferentes,
respondesse a cada um em uma lı́ngua, seu discurso só bene iciaria
aqueles que o entendiam; mas se ele fala a cada um em sua pró pria
lı́ngua - em latim para quem entende de latim e em grego para quem
entende de grego - entã o cada um pode compreender o que é
dito. Assim, quanto maior a diversidade com a qual comunico Meus
dons, mais a Minha sabedoria impenetrá vel é exibida, que responde a
cada um de acordo com sua compreensã o e o entendimento com o qual
eu os dotei - falando ao simples por pará bolas claras e sensatas, e para
os iluminados de uma maneira mais sublime e oculta. ”

CAPITULO 41
Oraçã o composta pelo pró prio Nosso Senhor Jesus Cristo, que Ele prometeu
ouvir favoravelmente.

NA ocasiã o semelhante, quando a comunidade recitou o


Câ ntico Benedicite ,46acrescentando a cada versı́culo oraçõ es
adequadas para a ocasiã o, Gertrudes percebeu Nosso Senhor em pé
diante dela; e a cada verso que eles recitavam, prostrado e implorando
perdã o, Ele parecia erguer Seu braço esquerdo e oferecer a ela a Ferida
de Seu adorá vel Lado para beijar. Tendo a Santa abraçado vá rias vezes,
Nosso Senhor testemunhou que esta marca do seu amor lhe foi
extremamente agradá vel. Entã o ela disse-lhe: “Visto que vejo, meu
amoroso Senhor, que te agradas desta devoçã o, faz-me o favor de
ensinar-me alguma pequena oraçã o que receberá s com igual caridade,
quando for dirigida a Ti devotamente por qualquer pessoa. ” Entã o ela
soube por inspiraçã o, que se algué m dissesse estas palavras cinco
vezes com devoçã o: "Jesus, Salvador do mundo, tem misericó rdia de
mim! - Tu, para Quem nada é impossı́vel, exceto recusar misericó rdia
aos miserá veis", ou “O Cristo, que pela Tua Cruz redimiu o mundo,
ouve-nos!” ou “Salve, Jesus, minha amada esposa! Eu te saú do nas
alegrias inefá veis de Tua Divindade; Abraço-Te com o carinho de todas
as criaturas e beijo a Sagrada Chaga do Teu amor ”; ou, "O Senhor é
minha força e minha gló ria: Ele é minha salvaçã o" - se essas palavras
forem recitadas em honra das Cinco Chagas do Senhor, beijando-as com
devoçã o, acrescentando algumas oraçõ es ou boas obras e oferecendo-
as atravé s do mais doce Coraçã o de Jesus Cristo, ó rgã o da Santı́ssima
Trindade, serã o tã o aceitá veis a Deus como a devoçã o mais á rdua.
Noutra ocasiã o, també m, quando recitaram o mesmo Câ ntico, Nosso
Senhor apareceu-lhe, fazendo jorrar chamas ardentes do cruci ixo
habitualmente exposto à comunidade, e enviando-as a Deus por
eles; manifestando a ela o amor excessivo e o desejo ardente de Seu
Coraçã o, quando intercedeu junto a Seu Pai pelo bem-estar desta
congregaçã o.

CAPITULO 42
Como os justos se deleitam em Deus, e como Deus tem prazer neles,
especialmente quando eles entregam todos os seus bons desejos a ele.

NUMA ocasiã o, quando a Santa foi impedida pela doença de se


comunicar, e ela sentiu sua devoçã o també m de inhar, ela se dirigiu
assim a Deus: “O doçura de minha alma, sabendo - infelizmente, muito
bem - como sou indigna de abordar o Sacramento do Teu Corpo e
Sangue, abster-me-ia da Comunhã o, se pudesse encontrar consolo em
qualquer criatura fora de Ti; mas uma vez que nã o posso ver nada de
leste a oeste, nem de norte a sul, em que possa encontrar qualquer
consolo ou prazer, seja para o corpo ou para a alma, exceto em Ti
sozinho, e porque estou sedento e com sede, e sem fô lego de desejo , Eu
venho a Ti, a Fonte de á gua viva. ” Nosso Senhor, em Seu amor benigno,
respondeu assim: “Assim como você me garante que nã o encontrará
prazer fora de mim, eu també m lhe asseguro que nã o desejo encontrar
prazer em nenhuma criatura fora de você ”. Mas, como o Santo re letiu,
que embora o Senhor tivesse prometido isso naquela é poca, ainda em
algum perı́odo futuro poderia ser diferente, Ele respondeu a seus
pensamentos assim: “Minha Vontade é igual ao Meu poder e, portanto,
nada posso fazer exceto o que eu vou. ” "Mas, ó Senhor amoroso",
respondeu o Santo, "que sujeito de complacê ncia tu podes encontrar
em algué m que é a repulsa e a vergonha de todas as criaturas?" “O Olho
da Minha Divindade”, respondeu Ele, “tem extremo prazer em
considerá -lo, por causa dos vá rios grandes dons que tenho concedido a
você . Suas palavras sã o como um concerto de doce mú sica para Meus
ouvidos Divinos, quer você as pronuncie para Me oferecer seu amor,
para orar pelos pecadores ou pelas almas do Purgató rio, para instruir
ou corrigir outros, ou quando você fala de qualquer maneira por Minha
gló ria; e embora os homens nã o possam obter nenhuma vantagem de
suas palavras, e eles possam permanecer sem efeito, ainda a boa
intençã o que os motivou, e que tem a Mim apenas como seu objetivo, os
faz ressoar docemente em Meus ouvidos, e os fará tocar até mesmo Meu
ı́ntimo coraçã o. A esperança com a qual você suspira depois de mim
sobe como um odor fragrante diante de mim; suas oraçõ es e desejos
sã o mais doces para Mim do que qualquer perfume; e no seu amor
encontro o maior prazer. ”
Entã o a Santa começou a desejar ardentemente a restauraçã o de
sua saú de anterior, para que pudesse observar com mais exatidã o as
austeridades de sua Ordem. Mas Nosso Senhor respondeu com amor:
“Por que Minha esposa se torna importuna para Mim, como se ela fosse
se opor à Minha Vontade?” "O quê , Senhor!" ela respondeu: "como pode
um desejo, que me parece ser apenas para a Tua gló ria, ser tã o oposto à
Tua Vontade?" “Pela maneira como o pedes”, respondeu Nosso Senhor,
“considero-o apenas como o desejo de uma criança; mas se você
perguntar com mais sinceridade, eu nã o icaria satisfeito com o seu
pedido. ”
Por estas palavras o Santo soube que o desejo da saú de, por uma
intençã o pura de servir a Deus, é realmente bom; mas que é muito mais
perfeito abandonar-se inteiramente à Vontade Divina e acreditar que
tudo o que Deus ordena para nó s, seja para prosperidade ou
adversidade, só pode ser para nosso benefı́cio.
CAPITULO 43
De duas pulsaçõ es do Coraçã o de Jesus.

UMA

S GERTRUDE viu uma de suas irmã s apressando-se para o sermã o, ela


disse a Deus reclamando: “Tu sabes, meu Amado, com que prazer eu
agora ouviria este sermã o, se eu nã o fosse prejudicada por uma
doença”. Nosso Senhor respondeu: "Queres, minha querida esposa, que
eu pregue a ti mesmo?" e ela respondeu: “De boa vontade”. Entã o Nosso
Senhor a fez repousar em Seu Coraçã o, para que sua alma o tocasse; e
como ela permaneceu lá algum tempo, ela sentiu dois movimentos mais
doces e admirá veis neles. Entã o o Senhor disse a ela: “Cada um desses
movimentos opera a salvaçã o do homem de trê s maneiras diferentes. O
primeiro opera a salvaçã o dos pecadores; a segunda, a dos justos. No
primeiro, converso continuamente com meu Pai Eterno — apaziguo Sua
ira contra os pecadores e o inclino a ter misericó rdia deles. No segundo,
eu falo aos Meus Santos, desculpando os pecadores para eles, e os
exortando, com o zelo e idelidade de um irmã o, a interceder junto a
Deus por eles. No terceiro, falo aos pró prios pecadores, chamando-os
misericordiosamente à penitê ncia e aguardando sua conversã o com
desejo inefá vel.
“Pelo segundo movimento do Meu Coraçã o, convido Meu Pai a se
alegrar Comigo por ter derramado Meu Precioso Sangue com tanta
e icá cia pelos justos, em cujos mé ritos encontro tantas delı́cias. Em
segundo lugar, convido todas as hostes celestiais a louvar as Minhas
providê ncias, para que Me retribuam graças por todos os benefı́cios
que lhes tenho concedido e para que Eu possa conceder-lhes mais no
futuro. Em terceiro lugar, falo aos justos, dando-lhes muitas carı́cias
salutares e advertindo-os para lucrar ielmente com elas, dia a dia, hora
a hora. Como as pulsaçõ es do coraçã o humano nã o sã o interrompidas
por ver, ouvir ou qualquer ocupaçã o manual, mas sempre continuam
sem relaxamento, entã o o cuidado do governo do Cé u e da terra, e de
todo o universo, nã o pode diminuir ou interromper por um momento
estes dois movimentos47 do Meu Divino Coraçã o, que continuará até o
im dos tempos ”.

CAPITULO 44
Da maneira como devemos pedir a Nosso Senhor descanso ou sono.

eu

ACONTECEU algum tempo depois, que Gertrude passou uma noite


inteira sem dormir, o que a enfraqueceu tanto que suas forças faliram
por completo; e ela ofereceu sua prostraçã o, como de costume, para a
gló ria de Deus e a salvaçã o dos homens. Entã o Nosso Senhor,
caridosamente compassivo com sua fraqueza, ensinou-a a invocá -Lo
com estas palavras: “Rogo-te, ó Deus misericordioso, pela doçura mais
tranquila com que repousaste desde toda a eternidade no seio do Pai,
por Tua morada pacı́ ica de nove meses no ventre de uma virgem, e por
todas as sagradas delı́cias que já desfrutaste nas almas cheias de Teu
amor, para me conceder algum descanso - nã o para minha pró pria
satisfaçã o, mas para Tua gló ria eterna - em ordem para que a força de
meu corpo cansado seja restaurada e eu possa cumprir meus deveres
”. E ao dizer essas palavras, ela se viu chegando mais perto de Deus,
como se subisse por degraus. Entã o Nosso Senhor mostrou-lhe um
lugar à Sua direita e disse-lhe: “Venha, minha amada, repouse no Meu
Coraçã o e veja se o Meu ansioso amor lhe permitirá descansar sem
ansiedade”.48Ao reclinar-se assim no amoroso Coraçã o de Jesus, e
sentir suas doces pulsaçõ es mais sensivelmente, disse-Lhe: “O meu
Amado, o que me dirias por essas pulsaçõ es?” Ele respondeu: “Eu diria
que, quando algué m se encontra exausto e sem forças por um longo
perı́odo de vigı́lia, e dirige a Mim a oraçã o com que acabo de inspirá -lo,
para que Eu possa conceder-lhes a força de que precisam para Meu
serviço - se Eu nã o os ouço, e eles suportam suas fraquezas com
paciê ncia e humildade, eu os consolarei com a mesma ternura e
caridade como um amigo o faria com seu amigo, que se levantou da
cama com entusiasmo, embora dominado pelo sono, apenas por causa
de desfrutar o prazer que encontrou em sua conversa. E como essa
submissã o seria ainda mais agradá vel para ele do que se fosse
oferecida por uma pessoa que costuma passar a noite sem dormir
muito, ele també m é in initamente mais agradá vel para Mim que, tendo
exaurido todas as suas forças com vigı́lias, Me oferece suas fraqueza, e
a suporta com humildade e paciê ncia, do que aquele que, sendo mais
robusto, é capaz de permanecer noites inteiras em oraçã o, sem sofrer
muitos transtornos ”.

CAPITULO 45
De perfeita resignaçã o de nó s mesmos à Vontade Divina.

ERTRUDE uma vez doente de febre, que à s vezes aumentava apó s a


transpiraçã o e outras vezes diminuı́a, encontrando-se uma noite
banhada em suor, começou a desejar muito ansiosamente saber se ela
melhoraria ou pioraria depois disso. Entã o nosso Senhor Jesus Cristo
apareceu a ela radiante de beleza, e levando saú de em Sua mã o direita e
doença em sua esquerda: Ele os apresentou a ela, para que ela pudesse
escolher o que ela preferisse. Mas a Santa recusou ambas e, lançando-se
nos braços do seu Senhor, aproximou-se do Seu Coraçã o amoroso, no
qual habita a plenitude de todo o bem, para que pudesse aprender a
Sua adorá vel Vontade. Nosso Senhor a recebeu com muita doçura, e a
abraçou com amor, deixando-a descansar em Seu seio; mas ela desviou
o rosto Dele e, inclinando a cabeça para trá s, exclamou: "Eu viro meu
rosto de Ti e rogo-Te de todo o coraçã o para nã o considerar minha
inclinaçã o em nada, mas para cumprir Tua adorá vel Vontade em tudo
isso me preocupa. ”
Disto podemos aprender que a alma iel deve con iar a Deus tudo o
que diz respeito a ela, e que ela deve preferir ignorar Seus desı́gnios
para com ela, para que Sua Vontade seja mais plenamente realizada
nela.
O Senhor entã o derramou no seio da Santa duas correntes de á gua
viva, que saı́am das duas faces do Seu Coraçã o, como de um vaso
mı́stico, e disse-lhe: “Visto que voltaste o teu rosto de mim, e
renunciaste a tua pró pria vontade em todas as coisas, derramarei sobre
ti toda a doçura do Meu Divino Coraçã o. ” “Meu doce Senhor”,
respondeu Gertrude, “visto que tantas vezes, e de maneiras tã o
diferentes, me concedeste Teu Coraçã o Dei icado, desejo saber o que
ganharei com este novo presente.” Ele respondeu: “A fé cató lica nã o
ensina que Eu me entrego, com todas as riquezas que estã o contidas
nos tesouros de Minha Divindade e Minha Humanidade, para a salvaçã o
daqueles que se comunicam pelo menos uma vez? - e que os homens
mais freqü entemente comunicam , quanto mais sua bem-aventurança é
aumentada e aperfeiçoada? ”

CAPITULO 46
Do prazer sensı́vel que a alma encontra em Deus.
UMA

MUITAS pessoas aconselharam a Santa a abster-se de meditar até que


recuperasse a saú de, ela atendeu ao desejo deles, estando sempre
ansiosa por fazer a vontade de outrem e nã o a sua; mas com a condiçã o
de que ela pudesse ocupar-se em adornar os cruci ixos e outras
imagens sagradas, para que pudesse pelo menos preservar uma
lembrança perpé tua de Jesus cruci icado por essas representaçõ es
exteriores. Uma noite, enquanto ela estava ocupada pensando em
como ela poderia arranjar um pouco de palha49sepulcro do cruci ixo,
na noite de sexta-feira, por ocasiã o da comemoraçã o da Paixã o depois
das Vé speras, o Deus de amor, que considera a intençã o mais do que as
obras de quem O ama, insinuou-se em seus pensamentos assim:
“Alegrai-vos em Deus , Meu amado, e Ele concederá a você todos os
desejos do seu coraçã o. ” Por essas palavras ela entendeu que, quando
temos prazer em tais coisas pelo amor de Deus, Seu Divino Coraçã o ica
satisfeito com isso; até como o pai de famı́lia dá um excelente concerto
de mú sica, que diverte os que estã o sentados à mesa com ele e també m
com ele.
“Mas, meu amoroso Deus”, indagou o Santo, “que gló ria pode dar-te
esta satisfaçã o exterior, que mais satisfaz os sentidos do que a
alma?” Ele respondeu: “Mesmo como um usurá rio avarento lamentaria
perder a oportunidade de ganhar um ú nico centavo, entã o eu, que
encontro toda a minha alegria em você , nã o pretendo permitir nem
mesmo o seu menor pensamento, nem um ú nico movimento do seu
dedo , o que você fez por amor de Mim, para passar sem usá -lo para
Minha gló ria e seu bem-estar eterno. ” Ela respondeu: “Se a Tua imensa
bondade pode encontrar prazer nisso, o que dizes dos versos em que
toda a Tua Paixã o é comemorada?” “Tenho o mesmo prazer neles”,
respondeu Nosso Senhor, “como uma pessoa que foi conduzida pelo seu
amigo, com marcas de ternura e amizade, a um agradá vel jardim, onde,
enquanto respira o ar puro e o doce odor da lugar, ele també m teria o
prazer de admirar suas belas lores, ouvir um concerto de mú sica
requintada e se refrescar com as frutas mais raras e deliciosas. E
prometo-te, Meu bem-amado, recompensa pela satisfaçã o que Me tens
dado com os teus versos, e també m à queles que os lê em
frequentemente com devoçã o, enquanto vivem nesta vida de tristeza,
que conduz à vida eterna. ”

CAPITULO 47
Do langor causado pelo amor divino.

OON depois, durante a sé tima enfermidade da Santa, estando sua


mente ocupada com Deus, certa noite Nosso Senhor se aproximou dela
e disse-lhe, com extrema doçura e caridade: “Diga-me, minha amada,
que você padece por amor de mim. ” Ela respondeu: “Como posso eu,
uma pobre pecadora, presumir dizer que de inhando por amor a
Ti?” Nosso Senhor respondeu: “Quem se oferece voluntariamente a
sofrer qualquer coisa para me agradar, verdadeiramente me glori ica e,
glori icando-me, diz-me que desfalece por meu amor; contanto que ele
continue paciente e nunca desvie os olhos de Mim ”. “Mas que vantagem
podes ganhar com esta garantia, meu amado Senhor?” perguntou o
Santo. O Senhor respondeu: “Esta garantia transmite alegria à Minha
Divindade, gló ria à Minha Humanidade, prazer aos Meus olhos e
satisfaçã o aos Meus ouvidos. Alé m disso, a unçã o do Meu amor é tã o
poderosamente movida, que sou compelido a curar o coraçã o contrito -
isto é , aqueles que desejam esta graça; pregar aos que estã o em
cativeiro - isto é , perdoar pecadores; para abrir a porta para aqueles
que estã o na prisã o, ou seja, para libertar as almas do Purgató rio. ”
Gertrudes disse entã o ao Senhor: “Pai misericordioso! depois desta
doença, que é a sé tima que tenho, nã o me restituirá s a minha antiga
saú de? ” Nosso Senhor respondeu: “Se eu te tivesse informado, no inı́cio
de sua primeira doença, que você teria que suportar sete, talvez você
tivesse cedido à impaciê ncia por causa da fragilidade humana. Portanto,
també m, se agora eu prometesse a você que esta seria a ú ltima doença,
a esperança com a qual você aguardaria seu im poderia diminuir seu
mé rito. Portanto, a providê ncia paterna de Minha sabedoria nã o criada
sabiamente ordenou que você permaneça ignorante em ambos os
assuntos, para que seja obrigado a recorrer a Mim continuamente com
todo o seu coraçã o e recomendar seus problemas, sejam exteriores ou
interiores, à Minha idelidade. ; visto que zelo por você com tanta
idelidade e amor que nã o permitiria que você fosse julgado alé m de
suas forças, sabendo o quanto sua paciê ncia pode suportar. Isso você
pode compreender facilmente, se lembrar como icou mais fraco depois
da primeira doença do que agora depois da sé tima; pois embora a razã o
humana possa ter considerado isso impossı́vel, nada é impossı́vel para
Minha onipotê ncia Divina. ”

CAPITULO 48
Que a alma iel deve abandonar-se à Vontade de Deus, para a vida e a morte.

UMA

S THE Saint ofereceu vá rios testemunhos de seu amor a Deus durante a
noite - perguntando-Lhe, entre outras coisas, como aconteceu que ela
nunca desejou saber se sua doença terminaria em vida ou morte,
embora tivesse durado tanto, e como era que ela se sentia igualmente
indiferente a qualquer um - Nosso Senhor respondeu-lhe assim:
“Quando um noivo conduz sua noiva a um jardim de rosas, para juntá -
las para um buquê , ela sente tanto prazer em sua doce conversa, que ela
nunca faz uma pausa para perguntar qual das rosas ele gostaria que ela
colhesse, mas ela pega qualquer lor que seu noivo lhe der e a coloca em
seu buquê . Assim també m a alma iel, cujo maior prazer é a realizaçã o
da Minha Vontade, e nela se deleita como num jardim de rosas, ica
indiferente se a restauro ou a retiro da vida presente, porque, sendo
cheio de con iança, ela se abandona inteiramente aos Meus cuidados
paternos. ”
També m uma noite, quando a Santa estava muito cansada dos
exercı́cios espirituais e da conversa interior que tivera com o seu
Senhor, tomou algumas uvas, com a intençã o de refrescar o seu Esposo
em si mesma. O Senhor os recebeu com muita gratidã o e disse-lhe: «Já
estou compensada pelo gole amargo que me foi oferecido numa
esponja, pendurado na Cruz por teu amor, porque agora experimento
no teu coraçã o uma doçura inefá vel; e quanto mais puramente você
recriar seu corpo por amor a Mim, mais doce é o refrigé rio que
encontro em sua alma. ”
Como ela havia jogado fora as cascas e pedras das uvas que tinha
em suas mã os, ela viu o diabo - o perseguidor de todo o bem - tentando
recolhê -los, como se para repreendê -la pela dispensa que sua
enfermidade havia dado sua tomada, comendo apó s as Matinas,
contrariando a Regra. Mas no momento em que tentou tocar uma das
peles, ele icou tã o chamuscado e queimado, como se devorando
chamas, que fugiu de casa, soltando gritos de medo e cuidando do
futuro como ele tocava em qualquer coisa que pudesse causar-lhe tais
tormentos terrı́veis.

CAPITULO 49
Do benefı́cio que podemos derivar de nossas faltas.
O

A noite, enquanto Gertrudes se ocupava em examinar sua consciê ncia,


ela observou que tinha o há bito de dizer “Deus sabe”, sem re lexã o e
sem necessidade; e tendo-se culpado muito severamente por esta falha,
ela implorou à Divina Majestade que nunca mais permitisse que ela
usasse Seu doce nome levianamente novamente. Nosso Senhor
respondeu com amor a ela: “Por que você me privaria da gló ria e a si
mesmo da imensa recompensa que adquire cada vez que percebe esta
falha, ou qualquer outra semelhante, e se esforça seriamente para
corrigi-la? Pois quando algué m se esforça para superar suas faltas por
amor a Mim, ele Me oferece o mesmo testemunho de idelidade e
respeito que um soldado faria a seu capitã o quando corajosamente
resistiu a seus inimigos na batalha, vencendo-os a todos e lançando-os
ao chã o com o pró prio braço. ”
A seguir, enquanto a Santa repousava no seio do seu Senhor, sentiu
uma grande fraqueza de coraçã o, que Lhe oferecia assim: “Esposa
amada! Eu ofereço a Ti este coraçã o debilitado, com todas as suas
afeiçõ es e desejos, para que possas ter prazer nisso de acordo com Tua
Vontade. ” Ele respondeu: “Aceito sua oferta deste coraçã o fraco e
pre iro-o a um forte; mesmo quando o caçador prefere o que ele levou
na caça para domar animais. ”
Embora as enfermidades da Santa a impedissem de auxiliar no coro,
ela ainda ia muitas vezes ouvir o Ofı́cio, a im de assim exercer de
alguma forma seu corpo a serviço de Deus; e re letindo que nã o estava
tã o atenta ou recolhida como desejava, ela manifestou sua tristeza ao
seu esposo divino, dizendo a Ele, com o coraçã o abatido: “Que gló ria tu
podes receber, meu amoroso Senhor, por eu estar aqui sentado neste
ocioso e negligente, prestando tã o pouca atençã o ao que é dito ou
cantado para a Tua gló ria? " Nosso Senhor respondeu: “E que satisfaçã o
você nã o teria se seu amigo lhe presenteasse com um gole de hidromel
recé m-feito e delicioso, que você pensou que iria fortalecê -lo? Esteja
certo, entã o, de que encontro in initamente mais prazer em cada
palavra, e até mesmo em cada sı́laba, que você escuta com atençã o para
a Minha gló ria. ”
Na missa que se celebrou a seguir, Gertrudes sentiu-se incapaz de
erguer-se ao Evangelho e duvidou de se poupar ou nã o nessas ocasiõ es,
pois nã o tinha esperança de recuperaçã o; mas ela perguntou a Deus, de
acordo com seu costume, o que seria mais para a Sua gló ria. Ele
respondeu: “Quando, por amor de Mim, você faz alguma coisa com
di iculdade e que está alé m das suas forças, Eu recebo isso mesmo
como se tivesse uma necessidade absoluta; mas quando você omite
qualquer coisa para cuidar do seu corpo, referindo-se tudo à Minha
gló ria, eu considero da mesma maneira como um enfermo consideraria
algum alı́vio que lhe era impossı́vel viver sem: assim eu o
recompensarei por ambos de acordo com a grandeza de Minha Divina
muni icê ncia. ”

CAPITULO 50
Da renovaçã o 50 dos Sete Sacramentos em sua alma e da caridade fraterna.

UMA

S GERTRUDE examinou sua consciê ncia um dia, ela descobriu alguns


defeitos que ela estava extremamente ansiosa para confessar; mas
como ela nã o podia recorrer ao seu confessor na é poca, ela começou,
como de costume, a descobrir sua dor para com Nosso Senhor, que a
consolou assim: “Por que”, Ele perguntou, “você está perturbado, meu
amado, visto que eu sou o Sacerdote soberano e verdadeiro Pontı́ ice, a
quem podeis recorrer; e posso renovar em sua alma com maior e icá cia
a graça dos Sete Sacramentos, por uma ú nica operaçã o, do que o padre
ou o bispo poderiam conferir cada um separadamente? Pois Eu vos
batizarei em Meu Precioso Sangue; Eu vou con irmar você em Minha
força vitoriosa; Eu te desposarei em Meu amor iel; Vou consagrar você
na perfeiçã o da Minha vida santa; Eu o absolverei de todos os seus
pecados pela caridade do Meu coraçã o; Eu Me alimentarei com Minha
ternura transbordante e també m Me alimentarei de você ; Eu irei
puri icá -lo interiormente por uma unçã o tã o poderosa da doçura do
Meu espı́rito, que todos os seus sentidos e suas açõ es respirarã o a mais
fervorosa piedade, que, derramando sobre você como ó leo sagrado, irá
santi icá -lo cada vez mais para a vida eterna . ”
Certa vez, quando a Santa se levantou para rezar as matinas,
embora em estado de extrema fraqueza, e já havia terminado o
primeiro noturno, outra religiosa, que també m estava doente, veio ter
com ela, e ela imediatamente recomeçou as matinas com ela, com
grande caridade. e devoçã o. Depois, ocupada com Deus durante a Santa
Missa, percebeu que sua alma estava magni icamente adornada com
pedras preciosas, que emitiam um brilho admirá vel. Nosso Senhor
entã o fez saber a ela que ela havia recebido aqueles presentes em
recompensa por sua humilde caridade em ter reiniciado suas matinas
para a conveniê ncia de uma irmã mais nova; e que ela havia recebido
tantos ornamentos diferentes quantas palavras repetiu. A Santa
lembrou-se entã o de alguma negligê ncia de que nã o pô de se acusar na
con issã o, por causa da ausê ncia do seu confessor; e enquanto ela
chorava por isso para Nosso Senhor, Ele disse-lhe: “Por que você se
queixa de suas negligê ncias - você que está tã o ricamente vestida com o
manto da caridade, que cobre uma multidã o de pecados?” "Como posso
me consolar", respondeu ela, "se ainda percebo que estou manchada
por eles?" Mas Nosso Senhor respondeu: “A caridade nã o apenas cobre
os pecados, mas, como um sol ardente, consome e aniquila as menores
imperfeiçõ es e domina a alma com o mé rito”.
Gertrude uma vez percebeu que uma pessoa negligenciava algumas
observâ ncias da Regra e temia ser culpada aos olhos de Deus se nã o a
corrigisse, como ela sabia; mas ela també m percebeu que alguns menos
rı́gidos poderiam pensar que ela interferia mais do que o necessá rio em
questõ es triviais. Este incô modo, no entanto, ela ofereceu, de acordo
com seu costume, a Nosso Senhor, que, para mostrar quã o agradá vel era
sua devoçã o para com Ele, disse-lhe: “Cada vez que, por amor de Mim,
tu sofres este opró brio, ou qualquer semelhante a ela, Eu te fortalecerei
e te cercarei, como uma cidade está cercada de trincheiras e paredes, de
modo que nenhuma ocupaçã o será capaz de distraı́-lo ou separá -lo de
Mim; e, alé m disso, acrescentarei ao seu mé rito o que qualquer um
poderia ter adquirido se se submetesse com humildade à s suas
admoestaçõ es ”.

CAPITULO 51
Da idelidade que só devemos esperar encontrar em Deus e da graça da
paciê ncia.

UMA

S ISTO geralmente acontece que os ferimentos que recebemos de um


amigo sã o mais difı́ceis de suportar do que aqueles que recebemos de
um inimigo, de acordo com as palavras da Escritura: “Se meu inimigo
me injuriasse, eu realmente teria suportado isso” ( Sal. 54:13) -
Gertrudes, sabendo que certa pessoa, por cujo bem ela havia
trabalhado com extrema solicitude, nã o respondeu com a mesma
idelidade aos seus cuidados, e mesmo, por uma espé cie de desprezo,
agiu contrariamente ao que aconselhou, recorreu a Nosso Senhor na
sua a liçã o, que a consolou assim: “Nã o te a lijas, Minha ilha, porque
permiti que isto acontecesse para o teu bem-estar eterno, para que
mais frequentemente goze da tua companhia e conversa, em que eu
tenho muito prazer. E mesmo como uma mã e que tem um ilho
pequeno que ama especialmente e, portanto, deseja ter sempre com
ela, coloca algo que a alarma.51 ela, e obrigá -la a voltar para seus
braços, quando ela se afastou dela, assim també m, desejando ter você
sempre perto de Mim, eu permito que seus amigos o contradigam em
algumas coisas, para que você nã o encontre verdadeira idelidade em
qualquer criatura e, portanto, recorram a Mim com tanto mais
entusiasmo, porque você s sabem que Eu possuo a plenitude e a
estabilidade de todo contentamento ”.
Depois disso, pareceu-lhe que Nosso Senhor a colocou em Seu seio
como uma criança, e ali a acariciou de muitas maneiras; e, aproximando
seus adorá veis lá bios de seus ouvidos, sussurrou-lhe: "Como uma terna
mã e acalma os problemas de seu ilho com seus beijos e abraços, assim
desejo acalmar todas as suas dores e tristezas com o doce murmú rio de
Minha palavras de amor. ” Depois de a Santa ter desfrutado dessas e de
muitas outras consolaçõ es por algum tempo, Nosso Senhor ofereceu-
lhe o Seu Coraçã o e disse-lhe: “Contempla agora, Minha amada, os
segredos ocultos do Meu Coraçã o, e considera com atençã o com que
idelidade tenho ordenado a todos que você sempre desejou de Mim
para seu benefı́cio e a salvaçã o de sua alma; e veja se você pode Me
acusar de in idelidade a você , mesmo com uma ú nica palavra. ” Depois
de fazer isso, viu Nosso Senhor coroá -la com uma coroa de lores, mais
radiante do que ouro, como recompensa pela prova de que acabamos
de falar.
Entã o a Santa, lembrando-se de algumas pessoas que, ela sabia,
foram provadas de outras formas, disse a Deus: “Certamente essas
pessoas merecem receber de Tua generosidade, Pai das misericó rdias,
uma recompensa mais rica, e serem adornadas com ornamentos mais
esplê ndidos do que Eu, visto que nã o sã o ajudados pelas consolaçõ es
que recebo, embora tã o indignas, e como nã o suporto o que me
acontece com a paciê ncia que devo? ” Nosso Senhor respondeu: “Nestas
coisas, como em todas as outras, manifesto a especial caridade e
ternura que tenho por vó s; mesmo como uma mã e que ama seu ú nico
ilho deseja adorná -la com ornamentos de ouro e prata, mas, sabendo
que ela nã o suportaria seu peso, enfeita-a com lores diversas, que, sem
incomodá -la, nã o deixam de lhe acrescentar. atraçõ es. Assim, també m,
modero o rigor de seus sofrimentos, para que nã o caia sob o peso e,
portanto, seja privado do mé rito da paciê ncia ”.
Depois, enquanto a Santa re letia sobre o grande cuidado da Divina
misericó rdia por sua salvaçã o, ela começou a louvá -lo com grande
gratidã o; e ela percebeu que aquelas lores com as quais seus
sofrimentos tinham sido misticamente recompensados se expandiam
cada vez mais à medida que ela agradecia. Ela compreendeu també m
que a graça que Deus lhe dera, de louvá -lo na adversidade, era muito
mais excelente do que um ornamento de ouro maciço para um que foi
meramente dourado.

CAPITULO 52
O valor de uma boa vontade.

UMA

CERTO idalgo, tendo enviado ao mosteiro para pedir aos religiosos


que fundassem um convento, Gertrude - que estava sempre ansiosa por
cumprir a Vontade de Deus, embora nã o pudesse atender a esse pedido
- lançou-se diante de um cruci ixo e se ofereceu a Deus de todo o
coraçã o, orando para que Sua santa Vontade pudesse ser
realizada. Pareceu-lhe que Nosso Senhor icou tã o profundamente
comovido com esta oferta, que desceu da Cruz para abraçá -la com
extremo afeto e alegria, e a recebeu com marcas de alegria inefá vel -
mesmo como um doente abandonado por o mé dico receberia um
remé dio que há muito desejava e que esperava poder restaurar sua
saú de - e, tendo entã o gentilmente abordado a adorá vel Ferida de Seu
Lado, Ele disse a ela: "De nada, minha amada,52você é o bá lsamo das
Minhas feridas e o adoçante de todas as Minhas tristezas ”. Gertrudes
sabia por estas palavras que quando algué m abandona a sua vontade
sem reservas para a boa vontade de Deus, seja qual for a adversidade
que possa estar iminente, Nosso Senhor a recebe como se tivesse
ungido as suas chagas, mesmo na hora da sua paixã o, com a maioria
pomadas preciosas e curativas.
Depois disso, enquanto orava, Gertrudes começou a pensar em
muitas coisas pelas quais esperava obter a gló ria de Deus e o avanço da
religiã o. Mas depois de algum tempo ela se reprovou por essas
re lexõ es, que talvez nunca pudessem dar frutos, porque ela estava tã o
fraca que parecia mais propensa a morrer do que ser capaz de realizar
qualquer trabalho laborioso. Entã o o Senhor Jesus apareceu a ela no
meio de sua alma, radiante de gló ria e adornado com rosas e lı́rios
formosos; e Ele disse-lhe: “Eis que estou adornado com a tua boa
vontade, assim como fui com as estrelas e os castiçais de ouro, no meio
dos quais Sã o Joã o, no Apocalipse, declara que viu o Filho do Homem de
pé , e tendo sete estrelas em sua mã o direita; e saiba que recebi tanto
prazer dos outros pensamentos do seu coraçã o quanto desta doce e
agradá vel guirlanda de lı́rios e rosas ”.
“O Deus do meu coraçã o!” exclamou o Santo, “por que envergonhas
minha alma com tantos desejos diferentes, que sã o todos sem efeito, já
que faz tã o pouco tempo que me deste o pensamento e o desejo de
receber a Extrema Unçã o, e dispô s minha alma para receber enchendo-
me de tanta alegria e consolo? E agora, pelo contrá rio, me fazes desejar
o estabelecimento de um novo mosteiro, embora ainda esteja tã o fraco
que mal consigo andar. ” “Eu faço isso”, respondeu Nosso Senhor, “para
cumprir o que disse no inı́cio deste livro, que 'Eu te dei para ser a luz
dos gentios'; ou seja, para iluminar muita gente: por isso é necessá rio
que o seu livro53deve conter informaçõ es sobre muitos assuntos, para
o consolo e instruçã o de outros. E como duas pessoas que se amam
frequentemente encontram prazer em conversar sobre assuntos que
nã o lhes dizem respeito especialmente - como um amigo
freqü entemente propõ e a seu amigo as perguntas mais difı́ceis e
intrincadas -, també m tenho prazer em propor muitas coisas aos Meus
eleitos que nunca acontecerá a eles, a im de provar seu amor e
idelidade a Mim, e para recompensá -los por muitos propó sitos que
eles nã o podem realizar, considerando todas as suas boas intençõ es
como se tivessem sido postas em prá tica. Portanto, inclinei sua
vontade a desejar a morte; e, conseqü entemente, fez você sentir esse
desejo de receber a Extrema Unçã o. E eu tenho preservado no fundo do
Meu Coraçã o, para a sua salvaçã o eterna, tudo o que você fez em
pensamento ou ato para se preparar para este Sacramento. Assim, você
pode entender estas palavras: 'O homem justo, se for impedido de
morrer, descansará .54 Pois se você fosse privado deste Sacramento por
morte sú bita, ou se você o recebesse depois de perder a consciê ncia - o
que freqü entemente acontece com os Meus eleitos - você nã o sofreria
qualquer perda por isso, porque toda a preparaçã o para a morte que
você fez para isso muitos anos é preservado na primavera imperecı́vel
da Minha Divindade,55 onde, pela Minha cooperaçã o, sempre
permanece verde e lorescente, e fruti icando para a sua salvaçã o
eterna. ”

CAPITULO 53
Como podemos lucrar com o mé rito dos outros.

ERTRUDE foi solicitada por uma pessoa, quando ofereceu a Deus todos
os dons gratuitos com que Ele a tinha favorecido, para pedir que ela
tivesse uma parte no seu mé rito. Enquanto orava assim, ela percebeu
esta pessoa de pé diante do Senhor, que estava sentado em Seu trono de
gló ria, e segurava em Suas mã os um manto magni icamente adornado,
que Ele apresentou a ela, mas ainda sem vesti-la. O Santo, surpreso com
isso, disse-lhe: “Quando te iz uma oferta semelhante, alguns dias
depois, Tu imediatamente levaste a alma da pobre mulher por quem eu
rezei para as alegrias do paraı́so; e por que, amado Senhor, nã o vestes
agora esta pessoa com o manto que lhe mostraste e que ela tanto
deseja, pelos mé ritos das graças que me concedeste, embora tã o
indigno delas? ” Nosso Senhor respondeu: “Quando alguma coisa me é
oferecida pelos ié is que partiram, eu imediatamente uso para eles, de
acordo com Minha inclinaçã o natural para mostrar misericó rdia e
perdã o, seja para a remissã o de seus pecados para seu consolo, ou para
o aumento de sua felicidade eterna, de acordo com a condiçã o daqueles
por quem a oferta é feita. Mas quando uma oferta semelhante é feita
pelos vivos, eu a guardo para o benefı́cio deles, porque eles ainda
podem aumentar seu mé rito por suas boas obras, por seus bons desejos
e por sua boa vontade; e é razoá vel que se esforcem para adquirir por
seu trabalho o que desejam obter pela intercessã o de outros.
“Portanto, se aquela por quem você ora deseja ser vestida com seus
mé ritos, ela deve estudar estas trê s coisas: Primeiro, ela deve receber
este manto com humildade e gratidã o - isto é , ela deve reconhecer
humildemente que ela precisa de os mé ritos dos outros - e ela deve Me
render fervorosos agradecimentos por ter se dignado a suprir sua
pobreza com sua abundâ ncia; em segundo lugar, ela deve tomar este
manto com fé e esperança - isto é , esperando na Minha bondade, ela
deve acreditar que receberá assim uma grande ajuda para sua salvaçã o
eterna; em terceiro lugar, que ela se reveste da caridade, exercitando-se
nesta e em outras virtudes. Que todos aqueles que desejam uma parte
dos mé ritos e virtudes dos outros ajam da mesma maneira, se eles
quiserem lucrar com isso. ”

CAPITULO 54
Oraçã o composta pelo Santo.

ERTRUDE sangrou algum tempo depois do Jejum,56ela era


freqü entemente ouvida proferindo estas palavras: “O Rei, de todos os
reis o mais excelente! O ilustre Prı́ncipe! ” com outros de importâ ncia
semelhante; e quando ela se recompô s uma manhã no lugar onde
costumava orar, ela disse a Deus: "O Senhor amoroso, o que queres que
eu faça com estas palavras que tantas vezes se apresentam à minha
mente e aos meus lá bios?" Entã o Nosso Senhor mostrou a ela um colar
de ouro, composto de quatro partes, que Ele segurava em Suas
mã os. Mas como o Santo nã o sabia o que essas quatro partes
signi icavam, Ele fez saber a ela em espı́rito que a primeira parte
representava a Divindade de Cristo; o segundo, a Alma de Cristo; a
terceira, toda alma iel a quem Ele desposou em Seu pró prio Sangue; e
o quarto, o puro e imaculado Corpo de Cristo. Ela sabia també m que a
razã o pela qual a alma iel foi colocada nesta coleira, entre a Alma e o
Corpo de Jesus Cristo, era para mostrar com que amor indissolú vel o
Salvador havia unido a alma iel ao Seu pró prio Corpo e Alma. E de
repente ela foi inspirada com estas palavras, em um ê xtase, ao ver esta
coleira:

Oração
“Tu é s a vida da minha alma! Que todos os desejos do meu coraçã o
sejam unidos a Ti por Teu amor ardente! Possam eles de inhar e
morrer sempre que se voltarem para qualquer objeto fora de Ti; pois
Tu é s a beleza de todas as cores, a doçura de todos os sabores, a
fragrâ ncia de todos os odores, a harmonia de todos os sons, o encanto
de todos os abraços! Em Ti está a volú pia do deleite; de Ti lui uma
torrente de amor; a Ti sã o todos atraı́dos por Tuas atraçõ es
poderosas; e por Ti todos recebem as doces in luê ncias do amor! Tu é s
o Abismo transbordante da Divindade! O rei, maior do que todos os
reis! Imperador Supremo, Prı́ncipe soberano, Governante pacı́ ico,
Protetor iel! Tu é s a joia vivi icante da nobreza humana com os
sentimentos mais nobres!57Tu é s um Operá rio cheio de habilidade, um
Mestre cheio de clemê ncia, um Conselheiro cheio de sabedoria, um
Defensor cheio de bondade, um Amigo muito iel! Tu é s o doce sabor de
todas as delı́cias! O gentil acariciador, cujo toque transmite cura! O
ardente Amante, doce e casta Esposa! Tu é s a lor da primavera de
beleza imutá vel! O amoroso irmã o, belo jovem, alegre companheiro,
an itriã o liberal, administrador cuidadoso! Eu pre iro a Ti a todas as
criaturas; por Ti eu renuncio a todos os prazeres; para Ti procuro todas
as adversidades; e em tudo isso desejo apenas a Tua gló ria. Meu
coraçã o e lá bios testi icam que Tu é s o vivi icador de todo o bem. Eu
uno, pelo mé rito de Teu amor, o fervor de minhas devoçõ es à virtude de
Tuas oraçõ es, para que pelo poder desta uniã o Divina eu possa ser
elevado à mais alta perfeiçã o, e todos os movimentos rebeldes possam
ser acalmados dentro de mim. ”
Todas essas frases pareciam tantas pedras brilhantes embutidas
separadamente no ouro deste colar. No domingo seguinte, enquanto
Gertrudes assistia à missa em que iria comunicar e recitava esta
oraçã o com muita devoçã o, percebeu que Nosso Senhor se agradava
dela e disse-lhe: “O Senhor amoroso, desde que eu percebe que essas
palavras sã o tã o agradá veis a Ti, eu aconselharei tantas pessoas quanto
eu puder a oferecê -lo a Ti com devoçã o, como um precioso colar de
pé rolas. ” Nosso Senhor respondeu: “Ningué m pode me dar o que é
meu;58mas quem o recitar com devoçã o sentirá aumentar seu
conhecimento de Mim e receberá luz de Minha Divindade, que será
derramada sobre ele pela e icá cia dessas palavras; da mesma forma
que aqueles que seguram uma placa de metal polido para o sol
contemplam nela o re lexo de sua luz. ” A Santa sentiu imediatamente o
efeito destas palavras, pois assim que recitou esta oraçã o percebeu que
a superfı́cie da sua alma59 tornou-se radiante com luz Divina, e ela
encontrou um aumento de doçura e prazer nas coisas Divinas.

CAPITULO 55
Nosso Senhor mostra a ela Seu Coraçã o.

J
Certa vez, ESUS Cristo apareceu à Santa e, mostrando-lhe o Seu
Coraçã o, disse-lhe: “Minha amada, dá -me o teu coraçã o”; e ao
apresentá -lo a Ele com profundo respeito, parecia-lhe que Ele o unia ao
Seu por um canal que ia até o solo, atravé s do qual derramava
abundantemente as efusõ es de Sua in inita graça, dizendo-lhe:
“Doravante eu usarei o teu coraçã o como um canal atravé s do qual
derramarei as impetuosas torrentes de misericó rdia e consolaçã o que
luem do Meu amoroso Coraçã o sobre todos aqueles que se dispuserem
a recebê -lo, recorrendo a ti com humildade e con iança. ”

CAPITULO 56
De caridade para com um irmã o errante.

UMA

S A Santa rezou um dia por algumas pessoas que antes haviam ferido
gravemente o convento com seus furtos, e estavam novamente
cometendo depredaçõ es, Nosso Senhor apareceu a ela como se sofresse
muitas dores em um de seus braços, que estava tã o puxado para trá s
que os nervos icaram gravemente feridos, e Ele disse a ela: “Considere
o tormento que ele me causaria, se Me golpeasse com a mã o fechada
[punho] neste braço sofredor; e re lita que estou indignado da mesma
maneira por todos aqueles que, sem compadecer-se do perigo a que
estã o expostas as almas que vos perseguem, nada mais fazem do que
falar maliciosamente dos seus pecados [dos perseguidores] e do que
eles [as vı́timas] tê m sofrido em conseqü ê ncia, sem re letir que essas
pessoas infelizes [os perseguidores] sã o membros do Meu
Corpo; enquanto todos aqueles que, tocados pela compaixã o, imploram
Minha misericó rdia por eles, para que Eu possa convertê -los, agem para
comigo como se eles aliviassem a dor do Meu braço com unguentos
curativos: e eu considero aqueles que, por seus conselhos e
advertê ncias caridosas, tente induzi-los a emendar suas vidas, como
mé dicos sá bios que se empenham em restaurar Meu braço na posiçã o
correta. ”
Entã o Gertrudes, admirando a bondade inefá vel de Deus, disse-lhe:
“Mas como, Senhor, esses indignos podem ser comparados ao Teu
braço?” Ele respondeu: “Porque eles sã o membros do corpo da Igreja,
da qual me glorio em ser o Cabeça”. “Mas, meu Deus”, exclamou
Gertrude, “eles estã o separados da Igreja pela excomunhã o, pois foram
publicamente anatematizados pela violê ncia que izeram a este
mosteiro”. “Nã o obstante”, respondeu o Senhor, “visto que podem ser
restaurados ao seio da Igreja por absolviçã o, Minha bondade natural
me obriga a cuidar deles e desejo com incrı́vel ardor que se convertam
e façam penitê ncia”.
A Santa entã o orou para que o mosteiro pudesse ser defendido de
suas armadilhas por Sua proteçã o paterna, e ela recebeu esta resposta:
“Se você s se humilharem sob Minha poderosa Mã o, e reconhecerem
perante Mim no segredo de seus coraçõ es que seus pecados merecem
isso castigo, Minha misericó rdia paterna o protegerá de todos os
esforços de seus inimigos; mas se te ergueres orgulhosamente contra os
que te perseguem, desejando-lhes mal com mal, entã o, pelo Meu justo
julgamento, permitirei que se tornem mais fortes do que tu e te a ligam
ainda mais. ”

CAPITULO 57
Para que o cuidado dos assuntos temporais e deveres exteriores sejam
aceitá veis a Deus.
O

NE ano, quando o convento estava muito sobrecarregado por uma


dı́vida pesada, o Santo orou a Deus com mais devoçã o do que de
costume que os procuradores do convento60pode ser capaz de pagar
suas dı́vidas. Ele respondeu com ternura: "Que vantagem terei se os
ajudar nisso?" O Santo respondeu: “Eles poderã o entã o se ocupar com
mais fervor e recolhimento em seus deveres espirituais”. “E de que me
bene iciará isso”, continuou Nosso Senhor, “visto que nã o necessito dos
vossos bens, e para Mim é igualmente o mesmo que vos dedais em
exercı́cios fı́sicos ou mentais, desde que me referes a vossa
intençã o? Pois se eu apenas tivesse prazer nos exercı́cios espirituais,
eu teria reformado a natureza humana apó s a queda, que nã o teria
mais necessidade de comida, ou roupas, ou qualquer outra coisa
necessá ria à vida, que agora sã o obtidas com tanto trabalho. E como
um poderoso imperador ica satisfeito, nã o apenas em educar nobres
damas na corte de sua imperatriz, mas també m em sua pró pria corte
nobres, capitã es e soldados, que sã o empregados de maneiras
diferentes, para que possam servi-lo quando qualquer a ocasiã o se
apresenta, por isso també m sinto prazer, nã o só nas delı́cias interiores
da contemplaçã o, mas també m nas diferentes atividades e ocupaçõ es
exteriores dos ilhos dos homens, com quem adoro habitar, quando
neles trabalham por Meu amor e por Minha gló ria; porque nessas
ocupaçõ es eles sã o muito exercidos na caridade, na paciê ncia, na
humildade e nas demais virtudes ”.
Depois disso, o Santo viu a pessoa que tinha o encargo principal dos
negó cios temporais do mosteiro como se estivesse descansando à
esquerda do Senhor; e parecia-lhe que muitas vezes ele se levantava
com grande dor e lhe oferecia uma peça de ouro enriquecida com uma
pedra preciosa. Nosso Senhor entã o disse a ela: “Saiba que se eu
diminuı́sse as angú stias daquele por quem você ora, també m seria
privado dessas pedras preciosas que sã o tã o aceitá veis para mim; e ele
diminuiria a recompensa que receberá ; pois entã o ele só poderia me
oferecer com sua mã o direita esta peça de ouro sem qualquer
ornamento. Ele me presenteia com uma moeda de ouro que, sem sofrer
nenhuma adversidade, remete todas as suas açõ es a Deus de acordo
com a Sua adorá vel Vontade. Mas aquele que sofre constantemente, e
ainda se conforma com os decretos da Providê ncia, oferece-Me ouro
enriquecido com pedras muito raras e preciosas ”.
Mesmo assim, o Santo continuou a rezar para que o procurador do
convento fosse aliviado de suas di iculdades. Mas Nosso Senhor disse-
lhe: “Por que te parece difı́cil que algué m sofra estes incó modos por
amor de Mim, visto que sou o ú nico verdadeiro Amigo cuja idelidade
nunca muda? Pois quando algué m é privado de toda ajuda e consolo
humano e é levado ao ú ltimo extremo, aqueles que anteriormente
receberam bondade deles lamentam por seus infortú nios, e ainda assim
sua tristeza é freqü entemente infrutı́fera e nã o podem dar assistê ncia a
seu amigo. Mas eu sou o ú nico verdadeiro Amigo que, em tã o extrema
necessidade, consolará os a litos com o mé rito e a gló ria de todas as
boas obras que eles praticaram durante toda a sua vida, seja por
pensamentos, palavras ou açõ es; e estes aparecerã o espalhados sobre
Minhas vestes como rosas e lı́rios; ao passo que esta visã o encantadora
reavivará na alma suas esperanças de vida eterna, para a qual ela se vê
convidada em recompensa por suas boas obras. Entã o a alma se dispõ e
em santo contentamento para partir de seu corpo mortal e entrar na
felicidade eterna, para que em meio a suas alegrias possa dizer: 'Eis que
o cheiro do meu amado é como o cheiro de um campo
fé rtil.' (Cf. Gen. 27:27). Pois assim como o corpo é composto de muitos
membros unidos, també m a alma consiste de afetos, como medo,
tristeza, alegria, amor, esperança, raiva, modé stia, no exercı́cio de cada
um dos quais quanto mais o homem age por Meu gló ria tanto mais ele
encontrará em Mim aquela alegria incompreensı́vel e inefá vel, e aquele
deleite seguro, que o preparará para a felicidade eterna. Pois na
ressurreiçã o, quando o corpo ressuscitar incorruptı́vel, cada um de seus
membros receberá uma recompensa especial pelos trabalhos e açõ es
que realizou em Meu nome e por Meu amor. Mas a alma receberá uma
recompensa incomparavelmente maior por todos os santos afetos que
ela nutriu por Meu amor, por sua compunçã o e até por ter animado o
corpo para Meu serviço. ”
Mais uma vez, enquanto a Santa rezava para que o iel procurador
recebesse a recompensa plena de seus trabalhos penosos para o bem
temporal da comunidade, Nosso Senhor lhe disse: “Seu corpo, que está
cansado por tantos trabalhos por mim, é como uma tesouraria, na qual
coloco tantos dracmas de prata quantos seus membros izerem
movimentos para cumprir os deveres de que está encarregado: e seu
coraçã o é como uma arca, na qual coloco na reserva tantos dracmas de
ouro quanto ele tem pensado em prover cuidadosamente, por amor a
Mim, por aquelas pessoas que estã o sob seus cuidados. ” Entã o o Santo
exclamou, surpreso: “Parece-me, ó Senhor, que este homem nã o é tã o
perfeito para empreender tudo o que faz puramente para a Tua
gló ria; pois creio que ele també m pensa no lucro temporal que obté m
com isso e, conseqü entemente, em sua conveniê ncia corporal. Como,
entã o, poderá s, meu Deus, encontrar o prazer que disseste em seu
coraçã o e em seu corpo? ” Nosso Senhor condescendeu em responder
assim: “E porque sua vontade é totalmente submetida61para o Meu que
sempre sou a causa principal de suas açõ es; e por isso ele merecerá
uma recompensa inestimá vel por todos os seus pensamentos, suas
palavras e suas obras. Se ele se aplicar a cada açã o com uma pureza de
intençã o ainda maior, aumentará seu mé rito mesmo que o ouro exceda
o valor da prata; e se ele se esforçar para referir todos os seus
pensamentos e ansiedades a Mim com uma intençã o ainda mais pura,
eles se tornarã o tã o mais excelentes quanto o ouro re inado em
comparaçã o com aquele que é ligado a um metal mais vil ”.

CAPITULO 58
Do mé rito da paciê ncia.
eu

ACONTECEU um dia que uma pessoa se feriu em um acidente ocorrido


durante algum trabalho, e Gertrudes, compassiva com seu sofrimento,
rezou para que o membro ferido em uma ocupaçã o sagrada nã o
corresse perigo. Nosso Senhor respondeu: “Nã o estará em perigo; mas,
ao contrá rio, a dor trará sobre sua alma uma recompensa de valor
inestimá vel. E, alé m disso, todos aqueles que se empenham em acalmar
ou curar sua dor receberã o uma recompensa eterna; pois assim como
um pedaço de pano que foi mergulhado em açafrã o confere a mesma
cor a tudo o que toca, assim, quando um membro sofre, todos os
membros que o servem serã o coroados com ela em gló ria ”. “Mas, meu
Deus”, inquiriu o Santo, “como podem aqueles que assim ajudam uns
aos outros tornarem-se dignos de tã o grande recompensa quando
trabalham assim, nã o para que aquela que está ferida possa sofrer mais
ou mais pacientemente por amor a Ti, mas apenas para diminuir sua
dor? " A isto, Nosso Senhor concedeu uma resposta cheia de consolaçã o
inefá vel: “A paciê ncia com que qualquer um suporta um mal, por meu
amor e por minha gló ria, que nã o pode ser remediado por nenhum
meio humano, nã o é uma paciê ncia que condeno; pelo contrá rio, tendo-
o santi icado por estas palavras que dirigi em Minha agonia ao Meu Pai
eterno: 'Meu Pai, se for possı́vel, deixa passar de Mim este cá lice'
( Mt 26:39), torna-se de mé rito incompará vel e valor. ” "Mas", indagou
Gertrude, "nã o é melhor suportar pacientemente todo mal que
acontece, do que simplesmente suportá -lo porque nã o podemos evitá -
lo?" Nosso Senhor respondeu: “Este é um segredo escondido no abismo
de Minha Divina perfeiçã o, e que ultrapassa a compreensã o
humana; mas, para falar de acordo com a maneira dos homens, há a
mesma diferença entre esses dois tipos de sofrimentos e entre duas
belas cores, que sã o tã o brilhantes e atraentes, que é difı́cil dar
preferê ncia a qualquer uma delas ”. Em seguida, Gertrudes orou para
que Nosso Senhor tornasse isso conhecido a esta pessoa, e assim lhe
desse consolo e icaz e verdadeiro; mas Ele respondeu: “Nã o deve ser
assim; mas saiba que eu recuso-a por uma dispensaçã o secreta de
Minha sabedoria Divina, a im de prová -la ainda mais e dar-lhe o mé rito
de trê s virtudes - paciê ncia, fé e humildade: paciê ncia, porque se ela
encontrasse tal consolo nessas palavras como você agora experimenta,
todas as suas dores seriam tã o suavizadas que o mé rito de sua
paciê ncia icaria muito reduzido; fé para que acredite na palavra de
outrem o que ela mesma nã o experimentou, pois a fé permanece sem
mé rito e infrutı́fera quando a razã o humana percebeu o que
acredita; humildade, para que acredite que os outros a superam, porque
sabem por inspiraçã o divina o que ela nã o merece saber ”.

CAPITULO 59
Da aversã o que Deus tem pela impaciê ncia. E como é agradá vel para Ele que
devolvamos graças por Seus benefı́cios.

UMA

S A Santa rezou por uma pessoa por quem tinha grande compaixã o,
porque sabia que num momento de impaciê ncia havia perguntado por
que Deus havia permitido que ela fosse provada de uma forma que ela
pensava nã o ter merecido, Nosso Senhor disse-lhe : “Pergunte a esta
pessoa por que essas provaçõ es nã o sã o proporcionais a ela; e diga-lhe
que, visto que o reino dos cé us nã o pode ser obtido sem sofrimento, ela
deve escolher para si mesma qualquer sofrimento que julgar mais
adequado para ela; e quando acontecer com ela, deixe-a suportar com
paciê ncia. ” Ela entendeu com essas palavras que o tipo mais perigoso
de impaciê ncia é aquele em que as pessoas imaginam que seriam
pacientes sob outras provaçõ es, mas que nã o podem ser pacientes sob
o que Deus lhes envia; ao passo que, ao contrá rio, devem estar
irmemente persuadidos de que tudo o que vem de Deus é mais
vantajoso para eles e que, quando nã o o recebem com paciê ncia, devem
pelo menos fazer disso uma ocasiã o de humilhaçã o.
Nosso Senhor entã o se dirigiu a Sua iel esposa assim: “E o que você
acha da Minha conduta a seu respeito? Você acha que eu lhe enviei um
sofrimento que está alé m de suas forças? " “Certamente que nã o, meu
Deus”, respondeu ela; “Mas eu sinceramente confesso, e reconhecerei
até o meu ú ltimo suspiro, que Tua Providê ncia tem me governado, tanto
espiritual quanto materialmente, na prosperidade e na adversidade, de
uma maneira tã o prudente, que toda a sabedoria do mundo desde o seu
inı́cio até agora nã o poderia ter agido assim, e que somente Tu, meu
mais doce Senhor, que é s a Sabedoria Incriada, fosse capaz disso: 'Que
alcança poderosamente de ponta a ponta, e ordena todas as coisas
docemente.' ”(Cf. Sb 8: 1).
Entã o o Filho de Deus a conduziu até Seu Pai e perguntou-lhe o que
ela diria a ele. “Eu Te dou graças, Santo Padre”, ela exclamou, “com todas
as minhas forças, por Aquele que está assentado à Tua direita, por
todos os magnı́ icos dons que recebi de Tua generosidade, sabendo que
isso nã o poderia ser realizado por ningué m criatura, e só poderia ser
realizada por Tua onipotê ncia Divina, que faz com que todas as coisas
existam. ” Entã o Ele a conduziu ao Espı́rito Santo, para que ela pudesse
oferecer suas açõ es de graças a Ele por todos os Seus benefı́cios; e ela
disse: "Eu Te dou graças, ó Espı́rito Santo, o Consolador, pelo mé rito
daquele que, por Tua cooperaçã o, se fez Homem no ventre de uma
Virgem, por ter me impedido caridosamente em todas as coisas com a
bê nçã o gratuita de Tua doçura, embora eu seja tã o indigno; e estou
convencido de que somente Tua caridade inefá vel poderia ter
concedido tais benefı́cios a mim, na qual reside, da qual procede, e por
meio da qual recebemos, todo bem. ”
Entã o o Filho de Deus, dirigindo-se a ela com a maior ternura
possı́vel, disse-lhe: “Eu te coloco sob a Minha proteçã o mais
especialmente do que qualquer outra criatura; e terei mais cuidado de
você s do que devo a eles por direito de criaçã o, redençã o ou mesmo por
Minha pró pria escolha. ” Disto o Santo sabia que quando algué m dá
semelhante açã o de graças à Divina Bondade, e se abandona com
con iança e gratidã o à Sua Santa Providê ncia, o Senhor cuida dele de
modo particular, també m como Superior é obrigado a zelar
especialmente por aquele cujos votos ele recebeu.

CAPITULO 60
Que Deus se agrada de nó s quando estamos descontentes de nó s mesmos.

UMA

S GERTRUDE orou por uma pessoa com carinho especial e disse a


Nosso Senhor: “Ouve-me, ó Senhor amoroso, segundo a doçura do Teu
amor paternal, por aquela por quem oro”, Nosso Senhor respondeu:
“Costumo ouvir quando você ora por ela. ” "Por que, entã o", respondeu
Gertrude, "ela tantas vezes me implora para orar por ela, alegando
sempre sua indignidade e nada, como se ela nunca tivesse recebido
qualquer consolo de Ti?" “Esta”, respondeu o Salvador, “é a maneira
mais doce pela qual Meu cô njuge pode obter Minha afeiçã o; este
ornamento torna-se o que ela tem de melhor, e nisso ela mais Me
agrada, porque, portanto, ela está desagradando a si mesma, e essa
graça aumenta nela na proporçã o em que você ora por ela ”. Em outra
ocasiã o, quando ela orou ao mesmo tempo por essa pessoa e també m
por outra, Nosso Senhor disse-lhe: “Eu a trouxe para mais perto de Mim
e, portanto, é necessá rio que ela seja puri icada por alguma pequena
provaçã o; mesmo como uma jovem que, por causa de seu amor e
ternura por sua mã e deseja sentar-se ao lado dela, embora ela possa ser
mais incomodada com isso do que suas irmã s, que se sentam em seus
devidos lugares em volta de sua mã e - a mã e també m nã o pode parecer
assim. com facilidade e amor na criança ao lado dela, como naqueles
que se sentam à sua frente. ”

CAPITULO 61
Do efeito das oraçõ es pelos outros.

§1. Que devemos orar com fé.

UMA

S GERTRUDE uma vez prostrada aos pé s de Nosso Senhor Jesus, e


beijou Suas Chagas com todo o respeito e devoçã o possı́vel, antes de
orar por vá rias pessoas e vá rios assuntos que lhe haviam sido
recomendados, ela viu um riacho irromper do Coraçã o de Jesus, que
parecia regar todo o lugar onde ela estava. Ela entendeu que este riacho
era a e icá cia das oraçõ es que ela havia oferecido a Seus pé s, e disse a
Ele: “Meu Senhor, que vantagem receberã o aquelas pessoas por quem
eu orei, visto que nã o podem sentir o efeito de minhas oraçõ es, e,
conseqü entemente, nã o pode esperar qualquer consolo disso? " Nosso
Senhor respondeu com a seguinte semelhança: “Quando um rei faz as
pazes depois de uma longa guerra, os que vivem à distâ ncia nã o podem
ser informados disso até que ocorra uma oportunidade
favorá vel; assim, aqueles que se separam de Mim por sua timidez ou
outros defeitos nã o podem perceber quando outros oram por eles.
” "Mas, Senhor", ela respondeu, "Tu mesmo me izeste saber que alguns
daqueles por quem orei nã o estã o separados de Ti." “E verdade”,
respondeu Nosso Senhor; “Mas aquele a quem o rei dá suas ordens
pessoalmente, e nã o por meio de seus o iciais, deve esperar pela
conveniê ncia de seu prı́ncipe. E assim Eu mesmo farei conhecido a eles
o efeito de suas oraçõ es, quando eu achar que será mais vantajoso para
eles fazê -lo. ”
Gertrude entã o orou especialmente por uma pessoa que a havia
perseguido anteriormente e recebeu esta resposta: “Como seria
impossı́vel algué m ter o pé furado sem que o coraçã o se compadecesse
de seus sofrimentos, entã o Minha bondade paterna nã o pode deixar de
olhar com os olhos de misericó rdia para aqueles que, enquanto gemem
sob suas pró prias enfermidades e sentem necessidade de perdã o, sã o
movidos por uma santa caridade a orar pelo bem-estar de seu pró ximo
”.
§2. O que devemos pedir aos enfermos.
Como é dever da humanidade rezar frequentemente pelos
enfermos, a Santa perguntou a Deus o que seria mais vantajoso para um
invá lido por quem rezava. Nosso Senhor respondeu: “Diga duas
palavras por ela com devoçã o - primeiro, ore para que ela preserve sua
paciê ncia; e, em segundo lugar, orar para que Eu possa fazer com que
cada momento de sofrimento sirva para seu avanço espiritual e para
Minha gló ria, conforme a caridade de Meu Coraçã o paternal ordenou
desde toda a eternidade para sua salvaçã o. E saiba que cada vez que
orar assim, você aumentará o seu mé rito e o do doente, até mesmo
como um artista torna as cores mais vivas ao retocar sua pintura ”.
§3. Como devemos orar por aqueles que ocupam posições
elevadas na Igreja.
Enquanto Gertrude orava por pessoas em cargos, ela entendia que o
que Deus mais desejava deles, e especialmente dos prelados, era que
eles possuı́ssem essas dignidades como se nã o as possuı́ssem - isto é ,
que deveriam usar sua autoridade como se tivesse sido concedido a
eles por um dia ou uma hora, e que eles deveriam estar prontos a
qualquer momento para renunciar a seu cargo, mas sem deixar de fazer
tudo em seu poder para a gló ria de Deus, dizendo a si mesmos
continuamente em seu coraçõ es: “Coragem! Nã o negligenciemos nada
que possa obter a honra de Nosso Senhor nestes assuntos, para que
possamos inalmente deixar nosso fardo sem medo, quando tivermos
promovido Sua gló ria e a vantagem de nosso pró ximo ”.
§4. Do valor e da importância de nos recomendarmos às
orações dos outros.
Enquanto a Santa rezava por uma pessoa que havia pedido as suas
oraçõ es com grande humildade, tanto pessoalmente como atravé s de
outros, viu Nosso Senhor aproximar-se desta pessoa, envolvendo-a com
luz celestial e derramando sobre ela no meio deste esplendor todas as
graças que ela esperava receber pelos mé ritos das oraçõ es de
Gertrudes. Nosso Senhor ensinou a ela que quando algué m con ia nas
oraçõ es de outro, com a irme con iança de que por sua intercessã o eles
receberã o a graça de Deus, o Senhor em Sua bondade derrama suas
bê nçã os sobre eles de acordo com a medida de seus desejos e sua fé ,
mesmo quando aquele a cujas oraçõ es eles se recomendaram
negligencia orar por eles.

CAPITULO 62
Instruçõ es para diferentes pessoas em diferentes estados de vida.

§1. Para quem tem um desejo ardente de avançar na


perfeição.

UMA

S GERTRUDE orou por uma pessoa que tinha um desejo ardente de


progredir na perfeiçã o, ela recebeu esta instruçã o: “Diga-lhe de Mim
que se ela deseja unir-se a Mim pelo laço do amor especial, ela deve,
como um nobre pá ssaro ,62faz um ninho aos Meus pé s dos ramos do
seu pró prio nada e das palmas da Minha grandeza, onde ela possa
repousar por uma lembrança contı́nua de sua indignidade, porque o
homem está sempre inclinado ao mal de si mesmo, e nã o ao bem, a
menos que seja impedido pela Minha graça. Que ela re lita
freqü entemente sobre Minha misericó rdia e sobre a bondade paternal
com a qual estou pronto para receber os homens quando eles caı́ram,
se eles retornarem para Mim por penitê ncia. Quando ela quiser deixar
este ninho para buscar alimento, deve voar para o Meu seio, onde, com
afetuosa gratidã o, deve re letir sobre as diversas bê nçã os com que a
enriqueci com Minha superabundante bondade. Se ela deseja voar mais
longe e ascender mais alto nas asas de seus desejos, ela deve se elevar
com a rapidez de uma á guia para a contemplaçã o das coisas celestiais,
que estã o acima dela; ela deve voar ao redor de Meu rosto, sustentada
como um sera im nas asas da caridade, e contemplar com os olhos
penetrantes de seu espı́rito a gló ria do Rei dos reis.
“Mas como é impossı́vel para ela durante esta vida continuar por
muito tempo nesta alta contemplaçã o, mesmo que por uma hora, ela
deve abaixar suas asas, pensando freqü entemente em seu pró prio nada,
e retornar ao seu ninho, permanecendo lá em repouso até que ela é
capaz de renovar sua fuga por meio de atos de açã o de graças e
gratidã o; entã o, que ela busque mais uma vez seu pasto, e se eleve
novamente em ê xtase à mais alta contemplaçã o da Divina
Majestade. Assim, ao repetir freqü entemente esses movimentos
difı́ceis, entrando em seu ninho por consideraçõ es de sua indignidade, e
saindo dele meditando sobre Meus benefı́cios, ela se elevará à
contemplaçã o celestial e sempre experimentará alegrias celestiais ”.
§2. Instrução para quem ingressou na religião em um período
avançado.
Gertrudes orava agora por outra pessoa que lhe fora especialmente
recomendada e que, tendo renunciado ao mundo depois de nele passar
a lor da sua juventude, se consagrou a Deus na religiã o. Ela implorou a
Ele, pelo mesmo amor com que Ele havia prometido que Ele usaria seu
coraçã o como um canal atravé s do qual derramar Sua graça sobre os
outros, que Ele agora cumpriria esta promessa para Sua pró pria gló ria,
e para a satisfaçã o e vantagem dessa pessoa; e enquanto orava assim,
ela viu seu coraçã o unido, sob a forma de um pequeno canal, ao
amoroso Coraçã o de Jesus, o Filho de Deus, que apareceu sentado em
Seu trono real.
Gertrudes també m viu a pessoa por quem orava prostrada diante de
Deus; ela viu Nosso Senhor oferecendo-lhe Sua mã o esquerda e
dizendo-lhe: "Eu te colocarei sob a proteçã o de Minha incompreensı́vel
onipotê ncia, Minha inescrutá vel sabedoria e Minha inefá vel bondade" -
ao mesmo tempo apresentando a seus trê s dedos de Sua esquerda mã o,
com a qual Ele tocou a dela; indicando assim trê s maneiras diferentes
nas quais ela deve se esforçar para regular sua vida. Em primeiro lugar,
que quando assumisse qualquer dever, ela se submetesse sempre
humildemente à onipotê ncia divina, reconhecendo-se uma serva inú til,
já que havia passado seus melhores anos infrutı́feros, sem pensar em
Deus seu Criador; orando fervorosamente para que o Todo-Poderoso
lhe desse a graça de agir como deveria. Em segundo lugar, que ela
deveria protestar, diante da sabedoria impenetrá vel de Deus, que ela
era indigna de receber qualquer efusã o do conhecimento Divino,
porque ela nã o havia acostumado seus sentidos desde a infâ ncia a se
ocuparem com as coisas Divinas, mas antes os havia usado para
humanos orgulho e vangló ria. Assim, rebaixando-se em profunda
humildade, deve separar-se de tudo o que é terreno e dedicar-se
unicamente à contemplaçã o de Deus; e que ela deveria, de acordo com
as circunstâ ncias de tempo e lugar, esforçar-se para comunicar a outros
as efusõ es da graça divina que foram derramadas sobre ela. Em terceiro
lugar, que ela recebesse com grande gratidã o a boa vontade que o
Senhor havia concedido gratuitamente a ela, e por meio da qual ela
seria capaz de observar os dois conselhos anteriores.
Pareceu ao Santo, també m, que Nosso Senhor usava um anel no
dedo anular de Sua mã o esquerda, cujo material era de pouco valor,
embora contivesse uma pedra preciosa e muito rara da cor do fogo; e
foi revelado a ela que este anel simbolizava a vida imperfeita dessa
pessoa, que ela havia oferecido a Deus abandonando o mundo e
inscrevendo-se no padrã o Divino; e que a pedra preciosa signi icava a
misericó rdia e generosidade inefá vel pela qual Nosso Salvador a
inspirou com uma boa vontade, para que todas as suas obras pudessem
se tornar perfeitas diante de Deus. Portanto, a voz63—Isto é , a intençã o
— desta pessoa deve ser um contı́nuo agradecimento e louvor a Deus
por esta imensa graça. Ela sabia, també m, sempre que esta pessoa
realizava qualquer boa obra com auxı́lio divino, que Nosso Senhor o
colocava em Sua mã o direita como um anel de grande valor, exibindo-o
perante toda a corte celestial, e parecendo ter satisfaçã o em ter
recebido o presente de sua esposa, isto é , da alma dessa pessoa. Isso
deu a todas as almas abençoadas um amor por ela, como os prı́ncipes
tê m pela esposa de seu rei; e prestaram seus serviços a esta pessoa,
sempre que Deus o desejou, com todo o fervor e devoçã o que a Igreja
Triunfante nos Cé us presta à Igreja Militante na terra.
§3. Instrução para uma pessoa que se desejava fazer
seu ninho no buraco da rocha - isto é, no lado ferido de Jesus.
Como a Santa rezava com muita devoçã o por outra pessoa, ela
recebeu esta instruçã o para ela: que izesse o seu ninho no buraco da
rocha - isto é , no adorá vel Lado de Jesus Cristo - para que, ali
repousando, ela deve sugar o mel da rocha - isto é , a doçura da intençã o
do Coraçã o Dei icado de Jesus - e assim ela pode aprender a imitar Seu
exemplo, de acordo com as instruçõ es da Sagrada Escritura; mas
especialmente em trê s coisas. Primeiro: como Nosso Senhor
freqü entemente passava noites inteiras em oraçã o, ela deveria imitá -lo,
recorrendo à oraçã o em todas as provaçõ es e adversidades. Em
segundo lugar: que como Jesus Cristo pregou nas cidades e vilas, ela
deve se esforçar para edi icar seu vizinho, nã o apenas por palavras, mas
por obras; por sua conduta, e até mesmo pelo menor movimento de seu
corpo. Terceiro: que como Nosso Salvador estava sempre pronto para
assistir os necessitados, ela també m deveria prestar serviço ao pró ximo
com palavras e atos, que sempre que ela estivesse para realizar
qualquer açã o, deveria sempre recomendá -la a Deus, unindo-a ao Seu
má ximo. obras perfeitas, para que sejam realizadas de acordo com Sua
adorá vel Vontade, para a salvaçã o do mundo; e em sua conclusã o ela
deveria oferecê -lo novamente ao Filho de Deus, para que Ele pudesse
corrigir seus defeitos e apresentá -lo a Deus Seu Pai para Sua gló ria
eterna.
Sempre que essa pessoa saı́sse de seu ninho, ela deveria usar trê s
suportes; um para ajudá -la a andar e os outros dois para apoiá -la em
ambos os lados. O primeiro apoio era para ser uma caridade fervorosa,
pela qual ela deveria se esforçar com todas as suas forças para atrair
todos os tipos de pessoas a Deus, e ser ú til a elas para a gló ria de Deus,
em consideraçã o ao amor divino pelo qual Ele havia trabalhado pela
salvaçã o comum de toda a raça humana. O segundo apoio, que ela
deveria usar do lado direito, era uma humilde sujeiçã o, pela qual ela
deveria se submeter a todos por amor de Deus e tomar o má ximo
cuidado para que nem seus superiores nem seus inferiores se
escandalizassem. por suas palavras ou açõ es. O terceiro suporte, que
ela deveria usar no lado esquerdo, era uma vigilâ ncia exata sobre si
mesma, por meio do qual ela deveria se esforçar para se preservar de
todo pecado e evitar as manchas que ela poderia contrair por
pensamento, palavra ou açã o .
§4. Instruções para outra pessoa que deveria erguer um trono
místico.
Enquanto Gertrude orava por outra pessoa, sua vida espiritual era
assim representada para ela: Ela apareceu diante do trono de Deus
como se estivesse empenhada em construir um trono magnı́ ico de
pedras preciosas, cujo cimento era ouro puro. As vezes ela descansava
neste trono, e entã o se levantava novamente para retomar seu trabalho
com maior fervor. O Santo compreendeu que essas pedras preciosas
representavam as diferentes a liçõ es pelas quais a graça de Deus foi
preservada e fortalecida na alma desta pessoa; pois o Senhor conduz
Seus eleitos por esta vida por caminhos acidentados e difı́ceis, para
que os prazeres aqui nã o os façam esquecer os prazeres de sua
pá tria.64O ouro que cimentou estas pedras preciosas representou a
graça habitual que esta alma possuı́a, e por meio da qual, com uma fé
viva, ela tirou proveito de todas as provaçõ es que sofreu, sejam
exteriores ou interiores. O repouso que ela teve ao sentar-se neste
trono signi icava a doçura do consolo Divino de que ela gostava; e a
ressurreiçã o, as boas obras nas quais ela perseverou continuamente, e
pelas quais ela lucrou tanto que diariamente ascendeu a um grau mais
alto de perfeiçã o.
§5. A vida de outra pessoa representada sob a igura de uma
árvore.
Enquanto a Santa rezava por outra pessoa, sua vida era assim
representada para ela: Ela viu diante do trono da Divina Majestade uma
á rvore muito bonita, cujo tronco e galhos eram verdes e lorescentes, as
folhas brilhando como ouro. A pessoa por quem ela orou apareceu para
subir nesta á rvore, e cortar alguns pequenos ramos que começaram a
murchar; e ela mal havia feito isso, Gertrudes viu o mesmo nú mero de
ramos saindo de diferentes partes do trono de Deus, os quais foram
apresentados a essa pessoa para tomar o lugar daqueles que ela havia
cortado; e quando estes foram enxertados na á rvore, eles pareciam
produzir frutos de uma cor vermelha, que ela colheu e apresentou a
Deus, que recebeu a oferta com muito prazer.
A á rvore representava a vida religiosa na qual essa pessoa havia
entrado para servir a Deus; a dourada deixa as boas obras que ela
praticava em seu mosteiro - e estas se tornaram ainda mais valiosas
pelas oraçõ es de um de seus parentes, que a induziu a tornar-se
religiosa, e a recomendou a Deus com muito fervor oraçã o. O
instrumento com que cortou os ramos secos representou a
consideraçã o dos seus pró prios defeitos, a im de os extirpar por
penitê ncia. Os ramos que saı́ram do trono de Deus para substituir
aqueles que ela havia cortado signi icavam a vida perfeita e santa de
Jesus Cristo, que, pelos mé ritos e oraçõ es de seu parente, estava sempre
pronto para suprir seus defeitos. Por ú ltimo, o fruto que ela colheu e
apresentou a Deus signi icava a boa vontade que tinha para corrigir as
suas faltas, o que era muito agradá vel ao Senhor, que pensa mais na boa
vontade de um coraçã o sincero do que nas grandes açõ es sem intençã o
pura.
§6. Instrução para uma pessoa erudita e para uma pessoa
ignorante, igurada pelos três apóstolos no Monte Thabor.
Enquanto a Santa rezava com fervor por duas pessoas que lhe
haviam sido recomendadas à s suas oraçõ es, mas das quais nada sabia,
rogou a Nosso Senhor que lhe revelasse o seu estado espiritual. Nosso
Senhor entã o desejou que ela os informasse de duas revelaçõ es que
haviam sido feitas a ela para duas outras pessoas por quem ela havia
orado anteriormente, uma das quais era instruı́da e a outra
analfabeta; e, Ele acrescentou, que todas as pessoas, qualquer que seja
seu estado ou condiçã o, encontrariam instruçã o nas revelaçõ es
anteriores, bem como nas que se seguem. Da pessoa instruı́da, Nosso
Senhor disse: “Eu a levei, com os Meus Apó stolos, ao monte da nova
luz,65portanto, ao regular sua conduta, seja instruı́da pelo signi icado
dos nomes dos apó stolos que foram conduzidos à quela
montanha. Agora, Pedro, de acordo com os inté rpretes, signi ica
'conhecimento';66que se esforce, entã o, em todas as suas leituras, por
atingir o autoconhecimento. Por exemplo: quando ela lê sobre vı́cios ou
virtudes, que examine se tem vı́cios e que progresso ela fez na
virtude. Entã o, quando ela tiver obtido um conhecimento mais perfeito
de si mesma, que ela siga a signi icaçã o do nome James, que é
interpretado 'suplantador', e se esforce para lutar corajosamente
contra seus vı́cios e avançar nas virtudes. E uma vez que o nome John
signi ica 'graça', que ela se esforce, pelo menos por uma hora por dia,
de manhã ou à noite, ou sempre que ela achar mais adequado, separar-
se de todas as coisas exteriores e recolher-se interiormente, para
pense em mim e conheça a minha vontade; e que assim se exercite com
devoçã o, tanto quanto puder durante o tempo que ela escolheu, em
tudo que eu a inspire, seja louvor, açã o de graças pelos favores
especiais que eu lhe dei, ou por aqueles que eu concedido a outros, ou
oraçã o pelos pecadores, ou pelas almas do purgató rio. ”
A seguinte instruçã o foi dada para a pessoa iletrada porque ela
estava muito perturbada por nã o poder se inscrever na oraçã o como
desejava, sendo impedida pelos deveres de seu ofı́cio: “Eu nã o a escolhi
meramente para Me servir durante uma hora do dia , mas que ela possa
estar continuamente Comigo - isto é , que ela possa realizar todas as
suas açõ es para Minha gló ria, e com a mesma intençã o com a qual ela
deseja orar. Que ela també m pratique esta devoçã o em todos os
problemas que ela encontra em seu emprego, ou seja, ter um desejo
constante de que todos aqueles que se bene iciam de seu trabalho
possam nã o apenas encontrar revigoramento corporal, mas que sejam
incitados a Me amar interiormente, e ser fortalecido em todo o bem; e
cada vez que ela agir assim, seus trabalhos e obras serã o para Mim
como se ela Me presenteasse com tantas iguarias diferentes e deliciosas
”.

CAPITULO 63
Que a Igreja é representada pelos membros de Jesus Cristo. Como devemos
agir em relaçã o aos membros que estã o enfermos e em relaçã o ao nosso
Superior.

UMA

S O Santo orou por outra pessoa, o Senhor Jesus, Rei da Gló ria,
apareceu-lhe, mostrando-lhe, sob a igura do Seu Corpo natural, o
Corpo mı́stico da Sua Igreja, da qual Ele é a Cabeça e Esposa. Ele parecia
ter o lado direito de Seu corpo magni icamente revestido com um
há bito real e divino, mas o esquerdo estava descoberto e parecia
coberto de ú lceras. O Santo foi instruı́do por isso, que o lado direito de
Nosso Senhor signi ica os eleitos que estã o em Sua Igreja, e que foram
impedidos por dons especiais da graça; o lado esquerdo representava o
imperfeito, que ainda está cheio de vı́cios e imperfeiçõ es. Os
ornamentos com que se adornava o lado direito de Nosso Senhor
representavam os benefı́cios e serviços que alguns tinham prestado
com um zelo singular à queles que sabiam ser mais avançados em
virtude do que outros e gozar de maior familiaridade com Deus,
porque, sempre que eles agiram assim, deram, por assim dizer, um novo
ornamento ao Senhor. Mas també m há aqueles que, embora prestem
serviço voluntá rio à s pessoas virtuosas pelo amor de Deus, repreendem
as faltas dos ı́mpios e imperfeitos com tal severidade que aumentam
essas feridas em vez de curá -las.
Nosso Senhor entã o falou assim a Gertrudes: “Que todos aprendam
com Meu exemplo neste assunto como eles devem curar as feridas da
Igreja, que é Meu Corpo mı́stico - isto é , como eles devem corrigir as
faltas de seus vizinhos. Primeiro, eles devem tocá -los gentilmente e se
esforçar, por meio de seus conselhos bondosos e caridosos, para afastá -
los de suas imperfeiçõ es. Quando eles vê em que esses meios sã o
ine icazes, entã o, com o decorrer do tempo, eles podem usar remé dios
mais fortes para efetuar sua cura. Aqueles que nã o ligam para as
Minhas palavras sã o aqueles que, embora conheçam as faltas dos
outros, se preocupam tã o pouco com eles, que nã o os corrigem, nem
mesmo com uma palavra, por medo de se darem o mı́nimo trabalho,
dizendo: com Caim, 'Sou eu o guardiã o do meu irmã o?' Eles se grudam
nas Minhas feridas que, em vez de tentar curá -las, arrancam-nas e
fazem com que se corrompam, permitindo que as imperfeiçõ es de seus
vizinhos continuem com seu silê ncio, quando poderiam curá -las com
suas palavras.
“Há outros que descobrem os defeitos de seus vizinhos, mas cedem
à raiva se nã o sã o corrigidos e castigados por eles no momento, de
acordo com sua fantasia; e tais pessoas resolvem em seus coraçõ es
nunca mais aconselhar ou repreender outra pessoa, imaginando que
seu conselho foi desconsiderado; e ainda assim eles pró prios
condenarã o outros severamente, até mesmo os ferindo por inverdades,
sem lhes dar uma palavra de conselho para sua emenda. E aqueles que
agem assim parecem como se tivessem colocado um gesso em Minhas
feridas exteriormente, enquanto interiormente as rasgam com ferros
em chamas.
“Aqueles que negligenciam corrigir as faltas dos outros mais por
negligê ncia do que por malı́cia, agem como se pisassem em Meus pé s. E
os que seguem os impulsos de sua pró pria vontade, sem se importar em
escandalizar Meus eleitos, de modo que satisfaçam suas inclinaçõ es,
parecem furar Minhas mã os com agulhas em brasa.
“Há outros, també m, que amam sinceramente, como devem, bons e
santos Superiores, e que lhes mostram todo o respeito por suas
palavras e açõ es, mas desprezam aqueles que parecem menos perfeitos
e condenam suas açõ es em suas pró prias mentes. rigorosamente; e
estes agem como se adornassem o lado direito da Minha cabeça com
pé rolas e pedras preciosas e, ao mesmo tempo, golpeavam o outro lado
com violê ncia e sem misericó rdia quando desejo colocá -lo sobre eles
para descansar. Há també m quem aplauda as açõ es mal reguladas dos
seus superiores, para se insinuar na sua amizade e assim poder seguir
mais facilmente a sua pró pria vontade; e estes agem como se
arrastassem Minha cabeça para trá s rudemente, insultando-Me em Meu
sofrimento e encontrando prazer em Minhas feridas ”.
CAPITULO 64
Sobre a participaçã o espiritual dos mé ritos.

UMA

S A Santa orou por outra pessoa que havia sido recomendada com
devoçã o para suas oraçõ es, ela começou pedindo a Deus que a deixasse
participar de todo o bem que ela pudesse realizar, embora indigno, por
suas vigı́lias, seus jejuns, suas oraçõ es e outros bens trabalho. Nosso
Senhor respondeu: “Eu lhe comunicarei todas as graças que a bondade
gratuita de Minha Divindade operou ou operará em você até o im”. O
Santo entã o perguntou: “Visto que a Tua santa e universal Igreja
participa de todo o bem que Tu operas em mim, por mim e por todos os
Teus eleitos, que vantagem particular esta pessoa receberá de Tua
generosidade, em conseqü ê ncia do meu desejo ardente para que ela
participe de todas as graças que me conferes? ” Nosso Senhor
respondeu por esta comparaçã o: "Mesmo como uma senhora de
posiçã o, que entende a arte de habilmente arranjar pé rolas e pedras
preciosas para se adornar e sua irmã honra sua casa e seus pais, e
embora ela que é assim há bil obtenha o maiores aplausos, ainda
aqueles que ela adorna sã o mais admirados do que aqueles que estã o
totalmente privados de tais joias; assim també m a Igreja compartilha o
que é concedido a cada indivı́duo; mas aqueles que os receberam, e
aqueles a quem desejam participar deles, recebem o maior lucro deles.

Entã o o Santo disse a Nosso Senhor que uma pessoa que tinha
atendido Dame Mechtilde em sua doença queixou-se de que ela nã o a
tinha atendido como ela desejava; acima de tudo, ela lamentou nã o ter
falado com ela sobre sua alma como ela desejava, temendo, se o izesse,
que ela pudesse incomodá -la. Nosso Senhor respondeu: “Ela Me serve
diariamente à Minha mesa, como um prı́ncipe faria ao seu imperador,
pela boa vontade com que tantas vezes serviu a Minha esposa com
tanto entusiasmo e liberalidade; pois tenho prazer em todos os serviços
que ela prestou a ela, seja servindo-a com comida e bebida, seja
acalmando seus sofrimentos com suas palavras ou açõ es. E quanto à
queixa que ela faz de nã o ter falado com ela com frequê ncia su iciente
de coisas espirituais, eu suprirei para este mesmo, como um esposo
caridoso, que, visto que sua noiva por respeito se absté m de pedir-lhe
algo que ela deseja ardentemente , concede o dobro à sua
modé stia. Alé m disso, por causa da alegria que ela sente por todos os
favores que tenho concedido a Meu esposo, sua alma receberá no cé u
um deleite inestimá vel por todas as graças que foram derramadas
sobre ela da fonte incompreensı́vel de luz. Pois assim como os raios do
sol, quando caem sobre a superfı́cie da á gua, re letem-se novamente em
alguma outra superfı́cie, assim també m o brilho da Minha graça, que
brilha nas almas daqueles que apresentei na terra com a doçura de
Minha bê nçã o lançará sua luz por toda a eternidade sobre as almas
daqueles que se regozijaram em sua felicidade, e formará uma imagem
mais brilhante do que a do espelho mais polido. ”

CAPITULO 65
Da utilidade da tentaçã o.

UMA

S GERTRUDE orou por uma pessoa que foi grandemente provada pela
tentaçã o, ela recebeu esta resposta: "Fui eu que enviei esta tentaçã o, e
eu a permiti, para que ela pudesse perceber e se arrepender de seus
defeitos, e apagar aqueles defeitos que ela nã o vê ; como geralmente
acontece que, quando os homens percebem qualquer mancha em suas
mã os, eles as lavam, e assim limpam completamente as manchas
menores, que eles nã o teriam percebido ou removido se nã o tivessem
visto uma maior.

CAPITULO 66
Essa comunhã o frequente é agradá vel a Deus.

UMA

Certa pessoa, movida por um zelo pela justiça, à s vezes exclamava


contra aqueles que ela pensava que se aproximavam da Sagrada
Comunhã o com tã o pouca preparaçã o e fervor, e os deixava tã o
temerosos que eles nã o ousavam se comunicar. Por isso, enquanto
Gertrudes orava por esta pessoa e indagava como Nosso Senhor recebia
seu zelo, Ele respondeu: “Visto que tenho o meu prazer em morar com
os ilhos dos homens, e deixei-lhes este Sacramento por excesso de
amor, por uma lembrança de Mim, para que por isso possam lembrar-se
de Mim freqü entemente; e, inalmente, me obriguei a permanecer neste
misté rio até a consumaçã o dos sé culos - todos os que, por suas palavras
ou persuasõ es, expulsam aqueles que nã o estã o em pecado mortal, e
assim atrapalham e interrompem o deleite que encontro neles, age
como um mestre severo, que proı́be os ilhos do rei de falar com os da
mesma idade que podem ser pobres ou abaixo deles em posiçã o,
porque ele considera mais correto que seus alunos recebam a honra
devido à sua dignidade do que a permita-lhes este prazer. ” “Mas,
Senhor,” inquiriu o Santo, “se esta pessoa tomasse uma resoluçã o irme
de nã o cometer mais esta falta, Tu nã o a perdoarias pelo passado?” "Eu
nã o só a perdoaria", respondeu Nosso Senhor, "mas a açã o dela seria
tã o agradá vel para Mim quanto seria para o ilho do rei se seu mestre
permitisse que ele brincasse com aquelas crianças de quem ele o havia
expulsado anteriormente. tal gravidade. ”

CAPITULO 67
Da maneira correta de exercer zelo.

UMA

S GERTRUDE orou por uma pessoa cuja consciê ncia estava perturbada,
temendo ser culpada diante de Deus por nã o ter suportado com
paciê ncia su iciente a negligê ncia de algumas pessoas por cujo mau
exemplo ela temia que a disciplina religiosa fosse relaxada, Nosso
Senhor, que é o melhor de todos os mestres a instruı́ram assim: “Se
algué m deseja que seu zelo seja um sacrifı́cio aceitá vel para Mim e ú til
para sua pró pria alma, deve cuidar especialmente de trê s
coisas; primeiro, ela deve mostrar um semblante gentil e sereno para
com aqueles a quem deseja corrigir por suas faltas, e mesmo, quando a
oportunidade se oferece, ela deve manifestar sua caridade para com
eles por suas açõ es, bem como por suas palavras; em segundo lugar, ela
deve ter o cuidado de nã o publicar essas negligê ncias em lugares onde
nã o espera correçã o da pessoa corrigida, nem cautela dos ouvintes; em
terceiro lugar, quando sua consciê ncia a exorta a repreender qualquer
falta, nenhuma consideraçã o humana deve induzi-la a se calar, mas, por
um motivo puro de dar gló ria a Deus e bene iciar almas, que ela busque
uma oportunidade de corrigir essas imperfeiçõ es com proveito e
caridade . Entã o ela será recompensada de acordo com seu trabalho,
nã o de acordo com seu sucesso; pois se seu cuidado falhar
inteiramente, nã o será culpa dela, mas sim daqueles que se recusam a
ouvi-la. ”
Enquanto a Santa rezava novamente por duas pessoas que se
desentendiam verbalmente, uma ansiosa pela manutençã o da justiça e
a outra pela caridade, Nosso Senhor lhe disse: “Quando um pai que ama
seus ilhos os vê brincando juntos e se divertindo apenas por diversã o,
ele parece nã o notar; mas se ele perceber que um se levanta contra o
outro com muita severidade, ele imediatamente repreende
severamente aquele que está em falta. Assim també m eu, que sou o Pai
das misericó rdias, quando vejo duas pessoas discutindo com uma boa
intençã o, pareço nã o perceber, embora eu pre ira vê -las gozar de toda
uma paz de coraçã o; mas se um icar com raiva do outro, ela nã o
escapará da vara da Minha justiça paterna. ”

CAPITULO 68
Que nem sempre recebemos o fruto de nossas oraçõ es imediatamente.

UMA

OUTRA pessoa queixou-se de nã o ter recebido o fruto das oraçõ es que
lhe foram oferecidas, a Santa expô s o assunto perante Deus e recebeu a
seguinte resposta: “Pergunte a esta pessoa o que ela consideraria mais
vantajoso para um primo ou qualquer outro parente para quem ela
desejava ardentemente um benefı́cio - se o direito a isso lhe fosse
conferido quando criança, ou se ele també m recebesse os rendimentos
e pudesse usá -los como bem entendesse? Segundo a prudê ncia
humana, ela só poderia responder que seria mais vantajoso conferir a
ele o direito ao benefı́cio e à receita quando ele pudesse usá -la
adequadamente, do que quando pudesse esbanjá -la perdidamente. Que
ela, entã o, con ie em Minha sabedoria e Minha Divina misericó rdia, pois
sou seu Pai, seu Irmã o e seu Esposo, e obterei o que será vantajoso para
seu corpo e alma com muito mais cuidado e idelidade do que ela.
qualquer parente; e que ela acredite que Eu preservo cuidadosamente o
fruto de todas as oraçõ es e desejos que sã o dirigidos a Mim por ela, até
que o tempo adequado chegue para permitir que ela os desfrute; entã o
vou entregá -los inteiramente a ela, quando ningué m poderá corrompê -
los, ou privá -la deles por suas importunaçõ es. E que ela seja persuadida
de que isso é muito mais ú til para ela do que derramar em sua alma
alguma doçura que poderia, talvez, ser uma ocasiã o de vangló ria para
ela, ou ser manchada por seu orgulho; ou do que conceder-lhe alguma
prosperidade temporal, o que pode se provar uma ocasiã o de pecado. ”

CAPITULO 69
O valor da obediê ncia exata.

UMA

S A Hebdomadaria recitou o capı́tulo nas matinas de cor, foi revelado a


Gertrude que ela agia assim para satisfazer um preceito da Regra67o
que requer que seja recitado assim, e que ela adquirisse tanto mé rito
por isso, como se tantas pessoas quantas fossem as palavras no que ela
cantava intercedessem por ela junto a Deus. Ela se lembrou do que Sã o
Bernardo disse que acontecerá na hora da morte, quando nossas açõ es
se dirigirem a nó s assim: “Tu nos produziste; nó s somos o seu
trabalho; nunca o deixaremos, mas permaneceremos continuamente
com você e compareceremos com você no julgamento ”. Entã o Deus
permitirá que todas as açõ es do obediente apareçam como tantas
pessoas distintas, que o consolarã o e intercederã o por ele junto a Deus,
para que cada boa açã o realizada pela obediê ncia, com uma intençã o
pura, obtenha o perdã o de alguma negligê ncia e, assim, proporcionam
consolo extremo à s pessoas em agonia.

CAPITULO 70
Instruçõ es sobre diferentes assuntos.

§1. Para a Hebdomadaria.

UMA

NO OUTRA Hebdomadaria, que foi designada para ler o Salté rio, tendo-
se recomendado à s oraçõ es da Santa, ela começou a interceder por ela,
e viu em espı́rito o Filho de Deus elevando esta pessoa perante o trono
de Seu Pai Eterno, orando-Lhe para concede-lhe uma parte do zelo e da
idelidade com que Ele desejou a gló ria de Deus, seu Pai, e a salvaçã o do
gê nero humano. Depois de orar assim por essa pessoa, ela apareceu
vestida com ornamentos como os dele. Portanto, como se diz que o
Filho de Deus está diante de Seu Pai para torná -lo favorá vel à Sua Igreja,
essa pessoa, como outra Ester, estava com o Filho de Deus diante do Pai
Eterno orando por seu povo, isto é , para sua comunidade. E como ela
assim se cumpriu da obrigaçã o de recitar o Salté rio, o Pai celeste
recebeu suas palavras de duas maneiras diferentes, como um senhor
que recebe uma dı́vida da pessoa que entrou em iança para seus
devedores, e como uma quantia em dinheiro dada por seu mordomo
para distribuir entre seus amigos. Pareceu, també m, que Nosso Senhor
deu a esta pessoa tudo o que ela desejava obter com suas oraçõ es pela
comunidade, e que Ele havia concedido a eles tudo o que pediram.
§2. Por que Deus permite faltas em superiores.
Enquanto Santa Gertrudes orava a Deus para corrigir uma falha em
uma de suas superiores, ela recebeu esta resposta: “Você nã o sabe que
nã o só esta pessoa, mas també m todos os que estã o a cargo desta
Minha amada comunidade, tê m alguns defeitos, já que ningué m pode
icar totalmente livre deles nesta vida? E isso acontece por excesso de
misericó rdia, ternura e amor com que escolhi esta congregaçã o, para
que assim seu mé rito seja grandemente aumentado. Pois é muito mais
virtuoso se submeter a uma pessoa cujas falhas sã o aparentes do que a
algué m que sempre parece perfeito. ” A isso o Santo respondeu:
“Embora eu esteja cheio de alegria em perceber grandes mé ritos nos
inferiores, desejo ardentemente que os superiores estejam livres de
defeitos e temo que os contraiam por suas imperfeiçõ es”. Nosso Senhor
respondeu: “Eu, que conheço todas as suas fraquezas, à s vezes permito
que, na diversidade de seus empregos, sejam maculados por alguma
mancha, porque de outra forma eles nunca poderiam atingir um grau
tã o alto de humildade. Portanto, como o mé rito dos inferiores aumenta
tanto pelas perfeiçõ es quanto pelas imperfeiçõ es de seus superiores, o
mé rito dos superiores aumenta pelas perfeiçõ es e imperfeiçõ es dos
inferiores, mesmo que os diferentes membros do mesmo corpo
contribuam para o aumento mú tuo ”.
Dessas palavras, Gertrudes aprendeu a admirar a in inita sabedoria
de Deus, que organiza todas as coisas para a perfeiçã o de Seus eleitos
com tanto cuidado, que até usa seus defeitos para aumentá -los em
perfeiçã o; de modo que, se nã o houvesse outro assunto senã o este em
que a misericó rdia de Deus resplandecesse, as açõ es de graças unidas
de todas as Suas criaturas nã o seriam su icientes para louvá -Lo por
isso.
§3. Dos frutos da adversidade e como devemos corrigir nossas
falhas.
Enquanto a Santa orava por uma pessoa que estava em apuros, ela
recebeu esta resposta: “Nã o desa ie [sic] em Mim, pois Eu nunca
permitirei que Meus eleitos sejam provados alé m de suas forças; e
estou sempre com eles para moderar o peso de suas adversidades,
assim como uma mã e que deseja aquecer seu ilho pequeno sempre
manté m a mã o entre o fogo e seu ilho; entã o, quando sei que é
necessá rio puri icar Meus eleitos com sofrimentos, nã o os envio para
sua destruiçã o, mas para prová -los e contribuir para sua salvaçã o
”. Enquanto ela orava depois por uma pessoa que ela tinha visto
cometer uma falta, ela disse, no fervor de seus desejos: “Senhor, embora
eu seja a menor das Tuas criaturas, visto que o que peço por este
homem é para a Tua gló ria, por que Nã o me ouves, Tu que é s todo-
poderoso e podes fazer todas as coisas? ” O Senhor respondeu: “Assim
como Minha onipotê ncia pode fazer todas as coisas, assim també m
Minha sabedoria discerne todas as coisas; portanto, nã o faço nada que
nã o seja adequado. E como um monarca terreno que tinha o poder e a
vontade de limpar seus está bulos nã o o faria por si mesmo, porque
seria inadequado, entã o eu nã o retiro as pessoas do mal em que caı́ram
por sua pró pria vontade, se nã o o izerem. mudem sua vontade e se
tornem agradá veis aos Meus olhos e dignos do Meu amor ”.
§4. De evitar negligência e confusão no O ício Divino.
Enquanto a Santa observava uma pessoa que percorria o coro
durante as matinas para lembrar à s irmã s alguma observâ ncia que
havia sido esquecida e, portanto, causava alguma confusã o, ela
perguntou a Deus se essa açã o era agradá vel para ele. Ele respondeu:
“Todo aquele que se esforçar para evitar qualquer negligê ncia no Ofı́cio
Divino para Minha gló ria, e admoestar outros com o mesmo propó sito,
suprirei o que ele omitiu neste dever de piedade e devoçã o que é
obrigado a praticar”.

CAPITULO 71
Da perda de amigos; e como devemos oferecer nossas provaçõ es a Deus.
UMA

S THE Saint orou por uma pessoa que estava a lita com a doença de
uma amiga cuja morte ela esperava, ela recebeu esta instruçã o de Deus:
“Quando algué m perde, ou teme perder, um amigo iel em quem nã o
encontra apenas o consolo de amizade, mas també m de grande ajuda
para seu avanço na virtude, se eles Me oferecerem esta a liçã o, e
preferirem que Minha Vontade seja realizada do que que seu amigo
viva, eles podem estar certos, se eles formularem esse desejo em seus
coraçõ es até mesmo para uma ú nica hora, que preservarei sua oferta
na mesma beleza e frescor como foi apresentada a Mim; e todas as
a liçõ es que podem acontecer a eles posteriormente atravé s da
fraqueza humana contribuirã o para o avanço de sua salvaçã o de tal
maneira, que todos os pensamentos que podem entristecê -los - como,
por exemplo, quando eles se lembram de tal ou tal consolo que eles
possam encontraram nesta pessoa, e da qual estã o agora privados -
todas aquelas dores e inquietaçõ es que oprimem o homem pela
fraqueza de sua natureza humana - só servirã o para dar lugar em suas
almas para consolaçõ es Divinas, apó s a oferta de que tenho falado; pois
concederei a eles tantas consolaçõ es quantas tiverem sofrido
a liçõ es. E agirei para com eles até mesmo como um lapidá rio que é
obrigado a colocar em sua obra de ouro ou prata tantas pedras
preciosas quanto ele criou nichos para recebê -las. Agora, Minha
consolaçã o divina é como uma pedra preciosa, porque se diz que as
pedras preciosas tê m força;68 assim, o consolo divino que o homem
obté m ao suportar uma a liçã o passageira tem tal e icá cia, que nã o há
nada que possa ser renunciado nesta vida, por maior que seja, que nã o
seja restaurado cem vezes nesta vida e mil vezes na eternidade ”.

CAPITULO 72
Instruçõ es sobre vá rios assuntos.

§1. Das manchas que podem manchar a pureza da virgindade.

UMA

S GERTRUDE orou uma vez por uma pessoa que desejava ardentemente
ter o mé rito da virgindade diante de Deus, mas que temia ter
manchado seu brilho por alguma fraqueza humana, ela apareceu nos
braços do Senhor, vestida modestamente com um manto branco como
a neve; e Ele deu esta instruçã o: “Quando a virgindade recebe uma leve
mancha pela fraqueza humana, e esta se torna a ocasiã o de exercer
uma verdadeira e só lida penitê ncia, faço com que essas manchas
apareçam como ornamentos na alma e a adornem como dobras
adornam um manto.69No entanto, como a Escritura, que nã o pode
estar errada, nos assegura 'que a incorrupçã o se aproxima de Deus'
( Sb 6:20), deve-se observar que se essas manchas fossem causadas
por grandes pecados, impediriam as efusõ es de Amor divino."
§2. De renunciar ao nosso próprio julgamento.
Enquanto rezava por outra pessoa que desejava a consolaçã o divina,
recebeu esta resposta: “Ela mesma é o obstá culo que a impede de
receber a doçura da Minha graça; pois quando atraio Meus eleitos para
Mim pelas atraçõ es interiores de Meu amor, aqueles que permanecem
obstinados no exercı́cio de seu pró prio julgamento colocam o mesmo
impedimento que algué m faria que fechasse as narinas com o manto
para evitar cheirar um delicioso perfume. Mas aquele que, por amor de
Mim, renuncia ao seu pró prio julgamento para seguir o de outrem,
adquire um mé rito ainda maior por agir contra a sua vontade, porque
nã o é apenas humilde, mas perfeitamente vitorioso; pois o apó stolo diz
que ningué m será coroado 'a menos que se esforce legalmente'. ”( 2
Tim. 2: 5).
§3. Que a vontade é considerada diante de Deus como um ato.
Enquanto a Santa rezava por uma pessoa que encontrava grande
di iculdade em um trabalho que lhe fora ordenado, Nosso Senhor a
instruı́a assim: “Se algué m deseja, por amor de Mim, empreender
qualquer trabalho penoso, pelo qual teme ser impedido de suas
devoçõ es, se ele prefere o cumprimento de Minha Vontade ao bem de
sua alma, estimo tanto a pureza de sua intençã o, a ponto de considerá -
la como se tivesse realmente sido realizada; e mesmo que nunca
comece o que empreendeu, nã o deixará de obter de Mim a mesma
recompensa como se o tivesse feito e nunca tivesse cometido a menor
negligê ncia no assunto.
§4. Que não devemos preferir as coisas exteriores às
interiores.
Em outra ocasiã o, quando a Santa rezou por uma pessoa que se
preocupava com algum assunto de que ela pró pria era a causa, recebeu
esta resposta: “Com estas dores puri ico a negligê ncia que ela contraiu,
preferindo, por motivos humanos, um utilidade exterior para seu
desenvolvimento interior. ” “Mas, uma vez que ela nã o pode viver sem
os bens exteriores”, respondeu a Santa, “que falta ela pode ter cometido
por esta previsã o, que é uma necessidade de seu ofı́cio?” Nosso Senhor
respondeu: “E uma honra e um ornamento para uma senhora de
posiçã o usar um manto forrado com peles; mas se ela o virasse do
avesso, o que era adequado para sua posiçã o se tornaria um assunto de
confusã o, de modo que sua mã e, para evitar tal exposiçã o, a cobrisse
com outro manto, para que ela nã o fosse considerada perdida. Assim,
Eu, que amo essa pessoa com ternura como Meu pró prio ilho, cubro
seus defeitos com diversos tipos de a liçõ es, e permito que aconteçam
com ela por esse motivo, sem culpa dela. Alé m disso, adornei-a com
paciê ncia como um ornamento especial; pois eu recomendei no
Evangelho que os homens deveriam buscar primeiro o reino de Deus e
Sua justiça - isto é , a perfeiçã o do homem interior - e entã o, nã o que
eles deveriam buscar as coisas exteriores, pois eu prometi que elas
seriam adicionadas para eles." Essas palavras devem ser
cuidadosamente consideradas por todos os religiosos que desejam ser
amigos de Deus.
PARTE QUATRO
As revelaçõ es de Santa Gertrudes
Compilado pelas religiosas de seu mosteiro

CAPITULO 1
Com quanta devoçã o devemos nos preparar para os festivais. Vantagens de nos
recomendarmos à s oraçõ es dos outros. Nosso desfrute de Deus corresponde
aos nossos desejos e à nossa capacidade de recebê -lo.

UMA

S A Santa estava observando durante a maior parte da noite que


precedeu a Vigı́lia de Natal, antes das Matinas, e se ocupou
inteiramente em meditar sobre a Resposta De illa occulta ,1no qual ela
teve grande prazer, ela foi repentinamente arrebatada em espı́rito, e em
seu arrebatamento, ela viu Jesus Cristo repousando doce e
paci icamente no seio de Seu Pai; e os desejos que Lhe foram dirigidos
por aqueles que desejavam passar esta festa com grande devoçã o
apareceram sob a igura de um certo vapor. Entã o, este belo e gentil
Jesus enviou de Seu Divino Coraçã o uma luz que se espalhou sobre este
vapor, que lhes mostrou o caminho pelo qual deveriam vir a Ele. A
medida que cada um se aproximava de Deus, ela percebeu que aqueles
que se haviam recomendado humildemente à s oraçõ es dos outros
eram conduzidos pela mã o por pessoas que os rodeavam, e assim iam
direto a Deus no esplendor desta luz, que emanava de Sua Coraçã o:
enquanto aqueles que con iaram apenas em seus pró prios esforços e
oraçõ es se desviaram deste caminho, mas chegaram inalmente ao
termo por uma luz que veio de Deus.
Como a Santa desejava saber com que graça especial agradou a
Deus comunicar-se a cada uma de suas irmã s, imediatamente as viu
repousando no seio do Filho de Deus, onde cada uma se encheu de
alegria segundo sua capacidade e desejos. . Ela observou que nenhum
impedia o outro, mas que cada um desfrutava de Deus tã o plenamente
como se Ele se tivesse dado a cada um individualmente; que alguns o
abraçaram com amor, como uma criança prestes a nascer para nó s; que
outros O consideravam um amigo iel, a quem eles poderiam, portanto,
revelar todos os segredos de seus coraçõ es; enquanto outros,
derramando toda a alegria de suas almas, acariciavam-no como uma
esposa escolhida entre mil, e mais amada do que todos - de forma que
cada uma encontrasse Nele, da maneira mais pura e santa, a realizaçã o
de seus desejos individuais.
Entã o a Santa adiantou-se, segundo o seu costume, e lançou-se aos
pé s do seu Senhor, dizendo-lhe: “O Senhor muito amoroso, quais devem
ser as minhas disposiçõ es e que devoçã o posso oferecer a Tua
Santı́ssima Mã e em este nascimento divino, visto que minha
enfermidade corporal Me impede até mesmo de recitar as Horas a que
minha pro issã o me obriga? ” Pareceu-lhe entã o que Nosso Senhor,
movido pela compaixã o pela sua pobreza, reuniu tudo o que ela havia
dito para a gló ria de Deus ou o bem das almas durante o Advento, e
ofereceu com amor a sua doce Mã e, que estava sentada na gló ria. ao Seu
lado; e a isso Ele juntou todos os frutos que suas palavras poderiam ter
produzido, até o im dos tempos, para suprir qualquer negligê ncia que
ela pudesse ter cometido em seu serviço. A Mã e de Deus, tendo
recebido esta oferta, apareceu como se adornada por ela; e Gertrudes
se aproximou dela, suplicando-lhe que intercedesse por ela junto a seu
Filho. Entã o a Santı́ssima Virgem voltou-se para Ele com um semblante
amoroso e, depois de abraçá -lo, dirigiu-se a Ele assim: “Meu ilho
amado, rogo-te que une o teu afeto ao meu e conceda à s oraçõ es desta
alma que te ama com tanto fervor, tudo o que ela pede de Ti. ” Entã o o
Santo se dirigiu a Nosso Senhor assim: “O Doçura de minha alma! O
Jesus, amoroso e desejá vel! O querido de todos os que sã o queridos!
” Depois de ter dito essas e muitas palavras semelhantes, ela exclamou:
“Que fruto pode haver nestas palavras, proferidas por algué m tã o
vil?” Nosso Senhor respondeu: “Que importa que tipo de madeira se usa
para agitar perfumes e vasos de incenso, uma vez que, seja o que for
que se mexam, sempre exalam o mesmo odor? Assim, quando algué m
me diz: 'Meu doce Senhor', etc., que importa se eles se consideram
totalmente vis, já que Minha bondade, como um perfume despertado,
exala um odor no qual eu tenho extremo prazer, e que dá a quem o
comove com suas palavras uma doçura que é para eles um antegozo da
vida eterna? ”

CAPITULO 2
Instruçõ es para celebrar a Festa da Natividade.

No dia seguinte, a Santa vigiou algum tempo antes das matinas,


ocupando-se em re letir, na amargura do seu coraçã o, sobre alguma
impaciê ncia a que havia cedido na noite anterior, por negligê ncia de
quem a assistia. . Ao ouvir o primeiro sinal para as Matinas, encheu-se
de alegria, louvando a Deus pelo anú ncio de que a festa do mais doce
presé pio de seu Senhor estava tã o pró xima. Entã o o Pai Eterno dirigiu-
se a ela com amor, dizendo: “Eis que vou enviar à tua alma a afeiçã o que
enviei diante da face de Meu ú nico Filho para puri icar o mundo de seus
pecados e acendê -la-ei em ti. alma, para que você també m possa ser
puri icado de todas as manchas pecaminosas de suas negligê ncias
passadas, e assim você pode estar preparado para celebrar a festa que
se aproxima dignamente. ” Depois desse favor, ela re letiu amargamente
sobre as faltas que havia cometido, e se considerava uma criatura
totalmente indigna das graças de Deus, pois a negligê ncia insigni icante
de um de seus servos a levara a ceder a tamanha impaciê ncia.
Mas a misericó rdia divina a instruiu que todas as re lexõ es que os
homens fazem com tristeza por suas faltas, depois de terem feito
penitê ncia por eles, servirã o para prepará -los para receber a graça de
Deus, como a Escritura ensina: “Se os ı́mpios izerem penitê ncia por
eles todos os seus pecados ... ele viverá e nã o morrerá .
” ( Ezequiel 18:21).
Ao segundo sino para as matinas, o Santo voltou a louvar a Deus; e
Deus, o Pai, falou assim a ela: “Eis que tornarei a colocar em tua alma o
que enviei antes de Meu Filho para corrigir os defeitos e fraquezas do
homem, a im de que sejam corrigidos os defeitos que nã o sã o para tua
perfeiçã o; pois há certas falhas nos homens, cujo conhecimento serve
para humilhá -los e causa um santo constrangimento, e essas falhas
promovem sua salvaçã o; e eu permito esses defeitos até mesmo
naqueles a quem mais amo, a im de exercer sua virtude. Mas há outras
falhas das quais eles pensam pouco e, o que é pior, eles as defendem
como se fossem virtudes, e nã o serã o corrigidos por elas. Essas falhas
colocam a alma em grande perigo de danaçã o eterna; mas a partir deles
sua alma está agora puri icada. ”
Ao terceiro toque do sino, enquanto ela continuava a louvar a Deus,
o Pai Eterno encheu sua alma com todas as virtudes que haviam sido
encontradas nas almas dos Patriarcas, Profetas e Fié is antes do advento
de Seu Filho - como a humildade , desejo, conhecimento, amor,
esperança, etc. - que ela pudesse celebrar uma festa tã o grande
dignamente. O Senhor entã o a adornou com essas virtudes como tantas
estrelas brilhantes, e icou diante dela, dizendo: “Minha ilha, qual você
prefere - que eu a sirva ou que você Me sirva?” Pois ela desfrutou de
Deus de duas maneiras - primeiro, por um ê xtase que a absorveu
inteiramente em Deus, de modo que ela nã o pô de explicar muito do que
aprendeu ali para a edi icaçã o de outros; e em segundo lugar, por uma
graça que Deus lhe conferiu de instruı́-la nas Sagradas Escrituras, da
qual Ele comunicou a ela o espı́rito e o signi icado, de modo que
parecia-lhe como se ela conversasse com Deus em familiaridade, como
um amigo faria com seu amigo. ; e isso permitiu que ela fosse
extremamente ú til para os outros. Deus entã o perguntou a ela o que ela
preferia - que Ele deveria servi-la na primeira maneira, ou que ela
deveria servi-Lo na segunda? Mas como ela buscava nã o as suas
pró prias coisas, mas as do Senhor Jesus, ela preferia ter o trabalho de
instruir seu pró ximo para a gló ria de Deus, a buscar sua pró pria
satisfaçã o provando Sua doçura; e Deus parecia muito satisfeito com
sua escolha.
Quando as matinas começaram, ela implorou a assistê ncia divina
com as palavras Deus in adjutorium ; pela Domine labia mea aperiis , que
se repete trê s vezes, ela saudou e adorou, com todo o seu coraçã o, toda
a sua alma e todas as suas forças, o poder in inito do Pai, a sabedoria
impenetrá vel do Filho e a bondade inefá vel do Espı́rito Santo -
adorando a Trindade na Unidade e a Unidade na Trindade; entã o, nos
primeiros cinco versos do Salmo Domine quid multiplicati sunt ,2ela se
aproximou em espı́rito das feridas sagradas de Jesus Cristo e as
abraçou com amor; no verso sexto deste Salmo, ela se prostrou aos Pé s
de Nosso Senhor, para adorá -Lo e agradecê -Lo pela remissã o de todos
os seus pecados; no sé timo, ela aproximou-se de Suas sagradas mã os e
agradeceu-Lhe todos os favores que recebera de Sua bondade durante
toda a vida; no oitavo, ela se inclinou profundamente diante da Ferida
amorosa de Seu lado sagrado; no nono (a Gloria Patri ), uniu-se a todas
as criaturas na adoraçã o da Trindade refulgente e sempre pacı́ ica e,
aproximando-se do Coraçã o de Jesus, saudou-o com o mais profundo
afecto, exaltando-o por ter escondido nele todo o incompreensı́vel
riquezas da Divindade.
No primeiro versı́culo do Salmo Venite,3tendo-se prostrado mais
uma vez para adorar a Ferida do Pé Esquerdo do Senhor, ela obteve por
meio dela a remissã o completa de todos os pecados que cometeu por
pensamentos ou palavras. Entã o ela adorou o Pé Direito no segundo
versı́culo, e obteve o perdã o de todos os pecados de omissã o pelos
quais ela falhou na perfeiçã o de seus pensamentos e palavras; no
terceiro versı́culo, ela se voltou para a Bendita Ferida da Mã o Esquerda
e recebeu a remissã o de todos os seus pecados por ato; na quarta, ela
recebeu da destra do Senhor o que supriu todas as omissõ es em suas
boas obras; por ú ltimo, no quinto verso ela se aproximou da Ferida
Santı́ssima do Lado de seu Amado (que abunda e superabunda em todo
o bem), e, tendo-a beijado com muita devoçã o no lugar de onde a Agua
Preciosa brotou ao toque do lança de soldado, ela foi limpa de todas as
manchas, tornou-se mais branca que a neve e adornada com todas as
virtudes pelo Precioso Sangue; entã o, cantando a Gloria Patri e
honrando a adorá vel Trindade como no Salmo anterior, ao cantar
o Sicut erat , ela concluiu tudo no Coraçã o de Jesus, que conté m tudo o
que é Divino e satisfató rio. Durante o Invitató rio Hodie scietis , que se
repete cinco vezes na Venite e duas vezes depois, Deus puri icou nela
sete afetos, que se tornaram maravilhosamente enobrecidos por
estarem unidos aos afetos de Jesus Cristo.
Enquanto cantavam os outros Salmos, ela permanecia na presença
do Senhor vestida de virtudes, como tantas estrelas brilhantes. Neste
momento, com todos os seus desejos voltados para Deus, ela orou para
que tudo o que ela pudesse fazer, seja exterior ou espiritualmente, no
dia da Natividade de seu doce Jesus, fosse feito para a honra e gló ria do
Santı́ssimo e adorá vel Trinity. Quando o sino tocou para as Laudes,
Nosso Senhor disse-lhe: “A medida que o som destes sinos anuncia a
Festa da Minha Natividade, concederei tudo o que izeres neste festival -
seja cantando, lendo, rezando, meditando ou até mesmo por exercı́cios
exteriores, como comer e dormir, ressoará para os louvores da
Santı́ssima Trindade, pela uniã o com Meus desejos e amor, que sempre
estiveram em harmonia com a Vontade de Deus Pai ”.
Quando eles acenderam as sete velas,4ela recebeu de Deus os sete
dons do Espı́rito Santo, tanto quanto ela era capaz e na proporçã o em
que Jesus Cristo foi cheio deles. Como ela implorou a Nosso Senhor,
pela condescendê ncia com que Ele desejou nascer em um
está bulo,5 para preparar seu coraçã o para Seu nascimento, este
clemente Senhor cumpriu seu desejo e fez um está bulo em seu coraçã o,
dando-lhe Sua onipotê ncia, sabedoria e benignidade por telhado e
paredes.
Ela agora contemplava com grande alegria e admiraçã o todas as
boas obras que Deus capacita os homens a realizarem por Sua bondade
e poder, e nas quais Ele permitiu que ela participasse como preparaçã o
para esta festa, presas a essas paredes como pequenos sinos. Entã o ela
viu o Senhor Jesus, que comunicou novas alegrias e presentes a ela,
enquanto era assistido pelos prı́ncipes do cé u.
Depois disso, como a Santa repetiu, duzentas e vinte vezes: “Eu te
adoro, eu te amo”, etc., parecia-lhe que a cada oraçã o Seus membros
eram apresentados a ela para serem usados como instrumentos de
louvor Divino; e que depois Jesus Cristo puri icou, de maneira
maravilhosa, todos os seus sentidos, exteriores e interiores, e os
renovou na puri icaçã o, de modo que se tornaram santi icados pela
uniã o com os Seus. Quando o sino tocou para o Capı́tulo, ela novamente
louvou a Deus por Sua bondade em ajudá -lo pessoalmente, como havia
sido revelado a Mechtilde, sua irmã ; e ela sabia que Ele estava presente
pela devoçã o que observava nas irmã s que assistiam ao Capı́tulo e que
ardiam de ardor por ver concretizada esta revelaçã o, porque parecia
que Nosso Senhor esperava com extrema alegria até que toda a
comunidade se reunisse, estando sentada no lugar da Senhora
Abadessa, em cuja pessoa Ele apareceu para presidir, mas com uma
gló ria maravilhosa, e acompanhada por um grande nú mero de espı́ritos
bem-aventurados, que cercaram o trono de Sua Majestade.
Quando os religiosos estavam sentados, Nosso Senhor disse, como
que em um transporte de alegria: “Eis os meus amigos que aqui se
reuniram!” Um dos religiosos entã o disse o Jube , Domine ,6e outra
resposta, In viam mandatorum suorum , Nosso Senhor estendeu Sua
venerá vel Mã o e abençoou o convento, dizendo: “Eu consinto em tudo o
que deve ser feito ou promulgado, repousando na onipotê ncia de Meu
Pai.” Entã o, quando o religioso começou as palavras, "J ESUS C HRISTUS ,
F ILIUS D EI VIVI , EM B ETHLEHEM J UDA NASCITUR ", todos os coros de Anjos,
ouvindo o anú ncio do nascimento de seu Senhor e Rei, icaram cheios
de alegria inefá vel, e prostrou-se por terra para adorá -Lo. As irmã s
entã o iniciaram o Miserere , de acordo com o costume. O anjo guardiã o
de cada religiosa apresentou o seu coraçã o com alegria a Deus; e
parecia que Nosso Senhor recebia de cada um certo nó 7ou corda
torcida, que Ele colocou em Seu seio. Quando aqueles que amavam a
Deus com o maior fervor ofereciam-Lhe o coraçã o, os Anjos do coro
dos Sera ins, que atendiam a Nosso Senhor e O apoiavam, dispuseram
os religiosos para sua oferenda. Quando o coraçã o dos mais iluminados
no conhecimento de Deus foi oferecido, os anjos do coro dos Querubins
vieram apresentar sua homenagem. Quando os coraçõ es daqueles que
mais se exercitaram na virtude foram oferecidos, os Anjos do coro das
Virtudes vieram em seu auxı́lio; e assim també m os Anjos externos
exerceram seu ministé rio, conforme aqueles cujas virtudes
correspondiam à sua natureza vieram oferecer seus coraçõ es a Nosso
Senhor. Mas, quanto à queles em quem essa revelaçã o nã o suscitou
mais devoçã o do que de costume, foram oferecidos a Deus pelos
Anjos; mas seus corpos pareciam ao mesmo tempo como se
estivessem prostrados no chã o.
Entã o Gertrudes se aproximou de seu Esposo e ofereceu-Lhe o
primeiro Miserere , que foi dito por ela, exclamando: “O minha amada
Esposa, eu renuncio meu pró prio interesse nisto, e ofereço-o a Ti por
Teu eterno louvor, para que me agrade Conceda alguma graça a Teus
amigos especiais ou meus, conforme agradar a Tua misericó rdia.
” Nosso Senhor entã o recebeu este Miserere como uma pé rola brilhante
e bela, colocando-a em um anel que Ele tinha diante de Si, que estava
maravilhosamente enfeitado com pedras preciosas e lores de ouro,
dizendo: “Eis que coloquei esta pé rola que oferecestes Eu no centro
deste cı́rculo, para que todos aqueles que se recomendam à s suas
oraçõ es, ou que apenas imploram a sua ajuda com um olhar, possam
tirar dele a mesma vantagem que os judeus tiraram ao olhar para a
serpente de bronze, que eu iz para ser levantado no deserto por
Moisé s. ”
Terminados os Salmos, e as irmã s se acusando de suas faltas,
apareceram dois prı́ncipes, que traziam uma tá bua de ouro, que
seguravam diante de Nosso Senhor. Ele entã o abriu os nó s, que estavam
escondidos em Seu seio; e todas as palavras dos Salmos e oraçõ es que
foram ditas foram vistas sob a forma de pé rolas brilhantes e belas, cada
uma das quais brilhava maravilhosamente e emitia um som doce e
melodioso. Este brilho era uma indicaçã o do zelo e amor com que essas
almas se esforçavam por agradar a Nosso Senhor, e o som melodioso
uma prediçã o de que o fruto que toda a Igreja colheria de suas oraçõ es
lhes seria duplo.
Gertrude percebeu que o Senhor realizou todas essas maravilhas
pela devoçã o particular que a comunidade tinha, esperando que Ele
presidisse naquele dia o Capı́tulo. Enquanto os nomes eram lidos no
tablet8daqueles que deviam cantar ou ler nas matinas, Nosso Senhor
olhava para eles com prazer, e inclinava sua cabeça para aqueles que
ouviam atentamente o que lhes era prescrito com marcas tã o sensı́veis
de ternura, que a lı́ngua do homem nã o conseguiria descrever. ; e Ele
consolou aqueles que estavam tristes porque nada lhes foi dado para
cantar de uma maneira inefá vel. Gertrude, que contemplou tudo isso
em espı́rito, disse a Nosso Senhor: “O Senhor, se esta comunidade
soubesse que extrema ternura Tu tens por ela, como icariam tristes
aquelas irmã s cujos nomes nã o foram lidos.” Nosso Senhor respondeu:
“Todos os que desejam cantar ou ler, embora nã o o façam, serã o
tratados por Mim com a mesma bondade como se tivessem; pois sua
vontade Me agrada tanto quanto sua açã o, e será igualmente
recompensada. E todos aqueles que ouviram o que foi prescrito a eles e
o receberam com uma inclinaçã o da cabeça, desejando realizá -lo para
Minha gló ria e implorando-Me para ajudá -los a realizá -lo dignamente,
atrairã o a doçura de Meu amor sobre eles, que Eu nã o vou adiar a
concessã o de novas graças a eles como um sinal de Minha aprovaçã o. ”
Quando a Prioresa, de acordo com as regras da Ordem,9Acusou-se
de negligê ncia, em nome da Comunidade, perante a Senhora Abadessa,
Nosso Senhor falou assim: “Eu te absolvo, pelo poder da Minha
Divindade, de todas as negligê ncias de que te acusaste perante Mim; e
sempre que você cair novamente devido à fragilidade humana, eu o
perdoarei e mostrarei misericó rdia. ”
Ao lerem os sete Salmos Penitenciais como penitê ncia por seus
pecados de negligê ncia e desatençã o, cada palavra apareceu na mesma
tá bua em forma de pé rolas; mas eram de cor escura e dispostos
pró ximos aos brilhantes de que já falamos; porque esses Salmos foram
repetidos por costume, nã o por devoçã o especial: de onde podemos
aprender que o que é feito por costume contribui em algum grau para o
nosso mé rito, embora Deus considere in initamente mais excelente e
agradá vel o que é feito por meio da devoçã o.
Como o verso Gloria tibi, Domine ,10foi cantado nas Vé speras, o
Santo viu uma multidã o de Anjos voando ao redor do convento, e
cantando as mesmas palavras em tons altos e alegres. Ela entã o
perguntou a Nosso Senhor que vantagem os homens ganharam quando
os anjos se juntaram assim em sua salmodia. Como Ele nã o respondeu,
e ela continuou a desejar esta informaçã o, ela foi interiormente
informada, por inspiraçã o Divina, que quando os Anjos estã o presentes
em nossas solenidades, eles oram a Deus para que aqueles que os
imitam em sua devoçã o os imitem na pureza de corpo e alma.
Entã o ela começou a duvidar, como sempre acontece, se esse
pensamento viera de Deus ou se procedia apenas de sua pró pria
imaginaçã o. Mas Nosso Senhor a consolou com esta resposta: “Nã o
temas; pois a tua vontade está tã o perfeitamente unida à Minha, que só
podes querer o que Eu faço e, consequentemente, desejas apenas a
Minha gló ria. Esteja certo de que os santos Anjos sã o tã o submissos aos
seus bons desejos, que se até agora eles nã o oraram por você como
você deseja, eles o farã o doravante com o maior fervor. E porque eu,
como seu Rei, iz de você algum tipo de rainha, eles estã o tã o dispostos
a obedecê -la, que se você exigir qualquer coisa deles, eles se
empenharã o em realizá -lo no momento em que você desejar. ”
Depois das Vé speras, enquanto as relı́quias do convento e a imagem
da Santı́ssima Virgem eram levadas em procissã o como de costume, a
Santa lamentou que sua doença a impedisse de recitar uma sé rie de
oraçõ es e realizar alguns atos de devoçã o que ela desejava oferecer. à
Mã e de Deus nesta festa solene; mas ela encontrou-se ao mesmo tempo
cheia de uma unçã o do Espı́rito Santo, de modo que lhe ofereceu o mais
doce e nobre Coraçã o de Jesus Cristo para suprir todas as suas
negligê ncias. A Santı́ssima Virgem recebeu esta oferenda com grande
satisfaçã o e prazer, porque considerou este Coraçã o como o presente
mais honroso que se poderia oferecer a ela, pois continha todos os
bens.

CAPITULO 3
Para a Festa da Natividade. Apariçã o do Menino Jesus e de sua Mã e Santı́ssima.

NA NOITE DA Natividade, nas Matinas, enquanto a Santa continuava


esses exercı́cios, Nosso Senhor, para corresponder aos seus
movimentos de idelidade e devoçã o, atraiu-a inteiramente a Si, para
que, por uma doce in luê ncia de Sua Divindade em sua alma, e por um
re luxo de conhecimento que passou de sua alma a Deus, ela conheceu
tudo o que era cantado nas Matinas, sejam Responsá veis ou Salmos; e
esse conhecimento deu-lhe uma alegria inefá vel e
incompreensı́vel. Enquanto isso continuava, ela viu todos os santos em
pé diante do trono do Rei dos reis, recitando as matinas com grande
devoçã o, para Sua divina honra e gló ria.
Lembrando-se de vá rias pessoas que haviam sido recomendadas
para suas oraçõ es, ela disse, com grande humildade: “Como posso eu,
que sou tã o indigna, orar por pessoas que Te louvam com tanto
trabalho e devoçã o, já que minha enfermidade me impede de seguir seu
exemplo ? ” Nosso Senhor respondeu: “Você pode muito bem orar por
essas pessoas, pois Eu te escondi no seio de Minha bondade paterna,
para que você possa pedir e obter de Mim tudo o que você
quiser”. "Mas, Senhor", respondeu o Santo, "visto que te agrada que eu
ore por eles, rogo-Te que designes um tempo em que eu possa fazê -lo
com idelidade, de maneira digna de Ti e com utilidade para eles, sem
perdendo a felicidade com a qual me honra ao participar de Tuas
alegrias celestiais. ” A isso Nosso Senhor respondeu: “Recomende cada
um à Minha Divina bondade e amor, pois é este amor que Me fez descer
do seio de Meu Pai para servir aos homens”. Depois de nomear cada um
individualmente, Nosso Senhor, conquistado por Seu terno amor, supriu
as necessidades de cada um com a mais amorosa compaixã o.
Depois disso, a Santı́ssima Virgem apareceu para ela, sentada
honrosamente perto de seu Divino Filho; e enquanto o Descendit de
caelis11foi cantado, Nosso Senhor parecia recordar a bondade extrema
que o fez descer do seio de Seu Pai para o da Virgem, e Ele olhou com
tanto amor para Sua Mã e que comoveu o pró prio coraçã o; e por Seu
abraço Ele renovou todas as alegrias que ela teve quando no mundo em
Sua Santa Humanidade.
Ela també m viu o ventre sagrado e virginal da Mã e de Deus, que era
claro como o cristal, e no qual Nosso Senhor apareceu na forma de uma
criança, e voou pronta e amorosamente para o seu coraçã o; por isso ela
entendeu que, como a Humanidade de Cristo se alimentou de seu leite
virginal, assim també m Sua Divindade se alimentou da pureza e do
amor de seu coraçã o. Na resposta, Verbum caro factum est ,12quando
todas as irmã s izeram uma profunda inclinaçã o para honrar a
Encarnaçã o de Jesus Cristo, ela o ouviu dizer: “Sempre que algué m se
inclina a estas palavras, por gratidã o e devoçã o, dando-me graças por
ter me tornado Homem por causa dele, també m me inclino para ele ,
por um movimento puro da Minha bondade; e ofereço, do ı́ntimo do
Meu Coraçã o, todos os frutos e mé ritos da Minha Humanidade a Deus
Pai, para que se duplique a bem-aventurança eterna desta pessoa ”.
Nas palavras et veritatis , a Santı́ssima Virgem saiu com o duplo
ornamento de sua virgindade e sua maternidade, e, abordando a
primeira irmã do lado direito do coro, ela a abraçou fortemente,
apresentando seu Filho Divino, a quem ela segurava os braços dela; e
desta maneira ela se dirigiu a cada irmã , permitindo que cada uma
abracasse essa criança incomparavelmente amá vel. Entre aqueles que
foram assim favorecidos, alguns O seguraram em seus braços com
muito cuidado, parecendo muito ansiosos para que Ele nã o sofresse
nenhum inconveniente; outros, ao contrá rio, negligenciaram essas
precauçõ es e permitiram que Sua cabeça pendesse de uma maneira
muito dolorosa. Com isso ela entendeu que aqueles que nã o tinham
nenhuma vontade senã o a de Deus descansavam a Cabeça do amoroso
Jesus sobre uma almofada macia, que O sustentava, com sua boa
vontade; enquanto aqueles cujas vontades eram in lexı́veis e
imperfeitas permitiam que a cabeça do Menino Jesus pendurasse
inconvenientemente. Portanto, meus amados, vamos esvaziar nossos
coraçõ es e consciê ncias de toda vontade pró pria, e oferecer nossos
coraçõ es a Nosso Senhor com total e inteira obediê ncia ao Seu
beneplá cito, visto que Ele somente busca nosso avanço espiritual; por
que haverı́amos de perturbar, mesmo com a menor ninharia, o repouso
e o consolo de um Menino tã o delicado e terno, que vem a nó s com
tanta bondade e amor?
Na missa Dominus dixit ,13 Nosso Senhor comunicou-lhe
novamente o conhecimento de tudo o que foi dito, o que lhe deu uma
alegria inefá vel.
Entã o, da Glória in excelsis à s palavras Primogenitus Mariae virginis
matris , ela começou a pensar que o tı́tulo de Filho ú nico era mais
adequado do que o de primogê nito, porque a Imaculada só dera à luz
este Filho, a quem ela mereceu conceber pelo poder do Espı́rito
Santo; mas a Santı́ssima Virgem disse-lhe docemente: “Chama o meu
amado Jesus de meu primogê nito, em vez de meu unigê nito, pois eu o
gerou primeiro; mas depois Dele, ou melhor, por Ele, iz de você s Seus
irmã os e meus ilhos, quando os adotei como tais pelo afeto maternal
que tenho por você s ”.
No ofertó rio, a Santa, em espı́rito, viu as irmã s oferecendo a Nosso
Senhor todas as devoçõ es que haviam realizado durante o
Advento. Alguns os colocaram no seio do Infante Divino, cuja imagem
havia sido impressa em suas almas; e a Santı́ssima Virgem inclinou-se
para cada um com uma condescendê ncia incompará vel, colocando seu
Divino Filho para que recebesse em Suas Mã os o que eles ofereciam:
outros apareceram para avançar em direçã o ao altar, e permaneceram
no centro do coro, onde ofereceram suas oraçõ es para a Santı́ssima
Virgem e ao seu Filho; mas Ele nã o foi colocado de forma que pudesse
recebê -los, e fez sinais para esse efeito. Ela entendeu disso, que aqueles
que colocaram suas ofertas no seio do Menino Jesus eram aqueles que
estavam unidos ao Senhor de todo o coraçã o, onde Ele nasceu
espiritualmente, e que a Santı́ssima Virgem os auxiliou nisso com todas
as suas forças. , regozijando-se com eles em sua devoçã o e avanço
espiritual; mas as pessoas que ofereceram seus presentes no centro do
coro foram aquelas que só pensaram no nascimento de Nosso Senhor
na festa, e porque disso foram lembradas pela devoçã o especial da
Igreja.
Entã o, essa alma abençoada se aproximou do Rei da Gló ria, para
apresentar-Lhe a boa vontade daqueles que teriam realizado muitas
coisas, se nã o tivessem sido impedidos por uma causa legı́tima. E ela foi
instruı́da em espı́rito de que todas as oraçõ es que foram feitas com
devoçã o foram colocadas como pé rolas na tá bua, e que a boa vontade
daqueles que teriam realizado as mesmas devoçõ es, se nã o estivessem
ocupados, e que sofreram e, conseqü entemente, se humilharam por
esta omissã o, deveriam ser colocados na corrente com que se adornava
o seio de Nosso Senhor, e que obteriam tal vantagem desta proximidade
do Coraçã o de Jesus, que seriam como se tivessem a chave de um
tesouro que continha tudo o que eles poderiam desejar.
CAPITULO 4
Para a festa de São João Evangelista.
Suas virtudes e a maneira de imitar sua pureza.

ELE APOSTOLOS e o Evangelista Sã o Joã o apareceram a esta virgem


enquanto ela orava um dia durante o Advento. Ele estava vestido com
um há bito dourado, coberto com á guias douradas, o que signi icava
que, embora este santo fosse elevado à mais alta contemplaçã o, mesmo
estando em corpo, ele sempre procurava humilhar-se pela
consideraçã o de sua pró pria indignidade. Quando Gertrudes começou a
considerar esses enfeites, ela percebeu uma luz vermelha brilhando
sob as á guias douradas, da qual ela aprendeu que Sã o Joã o sempre
iniciava sua contemplaçã o pela lembrança da Paixã o de Deus, que ele
havia visto com seus pró prios olhos , e que ele nunca cessou de
lamentar em seu coraçã o; e assim, aos poucos, ele voou para a
sublimidade da Divina Majestade, que ele contemplou sem dor pelos
olhos de sua alma, tanto quanto é possı́vel ao homem fazer. Ele tinha
també m dois lı́rios de ouro sobre os ombros - à direita estavam
escritas, em caracteres maravilhosos, as palavras do
Evangelho Discipulus quem diligebat Jesus ; e à esquerda, Iste custos
Virginis ;14 para assinalar a vantagem singular que gozou de ser
chamado, e de ser o discı́pulo a quem Jesus amava acima dos demais
apó stolos, e de ter sido considerado digno pelo pró prio Cristo de
receber Dele o encargo de sua Mã e antes de morrer, em conta de sua
pureza insuperá vel.
O apó stolo teve um magnı́ ico racional15em seu peito, para indicar
sua prerrogativa de ter repousado no seio de Jesus durante a ú ltima
Ceia. As palavras, In principio erat verbum [“No princı́pio era o Verbo”],
foram escritas nele com letras de ouro vivo, para mostrar a virtude
maravilhosa das palavras contidas em seu Evangelho. Entã o Santa
Gertrudes disse a Nosso Senhor: “O Senhor amoroso, por que Teu
amado se manifestou a uma criatura tã o indigna como eu?” Nosso
Senhor respondeu: “Fiz isso para que ele vos unisse por uma amizade
especial; e como você nã o tem apó stolo,16Eu o designei para ser seu
iel advogado comigo no cé u. ” “Ensina-me, entã o, meu querido
Senhor”, respondeu ela, “como posso mostrar minha gratidã o a
ele”. Nosso Senhor respondeu: “Se algué m disser um Pater
noster diariamente em homenagem a este Apó stolo, lembrando-lhe da
doce idelidade com que seu coraçã o se enchia quando ensinei esta
oraçã o, ele nã o deixará de obter para quem ora assim a graça de
perseverando ielmente na virtude, até o im de sua vida. ”
Esta Apó stola apareceu també m à Santa, quando assistia à s Matinas,
na sua festa, quando se dedicava com especial fervor aos seus exercı́cios
habituais. Gertrude entã o recomendou alguns dos religiosos de quem
ela havia encarregado com muito fervor; ele recebeu sua oraçã o com
muito amor e disse: “Eu sou como meu Mestre nisso - que amo aqueles
que me amam”. O Santo indagou: “Que graça, entã o, e que benefı́cio
posso esperar, que sou tã o indigno em sua querida festa?” “Venha”,
respondeu ele; “Vem comigo, tu eleito de meu Senhor, e vamos repousar
juntos no mais doce seio do Senhor, no qual todos os tesouros da bem-
aventurança estã o escondidos”. Entã o, tomando-a em espı́rito, ele a
apresentou ao nosso amoroso Salvador; e tendo-a colocado à Sua
direita, ele se colocou à esquerda e ali repousou. Depois exclamou,
apontando com reverê ncia para o seio de Jesus: “Eis aqui o Santo dos
santos, que atrai para si tudo o que há de bom no cé u e na terra!”
Ela entã o perguntou a St. John por que ele se colocou à esquerda e
deu a direita a ela. Ele respondeu: “E porque me tornei um espı́rito com
Deus e posso penetrar onde a carne nã o pode entrar; mas você ainda
nã o é capaz de penetrar em tais coisas altas, porque você ainda está na
carne. Portanto, coloquei-o na abertura do Coraçã o Divino, de onde
você pode beber em todas as doces consolaçõ es que luem dele com
abundâ ncia impetuosa, que é capaz de satisfazer todos os que desejam
saboreá -lo. ” Entã o, ao sentir as pulsaçõ es constantes do Coraçã o Divino
e se regozijar excessivamente com isso, ela disse a Sã o Joã o: "Amado de
Deus, nã o sentiste essas pulsaçõ es quando estavas deitado no peito do
Senhor na Ultima Ceia?" “Sim”, respondeu ele; “E isto com tal plenitude,
que o lı́quido nã o entra mais rapidamente no pã o do que a doçura
desses prazeres penetrou em minha alma, de modo que meu espı́rito se
tornou mais ardente do que a á gua sob a açã o de um fogo ardente.”
"E por que", ela perguntou, "você nã o disse nem escreveu nada
sobre isso para nossa edi icaçã o?" Ele respondeu: “Porque fui
encarregado de instruir a Igreja recé m-formada sobre os misté rios do
Verbo nã o criado, para que essas verdades fossem transmitidas a eras
futuras, na medida em que fossem capazes de compreendê -las, pois
ningué m pode compreendê -las inteiramente ; e adiei falar dessas
pulsaçõ es Divinas para idades posteriores, para que o mundo pudesse
ser despertado de seu torpor e animado, quando esfriasse, por ouvir
essas coisas ”. Entã o, enquanto ela contemplava Sã o Joã o repousando
sobre o seio do Senhor, ele disse a ela: “Eu agora apareço para você da
mesma forma como quando me deitei no seio de meu amado Senhor e
ú nico Amigo na Ultima Ceia; mas se você quiser, eu vou obter para você
o favor de me contemplar na forma em que agora desfruto das delı́cias
do Cé u. ” E como ela desejava este favor com muito ardor, ela viu um
imenso oceano dentro do Coraçã o de Jesus, no qual Sã o Joã o parecia
lutuar com alegria inefá vel e liberdade perfeita; e ela aprendeu que o
Santo icou tã o cheio e embriagado com a torrente de prazer que ele
provou em Deus, que uma veia saiu de seu coraçã o, por meio da qual ele
derramou as doces á guas da Divindade, isto é , suas instruçõ es, e acima
de tudo, seu Evangelho - sobre a face da terra.
Em outra ocasiã o, durante a mesma festa, enquanto a Santa icava
muito satisfeita com os frequentes elogios que eram feitos ao Apó stolo
por sua virgindade perfeita, ela pediu a este especial amigo de Deus que
obtivesse com suas oraçõ es que pudé ssemos preservar nossa castidade
com tanto cuidado quanto a merecer uma parte em seus elogios.
Sã o Joã o respondeu: “Aquele que quiser participar da bem-
aventurança que minhas vitó rias conquistaram, deve correr como eu
corri na terra”. Entã o ele acrescentou; “Freqü entemente re leti sobre a
doce familiaridade e amizade com que fui favorecido por Jesus, meu
amoroso Senhor e Mestre, em recompensa por minha castidade, e por
ter vigiado com tanto cuidado minhas palavras e açõ es que nunca
manchei esta virtude no menor grau. Os Apó stolos separaram-se de tal
companhia que consideraram duvidosa, mas misturaram-se
livremente com o que nã o era (como se observa nos Atos , que estavam
com as mulheres e Maria, a Mã e de Jesus); Nunca evitei as mulheres
quando tive oportunidade de lhes prestar algum serviço, seja do corpo,
seja da alma; mas eu ainda me zelava com extrema vigilâ ncia, e sempre
implorava a ajuda de Deus quando a caridade me obrigava a ajudá -los
de qualquer maneira. Portanto, estas palavras sã o cantadas por mim: In
tribulatione invocasti me, et exaudivi te (cf. Sl 80: 8).17Pois Deus nunca
permitiu que minha afeiçã o tornasse ningué m menos puro; portanto
recebi esta recompensa de meu amado Mestre, que minha castidade é
mais elogiada do que a de qualquer outro Santo; e obtive uma categoria
mais eminente no Cé u, onde, por um privilé gio especial, recebo com
extremo prazer os raios deste amor, que é como um espelho sem
mancha e o brilho da luz eterna.18Para que, estando perante este amor
divino, cujo brilho recebo cada vez que a minha castidade se comemora
na Igreja, o meu amoroso Mestre saú da-me da maneira mais doce e
afá vel, enchendo o meu ı́ntimo da alma de tanta alegria, que me penetra
em. todos os seus poderes e sentimentos como uma bebida deliciosa. E
assim as palavras, Ponam te sicut signaculum in conspectu meo ,19sã o
cantados de mim; isto é , sou colocado como um receptá culo para as
efusõ es da mais doce e ardente caridade. ”
Em seguida, Santa Gertrudes, sendo elevada a um grau superior de
conhecimento, entendida por estas palavras de Nosso Senhor no
Evangelho, “Na casa de meu Pai há muitas moradas” ( Jo 14: 2), que há
trê s moradas no cé u reino, que corresponde a trê s classes de pessoas
que preservaram sua virgindade.
A primeira mansã o é para aqueles que, como os apó stolos, fogem do
duvidoso, mas se associam livremente com os outros; que resistem
vigorosamente a todas as tentaçõ es e, se caı́rem, executam frutos
dignos de penitê ncia.
A segunda mansã o é para aqueles que evitam o duvidoso e o que
parece seguro; evitando cuidadosamente o que poderia ser uma
ocasiã o até mesmo de tentaçã o; e castigar sua carne, subjugando-a para
que nã o possa mais se rebelar contra o espı́rito: a esta categoria
pertencem Sã o Joã o Batista e outras pessoas espirituais, que també m
sã o colocadas na segunda mansã o depois de terem sido impedidas
gratuitamente pela misericó rdia de Deus, e tê m cooperado ielmente
com as Suas graças, a im de evitar o mal e exercitar-se na prá tica do
bem.
A terceira mansã o é para aqueles que, impedidos pela doçura das
bê nçã os e graça de Deus, tê m um horror natural de todo mal;20mas
que, nã o obstante, nos diversos acidentes da vida, se encontram ora
com os bons e ora com os ı́mpios, mas sempre detestam o mal e
aderem ao bem, esforçando-se por tornar perfeitamente irrepreensı́vel
a sua pró pria conduta e a dos outros. Essas pessoas tiram frutos
maravilhosos das afeiçõ es humanas, que tê m em comum com os
outros, porque temem por causa de suas afeiçõ es e se humilham,
zelando com maior diligê ncia por seus coraçõ es; como diz Sã o
Gregó rio: “E uma boa consciê ncia temer uma falta onde nã o há
nenhuma.” Nesta classe, Sã o Joã o obteve o primeiro posto.
Por isso, estas palavras sã o cantadas em sua festa: Qui vicerit,
faciam illum columnam in templo meo ;21pois quem conquista a
natureza - isto é , suas afeiçõ es - torna-se uma coluna sobre a qual Deus
pode repousar enquanto derrama a abundâ ncia de Sua doçura. Et
scribam super eum nomen meum ; isto é , imprimir nele as marcas
visı́veis de Sua Divina amizade. Et nomen civitatis novae Jerusalém ; isto
é , ele receberá , tanto exterior como interiormente, uma recompensa
particular por cada pessoa cujo bem-estar espiritual ele obteve na
terra.
Santa Gertrudes foi favorecida també m com outra visã o, referindo-
se ao mesmo assunto; pois quando ela começou a considerar por que a
Igreja exaltava a virgindade de Sã o Joã o Evangelista mais do que a de
Sã o Joã o Batista, Deus, que conhece os pensamentos dos homens, fez
com que ela tivesse uma visã o dos dois santos. Sã o Joã o Batista estava
sentado em um trono elevado, no meio do mar, separado de todo o
mundo; Sã o Joã o Evangelista estava no meio de uma fornalha, cercado
por todos os lados por chamas. Quando a Santa contemplou isso e icou
maravilhada com isso, Nosso Senhor disse-lhe, para sua instruçã o: “O
que você considera mais maravilhoso - ver o Evangelista nã o queimar,
ou o Batista nã o ser consumido?” Com isso ela aprendeu que haverá
uma grande diferença entre a recompensa daqueles cuja virtude foi
atacada e daqueles que a preservaram em paz.
Uma noite, també m, quando a Santa estava empenhada em oraçã o
com grande devoçã o, ela viu Sã o Joã o se aproximando de Nosso Senhor,
pousando-se sobre Ele e abraçando-O com muito amor e paixã o. Entã o,
ao se lançar humildemente aos pé s de Nosso Senhor, para implorar o
perdã o dos seus pecados, Sã o Joã o disse-lhe, com grande
condescendê ncia: “Nã o te perturbe a minha presença; eis um cujo amor
será su iciente para milhares; eis uma boca em que cada um encontrará
uma doçura especial; eis um ouvido que guardará inviolá vel todos os
segredos que lhe foram con iados. ”
Enquanto eles cantavam as palavras, Mulier, ecce ilius
tuus ,22Gertrudes contemplou uma luz maravilhosa, que saiu do
Coraçã o de Deus e brilhou sobre Sã o Joã o, obtendo para ele o respeito e
a veneraçã o de todos os Santos. Ela també m viu a Santı́ssima Virgem
manifestando uma alegria especial para com ele, quando foi chamada
de sua mã e; e o discı́pulo amado saudou-a també m com o mais
profundo respeito e carinho. També m, quando se cantavam as palavras
que se referiam aos privilé gios particulares de amizade que o Santo
havia recebido de seu Divino Mestre, tais como: Iste est Joannes, qui
supra pectus Domini in caena recubuit , e, Iste est discipulus quem
diligebat Jesus,23ele apareceu cercado por uma nova luz de gló ria, que o
distinguiu dos outros santos; e por isso louvaram a Deus com todas as
suas almas, o que fez com que o bendito Joã o se regozijasse muito.
Com as palavras Apparuit caro suo , ela entendeu que pela forma
com que Nosso Senhor visitava Sã o Joã o renovava nele toda a doçura
daquela mú tua amizade de que gozara durante a sua vida
mortal. Portanto, o apó stolo, transformado por assim dizer em um
novo homem, experimentou em certo grau as alegrias da eternidade; e
isso principalmente em trê s coisas, pelas quais ele agradeceu a Deus
quando estava morrendo. Pois ele disse, primeiro: “Eu vi a Tua face, e
estou renovado por ela.” Em segundo lugar: "A doçura de Teus
perfumes, Senhor Jesus, acendeu desejos eternos em mim." E em
terceiro lugar: “Tua voz é cheia de doçura.” Pois a virtude de Sua
presença comunicou o vigor da imortalidade; a força de sua vocaçã o
divina o havia enchido com a mais doce esperança; e Suas palavras
gentis encheram sua alma com alegria incompará vel. Novamente, ao
lerem que ele se levantou para seguir Jesus,24ele apareceu para se
dispor a segui-Lo no Cé u; e ela sabia que Sã o Joã o tinha uma con iança
tã o plena e completa na bondade de seu amado Senhor e Mestre, que
esperava morrer sem sentir as dores da morte; e ele mereceu obter
este favor, porque foi a grandeza de seu amor, e nã o o medo da morte,
que o fez desejá -lo.
Entã o o Santo começou a se maravilhar como poderia ser, quando
foi inferido das Escrituras, que Sã o Joã o nã o havia experimentado as
dores da morte, porque havia sofrido tã o profundamente em espı́rito
aos pé s da Cruz, que deve ser dito agora , este privilé gio foi concedido a
ele por sua con iança. Mas Nosso Senhor respondeu: “Eu recompensei
Meus eleitos no Cé u com uma gló ria especial por sua virgindade e pela
compaixã o que ele teve em Minha morte; mas també m recompensei sua
viva esperança, que o fez acreditar que eu nã o lhe recusaria nada,
retirando-o do mundo sem permitir que experimentasse as dores da
morte e por ter preservado seu corpo da corrupçã o ”.

CAPITULO 5
Para a festa da circuncisão.
Do santo nome de Jesus; e a renovaçã o das nossas boas intençõ es no inı́cio do
novo ano.

NA Festa da Circuncisã o, Santa Gertrudes ofereceu certas saudaçõ es do


doce nome de Jesus, que havia sido compilado por pessoas devotas; e
essas saudaçõ es apareceram diante de Deus com o brilho das estrelas e
na forma de rosas brancas; de cada uma delas pendia um pequeno sino
de ouro, que emitia a mais doce melodia e causava inefá vel prazer ao
Divino Coraçã o de Jesus. Enquanto ela pronunciava as palavras: "Salve,
Jesus, muito amoroso, muito benigno, muito desejá vel!" etc., ela
desejava ardentemente encontrar outras expressõ es para adicionar ao
nome de Jesus, para que Seu Coraçã o pudesse ser ainda mais
tocado; mas o amor sincero com que ela procurava realizar isso exauria
suas forças, e Nosso Senhor, movido por piedade, e como que vencido
por seu amor, inclinou-se para ela e abraçou-a com grande amor,
dizendo: “Eis que eu tenho imprimiu Meu nome em seus lá bios, para
que você o levasse diante de todo o mundo; e sempre que seus lá bios se
moverem para pronunciá -la, ela ressoará diante de mim como uma
melodia mais harmoniosa. ”
Depois disso, ela encontrou o nome de J ESUS escrito na parte
superior de sua alma25em caracteres de ouro vivo, que pareciam
estrelas brilhantes emitindo uma luz suave. A palavra J USTICE foi escrita
da mesma maneira na parte inferior. Pela inscriçã o “Jesus”, que
signi ica Salvador, ela entendeu que deveria manifestá -Lo a todos como
a Fonte de vida e salvaçã o; pela inscriçã o, "Justiça", ela entendeu que
deveria representar todos os rigores da justiça divina para aqueles
cujas mentes estavam endurecidas, que o medo dos julgamentos de
Deus poderia servir para dissuadi-los do mal, se eles nã o fossem
vencidos por seus misericó rdias.
Depois disse a Nosso Senhor: “O doce amor! Suplico-Te que dê à
nossa congregaçã o, que sempre pertence inteiramente a Ti, um
presente de ano novo, assim como um noivo dá à sua noiva. ” Nosso
Senhor respondeu: “'Renova-se no espı́rito de sua
mente.' ”( Ef 4:23). Ela respondeu: “O Pai das Misericó rdias, nã o se
esqueça de circuncidar todas as nossas imperfeiçõ es neste abençoado
festival de Tua sagrada Circuncisã o!” A isso Nosso Senhor respondeu:
“Circuncide-se meditando em sua Regra”. “O Senhor amoroso!” ela
respondeu, “por que me respondes tã o seriamente, visto que sabes que
se nã o nos ajudares com a tua graça, falharemos em nossos
esforços; pois Tu mesmo disseste que nã o é possı́vel para nó s fazermos
o bem sem Ti. ” Entã o Nosso Senhor, como que conquistado e
arrebatado pelas palavras da Santa, colocou a alma dela em Seu seio e
disse-lhe com grande doçura: “Sim, desejo que cooperes Comigo
nisso; e todos aqueles entre você s que, no inı́cio deste ano, se
arrependerem de todo o coraçã o, por Meu amor, das faltas que
cometeram contra sua Regra e resolverem evitá -los no futuro, obterã o
este favor - que Serei para eles um bom mestre, que segura nos braços
a criança a quem ensina, para lhe mostrar as cartas, para apagar suas
imperfeiçõ es ou suprir seus defeitos; e assim Minha misericó rdia
corrigirá seus defeitos e Meu amor paternal suprirá suas
negligê ncias. E se eles esquecerem qualquer dever por dissipaçã o da
mente, eu irei fornecê -lo a eles pelas re lexõ es que farei com que eles
façam sobre isso. ” Ele acrescentou: “Os que se empenham em desviar
a mente de tudo o que sabem ser desagradá vel a Mim e que se
empenham em agradar-me em todas as coisas, receberã o a luz do Meu
coraçã o Divino para dirigir seus pensamentos; e disponibilizarei suas
obras, de modo que a cada ano eles possam Me oferecer um novo
presente,26 que nã o será indigno de Minha aceitaçã o, e que será salutar
para eles. ”
Enquanto a Santa rezava por uma pessoa que havia pedido que ela
obtivesse de Deus por ela, como um presente de ano novo, que seu
coraçã o permanecesse sempre iel a ele na prosperidade e na
adversidade, Nosso Senhor respondeu docemente: “Aceito o desejo
desta pessoa por quem você ora como um presente de Ano Novo mais
aceitá vel; mas, como é certo dar a ela o que ela pede em troca, desejo
que esse presente seja compartilhado entre nó s; que deveria ser
vantajoso para ela e agradá vel para mim; que deveria redundar em
Minha gló ria, por um lado, e que deveria continuamente transmitir
novos ornamentos de virtude a ela, por outro. Pois, como uma mã e,
quando está ensinando seu ilho a trabalhar, guia sua mã o por seu
pró prio conhecimento, també m uso Minha sabedoria eterna para
ensinar essa pessoa a preparar esses dons.
Entã o o Santo compreendeu que as pé rolas com as quais esses dons
deveriam ser embelezados eram os desejos sagrados e os bons
sentimentos que atraı́am a alma a Deus, como o temor, o amor, a
esperança, a alegria e semelhantes, o menor dos quais nã o é esquecido
por Deus quando Ele trabalha pela salvaçã o de nossas almas.
Enquanto ela orava por muitas outras pessoas, e especialmente por
aquela cuja alma tinha recentemente se tornado perturbada, e, como
Gertrude acreditava, atravé s dela, Nosso Senhor disse a ela: “Estou
usando sua pró pria a liçã o e di iculdade para expandir seu coraçã o e
para abre-lhe as mã os, para que receba com maior abundâ ncia e
conveniê ncia os dons que preparei para ela ”. "Ai, Senhor!" exclamou o
Santo, “era necessá rio que eu fosse o lagelo com que puri icaste esta
alma?” Nosso Senhor respondeu: “Por que dizer 'Ai!' quando aqueles
que assim puri icam Meus eleitos, sem qualquer intençã o de a ligi-los,
mas, ao contrá rio, compadecendo-se de seus sofrimentos de todo o
coraçã o, sã o como uma vara gentil em Minhas mã os, e seus mé ritos
aumentam na proporçã o em que as almas sã o puri icadas? ”

CAPITULO 6
Para a festa da epifania.
Das oblaçõ es que sã o aceitá veis a Deus.

NA Festa da Epifania, esta alma sagrada oferecida a Deus, em imitaçã o


dos Trê s Reis - pela mirra, o Corpo de Jesus Cristo, com todos os
mé ritos de Sua Paixã o, pela remissã o de todos os pecados dos homens,
desde o primeiro até o ú ltimo da raça humana; pelo incenso, a Alma de
Jesus Cristo, com todas as Suas açõ es sagradas, pelas negligê ncias do
mundo inteiro; pelo ouro, Sua Divindade, com todas as suas perfeiçõ es
e alegrias, em satisfaçã o pelos defeitos de todas as criaturas. Em
seguida, Nosso Senhor apareceu e apresentou a sua oferta como um
presente muito digno de Ano Novo à Santı́ssima e augusta Trindade. Ao
passar pelo meio do Cé u, toda a corte celestial se inclinou
profundamente diante Dele para honrar esse dom, como os homens se
prostram diante do Santo Sacramento quando ele está presente.
Enquanto ela orava com devoçã o por uma certa pessoa que lhe
havia pedido para oferecer a oblaçã o que ela havia feito antes da
Epifania por ela, Nosso Senhor apareceu a ela, levando esta oferta pelo
meio do cé u, para apresentá -la a Deus Pai; e ela viu que toda a corte
celestial considerava a oferta de grande valor. Com isso ela aprendeu
que quando oferecemos nossas oraçõ es, ou qualquer outro presente, a
Deus, a corte celestial o louva e exalta por nossa devoçã o; e quando
uma alma, nã o satisfeita com suas pró prias açõ es e oraçõ es, oferece
com elas as de Jesus Cristo - que sã o in initamente mais perfeitas - o
valor de sua oferta nã o pode ser aumentado e é digno de ser
apresentado à Santı́ssima Trindade.
Em outra ocasiã o, na mesma festa, enquanto as palavras do
Evangelho eram lidas: “E prostrando-se o adoraram; e abrindo os seus
tesouros, ofereceram-Lhe presentes ”( Mt 2, 11), a Santa, animada pelo
exemplo dos Magos e transportada com zelo, ergueu-se para prostrar-
se devota e humildemente aos pé s de Nosso Senhor Jesus
Cristo; adorando-O por todos no Cé u, na terra e sob a terra; e, nã o
encontrando nada digno de oferecer a Ele, ela buscou ansiosa e
avidamente entre todas as criaturas para encontrar algo que ela
pudesse apresentar a seu ú nico Amor. E enquanto ela assim procurava,
ela viu algumas criaturas vis e miserá veis, que nã o contribuı́ram em
nada para a gló ria do Salvador, e estas ela se esforçou para trazer de
volta Aquele a Quem todas as criaturas estã o destinadas a servir. Entã o,
no fervor de seus desejos, ela reuniu em seu coraçã o todos os medos,
tristezas, dores e inquietaçõ es que haviam sido sofridas pelas criaturas,
nã o pela gló ria divina, mas por causa da enfermidade humana; e estes
ela ofereceu ao Senhor como mirra. Entã o ela se acusou de toda a
pretensa santidade de hipó critas, fariseus, hereges e outras pessoas
semelhantes, e ofereceu isso a Deus como incenso. Entã o ela assumiu
toda a falsidade e impureza que havia no coraçã o dos homens e
ofereceu-a a Deus como ouro, enquanto seu coraçã o ardia de desejo de
reduzir toda a insubordinaçã o das criaturas a uma profunda sujeiçã o ao
seu Criador. E quando ela ofereceu essas coisas a Deus, elas pareciam
ouro reluzente puri icado na fornalha.
Como Nosso Senhor aceitou tudo isso com grande satisfaçã o e
recolheu esses presentes de Ano Novo como se fossem joias preciosas
para Seu diadema, Ele disse ao Santo: “Eis as joias que me
ofereceste; Eu os considero de grande valor, e eu sempre os carregarei
no diadema que adorna Minha Cabeça, em memó ria de sua afeiçã o
singular por Mim, para que eles possam aumentar Minha gló ria em
Minha corte celestial, assim como um monarca terrestre se adorna com
o mais raro e joia mais preciosa27 em seu reino. ”
Entã o a Santa lembrou-se de uma pessoa que muitas vezes lhe
pedia que lhe izesse alguma oferenda naquele dia; e ela perguntou ao
Senhor o que Ele gostaria que ela oferecesse. Ele respondeu: “Ofereça-
me seus pé s, suas mã os e seu coraçã o. Os pé s indicam os desejos; e
como esta pessoa deseja retornar a Mim por Minha Paixã o, que ela se
esforce para sofrer pacientemente todas as dores do corpo ou da
mente, em uniã o com Minha Paixã o, para a gló ria de Meu Nome e o
benefı́cio de Minha Esposa, a Igreja ; e vou aceitar isso como
mirra. Como as mã os indicam açã o, que ela se esforce por unir todas as
suas açõ es, sejam corporais ou espirituais, à s açõ es perfeitas de Minha
Santı́ssima Humanidade, e todas as suas açõ es obterã o assim uma
excelê ncia mais maravilhosa; e eu os receberei como um incenso do
mais perfumado odor. Como o coraçã o indica a vontade, que ela
sempre se humilhe a todos e seja guiada por um conselheiro prudente,
para que conheça Minha Vontade, e entã o deixe-a cumpri-la com
liberdade e alegria; Aceitarei esta uniã o de sua vontade com Minha
Divina Vontade como um amá lgama28 de ouro puro, que nunca pode
ser separado. ”
Entã o, enquanto a Santa rezava por algumas pessoas que haviam
sido especialmente recomendadas a ela, ela avistou nosso Divino
Senhor, com uma espé cie de bolsa29sob Seu braço esquerdo, arranjado
de forma que Ele pudesse facilmente colocar Sua mã o direita nele; e
aqui Ele colocou as oraçõ es que ela havia feito, para reservá -las para o
benefı́cio de Seus amigos especiais. E ao oferecer a cada um o que
haviam pedido, ela viu essas petiçõ es arranjadas diante de Nosso
Senhor como tantos belos presentes de Ano Novo, com os quais Ele
adornou as almas daqueles que O abordavam com disposiçõ es menos
perfeitas. Ela sabia que a idelidade, ou melhor, a con iança dessas
pessoas em se recomendar à s suas oraçõ es, tinha merecido este favor
especial de Deus, na medida em que nã o estavam preocupados se ela
oferecia essas oraçõ es de si mesma ou deles, desde que fossem
aceitá vel a Deus.
CAPITULO 7
Para o segundo domingo após a epifania.
Santa Gertrudes recebe a absolviçã o de Nosso Divino Senhor. Instruçõ es para a
Sagrada Comunhã o.

NO DOMINGO Omnis terra ,30Santa Gertrudes se preparou, por uma


con issã o espiritual, para contemplar o rosto sagrado do Senhor, como
os ié is fazem neste dia em Roma; e ela representou este rosto para si
mesma como todo des igurado pelos seus pecados, e se lançou aos pé s
do Senhor, para pedir perdã o por todas as suas transgressõ es. Entã o
Ele ergueu Sua venerá vel Mã o e a abençoou assim: “Eu te concedo,
pelas entranhas da Minha misericó rdia, o perdã o e a remissã o de todos
os teus pecados; e para que você possa realmente corrigir sua vida,
exijo-lhe esta satisfaçã o - que a cada dia durante este ano você
realizará alguma açã o em uniã o com, e em memó ria da misericó rdia
pela qual concedo-lhe esta indulgê ncia. ” O Santo aceitou a satisfaçã o
com grande agradecimento; mas temendo sua fragilidade, ela disse:
“Mas o que devo fazer, ó Senhor, se falhar nisto, por minha
negligê ncia?” "Por que você deveria falhar em uma questã o tã o
fá cil?" ele respondeu; “Pois eu aceitarei a menor coisa que você izer
com esta intençã o, se for apenas para levantar uma pedra ou uma
palha31do chã o, para proferir uma ú nica palavra, para mostrar bondade
a quem quer que seja, para dizer o Requiem aeternam para os ié is que
partiram, ou para orar pelos pecadores ou justos ”.
A Santa icou extremamente consolada com isso e começou a rezar
pelos seus amigos particulares, suplicando a Nosso Senhor que lhes
concedesse o mesmo favor. Ele atendeu ao pedido dela e disse: "Todos
os que desejam compartilhar com você a satisfaçã o que eu impus a
você , també m receberã o indulgê ncia semelhante e remissã o de seus
pecados." E entã o estendendo Sua sagrada Mã o, Ele deu a ela Sua
bê nçã o uma segunda vez. Depois disso, Ele disse: “Oh, que bê nçã os
abundantes derramarei sobre aquele que voltar para Mim no inal deste
ano com obras de caridade que excedem o nú mero de seus
pecados!” Mas o Santo exclamava com descon iança: “Como pode ser
isso, visto que o coraçã o do homem é tã o inclinado ao mal, que mal se
passa uma hora em que ele nã o peque de muitas maneiras?” Nosso
Senhor respondeu: “Por que você acha isso tã o difı́cil, se há tantas
coisas que Me agradam, e nã o há nada, por mais difı́cil que seja, que
Minha graça nã o possa realizar”. "Senhor", indagou Gertrude, "o que
você dará à quele que realizar isso em Tua força?" “Nã o posso dar-te
resposta melhor do que esta”, Ele respondeu, “Que eu darei 'O que olho
nã o viu, nem ouvido ouviu, e nã o subiu ao coraçã o do homem para
conceber'. ”(Cf. 1 Coríntios 2: 9). Quã o feliz será aquele que pratica esta
devoçã o por um ano, ou mesmo por um ú nico mê s, visto que pode
esperar a mesma recompensa da generosidade de Seu Deus!
No dia seguinte, enquanto rezava por quem comunicava segundo o
seu conselho, mas nã o podia aproximar-se do Sacramento da
Penitê ncia, devido à ausê ncia do seu confessor, parece que Nosso
Senhor os vestiu com um manto branco, como sinal da inocê ncia,
adornada com pedras preciosas, que tinham a forma e o cheiro de
violetas, como uma espé cie de humildade com que haviam seguido seus
conselhos. També m lhes foi dado um manto rosado, coberto com lores
de ouro, que signi icava a paixã o amorosa de Nosso Senhor, em virtude
da qual obtiveram uma preparaçã o digna para a Comunhã o. “Sentem-se
perto de mim”, disse Nosso Senhor, “para que se saiba que nã o é por
acaso, mas propositalmente, que o primeiro lugar é reservado para
eles; porque desde toda a eternidade foi ordenado que aqueles que
seguiram seus conselhos recebam favores extraordiná rios de Mim
hoje; e aqueles que se comunicaram sem confessar e sem pedir seu
conselho, descansando na bondade e graça de Deus, receberã o um
manto cor de rosa com lores de ouro, e també m se sentarã o à mesa do
Senhor. ”
Aqueles que, por humildade e compaixã o, se abstiveram da
Comunhã o, pareciam estar de pé diante da mesa e regozijando-se em
suas delı́cias. Entã o o Senhor, movido por Sua pró pria misericó rdia, os
abençoou com Sua Mã o, dizendo estas palavras: “Todos aqueles que
meditam freqü entemente na visã o de Meu Divino Rosto, atraı́dos pelos
desejos do amor, receberã o dentro deles, em virtude de Minha
Humanidade, um raio brilhante de Minha Divindade, que iluminará o
mais ı́ntimo de suas almas, para que re litam a luz de Meu semblante de
maneira especial na eternidade ”.

CAPITULO 8
Para a festa de Santa Inês, Virgem e Mártir.
Apariçã o de Santa Inê s. Virtude das palavras que ela proferiu em sua morte.

NA noite da festa de Santa Inê s, a amada de Deus,32enquanto Gertrudes


se regozijava grandemente pela gló ria que o amor desta Santa havia
dado a Nosso Senhor, e pelas palavras que ela havia proferido que
deram tanta alegria à corte celestial, ela exclamou: “Ai, Senhor, que
alegria e consolo eu nã o gostaria experimentei ouvir essas palavras
entoadas, se minha enfermidade nã o tivesse me impedido! " Nosso
Senhor respondeu: “Eu mesmo reservo isso para você ; e, seja nesta
vida ou na pró xima, você provará outros consolos, que serã o muito
mais doces para você porque terã o menos da insipidez de sua pró pria
vontade. ”
Com isso ela entendeu que nada pode diminuir o bem-estar
espiritual dos eleitos, a menos que por sua pró pria culpa. Enquanto
liam a sexta liçã o (que relatava que Santa Inê s foi acusada de ser cristã
desde a infâ ncia, e tã o enfeitiçada por magia que chamou Jesus Cristo
de seu esposo), Santa Gertrudes exclamou com tristeza: “Ai de mim,
meu Senhor e meu Deus, o que Tua Divina Majestade nã o sofre dos
homens! ” Nosso Senhor respondeu: “O amor perfeito que uniu a Mim e
Inê s me satisfaz por todas essas indignidades”. "O Senhor", respondeu o
Santo, "concede a todos os teus eleitos a graça de se ligarem de forma
tã o inviolá vel a Ti, para que nã o possas mais pensar nas injú rias pelas
quais os homens Te ultrajam."
Na festa de Santo Agostinho,33como Deus mostrou a Gertrudes os
mé ritos de muitos santos, ela desejou saber algo sobre os mé ritos de
Santa Inê s, a quem ela amou desde a infâ ncia com a maior ternura e
devoçã o. Nosso Senhor cedeu ao seu desejo e oraçã o, e mostrou-lhe
aquele grande santo, tã o unido ao Seu Coraçã o a ponto de indicar sua
inocê ncia extraordiná ria, e manifestar a verdade do que foi dito pelo
Homem Sá bio, que “A incorrupçã o aproxima de Deus ”( Sb 6:20); pois
ela parecia tã o perto de Deus, que parecia que ningué m no cé u poderia
igualar sua inocê ncia e amor.
Com isso ela aprendeu que nã o há um instante em que Deus nã o
coloque diante dEle a devoçã o e a alegria que as almas santas sentiram
ou ainda sentirã o pelas doces palavras de Santa Inê s que sã o recitadas
pela Igreja,34 e que Ele faz com que o prazer que Ele nele encontra
derramar de Seu Coraçã o para o desta virgem sagrada, que está tã o
intimamente unida à Sua, enquanto ela se torna maravilhosamente
adornada com novas joias, lançando raios de luz a cada momento
naquelas almas que se alegram em sua devoçã o.

CAPITULO 9
Para a Festa da Puri icação.

O
NA Festa da Puri icaçã o da Santı́ssima Virgem, quando o Santo se
alegrou em espı́rito ao primeiro som do sino para as Matinas, e disse a
Nosso Senhor: “O meu coraçã o e a minha alma Te saú dam, ó amoroso
Salvador, ao som de o sino que anuncia a Festa da Puri icaçã o de Tua
Santı́ssima Mã e, ”Ele respondeu condescendentemente:“ E as entranhas
de Minha piedade batam à s portas da Divina Misericó rdia por você s,
para obter a remissã o completa de todos os seus pecados ”. Quando o
sino para as Matinas parou de tocar, Nosso Senhor desejou
recompensar sua saudaçã o mil vezes mais, e disse-lhe: “O alegria do
Meu Coraçã o, Minha Divindade te saú da; e Eu envio a você todos os
mé ritos da Minha sagrada Humanidade, para permitir que você passe
este festival de uma maneira que me agrade. ”
Alguns meses depois, enquanto desejava ouvir o que era entoado no
coro, e lamentava a enfermidade que a detinha na cama, ela disse
reclamando: "O Senhor, se a distâ ncia nã o me impedisse de ouvir, como
meu coraçã o se alegraria por cada um palavra cantada nas matinas!
” Mas Nosso Senhor respondeu: “Minha esposa, se você nã o sabe o que
é cantado no coro, volte-se para Mim e contemple com atençã o o que se
passa dentro de Mim e nã o deixará de encontrar o que te
satisfará ”. Entã o ela soube em espı́rito que o Senhor tomava para Si
todo o bem que as almas santas faziam na Igreja, e que, tendo
puri icado e aperfeiçoado em Si mesmo, Ele o oferecia em eterno louvor
à Santı́ssima Trindade; e que, atraindo para Seu Divino Coraçã o as boas
obras que foram feitas para a gló ria de Deus, Ele as enobreceu e
aperfeiçoou; e ela percebeu que, enquanto as obras unidas aos
membros de Jesus Cristo operavam na alma um bem de valor
inestimá vel, aquelas que Ele introduzia em Seu Coraçã o superavam as
demais em perfeiçã o e excelê ncia, assim como um homem vivo excede
em dignidade aquele que está morto.
Depois disso, ao ouvir a segunda Resposta, e triste por nã o ter
ouvido a primeira, que era Adorna thalamum , disse a Nosso Senhor:
“Ensina-me, imploro-Te, meu Amado, como posso adornar o leito do
meu coraçã o, para que Te agrade. ” Nosso Senhor respondeu: “Abra o
seu coraçã o para Mim, e deixe-Me ver nele as imagens que você sabe
que sã o mais agradá veis para Mim”. A partir disso, o Santo
compreendeu que Nosso Senhor se alegra muito quando abrimos
nossos coraçõ es, lembrando seus sofrimentos e agradecendo-lhe por
seus benefı́cios. Enquanto cantavam Post partum virgo , no segundo
Nocturn, com as palavras Intercede pro nobis ,35Santa Gertrudes viu a
Santı́ssima Virgem enxugando todas as manchas das religiosas do
convento; e escondendo-os em um canto, ela se colocava diante deles,
para ocultá -los dos olhos da justiça divina. Durante a Antı́fona Beata
mater , ao ouvir a palavra Intercede ela viu a Santı́ssima Virgem, elevada
e radiante de gló ria, oferecendo ao seu Filho, que é o Rei dos reis,
depois de um suave abraço, todas as devoçõ es das irmã s, em uniã o
com ela ter.
Mas como Gertrudes ainda reclamava dos obstá culos que eram
causados por suas enfermidades, Nosso Senhor disse a ela: "Se Simeã o
e Ana - quero dizer, os efeitos de sua enfermidade - ainda a impedem de
frequentar o Ofı́cio Divino, venha comigo no Monte Calvá rio, onde
encontrará s um jovem cheio de beleza e carinho para te colocar na cruz
”.
Ela, portanto, o seguiu em espı́rito, e a memó ria da Paixã o causou
um deleite maravilhoso em sua alma. Entã o ela passou por um portã o
no lado norte e entrou em um templo magnı́ ico, onde viu o abençoado
velho Simeã o em pé perto do altar e proferindo estas palavras
enquanto orava: “Quando Ele virá ? Quando devo contemplá -lo? Devo
viver até que Ele venha? " E ao repetir as mesmas e semelhantes
palavras, sentiu a alma estremecer dentro de si e, voltando-se
repentinamente, viu a Santı́ssima Virgem diante do altar, segurando nos
braços o Menino Jesus, o mais belo dos ilhos dos homens. Assim que O
viu, foi iluminado pelo Espı́rito Santo e reconheceu o Redentor do
mundo; e, tomando-o nos braços com grande alegria, exclamou: Nunc
dimittis servum tuum, Domine ; ao ouvir as palavras quia viderunt oculi
mei , ele o beijou com amor; e com as palavras quod parasti , ele o
ergueu diante da Arca, para oferecê -lo a Deus Pai como a salvaçã o de
Seu povo. A Arca entã o tornou-se brilhante com luz, e a imagem do
Menino Jesus apareceu nela resplandecente com beleza, o que
signi icava que Ele era a consumaçã o de todos os sacrifı́cios da velha e
da nova aliança. Entã o Simeã o exclamou, no fervor do seu amor: Lumen
ad revelationem gentium , e devolveu o Menino à Mã e, dizendo: Et tuum
ipsius animam pertransibit gladius . Em seguida, a Santı́ssima Virgem
ofereceu duas pombas jovens por seu Filho Divino, que indicavam a
vida inocente dos ié is, que, como pombas, respondem em doces
murmú rios a todos os males, e coletam grã os puros, isto é , se esforçam
para seguir o exemplo do Santos; e aqueles que agem assim redimem o
Senhor Jesus, quando preenchem e realizam o que Nosso Senhor lhes
deixou para fazer.
Na oitava Resposta, Ora pro nobis, etc., a Rainha das Virgens
ajoelhou-se diante de Deus como mediadora entre Ele e os religiosos,
orando por cada um individualmente; mas seu Divino Filho a ergueu
respeitosamente e a colocou perto Dele no trono de Sua gló ria,
concedendo-lhe plena autoridade para comandar o que quisesse. Entã o
ela desejou que o coro de Poderes cercasse o convento e o defendesse
poderosamente contra as astutas ciladas do antigo inimigo. Os anjos
obedeceram imediatamente à s ordens da Rainha do Cé u e, juntando os
seus escudos, cercaram o convento por todos os lados.
Entã o Santa Gertrudes disse à Santı́ssima Virgem: “O Mã e da
Misericó rdia, aqueles que nã o ajudaram no coro nã o participarã o desta
poderosa defesa?” A Santa Virgem respondeu: “Eles participarã o dela, e
també m todos aqueles que, aqui ou em outro lugar, preservam o
verdadeiro espı́rito da religiã o; mas se qualquer um falhar na
observâ ncia religiosa, e nã o estiver buscando sinceramente atingir a
perfeiçã o, nã o terá o mé rito de estar sob a proteçã o dos Anjos ”. A isso
Nosso Senhor acrescentou: “Que aqueles que desejam viver sob uma
proteçã o tã o poderosa façam escudos para si mesmos desta maneira:
estreito abaixo — isto é , em direçã o a si mesmo — por humildade, e
amplo acima — isto é , em direçã o a Mim — por um plena e perfeita
con iança na Minha bondade. ”
Quando o Versı́culo Ora pro nobis foi cantado na procissã o, a
Santı́ssima Virgem apareceu para colocar seu Filho suavemente sobre o
altar, e entã o, prostrando-se devotamente diante Dele, intercedeu por
toda a congregaçã o; e esta criança real inclinou-se para ela, para
signi icar que Ele nã o apenas ouvia suas oraçõ es, mas que també m
realizaria tudo o que sua amada mã e desejava.
CAPITULO 10
Para Septuagesima domingo.
Instruçõ es sobre como receber e se abster da Sagrada Comunhã o.

NO Domingo Circumdederunt ,36Santa Gertrudes, embora ainda muito


fraca, desejava ardentemente receber o Sacramento; mas embora ela
tivesse se preparado com grande fervor, ela se absteve, por conselho de
sua mã e espiritual, por discriçã o. Ao oferecer essa privaçã o a Deus, ela
se viu diante do Senhor; e Ele se inclinou docemente para ela,
colocando-a no seio de Sua bondade paterna, dizendo-lhe, com as
carı́cias e a afabilidade de uma mã e para com seu ilho: “Visto que te
absté ns de receber-Me puramente para Mim, eu te guardarei no Meu
seio, para que nenhum trabalho exterior possa incomodá -lo. ” O Santo,
sendo inundado de alegria no seio de Nosso Senhor, disse-lhe: “O
Esposa amorosa, visto que 'o mundo inteiro está assentado na
maldade' ( 1 João 5:19), e se opõ e à Tua gló ria neste tempo mais do que
em qualquer outro, pelos excessos em que mergulha, desejo de todo o
coraçã o que minha congregaçã o se ocupe em reparar-Te. Portanto, se
Tu quiseres me reconhecer como Teu servo, embora, infelizmente, tã o
indigno, e me aceitar como Teu embaixador, terei prazer em anunciar
algum exercı́cio especial por Teu amor a todos os que estã o
devotamente dispostos, a im de Te honrar em reparaçã o pelos pecados
agora cometidos ”. Nosso Senhor respondeu: “Quem quer que seja meu
embaixador nesta ocasiã o terá esta recompensa - que tudo o que ele
ganhar para mim será adquirido e ganho para ele.”
Com isso, ela aprendeu que todos os que trabalham para instruir
outros, seja por suas palavras ou seus escritos, para a honra de Deus e o
avanço da salvaçã o de seus vizinhos, receberã o uma recompensa até
sé culos sem im pelos frutos que foram colhidos seus livros ou suas
instruçõ es. Em seguida, acrescentou: “Quem Me oferece a satisfaçã o de
suas necessidades corporais, como comer, beber, dormir, etc. e dizer em
seu coraçã o ou com os lá bios: 'Senhor, eu tomo este alimento' (ou seja o
que for) 'em uniã o com o amor com o qual Tu realizaste a mesma açã o
quando na terra, para a gló ria de Teu Pai e a salvaçã o dos homens,'
orando para que, em uniã o com Meu Divino amor, possa servir para a
salvaçã o de todos em Cé u, na terra ou no purgató rio - cada vez que ele
faz esta oferta, ele me apresenta um forte escudo para me proteger
contra os insultos e ultrajes dos pecadores. ”
Entã o, como as irmã s comunicaram na missa, Nosso Senhor colocou
ternamente Gertrude na ferida amorosa do Seu lado, e disse-lhe: “Visto
que a discriçã o te obriga a se abster de receber-Me corporalmente no
Sacramento, beba agora do Meu Coraçã o o doce in luê ncias da Minha
Divindade. ” Tendo bebido desta torrente de doçura e deleite, enquanto
agradecia devotamente a Nosso Senhor por isso, ela viu todos aqueles
que haviam se comunicado naquele dia em pé na presença do Senhor,
que deu a cada um um há bito maravilhosamente lindo, e um presente
especial, que lhes permitiu preparar-se dignamente para a
comunhã o. Ao obterem esses grandes favores pelos mé ritos de
Gertrudes, també m ofereceram a Nosso Senhor, por sua vez, as
vantagens que por ela haviam recebido, para aumento de sua gló ria e
mé rito. A partir disso, ela entendeu que aqueles que se dispõ em para a
Sagrada Comunhã o por oraçõ es e devoçõ es particulares, e que, no
entanto, se abstê m por boas razõ es, como por obediê ncia ou
humildade, sã o reabastecidos por Deus com a torrente das delı́cias
divinas, enquanto sua preparaçã o para a Comunhã o contribui para
preparem outros, e os frutos que outros obtê m voltam a ser vantajosos
para eles. Entã o Santa Gertrudes exclamou: “O Senhor, se é verdade que
aqueles que assim se abstê m de comunicar recebem tã o grandes frutos,
é , entã o, mais vantajoso se abster?” Nosso Senhor respondeu: “De
maneira nenhuma; pois aqueles que se aproximam do Sacramento por
amor à Minha gló ria recebem o alimento do Meu Corpo Divino como o
delicioso né ctar da Divindade, e sã o adornados com o esplendor
incompará vel das Minhas virtudes Divinas ”. “Senhor”, perguntou o
Santo, “o que acontecerá com aqueles que se abstê m da Comunhã o por
causa de suas negligê ncias, e ainda passam o dia nas mesmas
negligê ncias?” Ele respondeu: “Eles se tornam ainda mais indignos da
Comunhã o e se privam dos frutos das Comunhõ es feitas naquele dia em
toda a Igreja”. E o Santo continuou: “Dize-me, rogo-Te, Senhor, por que
acontece que certas almas, que se julgam indignas da Comunhã o e se
dedicam menos fervorosamente a prepará -la, sã o, no entanto,
pressionadas por um desejo tã o ardente de receber Teu corpo sagrado,
que os entristece excessivamente absterem-se nos dias designados para
recebê -lo? " Nosso Senhor respondeu: “Isso acontece a eles por uma
graça especial do Meu doce Espı́rito; como um rei, que está sempre
habituado à corte, naturalmente prefere o prazer de que sempre lá
goza, para a satisfaçã o que os outros encontram em vagar pelas ruas e
praças. ”

CAPITULO 11
Para Sexagesima.
Instruçõ es sobre a arca de Noé ; um dia mı́stico nisso.

NO Sunday Exurge , como ainda estava con inada à cama, ouviu as


palavras Benedicens ergo37cantou nas matinas: e re letindo sobre os
sentimentos de alegria e devoçã o que tantas vezes experimentou ao
ouvir esta Resposta, ela exclamou: “O Senhor, Tu sabes com que amor
fervoroso eu freqü entemente entoei esta Resposta e muitas outras
quando eu era levada diante de Teu trono de gló ria, e ali entoou cada
nota e palavra em Teu Coraçã o, como em um ó rgã o mais doce. Mas,
infelizmente, agora que estou enfermo, negligencio muitas coisas. ”
“Meu amado”, respondeu Nosso Senhor, “posso testemunhar a
verdade do que dizes, e sei que muitas vezes cantaste estas palavras
muito docemente no ó rgã o do meu Divino Coraçã o; portanto, agora irei
cantar para você em troca. " Em seguida, acrescentou: “Assim como
jurei ao meu servo Noe [Noé ] que nã o mais destruiria a terra com um
dilú vio, també m juro a você , pela Minha divindade, que todos os que
ouvem seus conselhos com humildade , e valerem-se dele para regular
suas vidas, nunca perecerã o, mas certamente chegarã o a Mim com
segurança e sem vaguear, Quem sou o Caminho, a Verdade e a Vida; e eu
con irmo este juramento a você com o selo da Minha Santı́ssima
Humanidade. ”
"O Sabedoria Eterna", respondeu Gertrude, "visto que Tu previste
todos os excessos e crimes nos quais os homens se precipitarã o
novamente, por que izeste uma promessa tã o solene em seu favor de
que nã o destruirias novamente o mundo por um dilú vio?" Nosso
Senhor respondeu: “Fiz isso para fortalecê -los em suas boas resoluçõ es
durante a calmaria da prosperidade, para que na tempestade da a liçã o
eles sejam amarrados em honra para manter sua promessa.” Entã o ela
disse: “O Senhor Deus, queres ensinar a Tua serva como construir uma
arca para Ti durante esta semana?” Nosso Senhor respondeu: “Você
pode construir uma arca em seu coraçã o, o que será muito agradá vel
para mim; mas observe cuidadosamente que havia trê s câ maras na arca
de Noé : os pá ssaros estavam nas alturas, os homens no meio e os
animais nas mais baixas. Assim, você deve dividir o dia em trê s partes:
de manhã cedo até nenhuma retribua, obrigado, da parte de toda a
Igreja, e do fundo do seu coraçã o, por todos os benefı́cios que tenho
concedido aos homens desde a criaçã o de do mundo até o tempo
presente, e especialmente pelo notá vel benefı́cio que eu lhes con io ao
me imolar a Deus Pai diariamente, desde o amanhecer até o dia zero, no
altar para sua salvaçã o, enquanto os homens se ocupam de festas e
devassidã o, sem um pensamento de gratidã o. Se você , portanto, estudar
para reparar suas falhas e suprir sua falta de açõ es de graças, você
reunirá pá ssaros no primeiro está gio de sua arca. Do Nenhum até as
Vé speras, unindo-se irmemente ao exercı́cio das boas obras, e unindo-
as à s realizadas pela Minha sagrada Humanidade, em satisfaçã o pela
negligê ncia e ingratidã o dos homens, que se recusam a corresponder
aos Meus benefı́cios, encerrará s os homens no centro da arca. Nas
Vé speras, você pode re letir e considerar na amargura de seu coraçã o
como os homens tê m a impiedade de adicionar à sua ingratidã o uma
in inidade de crimes que excitam Minha ira, e oferecendo como
expiaçã o todas as amarguras e dores que sofri em Minha Paixã o e Morte
, embora eu fosse inocente; e assim você pode incluir os animais na
parte mais baixa da arca. ”
Entã o ela disse ao Senhor: “Visto que tenho pedido esta instruçã o a
Ti tã o seriamente, nã o posso ter certeza de que Tu, ó melhor dos
professores, me ensinaste isso.” Ele respondeu: “Você nã o deve estimá -
lo menos, porque eu o dei a você por causa do desejo sincero que você
expressou; pois criei seus sentidos para Meu serviço. Nã o era uma coisa
mais maravilhosa dizer: 'Façamos o homem à Nossa imagem e
semelhança', quando o criei com deliberaçã o e conselho, do que dizer,
quando criei outras coisas: 'Haja um irmamento', ou 'Que haja
luz?' ”Ela respondeu:“ Se eu me valesse desta autoridade para
introduzir este exercı́cio para o benefı́cio de outros, algué m poderia
introduzir outras coisas, o que pode nã o ser um efeito de Tua graça
divina. ” Nosso Senhor respondeu: “Adicione esta advertê ncia: quem
sabe em seu coraçã o que sua vontade está tã o unida à Minha, que nunca
discordará dela, seja na prosperidade ou adversidade, e que age e sofre
em todas as coisas puramente para Minha gló ria, certamente pode
a irmam que tudo o que ele aprende interiormente é de Mim, se for ú til
para os outros, e nã o contraditó rio com as Escrituras. ”
Entã o o Senhor se colocou diante dessa alma e disse: “Agora, rainha
e senhora,38console-me, como eu te consolei ”; e tendo dito isso, Ele se
inclinou amorosamente para ela. Mas esta alma, sendo dominada pelo
espanto com tal condescendê ncia inaudita, exclamou, com a mais
profunda humildade, do fundo do seu coraçã o: "Ah, Senhor, Tu é s o
Criador, e eu sou apenas uma criatura!" Ao proferir essas palavras, sua
alma foi atraı́da e unida a Deus de uma maneira maravilhosa, e
desfrutou com Ele da mais sublime bem-aventurança. Entã o ela disse
ao Senhor: “Vouchsafe, ó Pai de misericó rdia, de dar um pouco de
descanso a Tua serva, que está debilitada pelos remé dios que ela usou,
para que eu possa me comunicar dignamente hoje”. Ele respondeu: "A
uniã o Comigo, da qual você agora desfruta, o tornará mais forte do que
qualquer repouso corporal que você pudesse tomar." Enquanto se
celebrava a missa, enquanto se queixava na presença de Deus de que a
sua enfermidade a impedia de a ouvir, Nosso Senhor disse-lhe: “Repita
o Con iteor ”. Quando ela concluiu, Ele pronunciou estas palavras: “Que
Minha Divindade tenha misericó rdia de ti e perdoe todos os teus
pecados!” e estendendo Sua venerá vel Mã o, Ele deu a ela Sua
bê nçã o. Entã o o Senhor a tomou nos braços e disse:
“E Deus criou o homem à sua imagem.” Entã o ele assinou39seus
olhos e ouvidos, boca e coraçã o, mã os e pé s; e repetindo docemente
essas palavras a cada vez, ele renovou Sua imagem e semelhança em
sua alma.
Na terça-feira antes da quarta-feira de cinzas, dia em que as pessoas
cometem os maiores excessos no comer e no beber, Santa Gertrudes
ouviu a campainha para o desjejum dos operá rios e exclamou com um
suspiro: “Ai, meu Senhor, quã o cedo no dia em que os homens
começarem a Te ofender com sua guloseima! " Mas Nosso Senhor
respondeu: “Nã o te a lijas, meus amados; os que agora sã o convocados
para a refeiçã o nã o sã o do nú mero dos que Me ofendem com avareza,
visto que esta re lexã o é um aviso para que se dediquem ao trabalho; e
tenho tanta satisfaçã o em vê -los comer quanto um homem teria em ver
seu cavalo revigorado quando precisava do trabalho. ”

CAPITULO 12
Para o sábado antes de Quinquagesima.
Devoçõ es pela é poca do Carnaval [Mardi Gras]. Do valor e da e icá cia do
sofrimento.
O

NO sá bado antes do domingo de Quinquagé sima, quando Santa


Gertrudes se desvencilhou de todos os cuidados exteriores e se
recolheu em oraçã o, foi recebida no seio da bondade divina, onde
desfrutou das doces in luê ncias de Seus deleites com tã o perfeita força,
que parecia a ela como se ela tivesse eliminado os reinos do cé u e da
terra com seu esposo. O dia passou com essas delı́cias espirituais; mas
ao anoitecer ela começou a se preocupar com um assunto trivial, de
modo que nã o gostava mais deles. Por im, antes das matinas, por ter
passado a maior parte da noite nesta inquietaçã o que a impedia de
dormir, rogou a Nosso Senhor que removesse este obstá culo para que
ela desfrutasse de Seus prazeres divinos, se fosse para Sua gló ria . O
Senhor respondeu: “Se você deseja aliviar Minhas dores, deve suportar
as suas e icar à Minha esquerda, para que Eu possa reclinar-me sobre
você e olhar em seu coraçã o, onde o doce concerto de seus santos
desejos, seu perfeito a con iança em Mim e o ardor do seu zelo pela
salvaçã o eterna de toda a humanidade podem comover-me
poderosamente, apaziguando a Minha justiça. Alé m disso: à medida que
os ricos tesouros do seu coraçã o estiverem abertos para Mim, posso
comunicá -los aos que estã o em necessidade, e cujas necessidades e
necessidades você desejaria aliviar tanto quanto pudesse. Pois se você
estivesse à Minha direita, isto é , em prosperidade, você Me privaria
dessas delı́cias ”.
Entã o a Santa pediu a Nosso Senhor que lhe prescrevesse algum
exercı́cio pelo qual ela pudesse servi-lo com amor durante estes trê s
dias, em que os homens cometem tantos crimes e excessos. Nosso
Senhor respondeu: “Você nã o poderia me agradar melhor do que sofrer
com paciê ncia tudo o que o entristece ou cansa, seja interior ou
exterior, em memó ria da Minha Paixã o, e fazendo tudo o que você achar
mais difı́cil; e você fará isso de forma mais e icaz, controlando e
restringindo seus sentidos. Quem assim agir em memó ria da Minha
Paixã o pode esperar uma grande recompensa de Mim. ” “Mas”,
continuou o Santo, “desejo ardentemente saber de Ti, ó Mestre
amoroso,40quais sofrimentos sã o mais capazes de apaziguar a justa
có lera que sentiste durante estes trê s dias de excessos ”. Nosso Senhor
respondeu: “Nada podeis fazer mais aceitá vel para Mim do que dizer
o Pater noster trê s vezes, ou o Salmo Laudate Dominum, omnes gentes [“
Louvado seja o Senhor, todos os povos ”]; e na primeira repetiçã o,
oferece a Deus todo o cansaço e labores de Meu Coraçã o para a
salvaçã o dos homens; e sofrer ou trabalhar, elogiar ou agradecer, em
reparaçã o por todos os prazeres ilı́citos aos quais o coraçã o humano se
entrega neste tempo. Na segunda repetiçã o, oferece a Deus Meu Pai
todas as abstinê ncias e morti icaçõ es de Meus lá bios, seja no comer,
falar, pregar ou orar, em satisfaçã o por todos os pecados da lı́ngua
agora cometidos. Na terceira repetiçã o, ofereça a Deus meu Pai todas
as açõ es e movimentos do Meu santı́ssimo Corpo, e de cada membro
dele, com toda a amargura da Minha Paixã o e Morte, em satisfaçã o por
todos os pecados que os homens cometem agora contra os seus
pró prios. salvaçã o."
Na hora Terce, Nosso Senhor apareceu a Santa Gertrudes na posiçã o
em que se encontrava quando amarrado à coluna entre dois algozes,
um dos quais o rasgou com espinhos, e o outro o feriu com um lá tego
cheio de grandes nó s; ambos atingindo Seu rosto, que parecia tã o
des igurado, que seu pró prio coraçã o se derreteu de compaixã o; nem
podia conter as lá grimas sempre que se lembrava daquele triste
espetá culo durante o dia, visto que lhe parecia que ningué m na terra
havia sido tã o cruelmente usado como seu doce Senhor Jesus. Até a
pró pria pupila do olho estava dilacerada e in lamada, tanto pelos
espinhos quanto pelos golpes do lagelo. Pareceu-lhe també m que seu
Senhor virava Seu rosto abençoado de um lado para o outro; mas
quando Ele o desviou de um carrasco, o outro o golpeou ainda mais
furiosamente; entã o, voltou-se para ela e exclamou: “Nã o lestes o que
está escrito a meu respeito: Vidimus eum tanquam leprosum? ”-“ Nó s O
pensamos como se fosse um leproso. ” ( Is 53: 4). O Santo respondeu:
“Ai, Senhor, que remé dio podemos encontrar para aliviar as dores
agonizantes de Teu Rosto Divino!” Nosso Senhor respondeu: “O
remé dio mais e icaz e terno que você pode preparar para Mim é
meditar com amor na Minha Paixã o e orar caridosamente pela
conversã o dos pecadores. Esses dois algozes representam os leigos, que
ofendem a Deus abertamente, golpeando-O com espinhos, e os
religiosos, que O golpeiam de forma ainda mais impiedosa com os laços
dos pecados secretos. Mas ambos ofendem-no na cara e ultrajam o
pró prio Deus do cé u. ”
Ela entã o entendeu que a Paixã o de Nosso Senhor se lê no
Evangelho.41que pode ser lembrado por Seus amigos especiais, para
Sua gló ria e para o bem da Igreja; que o açoite é mencionado nele duas
vezes de acordo com a visã o que ela teve; e essa caridade é
recomendada na epı́stola para nos exercitar no amor de Deus e de
nosso pró ximo; sofrendo com Deus todos os opró brios que os homens
o izeram sofrer, e compadecendo-se dos pró ximos pela misé ria a que
se reduzem por ofenderem a Deus dessa maneira.
Na Missa, o Santo começou a invocar a assistê ncia divina nas
palavras do Introit;42mas Nosso Senhor parecia usar as mesmas
palavras ao dirigir-se a ela, como se precisasse de sua ajuda contra os
males e crueldades entã o exercidos contra Ele, dizendo-lhe: “Tu é s
minha amada; sê Meu protetor, por sua resoluçã o de ser Minha defesa
contra todos aqueles que Me ofendem e Me tratam com desprezo; pois
venho a ti para me esconder. ” Entã o a Santa abraçou seu Senhor,
esforçando-se com todas as suas forças para atraı́-lo para dentro de sua
alma; mas ela icou tã o encantada com Deus, que nã o sabia se as irmã s
estavam de pé ou sentadas no coro. Quando foi informada de que nã o
estava se conformando com o uso costumeiro, ela rogou a Nosso
Senhor que nada se observasse do que se passava dentro dela. Ele
respondeu: “Que o seu amor mantenha o seu lugar perto de Mim; e
quanto a você , você pode cuidar de seu comportamento exterior. ” "O
Senhor amoroso", respondeu ela, "se é verdade que meu amor pode
manter meu lugar perto de Ti, espero que a razã o seja su iciente para
guiar minha conduta exterior, para que eu possa Te amar mais
livremente." E ela obteve este presente de Deus; pois enquanto ela
continuava absorta em Deus, ela ainda seguia exatamente os exercı́cios
comuns das outras religiosas.
CAPITULO 13
Para Quinquagesima (continuação).
Quã o aceitá veis sã o as boas obras para Nosso Senhor durante os trê s dias do
Carnaval [Mardi Gras]; e como tais obras obtê m mé rito pela uniã o com a
Paixã o de Cristo.

NA noite do domingo de Quinquagé sima, o Senhor Jesus apareceu a


Gertrudes, sentado em um trono, e assistido por Sã o Joã o Evangelista,
que se sentou a Seus pé s escrevendo. Quando ela perguntou o que ele
escreveu, Nosso Senhor respondeu: “Desejei que ele anotasse
cuidadosamente neste papel os serviços que a comunidade Me prestou
ontem, e també m terei aqueles que me prestarã o nos dois dias
seguintes; para que, quando for entronizado como Juiz por Meu Pai,
possa dar a cada um, depois de sua morte, boa medida pelo que fez; que
o fruto da Minha Paixã o, fonte de todo o mé rito e excelê ncia que as
açõ es dos homens podem ter, torne esta medida reprimida; e que este
pergaminho43que eu trarei a Meu Pai pode tornar a medida tã o
amontoada, que se derramará abundantemente: e isto é para os
serviços que eles me prestam no tempo em que os homens Me
oprimem com injú rias por suas devassidõ es; pois, como nunca falho
em idelidade, nã o posso faltar em justiça para com os que Me
servem. Alé m disso, embora o Rei Davi tenha reconhecido durante sua
vida os serviços que seus amigos lhe prestaram, ainda assim ele
recomendou a Salomã o que mostrasse favor apó s sua morte aos ilhos
de Berzellai, o galaadita, e os admitisse à sua mesa, porque vieram para
se encontrar ele quando ele fugiu de Absolom. Pois, como os serviços
que prestamos na adversidade sã o muito mais estimados do que
aqueles que sã o prestados na prosperidade, eu estimo muito mais os
serviços que me sã o oferecidos agora, quando o mundo me ofende
muito mais do que em qualquer outra é poca.
Enquanto Sã o Joã o se sentava e escrevia, ela o viu mergulhando sua
palheta no chifre que segurava na mã o, e entã o a escrita parecia
preta; mas quando ele mergulhou sua cana na amorosa Ferida do Lado
de Jesus, a escrita parecia rosa; em alguns lugares foi diversi icado com
preto e ouro. Ela entendeu com isso que a escrita preta signi icava as
obras que eram feitas pelos religiosos atravé s do costume, como o
jejum, etc., que todas as comunidades religiosas começam agora; que as
letras vermelhas, diversi icadas com preto e ouro, indicavam as obras
que foram feitas em memó ria da Paixã o de Nosso Senhor, para obter
graça ou outras intençõ es semelhantes. Mas aquelas obras que foram
feitas puramente para a gló ria de Deus, e em uniã o com a Paixã o de
Cristo, para a salvaçã o de toda a humanidade, sem qualquer visã o de
interesse pró prio, de graça ou mé rito, foram escritas em letras de ouro
puro ; e essas obras obteriam a maior recompensa de Deus, visto que o
que é feito puramente para o amor e gló ria de Deus é do mais alto
mé rito e valor, e aumenta alé m de qualquer medida a recompensa da
vida eterna.
O Santo també m percebeu espaços entre a escrita; e enquanto ela
indagava o que isso signi icava, Nosso Senhor respondeu: “Como sua
comunidade está acostumada a permanecer Comigo neste momento, e
a oferecer suas petiçõ es em homenagem à Minha Paixã o, iz com que
cada pensamento e palavra fossem inscritos aqui; nos lugares vagos
tudo o que izeste em memó ria da Minha Paixã o, e nã o por mero
costume, está inscrito. ” “Mas como todas as nossas açõ es poderiam ser
assim aceitá veis?” perguntou Gertrude. “Seria assim”, respondeu Nosso
Senhor, “se os vossos jejuns, vigı́lias e disciplina regular fossem
realizados em memó ria da Minha Paixã o e fossem oferecidos a Mim em
uniã o com a morti icaçã o dos Meus sentidos que pratiquei durante a
Minha Paixã o. Pois embora pudesse ter silenciado Meus acusadores
com uma ú nica palavra, fui como uma ovelha levada ao
matadouro; Inclinei minha cabeça humildemente e lancei Meus olhos
ao chã o, nunca abrindo Meus lá bios diante de Meu Juiz, nem
respondendo a uma das falsas acusaçõ es que foram feitas contra Mim. ”
"Ah!" Exclamou Gertrude, "ensina-me, ó melhor dos professores,
como realizar pelo menos uma açã o perfeitamente em memó ria de Tua
Paixã o." “Nosso Senhor respondeu:“ Quando estiveres orando, estende
os braços para representar a maneira como estendi o Meu a Deus Meu
Pai na Minha Paixã o; e façam isso pela salvaçã o de cada membro da
Igreja, em uniã o com o amor com que estendi Meus braços na cruz ”. “Se
eu izer isso”, ela respondeu, “devo me esconder em um canto, pois está
longe de ser o costume”. Nosso Senhor respondeu: “Se algué m orar
assim com as mã os estendidas, sem medo de contradiçã o, ele me presta
a mesma honra que faria quem entronizasse solenemente um rei.”
Santa Gertrudes també m observou nestes escritos, que as açõ es
daqueles que, por amor de Deus, deram bons conselhos aos outros,
foram anotadas; a partir da qual percebemos a extrema bondade de
Deus, que nã o só se deleita em obter a nossa salvaçã o, mas també m
busca recompensar duplamente o mı́nimo bem que fazemos. Entã o o
Santo disse: “O Senhor, por que é que Sã o Joã o foi escolhido para
escrever estas coisas, em vez de nosso santo Padre Sã o Bento, que
pertence à nossa pró pria Ordem?” Nosso Senhor respondeu: “Escolhi o
meu discı́pulo amado porque ele escreveu sobre o amor de Deus e do
pró ximo, portanto é o mais adequado para este ofı́cio; pois tenho
con iança que ele registrará o que for mais adequado ao Meu poder e
Minha Divindade, bem como o que será mais para sua vantagem. ”
Na quarta-feira de cinzas, Santa Gertrudes veio a Nosso Senhor, na
pessoa da Igreja, e com a Igreja, oferecendo-lhe a penitê ncia do jejum
pela Igreja; e foi recebida por Ele com tantos sinais de amor, e de
maneira tã o favorá vel, que aprendeu indubitavelmente, e pela
experiê ncia, a força e a ternura do afeto que Cristo tem pela Igreja, Sua
Esposa, em cuja pessoa se aproximou Dele.

CAPITULO 14 Instruções para o primeiro domingo da


Quaresma.
Como a alma é puri icada e embelezada pelos mé ritos de Jesus Cristo.

NO Domingo Invocabit ,44como Gertrudes se sentia incapaz de receber


o Corpo de Nosso Senhor, rogou-Lhe de todo o coraçã o que suprisse,
com o Seu jejum de quarenta dias, as dispensas que sua enfermidade a
obrigava a aceitar. Entã o o Filho de Deus se levantou e se ajoelhou
diante de Seu Pai, com um semblante alegre, dizendo: “Eu, que sou Teu
ú nico Filho, co-eterno e consubstancial Contigo, conheço, por Minha
inescrutá vel sabedoria, os defeitos da fraqueza humana como o
homem nã o poderia saber; portanto, Eu abundantemente tenho
compaixã o por esta fraqueza e, desejando suprir perfeitamente, eu
ofereço a Ti, ó santo Pai, as restriçõ es de Minha Boca abençoada, em
expiaçã o por todos os pecados de omissã o e comissã o dos quais as
lı́nguas dos homens sã o culpadas; Eu ofereço a Ti, ó Pai justo, as
restriçõ es de Meus Ouvidos por todos os seus pecados de ouvir; Eu
ofereço a Ti as restriçõ es de Meus Olhos por todos os seus pecados
cometidos ao ver; Eu ofereço a Ti as restriçõ es de Minhas Mã os e Pé s
por todos os pecados daqueles membros. Por ú ltimo, ofereço a Tua
Majestade, ó Pai amoroso, Meu Divino Coraçã o por todos os seus
pecados de pensamento, desejo ou vontade. ”
Entã o o Santo se apresentou diante de Deus Pai, vestido com uma
vestimenta vermelha e branca e adornado com muitos ornamentos. O
manto branco indicava a inocê ncia conferida a sua alma pelas
morti icaçõ es de Cristo; o vermelho signi icava os mé ritos de Seus
jejuns; e a diversidade de ornamentos, as muitas maneiras e exercı́cios
pelos quais Nosso Senhor trabalhou para nossa salvaçã o eterna. Entã o
o Pai Eterno pegou essa alma assim adornada e a colocou em um
banquete entre Ele e Seu ú nico Filho. De um lado, o esplendor da
onipotê ncia Divina a ofuscou, para realçar seu traje e sua
dignidade; por outro lado, ela foi iluminada pela luz da sabedoria
inescrutá vel de Deus o Filho, que a adornou e embelezou com os
tesouros e perfeiçõ es de sua vida. Entre essas duas luzes havia uma
abertura,45atravé s do qual se podiam ver os humildes sentimentos que
essa alma tinha de sua baixeza e defeitos; e sua humildade agradou
tanto a Deus, que conquistou para ela o mais terno afeto deste Rei
Todo-Poderoso.
Entã o Nosso Senhor colocou diante de Santa Gertrudes as trê s
vitó rias,46 que sã o mencionados no Evangelho da é poca, sob a forma
de diferentes tipos de alimentos,47 que eles pudessem servir a ela
como um antı́doto contra os trê s vı́cios aos quais os homens estã o
mais sujeitos - a saber, deleite, consentimento e concupiscê ncia.48Em
primeiro lugar, Ele manifestou a ela a notá vel vitó ria que havia obtido
sobre o diabo, que o tentou para o prazer de comer, quando lhe pediu
que transformasse as pedras em pã o, e Nosso Senhor sabiamente lhe
respondeu, que o homem nã o vive de pã o sozinho; e Ele desejava que
ela o oferecesse a Deus, em satisfaçã o por todos os pecados que ela
pudesse ter cometido pelo amor ao prazer, e para obter forças para
resistir a tais tentaçõ es no futuro. Pois quanto mais cedemos à s
tentaçõ es, menos somos capazes de resistir a elas; e cada um pode,
assim, oferecer a vitó ria de Nosso Senhor para as suas pró prias
necessidades. Nosso Senhor entã o deu a ela sua segunda vitó ria para a
remissã o de todos os pecados que ela pudesse ter cometido por
consentimento, e para obter graça para o futuro para resistir
e icazmente a essas tentaçõ es; e cada um pode també m oferecer esta
vitó ria, para o mesmo im, e com a mesma vantagem, obter de Deus o
perdã o de todos os pecados de pensamento, palavra ou ato, e graça
para evitar cair no tempo que virá . Por ú ltimo, Nosso Senhor deu-lhe a
sua terceira vitó ria como remé dio contra a avareza, que deseja os bens
e as vantagens da terra, e para obter forças para resistir a esta tentaçã o.
Durante a Epı́stola na Missa, a Santa se dedicou a observar as
virtudes nela mencionadas, que ela considerava mais ú teis para
praticar ou para ensinar aos outros; e ao sentir que precisava do dom
da compreensã o, disse ao Senhor: “Ensina-me, ó Amada, qual dessas
virtudes mais Te agradará ; pois, infelizmente, nã o sou especialmente
sincero em nenhum! ” Nosso Senhor respondeu: “Observe que as
palavras In Spiritu Sancto ('no Espı́rito Santo') ocorrem no meio dessas
vitó rias. Como, portanto, o Espı́rito Santo é uma boa vontade,49estude
acima de todas as coisas para ter esta boa vontade, pois você ganhará
mais por ela do que por qualquer outra virtude, e ela obterá para você a
perfeiçã o de todas as virtudes. Pois quem tem uma vontade perfeita de
me louvar, se pudesse, mais do que todo o mundo, ou de me amar,
agradecer, sofrer comigo, ou se exercitar da maneira mais perfeita em
todos os tipos de virtude, certamente será recompensado por Minha
Divina liberalidade mais vantajosamente do que algué m que realmente
realizou muitas outras coisas. ” Entã o o Espı́rito Santo apareceu diante
de Gertrudes, iluminando de maneira maravilhosa aquele lugar onde a
depravaçã o e a imperfeiçã o de sua alma podiam ser vistas; de modo
que, tendo a virtude dessa luz divina removida inteiramente seus
defeitos, ela se viu felizmente imersa na Fonte da luz eterna.

CAPITULO 15
Para a segunda-feira após o primeiro domingo da
Quaresma.
Da verdadeira maneira de realizar espiritualmente as obras corporais de
misericó rdia.

O SEGUNDO feria apó s o Invocabit dominical , conforme essas palavras


eram lidas no Evangelho,50“Vinde, benditos de Meu Pai; pois tive fome
”, etc., Santa Gertrudes disse a Nosso Senhor:“ O meu Senhor, visto que
nã o podemos alimentar os famintos e dar de beber aos sedentos,
porque a nossa Regra nos proı́be de possuir qualquer coisa pró pria,
ensina-me como podemos participar das doces bê nçã os com as quais
prometeste neste Evangelho para recompensar as obras de
misericó rdia ”. Nosso Senhor respondeu: “Como eu sou a Salvaçã o e
Vida da alma, e como eu continuamente tenho fome e sede pela
salvaçã o dos homens, se você se esforçar para estudar algumas
palavras das Escrituras todos os dias para o benefı́cio de outros, você
concederá Um doce re lexo para mim. Se você lê com a intençã o de
obter a graça da compaixã o ou devoçã o, você apazigua Minha sede
dando-Me uma bebida agradá vel. Se você se dedica ao recolhimento
por uma hora todos os dias, você Me dá hospitalidade; e se você se
dedicar diariamente para adquirir alguma nova virtude, você Me
veste. Você me visita quando está doente, esforçando-se para vencer a
tentaçã o e vencer suas inclinaçõ es malignas; e você Me visita na prisã o,
e consola Minhas a liçõ es com os mais doces consolos, quando você
ora pelos pecadores e pelas almas do Purgató rio ”. Ele acrescentou:
“Aqueles que realizam essas devoçõ es diariamente por Meu amor,
especialmente durante a é poca sagrada da Quaresma, certamente
receberã o a mais terna e generosa recompensa que Minha
incompreensı́vel onipotê ncia, Minha inescrutá vel sabedoria e Minha
mais amorosa benevolê ncia podem conceder. ”

CAPITULO 16
Para o Segundo Domingo da Quaresma.
Da oblaçã o dos mé ritos de Jesus Cristo pelos pecados da Igreja.

NO Sunday Reminiscere,51Santa Gertrudes, sendo favorecida com sinais


singulares do amor e da ternura de seu Esposo, como nenhum ser
humano poderia descrever, rogou a Nosso Senhor que indicasse
alguma prá tica que poderia ser proveitosa durante esta semana. Nosso
Senhor respondeu: “Traga-me dois bons ilhos52—Eu quero dizer as
almas e os corpos de toda a humanidade. ”
A Santa entendeu por isso que ela era obrigada a fazer satisfaçã o
para toda a humanidade; e entã o, impelida pelo Espı́rito Santo, ela
disse o Pater noster cinco vezes, em homenagem à s Cinco Chagas de
Nosso Senhor, em satisfaçã o por todos os pecados que os homens
cometeram pelos cinco sentidos; e trê s vezes pelos pecados cometidos
pelos trê s poderes da alma - a saber, pela razã o, temperamento e
concupiscê ncia;53e para todas as omissõ es ou comissõ es: oferecer esta
oraçã o com a mesma intençã o, e para o mesmo im, como Nosso
Senhor a havia formado em Seu coraçã o mais doce; isto é , em
satisfaçã o por todos os pecados de fragilidade, ignorâ ncia ou malı́cia
que o homem opô s ao Seu poder onipotente, Sua sabedoria
inescrutá vel e Sua bondade transbordante e gratuita.
Quando Gertrudes ofereceu esta oraçã o, Nosso Senhor pareceu ter
um prazer incrı́vel nela, e fez o sinal da cruz sobre ela da cabeça aos
pé s; abençoando-a e, em seguida, abraçando-a, Ele a conduziu até Seu
Pai para receber Sua bê nçã o també m. Deus, o Pai, també m a recebeu
com grande condescendê ncia e magni icê ncia, e a abençoou de maneira
tã o inefá vel, que deu a ela tantas bê nçã os quanto teria dado a todo o
mundo se estivesse preparado para receber este favor e graça.
Esta oraçã o pode ser oferecida a Deus durante esta semana para
obter o perdã o de nossos pecados e omissõ es, e em satisfaçã o pelos
pecados da Igreja, para que possamos obter o efeito de uma bê nçã o tã o
salutar pelos mé ritos de Jesus Cristo, que com tal condescendê ncia e
bondade se dignou a ser a esposa e chefe de Sua Igreja.

CAPITULO 17
Para o terceiro domingo da Quaresma.
Como podemos obter uma participaçã o nos mé ritos da Vida de Jesus Cristo.
O

NO DOMINGO Oculi,54como a Santa desejava, como sempre, conformar


as suas devoçõ es aos ofı́cios da Igreja, pediu a Nosso Senhor que a
ensinasse como deveria ocupar-se durante esta semana. Ele
respondeu: “Ao cantar seu Ofı́cio durante esta semana, você registra
como Joseph foi vendido por seus irmã os por vinte moedas de
prata,55recitar o Pater noster trinta e trê s vezes, e assim adquirir o
mé rito da Minha Santı́ssima Vida, que durou trê s e trinta anos, durante
os quais trabalhei pela salvaçã o dos homens; e comunica o fruto
daquilo que assim adquires a toda a Igreja, para a salvaçã o dos homens
e a Minha gló ria eterna. ” A medida que a Santa acatava esta orientaçã o,
percebeu em espı́rito que toda a Igreja era como uma esposa adornada
e embelezada de maneira maravilhosa com o fruto da vida perfeita de
Jesus Cristo.

CAPITULO 18
Para o quarto domingo da Quaresma.
O Santo é instruı́do sobre como expiar os pecados da Igreja.

No domingo de Laetare , enquanto o Santo buscava alguma instruçã o de


Nosso Senhor sobre como passar esta semana, Ele respondeu-lhe:
“Traze a Mim aquelas pessoas cujas almas preparaste sete dias depois,
pela virtude da Minha Vida; pois eles devem comer à Minha mesa. ” Ela
respondeu: “Como posso fazer isso? Quanto a mim, por mais indigno
que seja, arrisco-me a dizer que, se pudesse trazer a Ti todos os ilhos
dos homens, nos quais te deleitaste, de bom grado atravessaria toda a
terra descalço, desde este momento até o dia de julgamento, e carregá -
los em meus braços para Ti, para corresponder, de alguma maneira,
com Teu amor in inito. E se fosse possı́vel para mim, dividiria meu
coraçã o em tantas partes quantas forem os homens que vivem no
mundo, para compartilhar com cada um a boa vontade que mais agrada
a Teu Divino Coraçã o. ” Nosso Senhor respondeu: "Sua boa vontade é
su iciente e me satisfaz perfeitamente." Entã o ela viu toda a Igreja
maravilhosamente adornada e apresentada ao Senhor, que lhe disse:
“Hoje servirá s a toda esta multidã o”.
Entã o Santa Gertrudes se lançou aos pé s de seu Esposo, sendo
divinamente inspirada, e beijou a Ferida de Seu Pé Esquerdo, em
satisfaçã o por todos os pecados que já foram cometidos na Igreja, por
pensamento, vontade ou desejo, implorando a Nosso Senhor, para dar a
ela para este propó sito a satisfaçã o perfeita que Ele obteve ao lavar os
pecados de todos os homens. Nosso Senhor entã o concedeu esta graça a
ela sob a forma de pã o, que ela imediatamente ofereceu a Ele com
agradecimento, e que Ele recebeu com grande condescendê ncia e,
levantando Seus olhos para Seu Pai Eterno, abençoou-a e deu a ela para
distribuir à Sua Igreja. Em seguida, beijou o Pé Direito de Nosso Senhor,
em satisfaçã o pelas omissõ es dos ié is nos bons pensamentos e desejos,
e de boa vontade, suplicando a Nosso Senhor que lhes comunicasse
uma parte daquela perfeita satisfaçã o que havia feito pelas dı́vidas de
todos os homens. Depois beijou a Ferida da Mã o Esquerda, em
satisfaçã o pelos pecados de todo o mundo, cometidos por palavra ou
por açã o, rogando a Nosso Senhor que concedesse os mé ritos de Suas
palavras e açõ es para esse propó sito. Ela entã o beijou a Ferida da Mã o
Direita, em satisfaçã o pelas omissõ es de boas palavras e obras,
suplicando a Nosso Senhor que comunicasse a plenitude e perfeiçã o de
Sua açã o para suprir o que havia de de iciente em Sua Igreja.
Em cada uma dessas ofertas ela recebia pã o e devolveu cada porçã o
a Nosso Senhor, que o abençoou e deu a ela para distribuir à Igreja. Em
seguida, ela se aproximou da amorosa Ferida do Lado de Jesus e,
abraçando-a de todo o coraçã o, rogou-Lhe que suprisse a Sua Esposa a
Igreja o que faltava à sua perfeiçã o e mé ritos, mesmo depois de Ele ter
expiado tã o perfeitamente seus pecados, e assim totalmente suprido
para seus defeitos, para que Sua vida divina - que é agradá vel aos olhos
de Deus Pai, e resplandece com tal brilho inigualá vel - possa se tornar
sua coroa e bem-aventurança eterna. A Santa, entã o, exultou pela graça
que Deus lhe deu e distribuiu esses pã es como se fosse uma sobremesa
depois de uma refeiçã o, e disse a Nosso Senhor: “Ah, Senhor, que me
dará s por Tua Esposa a Igreja, em vez de os peixes mencionados no
Evangelho de hoje? ”56 Nosso Senhor respondeu: “Eu darei a você s
todas as Minhas açõ es mais perfeitas para distribuir à queles que
negligenciaram servir-Me tanto quanto deveriam ter feito, e todas as
açõ es mais nobres de Minha alma para expiar sua frieza e falta de
fervor em louvar-Me pelos benefı́cios que receberam de Mim. ”
Pelos pã es que Nosso Senhor deu à Santa ela entendeu que sempre
que algué m izer uma boa açã o para Deus - mesmo que seja apenas
para dizer um Pater noster ou Ave Maria , ou qualquer outra oraçã o pela
Igreja - o Filho de Deus recebe é como se fosse fruto da Sua santa
Humanidade, e o oferece a Deus, Seu Pai, abençoando-o e
multiplicando-o por esta bê nçã o, para que seja distribuı́do para o bem e
o progresso de toda a Igreja.
Esta devoçã o pode ser realizada por qualquer um que diga
cinco Pater nosters em homenagem à s Cinco Chagas de Nosso Senhor,
beijando-os em espı́rito e orando por todos os pecadores que estã o no
seio da Igreja, para obter a remissã o de seus pecados e negligê ncias, se
eles esperam irmemente receber esta graça da bondade divina.

CAPITULO 19
Para a festa de São Gregório, Papa.
Da gló ria e prerrogativas de Sã o Gregó rio, e da recompensa reservada a este
Doutor da Igreja.
UMA

S ST. Gertrudes ouviu missa na festa de Sã o Gregó rio,57e ofereceu-lhe


testemunhos singulares de veneraçã o e devoçã o, ele apareceu a ela
cheio de majestade e gló ria; e ela pensava que ele igualava todos os
santos em mé rito. Foi Patriarca, pela diligê ncia cuidadosa e paternal
com que vigiou, noite e dia, a Igreja que lhe fora con iada; um Profeta,
visto que em seus escritos admirá veis ele havia descoberto as
armadilhas e enganos do antigo inimigo, e dado conselhos e remé dios
contra seus ardis, de modo que ele foi mais glori icado do que qualquer
um dos Profetas. Ele igualou os apó stolos por seu apego inviolá vel e iel
a Deus na prosperidade e adversidade, e por seu zelo na promoçã o do
Evangelho. Ele se assemelhava aos má rtires e confessores por suas
grandes austeridades corporais e pelo amor ardente que nutria pela
religiã o e pela santidade. Acima de tudo, ele se destacou na castidade; e
como recompensa por sua pureza virginal, ele gozava de uma gló ria
incompará vel por cada pensamento, palavra ou trabalho realizado para
preservar a pureza de seu corpo e alma, ou para ensinar outros a
preservar o mesmo tesouro.
Nosso Senhor entã o disse a Santa Gertrudes: “Considere, agora,
quã o adequado este Salmo é para esta alma eleita - 'De acordo com a
multidã o de minhas dores em meu coraçã o, as tuas consolaçõ es deram
alegria à minha alma' ( Salmo 93: 19) - desde que ele foi recompensado
por essas delı́cias inestimá veis por toda a dor que sofreu em palavras
ou obras, ou mesmo em pensamento. Com a sua morte, que hoje é
comemorada, o seu corpo nã o se alegrou porque teve que passar pela
torrente da morte; e toda a Igreja, bem como aqueles que estavam ao
seu redor naquele dia, icaram extremamente a litos por serem
privados de um pai tã o afetuoso e atencioso. Mas agora, no mesmo dia,
há a maior alegria quando sua festa solene é observada. ”
Entã o Gertrudes disse ao seu Senhor: “Que gló ria ganhaste com os
escritos desta Santa, que tanto enriqueceram e iluminaram a
Igreja?” Ele respondeu: "Minha Divindade e Minha Humanidade
encontram nele extremo deleite, e ele mesmo desfruta do mesmo
deleite Comigo sempre que a Igreja recita qualquer um de seus escritos,
e sempre que algué m é movido por eles a compaixã o, excitado pela
devoçã o ou in luenciado pelo amor . E por isso ele recebe a mesma
honra da corte celestial como um soldado ou prı́ncipe que o rei vestia
com suas pró prias vestes e alimentava em sua pró pria mesa. ” Ele
acrescentou: “St. Agostinho e Sã o Bernardo, a quem tanto amais, e os
outros Doutores da Igreja, gozam da mesma honra e da mesma
prerrogativa, cada um segundo o mé rito e a utilidade do seu trabalho ”.
Enquanto a dé cima segunda resposta era cantada, que começa com
as palavras, ó pastor ,58Sã o Gregó rio se ajoelhou diante de Deus e
ergueu as mã os intercedendo pela Igreja. Entã o o Senhor abriu Seu
Divino Coraçã o, para que ele pudesse tomar o que quisesse; e o Santo,
colocando ambas as mã os nele, tirou daı́ a graça da consolaçã o divina, e
derramou-a para as necessidades da Igreja. Entã o ela viu o Senhor
circundando-o com um magnı́ ico cinto do mais puro ouro. Este cı́rculo
indicava a justiça de Deus, que o impedia de descer à terra -
suspendendo-o no ar, para impedi-lo de conceder essas graças aos
ingratos e indignos, mas permitindo-lhe dá -las gratuitamente à queles
que as desejassem e merecessem .

CAPITULO 20
Para a festa do glorioso São Bento.
A bem-aventurança e a gló ria desta Santa mostrada a Santa Gertrudes. A
recompensa particular reservada para aqueles que observam ielmente a
disciplina regular.

O
NA Festa do glorioso pai Sã o Bento,59Santa Gertrudes ajudava nas
matinas com especial devoçã o para homenagear um pai tã o
excelente; e ela o viu em espı́rito, de pé na presença da refulgente e
sempre pacı́ ica Trindade, radiante de gló ria. Seu semblante estava
cheio de majestade e beleza; seu há bito brilhava
insuperavelmente; enquanto rosas vivas e brilhantes pareciam brotar
de seus membros, cada rosa produzindo outra, e essas outras, a ú ltima
superando a primeira em fragrâ ncia e beleza, de modo que nosso santo
pai, abençoado tanto pela graça como pelo nome,60estando assim
adornado, deu o maior prazer à adorá vel Trindade e à corte celestial,
que se alegrou com ele por sua bem-aventurança. As rosas que assim
brotaram dele signi icaram os exercı́cios que ele usou para subjugar
sua carne ao seu espı́rito, e todas as açõ es sagradas que ele havia
realizado, e també m aquelas de todos que ele havia atraı́do por suas
persuasõ es ou induzido por seu exemplo deixar o mundo e viver sob
disciplina regular, aquele que, seguindo-o nesta estrada real, alcançou,
ou ainda chegará , ao porto do paı́s celestial e à vida eterna, cada um
dos quais é um assunto de particular gló ria para este grande
patriarca; e por isso todos os santos louvam a Deus e o felicitam
continuamente.
Sã o Bento també m carregava um cetro, que era maravilhosamente
decorado em cada lado com pedras preciosas de grande
brilho. Enquanto o segurava em sua mã o, o lado que estava voltado
para ele emitia uma luz gloriosa, que indicava a felicidade daqueles que
haviam abraçado sua Regra e corrigido suas vidas, e por conta deles
Deus o subjugou com uma alegria inconcebı́vel. Do lado que estava
voltado para Deus, brilhava a justiça divina que havia sido
engrandecida na condenaçã o daqueles que foram chamados a esta
sagrada Ordem, mas que se tornaram indignos dela, e portanto foram
condenados à s chamas eternas; pois é justo que aquele a quem Deus
chamou à mais sagrada das Ordens seja mais severamente punido se
viver uma vida má .
Agora, como Santa Gertrudes ofereceu ao bendito padre a recitaçã o
de todo o Salté rio em sua homenagem, por parte da comunidade, ele
parecia extremamente alegre, e ofereceu a verdura com a qual foi
adornado para o bem-estar daqueles que buscavam seu proteçã o com
coraçõ es puros, e caminhou em suas pegadas pela iel observâ ncia de
sua Regra.
Enquanto a Resposta, Grandi Pater iducia morte stetit
preciosa ,61foi entoado, Santa Gertrudes disse-lhe: “Santo Padre, que
recompensa especial recebeste pela tua morte gloriosa?” Ele
respondeu: “Por ter dado meu ú ltimo suspiro enquanto orava, agora
emito um sopro de tã o insuperá vel doçura, que os santos se deleitam
em estar perto de mim”. Entã o ela implorou a ele, por sua morte
gloriosa, que ajudasse cada religioso daquele mosteiro em sua ú ltima
hora. O venerá vel pai respondeu: “Todos os que me invocarem,
lembrando o im glorioso com que Deus me honrou, serã o assistidos
por mim em sua morte com tal idelidade, que me colocarei onde vejo o
inimigo mais disposto a atacá -los; assim, sendo fortalecidos pela
minha presença, eles escaparã o das armadilhas que ele lhes armar e
partirã o feliz e paci icamente para o gozo da bem-aventurança eterna ”.

CAPITULO 21
Para a Vigília e Festa da Anunciação.
Exercı́cios de devoçã o à Santı́ssima Virgem.

UMA

S ST. Gertrudes ouviu a campainha do Capı́tulo da Vigı́lia da


Anunciaçã o, e esforçou-se por recolher-se em Deus, viu o Senhor Jesus
e sua Virgem Mã e sentados no lugar da Superiora,62e esperando com
grande tranquilidade até que as irmã s se reunissem, recebendo cada
uma delas com as mais ternas marcas de amizade e carinho. Quando a
Festa da Anunciaçã o foi lida no Martiroló gio,63Jesus voltou-se para a
Mã e e saudou-a com tanta bondade e condescendê ncia, que renovou
nela aquela doce e inestimá vel alegria que ela sentira quando a sua
Divindade se fez carne no seu seio e se uniu à nossa natureza. Quando a
comunidade começou a recitar o Miserere , Nosso Senhor colocou cada
palavra nas mã os de Sua Virgem Mã e sob a forma de pé rolas de cores
diferentes. Ela viu que a Santı́ssima Virgem tinha uma quantidade de
perfumes doces64 em seu seio, que ela misturou com as pé rolas - isto é ,
com as oraçõ es das religiosas - que seu Filho lhe havia apresentado.
O Santo compreendeu que esses perfumes signi icavam as cruzes
que os religiosos haviam sofrido no dia anterior, sem ter dado ocasiã o
para elas; e quando ela se maravilhou por que essas cruzes eram
representadas como perfumes, Nosso Senhor disse-lhe: “Como uma
pessoa delicada se agrada mais dos perfumes do que de qualquer outro
presente, també m me alegro no coraçã o daqueles que sofrem suas
provaçõ es com humildade, paciê ncia e açã o de graças, abandonando-se
inteiramente à Minha bondade paterna, que converte a prosperidade e
a adversidade em seu bem. ”
Quando Gertrudes começou a re letir por que Nosso Senhor a havia
instruı́do agora e em muitas outras ocasiõ es por visõ es corporais, ele
lembrou a sua mente as palavras que foram cantadas naquele dia do
portã o fechado que o Profeta Ezequiel tinha visto,65e disse-lhe: “Assim
como expliquei a maneira e a ordem de Minha Encarnaçã o, Paixã o e
Ressurreiçã o aos profetas por meio de iguras e semelhanças mı́sticas,
uso coisas sensı́veis para fazer os homens compreenderem o que
ultrapassa a compreensã o de seus sentidos. Por isso, ningué m deve
menosprezar as coisas espirituais porque estã o representadas sob as
imagens corporais, mas antes deve esforçar-se por tornar-se capazes
de saborear a doçura nelas contida ”.
Enquanto a Ave Maria66foi cantado nas matinas, Santa Gertrudes
viu trê s riachos, que luı́am com uma impetuosidade suave do Pai, do
Filho e do Espı́rito Santo para o coraçã o da Santı́ssima Virgem, e luı́am
de volta de seu coraçã o com o mesmo impetuosismo ao seu original
fonte. O Santo entendeu por isso que a Santı́ssima Virgem é mais
poderosa depois do Pai, mais sá bia depois do Filho e mais benigna
depois do Espı́rito Santo.67Ela sabia també m, quando algué m recitava
a Ave Maria com devoçã o, que esses trê s riachos envolviam docemente
a Santı́ssima Virgem, e entã o voltavam à sua fonte no Coraçã o de Jesus
Cristo, e deles pequenos riachos de alegria e salvaçã o luı́am sobre os
Santos e os Anjos, e especialmente sobre aqueles que recitam a
Saudaçã o Angé lica com devoçã o, que renova neles todos os benefı́cios
que adquirem pela Encarnaçã o do Filho de Deus.
Cada vez també m que recitavam palavras referentes à castidade da
Santı́ssima Virgem, tais como: “ Domus pudici pectoris; clausa parentis
viscera , ”etc.,68todos os santos se levantaram e a reverenciaram como
sua rainha e amante, retornando os mais fervorosos agradecimentos a
Deus por todos os favores que Ele havia concedido aos homens por
meio dela. O Arcanjo Gabriel també m apareceu como se revestido de
um novo brilho cada vez que a Anunciaçã o era mencionada, o que era
efetuado por seu ministé rio; e em nome de Sã o José , esposo da Virgem
Mã e, todos os Santos izeram uma profunda inclinaçã o para ele,
testemunhando, pela serenidade e doçura de seus olhares, que eles se
alegraram com ele por sua exaltada dignidade.
Durante a missa, na qual Santa Gertrudes se comunicou, ela viu a
Mã e de Deus, gloriosamente adornada com todas as virtudes; e ela se
prostrou humildemente a seus pé s, suplicando-lhe que se dispusesse a
receber dignamente o augusto Sacramento do Corpo e do Sangue de
seu Divino Filho. A Santı́ssima Virgem deu-lhe entã o um magnı́ ico
colar, que tinha sete raios ou pontas, a cada um dos quais foi anexada
uma pedra preciosa, e essas pedras indicaram as virtudes marcantes
que mais agradaram a Nosso Senhor em Sua Mã e Santı́ssima. O
primeiro foi sua pureza primorosa; a segunda, sua iel humildade; a
terceira, seus desejos ardentes; o quarto, seu conhecimento claro; o
quinto, seu amor inextinguı́vel; o sexto, o prazer soberano que ela
sentia em Deus; o sé timo, sua tranquilidade pacı́ ica. Quando Santa
Gertrudes apareceu diante de Nosso Senhor com esta coleira, Ele icou
tã o conquistado pelo brilho de suas virtudes, que se inclinou
amorosamente para ela; puxando-a para Si, e envolvendo-a como se
fosse em Seu seio, Ele a honrou com Suas puras e sagradas carı́cias.
Na Antı́fona do Magni icat - Arte mirabili69- o Espı́rito Santo parecia
sair do Coraçã o de Nosso Senhor como um vento suave, que movia
suavemente a gola com que o Santo estava adornado, cantando esta
Antı́fona como se fosse um instrumento musical em homenagem à
Santı́ssima Trindade. Em seguida, com as palavras do Evangelho Ecce
ancilla [“Eis a serva”], Santa Gertrudes saudou a Mã e de Deus com
grande devoçã o, recordando-lhe a alegria inefá vel que experimentou
quando se abandonou e tudo o que lhe dizia respeito, com perfeita
con iança, à Vontade Divina. A Santı́ssima Virgem respondeu-lhe com
um olhar de serenidade: “Quando algué m me izer lembrar isso com
devoçã o, serei verdadeiramente para eles o que pedem no
hino Monstra te esse matrem, 70 que é usado nesta festa, mostrando-me
na verdade a Mã e do Rei da Gló ria e o advogado dos homens, usando
meu poder com o Rei para socorrê -los, e ajudando-os com a mais terna
compaixã o. ”
Quando o Antiphon Haec est morrer71foi cantado, com as palavras,
“ Hodie Deus homo factus est ”, a comunidade prostrou-se, para
homenagear a gloriosa Encarnaçã o de Nosso Senhor, e do Filho de
Deus, lembrando o amor que o fez tornar-se homem, levantou-se de
Seu trono real, e, colocando-se diante de Seu Pai, disse-Lhe: “Pai
Eterno, Meus irmã os vieram a Mim”. (Cf. Gênesis 46:31). E o Pai Eterno
foi movido a ter compaixã o e mostrar graça a esses irmã os por quem
Seu ú nico e amado Filho intercedeu assim com amor e ternura, com
in initamente mais afeiçã o do que Faraó sentiu por José quando se
alegrou com ele pela chegada de seus irmã os.
Enquanto Santa Gertrudes indagava qual devoçã o seria mais
aceitá vel para a Santı́ssima Virgem nesta é poca, ela ensinou-lhe que
qualquer pessoa que recitasse a Ave Maria [Ave Maria] devotamente
quarenta e cinco vezes por dia durante a Oitava, em memó ria do tempo
Nosso Senhor tinha permanecido em seu ventre sagrado, eles lhe
prestariam o mesmo serviço como se a tivessem atendido com o maior
cuidado desde o momento da concepçã o até o momento do
nascimento; e como ela nã o poderia ter recusado nada em tais
circunstâ ncias, agora ela estaria igualmente disposta a dar tudo que
eles pedissem.
O Santo foi entã o instruı́do a rezar a Ave Maria da seguinte maneira:
com as palavras “ Ave Maria ”, a desejar a consolaçã o dos a litos; nas
palavras “ gratia plena ”, para pedir graça para aqueles que nã o a
possuı́am; no “ Dominus tecum ”, para orar pelos pecadores; em
“ benedicta tu in mulieribus ”, para pedir graça para aqueles que
começaram a viver bem; em “ benedictus fructus ventris ”, para orar pela
perfeiçã o dos eleitos; repetir as palavras “ Jesus, splendor-paternae
charitatis ”, para que todos o conheçam; e “ igura substantiae ejus ”,
para obter o amor divino: pois essas palavras - “Jesus, esplendor da
gló ria do Pai e imagem de sua substâ ncia” - devem ser repetidas no
inal de cada Ave Maria .

CAPITULO 22
Para o Domingo da Paixão.
Exercı́cios de devoçã o para aquele dia.

NO DOMINGO Judica, tendo Santa Gertrudes oferecido seu corpo e alma


a Nosso Senhor, para que ela pudesse sofrer, em honra de Sua Paixã o,
quaisquer a liçõ es que Ele quisesse enviá -la, sua oferta foi aceita
graciosamente; e o Santo, impelido pela inspiraçã o divina, começou a
saudar e adorar os diversos membros do Corpo de Nosso Senhor que
sofreram por nó s durante a Sua Paixã o. Ao saudar cada um dos
membros, brilhou de cada um deles um esplendor divino que iluminou
a sua alma, por meio da qual lhe foi comunicada a inocê ncia que Nosso
Senhor adquiriu para a sua Igreja. Enriquecida assim e adornada com a
inocê ncia de Jesus Cristo, disse a Nosso Senhor: «Ensina-me, Senhor,
rogo-te como posso honrar dignamente a Tua Divina Paixã o com a
inocê ncia com que a Tua bondade me dotou. ” Nosso Senhor
respondeu: “Re lita freqü entemente com gratidã o e compaixã o sobre o
que Eu, seu Senhor e Criador, sofri em Minha longa agonia e oraçã o,
quando a veemê ncia de Meus desejos e Meu amor Me izeram suar o
chã o com um suor de sangue; oferece-Me todas as tuas açõ es e tudo o
que diz respeito a ti, em uniã o com toda a submissã o com que disse
estas palavras: 'Pai meu, seja feita a tua vontade'; e assim receba tudo o
que te acontecer, seja doloroso ou agradá vel, com o mesmo amor com
que eu te envio para a tua salvaçã o. Seja grato na prosperidade, unindo-
se ao amor que Me fez enviá -lo, condescendendo com a sua fraqueza,
para que a prosperidade temporal o leve a pensar em alegrias
espirituais e a ter esperança por elas; receba a adversidade també m em
uniã o com a caridade com a qual Meu amor paternal a envia a você ,
para prepará -lo para o bem eterno ”.
Entã o Santa Gertrudes resolveu dizer a seguinte oraçã o durante o
resto da semana, saudando os Membros sagrados do Filho de Deus com
estas palavras: “Eu vos saú do, O preciosos Membros”. E ela percebeu
que isso agradava a Nosso Senhor; e se desejamos a mesma graça,
vamos usar a mesma oraçã o.
Durante a missa que se seguiu, conforme as palavras do
Evangelho Daemonium habes72foram lidas, ela se entristeceu
profundamente pelo desprezo oferecido a Nosso Senhor; e como nã o
suportou ouvir estas palavras, exclamou do fundo do seu coraçã o, da
maneira mais doce e amorosa: “Salve, joia vivi icante da nobreza
divina! Salve, amoroso Jesus! Flor incessante da dignidade humana! Tu
é s meu Soberano e ú nico Bem. ” E esse benigno Senhor, para
recompensar esses testemunhos de afeto, inclinou-se ternamente para
com ela e sussurrou-lhe: “Eu sou teu Criador, Redentor e Amante. Eu
deixei Minha bem-aventurança para te redimir por uma morte amarga.
” Entã o, todos os Santos, extasiados de admiraçã o pela maravilhosa
amizade que Ele manifestou a ela, louvaram a Deus por isso com a
maior alegria.
Nosso Senhor disse-lhe entã o: “Todo aquele que Me saú da, como tu
izeste, em reparaçã o pelas blasfê mias e ultrajes que se derramam
sobre Mim em todo o mundo, quando na hora de sua morte é tentado e
acusado pelo demô nio, será consolado por mim com as mesmas
palavras com que te consolei, e testemunharei o mesmo afeto para com
ele; e se os santos icaram assim maravilhados com as palavras que
sussurrei em seu ouvido, quã o espantados e maravilhados icarã o os
inimigos de sua alma quando o virem tã o maravilhosamente consolado
por Minha bondade! ”
CAPITULO 23
Para o Domingo de Ramos.
Da Comunhã o Espiritual e outros exercı́cios para este dia sagrado.

NA Festa das Palmas, enquanto Gertrudes se enchia das delı́cias da


consolaçã o divina, ela disse a Nosso Senhor: “Ensina-me, rogo-Te, ó
Amado, como posso ir ao encontro de Ti hoje, Que está s se
aproximando de Tua Paixã o por minha salvaçã o." Nosso Senhor
respondeu: “Dá -me um asno73 para cavalgar, uma tropa de pessoas
para Me preceder com aclamaçõ es, outra tropa para Me seguir com
louvores e outra para Me ministrar.
“Você vai Me dar um asno para montar, se você reconhecer com o
coraçã o contrito que você falhou em ser guiado pela razã o e nã o teve
mais compreensã o do que uma besta de tudo o que eu iz para a sua
salvaçã o. Esta negligê ncia fez com que perdessem a Minha doce
tranquilidade, de modo que, quando pensei em encontrar em você s
algum consolo, foi necessá rio que Eu os puri icasse de algum
sofrimento exterior ou interior. E assim fui obrigado a sofrer em
você ; pois o meu amor, que nã o se conteve, obrigou a minha bondade a
ter compaixã o de ti em todas as tuas adversidades. Mas quando você
Me der o meio de transporte que desejo, icarei satisfeito.
“Você s Me darã o uma tropa de pessoas que farã o aclamaçõ es diante
de Mim, quando Me receberem com toda a afeiçã o em nome de todos os
homens, em uniã o com o amor que Me fez, seu Senhor e Criador, entrar
em Jerusalé m para a salvaçã o de o mundo, e em satisfaçã o por todos
aqueles que nã o conseguiram agradecer-Me dignamente, e com perfeito
afeto, por esta grande graça.
“Você Me dará outra tropa para Me seguir com louvores, quando
você confessar sinceramente que nunca imitou o exemplo de Minha
vida perfeita como deveria; e se você Me oferecer uma vontade tã o
fervorosa, que se pudesse, você exortaria todos os homens a imitarem o
que há de mais perfeito em Minha Vida e Paixã o, e isso para Minha
honra e gló ria; e reza para que possas obter a graça de me imitar com
verdadeira humildade, paciê ncia e caridade (as virtudes que mais
exercitei durante a Minha Paixã o), desejando com todo o ardor seguir o
Meu exemplo.
“Você me dará aqueles que Me atenderã o, se você confessar que
nunca defendeu Minha verdade e justiça como deveria, decidindo
defendê -los irmemente para o futuro, tanto por suas palavras como
por açõ es.” Ele acrescentou: “Quem se apresenta a mim dessas quatro
maneiras nã o deixará de obter a vida eterna como recompensa de sua
piedade”.
Entã o, quando ela estava prestes a se comunicar, e ofereceu todo o
seu coraçã o a Deus com grande fervor, ela o viu se abrir em sua
caridade, como Jerusalé m se abriu para receber Nosso Senhor. Ele
entrou ali sob a forma de um jovem carregando um lagelo com trê s
cordas, que signi icavam a obra de nossa Redençã o: a primeira corda
indicava os trabalhos de Seu corpo sagrado; a segunda, as devotas
intençõ es de Sua santı́ssima Alma; a terceira, a virtude excelente e
incompará vel de Sua Divindade, que sempre cooperou junto em Jesus
Cristo. Nosso Senhor entã o a tocou suavemente com o açoite, para
remover dela todas as manchas e poeira da fragilidade e negligê ncia
humanas. Depois disso, Ele colocou o lagelo no centro do coraçã o
dela. As trê s cordas pareciam formar um trono sobre o qual Nosso
Senhor pudesse descansar; e quando Ele se sentou nela, cada um
desses pequenos cordõ es produziu um galho verde, que estava coberto
de lores. A primeira delas - isto é , a virtude de Sua Divindade - cresceu
atrá s Dele e serviu como uma sombra para Sua Cabeça; os outros
estavam à direita e à esquerda e exalavam uma fragrâ ncia muito
agradá vel.
Enquanto ela cantava as palavras, O Crux, ave, spes unica ,74em
Terce, Santa Gertrudes ofereceu a Nosso Senhor as devoçõ es de todos
aqueles que O saudassem naquele dia enquanto o recitavam nas Horas
Canô nicas. Entã o Nosso Senhor apresentou sua devoçã o e zelo, na
forma de uma lor, a todos aqueles por quem ela fez a oferta; e esta lor
deu-lhes grande alegria espiritual e beleza. “Se isso pode ser tã o
vantajoso para minhas irmã s”, disse a Santa, “o que Tu dará s à queles
que se dedicam depois da procissã o com mais fervor para servir a Ti e
Te adorar?” Nosso Senhor respondeu: “A medida que suas irmã s Me
apresentarem trê s tipos diferentes de devoçã o, colocarei essas trê s
lores diante delas. Alguns deles desejam ter uma devoçã o que eles
acham que nã o tê m, e eles me oferecem seus trabalhos e exercı́cios
exteriores: a estes eu apresentarei a lor que brota dos trabalhos e
exercı́cios de Meu Corpo. Outros abundam em doce devoçã o e Me
oferecem seus desejos fervorosos; e os refrescarei com a lor que
procede das puras intençõ es de Minha Divina Alma. Outros, també m,
cuja vontade está tã o unida à Minha que sã o um espı́rito Comigo, se
oferecem inteiramente a Mim, para que Eu faça com eles o que Eu
quiser; e a estes apresentarei a nobre lor da Minha Divindade. ”
Apó s a procissã o, como a comunidade fez uma inclinaçã o no Gloria,
laus,75e prostrado no Fulgentibus palmis , Nosso Senhor os presenteou
com a lor do Seu exercı́cio corporal, para consolá -los, fortalecê -los e
preservá -los em Seu serviço, dando-lhes a entender por isso que Ele
enobreceria seus labores pelo mé rito dos Seus. Uma das irmã s veio
entã o a Santa Gertrudes para implorar que ela levasse um pouco de
comida, por causa de sua extrema fraqueza; mas como ela nã o
suportava tomar nada até ouvir a Paixã o,76segundo o seu costume
habitual, rogou a Nosso Senhor que lhe dissesse o que devia fazer. Ele
respondeu: “Refresque-se, meu amado, em uniã o com o amor com que
recusei o vinho misturado com mirra e fel quando o provei”. Enquanto
ela agradecia o favor, Nosso Senhor apresentou-lhe o Seu Coraçã o,
dizendo: “Apresento-te nisso com o desejo que Me fez recusar a beber,
para te dar de beber. Beba, entã o, livremente o que eu, um mé dico
habilidoso, preparei para você . Este vinho, misturado com fel e mirra,
foi oferecido a Mim para que eu pudesse morrer mais
rapidamente; mas o desejo de sofrer ainda mais pelos homens me
impediu de beber. Você , ao contrá rio, deve comer o alimento que lhe é
necessá rio, com o mesmo amor, para que sua vida se prolongue ao Meu
serviço. Este vinho e mirra foram misturados com fel; portanto, você
també m deve fazer trê s coisas em sua memó ria. Primeiro: você deve
realizar todas as suas açõ es com alegria para a Minha gló ria; isso é
indicado pelo vinho. Em segundo lugar: você deve usar as
conveniê ncias da vida para permitir que você sofra por Meu amor; e
isso é indicado pela mirra, que preserva da corrupçã o. Terceiro: você
deve estar muito disposto, pelo Meu amor, a ser privado das alegrias do
Cé u e a permanecer neste vale de misé ria; e isso é indicado pelo
fel. Cada vez que você usar o necessá rio para a vida com essas
intençõ es, irei considerá -lo como um amigo que tomou uma poçã o
amarga para deixar para você uma que fosse doce e saborosa. ”
Santa Gertrudes, quando comia, costumava repetir estas palavras:
“Que a virtude do Teu Divino amor me incorpore inteiramente a Ti, ó
Jesus amoroso!” E, ao beber, dizia: “O Jesus amá vel, derrama e conserva
no mais ı́ntimo do meu ser aquela divina caridade que reina tã o
poderosamente em Ti, para que me penetre inteiramente, destilando-se
em todas as potê ncias do meu corpo e da minha alma. ”
O Santo, tendo perguntado a Nosso Senhor como Ele aceitaria a
mesma oferta de outros, Ele respondeu: “Aqueles que usam as mesmas
palavras que Eu lhes ensinei, receberã o de Mim os mesmos
testemunhos de afeto que Eu lhes mostrei”. Como as palavras da
Paixã o, Emisit spiritum [“Ele rendeu o fantasma”], foram lidas, Santa
Gertrudes prostrou-se no chã o, dizendo: “Eis-me, Senhor, prostrado
sobre a terra em honra de Tua preciosa Morte, suplicando a Ti, pelo
amor excessivo que te fez morrer, Que é s a vida de todos, para que
destruı́sseis em mim tudo o que Te desagrada. ” Nosso Senhor
respondeu: “Lança de ti todos os vı́cios que desejas que morram em ti, e
atrai para ti, em virtude do Meu Espı́rito, aquelas minhas perfeiçõ es
que desejas possuir; e esteja certo de que seus pecados serã o
perdoados e de que sentirá os efeitos salutares do que assim extraiu de
Mim para dentro de você ; e cada vez que você se esforçar para
combater os vı́cios que você expulsou, ou para obter as virtudes com as
quais Eu o inspirei, você terá a dupla vantagem de obter a vitó ria e de
sentir o fruto da Minha Paixã o. ”
Depois da refeiçã o do meio-dia, Santa Gertrudes retirou-se para
descansar em estado de extrema lassidã o e fraqueza - nã o para dormir,
mas para evitar as visitas importunas com as quais se sentia oprimida,
dizendo a Nosso Senhor: “Eu me retiro da conversa de criaturas, em
memó ria da instruçã o salutar que Tu deste hoje, e para ocupar-me
Contigo, meu Amor e meu Tudo, rogando-Te que fales à minha alma.
” Nosso Senhor respondeu: “Assim como Minha Divindade repousou em
Minha Humanidade, assim també m Minha Divindade repousou em seu
cansaço”. Percebendo a Santa que quem a procurava temia interrompê -
la, pensando que ela dormia, perguntou a Nosso Senhor se lhes devia
dizer que nã o dormia, para que izessem o que quisessem; mas Ele
respondeu: “Nã o, que eles mereçam por seus exercı́cios de caridade as
recompensas que desejo e me regozijo em dar por isso; pois nã o há
nada mais ú til para os homens do que tais exercı́cios. ” Em seguida,
acrescentou: “Vou propor dois assuntos sobre os quais você pode
meditar; pois nã o há nada mais ú til nesta vida do que os homens se
cansarem desses trabalhos, nos quais descanso e me deleito, e fazer
obras de caridade para com o pró ximo ”.
Na noite do dia em que Nosso Senhor foi ter com Marta e Maria em
Bethâ nia, como Santa Gertrudes desejava ardentemente receber Nosso
Senhor, ela se dirigiu a um cruci ixo e, tendo beijado a Chaga do Lado de
Nosso Senhor com o mais terno carinho , ela suplicou a Ele que se
responsabilizasse por aceitar a hospitalidade de seu coraçã o, apesar de
sua indignidade. O Senhor, que ouve os que clamam a ele, apresentou-se
a ela e disse-lhe carinhosamente: “Eis-me aqui; o que você vai me
dar?" O Santo respondeu: “Minha ú nica Salvaçã o, meu verdadeiro e
ú nico Bem, ai de mim! Nã o tenho nada a apresentar à Tua
magni icê ncia Divina, mas ofereço todo o meu ser à Tua bondade,
rogando-Te que prepare dentro de mim tudo o que Tu sabes que Te
agrade. ” Nosso Senhor respondeu: “Se você deseja que eu aja como eu
quiser com você , dê -me a chave do seu coraçã o, para que eu possa
deixar ou tirar o que eu quiser”. “E que chave é essa?” perguntou o
Santo. Ele respondeu: “E a sua pró pria vontade”.
Ela entendeu com estas palavras que aqueles que desejam entreter
Nosso Senhor devem dar-Lhe a chave de sua pró pria vontade,
abandonando-se inteiramente ao Seu beneplá cito, com perfeita
con iança de que Sua bondade ordenará todas as coisas para sua
salvaçã o. Entã o Nosso Senhor entrou em seu coraçã o e deleitou-se com
todas as delı́cias divinas que Ele desejou.
Depois disso, Santa Gertrudes, inspirada por Deus, saudou o
precioso corpo de Nosso Senhor, repetindo estas palavras trezentas e
sessenta e cinco vezes: Non mea, sed tua voluntas iat, amantissime
Jesu [“Nã o seja a minha vontade, mas a Tua seja feita , O Jesus amoroso
”]; e ela sabia que Ele aceitava isso com grande satisfaçã o. Ela entã o
perguntou se Nosso Senhor icaria satisfeito se certas pessoas, que
desejavam celebrar esta festa com devoçã o, fossem guiadas pelo que ela
havia escrito, tomando Ester como seu assunto, e começando com as
palavras: Egredimini, iliae Jerusalém . Ele respondeu: "Tenho esta festa
no coraçã o, que se algué m se esforçar para celebrá -la com devoçã o, terá
esta honra - que, na vida eterna, alé m da recompensa de suas outras
boas obras, prepararei uma festa para ele que será digna da
magni icê ncia de Minha generosidade real. ”

CAPITULO 24
Na quarta-feira da Semana Santa.

N QUARTA-FEIRA da Semana Santa, com as palavras In nomine


Jesu ,77Santa Gertrudes ajoelhou-se em homenagem a este nome tã o
digno, para reparar toda a negligê ncia que ela havia cometido neste
assunto; e, percebendo que Nosso Senhor estava satisfeito com isso,
ela se ajoelhou uma segunda vez ao ouvir a palavra caelestium , para
suprir a negligê ncia dos santos nesta vida, no que diz respeito à honra
que deviam a Deus. Quando ela fez isso, toda a corte celestial se
levantou com grandes sentimentos de gratidã o, agradecendo a Deus
por ter dado esta graça a ela e orando por ela. Ao ouvir a
palavra terrestrium , ela fez outra genu lexã o, em satisfaçã o pela
negligê ncia dos ié is em louvar a Deus; e entã o o Filho de Deus
comunicou-lhe com alegria singular o fruto de todas as devoçõ es que
Lhe foram oferecidas em toda a Igreja. Ao ouvir a palavra infernorum ,
ela també m se ajoelhou para expiar as negligê ncias dos
condenados. Entã o o Filho de Deus se levantou e apresentou-se diante
de Seu Pai, dizendo: “E meu direito condenar, visto que me deste todo o
poder; e por um julgamento justo eu os entreguei à s chamas
eternas. Por isso, recebo com tanta satisfaçã o a reparaçã o que
Gertrudes fez por eles, que a recompensa que reservo até que ela seja
capaz de gozar da bem-aventurança nã o poderia ser compreendida por
nenhum mortal ”.
Enquanto a Paixã o era lida, com as palavras, Pater, ignosce illis [“Pai,
perdoa-lhes”], Santa Gertrudes implorou a Nosso Senhor com fervor,
pelo amor que o fez rezar por aqueles que O cruci icaram, que Ele se
agradasse de perdoe todos aqueles que alguma vez O ofenderam em
qualquer coisa. A esta petiçã o, todos os Santos se ergueram em
admiraçã o, suplicando a Deus que a perdoasse por todas as faltas que
ela pudesse ter cometido em suas solenidades ou festivais. Em seguida,
o Filho de Deus se apresentou també m perante o Pai, oferecendo o
mé rito de sua vida santa, em satisfaçã o por todas as faltas que o Santo
havia cometido em pensamento, palavra ou açã o.
Ao lerem as palavras: "Hoje estará s comigo no paraı́so", ela sabia
em espı́rito que ningué m poderia obter a graça da penitê ncia em sua
ú ltima hora, se nã o tivesse se tornado digno dela realizando alguma boa
açã o durante a vida dele; e que o bom ladrã o havia obtido o favor de
entrar na gló ria no mesmo dia que Nosso Senhor, porque, pela graça de
Deus, ele viu e repreendeu a injustiça de seu companheiro no crime, e
nã o suportou ouvi-lo derramar. reprova Aquele que ele sabia ser
inocente e se reconheceu merecedor do castigo que sofreu. Portanto,
Deus mostrou-lhe misericó rdia.

CAPITULO 25
Para a Quinta-feira Santa.
De oferecer os mé ritos de Jesus Cristo para obter o perdã o dos pecados da
Igreja. Do Seu amor no adorá vel Sacramento do Altar.
O

N SAGRADA Quinta-feira, enquanto as Lamentaçõ es eram cantadas nas


Matinas, Santa Gertrudes chorava diante de Deus Pai, na amargura de
seu coraçã o, por todos os pecados que os homens haviam cometido
contra a Divina Onipotê ncia. Na segunda lamentaçã o, ela chorou diante
de Deus Filho pelos pecados que cometeram, por ignorâ ncia, contra
Sua sabedoria inefá vel. Na terceira lamentaçã o, ela chorou perante o
Espı́rito Santo pelos pecados cometidos, por maldade, contra a Sua
bondade. Entã o, no verso Jesu Christe , quando o Kyrie eleison foi
entoado, ela se aproximou do doce Coraçã o de Jesus, e abraçando-o
com muita devoçã o por parte da Igreja, ela obteve a remissã o de todos
os pecados que haviam sido cometidos por pensamentos , desejos ou
vontade perversa. Na Christe eleison , ela abraçou a bendita Boca de
Nosso Senhor e pediu perdã o por todos os pecados da lı́ngua. Entã o,
no Kyrie eleison , ela beijou as mã os de Nosso Senhor e obteve o perdã o
de todos os pecados cometidos pela Igreja. Por ú ltimo, quando as
pessoas cantaram o Kyrie eleison cinco vezes, apó s o hino Rex
Christe ,78ela beijou as Cinco Chagas de Nosso Senhor, para obter o
perdã o de todos os pecados dos cinco sentidos. Enquanto ela fazia isso,
ela viu cinco correntes de graça jorrando impetuosamente das Cinco
Chagas, e derramando-se sobre toda a Igreja, puri icando-a de todas as
manchas e impurezas; assim, ela sabia que havia recebido os frutos
completos do que havia feito nas Lamentaçõ es e na eleison Kyrie .
Esta prá tica pode ser seguida durante as trê s ú ltimas noites da
Semana Santa com a perfeita con iança de obter assim a mesma
vantagem.
Como as palavras, Oblatus est quia voluit ,79foram cantadas em
Laudes, Nosso Senhor disse a Santa Gertrudes: “Se você acredita que eu
fui oferecido na cruz a Deus meu Pai só porque Eu quis, acredite
també m que agora desejo me oferecer por cada pecador a Deus. Pai,
com o mesmo amor com que me ofereci por todos os homens em
geral. Portanto, nã o há pessoa, por mais pecadora que seja, que nã o
tenha esperança de perdã o, oferecendo Minha Paixã o e Morte a Deus
Meu Pai, desde que acredite irmemente que obterá esta graça, e que
esteja persuadida de que a memó ria de Meu o sofrimento é o remé dio
mais poderoso contra o pecado, quando unido a uma fé correta e uma
verdadeira penitê ncia. ”
Enquanto Santa Gertrudes ouvia as palavras do Evangelho, Coepit
lavare pedes discipulorum ,80disse a Nosso Senhor: “O Deus, visto que
nã o mereço que Tu me laves, quã o feliz icaria se merecesse, pelo
menos, ser puri icada dos meus pecados por um dos Teus Apó stolos,
para ser mais digno de se aproximar de Teu precioso Corpo e Sangue.
” Nosso Senhor respondeu: “Eu lavei todas as suas manchas, e també m
aquelas a quem você ensinou a pedir a puri icaçã o das sete afeiçõ es
mundanas.” Entã o o Santo disse: “Ai, Senhor! é verdade que ensinei isso
a outros e pretendia fazer isso sozinho; mas ao ensiná -los, eu mesmo
negligenciei. ” Nosso Senhor respondeu: “Aceito sua boa vontade para o
ato; pois a Minha bondade é tal que, quando algué m tem vontade de
realizar uma boa açã o, considero-a realizada e recompensa-a como se
tivesse sido realizada, mesmo que a fragilidade humana impeça sua
realizaçã o ”.
Antes de se comunicar, ela disse a Nosso Senhor: “Eis, Senhor, eu te
ofereço todas as petiçõ es daqueles que foram recomendados à s minhas
oraçõ es indignas”. Ele respondeu: "Você acendeu tantas chamas em
Meu Coraçã o quantas pessoas por quem você ora." "Ah, Senhor!" ela
disse, "ensina-me como acender este fogo em Teu Divino Coraçã o para
cada alma na Igreja." “Você fará isso”, respondeu Ele, “praticando quatro
coisas: 1. Louvando-me por todos os homens que criei à Minha imagem
e semelhança. 2. Agradecendo-me por todo o bem que iz por eles ou
que ainda posso fazer por eles. 3. Lamentando todos os obstá culos que
colocam à Minha graça. 4. Orando em geral por todos, para que cada um
se aperfeiçoe no estado em que a Minha Providê ncia o colocou, para o
seu pró prio bem e para Minha honra e gló ria ”.
Noutra ocasiã o, na mesma solenidade, em que Gertrudes orava com
grande recolhimento, Nosso Senhor apareceu a ela, assim como
apareceu na terra no mesmo dia. Ele parecia passar este dia em
extrema angú stia e amargura, pois tudo o que Ele estava prestes a
sofrer estava continuamente presente a Ele; pois, sendo o terno ilho de
uma terna mã e,81 Ele experimentou de antemã o o mais vivo e
excessivo sofrimento, antecipando a morte em todos os seus terrores,
a crueldade desumana e a barbá rie de Seus algozes.
Ao sentir isso em espı́rito, Gertrude sentiu-se tã o tocada pela
compaixã o que teria empregado nela toda a força de seu coraçã o, se
tivesse aumentado mil vezes; mas, por im, a violê ncia de seu amor e
seu desejo a dominaram e ela desmaiou. Nosso Senhor disse-lhe entã o:
“O mesmo amor que Me fez sofrer tantas dores e a liçõ es tã o extremas
pela salvaçã o dos homens me faz sofrer també m agora no teu coraçã o,
imortal e intransponı́vel como sou, pela ı́ntima compaixã o com que me
penetra para a salvaçã o dos Meus eleitos, em consideraçã o à s Minhas
a liçõ es e amarguras. Portanto, em troca da compaixã o que tiveram
pelos Meus sofrimentos, dou-lhe todo o fruto da Minha Paixã o e Morte,
para assegurar a sua bem-aventurança eterna. Alé m disso, o seu
coraçã o terá esta honra, que sempre que a Madeira da Cruz for adorada,
que foi o instrumento dos Meus sofrimentos, a sua alma sentirá os
frutos e os efeitos da compaixã o que hoje se manifesta a Mim; e eu
sempre concederei a você tudo o que você pedir e realizarei seus
desejos. ” Ele acrescentou: “Sempre que desejares obter alguma coisa
de Mim, oferece-Me o Meu Coraçã o, que tantas vezes te dei como prova
da nossa amizade mú tua, em uniã o com o amor que me fez tornar
Homem para a salvaçã o dos homens; e eu te dou esta marca especial de
amizade, que isto seja apresentado a quem quer que você ore, como
um homem rico apresentaria um cofre a seu amigo para suprir-se dele
com tudo o que ele precisa ”. “Rogo-te, ó Senhor”, continuou o Santo,
“que me digas que palavras dirigiste a Teu Pai em Tua agonia.” Nosso
Senhor respondeu: “As palavras que usei com mais frequê ncia foram
estas: 'O Totalidade de Minha Substâ ncia!' ”82
Na missa, enquanto se repetiam as oraçõ es secretas, antes que as
religiosas recebessem a comunhã o, o Senhor Jesus apareceu a ela em
estado de extrema fraqueza, como se estivesse para entregar o
fantasma; e isso a comoveu tanto, que ela també m se sentiu como se
estivesse prestes a expirar. Ela continuou neste estado até a hora da
Comunhã o, quando teve uma visã o maravilhosa; pois ela viu o
sacerdote elevar um corpo que era muito maior do que o seu; e pela
virtude e poder de sua palavra, ele deu à luz Aquele que suporta todas
as coisas.
O Santo entendeu entã o que a estranha debilidade que o Filho de
Deus parecia sofrer, indicava o amor excessivo com que Ele desejava
que nó s, que somos como Seus Benjamins, Seus amados, nos unı́ssemos
a Ele na Sagrada Comunhã o; que o ardor com que Ele desejava esse
deleite causava essa fraqueza; que foi reduzido a este estado pela
violê ncia de seu amor, para que pudesse ser mais facilmente tocado e
carregado pelas mã os do sacerdote. Ela aprendeu també m em outra
ocasiã o, que cada vez que olhamos para a Hó stia, que conté m o Corpo
de Cristo, com desejo e amor, aumentamos nosso mé rito eterno; e que
nossa alegria na outra vida corresponderá à quela que tivemos com
devoçã o a respeito deste precioso Corpo na terra.

CAPITULO 26
Para a Sexta-feira Santa.
O Santo é favorecido com um ê xtase. Exercı́cios sobre a Paixã o de Nosso
Senhor.

A MEMORIA da Paixã o de Nosso Senhor estava tã o profundamente


gravada na alma da Santa, que se tornou como mel para os seus lá bios,
como mú sica para os seus ouvidos e como um transporte de alegria
para o seu coraçã o. Uma Sexta-feira Santa, ao ouvir a convocaçã o83à s
Completas, ela sentia a mesma angú stia no coraçã o, como se lhe
dissessem que seu querido amigo estava prestes a morrer, e ela se
recompô s para pensar ainda mais amorosamente na Paixã o de seu
Amado. Sua uniã o com Deus tornou-se tã o ı́ntima, que neste dia e no
seguinte ela quase nã o pô de atender a qualquer coisa exterior ou
sensı́vel, a menos que fosse obrigada a fazê -lo pela caridade, da qual
sempre fez grande consideraçã o, e isso para que pudesse ainda mais.
seguramente entretenha Aquele que é amor; pois Sã o Joã o disse: “Deus
é caridade ... Se nos amamos, Deus permanece em nó s, e Sua caridade é
aperfeiçoada em nó s”. ( 1 João 4: 8, 12).
Ela continuou neste ê xtase pelo resto do dia e durante todo o dia
seguinte (Sá bado Santo). O que ela experimentou foi tal, que nenhum
intelecto humano poderia explicar; pois ela estava tã o perfeitamente
unida e absorvida em Deus, pela ternura de sua compaixã o, que se
dissolveu inteiramente nele; e isso nã o era imperfeiçã o, mas sim o
pró prio cume da perfeiçã o, como ensina Sã o Bernardo ao escrever as
palavras dos Câ nticos: “Faremos para ti correntes de
ouro”. ( Cant. 1:10). “Quando a alma está envolvida na contemplaçã o, e
um lampejo de luz celestial vem para iluminá -la, a infusã o Divina se
acomoda à s coisas sensı́veis, seja para temperar seu brilho ou para
instruir em sua doutrina, e assim sombras84a pureza e o esplendor de
seus raios, para capacitar a alma a recebê -lo e comunicá -lo a outros. eu
acredito85que essas imagens sã o produzidas em nó s pelos santos
Anjos. Portanto, atribuamos a Deus o que é perfeitamente livre de
imagens corporais e aos Anjos as mais sensı́veis ”.
Nã o devemos, portanto, considerar que o que o pró prio Deus
infunde na alma em segredo tem menos valor. No entanto, por esse
motivo, passamos por cima de muitas coisas, que podem ter sido
relatadas aqui e que, na verdade, sã o dignas de serem
registradas. Ainda assim, reunimos algumas das centelhas do amor
divino que saı́ram da fornalha ardente da Paixã o de Cristo sobre esta
alma. Em uma Sexta-feira Santa, na hora de primeira, quando a Santa
retornou graças a Deus por ter aparecido perante um gentio e um
idó latra como Seu juiz, ela viu Nosso Senhor entronizado em grande
majestade com Deus, Seu Pai, enquanto todos os Santos se prostravam
diante Ele, agradecendo profundamente por tê -los libertado da morte
eterna com Sua pró pria morte.
Durante a leitura da Paixã o, na palavra Sitio (“Tenho sede”), Nosso
Senhor apareceu para lhe oferecer um cá lice de ouro para receber as
lá grimas de compaixã o que ela derramou por Sua morte. E como a
Santa sentia toda a sua alma se desmanchar em lá grimas e, no entanto,
a discriçã o a obrigava a retê -las, perguntou a Nosso Senhor o que Lhe
seria mais agradá vel. Entã o, pareceu-lhe que um riacho puro brotou de
seu coraçã o e dirigiu-se aos lá bios de Nosso Senhor, e Ele disse: "Estas
sã o as lá grimas de devoçã o que você reprimiu de uma intençã o pura."
Em Terce, enquanto se lembrava de Nosso Senhor coroando de
espinhos, Seu açoite cruel na coluna, Seu cansaço, e a agonia de Seu
ombro, ferido por carregar a Cruz, ela disse-lhe: “Eis, meu doce amor, eu
te ofereço meu coraçã o, desejando nele sofrer toda a amargura e
angú stia de Teu querido Coraçã o, em troca de Teu amor em suportar os
tormentos imerecidos de Tua Paixã o; e eu imploro a Ti, sempre que eu
me esquecer desta oferenda por causa da fragilidade humana, que me
envie alguma dor fı́sica aguda que pode se assemelhar à Tua. ” Ele
respondeu: “Seus desejos sã o su icientes. Mas se você deseja que Eu
tenha um prazer ilimitado em seu coraçã o, deixe-Me agir como eu
quiser, e nã o deseje que Eu lhe dê consolo ou sofrimento. ”
Entã o, conforme a Paixã o foi lida, que diz que José tomou o Corpo
de Jesus,86ela disse a Nosso Senhor: “Aquele bendito José recebeu o Teu
corpo santı́ssimo; mas que parte dará s de Teu corpo à minha
indignidade? ” Nosso Senhor deu-lhe entã o o Seu Coraçã o sob a forma
de um turı́bulo de ouro, de onde ascenderam ao Pai tantos perfumes
quantas pessoas por quem o Senhor morreu.
Quando as oraçõ es foram ditas apó s a Paixã o pelas diferentes
Ordens da Igreja, de acordo com o costume usual, enquanto o sacerdote
se ajoelhava, dizendo Oremus, delectissimi , ela via todas as oraçõ es que
tinham sido feitas em toda a Igreja ascendendo juntas como incenso
perfumado de o turı́bulo do Divino Coraçã o, para que cada oraçã o por
esta uniã o se tornasse maravilhosamente doce e bela.
Portanto, devemos orar pela Igreja neste dia com grande devoçã o,
em uniã o com a Paixã o de Nosso Senhor, que torna nossas oraçõ es mais
e icazes diante de Deus.
Em outra ocasiã o, no mesmo dia, a Santa, desejando ardentemente
retornar ao seu Amado por todos os seus sofrimentos, disse-lhe: “O
minha ú nica Esperança e Salvaçã o da minha alma! Ensina-me como
fazer algum retorno a Ti por Tua mais amarga Paixã o. ” Nosso Senhor
respondeu: “Quem segue a vontade do outro, e nã o a sua, me liberta do
cativeiro que suportei preso na manhã da Minha Paixã o; aquele que se
considera culpado, satisfaz a minha condenaçã o, na hora do dia, por
testemunhas falsas; quem renuncia aos prazeres dos sentidos, consola-
Me pelos golpes que recebi na hora da Terce; aquele que se submete
aos pastores que o provam,87me consola para coroar de
espinhos; aquele que primeiro se humilha na disputa, carrega a Minha
Cruz; aquele que faz obras de caridade, consola-me na hora do sexto
mê s, quando os meus membros foram cruelmente presos à cruz; aquele
que nã o se poupa nem à s dores nem ao trabalho para afastar o seu
pró ximo do pecado, consola-me pela minha morte, que suportei na
hora do nada para a salvaçã o da raça humana; aquele que responde
gentilmente quando acusado, me tira da cruz; por ú ltimo, aquele que
prefere o seu pró ximo a si mesmo, me deita no sepulcro ”.
Em outra Sexta-feira Santa, enquanto Gertrude implorava a Nosso
Senhor para prepará -la para uma comunhã o digna,88ela recebeu a
seguinte resposta: “Apresso-me com tanto ardor que mal posso contê -
lo; pois recolhi em Meu seio todo o bem que Minha Igreja fez, disse ou
pensou hoje em memó ria de Minha Paixã o, para derramar em sua alma
na Comunhã o para sua salvaçã o eterna ”. O Santo respondeu: “Eu Te
dou graças, ó meu Senhor; mas desejo muito que este favor seja
concedido a mim de tal maneira que eu possa transmiti-lo a outros
quando eu desejar. ” Ele respondeu: “E o que me dareis, meus amados,
por tal favor?” Gertrude respondeu: “Ai, Senhor! Nã o tenho nada digno
de Ti; mas, nã o obstante, tenho este desejo, que se eu tivesse tudo o
que Tu tens, eu o daria a Ti, para que Tu possas dispor dele como Tu
queres. ” A isso, Nosso Senhor respondeu com amor: “Se realmente
deseja agir assim para comigo, nã o pode duvidar que desejo agir assim
com você ; e ainda mais, visto que a Minha bondade e amor excedem
em muito os seus. ” "O Deus", ela exclamou, "como irei a Ti, quando Tu
vieres a mim com tanta bondade?" Ele respondeu: “Nada exijo de você ,
a nã o ser que venha a Mim vazio, para que Eu possa enchê -lo; pois é de
Mim que você recebe tudo o que o torna agradá vel aos Meus olhos. ”
Ela entendeu que esse vazio era humildade, o que a fez se
considerar destituı́da de mé rito, e a fez acreditar que sem a graça de
Deus ela nã o poderia fazer nada, e que o que ela fez era totalmente
inú til.
CAPITULO 27
Para o Domingo de Páscoa.
Como as almas se libertam de suas dores. De boa vontade. Como louvar a Deus
no Aleluia.

UMA

S ST. Gertrudes orou fervorosamente diante das Matinas na abençoada


noite da Ressurreiçã o, o Senhor Jesus apareceu a ela, cheio de
majestade e gló ria. Entã o ela se lançou a Seus pé s, para adorá -Lo com
devoçã o e humildade, dizendo: “O gloriosa Esposa, alegria dos Anjos,
Tu que me mostraste o favor de me escolher para ser Tua Esposa, que
sou a menor das Tuas criaturas! Desejo ardentemente a Tua gló ria, e
meus ú nicos amigos sã o aqueles que Te amam; portanto, imploro a Ti
que perdoes as almas de Teus amigos especiais89em virtude de Tua
mais gloriosa Ressurreiçã o. E para obter esta graça de Tua bondade, eu
ofereço a Ti, em uniã o com Tua Paixã o, todos os sofrimentos que
minhas enfermidades contı́nuas me causaram. ” Entã o Nosso Senhor,
tendo-a favorecido com muitas carı́cias, mostrou-lhe uma grande
multidã o de almas que se livraram de suas dores, dizendo: “Eis que eu
as dei a ti como recompensa por tua rara afeiçã o; e por toda a
eternidade eles reconhecerã o que foram libertados por meio de suas
oraçõ es, e você será honrado e glori icado por isso. ” Ela respondeu:
“Quantos sã o?” Ele respondeu: “Este conhecimento pertence somente
a Deus”. Como ela temia que essas almas, embora estivessem livres de
suas dores, ainda nã o fossem admitidas à gló ria, ela se ofereceu para
suportar o que Deus quisesse, tanto no corpo quanto na alma, para
obter sua entrada naquela bem-aventurança; e Nosso Senhor,
conquistado pelo seu fervor, atendeu imediatamente o seu pedido.
Algum tempo depois, como a Santa sofria de dores mais agudas do
lado, ela fez uma inclinaçã o diante de um cruci ixo; e Nosso Senhor a
livrou da dor, e concedeu o mé rito a essas almas, recomendando-lhes
que a izessem voltar com suas oraçõ es.
A seguir, a Santa, impelida pelo fervor do seu amor, apresentou-se
perante o seu Esposo e disse-lhe: “O meu ú nico Amor, porque nada
tenho que me possa tornar digno de comparecer perante o Rei dos reis,
e como Nã o posso corresponder em nenhum grau ao Teu amor, tudo o
que posso fazer é dar a Ti toda a vida e força do meu corpo e alma
enquanto eu viver, para honrar Tua gloriosa Ressurreiçã o. ” Nosso
Senhor respondeu: “Considero esta oferta de seu amor por Mim como
um cetro real, que carregarei gloriosamente diante da Santı́ssima
Trindade e à vista de todos os Santos”. A isso Gertrudes respondeu:
“Embora Tua graça tenha me levado a fazer esta oferta, eu temo, por
causa de minha pró pria instabilidade, de nã o esquecer o que prometi a
Ti”. Mas Nosso Senhor respondeu: “E que importa se o izeres? Pois nã o
permitirei que o que você me deu uma vez escape de minhas mã os; mas
sempre o preservarei, como prova do seu amor por mim; e sempre que
você renovar sua intençã o, este cetro será adornado com lores e
pedras preciosas. ”
Quando o Aleluia era entoado no Invitató rio, a Santa animava todas
as potê ncias do seu corpo e alma para recitar com devoçã o as Matinas
da Ressurreiçã o, dizendo a Nosso Senhor: “Ensina-me, rogo-te, ó
Mestre cheio de doçura, em de que maneira posso melhor Te louvar
pela A LLELUIA que tantas vezes se repete nesta festa. ” Nosso Senhor
respondeu: “Você pode me louvar pelo Aleluia , unindo-o aos louvores
que os Santos e Anjos constantemente me oferecem no cé u. Você
observará que todas as vogais, exceto o , que signi ica tristeza, sã o
encontradas nesta palavra; e que em vez deste o , o a é repetido duas
vezes. No primeiro a , tu Me louvará s com os Santos pela gloriosa
imortalidade com que foram recompensados os sofrimentos da Minha
Humanidade e a amargura da Minha Paixã o; no e , louvai-Me pelas
doces e inefá veis alegrias que alegram Meus olhos ao contemplar a
Santı́ssima Trindade; ao u , une-se ao deleite que encontro em ouvir os
concertos de louvores em honra da Santı́ssima Trindade que sã o
cantados pelos Santos e Anjos; no i , desfruto dos doces perfumes e
odores que encontro na presença da Santı́ssima Trindade; no
segundo a , que é colocado no lugar do o , alegre-se porque Minha
Humanidade, que antes era passı́vel e mortal, agora está repleta da
imortalidade Divina. ”
Depois disso, enquanto ela continuava a recitar as matinas, ela
aprendia em cada Salmo, cada Resposta e cada Liçã o, o sentido que
melhor correspondia à solenidade de um dia tã o grande, e que melhor
expressava os prazeres inconcebı́veis que uma alma desfruta quando
está unido a Deus.

CAPITULO 28
Para a segunda-feira de Páscoa.
Que Deus leva exatamente em conta nossos mé ritos; e como eles sã o
enriquecidos pelos mé ritos de Cristo.

NA PASCOA segunda-feira, quando Santa Gertrudes implorou a Nosso


Senhor antes de comunicar que Ele teria o prazer de suprir, pelos
mé ritos deste augusto Sacramento, por suas negligê ncias passadas na
prá tica religiosa, Ele a apresentou a Seu Pai vestida com um há bito
religioso, que parecia ser feita de tantas peças quanto ela havia sido
durante anos no convento - a primeira peça representando o primeiro
ano, a segunda, o ano seguinte e assim por diante. O há bito nã o tinha
dobras. Os dias e horas eram anotados em cada ano, com os
pensamentos, palavras e açõ es, boas ou má s, até os detalhes mais
insigni icantes; e o im pelo qual ela executou cada açã o també m foi
cuidadosamente marcado, seja para sua pró pria salvaçã o, para a gló ria
de Deus ou para o bem dos outros. Suas abstinê ncias e seus refrescos; o
que ela fez por obediê ncia ou por sua pró pria vontade; os pequenos
estratagemas que ela havia usado para que lhe dissessem para fazer o
que desejasse, ou seu endereço em extorquir tais obediê ncias - tudo
isso podia ser visto ali: essas ú ltimas açõ es pareciam estar presas a seu
há bito por um pouco de lama ú mida, e como se estivesse pronto para
cair. Mas quando o Filho de Deus ofereceu Sua vida santa e perfeita por
ela, ela viu o há bito coberto com placas de ouro transparente, puro e
claro como o cristal.
Toda a sua vida, e tudo o que sempre foi defeituoso em sua conduta,
mesmo nos mı́nimos detalhes, agora aparecia à luz da verdade e era
conhecido por Deus e todos os Seus santos; pois nem mesmo a menor
mancha ou imperfeiçã o poderia ser escondida. A partir disso, Gertrudes
entendeu que Deus forma, por assim dizer, uma representaçã o da vida
de cada pessoa; e que, embora Ele nã o se lembre mais dos pecados que
foram apagados pela penitê ncia, de acordo com a palavra do Profeta,
“Nã o me lembrarei de todas as suas iniqü idades” ( Eze. 18:22), ainda
permanecem algumas marcas de nossas faltas , para que possamos ser
lembrados de louvar Sua bondade por tê -los perdoado e por ter
derramado Seus favores sobre nó s como se nunca o tivé ssemos
ofendido; assim també m as boas obras que temos feito brilham como
lindas lores, para que possamos dar gló ria à quele por cuja ajuda e
assistê ncia as realizamos, e para que possam ser uma fonte contı́nua de
alegria para nó s, para que possamos adorar e amar Deus que, sendo Um
em Trê s Pessoas, vive, reina e opera em nó s todo o bem que fazemos.

CAPITULO 29
Para a terça-feira de Páscoa.
Da renovaçã o das esposas espirituais.
UMA

T COMUNHAO na terça-feira de Pá scoa, Santa Gertrudes pediu a Nosso


Senhor que renovasse os esposos que com ela formara em espı́rito pela
fé , pela pro issã o religiosa e pela totalidade da sua virgindade. Nosso
Senhor respondeu carinhosamente, que Ele nã o deixaria de fazer o que
ela pedia; e inclinando-se para ela, Ele abraçou sua alma, renovando
nela toda a sua devoçã o. E ao abraçá -la assim, deu-lhe um colar
brilhante, adornado com pedras preciosas, e assim reformou todas as
suas negligê ncias passadas em seus exercı́cios espirituais.

CAPITULO 30
Para a quarta-feira de Páscoa.
Que nada podemos fazer de bom sem a ajuda divina.

NA PASCOA, quarta-feira, ela rogou a Nosso Senhor que ela se tornasse


fecunda em boas açõ es, em virtude de Seu adorá vel Corpo. Ele
respondeu: “Certamente te farei fecundo em Mim e te usarei para atrair
muitos a Mim”. Ela respondeu: “Como podes atrair outros a Ti atravé s
de mim, visto que sou uma criatura tã o indigna, e quase perdi o talento
que uma vez tive de instruir e conversar com os outros?” Nosso Senhor
respondeu: “Se você agora tivesse essa facilidade de falar, talvez
pensasse que foi com isso que ganhou almas. Portanto, eu o privei em
parte, para que você possa reconhecer que a graça que você possui de
tocar o coraçã o dos outros vem da Minha graça especial, e nã o do poder
e atratividade de suas palavras. ”
Nosso Senhor entã o apareceu para atraı́-la interiormente, dizendo:
“Assim como eu puxo o Meu fô lego, també m atrairei para Mim todos os
que se submetem com amor e devoçã o a você por Minha causa, e os
farei avançar diariamente em perfeiçã o”.

CAPITULO 31
Para quinta-feira na semana de Páscoa.
De oferecer nossas açõ es a Deus.

NA QUINTA-FEIRA, na semana da Pá scoa, conforme o Evangelho foi


lido, que relata como Magdalen "se abaixou e olhou para o sepulcro, e
viu dois anjos", 90Santa Gertrudes disse a Nosso Senhor: “Em que
sepulcro devo procurar a consolaçã o do meu espı́rito?” Nosso Senhor
entã o mostrou a ela a sagrada Ferida do Seu Lado, onde, em vez de dois
Anjos, ela ouviu duas coisas: primeiro, “Você nunca será separado da
Minha companhia”; e em segundo lugar, "Todas as suas açõ es sã o
perfeitamente agradá veis para mim."91Ela icou muito surpresa com
isso, e começou a considerar como poderia ser, já que ela pensava que
suas açõ es nã o poderiam agradar a ningué m, e viu nelas mesmas
grandes imperfeiçõ es, enquanto a luz Divina a capacitou a descobrir
mil defeitos onde outros nã o pude ver nenhum; mas Nosso Senhor
disse-lhe: “O bom e louvá vel costume que tens de me recomendar as
tuas acçõ es com tanta frequê ncia e de colocá -las nas Minhas mã os, faz-
me corrigir as que estã o defeituosas, para que me agradem
perfeitamente e a todos os Meus corte celestial. ”

CAPITULO 32
Para Low Sunday.
Como devemos nos preparar para receber o Espı́rito Santo.

NO Domingo depois da Pá scoa, conforme o Evangelho era lido92que diz


que Nosso Senhor soprou em Seus discı́pulos, e deu-lhes o Espı́rito
Santo, Santa Gertrudes rogou-lhe muito sinceramente que Ele també m
lhe desse esta graça. “Se você deseja receber o Espı́rito Santo”,
respondeu Ele, “deve tocar Meu Lado e Minhas Mã os, como Meus
discı́pulos”. Com isso ela entendeu que aquele que deseja receber o
Espı́rito Santo deve primeiro tocar o Lado de Nosso Senhor - isto é , ele
deve reconhecer o quanto o Coraçã o Divino nos amou ao nos
predestinar desde a eternidade para sermos Seus ilhos e herdeiros
Seus. reino, e em derramar tais benefı́cios sobre nó s diariamente,
apesar de nossa ingratidã o; que ele també m deve tocar as Mã os de
Nosso Senhor, isto é , re letir com gratidã o em todos os Seus labores
por nó s durante os trinta e trê s anos de Sua vida mortal, e em Sua
Paixã o e Morte, oferecendo Seu Coraçã o a Deus, em uniã o com o amor
com que disse: “Assim como o Pai me enviou, eu també m vos envio”
( João 20:21), para cumprir a Sua boa vontade em todas as coisas; pois
embora os homens nada desejem e desejem senã o o beneplá cito de
Deus, devem buscar ainda mais ardentemente fazer e sofrer o que Ele
deseja - pois aquele que age assim nã o pode deixar de receber o
Espı́rito Santo, mesmo como os discı́pulos sobre os quais o Filho de
Deus respirou. Nosso Senhor soprou entã o sobre Santa Gertrudes e
disse-lhe: “Recebe o Espı́rito Santo. Todos os pecados que você
perdoar, serã o remidos. ” “Como pode ser isso, ó Senhor,” inquiriu o
Santo, “visto que o poder de ligar e desligar só foi conferido a Teus
sacerdotes?” Ele respondeu: “Aqueles que você considera culpados sã o
assim perante mim; e aqueles que você considera inocentes, eu
també m absolvo, porque falo pela sua boca. ” “O Deus, cheio de
bondade!” respondeu o Santo, "já que tantas vezes me asseguraste
deste presente, que vantagem terei em recebê -lo de novo?" Nosso
Senhor respondeu: “Quando um diá cono é feito sacerdote, ele nã o
deixa de ser diá cono, mas adquire uma dignidade sacerdotal mais
elevada; e assim, quando eu dou o mesmo presente à sua alma vá rias
vezes, eu o estabeleço com mais irmeza e, assim, aumento a sua bem-
aventurança ”.

CAPITULO 33
Para a festa de São Marcos, Evangelista.
Das Litanias e da invocaçã o dos Santos.

NA Festa de Sã o Marcos,93 enquanto as Litanias eram recitadas na


procissã o, Nosso Senhor apareceu a Santa Gertrudes, sentada em um
trono de majestade, adornado com pedras preciosas, que formavam
tantos espelhos brilhantes94como havia santos no cé u. Cada Santo
levantou-se com alegria ao ser nomeado na Ladainha para oferecer
suas oraçõ es a Deus por aqueles que o invocaram; e os nomes daqueles
que oravam a eles apareciam escritos em suas mã os: os nomes
daqueles que os invocavam com fervor e pureza estavam escritos em
letras de ouro; os nomes daqueles que oravam apenas por costume
eram em preto, enquanto os nomes daqueles que eram descuidados e
indiferentes mal podiam ser discernidos.
Santa Gertrudes compreendeu daı́ que, quando os Santos que
invocamos rezam por nó s, as suas oraçõ es brilham diante de Deus
como um monumento da misericó rdia que Ele nos prometeu, que o
obriga a ter piedade de nó s; e quando invocamos os santos com
devoçã o pura e fervorosa, eles recebem o brilho das pedras preciosas
envoltas no manto de Nosso Senhor, que estã o inscritas com os nomes
daqueles que os reverenciam e invocam sua ajuda.

CAPITULO 34
Para a festa de São João antes do Portão Latino.
Da doce memó ria de Sã o Joã o. Como as imperfeiçõ es das quais nos
esquecemos de nos acusar na con issã o sã o perdoadas por Deus.

NA FESTA95de St. John ante Portam Latinam , ele apareceu a Gertrude; e


depois de tê -la acariciado e consolado de maneira maravilhosa, ele
disse-lhe: “Nã o te preocupes, ó eleita esposa de Meu Senhor, pela falta
de tua força fı́sica; pois o que você sofre neste mundo é pouco, e durará
apenas por um momento, em comparaçã o com as delı́cias eternas que
agora desfrutamos no Cé u, e que você logo possuirá conosco quando
entrar nele; pois é o leito nupcial de seu esposo, a quem você ama com
tanto ardor, a quem deseja com tanto fervor e que, por im, possuirá
como deseja ”. Depois acrescentou: “Lembrai-vos de que eu, que era o
discı́pulo amado do Senhor, era ainda mais enfermo de corpo do que
vó s;96e, no entanto, sou agora, como você vê , o deleite e a devoçã o dos
ié is; entã o você també m, apó s sua morte, viverá no coraçã o de muitos
e atrairá muitas almas a Deus ”. Depois, queixou-se a St. John de que
temia ter colocado um obstá culo a isso, porque se esquecera de
confessar algumas pequenas faltas; e quando se lembrava deles nã o
podia recorrer ao seu confessor, e que nem sempre se lembrava deles
quando se confessava, por causa de sua extrema debilidade. “Nã o se
preocupe com isso, minha ilha”, respondeu o Santo com amor; "Pois
quando você se preparou para uma boa e completa Con issã o de seus
pecados, e descobre que nã o pode recorrer a um confessor, se você se
esquecer de alguma coisa em conseqü ê ncia da demora, e omitir
acusar-se dela apenas por um defeito de memó ria, o que você esqueceu
nã o deixará de ser apagado; e a dor que você sente pela omissã o
adornará sua alma como uma joia preciosa, o que a tornará agradá vel à
corte celestial. ”
Durante a missa, a Santa se ocupou em re letir sobre alguns
escritos que havia recebido de Deus por um favor especial; e ao ouvir
as palavras, Verbum Dei Deo natum , na Seqü ê ncia, ela se recompô s,
para que pudesse assistir com mais devoçã o ao que era cantado em
homenagem a Sã o Joã o. Mas a Santa apareceu ao seu lado e disse-lhe
para nã o desviar os pensamentos de seus primeiros
pensamentos; obtendo para ela de Deus, de maneira maravilhosa, o
favor de poder pensar nessas escritas e ainda entender o que se
cantava em coro. Com as palavras, Audit in gyro sedis , ela disse a St.
John: "Oh, que alegria deve ter enchido a tua alma quando tu eras
elevado tã o alto!" Ele respondeu: “Você fala a verdade; mas saiba que
tenho uma alegria ainda maior nos louvores que você oferece a Deus
por mim ”. Em seguida, icou sentado perto dela até as palavras, Iste
custos Virginis [“Esta é a guardiã da Virgem”], quando a levou ao trono
da gló ria de Deus, onde, em meio ao brilho mais inefá vel, foi admirado
e elogiado por toda a corte celestial, sentindo as delı́cias inefá veis das
palavras, Caeli qui palatium .97
CAPITULO 35
Para a Ascensão.
A maneira de saudar as Cinco Chagas de Nosso Senhor.

ANTES da Festa da Ascensã o de Nosso Senhor, Santa Gertrudes repetiu


esta saudaçã o cinco mil quatrocentas e sessenta e seis vezes: “Gló ria a
Ti, muito doce, mais gentil, mais benigna, mais nobre, mais excelente,
refulgente e sempre -paz Trindade, pelas feridas ró seas do meu ú nico
Amor! ” Ao repetir esta saudaçã o, Nosso Senhor Jesus apareceu-lhe,
mais bonito do que os Anjos, trazendo lores douradas em cada Ferida,
e a saudou assim, com um semblante sereno e a mais terna caridade:
“Eis em que gló ria agora te apareço . Eu irei aparecer da mesma
maneira para você na sua morte, e cobrirei todas as manchas de seus
pecados, e també m daqueles que saudam Minhas Chagas com a mesma
devoçã o. ”

CAPITULO 36
Para o domingo antes da Quinta-feira da Ascensão.
Do mé rito da condescendê ncia e compaixã o pelos enfermos. E como devemos
desejar o desprezo.
O

NO Domingo antes do dia da Ascensã o, a Santa levantou-se com muita


alegria para recitar as Matinas, na esperança de que Nosso Senhor
viesse se alojar no seu coraçã o durante os quatro dias anteriores à
Ascensã o, como ela O implorou ardentemente que o izesse; mas
depois de ter recitado o ofı́cio até a quinta liçã o, ela viu uma religiosa
que estava doente e que nã o tinha ningué m para rezar as matinas com
ela. A Santa, movida pela caridade que sempre a animou, disse a Nosso
Senhor: “Tu sabes, Senhor, que quase esgotei as poucas forças que
tenho para recitar o meu Ofı́cio até agora; no entanto, como desejo
ardentemente que permaneça comigo durante estes dias sagrados, e
como nã o tenho uma morada adequada preparada para Ti, estou
disposto, por Teu amor e em satisfaçã o por minhas faltas, a começar
novamente as matinas ”. Quando ela começou o ofı́cio mais uma vez,
Nosso Senhor veri icou as palavras que disse: “Eu estava doente e você
me visitou”; e, "Como você fez para um destes meus irmã os menores,
você fez para mim"98- aparecendo para ela e inundando-a de carı́cias
que nã o podiam ser explicadas nem compreendidas.
Pareceu ao Santo que Nosso Senhor estava sentado a uma mesa na
mais sublime gló ria, e que Ele estava distribuindo dons inefá veis, graças
e alegrias à s almas no cé u, na terra e no purgató rio - nã o apenas para
cada palavra, mas també m para cada letra que ela repetiu; e ela
també m recebeu uma inteligê ncia dos Salmos, Respostas e Liçã o, que a
encheram de inexprimı́vel deleite.
Quando as palavras Ad te, Domine, clamabo [“A Ti, Senhor, clamei”]
e Salvum fac populum tuum, Domine, et benedic haereditati tuae [“Salva
o teu povo, ó Senhor, e abençoa a tua herança ”], Foram cantados, ela
rogou a Nosso Senhor para derramar uma abundante graça e bê nçã o
sobre toda a Igreja. "O que você deseja que eu faça, meu amado?" Ele
respondeu; “Porque me entrego a ti com o mesmo amor e resignaçã o
com que me abandonei ao meu Pai na cruz; pois assim como eu nã o
desceria da Cruz até que Ele quisesse, agora eu nã o desejo fazer nada
alé m do que você quiser. Distribua, entã o, em virtude da Minha
Divindade, tudo o que você deseja, e tã o abundantemente quanto você
deseja. ”
Depois das Matinas, a Santa retirou-se novamente para descansar, e
Nosso Senhor disse-lhe: “Aquela que se cansa nos exercı́cios da
caridade tem direito a repousar paci icamente no leito da caridade”; e
ao dizer isso, Ele acalmou sua alma com tanta ternura, que pareceu a
ela como se ela de fato repousasse no seio deste Noivo celestial. Entã o
ela viu uma á rvore da caridade, muito alta e muito bela, coberta de
frutas e lores, e com folhas brilhando como estrelas, que brotou do
Coraçã o de Jesus, estendendo-se e baixando seus ramos para circundar
e cobrir o leito nupcial em que repousava a alma de Gertrudes. E ela viu
uma fonte de á gua pura jorrar de suas raı́zes, que disparou para cima e
entã o voltou à sua fonte; e isso refrescou sua alma
maravilhosamente. Por isso ela entendeu a Divindade de Jesus Cristo
docemente repousando em Sua Humanidade, que concede alegrias
inefá veis aos eleitos.
Durante a missa, na qual ela deveria se comunicar, Santa Gertrudes
expô s os defeitos de sua alma a Deus, como um amigo faria a algué m de
quem esperava todo o bem; e ela implorou fervorosamente para obter
perdã o de todos os seus pecados e negligê ncias, na festa de sua
ascensã o, de seu pai. Entã o o Senhor respondeu, com a maior
condescendê ncia: “Tu é s aquela amá vel Ester que agrada Meus olhos
com a tua incrı́vel beleza; pergunte, entã o, o que você quiser, e eu darei
a você . ”
Ao começar a orar por todos os que lhe foram con iados e por todos
os seus benfeitores, Nosso Senhor aproximou-se dela e abraçou-a com
amor. E por esse abraço ela entendeu que seu coraçã o havia contraı́do
alguma mancha por ter recebido um benefı́cio de uma maneira muito
humana no dia anterior. "Ah, Senhor!" ela exclamou: "Por que me
permites ser reverenciado como um santo, quando foste estimado
durante a tua vida como o menor dos homens, e visto que é para a tua
gló ria que os teus eleitos devem ser desprezados neste mundo?" Ele
respondeu: “Eu disse por Meu Profeta: 'Clamai com alegria a Deus, toda
a terra ... e dai gló ria ao Seu louvor' ( Salmos 65: 1); portanto, permito
que algumas pessoas pensem bem de ti e te amem, para a sua
santi icaçã o e para a Minha gló ria ”. "Mas o que será de mim",
respondeu ela, "se Tu os santi icares por minhas faltas?" Nosso Senhor
respondeu: “Eu me agrado embelezando o ouro da Minha graça que
coloquei em você , fazendo-o parecer à s vezes preto e à s vezes
brilhante”. Pela palavra "preto",99ela entendeu que quando algué m se
lembra de ter recebido um benefı́cio de uma maneira muito humana e
se arrepende humildemente de sua falta, eles agradam a Deus tanto
que a cor escura realça a beleza do ouro brilhante. Pelo ouro brilhante,
ela entendeu que quando recebemos benefı́cios de Deus e dos homens
com açõ es de graças, tornamos nossa alma ainda mais capaz de
receber e preservar os dons de Deus.

CAPITULO 37
Para os dias de Rogation.
Como devemos orar pelos justos, pelos pecadores e pelas almas do purgató rio.

NA segunda-feira antes da Ascensã o, Santa Gertrudes se propô s a fazer


algo para expiar a Deus os pecados do mundo inteiro; foi entã o visitar o
enfermo antes mencionado e, tendo prestado por ela numerosos
serviços de caridade que ultrapassaram as suas forças, ofereceu-os a
Deus como eterno agradecimento e satisfaçã o por tudo o que as suas
criaturas izeram, contrariamente à sua vontade. Quando ela fez isso,
pareceu-lhe que uma vasta multidã o de homens e mulheres estavam
presos a ela por uma corrente de ouro (que indicava caridade), e que
ela os conduziu a Nosso Senhor. Ele os recebeu dela como um rei
receberia um prı́ncipe que pô s seus inimigos de pé para jurar
obediê ncia e idelidade inviolá vel a ele.
Na terça-feira, enquanto ela rezava antes da missa pela perfeiçã o e
santi icaçã o dos justos, da maneira que pudesse ser mais agradá vel
para seu esposo, Nosso Senhor estendeu a mã o e os abençoou com o
sinal da cruz vitorioso; e essa bê nçã o salvadora desceu aos seus
coraçõ es como orvalho, que os fez lorescer, os fortaleceu e deu nova
beleza a eles.
Na quarta-feira, na elevaçã o da Hó stia, ela rogou a Nosso Senhor
pelas almas dos ié is do Purgató rio, que os libertasse das suas dores
em virtude da Sua admirá vel Ascensã o; e ela viu Nosso Senhor
descendo ao Purgató rio com uma vara de ouro em Sua Mã o, que tinha
tantos ganchos100como houve oraçõ es por suas almas; por estes Ele
apareceu para atraı́-los a um lugar de repouso. Com isso ela entendeu
que sempre que algué m orar em geral, por motivo de caridade, pelas
almas do Purgató rio, é libertada a maior parte daqueles que, durante a
vida, se exercitaram em obras de caridade.
Em seguida, o Santo repetiu estas palavras duzentas e vinte e cinco
vezes, para saudar os Membros sagrados de Nosso Senhor: “ Ave, Jesu,
Sponse loride, in jubilo quo ascendisti saluto et collaudo te ”;101e
parecia-lhe que cada saudaçã o era apresentada a Nosso Senhor como
um instrumento musical que soava da maneira mais melodiosa e
agradá vel a Ele, de modo que testi icou quã o aceitá vel era para Ele. As
saudaçõ es que ela ofereceu com a mais pura intençã o emitiram a mais
sublime harmonia; enquanto aqueles que ela recitou com menos
atençã o, soaram tristes e nã o eram tã o harmoniosos.

CAPITULO 38
Para o dia da ascensão.
Da renú ncia à nossa pró pria vontade. E certos exercı́cios de piedade para este
Festival.
O

NA Festa da Ascensã o, enquanto a Santa se preparava pela manhã para


oferecer o mais terno amor e devoçã o a Nosso Senhor, na hora da Sua
Ascensã o, Ele lhe disse: “Dá -me agora todos os testemunhos de alegria
que tu é s preparado para Me dar na hora da Minha Ascensã o; pois toda
a alegria que entã o experimentei será renovada em Mim, pois estou
prestes a entrar em você s pelo augusto e santo Sacramento do Altar
”. “Ah, meu ú nico amor!” exclamou o Santo; “Ensina-me como realizar
bem nossa procissã o usual, para que eu possa honrar apropriadamente
a admirá vel procissã o que izeste ao conduzir Teus discı́pulos a
Betâ nia”. Nosso Senhor respondeu: “Como Bethâ nia signi ica a 'casa de
obediê ncia', você nã o pode fazer uma procissã o melhor, ou mais
agradá vel para Mim, do que oferecer-Me toda a sua vontade, quando
você Me conduz dentro de você , lamentando sinceramente por ter
seguiu sua pró pria vontade em tantas ocasiõ es em preferê ncia à Minha,
e determinou irmemente para o futuro realizar Minha Vontade
perfeitamente em todas as coisas. ”
Ao receber a comunhã o, Nosso Senhor disse-lhe: “Eis que venho a ti,
minha esposa, nã o para me despedir de ti, mas para te levar comigo e
apresentar-te a Deus, meu Pai”. Ela entendeu por isso, que quando
Nosso Senhor entra na alma pelo santo Sacramento do Seu Corpo e
Sangue, Ele atrai os desejos e a boa vontade dessa alma para Si, como
um selo faz uma impressã o sobre a cera; e que Ele apresenta a
representaçã o deles assim formados a Seu Pai, para obter dEle as
graças de que esta alma necessita. A Santa entã o ofereceu a Ele suas
oraçõ es, e as de outras pessoas, para servir como um ornamento para
Suas feridas sagradas, para o dia de Sua gloriosa Ascensã o. Entã o o
Senhor Jesus apareceu diante de Seu Pai, adornado com essas oraçõ es,
como com tantas pedras preciosas; e Seu Pai apareceu para atrair para
Si todas essas ofertas dos eleitos, por Seu poder onipotente, e entã o
fazer com que caı́ssem em raios de gló ria sobre o trono preparado
desde toda a eternidade para aqueles que haviam oferecido essas
oraçõ es.
Na hora do Nenhum, estando Gertrudes inteiramente absorta em
Deus, o Senhor Jesus apareceu-lhe novamente, mais bonito do que os
ilhos dos homens, e vestido com uma tú nica verde e um manto
carmesim. A tú nica verde indicava as obras gloriosas e vivi icantes de
Sua adorá vel Humanidade; o manto carmesim, o amor intenso que O
havia compelido a suportar sofrimentos tã o terrı́veis, que Sua
paciê ncia somente sob eles teria merecido Sua gló ria. Nosso Senhor
entã o apareceu para passar pelo coro, acompanhado por uma multidã o
de anjos, dando testemunhos especiais de amor à queles que haviam se
comunicado naquele dia, e dizendo-lhes estas doces palavras: “Estou
convosco até a consumaçã o dos sé culos”.102Ele també m deu a alguns
um anel de ouro no qual estava incrustada uma pedra preciosa,
dizendo: “Nã o vos deixarei ó rfã os; Eu virei para você ."
Surpresa a Santa, perguntou a Nosso Senhor se aqueles a quem Ele
dera o anel como sinal de amor especial teriam mais mé rito do que os
outros? Nosso Senhor respondeu: “Fiz isso porque, quando eles
tomaram sua re lexã o, meditaram na Minha bondade para com os Meus
discı́pulos, comendo e bebendo com eles antes de subir ao Cé u; e para
cada pedaço que eles pegaram, dizendo, 'O Jesus amoroso, que a virtude
do Teu Divino amor me incorpore inteiramente em Ti!' Eu conferi um
brilho especial à s pedras preciosas de seus ané is. ”
Quando a Antiphon Elevatis manibus103foi cantado, Nosso Senhor
se levantou pelo Seu pró prio poder divino, acompanhado por uma
tropa de Anjos, que O atenderam com a maior vigilâ ncia e reverê ncia,
dando a Sua bê nçã o a toda a comunidade, dizendo-lhes: “Deixo-vos a
paz, Meu paz vos dou. ” Pelo que ela entendeu que Nosso Senhor havia
derramado Sua graça tã o e icazmente nos coraçõ es daqueles que
haviam celebrado este festival com devoçã o singular, que qualquer
problema que pudesse acontecer a eles, Ele ainda deixaria um pouco de
Sua paz em suas almas, assim como faı́scas de fogo estã o escondidas
sob as cinzas.
CAPITULO 39
Para o domingo após a ascensão.
Como preparar-nos dignamente para receber o Espı́rito Santo.

UMA

S A festa de Pentecostes se aproximava agora, Santa Gertrudes rogou a


Nosso Senhor, na comunhã o neste dia, para prepará -la para receber
essas quatro virtudes - pureza de coraçã o, humildade, tranquilidade e
concó rdia. Ao orar por pureza, ela percebeu que seu coraçã o estava
mais branco do que a neve; ao pedir humildade, viu Nosso Senhor
preparar uma caverna em sua alma para receber Suas graças; quando
ela pediu tranquilidade, o viu cercar seu coraçã o com um cı́rculo
dourado, para preservá -lo das armadilhas de seus inimigos; entã o ela
disse a Ele: “Ai, meu Senhor! Temo que em breve irei arruinar esta
muralha de tranquilidade, pois assim que eu vir algo que sei ser
contrá rio à Tua Vontade, nã o posso esconder meu ressentimento e me
opor veementemente. ” A isso Nosso Senhor respondeu: “Esta emoçã o
nã o perturbará uma santa tranquilidade, mas antes a adorna,
fortalecendo em você , por assim dizer, tantas barreiras atravé s das
quais o amor ardente do Espı́rito Santo respira com mais e icá cia e
refresca mais sua alma docemente."
Ela entã o pediu a Nosso Senhor a virtude da concó rdia, e Ele coroou
com esta virtude todas as outras virtudes que o Espı́rito Santo havia
comunicado a ela; mas como ela temia que, se sofresse muitas
contradiçõ es por causa de seu zelo pela observâ ncia regular, elas
seriam uma ocasiã o para perder essa graça preciosa, o Senhor
respondeu: “A virtude da concó rdia nã o é prejudicada quando os
homens se opõ em à injustiça; e Eu pró prio restringirei o seu zelo, para
que você possa ser inteiramente conformado em todas as coisas à s
operaçõ es do Meu Espı́rito Divino. ” Entã o ela entendeu que quem ora
com devoçã o a Deus pelas mesmas virtudes, a im de preparar uma
habitaçã o para o Espı́rito Santo, e tenta progredir nelas todos os dias
praticando-as com idelidade, receberá as mesmas vantagens.

CAPITULO 40
Para a Vigília e Festa de Pentecostes.
Dos dons do Espı́rito Santo. E outros exercı́cios para este dia.

UMA

S ST. Gertrudes rezou com muita devoçã o, na Vigı́lia de Pentecostes,


para que se preparasse para receber o Espı́rito Santo, ouviu Nosso
Senhor dizer-lhe interiormente com grande amor: “Receberá s a virtude
do Espı́rito Santo, que vem para você ." Mas enquanto ela sentia extrema
alegria e satisfaçã o com essas palavras, ela pensava també m em sua
total indignidade, e parecia-lhe como se uma caverna tivesse sido feita
em seu coraçã o, que se tornava cada vez mais profunda à medida que
esse sentimento de indignidade aumentava em sua alma. Entã o ela viu
um riacho de mel saindo do Coraçã o de Jesus e destilando-se no dela,
até encher-se completamente. Com isso ela entendeu que era a unçã o e
graça do Espı́rito Santo que luı́a docemente do Coraçã o do Filho de
Deus para o coraçã o dos ié is.
Entã o o Filho de Deus abençoou esta caverna com Sua Mã o Divina,
como a fonte batismal104é abençoada, para que cada vez que sua alma
entrasse nela pudesse ser puri icada de toda mancha. Enquanto se
regozijava com esta sagrada bê nçã o, ela disse a Nosso Senhor: “Ai, meu
Senhor, pecador indigno que sou, confesso com pesar que, por causa de
minha fragilidade, ofendi de muitas maneiras contra Tua Onipotê ncia,
e que minha ignorâ ncia e a malı́cia freqü entemente ofende Tua
sabedoria e bondade. Portanto, ó Pai da Misericó rdia, tem misericó rdia
de mim e dá -me força da Tua força para resistir a tudo o que é
contrá rio à Tua Vontade; conceda-me a graça de Tua sabedoria
inconcebı́vel para evitar tudo o que possa ofender Teus Olhos puros, e
capacite-me a aderir ielmente a Ti por Tua misericó rdia
superabundante, para que eu nunca possa me afastar de Tua Vontade
no mı́nimo grau. ”
Ao dizer essas palavras, ela parecia ter mergulhado nesta caverna
para nela ser regenerada, de modo que saiu puri icada de todas as
manchas e mais branca que a neve; e sendo assim apresentada perante
a Divina Majestade, ela se colocou sob a proteçã o de todos os Santos,
como uma pessoa recé m-batizada é colocada aos cuidados de seus
padrinhos, para que orassem a Deus por ela. Entã o, todos os Santos
ofereceram seus mé ritos a Deus com muita alegria, em satisfaçã o por
suas negligê ncias e necessidades. Santa Gertrudes, estando assim
adornada, foi colocada pelo pró prio Nosso Senhor diante Dele, para que
Seu sopro divino105entrou na sua alma, unindo com e icá cia a sua
vontade à Dele, e dizendo-lhe: «Tais sã o as delı́cias que desfruto com os
ilhos dos homens»; pois a respiraçã o de sua alma indicava sua boa
vontade, e o sopro de Nosso Senhor Sua aceitaçã o de suas boas
intençõ es e desejos. Assim, Gertrudes repousou docemente nos braços
de seu esposo, esperando até que Ele comunicasse a ela disposiçõ es
mais perfeitas para receber o Espı́rito Santo.
Enquanto ela fazia algumas oraçõ es especiais para obter de Deus os
dons do Espı́rito Santo, e primeiro pelo dom do medo, para que
pudesse protegê -la do mal, Nosso Senhor apareceu para plantar uma
á rvore muito alta no centro de seu coraçã o, que estendeu seus ramos de
modo a cobri-lo inteiramente. Esta á rvore tinha pequenas pontas, das
quais brotavam lindas lores. As pontas signi icavam o dom do temor do
Senhor, que fere a alma com remorso quando ela se inclina para o
mal; as lores indicavam a boa vontade que, aliada ao temor de Deus,
fortalece a alma contra o pecado; e se o homem evita o mal e pratica
boas açõ es, a á rvore dá frutos.
Entã o, como ela pediu os outros presentes, eles foram mostrados a
ela sob a forma de á rvores, diferindo em seus frutos, de acordo com as
diferentes virtudes. Uma espé cie de orvalho destilado das á rvores do
conhecimento e da piedade, a partir do qual ela entendeu que quem se
aplica a essas duas virtudes é regado por uma chuva suave, que os faz
lorescer e fruti icar. As á rvores do dom de conselho e fortaleza tinham
pequenos cordõ es de ouro, o que signi icava que esses dons tornavam a
alma capaz de compreender as coisas espirituais. Rios de né ctar
delicioso luı́ram das á rvores da sabedoria e da compreensã o, das quais
ela aprendeu que Deus se derrama com e icá cia sobre a alma por meio
desses dons, e que assim ela ica saciada com a doçura de Seu amor.
Naquela noite, nas Matinas, enquanto a Santa sentia uma debilidade
extrema, que a fazia pensar que nã o viveria muito, disse a Nosso
Senhor: “Que honra e que gló ria podes ganhar de uma criatura
miserá vel como eu, que só pode permanece tã o pouco tempo no
escritó rio? ” Nosso Senhor respondeu: “Para que as coisas sensı́veis
possam ajudá -los a compreender as espirituais, considere que o noivo
encontra o maior prazer nas relaçõ es mais familiares com sua noiva; e
garanto-vos que nenhum noivo jamais encontrou mais satisfaçã o nas
palavras de carinho de sua noiva, do que Eu sempre que Meus eleitos
Me oferecem seus coraçõ es, puri icados de todo pecado, para que eu
possa ter Meu deleite nisso. ” Quando ela se aproximou para receber a
Sagrada Comunhã o, Nosso Senhor refrescou seu coraçã o com uma
exalaçã o Divina, que saiu de Seus Membros sagrados, e que lhe deu um
prazer inefá vel - Deus fazendo-lhe saber que ela havia merecido
receber os sete dons do Santo. Espı́rito por suas oraçõ es fervorosas.
Depois de se comunicar, ela ofereceu toda a vida de Jesus Cristo a
Deus Pai, em satisfaçã o por sua falta de nunca ter feito uma preparaçã o
su icientemente digna para recebê -Lo em seu coraçã o, mesmo desde a
hora de sua regeneraçã o no Batismo. Entã o ela viu o Espı́rito Santo em
forma de pomba, descendo do Cé u sobre o adorá vel Sacramento, com
um vô o impetuoso como o de uma á guia; e buscando o doce Coraçã o de
Jesus, Ele apareceu para entrar nele e encontrar ali uma morada muito
agradá vel.
Enquanto o hino Veni Creator era entoado em Terce, Nosso Senhor
apareceu a ela e lhe abriu o Seu Coraçã o, cheio de doçura e
ternura. Gertrude se ajoelhou diante dele, inclinando-se de modo que
sua cabeça repousasse no centro de Seu Coraçã o; e seu esposo pegou
sua cabeça e pressionou-a contra si, unindo sua vontade à dele e
santi icando-a. No segundo verso, Qui, Paraclitus diciris ,106 ela colocou
as mã os de sua alma,107 isto é , suas açõ es, no Coraçã o de Jesus, e
obtiveram consolaçõ es que a fortaleceram em seus exercı́cios de
piedade, que tudo o que ela realizou daı́ em diante nã o poderia deixar
de ser mais aceitá vel a Deus.
No terceiro verso, Tu septiformis gratia ( sic) [“Tu que é s sé tuplo em
Tua graça”], ela colocou os pé s de sua alma, isto é , seus desejos, no
Sagrado Coraçã o, e assim obteve sua santi icaçã o.
No quarto verso, Accende lumen sensibus [“Oh, guie nossas mentes
com Tua luz abençoada”], ela recomendou seus sentidos a Deus e
obteve esta promessa - que eles deveriam ser iluminados de forma a
re letir sua luz sobre os sentidos dos outros, que deve ser assim
animado para amar a Deus.
No quinto verso, Hostem repellas [“Longe de nó s afugentamos nosso
inimigo infernal”], Nosso Senhor se inclinou para ela e a abraçou para
protegê -la contra todos os ataques de seus inimigos; e com tudo isso ela
experimentou tamanha satisfaçã o em sua alma que entendeu
claramente o que Nosso Senhor lhe dissera no dia anterior: “Receberá s
a virtude do Espı́rito Santo, que virá a ti”.

CAPITULO 41
Para segunda-feira na semana de Pentecostes.
Como a oblaçã o da Hó stia Sagrada supre nossas de iciê ncias. Exercı́cios para
o Agnus Dei .

O
N SEGUNDA-FEIRA, na Elevaçã o, Santa Gertrudes ofereceu a Hó stia
Sagrada como satisfaçã o pelas suas de iciê ncias em adquirir bens
espirituais, e mesmo para apagar a luz do Espı́rito Santo. Pareceu-lhe
que esta Hó stia Sagrada emitia vá rios ramos, que foram recolhidos pelo
Espı́rito Santo e colocados em forma de sebe em volta do trono da
Santı́ssima Trindade. Com isso ela entendeu que a excelê ncia e
dignidade deste grande Sacramento supria plenamente todas as suas
negligê ncias. Uma voz també m saiu do trono, que disse: “Que aquela
que deu lores tã o raras a seu esposo se aproxime de Seu divino leito
nupcial sem medo”. Com isso ela entendeu que Deus a considerava
perfeita nos há bitos de virtude, em consideraçã o à oblaçã o que ela Lhe
tinha feito deste Santı́ssimo Sacramento.
No primeiro Agnus Dei ela orou por toda a Igreja, como sempre,
suplicando a Deus que a governasse em todas as coisas como um
verdadeiro Pai. No segundo Agnus Dei, ela orou pelos ié is que partiram,
para que Ele pudesse ter misericó rdia deles e libertá -los de todas as
suas dores. No terceiro Agnus Dei ela pediu um aumento de mé rito para
todos os Santos e os eleitos que deveriam reinar com Ele no cé u. Com as
palavras Dona nobis pacem Nosso Senhor inclinou-se tã o
amorosamente para com ela que a doçura do seu abraço penetrou no
fundo do coraçã o de todos os Santos, e eles receberam assim um
aumento imenso de graça e mé rito.
Depois disso, ao se aproximar da Sagrada Comunhã o, os santos se
ergueram diante dela com honra e alegria, e ela viu que a luz de seus
mé ritos brilhava gloriosamente, assim como um escudo de ouro brilha
quando exposto aos raios do sol; e o re lexo dessa luz brilhou em sua
alma.
Santa Gertrudes entã o permaneceu na presença de Deus, como na
expectativa, porque ela ainda nã o havia obtido a graça de estar unida a
Ele. Por im, depois da Comunhã o, sua alma se uniu a este Divino
Esposo com tal plenitude, que desfrutou de Sua presença da maneira
mais perfeita possı́vel neste mundo. Entã o, os ramos de que já falamos,
com os quais o Espı́rito Santo havia cercado o trono da Santı́ssima
Trindade, começaram a brotar folhas e lores verdes, assim como uma
planta loresce apó s uma chuva abundante, para que o sempre pacı́ ico
Trinity encontrou um prazer inefá vel nisso, e todos os santos
experimentaram novos prazeres.

CAPITULO 42
Para a terça-feira na semana de Pentecostes.
Como a Hó stia Sagrada supre todas as nossas negligê ncias, e como o Espı́rito
Santo se une em comunhã o com as almas santas.

N TERÇA-FEIRA na semana de Pentecostes, Santa Gertrudes ofereceu a


Hó stia a Deus, em satisfaçã o e reparaçã o por sua de iciê ncia em
gratidã o pelo favor que Ele lhe concedeu de uni-la mais intimamente a
Ele do que os outros, e porque ela nã o se separou de tudo o mais para
se ligar inteiramente a ele. E ao fazê -lo com a perfeita e plena intençã o
de sofrer a pena que considerava por sua negligê ncia e fraqueza, Nosso
Senhor, que é cheio de bondade e que considera a boa vontade até
como um ato108—Pareceu totalmente satisfeito; e o Espı́rito Santo,
concentrando todas as virtudes deste Santı́ssimo Sacramento, entrou
com a Hó stia na alma de Gertrudes no momento da Comunhã o; e Deus
entã o se uniu ı́ntima e inseparavelmente a ela.

CAPITULO 43
Para a festa da Santíssima Trindade.
Como podemos glori icar a Santı́ssima Trindade por nosso Senhor Jesus
Cristo. E que obstá culos os afetos humanos colocam ao nosso progresso.

NA Festa da Trindade refulgente e sempre pacı́ ica, Santa Gertrudes


recitou esta saudaçã o: "Sê glori icado, ó poderoso, excelente, nobre,
doce, benigno, sempre pacı́ ico e inefá vel Trindade, que é s um. Deus
agora e para idades sem im! ” Ao oferecer esta saudaçã o a Nosso
Senhor, Ele apareceu a ela em Sua Humanidade, na qual Ele é dito ser
menos do que Seu Pai, e permaneceu na presença da adorá vel Trindade
com toda a beleza e graça de um homem perfeito. Ele tinha uma lor
mais brilhante e bela em cada parte de Seu Corpo, à qual nada material
poderia ser comparado. Indicaram pelo seu brilho que, como a nossa
baixeza e indignidade eram totalmente incapazes de louvar a adorá vel
Trindade, Nosso Senhor, tomando a nossa natureza, a elevou de tal
forma que a tornou digna de ser oferecida em sacrifı́cio a esta adorá vel
Trindade.
Quando as Vé speras começaram, Nosso Senhor ofereceu Seu
Coraçã o à Santı́ssima Trindade como um instrumento musical, e por
meio dele cada nota e cada palavra que foi cantada no Ofı́cio naquele
dia ressoou mais melodiosamente diante de Deus. Mas os cantos
daqueles que tinham pouca devoçã o emitiam um som baixo e pouco
melodioso, como o que se ouve nas grandes cordas de um instrumento
musical. No Antiphon Osculetur me [cf. Nã o. 1: 1], uma voz veio do
trono, cantando: “Que Meu Filho Divino, em quem está todo o Meu
deleite, se aproxime de Mim e me dê um doce e amoroso abraço”. Entã o
o Filho de Deus se aproximou sob Sua forma humana, abraçando esta
Divindade incompreensı́vel, à qual somente Sua Sagrada Humanidade
mereceu unir-se tã o abençoadamente e inseparavelmente.
Entã o o Filho de Deus disse a Sua Mã e purı́ssima, em cuja honra
esta Antı́fona foi cantada: “Aproxime-se també m, Minha querida Mã e, e
me abrace.” E neste abraço apareceram nela as mesmas lores e a
mesma beleza que em Nosso Senhor, porque foi dela que se fez
carne. Aprendeu també m que sempre que o Filho é nomeado nesta
festa santı́ssima, o Pai se une de maneira inefá vel ao Filho, cuja
Humanidade recebe assim uma gló ria que se re lete nos Santos, dando-
lhes um novo conhecimento da incompreensı́vel Trindade.
Pela manhã , quando o Antiphon Te jure laudent109foi cantado nas
Laudes, Santa Gertrudes elogiou a Santı́ssima Trindade com toda a sua
alma, desejando fazer o mesmo no momento de sua morte, se fosse
possı́vel; e pareceu-lhe que a refulgente e sempre pacı́ ica Trindade
inclinou-se suavemente em direçã o ao Coraçã o de Jesus, que ressoou
diante dele como uma harpa, e que trê s palavras ali foram unidas para
prestar a homenagem que Santa Gertrudes falhou em prestar ao
Santı́ssima Trindade; e essas trê s palavras eram - a onipotê ncia do Pai,
a sabedoria do Filho e o amor do Espı́rito Santo. Enquanto ela
continuava com sentimentos de devoçã o fervorosa durante toda a
manhã , ela começou a considerar se foi sua negligê ncia que a impediu
de receber tantas luzes quanto de costume. Mas Nosso Senhor a
consolou com estas palavras: “Embora Minha justiça tenha privado-te
de algumas luzes e conhecimentos, por causa da satisfaçã o humana
que experimentaste ao cantar o Ofı́cio, podes, no entanto, estar certa
de que as dores que escolheste perseverar neste serviço nã o deixará de
receber sua recompensa. ”
Em outra ocasiã o també m, e no mesmo grande festival, Santa
Gertrudes foi concedida as graças mais sublimes, particularmente nos
escritó rios da Igreja, que sã o conhecidos por Deus.

CAPITULO 44
Para a festa de São João Batista.
Apariçã o do Santo. Efeitos de sua intercessã o.
O

NA Festa de Sã o Joã o Batista,110como a Santa assistia à s Matinas com


toda a devoçã o possı́vel, esta Santa apareceu-lhe, de pé diante do trono
de Deus, em toda a gló ria da sua especial prerrogativa de ter baptizado
Nosso Senhor e de ser o precursor de Cristo. A medida que a Santa o
considerava assim, ela começou a re letir por que ele sempre foi
representado como um homem idoso e com um semblante
cansado. Mas Sã o Joã o informou-lhe que esta maneira de representá -lo
servia para aumentar sua gló ria, e que Deus havia expressamente
permitido, para ensinar aos homens que o desejo ardente que ele tinha
de servi-lo o teria levado a usar todos os esforços para combater os
injustiça e iniqü idade dos homens, e para atingir a mais alta perfeiçã o
ele mesmo, até a velhice; e como ele morreu com esses sentimentos,
Deus deu a ele uma recompensa muito alta por eles.
Enquanto Santa Gertrudes indagava se seus mé ritos haviam
aumentado pelo fato de seus pais terem sido tã o perfeitos e santos, ele
respondeu: “Porque eu tive pais santos, fui educado para um amor
maior pela justiça e, portanto, fui rendido mais digno de um lugar perto
do trono de Deus. Mas quanto à sua posiçã o e vantagens mundanas,
nada ganhei com eles, exceto por desprezá -los e procurar elevar minha
mente ao conhecimento celestial, de modo que ganhei uma gló ria
semelhante à de um soldado que, voltando vitorioso da batalha, alegra-
se ainda mais por ter superado mais armadilhas e surpresas de seus
inimigos do que outros. ”
Durante a missa, na qual as religiosas se comunicavam, Sã o Joã o
apareceu a ela novamente em vestes carmesim, e seu manto foi
adornado com tantos cordeirinhos de ouro quantas eram as comunhõ es
recebidas em sua homenagem em toda a Igreja. Entã o ela viu o Santo
orando por todos os que o veneraram naquele dia; e ele especialmente
procurou obter para eles a mesma graça que ele mesmo havia
adquirido - a saber, seu zelo e idelidade na conversã o dos pecadores.
CAPITULO 45
Para a festa dos Santos Apóstolos Sts. Peter e Paul.
Como podemos alimentar as ovelhas de Cristo espiritualmente. Da intercessã o
dos Apó stolos. E o fruto da Sagrada Comunhã o.

N O grande Festival dos prı́ncipes dos Apó stolos, como a segunda


Resposta Si diligis mim ,111foi cantado nas matinas, Santa Gertrudes
perguntou a Nosso Senhor que rebanho ela deveria alimentar para
testemunhar seu amor por ele. Nosso Senhor respondeu: “Apascenta
cinco cordeiros que Me sã o muito queridos. Alimente seu coraçã o com
meditaçõ es divinas, seus lá bios com palavras edi icantes, seus olhos
com leituras piedosas, seus ouvidos com admoestaçõ es caridosas e
suas mã os com trabalho contı́nuo; pois o seu apego e aplicaçã o a tais
coisas será o maior testemunho de sua afeiçã o que você pode conceder
a Mim ”.
Por essas sagradas meditaçõ es, ela compreendeu todos os
pensamentos para a gló ria de Deus, para o bem-estar dos outros e para
sua pró pria salvaçã o; o mesmo foi indicado por discursos
edi icantes. Pela leitura piedosa, ela entendeu tudo o que poderia
contribuir para a nossa salvaçã o, como olhar para um cruci ixo, ajudar
os pobres, dar o bom exemplo. Por admoestaçõ es caridosas, ela
entendeu receber correçã o pacientemente. Mas como a leitura contı́nua
era incompatı́vel com o trabalho manual, ela entendeu que o desejo
dela era su iciente quando a realizaçã o nã o era possı́vel.
Na missa, ela retribuiu os agradecimentos pelos privilé gios
especiais concedidos a Sã o Pedro, e particularmente por ele ter ouvido
estas palavras do pró prio Nosso Senhor: “Tudo o que ligares na terra,
será ligado també m nos cé us; e tudo o que desligares na terra, será
desligado també m no cé u ",112 a Santa apareceu para ela, vestida como
um Papa,113e, estendendo as mã os, ele deu a ela sua bê nçã o, para que
pudesse operar nela os mesmos efeitos que havia trabalhado em
outros, pelo poder que Deus lhe deu. Quando ela se aproximou do altar
sagrado, e tremeu por sua indignidade, Sã o Pedro e Sã o Paulo
apareceram a ela, um à sua direita e o outro à sua esquerda, como se
para conduzi-la para lá com grande pompa; e quando ela o alcançou, o
Filho de Deus a recebeu, dizendo-lhe: “Eu te trouxe lá com os mesmos
braços com que te abraço; mas iz isso por meio do ministé rio dos
Meus apó stolos, para que sua devoçã o fosse totalmente satisfeita ”.
Depois, como se lembrava de nã o ter retribuı́do agradecimento
pelas graças concedidas a Sã o Paulo, rogou a Nosso Senhor que
suprisse por sua negligê ncia. Depois da comunhã o, enquanto orava, ela
parecia estar sentada, como uma rainha ao lado de um rei, no mesmo
trono com nosso Divino Senhor; diante dos quais os apó stolos se
ajoelharam como soldados recebendo presentes de um prı́ncipe; pois
sua comunhã o parecia aumentar seus mé ritos. E como ela icou
surpresa com isso, e pensou que aqueles santos devem ter adquirido
mé rito su iciente por terem oferecido o adorá vel sacrifı́cio tã o
freqü entemente quando na terra, ela foi informada que os santos
tinham um prazer especial em uma alma quando ela recebia a sagrada
comunhã o com devoçã o e piedade, mesmo como uma noiva é felicitada
no dia de suas nú pcias.

CAPITULO 46
Para a festa de Santa Margarida, Virgem e Mártir.
A gló ria deste Santo e da recompensa que Deus reserva para a menor açã o boa.
UMA

S ST. Gertrudes assistia nas Vé speras, no Festival da gloriosa virgem


Santa Margarida [de Antioquia], ela apareceu para ela em extrema
beleza, de pé diante do trono de Deus no inı́cio da Resposta Virgo
veneranda ; raios de luz pareciam sair do Rei da Gló ria, que renovavam
e realçavam o mé rito da virgindade e da beleza do Santo, assim como
os toques de um pintor realçavam a perfeiçã o de sua obra. Com as
palavras In magna stans constantia , um raio da luz da Paixã o aumentou
os mé ritos de seu martı́rio. E como as palavras Sponisque reddens
praemia114foram cantados, Nosso Senhor voltou-se para Sua esposa, a
bendita Margarida, e disse-lhe com amor: “Minha ilha, nã o aumentei
ao má ximo os seus mé ritos? E ainda assim sou solicitado a aumentá -
los ainda mais. ” Entã o, Ele uniu todas as devoçõ es daqueles que
haviam solenizado esta festa, para realçar a gló ria desta virgem
bendita.
Depois disso, Santa Margarida voltou-se para Gertrude e disse-lhe:
“Alegra-te e alegra-te, ó eleita de meu Senhor! Com certeza, apó s o curto
perı́odo de sua a liçã o na terra, você deve se alegrar por toda a
eternidade no Cé u, onde os breves momentos de a liçã o e amargura
temporais que você suportou serã o recompensados por anos
interminá veis de doçura e consolaçã o: e tudo isso você sofrer agora,
seja no corpo ou na alma, é um efeito do amor especial que Deus tem
por você , pois você é cada vez mais favorecido com tais sofrimentos e,
portanto, está mais preparado para as alegrias da
eternidade. Considere ”, ela continuou,“ que no dia em que obtive a
gló ria de que agora desfruto, em vez de ser honrada como agora sou
por todo o mundo, fui desprezada por todos e considerada miserá vel e
a lita. Tenha, portanto, esta irme con iança - que, quando esta vida
terminar, você infalivelmente desfrutará dos abraços eternos de seu
Cô njuge, e aquelas alegrias e delı́cias que nem olhos viram nem ouvidos
ouviram, e que nã o entraram no coraçã o do homem conceber. ”
CAPITULO 47
Para a festa de Santa Maria Madalena.
De verdadeira penitê ncia e boa vontade.

UMA

AS primeiras Vé speras da Festa de Santa Maria Madalena,115esta


bendita amante de Jesus apareceu a Gertrudes, adornada com tantas
pedras preciosas e lores raras quanto ela cometeu pecados
anteriormente. A Santa compreendeu que as lores signi icavam a
bondade soberana de Deus no perdã o dos seus pecados, e as pedras
preciosas, a penitê ncia com que a graça divina lhe permitiu expiá -los.
Nas Matinas, Santa Gertrudes implorou a esta Santa que
intercedesse por ela e por todos os que estavam sob seu cuidado. Em
seguida, Santa Maria Madalena lançou-se aos Pé s de Nosso Senhor e
beijou-os ternamente, erguendo-os suavemente do chã o, como se para
convidar todos os penitentes a se aproximarem deles. Gertrude entã o
se aproximou e, beijando-os com devoçã o, disse-Lhe: “Eu Te ofereço
agora, ó Senhor amoroso, as dores de todos aqueles que estã o sob meus
cuidados, e com eles eu rego Teus Benditos Pé s com minhas
lá grimas”. Nosso Senhor respondeu: “Aceito a tua oferta por eles e digo-
lhes que limpem os Meus Pé s com os cabelos, beijem-nos e derramar
perfumes sobre eles”.
Disto ela compreendeu trê s coisas: primeiro, que enxugavam os pé s
de Nosso Senhor com os cabelos, se agora se empenhavam em expor-se
a todo tipo de adversidades, para apagar as faltas que outrora poderiam
ter cometido, por nã o suportarem pacientemente os seus
sofrimentos; em segundo lugar, que beijassem Seus pé s, aquele que
con ia plenamente na bondade de Deus, que facilmente perdoa todos os
pecados dos quais somos verdadeiramente penitentes; em terceiro
lugar, que os ungamos quando evitamos cuidadosamente tudo o que
desagrada a Deus.
Nosso Senhor disse-lhe entã o: “Derrama este unguento sobre Mim
com a mesma devoçã o com que Madalena abriu a caixa de alabastro e
derramou-a sobre a Minha Cabeça, de modo que o odor perfumava toda
a casa. E saiba que se você defender a verdade, você agirá
assim; aqueles que amam e defendem a verdade, e por ela perdem
amigos ou qualquer outra vantagem, derramam sobre Minha Cabeça
uma caixa de unguento precioso, cujo perfume enche Minha casa; pois
aquele que corrige os outros, dando bom exemplo, emite um doce
odor. E se ele falhar de alguma forma na maneira de corrigir ou
repreender, seja por negligê ncia ou por aspereza, eu o desculparei
diante de Deus, meu Pai, e de toda a corte do Cé u, assim como desculpei
Madalena. ”
A isso Gertrudes respondeu: “O Senhor, visto que esta amorosa
penitente conta que ela comprou este ungü ento, nã o posso te prestar
um serviço semelhante?” Ele respondeu: “Todo aquele que deseja que
Minha gló ria seja promovida em todas as coisas, de preferê ncia para
seu pró prio proveito ou conveniê ncia, compra para Mim um ungü ento
preciosı́ssimo; embora muitas vezes possa acontecer que sua boa
vontade nã o possa ser levada a efeito. ”

CAPITULO 48
Para a festa de São Tiago.
Vantagens da peregrinaçã o a Compostela. E como podemos honrar os santos
pela comunhã o.
O

NA Festa de Sã o Tiago o Grande,116este apó stolo apareceu a Gertrudes,


adornado com os mé ritos dos peregrinos que haviam visitado seu
santuá rio. Estando a Santa arrebatada de admiraçã o, perguntou a
Nosso Senhor porque é que este Apó stolo era tã o homenageado pelas
peregrinaçõ es, que as suas relı́quias pareciam ainda mais
reverenciadas do que as dos santos Apó stolos Pedro e Paulo. Nosso
Senhor respondeu: “O fervor de seu zelo pela salvaçã o de almas obteve
para ele este privilé gio especial. E como eu o tirei do mundo tã o cedo,
de acordo com os decretos de Minha Providê ncia, que ele foi incapaz de
converter muitas pessoas, o que ele mais ardentemente desejava fazer,
seu desejo ainda permanece diante de Mim fresco e lorescente, e o que
ele foi incapaz de fazer durante sua vida, eu permito que ele realize
apó s sua morte, trazendo um grande nú mero de peregrinos ao seu
santuá rio, absolvendo-os de seus pecados e fortalecendo-os na Fé
Cató lica ”.
Entã o, como ela desejava obter a remissã o de seus pecados pelos
mé ritos deste apó stolo, e como ela nã o podia fazer a peregrinaçã o, ela
se aproximou da Sagrada Comunhã o. Assim que ela realizou seu
projeto, ela se viu sentada à mesa com nosso Divino Senhor, que estava
carregada com vá rias iguarias deliciosas. E ao oferecer a Nosso Senhor
Seu precioso Corpo, que ela havia recebido, para o aumento da bem-
aventurança e da gló ria deste Apó stolo, Sã o Tiago se apresentou diante
de Deus como um prı́ncipe, para agradecê -lo pelos favores que recebera
por meio deste. Sacramento adorá vel. Ele entã o pediu que Deus izesse
na alma de Gertrudes todo o bem que Ele sempre se dignou a fazer em
qualquer alma por seus mé ritos, porque ela havia oferecido este
Adorá vel Sacramento em sua honra.
CAPITULO 49
Para a Vigília e Festa da Assunção.
Da maneira de honrar e saudar a Santı́ssima Virgem.

§1. Da pronta assistência que ela oferece àqueles que a


invocam .

UMA

S ST. Gertrudes adoeceu, na solenidade da Assunçã o, nã o pô de cumprir


a sua intençã o de rezar tantas Ave-Marias quantos a Virgem Maria há
anos na terra; mas ela tentou suprir essa devoçã o em algum grau por
meio das trê s aspiraçõ es - Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum [“Ave
Maria, cheia de graça, o Senhor é contigo”]. Ao oferecê -los com grande
fervor por si mesma e por aqueles que foram con iados aos seus
cuidados, Nossa Senhora apareceu-lhe em gló ria, vestida com um
manto verde coberto de lores douradas em forma de trevo, e disse-lhe:
“Veja como estou adornada com tantas lores quanto aqueles por quem
você orou, expressaram palavras em sua petiçã o para mim; o brilho
dessas lores corresponde ao fervor de suas petiçõ es; e vou tirar
vantagem disso, para torná -los mais agradá veis a meu Filho e a toda a
corte celestial ”.
Santa Gertrudes observou també m que a Santı́ssima Virgem tinha
algumas rosas com seis folhas entre os trevo, e que trê s dessas folhas
eram douradas e enriquecidas com pedras preciosas; enquanto as
outras trê s, que se alternavam com as primeiras, se distinguiam por
uma admirá vel variedade de cores. As trê s folhas douradas indicavam a
divisã o tripla da Ave Maria que ela izera durante a sua doença; e as
outras trê s folhas foram acrescentadas por Nosso Senhor - a primeira,
para recompensá -la pelo amor com que saudou e louvou a Sua doce
Mã e; a segunda, por sua discriçã o e prudê ncia em regular suas
devoçõ es durante a doença; e a terceira, pela con iança que tinha de
que o Senhor e sua Mã e amorosa aceitariam o pouco que ela izera.
Em Prime, Santa Gertrudes implorou a Nosso Senhor para obter o
favor de Sua Mã e Santı́ssima para ela, pois temia nunca ter sido
su icientemente devota a ela. Nosso Senhor, entã o, depois de conceder
muitas marcas de ternura e afeto ilial a Sua Divina Mã e, disse-lhe:
“Lembra-te, Minha querida Mã e, que por ti sou indulgente com os
pecadores e considero os Meus eleitos como se ela tivesse servido a
todos você s sua vida com devoçã o. ”
Com estas palavras esta Mã e purı́ssima se entregou inteiramente a
Gertrudes, por amor de seu Divino Filho. Como a Coleta, Deus, qui
virginalem ,117foi lida na missa, Nosso Senhor apareceu para renovar
em sua Mã e Santı́ssima todas as alegrias que ela experimentou em sua
concepçã o, seu nascimento e os outros misté rios de sua
humanidade. Com as palavras Ut sua nos defensione munitos ,118que a
Santa leu com especial devoçã o, viu a Mã e de Deus estender o seu
manto como se para acolher sob o seu abrigo todos aqueles que
fugiram para o seu patrocı́nio. Os santos Anjos entã o trouxeram todos
os que se haviam preparado com muito fervor para esta festa e os
apresentaram a ela como belas jovens virgens, que estavam diante dela
como diante de sua mã e, enquanto esses anjos bons os defendiam das
armadilhas dos espı́ritos malignos, e cuidadosamente incitou-os a
boas açõ es.
O Santo entendeu que havia obtido essa proteçã o angelical pelas
palavras Ut sua defensione etc .; pois ao seu comando os Anjos nunca
deixam de proteger e defender aqueles que invocam esta Virgem
gloriosa.
Vá rios animaizinhos119apareceu depois sob o manto da Santı́ssima
Virgem; e isso signi icava aqueles pecadores que se dirigiam a ela com
devoçã o. A Mã e da Misericó rdia os acolheu com a maior caridade e os
cobriu com o seu manto, manifestando assim com que afabilidade trata
os que a ela recorrem; como ela os protege mesmo durante suas
andanças; e se eles reconhecem suas faltas e voltam para ela, ela os
reconcilia com seu Filho por uma penitê ncia sincera. Na Elevaçã o,
Santa Gertrudes viu Nosso Divino Senhor conceder-se com todas as
alegrias de Sua Divindade e Humanidade a todos aqueles que
assistiram à Missa com especial devoçã o em honra de Sua Mã e
Santı́ssima, e que desejaram servi-la com devoçã o no dia de sua
Assunçã o; para que, sendo sustentados em virtude do Adorá vel
Sacramento, fossem fortalecidos em seus bons desejos, assim como a
comida fortalece e revigora o corpo humano.
Depois da Missa, a comunidade seguiu para o Capı́tulo, e o Santo viu
uma multidã o de Anjos rodeando Nosso Senhor, que apareceram para
esperar com grande alegria a chegada dos religiosos. Maravilhada com
isso, disse a Nosso Senhor: “Por que vieste a este Capı́tulo, ó Senhor
amoroso, rodeado por tamanha multidã o de Anjos, já que nã o temos a
mesma devoçã o agora que na Vigı́lia do Teu Divino Nascimento?” Nosso
Senhor respondeu: “Eu venho como o Pai de uma famı́lia para receber
os que foram convidados a comer em Minha casa. Venho també m de
respeito a Minha Mã e, para anunciar a festa solene da sua eminente
Assunçã o e para receber todos os que estã o dispostos a celebrar esta
festa com santa disposiçã o. Venho també m para absolver, pela virtude e
autoridade de Minha Divindade, todos aqueles que se humilham pelas
negligê ncias que cometeram em relaçã o à sua Regra ”. Acrescentou:
“Estou presente em todos estes Festas, e vejo tudo o que fazeis, embora,
na Vigı́lia do Meu Natal, ajudei de forma extraordiná ria”.
§2. Devoção pela hora do Nenhum .
Santa Gertrudes recitou Nenhum com devoçã o especial, pois o
Ofı́cio da Assunçã o começa naquela hora, de acordo com os usos da
Ordem;120e foi-lhe revelado que no dia anterior à Assunçã o da
Santı́ssima Virgem ela tinha estado tã o absorta em Deus, desde a hora
do Nada até o momento da sua feliz partida deste mundo, que nada
tinha de humano nela, viver somente pelo Espı́rito de Deus e saborear
antecipadamente todas aquelas alegrias celestiais que ela logo
experimentou perfeita e eternamente no seio de Deus; e que na
terceira hora da noite Nosso Senhor veio buscá -la e a levou para si com
grande alegria.
A noite, nas Vé speras, o Santo viu Nosso Senhor trazendo em Seu
Coraçã o todos os louvores que haviam sido cantados em honra de Sua
Mã e Santı́ssima, e dali derramando-os sobre ela em uma torrente
impetuosa. Enquanto a Antiphon Ista pulchra es [“Tu é s aquela bela”]
era entoada, Santa Gertrudes ofereceu as palavras a Nosso Senhor
atravé s de Seu Sagrado Coraçã o, em memó ria das doces carı́cias que
Ele tinha concedido a Sua Santı́ssima Mã e com as mesmas palavras; e
esta devoçã o, passando do Coraçã o de Jesus ao coraçã o de Maria,
envolveu-a como um cı́rculo de estrelas, consolando-a de maneira
maravilhosa. Muitas dessas estrelas pareciam cair no chã o,121mas os
santos os recolheram, apresentando-os a Nosso Senhor com alegria e
admiraçã o. Isso signi ica que todos os Santos obtê m alegria, gló ria e
bem-aventurança inefá veis dos mé ritos superabundantes da
Santı́ssima Virgem.
Quando a Comunidade gritou a Resposta, Quae est ista!122os anjos
se uniram a eles para cantá -lo. O pró prio Nosso Senhor entoou a Ista est
speciosa [Ela é aquela bela ”], o Espı́rito Santo animando Seu Divino
Coraçã o para louvar e glori icar a mais excelente de todas as criaturas.
Ao canto Quem terra, pontus , a Virgem Maria parecia incapaz de
conter a plenitude das suas delı́cias e reclinava-se no seio do Filho até
as palavras O gloriosa Domina .123Entã o ela apareceu como se
despertada pela devoçã o dos ié is e estendeu as mã os sobre eles para
protegê -los e consolá -los com seu amor maternal. No verso Deo
Patri ela se levantou novamente, e fez trê s genu lexõ es profundas, em
homenagem à Santı́ssima Trindade; e entã o ela continuou orando por
toda a Igreja até o Magni icat . Na Antı́fona Virgem
prudentissima [“Virgem prudente”], ela enviava a luz celestial a todos
os que a invocavam com devoçã o.
§3. Outras revelações sobre a Santíssima Virgem .
Em outra ocasiã o, na Assunçã o, quando Santa Gertrudes estava tã o
debilitada que nã o podia ajudar nas Matinas, o Senhor, o Oriente do
alto, a visitou com uma bondade inefá vel. Pareceu-lhe na sexta Resposta
que ela ajudou em espı́rito no momento em que a Santı́ssima Virgem
pagou a ú ltima dı́vida da natureza e entrou no cé u. Seu ê xtase
continuou a partir dessa resposta até o Te Deum , quando ela voltou a si
mais uma vez; mas durante esse arrebatamento, ela foi favorecida com
uma inteligê ncia celestial de tudo o que era cantado, o que a encheu de
alegria inefá vel.
No Response Super salutem ,124ela viu os Anjos e os Apó stolos
cantando em concerto, como se para felicitar a Rainha por seus
privilé gios singulares. Enquanto isso, quando a alma da Santı́ssima
Virgem deixou seu corpo, ela foi recebida por seu Divino Filho em Seus
braços. Mas nosso amado Jesus, que é o Pai dos ó rfã os, recomendou a
ela as necessidades e carê ncias da Igreja, Sua Esposa, que estã o sempre
em Seu Coraçã o, enquanto a sé tima Resposta, Sancta Deo dilecta , era
cantada. Entã o a Santı́ssima Virgem avançou mais, enquanto seu Filho
se unia aos coros dos Anjos para cantar a oitava Resposta, Salve,
Maria, e a nona, Salve, pia mater Christianorum ; quando Nosso Senhor,
continuando na pessoa de Sua Igreja, acrescentou estas palavras em
voz clara: Virgo, solamen desolatorum .
Enquanto ali se recebia a Rainha dos Cé us, o Câ ntico Audite a mim,
Divini fructus ,125foi cantado com um transporte de alegria que
nenhuma palavra humana pode expressar; e ela parecia entrar em um
campo adornado com as lores mais primorosas. Com as palavras Et
fronde in gratiam ,126 todas essas lores tornaram-se
maravilhosamente brilhantes e exalaram um perfume mais doce,
emitindo sons mais melodiosos do que poderiam ser emitidos por
todas as vozes do mundo unidas na mais requintada harmonia.
Em seguida, a Santı́ssima Virgem, transportada de alegria por esta
beatitude incompará vel, voltou graças a Deus com estas
palavras, Gaudens, gaudebo in Domine ;127e o Pai Eterno, como que
satisfeito com a exaltada perfeiçã o desta excelente Virgem, abençoou a
Igreja Militante na terra com abundante doçura, dizendo: Non vocaberis
ultra derelicta .128Todos os coros de Anjos entã o entoaram estas
palavras: Sexaginta sunt reginae ; indicando com isso que a Virgem Mã e
foi elevada acima de suas ordens. Os coros dos Santos cantaram, Et
octoginta concubinae , declarando sua elevaçã o acima deles, enquanto
os Santos e os Anjos uniram seus coros na personi icaçã o da Igreja
Triunfante, e cantaram, Et adolescentularum non est numerus , elevando
a Mã e de Deus acima de tudo, como ela merece para ser elevado.
Entã o o Espı́rito Santo cantou as palavras, Una est columba mea ,
seu Divino Filho acrescentando, Perfecta mea , como se dissesse que ela
era a mais perfeita das criaturas. O Pai Eterno entã o disse, Una est matri
suae electa , com amor excessivo, que indicou tudo o que Ele desejava
dizer dela; depois disso, toda a corte celestial entoou seu louvor no
Versicle Salve, nobilis .
Em seguida, a Santı́ssima Virgem foi colocada em um trono de
gló ria à direita de seu Filho, enquanto todos os cidadã os do cé u
assistiam diante do trono, empenhando-se em exaltar sua gló ria
soberana e a elevada e eminente santidade de sua vida pela qual ela
tinha merecido para obtê -lo; cantando a Resposta, Beata est virgo
Maria ;129a que a Santı́ssima Trindade acrescentou as palavras Ave
Maria , renovando no seu coraçã o toda a alegria que outrora havia
experimentado ao ser saudada pelo Anjo; os coros de santos entoando
as palavras Ecce exaltata est e recomendando a Igreja Militante à sua
intercessã o.
Deus Pai entoou entã o as palavras Ave, speciosa , para indicar a rara
beleza desta mais perfeita das criaturas; Deus, o Filho,
respondendo, Sunamitis secundum cor summi regis ;130o Espı́rito Santo
acrescentou: Ave, mater Maria ; e o Filho novamente respondeu, Spiritu
Sancto teste . Os santos entã o se ajoelharam diante dela, na pessoa da
Igreja Militante, cantando, O sancta, O celsa ; e a Santı́ssima Trindade
cantou a terceira resposta, Quae est ista ?
A Santı́ssima Virgem entã o cantou o Te Deum131com toda a corte
celestial, em honra da Santı́ssima Trindade, adorando todas as Pessoas
no primeiro versı́culo, o Pai Eterno no segundo, o Filho no terceiro e o
Espı́rito Santo no quarto. O Santo percebeu que cada uma das Pessoas
Divinas em particular era elogiada em cada verso exceto o sé timo, Tu
Rex gloriae, Christe , que se refere particularmente ao Filho, e onde Ele é
louvado por todos os santos afetos da Santı́ssima Virgem, que, por Sua
ajuda, ela sempre empregou para a gló ria Divina. No versı́culo Aeterna
fac , ela exaltou cada Pessoa alternadamente, e percebeu que nada foi
atribuı́do ao Pai que pertencesse tã o exclusivamente a Ele a ponto de
impedir sua aplicaçã o ao Filho e ao Espı́rito Santo.
Quando Santa Gertrudes se recuperou desse ê xtase, ela encontrou
sua saú de fı́sica tã o fortalecida que até conseguia andar mais rá pido do
que seus companheiros; e isso continuou até depois da missa solene.
§4. Outras revelações sobre o mesmo assunto .
Trê s anos apó s a ocorrê ncia dos favores relatados, o Santo foi
con inado ao leito na Vigı́lia da Assunçã o; no entanto, ela se esforçou
para se preparar para este grande Festival com todo o fervor e devoçã o
possı́vel. Enquanto ela estava ocupada, ela viu a Santı́ssima Virgem em
um belo jardim, cultivado com o maior cuidado e repleto de lores
raras. Nossa Senhora parecia estar em ê xtase, causado por um excesso
de repouso e alegria, a serenidade de seu semblante e seus gestos
indicavam que ela estava cheia de graça. Neste jardim havia rosas sem
espinhos, lı́rios brancos como a neve e violetas perfumadas, com muitas
outras lores. Mas parecia muito maravilhoso que quanto mais distantes
essas lores estavam da Santı́ssima Virgem, mais brilhante era sua cor e
mais doce sua fragrâ ncia. Entã o ela apareceu para atrair este odor para
si mesma por inspiraçã o, e derramar no Coraçã o de seu Filho, que
parecia estar aberto para este propó sito. Muitos anjos estavam també m
neste jardim, entre estas lores e a Santı́ssima Virgem, que servia a Deus
proclamando os seus louvores. Sã o Joã o Evangelista també m
permaneceu perto dela, orando fervorosamente, e ela parecia atrair
suas oraçõ es para si como um doce vapor.
Como Santa Gertrudes teve um prazer singular com esta visã o, ela
começou a se maravilhar com o que isso poderia signi icar; e Nosso
Senhor ensinou-lhe que o jardim signi icava o corpo casto da
Santı́ssima Virgem; que as lores eram suas virtudes; que as lindas
rosas que apareceram tã o longe dela foram as açõ es que ela realizou
por amor a Deus e ao pró ximo, e que aumentaram em mé rito à medida
que o amor que as inspirou foi estendido; que os lı́rios signi icavam sua
pureza extrema; e que as oraçõ es de Sã o Joã o, que ela parecia atrair,
signi icavam a gló ria que ela havia recebido por meio dele em
conseqü ê ncia do cuidado que ele teve dela enquanto na terra, para que
ela pudesse ser capaz de passar mais tempo em oraçã o .
Entã o ela perguntou que vantagem St. John tinha ganhado com
isso; e Nosso Senhor respondeu: “Meu Coraçã o foi atraı́do mais para ele
por cada ato de devoçã o que ele ofereceu a Minha Mã e.” Por im, ela
compreendeu que a visã o da Santı́ssima Virgem que viu representava a
sua alma, sempre abundante em frutos de virtude, e que sempre
devolveu a Deus com a maior açã o de graças.
Nas matinas, ela foi novamente arrebatada em ê xtase, e viu a
Santı́ssima Virgem repousando doce e paci icamente sobre seu Divino
Filho, e o Filho derramando no coraçã o de Sua Mã e uma alegria
inefá vel, fruto das virtudes que ela praticou e teve retornou a Ele como
sua verdadeira e ú nica Fonte. O Pai Eterno parecia entoar o primeiro
Responsó rio, Vidi speciosam ,132por meio do qual toda a corte celestial
compreendeu que a Santı́ssima Virgem tinha sido de fato uma pomba
em pureza e inocê ncia; que ela ascendeu acima dos rios de á guas por
desejo; que sua vestimenta - isto é , sua vida santa - era cheia de doçura
inefá vel; e que ela estava rodeada de rosas e lı́rios - isto é , com todas as
virtudes.
Entã o o Espı́rito Santo deu a conhecer a vida santa da Santı́ssima
Virgem cantando a Resposta, Sicut cedrus ; os Santos, cheios de
admiraçã o e alegria, acrescentando a terceira Resposta, Quae est
ista? do qual Santa Gertrudes recebeu uma compreensã o
maravilhosa; mas sua enfermidade a fez esquecer. Os santos entã o
passaram em procissã o ao redor do trono da Santı́ssima Virgem,
cantando a quarta Resposta, Gaude, regina, com profundo respeito e
com uma maravilhosa concó rdia de vozes, louvando esta poderosa
Rainha sobre quem a luz eterna brilhou tã o gloriosamente; de modo
que ela apareceu a todos no cé u e na terra como a mais bela e
consumada Virgem em virtude e graça - como uma Mã e que atende à s
nossas necessidades e que aumentará nossa gló ria e coroará nossa
alegria e bem-aventurança no futuro.
Os coros dos Anjos entã o marcharam em procissã o, cantando com
uma voz clara e melodiosa, Fac nos laetari ; e os santos cantaram
a Gloria Patri em açã o de graças por todas as graças que a Santı́ssima
Virgem havia obtido para eles; os dois coros entã o se uniram, cantando
todas as Antı́fonas e Salmos para a honra de Deus e o louvor da
Santı́ssima Virgem. Enquanto isso, Santa Gertrudes foi favorecida com
uma inteligê ncia maravilhosa de tudo o que foi cantado. Na quinta
Resposta, a Santı́ssima Virgem se levantou e cantou as palavras, Beatam
me dicent omnes generationes [“Todas as geraçõ es me chamarã o bem-
aventurada”], enquanto sua alma parecia como se tivesse sido libertada
do corpo, repousando sobre seu Filho, e imerso em um oceano de bem-
aventurança, estando para sempre unido estreitamente à Santı́ssima
Trindade. A Super salutem foi entã o cantada, toda a corte celestial
regozijando-se em sua uniã o com o Rei dos reis. Disto podemos
aprender como Deus concede favores a uma pessoa para vantagem de
muitos; e se nó s, por nossos pecados, somos impedidos de entrar neste
jardim das delı́cias, pelo menos nã o deixemos de colher algumas lores
dele.
§5. Devoção pela Festa da Assunção .
Em outra ocasiã o, como Santa Gertrudes assistia devotamente nas
Matinas, ela fez trê s meditaçõ es diferentes em cada Noite. No primeiro,
recordou à Santı́ssima Virgem as consolaçõ es inefá veis que recebera do
seu Divino Filho e dos Santos quando esperava a sua morte, de modo
que cada palavra que pronunciava parecia envolvê -la como rosas e
lı́rios. Na segunda noite, ela a lembrou das delı́cias inefá veis que
experimentou ao ser recebida nos braços de seu Amado neste momento
feliz. Na terceira noite, ela a lembrou da gló ria inconcebı́vel com a qual
ela havia sido homenageada em sua entrada no cé u; e a cada palavra
que recitava, recebia uma luz e gló ria que só podiam ser comparadas à
emissã o dos mais doces perfumes.
Na missa, ela rezou o Laudate Dominum ( Sl. 116) trê s vezes -
primeiro, implorando aos santos que oferecessem seus mé ritos a Nosso
Senhor, para que ela pudesse fazer uma comunhã o digna; em segundo
lugar, dizendo-o com a mesma intençã o em honra da Santı́ssima
Virgem; e em terceiro lugar, oferecendo-o a Nosso Senhor Divino. A
Santı́ssima Virgem levantou-se entã o à oraçã o dos Santos e colocou-se
diante do trono da adorá vel Trindade, oferecendo os seus mé ritos e os
favores que recebera no dia da sua Assunçã o por Santa Gertrudes, a
quem ela chamou, acariciando-a com ternura, e dizendo a ela: “Venha,
eleita um, e ique em meu lugar, com toda a perfeiçã o em virtude que
fez com que a Santı́ssima Trindade se inclinasse para mim, para que
você possa agradar a Santı́ssima Trindade tanto quanto possı́vel da
mesma maneira. ” Com isso ela icou pasma e respondeu: "Ai, ó Rainha
da Gló ria, como posso merecer um favor tã o grande?" A Santı́ssima
Virgem respondeu: “Prepare-se para isso por meio de trê s coisas:
primeiro, ore para ser puri icado de toda mancha pela extrema pureza
com que preparei uma morada em meu ventre virginal para meu Divino
Filho; em segundo lugar, peço perdã o por todas as vossas negligê ncias
pela profunda humildade pela qual mereci ser elevado acima de todos
os Santos e Anjos; em terceiro lugar, imploro um aumento abundante de
mé ritos atravé s do amor incompreensı́vel que me uniu a Deus de tal
maneira, que nunca poderei estar separado Dele. ”
Santa Gertrudes, tendo cumprido ielmente o que a Santı́ssima
Virgem havia ordenado, icou extasiada com o alto grau de gló ria que a
Rainha dos Cé us havia merecido; e vestida com seus mé ritos, ela
agradou a Nosso Senhor de forma tã o extraordiná ria, que todos os
Santos e Anjos vieram para homenageá -la.
A medida que os religiosos se aproximavam da Sagrada Comunhã o,
sua gloriosa Rainha postou-se à direita, cobrindo-os com seu manto,
dizendo: “Meu querido Filho, olha com benevolê ncia para todos os que
honraram minha memó ria”; a esta oraçã o Ele condescendeu com muito
amor, tratando-os com a maior ternura. Quando a Santa comunicou,
ofereceu o Santı́ssimo Sacramento a Nosso Senhor para o seu eterno
louvor e para o aumento da alegria e da gló ria de Sua Mã e Santı́ssima,
como compensaçã o pelos mé ritos com que supriu a sua pobreza. Nosso
Senhor entã o se dirigiu com amor a Sua Mã e, dizendo: “Eis, Minha Mã e,
eu devolvo o que você deu em dobro, e nada recebo dela do que você
desejou dar a ela por Minha causa”. Depois da procissã o a comunidade
voltou ao coro, cantando a Antı́fona Ave domina mundi Maria , e pareceu
a Santa Gertrudes que o pró prio Cé u estava cheio de alegria e triunfo, a
Santı́ssima Virgem em pé diante do altar à direita de seu Filho, e
olhando para os religiosos.
Enquanto cantavam Ave caelorum regina , todos os Santos se
prostravam diante dela, reverenciando-a como a Mã e de seu
Senhor; ao ouvir as palavras Ave virgo virginum , ela estendeu a mã o e
presenteou cada um com um lı́rio branco, engajando-os a seguir a
inocê ncia e a pureza de sua vida. Quando cantaram Per te venit
redemptio nostra [“Atravé s de ti vem a nossa redençã o”], seus
sentimentos maternais foram tã o profundamente comovidos, que ela
parecia incapaz de suportar a alegria de que seu coraçã o se enchia, e se
apoiava amorosamente em seu Divino Filho; com as palavras Pro nobis
rogamus, rogita , a Santı́ssima Virgem abraçou o seu Filho, oferecendo-
Lhe respeitosamente cada uma das irmã s e orando por cada
uma. Quando eles começaram a Antiphon Hodie beata Virgo ,133Santa
Gertrudes a viu rodeada de gló ria e elevada nos braços de seu Filho aos
mais altos cé us, acompanhada por todas as hostes celestiais com a
maior honra. Nesta posiçã o elevada ela abençoou a comunidade com a
mã o direita de seu Divino Filho; e apó s esta bê nçã o, uma cruz dourada
apareceu sobre cada religioso, presa por uma corda verde; pelo qual o
Santo entendeu que uma fé irme tornaria todos os seus possuidores
participantes da mesma bê nçã o desta Mã e da Misericó rdia.
CAPITULO 50
Para a festa de São Bernardo.
O mé rito e a gló ria deste Santo.

UMA

S ST. Gertrudes re letiu na missa sobre os mé ritos de Sã o Bernardo,134a


quem ela tinha uma devoçã o particular por causa de sua doce
eloqü ê ncia, o ilustre abade apareceu-lhe, vestido de gló ria inefá vel e
em trê s cores diferentes, cada uma das quais eram igualmente
brilhantes - o branco, que indicava a integridade de sua inocê ncia e
pureza; violeta, sua perfeiçã o como religioso; e carmesim, o fervor de
seu amor; e essas trê s cores pareciam transmitir um prazer especial a
todos os santos. Tinha també m braceletes de ouro, nos quais se
entrelaçavam pedras preciosas com admirá vel habilidade: o ouro
indicava o valor inestimá vel de sua rara e admirá vel doutrina e de tudo
o que havia dito ou escrito para o bem das almas; as pedras preciosas
indicavam seu amor ardente por Deus. Nosso Senhor atraiu em Seu
Coraçã o todos os mé ritos e vantagens que já foram ganhos por
qualquer pessoa, seja no cé u ou na terra, de suas palavras ou escritos,
fazendo com que estes irradiassem de Seu Coraçã o para o de Sã o
Bernardo, que ressoou como um doce instrumento musical - suas
virtudes e, acima de tudo, sua inocê ncia e amor, produzindo a melodia
mais doce imaginá vel.
O coraçã o do Santo també m foi adornado com um diadema
brilhante de muitas cores, no qual apareceu o lucro que ele havia
desejado deveria ser obtido de seus escritos para a maior gló ria de
Deus. Em seguida, Santa Gertrudes repetiu o Laudate
Dominum duzentas e vinte e cinco vezes, em homenagem ao Santo,
retornando graças a Deus por todas as graças com que o havia
favorecido. Entã o, tudo o que ele disse apareceu nas vestes do
venerá vel pai na forma de pequenos escudos, nos quais estavam
gravadas as virtudes pelas quais ele fora especialmente distinguido
quando esteve na terra; e eles brilhavam també m na alma de Gertrudes,
que havia retornado graças a Deus por eles.
Enquanto a Santa rezava na missa por todos os religiosos de quem
estava encarregada, e especialmente por aqueles que eram devotos de
Sã o Bernardo, embora nã o tivessem sido recomendados para suas
oraçõ es, ela viu este venerá vel pai novamente vestido de gló ria, o
esplendor do qual parecia passar dele para todos aqueles que
desejavam obter o mesmo amor fervoroso de Deus que ele tinha por
seus mé ritos. Enquanto Gertrudes se maravilhava com isso, ela
perguntou por que aquelas pessoas que nã o haviam praticado as
mesmas virtudes que ele poderia parecer assim enriquecidas com seus
mé ritos. Ele respondeu: “Uma senhora de nascimento nobre nã o é
menos admirada quando vestida com os há bitos de outra do que
quando usa os seus pró prios, desde que seja bonita e perfeitamente
formada. Assim, as virtudes dos santos obtê m as mesmas vantagens
para aqueles que louvam a Deus por seu fervor em adquiri-las. ”
Santa Gertrudes observou agora, que aqueles que se haviam
recomendado à s suas oraçõ es com devoçã o apareciam adornados com
um brilho singular, que outros nã o obtiveram, para mostrar que o
mı́nimo de açã o feita com uma intençã o justa aproveita muito, e que o
mı́nimo de negligê ncia, mesmo em pequenas coisas, pode ser uma
perda sé ria.
No mesmo dia, enquanto a Santa re letia sobre a gló ria de Santo
Agostinho, a quem sempre fora devota, e agradecia a Deus pelos favores
que lhe tinha concedido, ele apareceu-lhe com Sã o Bernardo, como se
fosse igual a ele na gló ria, visto que ele havia sido igual a ele em
santidade e doutrina. Este grande Bispo estava diante do trono da
Divina Majestade, magni icamente vestido, enquanto raios de fogo
ardente pareciam jorrar de seu coraçã o, como també m do coraçã o de
Sã o Bernardo, para o de Jesus Cristo; isso indicava a eloqü ê ncia com
que o santo doutor acendeu o fogo do amor divino nos coraçõ es dos
homens. Raios de luz, como raios de sol, saı́am de seus lá bios, que
enchiam todo o cé u, e representavam as abundantes e maravilhosas
doutrinas com as quais havia iluminado a Igreja. Sob esses raios
surgiram arcadas de luz, de admirá vel nitidez, que atraı́ram a atençã o
de todos e proporcionaram abundante prazer e contentamento a quem
as contemplava. Enquanto a Santa contemplava isso com alegria e
admiraçã o, ela aprendeu com Sã o Bernardo que essas arcadas
representavam a luz da doutrina de Santo Agostinho, e seus imensos
trabalhos em defesa da fé cató lica por seus discursos, e por seus
escritos e seus desejos ardentes; tendo sido trazido, depois de tantas
perambulaçõ es, das trevas da ignorâ ncia para a luz da fé , a im de poder
fechar o caminho do erro a todos os homens e abrir o caminho da
verdadeira fé .
Santa Gertrudes entã o perguntou a Sã o Bernardo se ele nã o teve o
mesmo im em seus escritos. Ele respondeu: “Falei, escrevi e agi sob o
impulso de um amor impetuoso de Deus; mas este ilustre mé dico
escreveu a partir de um princı́pio de amor divino, e movido pelas
misé rias que ele mesmo experimentou. ”
Nosso Senhor atraiu entã o para Si dos bem-aventurados e dos
coraçõ es dos ié is que ainda estã o na terra a fé , a consolaçã o, a luz e o
amor que os escritos de Santo Agostinho produziram, aperfeiçoando-o,
unindo-o ao Seu Coraçã o e depois vertendo-o para o coraçã o do Santo,
cuja alma foi penetrada por esta in luê ncia divina, e tornou-se como
uma harpa diante de Deus, emitindo a mais perfeita e doce melodia; e
como a virgindade e o amor de Deus formaram um concerto admirá vel
no coraçã o de Sã o Bernardo, a penitê ncia e o amor fervoroso de Santo
Agostinho produziram efeito semelhante, de modo que era impossı́vel
decidir qual era o mais melodioso. Depois disso, Sã o Bernardo
informou a Santa Gertrudes que as melodias que ela ouviu foram
aquelas que foram faladas nas palavras, Omnis illa Deo , etc .;135 pois o
coraçã o de cada Santo emite uma melodia que corresponde à s suas
virtudes, e todos estã o sempre empregados nos louvores divinos.

CAPITULO 51
Para a festa de Santo Agostinho.
Da gló ria e virtude deste Santo. Dos mé ritos de Sã o Francisco e Sã o Domingos.

UMA

S THE Antiphon Vulneraverunt charitas foi cantada nas Vé speras da


festa de Santo Agostinho,136Gertrude viu este grande bispo de pé em
gló ria, e revelando seu coraçã o, que tinha sido ferido pelo amor divino,
como uma bela rosa diante de Deus, para apresentá -lo a Ele, e assim
recriar os cidadã os do Cé u com um perfume de fragrâ ncia
extraordiná ria. Em seguida, a Santa saudou-o com devoçã o, rezando
pela sua comunidade e por todos os devotos desta Santa. Ele entã o
suplicou a Nosso Senhor que os coraçõ es de todos aqueles que
desejavam obter um amor fervoroso de Deus por meio de seus mé ritos
pudessem ser preenchidos com ele, como o dele, para honra e gló ria da
refulgente e sempre bendita Trindade.
Enquanto Santa Gertrudes assistia as Matinas com grande fervor,
ela começou a re letir que recompensa este grande pastor da Igreja
havia recebido pelas delı́cias e doçura que havia encontrado ao
contemplar os profundos desı́gnios de Deus para a salvaçã o dos
homens, como ele declara em suas con issões . Enquanto ela re letia
assim, ele apareceu a ela em gló ria, carregando um globo em sua
cabeça, enriquecido com uma variedade in inita de cores raras e
coberto de estrelas brilhantes, que indicavam a recompensa que Deus
havia concedido a ele por seus pensamentos sagrados durante a vida. :
como a aplicaçã o de sua mente à s coisas de Deus; o desprezo que sentia
pelos prazeres da vida, por seu desejo de encontrar prazer apenas em
Deus; o cuidado que teve para tornar seu coraçã o agradá vel a Deus, que,
como diz o Homem Sá bio, sente prazer em conversar com os ilhos dos
homens; e todas as ocupaçõ es à s quais se devotou de toda a alma, seja
falando, escrevendo ou promovendo o amor e a gló ria de Deus por meio
de seu exemplo; e os prazeres que desfrutava eram tã o grandes e
admirá veis, que ele podia derrama-los sobre todos.
Entã o Nosso Senhor disse a Gertrudes: “Considere quã o perfeito é
Meu amado em pureza, humildade e fervorosa caridade”. Ela
respondeu, com grande admiraçã o: "O Senhor, como ele pode ser tã o
puro, se ele deve ter contraı́do tantas manchas em suas andanças pela
fé antes de sua conversã o?" Ele respondeu: “Eu permiti essas
perambulaçõ es, esperando seu retorno com paciê ncia e misericó rdia, e
entã o subjugando-o com Meus favores gratuitos.”
Depois dessas palavras, enquanto ela examinava os ornamentos
deste prelado com muita atençã o, ele apareceu vestido com uma
vestimenta de pureza cristalina, sob a qual ela viu trê s cores, que
indicavam sua pureza, humildade e caridade; e estes brilharam como o
ouro brilha atravé s do cristal.
Depois disse a Nosso Senhor: “Meu Senhor, nã o era Sã o Bernardo
tã o devotado a Ti como Santo Agostinho, cuja gló ria resplandece tã o
resplandecente? e, no entanto, parece-me que ele nã o desfruta das
mesmas delı́cias ”. Nosso Senhor respondeu: “Bernardo, meu escolhido,
recebeu uma recompensa imensa; mas sua mente nã o é capaz de
discernir a gló ria nem mesmo do menor dos Meus santos: como, entã o,
ela pode discernir a do maior? No entanto, para satisfazer a tua
devoçã o, para aumentar o teu amor, e para que saibas quantas mansõ es
existem na casa de Meu Pai, compreende isto: quando a Igreja canta a
qualquer Santo, Non est inventus similis illi ,137signi ica que, embora
todos os santos possuam a mesma gló ria, eles nã o a possuem no
mesmo grau, mas cada um de acordo com seu mé rito ”. Ela respondeu:
"O Senhor Deus da verdade, eu Te imploro, revele-me algo dos mé ritos
da gentil Agnes e da gloriosa Catarina, a quem tenho sido
singularmente devotada desde a minha infâ ncia."
Depois que Deus lhe concedeu este favor, que registramos em outro
lugar, ela desejou saber algo sobre os mé ritos dos santos padres Sã o
Domingos e Sã o Francisco,138que haviam sido os chefes de duas
ordens, e que trabalharam muito ardorosamente para o avanço da
Igreja. Entã o, esses venerá veis Padres apareceram a ela em gló ria
sublime e igual em mé rito ao glorioso Padre Bento XVI, adornados com
guirlandas de rosas semelhantes à s dele, e portando cetros. Pareciam
iguais em mé rito aos benditos santos Agostinho e Bernardo, por causa
de sua devoçã o e pregaçã o, pela qual deram tanta gló ria a Deus e
ganharam tantas almas para ele. Mas havia esta diferença: o beato
Padre Francisco gozava de recompensas especiais por sua profunda
humildade, e o glorioso padre Domingos pelo fervor e a sublimidade de
seus desejos.
Na missa, que a Santa ouviu com a maior devoçã o, ela foi arrebatada
ao cé u diante do trono da Divina Majestade. Em seguida, todos os
santos cantaram docemente perante a Virgem os primeiros seis versos
da sequê ncia, Interni festi gaudia , em memó ria e em açã o de graças
pelas delı́cias que ela desfrutou na noite anterior ao contemplar a gló ria
de Santo Agostinho. Quando concluı́ram, indicaram-lhe que entã o
deveria entoar os versos inais em seu louvor, como haviam cantado os
precedentes em sua homenagem. Em seguida, ela cantou, pelo ó rgã o do
doce Coraçã o de Jesus, os louvores da Jerusalé m celestial,
começando Beata illa patria , com os cinco versos seguintes, cada um
dos quais parecia encher os santos de alegria inefá vel.
Quando ela concluiu, Nosso Senhor, seu Esposo amoroso, cantou os
dois Versı́culos, Hoc in hac valle misera , e Quo post mundi exilia , para
ela, ensinando-a, como um amá vel mestre ensinaria a seu ilho, como
ela poderia merecer alegrias eternas. mesmo neste exı́lio. Em seguida,
os coros de Anjos entoaram Harum laudum praeconia , representando
as oraçõ es e desejos da Igreja; e os Santos uniram suas vozes à s dos
Anjos para louvar aquele admirá vel prelado da Igreja, Santo Agostinho,
enquanto ele derramava luz inefá vel pelo Cé u, transmitindo novas
alegrias e deleites a todos. Nos dois ú ltimos versos, Cujus sequi
vestigia, Nosso Senhor levantou a mã o e deu uma abundante bê nçã o a
todos aqueles que louvaram o Santo com devoçã o.

CAPITULO 52
Para o Festival da Natividade da Santíssima Virgem.
Exercı́cios para celebrar esta festa com devoçã o. Com que poder a Santı́ssima
Virgem protege aqueles que a invocam; e como podemos suprir nossas
negligê ncias em seu serviço.
O

NA gloriosa festa da Natividade da Santı́ssima Virgem,139Santa


Gertrudes, tendo dito tantas Ave-Marias quantos dias ela tivesse
permanecido no ventre de sua mã e, ofereceu-as com devoçã o, e
perguntou que mé rito teriam se izessem uma devoçã o
semelhante. Esta Virgem benigna respondeu: “Eles merecerã o uma
participaçã o especial nas alegrias que possuo no Cé u, que sã o
continuamente renovadas, e nas virtudes com as quais a sempre
abençoada e gloriosa Trindade me adorna”.
No decus Antiphon Ave , ela viu os cé us se abrindo, enquanto os
Anjos desceram e colocaram um trono magnı́ ico no centro do coro,
onde a Rainha da Gló ria estava sentada, e manifestou o quã o
amorosamente ela recebeu as oraçõ es e devoçã o dos religiosos em este
Festival. Os Anjos estavam ao redor deste trono, atendendo a Mã e de
seu Deus com o maior respeito e alegria. O Santo també m viu um anjo
ao lado de cada um dos religiosos, com um ramo na mã o; e esse ramo
produzia diversos tipos de frutas e lores, de acordo com a devoçã o da
irmã assim atendida. Na conclusã o do Ofı́cio, os Anjos trouxeram esses
ramos à Santı́ssima Virgem para adornar seu trono. Entã o Gertrude
exclamou: “Ai de mim, minha mã e! Nã o mereço estar assim unido aos
coros dos bem-aventurados. ” Ela respondeu: “Sua boa vontade é
su iciente; e a devota intençã o que teve nas Vé speras, de oferecer suas
oraçõ es atravé s do doce Coraçã o de meu Filho, em minha honra, excede
em muito qualquer trabalho corporal; para lhe assegurar isso,
apresentarei o seu ramo de frutas e lores à adorá vel Trindade, como
uma oblaçã o do mais alto mé rito ”.
Nas Matinas, ela viu como os Anjos colhiam as lores e os frutos das
diferentes intençõ es das religiosas e os apresentavam à Virgem Mã e. As
lores pareciam mais brilhantes e belas em proporçã o à seriedade de
cada uma; e a doçura da fruta correspondia à pureza e fervor de sua
devoçã o.
No Gloria Patri da quarta Resposta,140como Santa Gertrudes louvou
o poder inefá vel do Pai, a sabedoria incompreensı́vel do Filho, e a
benignidade maravilhosa do Espı́rito Santo, em ter nos dado uma
criatura tã o cheia de graça para promover nossa salvaçã o, a Santı́ssima
Virgem icou diante do Abençoado Trinity, orando para que a Divina
Onipotê ncia, Sabedoria e Bondade conceda tanta graça a Santa
Gertrudes quanto possı́vel para qualquer criatura receber; e a
Santı́ssima Trindade derramou uma abundante bê nçã o da graça sobre
sua alma, que a regou como uma chuva suave.
Em seguida, Santa Gertrudes cantou o Antiphon Quam pulchra
es, na pessoa do Filho de Deus, em homenagem a Seu Pai. Isso foi aceito
com muito amor por Nosso Senhor, que lhe disse: “Eu te
recompensarei no momento oportuno, de acordo com Minha real
generosidade, pela honra que prestaste à Minha querida Mã e”.141
Na Antiphon Adest , quando as palavras Ipsa intercedat pro peccatis
nostris eram cantadas, ela viu a Santı́ssima Virgem com um pergaminho
na mã o, no qual as palavras “Ela intercederá ” foram escritas em letras
de ouro; e isso ela apresentou a seu Filho pelo ministé rio dos anjos. Ele
respondeu com amor: "Eu te dou todo o poder, por Minha onipotê ncia,
para ser propı́cio a todos os que invocam a tua ajuda, da maneira que
for mais agradá vel para ti."
As the Sequence Ave praeclara142foi entoado na missa, com as
palavras Ora Virgo nos , a Santı́ssima Virgem voltou-se para o seu Filho
e rezou pela comunidade com as mã os postas. Entã o Nosso Senhor
voltou-se para eles e os abençoou com o sinal da cruz, a im de prepará -
los para receber o adorá vel sacramento do seu corpo e sangue.
Ao ouvir as palavras Audi nos , a Santı́ssima Virgem apareceu
sentada em um trono alto com seu Filho Divino; e Santa Gertrudes
dirigia-se a ela assim: “Por que nã o rogais por nó s, Mã e da
Misericó rdia?” Ela respondeu: “Falo por você ao meu Amado, de
coraçã o a coraçã o”. Entã o, quando as mesmas palavras foram repetidas,
a Virgem estendeu suas mã os reais sobre o convento, como se unindo-
se aos seus desejos, e rezando como um com eles ao seu Divino Filho; e
este Filho real, no versı́culo seguinte, Salve nos, Jesu , voltando-se para a
comunidade, disse-lhes: “Estou pronto para realizar todos os teus
desejos”.
Depois, enquanto Santa Gertrudes re letia sobre o Festival que se
aproximava e desejava ardentemente que seu coraçã o se preparasse
para solenizá -lo, disse à Mã e de Deus: “Visto que a gló ria de sua
Assunçã o comove as almas de quem nela medita, profundamente,
desejo muito saber o que os Anjos pensam da Festa de sua Natividade
no Cé u, para que assim nossa devoçã o seja aumentada na terra. ” A
Santı́ssima Virgem respondeu: “Os anjos comemoram as alegrias
inefá veis que experimentei no seio de minha mã e, quando me prestam
a sua homenagem com a mais profunda reverê ncia. Os Arcanjos
també m contemplam no espelho da Santı́ssima Trindade os favores e
graças eminentes que Deus concedeu a mim acima de todas as
criaturas, e ministram a mim també m; enquanto todas as ordens
celestiais se unem em servir e ajudar-me para a gló ria de Deus; e por
isso sã o agora recompensados com alegrias especiais ”.
Nas Completas, como a Salve Regina143foi cantado, Santa Gertrudes
entristeceu-se diante de Deus por nunca ter servido a Sua Mã e com a
veneraçã o que lhe era devida; e ela ofereceu esta Antı́fona, atravé s do
Coraçã o de Jesus, para suprir seus defeitos; e Nosso Senhor supria suas
de iciê ncias com pequenos tubos de ouro, que passavam do Seu
Coraçã o ao coraçã o de Sua Virgem Mã e, e atravé s dos quais Ele
derramava sobre ela a ternura de Seu afeto ilial. També m podemos
suprir nossas negligê ncias por meio da seguinte oraçã o, ou qualquer
outra semelhante:
“O doce Jesus, eu Te suplico, pelo amor que te fez encarnar no seio
desta Virgem purı́ssima, que suprimas os nossos defeitos no serviço e
honra desta Mã e benigna, que está sempre pronta para ajuda-nos, com
ternura maternal, em todas as nossas necessidades. Oferece-lhe, ó doce
Jesus, a superabundante bem-aventurança de Teu doce
Coraçã o; mostra-lhe a tua divina predileçã o, que a escolheu desde toda
a eternidade, antes de todas as criaturas, para ser tua mã e, adornando-a
com toda graça e virtude; lembre-a de toda a ternura que Tu
manifestaste a ela quando na terra, Tua obediê ncia ilial a ela em todas
as coisas, e, acima de tudo, Tua atençã o na hora de Tua Morte, quando
Tu esqueceste Tua pró pria angú stia para consolar a dela, e nã o lhe dei
um ilho; lembra-lhe, també m, das alegrias e da gló ria da sua Assunçã o,
quando foi exaltada acima de todos os coros dos Anjos e constituı́da
Rainha do cé u e da terra. Assim, ó bom Jesus, fazes que Tua Mã e nos
seja propı́cia, para que ela seja nossa advogada e protetora na vida e na
morte ”.
Ao ouvir as palavras Eia ergo [da Salve Regina ], como Santa
Gertrudes invocava esta benigna Mã e, viu-a inclinar-se para ela, como
se atraı́da por cordas; pelo que ela entendeu que quando a invocamos
com devoçã o como nossa advogada , sua ternura maternal é tã o
comovida, que ela nã o pode deixar de nos ajudar. Com as palavras Illos
tuos misericordes oculos , a Santı́ssima Virgem inclinou os olhos do seu
Filho para a terra, dizendo: “Estes sã o os meus olhos misericordiosos,
que inclino para todos os que me invocam com devoçã o, e deles obtê m
o fruto da salvaçã o eterna . ” Em seguida, a Santa foi ensinada por Nosso
Senhor a saudar Sua Mã e Santı́ssima, pelo menos diariamente, com as
palavras Eia ergo e Advocata nostra , garantindo-lhe que assim obteria
grande consolo na hora de sua morte.
Santa Gertrudes ofereceu entã o a Nossa Senhora cento e
cinquenta Ave Marias , suplicando-lhe que a ajudasse na hora de sua
morte com sua ternura maternal; e cada palavra que ela repetia parecia
uma moeda de ouro, que Nosso Senhor oferecia à sua Mã e, que a usava
para socorro e consolo da Santa na hora da sua morte. Assim, ela sabia
que, quando recomendamos o nosso im a qualquer santo, as oraçõ es
que lhe sã o dirigidas sã o apresentadas perante o tribunal do Juiz, e o
Santo a quem nos recomendamos é nomeado nosso advogado.

CAPITULO 53
Para a Festa da Exaltação da Cruz.
Da Exaltaçã o da Cruz. Do amor aos inimigos. Da observâ ncia do jejum
regular. Das verdadeiras relı́quias de Jesus Cristo.
O

NA Festa da Exaltaçã o da Cruz,144enquanto Santa Gertrudes se


prostrava em reverê ncia à s relı́quias, Nosso Senhor disse-lhe:
“Considere como eu fui pendurado na Cruz de Sextas à s Vé speras, e que
é por isso que sou elevado a tã o sublime gló ria; e entendo assim que
benefı́cios vou conferir aos coraçõ es daqueles em quem tenho
repousado por muitos anos. ” Ela respondeu: "Ai, Senhor, quã o pouco
prazer podes ter no meu coraçã o!" Ele respondeu: “E que prazer tive eu
no bosque da Cruz? Eu só o honrei porque desejei honrá -lo e, portanto,
recompenso aqueles a quem recompensarei. ”
Durante a Missa, Nosso Senhor deu-lhe esta instruçã o: “Considere o
exemplo que dou aos Meus eleitos em honrar esta Cruz; e saiba que
honrei os instrumentos de Minha Paixã o, que Me causaram sofrimento,
mais do que aquelas coisas que em Minha infâ ncia foram usadas para
Minha conveniê ncia. Se você deseja imitar Meu exemplo, dar-Me gló ria
e promover sua pró pria salvaçã o, você amará seus inimigos mais do
que seus amigos; e isso irá avançá -lo maravilhosamente na
perfeiçã o. Alé m disso, se você negligenciar fazer isso no inı́cio, mas
depois se arrepender e dominar seus inimigos com benefı́cios, você
seguirá Meu exemplo ao esconder Minha Cruz por um tempo, para
exaltá -la triunfantemente depois. Mas a razã o pela qual amei tã o
especialmente esta Cruz foi porque obtive assim a Redençã o da
humanidade, que tã o ardentemente desejei, mesmo como os devotos
amam os tempos e lugares onde receberam favores especiais de Deus. ”
Como o Santo desejava ardentemente ter algumas relı́quias do
bosque da Cruz, para que Nosso Senhor a olhasse com mais amor, disse-
lhe: «Se queres ter relı́quias que atraiam o Meu Coraçã o ao teu, lê a
Minha Paixã o , e medite atentamente em cada palavra contida nele, e
será para você uma verdadeira relı́quia, que irá merecer mais graças
para você do que qualquer outra; e se você nã o está persuadido disso
pelas Minhas inspiraçõ es, pelo menos deixe sua razã o convencê -lo
disso; pois quando um amigo deseja renovar sua amizade com seu
amigo, ele diz: 'Lembre-se do que você sentiu em seu coraçã o quando
eu disse tal e tal palavra', como se ele dissesse: 'Lembre-se do que eu iz
ou disse por você em tal hora '; e assim você pode saber e ter certeza de
que as palavras que eu disse quando na terra sã o as mais preciosas
relı́quias que você pode possuir. ”
Como ela pediu a Nosso Senhor para capacitá -la a manter o jejum
regular de seis meses,145que começa neste dia, ele respondeu: "Quem
quer que observe o jejum regular por zelo pela observâ ncia religiosa, e
puramente pelo Meu amor, e que busca nele, nã o a sua pró pria
vantagem, mas a minha, aceitarei dele, embora eu tenha nã o havia
necessidade de seus bens, pois um imperador aceitaria a oferta de um
prı́ncipe para mobiliar sua mesa diariamente com todo o
necessá rio. Mas se a obediê ncia e a necessidade o obrigam a relaxar o
jejum contra sua vontade, e ele se submete em uniã o com a humildade
com que me submeti aos homens quando na terra para a gló ria de Meu
Pai, tratarei-o como um amigo trataria seu amigo mais querido a quem
ele convidou para sua mesa. ”
Em outra ocasiã o, no mesmo Festival, quando Santa Gertrudes
ofereceu a Nosso Senhor os aborrecimentos que a comunidade havia
sofrido, Ele respondeu: “Bebi este cá lice, que o fervor de sua devoçã o
adoçou para Mim; e beberei tantas vezes quanto você Me oferecer, até
que, ao Me embriagar com ele, você Me torne favorá vel aos seus desejos
”. "Mas como, ó Senhor Jesus, podemos dar-lhe este cá lice para
beber?" ela perguntou. Entã o Nosso Senhor lhe ensinou que ela poderia
fazer isso re letindo sobre sua indignidade, louvando-o do fundo do
coraçã o, arrependendo-se sinceramente por nunca ter amado a Deus
como deveria, e desejando sofrer por ele, até o ú ltimo momento. de sua
vida, mesmo os sofrimentos que Ele suportou em Seu Divino Coraçã o,
se fosse possı́vel; e isso Ele aceitaria como um cá lice do mais doce
né ctar.
Aqueles que desejam fazer uma oferta semelhante podem fazê -lo
dizendo a seguinte oraçã o: “O vivi icante fonte de doçura! O doçura
aromá tica das delı́cias Divinas! O deliciosa embriaguez de todos os
prazeres! Eis que te ofereço, tanto quanto posso, uma gota de minha
miserá vel indigê ncia; Lamento, e sempre sofrerei, que minha alma
tenha jejuado por tanto tempo, abstendo-se daquele Alimento celestial
que nunca se sacia. Mas agora, ó Criador e re-Criador de minha
substâ ncia, a quem nada é impossı́vel, para Tua gló ria, entã o faça meu
coraçã o um com o Teu, para que eu possa verdadeiramente dizer que
desejo com toda a minha alma sofrer tudo o que foi sofrido por
qualquer ser humano, desde a criaçã o do mundo até agora, se eu
pudesse assim preparar uma morada digna de Ti dentro de mim, e
satisfazer Tua justiça por toda a oposiçã o que tenho oferecido a Tuas
inspiraçõ es e graças. ”

CAPITULO 54
Para a festa de São Miguel.
Do iel cuidado que os Anjos tê m de nó s, e como devemos honrá -los.

UMA

S A Festa de Sã o Miguel146abordada, Santa Gertrudes se preparou para


a Sagrada Comunhã o meditando sobre o cuidado que os Anjos tinham
dela, por ordem divina, apesar de sua indignidade; e como ela desejava
retribuir a eles, ela ofereceu em sua honra o Corpo e Sangue doador de
vida de Jesus no Santı́ssimo Sacramento, dizendo: “Eu ofereço a Ti este
sacramento augusto, ó amoroso Senhor, por Teu eterno gló ria, em
honra dos prı́ncipes de Teu reino, e para o aumento de sua felicidade e
bem-aventurança. ” Entã o Nosso Senhor atraiu esta oblaçã o a Si
mesmo de maneira inefá vel, causando assim a maior alegria a esses
espı́ritos angé licos, que pareciam como se nunca tivessem
experimentado tal bem-aventurança e abundante em delı́cias. Entã o,
cada um dos coros de Anjos, de acordo com sua categoria, inclinou-se
respeitosamente diante de Santa Gertrudes, dizendo: "Tu, de fato, nos
honraste com esta oblaçã o e, portanto, te protegeremos com cuidado
especial", os Anjos da Guarda acrescentando: "Nó s te guardará noite e
dia com alegria inefá vel, e te preparará para tua Esposa com a má xima
vigilâ ncia. ”
Entã o, quando ela retornou graças a Deus por este favor com
grande jú bilo de espı́rito, ela reconheceu seu pró prio anjo da guarda, e
ele apareceu para ela como um prı́ncipe magni icamente vestido,
estando entre sua alma e Deus, e se esforçando para unir e elevar sua
alma para Deus. Ela entã o ofereceu uma devoçã o especial em sua
homenagem, que ele apresentou à Santı́ssima Trindade sob a forma de
rosas. Os Arcanjos saudaram agora a Santa, dizendo-lhe: “O
ilustre147esposa de Cristo, vamos descobrir para você os segredos
divinos, de acordo com a sua capacidade de recebê -los. ” As Virtudes
entã o disseram: “Nó s os ajudaremos em seus trabalhos, escritos e
meditaçõ es para a gló ria de Deus”. As Dominaçõ es disseram: “Visto que
Nosso Senhor, o Rei da Gló ria, tem prazer em sua alma, e que você Lhe
retribui amor por amor, nó s ofereceremos por você a honra que você
deve à Sua Soberania para suprir suas de iciê ncias.” Em seguida, os
Principados se dirigiram a ela, dizendo: “Vamos apresentá -la ao Rei dos
reis, adornada de acordo com o Seu Coraçã o”. Os Poderes
acrescentaram: “Visto que o seu Amado está tã o abençoadamente
unido a você , removeremos continuamente todo impedimento, seja
externo ou interno, que possa interromper Suas comunicaçõ es divinas,
ao conceder bê nçã os à Igreja e alegrar a corte celestial. Pois as oraçõ es
de uma alma amorosa prevalecem mais com Deus, tanto pelos vivos
como pelos mortos, do que as oraçõ es de mil almas que amam menos. ”
Em seguida, Santa Gertrudes agradeceu profundamente a Deus por
todos esses favores, e por muitos outros que a fragilidade humana nos
impede de relatar; mas todos sã o conhecidos por Deus.

CAPITULO 55
Para a festa das onze mil virgens.
Dos frutos da açã o de graças. Que Deus requer que fruti iquemos Seus dons. E
da Resposta Regnum mundi .

UMA

S AS palavras, Ecce sponsus venit [Eis que vem o Noivo ”], foram
entoadas no Escritó rio das Onze Mil Virgens,148 Santa Gertrudes icou
profundamente comovida e disse a Nosso Senhor: “O esposa muito
desejá vel, ao ouvir essas palavras tã o freqü entemente repetidas, diga-
me como virá s, e o que fará s.149nó s?" Ele respondeu: “Agora vou
trabalhar com você e em você . Onde está sua lâ mpada? ” Ela respondeu:
“Eis, Senhor, eu Te darei meu coraçã o como lâ mpada”. Ele respondeu:
“Vou enchê -lo abundantemente com ó leo - isto é , com a graça do Meu
Coraçã o”. Ela respondeu: “Mas onde está o pavio150para acender?
" Nosso Senhor respondeu: “Sua pura intençã o de fazer tudo apenas
para Mim será um pavio, cuja luz será mais agradá vel para Mim.”
Na resposta Verus pudicitiae , e nas palavras Spes et corona
virginum ,151Santa Gertrudes retornou graças a Deus por aquelas
virgens que ela viu de pé diante de Seu trono: e Ele lançou tantos raios
de gló ria sobre eles quantos ela havia feito açõ es de graças por eles,
que foram entã o re letidos sobre ela; por isso ela entendeu que aqueles
que retornam graças a Deus pelos favores que Ele concedeu a qualquer
santo, compartilham dos mé ritos desse santo. Como a
resposta Regnum mundi152foi cantada, à s palavras Quem vidi, quem
amavi , ela se lembrou de uma pessoa que muitas vezes era
atormentada por um desejo ardente de ver Deus, e disse a Nosso
Senhor: “Quando a consolará s, para que ela possa cantar esta Resposta
com alegria ? ” Ele respondeu: “Me ver, me amar e acreditar em mim é
um desejo que ningué m pode nutrir sem frutos; portanto, quando
alguma alma tem este desejo, e nã o pode obtê -lo por causa da
fragilidade humana, Minha Humanidade imediatamente avança para
Minha Divindade como uma irmã , comprometendo-se a fazer este favor
como se por direito de herança, até que aquela pessoa tenha se livrado
de sua carne. afeiçõ es, e por si mesma é capaz de assumi-las e, assim,
alcançar alegrias eternas ”.
Em outra ocasiã o, quando foram entoadas as palavras Propter
amoram Domini mei , o Divino Coraçã o do nosso Irmã o153Jesus icou
tã o comovido com essas palavras que exclamou diante de Seu Pai e de
toda a corte do Cé u: “Sou um devedor aos Meus servos ié is pelo que
agora tê m feito por mim”. Ao ouvir a palavra Jesus , que signi ica
Salvador, Ele reconheceu que era o devedor deles pelo cumprimento
das promessas de salvaçã o que havia feito a eles desde a infâ ncia, cujo
cumprimento foi adiado por Sua providê ncia paterna até o tempo
determinado. A palavra Christi , que signi ica Ungido, Nosso Senhor
declarou-se obrigado a recompensar seus bons desejos. Nas
palavras Quem vidi, quem amavi , Ele garantiu a Seu Pai e a todos os
Santos que eles haviam prestado testemunho à Fé Cató lica por suas
boas obras; e nas palavras In quem credidi, quem dilexi , Ele declarou
que eles estavam unidos a Ele por sua fé irme e caridade perfeita.
Entã o Santa Gertrudes exclamou: "Ai, Senhor, o que fará s por
aqueles que nã o estã o no coro?" Ele respondeu: “Infundi devoçã o em
todos os que se deleitaram com esta Responsabilidade e beati iquei
todos os que estã o neste convento; e aqueles que tê m uma devoçã o
semelhante receberã o um benefı́cio semelhante. ” "Mas", ela perguntou,
"se eles podem obter tanta vantagem com tã o pouca devoçã o, que mal
pode sua negligê ncia fazer a eles, quando podem repará -la tã o
facilmente?" Nosso Senhor respondeu: “Quando um imperador concede
uma propriedade e vestes caras a um de seus nobres, por pouco que
pareça valorizá -los, o imperador nã o o priva por conta disso de sua
liberalidade; entã o, quando eu dou grandes favores em troca de um
pouco de devoçã o, aqueles a quem eu os concedo sã o obrigados a lucrar
com eles, e se eles deixarem de fazer isso, eles perderã o o fruto
disso; mas o ornamento da Minha bondade gratuita, ao concedê -los,
sempre aparecerá sobre eles para Meu louvor e gló ria ”. Entã o ela
perguntou: “Mas como podem aqueles que nunca foram favorecidos
com tais revelaçõ es exercitar-se em tais coisas?” Ele respondeu: “Eles
sã o obrigados a praticá -los e imitá -los, de acordo com a extensã o das
luzes com as quais sã o favorecidos. Eu esclareço a todos em tais
assuntos até certo ponto e, portanto, eles sã o obrigados a ser gratos e
cumprir essas obrigaçõ es. ”
Em outra ocasiã o, quando a mesma Resposta foi cantada, Santa
Gertrudes viu uma tropa de demô nios, que cercava os religiosos,
mostrando-lhes as pompas e vaidades do mundo. Mas com as
palavras, Regnum mundi ... contempsi , os demô nios fugiram
confusos. Com isso ela entendeu que quando algué m despreza o mundo
com grande fervor, e lança deles todas as tentaçõ es do Maligno, pelo
amor do Senhor Jesus, o diabo imediatamente foge, temendo tentá -los
novamente, quando ele encontrou resistê ncia tã o vigorosa.

CAPITULO 56
Para a Festa de Todos os Santos.
Das diferentes ordens da Igreja Militante. Como homenagear os Santos com
açõ es de graças, para que possamos participar de seus mé ritos.

NA Festa de Todos os Santos, Santa Gertrudes recebeu algumas


instruçõ es sobre o misté rio da Santı́ssima Trindade, e aprendeu como a
Trindade, que nã o tem começo nem im, e sempre abunda em alegria e
bem-aventurança, concede gló ria eterna e bem-aventurança aos Santos
. Mas a fragilidade humana é tal, que ela nã o soube explicar o que viu no
espelho claro da Divindade, de modo que foi obrigada a explicá -lo por
imagens e comparaçõ es. O Rei da Gló ria apareceu para ela como o Pai
de uma grande famı́lia, que recebia todos os Seus vizinhos, os prı́ncipes
e poderes; de modo que a Igreja Militante e a Igreja Triunfante
pareciam se misturar, e cada um tomava seu lugar de acordo com seu
mé rito - aqueles que viviam vidas sagradas no estado de casados
estavam com os Patriarcas, aqueles que mereciam saber os segredos
Divinos estavam com os Profetas , aqueles que trabalharam para a
instruçã o e edi icaçã o de outros estavam com os santos apó stolos, e
assim por diante. Mas Gertrudes observou que os religiosos que
serviam a Deus na observâ ncia religiosa se juntavam ao coro dos
má rtires; e como estes eram especialmente adornados em cada
membro de seu corpo no qual sofreram por seu Senhor, os religiosos
tinham alguma recompensa especial por cada ato de autocontençã o que
realizaram, seja ao ver, ouvir, saborear, andar ou Falando; e eles tiveram
o mesmo mé rito que os má rtires, e receberam a mesma recompensa no
cé u. Pois como eles nã o tinham perseguidores para derramar seu
sangue, eles se ofereciam diariamente como um holocausto de doçura a
seu Deus por suas contı́nuas morti icaçõ es e restriçõ es.
Na comunhã o, enquanto orava pela Igreja, mas sentia falta de
fervor,154ela orou a Nosso Senhor para lhe dar fervor, se as suas
petiçõ es lhe fossem agradá veis; e imediatamente ela viu uma
variedade de cores: branco, que indicava a pureza das virgens; violeta,
que simbolizava confessores e religiosos; vermelho, que tipi icava os
má rtires; e outras cores, de acordo com os mé ritos dos Santos. Entã o,
como ela temeu se aproximar de Nosso Senhor porque nã o estava
adornada com nenhuma dessas cores, ela foi inspirada pelo Espı́rito
Santo, “que ensina sabedoria ao homem”, para agradecer a Deus por
todos aqueles que foram elevados à graça e estado de
virgindade; implorando a Ele, pelo amor que o fez nascer de uma
Virgem por nó s, que preservasse todos na Igreja a quem Ele havia
concedido esta graça na mais perfeita pureza de corpo e alma, para Sua
pró pria honra e gló ria; e imediatamente ela viu sua alma adornada com
a mesma brancura brilhante das almas das virgens.
Em seguida, ela agradeceu a Deus pela santidade e perfeiçã o dos
confessores e religiosos que o agradaram desde o inı́cio do mundo,
rogando-lhe que levasse a um inal feliz todos os que ainda eram
militantes na Igreja; e imediatamente ela viu sua alma adornada com
violeta; e enquanto ela continuava a orar pelos diferentes estados e
ordens na Igreja, sua alma estava adornada com suas respectivas
virtudes. Ao devolver os mais fervorosos agradecimentos a Deus por
esses favores, ela se viu vestida com um amicto de ouro; e estando
assim maravilhosamente adornado diante de Nosso Senhor, voltou-se
para os santos e exclamou: “Olhai para ela em vestes de ouro, vestidas
com variedades”.155 Entã o, Ele abriu os braços para recebê -la, pois ela
nã o era mais capaz de suportar a torrente de alegrias divinas que
cercava sua alma.
A medida que se aproximava a hora da comunhã o, e suas forças
ainda lhe faltavam, ela disse a Nosso Senhor: “O meu amado, como
posso me levantar para ir a Ti, meu Senhor e meu Deus, neste
Sacramento, quando minhas forças me faltam , e eu nã o pedi a ningué m
para vir me ajudar? ” O Senhor respondeu: “Que necessidade tens de
ajuda humana, quando está s amparado pelo Meu braço divino? Eu te
darei força para se levantar e se aproximar de Mim. ” Entã o ela se
levantou, sustentada pela graça divina; e embora ela nã o tivesse sido
capaz de andar sem ajuda por muito tempo antes, ela foi na força do
Senhor para receber Seu Corpo, e assim se tornou um espı́rito com Ele.

CAPITULO 57
Para a festa de Santa Isabel.
Como é agradá vel para os santos que devemos louvar a Deus por sua causa.

NA Festa de Santa Isabel,156enquanto as palavras Eia mater nos


agnosce eram entoadas, Gertrude saudou-a com muita devoçã o,
suplicando-lhe que se lembrasse dela, embora indigno. Entã o Santa
Isabel disse-lhe: “Eu te conheço no espelho da luz eterna, onde a
intençã o que tens ao realizar as tuas açõ es brilha com esplendor
maravilhoso”. Santa Gertrudes entã o perguntou: “Minha uniã o com
Deus, durante o Ofı́cio, tornou-a menos agradá vel para você , como eu
pensei menos de você em conseqü ê ncia?” Ela respondeu: “Pelo
contrá rio, aceito-o com in inita gratidã o; e é muito mais agradá vel para
mim do que um concerto de mú sica seria para o mugido de bois. ”

CAPITULO 58
Para a festa de Santa Catarina.
Do mecenato e mé ritos desta Santa.

ENTAO Nosso Senhor explicou as palavras, Non est inventus similis illi , a
Santa Gertrudes, na festa de Santo Agostinho, Ele mostrou-lhe os
mé ritos de muitos Santos e, entre outros, os da gloriosa virgem
Catarina, a quem ela tinha foi singularmente devotada desde a
infâ ncia. Para satisfazer os seus desejos, Nosso Senhor mostrou-lhe esta
Santa sentada em um alto trono, e em estado de grande gló ria e
magni icê ncia, como se nã o houvesse rainha no cé u cuja gló ria se
igualasse à dela. Os cinquenta iló sofos que ela havia conquistado por
sua sabedoria e conhecimento apareceram diante dela, e cada um
segurou um cetro de ouro na mã o, com o qual ele tocou o manto do
Santo, para indicar que sua sabedoria teria sido inú til se esta virgem
nã o tivesse ensinado eles como empregá -lo para a honra e gló ria de seu
Criador. Ela observou també m que Nosso Senhor concedeu as mesmas
carı́cias a esta virgem como a Santa Inê s, e que Ele trouxe para o Seu
Coraçã o tudo o que foi dito ou feito em sua honra na terra, coroando-a
gloriosamente.
CAPITULO 59
Para a Dedicação de uma Igreja.
§1. De paciência sob calúnias, de oblação de nossos corações
na angústia e de caridade mútua.

NA Festa da Dedicaçã o da Igreja, enquanto cantavam essas palavras nas


matinas, Regina Saba venit , etc., com as palavras Cum gemmis
virtutum ,157ela disse a Deus, com grande compaixã o: "Ai, Senhor muito
bondoso, como irei a Ti, visto que nã o estou adornada nem com a
menor vestimenta de virtude?" Ele respondeu: "Você nã o sabe que à s
vezes se irrita com as calú nias que se dizem de você ?" "Ai, Senhor", ela
respondeu "meus pecados neste assunto sã o muitas vezes uma pedra
de tropeço para o meu vizinho!" Ele respondeu: “Faça de cada uma
dessas palavras que te incomodam um ornamento de virtude, e entã o
venha a Mim, e serei movido pela Minha bondade e te receberei com
amor; quanto mais você for culpado, mais Meu Coraçã o se inclinará
para você , pois assim você se tornará mais como Eu; pois sofri
contradiçõ es continuamente. ”
Na Resposta Benedic,158Nosso Senhor a introduziu em Seu Coraçã o,
que Ele adornou como uma casa, para que ela pudesse celebrar a
Dedicaçã o nele; mas as grandes delı́cias que ali encontrou a
dominaram tanto, que disse a Nosso Senhor: “Meu Senhor, se me
tivesses permitido entrar mesmo onde Teus pé s estiveram, teria sido
mais do que su iciente para mim; mas que retribuiçã o devo dar a Ti
pelo estupendo favor que Tu agora me concedeste? " Ele respondeu: “A
medida que me dá s o que é mais precioso para ti - a saber, o teu
coraçã o - considero justo dar-te o Meu para deleitares nele; pois eu sou
um Deus para você em todas as coisas, na virtude, na vida e no
conhecimento. ”
Entã o ela disse: “Se o meu coraçã o Te agradou em alguma coisa, foi
pela Tua graça”. Ele respondeu: “Aqueles a quem previno com a doçura
das Minhas bê nçã os, recompenso com bem-aventurança; e se algué m
cooperar com a Minha graça, de acordo com a boa vontade do Meu
Coraçã o, Eu Me conformarei també m com a boa vontade do seu
coraçã o. ”
Nosso Senhor entã o ensinou-lhe a importâ ncia do apoio mú tuo e da
caridade, por meio de uma visã o de pedras preciosas unidas por placas
de ouro: e ela aprendeu que, como as joias eram unidas por ouro,
devemos ajudar e apoiar-nos mutuamente por amor e por uma
intençã o pura.
§2. Da caridade para com os nossos inimigos e da alegria de
Nosso Senhor quando um pecador se converte.
Em outra ocasiã o, na Vigı́lia da Dedicaçã o, Santa Gertrudes se
apresentou diante de Deus, que é o Rei dos reis, como outra Ester,
ricamente adornada, para pleitear por seu povo - isto é , pela Igreja - e
foi recebida pelo verdadeiro Assuero, com tã o terna caridade, que a
admitiu no santuá rio de Seu doce Coraçã o, dizendo-lhe: “Eis que te dou
toda a doçura de Meu Divino Coraçã o, para que a derrames
abundantemente sobre quem quer que seja. vai." Entã o ela derramou
abundantes graças sobre alguns inimigos que haviam molestado o
convento159pouco tempo antes; e assim que ela fez isso, ela percebeu
que todos aqueles sobre os quais até mesmo a menor gota havia caı́do,
se arrependeram de suas faltas e foram movidos ao verdadeiro
remorso e desejo de penitê ncia. Entã o, ao orar por outra pessoa, e
inspirar-se amplamente no Coraçã o de Jesus por ela, ela percebeu que a
graça derramada sobre ele foi imediatamente convertida em fel. Como
ela icou muito surpresa com isso, Nosso Senhor deu-lhe a seguinte
instruçã o: “Quando um homem dá dinheiro aos seus amigos, eles tê m a
liberdade de comprar o que quiserem com ele; e daqueles que desejam
comprar maçã s,160alguns podem preferir os azedos aos doces, pois os
primeiros durariam mais tempo. O mesmo ocorre com os Meus eleitos
- quando eu concedo Minha graça sobre eles, ela opera neles da
maneira que mais os bene iciará . Por exemplo: é melhor para algumas
pessoas ter problemas nesta vida do que consolos; entã o, quando eu
derramo Minha graça sobre eles, aumenta suas provaçõ es e a liçõ es,
pelas quais eles recebem mais e mais graça, de acordo com o bom
prazer de Meu Divino Coraçã o; e a consolaçã o de que gozarã o no futuro
está oculta deles agora, para que possam sofrer mais puramente por
Meu amor. ”
Como o Santo ouviu as Matinas, no Response Vidi
civitatem ,161Nosso Senhor a lembrou de certas palavras que ela
freqü entemente usava para induzir outros a ter mais con iança em
Deus; e Ele disse a ela: “Saiba e tenha certeza de que sempre ico feliz
quando uma alma se arrepende de suas faltas e resolve, por Minha
graça, nã o cometê -las novamente”. Ao dizer isso, o Filho de Deus subiu
ao trono de Seu Pai e entoou a Resposta Vidi civitatem com voz alta e
sonora. Com isso ela entendeu que o Coraçã o de Jesus é movido pela
mais inefá vel ternura quando uma alma se arrepende das
perambulaçõ es, das palavras ociosas ou das obras inú teis pelas quais
se afastou de seu Deus - que, por tantos favores repetidos, impede [vai
antes] e o segue - e implora sinceramente para evitar uma recaı́da para
o futuro; e sempre que ele cai, com freqü ê ncia o Filho de Deus entoa as
mesmas palavras com alegria inefá vel. Com isso ela entendeu que todo
aquele que se propõ e com sincera compunçã o a reformar sua vida e se
dedicar à s boas obras, realmente se tornará o taberná culo de Deus, no
qual Sua Divina Majestade, que é bendita para sempre, habitará como
Esposa com Sua amada .
Deus Pai deu-lhe entã o a sua bê nçã o, dizendo: Ecce nova facio
omnia (“Eis que faço novas todas as coisas”), signi icando assim, que
por compunçã o e a bê nçã o divina, unida à vida santa do Filho de Deus,
a alma iel foi perfeitamente renovada onde quer que ela tenha sido
de iciente; e, portanto, há alegria diante dos anjos por cada pecador
que se arrepende, mais do que pelos noventa e nove que nã o
precisavam de arrependimento, pois a in inita bondade de Deus se
deleita em ver uma alma verdadeiramente penitente. Nosso Senhor
acrescentou: “Quando conduzo uma alma desta vida por um caminho
maravilhoso para os palá cios do cé u, canto este câ ntico para ela, entre
as outras alegrias com as quais a consolo: 'Eu vi a cidade santa, a nova
Jerusalé m, ascendente162da Terra'; e por estas palavras renovo em sua
alma todas as alegrias que eu e toda a corte celestial tivemos, sempre
que ela estava sinceramente arrependida de suas quedas. ”
CAPITULO 60
Para a dedicação de uma capela.
Da presença e graça de Deus nos lugares santos. E como os anjos suprem
nossa obrigaçã o de louvar a Deus.

UMA

T A consagraçã o da igreja, conforme a Resposta Vidi civitatem163era


cantado nas Matinas, Nosso Senhor apareceu a Santa Gertrudes,
vestido de ponti iciais, e entronizado perto do altar, como se este fosse
o lugar que Ele tinha prazer em habitar. Ao contemplar isso e
considerar quã o longe Nosso Senhor estava do lugar onde ela orava, ela
desejou ardentemente aproximá -lo de si; mas Ele disse: “Visto que
encho o cé u e a terra, por que nã o posso encher esta casa? Nã o sabes
que é melhor vigiar o lugar onde a lecha cai do que onde o arco está
dobrado? E saiba que eu nã o ajo mais efetivamente onde eu apareço
corporalmente, mas sim onde Meu tesouro está , e onde o Olho de
Minha Divindade encontra prazer. ” Em seguida, tocou o altar como se
estivesse perto Dele, dizendo: “Quem buscar a Minha graça me achará
nos meus favores; e quem busca ielmente o meu amor, sentir-me-á em
doçura interior ”. Com estas palavras ela compreendeu a grande
diferença entre quem se empenha em obter a saú de do corpo e mesmo
da alma, segundo a sua pró pria vontade, e quem se entrega com plena
con iança à Providê ncia Divina.
Como as palavras Domus mea164repetidas na missa, Nosso Senhor
tocou o coraçã o de Gertrudes com a mã o direita e exclamou, como se
estivesse profundamente comovido: “Eu concederei tudo o que me
pedirdes”; ao mesmo tempo, estendendo a sua mã o para o centro da
igreja, como se para indicar que Ele estaria sempre lá , e pronto para
conceder os favores que lhe foram pedidos. Enquanto o
Antiphon Fundamenta templi ejus ["os alicerces de Seu Templo"] era
entoado no Benedictus durante a semana, espı́ritos angelicais
apareciam ao redor das paredes, como se tivessem sido encarregados
de guardar a igreja e repelir os ataques de todos os inimigos . Suas asas
douradas se tocaram e emitiram uma melodia primorosa. Ela observou
també m que cada um descia por sua vez de cima para baixo, para
mostrar com que vigilâ ncia eles guardavam seus concidadã os e os
preservavam de todo mal.
Na Festa da Dedicaçã o, estando Santa Gertrudes con inada à cama,
ela re letiu sobre o favor especial que Nosso Senhor lhe havia
concedido nas Matinas, no ano anterior, dizendo-lhe que os nove coros
de Anjos haviam feito açõ es de graças por ela, que sua enfermidade a
impediu de fazer ela mesma. Entã o ela viu um rio de á gua pura e
cintilante luindo pelo cé u, no qual a gló ria de Deus brilhou como o sol
nascente brilha vermelho sobre o oceano; e quando suas pequenas
ondas quebraram e brilharam, parecia que mil só is estavam brilhando
no cé u. Este rio signi icava a graça da devoçã o que ela entã o desfrutava
pelo favor divino, e as pequenas ondas signi icavam os pensamentos
que ela se referia a Deus.
Entã o o Rei da Gló ria mergulhou um cá lice neste rio e, depois de
enchê -lo, deu a beber a todos os santos; e à medida que cada um
obtinha assim novos prazeres, irrompiam em louvores e açõ es de
graças por todas as graças que Deus conferira a esta alma. Ela també m
viu um pequeno tubo que saı́a do fundo do cá lice para todos aqueles
que ela havia inclinado a servir a Deus com grande fervor, ou que foram
recomendados para suas oraçõ es: e eles receberam grande consolaçã o
por isso. Entã o ela disse a Nosso Senhor: “Que proveito terã o essas
pessoas com o que tenho visto e ouvido, se nã o as viram nem
ouviram?” Ele respondeu: “Nã o é muito vantajoso para o chefe de uma
famı́lia ter suas adegas bem abastecidas de vinho, embora ele nã o o
beba constantemente? Nã o é su iciente para ele poder participar dela
sempre que desejar? Assim, quando eu derramo graças, em resposta à s
oraçõ es de Meus eleitos, eles nã o sentem devoçã o imediatamente; mas
vou permitir que experimentem essa doçura sempre que eu considerar
conveniente para eles. ”
CAPITULO 61
De uma visã o maravilhosa, em que o Santo contemplou Nosso Senhor
celebrando a Missa.

N GAUDETE Domingo, como Santa Gertrudes se preparava para


comunicar na primeira Missa, que dá inı́cio a Rorate , queixou-se a
Nosso Senhor de que nã o podia ouvir a Missa; mas Nosso Senhor, que
tem compaixã o dos a litos, consolou-a, dizendo: “Queres, minha amada,
que eu celebre missa por ti?” Entã o, icando repentinamente arrebatada
em espı́rito, ela respondeu: “Eu o desejo, ó amado de minha alma; e eu
imploro muito ardentemente que me conceda este favor. ” Nosso
Senhor entoou entã o a Gaudete em Domino sempre , com um coro de
santos, para incitar esta alma a louvar e alegrar-se Nele; e quando Ele se
sentou em Seu trono real, Santa Gertrudes lançou-se a Seus pé s e os
abraçou. Entã o Ele cantou o Kyrie eleison , em uma voz clara e alta,
enquanto dois dos prı́ncipes do coro dos Tronos pegavam sua alma e a
traziam diante de Deus Pai, onde ela permanecia prostrada.
No primeiro Kyrie eleison , Ele concedeu-lhe a remissã o de todos os
pecados que ela havia contraı́do por causa da fragilidade
humana; depois disso, os Anjos a colocaram de joelhos. Na segunda, Ele
perdoou seus pecados de ignorâ ncia; e ela foi levantada por esses
prı́ncipes, de modo que estava diante de Deus. Em seguida, dois Anjos
do coro dos Querubins a conduziram ao Filho de Deus, que a recebeu
com grande ternura. Na primeira Christe eleison , a Santa ofereceu a
Nosso Senhor toda a doçura do afeto humano, devolvendo-a a Ele como
sua Fonte; e assim houve um in luxo maravilhoso de Deus em sua alma,
e de sua alma em Deus, de modo que pelas notas descendentes as
delı́cias inefá veis do Divino Coraçã o luı́ram para ela, e pelas notas
ascendentes as alegrias de sua alma luı́ram de volta para Deus. Na
segunda Christe eleison , ela experimentou as delı́cias mais inefá veis,
que ela ofereceu a Nosso Senhor. Na terceira Christe eleison , o Filho de
Deus estendeu as mã os e concedeu a ela todos os frutos de sua
santı́ssima vida e conversaçã o.
Dois anjos do coro de Sera ins a apresentaram entã o ao Espı́rito
Santo, que penetrou os trê s poderes de sua alma. No primeiro Kyrie
eleison , Ele iluminou sua razã o com a gloriosa luz do conhecimento
Divino, para que ela sempre conhecesse Sua Vontade perfeitamente. No
segundo Kyrie eleison , Ele fortaleceu o irascı́vel165parte de sua alma
para resistir a todas as maquinaçõ es de seus inimigos e para vencer
todo mal. Na ú ltima Kyrie eleison , Ele in lamou o amor dela, para que
ela pudesse amar a Deus com todo o seu coraçã o, com toda a sua alma
e com todas as suas forças. Foi por esta razã o que o coro dos Sera ins,
que é a ordem mais alta das Hostes celestiais, a apresentou ao Espı́rito
Santo, que é a Terceira Pessoa da Santı́ssima Trindade, e que os Tronos
a apresentaram a Deus Pai, manifestando166 que o Pai, o Filho e o
Espı́rito Santo sã o Um Deus, iguais em gló ria, co-eternos em
majestade, vivendo e reinando na Trindade perfeita por eras in initas.
O Filho de Deus ergueu-se entã o do trono real e, voltando-se para
Deus Pai, entoou a Glória in excelsis com voz clara e sonora. Com a
palavra Gloria , Ele exaltou a imensa e incompreensı́vel onipotê ncia de
Deus Pai; nas palavras in excelsis , Ele elogiou Sua profunda
sabedoria; na Deo , Ele honrou167a inestimá vel e indescritı́vel doçura
do Espı́rito Santo. Toda a corte celestial continuou entã o com a voz
mais harmoniosa, Et in terra pax bonae voluntatis . Nosso Senhor
estando novamente sentado em Seu trono, Santa Gertrudes sentou-se a
Seus pé s meditando sobre sua pró pria abjeçã o, quando Ele se inclinou
para ela com amor. Entã o ela se levantou e icou diante Dele, enquanto
o esplendor Divino iluminava todo o seu ser. Dois anjos do coro dos
tronos trouxeram entã o um trono magni icamente adornado, que
colocaram diante de Nosso Senhor; dois prı́ncipes do coro de Sera ins
colocaram Gertrudes nela e a apoiaram de cada lado, enquanto dois
membros do coro de Querubins estavam diante dela carregando tochas
brilhantes; e assim ela permaneceu diante de seu Amado, vestida de
pú rpura real. Quando as hostes celestiais chegaram à s palavras, Domine
Deus Rex caelestis , eles pararam, e o Filho de Deus continuou sozinho
cantando para a honra e gló ria de Seu Pai.
No inal da Gloria in excelsis , o Senhor Jesus, que é o nosso
verdadeiro Sumo Sacerdote e Pontı́ ice, dirigiu-se a Santa Gertrudes,
dizendo: Dominus vobiscum, dilecta - “O Senhor esteja convosco,
amada”; e ela respondeu: “ Et spiritus meus tecum, praedilecta ” - “E que
o meu espı́rito esteja contigo, ó meu bem-amado.” Depois disso, ela se
inclinou para o Senhor, para retribuir a Ele graças por Seu amor em
unir seu espı́rito à Sua Divindade, cujas delı́cias estã o com os ilhos dos
homens. O Senhor entã o leu a Coleta, Deus, qui hanc sacratissimam
noctem ,168que concluiu com as palavras, Per Jesum Christum ilium
tuum , como que dando graças a Deus Pai por iluminar a alma de
Gertrudes, cuja indignidade169era indicada pela palavra noctem (noite),
que era chamada de santı́ssima, porque ela havia se tornado
maravilhosamente enobrecida pelo conhecimento de sua pró pria
baixeza.
Sã o Joã o Evangelista entã o se levantou e se colocou entre Deus e
sua alma. Ele estava adornado com uma vestimenta amarela, que
estava coberta com á guias douradas. Ele começou a Epı́stola, Haec est
sponsa , e a corte celestial concluiu, Ipsi gloria in saecula . Entã o todos
cantaram a Gradual Specia tua ,170adicionando o Versicle Audi ilia et
vide . Depois disso, eles começaram o Aleluia . Sã o Paulo, o grande
Doutor da Igreja, apontou para Santa Gertrudes, dizendo: Aemulor enim
vos171- “Porque tenho ciú me de ti” ( 2 Cor . 11: 2); e o coro celestial
cantou a prosa Filiae Sion exultent . Diante dessas palavras, Dum non
consentiret , Santa Gertrudes lembrou-se de que fora um pouco
negligente em resistir à s tentaçõ es e escondeu o rosto de
vergonha; mas Nosso Senhor, que nã o suportou ver a confusã o de Sua
casta rainha, cobriu sua negligê ncia com uma coleira de ouro, de modo
que ela parecia ter obtido uma vitó ria gloriosa sobre todos os seus
inimigos.
Em seguida, outro evangelista começou o Evangelho Exultavit
Dominus Jesus ; e essas palavras comoveram o Coraçã o de Jesus tã o
profundamente, que Ele se levantou e, estendendo as mã os, exclamou
em voz alta: Con iteor tibi Patre ,172manifestando a mesma açã o de
graças e gratidã o a Seu Pai, como Ele fez quando disse as mesmas
palavras na terra, dando especial agradecimento pelas graças
concedidas a esta alma. Depois do Evangelho, Ele desejou que
Gertrudes izesse uma pro issã o de fé pú blica, recitando o Credo em
nome de toda a Igreja. Quando ela concluiu, o coro entoou o
Ofertó rio, Domine Deus in simplicitate ,
acrescentando: Sancti icavit173 Moyse s. O Coraçã o de Jesus apareceu
entã o como um altar de ouro, que brilhou com um esplendor
maravilhoso, no qual os Anjos guardiã es ofereciam as boas obras e as
oraçõ es das pessoas con iadas aos seus cuidados. Os santos entã o se
aproximaram; e cada um ofereceu seus mé ritos para o eterno louvor de
Deus e para a salvaçã o de Santa Gertrudes. Os prı́ncipes angelicais, que
estavam encarregados da Santa, em seguida se aproximaram e
ofereceram um cá lice de ouro, que continha todas as provaçõ es e
a liçõ es que ela suportou em corpo ou alma desde a infâ ncia; e o
Senhor abençoou o cá lice com o sinal da cruz, como o sacerdote o
abençoa antes da consagraçã o.174
Ele entã o entoou as palavras Sursum corda . Entã o, todos os santos
foram convocados a se apresentar e colocaram seus coraçõ es, na forma
de tubos de ouro, no altar de ouro do Coraçã o Divino; e das
transbordamentos deste cá lice, que Nosso Senhor havia consagrado
com a sua bê nçã o, receberam algumas gotas para aumentar o seu
mé rito, gló ria e bem-aventurança eterna.
O Filho de Deus entã o cantou o Gratius Agimus , para a gló ria e
honra de Seu Pai Eterno. No Prefá cio, Ele permaneceu em silê ncio por
uma hora apó s as palavras Per Jesum Christum , enquanto as hostes
celestiais cantavam o Dominum nostrum com jú bilo inefá vel, declarando
que Ele era o Criador, Redentor e o Liberal Recompensador de todas as
suas boas obras; e que somente Ele era digno de honra e gló ria, louvor e
exaltaçã o, poder e domı́nio, de e sobre todas as criaturas. Ao ouvir as
palavras Laudant angeli , todos os espı́ritos angelicais correram de um
lado para o outro, estimulando os habitantes celestiais a cantar os
louvores divinos. Ao ouvir as palavras Adorant Dominationes , o coro
das Dominações se ajoelhou para adorar Nosso Senhor, declarando que
somente a Ele todo joelho deveria se dobrar, seja no Cé u, na Terra ou
sob a Terra. Nos Potestates Tremunt , os Poderes prostraram-se diante
Dele para declarar que somente Ele deveria ser adorado; e no Caeli,
caelorumque , louvavam a Deus com todos os coros de anjo.
Entã o, todas as hostes celestiais cantaram juntas em concerto
harmonioso o Cum quibus et nostras ; e a Virgem Maria, a
resplandecente Rosa do Cé u, que é abençoada acima de todas as
criaturas, cantou o Sanctus, sanctus, sanctus , exaltando com a mais alta
gratidã o por essas trê s palavras a onipotê ncia incompreensı́vel, a
sabedoria inescrutá vel e a bondade inefá vel, do Eterno - Trindade
Abençoada, incitando todos os coros celestiais a louvar a Deus por tê -la
feito mais poderosa depois do Pai, mais sá bia depois do Filho e mais
benigna depois do Espı́rito Santo. Os Santos entã o continuaram
a Domine Deus Sabaoth . Quando isso acabou, Gertrudes viu Nosso
Senhor levantar-se de Seu trono real e apresentar Seu bendito Coraçã o
a Seu Pai, elevando-o com Suas pró prias mã os e imolando-o de maneira
inefá vel por toda a Igreja. Nesse momento tocou a campainha da
Elevaçã o da Hó stia na igreja, de modo que parecia que Nosso Senhor
fazia no cé u o que o sacerdote fazia na terra; mas o santo ignorava
totalmente o que se passava na igreja, nem que horas eram. Enquanto
ela continuava maravilhada com tantas maravilhas, Nosso Senhor
disse-lhe para recitar o Pater noster . Quando ela terminou, Ele aceitou
dela, e concedeu a todos os Santos e Anjos, por amor dela, que, por
este Pater noster , eles deveriam realizar tudo o que já havia sido
realizado para a salvaçã o da Igreja e para as almas no Purgató rio. Em
seguida, sugeriu-lhe que rezasse pela Igreja, o que ela fez, por todos em
geral e por cada um em particular, com o maior fervor; e o Senhor uniu
sua oraçã o à quelas que Ele se ofereceu quando na carne, para serem
aplicadas à Igreja Universal.
Entã o ela exclamou: "Mas, Senhor, quando devo comunicar?" E
Nosso Senhor se comunicou a ela com um amor e uma ternura que
nenhuma lı́ngua humana poderia descrever; para que ela recebesse o
fruto perfeito do Seu Corpo e Sangue preciosı́ssimo. Depois disso, Ele
cantou um câ ntico de amor por ela e declarou-lhe que, se essa uniã o de
Si mesmo com ela fosse o ú nico fruto de Seu trabalho, dores e Paixã o,
Ele teria icado totalmente satisfeito. O inestimá vel doçura da divina
condescendê ncia, que tanto se deleita nos coraçõ es humanos, que
considera sua uniã o com eles um retorno su iciente para toda a
amargura de sua paixã o! E, no entanto, o que nã o deverı́amos a Ele se
Ele tivesse derramado apenas uma gota de Seu Sangue Precioso por
nó s!
Nosso Senhor entã o cantou Gaudete justi , e todos os santos se
alegraram com Gertrudes. Entã o Nosso Senhor disse, em nome da
Igreja Militante, Refecti cibo ,175etc .; Ele entã o saudou todos os santos
com amor, dizendo: Dominus vobiscum , e assim aumentou a gló ria e a
alegria de todos os Bem-aventurados. Os Santos e Anjos entã o
cantaram, para a Missa est, Te decet laus et honor Domine , para a gló ria
e louvor da refulgente e sempre pacı́ ica Trindade. O Filho de Deus
estendeu a mã o ré gia e abençoou o Santo, dizendo: “Abençoo-te, ó ilha
da luz eterna, com esta bê nçã o especial, concedendo-te este favor, que
sempre que desejares fazer o bem a algué m por particular afecto, eles
serã o tã o bene iciados acima dos outros quanto Isaque estava acima
de Esaú quando recebeu a bê nçã o de seu pai. ”
Entã o a Santa se recuperou de seu ê xtase e permaneceu mais
intimamente unida do que nunca ao seu Amado.

PARTE CINCO
As revelaçõ es de Santa Gertrudes
Compilado pelas religiosas de seu mosteiro

CAPITULO 1
Como Sã o Mechtilde se preparou para a morte e recebeu a Extrema Unçã o.

C
HEN Dame1Mechtilde, de feliz memó ria, nossa capela, cheia de boas
obras, ou melhor, cheia de Deus, foi con inada ao leito em sua ú ltima
enfermidade, cerca de um mê s antes de sua morte, começou a pensar
no seu im e a re letir sobre algumas obras que ela havia escrito. Mas no
domingo, como uma pessoa orou por ela, pedindo que ela tivesse a
graça de uma morte feliz, sob a proteçã o da misericó rdia divina, para
que ela se entregasse a ela com humilde con iança ao receber o Corpo e
Sangue de Cristo. , ela sabia em espı́rito que Deus havia atraı́do essa
alma inteiramente para Si, e que Ele a havia restaurado apenas por um
breve espaço, para que pudesse habitar novamente nela. Entã o ela
disse ao Senhor: “Senhor, por que queres que ela continue na
terra?” Ele respondeu: “E para aperfeiçoar a obra que Minha
dispensaçã o Divina decretou; e ela contribuirá para isso de trê s
maneiras: pelo repouso da humildade, a mesa2 de paciê ncia e a
alegria3de virtude. Por exemplo: em tudo o que vê ou ouve dos outros,
humilhe-se sempre e se considere a mais indigna de todas. Assim, vou
me alegrar com o repouso de seu coraçã o e alma. Em segundo lugar:
que ela abrace a paciê ncia com alegria e sofra todas as suas provaçõ es
e doenças de boa vontade, por amor a Mim; assim ela me preparará
uma mesa de delı́cias suntuosas. Em terceiro lugar: ela Me oferecerá
um espetá culo de alegria se se exercitar em todo tipo de virtude ”.
Em outra ocasiã o, quando Sã o Mechtilde estava pronto para se
comunicar, esta pessoa perguntou a Nosso Senhor o que Ele estava
prestes a fazer nela. Ele respondeu: “Vou repousar com ela neste
sofá ”. Com isso ela entendeu que o leito em que Nosso Senhor
repousava com ela era a sua con iança perfeita, em todas as suas
a liçõ es, que Deus ordenaria a todos os que a concerniam com o maior
amor e misericó rdia para o avanço da sua salvaçã o; para que Lhe
oferecesse continuamente açõ es de graças, con iando inteiramente em
sua Providê ncia.
Quando ela estava perto do im, uma noite no tempo de Vesper, ela
foi subitamente tomada por uma dor tã o terrı́vel no coraçã o que as
irmã s que estavam ao seu redor nã o conseguiram conter as
lá grimas; mas ela os consolou, dizendo: “Nã o chorem por mim, meus
amados; pois estou tã o comovido com sua dor, que se fosse a Vontade
de meu querido Senhor, eu suportaria de bom grado essa mesma dor
por toda a minha vida, se eu pudesse assim obter consolo para você . ”
Em outra ocasiã o, quando a instaram a tomar algum remé dio que
esperavam que lhe desse algum alı́vio, ela cedeu ao pedido; mas
imediatamente depois seus sofrimentos aumentaram muito. No dia
seguinte, a pessoa antes mencionada rogou a Nosso Senhor que
recompensasse a sua humilde obediê ncia. Ele respondeu: “Do
sofrimento que Meu amado suportou naquela ocasiã o, confeccionei o
mais salutar remé dio, que usei para puri icar as almas de todos os
pecadores em todo o mundo”.
No domingo, Si iniquita ,4a Santa comunicou-se pela ú ltima vez
antes de sua morte; e essa pessoa orou para que pudesse ser inspirada
a se preparar para a Extrema Unçã o, e que Nosso Senhor guardasse sua
alma em Seu seio, para preservá -la de toda mancha, como um artista
cobre um quadro recé m-pintado para que nã o contraia poeira. Quando
ela disse isso a Sã o Mechtilde, que sempre foi perfeitamente submisso
aos seus superiores, ela se comprometeu humildemente com seu bom
prazer e com a Providê ncia Divina, que ela esperava nunca a
abandonaria. No entanto, a sua superiora tinha por ela tal veneraçã o,
que acreditou que Nosso Senhor lhe faria saber a hora da sua morte; e
como ela nã o pediu fervorosamente para receber este sacramento, ele
nã o foi administrado naquele dia.
Mas Nosso Senhor logo veri icou as palavras do Evangelho: “O cé u e
a terra passarã o, mas as minhas palavras nã o hã o de passar”
( Mt 24:35); e ele falhou em nã o cumprir o que havia prometido ao Seu
escolhido. Para na segunda-feira5A bem-aventurada Mechtilde icou
tã o doente, pouco antes das Matinas, que tememos que ela tivesse
caı́do em agonia, de modo que os sacerdotes foram imediatamente
chamados e ela recebeu a Extrema Unçã o. Assim, embora o Sacramento
nã o fosse administrado no domingo, ele era administrado na noite
daquele dia, pois ela o recebia antes do nascer do sol na segunda-feira.
Quando os olhos dela foram ungidos pelo sacerdote, a religiosa que
orou por ela compreendeu que nosso amado Senhor a olhou com
misericó rdia divina e, com um coraçã o cheio de ternura para com ela,
irradiou um raio de sua luz divina em sua alma. , transmitindo a ela, ao
mesmo tempo, uma participaçã o nos mé ritos que Ele havia obtido
quando na terra pelos olhares de Seus santos Olhos; e entã o ela viu os
olhos da Santa, como se transbordando com o ó leo da compaixã o
divina. Com isso ela entendeu que quem invocasse esta Santa com
con iança sentiria uma prova abundante da e icá cia de sua
intercessã o; e que ela havia merecido esse favor de Deus por sua
conduta gentil e amorosa para com os outros. Quando os outros
membros do corpo dela foram ungidos, Nosso Senhor aplicou os
mé ritos daquelas partes do Seu corpo mais sagrado també m a
ela. Quando seus lá bios foram ungidos, este amante zeloso6 de nossas
almas a honraram com marcas do mais terno amor, comunicando-lhe o
fruto de Seus santı́ssimos lá bios.
Quando as Litanias foram ditas, nas palavras Omnes sancti Seraphim
et Cherubim, orate pro ea ,7ela viu as hostes de Sera ins e Querubins
abrindo caminho para que sua alma passasse por suas ileiras, como se
para dar precedê ncia a algué m que havia levado uma vida tã o pura e
virginal na terra; que, como os Querubins, extraı́ram conhecimento
espiritual tã o copiosamente da verdadeira Fonte de toda a sabedoria; e,
como os Sera ins, foi aceso por Aquele que é um fogo consumidor
(cf. Hb 12:29).
Como os santos foram nomeados na Ladainha, eles ofereceram seus
mé ritos por ela com grande alegria, sob a forma de presentes, que
apresentaram a Nosso Senhor, que os colocou em Seu seio para Sua
amada. Por dois dias depois de ter recebido a Extrema Unçã o, ela
parecia viver apenas pela uniã o com seu Senhor, e receber todas as
graças de Seu Divino Coraçã o. Mas o momento feliz de sua partida
estava pró ximo, e na quarta-feira, que era a Vigı́lia de Santa Isabel, ela
caiu em agonia, depois de Nada. A comunidade, tendo se reunido para
ajudar sua amada irmã em Cristo com suas oraçõ es fervorosas por sua
feliz passagem para a eternidade, a pessoa antes mencionada viu sua
alma sob a forma de uma bela jovem, que colocou seus lá bios na Ferida
do lado de Nosso Senhor. , e tirou daı́ correntes de graça para toda a
Igreja, e especialmente para aqueles que estavam presentes. E ela
entendeu que tinha orado especialmente pelos vivos e pelos mortos e,
portanto, Nosso Senhor tinha concedido tantos favores a ela.
Quando recitaram o Salve Regina , com as palavras Eia ergo , Santa
Mechtilde rezou muito fervorosamente à Santı́ssima Virgem pelas
amadas irmã s que ela estava para partir, suplicando-lhe que tivesse um
cuidado especial por elas, como se ela, que durante sua vida tinha sido
tã o devotada à sua comunidade, tã o terna, prestativa e amorosa, que
desejava assegurar um advogado para eles depois de sua morte na
pessoa da Mã e da Misericó rdia. E esta bendita Rainha pegou na mã o da
religiosa moribunda, como se ela aceitasse dela o comando da
comunidade. Entã o, enquanto liam a oraçã o Ave Jesu Christe , nas
palavras via dulcis , ela viu o Senhor Jesus mostrando à Sua amada
esposa o caminho pelo qual Ele se propô s a atraı́-la docemente a Si
mesmo.
A Santa continuou o dia todo em agonia, sem dizer mais nada alé m
dessas, osso de Jesus! Jesu bone! como se para mostrar como Ele
habitava em seu coraçã o, visto que Seu doce Nome estava tã o
constantemente em seus lá bios nas agonias da morte. Entã o, enquanto
cada uma das irmã s se recomendava à s suas oraçõ es, suplicando-lhe
que intercedesse junto a Deus por suas necessidades, ela
imediatamente respondeu: "De boa vontade", embora mal conseguisse
falar, como se dissesse com que amor oraria por aqueles que estavam
comprometidos com seus cuidados. Santa Gertrudes sabia també m que
os grandes sofrimentos que sua irmã suportara com tanta paciê ncia
haviam contribuı́do muito para sua santi icaçã o; e ela viu um certo
vapor saindo das partes de seu corpo que mais sofreram; e isso tocou
sua alma, puri icando-a de suas manchas, santi icando-a e preparando-
a para a bem-aventurança eterna.
Ora, Gertrudes sabia todas essas coisas em espı́rito, mas temia
declará -las, para que nã o se suspeitasse que ela havia recebido essas
revelaçõ es; mas isso era contrá rio à vontade divina, cuja gló ria é
descobrir a verdade ( Tob. 12:11), e que ordenou aos seus apó stolos
que pregassem no alto das casas o que ouviram ao
ouvido. ( Mat. 10:27). Como disseram as Vé speras de Santa Isabel, a
agonia de Santa Mechtilde aumentou tã o evidentemente, que temeram
que ela estivesse prestes a morrer; as irmã s foram, portanto,
convocadas do coro, para que pudessem redobrar suas oraçõ es ao lado
de sua cama.8Como Santa Gertrudes ajudava com o resto da
comunidade, ela se viu incapaz de compreender ou atender a qualquer
coisa que fosse dita: isso a levou a ver sua falha em esconder o que
Deus havia revelado a ela. Mas quando ela prometeu a Nosso Senhor
tornar conhecidos esses favores para Sua honra e gló ria e para o bem
dos outros, o uso de suas faculdades foi imediatamente restaurado.
Depois das Completas, a freira moribunda entrou em sua terceira e
ú ltima agonia; e Santa Gertrudes foi arrebatada em espı́rito, e viu sua
alma novamente sob a forma de uma jovem, mas com novos
ornamentos, o fruto de sofrimentos renovados. Ela observou també m
que essa alma se aproximou de Nosso Senhor com intenso amor e
começou a separar de Suas feridas - como uma abelha das lores - o
doce mel das delı́cias divinas. Enquanto liam esta Resposta, entre
outras, Ave Sponsa , a Santı́ssima Virgem se aproximou da alma da freira
moribunda para prepará -la para desfrutar as delı́cias da
Divindade. Entã o Nosso Senhor Jesus –– por amor de Sua Mã e
Santı́ssima, a ú nica que merecia ser chamada e ser Virgem e Mã e ––
pegou um colar de maravilhosa beleza, adornado com joias radiantes, e
o colocou sobre o religioso , conferindo-lhe o privilé gio especial de ser
també m chamada de virgem e mã e, pelo fervor e devoçã o com que
conduziu os seus ilhos espirituais.

CAPITULO 2
Da feliz morte de Sã o Mechtilde e sua recompensa no cé u. Dos mé ritos e
intercessã o dos Santos. E como oferecer as Cinco Chagas de Cristo para suprir
nossos defeitos.

HE MATINS de St. Elizabeth já havia começado, quando se tornou


evidente que St. Mechtilde estava prestes a expirar; a comunidade foi,
portanto, convocada novamente do coro para assistir em sua morte
feliz. Nosso Senhor entã o apareceu à Santa moribunda como uma
Esposa radiante de beleza, coroada de honra e gló ria, e disse-lhe
ternamente: “Agora, minha amada, vou honrá -la perante os seus
vizinhos, isto é , perante esta congregaçã o, que é tã o querido para mim.
” Entã o Ele saudou sua alma de maneira inefá vel por cada uma de Suas
Chagas, de modo que cada uma a saudou de quatro maneiras
diferentes: a saber, por uma harmonia meló dica, por um vapor e icaz,
por um orvalho fecundo e por uma luz maravilhosa. Assim, Nosso
Senhor chamou o seu eleito para si: a harmonia primorosa indicava
todas as palavras de amor que ela dirigiu a Deus, ou proferiu para o
benefı́cio de outros; e essas palavras foram extremamente fruti icadas
ao passar pelo Divino Coraçã o. O vapor signi icava todos os seus
desejos para a gló ria de Deus ou a salvaçã o de seu pró ximo; e esses
desejos foram maravilhosamente aumentados ao passarmos pelas
feridas de Jesus. O orvalho que derramava tã o abundantemente
representava o amor que ela tinha por Deus, ou por qualquer criatura
por amor a Ele; e també m foi grandemente aumentado em doçura por
essas feridas sagradas. A luz maravilhosa signi icava todos os
sofrimentos que ela suportou desde a infâ ncia, seja no corpo ou na
mente, que foram enobrecidos alé m de todo o poder humano de
compreensã o pela uniã o com a Paixã o de Cristo; e que sua alma foi
santi icada assim, e impressionada com as marcas da caridade divina.
O desfrute dessas consolaçõ es celestiais restaurou até mesmo a
força corporal da religiosa moribunda, enquanto ela continuava a
aspirar pelas alegrias nas quais logo entraria. Nosso Senhor entã o
derramou uma bê nçã o abundante sobre todos os presentes, dizendo:
“Movido pelo ardor de Meu amor, desejo que cada membro de Minha
amada congregaçã o assista a esta trans iguraçã o e que recebam tanta
honra do abençoados no Paraı́so como Meus escolhidos, Pedro, Tiago e
Joã o, que ajudaram na Minha Trans iguraçã o no Monte, receberam dos
outros Apó stolos. ” Entã o o religioso disse:9“Senhor, que benefı́cio
obterã o dessas graças que nã o as percebem por nenhuma doçura
interior?” Ele respondeu: “Quando um nobre dá um pomar a um amigo,
ele nã o prova imediatamente os frutos, pois deve esperar até que
amadureçam. Assim, quando derramo dons preciosos sobre uma alma,
ela nã o percebe sua doçura até que sejam fruti icados pelo exercı́cio
das virtudes exteriores; mas quando a pele dos prazeres e consolos
terrenos é removida, entã o ela pode saborear o consolo interior. ”
A comunidade agora voltou ao coro para rezar as matinas. Na
dé cima segunda Resposta, ó lampas ,10esta alma apareceu diante da
Santı́ssima Trindade, orando com devoçã o pela Igreja. Entã o Deus Pai
saudou-a com amor com estas palavras: “ Ave, electa mea (Salve, meu
eleito), que, pelo exemplo da tua vida santa, pode verdadeiramente ser
chamada de lâ mpada da Igreja, abundante em azeite - isto é , suas
oraçõ es por todo o mundo. ” Entã o o Filho de Deus se dirigiu a ela
assim: “ Gaude, sponsa mea (Alegrem-se, ó minha esposa), que pode ser
verdadeiramente chamada de medicamento da graça, pois por suas
oraçõ es você obteve a restauraçã o de tantos em Meu favor.” O Espı́rito
Santo acrescentou: “ Ave, imaculata mea (Ave, Minha imaculada), que
pode ser chamada de enfermeira dos ié is, visto que tens alimentado e
nutrido a tantos espiritualmente.”
Depois disso, o Pai Eterno conferiu-lhe, por sua onipotê ncia, a graça
de assistir aqueles que, pela fragilidade humana, descon iavam da
misericó rdia divina, e de fortalecer neles o dom da esperança; o
Espı́rito Santo conferiu a ela o privilé gio de acender o fervor e o amor
em coraçõ es frios e mornos; en im, o Filho de Deus concedeu-lhe, pelo
mé rito da Sua preciosı́ssima Morte e Paixã o, a graça de curar as almas
debilitadas pelo pecado.
Os coros celestiais entoavam entã o, com voz clara e sonora, Tu Dei
saturitas, oliva fructifera, cujus lucet puritas e resplandecente
ópera .11Ao ouvirem as palavras cujus lucet , eles honraram o doce
repouso que Nosso Senhor tinha nela; à s palavras et resplendent ,
elogiaram a intençã o pura que animara todas as suas açõ es; em
conclusã o, todos os santos cantaram o ônibus Antiphon Deus palim .
Durante o Prefá cio da Missa Solene, Nosso Senhor apareceu a Sã o
Mechtilde, atraindo-a para Ele, e dando novas graças e favores à sua
alma, como se para prepará -la para o gozo da bem-aventurança
eterna. Por im, chegou o momento de alegria em que ela passaria aos
eternos abraços de seu Esposo; e o Senhor da Gló ria, que é tã o grande
em Sua majestade e tã o terno em Seu amor, convidou-a a Ele, dizendo:
“Vem, bendita de Meu Pai, possui o reino que está preparado para
ti.” ( Mat. 25:34). Ele a lembrou també m do sinal do favor que Ele havia
conferido a ela alguns anos antes, dando-lhe Seu Coraçã o, ao dizer essas
palavras, para ser seu consolo e proteçã o. Entã o Ele disse: “E onde está
o meu presente?” Em resposta, ela Lhe ofereceu seu coraçã o,
mergulhando-o no Dele; e Nosso Senhor tocou o coraçã o dela com o
seu, absorvendo-a em si e colocando-a na posse da gló ria eterna, onde
esperamos que ela obtenha muitos favores para nó s por sua
intercessã o.
Como as oraçõ es usuais eram recitadas depois de sua morte, Nosso
Senhor apareceu, entronizado em gló ria, e essa alma repousou em Seu
seio. Como as palavras, Subvenite sancti Dei, ocorreram angeli , 12foram
lidos, os Anjos testemunharam sua reverê ncia por aquela que havia
sido assim homenageada por seu Rei; e pareciam adornados pelas
oraçõ es dessa alma, a quem haviam ajudado com suas oraçõ es quando
recebeu a ú ltima unçã o. Os santos també m agiram da mesma maneira.
Em seguida, a religiosa pediu à defunta que orasse por algumas
pessoas por quem ela tinha um interesse especial, para que pudessem
superar seus defeitos. Ela respondeu: “Agora que vejo todas as coisas à
luz da verdade, sei que todo o afeto que nutria por qualquer pessoa
quando no mundo era apenas uma gota no oceano quando comparado
com o amor do Divino Coraçã o por eles. ; e é por uma providê ncia
salutar que Deus permite seus defeitos, para que sejam humilhados por
causa deles. Assim, eles diariamente alcançam maior perfeiçã o; e visto
que sei que esta é a Vontade de Deus para eles, nã o posso desejar e
pedir nada mais por eles, exceto o que Sua sabedoria ordena; e adoro
continuamente esta dispensaçã o e oro para que se cumpra
perfeitamente ”.
No dia seguinte, na Missa Requiem aeternam ,13Sã o Mechtilde
apareceu para colocar pequenos tubos de ouro do Coraçã o de Jesus
para aqueles que tinham uma devoçã o especial por ela, e assim obtinha
para eles do Coraçã o de Deus tudo o que desejassem. Cada tubo tinha
uma chave de ouro, pela qual - isto é , pelas palavras a seguir ou
semelhantes - eles podiam obter o que desejassem: “O bom Jesus, rogo-
te que me ouças, pelos mé ritos e oraçõ es de Sã o Mechtilde e Tua outros
santos, pela misericó rdia que Te dispô s a derramar sobre eles, e sobre
outras almas eleitas, Teus favores e graças ”; e podemos estar certos de
que essas palavras farã o com que a misericó rdia divina atenda aos
nossos desejos.
Na Elevaçã o da Hó stia, esta alma apareceu para se oferecer com Ela
a Deus para Sua gló ria e salvaçã o da humanidade; e o Filho de Deus, que
nada recusa aos Seus eleitos, atraiu-a inteiramente para si e ofereceu-
se com ela a Seu Pai por todos no Cé u, na terra e no Purgató rio. A alma
do defunto apareceu agora em gló ria a esta religiosa, que lhe perguntou
qual a vantagem que ela havia obtido com a recitaçã o da Antiphon Et
quo omnia14tantas vezes quantas viveu dias na terra, e por ter rezado
tantas missas da Santı́ssima Trindade quantos anos viveu, em
agradecimento por todos os favores que lhe foram conferidos. Ela
respondeu: “Nosso Senhor me adornou com uma lor para cada
repetiçã o da Antı́fona, e pela qual atraio para mim a doçura do Divino
Coraçã o; e para cada missa tenho recebido um deleite maravilhoso e
inestimá vel, que atinge todos os sentidos da minha alma. ”
Em outra ocasiã o, quando esta religiosa beijou em espı́rito as Cinco
Feridas de Nosso Senhor, dizendo cinco Pater nosters pelas negligê ncias
que ela poderia ter cometido para com Dame Mechtilde em sua ú ltima
doença, porque temia nã o ter cuidado dela com o devido cuidado em
vida, nem orou por ela com fervor su iciente quando morreu, ela viu
cinco lindas lores brotando das feridas de Nosso Senhor; e pela virtude
que essas feridas comunicaram a eles, eles produziram e derramaram
um bá lsamo doce e salutar. O religioso disse entã o a Sã o Mechtilde: “O
eleitos de meu Deus, aceitem estas lores que a bondade divina
produziu para suprir minhas de iciê ncias; e possam ser para tua gló ria
e servir para adornar teu triunfo; mas nã o se esqueça de orar por mim,
indigno. ” Ela respondeu: “Pre iro deixar estas lores onde estã o, para
nã o ser privada da honra de tê -las colocadas nas feridas de meu
Senhor; pois espero, sempre que os toco com meus desejos, que uma
torrente de cura lua deles, para a salvaçã o dos pecadores e o consolo
dos justos ”.

CAPITULO 3
Da preciosa morte das Irmã s M. e L. Do exato relato feito no Purgató rio de suas
faltas e da recompensa de seus mé ritos.

AS SENHORAS, mais ilustres por sua virtude do que por seu nascimento
distinto - irmã s na carne, mas ainda mais intimamente unidas no
espı́rito por sua igualdade em perfeiçã o - foram chamadas para as
nú pcias celestiais por seu esposo celestial, depois de terem vivido uma
vida santı́ssima desde a infâ ncia. A primeira morreu na gloriosa festa da
Assunçã o, que era també m o dia da sua pro issã o; a outra irmã morreu
trinta dias depois; mas suas mortes foram tã o edi icantes e abençoadas,
que estamos prestes a relatar algumas circunstâ ncias a respeito deles.
Enquanto Gertrudes orava pelo mais velho, que morreu na
Assunçã o, ela apareceu a ela, rodeada por uma luz gloriosa e
magni icamente adornada, de pé diante do trono de Jesus Cristo; mas
ela parecia envergonhada de erguer os olhos para Ele, ou de
contemplar Seu rosto majestoso. Quando a Santa percebeu isso, ela se
compadeceu e disse a Nosso Senhor: “Ai, amoroso Senhor! Por que Tu
permites que ela ique diante de Ti como uma estranha, sem manifestar
nenhum sinal de afeto por ela? " Nosso Senhor entã o estendeu a mã o
para ela, como se para atraı́-la para si; mas ela se afastou dele com
temor reverente.
Enquanto Gertrudes se maravilhava muito com isso, ela disse à
alma: “Por que você foge assim dos abraços de seu esposo?” Ela
respondeu: “Porque ainda nã o estou perfeitamente puri icada de meus
defeitos e nã o estou em condiçõ es de receber Seus favores. Mesmo se a
justiça divina nã o me restringisse, eu me privaria desses favores, dos
quais nã o sou digno ”. Gertrude entã o disse: “Como pode ser isso, se
agora eu te vejo diante de Deus em tamanha gló ria?” A alma respondeu:
“Embora todas as criaturas estejam presentes para Deus, as almas
aproximam-se Dele na proporçã o de sua perfeiçã o na caridade; mas
ningué m é digno desta bem-aventurança se nã o estiver perfeitamente
puri icado de todas as manchas que contraı́ram durante sua vida
mortal. ”
Um mê s depois, quando a segunda irmã estava em agonia, Santa
Gertrudes orou por ela muito fervorosamente. Apó s sua morte, ela
apareceu a ela, rodeada de luz, como uma jovem virgem, vestida com
um manto pú rpura, para que ela pudesse ser apresentada a seu
esposo. Ela també m viu Jesus Cristo, que estava perto dela, e que
causou um certo consolo para proceder de suas feridas, para refrescar e
fortalecer seus cinco sentidos, de modo que a alma foi extremamente
consolada por isso. Santa Gertrudes disse entã o a Nosso Senhor: “Visto
que Tu é s o Deus de toda a consolaçã o, por que permites que esta alma
pareça tã o triste, como se perturbada por alguma dor secreta?” Ele
respondeu; “Eu agora manifesto a ela Minha Humanidade, que nã o a
consola perfeitamente; pois assim recompenso o amor especial que ela
manifestou pela Minha Paixã o nos ú ltimos momentos da sua vida. Mas
quando ela estiver perfeitamente livre de todas as suas manchas,
manifestarei as alegrias da Minha Divindade a ela, e entã o ela terá tudo
o que deseja. ” “Mas, Senhor”, continuou a Santa, “como é que todas as
suas faltas nã o foram perfeitamente puri icadas pela caridade que ela
possuiu no ú ltimo momento de sua vida, visto que a Escritura ensina
que o homem deve ser julgado de acordo com o estado em que ele
morre?" O Senhor respondeu: “Quando um homem perde as forças, nã o
tem mais o poder de executar seus bons desı́gnios, embora tenha
vontade de fazê -lo. Quando, por Minha bondade gratuita, inspiro estes
desejos, e dou esta vontade, nem sempre apago assim as manchas de
negligê ncias passadas, que sem dú vida seriam realizadas se a pessoa
recuperasse a saú de e as forças, e entã o começasse a reformar sua vida
completamente." Ela respondeu: "Ai, Senhor, nã o pode Tua abundante
misericó rdia remir os pecados desta alma, que te amou tã o
ardentemente desde sua infâ ncia?" Ele respondeu: “De fato,
recompensarei abundantemente o amor dela; mas Minha justiça deve
primeiro ser satisfeita removendo suas manchas. ” Nosso Senhor entã o
voltou-se amorosamente para essa alma e disse-lhe: “Minha esposa
consentirá de bom grado no que Minha justiça requer; e quando ela
estiver puri icada, ela desfrutará de Minha gló ria e consolaçã o.
” Quando ela consentiu, Nosso Senhor parecia subir ao cé u e deixá -la
atrá s dEle onde estava; mas ela parecia como se desejasse
ardentemente segui-lo. A solidã o servia para puri icá -la das manchas
que contraı́ra por conversar muito livremente com o outro sexo; e os
esforços que ela fez para ascender a puri icaram de alguns defeitos de
indolê ncia.
Em outra ocasiã o, enquanto Santa Gertrudes rezava pela mesma
pessoa na Missa, ela disse, na Elevaçã o da Hó stia: “Santo Padre, eu
ofereço esta Hó stia a Ti por esta alma da parte de todos no Cé u, na
terra e profundamente"; e ela viu esta alma no ar, rodeada por uma
multidã o de pessoas, que seguravam representaçõ es da Hó stia em suas
mã os, que ofereciam de joelhos dobrados. A alma parecia receber
grande assistê ncia e alegria inestimá vel dessa devoçã o. Entã o a alma
disse: “Agora experimento a verdade do que é dito nas Escrituras, que
nenhuma boa açã o, por mais insigni icante que seja, deixará de ser
recompensada, e que nenhuma negligê ncia, por mais insigni icante que
seja, icará impune;15pois esta oferta do Sacramento do Altar
proporciona o maior consolo para mim, por causa de minha antiga
devoçã o em recebê -lo; e a ardente caridade que tive pelos outros
aumenta grandemente as oraçõ es que sã o feitas por mim; enquanto
por ambas as coisas receberei uma recompensa eterna. ”
A alma entã o apareceu como se elevada cada vez mais alto pelas
oraçõ es da Igreja; e quando sua puri icaçã o foi realizada, a Santa viu
Nosso Senhor vindo para ela para coroá -la como uma rainha, e conduzi-
la à s alegrias eternas.

CAPITULO 4
Como uma desobediê ncia foi expiada por uma doença.
UMA

S GERTRUDE recitou cinco Pater nosters para Dame S –––, a mais velha
da comunidade, que recebeu a Extrema Unçã o, e inalmente terminou
sua oraçã o na Ferida do Lado de Nosso Senhor - ela implorou a Ele para
puri icar esta alma com a á gua que luiu daı́, e para adorná -lo com os
mé ritos de Seu mais precioso sangue. Ela entã o viu essa alma, sob a
forma de uma jovem virgem, coroada com um diadema de ouro, e
amparada por nosso Divino Senhor, que concedeu as graças que ela
havia pedido à sua alma. Ela entendeu com isso que a irmã deve
permanecer mais tempo na terra para ser puri icada de uma
desobediê ncia da qual ela era culpada, ao conversar16mais do que
estava certo com um doente: e isso foi cumprido. Ela sofreu por cinco
meses de uma maneira que manifestou su icientemente a culpa da qual
ela estava sendo puri icada. No dia em que adoeceu, parecia muito
alegre, como se Nosso Senhor lhe tivesse concedido um grande favor; e
ela tentou relatar o que havia acontecido com ela; mas como ela nã o
tinha o uso perfeito de seus sentidos, ela foi incapaz de fazer isso. Mas,
ao ver Gertrude ao seu lado, com algumas das outras religiosas, ela a
chamou pelo nome e disse: “Você fala por mim, pois você sabe
tudo”. Santa Gertrudes começou a relatar o que lhe foi revelado, e a
invá lida pô de entã o continuar a recitar ela mesma. Quando os outros
faziam qualquer observaçã o, ela imediatamente refutava as suas
a irmaçõ es, declarando que Nosso Senhor havia perdoado seus
pecados e concedido muitos favores a ela.
No dia anterior à sua morte, Santa Gertrudes viu Nosso Senhor
preparando um lugar para ela em Seus braços divinos; mas a alma
apareceu à Sua esquerda e separada Dele por uma pequena nuvem. Ela
entã o disse: “Senhor, este lugar que preparaste nã o será adequado para
uma alma coberta por esta nuvem”. Ele respondeu: "Ela icará um pouco
mais na terra, para que possa se tornar apta para isso." E assim foi; pois
a religiosa continuou durante todo aquele dia e na noite seguinte em
sua agonia. Na manhã seguinte, ela viu Nosso Senhor vindo em direçã o
à freira moribunda com sinais da maior ternura; e ela parecia se
levantar, como se fosse encontrá -lo. Entã o Santa Gertrudes disse: “Nã o
vens agora para levar para ti esta alma desolada, como um Pai
misericordioso?” e Nosso Senhor indicou por um sinal que Ele tinha
essa intençã o.
Logo apó s sua morte, ela viu essa alma novamente, sob a forma de
uma jovem virgem, adornada com rosas, e avançando alegremente para
seu esposo; mas quando ela se aproximou Dele, ela caiu a Seus pé s
como se quase privada de vida, até que as palavras Tibi supplicatio
commendet Ecclesiae [“A sú plica da Igreja (a) a recomenda”] foram
repetidas, quando ela se levantou e lançou nos braços divinos, onde é
eternamente reabastecida com os tesouros da bem-aventurança.

CAPITULO 5
Da feliz morte da irmã 17M. A aprovaçã o dessas Revelaçõ es. E os favores
prometidos por seus mé ritos.

UMA

IRMA M., de feliz memó ria, aproximou-se do seu im, Santa Gertrudes
rezou por ela com outras pessoas, e disse ao Senhor: “Por que nã o
ouves as nossas oraçõ es por ela, ó Senhor amoroso?” Ele respondeu: "A
alma dela está em um estado tã o diferente das almas dos outros, que
ela nã o pode ser consolada por você de uma maneira humana." Ela
continuou: "Isso é um julgamento?" Ele respondeu: “Agora tenho o Meu
segredo nela, como antes tinha o Meu segredo com ela”.18Entã o,
enquanto Gertrudes procurava entender essas palavras misteriosas,
Nosso Senhor disse a ela: “Minha majestade se entronizará nela”. "Mas",
ela continuou, "como ela vai morrer?" Ele respondeu: “Ela será
absorvida pela Minha Divindade, como um raio de sol absorve uma
gota de orvalho”. Entã o ela perguntou por que a divagaçã o de seus
sentidos exteriores era permitida. Ele respondeu: "Para que você saiba
que estou trabalhando nela interiormente, nã o exteriormente." Ela
respondeu: “Nossos pró prios coraçõ es devem nos ensinar isso”. Ele
respondeu: “E como podem receber este favor que raramente, ou
nunca, entram em seu interior, onde somente a graça é derramada?”
Depois disso, Gertrudes rogou a Nosso Senhor que concedesse a
graça de fazer milagres à Irmã M. depois de sua morte, para a
con irmaçã o das revelaçõ es que ela havia recebido e para silenciar os
incré dulos. Nosso Senhor respondeu, segurando um livro em Suas
mã os: “Nã o posso ganhar uma vitó ria sem lutar?” Ele acrescentou:
“Quando é necessá rio, subjugarei reis e naçõ es por sinais e
maravilhas; mas agora a experiê ncia daqueles que experimentaram
algo dessas comunicaçõ es celestes é su iciente para obter cré dito por
elas. Por enquanto, eu tolero aqueles que os contradizem; mas,
inalmente, silenciarei suas calú nias ”. Santa Gertrudes aprendeu com
isso que Nosso Senhor está satisfeito com aqueles que acreditam que
Ele derrama as efusõ es de Sua graça, nã o por seu mé rito, mas pelo
amor abundante de Seu Divino Coraçã o.
Enquanto a Irmã M. era ungida, Santa Gertrudes viu Nosso Senhor
tocar sua mã o, dizendo: “Quando esta alma abençoada for libertada das
cadeias da carne, derramarei a abundâ ncia da Minha misericó rdia
sobre todos os presentes”. Enquanto continuava em sua agonia, e os
religiosos oravam por ela com ainda mais fervor, ela sabia que Nosso
Senhor lhes concederia trê s grandes favores: primeiro, realizando todos
os seus bons desejos; segundo, ajudando-os a superar suas faltas - e
esses dois favores seriam concedidos por sua intercessã o; o terceiro
benefı́cio foi que Ele estendeu Sua Mã o e concedeu Sua bê nçã o a todos
os presentes.
Enquanto Gertrude se ocupava em açõ es de graças fervorosas, ela
viu nosso Senhor Divino, o Rei da Gló ria, a quem os Anjos adoram, em
pé à frente da freira moribunda, cujo há lito parecia de uma cor
dourada, e tendia para o Coraçã o de sua Esposa. O Santo continuou a
contemplar esta visã o com grande alegria enquanto o Salmo Deus, Deus
meus e o Ad te levavi ,19foram recitados, durante os quais Nosso Senhor
manifestou o mais terno carinho para [os] religiosos. Depois disso, os
sufrá gios foram lidos, com a Antiphon Ut te simus , durante a qual ela
viu a Santı́ssima Virgem, vestida de pú rpura e adornada como uma
rainha. Ao icar ao lado de seu Divino Filho, ela colocou a cabeça desta
irmã para que sua respiraçã o pudesse chegar mais diretamente ao
Coraçã o de Jesus. Enquanto liam a curta oraçã o, Ave, Jesu - “Salve, Jesus,
meu Salvador, Palavra do Pai” - Nosso Senhor apareceu envolto em um
esplendor aumentado, como o do sol ao meio-dia. No inı́cio, o Santo
icou maravilhado com a magni icê ncia da visã o; mas, ao se recuperar
um pouco, avistou a refulgente rosa do cé u, Sua Virgem Mã e, que
apareceu para felicitá -lo por ter obtido uma nova esposa.
Com isso ela entendeu que essa uniã o feliz seria entã o consumada, e
a alma imersa para sempre no oceano da bem-aventurança eterna.

CAPITULO 6
Da agonia e morte de MB, e de sua alma abençoada. Como é salutar ajudar as
almas do Purgató rio.

HEN MB, de feliz memó ria, estava em agonia, Gertrude orou por ela
com toda a sinceridade, e obteve o conhecimento do que se passava ao
seu redor neste ú ltimo combate. Por uma hora inteira ela nã o viu nada,
mas a di iculdade que a alma suportava por ter à s vezes tido prazer
indevido nas coisas exteriores; tal como, por ter sobre a cama uma
colcha de pano colorido, bordado a ouro.20No dia de seu falecimento,
quando foi celebrada a missa, Gertrudes ofereceu a Hó stia por
ela; embora nã o a visse, sabia que estava presente e assim se dirigiu a
Nosso Senhor, como se a procurasse, dizendo: “O Senhor, onde está
ela?” Ele respondeu: “Ela virá a Mim pura e branca”. A partir disso, ela
compreendeu que as oraçõ es que eram oferecidas na caridade haviam
obtido grande graça para ela em seus ú ltimos momentos; e que
algumas pessoas, movidas por santo zelo, ofereceram suas boas obras
por ela, e se acusaram das penalidades devidas a ela.
Enquanto Gertrude rezava por ela novamente na missa que
precedeu seu enterro, ela a viu sentada a uma mesa festiva ao lado de
Nosso Senhor, onde as oraçõ es que foram oferecidas foram dadas a ela
sob a forma de diferentes tipos de comida. Na Elevaçã o, enquanto a
Santa oferecia o cá lice por ela, Nosso Senhor apareceu para apresentá -
lo a ela mesmo. Quando ela o provou, ela imediatamente foi penetrada
pela doçura Divina, e se levantou para orar por todos os que já a
feriram, seja por pensamento, palavra ou ato, regozijando-se pelo
mé rito que eles obtiveram para ela por meio disso. Entã o Gertrude
perguntou por que ela també m nã o orava por seus amigos; mas ela
respondeu: “Eu oro por eles de maneira mais e icaz, falando de coraçã o
a coraçã o ao meu Amado”.
Em outra ocasiã o, ao comentar que havia oferecido todos os seus
mé ritos pelo falecido, disse a Nosso Senhor:21“Eu espero, ó Senhor, que
Tu freqü entemente lanças os olhos de Tua misericó rdia sobre minha
indigê ncia.” Ele respondeu: “O que posso fazer mais por algué m que
assim se privou de todas as coisas pela caridade, do que cobri-la
imediatamente com a caridade?” Ela respondeu: "Faça o que izeres,
sempre aparecerei diante de Ti destituı́da de todo mé rito, pois
renunciei a tudo o que ganhei ou posso ganhar." Ele respondeu: “Você
nã o sabe que uma mã e permitiria que uma criança bem vestida se
sentasse a seus pé s, mas ela pegaria algué m que mal estava vestido em
seus braços e a cobriria com sua pró pria roupa?” Ele acrescentou: “E
agora, que vantagem você tem, que está sentado na costa de um
oceano, sobre aqueles que se sentam perto de um pequeno riacho?” Ou
seja, aqueles que guardam para si suas boas obras tê m o riacho; mas
quem os renuncia no amor e na humildade possui Deus, que é um
oceano inesgotá vel de bem-aventurança.
CAPITULO 7
Como as almas de G. e B. foram puri icadas por negligenciar a Con issã o e por
terem prazer nas coisas terrenas.

UMA

A ESCRITURA testi ica que “pelas coisas que o homem pecar, també m
pelas mesmas é punido” ( Sb 2,17 [sic; cf. 3:10]), e, pelo contrá rio, que
será recompensado na coisas nas quais ele sofreu ou fez o bem, damos
os seguintes exemplos para o benefı́cio de nossos leitores.
Tı́nhamos duas pessoas conosco, que estavam doentes ao mesmo
tempo; uma evidentemente sofria de uma forte afecçã o no peito e,
portanto, foi atendida com mais cuidado. O outro, cuja doença nã o era
conhecida e que parecia mais prová vel de viver, nã o recebeu tantos
cuidados; mas, como os homens muitas vezes sã o enganados, aquele
por quem menos temı́amos morreu primeiro, e o outro sobreviveu mais
um mê s. Quando a primeira se aproximou de seu im, ela foi fortalecida
na graça por grande paciê ncia e devoçã o, que puri icaram sua alma
excessivamente; pois o amor ardente que Nosso Senhor tinha por sua
esposa nã o permitiria que Ele permitisse que a menor mancha
permanecesse sobre ela. No entanto, ela ainda precisava de alguma
puri icaçã o por ter omitido a Con issã o com demasiada facilidade; pois
à s vezes, quando o padre vinha até ela, ela ingia estar dormindo, nã o
tendo nenhuma falta grave de que se acusar. A medida que se
aproximava a hora em que ela seria recebida nos abraços eternos de
seu esposo, Ele a puri icou dessa mancha. Pois quando ela pediu um
confessor, ela perdeu o poder de falar quando ele veio, e entã o ela
temeu excessivamente que ela sofreria por sua negligê ncia anterior
apó s a morte, e assim foi puri icada de sua culpa por esse medo
excessivo.
Assim, estando totalmente puri icada e livre de todas as manchas,
ela foi libertada da prisã o da carne e recebida na gló ria eterna. Muitas
revelaçõ es sobre isso foram feitas a Gertrude.
Uma delas foi que, quando ela foi levada ao trono de gló ria de Nosso
Senhor, Ele lhe conferiu este privilé gio, de parecer acalmá -la, como uma
mã e faria a um ilho quando desejava que ela tomasse algum remé dio
amargo; e Ele fez isso para consolá -la de alguma desatençã o que lhe
fora mostrada, pelo fato de os religiosos estarem tã o ocupados em
cuidar de seu companheiro, que acreditavam estar gravemente doente.
Nosso Senhor disse-lhe entã o: “Diga-me, minha ilha, o que gostaria
que Eu izesse pela alma de sua companheira; e que consolo você deseja
que Eu dê a ela. ” Ela respondeu: “Dê -lhe os mesmos presentes que me
concedeste, meu querido Senhor; pois nã o consigo imaginar nada mais
consolador. ” E Nosso Senhor prometeu atender ao seu pedido.
O outro religioso morreu um mê s depois. No dia seguinte à sua
morte, ela foi vista maravilhosamente adornada, como recompensa pela
extrema inocê ncia e simplicidade de sua vida, e sua exatidã o em
observar todas as austeridades de sua Ordem; mas ela tinha uma
mancha da qual precisava ser puri icada, e era a de ter recebido
consolos desnecessá rios em sua doença. Ela foi puri icada desta
maneira: Ela estava no portã o de um palá cio, onde Nosso Senhor estava
sentado em um trono de gló ria, com um semblante tã o cheio de doçura
e amor, que nenhum intelecto humano poderia descrever Sua
beleza. Ele parecia ansioso para receber Sua esposa; mas quando ela
tentou se aproximar, ela se viu presa por pregos, que prendiam suas
vestes ao chã o; e esses pregos eram as imperfeiçõ es que ela havia
cometido em sua doença. Mas Gertrudes, tocada de compaixã o, orou
por ela, e Nosso Senhor a libertou desse impedimento. Entã o o Santo
disse a Nosso Senhor: “Por que esta alma foi libertada pelas minhas
oraçõ es, e nã o restaurada pelas oraçõ es daqueles que tanto a amavam e
que rezavam por ela com tanto fervor e afeto?” Ele respondeu: “Suas
oraçõ es foram de grande utilidade para ela; mas eles nã o removeram o
impedimento que eu revelei a você , e do qual ela foi libertada por suas
oraçõ es. ” Ela continuou: “Como cumpriste Tua promessa de tratar esta
pessoa com a mesma bondade que manifestaste à quela que morreu
primeiro? Pois ela viveu mais na religiã o e parecia ter mais virtudes, e
ainda assim a outra apareceu imediatamente em Tua presença e em
maior gló ria. ” Ele respondeu: “A minha justiça é imutá vel, pois
recompenso a cada um segundo as suas obras. Aquela que menos
trabalhou nã o pode receber mais do que aquela que mais trabalhou, a
menos que tenha trabalhado com uma intençã o mais pura, uma
caridade mais fervorosa ou uma luta mais fervorosa; mas Minha
misericó rdia recompensa obras de superaçã o, como as oraçõ es dos
ié is; e, portanto, Minhas recompensas nem sempre sã o proporcionais
ao mé rito real da pessoa. ”
Conseqü entemente, podemos aprender com que cuidado devemos
evitar ter prazer em qualquer coisa terrestre, visto que essa alma
abençoada foi assim impedida de ser feliz por causa dessa
imperfeiçã o. Isso foi ainda mais plenamente manifestado a Santa
Gertrudes em outra visã o, na qual ela a viu diante do trono de Deus,
manifestando o mesmo ardor que ela havia feito no portã o; de fato nã o
desejando se aproximar, mas parecendo incapaz de se mover - e este foi
o segundo obstá culo para sua felicidade; e mesmo quando ela foi
libertada disso sua felicidade nã o foi perfeitamente completa, até que
Nosso Senhor colocou uma coroa magnı́ ica em sua cabeça, que Ele
segurou em Sua mã o, e que ela recebeu com grande alegria.
Quando Santa Gertrudes viu isso, ela disse a Nosso Senhor: “Por que
esta alma foi atormentada tã o dolorosamente, onde Tu é s todo-
poderoso?” Ele respondeu: “Ela nã o foi atormentada, mas esperou com
alegria pela consumaçã o de sua felicidade: assim como uma jovem
esperava por uma festa na qual seria adornada com os enfeites que sua
mã e havia preparado para ela. ”
Depois disso, a alma agradeceu à Santa pelas oraçõ es que ela fez por
ela; e Gertrude disse a ela: “Por que você nã o recebeu de bom grado
alguma admoestaçã o que eu lhe dei durante sua doença, embora você
sempre tenha parecido tã o apegada a mim?” A alma respondeu: “E por
isso que suas oraçõ es agora tê m mais força com Deus, visto que sã o
oferecidas mais puramente por caridade”.
CAPITULO 8
Da feliz preparaçã o da irmã G. para a morte. Seus desejos fervorosos e sua
gló ria.

UMA

Com a gente morreu NENHUMA religiosa que, desde a infâ ncia,


mostrou a mais completa aversã o ao mundo e todos os seus
atrativos. Quando sua agonia veio, ela se despediu de todos os que
estavam ao seu redor com grande afeto e prometeu orar por eles
quando atingisse a bem-aventurança eterna e a fonte inesgotá vel de
todo o bem. Nas agonias de seus ú ltimos momentos, ela disse a Deus:
“Senhor, Tu conheces os segredos de meu coraçã o e como tenho
desejado perseverar em Teu serviço, até a velhice, e devotar todas as
minhas forças a Ti; mas agora, visto que é a Tua Vontade, venho a Ti: e
todos os meus desejos se transformam em um desejo fervoroso de Te
possuir, de modo que a morte até mesmo se tornou doce para
mim; contudo, se fosse agradá vel a Ti continuar em meu estado atual
até o dia do julgamento, eu o faria de bom grado, mesmo que este fosse
o primeiro dia da criaçã o do mundo; mas como eu sei que tu me dará s
descanso hoje, eu Te rogo, de Tua misericó rdia e para a gló ria de Teu
nome, para que eu possa continuar a sofrer até que eu tenha pago as
dı́vidas daquelas almas que Tu mais deseja libertar. E nisto, ó Senhor,
Tu sabes que nã o estou considerando meus mé ritos, mas puramente
Tua gló ria. ”
Apó s esta oraçã o e muitas outras, o enfermeiro22pediu ao religioso
que lhe permitisse arrumar os pé s antes de morrer. Ela respondeu: “Eu
mesma oferecerei este sacrifı́cio ao meu Senhor cruci icado”; e
enquanto falava, ela estendeu os pé s em direçã o a um
cruci ixo,23dizendo: “Ofereço-Te todos os movimentos de meus pé s,
em uniã o com o amor ardente com que Tu encomendaste Teu espı́rito
nas mã os de Teu Pai com um grande clamor.” Entã o ela ofereceu da
mesma forma os movimentos de seus olhos, seus lá bios, suas mã os e
seu coraçã o, com grande fervor e devoçã o. Em seguida, pediu que a
Paixã o fosse lida por ela, mostrando-lhes onde ela queria que
começassem: Sublevitus Jesus - “Jesus ergueu os olhos ao cé u” ( Jo 17,
1); dizendo, se eles começassem com as palavras, “Antes do dia da
festa” ( João 13: 1), eles nã o teriam tempo para terminar antes de sua
morte. Com as palavras: “E inclinando a cabeça, entregou o espı́rito”
( João 19:30), ela pediu o cruci ixo; a seguir, beijando as Cinco Chagas
com a mais terna devoçã o, deu graças a Deus com palavras da mais
celeste sabedoria e devoçã o, mais comoventes a todos os presentes; e
entã o ela se deitou em seu catre e dormiu docemente no Senhor.
Depois de sua morte, Santa Gertrudes viu-a recebida por Nosso
Senhor com as mais ternas carı́cias, e especialmente recompensada
por ter renunciado ao mundo com tanta generosidade por Seu
amor. Ela també m ouviu os coros angelicais entoando o Quae est
ista ,24enquanto a conduziam em procissã o triunfal para o cé u. Quando
ela foi levada perante o trono de Deus, Jesus, a Esposa das virgens,
voltou-se para ela com grande amor e disse: “Tu é s a Minha
gló ria”. Entã o Ele a coroou como uma rainha e a entronizou perto de Si
mesmo.
Enquanto Gertrudes orava por ela em seu enterro no dia seguinte,
ela a viu em um estado de alegria e gló ria que excede toda a
compreensã o humana. Entã o ela perguntou que recompensa ela havia
recebido por certas virtudes; e a alma obteve para ela a graça de
receber uma pequena parte de sua recompensa, e entã o perguntou: “O
que mais você deseja saber do que eu recebi? A arca celeste, que
conté m a plenitude da doçura divina, mesmo o Coraçã o de Jesus Cristo,
meu bem-amado, com todos os seus tesouros, está aberta para
mim; com uma exceçã o, da qual estou privado porque, em vida, reservei
para mim os segredos de meu esposo e nã o os comuniquei a ningué m; e
este tesouro está aberto apenas para aqueles que, dando gratuitamente,
comunicaram aos outros todos os dons de Deus. ” "Mas", indagou
Gertrude, "que resposta devo dar aos seus amigos e aos meus, quando
me perguntarem sobre o seu presente estado e recompensa, uma vez
que nenhuma palavra humana pode expressá -los?" A alma respondeu:
“Depois de sentir o perfume de muitas lores, como você pode fazer
outra pessoa entender o que você experimentou? - você nã o se
contentaria em dizer que o cheiro era muito delicioso? Assim, depois de
ter conhecido em espı́rito quã o grande é a felicidade com a qual Deus
me recompensou, você só pode dizer que fui recompensado alé m de
todos os meus mé ritos por cada bom pensamento, palavra ou ato do
meu iel e amado Jesus. ”

CAPITULO 9
As recompensas que o irmã o S. recebeu por sua idelidade e benevolê ncia.

HEN Irmã o Seq: ( sic ) estava em agonia, Gertrude, estando absorta em


alguma ocupaçã o, omitiu orar por ele até que ela soube que ele estava
morto, e entã o começou a se censurar por sua negligê ncia para com
algué m que sempre serviu à comunidade. iel e afetuosamente como
irmã o leigo; ela, portanto, rogou a Nosso Senhor que recompensasse
abundantemente os seus serviços, de acordo com a multidã o das suas
misericó rdias. O Senhor se comprometeu a responder assim a ela: “Eu o
recompensei por sua idelidade de trê s maneiras, em resposta à s
oraçõ es da congregaçã o. Por sua benevolê ncia natural, ele tinha o maior
prazer em conceder favores aos outros; e renovei nele todo este prazer
por cada ato de bondade que ele praticou. També m acumulei em sua
alma toda a grati icaçã o e alegria que obteve para os outros por esses
atos de benevolê ncia - como dar um brinquedo a uma criança, um
centavo a um pobre, alguma fruta a um doente ou qualquer outro
alı́vio; e, por ú ltimo, iz com que ele se regozijasse muito, por causa da
aprovaçã o que manifestei por essas açõ es; e em breve irei fornecer tudo
o que ele precisa para atingir a felicidade perfeita. ”

CAPITULO 10
Como o irmã o Hermann sofreu por obstinaçã o. E da ajuda que pode ser obtida
na outra vida pelas oraçõ es dos santos e dos ié is.

UMA

S GERTRUDE orou pelo repouso da alma do irmã o Hermann, um irmã o


leigo recentemente falecido, ela perguntou em que estado ele estava; e
Nosso Senhor respondeu: “Ele está agora presente, e concedi-lhe este
favor em troca das fervorosas oraçõ es que foram feitas por ele -
convidei-o para assistir a esta festa”. Entã o ela viu Nosso Senhor, como o
pai de uma famı́lia, sentado a uma mesa, sobre a qual foram colocadas
todas as oraçõ es, oblaçõ es, desejos, etc., que haviam sido oferecidos por
este irmã o. A alma icou triste e abatida em uma das pontas da mesa,
pois ela ainda nã o estava su icientemente puri icada para contemplar o
semblante amoroso de Nosso Senhor; mas ele logo pareceu
extremamente revigorado e confortado pelo que viu diante de si.
A Santa observou com alguma surpresa que o efeito dessas
oferendas lhe vinha diretamente das pró prias oferendas, e nã o, como
de costume, por meio de Nosso Senhor, que geralmente lhe aparecia
para presentear as almas com as oferendas feitas por elas com grande
alegria; mas Nosso Senhor à s vezes, por sua pró pria bondade, e em
consideraçã o aos mé ritos daqueles que oravam por ele, deu-lhe algum
consolo, que transmitiu grande satisfaçã o à alma.
A Santı́ssima Virgem sentou-se como uma rainha ao lado de seu
Divino Filho, e parecia també m colocar alguns presentes na mesa, como
uma recompensa pela devoçã o especial que esta alma tinha por ela
quando na terra. Os santos a quem ele era devoto també m izeram
ofertas por ele; e por essas coisas, e o fervoroso amor com que foram
apresentados a Deus, o semblante do irmã o tornou-se cada vez mais
sereno e alegre, e ele lentamente ergueu os olhos para contemplar
aquela bendita luz, que, quando é vista, transmite alegria eterna e faz
com que todas as tristezas anteriores sejam esquecidas.
Como Gertrude observou que a alma ainda continuava na mesma
posiçã o, ela disse a ele: “Por que falta você mais sofreu?” Ele respondeu:
“Para a obstinaçã o e a opiniã o pró pria; pois quando fazia qualquer
gentileza pelos outros, nã o fazia o que eles desejavam, mas sim o que eu
mesmo desejava; e tanto sofro por isso, que se as agonias mentais de
toda a humanidade estivessem unidas em uma pessoa, ela nã o
suportaria mais do que eu agora. ” Ela respondeu: “E qual remé dio será
mais e icaz para você ?” Ele respondeu: "Para realizar atos de virtude
contrá ria, e para evitar cometer a mesma falta." "Mas, enquanto isso",
perguntou Gertrude, "o que vai lhe proporcionar o maior alı́vio?" Ele
respondeu: “A idelidade que pratiquei para com os outros quando
estava na Terra me consola mais. As oraçõ es que meus amigos fazem
continuamente por mim consolam-me como as boas novas consolariam
uma pessoa em a liçã o. Cada tom do canto da missa, ou das vigı́lias que
se fazem por mim, parece-me um delicioso re lexo. Tudo o que os
outros fazem por mim, com uma intençã o pura para a gló ria de Deus,
como trabalhar, e mesmo dormir ou comer, me proporciona um grande
alı́vio e abrevia meus sofrimentos, por causa da idelidade com que
trabalhei pelos outros ”.
“Mas”, ela continuou, “que vantagem você ganha do nosso desejo de
dar-lhe o mé rito de todas as boas obras que Deus nos capacita a
realizar?” Ele respondeu: “Eles sã o de grande utilidade para mim, pois
adornam minha alma”. Santa Gertrudes respondeu: “Mas se algué m
adiasse a oraçã o que se propô s a fazer por você por causa de sua
doença, você sofreria com isso?” A alma respondeu: “Os atrasos, que
sã o resultado da prudê ncia, nã o nos prejudiquem, a menos que sejam
causados por negligê ncia.” Ela continuou: "Você nã o foi ferido por
nossas oraçõ es durante sua doença, quando pedimos mais
fervorosamente por sua recuperaçã o do que pela graça de uma morte
feliz?" A alma respondeu: “Isso nã o me prejudicou, pois descobri nela a
imensa bondade de Deus, cuja terna misericó rdia está sobre todas as
suas obras ( Salmos 144: 9), pois Ele foi movido a me fazer ainda mais
bem ao contemplar a tua afeto por mim. ” "Mas as lá grimas derramadas
por você atravé s da afeiçã o humana te prejudicarã o?" Ele respondeu:
“Essas lá grimas sã o para mim como a bondade de um amigo que
consola seu amigo quando está a lito. E quando estou no gozo da
felicidade perfeita, isso me dará tanta alegria quanto as felicitaçõ es e
aplausos daqueles que amo; e tenho merecido este consolo pela minha
idelidade no seu serviço, que conquistou a sua afeiçã o por mim. ”
Em outra ocasiã o, quando Santa Gertrudes recitou o Pater
noster para a mesma alma, ela observou, para sua extrema surpresa,
que seus sofrimentos pareciam muito aumentados quando ela repetia
as palavras: “Perdoa-nos as nossas ofensas, como perdoamos aqueles
que transgrediram nó s." Enquanto ela indagava sobre o motivo de seu
sofrimento, ele respondeu: “Quando estava no mundo, ofendi a Deus
freqü entemente por nã o querer perdoar aqueles que de alguma forma
me ofenderam; e mesmo depois de os ter perdoado, mostrei meu
ressentimento de uma maneira grave quando os encontrei; e eu sofro
por isso sempre que essas palavras sã o repetidas para mim. ” “E por
quanto tempo você vai sofrer assim?” perguntou o Santo. A alma
respondeu: “Sofrerei até estar inteiramente puri icado; mas daqui em
diante, pela misericó rdia de Deus, sempre que você izer esta oraçã o
por mim, eu obterei grande alı́vio por meio disso. ”
Quando a missa foi oferecida por esta alma, ele apareceu radiante
de luz e transportado de alegria. Entã o Gertrudes disse a Nosso Senhor:
“Esta alma está agora inteiramente livre de seus sofrimentos?” Nosso
Senhor respondeu: “Ele já está livre de muito sofrimento e nenhum ser
humano pode imaginar a sua gló ria; mas ele ainda nã o está tã o
perfeitamente puri icado a ponto de ser digno de desfrutar da Minha
presença, embora esteja se aproximando cada vez mais dessa pureza
pelas oraçõ es que sã o feitas por ele, e está cada vez mais consolado e
aliviado ”. Ele acrescentou: “Sua obstinaçã o em seguir sua pró pria
vontade e sua aversã o a se submeter à vontade de outros o impediram
de obter alı́vio de suas oraçõ es tã o rapidamente quanto teria feito de
outra forma”.
CAPITULO 11
Como o irmã o John foi recompensado por seus labores e punido por suas
faltas.

UMA

S ISSO é apenas que as almas devem ser puri icadas de suas manchas
antes de receberem a recompensa de suas boas obras, mas à s vezes
parece que a misericó rdia triunfa sobre a justiça, como no caso do
irmã o John, o procurador,25que trabalhou tã o ielmente e
laboriosamente para o bem do convento. Suas boas obras surgiram na
forma de degraus, pelos quais sua alma ascendeu, apó s sua separaçã o
do corpo, satisfazendo suas imperfeiçõ es com a dor que esse esforço
lhe custou; mas quanto mais alto ele ascendeu, menos di iculdade ele
experimentou. Poré m, como é difı́cil evitar todas as imperfeiçõ es nesta
vida, e como a justiça de Deus pune até a menor negligê ncia, quando ele
chegava a certos degraus foi tomado por um medo repentino, que o
deixou estupefato, como se esperasse que o o pró ximo passo cederia
sob ele.
A partir disso, Gertrudes entendeu que algumas de suas boas obras
haviam sido contaminadas por alguma in idelidade,26do qual ele foi
puri icado por esse medo. Quando outros membros da congregaçã o
oraram por ele, seja mental ou verbalmente, ela percebeu que ele foi
ajudado em sua ascensã o, como se eles tivessem estendido as mã os
para ajudá -lo a subir, e assim lhe proporcionou grande consolo.
També m foi revelado a ela, que aqueles que serviram a sua
comunidade, quando expiaram suas faltas apó s sua morte, foram
aliviados em consideraçã o aos serviços que eles haviam prestado a eles,
e que este privilé gio seria continuado enquanto o religioso continuou
no mesmo estado de fervor.
CAPITULO 12
Como a alma do irmã o The: [sic] foi libertada por oraçõ es em homenagem à s
Cinco Chagas.

HEN Irmã o O: [ sic ], o irmã o leigo, falecido, que trabalhou ielmente


para o mosteiro por muitos anos, Santa Gertrudes começou a rezar por
ele assim que soube de seu falecimento. Enquanto ela estava assim
ocupada, ela o contemplou em espı́rito, e sua alma parecia negra e
deformada, como se sofresse de intensa angú stia por algum remorso de
consciê ncia. Como ela icou extremamente comovida com a compaixã o,
ela começou a recitar cinco Pater nosters , em homenagem à s Cinco
Feridas de Nosso Senhor, que ela abraçou com ternura. No quinto Pater
noster , quando ela se aproximou da Ferida do Lado de Nosso Senhor,
Nosso Senhor emitiu sangue e á gua dela, na forma de vapor; e ela
percebeu que a alma era extremamente refrescada por isso
interiormente, mas que ele sofria como se fosse de feridas externas, que
lhe causavam intensa dor. Em virtude desse sangue e á gua, a alma era
entã o transportada para um jardim de ervas, cada uma das quais
signi icava algum bom trabalho que ele havia realizado quando no
mundo; e a estes, Nosso Senhor conferiu tal virtude, em resposta à s
oraçõ es da comunidade, que cada uma dessas plantas se tornou
medicinal, e curou suas feridas quando aplicada a elas; e ela entendeu
que se a comunidade perseverasse sinceramente em suas oraçõ es, ele
logo estaria completamente curado. Ela sabia també m que havia
algumas ervas, que representavam suas açõ es imperfeitas; e quando ele
os tocava, seus sofrimentos aumentavam terrivelmente.
Apó s seu enterro, enquanto cantavam a Media vita como de
costume, as palavras, Sancte Deus, sancte fortis, sancte et
immortalis ,27 quando o religioso prostrou-se28no solo, a alma elevou-
se ao Cé u com extrema gratidã o, parecendo prostrar-se com a
comunidade, agradecendo a Deus por ter tido o privilé gio de viver em
um convento tã o sagrado, onde seus trabalhos foram especialmente
abençoados e aceitos por causa dos mé ritos daqueles a quem ele
serviu. Ele declarou també m, onde quer que tenha vivido antes de
entrar naquela casa, ele foi obrigado a ganhar seu pã o com o trabalho
de suas mã os, mas que nunca ganhou com todos os seus esforços
tantas vantagens quanto obteve no mosteiro. para sua alma.

CAPITULO 13
O que o irmã o F. sofreu por indolê ncia e falta de submissã o. A e icá cia da
oraçã o fervorosa.

UMA

S GERTRUDE orou por um irmã o leigo recentemente falecido, ela viu


sua alma sob uma forma hedionda,29como se consumindo por um fogo
devorador. Parecia haver algo sob um de seus braços que lhe causava
uma angú stia excessiva, e ele foi curvado por um peso avassalador, de
modo que nã o conseguia se manter em pé . Ela soube que ele apareceu
nesta forma horrı́vel porque, embora ele usasse um há bito religioso
quando na terra, ele falhou em se elevar à s coisas celestiais. Ele
també m estava sofrendo com o fogo por muitas outras faltas. A agonia
que ele suportou pelo que estava escondido debaixo de seu braço era
uma puniçã o por trabalhar para adquirir bens temporais sem a
permissã o de seu superior, e até mesmo ocultar o que assim
adquiriu. O peso que tanto o oprimia era sua desobediê ncia ao
superior.
Noutra ocasiã o, enquanto lia os Salmos e vigiava, perguntou a Nosso
Senhor que remé dio se poderia aplicar a esta alma. Ele respondeu:
“Embora as almas dos que partiram sejam muito bene iciadas por essas
vigı́lias e outras oraçõ es, no entanto, algumas palavras, ditas com afeto
e devoçã o, sã o de muito mais valor para eles”. E isso pode ser
facilmente explicado por uma comparaçã o familiar; pois é muito mais
fá cil tirar as manchas de lama ou sujeira das mã os esfregando-as
rapidamente com um pouco de á gua, do que derramar um pouco de
á gua sobre elas sem usar qualquer fricçã o; assim, uma ú nica palavra,
dita com fervor e devoçã o, pelas almas dos que partiram, é de muito
mais e icá cia do que muitas vigı́lias e oraçõ es proferidas friamente e
realizadas com negligê ncia.

CAPITULO 14
Aqueles que perseveraram por muito tempo no pecado nã o sã o facilmente
bene iciados pelas oraçõ es da Igreja e sã o libertados com di iculdade.

NCE, quando uma pessoa foi informada de que um parente havia


morrido, de cujo estado ela temia muito, Gertrude icou tã o comovida
com sua a liçã o que se ofereceu para orar pela alma do falecido. Nosso
Senhor lhe ensinou que a informaçã o foi dada em sua presença por um
arranjo especial de Sua Providê ncia. Ela respondeu: "Senhor, nã o
poderias ter me dado compaixã o sem isso?" Ele respondeu: “Tenho
particular prazer nas oraçõ es pelos mortos, quando se dirigem a Mim
por uma compaixã o natural, unidas a uma boa vontade; assim, um bom
trabalho se torna perfeito. ”
Quando Gertrudes orou por essa alma por muito tempo, ele
apareceu para ela sob uma forma horrı́vel, como se enegrecido pelo
fogo e contorcido de dor. Ela nã o viu ningué m perto dele; mas seus
pecados, que ele nã o havia expiado totalmente, eram seus algozes, e
cada membro sofria pelos pecados dos quais tinha sido
acessó rio. Entã o Santa Gertrudes, desejando interceder junto a seu
Esposo por ele, disse com amor: “Meu Senhor, por mim nã o aliviará s
esta alma?” Ele respondeu: “Eu nã o apenas entregaria esta alma, mas
milhares de almas, por seu amor! Como você deseja que Eu mostre
misericó rdia a ele? Devo libertá -lo imediatamente de todas as suas
dores? " “Talvez, Senhor”, ela continuou, “isso seja contrá rio aos
decretos de Tua justiça”. Ele respondeu: “Nã o seria contrá rio se me
perguntasse com fé ; pois, como eu prevejo o futuro, eu o preparei para
isso quando em sua agonia. ” Ela respondeu: “Rogo a Ti, Salvaçã o da
minha alma, que aperfeiçoes esta obra segundo a Tua misericó rdia, na
qual tenho a mais perfeita con iança.”
Quando ela disse isso, a alma apareceu sob uma forma humana e em
grande alegria, mas ainda trazendo algumas marcas de seus pecados
anteriores; no entanto, o Santo sabia que ele deveria ser puri icado
posteriormente, e tornado branco como a neve, antes que ele pudesse
entrar na presença Divina; e, para isso, era necessá rio que ele sofresse
como se fosse golpes de martelo de ferro; alé m disso, ele havia
continuado por tanto tempo no pecado, que o processo de limpeza de
sua alma foi muito prolongado, e ele també m sofreu como se tivesse
sido exposto por um ano aos raios de um sol escaldante. Enquanto a
Santa se maravilhava com isso, ela foi instruı́da de que aqueles que
cometeram muitos e graves pecados nã o sã o assistidos pelos sufrá gios
ordiná rios da Igreja até que sejam parcialmente puri icados pela justiça
divina; e que eles nã o podem valer-se das oraçõ es dos Fié is, que estã o
constantemente descendo sobre as almas no Purgató rio como um
orvalho suave e refrescante, ou como um ungü ento doce e calmante.
Gertrude entã o agradeceu por este favor e disse ao Senhor: “O meu
amado Senhor, diga-me, eu Te suplico, que obra ou oraçõ es obterã o
mais facilmente misericó rdia de Ti para aqueles pecadores que
morreram em estado de graça , para que sejam libertados deste terrı́vel
impedimento que os impede de obter o benefı́cio das oraçõ es da
Igreja. Pois esta alma aparece para mim agora, quando aliviada deste
fardo, como se tivesse ascendido do Inferno ao Cé u. ” Nosso Senhor
respondeu: “A ú nica maneira de obter tal favor é o amor divino; nem as
oraçõ es nem qualquer outro trabalho terá valor sem isso, e deve ser o
amor que você agora tem por Mim; e como ningué m pode ter essa graça
a menos que eu a conceda, també m ningué m pode obter essas
vantagens apó s a morte, a menos que eu os tenha preparado para isso
por alguma graça especial durante a vida. Saiba, poré m, que as oraçõ es
e labores dos Fié is aliviam gradualmente a alma deste pesado fardo, e
que eles sã o libertados mais cedo ou mais tarde, de acordo com o fervor
e as puras intençõ es daqueles que assim os servem, e de acordo com o
mé rito que eles adquiriram para si mesmos nesta vida. ”
Entã o a alma suplicou a Nosso Senhor, pelo amor que o trouxe do
cé u para morrer na cruz, que Ele aplicasse esses remé dios em sua alma,
e recompensasse aqueles que oraram por ele abundantemente; e Nosso
Senhor apareceu para tirar dele uma moeda de ouro e colocá -la para
recompensar aqueles que o ajudaram com suas oraçõ es.

CAPITULO 15
Da oblaçã o da Hó stia. E de oraçõ es pelas almas dos pais falecidos.

NO Domingo em que a comunidade orou pelas almas dos pais


falecidos,30como Santa Gertrudes ofereceu a Hó stia depois de ter
recebido a Sagrada Comunhã o para o repouso de suas almas, ela viu
um nú mero imenso saindo de um lugar de escuridã o como faı́scas de
fogo; alguns na forma de estrelas e outros em outras formas. Entã o ela
perguntou se aquela grande multidã o poderia ser composta pelas
almas dos pais falecidos; e Nosso Senhor respondeu: “Eu sou seu
parente mais pró ximo,31seu Pai, seu irmã o e sua esposa; portanto,
Meus amigos especiais també m sã o seus, e nã o poderia excluı́-los da
comemoraçã o de seus pais; portanto, você os vê todos unidos. ” A
partir de entã o, o Santo rezou constantemente por aqueles que eram
especialmente amados por Nosso Senhor. No dia seguinte, na Missa,
depois da Elevaçã o, ouviu Nosso Senhor dizer: “Comemos com os que
vieram e estavam prontos; devemos agora enviar para aqueles que nã o
puderam vir para a festa. ” Outro ano, quando o sino tocou pelo Ofı́cio
dos Mortos, ela viu um cordeiro branco como a neve, como o cordeiro
pascal geralmente é pintado; e, de uma ferida em seu coraçã o, um luxo
de sangue luiu em um cá lice, enquanto dizia: “Eu agora serei uma
propiciaçã o para aquelas almas para quem um banquete está
preparado aqui hoje.”

CAPITULO 16
Do efeito do Grande Salté rio. Do zelo de Cristo pela salvaçã o das almas. E como
Ele está disposto a ouvir as oraçõ es daqueles que O amam.

UMA

S A comunidade recitou o Grande Salté rio32pelas almas dos ié is que


partiram, o que se acredita ser de grande e icá cia para eles, Santa
Gertrudes se preparou para a Sagrada Comunhã o e orou por essas
almas com grande fervor. Ela entã o perguntou a Nosso Senhor por que
este Salté rio era tã o aceitá vel para Ele, e por que obtinha tanto alı́vio
para as almas, visto que o imenso nú mero de Salmos que eram
recitados, e as longas oraçõ es apó s cada um, causavam mais cansaço
do que devoçã o. O Senhor respondeu: “O desejo que tenho de
libertaçã o das almas torna-o aceitá vel para mim; mesmo como um
prı́ncipe que foi obrigado a prender um de seus nobres a quem ele era
muito apegado, e foi compelido por sua justiça a recusar o perdã o,
muito felizmente se valeria das intercessõ es e satisfaçõ es de outros
para libertar seu amigo. Assim ajo para com aqueles que redimi com
Minha Morte e Precioso Sangue, regozijando-me com a oportunidade
de libertá -los de suas dores e levá -los à s alegrias eternas ”.
"Mas", continuou o Santo, "é aceitá vel para Ti o trabalho daqueles
que recitam este Salté rio?" Ele respondeu: “Meu amor torna-o muito
agradá vel para Mim; e se uma alma é libertada por meio disso, eu aceito
isso como se eu tivesse sido libertado do cativeiro, e com certeza vou
recompensá -lo no momento adequado, de acordo com a abundâ ncia de
minha misericó rdia. ” Entã o ela perguntou: “Quantas almas sã o
libertadas por essas oraçõ es?” Ele respondeu: “O nú mero é
proporcional ao zelo e fervor daqueles que oram por eles”. Ele
acrescentou: “Meu amor exorta-me a liberar um grande nú mero de
almas pelas oraçõ es de cada religioso; e em cada versı́culo do Salmo eu
libero muitos. ”
Estando a devoçã o da Santa maravilhosamente excitada por esta
revelaçã o, ela imediatamente começou a recitar o Salté rio, embora em
estado de extrema fraqueza. Depois de repetir um versı́culo, perguntou
a Nosso Senhor quantas almas Ele havia libertado; e Ele respondeu:
"Estou tã o tocado pelo fervor do seu amor, que liberei uma alma para
cada movimento de sua lı́ngua." Pelo qual o doce Jesus seja louvado e
abençoado por sé culos sem im!

CAPITULO 17
Dos sofrimentos severos de um soldado. E a e icá cia do Grande Salté rio.
O

EM OUTRA ocasiã o, quando Gertrudes orou pela partida dos ié is, ela
viu a alma de um certo soldado,33que, creio eu, estava morto há
quarenta anos e que aparecia em terrı́vel estado de sofrimento. Ele
sofreu como se estivesse exposto ao pró prio fogo do Inferno, e foi
incapaz de obter a menor ajuda das oraçõ es da Igreja. Enquanto a Santa
se maravilhava com esta horrı́vel apariçã o, ela foi instruı́da de que a
alma havia pecado excessivamente quando no mundo por orgulho e
arrogâ ncia. Os efeitos de seu pecado foram representados por chifres,
que cobriram seu corpo; e um leve apoio, que parecia impedi-lo de cair
no Inferno, indicava algum pequeno remorso que ele havia manifestado
por seus crimes, os quais, pela misericó rdia divina, acabaram levando
ao seu arrependimento e salvaçã o.
Como Gertrudes sentiu grande compaixã o por ele, ela começou a
recitar o Grande Salté rio, oferecendo-o para o repouso de sua alma; e
ela teve a satisfaçã o de saber que suas oraçõ es foram atendidas. A alma
apareceu para ela livre da forma horrı́vel em que ele havia sido
atormentado, e na forma de uma criança, ainda com algumas marcas de
sofrimento, mas tã o alegre como se tivesse sido libertado do Inferno e
levado para o cé u. Ele agora foi colocado com muitas outras almas, que
pareciam na mesma condiçã o. Ela aprendeu també m que neste lugar
ele poderia se bene iciar com os sufrá gios da Igreja, da qual ele havia
sido privado, até que Gertrudes obtivesse essa libertaçã o. As almas o
receberam com o mais terno carinho, e pareceram preparar um lugar
para ele entre si. Isso induziu o Santo a orar muito fervorosamente por
eles; e ela percebeu que Nosso Senhor os levou para um lugar de maior
refrigé rio, onde foram muito consolados.
Entã o ela disse ao Senhor: “Que vantagem nossa comunidade terá
ao recitar o Grande Salté rio?” Nosso Senhor respondeu: “Eles obterã o a
vantagem que o profeta declarou nestas palavras:“ A minha oraçã o se
converterá em meu seio ( Salmo 34:13); Minha liberalidade e
generosidade també m lhes concederã o o favor de participarem do
mé rito deste Salté rio, sempre que for dito, em todo o mundo ”.
Noutra ocasiã o disse a Nosso Senhor: “O Pai das Misericó rdias! Se
algué m quiser recitar este Salté rio e nã o puder dar a esmola habitual,
nem obter a celebraçã o das Missas que o devem acompanhar, que
oferta pode substituı́-lo? ” Ele respondeu: “Deve comunicar-se com a
freqü ê ncia necessá ria à missa e, para cada esmola, dizer um Pater
noster , com a oraçã o Deus, cui proprium est ,34pela conversã o dos
pecadores, fazendo um ato de bondade també m com o mesmo
propó sito. ” Entã o o Santo continuou assim: “Meu Deus, deixe-me falar
mais uma vez a Ti, e deixe-me perguntar se há alguma oraçã o mais
curta que você gostaria de receber em substituiçã o ao Grande
Salté rio?” Nosso Senhor respondeu: “O Salté rio pode ser dito
começando com uma oraçã o de perdã o com estas palavras: In unione
illius super coelestis laudis ,35e adicionando as palavras, Ave Jesu Christe
splendor , apó s cada verso. As palavras desta oraçã o devem ser ditas em
honra do amor pelo qual me tornei homem para resgatar
homens; entã o se ajoelhem em honra da Minha Paixã o, ao repetir as
palavras que a ela se referem, em uniã o com o amor com que Eu, o
Criador de todas as coisas, me submeti a ser julgado e a sofrer pelos
homens; entã o eles deveriam se levantar ao repetir as palavras que
comemoram Minha Ressurreiçã o e Ascensã o, em uniã o com aquele
poder onipotente pelo qual eu venci, me levantei vitoriosamente e subi
ao Cé u, para exaltar a natureza humana à destra de Meu Pai. Depois,
devem recitar a Antı́fona Salvator mundi , em uniã o com as açõ es de
graças com as quais todos os Santos se alegraram em Minha
Encarnaçã o, Paixã o e Ressurreiçã o. Por im, recebam o Sacramento do
Meu Corpo em cada Missa e, em cada esmola, recitem o Pater noster e a
Collect Deus cui , acrescentando um ato de caridade para com os
outros. E vou aceitar isso para o Grande Salté rio. ”

CAPITULO 18
Explicaçã o do Grande Salté rio e das Sete Missas de Sã o Gregó rio
UMA

S O Grande Salté rio nã o foi explicado nas pá ginas anteriores, nó s
incluı́mos uma explicaçã o dele, para o benefı́cio daqueles que podem
ler esta obra, tirada dos Exercícios de Santa Gertrudes .
Em primeiro lugar, devemos nos ajoelhar para pedir perdã o de
nossos pecados, dizendo: “O dulcı́ssimo Senhor Jesus, em uniã o com os
louvores celestes que a Santı́ssima Trindade entrega a Si mesma como a
ú nica digna de louvor, e que concede a Tua bem-aventurada
Humanidade, Tua gloriosa Mã e, Teus Anjos e Santos, e depois volta ao
abismo de Tua Divindade, de onde luiu, ofereço este Salté rio para Teu
louvor e gló ria. Eu Te adoro, Te louvo, Te abençoo e Te dou graças, pelo
amor de Tua Encarnaçã o, Teu Nascimento, a fome, sede, labores e
tristezas de Teus trinta e trê s anos na terra, e por Teu amor em dar Tu
mesmo a nó s nos Sacramentos do Altar; e eu suplico para unir o recital
desta Salté rio ao mé rito de tua santı́ssima vida e conversa, que eu
ofereço para os vivos e os mortos, pela alma de N . e de N .; e eu oro a Ti
para suprir e reparar tudo o que eles negligenciaram ou omitiram em
louvor, em açã o de graças, em oraçã o, em devoçã o, em boas obras, que
por Tua graça eles poderiam ter realizado, e nas quais falharam por sua
negligê ncia . ”
Em segundo lugar, tendo novamente implorado perdã o, repita esta
oraçã o: “O dulcı́ssimo Senhor Jesus Cristo, eu Te adoro e te bendigo,
dando graças a Ti por Teu amor em nos redimir por Teus sofrimentos
crué is, e porque Tu, o Criador do universo , foi feito prisioneiro,
amarrado, traı́do, difamado, lançado ao chã o, açoitado, coroado com
espinhos, condenado, cruci icado, morto cruelmente e trans ixado com
uma lança, por amor a nó s. Ofereço minhas petiçõ es em uniã o com o
amor com que suportaste esses ultrajes e indignidades; implorando a
Ti, pelo mé rito de Tua santı́ssima Paixã o e Morte, para perdoar os
pecados daqueles por quem eu oro, se eles ofenderam contra Ti por
pensamento, palavra ou açã o; e eu imploro a Ti para oferecer a Deus Pai
todas as Tuas dores e sofrimentos de corpo e alma, e o mé rito de cada
dor, por aqueles que ainda estã o em dı́vida com Tua justiça. ”
Em terceiro lugar, repita a seguinte oraçã o de pé : “Eu Te adoro, Te
louvo e Te bendigo, ó doce Senhor Jesus Cristo, dando-Te graças pelo
amor vitorioso pelo qual Tu elevaste a nossa natureza à destra de Deus
Pai , depois de levantá -lo vitoriosamente da tumba; e eu imploro que
conceda à s almas por quem oro uma participaçã o em Tua vitó ria e
triunfos. ”
Em quarto lugar, depois de implorar a misericó rdia de Deus, diga:
“Salvador do mundo, salva-nos a todos: Maria, Santa Mã e de Deus e
sempre Virgem, rogai por nó s. Suplicamos a Ti, pela intercessã o de
todos os Teus santos apó stolos, má rtires, confessores e santas virgens,
que nos proteja do mal e nos conduza à perfeiçã o de todo o bem. O
muito doce Senhor Jesus, eu Te adoro, Te louvo e Bendito por todos os
favores que conferiste a Tua bendita Mã e e a Teus eleitos, em uniã o com
aquela gratidã o com a qual Teus Santos se regozijam em Tua bendita
Encarnaçã o, Paixã o e Ressurreiçã o, suplicando a Ti, pelas oraçõ es de
Tua gloriosa Virgem Mã e e de todos os Santos, para suprir as
necessidades dessas almas ”.
Em quinto lugar, recite os cento e cinquenta Salmos do Salté rio
devota e consecutivamente, dizendo, apó s cada versı́culo: “Salve, Jesus
Cristo, Esplendor do Pai, Prı́ncipe da paz, Porta do Cé u, Pã o da vida,
Filho da Virgem, Vaso da Divindade! ” Na conclusã o de cada Salmo,
repita as seguintes palavras ajoelhando-se: “Dá -lhes o descanso eterno,
Senhor, e deixa brilhar sobre eles a luz perpé tua.” Em seguida, reze
cento e cinquenta missas, ou mande-as rezar, ou ofereça o mesmo
nú mero de comunhõ es, ou pelo menos cinquenta ou trinta. Dê esmola
també m cento e cinquenta vezes, ou, se isso for impossı́vel, diga
o Pate R noster e a Collect Deus cui , realizando o mesmo nú mero de
atos de caridade. Nestes atos de caridade pode ser incluı́da a menor
bondade feita a outra pessoa pelo amor de Deus - como uma palavra
bondosa, ou um ato bondoso, ou mesmo uma oraçã o fervorosa.
També m consideramos justo dizer algo das Sete Missas que,
segundo a nossa tradiçã o, foram divinamente reveladas a Sã o Gregó rio,
pois acreditamos que muito contribuirã o para o alı́vio das almas
sagradas, pelo mé rito e e icá cia do intercessã o de Cristo. Se possı́vel,
sete luzes devem ser acesas em cada missa, em homenagem à Paixã o
de Nosso Senhor, e a cada dia quinze36 Pater nosters e Ave
Marias devem ser recitados e sete esmolas dadas. O Ofı́cio dos Mortos
també m deve ser dito.
A primeira Missa é o Domine ne longe , com a Paixã o inteira, como
no Domingo de Ramos; e devemos suplicar a Nosso Senhor, pelos
desprezos que Ele livremente sofreu quando amarrado e traı́do nas
mã os dos pecadores, que Ele libertasse aquelas almas cativas que, por
sua pró pria vontade, se escravizaram.
A segunda missa deve ser Nos autem gloriari , como na terceira feria
depois do Domingo de Ramos (terça-feira da Semana Santa), na qual
devemos implorar a Nosso Senhor, com a sua injusta condenaçã o à
morte, que entregue as almas justamente condenadas ao castigo
pró prio. agir.
A terceira missa deve ser In nomine Domine , como na quarta feria
depois do Domingo de Ramos; e por isso devemos implorar a Nosso
Senhor, por Seu sofrimento inocente quando apegado à Cruz, que
liberte essas almas do castigo que merecem, apegando-se a prazeres
indignos.
A quarta missa será Nos autem gloriari , com a Paixã o Egressus est
Jesus , como na Sexta Feira Santa,37 quando devemos suplicar a Nosso
Senhor, pela Sua morte mais amarga e pela perfuraçã o do Seu Coraçã o,
que cure estas almas das feridas e castigos do pecado.
A quinta missa é o Réquiem , na qual devemos rezar a Nosso Senhor,
por Seu santo sepultamento e pela tumba em que Ele, o Senhor do cé u e
da terra, foi encerrado, para libertar essas almas do destino a que
condenaram por seus pecados.
Na sexta Missa, Resurrexi ,38 devemos orar para que as almas sejam
libertadas de toda mancha e tornadas dignas de participar de Sua
gló ria pelos mé ritos de Sua alegre Ressurreiçã o.
E na sé tima Missa, Gaudiamus , como na Assunçã o da Santı́ssima
Virgem, roguemos a Nosso Senhor e à Sua Santı́ssima Mã e, pela alegria
que ela sentiu no dia da sua Assunçã o, que pelos seus mé ritos e
mediaçã o estas almas possam ser libertado de qualquer restriçã o e
associado para sempre à companhia de seu esposo celestial.
Se você agir assim para com os outros, esteja certo de que sua
oraçã o retornará ao seu pró prio seio, com frutos abundantes, na hora
de sua morte. Mas será muito mais vantajoso para você realizar essa
devoçã o por si mesmo enquanto pode, do que con iar nos outros depois
de sua morte; e Deus, que é iel à s Suas promessas, vai mantê -lo para
você e devolvê -lo em seu tempo, pelas entranhas de Sua misericó rdia,
que nos visitou como Oriente desde o alto. ( Lucas 1:78).

CAPITULO 19
A recompensa de orar pelos mortos. E a puniçã o de desobediê ncia e detraçõ es.

NUMA ocasiã o, enquanto a missa era celebrada por uma pobre mulher
que havia morrido recentemente, Santa Gertrudes recitou cinco Pater
nosters , em homenagem à s Cinco Chagas de Nosso Senhor para o
repouso de sua alma; e, movida pela inspiraçã o divina, ofereceu todas
as suas boas obras para o aumento da bem-aventurança desta
pessoa. Quando ela fez esta oferta, ela imediatamente viu a alma no
Cé u, no lugar a ela destinado; e o trono preparado para ela foi elevado
muito acima do lugar onde ela havia estado, visto que o trono mais alto
dos Sera ins está acima do mais baixo Anjo. O Santo entã o perguntou a
Nosso Senhor como esta alma tinha sido digna de obter tal proveito de
suas oraçõ es, e Ele respondeu: “Ela mereceu esta graça de trê s
maneiras: primeiro, porque sempre teve uma vontade sincera e um
desejo perfeito de me servir em religiã o, se fosse possı́vel; em segundo
lugar, porque ela amou especialmente todos os religiosos e todas as
pessoas boas; em terceiro lugar, porque ela estava sempre pronta para
Me honrar prestando qualquer serviço que pudesse para eles. ” Ele
acrescentou: "Você pode julgar, pela categoria sublime a que ela foi
elevada, o quã o agradá veis essas prá ticas sã o para Mim."
Morreu um religioso que sempre se habituou a rezar com muito
fervor pelas almas dos ié is que partiam; mas ela falhou na perfeiçã o da
obediê ncia, preferindo sua pró pria vontade à de seu superior em seus
jejuns e vigı́lias. Depois de sua morte, ela apareceu adornada com ricos
ornamentos, mas tã o sobrecarregada por um pesado fardo, que era
obrigada a carregar, que nã o podia se aproximar de Deus, embora
muitas pessoas estivessem se esforçando para conduzi-la a Ele.
Enquanto Gertrude se maravilhava com essa visã o, ela aprendeu
que as pessoas que se esforçaram para conduzir a alma a Deus eram
aquelas a quem ela havia libertado por meio de suas oraçõ es; mas esse
fardo pesado indicava as faltas que ela havia cometido contra a
obediê ncia. Entã o Nosso Senhor disse: “Vede como aquelas almas
agradecidas se esforçam por libertá -la das exigê ncias da Minha justiça
e mostram estes ornamentos; no entanto, ela deve sofrer por suas
faltas de desobediê ncia e obstinaçã o. ” A Santa respondeu: “Mas,
Senhor, ela nã o se arrependeu quando admoestada dessas faltas antes
de sua morte? Ela nã o cumpriu penitê ncia por eles? E a Escritura nã o
diz: 'Quando o homem confessa, Deus perdoa?' ”39 Nosso Senhor
respondeu: “Se ela nã o tivesse agido assim, o fardo de suas faltas teria
sido tã o pesado, que ela di icilmente poderia ter vindo a Mim”.
Entã o a Santa viu seu ornamento, que parecia um vaso de á gua
fervente contendo uma pedra dura, que deveria ser completamente
dissolvida antes que ela pudesse obter alı́vio desse tormento; mas
nesses sofrimentos ela foi muito consolada e assistida por essas almas e
pelas oraçõ es dos ié is. Depois disso, Nosso Senhor mostrou a Santa
Gertrudes o caminho pelo qual as almas ascendem ao cé u. Parecia uma
prancha reta, um pouco inclinada, de forma que quem subia o fazia com
di iculdade. Eles foram assistidos e apoiados pelas mã os de cada lado, o
que indicava as oraçõ es oferecidas por eles. Os que foram auxiliados
pelos Anjos tiveram uma grande vantagem, pois repeliram os dragõ es
que voavam ao seu redor, esforçando-se para impedir suas oraçõ es. Os
religiosos que viveram sob a obediê ncia foram auxiliados por uma
espé cie de grade, colocada de cada lado dessa prancha, para que ambos
icassem amparados e protegidos de queda.
Em alguns lugares, essas grades foram removidas, como puniçã o
aos superiores que haviam falhado em governar seus sú ditos pelas
regras de obediê ncia. Mas todas as almas que foram verdadeiramente
obedientes foram assistidas e apoiadas pelos Anjos, que removeram
todos os obstá culos de seu caminho.
Uma religiosa, que tinha ouvido murmú rios e calú nias, apareceu à
Santa també m sob a forma humana, e foi punida com os ouvidos
tapados com uma substâ ncia dura, que só podia remover com grande
di iculdade e a passos lentos; sua boca també m foi coberta com uma
espé cie de ré dea, por ter proferido algumas detraçõ es, de forma que ela
nã o poderia saborear a doçura Divina. Foi revelado a Santa Gertrudes
que esta pessoa pecou por inadvertê ncia e ignorâ ncia, e se arrependeu
de sua culpa; mas aqueles que persistissem habitualmente neste
pecado seriam punidos muito mais severamente, e seus sofrimentos
seriam tã o intensos e horrı́veis que os tornariam objetos de aversã o aos
cidadã os do cé u.
"Ai, Senhor!" exclamou o Santo com lá grimas; “Antigamente Tu me
mostraste o mé rito dos santos e agora só vejo os castigos dessas
almas.” Ele respondeu: “Os homens eram entã o mais facilmente
conquistados pelos dons da graça; agora eles devem estar apavorados
com ameaças e julgamentos. ”
Agora relataremos como a misericó rdia divina preparou Gertrudes
para seu ú ltimo im.

CAPITULO 20
Do desejo ardente de morte que Nosso Senhor acendeu na alma de Gertrudes.
O

NA Festa do Bem-aventurado Martinho,40na resposta, Beatus Martinus ,


o Santo clamou ao Senhor com um desejo ardente: “O Senhor, quando
me mostrará s um favor semelhante?” Ele respondeu: “Em breve, irei
levá -lo para mim”. Essas palavras despertaram em sua alma um desejo
excessivo de se dissolver e estar com Cristo, embora ela nunca tivesse
sentido o mesmo desejo antes. Na quarta feria (quarta-feira) depois do
Domingo de Pá scoa, quando recebeu a Comunhã o, ouviu Nosso Senhor
dizer-lhe: “Vem, meu eleito, para que Eu me entronize em ti”. E ela sabia
que se aproximava a hora da qual Nosso Senhor já lhe havia falado no
dia de Sã o Martinho, dizendo: “Em breve te levarei para mim”. Nosso
Senhor entã o acrescentou: “Nã o viva para si mesmo durante o pouco
tempo que resta para você , mas dedique-se inteiramente à promoçã o
da Minha gló ria, de acordo com os seus pró prios desejos.” A hora de sua
morte foi adiada, para que ela pudesse ter uma preparaçã o mais longa,
de acordo com esta instruçã o. Pois assim como as Escrituras nos
dizem que o atraso aumenta nossos desejos, també m aumenta nosso
mé rito.
Certa vez, quando Gertrudes estava ocupada com estes
pensamentos, num domingo, Nosso Senhor disse-lhe: “Se eu te
concedesse no momento da tua morte a realizaçã o de todos os santos
desejos que nutriste, seria pouco em comparaçã o com a graça que estou
prestes a conferir a você . Escolha, ”Ele continuou,“ se você vai morrer
agora, ou sofrer uma longa enfermidade primeiro, para que você possa
saber algo sobre as enfermidades de uma doença prolongada ”. O Santo
respondeu: “Senhor, faze Tua santa vontade.” Ele respondeu: “Você faz
bem em se submeter à Minha decisã o; e se você consentir, por Meu
amor, em permanecer mais tempo no corpo, Eu estabelecerei Minha
morada em seu coraçã o, como uma pomba em seu ninho; e ao mesmo
tempo eu te esconderei em Meu Coraçã o, de onde te conduzirei para
alegrias eternas. ”
A partir desse momento seu desejo de partir desta vida foi
moderado, e ela ouviu estas palavras continuamente sussurradas em
sua alma: “Minha pomba, nas fendas da rocha”. ( Cant . 2:14). Mas o
desejo dela voltou depois de um tempo, e Nosso Senhor disse-lhe: “Que
noiva reclamaria do tempo gasto em se adornar para o noivo, ou
lamentaria as ocasiõ es em que aumentasse o seu amor? Pois depois da
morte a alma nã o pode merecer, nem pode sofrer nada por Deus. ”

CAPITULO 21
Como Gertrude orou pela morte.

NCE, quando Gertrude recebeu a Sagrada Comunhã o, ela se sentiu tã o


fraca que perguntou ao Senhor se seu im estava pró ximo. Ele
respondeu: “Quando uma noiva ouve que há muitas mensagens de seu
prometido, tratando da conclusã o de sua aliança, ela começa a se
preparar para isso. Da mesma maneira, quando você sentir doença e
sofrimento interior, você deve começar a se preparar para a morte.
” "Mas como saberei quando chegará a hora desejá vel que me libertará
da prisã o da carne?" Nosso Senhor respondeu: “Dois dos mais nobres
Anjos da corte celestial sussurrarã o em seus ouvidos, atravé s de
trombetas de ouro, esta melodiosa cançã o: 'Eis que o Noivo vem; ide ao
encontro dele '. ”Ela respondeu:“ E, meu Senhor, em que carruagem
serei levada para ver Teu rosto abençoado? ” Ele disse: “Meu amor se
derramará sobre você s e os conduzirá ao Meu reino”. "E onde devo
repousar nesta carruagem?" Nosso Senhor respondeu: “Seu assento
será , con iança na Minha misericó rdia, da qual você deve esperar todo o
bem.” "Devo ter ré deas para guiar esta carruagem?" ela perguntou. Ele
respondeu: “Seu amor fervoroso suprirá essa necessidade”. O Santo
continuou: “Como sei o que é necessá rio para a viagem, nã o perguntarei
mais; mas desejo ardentemente viajar nesta estrada. ” Nosso Senhor
respondeu: “Suas alegrias excederã o tudo que você pode esperar ou
desejar; pois tudo o que possa ser imaginado pelos Meus eleitos quanto
à sua bem-aventurança futura, será em muito excedido pela realidade. ”

CAPITULO 22
Das feridas do amor divino com que o Santo foi paralisado.

ELE SAINT ouviu um irmã o que pregava na capela dizer, entre outras
coisas, que o amor era uma lecha de ouro, que alcançava tudo o que
tocava; e que foi um tolo quem usou esta lecha para caçar prazeres
terrenos, quando poderia usá -la para obter alegrias eternas. Entã o
Gertrudes exclamou, com um ardor de amor: “Oh, quã o feliz eu seria se
eu possuı́sse esta lecha dourada, pois eu Te trespassaria com ela, meu
Amado, para que eu pudesse Te possuir eternamente!” Ao dizer essas
palavras, ela viu Nosso Senhor segurando uma lecha de ouro na mã o e
disse-lhe: “Queres ferir-me; mas vou te perfurar, para que a tua ferida
nunca seja curada. ” Ao dizer isso, a lecha apareceu dobrada em trê s
lugares. Com isso ela entendeu que a lecha do amor divino fere de trê s
maneiras: primeiro, tornando todos os prazeres terrenos
desagradá veis, de modo que nada neste mundo pode proporcionar
prazer ou consolo à alma; em segundo lugar, ao despertar na alma um
desejo ardente de se unir a Deus, descobrindo que nã o pode respirar ou
viver separada Dele; em terceiro lugar, a alma está tã o paralisada que
quase se separa do corpo e é dominada pela torrente de delı́cias
divinas.
Depois desta revelaçã o, Santa Gertrudes desejou, com um desejo
meramente humano, morrer entã o na igreja onde este favor lhe fora
concedido, como se a santidade do lugar onde o corpo deixou de viver
tivesse aproveitado a alma. E como ela pediu repetidamente para obter
esta graça, Nosso Senhor disse-lhe: “Quando a tua alma sair do teu
corpo, vou escondê -la sob os Meus cuidados paternos, como uma mã e
cobriria e acariciaria seu ilho amado quando aterrorizada pelo medo
de naufrá gio. E como a mã e se regozijaria com a alegria de seu ilho
quando eles alcançassem a terra em segurança, eu també m me
regozijarei com sua alegria quando você estiver seguro no Paraı́so. ”
A Santa deu graças a Deus por todo o seu amor e renunciou aos seus
desejos anteriores, con iando-se inteiramente à Sua Divina Providê ncia.

CAPITULO 23
Nossos preparativos para a morte nã o sã o esquecidos diante de Deus.

NCE, como o Santo implorou a Nosso Senhor para mostrar sua


misericó rdia na hora da morte, Ele respondeu: “Como posso deixar de
cumprir o que já comecei?” Ela respondeu: “Se Me tivesses tirado do
mundo quando pensei, por Tuas Divinas comunicaçõ es, que meu im
estava pró ximo, teria suposto que estava melhor preparada para
morrer; mas agora acho que minhas negligê ncias me tornaram menos
digno. ” Nosso Senhor respondeu: “Todas as coisas sã o ordenadas pela
sabedoria de Minha Providê ncia; tudo o que você fez uma vez está
sempre diante de Mim, e tudo o que você pode adicionar a isso nã o será
perdido. ”
Com isso ela entendeu que a preparaçã o para a morte pode ser feita
muito antes do evento; como um prı́ncipe se prepara há muito tempo
quando está prestes a celebrar suas nú pcias. Na vindima, o grã o e a uva
sã o armazenados nas suas caves, para que haja um abastecimento
abundante quando forem necessá rios; entã o, o evento nã o pode ser
falado novamente até que a hora se aproxime, embora os preparativos
sejam feitos. Assim, Deus incita Seus eleitos a se prepararem para a
morte, embora nã o os tire do mundo por algum tempo.

CAPITULO 24
Exercı́cios de preparaçã o para a morte. E devoçã o à Santı́ssima Virgem.

AS SEGUINTES instruçõ es foram escritas por Santa Gertrudes como


uma preparaçã o anual para a morte:
O primeiro dia deve ser empregado em considerar nosso estado em
nossa ú ltima enfermidade; o segundo dia, em preparaçã o para nossa
ú ltima con issã o; o terceiro, em meditar na Extrema Unçã o; a quarta, na
preparaçã o do Santo Viá tico; o quinto, nas re lexõ es sobre a morte.
Esta preparaçã o para a morte, que a Santa ensinou aos outros, foi
usada també m por ela; e ela se comunicou no domingo anterior, para
obter a graça de realizar este exercı́cio com devoçã o, cantando o Salmo
41, Quemadmodum,41por esta intençã o, com o hino Jesu nostra
redemptio, para que a sua alma se unisse perfeitamente a Nosso
Senhor. Entã o Nosso Senhor disse-lhe: “Une-se a Mim, como o profeta
Eliseu se uniu ao menino42a quem ele ressuscitou. ” "Mas, Senhor,
como devo fazer isso?" perguntou o Santo. Nosso Senhor respondeu:
“Junte suas mã os à s Minhas; isto é , recomende-me todas as obras de
suas mã os: coloque seus olhos sobre as minhas; isto é , unir os
movimentos do seu corpo aos movimentos do Meu. Assim, seus
membros se tornarã o um com os Meus e participarã o de sua inocê ncia
e santidade, de modo que, doravante, se moverã o apenas para Minha
gló ria ”. E esta aliança, que a Santa formava com Nosso Senhor, era
como uma zona de ouro, que unia indissoluvelmente a sua alma ao seu
Amado.
Quando Gertrudes se aproximou da Sagrada Comunhã o, lembrou-se
de que nã o havia sido capaz de se confessar no dia anterior, embora o
tivesse desejado ardentemente; e ela rogou a Nosso Senhor que
perdoasse seus pecados e negligê ncias. E enquanto orava assim, viu
Nosso Senhor unindo-a a Si mesmo com correntes de ouro, de modo
que sua alma parecia, por assim dizer, encerrada em Sua Divindade,
como uma pedra preciosa estaria em um caixã o de ouro.
No dia seguinte, ao sentir o agravamento da doença, leu duas
vezes o Salmo Quemadmodum , com o hino Jesu nostra redemptio , em
homenagem à uniã o da Divindade e da Humanidade na pessoa de Cristo
para a nossa salvaçã o. Ao mesmo tempo, essas correntes pareciam uni-
la ainda mais intimamente ao seu Senhor. Na terceira feria, ela repetiu
essas devoçõ es trê s vezes, em honra da uniã o de Cristo Jesus com a
Santı́ssima Trindade, pela qual a natureza humana é tã o glori icada. Na
quarta feria - o dia designado em seus exercı́cios para meditaçã o sobre
a morte - ela viu sua alma presa ao cruci ixo, como uma joia encerrada
em ouro; e ela percebeu que folhas de videira douradas brotavam da
cruz, cuja beleza se re letia no ouro. Compreendeu assim como a Paixã o
de Cristo, em uniã o com a qual ofereceu os seus sofrimentos a Nosso
Senhor, tinha rendido a sua alma à Santı́ssima Trindade. Na quinta feria,
ao confessar seus pecados ao esposo na amargura de seu coraçã o, ela
soube que Ele os perdoou, pois ela viu vá rias pedras preciosas nas
folhas douradas da videira. Na sexta feira (sexta-feira), enquanto ela
meditava sobre a Extrema Unçã o, Nosso Senhor apareceu a ela e ungiu
seus olhos, ouvidos e lá bios com um licor que vinha do ı́ntimo de Seu
Coraçã o; e esse licor precioso també m comunicou aos diferentes
membros de seu corpo os mé ritos do Corpo de Cristo dei icado.
No sá bado, enquanto se preparava para o Santo Viá tico, no adorá vel
sacrifı́cio da missa, ela viu quatro prı́ncipes angelicais cercando o trono
da Divina Majestade. Dois destes Anjos colocaram-se a cada lado do
nosso Divino Senhor, e os outros dois vieram à Santa e a conduziram ao
seu Esposo. Nosso Senhor a recebeu com a maior ternura e depois a
uniu a Si pelo sacramento vivi icante do altar. A Santa ocupou-se no
domingo repetindo as oraçõ es que tinha composto como preparaçã o
para a morte, oferecendo ao mundo a Nosso Senhor cada membro do
seu corpo como morto, e desejando doravante existir apenas para o seu
eterno louvor e amor. Depois disso, Ele a abençoou com sua pró pria
mã o e marcou o sinal da cruz em cada membro de seu corpo, que
parecia glori icá -los maravilhosamente e livrá -los de todas as manchas.
Na Elevaçã o da Hó stia ofereceu o seu coraçã o a Nosso Senhor, para
que o izesse morrer para o mundo; rogando-Lhe, pela inocê ncia de Sua
santı́ssima vida, que a libertasse de toda mancha de pecado e, pelo
incompreensı́vel amor que unia Deus ao Homem na Pessoa Divina, que
a preparasse para receber Seus dons. Nosso Senhor entã o apareceu a
ela e abriu o Seu Coraçã o com ambas as mã os, de onde saiu um fogo tã o
ardente que a alma da Santa se desfez por completo. Desta uniã o de seu
coraçã o com o Coraçã o de seu esposo, uma á rvore brotou, adornada
com folhas de ouro e prata; e Nosso Senhor disse-lhe: “Esta á rvore
procede da Minha uniã o contigo; Minha Divindade é representada pelas
folhas douradas, e sua alma pelas folhas prateadas, que estã o
encerradas nelas. ” Enquanto a Santa rezava por aqueles que estavam
sob seu cuidado, ela viu a á rvore produzindo frutos maduros e
bonitos; e os ramos pendiam de tal maneira que essas pessoas podiam
colher o fruto como quisessem.
Depois disso, sentindo-se muito exausta, ela deitou-se em seu catre,
dizendo: “Eu ofereço este descanso a Ti como se fosse dado a Tua
sagrada Humanidade”. Ele respondeu: “E suprirei, pela Minha
misericó rdia, todos os seus pecados de fragilidade humana”.
Entã o ela perguntou se sua fraqueza presente seria o meio de trazê -
la ao descanso eterno; e Nosso Senhor respondeu: “Estou conduzindo-
os para mais perto de Mim por meio desta enfermidade. Pois quando
um rei está prestes a desposar uma princesa que vive em uma terra
distante, ele envia seus o iciais e cortesã os para conduzi-la a ele com
toda a pompa e magni icê ncia possı́vel; e eles sã o encarregados de nã o
poupar esforços nem despesas para tornar a viagem fá cil e agradá vel
para ela. Quando ela chega ao seu destino, ele a coloca em um de seus
palá cios reais e lhe dá um anel como penhor de casamento. Aqui ela
permanece, assistida com todas as honras, até o dia das nú pcias,
quando o pró prio rei vem para ela e a conduz ao seu trono imperial.
“Agora eu, teu Senhor e teu Deus, sou o verdadeiro e iel Amante de
tua alma; e partilho de todas as dores de corpo ou de alma pelas quais
está s a lito, e envio os Meus Santos para atendê -lo e felicitá -lo por esta
estrada real que o leva a Mim. Os instrumentos de mú sica e alegria sã o
seus sofrimentos, que ressoam em Meus ouvidos como um concerto
harmonioso, movendo-Me a ter compaixã o de você e inclinando Meu
Coraçã o cada vez mais para você . Entã o, quando você chegar ao im de
sua jornada, Eu te encontrarei e te desposarei diante de todos os Meus
Santos com um abraço sagrado, no Sacramento da Extrema
Unçã o. Quanto mais cedo você receber este Sacramento, maior será sua
felicidade; pois entã o Eu irei me aproximar de você cada vez mais perto,
de modo que todo o seu ser seja arrebatado com a bem-aventurança do
Meu abraço; e Eu mesmo irei transportá -lo atravé s do escuro rio da
Morte, mergulhando-o no oceano da Minha Divindade, onde você se
tornará um só espı́rito Comigo e reinará Comigo por eras sem
im. Entã o sereis consolados por todas as provaçõ es e sofrimentos que
suportastes na terra, com a mesma mú sica harmoniosa e as mesmas
delı́cias que agora arrebatam Minha Humanidade divina ”.
Nosso Senhor continuou assim: “Se algué m deseja uma visita
semelhante em seus ú ltimos momentos, esforce-se diariamente por
revestir-se da Minha vida perfeita e imitá -la continuamente; que ele
aprenda a submeter sua carne e a renunciar inteiramente à sua vontade
em Minhas mã os; deixe-o viver pelo Espı́rito e creia que em todas as
coisas procurarei o seu bem, pela Minha paternal Providê ncia. Que ele
Me ofereça todas as adversidades e contradiçõ es, e para cada uma delas
Eu o recompensarei com ricas joias e presentes preciosos. Se, pela
fragilidade humana, ele busca a si mesmo em alguma coisa, que faça
penitê ncia imediatamente, e mais uma vez se resigne à Minha Vontade,
e Eu o receberei com a destra da Minha misericó rdia, e o conduzirei
com inefá vel honra e gló ria ao reino de luz eterna. ”
No domingo seguinte, enquanto Gertrude solenizava a festa de sua
alegria eterna e o momento feliz em que ela deveria aparecer diante da
Santı́ssima Trindade liberada do exı́lio, ela icou extasiada e viu todos
os mé ritos e alegrias de cada coro de Anjos e dos diferentes Santos; e
enquanto seu coraçã o transbordava de alegria ao considerar a bem-
aventurança deles, ela retornou o mais fervoroso agradecimento a Deus
por isso. Ela també m agradeceu por todas as graças, dons e gló ria que
Ele concedeu à Santı́ssima Virgem Sua Mã e; suplicando-lhe, pelo amor
de seu Filho, que ofereça suas virtudes por ela ao Rei das virtudes.
Entã o a Rainha do Cé u, movida por suas oraçõ es, ofereceu sua
pureza virginal por ela, como uma vestimenta branca; sua humildade
pacı́ ica, como uma tú nica verde; e sua caridade imperecı́vel, como um
manto pú rpura. Quando Nosso Senhor a vestiu com essas vestes, os
santos, regozijando-se com sua beleza, oraram para que ela també m
fosse adornada com suas graças e virtudes. E Ele colocou um colar
sobre ela, adornado com pedras preciosas, cada uma das quais parecia
atrair as diferentes graças que haviam sido pedidas para ela. Mas nã o
deve ser entendido por isso que qualquer um pode receber de outros o
que eles deixaram de obter para si mesmos; nã o obstante, algumas
almas podem receber por sua gratidã o o que outras deixam de obter.

CAPITULO 25
Como Nosso Senhor Jesus e todos os Santos consolam as almas dos justos nos
seus ú ltimos momentos. E com que amor Nosso Senhor se comunica aos seus
eleitos no Sacramento do Altar.
UMA

S GERTRUDE re letindo sobre a morte, exclamou a Nosso Senhor: “Quã o


felizes e honrados sã o os que merecem ser consolados e fortalecidos
por Teus santos em seus ú ltimos momentos! Nã o sou digno desse
consolo, pois nunca honrei Teus santos dignamente; portanto, nã o
posso esperar consolo de nenhum Santo, exceto de Ti sozinho, o
Santi icador de todos os Santos. ” Nosso Senhor respondeu: “Você nã o
será privado desta consolaçã o porque você espera tudo de mim; pelo
contrá rio, Meus santos amarã o e ministrarã o a você ainda mais por
isso, e no momento em que os homens geralmente sentem mais medo e
ansiedade, enviarei Meus santos para ajudá -lo, e Eu irei até você em
todas as gló ria e beleza da Minha Divindade e Humanidade. ” Ela
respondeu: “E quando cumprirá s Tua promessa e me levará s desta
terra de exı́lio para a terra de descanso?” Nosso Senhor respondeu:
"Será que uma noiva real reclamará dos aplausos da populaçã o se isso
apenas aumentar o amor de seu noivo por ela?" “Mas, Senhor,”
continuou o Santo, “como isso pode se aplicar a mim, que sou a mais vil
das Tuas criaturas?” Ele respondeu: “Saibam que Eu me comunico a
você s inteiramente no Sacramento do Altar, o que depois desta vida nã o
pode ser; e nesta uniã o há mais bem-aventurança e deleite do que em
qualquer amor humano, pois isso é freqü entemente vil e
transitó rio; mas a doçura desta uniã o enobrece e digni ica a alma. ”
Nosso Senhor freqü entemente incitou a Santa a desejar sua
libertaçã o da carne; e agora ela icou gravemente doente, de modo que
os mé dicos nã o tinham esperança de sua recuperaçã o. Essa inteligê ncia
a encheu de alegria, e ela disse a Nosso Senhor: “Embora eu deseje,
acima de todas as coisas, ser libertada da prisã o da carne e unida a Ti,
no entanto, se Te agradar, de bom grado icaria em terra e suportar o
sofrimento mais severo, até o dia do julgamento. ” Nosso Senhor
respondeu: “Tua boa vontade move Minha benignidade divina, que eu a
aceito como se você tivesse cumprido o que você oferece”. Ao dizer isso,
uma alegria maravilhosa apareceu em Seu semblante divino, que
transmitiu uma nova e inefá vel alegria e consolo a todos os santos. Em
seguida, Ele continuou: “Naquela hora em que Eu os atrair inteiramente
para Mim, as montanhas - isto é , os santos - derramarã o doçura; os cé us
derramarã o mel sobre a terra, da abundâ ncia da tua bem-
aventurança; as colinas manarã o leite e mel, ou seja, atrairei almas
carnais e terrestres pela Minha graça, por sua causa ”.
Entã o ela começou a agradecer fervorosamente por esses favores e
a excitar ainda mais sua gratidã o, re letindo sobre as muitas graças que
nosso Divino Senhor havia prometido a ela. E esses favores eram:
primeiro,43uma promessa de que ela morreria de amor divino, e que
sua morte seria causada por isso, assim como o amor causou a morte
do Filho de Deus na cruz; segundo, que nos adorá veis conselhos da
Santı́ssima Trindade o Espı́rito Santo preparou-se para presidir a sua
morte e ordenar tudo o que se passasse dentro dela; terceiro, que todos
os que a ajudaram em sua ú ltima doença, ou mesmo desejaram fazê -lo,
sejam assistidos e protegidos pelo amor divino em seus ú ltimos
momentos; quarto, que Nosso Senhor concederá a eles tantas graças
quantas forem possı́veis para os homens receberem; quinto, que na
hora de sua feliz partida um imenso nú mero de pecadores se
convertam à verdadeira penitê ncia pela in inita e gratuita misericó rdia
de Deus; sexto, que um nú mero in inito de almas deve ser libertado do
sofrimento e obter um aumento de mé rito e bem-aventurança e entrar
com ela no reino celestial; sé timo, que todos aqueles que suplicaram a
Nosso Senhor que lhe concedesse alguma graça fossem
recompensados recebendo a mesma graça; oitavo, que quem retribuiu
graças a Deus pelas graças que lhe foram concedidas receba, mais cedo
ou mais tarde, de acordo com os decretos de Sua Providê ncia, tudo o
que desejaram para sua salvaçã o, se observassem as seguintes
condiçõ es: 1) louvar o amor eterno de Deus, que a escolheu desde a
eternidade; 2) agradecer a Ele por tê -la atraı́do tã o docemente para Si
mesmo; 3) por tê -la unido a Ele de maneira tã o ı́ntima e familiar; 4) por
ter abençoadamente consumado Sua obra nela, e por ter atendido
todas as suas petiçõ es; nono, que Nosso Senhor jurou a Gertrudes pela
verdade de Sua Paixã o, e con irmou Sua promessa pelo selo de Sua
Morte, que quem orou por ela durante sua vida, em sua morte, ou
depois de sua morte, deveria receber o mais abundante graças e
favores, se tivessem també m a intençã o de incluir nesta oraçã o todos
por quem Deus desejasse que orassem, se iniciassem sua petiçã o
oferecendo-a pelo mé rito do amor in inito que O puxou do cé u à terra
para cumprir o obra da nossa salvaçã o, e a concluı́mos oferecendo-a
em uniã o com a Sua Morte, e a gló ria e triunfo com que Ele apresentou
a Sua adorá vel Humanidade ao Pai no dia da Sua gloriosa
Ascensã o. Alé m disso, Ele prometeu que aqueles que orassem assim
por ela receberiam todas as graças que haviam pedido por ela, como se
eles tivessem se tornado dignos de obtê -las.

CAPITULO 26
Do doce repouso de que gozava o Santo; e como ela se satisfez com suas
negligê ncias.

OME tempo depois disso, Nosso Senhor apareceu a ela, e parecia como
se estivesse preparando um sofá no qual ela pudesse repousar; mas, em
vez de uma cama macia de penas, Ele exibiu diante dela, por assim
dizer, todos os sofrimentos que suportou na Cruz para a salvaçã o dos
homens, para que seu fruto salutar pudesse preparar sua alma para a
vida eterna. O travesseiro que Ele ofereceu para apoiar a cabeça dela foi
a dor do Seu mais doce Coraçã o quando Ele foi pendurado na Cruz, e
lembrou como todos os Seus sofrimentos seriam inú teis para tantas
almas. Como um colchã o para este sofá , Ele ofereceu a ela Seu
abandono e desprezo em Sua Paixã o, a in idelidade de Seus amigos para
Aquele que era de todos os amigos o mais iel, Sua amarraçã o cruel,
zombaria e desprezo. Por ú ltimo, ofereceu-lhe os mé ritos da sua morte
preciosı́ssima como manta, para que assim ela fosse santi icada,
segundo o beneplá cito da sua divina misericó rdia.
Enquanto Gertrude ali repousava docemente, o Coraçã o de Nosso
Senhor, no qual todos os tesouros estã o escondidos, apareceu para ela
como um jardim mı́stico de extrema beleza, no qual todos os desejos de
Sua sagrada Humanidade eram representados sob a igura de um
verdor primoroso, e todos os seus pensamentos como violetas e
lı́rios. As virtudes de nosso Divino Senhor foram representadas por
uma videira frutı́fera, como a de Engaddi, cujas uvas eram de uma
doçura tã o deliciosa. Esta videira estendeu os seus ramos e folhas à
volta da Santa, proporcionando-lhe a sombra e o refresco mais
agradá veis; e Nosso Senhor deu-lhe frutos, isto é , Suas virtudes, dos
diferentes ramos desta á rvore, fazendo-a beber també m o vinho
delicioso que ela produzia.
Entã o ela viu trê s fontes puras brotando do Coraçã o Divino, que se
esvaziaram milagrosamente uma na outra; e Nosso Senhor disse-lhe:
“Beberá s destes riachos tã o e icazmente na hora da tua morte, que a tua
alma alcançará uma saú de tã o perfeita e uma perfeiçã o tã o consumada
que nã o poderá s permanecer mais no corpo; entretanto, deixe esta
visã o encantadora servir para o seu adorno espiritual. ” Entã o ela
suplicou ao Pai Eterno que olhasse para ela em prol da santa
Humanidade de nosso Senhor Jesus Cristo, para puri icá -la de todo
pecado e adorná -la com Suas virtudes divinas; e ela sabia que suas
oraçõ es foram ouvidas. Depois disso, ela orou assim: “O Pai amoroso,
dá -me a Tua mais amorosa bê nçã o”; e o Senhor estendeu Sua mã o
onipotente e a abençoou com o sinal da cruz. Entã o essa bê nçã o
apareceu como uma tenda dourada, que cobria o leito já mencionado; e
ela també m viu muitos instrumentos musicais colocados nele, o que
signi icava as alegrias que ela obteve por meio da Paixã o de Jesus
Cristo.
Essas delı́cias celestiais transformaram seus sofrimentos em
alegria, e como ela agora se ocupava inteiramente com sua pró pria
perfeiçã o, ela começou a compor algumas oraçõ es curtas e fervorosas,
para suprir suas negligê ncias na recitaçã o das Horas Canô nicas, o Ofı́cio
da Santı́ssima Virgem e o Escritó rio dos Mortos. Ela també m desejava
suprir suas de iciê ncias em certas virtudes, como o amor a Deus e ao
pró ximo, humildade, castidade, obediê ncia, consideraçã o pelos outros,
agradecimento, alegria ou luto com os outros, etc. Entã o ela se esforçou
para suprir as negligê ncias de que se julgava culpada nos louvores
divinos, na açã o de graças, na oraçã o e na reparaçã o, nã o só por si
mesma, mas també m por toda a Igreja.
Nem ela icou satisfeita com esta reparaçã o; pois ela desejava para
cada falta, e para cada membro de seu corpo, recitar vinte e cinco
oraçõ es curtas, acrescentando ao inal de cada petiçã o o Pater
noster e Ave Maria , pelos quais ela tinha uma devoçã o especial; e essas
oraçõ es nã o apenas comoveram o coraçã o do homem, mas até tocaram
o pró prio Rei da Gló ria, que se alegrou muito com isso; e embora a
Santa tivesse a mais perfeita con iança nas promessas relatadas acima,
que nosso Divino Senhor tinha feito a ela, nã o obstante, sua humildade
a impeliu a trabalhar para seu cumprimento, por sua pró pria
cooperaçã o sincera com a graça divina. Ela també m leu sua sagrada
Regra com extrema diligê ncia, procurando suprir suas omissõ es em sua
observâ ncia por meio de suas oraçõ es, suspiros e lá grimas; de modo
que ela nã o apenas satisfez por qualquer falta que pudesse ter
cometido, mas també m obteve novos ornamentos e graças de Deus. Em
seguida, ela aplicou todos os poderes de sua alma e corpo para coisas
superiores, orando com fervor excessivo, desejando ardentemente uma
uniã o perfeita e eterna com seu Deus, unindo sua devoçã o ao amor
mú tuo e gratidã o inefá vel [isto é , parabé ns] do Eterno Santı́ssima
Trindade, e repetindo o versı́culo: “Quando virá s? minha alma tem sede
de Ti ”, com as palavras:“ O Pai amoroso ”. (As ú ltimas palavras que ela
aprendeu de uma maneira maravilhosa, e ela sabia que eram muito
aceitá veis a Deus.)
Ela repetia essas oraçõ es continuamente, a menos que sua fraqueza
corporal fosse tã o grande que pudesse impedi-la; e ela ofereceu a
reparaçã o també m, se sua alma nã o fosse atraı́da por uma oraçã o mais
sublime. As consolaçõ es que lhe foram concedidas foram tã o
abundantes, que foram transmitidas até mesmo aos que a atendiam, de
modo que muitos procuraram estar perto dela para obter suas
instruçõ es e aprender com ela essas oraçõ es. Conseqü entemente,
oraçõ es fervorosas foram feitas por sua recuperaçã o, ou mesmo para
que sua morte fosse retardada; e Deus, que ouve os desejos dos
humildes, concedeu este favor e poupou-a um pouco mais aos que a
amavam com tanto carinho, dando-lhe també m a oportunidade de
aumentar o seu mé rito.
O versı́culo acima mencionado é aqui anexado—

“Entre mil ainda desejados,


Quando virá s, ó Jesus meu?
Quando encherá s minha alma de Ti,
Que nã o conhece alegria na terra senã o a Tua?

“Oh, venha! Oh, venha! Rei poderoso;


Pai de poder e louvor sem limites:
Tua alegria é luz, Tua luz é alegria.
Oh, apresse-se, Senhor, os dias de passagem da vida.

“Tu tens pensamentos do mais terno amor,


Poupando nossos pecados e dando lugar
A misericó rdia; mais doce, querido Senhor,
Oh, venha; Anseio ver Tua Face. ”44

CAPITULO 27
Como a Santa supriu suas negligê ncias ao serviço da Bem-aventurada Virgem
Maria.

UMA

S A Santa se ocupou em fazer essas reparaçõ es, ela lamentou muito por
suas omissõ es na devoçã o à Santı́ssima Virgem e rogou a Nosso Senhor
que oferecesse suas oraçõ es a Sua Mã e Santı́ssima. Entã o o Rei da
Gló ria levantou-se e ofereceu-lhe o Seu Coraçã o dei icado, dizendo: “Eis,
minha amada Mã e, apresento-te o Meu Coraçã o, que abunda em toda a
bem-aventurança, e ofereço-te todos os afetos divinos pelos quais
predestinei, criei e santi iquei você desde toda a eternidade para ser
Minha Mã e; com o amor e a ternura que vos manifestei na terra, quando
me levastes no seio e me alimentastes com o vosso leite, e com a
idelidade com que me submeti a ti, como ilho a mã e; e especialmente
a minha ternura para convosco na hora da morte, quando vos dei um
guardiã o iel, esquecendo-me das Minhas pró prias dores. Ofereço-te a
gló ria e a honra com que te elevei no dia da tua Assunçã o ao Cé u,
quando foste exaltada acima de todos os coros dos Santos e Anjos, e
proclamada Rainha e Senhora do Cé u e da Terra. Apresento-te mais
uma vez todos estes sinais de Meu amor, como se os apresentasse de
novo a ti, em favor de Minha esposa, para que te esqueças das
negligê ncias dela a teu respeito e a auxilia na hora de sua morte com
toda a ternura. de uma mã e. ”
Entã o a Santı́ssima Virgem aceitou com o maior prazer este
encargo, dizendo: “Concede, meu Filho amado, quando eu receber Tua
esposa eleita, de acordo com Teu Divino bom prazer, que ela possa
receber algumas das delı́cias transbordantes de que eu desfruto”. A
bondade do Senhor para com ela comoveu Gertrude profundamente, e
ela exclamou: “Ai, meu amoroso Senhor! Lamento nã o ter satisfeito por
minhas negligê ncias em recitar as Horas Canô nicas da mesma maneira,
visto que Tua inconcebı́vel bondade recebe tã o graciosamente meus
mais pobres esforços ”. Nosso Senhor respondeu: “Nã o te a lijas, meus
amados; pois renovei todos os seus desejos, em uniã o com aquele amor
que levou Meu Divino Coraçã o a infundir em você essas nobres e
amorosas aspiraçõ es; e a ela uni a mais devota e pura intençã o que
qualquer coraçã o humano pode oferecer a Mim, apresentando-a a Meu
Pai com satisfaçã o por todas as vossas negligê ncias, para que a Sua
paternal bondade se incline para vó s com a mais terna afeiçã o. ”

CAPITULO 28
Como Gertrudes se preparou para a morte.

MUITA sexta-feira, na hora de Nenhum, Santa Gertrudes retirou-se de


todas as criaturas, para se dedicar à preparaçã o para a morte e,
sobretudo, para recitar as oraçõ es pelos agonizantes. Depois de ter
praticado esta devoçã o por algum tempo, Nosso Senhor a recompensou
com uma graça especial. Em uma dessas ocasiõ es, ela icou extasiada, e
Nosso Senhor manifestou-lhe a maneira como morreu. Ela se viu
repousando nos braços de Nosso Senhor, sob a forma de uma bela
jovem donzela, em sua agonia; e ao mesmo tempo ela viu um grande
nú mero de Santos e Anjos ao seu redor, com incensá rios em suas mã os,
nos quais eles ofereciam as oraçõ es da Igreja com grande alegria ao Rei
da Gló ria. Quando eles invocaram a Santı́ssima Virgem pela
Antiphon Salve Maria , Nosso Senhor fez um sinal a Sua Santı́ssima Mã e
para consolar os Seus eleitos; e a Rainha das Virgens apareceu em
esplendor maravilhoso e sustentou a cabeça do moribundo. Seu anjo da
guarda també m apareceu sob a igura de um ilustre prı́ncipe, que veio
parabenizá -la por sua felicidade.
Ao invocar o Arcanjo Sã o Miguel, ela avistou o glorioso chefe das
hostes angelicais, com uma multidã o de Anjos, todos preparados para
ajudá -la e combater os demô nios, que ela també m via sob formas
hediondas, mas tã o fracos e impotentes que eles nã o podiam causar-lhe
o menor dano; e isso proporcionou a ela o maior consolo. Uma coluna
de luz parecia proceder dos lá bios do moribundo até o pró prio trono de
Deus; e isso tinha tanta virtude, que era evidente que nem mesmo a
guarda angelical era necessá ria para defendê -la contra os demô nios,
pois causava tanto terror que eles se esforçaram para voar e se
esconder.
A medida que cada um dos santos era invocado na Ladainha dos
Moribundos, ele parecia pronto para ajudá -la. Os Patriarcas tinham
ramos nas mã os, dos quais suas boas obras eram suspensas no lugar
dos frutos; e estes eles colocaram ao redor dela. Os Profetas traziam
espelhos dourados, nos quais estavam representadas as revelaçõ es
sublimes que Deus lhes havia concedido; e estes eles també m
ofereceram por sua ajuda, colocando-os em frente a ela. O amado
discı́pulo Sã o Joã o veio a seguir e presenteou-a com dois ané is de
ouro; cada apó stolo que se seguiu apresentou um també m, e esses
ané is representavam a idelidade que a alma tinha para com nosso
Divino Senhor.
Os má rtires os seguiram, segurando palmas douradas em suas
mã os, que brilhavam radiantemente com todos os seus sofrimentos. As
Confessoras tinham lores douradas, que representavam suas virtudes:
e essas elas també m apresentavam a ela. As virgens ofereceram-lhe
rosas, cujos caules tinham pequenos talos de ouro, o que signi icava a
uniã o ı́ntima com o Senhor de que desfrutavam por causa de sua
pureza; e o Senhor Jesus, o Rei e Esposa das virgens, estava adornado
com um manto coberto com o mesmo nú mero de rosas que as virgens,
que pareciam comunicar-se em Seus mé ritos por esses cajados de ouro,
que prendiam as lores em Seu manto; esses vigaristas també m
representavam as virtudes particulares de cada virgem.
Entã o o Senhor, vendo que Gertrudes estava adornada com as lores
de cada virgem, inclinou-se para ela, para conceder-lhe tantas graças
quantas fossem os laços que a prendessem a Ele; e assim ela
experimentou algo da felicidade dessas almas abençoadas. As viú vas e
os outros santos trouxeram suas ofertas na forma de caixõ es de ouro; e
todos os mé ritos que haviam sido oferecidos a ela, por uma
comunicaçã o admirá vel, tornaram-se seus, de modo que sua alma
resplandeceu diante de Deus.
Os santos Inocentes també m tiveram sua parte neste festival, para
homenagear o Senhor que os havia punido com Seu Precioso Sangue e
os tornado herdeiros de Seu reino. Eles pareciam, entretanto, ter menos
mé ritos pró prios, mas suas almas estavam maravilhosamente
adornadas pela uniã o de sua inocê ncia com a inocê ncia de Jesus
Cristo. Entã o o Filho de Deus se inclinou para Gertrudes e a abraçou
amorosamente, absorvendo-a em si como o sol, em seu esplendor
meridiano, absorve uma gota de orvalho, de modo que sua alma foi, por
assim dizer, recebida no Coraçã o de seu Esposo com todos os virtudes e
mé ritos que lhe foram conferidos, e ela foi cercada e penetrada por Ele
como o fogo in lama o ferro.

CAPITULO 29
Como Nosso Senhor autorizou esta obra.

UMA

APOS esta obra ter sido concluı́da, Nosso Senhor Jesus apareceu à quela
que a havia completado, segurando-a em Suas mã os; e pressionando-o
contra o Seu Coraçã o, Ele disse a ela: “Coloquei este livro assim sobre o
Meu Coraçã o, para que cada palavra nele contida seja penetrada com a
doçura Divina, assim como o mel penetra no pã o. Portanto, quem ler
este livro com devoçã o receberá grande lucro para sua salvaçã o. ” Entã o
ela suplicou a Nosso Senhor que preservasse este livro de todo erro
para Sua pró pria gló ria, e Ele estendeu Sua adorá vel Mã o, assinando-o
com o Sinal da Cruz, dizendo: “Eu consagro por Minha bê nçã o tudo o
que está escrito neste livro, que pode promover a salvaçã o daqueles
que o lê em com devoçã o humilde ”. Ele acrescentou: “O trabalho
daqueles que escreveram este livro é també m muito agradá vel para
Mim, particularmente em trê s coisas: primeiro, Eu provo nele a doçura
do Meu amor Divino, pelo qual tudo o que está relacionado nele foi
efetuado; segundo, estou extremamente satisfeito com a boa vontade
daqueles que o escreveram; terceiro, contemplo com singular prazer
Minha misericó rdia gratuita, que aparece em tudo o que está escrito
neste livro. Desejo, portanto, que este trabalho seja fruti icado por
Minha Santı́ssima Vida e Minhas Cinco Chagas; e os sete dons do
Espı́rito Santo serã o os sete selos da misericó rdia divina com os quais
será selado, para que ningué m possa tirá -lo da Minha Mã o. ”
Em outra ocasiã o, quando o compilador45deste livro comunicado,
ela o tinha escondido na manga do seu há bito, sob o seu manto, para o
oferecer a Nosso Senhor para Seu eterno louvor e gló ria. Ao prostrar-se
antes de receber o Corpo do Senhor, uma das religiosas viu Nosso
Senhor aproximar-se dela com grandes manifestaçõ es de alegria e
ternura; e Ele se dirigiu a ela assim: “Eu penetrarei com Minha doçura
Divina e fertilizarei cada palavra deste livro que você me ofereceu, e
que você escreveu pela direçã o do Meu Espı́rito: e Eu manifestarei a
quem ler este livro com humildade ame o que for mais ú til para ele e o
acolherá em Meu seio, soprando em sua alma vida e verdade. Mas se
algué m ler por vã curiosidade e desejo de bisbilhotar Meus segredos
para censurá -los e zombar deles, certamente o humilharei e o rejeitarei
vergonhosamente. ”

CAPITULO 30
Oblaçã o desta obra à gló ria divina. Conclusã o.

eu

OFERECE a Ti esta obra, ó Senhor Jesus Cristo, Fonte de luz eterna, em


uniã o com aquela caridade inefá vel que Te moveu, o Unigê nito do Pai,
na plenitude da Divindade, a assumir sobre Ti a nossa natureza e a nos
tornar Cara. Eu ofereço a Ti da parte de todas as Tuas criaturas, porque
é Tua inefá vel ternura pela humanidade que Te fez derramar aquelas
graças doces e e icazes no coraçã o de Tua esposa escolhida, para
fruti icá -las, para atraı́-la para Ti mesmo, e para uni-la a Ti
eternamente.
Suplico-Te que leve esta obra para a Tua guarda Divina, para que
glori ique a onipotê ncia do Pai, a sabedoria do Filho e o amor do
Espı́rito Santo. Eu ofereço a Ti em fervorosa açã o de graças por todas as
graças que Tu comunicaste ou desejas comunicar por meio desta obra,
até o im dos tempos. E como sou uma criatura totalmente vil e indigna,
ofereço a Ti, em satisfaçã o por todas as minhas de iciê ncias e omissõ es,
minha cegueira e ignorâ ncia, Teu pró prio coraçã o mais doce, sempre
cheio de açã o de graças divina e beatitude eterna. Um homem.

Deo Gratias.

NOTAS
Introduçã o
1. Esta igreja antiga pitoresca e curiosa exigiria um volume pró prio. E
principalmente notá vel por está tuas de tamanho incomum, em grupos que
representam vá rios incidentes na vida de nosso Divino Senhor. Um desses
grupos representa Jesus Cristo dando a Sagrada Comunhã o à Sua Mã e
Santı́ssima. Um bom prior dos tempos medievais considerou isso uma
impiedade grave e, conseqü entemente, cortou as mã os de Nosso Senhor com
uma machadinha! O Santı́ssimo Sacramento é reservado aqui em uma pomba
dourada, de acordo com um antigo costume. Há uma inscriçã o muito curiosa e
muito antiga, em caracteres gregos antigos, que data do inal do sé culo II,
sobre o altar do Sagrado Coraçã o, HTORI SEMNOI, “Ao Coraçã o
magnâ nimo”. Foi encontrado por sua eminê ncia, o cardeal Petra, ex-monge de
Solesmes, em uma lá pide perto de Autun.
2. João 3: 8
3. Wis . 9: 13-17

Parte 1
Capı́tulo 1
1. Tem havido muita contrové rsia quanto ao ano preciso em que o Santo
nasceu, embora uma circunstâ ncia que será relatada a seguir ixe o perı́o do
com uma certeza tolerá vel. Na data, como també m na etimologia do seu
sobrenome, seguimos a opiniã o do erudito Abade de Solesmes. Na Casa da
Áustria de Coxe, ele menciona o casamento de Anne, irmã do conde Hohenberg,
com o famoso Rodolfo de Habsburgo. Beetham, em suas valiosas Genealogias ,
a chama de Anne de Hochberg. A semelhança do nome com o de Hackeborn
sugere a possibilidade de que a conexã o com a famı́lia imperial possa ter sido
por meio deste canal. A cidade de Eisleben ainda existe e tem, como será
lembrado, a notoriedade nada invejá vel de ser o local de nascimento de
Lutero. E a capital do condado de Mans ield: os tú mulos dos antigos Condes de
Mans ield ainda estã o preservados nas igrejas de St. Andrew e St. Ann. Tem
també m um castelo em ruı́nas, mas, infelizmente, nenhuma tradiçã o de sua
Santa, embora esta ruı́na já tenha sido possuı́da por sua nobre famı́lia.
2. Uma provisã o especial é feita na Regra de Sã o Bento, cap. lix. para regular
este assunto. A prá tica de oferecer crianças muito pequenas que eram
dedicadas por seus pais ao serviço de Deus na religiã o sagrada era geralmente
observada na Ordem, até que o costume foi abolido pela autoridade do Papa
Clemente III. També m é expressamente proibido pelo Concı́lio de Trento. (Ver
Helyot, Hist. Reg. Orders.) Quando Sã o Bento escreveu sua Regra, a Igreja nã o
tinha legislado para as ordens religiosas. Se esses regulamentos tivessem sido
promulgados durante sua vida, ele teria sido o primeiro a reconhecer sua
autoridade e exigir que seus ilhos espirituais se submetessem a eles.
3. Em geral, supõ e-se, mas sem autoridade su iciente, que essas palavras foram
dirigidas a Sã o Mechtilde. Ela pode ter sido a “pessoa sagrada” a quem a
revelaçã o foi feita, mas essa opiniã o é meramente conjectural.
Capı́tulo 2
4. Esta circunstâ ncia é tã o interessante e tã o bem autenticada que merece um
aviso passageiro. E mencionado por Feller, Moreri, na História da Áustria
de Heiss , lib ii. c. 22, e na Acta SS. Maii , tom. viii., onde um ato algo semelhante
de devoçã o, realizado por Carlos II da Espanha, é relatado detalhadamente. O
relato de Heiss é o seguinte: Em uma ocasiã o, quando Rodolph estava
engajado na caçada, começou a chover com tanta violê ncia que sujou a estrada
quando, por acaso, encontrou um pobre cura a pé , carregando a Hó stia para
um doente, ele icou tã o comovido ao ver aquele bom sacerdote trabalhando
na lama, que imediatamente desceu, dizendo: Nã o lhe convinha cavalgar
enquanto o sacerdote que carregava seu Senhor caminhava a pé . Ele entã o fez
o sacerdote montar em seu cavalo, acompanhou-o de cabeça descoberta até a
casa do doente e depois o conduziu para sua igreja, onde o sacerdote,
maravilhado com seu zelo, deu-lhe sua bê nçã o e, sendo inspirado pelo Espı́rito
Santo, profetizou que ele e seus descendentes se sentariam no trono imperial.
5. Adolfo, logo apó s sua eleiçã o, ofendeu o arcebispo de Mentz, a quem devia
sua elevaçã o, e alienou os eleitores por meio de esforços arbitrá rios para
engrandecer sua famı́lia. Albert, entretanto, ainda esperava por alguma chance
feliz de obter a coroa de seu pai. Em 1298, uma Dieta foi montada em
Mentz. Uma longa lista de queixas foi elaborada; Adolphus foi citado para
comparecer e, em sua recusa, foi deposto. Albert foi entã o elevado à dignidade
imperial. Uma guerra civil se seguiu. Os dois exé rcitos se encontraram em
Gellheim, entre Spires e Worms, em 2 de julho, e, sendo liderados pelos
soberanos rivais, lutaram com intrepidez incomum. Aqui, por meio de um
estratagema inteligente, os soldados de Albert perfuraram os guardas que
cercaram Adolphus e o desmontaram. Depois de uma longa defesa, ele atacou
seu rival mais uma vez, mas foi morto por ele com uma lança.
6. Na traduçã o francesa, isso é traduzido como maison de plaisance ; a ideia é
muito bonita, com certeza, mas entã o nã o está no original, onde o termo é
simplesmente domum . Há uma coincidê ncia notá vel entre esta visã o e a ordem
dada a Sã o Francisco de Assis para consertar a casa de Deus.
7. Sã o Mechtilde.
8. “ Sub umbra tranquillissimae consolationis suae .” aquelas que você deseja
fazer por si mesmo ou ver feitas por outros, embora nã o esteja em seu poder
realizá -las. O pró prio Jesus Cristo suprirá diante de Seu Pai as suas
necessidades e defeitos, e os dos outros por quem você é solı́cito; portanto,
nã o duvide de que Ele recompensará igualmente tudo o que você deseja fazer,
como se o tivesse realizado, e saiba que toda a corte do Cé u se regozija com o
seu avanço e retribui graças e louvores a Deus por amor a você . ”
9. “ Respondit Dominus: Libertas cordis ”; mas a palavra “liberdade” ou
“generosidade” parece dar a ideia mais corretamente em inglê s. Nesta
passagem també m a traduçã o francesa é vaga e incorreta. [Presumivelmente, o
autor desta nota de rodapé quis dizer que as palavras “liberdade” ou
“liberdade” dã o a ideia mais corretamente. A palavra latina “ libertas ” signi ica
“liberdade, liberdade”. - Editora , 2002.]
Capı́tulo 3
10. Este milagre é mencionado també m no Ofı́cio de sua festa. A resposta apó s
o vi. Liçã o, ii. A noite começa assim: “ Cum asperrimo gelu terra diu concreta ,”
etc. “Quando a terra, endurecida pela forte geada, nã o deu seus frutos, a
abençoada Gertrudes, tocada pela tristeza, orou a seu Esposo, quando de
repente o gelo derreteu, e uma primavera alegre se deu. ” A resposta apó s o
vii. A liçã o continua: “ Messis tempore ,” etc. “Na é poca da colheita, quando os
frutos da terra sofreram por causa da chuva contı́nua, Gertrudes derramou seu
coraçã o como á gua aos olhos do Senhor, e imediatamente houve uma grande
calma.”
Como o Breviá rio Beneditino difere em muitos detalhes do Romano, uma
breve explicaçã o de sua disposiçã o pode ser necessá ria, visto que será tã o
freqü entemente referido nesta obra. As matinas começam, como de costume,
com o Pater noster , Deus in adjutorium , etc .; em seguida, o Domine labia é
repetido trê s vezes. O Salmo Domine quid multiplicati sunt ( Salmo 3) é recitado
antes do Venite . Normalmente existem doze liçõ es. Essas disposiçõ es estã o
expressamente previstas na Regra de Sã o Bento, cap. viii a xviii.
11. Esta passagem foi totalmente omitida na traduçã o francesa.
Capı́tulo 4
12. “ Mansuetudo quae mihi in eâ placet nomen accipit a manendo .”
13. “ Patientia nomen acceptit a pace et scientiâ .”
14. Os ó culos de leitura tinham acabado de entrar em uso. Supõ e-se que foram
inventados por Alexandre de Spina, um monge de Florença, por volta de 1285.
O mé rito da descoberta també m é reivindicado por nosso pró prio Roger
Bacon.
capı́tulo 5
15. Ins . lib. v .: “ Tandem exacto anno xl. et die xi. Heu! heu! in irmitatem
incurrit , quae dicitur apoplexia minor . ” Os eruditos padres beneditinos de
Solesmes parecem preferir o raciocı́nio de Campacci; mas provavelmente nã o
há discrepâ ncia na declaraçã o, visto que ele inclui o tempo de sua doença com
o tempo de permanê ncia no cargo.
16. O capı́tulo 26 da Regra de Sã o Bento trata especialmente deste importante
dever; e o Abade nã o só deve “tomar todo o cuidado possı́vel para que nada
seja esquecido no serviço aos enfermos”, mas é responsabilizado pelas
de iciê ncias dos outros neste assunto: “Que o Abade, portanto, esteja vigilante
para que os enfermos nã o pode sofrer nada com a negligê ncia de procuradores
e servos, e lembre-se de que ele será responsá vel por todas as faltas de seus
irmã os. ” Vemos na vida de Santa Gertrudes que mesmo a sua pró pria doença
perigosa nã o lhe permitia esquecer os sofrimentos dos outros. Como, de fato,
uma verdadeira mã e espiritual poderia permitir que qualquer criança
morresse sozinha e abandonada?
17. Sã o Lebuin, Lebwin ou Liafwin, patrono de Daventer. Este santo era inglê s
de nascimento; depois de sua ordenaçã o, foi para a Alemanha, onde, sob a
direçã o de Sã o Gregó rio, construiu uma igreja e fundou uma missã o, perto de
Daventer, em 772. Ele nã o foi um má rtir, embora o termo seja usado
nas Insinuações . Butler diz: “Sendo negado o sacrifı́cio mais compendido de si
mesmo, ele terminou seu martı́rio com trabalhos e austeridades antes do inal
do sé culo VIII.” Sua festa é celebrada no dia 12 de novembro - a data ajuda a
ixar a da morte de Santa Gertrudes.
Capı́tulo 6
18. “ Spiritus meus .”
19. "E inclinando a cabeça, Ele entregou o fantasma." ( João 19).
20. Formiga. Mag ., Ii. Vé speras da sua festa: “ Apparuerunt coelestes spiritus de
coelo descendentes in terram , qui Gertrudem ad paradisi gaudia modulatis vocibus
invitabant : ' Veni , veni , veni , Domina , quia te expectant coeli
deliciae. Tudo. Tudo. '”
Capı́tulo 7
21. " Respice nunc , sicut ego respicio ."
22. Encontramos a seguinte passagem no Pè re Baron's Incendie , vol. ii, lib. iii,
c. 28: “St. Gertrudes, tendo feito uma doaçã o de todos os seus mé ritos e boas
obras à s almas do Purgató rio, o demô nio apareceu a ela no momento de sua
morte e zombou dela, dizendo: 'Quã o vaidosa é s! e quã o cruel você tem sido
consigo mesmo! Pois que orgulho pode haver maior do que desejar pagar as
dı́vidas dos outros sem pagar as pró prias? Agora - agora veremos o
resultado; quando estiveres morto, pagará s por ti mesmo no fogo do
Purgató rio, e eu rirei de tua loucura enquanto choras por teu orgulho. ' Entã o
ela viu seu Divino Esposo aproximar-se dela, que a consolou com estas
palavras: 'Para que você saiba quã o agradá vel tem sido sua caridade pelas
almas dos defuntos, eu remeto a você agora todas as dores do Purgató rio que
você pode ter sofrido; e como prometi devolver-te cem por um, aumentarei
ainda mais abundantemente a tua gló ria celestial, dando-te uma recompensa
especial pela caridade que tens exercido para com as Minhas amadas almas no
Purgató rio, renunciando a seu favor as tuas obras de satisfaçã o . '”
Capı́tulo 8
23. “O reino deste mundo e todos os seus ornamentos eu desprezo por amor
de meu Senhor Jesus Cristo.” Formiga. Com. Vid .
Capı́tulo 9
24. Do Ofertó rio, Missa Defu . “Nó s oferecemos a Ti, ó Senhor, sacrifı́cios e
oraçõ es: receba-os em nome daquelas almas que nó s homenageamos,” etc.
25. Esta passagem nã o é muito clara no original.
26. “ Deum semel inspexisse , est omnia didicisse .”
Capı́tulo 10
27. De serv. Dei pode. et beat ., lib. i., c.xli.
28. No Ofı́cio da Santa usado pelos Beneditinos do Santı́ssimo Sacramento,
lemos que ela foi feita abadessa de um mosteiro na cidade de Delfos, e por isso
é chamada de Gertrudes de Delfos: “ Deinde alterius in urbe Delphos , unde
Gertrude Delphica dicitur . ” vi. Liçã o,
29. Filha de Pepin, Duque de Brabant, AD 664.
30. E a observaçã o do padre Faber, Tudo por Jesus , p. 248 (TAN, ediçã o 1991),
uma coincidê ncia ou uma citaçã o?

Parte 2
Capı́tulo 1
1. “ Secunda feria ante, etc., qua fuit sexto kalendas Februarii .” A traduçã o
francesa tem: “ Lundi vingt-cinquième janvier ”; o italiano, “ Che fu alli 27 di
Genaio ”.
2. “ Em angulo .”
3. Uma alusã o ao Col . 2:14.
Capı́tulo 3
4. “Nã o temas, Zachary; tua oraçã o é ouvida ”, etc. (Introduçã o para a Missa,
Vigı́lia de Sã o Joã o Batista.)
capı́tulo 5
5. Introduçã o para o terceiro domingo do Advento.
6. Feria quartum . A Anunciaçã o é comemorada especialmente na quarta-feira
da terceira semana do Advento. Anteriormente, as festas que caı́am neste dia
eram transferidas; e nos mosteiros, o Abade fez uma homilia sobre o
Evangelho Missus est .
7. " Filum de stupâ ."
8. “ Tam regalem gemmam .”
9. As palavras “ Hic distulit scribere usque in Octobrem ” estã o no inal
do capı́tulo v . no original, em itá lico.
Capı́tulo 6
10. “ In eumdem colorem .”
Capı́tulo 8
11. Introduçã o da Missa para Quinquagesima Domingo.
12. Resposta, i. Nocturn.
Capı́tulo 9
13. Quaresma.
Capı́tulo 10
14. 14 de setembro. As palavras citadas na pá gina seguinte nã o estã o no
presente Escritó rio.
15. “ Sicut Scriptura docet .” As palavras exatas nã o estã o nas Escrituras.
Capı́tulo 13
16. Accipitribus ; lit., aves de rapina.
Capı́tulo 14
17. Introduçã o para Quinquagesima.
Capı́tulo 15
18. Botrus , uma palavra hebraica, traduzida como “a uva” ( Mich 7: 1); em
grego ßorpus ; e, portanto, botrus ou botrys latinizados . Usado també m
tropicamente para uma bebida ou medicamento.
19. Introduçã o, primeira missa ou missa da meia-noite no Natal.
20. Nã o está no cargo atual: Deus qui —Coleta, Missa para os Pais Falecidos.
Capı́tulo 16
21. “Quando Seus pais trouxeram o Menino Jesus”, etc., Versı́culo na Procissã o,
Festa da Puri icaçã o. Esta procissã o é muito antiga. E mencionado pelo Papa
Gelá sio I. Os sermõ es de Sã o Bernardo nessas ocasiõ es sã o cheios de unçã o e
doçura singulares. Ele diz: “A procissã o foi feita primeiro pela Virgem Mã e,
Simeã o e Ana, para depois ser realizada em todos os lugares e por todas as
naçõ es. A concordâ ncia de muitos em procissã o simboliza nossa uniã o e
caridade; nossa caminhada, avanço na virtude; as luzes que carregamos,
Cristo, a verdadeira Luz. ”
22. “Ela deu à luz seu ilho primogê nito,” etc. ( Lucas 2), Evangelho para a Missa
da Meia-Noite. O que se segue é omitido na traduçã o francesa.
Capı́tulo 21
23. “ Manu ad manum non irmasse .”
24. Este favor é comemorado pela Igreja em seu Ofı́cio, 3ª Ant. em Lauds ,
“ Annulis septem ,” etc; "Meu Senhor Jesus me desposou com sete ané is e me
coroou como noiva." Uma Antı́fona semelhante pode ser encontrada no Ofı́cio
de Santa Inê s, VM: “Meu Senhor Jesus Cristo me desposou com Seu anel”, etc.
(Vé speras, 3ª Ant.).
Capı́tulo 22
25. Loquebar Christus : “Cristo falou com Sua amada Gertrudes face a face, como
um homem fala em segredo com seu amigo.” (i. Ant. ii, Vé speras). Veja també m
x. Resposta, 3 Nocturn, Breviá rio Beneditino, Escritó rio para o Segundo
Domingo da Quaresma.
Capı́tulo 23
26. Cf. Ps . 15: 2.
27. “ Etiam uno gemitu .”

Parte 3
Capı́tulo 1
1. As traduçõ es francesas aqui tê m “ quelque disgrâce ”; o latim, “ adversitatis ”. A
passagem que se segue també m foi traduzida de forma muito livre, e duas
sentenças inseridas que nã o estã o no original.
Capı́tulo 4
2. 24 de agosto. Este santo foi martirizado na Armê nia. E relatado na Vida de
Santa Isabel da Hungria que quando a Santı́ssima Virgem apareceu a ela
durante a vigı́lia do Natal, ela mencionou o beato Bartolomeu, com Sã o Joã o e
Sã o Lourenço, como especiais “amantes de Jesus”. Ela acrescentou: “Se
consentires em ser privado de tudo o que te é caro, e mesmo de tua pró pria
vontade, obterei para ti a mesma recompensa que Bartolomeu recebeu quando
sua pele foi esfolada. Se suportar os insultos com paciê ncia, será como
Lawrence quando sofreu o martı́rio. Se você mantiver silê ncio quando for
censurado e ofendido, você merecerá como Joã o fez quando o ı́mpio procurou
envenená -lo. ”
3. Stella Maria maris ; provavelmente Ave maris stella .
capı́tulo 5
4. 21 de setembro.
Capı́tulo 6
5. 22 de setembro. Sã o Maurı́cio era comandante, senã o capitã o chefe, da
famosa legiã o cristã de Tebas, que foi primeiro dizimada e depois cruelmente
martirizada a sangue frio, pelo comando do imperador Maximiniano, por se
recusar a se juntar ao exé rcito em sacri icando aos deuses pelo sucesso de sua
expediçã o à Gá lia.
6. “ Conglutinação .”
Capı́tulo 7
7. Heb . 2: 17-18.
Capı́tulo 9
* E claro que isso se refere à indignidade de uma pessoa que cometeu pecados
veniais, nã o à indignidade do pecado mortal. - Editora , 2002.
8. 24 de fevereiro.
Capı́tulo 11
9. “Na minha cama, à noite, busquei Aquele a quem ama a minha alma” ( Cân .
3: 1); inı́cio de i. Liçã o, i. Noite, festa de Santa Maria Madalena, mas nã o usada
como antı́fona.
Capı́tulo 14
10. “ Ó dulcissime juvenis! ”
Capı́tulo 15
11. "Salve, santo Pai." Introduçã o da Missa da Santı́ssima Virgem da Puri icaçã o
ao Advento, composta por Sedulius.
12. “Esteja atenta, ó Virgem Maria.” Agora, o Ofertó rio da Missa das Sete Dores.
Capı́tulo 16
13. 10 de agosto.
14. “ Concivibus suis .”
Capı́tulo 17
15. “ Delicatam manum… inter hispidos peccatores .”
16. “ Quantitatem .”
Capı́tulo 22
17. “ Gazophylacium .”
Capı́tulo 23
18. “ Fistulam .”
19. “ Audivit quandam vocem dulcissimam, tanquam cytharistae suaviter
demulcenti melodiâ cytharizantis in cythara sua, haec verba: Veni mea ad me: Intra
meum in me: Mane meus mecum .” Teria ela ouvido entã o aquela cançã o inefá vel
que será a alegria e a consolaçã o eterna dos redimidos?
Capı́tulo 26
20. Introduçã o para o sá bado na semana de brasa, Advento, “Vem, Senhor, e
mostra-nos o teu rosto”, etc.
21. “ Flasconum, qui ad refectionem dominorum deferuntur .”
22. V. Resposta, ii. Noite, 2º domingo do Advento: “Eis que vem o Senhor nosso
Protetor, o Santo de Israel”.
23. Antı́fona em ii. Vé speras da Natividade, do primeiro Salmo à s Vé speras de
Domingos e Festivais. Essas revelaçõ es provavelmente foram feitas durante o
Advento, quando as profecias de Isaias sã o lidas nas Matinas.
24. Formiga. no Magni icat de ii. Vé speras, comum de um má rtir.
25. “ Verba iniquorum praevaluerunt super nos, ” Ps 2. nas Laudes, f eria quarta , e
no Ofı́cio dos Mortos.
26. Resposta apó s ii. Liçã o do comum de muitos má rtires.
27. "Este Santo tomou veneno sem causar dano." Nã o em nenhum dos
escritó rios de St. John; provavelmente de um hino.
28. “Vouchsafe, ó Senhor, para nos manter neste dia sem pecado,” no Prime, e
no Te Deum .
29. ix. Resposta, iii. Noite, Sexagesima domingo. Mas a palavra lá é Benedixit -
“Deus abençoou Noé e seus ilhos”, etc.
30. eu. Nocturn, ii. Liçã o, v. Feria apó s Septuagesima - “Onde está teu irmã o
Abel?”
31. “O Senhor me vestiu”, Comum das Virgens, xi. Resposta, iii. Nocturn.
32. “O Anjo do Senhor chamou Abraã o”, Quinquagesima Sunday, Response,
ii. Nocturn.
* Assim, no original, mas provavelmente deveria ser "dia de festa". - Editora ,
2002.
33. “ Amor facit placentiam .”
34. “ Cancellum .”
35. “ Respirabis ab omni molestia .”
Capı́tulo 28
36. Ps . 41 .; no Escritó rio dos Mortos, 3º Ps . em iii. Nocturn.
Capı́tulo 29
37. “Maravilhosos sã o os teus testemunhos”: a ú ltima parte do Salmo 118: 29,
que é recitado em Nenhum.
Capı́tulo 30
38. “ Domina Regina .”
39. “ Filium .”
Capı́tulo 35
40. “ Sudem .”
Capı́tulo 37
41. “ Gario ilis .”
42. " Vale dilecte mi, et habe bonam noctem ."
43. O hino Rex Christe pode ser encontrado na Monumenta veteris Liturgiae
Alemannicae de Gerbert . Foi composta por Sã o Gregó rio o Grande e
anteriormente era cantada em Tenebrae apó s o Benedictus . O verso cantado
neste canto é extremamente difı́cil de traduzir em inglê s:
“Quanto mais te amo, mais procuras este fogo ardente; Enquanto o teu
querido amor ainda é para mim Doçura, eu ainda desejo. ”
Capı́tulo 38
44. Nã o por obrigaçã o, mas recitado por alguns religiosos que nã o sã o
obrigados a recitar o Ofı́cio Divino, e també m por vá rias das Ordens
contemplativas, por uma questã o de devoçã o, depois de terem recitado seu
Ofı́cio de obrigaçã o.
Capı́tulo 40
45. “O luz bendita”: o inı́cio de um verso da Sequê ncia na Missa do Domingo de
Pentecostes.
Capı́tulo 41
46. “Todas as obras do Senhor, bendigam o Senhor”: Câ ntico dos Trê s Filhos,
rezado nas Laudes aos Domingos e Festas.
Capı́tulo 43
47. “ Binos pulsus .”
Capı́tulo 44
48. “ Et proba utrum inquietus amor meus te quiescere sinat .”
Capı́tulo 46
49. “ Paliis .”
Capı́tulo 50
50. “ Renovatione .”
Capı́tulo 51
51. “ Larvas .” Presumivelmente, o sobrescrito (ausente no original) deve
aparecer apó s a palavra "alarme". - Editora, 2002.
Capı́tulo 52
52. “ Bene venias mihi charissima .”
53. “ In libro tuo .”
54. Sb 4: 7.
55. “ In immarcessibili aeternitatis meae vernantia .”
Capı́tulo 54
56. “ Ante jejunium ” - provavelmente depois da Quaresma.
57. “ In vivi icans gemma humanae nobilitatis .”
58. “ Nemo mihi dat, quod meum est .”
59. “ Facies animae suae .”
Capı́tulo 57
60. “ Provisores claustri .”
61. “ Adaptata .”
Capı́tulo 62
62. “ Nobilis avis ”; provavelmente a á guia se destina.
63. “ Vox .”
64. “ Ne dum delectantur in via, obliviscantur eorum quae sunt in patria .”
65. “ In montem novi luminis .”
66. Esta passagem é difı́cil. Estamos felizes, no entanto, por podermos anexar
uma nota com a qual fomos favorecidos por um dos Padres Beneditinos de
Solesmes, a quem estamos profundamente gratos por uma valiosa ajuda. Em
resposta à nossa pergunta, ele escreve assim: “Quanto aos nomes, ' Petrus ', etc
.: Simã o, em hebraico, é o mesmo que ouvir, obedecer; pois scama signi ica
'ouvir, obedecer'; mas isso di icilmente concorda com a interpretaçã o dada
- isto é, ' Petrus itaque interpretatur agnoscens .' Tiago, do latim ' Jacobus ' , que
signi ica 'suplantador' ( Gênesis 27:36), porque ele segurou o pé de seu irmã o
( plantam ): Jacó , em hebraico, signi ica 'suplantador'. John, em latim
' Johannes ,' - isto é , ' Deus donavit, vel, Deus misertus est, aut, Dei donum gratia et
misericordia, ' - de ia (hebraico), uma contraçã o para Jeová (Deus)
e chanan - isto é , ' Misertus est , 'ou' donavit . ' ”
Capı́tulo 69
67. Capı́tulo 12 , a maneira de cantar Laudes: “A estes (os Salmos) será
adicionada uma liçã o do Apocalipse, que será recitada de memó ria,” etc. A
Hebdomadaria - a pessoa que o icia durante a semana.
Capı́tulo 71
68. " Dicuntur habere vires ."
Capı́tulo 72
69. “ Sicut plicae in vestiment o.”

Parte 4
Capı́tulo 1
1. Nã o fomos capazes de determinar onde essa Resposta ocorre; nã o está no
presente Breviá rio Beneditino.
Capı́tulo 2
2. Salmo. 3, pró prio dos Beneditinos, que o dizem no inı́cio das Matinas. Ver
Regra de Sã o Bento, cap. ix. Recorde-se que o Domine labia é repetido trê s
vezes pelos beneditinos.
3. Salmo. 94, dito no inı́cio das Matinas. Está dividido em cinco partes. Uma
Antı́fona chamada Invitató rio é dita depois de cada um, e antes e depois
da Gloria Patri , com a qual se conclui. O Invitató rio varia com o festival ou
feria, mas é sempre um convite para cantar os louvores Divinos. O Hodie
scietis - “Hoje sabereis que o Senhor virá e amanhã vereis a Sua gló ria” - é o
Invitató rio para a Vigı́lia de Natal, como acima.
4. “ Septem candalae accenderunt .” Nas igrejas moná sticas, antes havia sete
velas diante do altar. Ver Dom Martene, De Ant. Seg., Lib. v., ci
5. “ Diversorio .”
6. A leitura do “Martiroló gio de Natal” é uma cerimó nia de grande estado e
magni icê ncia nas casas moná sticas. Que honras poderiam ser su icientemente
grandes para o anú ncio do nascimento divino? A Comunidade geralmente
segue do coro para a casa capitular, ou sala, apó s o Prime, e aı́, quando a
bê nçã o é pedida da forma usual, o Martiroló gio é cantado solenemente, todos
prostrados em adoraçã o quando as palavras Jesus Christus Filius Dei vivi, em
Belém Juda nascitur [“Jesus Cristo, o Filho do Deus vivo, nasceu em Belé m da
Judé ia.”] sã o cantados.
7. “ Nexum .”
8. Na maioria das casas religiosas, o nome da irmã que o icializa a semana e
das que devem ler as liçõ es, servir, ler no refeitó rio, etc., sã o lidos no
Capı́tulo. Esta passagem alude ao costume, que estava evidentemente em uso
no tempo de Santa Gertrudes, e mostra como é cara uma pronta aceitaçã o da
vontade dos superiores, mesmo em questõ es insigni icantes, ao nosso bendito
Senhor.
9. As superioras de alguns mosteiros beneditinos sã o denominadas
abadessas; de outras prioresas. Quando há abadessa, a segunda superiora é
dita prioresa; e quando a superiora é prioresa, sua assistente é denominada
subprioresa. Conventos fundados por carta real sã o abadias; mas se o direito
de nomeaçã o está nas mã os do rei, as nomeaçõ es nem sempre sã o as
desejadas. Até onde pudemos averiguar, o Miserere nã o é dito agora no
Capı́tulo; mas o belo costume da prioresa de pedir perdã o à comunidade por
suas faltas para com eles ainda continua nas vé speras dos grandes festivais. A
comunidade entã o pede seu perdã o por suas faltas para com ela; e, inalmente,
pedem perdã o um ao outro por qualquer desedi icaçã o mú tua. Quando os
superiores se humilham assim por suas faltas, di icilmente deixam de receber
o amor e o respeito devido a essa verdadeira humildade cristã .
10. Ultima estrofe do hino para as Vé speras de Natal; a mesma terminaçã o é
usada até a Epifania para todos os hinos.
Capı́tulo 3
11. O Responsory, iv. Liçã o, i. Noite, Matinas para o Natal; “ Descendit de caelis
Deus verus, um Pater genitus, introivit in uterum Virginis, nobis ut appareret
visibilis, indutus carne humana protoparente edita: Et exivit per clausam portam,
Deus et homo, lux et vita, conditor munda ” —O verdadeiro Deus, nascido do Pai,
desceu do cé u e entrou no ventre da Virgem, para que pudesse aparecer
visivelmente para nó s, vestido com a carne dada aos nossos primeiros pais, e
saiu pela porta fechada Deus e homem, Luz e Vida, o criador do
mundo." Este clausam portam de Ezequiel é constantemente referido pelos
Padres à Santı́ssima Virgem. Sã o Bernardo, em seu sermã o sobre os Doze
Privilé gios da Bem-Aventurada Virgem Maria, diz que Maria é o portã o
oriental, pelo qual ningué m poderia passar, exceto um. Sã o Jerô nimo escreve:
“Ela (Maria) é a porta oriental da qual Ezequiel fala como sempre
fechada”. Santo Agostinho, no sermã o da Natividade: “A porta fechada é o
emblema da integridade da sua carne imaculada. Ela permaneceu inviolada
apó s o parto e tornou-se mais sagrada na concepçã o. ”
12. Responsory, xii. Liçã o, iii. Nocturn; segue-se o Te Deum e, na noite de Natal,
a Missa da Meia-Noite é celebrada, apó s o que as Laudes sã o iniciadas.
13. A introduçã o da primeira missa ou missa da meia-noite. Primogenitus
- provavelmente uma referê ncia ao Evangelho para aquela missa.
Capı́tulo 4
14. “O discı́pulo a quem Jesus amava.” “Este é o guardiã o da Virgem.”
15. O racional era o peitoral do sumo sacerdote (Ex. 25: 7). Calmet fala assim
sobre isso: “Esta denominaçã o foi dada a um bordado de cerca de dez
polegadas quadradas, que o sumo sacerdote usava em seu peito. Nele foram
colocadas quatro ileiras de pedras preciosas, em cada uma das quais o nome
de uma das tribos de Israel estava gravado. O racional foi duplicado e continha
dentro dele os mı́sticos Urim e Tumim. O nome 'racional' ou 'racional de
julgamento' foi dado a ele porque o julgamento e a Vontade de Deus foram
dados a conhecer, ou porque o sumo sacerdote o usava quando pronunciava o
julgamento sobre assuntos graves. ”
16. “ Et cum nullum habeas Apostolum ”.
17. [“Tu me invocaste na a liçã o e eu te ouvi.”] Isto nã o está no Ofı́cio do Santo
no presente Breviá rio Beneditino.
18. “Ela é o brilho da luz eterna e o espelho imaculado da majestade de
Deus.” ( Sb 7:26).
19. “Naquele dia sustentarei Meu servo e te colocarei como um selo diante de
Mim.” (Responsó rio, ix. Liçã o, iii. Noite, Matinas para a Festa de Sã o Joã o).
20. “ Omne malum quasi naturaliter abhorent .”
21. Responsó rio apó s a v. Liçã o, ii. Noite: “Aquele que vencer, farei dele uma
coluna no templo do meu Deus ... e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e
o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalé m.” ( Apoc. 3:12).
22. "Mulher, eis o teu ilho." Estas palavras nã o estã o no Escritó rio atual.
23. “Este é Joã o, que se encostou no peito do Senhor durante a ceia”; “Este é o
discı́pulo a quem Jesus amava.” Resposta apó s o iii. Liçã o, i. Nocturn e
Antiphon em Benedictus.
24. Cf. João 21:20.
capı́tulo 5
25. “ In superiori labio animae suae .”
26. “ Xenium .”
Capı́tulo 6
27. “ Qui vulgari lingua vocatur, ein Besant ” (o B de P). A etimologia desta
palavra nã o é clara. Amort, em seu comentá rio sobre esta passagem, observa
que nã o é o nome de uma gema ou pedra preciosa, mas mais provavelmente o
epı́teto de alguma pedra preciosa. Ele acrescenta que depois de buscar em
todos os dicioná rios e catá logos de pedras preciosas, nã o encontrou nenhuma
chamada pelo nome de Pesant (pesado). Talvez alguma pedra preciosa de
grande peso tivesse esse nome popular.
28. “ Electrum .”
29. " Marsupium ."
Capı́tulo 7
30. Omnis terra - a introduçã o para a missa, segundo domingo apó s a epifania,
no missal romano. A Missa do Santo Nome é agora, entretanto, geralmente
substituı́da por ela. A devoçã o à Santa Face, como todas as devoçõ es cató licas,
só se aprofundou com o passar dos anos, e os ié is ainda a veneram com tanto
amor e ardor como quando a grande Santa Gertrudes escreveu sobre ela. Ainda
é exibido em Roma, no mesmo dia mencionado pelo Santo. M. le Chanoine de
Montault, em seu Année liturgique à Rome, p. 25, diz: “Segundo domingo apó s a
Epifania, na Bası́lica do Vaticano, à s trê s e meia, procissã o da Confraria do
Espı́rito Santo e exposiçã o das grandes relı́quias da Paixã o; a Santa Lança, a
Madeira da Cruz e o Vé u de Santa Verô nica ”.
Dom Gué ranger, em seu Année liturgique , també m menciona uma
exposiçã o solene desta sagrada relı́quia, à qual o Papa assiste, no domingo de
Pá scoa, apó s a pó s-comunhã o. A devoçã o à Sagrada Face foi muito propagada
na França durante os ú ltimos anos e tem sido o meio de obter muitas graças e
curas milagrosas. E, de fato, uma devoçã o consoladora; pois seremos julgados
perante o rosto de Cristo, mas nã o mais o rosto sofredor. Se, entã o, temos sido
devotos a ele durante a vida, certamente podemos esperar que olhe para nó s
com misericó rdia e amor quando estivermos perante o tribunal.
31. “ Calcaveris, seu calamum .”
Capı́tulo 8
32. 21 de janeiro.
33. 26 de maio [sic].
34. As Liçõ es e Respostas para o Ofı́cio de Santa Inê s sã o cheias de beleza
singular e enriquecidas com as declaraçõ es de amor ardente que ela derramou
no momento da prova e da morte.
Capı́tulo 9
35. “Depois do parto, permaneceste virgem. Intercede por nó s, ó Mã e de Deus
”; v. Ant. ii. Nocturn. Beata mater é a Antı́fona do Magni icat no Pequeno
Escritó rio BVM
Capı́tulo 10
36. Dominica circumdederunt . “Os gemidos da morte me cercaram” etc. -
Introduçã o para a Septuagé sima domingo.
Capı́tulo 11
37. Esta resposta nã o está no presente Breviá rio Beneditino. O livro do Gê nesis
começa nas matinas do domingo da Septuagé sima. No Domingo Sexagesima as
Liçõ es referem-se ao Dilú vio, etc .; daı́ a aplicabilidade peculiar das seguintes
revelaçõ es ao tempo e à linha de pensamento sugerida pelo Escritó rio. Exurge -
“Levante-se! por que dormes, ó Senhor? ”- Introduçã o para Sexagesima
domingo.
38. " Eia, domina regina ."
39. “ Consignans .”
Capı́tulo 12
40. " Doutor amantissime ."
41. Isso provavelmente se refere ao Evangelho para o domingo de
Quinquagé sima ( Lucas 18: 32-33), no qual é notá vel que Nosso Senhor
menciona o açoite duas vezes : “Ele será escarnecido, açoitado e cuspido; etc. A
Epı́stola é 1 Coríntios. 13,1-13, que, devemos lembrar, é a grande liçã o de
caridade do Apó stolo. A referê ncia pode ser, entretanto, à s Matinas; e isso
parece mais prová vel, já que a missa é mencionada depois. O Evangelho lido no
inal das Matinas é o mesmo: In illo tempore: Assumpsit Jesus duodecim ; e o
Pequeno Capı́tulo nas Laudes é da Epı́stola: Fratres: Si linguis hominum
loquor, etc.
42. Introduçã o para Quinquagesima Domingo: Esto mihi in Deum protectorem, et
in locum refugii, etc. - “Sê tu para mim um Deus, um protetor e um lugar de
refú gio para me salvar,” etc.
Capı́tulo 13
43. “ Cartha ” em duas ediçõ es; evidentemente, um erro de impressã o para
" Charta ".
Capı́tulo 14
44. Invocabit : “Ele Me invocará , e Eu o ouvirei”, etc. - Introduçã o para o
Primeiro Domingo da Quaresma.
45. " Rima ."
46. As trê s vitó rias de nosso Senhor sobre Suas trê s tentaçõ es no deserto,
relatadas no Evangelho para o Primeiro Domingo da Quaresma, Matt. 4: 1-11; a
epı́stola é 2 Coríntios. 6: 1-10.
47. “ Ferculorum .”
48. “ Delectatione, consensu, et concupiscentia .”
49. “ Spiritus Sanctus est bona voluntas .”
Capı́tulo 15
50. Evangelho para a segunda-feira apó s o primeiro domingo da
Quaresma, Matt. 25: 31-46.
Capı́tulo 16
51. “Lembra-te, ó Senhor, de Tuas compaixõ es e Tuas misericó rdias,” etc. -
Introduçã o, Segundo Domingo da Quaresma.
52. “ Duos haedos optimos .”
53. “ Rationali, irrascibili, et concupiscibili .”
Capı́tulo 17
54. Oculi -Introit para o terceiro domingo da Quaresma.
55. As liçõ es do i. Nocturn para o terceiro domingo da Quaresma sã o retirados
do capı́tulo 37 do Gênesis , que detalha a histó ria de José vendido para o
Egito. Em uma traduçã o italiana de 1606, é “ trenta dinari ”; e em francê s,
“ trente deniers ”; duas ediçõ es latinas tê m “xxx. denariis ”també m -
provavelmente um erro de um transcritor, que foi perpetuado
impensadamente.
Capı́tulo 18
56. Evangelho para o quarto domingo da Quaresma, João 6: 1-15, que relata a
multiplicaçã o milagrosa dos cinco pã es e dos dois peixes, e assim torna a
oferta mı́stica dos cinco pã es dados ao Santo em peculiar harmonia com os
ofı́cios do dia.
Capı́tulo 19
57. Sã o Gregó rio nasceu em Roma por volta do ano 540. A naçã o inglesa tem
com ele uma dı́vida singular de gratidã o por seu zelo por sua conversã o. Ele
pró prio teria empreendido a missã o que tanto desejava; mas a pedido, ou
melhor, a pedido clamoroso de toda a cidade de Roma, ele foi chamado de
volta pelo Papa, entã o Bento I, quando em seu caminho para a Inglaterra. Sua
festa ocorre no dia 12 de março.
58. Nã o está no escritó rio atual.
Capı́tulo 20
59. A vida do grande Sã o Bento é muito conhecida para merecer um
comentá rio aqui. Ele fundou doze mosteiros durante sua vida; e desde sua feliz
morte, milhares de almas santas viveram e morreram sob sua sagrada Regra,
distinguidas por aquilo que poderia constituir seus verdadeiros ilhos - a iel
observâ ncia de sua Regra e a comunhã o com a Santa Igreja Cató lica, pela qual
sido sancionado, e o ú nico que poderia autorizar seu uso ou a pro issã o de
suas observâ ncias. Sua festa é celebrada no dia 21 de março.
60. “ Sanctissimus Pater, gratia et nomine Benedictus .”
61. Esta responsabilidade nã o está no escritó rio atual.
Capı́tulo 21
62. Na Vida da venerá vel Madre Ana de Sã o Bartolomeu, a especial amiga e
con idente de Santa Teresa, ela diz: “Quando a Santa (Teresa) celebrou o
Capı́tulo em Avila, vi Jesus Cristo ao seu lado, vestido de tal esplendor , que os
religiosos me pareciam bastante dei icados (' toutes divinisées '); e, na verdade,
eles deixaram o Capı́tulo com os coraçõ es transbordando e cheios de
consolaçã o inefá vel ”.
63. “ Kalendario .”
64. “ Olfactoriola .”
65. Cf. Ez . 44: 2: “A porta oriental, pela qual só o prı́ncipe poderia passar.” Esta
passagem nã o é mencionada no presente Ofı́cio da Anunciaçã o; mas é
mencionado em i. Formiga. II. Vé speras em Responsorialia et Antiphonaria S.
Gregorii Papae . Os Padres frequentemente referem esta passagem à Santı́ssima
Virgem, como a verdadeira porta oriental, que se abria apenas para o Rei, e
nunca admitia qualquer outra. Santo Agostinho, em seu sermã o sobre a
Natividade, diz: “A porta fechada indica a pureza e a integridade da carne
imaculada; nã o é contaminado pelo parto; torna-se mais sagrado pela
concepçã o. ” Sã o Bernardo diz: “Ela é pre igurada pelo portã o oriental na visã o
de Ezequiel, pelo qual apenas um poderia passar.”
66. Resposta apó s ii. Liçã o, i. Nocturn.
67. “ Potentissima post Patrem; sapientissima post Filium; et benignissima post
Spiritum Sanctum . ”
68. Do hino das Laudes no dia de Natal, A solis ortus cardine, que pode ter sido
entã o cantado també m no Natal da Santı́ssima Virgem.
69. Esta Antı́fona nã o está no atual Breviá rio Beneditino. O que agora é usado
começa com " Gabriel angelus locutus est Mariae ".
70. “Mostra-te uma mã e; Oferece-Lhe nossos suspiros, Quem por nó s
encarnado nã o desprezaste. ” Do hino Ave maris stella , nas Vé speras, Festas da
Santı́ssima Virgem.
71. Isso era cantado anteriormente na procissã o apó s as
Vé speras. Gerbert, Mon. Veterinario. Aceso. Allmannicae , p. ii. p. 231.
Capı́tulo 22
72. "Você tem um demô nio." João 13: 46-59.
Capı́tulo 23
73. “ Jumentum .”
74. "Salve, Cross, nossa ú nica esperança!" Do Hino Vexilla regis , que
provavelmente se dizia entã o em Terce. Antigamente o Hino em Terce variava,
agora é ixo, exceto no Domingo de Pentecostes [Pentecostes].
75. “Gló ria e louvor a Ti, bendito Redentor”; Hino apó s a procissã o no Domingo
de Ramos. Este Hino foi composto por Teodolphus, Bispo de Orleans. As
palavras fulgentibus palmis nã o ocorrem nele.
76. A procissã o era entã o, como agora, antes da Missa. A Paixã o segundo Sã o
Mateus é lida na Missa.
Capı́tulo 24
77. “Em nome de Jesus, que todos os joelhos se dobrem”, etc. - Introduçã o para
a quarta-feira da Semana Santa.
Capı́tulo 25
78. O hino Rex Christe , composto por Sã o Gregó rio, e o Kyrie Eleison , foram
cantados anteriormente em Tenebrae, depois do Benedictus . Gerbert, p. ii,
p. 232
79. “Ele foi oferecido porque Ele pró prio o desejou; e Ele mesmo carregou
nossos pecados ”. Formiga. nas Lauds para a Quinta-feira Santa.
80. “Ele começou a lavar os pé s dos discı́pulos.” Evangelho para a Quinta-feira
Santa ( João 13: 1-15).
81. “ Esset delicatae virginis delicatissimus ilius .”
82. “ O integritas substantiae meae ”: ver 1 Tes . 5:23: “Esse todo o
seu espı́rito ( inteiro ),” etc.
Capı́tulo 26
83. Sonitum tabulae . Como o uso de sinos é proibido desde a Gloria in
excelsis na Quinta-feira Santa até à Gloria in excelsis no Sá bado Santo, os
religiosos sã o convocados agora, como entã o, para o Ofı́cio e outros exercı́cios
conventuais por sonitum tabulae , ao som de badalos ou pedaços de madeira de
madeira batendo uns nos outros. Completas é a hora em que o sepultamento
de Nosso Senhor é especialmente comemorado.
84. “ Adumbratus .”
85. “ Aestimo .”
86. A Paixã o de Nosso Senhor segundo Sã o Joã o, que se lê na Sexta Feira Santa.
87. “ Discolis .”
88. Anteriormente, os ié is eram admitidos à comunhã o neste dia. Ver Année
Liturgique ( O Ano Litúrgico ) de Dom Gueranger , “ Temps de la Passion ”, p. 549 -
uma obra muito valiosa, que é muito pouco conhecida neste paı́s. Ver també m
Dom Martine, De Ant. Ec. Ritibus, tom. iii. O costume foi gradualmente abolido,
de forma que nenhum tempo exato pode ser especi icado para a mudança. Os
gregos celebram a “Missa do Presancti icado” todos os dias durante a
Quaresma, exceto aos sá bados, domingos e a festa da Anunciaçã o. O rito
milanê s, ou ambrosiano, prescreve a “Missa do Presancti icado” nas sextas-
feiras da Quaresma.
[A “Missa do Presancti icado” é celebrada agora apenas na Sexta Feira
Santa. Nã o é uma verdadeira Missa, mas antes um serviço de oraçã o e
distribuiçã o da Sagrada Comunhã o com as Hó stias consagradas no dia
anterior. - Editora , 2002.]
Capı́tulo 27
89. Isso parece referir-se à s almas do Purgató rio.
Capı́tulo 31
90. João 20: 11-18.
91. “ Omnia opera tua mihi perfectissimo modo placent .”
Capı́tulo 32
92. João 20: 19-31.
Capı́tulo 33
93. 25 de abril. A origem do costume de recitar a Ladainha dos Santos, ou
Grande Ladainha, neste dia é atribuı́da a Sã o Gregó rio Magno, que obteve
assim a extinçã o de uma pestilê ncia que assolou Roma no ano de 590. de abril
foi ixada para uma procissã o anual e canto de ladainhas antes de ser nomeada
para a festa de Sã o Marcos.
94. " Speculorum Lucidorum ."
Capı́tulo 34
95. 6 de maio. A festa é celebrada em comemoraçã o à libertaçã o milagrosa de
Sã o Joã o de um caldeirã o de ó leo fervente.
96. “ Multo plus defeceram viribus, et sensibus corporalibus quam tu .”
97. Nã o fomos capazes de veri icar esta sequê ncia.
Capı́tulo 36
98. Matt. 25:40.
99. “ Fusco .”
Capı́tulo 37
100. " Uncus ." Esta palavra é à s vezes usada poeticamente, por autores
clá ssicos, para uma â ncora.
101. “Salve, Jesus, bela Esposa! Eu te saú do e louvo em Tuas alegrias de
ascensã o. ”
Capı́tulo 38
102. Cf. Matt . 28:20.
103. “Ele ergueu Suas mã os e os abençoou e foi elevado ao cé u”,
iii. Formiga. em Vesper.
Capı́tulo 40
104. Recorde-se que o tipo de letra é abençoado tanto na vé spera de
Pentecostes como na vé spera da Pá scoa.
105. “Respirando trê s vezes na á gua, ele prossegue”, etc .; veja Bençã o da
Fonte, no Missal.
106. “Tu que é s chamado de Pará clito.” Entã o, no Breviá rio Beneditino.
107. “ Manus animae .”
Capı́tulo 42
108. “ Qui bonam voluntatem acceptat pro facto .”
Capı́tulo 43
109. [“Justamente eles Te louvam.” Cf. Não. ] Esta Antı́fona nã o está no Ofı́cio
atual, mas pode ser encontrada em um Ofı́cio da Santı́ssima Trindade, v.
Ant. em Lauds; Res. et Ant. São Gregorii .
Capı́tulo 44
110. 24 de junho.
Capı́tulo 45
111. “Se tu me amas, Simã o Pedro, apascenta as Minhas ovelhas. Senhor, tu
sabes que te amo e que daria a minha vida por ti ”; ii. Resposta, i. Nocturn.
112. Evangelho para a festa dos Santos. Pedro e Paulo ( Mt 16: 13-19), em que
Nosso Senhor se dirige especialmente a Sã o Pedro.
113. “ In Papali gloria sacerdotalibus indutus .”
Capı́tulo 46
114. A Festa de Santa Margarida, Virgem e Má rtir, ocorre no dia 20 de julho. Ela
obteve sua coroa em Antioquia na ú ltima perseguiçã o geral. Os cruzados
trouxeram para casa tradiçõ es brilhantes de sua pureza virgem, sua constâ ncia
heró ica e sua fé sublime; de modo que a devoçã o a ela foi amplamente
propagada na Inglaterra, França e Alemanha durante a Idade Mé dia. Suas
relı́quias estã o agora em Monte Fiascone, na Toscana. Nã o pudemos veri icar
as Antı́fonas, que nã o estã o no Escritó rio atual. O Sponisque reddens é do
hino Jesu, corona virginum ; Vé speras, Com. das virgens.
Capı́tulo 47
115. 22 de julho.
Capı́tulo 48
116. Deve ser lembrado que Sã o Tiago o Grande recebeu esta denominaçã o
para distingui-lo de Sã o Tiago Menor, Bispo de Jerusalé m. Ele foi martirizado
onze anos apó s a Ascensã o de Nosso Senhor em Jerusalé m. Seu corpo foi
levado para a Espanha, onde ele havia evangelizado antes de sua morte. Suas
relı́quias foram descobertas no sé culo IX e traduzidas para Compostela. O lugar
foi inicialmente chamado de “ Ad S. Jacobum Apostolum ,” ou Giacomo Postolo , e,
portanto, contratado em Compostela.
Capı́tulo 49
117. Recolha para a Missa da Assunçã o.
118. “Isso, defendido por sua proteçã o”, etc.
119. “ Diversi generis bestiolae .”
120. O escritó rio agora começa no Vesper.
121. “ Pavimentum .”
122. [“Quem é ela ...” —cf. Não. 6: 9]. 4. Formiga. nas Vé speras, mas com
palavras diferentes agora. As demais respostas també m se encontram no
presente Ofı́cio, e no hino Quem terra , etc.
123. “O Rainha de todo o coro virgem”; Hino nas Laudes.
124. 4. Resposta, i. Nocturn.
125. De Ecclus . 39:17. O primeiro dos trê s Câ nticos, iii. Nocturn, Ofı́cio da
Santı́ssima Virgem; mas começa, obaudite-me - “Ouve-me, descendê ncia divina,
e desabrocha como a rosa plantada junto aos ribeiros das á guas”.
126. “Traga folhas na graça.”
127. “Regozijar-me-ei muito no Senhor”; ii. Resposta, iii. Nocturn,
de Isaias 61:10.
128. "Nã o será s mais chamado de abandonado." ( Is. 62: 4, iii. Câ ntico). As
citaçõ es que se seguem nã o constam do presente Escritó rio. A citaçã o
“sexaginta” é do Cant . 6: 7-8: “Há sessenta rainhas, oitenta concubinas e moças
incontá veis. Uma é minha pomba, minha perfeita é apenas uma; ela é a ú nica de
sua mã e. ” A aplicabilidade da primeira parte desta citaçã o nã o é muito ó bvia.
129. x. Resposta, iii. Nocturn; e també m Ecce exaltata .
130. “O Sunamita segundo o coraçã o do Rei.” Provavelmente uma alusã o a 3
Reis 1: 3, onde Abisague, o sunamita, é trazido ao rei Davi por sua rara beleza,
para que possa ministrar a ele. Esta passagem nã o está no escritó rio.
131. O Te Deum é sempre entoado pelos beneditinos, a menos que o ofı́cio seja
ferial.
132. Vidi speciosam, i. Resposta, i. Noite, Festa da Assunçã o: “Eu te vi, formosa
como uma pomba, subindo acima dos rios das á guas; o odor de tuas vestes era
inefá vel, e foste rodeado de rosas e lı́rios. Quem é este que sobe do deserto
como uma nuvem perfumada com mirra e incenso? ”
133. Essas Antı́fonas nã o estã o no Escritó rio atual; mas a Antı́fona
do Magni icat é como a anterior: “Hoje a Virgem Maria sobe ao
cé u; regozijemo-nos, pois ela reina com Cristo por sé culos sem im ”.
Capı́tulo 50
134. 20 de agosto.
135. Do hino das Laudes pela Dedicaçã o de uma Igreja. Os hinos deste Ofı́cio
sã o muito bonitos. O hino para as Vé speras no Ofı́cio Romano difere do
Beneditino. O primeiro começa com “ Caelestis urbs ,” o ú ltimo, “ Urbs Jerusalém
beata ”; mas a mesma ideia está contida em cada um.
“Jerusalé m, cidade abençoada, Doce visã o de uma terra pacı́ ica!”
Capı́tulo 51
136. 28 de agosto. Esta Antı́fona é do Breviá rio das Ursulinas, v. Em Laudes.
137. “Nã o se achou semelhante a ele na gló ria” ( Ecclus. 44:20); eu. Ant., Lauds,
Com. de Conf. Pont.
138. A festa de Sã o Domingos ocorre no dia 4 de agosto; a de Sã o Francisco no
dia 4 de outubro. E notá vel que aqueles que estavam tã o unidos em vida
devessem ter aparecido juntos em gló ria a este grande santo.
Capı́tulo 52
139. 8 de setembro.
140. Deve ser lembrado que há quatro Liçõ es em cada Noite do Ofı́cio
Beneditino. A Gloria Patri é dita ao inal da quarta Resposta de cada Noite.
141. Dulcissimae genitrici.
142. Nã o fomos capazes de veri icar esta sequê ncia.
143. Antı́fona nas Vé speras do Domingo da Trindade até o Advento. Em geral,
acredita-se que Adelmar, bispo de Puy, compô s essa devoçã o comovente; as
ú ltimas palavras, “ó clemente”, etc., foram acrescentadas por Sã o
Bernardo. Adelmar viveu no sé culo XI, e o Salve Regina foi introduzido, por
volta dessa é poca, nos serviços da Igreja. Alguns autores atribuem isso a
Hermann Contractus, um monge beneditino da mesma data.
Capı́tulo 53
144. 14 de setembro. Este Festival, como devemos lembrar, foi instituı́do pela
primeira vez para celebrar o achado da Cruz por Santa Helena, apó s a visã o
milagrosa de Constantino. Foi mantido em Jerusalé m desde o ano 335, e por
gregos e latinos, já no sé culo V, sob o mesmo tı́tulo; mas desde o sé culo VIII, a
Festa da Descoberta ou Invençã o [do latim inventio , "achado"] da Cruz foi
transferida para 3 de maio, e este dia designado para a comemoraçã o da
recuperaçã o deste mais venerá vel e sempre abençoada relı́quia dos persas.
145. Ver Regra de Sã o Bento, cap. xli.
Capı́tulo 54
146. 29 de setembro.
147. “ Egregia .”
Capı́tulo 55
148. Santa Ursula e seus companheiros, má rtires: 21 de outubro. Acredita-se
que esses santos má rtires vieram originalmente da Grã -Bretanha e que Santa
Ursula foi seu maestro. Tem havido alguma dú vida quanto à exatidã o do
nú mero; mas as pesquisas modernas, neste como em muitos outros casos,
tendem a con irmar a verdade das antigas tradiçõ es - embora seja prová vel que
os má rtires nã o fossem todos virgens. Santa Ursula nã o foi a fundadora da
Ordem que leva seu nome: a humildade de Santa Angela, que instituiu a
congregaçã o, e uma visã o de Santa Ursula, que encorajou seu sagrado
empreendimento, levou-a a ocultar sua participaçã o imputada neste grande
trabalho sob o manto de outro. Quase se lamenta que o nome de Angelines nã o
tenha sido dado a uma Ordem à qual teria sido tã o singularmente apropriado
como os guardiã es da juventude.
149. “ Allaturus .”
150. "Papiro." Mechas para lâ mpadas eram feitas disso anteriormente.
151. “Esperança e coroa de virgens”.
152. O Regnum mundi é do x. Resposta, iii. Nocturn, Common of Widows: “Os
reinos deste mundo, e toda a sua pompa, eu desprezei por amor de meu
Senhor Jesus Cristo, a quem eu vi, a quem amei, em quem acreditei.”
153. " Frater noster ."
Capı́tulo 56
154. “ Sed sapore carens .”
155. Ps . 44:14.
Capı́tulo 57
156. Santa Isabel da Hungria; 19 de novembro. Esta Santa viveu no mesmo
sé culo que Santa Gertrudes. Ela nasceu em 1207, morreu em 1231 e foi
canonizada em 1235. A devoçã o ardente que sua santidade havia despertado
atingiu seu ponto má ximo de fervor no inal do sé culo, quando Santa Gertrudes
escreveu.
A citaçã o Eia mater - “O Mã e, agradeça-nos pelos teus ilhos” - é da
Prosa, Gaude, Sion, quod egressus , Missa de Santa Isabel, 19 de
novembro, Missale Brixinense.
Capı́tulo 59
157. De 3 Reis 10: 1-2: “A rainha de Sabá veio”, etc., “e trouxe pedras
preciosas”. Os Insinuationes, entretanto, tê m virtutum , como acima.
158. iii. Resposta, i. Noite: “Abençoe, ó Senhor, esta casa que construı́ em Teu
nome.”
159. “ Villam ”; talvez uma granja ou casa de fazenda pertencente ao mosteiro.
160. " Poma ."
161. xii. Resposta, iii. Nocturn.
162. “ Ascendentem de terra .” Esta passagem é parcialmente uma citaçã o
do Apoc . 21: 2.
Capı́tulo 60
163. “Vi a cidade santa, a nova Jerusalé m, que descia do cé u”; xii. Resposta,
iii. Nocturn.
164. “ Domus mea ” [“My House”] é provavelmente de uma Collect.
Capı́tulo 61
165. “ Iracibilem .”
166. “ Innuebatur .”
167. “ Reverabatur .”
168. Recolha para a Missa da Meia-Noite no Natal.
169. “ Vilitas .”
170. Gradual, Missa das Virgens; Audi ilia , Gradual de Santa Cecı́lia. Esta missa
parece ter sido composta de vá rias missas.
171. Epı́stola, Comum das Virgens. Nã o conseguimos veri icar a prosa.
172. “Eu te confesso, ó Pai, Senhor do cé u e da terra, porque escondeste estas
coisas dos sá bios e prudentes, e as revelaste aos pequeninos.” ( Mat .
11:25); Gospel, Com. dos má rtires.
173. Domine Deus ; Ofertó rio para dedicaçã o de uma igreja. A continuaçã o é
retirada do Of ice for Dedication.
174. “O padre, elevando os olhos para o cé u, etc…. faz o Sinal da Cruz sobre a
Hó stia e o Cá lice, enquanto diz: 'Vem, Santi icador,' ”etc. Ver Missal, Ordiná rio
da Missa.
175. Comunhã o, Com. de Conf. nã o Bishop; Mass Os Justi .
Parte 5
Capı́tulo 1
1. Domina . De acordo com Bucelinus, Aquila Imperii Benedictini , p. 210, St.
Mechtilde era o quarto e mais novo ilho do nobre conde de Hackeborn. Poucos
momentos depois de seu nascimento, ela parecia estar morrendo, e foi
imediatamente levada para a Igreja para receber o Santo Batismo. O sacerdote
que administrava o Sacramento era um “homem santo e justo”, que assim se
dirigia aos espectadores: “Por que você s temem? Esta criança viverá e se
tornará uma esposa devotada de Cristo; Deus fará muitos milagres por meio
dela; e ela terminará seus dias em uma boa velhice. ” Nosso Senhor
posteriormente revelou a ela que seu batismo foi assim apressado para que ela
pudesse se tornar imediatamente o templo de Deus e a possuidora de sua
graça. Ela mesma mencionou esse comovente incidente no primeiro capı́tulo
de suas Revelaçõ es, que nã o sã o de menor importâ ncia e interesse do que as
de sua santa irmã .
Aos sete anos foi consagrada a Deus no mosteiro de Rodersdorf, onde sua
irmã já havia se dedicado ao serviço divino, segundo o antigo costume da
ordem; que, no entanto, como observamos antes, foi abolido pela autoridade. E
prová vel que as duas irmã s tenham se mudado ao mesmo tempo para
Heldelfs. Aqui sua vida foi um exercı́cio contı́nuo de todas as virtudes. Apesar
de sua inocê ncia de vida, ela praticava as mais severas austeridades corporais,
como disciplina e uso de cabelo. Seu amor por Jesus Cristo a fez sofrer com os
pecados pelos quais os homens O ofendem continuamente, e uma devoçã o à
Sua Sagrada Paixã o e Morte era especialmente querida para ela. Tamanho era
seu fervor no Ofı́cio Divino, que muitas vezes ela era arrebatada ao ê xtase; e
tã o grande era a pureza de sua alma, que Nosso Senhor se dignou a conversar
familiarmente com ela, e lhe revelou Seus segredos celestiais. Ela també m
tinha um amor muito terno pelas almas do Purgató rio; pelos quais ela ofereceu
penitê ncias e morti icaçõ es, e procurou por todos os meios obter sua
libertaçã o. Santa Gertrudes, sua abadessa, frequentemente a consultava e
recebia seus conselhos como orá culo divino.
Embora muitas vezes visitada por doenças e sofrimentos, ela os suportou
com a mais edi icante paciê ncia e resignaçã o, mas ainda, como o Apó stolo,
com um santo anseio de ser libertada da prisã o da carne. Seus desejos
amorosos foram inalmente satisfeitos, e ela passou aos braços de seu esposo
no dia 19 de novembro. Era a festa de Santa Isabel da Hungria e as religiosas
interromperam as matinas para assistir à sua feliz morte. Os cronologistas nã o
concordam sobre a data de seu nascimento e morte, mas ela parece ter vivido
durante parte dos sé culos XIII e XIV.
Suas revelaçõ es sã o intituladas Liber gratiae spiritualis visionum et
Revelationum Beatae Mechtildis Virginis devotissimae e sã o divididas em cinco
partes. A primeira parte conté m instruçõ es para assistir à Missa e ao Ofı́cio
Divino em muitas festas do ano. Na verdade, o Ofı́cio Divino era a devoçã o
especial dessas santas irmã s, e uma devoçã o que parece ter sido
particularmente aceitá vel para seu esposo. Como verdadeiros ilhos de Sã o
Bento, nã o poderia ser diferente; pois ele disse em sua regra imortal: “Nada
seja preferido à obra de Deus” (cap. xliii); portanto, em proporçã o à santidade
de seus ilhos, será sua devoçã o à obra angelical de cantar os louvores a seu
rei. Conseqü entemente, onde encontramos a santidade mais exaltada,
encontramos també m a maior perfeiçã o e amor por esta obra; como em cada
Ordem na Igreja de Deus, a santidade de seus membros será caracterizada por
uma devoçã o especial ao im especial para o qual a Providê ncia instituiu sua
Regra e observâ ncia.
A segunda parte destas Revelaçõ es conté m muitos fatos relacionados a Sã o
Mechtilde e detalhes de suas comunicaçõ es com seu esposo celestial. A
terceira e quarta partes sã o sobre o louvor Divino e sobre a salvaçã o dos
homens. A quinta parte é dedicada à s almas do Purgató rio, com instruçõ es
sobre como podem ser assistidas pela Igreja Militante.
As revelaçõ es de Sã o Mechtilde estã o se tornando muito raras e
valiosas. As principais ediçõ es sã o as de Paris, 1513; Colô nia, 1536; Veneza,
1522, 1558 e 1589. Este Santo foi confundido com Sã o Mechtild de Spanheim e
Sã o Mechtild de Diessen por vá rios autores, entre outros por Alban Butler. Seu
nome nunca foi inserido no Martiroló gio Romano.
2. “ Mensam .”
3. " Lusum ."
4. “Se observares as iniqü idades, Senhor, Senhor, quem as suportará ?” Introit,
22º domingo apó s o Pentecostes. A data da morte de Sã o Mechtilde nã o admite
disputa. A Festa de Santa Isabel ocorre no dia 19 de novembro e, como se verá
mais adiante, foi a quinta feria (quinta-feira) apó s este domingo. O 22º
domingo apó s o Pentecostes, portanto, deve ter caı́do no dia 15 de novembro.
5. “ Feria secunda .”
6. “ Ardentissimus animae zelator .”
7. Nã o na atual Litania para os Moribundos.
8. O Ofı́cio Divino é o primeiro e mais solene dever de todas as ordens
religiosas, que estã o vinculadas ao seu recital. No entanto, agora, como no
tempo de Santa Gertrudes, esta grande e solene obrigaçã o dá lugar ao tempo
em que uma alma está atingindo o momento terrı́vel de sua passagem para a
eternidade. Verdadeiramente, pode-se dizer: “A caridade nunca desaparece”. As
“profecias” podem cessar e pode nã o haver Gertrudes agora escondida nas
casas enclausuradas de sua grande Ordem; as lı́nguas podem cessar, pois a
lı́ngua dos que vivem sob a mesma Regra pode nã o ser igual ou entendida em
muitos paı́ses; mas a caridade nunca desaparece: e quer seu exercı́cio seja
necessá rio ao leito de um religioso moribundo na India ou em Roma, na
Inglaterra ou na Amé rica, é dada com igual ternura e prontidã o. A religiosa
morre cercada por suas irmã s; suas oraçõ es por ela podem de fato ser
quebradas por soluços e interrompidas por lá grimas; mas nã o sã o as lá grimas
e os suspiros també m oraçõ es, e as mais comoventes oraçõ es ao Seu Coraçã o,
que chorou no tú mulo de Lá zaro? Na Ordem das Clarissas, de cujas
observâ ncias estamos mais familiarizados, exige-se que duas irmã s
permaneçam noite e dia com as religiosas, desde o momento em que haja o
menor receio de perigo. Um é encarregado de convocar toda a comunidade,
por mais engajada que seja, de dia ou de noite, no momento em que a agonia
começa; a outra irmã ica, para que o moribundo nã o ique só por um
momento. E quem pode descrever o que deve ser testemunhado para ser
compreendido? As vezes, o amoroso adeus a cada um; à s vezes, o humilde
reconhecimento das faltas e o fervoroso pedido de perdã o de qualquer
desedi icaçã o que possa ter sido concedida em uma vida que talvez tenha sido
uma das mais elevadas edi icaçõ es; as irmã s ajoelhadas, incansá veis em suas
oraçõ es por horas, mesmo muito depois de a alma tã o querida para elas ter
ouvido sua condenaçã o inal [isto é , seu julgamento]; e a mã e amorosa, que se
esqueceu de seu pró prio cansaço, ou pode ser sofrimento real, enquanto olha
dia e noite ao lado da cama de seu ilho, com um amor que só uma mã e pode
oferecer, e com consolos e ajudas como apenas um a mã e espiritual pode
dar; cuja ausê ncia, mesmo durante uma doença prolongada, é a exceçã o, e cuja
presença a regra. Na verdade, apenas aqueles que testemunharam tais leitos
de morte abençoados podem avaliar a graça de uma vocaçã o religiosa.
Capı́tulo 2
9. Este religioso foi provavelmente a pessoa que compilou as Revelações ; o
extremo cuidado em ocultar o seu nome e a forma abrupta com que é
mencionada sã o quase uma prova disso.
10. Essa resposta foi evidentemente adaptada da trigé sima quarta estrofe do
hino Laetare Germania , publicado em um Antifoná rio do sé culo XV. Funciona
assim:
“ O lampas Ecclesiae , Rivos profundens olei , Medicina gratiae , Nutrimentum
idei .”
A prosa Gaude Sion , e o hino Laetare Germania , sã o ambos em homenagem
a Santa Isabel.
11. “Deleite de Deus, oliveira frutı́fera, cuja pureza resplandece de longe, cujas
obras sã o gloriosas.”
12. Do elogio da alma que parte - uma das devoçõ es mais tocantes e belas que
a Igreja usa.
13. Introduçã o, Missa pelos Mortos.
14. v. Ant. Laudes, Ofı́cio da Santı́ssima Trindade; de Rom. 11.36: “Dele, e por
ele e nele estã o todas as coisas. Que para ele haja gló ria eterna. Um homem."
Capı́tulo 3
15. Matt. 10:42 e 12:36.
Capı́tulo 4
16. “ Comunicanos .”
capı́tulo 5
17. “ Sororis ”; o termo “ domina ” , no entanto, que traduzimos “dama”, é
geralmente usado.
18. “Secretum meum nunc habeo in ea, sicut olim habui cum eo.”
19. Salmos 62 e 122.
Capı́tulo 6
20. “ Quod lectus ipsius fuit depositus de picto panno ” etc. Isso, sem dú vida, foi
antes de os religiosos entrarem no mosteiro, pois a regra de pobreza de cada
casa religiosa proibia tal extravagâ ncia. A colcha ricamente bordada era um
toque de requinte luxuoso naquela é poca e, portanto, indicava um há bito de
auto-indulgê ncia ou gostos luxuosos, o que provavelmente causou o
sofrimento da alma por um ato que era apenas seu clı́max.
21. As traduçõ es francesas tê m, “ Elle resentit quelque espècs de tristesse ” - um
sentimento totalmente indigno de uma alma tã o generosa e nobre, que nã o
poderia se arrepender do que ela havia concedido tã o livre e
amorosamente; mas nã o está em nenhuma ediçã o latina que vimos.
Capı́tulo 8
22. " Magistra infermorum ."
23. Um cruci ixo é sempre colocado aos pé s da cama quando a religiosa recebe
os ú ltimos sacramentos, e nã o é removido antes de sua morte. Assim, é mais
prová vel que sua aparê ncia moribunda repouse naquele que morreu por ela.
24. “Quem é esta que sobe pelo deserto, como coluna de fumaça de especiarias
aromá ticas?” ( Cant. 3: 6).
Capı́tulo 11
25. “ Procurator curiae .”
26. “ Fraude Aliquam .”
Capı́tulo 12
27. [O Santo Deus, Santo Forte, Santo Imortal.] Das Repreensõ es entoado na
Adoraçã o da Cruz na Sexta-feira Santa.
28. “ Faceta de Venias .”
Capı́tulo 13
29. “ In specie bufonis .”
Capı́tulo 15
30. Em todas as casas conventuais, os pais de cada religioso sã o considerados
o encargo especial de todos. Missa, Comunhã o e Ofı́cio dos Mortos sã o
oferecidos regularmente para todos os pais falecidos em perı́o dos
determinados ao longo do ano. Ai, o que nã o perdem as pessoas infelizes, no
tempo e na eternidade, que impedem a consagraçã o de seus ilhos a Deus! E
que ganho tê m aqueles que, ao colocá -los em uma comunidade sagrada e
devotada, garantem as oraçõ es das almas mais santas por seu pró prio bem-
estar, tanto neste mundo como no pró ximo! Talvez só os internos do claustro
saibam com que ternura e fervorosa afeiçã o as relaçõ es de cada um sã o
rezadas por todos.
31. " Ego propinquissimus vester sum ."
Capı́tulo 16
32. O Grande Salté rio é explicado em um capı́tulo seguinte, e a devoçã o das
Sete Missas, que é atribuı́da a Sã o Gregó rio, o Grande. Ele també m foi o
instituidor do costume de celebrar a Missa por trinta dias apó s a morte ou
sepultamento dos ié is. A origem desta devoçã o piedosa é assim relatada pela
Mè re Blemer, em seu Annee Benedictine : “Um monge chamado Justin guardou
algum dinheiro sem permissã o. Em seu leito de morte, ele reconheceu a culpa
a um dos irmã os, que imediatamente informou a Sã o Gregó rio. O Abade
ordenou que apenas um dos irmã os o atendesse e que fosse sepultado sem
ritos sagrados. A severidade da sentença o convenceu de sua falta e ele morreu
sinceramente penitente. Por trinta dias apó s seu falecimento, nenhuma oraçã o
foi feita pelo repouso de sua alma; mas ao té rmino desse perı́o do, Gregó rio
desejou que a missa fosse celebrada para ele diariamente por trinta dias. No
ú ltimo dia Justino apareceu a seu irmã o, que nada sabia das oraçõ es que
haviam sido feitas por ele, e declarou que agora estava liberado do purgató rio,
depois de suportar intensos tormentos. Daı́ o costume de celebrar missa por
trinta dias para os partidá rios [= “uma missa gregoriana”] foi instituı́do por Sã o
Gregó rio.
Capı́tulo 17
33. O francê s tem “ un sure gentilhomme ”; mas isso é incorreto, pois a traduçã o
em latim é " militis ".
34. “O Deus, cuja propriedade é sempre para ter misericó rdia e sobra…”; Colete
primeiro apó s a Ladainha dos Santos.
35. Veja o pró ximo capı́tulo, cuja primeira oraçã o começa com estas palavras.
Capı́tulo 18
36. “ Quindecim .” As traduçõ es italianas també m tê m “ quindeci ”; mas o francê s
tem “sept”, embora de outra forma toleravelmente correto na traduçã o deste
capı́tulo.
37. Provavelmente a missa do pré -santi icado nã o foi rezada entã o. O Introit é
o que agora é usado na Quinta-feira Santa; mas a mesma Paixã o é lida na
Sexta-feira Santa.
38. Introduçã o ao Domingo de Pá scoa.
Capı́tulo 19
39. “ Cum homo agnoscit, Deus ignoscit .”
Capı́tulo 20
40. 11 de novembro. Provavelmente no ano anterior à morte do Santo. A
resposta é o vi. Resposta, ii. Nocturn.
Capı́tulo 24
41. “Como o cervo anseia pelas fontes de á gua, assim minha alma anseia por
Ti, ó Deus.” ( Salmos 41: 2).
42. “E Eliseu subiu e se deitou sobre a criança, e ele colocou sua boca sobre
sua boca, e seus olhos sobre seus olhos, e suas mã os sobre suas mã os”. ( 4
Reis 4:34).
Capı́tulo 25
43. “ Item .”
Capı́tulo 26
44. “ Milies desiderados, Mi Jesu, quando venies? Me laetam quando facies? De te me
quando saties?
“ Veni, veni, Rex optime!
Pater immensae gloriae,
Effulge clarè laetius,
Jam expectamus saepius.
“ Tua te cogat pietas,
Ut mala nostra superis
Parcendo: et vos compotos
Nos tuo vultu saties .”
Capı́tulo 29
45. “ Compilatriz .”

A OLLEÇAO DE
C LASSIC A RTWORK

Imprimatur: Joannes Gregorius Murray


Archiepiscopus Sancti Pauli
Paulopoli morreu 17a maii 1956

Copyright © 1974 por TAN Books, uma editora de Saint Benedict Press, LLC.

Originalmente publicado por Fathers Rumble and Carty, Radio Replies Press,
Inc., St. Paul, Minn., EUA

Redigite e republicado em 2010 pela TAN Books.

Completo e integral.

ISBN: 978-0-89555-096-5

Impresso e encadernado nos Estados Unidos da Amé rica.

Livros TAN
Uma marca da Saint Benedict Press, LLC
Charlotte, Carolina do Norte
2012

C ONTEUDOS
Introdutó rio
A con iguraçã o
Nascimento de jesus
Infâ ncia em Nazaré
John The Bapist
Jesus começa seu ministé rio
Jornada à Galilé ia
O Reino e os Apó stolos
Manifestaçõ es do Poder Divino
Falando em pará bolas
Aumentando a popularidade
Morte de Joã o Batista
Milagres dos pã es
O pã o da vida
Peter the Rock
Treinamento dos Doze
Visita a Jerusalé m
Choque com os fariseus
Ministé rio da Judé ia
A Declaraçã o Suprema
Ressurreiçã o de Lá zaro
Ultimos Dias Missioná rios
Banquete em Betâ nia
Domingo de Ramos
Segunda Limpeza do Templo
Dia de perguntas
Judas o Traidor
A ú ltima Ceia
Prisã o e Julgamento
Morte no Calvá rio
Ressuscitado e ainda vivendo

INTRODUTÓRIO
Jesus Cristo, cujo primeiro nome signi ica “Salvador” e cujo segundo
nome signi ica “Ungido” ou “Consagrado”, nasceu, nã o quando nosso
calendá rio diz que Ele nasceu, mas cerca de seis anos antes.
Nosso calendá rio atual foi elaborado por Dionysius Exiguus no
sé culo 6 DC, e agora sabemos que ele estava há cerca de seis anos
atrasado em seus cá lculos.
O erro de Dionı́sio, é claro, nada tem a ver com o fato histó rico do
nascimento de Nosso Senhor. Signi ica apenas que o que pensamos
como, digamos, 1950 DC, era realmente mais parecido com 1956 DC
Para os fatos reais sobre Cristo, dependemos principalmente dos
quatro evangelhos. No entanto, estes foram submetidos a um exame
exaustivo, como nenhum outro documento teve de ser submetido, e sua
autenticidade como documento está alé m de qualquer disputa razoá vel.
Os autores estavam em posiçã o de escrever uma histó ria
inteiramente boa. Se os documentos tratassem de um homem comum e
tratassem apenas de declaraçõ es e eventos comuns, ningué m sonharia
em duvidar de sua con iabilidade.
E o que eles contê m que os incré dulos declaram incrı́vel; e isso,
somente quando os evangelhos mencionam coisas alé m do alcance da
experiê ncia humana normal. Quando tratam de tudo o que pertence à
esfera comum e natural, a pesquisa tem mostrado que eles pró prios sã o
acurados, seja em relaçã o a pessoas, lugares ou coisas.
E o puro preconceito contra qualquer revelaçã o religiosa de Deus e,
acima de tudo, contra a possibilidade de con irmar tal revelaçã o por
milagres, que faz os homens considerarem os evangelistas como tendo
perdido o juı́zo, ou entã o como tendo sido positivamente desonestos,
sempre que eles registrado como fato real qualquer coisa que tenha
sabor sobrenatural ou miraculoso. Esses incré dulos nã o abordaram os
evangelhos com a mente aberta, apesar de se gabarem de que izeram
exatamente isso.
Nã o há espaço neste livrinho para discutir a posiçã o deles. Nem há
necessidade de fazer isso. Bastará expor sucintamente a vida de Cristo
conforme retratada nos evangelhos, omitindo muito necessariamente
para ins de condensaçã o, mas tomando cuidado em tudo o que se diz
para permanecer estritamente iel aos fatos bá sicos registrados em
nossas fontes incontestá veis.
A CONFIGURAÇÃO
Jesus nasceu na pequena cidade de Belé m, na Palestina, um
pequeno paı́s de apenas 150 milhas de comprimento e de 80 a 80
milhas de largura, no extremo leste da costa do Mar Mediterrâ neo. A
Palestina, portanto, tem apenas cerca de metade do tamanho do Estado
de Indiana, na Amé rica.
Seu nome vem dos ilisteus, um povo pagã o que se estabeleceu na
costa deste paı́s mais ou menos na mesma é poca em que os hebreus ou
o povo de Israel conquistaram as montanhas, cerca de 1300 anos antes
do nascimento de Jesus.
Na é poca de Seu nascimento, o povo de Israel, chamado de judeus
em homenagem à tribo principal de Judá , havia sido conquistado pelos
romanos. E verdade que eles tinham um rei chamado Herodes, o
Grande; mas ele havia sido nomeado por Roma e estava sujeito ao
imperador romano.
Herodes, o Grande, morreu em 4 aC, cerca de dois anos depois do
nascimento de Jesus.
Entã o os romanos dividiram a Palestina em quatro partes. Um dos
ilhos de Herodes, Arquelau, governaria a Judé ia e Samaria, no
sul; outro, Filipe, recebeu Ituré ia no Norte; um terceiro ilho, Herodes
Antipas, governou a Galilé ia no Oriente Mé dio e a Peré ia no
sudeste; enquanto Roma governava diretamente sobre Decá polis, uma
á rea a leste do Jordã o.
Quando Jesus era um menino de cerca de doze anos, Arquelau foi
deposto pelos romanos por ser muito despó tico, e governadores
romanos foram nomeados para governar a Judé ia e Samaria.
Um desses governadores foi Pô ncio Pilatos, que esteve no cargo de
26 DC até 36 DC
Foi sob Pô ncio Pilatos que Jesus deveria morrer.
Os judeus eram um povo religioso. Todas as naçõ es ao redor deles
eram pagã s, mas eles adoravam o ú nico Deus verdadeiro, observando
cuidadosamente as leis dadas a eles por Moisé s. O principal centro de
sua adoraçã o era o grande Templo em Jerusalé m, capital da Judé ia. Nas
diferentes aldeias tinham sinagogas ou locais de encontro para oraçã o e
leitura das Escrituras; mas o sacrifı́cio só podia ser oferecido a Deus no
ú nico Templo de Jerusalé m. Por causa disso, em grandes festivais
religiosos milhares de judeus se reuniam para lá de todas as partes da
Palestina, e até mesmo de outros paı́ses do exterior.
Entre os judeus havia vá rios partidos, dois dos quais sã o
freqü entemente mencionados nos evangelhos, os fariseus e os
saduceus.
Os fariseus, ou “separados”, a irmavam observar a Lei mosaica
perfeitamente, muito melhor do que o restante dos judeus. Mas embora
fossem muito exatos externamente, a maioria deles era orgulhoso e
muito duro e pouco caridoso com os outros. Nem todos eram assim,
claro. Havia alguns homens realmente bons, sinceros e santos entre
eles.
Os Saduceus, ou “Descendentes de Sadoc” (“Sadoc” signi ica
“Justiça”), pertenciam à s classes mais ricas. Eles eram muito mundanos
e, embora nã o negassem que a Lei de Moisé s deveria ser observada,
eles nã o eram muito rı́gidos a respeito. Muitos deles negaram a
existê ncia de uma vida futura e outros ensinamentos ortodoxos. A
maioria dos sacerdotes judeus pertencia a esses saduceus.
Os judeus, em geral, nã o icavam muito contentes com o governo
dos romanos; e como sua religiã o os ensinou a olhar para a frente em
direçã o a um Messias ou Salvador enviado por Deus, a maioria deles
esperava que Ele fosse um grande lı́der polı́tico e militar que derrotaria
os romanos e se tornaria a maior naçã o do mundo.
Esse era o cená rio na Palestina quando Jesus nasceu em Belé m.

NASCIMENTO DE JESUS
A maioria das biogra ias de pessoas começa com um relato de seu
nascimento e, talvez, de sua histó ria familiar. Mas, embora a vida de
Jesus, nascido neste mundo, tenha começado em Belé m, nã o se pode
dizer que Ele pessoalmente começou a existir somente entã o. Antes da
Encarnaçã o, Ele sempre viveu no Cé u; e seria impossı́vel voltar ao inı́cio
de Sua vida ali, pois Ele é o Filho Eterno de Deus. Ser eterno é nã o ter
começo algum! Mas esse aspecto de Sua vida nos levaria alé m da
histó ria registrada como o mundo a conhece.
O evangelho de Sã o Joã o, entretanto, nos diz que um dia Ele fez este
mundo, e na verdade todo o universo, sé culos antes de Ele mesmo
entrar nele; e quando Ele entrou em nosso meio como Homem para nos
redimir e salvar, Ele nos disse que ainda pertencia ao Cé u; e sempre
falou disso como só poderia falar algué m que está perfeitamente
familiarizado com tudo ali. Encontraremos muitas dessas declaraçõ es
no curso de Sua vida na terra dentro da estrutura da histó ria, o aspecto
de Sua vida com o qual este livreto se refere.
Já dissemos que Herodes, o Grande, morreu no ano 4 aC, de acordo
com nosso calendá rio atual. Agora, cerca de trê s anos antes disso, vivia
em Nazaré , uma pequena cidade nas colinas da Galilé ia, uma jovem
judia chamada Maria. Na mesma cidade morava um carpinteiro
chamado José , de quem ela estava prometida e com quem logo se
comprometeria nas cerimô nias inais de casamento. Maria e José
pertenciam à tribo de Judá e eram descendentes do rei Davi, embora
estivessem em pé ssimas condiçõ es, assim como tantos outros da
linhagem de Davi.
Um dia, enquanto Maria estava sozinha em oraçã o, Deus enviou o
anjo Gabriel a ela com a tremenda notı́cia de que a grande Esperança de
Israel estava para ser inalmente cumprida, e que ela seria a Mã e do
Messias. “Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco”, disse o anjo,
aparecendo perante ela. “O Espı́rito Santo virá sobre você , e o poder do
Altı́ssimo irá cobrir você . Portanto, o Santo que nascer de você será
chamado de Filho de Deus. ”
Maria respondeu: “Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a
tua palavra. ” E naquele momento Jesus foi concebido milagrosamente
em seu ventre. O Filho Divino, gerado eternamente do Pai Divino no Cé u
sem uma mã e, deveria nascer na natureza humana de uma Mã e humana
sem a intervençã o de qualquer pai terreno.
Isso seria incrı́vel se fosse uma questã o de qualquer pessoa
comum. Mas Jesus, o ilho de Maria, nã o era uma pessoa comum. O
estudo de Seu cará ter e de Sua carreira subsequente neste mundo é
su iciente para mostrar isso, e que uma entrada milagrosa neste mundo
é a coisa mais adequada e natural que se pode esperar em Seu caso.
Nem temos apenas a palavra de Maria para o fato da concepçã o
milagrosa de Jesus. A verdade sobre isso foi revelada
independentemente a Joseph. “José , ilho de Davi”, disse um anjo a ele
també m, “nã o temas tomar Maria por esposa, pois foi pelo poder do
Espı́rito Santo que ela concebeu este ilho.
Assim, as formalidades do casamento foram cumpridas; e quando
sua hora chegasse. Tendo José a levado para Belé m, ela deu à luz seu
ilho lá , na aldeia conhecida como a cidade de Davi. Eles haviam ido
para lá em obediê ncia a um decreto de Cé sar Augusto, o imperador
romano, ordenando que todos izessem relató rios na é poca em suas
cidades natais para ins de censo.
A noti icaçã o divina da vinda do Messias já havia sido dada a Isabel,
prima de Maria; e agora que Ele tinha vindo, o fato foi revelado a um
pequeno grupo de pastores nas colinas pró ximas. Anjos apareceram a
eles, trazendo-lhes a notı́cia de que “este dia nasceu para você s um
Salvador”, e os deleitando com sua adorá vel cançã o de louvor e
consolaçã o: “Gló ria a Deus nas Alturas, e paz na terra aos homens de
boa vontade. ” Desnecessá rio dizer que os pastores foram
imediatamente com grande alegria visitá -Lo.
Os magos, ou homens sá bios do Oriente, també m vieram, sob a
orientaçã o celestial; mas a chegada deles alarmou o velho rei Herodes,
o Grande, que estava meio louco com suspeitas de possı́veis rivais em
seus ú ltimos dias de angú stia. Por precauçã o, ele ordenou o assassinato
de todas as crianças do sexo masculino com menos de dois anos de
idade em Belé m e arredores. Mas José havia sido divinamente avisado
para levar a criança e sua mã e para o Egito, a im de escapar da
matança.

INFÂNCIA EM NAZARÉ
Apó s a morte de Herodes em 4 aC, a pequena famı́lia voltou. José
pretendia se estabelecer em Belé m; mas como o brutal Arquelau, um
dos ilhos de Herodes, fora nomeado governante da Judé ia, ele achou
mais sensato voltar para Nazaré , na Galilé ia, que estava sob o controle
de outro dos ilhos de Herodes, Herodes Antipas.
Em Nazaré , Jesus foi criado como uma criança judia piedosa e era a
ú nica criança. Os chamados “irmã os e irmã s” nos evangelhos eram, no
má ximo, primos. Era costume entre os judeus chamar qualquer parente
da mesma tribo de "irmã os".
A partir dos seis ou sete anos, as crianças frequentavam a sinagoga
local, onde aprendiam sua religiã o e outras maté rias comuns, leitura,
escrita e aritmé tica simples. Jesus tornou-se profundamente versado
nas tradiçõ es judaicas e nas Escrituras. Em seus discursos posteriores,
podem ser encontradas citaçõ es de muitos livros do Antigo
Testamento. Devido à presença de tantos gentios na Galilé ia, Ele quase
certamente teria aprendido a falar grego; mas as idé ias ilosó icas e
religiosas gregas nã o contribuı́ram de forma alguma para a sua
educaçã o. Nã o há vestı́gios deles em suas declaraçõ es posteriores.
Nã o há necessidade de falar sobre a pura bondade e virtude que
reinava naquela pequena casa em Nazaré . Lá , Sã o Lucas nos diz: “Jesus
cresceu em sabedoria e graça com Deus e os homens”.
Apenas um incidente nos é relatado a respeito da infâ ncia de Jesus
em Nazaré . Todos os anos, José e Maria faziam a viagem de oitenta
milhas a Jerusalé m para a Festa da Pá scoa, uma grande festa religiosa
como a nossa Pá scoa, que celebra o “ê xodo” ou a libertaçã o dos judeus
por Moisé s da escravidã o no Egito por volta de 1300 aC
As crianças foram autorizadas a assistir à s cerimô nias a partir dos
doze anos; e somos informados de que naquela idade Jesus foi com José
e Maria a Jerusalé m para a festa. Lá Ele se separou deles nas imensas
multidõ es, e eles O procuraram por trê s dias antes de encontrá -lo no
Templo discutindo religiã o com os mestres judeus, a quem Ele havia
surpreendido por manifestar uma compreensã o das Escrituras muito
maior do que era natural para qualquer menino de doze anos. E ainda
mais caracteristicamente sobrenatural, se alguma coisa, foi a maneira
como Ele falou com Sua Mã e quando ela O encontrou.
Ela havia exclamado: “Meu ilho, por que você se comportou assim,
causando tanta ansiedade a seu pai e a mim?” Ao que Ele respondeu:
“Que necessidade tens de me procurar? Você nã o sabia que eu deveria
estar na casa de Meu Pai? ” Como Filho Eterno de Deus que veio a este
mundo, Ele enfatizou que Seu dever para com Seu Pai celestial era,
acima de tudo, lealdades menores; e essas primeiras palavras
registradas de Jesus foram uma declaraçã o velada de Sua Divindade,
cujas implicaçõ es nem mesmo José e Maria haviam compreendido
totalmente.
Ele imediatamente desceu a Nazaré com eles, poré m, e estava
sujeito a eles.
Nos dezoito anos seguintes, nada nos foi dito, exceto que Ele seguia
o ofı́cio de José , de modo que foi chamado de "o carpinteiro, ilho de
Maria". Em algum momento durante aqueles dezoito anos José morreu
e Jesus trabalhou, colocando um pouco para prover o futuro de Sua Mã e
contra o tempo em que Ele mesmo teria que deixá -la.

JOÃO BATISTA
Quando Jesus tinha cerca de trinta anos, no 15º ano do reinado do
imperador romano, Tibé rio Cé sar, um profeta que vivia como um
eremita no deserto chegou ao rio Jordã o algumas milhas a leste de
Jerusalé m e ao norte do Mar Morto . Lá ele começou a pregar ao povo,
batizando nas á guas do rio todos os que converteu.
Ele era conhecido como Joã o Batista, ilho de Zacarias e parente de
Maria, Isabel, e era, portanto, parente do pró prio Jesus.
Nã o sabemos nada sobre Joã o entre seu nascimento e seu sú bito
aparecimento nas margens do Jordã o. Seu pai, poré m, contou-lhe sobre
a revelaçã o em seu nascimento de que ele prepararia o caminho do
Senhor.
Naquela é poca, havia grande agitaçã o entre os judeus. Todos
estavam falando sobre o Messias prometido; e, embora os lı́deres nã o
ligassem para John, as pessoas comuns icaram profundamente
impressionadas com ele. Multidõ es cada vez maiores se aglomeravam
para ouvi-lo, e ele fez o possı́vel para levá -los a um arrependimento
sincero de seus pecados. Ele exigia humildade em vez de orgulho,
bondade genuı́na em vez de conversa iada sobre isso; e ele nã o poupou
a hipocrisia dos escribas e fariseus.
Constantemente, ele tinha que responder a perguntas que as
pessoas insistiam em fazer sobre ele. Ele era o profeta? Ele era o Cristo,
o Messias? Ele era o Grande, prometido no passado? Mas para todos
eles Joã o disse nã o, ele nã o era. Ele se descreveu como apenas uma voz
clamando no deserto. O Messias estava por vir, e muito em breve. Ele,
Joã o, era apenas um pobre mensageiro, preparando o caminho para ele.

JESUS COMEÇA SEU MINISTÉRIO


A missã o de Joã o foi o sinal de que era hora de Jesus começar Sua
vida pú blica. Ele, portanto, deixou Nazaré e foi para o Jordã o onde Joã o
estava pregando e pediu para ser batizado. Joã o protestou, mas Jesus
insistiu; e ao ser batizado, o Espı́rito Santo desceu sobre Ele do Cé u na
forma de uma pomba, e uma voz veio, dizendo: “Tu é s meu Filho
amado. Em Ti estou muito satisfeito. ” Jesus nã o veio para receber o
batismo de Joã o como um pecador que precisava ser puri icado, mas
Ele veio para receber a aprovaçã o divina para o inı́cio solene de Sua
missã o como Mestre e Salvador da humanidade.
Depois de Seu batismo, Jesus foi imediatamente para a á rida regiã o
montanhosa da Judé ia para se entregar à oraçã o e ao jejum por
quarenta dias, ao inal dos quais o diabo veio tentá -Lo.
Na Encarnaçã o, o Filho Eterno de Deus assumiu como Sua uma
natureza verdadeiramente humana, e Ele permitiu que o diabo
sugerisse o uso de Seus poderes miraculosos para satisfazer Seu
pró prio desejo corporal por comida apó s um jejum tã o longo, e até
mesmo para adotar o maneiras do mundo a im de ganhar o mundo,
realizando prodı́gios surpreendentes e homenageando Sataná s à s
custas das reivindicaçõ es de Seu Pai celestial sobre Ele. A ideia do diabo
era oferecer um caminho fá cil para o sucesso na fundaçã o de um reino
terreno de acordo com as aspiraçõ es populares judaicas da é poca.
Mas Jesus nã o veio para buscar seu pró prio conforto, nem para
estabelecer um reino neste mundo. Ele rejeitou as tentaçõ es, trê s vezes
declarando simplesmente que a Vontade de Deus, com a qual as
sugestõ es do diabo nã o poderiam ser reconciliadas, era a ú nica coisa de
suprema importâ ncia.
Derrotado, o diabo o deixou; e anjos vieram e ministraram a ele.
Jesus entã o voltou para Joã o Batista, a quem Ele havia deixado seis
semanas antes, para começar Seu ministé rio lado a lado com o
Precursor. Mas o santo profeta, vendo-o aproximar-se do lugar onde
batizava, disse aos presentes: “Este é aquele de quem vos tenho
falado. Eis o Cordeiro de Deus! ”
Dois dos discı́pulos de Joã o, um deles també m chamado Joã o, e o
outro André , seguiram Jesus mais tarde, quando Ele estava voltando
para seu alojamento, e passou a noite com ele. Ele falou-lhes sobre o
Reino de Deus que viera estabelecer e respondeu a todas as suas
ansiosas perguntas. No dia seguinte, André foi procurar seu irmã o
Simã o. “Encontramos o Messias”, disse ele a Simã o, levando-o a
Jesus. Assim que o conheceu, Jesus mudou o nome de Simã o para Pedro,
em aramaico “Kepha”, uma palavra que signi ica “rocha”. Mas Simon nã o
foi informado na é poca por que seu nome foi mudado.
Mais tarde, Tiago, irmã o de Joã o, juntou-se ao pequeno grupo; entã o
Philip; e ele, por sua vez, trouxe Natanael també m. Nas primeiras horas,
portanto, Jesus ganhou seis discı́pulos, todos os quais mais tarde seriam
contados entre Seus doze apó stolos.

JORNADA PARA A GALILÉIA


Trê s dias depois, Jesus partiu para a Galilé ia, levando consigo seus
novos discı́pulos, todos galileus.
No caminho, eles chegaram à aldeia de Caná . Eles chegaram a tempo
de uma festa de casamento para a qual Ele e Seus discı́pulos foram
convidados; e lá encontrou Sua Mã e, que també m havia sido convidada,
e que viera de Nazaré , a quatro milhas de distâ ncia, para estar presente.
Foi lá , a pedido de Sua Mã e, que Ele realizou Seu primeiro milagre,
apó s declarar que o tempo para tais manifestaçõ es de Seu poder divino
realmente ainda nã o havia chegado. Mas o vinho havia acabado, e Sua
Mã e estava preocupada com o constrangimento que isso representaria
para seus an itriõ es. Para agradar a Sua Mã e, entã o, e poupá -los do
embaraço, Ele transformou a á gua em um suprimento abundante de
vinho. Há apenas uma semana, Ele se recusou a transformar pedras em
pã o. Aqui, poré m, nã o se tratava de satisfazer Sua pró pria fome, mas de
prover as necessidades dos outros.
De Caná , Ele foi para Cafarnaum, entã o uma pró spera vila à s
margens do Lago da Galilé ia.
Cafarnaum se tornaria o centro de Sua obra na Galilé ia, mas dessa
vez nã o demorou muito. Quase uma semana depois, ele estava em
Jerusalé m, tendo viajado oitenta milhas para estar presente na Cidade
Santa para a festa da Pá scoa.
Lá , indignado com a profanaçã o do Templo pelo comé rcio que
estava acontecendo dentro de seu recinto, Ele deu a primeira
demonstraçã o de Sua autoridade profé tica em pú blico, açoitando os
mercadores e todos os animais para fora do local com um chicote e
derrubando o mesas dos cambistas. “Está escrito: Minha casa é uma
casa de oraçã o”, disse Ele, “mas você a transformou em um covil de
ladrõ es”.
Os escribas, fariseus e sacerdotes icaram muito zangados com isso
e se aglomeraram em torno dele, exigindo que direito Ele tinha de agir
daquela maneira. Ele nã o operou nenhum milagre para justi icar Sua
autoridade divina, mas simplesmente disse: “Destruı́ este templo, e em
trê s dias eu o levantarei novamente.” Ele estava se referindo ao templo
do Seu corpo, sabendo que eventualmente O matariam, mas que no
terceiro dia depois Ele ressuscitaria dos mortos. Por enquanto, poré m,
Ele os deixou resolver por si mesmos.
Um dos fariseus, membro do Siné drio ou Conselho dos Judeus, um
homem chamado Nicodemos, icou profundamente impressionado com
a majestade e o poder de Jesus. Entã o, ele veio a Ele à noite, com medo
de fazê -lo abertamente, querendo saber que novo ensinamento Ele
tinha a dar.
Jesus explicou a ele que o reino messiâ nico nã o seria um reino de
poder polı́tico e mundano. Era para ser um governo de Deus nas almas
elevadas a um plano de vida mais elevado do que qualquer pai terreno
poderia dar. Esta nova vida exigiria um novo nascimento pela á gua e
pelo Espı́rito Santo. Jesus aqui falou do novo, maior e sacramental rito
do batismo que Joã o Batista havia dito que ultrapassaria em muito o
seu pró prio e seria pró prio do Messias.
A pró pria idé ia de tal renascimento batismal estava muito alé m de
Nicodemos e ele o admitia francamente. Jesus, portanto, disse a ele: “Se
você nã o consegue entender que o Espı́rito de Deus é necessá rio para
dar uma vida espiritual, como você pode compreender os misté rios
celestiais ainda mais profundos? Mas pelo menos acredite em Mim
quando lhes conto sobre eles. Estou falando do que sei, pois vim do cé u,
embora ainda esteja no cé u. Nenhum outro homem na terra pode falar
deles por experiê ncia pessoal, pois nenhum homem foi ao cé u e voltou
para poder fazê -lo. ” E Ele continuou: “Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o Seu Filho unigê nito; e Ele deve ser levantado como
Moisé s levantou a serpente no deserto, para que todos os que olham
para Ele sejam salvos ”.
Nicodemos foi embora pensativo e profundamente comovido; e nã o
havia dú vida de que, eventualmente, ele també m se tornaria um
discı́pulo. Na verdade, foi ele quem, apó s a cruci icaçã o, ajudou José de
Arimaté ia a providenciar um sepultamento honroso para o corpo de
Cristo, e ele tem sido reverenciado pela Igreja atravé s dos tempos como
Sã o Nicodemos.
A hostilidade amarga dos escribas e fariseus em geral, poré m,
deixou bem claro que a mensagem de Jesus nã o tinha chance de ser
aceita em Jerusalé m; mas Ele pelo menos se ofereceu à s autoridades
judaicas como o Messias. Agora Ele se retirou da Cidade Santa,
dedicando-se a pregar e curar os enfermos entre os camponeses da
Judé ia.
Depois de alguns meses, veio a triste notı́cia de que Joã o Batista
havia sido lançado na prisã o por Herodes Antipas, que icou furioso
com a denú ncia de Joã o sobre sua imoralidade. Isso signi icou o im da
missã o do Precursor, e Jesus imediatamente começou a sé rio Sua
pró pria grande obra de vida.
Levando consigo os discı́pulos, partiu para a Galilé ia, passando no
caminho por Samaria.
Ele pregou a verdadeira chegada do Reino de Deus, exortando as
pessoas a se arrependerem de seus pecados e aceitarem as boas novas
ou o evangelho que lhes é oferecido do cé u.
Normalmente, em Seus discursos, Ele silenciava sobre Seu pró prio
messiado por causa da prevalê ncia de tantas idé ias erradas sobre a
vinda de um lı́der polı́tico para fazer dos judeus a maior naçã o da terra.
Aos samaritanos, poré m, que nã o eram tã o profundamente afetados
por essas noçõ es como os judeus, Ele falou francamente. Assim, no poço
de Jacó , Ele respondeu: “Eu sou Ele” para a mulher de Samaria que
havia mencionado o Messias a quem Deus havia prometido enviar. Em
outro lugar, ele se autodenominava, via de regra, o "Filho do
Homem"; mas Ele sempre falou como um profeta e mestre de
autoridade maravilhosa, mostrada igualmente em Suas palavras e obra.
Em sua jornada pela Galilé ia, Ele parou em Caná , onde operou o
milagre da á gua transformada em vinho, e enquanto Ele estava lá , um
dos o iciais do Rei Herodes veio até Ele de Cafarnaum, a trinta
quilô metros de distâ ncia, implorando que viesse e salvasse seu ilho
moribundo. . Jesus disse a ele simplesmente para nã o se preocupar, pois
o menino estava curado. No caminho de volta para casa, recebido por
servos que correram para lhe contar a boa notı́cia de que o menino
havia se recuperado repentinamente, o o icial perguntou quando,
apenas para ser informado de que era precisamente à s 13h, a hora
exata em que Jesus lhe falara . Ele e toda sua famı́lia, portanto,
acreditavam nas a irmaçõ es de Jesus.

O REINO E OS APÓSTOLOS
Sã o Lucas nos diz que Jesus, tendo “voltado na força do Espı́rito à
Galilé ia, sua fama se espalhou por todo o paı́s. E Ele ensinou nas
sinagogas e foi magni icado por todos. E Ele veio para Nazaré , onde foi
criado. ”
Aqui particularmente foi veri icada a declaraçã o no evangelho de
Sã o Joã o de que "Ele veio para os Seus, e os Seus nã o o receberam." Sua
a irmaçã o na sinagoga de Nazaré de ser Aquele cujo advento havia sido
predito pelo profeta Isaı́as foi rejeitada com a observaçã o desdenhosa
de que Ele era apenas o ilho de José , o carpinteiro; e, tristemente,
exclamando que “nenhum profeta é aceito em seu pró prio paı́s”, Ele
desceu para Cafarnaum, à s margens do lago, tornando aquela cidade a
sede de Seu ministé rio na Galilé ia.
No primeiro sá bado apó s sua chegada a Cafarnaum, Ele falou na
sinagoga e teve uma recepçã o muito diferente daquela que Lhe fora
dada em Nazaré . As pessoas estavam entusiasmadas com Seu ensino,
sentindo uma autoridade divina em Suas palavras muito alé m de
qualquer coisa que tivessem experimentado nas dos escribas e
fariseus. Alé m disso, no inal de seu discurso, Jesus com uma palavra
expulsou o espı́rito maligno de um homem possesso para que o povo,
maravilhado, espalhou por toda a parte a histó ria do incidente.
Saindo da sinagoga para a casa de Pedro e André , lá encontrou a
mã e da esposa de Pedro doente com febre, mas a curou imediatamente
e ela preparou uma refeiçã o para todos.
Naquela noite, multidõ es de enfermos foram trazidas a Ele e Ele
curou suas doenças, trabalhando até tarde da noite; no entanto,
cansado como deve ter estado, Ele se levantou antes do amanhecer e foi
para um lugar solitá rio nas colinas para orar, um há bito de Sua vida
toda.
De Cafarnaum, ele fez muitas viagens de pregaçã o pela Galilé ia,
tendo um sucesso cada vez maior.
Ele veio, no entanto, para estabelecer um Reino, como Ele pró prio
havia declarado, dizendo: “Devo pregar o Reino de Deus, pois para isso
fui enviado.” Embora este reino nã o fosse do mundo, era para ser neste
mundo e durar até o im dos tempos, muito depois de Ele mesmo ter
retornado ao cé u de onde veio. Para a fundaçã o deste Reino, Ele deveria
escolher entre Seus discı́pulos doze homens que Ele treinaria
pessoalmente antes de enviá -los para continuar Sua obra.
Uma noite, portanto, em preparaçã o para isso, Ele foi sozinho para
as montanhas e orou a noite toda. Na manhã seguinte, Ele reuniu Seus
discı́pulos e escolheu os doze, conferindo-lhes o tı́tulo de Apó stolos.
Os escolhidos foram Simã o
Pedro; Andrew; James; Joã o; Philip; Natanael, també m conhecido como
Bartolomeu; Mateus; Thomas; James, o ilho de Alpheus; Simon
Zelotes; Jude, irmã o de James; e Judas Iscariotes, que por im o trairia.
Este foi um dos maiores eventos da histó ria, o inı́cio da Igreja como
Reino de Deus na terra. E foi seguido por uma das declaraçõ es mais
importantes que já saı́ram de lá bios humanos. Pois imediatamente
depois, com Seus apó stolos recé m-escolhidos sobre Ele, Ele deu ao
povo o grande discurso conhecido como o “Sermã o da Montanha”.
Entã o Jesus, que veio, como disse, nã o para destruir a Lei e os
Profetas, mas para inaugurar seu cumprimento perfeito, lançou as
bases do "Reino de Deus" ou do "Reino dos Cé us" (Ele falou disso em
ambos caminhos) que Ele chamou de Sua Igreja.
MANIFESTAÇÕES DE PODER DIVINO
Mais ou menos nessa mesma é poca, Jesus fez uma breve visita a
Jerusalé m para um dos dias do festival. Enquanto estava lá , Ele curou no
sá bado um homem que estava aleijado por trinta e oito anos, para
escâ ndalo dos escribas e fariseus mais uma vez.
Em resposta à s reclamaçõ es deles, Ele a irmou que tinha todos os
direitos de Deus sobre o sá bado, que Ele era igualmente Deus com Seu
Pai e que algum dia, por Sua ordem, todos os homens se levantariam de
seus tú mulos e que Ele seria seu Juiz.
Isso encheu Seus crı́ticos com ainda mais raiva e fortaleceu sua
determinaçã o de encontrar maneiras e meios de matá -Lo.
Saindo de Jerusalé m, Ele voltou para a Galilé ia e continuou
pregando em vá rias sinagogas; mas os representantes dos escribas e
fariseus o seguiam aonde quer que fosse, espionando-o,
interrompendo-o, disputando com ele e reunindo todas as informaçõ es
que pensavam que poderiam mais tarde usar contra ele. Mas Jesus
continuou ensinando e fazendo o bem.
Um dia, ao entrar em uma aldeia, um pobre leproso encontrou-se
com Ele e gritou de modo lastimoso: “Senhor, se quiseres, podes tornar-
me limpo”. Jesus estendeu a mã o e tocou-o, dizendo: “Eu quero. Sê
puri icado. ” A lepra desapareceu imediatamente e o homem foi
convidado a ir e se apresentar ao sacerdote como curado.
A fama do milagre espalhou-se rapidamente e quando Jesus
inalmente chegou a Cafarnaum, as pessoas iam em tã o grande nú mero
à casa onde Ele estava que a sala transbordava, com multidõ es do lado
de fora tentando, mas nã o conseguiam entrar.
Enquanto Ele os estava ensinando, um homem paralı́tico foi trazido
por alguns amigos. Estes arrancaram as telhas do telhado, visto que nã o
havia outro meio de entrada, e deixaram o paciente descer por cordas
aos pé s de Jesus. Longe de icar zangado, Jesus icou profundamente
comovido e disse ao doente: “Perdoados estã o os teus pecados.” Os
escribas e fariseus apresentam o pensamento: “De qualquer forma, isso
é blasfê mia. Quem pode perdoar pecados, senã o Deus? ” Jesus, poré m,
lendo suas mentes, disse: “Você acha que eu nã o tenho esse
poder? Entã o veja isso! ” Virando-se para o paralı́tico, disse: “Pegue sua
cama e vá para casa”. O homem o fez imediatamente, para espanto de
todos. E por todos os lados as pessoas glori icavam a Deus, dizendo:
“Nunca vimos nada assim antes!”
Poucos dias depois, Ele curou o servo doente de um centuriã o
romano a pedido do povo judeu que insistia que, embora ele fosse um
pagã o, o centuriã o havia construı́do uma sinagoga para eles.
Na manhã seguinte, Ele partiu ao amanhecer para Naim, uma aldeia
a cerca de vinte e quatro milhas de distâ ncia. Ele chegou lá à noite -
é poca em que geralmente aconteciam os funerais - e encontrou o de um
menino morto, ilho ú nico de uma viú va pobre. “Nã o chore”, disse Ele à
mã e; e com uma palavra Ele restaurou seu ilho à vida, para seu grande
consolo e para a surpresa adicional de todos que viram ou ouviram
falar disso.
A notı́cia se espalhou como um incê ndio; a excitaçã o era intensa; a
popularidade de Jesus com o povo estava no auge.

FALANDO EM PARÁBOLAS
Com os Doze, Jesus viajou pelas cidades e vilas da Galilé ia, pregando
o Reino de Deus em todos os lugares.
Muito de Seu ensino Ele deu na forma de pará bolas ou histó rias, de
acordo com os costumes judaicos da é poca. E todos os tipos de assuntos
eram tratados dessa maneira.
Nã o é possı́vel discutir todas as pará bolas em qualquer extensã o
neste pequeno livro, nem tratá -las na ordem em que foram
dadas. Podemos apenas tocar brevemente em alguns dos muitos
aspectos de Seu ensino dados em diferentes ocasiõ es por esse meio,
referindo os leitores aos pró prios evangelhos para um estudo mais
extenso deles.
Na pará bola do “Semeador e da Semente” ( Marcos 4: 1-20), Ele
advertiu Seus ouvintes de que se Seu ensino nã o despertasse nenhuma
resposta neles, a falha estaria em suas pró prias má s disposiçõ es.
Devem arrepender-se dessas má s disposiçõ es, con iantes de que
Deus, de Sua parte, os acolherá com in inita misericó rdia. Um “pastor
em busca de uma ovelha perdida”, uma “mulher em busca de uma
moeda perdida”, um “pai” regozijando-se no retorno de um “ ilho
pró digo” ( Lucas 15: 1-32), sã o apenas imagens fracas da atitude de
Deus para com as almas arrependendo-se dos pecados que os separam
Dele.
Pense, implorou ele, no que está em jogo. Nã o é menos do que o
“Reino dos Cé us”, para o qual nenhum sacrifı́cio é grande
demais; mesmo quando um homem venderá tudo para comprar um
“Campo contendo um tesouro enterrado”, ou um comerciante para
ganhar uma “Pé rola de Grande Valor”. ( Mateus 13: 44-46).
Aquele Reino dos Cé us é colocado ao alcance deles por Sua Igreja,
pequena agora como uma “Semente de Mostarda”, mas para crescer e se
tornar uma á rvore imensa e ampla, proporcionando abrigo para todos
os que buscam descanso dentro dela. ( Mateus 13: 31-32). Escâ ndalos
surgirã o, sim; pois a Igreja estará em um mundo semelhante a um
“Campo semeado com bons grã os”, mas que os inimigos semearã o com
“berbigã o ou joio”. Será como uma “rede segurando peixes bons e
ruins”. ( Mateus 13: 24-50). No entanto, nã o há nada de errado com a
“Rede”, e a Igreja é de fato o Reino dos Cé us na terra.
Infelizmente, no entanto, Jesus advertiu os judeus de que seus
lı́deres o iciais e sua naçã o como um todo rejeitariam a graça que lhes
era oferecida, pois os "Convidados" deram todos os tipos de desculpas
para se recusarem a comparecer à "Grande Ceia". ( Lucas 14: 17-
24). Eles acabariam por matá -Lo, já que os “Lavradores Inı́quos” da
vinha planejavam assassinar o pró prio ilho do
proprietá rio. ( Marcos 12: 1-12).
Daqueles que vê m para o Reino, apesar dessa rejeiçã o nacional,
muito se espera.
Eles devem ser os inimigos do pecado, certi icando-se de que estã o
vestidos com as “vestes nupciais” da graça divina. ( Mateus 22: 11-
14). Assim como o “fermento” transforma o pã o, essa graça
transformará suas almas. ( Lucas 13:21).
Mas eles devem cooperar generosamente com essa graça, fazendo
bom uso de quaisquer “talentos” que Deus lhes deu. ( Mateus 25: 14-
30).
Acima de tudo, a caridade será exigida deles; perdoar os outros, em
vez de se comportar como o “Servo sem misericó rdia” ( Mateus 18: 23-
35); aliviar as necessidades dos pobres, nã o imitar a atitude do egoı́sta
“Rico” para com “Lá zaro, o Mendigo” ( Lucas 16: 19-31); ser um “Bom
Samaritano” para todos os que estã o em perigo, de qualquer
tipo. ( Lucas 10: 25-37).
Nem deve ser dado qualquer quarto ao orgulho do "fariseu" que se
considerava um modelo de virtude em comparaçã o com o
"publicano". ( Lucas 18: 9-14).
Certamente, eles deveriam ser tã o zelosos em se preparar para seu
destino eterno quanto o foi o "Mordomo Injusto" em olhar para seu
futuro meramente temporal ( Lucas 18: 1-8), e em tomar todo cuidado
para evitar o destino que se abateu sobre o "Rico Tolo . ” ( Lucas 12: 13-
21).
Deve-se sempre ter em mente o fato de que certamente haverá um
Juı́zo Final, quando os bons e os maus serã o divididos em “Ovelhas e os
Bodes” ( Mateus 25: 31-46); e que é essencial nã o serem encontradas
entã o como as “Virgens Loucas” que foram apanhadas de surpresa
apenas para nã o encontrarem ó leo em suas lâ mpadas. ( Mateus 25: 1-
13).

AUMENTO DA POPULARIDADE
Por quase um ano, Jesus havia ensinado, poderoso em palavras e
obras, por toda a Galilé ia, Sua popularidade aumentando a cada
dia. Cada vez mais se espalhava a convicçã o de que Ele era de fato um
grande profeta e até mesmo o Messias. Mas as pessoas logo
aprenderiam que Ele de initivamente nã o era o tipo de Messias que
esperavam.
O quã o duro Ele estava trabalhando neste momento pode ser
deduzido dos seguintes incidentes tı́picos.
Um dia, perto de Cafarnaum, Ele estava explicando Sua doutrina e
persuadindo o povo quase desde o amanhecer até o anoitecer; e, ao cair
da noite, vendo como a multidã o constantemente crescente havia se
tornado, Ele pediu aos discı́pulos que o levassem de barco atravé s do
lago.
Durante a viagem, uma forte tempestade surgiu de repente, as
ondas ameaçando inundar o pequeno navio, e os discı́pulos icaram
completamente assustados. Jesus, cansado, dormia na popa do navio, e
o despertaram, dizendo: “Mestre, nã o é para ti que morramos?” Jesus
respondeu: “Por que você está com medo? A sua fé ainda é tã o fraca?
” Entã o Ele ordenou que o vento parasse e o mar parasse, ambos
obedecendo imediatamente, de modo que uma grande calma
imediatamente prevaleceu. Apesar de todos os milagres anteriores que
haviam testemunhado, os discı́pulos mal conseguiam acreditar no que
entendiam e diziam uns aos outros: “Quem pode ser Ele? Até os ventos
e o mar Lhe obedecem! ”
Ao raiar do dia chegaram à margem oposta do lago, no que à s vezes
era conhecido como o paı́s dos gerasenos, à s vezes como o dos
gadarenos. Perto de onde eles pousaram havia um antigo cemité rio, e
imediatamente um pobre luná tico possuı́do por demô nios correu em
direçã o a eles de entre os tú mulos. Dirigindo-se a Jesus, caiu a Seus pé s,
gritando: “Por que você interfere comigo, Jesus, Filho do Deus
Altı́ssimo? Imploro que nã o me atormente. ” O pobre homem nã o era
responsá vel pelo que dizia. Os demô nios o impeliram a falar assim; e
Jesus os expulsou do homem para uma manada de porcos que se
alimentava na encosta da montanha. Estes, cheios de frenesi, lançaram-
se pelas encostas para o mar e morreram afogados.
Os homens que cuidavam dos animais correram para contar aos
outros o que havia acontecido, e logo muitos camponeses do distrito
chegaram e imploraram a Jesus que deixasse suas costas; eles estavam
com tanto medo do que Ele poderia fazer a seguir!
Para os discı́pulos, no entanto, a liçã o foi de grande
signi icado. Agindo como só Deus poderia fazer, Ele operou milagres
nunca antes ouvidos "desde o inı́cio do mundo", provando Seu domı́nio
sobre toda a criaçã o, nã o apenas sobre as coisas inanimadas, nã o
apenas sobre os mundos vegetal e animal, mas també m sobre aqueles
espı́ritos malignos de cujo poder Ele veio para libertar a humanidade.
Voltando para o barco, eles partiram para o outro lado do lago. Era
plena luz do dia e, como o povo de Cafarnaum pô de vê -los se
aproximando, uma grande multidã o se reuniu para recebê -los.
Entre os que esperavam ansiosamente para ver Jesus e falar com Ele
estava um funcioná rio da sinagoga chamado Jairo. Assim que Jesus
pousou, portanto, ele implorou que Ele viesse e curasse sua ilha
moribunda. Jesus partiu com ele para a casa, as pessoas se
aglomerando ao redor deles.
Uma mulher na multidã o, sofrendo de uma doença de doze anos,
aproximou-se dele, tocou a orla de Sua vestimenta e foi
instantaneamente curada. Divinamente consciente disso, Jesus
proclamou para o benefı́cio de todos os presentes tanto o fato de sua
cura quanto que foi seu grande espı́rito de fé que conquistou para ela
um favor tã o maravilhoso. Era uma fé que Ele estava pedindo a todos.
Tinha havido algum atraso e, antes de chegarem à casa de Jairo, um
servo veio dizer que sua ilha havia morrido e que agora era inú til Jesus
ir mais longe. Mas Jesus consolou o pobre pai, disse-lhe que ainda
acreditasse irmemente e que tudo icaria bem.
Em casa, Ele permitiu apenas que Pedro, Tiago e Joã o, juntamente
com o pai e a mã e, entrassem no quarto da menina morta com Ele. Na
presença deles, Ele simplesmente pegou a mã o dela e disse: “Talitha
cumi”. (“Menina, levante-se.”) Em seguida, pediu aos pais que
cuidassem dela para comer, acrescentando que nã o deveriam divulgar o
que Ele havia feito. A empolgaçã o da multidã o entusiasmada do lado de
fora poderia facilmente dar origem a acusaçõ es contra Ele de causar
tumulto. Essas acusaçõ es viriam em breve!
Entã o Jesus se entregou a todos os que precisavam Dele, e nã o só
pregou o evangelho de Seu novo Reino espiritual, con irmando Sua
missã o por sinais e milagres em aldeia apó s aldeia em todo o paı́s, mas
deu autoridade e poder també m aos Seus Apó stolos, enviando-os em
pares para fazer o mesmo.

MORTE DE JOÃO BATISTA


Durante a ausê ncia dos Apó stolos em sua missã o, enquanto Ele
pró prio continuava Seu trabalho, chegaram a Ele notı́cias que eram uma
espé cie de pressá gio do que seria Seu pró prio destino.
Joã o Batista havia sido morto por Herodes Antipas que, em um
momento de embriaguez durante um banquete escandaloso, cedeu à
demanda da mulher com quem vivia em incesto e adulté rio pela
“cabeça de Joã o Batista em um prato . ”
Joã o foi o ú ltimo dos profetas do Antigo Testamento e o primeiro do
Novo. Ele permanece como a linha divisó ria entre as duas grandes
Alianças.
O que Jesus pensava dele nó s sabemos. “Um profeta?” Ele havia
falado sobre ele. “Em verdade, eu lhe digo, mais do que um profeta. Este
é aquele sobre quem está escrito: Eis que envio o meu anjo diante da
tua face, que preparará o teu caminho diante de ti. Pois eu vos digo:
entre os nascidos de mulher, nã o há maior profeta do que Joã o Batista ”.
Para a surpresa de Seus ouvintes, Ele entã o aproveitou a ocasiã o
para acrescentar que o menor dos realmente recebidos na Igreja que
Ele mesmo estava estabelecendo e que desfrutava de todas as bê nçã os
de Seu Reino, seria maior do que Joã o Batista!

MILAGRE DOS AMORES


Pouco depois da morte de Joã o, os doze apó stolos voltaram para
Jesus depois de um mê s de trabalho á rduo, entusiasmados, mas muito
cansados; e Jesus disse-lhes: “Separe-se comigo e descanse um
pouco.” Entã o, eles pegaram um barco e foram um pouco ao longo da
margem do lago para encontrar um lugar tranquilo, longe das
multidõ es.
O povo, no entanto, nã o foi abalado tã o facilmente. Vendo a direçã o
em que o barco estava indo, correram por terra, e quando Jesus chegou
ao lugar que tinha em mente, encontrou já ali uma multidã o imensa.
Tendo pena dessas “ovelhas sem pastor”, Ele passou o resto do dia
instruindo-as. Eles nã o haviam trazido comida com eles, mas estavam
tã o fascinados com tudo o que Ele tinha a dizer que nem sonhavam em
partir enquanto Ele continuasse falando.
Por im, começou a escurecer e os apó stolos sugeriram-Lhe que
fossem mandados à s aldeias vizinhas comprar comida para si. Jesus
respondeu: “Nã o há necessidade de eles irem. Você dá comida a eles.
” Filipe disse a Ele: “Terı́amos que conseguir cerca de cinquenta dó lares
em provisõ es, para dar a eles uma ninharia para cada um!”
Havia mais de cinco mil pessoas presentes, pois Cafarnaum estava
cheio de visitantes de todas as partes do paı́s na é poca, que se dirigiam
a Jerusalé m para a festa da Pá scoa que se aproximava rapidamente.
André , irmã o de Pedro, interveio, dizendo: “Está aqui um menino
com cinco pã es de cevada e dois peixes; mas o que sã o estes entre
tantos? ”
Jesus nã o icou de forma alguma perturbado. "Diga ao povo", disse
Ele, "para se sentar." As pessoas se sentaram na grama, em ileiras de
cento e cinquenta anos.
Ele entã o pegou os pã es, levantou os olhos para o cé u, fez uma
oraçã o, partiu o pã o, deu um pouco a cada um dos apó stolos e disse-
lhes que o distribuı́ssem entre seus convidados. Ao fazerem isso, devem
ter se sentido como homens em um sonho, pois o suprimento em suas
mã os nã o parava de aumentar. A mesma coisa aconteceu també m com
os peixes; e depois de tudo se cansar, havia doze cestos de fragmentos
restantes.
Terminada a refeiçã o, Jesus disse aos apó stolos que voltassem para
casa de barco, deixando-O para despedir o povo.
O povo, entretanto, estava relutante em ir e, em seu entusiasmo,
decidiu proclamá -lo como seu Rei naquele momento. Mas Jesus queria
algo melhor do que uma fé vinculada a benefı́cios temporais milagrosos
e o nacionalismo triunfante que eles tinham em mente. Portanto, Ele
recusou a oferta e fugiu deles para as colinas vizinhas, para grande
desagrado deles - um desagrado que, para muitos, se transformaria em
hostilidade aberta em vinte e quatro horas!

O PÃO DA VIDA
Pois no dia seguinte, na sinagoga de Cafarnaum, tendo voltado à
cidade durante a noite, Jesus disse ao povo que o pã o com que
milagrosamente os alimentara no dia anterior nã o valia a pena ser
comparado com o que pretendia dar-lhes mais tarde sobre. Este outro
pã o seria Ele mesmo, e ao recebê -lo estariam comendo Sua pró pria
carne e bebendo Seu pró prio sangue. Alé m disso, esse alimento daria
vida eterna e nã o apenas os manteria vivos por um pouco mais de
tempo neste mundo, que é tudo o que a comida comum pode fazer.
A maioria dos presentes icou horrorizada com essas
palavras. Falando entre si, eles disseram que Ele estava indo longe
demais, tornando-se impossı́vel para eles aceitarem Seu ensino. E
muitos, que haviam sido Seus discı́pulos até entã o, o abandonaram
completamente.
Desnecessá rio dizer que os escribas e fariseus icaram
maravilhados com a direçã o que as coisas estavam tomando e
trabalharam entre as pessoas descontentes para torná -las inimigas
ativas de Jesus.
Isso marcou uma mudança crı́tica na vida de Jesus neste
mundo. Entre a Pá scoa que se aproximava e a do ano seguinte, que seria
a sua ú ltima, Ele nunca mais encontrou o entusiasmo de grandes
multidõ es como até entã o, exceto em uma ocasiã o isolada. Daı́ em
diante, voltado cada vez mais para os doze apó stolos, Ele se concentrou
em treiná -los para seu trabalho futuro.
Um encontro tempestuoso com escribas e fariseus que tinham
vindo de Jerusalé m marcou o encerramento de Seu ministé rio na
Galilé ia. Eles O atacaram por violar suas tradiçõ es, ao que Ele
denunciou sua hipocrisia e suas tradiçõ es feitas pelo homem,
declarando-os "lı́deres cegos de cegos".
Entã o, pegando os doze, Ele sacudiu a poeira da Galilé ia de Seus pé s
e foi para outro lugar.

PETER THE ROCK


Jesus e os apó stolos, tendo deixado o territó rio de Herodes Antipas,
passaram alguns meses viajando pela Fenı́cia e Decá polis, chegando
inalmente a Cesaré ia de Filipe, em uma das nascentes do Jordã o alé m
da fronteira norte da Galilé ia. Lá aconteceu um evento de extrema
importâ ncia para Sua Igreja.
O pró prio nome “Cesaré ia” e “Filipos” indicava o domı́nio de Roma e
da Gré cia. Eles eram sı́mbolos que excluı́am todos os sonhos de um
reino nacional judeu. E ali, naquele lugar deprimente no que diz
respeito à s esperanças judaicas de supremacia polı́tica, Jesus fez uma
pergunta direta aos doze sobre si mesmo. "O que", perguntou ele, "as
pessoas pensam de mim?"
Todos começaram a falar ao mesmo tempo. “Alguns dizem que você
é Joã o Batista, volte à vida; outros dizem que nã o, mas que Você é Elias,
ou Jeremias ”.
"E você mesmo, o que acha?"
Pedro falou imediatamente: “Tu é s o Cristo, o Messias, o Filho do
Deus vivo.”
Foi uma declaraçã o clara de sua divindade entre todas as areias
inconstantes de opiniõ es vagas.
“Se você sabe disso”, disse-lhe Jesus, “nã o é porque pensou por si
mesmo, mas porque Meu Pai que está nos cé us o revelou a você . E
agora, por sua vez, digo-te: Tu é s Pedro, a rocha, como te chamei
quando mudei o teu nome do de Simã o; e sobre esta rocha edi icarei a
Minha Igreja. As forças do mal nunca prevalecerã o contra ele. E eu darei
a você as chaves do Reino dos Cé us. ”
Nã o era su iciente, entretanto, que os doze conhecessem o fato de
que Ele era o Messias. Eles ainda tinham muito que aprender sobre a
natureza de Sua missã o. Entã o Jesus continuou explicando a eles que
Ele deveria subir a Jerusalé m, para ser rejeitado, torturado e morto por
Seu pró prio povo; que somente assim Ele poderia redimi-los; mas que
no terceiro dia Ele ressuscitaria.
O choque desta declaraçã o foi tã o grande que as ú ltimas palavras
foram completamente esquecidas; e Pedro, incapaz de se conformar
com tal tratamento de Seu adorado Mestre, exclamou impulsivamente:
“Deus me livre. Nada disso deve acontecer com Você . ”
Mas Jesus disse-lhe que tentar evitar seria fazer o papel de
Sataná s. “Você quer que Eu”, disse Ele, “desvie-me daquilo que vim fazer
neste mundo! Você está pensando como os homens pensam, e nã o
vendo as coisas como Deus as vê . Nã o é interesse pró prio, mas sacrifı́cio
pró prio é exigido de mim. E se algué m quiser vir apó s mim, ele també m
deve negar a si mesmo, tomar sua cruz e seguir-me ”.

TREINAMENTO DOS DOZE


Repetidamente, a partir de entã o, Jesus tentou impressionar a
mente dos Doze que Ele teria que suportar uma paixã o ignominiosa de
sofrimento e morte.
Mas Ele nã o negligenciou medidas para con irmá -los em sua fé e
para reassegurá -los de Seu triunfo inal.
Apenas seis dias apó s a pro issã o de fé de Pedro, Ele levou Pedro,
Tiago e Joã o consigo ao topo de uma alta montanha, e foi ali
trans igurado diante deles, Seu rosto brilhando radiante, Suas roupas
gloriosas com uma brancura sobrenatural. Dois homens conversavam
com Ele, a quem os Apó stolos reconheceram como Moisé s e Elias,
representantes da Lei do Antigo Testamento e dos Profetas. Eles
estavam falando sobre a mesma coisa que Jesus havia enfatizado
durante toda a semana, a necessidade de Sua paixã o e morte. E no meio
de tudo isso uma voz veio do Cé u: “Este é Meu Filho Amado em quem
me comprazo. Ouçam-no. ”
Toda a experiê ncia elevou os pensamentos dos Apó stolos ao nı́vel
divino; mas era apenas para eles. “Nã o conteis a visã o a nenhum
homem”, Jesus disse-lhes depois, “até que o Filho do Homem seja
ressuscitado dentre os mortos”.
De agora em diante, concentrando-se ainda mais intensamente na
formaçã o dos Doze, deu-lhes muitas liçõ es sobre sua pró pria vida
espiritual, sobretudo sobre a necessidade da oraçã o, da humildade e do
perdã o das injú rias.
Um dia, colocando uma criança no meio deles, Ele disse: “Qualquer
que se humilhar como esta criança, esse é o maior no Reino dos Cé us”.
Depois, pensando no bem-estar das pró prias crianças, acrescentou
severamente que seria melhor ter uma pedra de moinho amarrada ao
pescoço e ser lançada ao mar do que ensinar o mal a qualquer uma
delas.
“Nã o desprezeis nenhum destes pequeninos”, disse Ele, “porque vos
digo que os seus anjos no Cé u sempre vê em a face de Meu Pai que está
nos Cé us”. Ele sabia o que os anjos fazem no Cé u, pois Ele era, como Ele
havia se descrito: “O Filho do Homem, desceu do Cé u, mas ainda está no
Cé u”.
Quanto ao perdã o das injú rias, a Pedro, que considerou generoso
que o perdã o fosse concedido sete vezes, Jesus respondeu: “Nã o sete
vezes, mas setenta e sete vezes”, ou inde inidamente.

VISITA A JERUSALÉM
Assim, as instruçõ es continuaram, entre os vá rios deveres do
ministé rio, até que em outubro daquele ano a Festa dos Taberná culos,
uma espé cie de Festival da Colheita, estava pró xima. Muitos estavam
acostumados a ir a Jerusalé m para as festividades, e Jesus decidiu ir
també m. Depois disso, ele pretendia trabalhar na Judé ia, em vez de na
Galilé ia.
Depois de sua jornada pela Fenı́cia e Decá polis, Ele retornou para
uma breve estada em Cafarnaum. Saindo dali ao longo da estrada em
direçã o a Nazaré , Ele chegou à s alturas de Magdala e parou naquele
ponto de observaçã o para dar uma ú ltima olhada no Mar da Galilé ia e
nas cidades ao longo de sua costa norte. Com o coraçã o triste, Ele
repreendeu as cidades por sua resistê ncia à graça divina, dizendo: “Ai
de ti, Corozain; ai de você , Betsaida; Ai de você , Cafarnaum. Se os
milagres feitos em você tivessem acontecido em Tiro e em Sidon, eles
teriam se arrependido. Se tivessem sido feitos até mesmo em Sodoma,
aquele lugar teria sido poupado. No dia do julgamento será mais fá cil
com essas cidades inı́quas do que com você s. ” Entã o ele se virou e
dirigiu Seu rosto resolutamente para Jerusalé m.
Sua jornada o levou por Samaria, e em um vilarejo, para o qual
Tiago e Joã o haviam ido na frente para preparar acomodaçã o, eles
tiveram sua hospitalidade negada com o fundamento de que o grupo
estava viajando para Jerusalé m tã o odiada pelos samaritanos. Os dois
apó stolos voltaram a Jesus cheios de indignaçã o e queriam lançar fogo
sobre a cidade como Elias izera com os insolentes aldeõ es. Mas Jesus
os reprovou em silê ncio, dizendo-lhes que certamente ainda nã o
tinham o espı́rito certo. Uma coisa era ele mesmo declarar qual seria o
julgamento justo de Deus sobre as cidades da Galilé ia que haviam
recusado a graça divina; mas nã o cabia a eles invocar desastres sobre os
aldeõ es que simplesmente recusaram hospitalidade a
estranhos. Pacientemente, portanto, Ele foi com eles para outra aldeia.
Chegando nas proximidades de Jerusalé m, Jesus icou na pequena
cidade de Betâ nia, a apenas cerca de trê s quilô metros da Cidade
Santa. Sã o Joã o diz simplesmente, em seu evangelho: “Jesus amava
Marta, e sua irmã Maria e Lá zaro”. Eram amigos em cuja casa Ele
sempre era bem-vindo; e aquela casa que Ele freqü entemente visitou
durante Seu ministé rio na Judé ia.
ENCONTRO COM OS FARISEUS
Durante esses dias da Festa dos Taberná culos, Ele pró prio era o
assunto principal da conversa. Muitos galileus já estavam lá antes de
Ele chegar, e as pessoas perguntavam se Ele també m viria. As opiniõ es
sobre ele eram muito divididas. Alguns disseram que Ele era um bom
homem; outros que Ele era uma fraude e um enganador.
De repente, um dia, Ele apareceu no pá tio do Templo e começou a
ensinar abertamente ao povo. Ele falou sobre Si mesmo com mais
clareza do que nunca e as pessoas icaram maravilhadas com Suas
declaraçõ es enquanto Ele respondia a tudo o que Seus inimigos diziam
contra Ele.
Nã o. Ele nã o havia estudado nas escolas rabı́nicas em
Jerusalé m. Mas entã o, Sua doutrina nã o era de homens; foi diretamente
de Deus. sim. Ele curou os enfermos no dia de sá bado. Mas a
circuncisã o foi realizada no dia de sá bado, e longe de quebrar a Lei de
Moisé s, foi realizada precisamente para guardar essa Lei; e Ele
certamente nã o estava quebrando a Lei ao dar a bê nçã o da saú de. Eles
conheciam Sua famı́lia e podiam apontar para Seus parentes,
talvez; mas nã o haviam feito concessõ es para Sua missã o celestial, da
qual Seus milagres eram a garantia.
Os escribas e fariseus presentes, incapazes de suportar isso,
discutiram a possibilidade de prendê -lo, mas mal sabiam como fazê -
lo. Muitas pessoas foram simpaticamente dispostas a ele. O Siné drio
enviou alguns o iciais para tentar, mas os o iciais voltaram de mã os
vazias, desculpando-se, dizendo: “Nunca um homem falou como este
homem”.
Evidentemente, a coisa a fazer era minar Sua posiçã o perante o
povo. No dia seguinte, portanto, quando Ele estava falando novamente
no pá tio do Templo, os escribas e fariseus pensaram em forçar a
questã o trazendo a Ele uma mulher apanhada em adulté rio.
Moisé s, eles disseram, ordenou que tal pessoa fosse apedrejada até
a morte. O que ele disse? Eles pensaram, diabolicamente, que se Ele
concordasse com a morte dela, perderia a simpatia do povo; se Ele a
soltasse, eles pró prios poderiam desa iá -Lo por ter desrespeitado
publicamente a Lei de Moisé s.
Mas toda Sua sabedoria divina estava à disposiçã o de Sua
misericó rdia. Sem negar a Lei de Moisé s, disse, com palavras cheias de
signi icado e autoridade: “Muito bem. Mas aquele que está sem pecado
entre você s atire a primeira pedra. ”
Sem palavras, eles se afastaram, começando pelo mais velho. Eles
tinham a sensaçã o de que Ele os estava lendo como um livro. Quanto à
pobre mulher, perdã o nã o signi icava desculpas. "Vá ", disse Ele, "e
agora, nã o peques mais."
Jesus continuou Seus discursos. Ele declarou ser a “Luz do
Mundo”. Enquanto outros eram apenas "da terra", Ele era "do cé u". Se as
pessoas querem liberdade, que O sigam; pois Seus discı́pulos
conheceriam aquela verdadeira liberdade que é a liberdade do pecado.
Isso foi demais para os fariseus, que clamavam que tinham essa
liberdade e já eram aceitá veis aos olhos de Deus como ilhos de
Abraã o. Mas Jesus rebateu dizendo que o pró prio Abraã o icou muito
feliz com a visã o de Seu advento.
"O quê ", eles responderam, "você ainda nã o tem cinquenta anos e
viu Abraã o?"
“Posso assegurar-lhe”, respondeu Ele, “antes que Abraã o existisse,
eu existia”. Esta era uma reivindicaçã o de compartilhar o mesmo nome
pelo qual Deus havia se descrito a Moisé s, e eles pegaram pedras do
pá tio do Templo para apedrejá -lo até a morte pela blasfê mia. Mas Jesus
os evitou e, misturando-se à multidã o, foi embora.
Fora do recinto do Templo, Ele encontrou um homem cego de
nascença a quem Ele curou. A notı́cia de tal milagre na superlotada
Jerusalé m se espalhou rapidamente, enchendo o povo de espanto e
admiraçã o. Os fariseus, poré m, icaram consternados. Mandaram
chamar o homem e, incapazes de abalar seu testemunho, abusaram
dele. O homem procurou Jesus para Lhe contar isso, e Jesus lhe disse, na
presença de alguns fariseus: “Eu vim a este mundo para que os que nã o
vê em vejam; e os que vê em podem icar cegos ”.
Os fariseus que O ouviram perguntaram: “Somos cegos?” Jesus
declarou que eles eram deliberadamente assim e, portanto, culpados
aos olhos de Deus.
MINISTÉRIO DE JUDEAN
Saindo de Jerusalé m, Ele foi para a casa de Seus amigos em
Betâ nia. Durante uma breve estada ali, Ele pregou ao povo do paı́s ao
redor e aos visitantes de Jerusalé m que por acaso estavam presentes.
Ele disse ao povo que era a porta para o verdadeiro redil. Somente
por meio dEle eles poderiam entrar no caminho que conduz à
salvaçã o. Ainda mais, Ele era o Bom Pastor que estava preparado para
dar a vida por Suas ovelhas. Na verdade, Ele o faria, e
voluntariamente; embora depois Ele ressuscitasse dos mortos.
Suas palavras foram levadas de volta a Jerusalé m, onde causaram
muita discussã o; e as opiniõ es a respeito dele estavam mais divididas
do que nunca.
Ele agora foi mais longe e, durante os dois meses seguintes, ensinou
em vá rias aldeias do interior da Judé ia e Peré ia. Ele també m escolheu e
enviou setenta e dois discı́pulos para ajudar na obra.
As doutrinas ensinadas diziam respeito ao Reino de Deus em geral,
mas mais especi icamente à paternidade de Deus, à necessidade da
oraçã o, ao cumprimento generoso dos deveres, à obrigaçã o da caridade
fraterna e ao juı́zo inal em que a recompensa da felicidade eterna ou o
o castigo da misé ria eterna será o destino de cada homem de acordo
com seus mé ritos.
Quando os discı́pulos voltaram a Ele cheios de entusiasmo e com
relatos do grande sucesso que acompanhou seus trabalhos, Ele disse:
“Bem-aventurados os olhos que vê em as coisas que você vê , e os
ouvidos que ouvem as coisas que você ouviu”.
A este perı́odo pertence a expressã o de Seu pró prio grande amor
pelos homens, quando proferiu aquelas palavras memorá veis: “Vinde a
Mim, todos vó s que estais cansados e cansados, e Eu vos
revigorarei. Tome Meu jugo sobre você e aprenda de Mim, pois sou
manso e humilde de coraçã o; e você s encontrarã o descanso para suas
almas. Pois Meu jugo é doce e Meu fardo é leve. ”
Durante todo o tempo, també m, Ele manifestou Seu constante
espı́rito de comunhã o com o Pai celestial que tanto amava, entregando-
se a uma oraçã o tã o prolongada e fervorosa que Seus apó stolos,
observando-O, sentiram que nunca haviam sabido o que realmente é
orar. Entã o, eles pediram a Ele que os ensinasse també m a orar.
Foi em resposta a este pedido que lhes ensinou a oraçã o, tã o
sublime como simples: “Pai nosso, que está s nos cé us, santi icado seja o
teu nome, venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra
como no cé u . O pã o nosso de cada dia nos dai hoje; e perdoa-nos as
nossas ofensas, como nó s perdoamos aos que nos ofenderam. E nã o nos
deixes cair em tentaçã o, mas livra-nos do mal. ”

A DECLARAÇÃO SUPREMA
No mê s de dezembro seguinte, Jesus voltou a Jerusalé m para a Festa
da Dedicaçã o, que comemorava a libertaçã o do Templo em 165 DC da
profanaçã o a que havia sido submetido por Antı́oco Epifâ nio cerca de
cinco anos antes. Antı́oco foi um tirano que tentou erradicar o judaı́smo
e impor ao povo seu pró prio paganismo grego.
Chegando pouco antes da festa, Jesus icou mais uma vez com seus
amigos Lá zaro, Marta e Maria, em Betâ nia, a trê s quilô metros da
cidade. Entã o, no pró prio dia do festival, Ele foi fazer Sua visita ao
Templo.
Assim que Ele apareceu lá , as pessoas imediatamente se reuniram
em torno dele. Mas os fariseus també m estavam lá ; e estavam
determinados a forçá -lo a dizer abertamente se a irmava ser o Messias
prometido ou nã o. Entã o, eles lançaram o desa io a Ele: “Por quanto
tempo você vai nos manter em suspense? Se você é o Messias, diga isso
sem rodeios. ”
Jesus respondeu que tudo o que Ele dissesse, eles nã o acreditariam
Nele, mas que os milagres que Ele havia operado em nome de Seu Pai
eram evidê ncia su iciente de Sua missã o divina. Em seguida, ele
acrescentou as palavras importantes: "Eu e o Pai somos um."
As implicaçõ es disso eram muito claras, e imediatamente os
fariseus pegaram pedras do pá tio para apedrejá -lo.
Mas Jesus os desa iou, dizendo que Ele havia feito muitas boas
obras que só Deus poderia fazer. “Por quais das Minhas boas obras”,
perguntou Ele, “me apedrejais?”
“Nã o por boas obras”, gritavam, “mas por blasfê mia, porque, sendo
homem, você se torna Deus”.
Soltando as pedras, eles correram em direçã o a Ele, com a intençã o
de prendê -lo; mas, mais uma vez, Ele escapou deles perdendo-se na
multidã o crescente, deixou o pá tio do Templo e a pró pria Jerusalé m,
partindo imediatamente, nã o de volta para Betâ nia, mas para o outro
lado do Jordã o, a cerca de trinta quilô metros de distâ ncia, perto do local
onde Joã o Batista iniciou sua missã o pela primeira vez.
Mas Ele chorou, dizendo: “Jerusalé m, Jerusalé m. Você mata os
profetas e apedreja os que lhe sã o enviados. Quantas vezes eu teria
reunido seus ilhos como a galinha seus frangos sob sua asa, e você nã o!
"

LEVANTAMENTO DE LAZARUS
Nos trê s meses seguintes, Jesus passou na Peré ia, ensinando,
sempre fazendo o bem e fazendo muitos convertidos.
Os fariseus, entretanto, constantemente seguiram Seus passos; e um
dia um grupo deles disse-lhe para sair da Peré ia porque Herodes
Antipas, que era governador da Peré ia e també m da Galilé ia, planejava
matá -lo.
Nenhum pensamento sobre Seu bem-estar fez com que os fariseus
O advertissem. Cheios de inveja e ó dio, pensaram que a ameaça poderia
pelo menos pô r im à sua obra atual, impelindo-O a ir para outro lugar.
Mas Ele apenas respondeu a eles: “Ide e dizei à quela raposa que
continuarei Meu trabalho até a hora de ir para Jerusalé m. Se um profeta
deve perecer, só pode ser naquela cidade. No entanto, quando eu for lá ,
encontrarei o grito de boas-vindas: Bendito o que vem em nome do
Senhor. ”
Por im, veio um chamado de caridade que Ele nã o pô de
recusar. Mensageiros vieram de Marta e Maria em Betâ nia para dizer
que seu irmã o Lá zaro estava gravemente doente. A mensagem enviada
pelas irmã s era apenas: “Senhor, aquele a quem amas está doente”. Eles
sabiam que nã o precisavam dizer mais nada.
Mas Jesus estava bem ciente de que, enquanto os mensageiros
faziam sua jornada de trinta quilô metros, Lá zaro havia morrido; e Ele
deliberadamente permitiu que mais dois dias se passassem antes de
dizer aos Seus apó stolos: “Vamos para a Judé ia novamente.” Eles o
lembravam das conspiraçõ es para matá -lo ali; mas foi em vã o, e vendo
Sua determinaçã o de ir, Tomé disse aos outros: “Vamos nó s també m, e
morramos com Ele.”
Lá zaro já estava quatro dias na sepultura quando eles se
aproximaram de Betâ nia, e Marta, ao saber de Sua vinda, foi ao Seu
encontro com as palavras chorosas: “Senhor, se tivesses estado aqui,
meu irmã o nã o teria morrido”. Sua irmã Maria també m veio, quando
disse que Jesus estava pedindo por ela, e disse praticamente as mesmas
palavras. As duas irmã s provavelmente haviam dito repetidamente uma
para a outra que, se Jesus estivesse lá , Ele nunca teria deixado seu
irmã o morrer.
A Seu pedido, eles O levaram para a caverna onde Lá zaro estava
sepultado, e Ele disse aos homens presentes que removessem a pedra
que cobria a entrada. Entã o, apó s uma oraçã o a Seu Pai, Ele ordenou a
Lá zaro que voltasse à vida e saı́sse da sepultura. Lá zaro o fez
imediatamente, para imensa emoçã o de todos os que testemunharam e
para a conversã o da maioria deles. Poré m, nã o de tudo. Alguns
correram para Jerusalé m e informaram os fariseus, que imediatamente
exigiram uma reuniã o do Siné drio ou Conselho Supremo dos Judeus.
A reuniã o do Siné drio foi realizada na casa de Caifá s, o sumo
sacerdote daquele ano. Todos concordaram que algo precisava ser
feito. Se Jesus pudesse continuar com essas con irmaçõ es
impressionantes de Seu ensino, todos eventualmente acreditariam
Nele. Os romanos podem até intervir e reduzi-los à escravidã o absoluta,
tirando todos os seus privilé gios atuais.
A discussã o continuou até que Caifá s a encerrou dizendo: “Só há
uma coisa a fazer. E melhor para Ele morrer do que toda a naçã o
perecer. ”
Jesus estava condenado. Mas eles nã o podiam colocar as mã os sobre
ele no momento. Ele havia deixado Betâ nia e ido para o paı́s deserto,
algumas milhas ao norte, perto de Efraim. O Siné drio só podia fazer
planos para a morte Dele, emitindo ordens para que qualquer pessoa
que soubesse onde Ele se encontrava deveria informá -los
imediatamente.
ÚLTIMOS DIAS MISSIONÁRIOS
Jesus nã o icou em Efraim. Ele passou cerca de trê s semanas
viajando por Samaria, Galilé ia e Peré ia. Seus movimentos foram
relatados aos membros do Siné drio, em Jerusalé m; mas Ele estava
sempre se movendo, e eles podiam esperar a hora certa.
Aonde quer que fosse, os fariseus estavam presentes e Ele tinha
muitas escaramuças com eles. Em certa ocasiã o, eles levantaram a
importante questã o do casamento e do divó rcio. Em resposta à sua
declaraçã o de que a Lei de Moisé s permitia que um homem repudiasse
sua esposa e se casasse com outra, Ele disse-lhes intransigentemente
que Moisé s nunca realmente pretendeu aprovar tal negligê ncia, mas
apenas tolerou a prá tica por causa de sua falta de disposiçõ es. Tal
frouxidã o, disse Ele, era totalmente contra as intençõ es originais de
Deus. Nem poderia ser tolerado de agora em diante. “De agora em
diante”, proclamou Ele, “se um homem repudiar sua esposa e se casar
com outra, comete adulté rio. E se a mulher repudiada se casar com
outra, ela comete adulté rio ”.
Isso soou severo até para os apó stolos, mas eles sabiam que se Ele
falasse assim, seria uma questã o de princı́pio. Eles tinham muitas
evidê ncias de Sua gentileza e misericó rdia para pensar de outra forma.
Assim, mais ou menos nessa é poca, Ele curou os dez leprosos que
clamavam a Ele de maneira tã o comovente: “Jesus, Mestre, tem piedade
de nó s”.
Da mesma forma, Ele abençoou as criancinhas que algumas
mulheres Lhe trouxeram, apesar dos esforços dos Apó stolos para
impedi-las de incomodá -Lo. “Deixai que as criancinhas venham a Mim e
nã o as impeçais”, disse Ele, “porque dos tais é o Reino de Deus”.
Um dia, ao se aproximarem de Jericó e cada vez mais perto de
Jerusalé m, Ele disse aos apó stolos o que Lhe aconteceria ali. Ele seria
preso, condenado, ridicularizado, cuspido e executado; mas no terceiro
dia Ele ressuscitaria. Ele os havia alertado tantas vezes sobre essas
coisas, mas mesmo assim eles nã o conseguiam entender tudo. Parecia
tã o irreal.
Dois deles, poré m, sentiam pelo menos que o clı́max se aproximava
e que o Reino para o qual Jesus os havia preparado por tanto tempo
estava pró ximo. Por isso, imploraram a Ele que lhes concedesse o
privilé gio de sentar-se, um à Sua direita e o outro à Sua esquerda,
quando o glorioso Reino inalmente seria Seu. Em resposta, Jesus
perguntou-lhes se estavam dispostos a participar nos Seus sofrimentos
e, ao receber a sua resposta a irmativa, disse: “Isso pelo menos vos
posso prometer, mas nã o mais. O que você pediu, nã o depende de Mim,
mas de Meu Pai Celestial ”. Entã o, para todos os doze Ele falou
seriamente sobre a necessidade de humildade.
Quando entraram em Jericó , Ele pediu hospitalidade ao publicano
Zaqueu, o icial da alfâ ndega local. Zaqueu, que nã o era muito alto, subiu
em uma á rvore para ver Jesus por cima da multidã o que se reunira para
a ocasiã o; e Jesus o escolheu como um homem sincero e honesto,
apesar do fato de que os fariseus o consideravam um pecador.
No dia seguinte, ao sair da cidade, foi abordado por Bartimeu, um
cego. Bartimeu foi informado de que o barulho da multidã o era porque
Jesus de Nazaré estava passando. Repetidamente, portanto, o cego
clamava: “Jesus, Filho de Davi, tem misericó rdia de mim”. Em vã o,
outros lhe disseram para icar quieto. Impressionado com a fé e
perseverança do homem, Jesus parou, ordenou que o homem fosse
levado a Ele, perguntou o que ele queria e concedeu-lhe o dom da visã o
que tanto desejava.

BANQUETE EM BETHANY
Era apenas cerca de trinta quilô metros de Jericó até Betâ nia, e
quando Jesus chegou à pequena cidade na tarde de sexta-feira, apenas
seis dias antes da Pá scoa, foi recebido por todos. Há apenas um mê s, Ele
ressuscitou Lá zaro, tã o conhecido e popular entre todos, dentre os
mortos.
Um cidadã o rico chamado Simã o até ofereceu um banquete para Ele
e Seus Apó stolos, convidando Lá zaro, Marta e Maria para estarem
presentes també m.
No decurso da noite, na presença de todo o grupo, Maria exprimiu a
sua reverê ncia, amor e gratidã o, derramando sobre a cabeça e os pé s de
Jesus o perfume mais caro e refrescante. Isso deixou Judas muito
angustiado, que protestou contra esse desperdı́cio, dizendo que o
precioso unguento poderia ter sido vendido por cerca de cinquenta ou
sessenta dó lares, e o dinheiro dado aos pobres. Mas Jesus a
defendeu. “Os pobres você sempre tem com você ,” Ele disse, “mas eu
nã o. Ela se saiu bem, preparando Meu corpo de antemã o para o
enterro. E eu digo a você que onde quer que o evangelho seja pregado
no mundo, o que ela fez será lembrado em sua memó ria. ”
Judas, entretanto, estava tudo menos apaziguado; Ele sentiu repulsa
pelo que viu. A perda do dinheiro irritou. Pensamentos de vender o
ungü ento precioso começaram a ceder lugar em sua mente aos
pensamentos de vender algo in initamente mais precioso, o pró prio
Jesus.
Durante esses dias, Jerusalé m fervilhava de excitaçã o. Caravanas de
peregrinos chegavam todos os dias de todos os lugares para a
Pá scoa. Nas encostas das colinas ao redor, tendas eram armadas, e
diariamente as multidõ es delas iam para a Cidade Santa. Muitos
galileus estavam entre eles. Toda a conversa era sobre Jesus e, acima de
tudo, sobre o milagre que Ele havia feito há um mê s, a ressurreiçã o de
Lá zaro dos mortos. Pessoas, indo e vindo, aglomeravam-se nas duas
milhas de estrada entre Jerusalé m e Betâ nia. Muitos deles queriam ver
Lá zaro com os pró prios olhos.

DOMINGO DE RAMOS
Foi em meio a toda essa agitaçã o que Jesus veio na sexta-feira de
sua chegada a Betâ nia, e decidiu seguir para Jerusalé m depois do
sá bado, no primeiro dia da semana. Mas, ao contrá rio das visitas
anteriores, esta deveria assumir a forma de uma entrada pú blica na
cidade. Ele, portanto, enviou dois de Seus discı́pulos a uma aldeia
pró xima para trazer de volta um potro de jumento que Ele disse que
eles encontrariam amarrado ali, e que o dono alegremente os deixaria
levar.
A notı́cia de que Ele estava vindo dessa forma espalhou-se
rapidamente, até mesmo para a pró pria Jerusalé m; e enquanto Ele
subia a encosta em direçã o à cidade, o povo veio ao encontro do fazedor
de milagres de Nazaré , acenando com as palmas e gritando: “Bem-
vindo. Hosana ao Filho de Davi. Bendito o que vem em nome do
Senhor. Hosana nas alturas!"
Foi em vã o que sacerdotes e fariseus irados mandaram o povo parar,
perguntando o que eles queriam dizer com isso. “Este é o Profeta Jesus,
de Nazaré na Galilé ia”, disseram eles, e continuaram com suas
demonstraçõ es de alegria. Os fariseus entã o se voltaram para
Jesus. “Cabe a você parar com tudo isso”, disseram eles. “Peça-lhes que
parem.” “Se eu izesse”, respondeu Ele, “as pró prias pedras clamariam”.
Quando uma curva repentina na estrada trouxe a cidade à vista,
Jesus começou a chorar. Aqui estava Ele, aceitando publicamente o
papel do Messias, mas sabendo que dentro de alguns dias seria
rejeitado enfaticamente. “Se você soubesse”, disse Ele, meio alto, “as
coisas que sã o para a sua paz. Mas agora eles estã o escondidos de
você . Nã o icará em ti pedra sobre pedra, porque nã o conheceste o
tempo da tua visitaçã o. ”
Entrando na cidade fervilhante, Ele visitou o Templo para se
entregar à oraçã o. Mas os sacerdotes e fariseus disseram uns aos outros
com raiva: “Nã o realizamos nada. O mundo inteiro parece ter ido atrá s
dele. ” Portanto, eles realizaram outra reuniã o para considerar o
pró ximo movimento que deveriam fazer.
Nenhum acontecimento posterior ocorreu naquele dia em
Jerusalé m; e, tendo olhado em volta para o que viu ali, Jesus voltou à
noite para Betâ nia. Era uma caminhada de pouco mais de meia hora.

SEGUNDA LIMPEZA DO TEMPLO


No dia seguinte, segunda-feira, Ele voltou para a cidade com os
doze. No caminho, chegando a uma igueira cheia de folhas, mas sem
dar fruto, Ele operou Seu ú nico milagre de julgamento, condenando-a à
morte. No dia seguinte, para sua surpresa, os apó stolos notaram que ela
havia secado completamente. O incidente foi uma espé cie de pará bola
encenada, um “auxı́lio visual” na educaçã o religiosa dos apó stolos,
ensinando-lhes o destino que aguardava a pró pria Jerusalé m, tã o
esplê ndida em promessas, mas tã o decepcionante em resultados.
Na cidade, Ele encontrou o recinto do Templo mais uma vez
transformado em um mercado, com feras e pá ssaros à venda e barracas
montadas para trocar os vá rios dinheiros dos peregrinos de diferentes
localidades. Novamente, portanto, Ele expulsou todos eles, declarando
que o Templo era uma Casa de Adoraçã o, que nã o deveria ser profanada
por tal trá ico. Se os ofensores tivessem se recusado a ir, Jesus e Seu
punhado de discı́pulos nã o poderiam tê -los expulsado pela força fı́sica,
a nã o ser por um milagre. Mas a autoridade moral e a indignaçã o
ardente de Jesus eram mais do que eles podiam resistir. Naturalmente,
os chefes dos sacerdotes icaram furiosos; mas Jesus havia recebido
uma recepçã o tã o maravilhosa do povo no dia anterior que eles nã o
puderam prendê -lo publicamente.
Ele passou o resto do dia ensinando no Templo sem interrupçã o,
exceto por um ú nico incidente.
Algumas crianças pequenas entraram enquanto Ele falava e,
reconhecendo-O como a igura central da procissã o do dia anterior,
começaram a entoar as palavras que haviam ouvido: “Hosana ao Filho
de Davi!” As autoridades do Templo, incapazes de suportar, disseram-
Lhe: “Você nã o ouve o que eles estã o cantando?” “Sim”, respondeu
ele. “Mas você nunca leu que Deus inspirou a perfeiçã o do louvor dos
lá bios de bebê s e crianças de peito?”
Naquela noite, Ele passou novamente em Betâ nia, voltando para a
cidade na terça-feira de manhã .

DIA DAS PERGUNTAS


Os chefes dos sacerdotes e outros tiveram tempo para pensar sobre
as coisas, e quando Ele começou a ensinar novamente no Templo, eles O
interromperam, exigindo saber com que autoridade Ele assumia tais
deveres.
Ele respondeu com outra pergunta. “De quem Joã o Batista recebeu
sua autoridade?” Eles foram reduzidos ao silê ncio. Pois se eles
dissessem que Joã o Batista nã o tinha autoridade, eles iriam irritar as
pessoas que o consideravam um profeta de Deus. Se, por outro lado,
dissessem da parte de Deus, a resposta teria sido: “Entã o por que nã o O
obedecestes?”
Tirando vantagem de sua derrota, Jesus entã o pregou as pará bolas
dos “Dois Filhos” ( Mateus 21: 28-32); dos “lavradores perversos”
( Lucas 20: 9-18); e da “Festa de Casamento”. ( Mateus 22: 1-14). Todas
as trê s pará bolas previram a rejeiçã o de Deus dos judeus como Seu
povo escolhido, e a concessã o de sua herança aos gentios.
Enfurecidos com isso, os fariseus procuraram colocá -lo em apuros
com as autoridades romanas, perguntando se era ou nã o legal pagar
tributo a Cé sar. Eles nã o ganharam nada com isso, pois Ele respondeu
simplesmente: “Rendam a Cé sar o que é de Cé sar, e a Deus o que é de
Deus”.
Os saduceus entã o izeram uma pergunta capciosa sobre o
casamento no cé u, que Jesus descartou sumariamente, dizendo que no
cé u nã o existe casamento nem entrega em casamento, pois as condiçõ es
sã o bem diferentes das da terra.
Os fariseus tentaram novamente perguntando qual é o maior
mandamento? Jesus respondeu que o primeiro é amar a Deus e que o
segundo é amar o pró ximo - um amor que eles certamente nã o estavam
manifestando na é poca!
Depois disso, nã o houve mais perguntas, mas Jesus avisou o povo
contra a hipocrisia dos escribas e fariseus. Essas palavras
interpretaram Suas palavras como uma declaraçã o de guerra aberta; e
Jesus sabia que havia virtualmente pronunciado Sua pró pria sentença
de morte.
Quando Ele estava saindo do Templo, para nunca mais entrar nele,
Ele viu uma viú va pobre colocar duas moedas em uma caixa de coleta
para a manutençã o do Templo. Quã o pequena essa oferta pode ser
realizada pelo fato de que oito á caros equivaleriam a um ú nico
centavo! Mesmo assim, Jesus elogiou sua oferta sacri icial, dizendo que
ela merecia mais do que todas as outras porque tinha dado tudo o que
tinha.
Um pouco mais tarde, poré m, Ele previu para Seus apó stolos a ruı́na
total do Templo, apesar de suas grandes pedras e estrutura só lida.
Indo para casa em Betâ nia, Ele interrompeu a jornada indo ao
Monte das Oliveiras, levando consigo Seus Apó stolos Pedro, Tiago e
Joã o, a quem Ele falou longamente sobre o Juı́zo Final.

JUDAS, O TRAIDOR
No dia seguinte, quarta-feira, Jesus se aposentou com Seus
apó stolos, possivelmente em Betâ nia, provavelmente nas colinas
pró ximas. Estas foram as ú ltimas horas de preparaçã o espiritual, e
durante elas disse-lhes claramente mais uma vez: “Faltam apenas dois
dias para a Pá scoa. Entã o serei entregue para ser cruci icado. ”
Um apó stolo, entretanto, esteve ausente por algumas horas naquele
dia. Ele tinha ido sozinho para Jerusalé m, onde o Siné drio estava
realizando uma reuniã o pela manhã , tentando decidir o que fazer com
Jesus. Os membros estavam preocupados com o nú mero de Seus
amigos que tinham vindo de á reas rurais. Mas, para seu deleite, Judas
veio até eles, perguntando o que lhe dariam se ele os informasse onde
poderiam encontrar Jesus longe da multidã o usual. Eles concordaram
em dar a ele trinta moedas de prata, possivelmente entre quinze e vinte
dó lares em nosso dinheiro. Deve ter parecido uma barganha bastante
pobre, mas Judas ainda a aceitou. Ele icou enojado com a maneira
como Jesus falhou repetidas vezes em se a irmar como o Messias-Rei
das aspiraçõ es nacionalistas judaicas quando as oportunidades se
apresentaram.

A ÚLTIMA CEIA
Na quinta-feira, Jesus enviou Pedro e Joã o à cidade para
providenciar o uso de um cená culo na casa de um amigo onde Ele
pudesse celebrar a refeiçã o pascal com Seus apó stolos naquela noite; e
no devido tempo todos vieram para a casa, incluindo Judas.
Antes do inı́cio da refeiçã o, tendo em mente as muitas vezes que os
apó stolos haviam discutido sobre "quem seria o maior", Ele deu-lhes
uma liçã o suprema de humildade, envolvendo-se com uma toalha e, em
seguida, tomando uma tigela de á gua, ajoelhando-se como um escravo
domé stico para lavar os pé s.
Depois disso, Ele prosseguiu com a ceia, durante a qual os avisou
que um deles estava prestes a traı́-lo. Judas foi embora, para dizer aos
guardas do Templo que estivessem prontos para o momento em que ele
os noti icasse. Seria em breve. Jesus estava jantando com Seus
apó stolos na casa de um amigo, ele disse a eles. Eles seriam capazes de
prendê -lo sem qualquer perturbaçã o pú blica depois que Ele tivesse
deixado o local.
Depois que Judas partiu - como parece mais provavelmente o caso -
Jesus passou a cumprir a promessa que havia feito um ano antes de dar
Sua carne para comer e Seu sangue para beber. Tomando pã o, Ele disse:
“Tomai e comei. Este é o Meu corpo que é dado por você . Faça isso em
homenagem a mim. ” Entã o, tomando o vinho: “Este é o Meu sangue da
Nova Aliança, que será derramado por muitos para a remissã o dos
pecados”.
Assim, Ele deu o sinal de Seu pró prio Sacerdó cio de acordo com a
ordem de Melquisedeque, que havia oferecido sacrifı́cio em pã o e
vinho; e també m tornou os apó stolos sacerdotes de acordo com a
mesma ordem. Assim, també m, Ele deixou para Sua Igreja o Sacrifı́cio
da Missa, sobre o qual Sã o Paulo escreveria mais tarde: “Sempre que
comerdes este pã o e beberdes o cá lice, mostrareis a morte do Senhor
até que Ele venha . ” ( 1 Coríntios 11:26).
Depois disso, Jesus falou por algumas horas aos seus apó stolos, até
quase meia-noite, consolando-os, prometendo-lhes o Espı́rito Santo
para seu trabalho futuro, dizendo-lhes que estariam unidos a Ele como
ramos vivos se unem a uma videira, e concluindo com uma oraçã o
sacerdotal pela unidade de sua Igreja, impressionando-os com as
maravilhosas relaçõ es de si mesmo com o Pai e de si mesmos com ele.
Seguiu-se um hino de açã o de graças, entã o Ele deixou a casa com
Seus apó stolos e partiu com eles de Jerusalé m ao longo da estrada de
Betâ nia para Seu Monte das Oliveiras favorito. Lá Ele foi a um jardim
chamado Getsê mani, onde se afastou dos Apó stolos, com exceçã o de
Pedro, Tiago e Joã o, que levou consigo. Estes trê s foram autorizados a
testemunhar, enquanto Ele se ajoelhava em oraçã o, algo da tristeza com
que Ele foi a ligido pelo peso dos pecados do mundo, cujo fardo O
arrancou muito de suor de sangue.

PRISÃO E JULGAMENTO
Foi no jardim do Getsê mani que Judas, vindo com os guardas do
Templo, O encontrou.
Os apó stolos fugiram.
Jesus, preso, foi levado primeiro a Aná s, um ex-sumo sacerdote, que
nã o tinha autoridade, mas queria examiná -lo a im de pensar na melhor
acusaçã o a fazer contra ele. Aná s entã o o enviou a seu genro, Caifá s, o
verdadeiro sumo sacerdote governante, que já havia decidido que era
melhor que Jesus morresse do que toda a naçã o.
Já era dia, na manhã de sexta-feira. O Siné drio se reuniu
rapidamente. Muitos informantes pro issionais foram chamados para
depor perante o tribunal judaico, mas suas acusaçõ es eram tã o
con litantes e tã o palpavelmente falsas que Caifá s as pô s de lado e
assumiu ele mesmo as coisas.
Ele fez uma pergunta direta a Jesus, pedindo-Lhe em nome do Deus
Vivo que dissesse se Ele a irmava ser ou nã o o Cristo, o Filho de
Deus. Jesus respondeu que sim e que um dia o veriam voltando nas
nuvens do cé u. Ficou claro que Ele estava se declarando igual a Deus, e
Caifá s voltou-se para seus companheiros do Siné drio. “Todos você s já
ouviram essa blasfê mia”, disse ele. “Nã o há necessidade de outras
evidê ncias. O que você disse?" Todos concordaram que a sentença de
morte deveria ser pronunciada.
Durante esses procedimentos, dois dos apó stolos, Pedro e Joã o,
criaram coragem su iciente para ir ao pá tio da casa do sumo
sacerdote; mas ali, quando reconhecido, Pedro icou apavorado e trê s
vezes negou, mesmo com um juramento, que conhecia Jesus. O canto de
um galo trouxe-lhe a prediçã o de Jesus de que faria isso; e ao sair
chorou amargamente. No momento ele nã o se lembrou, embora o
izesse mais tarde, que mesmo ao predizer sua queda, Jesus també m
disse: “Eu orei por você , Simã o, para que a sua fé nã o desfaleça; e
depois de sua conversã o, caberá a você fortalecer seus irmã os ”.
O Siné drio, proibido pelas autoridades romanas de in ligir eles
pró prios a pena de morte, levou Jesus a Pilatos, o governador da Judé ia,
acusando-o de aconselhar o povo a nã o pagar impostos a Cé sar, de se
proclamar rei e de incitar o povo à rebeliã o .
Pilatos nã o acreditou neles; tentou escapar da condenaçã o de Jesus,
enviando-o a Herodes Antipas, governador da Galilé ia, que por acaso
estava em Jerusalé m; e, quando esse expediente falhou, junto com todas
as medidas persuasivas para apaziguar os judeus, entregou-O a eles
para ser cruci icado.
Antes de fazer isso, poré m, ele lavou as mã os na presença deles,
declarando-se "inocente do sangue deste justo". Num frenesi de triunfo,
a turba, incitada pelos sacerdotes judeus, gritou: "O seu sangue caia
sobre nó s e sobre nossos ilhos."
Entã o, eles izeram Jesus carregar Sua pró pria cruz até o Calvá rio.

MORTE NO CALVÁRIO
Pregado na cruz, Jesus suportou por trê s horas as torturas
ignominiosas e agonizantes da cruci icaçã o, com um cartaz sobre a
cabeça, para a morti icaçã o dos judeus, mas na qual Pilatos insistiu,
proclamando-o como “Jesus de Nazaré , o Rei dos Judeus . ”
Sete de suas declaraçõ es na cruz foram preservadas para nó s. Ele
orou pelo perdã o de Seus perseguidores; prometeu o paraı́so ao ladrã o
arrependido que, junto com outro criminoso, foi cruci icado ao lado
dele; con iou Sua Mã e aos cuidados de Sã o Joã o; expressou Sua pró pria
angú stia mental e corporal no grito: “Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?” e nas palavras: “Tenho sede”; e entã o, depois de
declarar que tudo havia sido "realizado", Sua declaraçã o inal, forte e
con iante: "Pai, em Tuas mã os entrego Meu espı́rito."
Entã o, à s 3 da tarde, naquela sexta-feira à tarde, Jesus morreu.
A pró pria natureza pagou o tributo que Seu pró prio povo recusou. O
sol escureceu, enquanto a terra tremia, rasgando o Vé u do Templo e
abrindo as tumbas. Os judeus icaram apavorados e fugiram, batendo
no peito. Até o centuriã o romano exclamou: “Certamente este homem
era o Filho de Deus”.
Os sumos sacerdotes nã o icavam menos apavorados com essas
coisas do que os outros, mas estavam obcecados por outro e maior
medo. Jesus disse que ressuscitaria no terceiro dia. Eles nã o
acreditaram que fosse possı́vel; mas eles estavam determinados a
tomar precauçõ es contra qualquer remoçã o de Seu corpo por Seus
discı́pulos, com a subsequente alegaçã o de que a profecia havia se
cumprido.
Ao pô r do sol, o sá bado começaria. Eles devem fazer tudo até
entã o. A seu pedido, os soldados romanos apressaram a morte dos dois
ladrõ es quebrando suas pernas; mas quando eles foram até Jesus, eles
O encontraram já morto. Ainda assim, para ter certeza, um soldado
en iou uma lança em Seu lado. Os corpos foram retirados, e Pilatos
concedeu permissã o a José de Arimaté ia para dar um sepultamento
honroso ao de Jesus. Uma concessã o que ele fez aos sacerdotes
judeus. Eles poderiam selar a pedra na entrada da abó bada e fazer com
que os guardas romanos permanecessem de guarda até depois do
terceiro dia, evitando qualquer interferê ncia nela.

RESSUSCITADO E VIVO AINDA


Qualquer biogra ia comum teria um im aqui. Impressionadas com a
bondade, a coragem magnı́ ica e a devoçã o altruı́sta de uma vida como a
que foi descrita, as pessoas podem pensar que o im foi uma tragé dia
absoluta; no entanto, seria o im de mais um grande homem que
desempenhou seu papel no palco da histó ria humana.
No caso de Jesus, poré m, as coisas sã o muito diferentes.
Pouco antes do amanhecer do terceiro dia, domingo, um terremoto
deslocou a pedra da entrada da tumba em que havia sido enterrado; e
os soldados romanos de guarda icaram aterrorizados nã o só por isso,
mas pela apariçã o de um anjo, luminosamente brilhante. Eles caı́ram no
chã o inconscientes e, quando reviveram, fugiram.
O deslocamento da pedra nã o foi para permitir que Jesus saı́sse do
tú mulo. Ele já havia se levantado quando isso aconteceu. Mas Maria
Madalena e as outras mulheres que vieram pouco antes do nascer do
sol puderam ver que o tú mulo estava vazio. O anjo, ainda lá , os
convidou a fazê -lo. “Vejam o lugar onde o Senhor foi colocado”, disse ele
a eles.
“Ele nã o está aqui, pois ressuscitou, como disse. Vá rapidamente e
diga aos Seus discı́pulos. ”
Era verdade. Os discı́pulos, poré m, demoraram a acreditar. Mas
durante os pró ximos quarenta dias, em vá rios momentos e em
diferentes lugares, Jesus apareceu a eles, individualmente e em grupos.
Ele continuou a instruı́-los, explicando a dois deles, na estrada para
Emaú s, como tudo o que Moisé s e os profetas haviam predito sobre o
Messias se cumprira Nele.
Aparecendo no meio deles, quando estavam reunidos em Jerusalé m,
Ele concedeu-lhes o poder de perdoar pecados, soprando sobre eles e
dizendo: “Recebam o Espı́rito Santo. Cujos pecados você perdoa, estã o
perdoados. ”
Em outra ocasiã o, na Galilé ia, Ele con irmou Pedro em seu cargo
como chefe supremo da Igreja na terra, depois de exigir dele uma
trı́plice pro issã o de amor como reparaçã o pela trı́plice negaçã o. A ele
Jesus con iou o cuidado de cordeiros e ovelhas, de todo o rebanho; e
prometeu a ele a coroa do martı́rio no inal.
Apropriadamente també m na Galilé ia, onde primeiro os chamou
como apó stolos, deu-lhes Sua grande comissã o, dizendo: “Todo o poder
Me é dado no cé u e na terra. Indo, portanto, ensinar todas as naçõ es,
batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espı́rito Santo, ensinando-
as a observar todas as coisas que eu lhes ordenei; e eis que estarei
convosco todos os dias, até ao im do mundo. ”
Sua ú ltima apariçã o a eles ocorreu logo depois em Jerusalé m. Na
entrevista inal, tendo dado a eles mais instruçõ es sobre Sua Igreja
como o Reino de Deus neste mundo, Ele disse-lhes que permanecessem
na cidade até que o Espı́rito Santo descesse sobre eles como havia
prometido. Depois disso, eles deveriam começar seu apostolado de
pregar o evangelho em todo o mundo, até os con ins da terra.
Agora havia chegado a hora de Ele voltar para o Cé u de onde
veio. Acompanhado de todos eles, Ele iniciou o caminho em direçã o a
Betâ nia e ao Monte das Oliveiras. Quando eles subiram a montanha, Ele
os abençoou e, ao fazê -lo, começou a ascender acima e alé m deste
mundo. Por alguns momentos, eles o viram indo embora. Entã o, uma
nuvem de repente se formou abaixo Dele, cortando-O de seu olhar.
Enquanto eles continuavam olhando para cima, dois homens em
vestes brancas apareceram para eles e lhes disseram que Jesus
inalmente havia partido deles, mas que Ele voltaria algum dia assim
como eles O viram partir. Estranhamente, eles nã o sentiram nenhum
traço de tristeza em Sua partida, mas voltaram para Jerusalé m com
grande alegria, para perseverar na oraçã o e esperar até que fossem
dotados de poder do alto.
Nove dias depois, no domingo de Pentecostes, o Espı́rito Santo
prometido desceu sobre eles. Pedro, o chefe dos apó stolos, pregou o
primeiro sermã o naquele mesmo dia em Jerusalé m, e cerca de trê s mil
almas foram recebidas na Igreja.
E aquela Igreja - a Igreja Cató lica - que está no mundo todos os dias
desde entã o, e ainda está conosco, a testemunha viva que remonta ao
longo dos tempos, nos torna um com aqueles que ouviram Jesus falar e
que viram as coisas que Ele fez ; e nã o mais do que eles podemos
duvidar da realidade das experiê ncias que foram deles.
Para nó s, como para Sã o Pedro, Jesus é “o Cristo, o Filho do Deus
vivo”. Dele, com Sã o Joã o, nã o temos escolha senã o dizer: “No princı́pio
era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. E o Verbo se
fez carne e habitou entre nó s; e vimos Sua gló ria, a gló ria como se fosse
do unigê nito do Pai, cheio de graça e verdade. ”

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TAN · LIVROS

A TAN Books foi fundada em 1967 para preservar as tradiçõ es


espirituais, intelectuais e litú rgicas da Igreja Cató lica. Em um momento
crı́tico da histó ria, o TAN manteve vivos os grandes clá ssicos da Fé e
atraiu muitos para a Igreja. Em 2008 a TAN foi adquirida pela Saint
Benedict Press. Hoje a TAN continua sua missã o para uma nova geraçã o
de leitores.

Desde o inı́cio, a TAN publicou uma sé rie de livretos que ensinam e
defendem a fé . Por meio de parcerias com organizaçõ es, apostolados e
indivı́duos voltados para a missã o, bem mais de 10 milhõ es de livretos
TAN foram distribuı́dos.

Mais recentemente, a TAN expandiu sua publicaçã o com o lançamento


de calendá rios cató licos e planejadores diá rios - bem como Bı́blias,
icçã o e produtos multimı́dia por meio de suas marcas irmã s Catholic
Courses ( catholiccourses.com ) e Saint Benedict Press
( saintbenedictpress.com ).

Hoje a TAN publica mais de 500 tı́tulos nas á reas de teologia, oraçã o,
devoçã o, doutrina, histó ria da Igreja e a vida dos santos. Os livros da
TAN sã o publicados em vá rios idiomas e encontrados em todo o mundo
em escolas, paró quias, livrarias e residê ncias.
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