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Direito Penal Aplicado à Saúde
Noções gerais 3
SUMÁRIO
Referências bibliográficas 57
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Direito Penal Aplicado à Saúde
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uma conduta criminosa de outra prevista Para traduzir se é grave ou não a condu-
como contravencional, pois não são raras as ta de um cidadão e a forma mais ou menos
vezes em que se indaga tal diferenciação, severa em que o Estado imporá a pena, o le-
ainda que não haja ilícito de contravenção gislador federal prevê anteriormente em lei a
penal quando se fala da relação de consu- prática dessa conduta, e pela pena saber-se-
midor e fornecedor. A diferença recai na es- -á se o ilícito é grave ou não. Se o ilícito for
pécie de sanção (pena) atribuída, que será apenado com reclusão, isso significa que é
mais ou menos severa, dando o contorno de grave; se for com detenção, é de média gra-
maior ou menor gravidade da conduta. vidade; e, se for com prisão simples, significa
que trata-se de ilícito de menor gravidade.
Conceito de crime
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incrimina, fixando sua abrangência como 128 (praticar aborto se não houver outro meio
uma função de garantia, nos termos do art. de salvar a vida da gestante) e 142 (ofensa
5º, XXXIX, da CF/88, em que se encontra a irrogada em juízo) do CP, entre outros.
expressão “não há crime sem lei anterior que
o defina, nem pena sem prévia cominação As causas que excluem a antijuridicidade
legal”, da mesma forma que no art. 1º do são conhecidas como excludentes de crimi-
Código Penal. nalidade, excludentes da antijuridicidade,
causas justificativas, excludentes de ilicitude,
O conceito analítico é a limitação da abran-
eximentes ou descriminantes. São normas
gência do tipo penal, dividindo o todo em
permissivas, também chamadas tipos per-
partes, em fato típico e antijurídico, sendo a
missivos, que permitem a prática de um fato
culpabilidade o pressuposto de aplicação da
típico.
pena.
O fato típico é composto de quatro ele- A culpabilidade não faz parte do conceito
mentos: de crime, mas é um elemento que condiciona
a aplicação da pena. É a reprovação ao agen-
a) Conduta (ação/omissão): somente o com- te pela contradição entre sua vontade e a
portamento humano positivo (ação, um fa-
zer) ou negativo (omissão, um não fazer o
vontade da lei. Após ter-se a fundamentada
que era preciso) pode ser considerado cri- decisão judicial de que o autor praticou crime,
me. O Direito Penal não pune a mera inten- isto é, fato típico e ilícito, passa-se à análise
ção.
das condições em que o crime foi praticado,
b) Resultado (nos crimes materiais): modifica- examinando-se o preenchimento dos requisi-
ção do mundo exterior provocada pela con- tos para imposição de pena ou, dependendo
duta. das condições em que o fato foi praticado, de
c) Nexo causal (nos crimes materiais): é o elo medida de segurança para quem não tinha o
de ligação entre conduta do agente e resul- devido discernimento mental.
tado, por meio do qual é possível dizer se
aquela deu ou não causa a este. São elementos da culpabilidade:
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b) Potencial consciência da ilicitude: con- local do ilícito etc. Também não são
dições de perceber a ilicitude. Ex.: erro de punidos desde que não sejam tipos
proibição, art. 21 do CP.
penais autônomos como petrechos
c) Inexigibilidade de conduta diversa: possi- para falsificação de moeda (art. 291),
bilidade de se exigir ou não, nas circunstân- que seria ato preparatório do crime de
cias em que ocorreu o fato, que se tivesse moeda falsa (art. 289) etc.
outro comportamento. Caso não se possa
exigir outra conduta que não tenha sido a
praticada pelo agente, ainda que ilícita, este • Atos de execução: são os dirigidos
estará isento de punição, pois foi coagido a diretamente para a prática do crime,
agir daquela forma, não teve outra opção. isto é, quando o agente pratica con-
O instituto é extraído do art. 22 do Código
duta que se encaixa diretamente no
Penal, além de causas supralegais.
verbo do tipo penal; seria o ataque ao
Iter criminis bem jurídico ou o início da realização
do tipo, ingressando no núcleo deste.
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II) Sujeito ativo: aquele que pratica o crime. Crime de perigo: é aquele que será con-
Abrange tanto quem pratica o núcleo do sumado com a simples criação do perigo para
tipo como quem colabora de alguma forma
o bem jurídico tutelado, sem necessidade de
na conduta típica.
efetivo dano. Divide-se em:
III) Sujeito passivo: é a vítima do ilícito.
a) Perigo concreto: ilícito no qual é necessá-
ria a demonstração do efetivo perigo.
IV) Tipo subjetivo: é a análise do dolo e da cul-
pa para preenchimento do tipo penal. b) Perigo abstrato: ilícito no qual o perigo é
presumido, não precisa ser provada a situa-
V) Tipo objetivo: é a forma de se praticar o ção, pois a prática da conduta já é presumi-
ilícito, a descrição típica, os elementos cons- damente perigosa.
tantes do tipo penal. Ex: matar, falsificar, sub-
trair etc. Crimes materiais: são aqueles em que
a lei exige a efetiva ocorrência do resultado
Classificação de crimes natural para a consumação do ilícito. Exem-
plo: no homicídio, a ação é matar, e o resul-
tado é a morte.
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to do crime de sequestro (art. 159, CP). O depende da vontade do sujeito ativo fazer
fato posterior serve apenas para alteração cessar. Ex.: sequestro.
da pena. Em outras palavras, o crime do art.
159 do CP consuma-se com o sequestro da Crimes dolosos: são aqueles em que o
vítima. A obtenção eventual do resgate é agente desejou praticar o fato criminoso ou
mero exaurimento de um crime que já esta- assumiu o risco para tal (art. 18, I, CP).
va consumado.
Crimes culposos: são aqueles praticados
Crime complexo: é aquele que contém pelo agente por negligência, imprudência ou
em si duas ou mais figuras penais. Exemplo: imperícia (art. 18, II, CP).
o crime de roubo é composto por furto mais
ameaça ou violência à pessoa.
Crimes instantâneos: são aqueles que, Crimes comissivos: são aqueles que re-
realizados os seus elementos, nada mais se querem comportamento positivo (ação) do
poderá fazer para impedir sua ocorrência, in- agente visando ao ilícito. Exemplo: matar ou
dependentemente da vontade do agente. O ferir alguém, furtar algo etc.
crime esgota-se com a ocorrência do resulta-
do, cuja consumação não tem continuidade Crimes omissivos próprios (ou pu-
no tempo. ros): são aqueles praticados mediante o não
fazer o que a lei manda (comportamento ne-
Crimes permanentes: são aqueles cuja gativo), sem dependência de qualquer resul-
consumação se prolonga no tempo, em que tado. Exemplo: omissão de socorro.
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Crimes comissivos por omissão (ou dalidade de conduta, expresso pelo núcleo
omissivos impróprios): são aqueles em do tipo. Ex.: matar, subtrair.
que o agente, por deixar de fazer o que es-
tava obrigado, causa o resultado. Além da Crimes de ação múltipla (ou de con-
teúdo variado): referem-se aos tipos al-
obrigação de agir, tem a de evitar o resulta-
ternativos ou mistos, em que se descrevem
do. Exemplos: a mãe que deixa de alimentar
o recém-nascido, causando-lhe a morte; oduas ou mais condutas, perfazendo-se o cri-
enfermeiro que não administra ao paciente o
me com a realização de qualquer delas. O
remédio prescrito, dando causa à sua morte.
crime será um só, embora praticadas duas
ou mais ações. Exemplo: induzimento, insti-
Crimes comuns: são aqueles praticados
gação ou auxílio ao suicídio (art. 122 do CP).
por qualquer pessoa.
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ou a sociedade. Exemplo: ato obsceno (art. crime. Exemplos: crime de exercício ilegal da
233, CP). medicina; crime de casa de prostituição etc.
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1) Reclusão, cabível nos delitos mais graves. Caso a condenação seja igual ou inferior a
quatro anos e o condenado seja primário, o
2) Detenção, cabível nos ilícitos de média gra-
vidade.
regime será o aberto.
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agente seja primário. Condenado com pena Trata-se de diminuição de pena pelo tra-
superior a oito anos, o regime inicial será balho ou pelo estudo. A contagem é feita
obrigatoriamente fechado. (art. 126, Lei nº 7.210/84) à razão de um dia
de pena por três de trabalho ou 12 horas de
• Progressão e regressão de regime estudo divididas três dias.
prisional
Depende de declaração do juiz, ouvido
previamente o MP (art. 66, Lei nº 7.210/84).
Fonte: http://www.folhavitoria.com.br/policia/
noticia/2010/05/espirito-santo-e-o-campeao-na-oferta-de-
vagas-de-empregos-para-detentos-e-ex-detentos.html.
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Chamamos a atenção para essa espécie Essa pena é intransmissível, isto é, cabe
de pena, uma vez que nos crimes relaciona- somente ao condenado, não se transmite
dos ao consumo a conduta do agente não aos seus herdeiros (art. 5º, XLV, CF/88).
envolverá violência ou grave ameaça à pes-
soa, bem como, salvo concurso de crimes, a Fixam-se os dias-multa primeiro determi-
pena geralmente imposta não será superior nando o número de dias, entre o mínimo de
a quatro anos. Assim, sendo o réu primário e 10 e o máximo de 360, atendendo-se à maior
recomendável, é a pena, em tese, mais uti- ou menor gravidade do crime.
lizada.
Após, fixa-se o valor de cada um desses
Pena de multa dias-multa, cujo valor não será inferior a
1/30 do salário mínimo e nem superior a cin-
co vezes o maior salário mínimo vigente.
Da aplicação da pena
Fonte: http://derecho.laguia2000.com/
derecho-penal/pena-de-multa.
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Dos crimes contra a saúde Existem crimes contra a saúde pública de-
pública finidos em outras leis especiais, como a Lei nº
7.649, de 25 de janeiro de 1988, que estabe-
lece a obrigatoriedade do cadastramento dos
doadores de sangue, bem como a realização
de exames laboratoriais no sangue coletado,
visando a prevenir a propagação de doenças.
A inobservância das normas dessa lei confi-
gura crime previsto no art. 268 do Código
Penal.
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Dos crimes contra a saúde pública pre- Tipo subjetivo: o dolo, isto é, a vonta-
vistos no Código Penal de de causar epidemia, seja de forma direta
(dolo direto) ou indireta (dolo eventual).
Epidemia
Consumação e forma tentada: consu-
ma-se com a ocorrência da epidemia. É admi-
tida a forma tentada.
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toridades públicas que visem impedir a in- Sujeito ativo: nesse caso, é crime pró-
trodução ou propagação de doença que seja prio, já que somente pode ser praticado pelo
contagiosa. médico.
“Art. 269 - Deixar o médico de denunciar § 1º - Está sujeito à mesma pena quem
à autoridade pública doença cuja notificação entrega a consumo ou tem em depósito,
é compulsória: para o fim de ser distribuída, a água ou a
substância envenenada.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2
(dois) anos, e multa.” Modalidade culposa
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Modalidade culposa
§ 2º - Se o crime é culposo:
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exista, mas esteja em quantidade menor do b)Produto alimentício ou medicinal que esteja em
que a que foi mencionada. invólucro ou recipiente com falsa indicação
de sua composição (art. 275).
Tipo subjetivo: o dolo, a vontade de in-
É preciso cuidado, pois, pelo princípio do
culcar (dar a entender) a existência do que
conflito aparente de normas chamado de
não se encontra na substância ou que exista
em quantidade menor do que a que foi anun- consunção, o crime-fim absorverá o crime-
ciada. Não é punível a forma culposa por fal- -meio, logo, se a conduta do agente foi a
ta de expressa previsão no tipo penal. de praticar o art. 274 ou o art. 275, estes
prevalecerão.
Consumação e forma tentada: consu-
ma-se no momento da falsa indicação, sem Tipo subjetivo: o dolo, a vontade de
a necessidade de ser entregue a consumo. É praticar uma das condutas descritas no tipo.
admitida a forma tentada. Exige-se que, na conduta de “ter em depó-
sito”, o agente tenha a vontade de vendê-la.
Produto ou substância nas condições Não é possível a forma culposa por falta de
dos dois artigos anteriores expressa previsão.
“Art. 276 - Vender, expor à venda, ter em Consumação e forma tentada: con-
depósito para vender ou, de qualquer forma,
suma-se no momento da efetiva prática de
entregar a consumo produto nas condições
dos arts. 274 e 275. uma das condutas elencadas no tipo penal,
admitida a forma tentada.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco)
anos, e multa.” Substância destinada à falsificação
Objeto jurídico: a incolumidade pública. “Art. 277 - Vender, expor à venda, ter em
depósito ou ceder substância destinada à
Sujeito ativo: qualquer pessoa, ainda falsificação de produtos alimentícios, tera-
que não seja comerciante. pêuticos ou medicinais:
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sificação do produto alimentício, terapêutico isto é, a coisa sobre a qual recai a conduta, é
ou medicinal. qualquer objeto, como brinquedos, chupetas
etc., ou qualquer substância, como perfumes
Tipo subjetivo: o dolo, a vontade de etc., nocivos à saúde. A nocividade será apu-
praticar uma das condutas elencadas, tendo rada por perícia, nos termos do art. 158 e
conhecimento que será utilizada para falsi- seguintes do Código de Processo Penal.
ficação. Não há punição pela forma culposa
por falta de expressa previsão no tipo penal. Tipo subjetivo: o dolo, a vontade de pra-
ticar uma das condutas elencadas. É possível
Consumação e forma tentada: consu- a punição pela forma culposa, já que expres-
ma-se no momento em que há a venda, a sa no parágrafo único.
exposição à venda, o depósito ou a cessão,
admitindo-se a forma tentada. Consumação e forma tentada: consu-
ma-se no momento em que há a prática de
Outras substâncias nocivas à saúde uma das condutas descritas, admitindo-se a
pública forma tentada. Quanto às condutas de “ex-
por à venda” e “ter em depósito”, são crimes
Art. 278 - Fabricar, vender, expor à
venda, ter em depósito para vender ou, de permanentes, isto é, a consumação prolon-
qualquer forma, entregar a consumo coisa ga-se no tempo, podendo haver prisão em
ou substância nociva à saúde, ainda que não flagrante enquanto a coisa ou substância no-
destinada à alimentação ou a fim medicinal: civa estiver exposta ou em depósito.
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Parágrafo único - Se o crime é culposo: Art. 282 - Exercer, ainda que a título gra-
tuito, a profissão de médico, dentista ou far-
Pena - detenção, de dois meses a um ano. macêutico, sem autorização legal ou exce-
dendo-lhe os limites:
Objeto jurídico: a incolumidade pública.
Pena - detenção, de seis meses a dois
Sujeito ativo: qualquer pessoa, embora anos.
como regra seja o farmacêutico.
Parágrafo único - Se o crime é praticado
Sujeito passivo: a coletividade. com o fim de lucro, aplica-se também multa.
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Charlatanismo
Fonte: http://chakubuku-aryasattva.blogspot.com.br/2012/02/o-drama-do-charlatanismo-no-brasil-e-no.html.
Tipo subjetivo: o dolo, a vontade de inculcar ou anunciar a cura por meio secreto ou
infalível, sabendo o agente da ineficiência dos meios empregados. Não é punível a forma
culposa por falta de expressa previsão no tipo penal.
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Consumação e forma tentada: con- Sujeito ativo: qualquer pessoa que não
suma-se com a inculcação ou o anúncio da possua conhecimento médico.
cura, independentemente do resultado, ad-
mitindo-se a forma tentada. Sujeito passivo: a coletividade.
Fonte: http://mfcmamonas.no.comunidades.
net/index.php?pagina=1085051385_01.
Objeto jurídico: a incolumidade públi- Caso o agente tenha sido efetivamente re-
ca. Esse ilícito é diferente do exercício ilegal compensado, incidirá o parágrafo único, de
de medicina, arte dentária ou farmacêutica, que também resultará multa, mas a simples
uma vez que no curandeirismo não há qual- promessa de remuneração não configurará o
quer conhecimento ou noção de medicina. tipo.
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para esse fim designada, de tudo lavrando-se Art. 33. Importar, exportar, remeter, pre-
termo, por todos assinado (juiz, promotor de parar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
justiça, autor do fato e defensor). expor à venda, oferecer, ter em depósito,
transportar, trazer consigo, guardar, pres-
e) Multa: consiste em sanção pecuniária aplicável crever, ministrar, entregar a consumo ou
ao agente que, injustificadamente, se recuse fornecer drogas, ainda que gratuitamente,
a cumprir as medidas educativas de prestação sem autorização ou em desacordo com de-
de serviços à comunidade e comparecimento terminação legal ou regulamentar:
a programa ou curso educativo. Deve suceder
a admoestação verbal. Será imposta pelo juiz Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze)
atendendo à reprovabilidade da conduta e fixa- anos e pagamento de 500 (quinhentos) a
da em dias-multa. Consistirá, no mínimo, em 40 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
e, no máximo, em 100 dias-multa. O valor do
dia-multa, segundo a capacidade econômica do § 1o Nas mesmas penas incorre quem:
agente, será de, no mínimo, 1/30 do salário-
I - importa, exporta, remete, produz, fa-
-mínimo e, no máximo, três vezes o maior salá-
brica, adquire, vende, expõe à venda, ofe-
rio-mínimo. Os valores decorrentes dessa multa
serão creditados ao Fundo Nacional Antidrogas. rece, fornece, tem em depósito, transporta,
traz consigo ou guarda, ainda que gratuita-
mente, sem autorização ou em desacordo
Reincidência
com determinação legal ou regulamentar,
matéria-prima, insumo ou produto químico
Considera-se reincidente o agente que destinado à preparação de drogas;
pratica novo crime após o trânsito em julgado
de sentença definitiva (quando não cabe mais II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem
autorização ou em desacordo com determi-
recurso) que o tenha condenado por crime
nação legal ou regulamentar, de plantas que
anterior (art. 63 do Código Penal). Assim,
se constituam em matéria-prima para a pre-
consoante o disposto no art. 28, § 4º, em caso paração de drogas;
de reincidência, as penas de prestação de
serviços à comunidade e comparecimento a III - utiliza local ou bem de qualquer
natureza de que tem a propriedade, pos-
programa ou curso educativo serão aplicadas
se, administração, guarda ou vigilância, ou
pelo prazo máximo de 10 meses. consente que outrem dele se utilize, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em
Tráfico de drogas desacordo com determinação legal ou regu-
lamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
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Conduta: vem representada por 18 verbos Causa de diminuição de pena: nos cri-
(importar, exportar, remeter, preparar, produ- mes previstos no caput e no § 1º, poderá ha-
zir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, ver diminuição de pena de um sexto a dois ter-
oferecer, fornecer, ter em depósito, transpor- ços, vedada a conversão em penas restritivas
tar, trazer consigo, guardar, guardar, prescre- de direitos, se o agente for primário, de bons
ver, ministrar e entregar). Trata-se de tipo pe- antecedentes, não se dedique às atividades
nal misto, em que a prática de mais de uma criminosas nem integre organização criminosa.
conduta não implica concurso de crimes.
Observações:
Objeto material: droga.
a) Incorre nas mesmas penas aquele que importar,
exportar, remeter, produzir, fabricar, adquirir,
Norma penal em branco: consideram-
vender, expor à venda, oferecer, fornecer, ter
-se drogas as substâncias ou os produtos em depósito, transportar, trazer consigo ou
capazes de causar dependência, assim es- guardar matéria-prima, insumo ou produto
pecificados em lei ou relacionados em lis- químico destinado à preparação de drogas.
tas atualizadas periodicamente pelo Poder
b) Aquele que semear, cultivar ou colher plantas
Executivo da União. Assim, cabe ao Ministé- que se constituam em matéria-prima para a
rio da Saúde publicar periodicamente listas preparação de drogas estará sujeito às mesmas
atualizadas sobre as substâncias e produtos penas.
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c) Nas mesmas penas incorre aquele que utilizar de liberdade ser cumprida inicialmente em
local ou bem de qualquer natureza de que te- regime fechado, conforme recente alteração
nha propriedade, posse, administração, guarda introduzida pela Lei nº 11.464/07. Portanto, todo
ou vigilância, ou que consinta que outrem dele o rigor imposto pela Lei dos Crimes Hediondos
se utilize, para a prática de tráfico de drogas. não se coadunava com a substituição da pena
privativa de liberdade por restritivas de direitos
d) Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso in- (denominadas penas alternativas – art. 44 do
devido de drogas sujeita o agente à pena de CP), até porque a Lei de Drogas é especial
detenção de um a três anos e multa de 100 a em relação a esse diploma. Porém, com o HC
300 dias-multa. 97.256, julgado em 1.mai.10, o STF admitiu a
substituição de pena privativa de liberdade por
e) Aquele que oferecer droga, eventualmente e restritivas.
sem objetivo de lucro, a pessoa de seu rela-
cionamento para juntos a consumirem estará i) O processo e o julgamento dos crimes de tráfico
sujeito à pena de detenção de seis meses a de drogas, aparelhagem para a produção de
um ano e ao pagamento de 700 a 1.500 dias- drogas, associação para o tráfico, financiamento
-multa. ou custeio do tráfico e colaboração para o
tráfico caberão à Justiça Federal, como regra
f) Tem-se entendido que a grande quantidade de
(art. 70 da Lei nº 11.343/06), se caracterizado
droga apreendida com o agente, em qualquer
ilícito transnacional. Se o lugar em que tiverem
das hipóteses de conduta previstas no artigo
sido praticados tais crimes não for sede de vara
em comento, embora por si só não seja evi-
federal, serão processados e julgados na da
dência inequívoca de tráfico, contribui para a
circunscrição respectiva.
caracterização do delito. No caso de pequena
quantidade de droga, deve ser analisada a in-
j) O lança-perfume, por conter a substância
tenção do agente, apenas se configurando o
ativa cloreto de etila, substância relacionada
tráfico se for destinada a entrega para consu-
pela Portaria SVS/MS nº. 344, de 12 de maio
mo de terceiros. Nada impede que o traficante
de 1998, é considerado droga, e, portanto,
exerça a mercancia em pequenas quantidades,
proibida sua utilização, comércio, entrega a
ou mesmo que, fisicamente não tenha consigo
consumo de terceiros etc.
nenhuma porção da droga.
g) Erro de proibição é aquele que recai sobre a Aparelhagem para a produção de substân-
ilicitude do fato, excluindo a culpabilidade do cia entorpecente
agente. O agente supõe que inexiste a regra
de proibição. O erro de proibição não exclui o
dolo. Exclui a culpabilidade quando o erro for
escusável. Quando inescusável, a culpabilidade
fica atenuada, reduzindo-se a pena de um
sexto a um terço. Apenas o erro de proibição
escusável afasta a culpabilidade do agente. Já
o erro de proibição inescusável enseja somente
diminuição de pena.
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Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, trans- Forma tentada: admite-se apenas nas mo-
portar, oferecer, vender, distribuir, entregar a dalidades de conduta fabricar, adquirir, ven-
qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, der, fornecer, transportar e distribuir.
ainda que gratuitamente, maquinário, apa-
relho, instrumento ou qualquer objeto desti- Associação para o tráfico
nado à fabricação, preparação, produção ou
transformação de drogas, sem autorização
ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:
Conduta: vem representada por 11 ver- Parágrafo único. Nas mesmas penas do
bos (fabricar, adquirir, utilizar, transportar, caput deste artigo incorre quem se associa
oferecer, vender, distribuir, entregar, possuir, para a prática reiterada do crime definido no
art. 36 desta Lei.
guardar e fornecer). Trata-se de tipo misto
alternativo, em que a prática de mais de uma
Objeto jurídico: a proteção da saúde
conduta não implica concurso de crimes, mas
pública. Secundariamente, a vida e a saúde
a prática de um único delito. de cada cidadão.
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Elemento subjetivo: dolo, além da fina- Objeto jurídico: a proteção da saúde pú-
lidade específica de praticar, reiteradamen- blica. Secundariamente, a vida e a saúde de
te ou não, qualquer dos crimes previstos cada cidadão.
nos arts. 33, caput, e § 1º, e 34 da Lei nº
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
11.343/06.
Sujeito passivo: o Estado e, secundaria-
Consumação: com a efetiva associação,
mente, o consumidor da droga.
independentemente da prática dos delitos
associados. Conduta: vem representada pelos ver-
bos financiar e custear. O financiamento ou
Forma tentada: não se admite. o custeio deve ser da prática dos crimes de
tráfico de drogas e/ou de aparelhagem para
Observação: incorre nas mesmas penas a produção de drogas.
aquele que se associar para a prática reitera-
Elemento subjetivo: dolo.
da do crime de financiamento ou custeio do
tráfico de drogas. Consumação: com o efetivo financia-
mento ou custeio da atividade ilícita.
Financiamento ou custeio do tráfico
de drogas Forma tentada: admite-se.
Colaboração ao tráfico
Fonte: http://gilsonsampaio.blogspot.com.br/2013/02/
o-complo-do-narcotrafico-e-da-cia-na.html.
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Art. 37. Colaborar, como informante, com quebra de sigilo bancário, interceptações te-
grupo, organização ou associação destina- lefônicas, escutas ambientais etc.
dos à prática de qualquer dos crimes previstos
nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Forma tentada: admite-se.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis)
anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 Observações:
(setecentos) dias-multa.
a) Se o informante participar do crime de al-
guma forma, será partícipe ou coautor do
Objeto jurídico: a proteção da saúde pú-
tráfico.
blica. Secundariamente, a vida e a saúde de
cada cidadão. b) Se o informante for funcionário público, es-
tará incurso na causa de aumento de pena
Sujeito ativo: qualquer pessoa. do art. 40, II, da Lei nº 11.343/06. Se o in-
formante, na qualidade de funcionário públi-
Sujeito passivo: o Estado e, secundaria- co (art. 327, CP), solicitar, receber ou aceitar
vantagem indevida para prestar a colabora-
mente, o consumidor da droga.
ção, estará caracterizado o crime de corrup-
ção passiva (art. 317, CP), crime formal, em
Conduta: vem representada pelo verbo concurso material com o do art. 36 da Lei de
“colaborar”. O agente deve colaborar na qua- Drogas.
lidade de informante de grupo, organização
ou associação destinado à prática dos crimes c) A colaboração com traficante individual não
caracteriza o crime em comento, mas, se
previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 da
puder ser considerada ato de participação
Lei nº 11.343/06. no crime de tráfico, o agente “colaborador”
será considerado como partícipe ou coautor.
Elemento subjetivo: dolo.
Prescrição culposa
Consumação: com a efetiva colaboração
como informante, independentemente da prá-
tica de qualquer ato pelo grupo, associação
ou organização criminosa. Ressalte-se que
uma única informação já caracteriza o crime,
por não se tratar de crime habitual.
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Direito Penal Aplicado à Saúde
c) Recuperação total ou parcial do produto do O artigo analisado prevê que deve o juiz,
crime. na fixação da pena, considerar com prepon-
derância sobre as demais circunstâncias do
Por fim, a redução da pena deve ser apli-
art. 59:
cada na sentença condenatória, pois o arti-
go é expresso em determinar “em caso de a) A natureza da substância ou do produto.
condenação”. Portanto, fica vedada, em tese,
antes da condenação, para a obtenção de b) A quantidade da substância ou do produto.
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Direito Penal Aplicado à Saúde
Nos crimes apenados com multa, o legis- Fiança, sursis, graça, indulto, anistia,
lador já incluiu, no preceito secundário da liberdade provisória e penas restritivas
norma, a quantidade mínima e máxima de de direitos
dias-multa.
O art. 44 da Lei nº 11.343/06 estabelece
Na fixação desse número, entretanto, que os crimes previstos em seus arts. 33, ca-
put e § 1º, e 34 a 37 são inafiançáveis e in-
deve o juiz considerar as circunstâncias do
suscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e
art. 42 da Lei de Drogas, ou seja, a natureza
liberdade provisória, vedada a conversão de
e a quantidade da substância ou do produto, suas penas em restritivas de direitos, dando-
a personalidade e a conduta social agente. -se o livramento condicional após o cumpri-
Fixada a quantidade de dias-multa, deve o mento de dois terços dela, vedada sua con-
juiz atribuir valor a cada um. cessão ao reincidente.
Prevê a lei, ainda, que, no caso de con- Aos crimes de tráfico de drogas, aparelha-
curso de crimes, as penas de multa serão gem para a produção de drogas, associação
para o tráfico, financiamento ou custeio do
impostas sempre cumulativamente e que se,
tráfico e colaboração para o tráfico, não ca-
em virtude da situação econômica do acusa-
bem:
do, o juiz considerar a pena de multa inefi-
caz, ainda que aplicada no máximo, poderá a) Fiança.
c) Graça.
d) Indulto.
e) Anistia.
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Direito Penal Aplicado à Saúde
Destaque-se que a pena pelo crime de trá- O art. 45 da Lei nº 11.343/06 estabelece
fico de drogas será cumprida inicialmente em ser isento de pena o agente que, em razão
da dependência ou sob o efeito, provenien-
regime fechado, admitindo-se, portanto, a
te de caso fortuito ou força maior, de droga,
progressão após o cumprimento de dois quin-
era, ao tempo da ação ou omissão, qualquer
tos dela, se o criminoso for primário, ou três
que tenha sido a infração penal praticada,
quintos, se reincidente (art. 2º, §§ 1º e 2º, Lei
inteiramente incapaz de entender o caráter
nº 8.072/90, com a redação que lhe foi dada
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
pela Lei nº 11.464/07).
com esse sentimento. O juiz poderá, na sen-
tença que absolver o agente, reconhecendo,
O livramento condicional somente poderá por força pericial, que este se encontrava ao
ser concedido se o condenado, além de pre- tempo do delito sob as circunstâncias previs-
encher os demais requisitos legais para a ob- tas no caput deste artigo, determinar o seu
tenção do benefício (art. 83, Código Penal), encaminhamento para tratamento médico
tiver cumprido mais de dois terços da pena e adequado.
não for reincidente específico.
A dependência prevista no artigo em co-
mento pode ser definida como a intoxicação
Ressalte-se que a Lei nº 11.343/06, ao re-
crônica por uso repetido de drogas que de-
ferir-se à reincidência específica, restringiu-a
termina doença mental supressora da capa-
aos casos dos crimes previstos em seus arts.
cidade de entendimento e de determinação
33, caput e § 1º, e 34 a 37. no momento do fato criminoso.
Portanto, não pode ser vedado o livramen- É importante destacar que a dependência
to condicional se o condenado for reincidente é diferente do vício. Este se caracteriza pela
em outro crime hediondo ou assemelhado. mera compulsão no uso do entorpecente,
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Semi-imputabilidade
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III- causar poluição hídrica que torne ne- (art. 158 do CPP) para a formação da mate-
cessária a interrupção do abastecimento pú- rialidade.
blico de água de uma comunidade;
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§ 1° Nas mesmas penas incorre quem: lesões à saúde ou à integridade física de se-
res vivos) sem autorização legal.
I - abandona os produtos ou substâncias
referidos no caput ou os utiliza em desacordo
com as normas ambientais ou de segurança. O ilícito presente diferencia-se dos previs-
tos nos arts. 15 e 16 da Lei nº 7.802/89 (Lei
II – manipula, acondiciona, armazena, de Agrotóxicos) por ser específica, prevale-
coleta, transporta, reutiliza, recicla ou dá
cendo sobre o meio ambiente.
destinação final a resíduos perigosos de for-
ma diversa da estabelecida em lei ou regu-
lamento.
Quanto ao § 1º, “abandonar” (largar em
algum lugar) e “utilizar” (fazer uso), o pri-
§ 2° Se o produto ou a substância for nu-
clear ou radioativa, a pena é aumentada de meiro refere-se a lugares inapropriados, em
1/6 ( um sexto) a 1/3 (um terço). razão do perigo que representam, e o segun-
do associa-se às normas de segurança im-
§ 3° Se o crime é culposo: postas por leis e regulamentos (norma penal
em branco), tornando-a criminosa.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1
(um) ano, e multa.
Quanto ao § 2º, refere-se à substância tó-
Objeto jurídico: a proteção ao meio am- xica nuclear (capaz de produzir energia) ou
biente, sendo o objeto material a substância radioativa (capazes de emissão de partículas
tóxica. ou radiações eletromagnéticas).
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Fonte: http://entendeudireito.blogspot.com.br/2011/09/procedimento-ordinario-processo-penal_18.html.
Há um procedimento em regra para os crimes com pena igual ou superior a quatro anos
de privativa de liberdade.
• Oferecimento da denúncia (46 CPP – cinco dias).
Nos termos do art. 401 do CPP, serão arroladas até oito testemunhas pela acusação e pela
defesa. Pelo art. 401, § 1º, do CPP não se compreendem as que não prestam compromisso
e referidas.
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Nota: até oito testemunhas por parte, po- nº 11.900/09, no qual o requerente
rém há julgados permitindo até oito teste- arca com custas do envio).
munhas por fato (TJSP, Apel. 203.161-3, 2ª
Câmara, 1.jun.1998), e não por parte no pro- d) Por hora certa, nos termos dos arts.
cesso. 227 a 229 CPC, se o acusado se
oculta – art. 362, CPP. Nos termos
Caso não seja recebida a denúncia/quei- do parágrafo único desse artigo, se
xa: RESE – art. 581, I, CPP. o acusado não comparecer, ser-lhe-á
nomeado defensor dativo.
• Rejeição da denúncia/queixa – art.
395, CPP, dispositivo que revogou o e) Edital:
art. 43 do CPP.
a. Não encontrado, prazo de 15
dias – art. 361, CPP.
Ocorre se:
b. Art. 366, caput, do CPP quanto
I. For manifestamente inepta.
ao não comparecimento e nem
II. Faltar pressuposto processual constituição de defensor. Ver
ou condição para a ação. súmula 415 do STJ.
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m) Funcionário público pelo chefe – art. Prazo: na audiência de debates, art. 403
221, § 3º, CPP. do CPP. Se não for na audiência, em 10 dias,
segundo o § 3º, com mais 10 no caso do art.
n) Autoridades – art. 221, § 1º, CPP.
800, I e § 3º.
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ceito, fonte ou causa de uma ação (NUCCI, Já quanto ao conceito de infração de me-
2010, p. 62). nor potencial ofensivo, devido à divergência
entre doutrina e jurisprudência, ele foi unifi-
Para Edilson Mougenot Bonfim (2010, p. cado pela Lei nº 11.313/06, sendo a redação
66), tem-se que “princípio é considerar algo do art. 61 da Lei nº 9.099/95: “contravenção
do começo, ou compreender (tomar) o que penal e crime cuja pena máxima cominada
vem primeiro”, já que vem do latim deri- em abstrato seja até dois anos”. Assim, con-
vando de primus, que quer dizer primeiro, clui-se que todas as contravenções são infra-
e cipium, que provém de capio, significando ções penais de menor potencial ofensivo.
considerar.
A Lei nº 9.099/95 veio para delimitar o
conceito de crime de menor potencial ofen-
sivo previsto na Constituição para o âmbito
estadual, sendo na esfera federal o mesmo
tema tratado pela Lei nº 10.259/01, com ex-
ceção de contravenção penal.
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Direito Penal Aplicado à Saúde
em abstrato, não se deve computar eventual Também não serão apreciados pelos Jui-
aumento por circunstância judicial ou agra- zados Especiais crimes de menor potencial
vante (arts. 59, 61 e seguintes, CP). Pelo ofensivo quando praticados em concurso com
mesmo motivo, não há que se computar as outros que estão excluídos de tal competên-
atenuantes (arts. 65 e 66, CP), isso pelo fato cia. São os chamados “crimes conexos”, em
de circunstância judiciais, atenuantes e agra- que a competência é determinada pelo juízo
vantes não terem força para ultrapassarem a competente para processar e julgar o crime
pena mínima e máxima. mais grave (art. 78, CPP). A exceção está no
art. 79 do Código de Processo Penal, que tra-
Quanto ao concurso de crimes, se o agen-
ta da ocorrência de separação obrigatória de
te praticar dois ou mais em concurso, será
processos. Com a alteração sofrida pela Lei
considerada a soma das penas como limite
nº 9.099/95 em função da Lei nº 11.313/06,
para a competência do Juizado Especial Cri-
traz o art. 60, § único, da Lei dos Juizados
minal (ANDREUCCI, 2011, p. 446). Se a pena
Especiais: “Na reunião de processos, perante
ultrapassar o montante de dois anos, afasta-
o juízo comum ou o tribunal do júri, decor-
-se a competência dos Juizados Especiais, e,
rentes da aplicação das regras de conexão e
por consequência, o procedimento previsto
continência, observar-se-ão os institutos da
nela.
transação penal e da composição dos danos
Note-se que existem súmulas dos órgãos civis”.
superiores que versam sobre o tema ao ex-
Já em benefício do agente, prevê a Sú-
cluírem benefícios previstos na lei. Quanto ao
mula 337 do STJ que “é cabível a suspensão
sursis processual, a Súmula 243 do Superior
condicional do processo na desclassificação
Tribunal de Justiça dispõe:
do crime e na procedência parcial da preten-
O benefício da suspensão do proces- são punitiva”. Da mesma forma, o art. 383,
so não é aplicável em relação às infrações § 1º, do CPP admite a proposta da suspen-
penais cometidas em concurso material, são condicional do processo quando ocorrer
concurso formal ou continuidade delitiva
emendatio libelli.
quando a pena mínima cominada, seja pelo
somatório, seja pela incidência majorante,
Conforme Ada Pellegrini Grinover et al.
ultrapassar o limite de 1 (um) ano.
(2005, p. 79), no que concerne aos crimes
Já o Supremo Tribunal Federal, na Súmu- continuados e em concurso formal, não se
la 723, traduz: “Não se admite a suspensão deve considerar o acréscimo, mas somente
condicional do processo por crime continua- o tempo de pena previsto para cada ilícito
do, se a soma da pena mínima da infração isoladamente, sendo que a mesma solução
mais grave com o aumento mínimo de um pode ser aplicada à suspensão condicional
sexto for superior a um ano”. do processo.
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Direito Penal Aplicado à Saúde
Essa lei não cuidou de nenhum processo 2. Na Lei Maria da Penha (Lei nº
de descriminalização, isto é, não retirou o 11.340/06), no art. 41, expressamen-
caráter ilícito de nenhuma infração penal. te é afastada a aplicação da Lei nº
Mas disciplinou, isso sim, quatro medidas 9.099/95.
despenalizadoras (que são medidas penais
3. O art. 28 da Lei de Drogas (Lei nº
ou processuais alternativas que procuram
11.343/06) expressamente admite o
evitar a pena de prisão):
JECRIM (Juizado Especial Criminal) e a
1ª) Nas infrações de menor potencial transação penal.
ofensivo de iniciativa privada ou pú-
4.
No Estatuto do Idoso (Lei nº
blica condicionada, havendo a com-
posição civil, resulta extinta a punibi- 10.741/03), o art. 94 determina a apli-
lidade (art. 74 § único). cação do procedimento sumaríssimo
aos crimes nele previstos cuja pena
2ª) Não havendo composição civil ou tra- máxima seja de até quatro anos, em
tando-se de ação pública incondicio- razão de sua maior celeridade.
nada, a lei prevê a aplicação imediata
de pena alternativa (restritiva ou mul- 5. Não se admite no JECRIM citação por
ta) (transação penal, art. 76). edital. Se o réu estiver em local incerto
ou não sabido, os autos serão encami-
3ª) As lesões corporais culposas ou leves nhados ao Juízo comum.
passaram a exigir representação da
vítima (art. 88). 6. Em se tratando de continência ou
conexão com crime comum, a Lei
4ª) Os crimes cuja pena mínima não seja nº 9.099/95, alterada pela Lei nº
superior a um ano permitem a sus- 11.313/2006, determina que os autos
pensão condicional do processo (art. sejam encaminhados ao juízo comum.
89).
7. Os ilícitos tratados pela Lei nº 9.099/95
Vale ressaltar que a referida lei é aplicada não admitem prisão preventiva, ainda
tanto para crime como para contravenção, que se fale na necessidade de garan-
diante da pena imposta, independente de ser tia da ordem pública ou da ordem eco-
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Direito Penal Aplicado à Saúde
Não será lavrado auto de prisão em fla- A composição civil de danos é um “acor-
grante em duas hipóteses: se o agente for do” entre o autor do fato e a vítima, a qual
imediatamente encaminhado ao Juizado ou posteriormente, homologada pelo juiz, se
se assumir o compromisso de comparecer a transformará em um título executivo judicial,
ele na data marcada. Trata-se de um direto transformando a punição em dívida de valor,
público subjetivo do autuado. como entende Grinover (2012, p. 121): “A
homologação do acordo civil pelo juiz con-
O benefício de responder ao processo em figura sentença à qual a lei confere eficácia
liberdade, mesmo no caso de flagrante, é o de título executivo judicial”. Ainda, havendo a
incentivo que a lei oferece para o compare- composição dos danos, estará extinta a puni-
cimento do autuado ao juízo. Trata-se de um bilidade do agente.
direito público subjetivo do autuado, que não
pode ser negado pela autoridade competen- Não havendo composição dos danos entre
te (GRINOVER, 2002, p. 102-3). autor dos fatos e vítima na ação pública con-
dicionada, ou tratando-se de ação pública
O art. 28 da Lei de Drogas prevê que não incondicionada, será possível outro instituto
se lavra auto de prisão em flagrante em ne- benéfico, a transação penal, entendido como
nhuma hipótese, por não mais haver previ- uma mitigação do princípio da obrigatorieda-
são de pena de prisão. de da ação penal, cuja aceite pelo autor dos
53
Direito Penal Aplicado à Saúde
fatos provocará sentença de caráter homolo- Em síntese, tratando-se de ação penal pú-
gatório. blica incondicionada, ou havendo represen-
tação na condicionada, e não sendo o caso
Deve ser levado em consideração que a de arquivamento, o Ministério Público propo-
sentença não poderá ser classificada como rá a transação penal, aplicando-se, de plano,
absolutória, uma vez que é imposta uma pena restritiva de direitos ou multa que será
sanção de natureza penal. especificada na proposta. É o que estabelece
o art. 76 da Lei nº 9.099/95 em seu caput.
Mas também não poderá ser considerada
condenatória, uma vez que não houve acu- Se o autor dos fatos preencher os requi-
sação, e a aceitação da imposição da pena sitos estabelecidos, a oferta de transacionar
não tem consequências no campo criminal deverá ser, e não poderá ser, proposta pelo
(salvo para impedir novo beneficio no prazo órgão ministerial. Fernando da Costa Touri-
de cinco anos, conforme art. 76 da Lei nº nho Neto e Joel Dias Figueira Júnior (2011,
9.099/95). p. 630) afirmam que “estamos diante de um
poder-dever”.
A transação proposta pelo Ministério Públi-
co, nos termos do art. 76, precisa de alguns Fernando da Costa Tourinho Filho (2011,
requisitos: p. 135-6) firma como deve ser feita a pro-
posta. Segundo seus escritos, o membro do
1. A ação deve ser pública incondicio- Parquet, ao formular a proposta, deve proce-
nada ou, se for condicionada, deve der de maneira clara e bem especificada, de
estar presente a representação. modo a não gerar a menor dúvida sobre ela.
“Se se tratar de multa, torna-se necessária a
2. Não ter sido caso de arquivamento. indicação do seu valor. Se medida restritiva
de direito, dizer qual delas.”
3. Não ter sido o agente condenado por
crime com pena privativa de liberda- No que se refere às penas restritivas de
de. direitos, elas serão propostas dentro do que
estabelece o art. 43 do CP:
4. Suficiência da medida, observadas as
Art. 43. As penas restritivas de direitos
circunstâncias judiciais do art. 59 do
são:
Código Penal Brasileiro, devendo ser
adequada a aplicação da medida. I - prestação pecuniária;
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Direito Penal Aplicado à Saúde
Art. 89. Nos crimes em que a pena mí- Já que a decisão do juiz que decreta a
nima cominada for igual ou inferior a um suspensão do processo não julga o mérito
ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Mi-
(não absolve ou condena, nem julga extinta
nistério Público, ao oferecer a denúncia, po-
derá propor a suspensão do processo, por
a punibilidade), não há de se falar sentença.
dois a quatro anos, desde que o acusado Trata-se, então, de uma decisão interlocutó-
não esteja sendo processado ou não tenha ria (decisão que não encerra o processo).
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Direito Penal Aplicado à Saúde
Observa-se no art. 89 da Lei nº 9.099/95 nas lesões corporais culposas e leves (art.
um período de provas, no qual são impostas 88) e a suspensão condicional do processo
condições, que podem ser legais, previstas (art. 89). Estes últimos gozam de autonomia
no § 1º, ou judiciais, previstas no § 2,º que frente aos juizados.
são as fixadas pelo juiz, no caso concreto,
desde que adequadas: Serão aplicados também neles, não há
duvida, mas, em virtude dessa autonomia, é
Art. 89 § 1º Aceita a proposta pelo acusa- evidente que serão aplicados pelos juízos co-
do e seu defensor, na presença do Juiz, este, muns, desde logo. Não são institutos neces-
recebendo a denúncia, poderá suspender o
sariamente atrelados aos juizados (GOMES,
processo, submetendo o acusado a período
de prova, sob as seguintes condições:
1997, p. 194).
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Direito Penal Aplicado à Saúde
BETTIOL, Giuseppe. Direito penal. São FONSECA, César da. Direito Penal do
Paulo: RT, 1996. Consumidor: Código de Defesa do Con-
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Direito Penal Aplicado à Saúde
KARAM, Maria Lúcia. Juizados Especiais REALE Júnior, Miguel. Pena sem proces-
Criminais: a concretização antecipada so. In: FERREIRA, Ivete Senise et al. Juiza-
do poder de punir. São Paulo: Revista dos dos Especiais Criminais: interpretação
Tribunais, 2004. e crítica. São Paulo: Malheiros, 1997.
58
Direito Penal Aplicado à Saúde
estaduais. Tomo II. 7ª ed. rev. e atual. São ________. A pessoa humana como
Paulo: Saraiva, 2009. Coleção Sinopses Jurí- centro do sistema punitivo. Boletim IBC-
dicas, 15. CRIM, São Paulo, v. 7, fasc. 86, jan.2000.
59