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Nome Aula

Direito Penal Aplicado à Saúde


Professor: Edilson Freire da Silva

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Direito Penal Aplicado à Saúde

Crimes contra a saúde pública 3

Noções gerais 3
SUMÁRIO

Dos crimes contra a saúde pública 14

Espécies de ritos processuais 44

Referências bibliográficas 57

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volvidos para que a liberdade de cada um


Crimes contra a saúde pública não ultrapasse os próprios limites.

O presente escrito tem como condão tra-


A Constituição Federal estabelece, no art.
zer discussões que envolvam os crimes re-
173, § 4º: “A lei reprimirá o abuso do poder
lacionados à saúde pública, cumprindo escla-
econômico que vise à dominação dos merca-
recer que o presente material não esgota a
dos, à eliminação da concorrência e ao au-
matéria, nem tampouco é esse o intuito, sen-
mento arbitrário dos lucros”.
do necessária a utilização contínua da legis-
lação, da doutrina e da jurisprudência. O Direito Penal tem por objetivo a análise
e o estudo de toda forma de proteção dos
Para uma melhor compreensão, procurou-
bens jurídicos relevantes, incluindo os imate-
-se dividir o presente escrito em três partes,
riais, supraindividuais e difusos.
sendo a primeira uma espécie de parte geral,
em que se desenvolvem regras básicas de Os crimes contra a saúde pública represen-
Direito Penal para entendimento de um ilíci- tam uma forma de ofensa aos cidadãos e me-
to penal e suas penas, uma segunda parte recem repressão pelo Estado por intermédio
entendida como especial, em que se comen- de um conjunto de normas em torno das infra-
tam os crimes propriamente ditos constantes ções cometidas, o que tem significado de na-
do Código Penal e da Lei de Drogas (Lei nº tural reação social contra o abuso exercido por
11.343/06) e dois previstos na Lei do Meio uma das partes da relação social sobre a outra,
Ambiente (Lei nº 9.605/98), havendo por úl- ainda que de forma subsidiária, em caso de
timo a compreensão do procedimento pro- não haver outro meio de se coibir esse abuso.
cessual penal que incidirá nos crimes contra
a saúde pública. Noções gerais
Se levarmos em conta que o próprio Es- Distinção entre crime e contravenção
tado deve manter a população de seu país
de forma saudável, ao mesmo tempo deverá Tratando-se de Direito Penal relacionado
regular a responsabilidade de todos os en- aos crimes de consumo, cumpre diferenciar

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uma conduta criminosa de outra prevista Para traduzir se é grave ou não a condu-
como contravencional, pois não são raras as ta de um cidadão e a forma mais ou menos
vezes em que se indaga tal diferenciação, severa em que o Estado imporá a pena, o le-
ainda que não haja ilícito de contravenção gislador federal prevê anteriormente em lei a
penal quando se fala da relação de consu- prática dessa conduta, e pela pena saber-se-
midor e fornecedor. A diferença recai na es- -á se o ilícito é grave ou não. Se o ilícito for
pécie de sanção (pena) atribuída, que será apenado com reclusão, isso significa que é
mais ou menos severa, dando o contorno de grave; se for com detenção, é de média gra-
maior ou menor gravidade da conduta. vidade; e, se for com prisão simples, significa
que trata-se de ilícito de menor gravidade.

Conceito de crime

A própria lei diferencia o crime (ou delito)


da contravenção de acordo com a espécie
de pena. Por ser uma conduta ilícita, porém O crime, embora não seja trazido na lei,
menos ofensiva à sociedade, a contravenção é conceituado pela doutrina sob o aspecto
penal é chamada geralmente de crime-anão, material, formal e analítico.
o que tem significado de ilícito de menor gra-
vidade. O aspecto material refere-se à essência do
conceito, o porquê de determinada conduta
Conforme o art. 1º do Decreto-Lei nº ser considerada crime ou não, isto é, o que
3.914/41 (Lei de Introdução ao Código Pe- determinada sociedade, em determinado
nal), será ao crime atribuída pena de re- momento, considera que deva ser proibido
clusão, detenção e/ou multa, enquanto na pela lei penal. Nos ensinamentos de Luiz Re-
contravenção será imposta pena de prisão gis Prado (1997), “é todo fato humano que,
simples e/ou multa. A espécie (reclusão, de- propositada ou descuidadamente, lesa ou
tenção ou prisão simples) tem influência di- expõe a perigo bens jurídicos relevantes para
reta no regime em que será executada even- a existência da coletividade e da paz social”.
tual pena imposta, já que reclusão inicia o
cumprimento em regime fechado, isto é, pe- Já o conceito formal refere-se ao manda-
nitenciária, enquanto as demais, não. mento, à conduta prevista em lei, o que esta

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incrimina, fixando sua abrangência como 128 (praticar aborto se não houver outro meio
uma função de garantia, nos termos do art. de salvar a vida da gestante) e 142 (ofensa
5º, XXXIX, da CF/88, em que se encontra a irrogada em juízo) do CP, entre outros.
expressão “não há crime sem lei anterior que
o defina, nem pena sem prévia cominação As causas que excluem a antijuridicidade
legal”, da mesma forma que no art. 1º do são conhecidas como excludentes de crimi-
Código Penal. nalidade, excludentes da antijuridicidade,
causas justificativas, excludentes de ilicitude,
O conceito analítico é a limitação da abran-
eximentes ou descriminantes. São normas
gência do tipo penal, dividindo o todo em
permissivas, também chamadas tipos per-
partes, em fato típico e antijurídico, sendo a
missivos, que permitem a prática de um fato
culpabilidade o pressuposto de aplicação da
típico.
pena.

O fato típico é composto de quatro ele- A culpabilidade não faz parte do conceito
mentos: de crime, mas é um elemento que condiciona
a aplicação da pena. É a reprovação ao agen-
a) Conduta (ação/omissão): somente o com- te pela contradição entre sua vontade e a
portamento humano positivo (ação, um fa-
zer) ou negativo (omissão, um não fazer o
vontade da lei. Após ter-se a fundamentada
que era preciso) pode ser considerado cri- decisão judicial de que o autor praticou crime,
me. O Direito Penal não pune a mera inten- isto é, fato típico e ilícito, passa-se à análise
ção.
das condições em que o crime foi praticado,
b) Resultado (nos crimes materiais): modifica- examinando-se o preenchimento dos requisi-
ção do mundo exterior provocada pela con- tos para imposição de pena ou, dependendo
duta. das condições em que o fato foi praticado, de
c) Nexo causal (nos crimes materiais): é o elo medida de segurança para quem não tinha o
de ligação entre conduta do agente e resul- devido discernimento mental.
tado, por meio do qual é possível dizer se
aquela deu ou não causa a este. São elementos da culpabilidade:

d) Tipicidade: quando a conduta estiver defini- a) Imputabilidade: capacidade de entender


da por lei como crime, segundo o princípio o caráter ilícito do fato e de determinar-se
da reserva legal (art. 1º, CP; art. 5º,XXXIX,
de acordo em esse entendimento. O Có-
CF/88).
digo não define quem é imputável, isto é,
responsável, que será apenado, mas sim o
É antijurídico (ilicitude) o comportamento
inimputável ou semi-imputável, como nos
quando for contrário à ordem jurídica como casos de doença mental, menoridade e em-
um todo, pois, além das causas expressas briaguez completa proveniente de caso for-
que excluem a antijuridicidade (art. 23, CP), tuito ou força maior, conforme arts. 26, 27 e
há outras implícitas (supralegais), como art. 28, II, do CP.

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b) Potencial consciência da ilicitude: con- local do ilícito etc. Também não são
dições de perceber a ilicitude. Ex.: erro de punidos desde que não sejam tipos
proibição, art. 21 do CP.
penais autônomos como petrechos
c) Inexigibilidade de conduta diversa: possi- para falsificação de moeda (art. 291),
bilidade de se exigir ou não, nas circunstân- que seria ato preparatório do crime de
cias em que ocorreu o fato, que se tivesse moeda falsa (art. 289) etc.
outro comportamento. Caso não se possa
exigir outra conduta que não tenha sido a
praticada pelo agente, ainda que ilícita, este • Atos de execução: são os dirigidos
estará isento de punição, pois foi coagido a diretamente para a prática do crime,
agir daquela forma, não teve outra opção. isto é, quando o agente pratica con-
O instituto é extraído do art. 22 do Código
duta que se encaixa diretamente no
Penal, além de causas supralegais.
verbo do tipo penal; seria o ataque ao
Iter criminis bem jurídico ou o início da realização
do tipo, ingressando no núcleo deste.

• Consumação: nos termos do art. 14,


I, do CP, quando se reúnem todos os
elementos da definição legal, isto é,
quando se preenche toda a conduta
descrita no tipo penal.

Nos termos do art. 31 do CP, salvo dispo-


sição em contrário, o agente só passa a ter
punição quando ingressa nos atos de execu-
É o instituto em que se analisa desde o
ção do delito.
momento que o agente pensa, idealiza a prá-
tica criminosa até o total preenchimento da Requisitos dos tipos penais
descrição típica.
I) Objeto do crime:
Cogitação: refere-se ao momento em que
se pensa na prática do crime. Isoladamente, a) Objeto: representa tudo o que será atingi-
não constituindo um crime (ameaça, incitação do com a conduta criminosa praticada.

ao crime, quadrilha ou bando), não é punida.


b) Objeto jurídico: é o bem (aquilo que satis-
faz necessidade humana) ou interesse (va-
• Atos preparatórios: reflete o mo- lor que tem o bem) tutelado pela lei penal.
mento em que o agente sai da fase Ex.: vida, patrimônio.
das ideias para concretizar no plano
externo seu intento de forma objetiva, c) Objeto material: representa aquilo em que
recairá a conduta ilícita. Ex.: pessoa no crime
como adquirindo a arma, estudando o
de homicídio; coisa no crime de roubo.

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II) Sujeito ativo: aquele que pratica o crime. Crime de perigo: é aquele que será con-
Abrange tanto quem pratica o núcleo do sumado com a simples criação do perigo para
tipo como quem colabora de alguma forma
o bem jurídico tutelado, sem necessidade de
na conduta típica.
efetivo dano. Divide-se em:
III) Sujeito passivo: é a vítima do ilícito.
a) Perigo concreto: ilícito no qual é necessá-
ria a demonstração do efetivo perigo.
IV) Tipo subjetivo: é a análise do dolo e da cul-
pa para preenchimento do tipo penal. b) Perigo abstrato: ilícito no qual o perigo é
presumido, não precisa ser provada a situa-
V) Tipo objetivo: é a forma de se praticar o ção, pois a prática da conduta já é presumi-
ilícito, a descrição típica, os elementos cons- damente perigosa.
tantes do tipo penal. Ex: matar, falsificar, sub-
trair etc. Crimes materiais: são aqueles em que
a lei exige a efetiva ocorrência do resultado
Classificação de crimes natural para a consumação do ilícito. Exem-
plo: no homicídio, a ação é matar, e o resul-
tado é a morte.

Crimes formais: são aqueles em que a


lei não exige a efetiva ocorrência do resulta-
do para a consumação. Exemplo:

a) A calúnia, que se consuma com o conhe-


cimento da ofensa por parte de terceiros,
independentemente da efetiva ofensa à re-
putação da vítima.

b) A extorsão mediante sequestro, que inde-


pende da obtenção da vantagem indevida.
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_O8hXd6Gq41o/S_
RxJ5Amq5I/AAAAAAAAAO8/YodWPHcjV3A/ Crimes de mera conduta: são aqueles
s1600/logoa_lei_e_o_crime_640_01.jpg.
em que no tipo penal só há a descrição da
conduta, não havendo qualquer resultado
Embora não se aplique nos crimes relacio-
natural, de modo que se consumam com a
nados ao consumo toda a classificação dos
mera conduta. Exemplo: violação de domicí-
crimes, ela ficará consignada para compreen- lio, prática de ato obsceno etc.
são.
Crime exaurido (ou esgotado): é aque-
Crime de dano: é aquele para cuja consu- le que já está consumado, ainda que se te-
mação se exige a efetiva lesão do bem jurídico nha desdobramentos posteriores que não
tutelado. Em caso de ausência dela, o crime mais alteram o fato típico. Ex: a obtenção
será tentado ou será um indiferente penal. da vantagem ilícita é apenas o exaurimen-

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to do crime de sequestro (art. 159, CP). O depende da vontade do sujeito ativo fazer
fato posterior serve apenas para alteração cessar. Ex.: sequestro.
da pena. Em outras palavras, o crime do art.
159 do CP consuma-se com o sequestro da Crimes dolosos: são aqueles em que o
vítima. A obtenção eventual do resgate é agente desejou praticar o fato criminoso ou
mero exaurimento de um crime que já esta- assumiu o risco para tal (art. 18, I, CP).
va consumado.
Crimes culposos: são aqueles praticados
Crime complexo: é aquele que contém pelo agente por negligência, imprudência ou
em si duas ou mais figuras penais. Exemplo: imperícia (art. 18, II, CP).
o crime de roubo é composto por furto mais
ameaça ou violência à pessoa.

Crimes simples: são as formas básicas


dos delitos. Ex: art. 121, caput, CP (homicí-
dio simples).

Crimes qualificados: são aqueles em


que a lei acrescenta alguma circunstância ao
tipo básico para elevar a pena, alterando a
pena mínima e a máxima em relação ao ca- Crimes preterintencionais (ou preter-
put. Exemplo: art. 121, § 2º, CP (homicídio dolosos): são aqueles em que há dolo no
qualificado) em que a pena é alterada para antecedente e culpa no consequente. Exem-
tornar o crime mais grave. plo: “A” dá um soco em “B” com a intenção
de causar-lhe lesões corporais. “B”, no en-
Crimes privilegiados: são aqueles em tanto, cai e bate a cabeça, vindo a falecer.
que o acréscimo ao tipo básico serve para O agente será punido pela conduta dolosa
diminuir a pena. Exemplo: art. 121, § 1º, CP (lesão) e pelo resultado culposo morte (art.
(homicídio privilegiado). 129, § 3º, CP).

Crimes instantâneos: são aqueles que, Crimes comissivos: são aqueles que re-
realizados os seus elementos, nada mais se querem comportamento positivo (ação) do
poderá fazer para impedir sua ocorrência, in- agente visando ao ilícito. Exemplo: matar ou
dependentemente da vontade do agente. O ferir alguém, furtar algo etc.
crime esgota-se com a ocorrência do resulta-
do, cuja consumação não tem continuidade Crimes omissivos próprios (ou pu-
no tempo. ros): são aqueles praticados mediante o não
fazer o que a lei manda (comportamento ne-
Crimes permanentes: são aqueles cuja gativo), sem dependência de qualquer resul-
consumação se prolonga no tempo, em que tado. Exemplo: omissão de socorro.

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Crimes comissivos por omissão (ou dalidade de conduta, expresso pelo núcleo
omissivos impróprios): são aqueles em do tipo. Ex.: matar, subtrair.
que o agente, por deixar de fazer o que es-
tava obrigado, causa o resultado. Além da Crimes de ação múltipla (ou de con-
teúdo variado): referem-se aos tipos al-
obrigação de agir, tem a de evitar o resulta-
ternativos ou mistos, em que se descrevem
do. Exemplos: a mãe que deixa de alimentar
o recém-nascido, causando-lhe a morte; oduas ou mais condutas, perfazendo-se o cri-
enfermeiro que não administra ao paciente o
me com a realização de qualquer delas. O
remédio prescrito, dando causa à sua morte.
crime será um só, embora praticadas duas
ou mais ações. Exemplo: induzimento, insti-
Crimes comuns: são aqueles praticados
gação ou auxílio ao suicídio (art. 122 do CP).
por qualquer pessoa.

Crimes próprios: são os que exigem do


agente uma determinada qualidade ou con-
dição pessoal, como a de mãe no infanticídio
ou a de funcionário público no peculato. Po-
dem ser praticados por intermédio de outras
pessoas.

Crimes unissubjetivos: são aqueles que


podem ser praticados por um único agente.

Crimes plurissubjetivos: são os de con-


curso necessário de agentes, para os quais
se exigem duas ou mais pessoas. Exemplos:
crime de formação de quadrilha ou bando
Crimes de mão própria: são os que não (paralela); bigamia (convergente); rixa (di-
exigem qualquer qualidade ou condição pes- vergente).
soal, porém só podem ser praticados pesso-
almente pelo agente. Exemplo: crime de fal- Crime progressivo: é aquele cujas eta-
so testemunho. Não admitem coautoria. Há, pas anteriores também constituem crime.
contudo, quem entenda possível a coautoria Exemplo: caso de homicídio com relação a
nesses casos (RT 641/386), corrente majori- lesões corporais, que são absorvidas.
tária.
Crimes vagos: são aqueles em que o su-
Crimes de ação única: são aqueles em jeito passivo é uma coletividade sem perso-
que o tipo penal contém somente uma mo- nalidade jurídica, como a família, o público

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ou a sociedade. Exemplo: ato obsceno (art. crime. Exemplos: crime de exercício ilegal da
233, CP). medicina; crime de casa de prostituição etc.

Crimes unissubsistentes: são os que, na Crime falho: é aquele que corresponde


prática, costumam ser realizados com um só ao crime tentado perfeito, em que o agente
ato. O processo de execução não admite fra- pratica todos os atos necessários para o re-
cionamento, coincidindo temporalmente com sultado, mas este acaba não ocorrendo por
a consumação, sendo, no entanto, impossível circunstância alheia à sua vontade.
a forma tentada. Exemplo: injúria verbal (art.
140, CP). Existem ainda outras classificações no pró-
prio Código Penal, como crime impossível,
Crimes plurissubsistentes: são os que continuado, consumado, tentado etc.
costumam realizar-se por meio de vários atos.
A execução desdobra-se em atos sucessivos, Das penas
em que a ação e o resultado típico separam-
-se no tempo, como no caso dos crimes ma-
teriais. Exemplo: crime de redução a condição
análoga à de escravo (art. 149, CP, com as
alterações da Lei nº 10.803/03).

Crime de flagrante provocado: ocorre


quando o agente é levado à ação por instiga-
ção de alguém que, ao mesmo tempo, toma
todas as medidas para evitar a consumação
do delito, com a prisão em flagrante do agen-
te. Observação: “Não há crime quando a pre-
paração do flagrante pela polícia torna impos-
sível sua consumação” (Súmula 145, STF).
Fonte: http://blogdoflavionassar.blogspot.com.
Crimes hediondos: são considerados as- br/2011/05/cruz-e-as-algemas-metamorfoses.html.
sim os crimes previstos na Lei nº 8.072/90,
reputados como horrendos, gravíssimos. Pena é tida como a imposição da perda ou
da diminuição de um bem jurídico, previs-
Crimes habituais: são aqueles constituí- ta em lei e aplicada pelo órgão judiciário, a
dos por uma reiteração de atos, penalmente quem praticou ilícito penal.
indiferentes, mas que, em conjunto, consti-
tuem um todo, um único crime, traduzindo Nos termos do Código Penal, em seu art.
geralmente um modo ou estilo de vida. Em- 32, são espécies de penas:
bora a prática de um único ato não seja típica,
a) Privativas de liberdade.
o conjunto, com habitualidade, configurará o

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b) Restritivas de direitos. Não obstante as espécies anteriores, tem-


se ainda os regimes de cumprimento de
c) De multa (pecuniárias).
pena, que também são três:

Penas privativas de liberdade I) Regime fechado – cumprimento de pena em


estabelecimento de segurança máxima ou
As penas privativas de liberdade estão média (entre muralhas).
previstas nos arts. 33 a 42 do CP.
II) Regime semiaberto – cumprimento em colô-
nia agrícola, industrial ou similar (entre mu-
ros ou cercas), na qual o reeducando retoma
o gosto pela vida e cultiva os benefícios da
convivência em sociedade.

III) Regime aberto – cumprimento da pena em


casa do albergado ou estabelecimento ade-
quado (art. 97, Lei nº 7.210/84), sendo que,
na falta, poderá ser imposta prisão domiciliar
(art. 117, Lei nº 7.210/84).

Em caso de eventual condenação, a pena


prevista e imposta se refletirá no regime pri-
sional. Se o crime for apenado com reclusão,
Fonte: http://www.justocantins.com.br/luiz- caberá qualquer regime para cumprimento
flavio-gomes-13424-condenado-ao-regime-
inicial da pena.
semiaberto-nao-pode-ficar-no-fechado.html.

Porém, caso seja apenado com detenção


São as mais utilizadas nas legislações mo-
ou prisão simples, o regime inicial será sem-
dernas, apesar da falência do sistema prisio-
pre o semiaberto ou o aberto, jamais o fe-
nal. São divididas em prisão perpétua e tem-
chado.
porária, sendo no Brasil vedada a perpétua
pelo art. 5º, XLVII, b, da CF/88. Ainda é forçoso salientar que o quantum
da pena também se refletirá no regime a
A pena privativa de liberdade é dividida em cumprir, nos termos do art. 33 do Código Pe-
três espécies, em razão da gravidade do ilícito: nal.

1) Reclusão, cabível nos delitos mais graves. Caso a condenação seja igual ou inferior a
quatro anos e o condenado seja primário, o
2) Detenção, cabível nos ilícitos de média gra-
vidade.
regime será o aberto.

3) Prisão simples, cabível nos ilícitos de menor Tratando-se de condenação superior a


gravidade, como contravenções penais (De- quatro anos e que não exceda a oito, poderá
creto-Lei nº 3.688/41). iniciar-se em regime semiaberto desde que o

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agente seja primário. Condenado com pena Trata-se de diminuição de pena pelo tra-
superior a oito anos, o regime inicial será balho ou pelo estudo. A contagem é feita
obrigatoriamente fechado. (art. 126, Lei nº 7.210/84) à razão de um dia
de pena por três de trabalho ou 12 horas de
• Progressão e regressão de regime estudo divididas três dias.
prisional
Depende de declaração do juiz, ouvido
previamente o MP (art. 66, Lei nº 7.210/84).

• Detração (art. 42, CP)

Refere-se ao cômputo de toda a prisão


provisória na pena privativa de liberdade ou
medida de segurança.

Penas restritivas de direitos

Fonte: http://www.folhavitoria.com.br/policia/
noticia/2010/05/espirito-santo-e-o-campeao-na-oferta-de-
vagas-de-empregos-para-detentos-e-ex-detentos.html.

A legislação adota o sistema progressivo,


tendo em conta o mérito do condenado (art.
33, § 2º, CP). É a possibilidade da transfe-
rência do reeducando ao regime menos ri-
goroso, após cumprido um sexto da pena do
regime anterior (art. 33, § 2º, CP, e art. 112, Nos termos do art. 5º, XLVI, da CF/88, a
Lei nº 7.210/84) e pelo seu mérito, atestado prisão deve ser imposta em último caso, de-
pelo diretor da unidade prisional. Tratando- vendo, sempre que possível, serem aplicadas
-se de crime hediondo, o tempo de pena a penas substitutivas. Estas estão disciplinadas
cumprir é maior, conforme art. 2º, § 2º, Lei nos arts. 43 a 48 do Código Penal e sem-
nº 8.072/90. pre substituem a pena de prisão, nunca são
cumuladas.
Institui-se também a regressão, que é a
transferência para regime mais rigoroso (art. São aplicadas no momento da sentença de
33, § 2º, CP, e art. 118, Lei nº 7.210/84) eventual condenação, após fixada a pena pri-
quando há prática de crime doloso ou falta vativa de liberdade e preenchidos os requisi-
grave (art. 50, Lei nº 7.210/84). tos legais previstos no art. 44 do CP. Caso
haja descumprimento injustificado, haverá
• Remição conversão em prisão.

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Chamamos a atenção para essa espécie Essa pena é intransmissível, isto é, cabe
de pena, uma vez que nos crimes relaciona- somente ao condenado, não se transmite
dos ao consumo a conduta do agente não aos seus herdeiros (art. 5º, XLV, CF/88).
envolverá violência ou grave ameaça à pes-
soa, bem como, salvo concurso de crimes, a Fixam-se os dias-multa primeiro determi-
pena geralmente imposta não será superior nando o número de dias, entre o mínimo de
a quatro anos. Assim, sendo o réu primário e 10 e o máximo de 360, atendendo-se à maior
recomendável, é a pena, em tese, mais uti- ou menor gravidade do crime.
lizada.
Após, fixa-se o valor de cada um desses
Pena de multa dias-multa, cujo valor não será inferior a
1/30 do salário mínimo e nem superior a cin-
co vezes o maior salário mínimo vigente.

Cumpre lembrar que cada lei especial po-


derá tratar os valores e os dias-multa de for-
ma diferente, o que prevalecerá sobre o CP,
lei geral, conforme seu art. 12.

Da aplicação da pena

Fonte: http://derecho.laguia2000.com/
derecho-penal/pena-de-multa.

É a terceira das espécies de sanções que o


Emprego do sistema trifásico para aplica-
art. 32 prevê, sendo disciplinada como regra
ção da pena: em seu art. 68, o CP acolheu a
nos arts. 49 a 52 do Código Penal.
posição de Nelson Hungria, que sustentava
Consiste na imposição ao condenado de que o processo individualizador da pena de-
obrigação de pagar determinada quantia em veria desdobrar-se em três etapas:
dinheiro, calculada na forma de dias-multa, a) O juiz fixa a pena de acordo com as circuns-
atingindo o patrimônio dele. tâncias judiciais (art. 59, CP).

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b) Atenuantes e agravantes. tipos penais citados serão objeto de estudo


no presente escrito.
c) Diminuição e aumento de pena.

Não obstante, para informação, na Lei de


É imposição que decorre da norma consti-
Contravenções Penais, a emissão de fumaça,
tucional da individualização da pena (art. 5º,
vapor ou gás, classificada na categoria geral
XLVI, CF/88).
das contravenções referentes a incolumidade
Alberto Silva Franco (2000) sustenta que pública (art. 38 do Decreto-Lei nº 3.688/41),
há uma quarta fase, consistente na operação é a única que mais especificamente protege
de substituição da pena privativa de liberdade a saúde pública, embora seja discutível, em
pela restritiva de direitos ou pela pecuniária. razão de o crime de poluição estar previsto
na lei de crimes ambientais.

Dos crimes contra a saúde Existem crimes contra a saúde pública de-
pública finidos em outras leis especiais, como a Lei nº
7.649, de 25 de janeiro de 1988, que estabe-
lece a obrigatoriedade do cadastramento dos
doadores de sangue, bem como a realização
de exames laboratoriais no sangue coletado,
visando a prevenir a propagação de doenças.
A inobservância das normas dessa lei confi-
gura crime previsto no art. 268 do Código
Penal.

O Decreto-Lei nº 211, de 27 de feverei-


ro de 1967, por sua vez, estabelece que o
Fonte: http://www.reporterurgente.com.br/2013/07/ exercício de atividade hemoterápica sem o
crime-contra-saude-publica-cemiterio-de.html. registro na Comissão Nacional de Hemotera-
pia do Ministério da Saúde configura o crime
Os crimes contra a saúde pública estão de-
previsto no art. 282 do CP.
finidos no Código Penal de 1940 nos arts. 267
a 285. Há também previsão em leis especiais, Em algumas leis, os crimes são definidos
como na Lei de Drogas (Lei nº 11.343/06) e em inegável proteção à saúde pública, mas a
na Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, objetividade jurídica prevalente não é clara-
que dispõe sobre as sanções penais e admi- mente apontada.
nistrativas derivadas de condutas e ativida-
des lesivas ao meio ambiente, nos arts. 54 A Lei nº 9.263, de 12 de janeiro de 1996,
e 56, que discorrem sobre perigo de dano à que regula o planejamento familiar, estabe-
saúde humana como elemento do tipo. Esses lece algumas figuras penais (arts. 15 a 17).

14
Direito Penal Aplicado à Saúde

Dos crimes contra a saúde pública pre- Tipo subjetivo: o dolo, isto é, a vonta-
vistos no Código Penal de de causar epidemia, seja de forma direta
(dolo direto) ou indireta (dolo eventual).
Epidemia
Consumação e forma tentada: consu-
ma-se com a ocorrência da epidemia. É admi-
tida a forma tentada.

Forma qualificada: conforme o § 1º,


caso resulte morte, a pena é aplicada em do-
bro. Nesse caso, o resultado mais grave é pro-
duzido culposamente (preterdolo).

Forma culposa: nos termos do art. 18, §


Fonte: http://www.corposaun.com/epidemia-dengue/11215/. único, do Código Penal, só é possível punir
uma conduta culposa quando isso está ex-
Art. 267 - Causar epidemia, mediante a
propagação de germes patogênicos: presso no próprio tipo penal que será impu-
tado ao agente, o que é o caso do presente
Pena - reclusão, de dez a quinze anos. § 2º.

§ 1º - Se do fato resulta morte, a pena é Infração de medida sanitária preven-


aplicada em dobro.
tiva
§ 2º - No caso de culpa, a pena é de
Art. 268 - Infringir determinação do poder
detenção, de um a dois anos, ou, se resulta
público, destinada a impedir introdução ou
morte, de dois a quatro anos.
propagação de doença contagiosa:

Objeto jurídico: a incolumidade pública Pena - detenção, de um mês a um ano,


é o bem tutelado, nesse caso, a saúde públi- e multa.
ca.
Parágrafo único - A pena é aumentada de
Sujeito ativo: qualquer pessoa. um terço, se o agente é funcionário da saúde
pública ou exerce a profissão de médico,
farmacêutico, dentista ou enfermeiro.
Sujeito passivo: a coletividade.
Objeto jurídico: a incolumidade pública.
Tipo objetivo: a conduta ilícita é a de cau-
sar epidemia por meio da propagação de
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
germes patogênicos, o que significa causar
doença em número indeterminado de pesso- Sujeito passivo: a coletividade.
as. No caso, germes patogênicos são micro-
-organismos que causam moléstias infeccio- Tipo objetivo: a conduta punível é a de
sas. infringir (desrespeitar) determinação das au-

15
Direito Penal Aplicado à Saúde

toridades públicas que visem impedir a in- Sujeito ativo: nesse caso, é crime pró-
trodução ou propagação de doença que seja prio, já que somente pode ser praticado pelo
contagiosa. médico.

Tipo subjetivo: o dolo, que é a vontade Sujeito passivo: a coletividade.


de desrespeitar a determinação das autorida-
des públicas que visam impedir a introdução Tipo objetivo: é a omissão em comunicar
ou propagação de doença contagiosa. Note- às autoridades doenças em que a notificação
-se que, nesse caso, não há a possibilidadeé compulsória, obrigatória. Trata-se de norma
de punição pela forma culposa por falta de penal em branco, isto é, o tipo penal necessita
previsão expressa. de complementação para adaptação. O com-
plemento será por meio de lei, portaria etc.
Consumação e forma tentada: consu-
por parte das autoridades que venha especifi-
ma-se no momento em que há o desrespei-
car quais doenças são de notificação compul-
to às determinações das autoridades, sendo
sória.
admitida a forma tentada.
Tipo subjetivo: somente dolo, pois não
Omissão de notificação de doença
há previsão expressa da forma culposa.

Consumação e forma tentada: estará


consumado no momento que não se aten-
der o prazo especificado em regulamentos ou
quaisquer atos normativos para a notificação
compulsória. Não é possível a forma tentada.

Envenenamento de água potável ou de


substância alimentícia ou medicinal

Art. 270 - Envenenar água potável, de


uso comum ou particular, ou substância ali-
mentícia ou medicinal destinada a consumo:
Fonte: http://www.amucser.com.br/municipios-devem-
cumprir-mudancas-no-calendario-de-vacinacao. Pena - reclusão, de dez a quinze anos.

“Art. 269 - Deixar o médico de denunciar § 1º - Está sujeito à mesma pena quem
à autoridade pública doença cuja notificação entrega a consumo ou tem em depósito,
é compulsória: para o fim de ser distribuída, a água ou a
substância envenenada.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2
(dois) anos, e multa.” Modalidade culposa

Objeto jurídico: a incolumidade pública. § 2º - Se o crime é culposo:

16
Direito Penal Aplicado à Saúde

Pena - detenção, de seis meses a dois Corrupção ou poluição de água potável


anos.

Objeto jurídico: a incolumidade pública.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: a coletividade.

Tipo objetivo: a conduta incriminada é


a de envenenar água potável, substância ali-
mentícia ou medicinal.
Fonte: http://www.portalternurafm.com.br/
Nos mesmos moldes está a conduta de noticias/2705/poluicao-da-agua-e-seus-problemas.

quem entregar a consumo ou tiver em depósi-


Art. 271 - Corromper ou poluir água
to, para a finalidade de ser distribuída, a água potável, de uso comum ou particular,
ou a substância envenenada (§ 1º). tornando-a imprópria para consumo ou
nociva à saúde:
Tipo subjetivo: o dolo, a vontade de en-
Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
venenar água de uso comum ou particular,
bem como a substância alimentícia ou medi- Modalidade culposa
cinal, ou ainda entregar a consumo ou ter em
depósito a substância envenenada. Parágrafo único - Se o crime é culposo:

Pena - detenção, de dois meses a um


A forma culposa é punida expressamente, ano.
conforme previsto no § 2º.
Objeto jurídico: a incolumidade pública.
Consumação e forma tentada: a con-
sumação ocorre no momento em que a água Sujeito ativo: qualquer pessoa.
ou o produto medicinal ou alimentício é enve-
Sujeito passivo: a coletividade.
nenado.
Tipo objetivo: a conduta incriminada é
No que se refere ao § 1º, consuma-se com a de corromper (adulterar) ou poluir (sujar)
o oferecimento ao consumo ou ainda com a água potável de uso comum ou particular.
guarda da água ou do produto medicinal ou
alimentício. Tipo subjetivo: dolo, que é a vontade de
corromper ou poluir água potável de uso co-
Com exceção da forma culposa, é admitida mum ou particular, tornando-a imprópria para
a forma tentada. o consumo e nociva à saúde. A forma culposa

17
Direito Penal Aplicado à Saúde

é punida por estar expressamente prevista Tipo objetivo: a conduta incriminada


no parágrafo único. será a de corromper, adulterar, falsificar ou
alterar substância ou produto alimentício
Consumação e forma tentada: com destinado ao consumo, tornando-o nocivo
a corrupção ou poluição da água potável. A à saúde ou reduzindo o seu valor nutritivo.
forma tentada é admissível. Convém esclarecer que a substância trata-
da nesse tipo penal deve ter como destino
Falsificação, corrupção, adulteração ou al-
um número indeterminado de pessoas, por
teração de substância ou produtos alimentí- isso incolumidade pública, pois, tratando-se
cios de perigo para a vida ou a saúde de pessoas
Art. 272 - Corromper, adulterar, falsificar
determinadas, o ilícito será o tratado no art.
ou alterar substância ou produto alimentício 132 do Código Penal.
destinado a consumo, tornando-o nociva à
saúde ou reduzindo-lhe o valor nutritivo: Tipo subjetivo: o dolo, a vontade de cor-
romper, alterar, adulterar ou falsificar a subs-
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) tância alimentícia que tem como destino o
anos, e multa.
consumo público.
§ 1º-A - Incorre nas penas deste artigo
Consumação e forma tentada: consu-
quem fabrica, vende, expõe à venda,
importa, tem em depósito para vender ou, ma-se no momento em que a substância ali-
de qualquer forma, distribui ou entrega mentícia é corrompida, alterada, adulterada
a consumo a substância alimentícia ou ou falsificada, independentemente do con-
o produto falsificado, corrompido ou sumo por parte de terceiros, admitindo-se a
adulterado.
forma tentada.
§ 1º - Está sujeito às mesmas penas
Falsificação, corrupção, adulteração ou al-
quem pratica as ações previstas neste artigo
em relação a bebidas, com ou sem teor teração de produto destinado a fins terapêu-
alcoólico. ticos ou medicinais

Modalidade culposa

§ 2º - Se o crime é culposo:

Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois)


anos, e multa.

Objeto jurídico: a incolumidade pública.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.


Fonte: http://josevaillant.blogspot.com.br/2013/03/
Sujeito passivo: a coletividade. bom-para-otario-foi-vender-medicamento.html.

18
Direito Penal Aplicado à Saúde

Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar Objeto jurídico: a incolumidade pública.


ou alterar produto destinado a fins terapêu-
ticos ou medicinais: Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quin-
ze) anos, e multa. Sujeito passivo: a coletividade.

§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem Tipo objetivo: a conduta incriminada é a


importa, vende, expõe à venda, tem em de-
de alterar, falsificar, corromper, adulterar ou
pósito para vender ou, de qualquer forma,
distribui ou entrega a consumo o produto alterar produto destinado a fins terapêuticos
falsificado, corrompido, adulterado ou alte- ou medicinais. No caso, trata-se de qualquer
rado. substância empregada na cura ou na preven-
§ 1º-A - Incluem-se entre os produtos a ção de moléstias ou enfermidades.
que se refere este artigo os medicamentos,
as matérias-primas, os insumos farmacêu-
ticos, os cosméticos, os saneantes e os de
uso em diagnóstico.

§ 1º-B - Está sujeito às penas deste ar-


tigo quem pratica as ações previstas no §
1º em relação a produtos em qualquer das
seguintes condições:

I - sem registro, quando exigível, no ór-


gão de vigilância sanitária competente;

II - em desacordo com a fórmula cons- O § 1º incrimina as condutas de vender,


tante do registro previsto no inciso anterior; expor à venda, ter em depósito para vender
ou, de qualquer forma, distribuir ou entregar
III - sem as características de identidade
e qualidade admitidas para a sua comercia- a consumo o produto falsificado, corrompido,
lização; adulterado ou alterado.
IV - com redução de seu valor terapêuti-
O § 1º-A, incrimina também as condutas
co ou de sua atividade;
que se voltem contra os medicamentos, as
V - de procedência ignorada;
matérias-primas, os insumos farmacêuticos,
VI - adquiridos de estabelecimento sem os cosméticos, os saneantes e os materiais
licença da autoridade sanitária competente. de uso em diagnósticos.
Modalidade culposa
O § 1º-B também torna ilícita a conduta do
§ 2º - Se o crime é culposo: agente que se amoldar aos elementos nor-
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) mativos ali especificados e que se refiram às
anos, e multa. substâncias elencadas, nos moldes do § 1º.

19
Direito Penal Aplicado à Saúde

Tipo subjetivo: o dolo, que é a vontade Tipo objetivo: a conduta incriminada


de praticar as condutas elencadas no artigo. será a de empregar (aplicar, usar) as subs-
Deve ser levado em consideração que a con- tâncias elencadas na fabricação de remédios
duta de “ter em depósito” exige uma finali- ou alimentos destinados ao consumo.
dade especial, que é a de vender as substân-
cias elencadas no tipo penal. A forma culposa Tipo subjetivo: o dolo, a vontade de
é expressamente punida no § 2º. usar, aplicar processos ou substâncias não
permitidas expressamente pela autoridade
Consumação e forma tentada: consu- sanitária.
ma-se o ilícito com a prática de uma das con-
dutas descritas que cause modificação das Consumação e forma tentada: consu-
substâncias. ma-se no momento em que se pratica uma
das condutas previstas no tipo penal, inde-
Já no § 1º, deve haver, para consumação, pendentemente de resultado de dano ou pe-
a efetiva venda, a exposição à venda, a guar- rigo. A forma tentada é possível, já que se
da em depósito ou a entrega a consumo da
trata de crime plurissubsistente.
substância alterada. É possível a forma ten-
tada. Invólucro ou recipiente com falsa in-
dicação
Deve-se ficar atento à Lei nº 8.072/90, que
tornou esse ilícito um crime hediondo, dando Art. 275 - Inculcar, em invólucro ou reci-
tratamento mais severo ao agente que tiver piente de produtos alimentícios, terapêuti-
a conduta amoldada a ele. cos ou medicinais, a existência de substân-
cia que não se encontra em seu conteúdo ou
Emprego de processo proibido ou de subs- que nele existe em quantidade menor que a
tância não permitida mencionada:

Art. 274 - Empregar, no fabrico de pro- Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco)


duto destinado a consumo, revestimento, anos, e multa.
gaseificação artificial, matéria corante, subs-
tância aromática, anti-séptica, conservadora Objeto jurídico: a incolumidade pública.
ou qualquer outra não expressamente per-
mitida pela legislação sanitára: Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) Sujeito passivo: a coletividade.


anos, e multa.

Tipo objetivo: as condutas incriminadas


Objeto jurídico: a incolumidade pública.
são as de indicar, apontar, citar em invólucro
Sujeito ativo: qualquer pessoa. de produto alimentício, terapêutico ou medi-
cinal a existência de substância que não se
Sujeito passivo: a coletividade. encontra em seu conteúdo ou que nele até

20
Direito Penal Aplicado à Saúde

exista, mas esteja em quantidade menor do b)Produto alimentício ou medicinal que esteja em
que a que foi mencionada. invólucro ou recipiente com falsa indicação
de sua composição (art. 275).
Tipo subjetivo: o dolo, a vontade de in-
É preciso cuidado, pois, pelo princípio do
culcar (dar a entender) a existência do que
conflito aparente de normas chamado de
não se encontra na substância ou que exista
em quantidade menor do que a que foi anun- consunção, o crime-fim absorverá o crime-
ciada. Não é punível a forma culposa por fal- -meio, logo, se a conduta do agente foi a
ta de expressa previsão no tipo penal. de praticar o art. 274 ou o art. 275, estes
prevalecerão.
Consumação e forma tentada: consu-
ma-se no momento da falsa indicação, sem Tipo subjetivo: o dolo, a vontade de
a necessidade de ser entregue a consumo. É praticar uma das condutas descritas no tipo.
admitida a forma tentada. Exige-se que, na conduta de “ter em depó-
sito”, o agente tenha a vontade de vendê-la.
Produto ou substância nas condições Não é possível a forma culposa por falta de
dos dois artigos anteriores expressa previsão.

“Art. 276 - Vender, expor à venda, ter em Consumação e forma tentada: con-
depósito para vender ou, de qualquer forma,
suma-se no momento da efetiva prática de
entregar a consumo produto nas condições
dos arts. 274 e 275. uma das condutas elencadas no tipo penal,
admitida a forma tentada.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco)
anos, e multa.” Substância destinada à falsificação

Objeto jurídico: a incolumidade pública. “Art. 277 - Vender, expor à venda, ter em
depósito ou ceder substância destinada à
Sujeito ativo: qualquer pessoa, ainda falsificação de produtos alimentícios, tera-
que não seja comerciante. pêuticos ou medicinais:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco)


Sujeito passivo: a coletividade.
anos, e multa.”

Tipo objetivo: a conduta incriminada ou


Objeto jurídico: a incolumidade pública.
típica será a de vender, expor à venda, ter
em depósito para vender ou, de qualquer Sujeito ativo: qualquer pessoa.
forma, entregar para consumo:
Sujeito passivo: a coletividade.
a) Produtos destinados a consumo que tenham
sido fabricados com o emprego de processos
Tipo objetivo: a conduta incriminada
proibidos ou com a utilização de alguma
substância não permitida pela autoridade será a de vender, expor à venda, ter em de-
sanitária (art. 274). pósito ou ceder a substância destinada à fal-

21
Direito Penal Aplicado à Saúde

sificação do produto alimentício, terapêutico isto é, a coisa sobre a qual recai a conduta, é
ou medicinal. qualquer objeto, como brinquedos, chupetas
etc., ou qualquer substância, como perfumes
Tipo subjetivo: o dolo, a vontade de etc., nocivos à saúde. A nocividade será apu-
praticar uma das condutas elencadas, tendo rada por perícia, nos termos do art. 158 e
conhecimento que será utilizada para falsi- seguintes do Código de Processo Penal.
ficação. Não há punição pela forma culposa
por falta de expressa previsão no tipo penal. Tipo subjetivo: o dolo, a vontade de pra-
ticar uma das condutas elencadas. É possível
Consumação e forma tentada: consu- a punição pela forma culposa, já que expres-
ma-se no momento em que há a venda, a sa no parágrafo único.
exposição à venda, o depósito ou a cessão,
admitindo-se a forma tentada. Consumação e forma tentada: consu-
ma-se no momento em que há a prática de
Outras substâncias nocivas à saúde uma das condutas descritas, admitindo-se a
pública forma tentada. Quanto às condutas de “ex-
por à venda” e “ter em depósito”, são crimes
Art. 278 - Fabricar, vender, expor à
venda, ter em depósito para vender ou, de permanentes, isto é, a consumação prolon-
qualquer forma, entregar a consumo coisa ga-se no tempo, podendo haver prisão em
ou substância nociva à saúde, ainda que não flagrante enquanto a coisa ou substância no-
destinada à alimentação ou a fim medicinal: civa estiver exposta ou em depósito.

Pena - detenção, de um a três anos, e


multa.
Medicamento em desacordo com re-
ceita médica
Modalidade culposa

Parágrafo único - Se o crime é culposo:

Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Objeto jurídico: a incolumidade pública.

Sujeito ativo: qualquer pessoa, ainda


que não seja comerciante.

Sujeito passivo: a coletividade. Art. 280 - Fornecer substância medicinal


em desacordo com receita médica:
Tipo objetivo: a conduta incriminada
Pena - detenção, de um a três anos, ou
será a de fabricar, vender, expor à venda, ter
multa.
em depósito para vender ou de qualquer for-
ma entregar a consumo. O objeto material, Modalidade culposa

22
Direito Penal Aplicado à Saúde

Parágrafo único - Se o crime é culposo: Art. 282 - Exercer, ainda que a título gra-
tuito, a profissão de médico, dentista ou far-
Pena - detenção, de dois meses a um ano. macêutico, sem autorização legal ou exce-
dendo-lhe os limites:
Objeto jurídico: a incolumidade pública.
Pena - detenção, de seis meses a dois
Sujeito ativo: qualquer pessoa, embora anos.
como regra seja o farmacêutico.
Parágrafo único - Se o crime é praticado
Sujeito passivo: a coletividade. com o fim de lucro, aplica-se também multa.

Tipo objetivo: a conduta incriminada Objeto jurídico: a incolumidade pública.


será a de fornecer (entregar) substância me-
dicinal em desacordo com prescrição médica, Sujeito ativo: qualquer pessoa na con-
seja de forma gratuita ou onerosa, que ver- duta “sem autorização” e somente o médico
se sobre espécie, quantidade ou qualidade na conduta “excedendo-lhes os limites” por
da substância. Note-se que a prescrição tem
tratar de crime próprio.
que ser médica. Quando é de outro profissio-
nal, como um psicólogo, a conduta é atípica.
Sujeito passivo: a coletividade.
Tipo subjetivo: o dolo, a vontade de for-
necer em desacordo com a prescrição médi- Tipo objetivo: a conduta incriminada será
ca. É punível a forma culposa por haver ex- a de exercer, ainda que de forma gratuita, a
pressa previsão no parágrafo único. profissão de médico, dentista ou farmacêuti-
co, ou a do médico, dentista ou farmacêuti-
Consumação e forma tentada: consu- co que exceder os limites de sua habilitação.
ma-se com a entrega do medicamento, ad-
Para as demais profissões, o exercício ilegal
mitindo-se a forma tentada.
poderá ser contravenção penal (art. 47, Lei
de Contravenções Penais) ou até mesmo es-
Exercício ilegal da medicina, arte den-
telionato (art. 171, CP).
tária ou farmacêutica

Tipo subjetivo: o dolo. Não é punível a


forma culposa por falta de expressa previsão
no tipo penal.

Consumação e forma tentada: consu-


ma-se com a habitualidade das condutas pri-
vativas de médico, dentista ou farmacêutico.
A forma tentada, em princípio, não é admiti-
da, por ser crime habitual.

23
Direito Penal Aplicado à Saúde

Charlatanismo

Fonte: http://chakubuku-aryasattva.blogspot.com.br/2012/02/o-drama-do-charlatanismo-no-brasil-e-no.html.

“Art. 283 - Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.”

Objeto jurídico: a incolumidade pública.

Sujeito ativo: qualquer pessoa, leigo ou médico.

Sujeito passivo: a coletividade.

Tipo objetivo: a conduta incriminada será a de inculcar (dar a entender, recomendar) ou


anunciar cura por meio secreto ou infalível. Nesse ilícito, não se exige habitualidade.

Tipo subjetivo: o dolo, a vontade de inculcar ou anunciar a cura por meio secreto ou
infalível, sabendo o agente da ineficiência dos meios empregados. Não é punível a forma
culposa por falta de expressa previsão no tipo penal.

24
Direito Penal Aplicado à Saúde

Consumação e forma tentada: con- Sujeito ativo: qualquer pessoa que não
suma-se com a inculcação ou o anúncio da possua conhecimento médico.
cura, independentemente do resultado, ad-
mitindo-se a forma tentada. Sujeito passivo: a coletividade.

Tipo objetivo: a conduta incriminada


Curandeirismo
será a de “exercer o curandeirismo”, que se-
ria uma espécie de raizeiro sem nenhum co-
nhecimento de medicina, atividade grosseira.

Tipo subjetivo: o dolo, a vontade de


exercer o curandeirismo de forma reiterada.
Não é punível a forma culposa por falta de
expressa previsão.

Fonte: http://mfcmamonas.no.comunidades.
net/index.php?pagina=1085051385_01.

Art. 284 - Exercer o curandeirismo:

I - prescrevendo, ministrando ou aplican-


do, habitualmente, qualquer substância;

II - usando gestos, palavras ou qualquer


outro meio;

III - fazendo diagnósticos:

Pena - detenção, de seis meses a dois


anos.
Consumação e forma tentada: con-
Parágrafo único - Se o crime é praticado suma-se com a prática reiterada de atos de
mediante remuneração, o agente fica tam- curandeirismo, não sendo possível a forma
bém sujeito a multa. tentada.

Objeto jurídico: a incolumidade públi- Caso o agente tenha sido efetivamente re-
ca. Esse ilícito é diferente do exercício ilegal compensado, incidirá o parágrafo único, de
de medicina, arte dentária ou farmacêutica, que também resultará multa, mas a simples
uma vez que no curandeirismo não há qual- promessa de remuneração não configurará o
quer conhecimento ou noção de medicina. tipo.

25
Direito Penal Aplicado à Saúde

Forma qualificada para repressão à produção não autorizada e


ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá
“Art. 285 - Aplica-se o disposto no art. 258 outras providências.
aos crimes previstos neste Capítulo, salvo
quanto ao definido no art. 267.” TÍTULO I

O presente dispositivo qualifica o crime pelo DISPOSIÇÕES PRELIMINARES


resultado, com exceção do de epidemia (art.
Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacio-
267, CP), pois a lesão corporal já é elemento,
nal de Políticas Públicas sobre Drogas - Sis-
e também por o evento morte já ser previsto nad; prescreve medidas para prevenção do
como causa de aumento de pena. uso indevido, atenção e reinserção social de
usuários e dependentes de drogas; estabe-
Se o ilícito for doloso e dele resultar lesão lece normas para repressão à produção não
corporal de natureza grave, a pena aumenta autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e de-
da metade; se resultar morte, será aplicada fine crimes.
em dobro.
Parágrafo único. Para fins desta Lei, con-
sideram-se como drogas as substâncias ou
No crime culposo de que resulte lesão
os produtos capazes de causar dependên-
corporal de qualquer natureza, a pena será cia, assim especificados em lei ou relacio-
aumentada em metade; se resultar morte, nados em listas atualizadas periodicamente
será a do crime doloso aumentada de um pelo Poder Executivo da União.
terço.
Art. 2º Ficam proibidas, em todo o ter-
ritório nacional, as drogas, bem como o
Lei de Drogas (Lei nº 11.343, de 23 de
plantio, a cultura, a colheita e a exploração
agosto de 2006) de vegetais e substratos dos quais possam
ser extraídas ou produzidas drogas, res-
salvada a hipótese de autorização legal ou
regulamentar, bem como o que estabelece
a Convenção de Viena, das Nações Unidas,
sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971,
a respeito de plantas de uso estritamente
ritualístico-religioso.

Parágrafo único. Pode a União autorizar


o plantio, a cultura e a colheita dos vegetais
referidos no caput deste artigo, exclusiva-
Institui o Sistema Nacional de Políticas mente para fins medicinais ou científicos,
Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve em local e prazo predeterminados, mediante
medidas para prevenção do uso indevido, fiscalização, respeitadas as ressalvas supra-
mencionadas.
atenção e reinserção social de usuários e
dependentes de drogas; estabelece normas [...]

26
Direito Penal Aplicado à Saúde

ou produto capaz de causar dependência fí-


CAPÍTULO III
sica ou psíquica.

DOS CRIMES E DAS PENAS


§ 2º Para determinar se a droga desti-
nava-se a consumo pessoal, o juiz atende-
Art. 27. As penas previstas neste
rá à natureza e à quantidade da substância
Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou
apreendida, ao local e às condições em que
cumulativamente, bem como substituídas a se desenvolveu a ação, às circunstâncias so-
qualquer tempo, ouvidos o Ministério Público ciais e pessoais, bem como à conduta e aos
e o defensor. antecedentes do agente.

Posse para consumo pessoal § 3º As penas previstas nos incisos II e


III do caput deste artigo serão aplicadas
pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses.

§ 4º Em caso de reincidência, as penas


previstas nos incisos II e III do caput deste
artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de
10 (dez) meses.

§ 5º A prestação de serviços à comunida-


de será cumprida em programas comunitá-
rios, entidades educacionais ou assistenciais,
hospitais, estabelecimentos congêneres, pú-
Fonte: http://saudedehomens.blogspot.com.br/2012/06/ blicos ou privados sem fins lucrativos, que
se ocupem, preferencialmente, da preven-
consumo-de-drogas-como-cocaina-e-crack.html.
ção do consumo ou da recuperação de usu-
ários e dependentes de drogas.
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em
depósito, transportar ou trouxer consigo,
§ 6º Para garantia do cumprimento das
para consumo pessoal, drogas sem autori-
medidas educativas a que se refere o ca-
zação ou em desacordo com determinação
put, nos incisos I, II e III, a que injustifica-
legal ou regulamentar será submetido às se-
damente se recuse o agente, poderá o juiz
guintes penas: submetê-lo, sucessivamente a:

I - advertência sobre os efeitos das dro- I - admoestação verbal;


gas;
II - multa.
II - prestação de serviços à comunidade;
§ 7º O juiz determinará ao Poder Público
III - medida educativa de comparecimen- que coloque à disposição do infrator, gratui-
to a programa ou curso educativo. tamente, estabelecimento de saúde, prefe-
rencialmente ambulatorial, para tratamento
§ 1º Às mesmas medidas submete-se especializado.
quem, para seu consumo pessoal, semeia,
cultiva ou colhe plantas destinadas à prepa- Art. 29. Na imposição da medida educati-
ração de pequena quantidade de substância va a que se refere o inciso II do § 6º do art.

27
Direito Penal Aplicado à Saúde

28, o juiz, atendendo à reprovabilidade da Norma penal em branco: consideram-se


conduta, fixará o número de dias-multa, em drogas as substâncias ou os produtos capa-
quantidade nunca inferior a 40 (quarenta)
nem superior a 100 (cem), atribuindo depois
zes de causar dependência, assim especifi-
a cada um, segundo a capacidade econômi- cados em lei ou relacionados em listas atua-
lizadas periodicamente pelo Poder Executivo
ca do agente, o valor de um trinta avos até 3
(três) vezes o valor do maior salário mínimo.
da União (Portaria nº 344/98 da ANVISA).
Parágrafo único. Os valores decorrentes
Assim, cabe ao Ministério da Saúde publicar
da imposição da multa a que se refere o § periodicamente listas atualizadas sobre as
6º do art. 28 serão creditados à conta do substâncias e produtos considerados drogas.
Fundo Nacional Antidrogas.
Elemento normativo: traduz-se pela ex-
Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a
pressão “sem autorização ou em desacordo
imposição e a execução das penas, obser-
vado, no tocante à interrupção do prazo, o com determinação legal ou regulamentar”.
disposto nos arts. 107 e seguintes do Código
Penal. Elemento subjetivo: dolo.

Objeto jurídico: a proteção da saúde Consumação: com a prática de qualquer


pública. Secundariamente, a vida e a saúde das modalidades de conduta.
de cada cidadão.
Forma tentada: não se admite.
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Observações:
Sujeito passivo: o Estado.
a) É possível a incriminação de vários agentes
Conduta: vem representada pelos ver- que tenham adquirido a droga para consu-
bos “adquirir”, “guardar”, “ter em depósito”, mo próprio em conjunto, ainda que apenas
um deles tenha sido preso ao trazê-la con-
“transportar” e “trazer consigo”. A prática de
sigo, pois existe, entre eles, um acordo de
mais de uma conduta não implica concurso vontades, o que faz com que todos respon-
de crimes, mas um único delito (crime de dam pelo crime.
ação múltipla).
b) A quantidade ínfima de droga não descarac-
Consumo pessoal: para determinar se a teriza o delito.
droga destina-se a consumo pessoal, o juiz
c) A lei não pune as condutas de “usar” drogas
deve atender à natureza e à quantidade da
ou “fumar” maconha ou outro entorpecente
substância apreendida, ao local e às condi- semelhante. Igualmente, não se pode punir
ções em que se desenvolveu a ação, às cir- o uso pretérito da droga, pois, se esta já foi
cunstâncias sociais e pessoais, bem como à consumida, não há a materialidade necessá-
conduta e aos antecedentes do agente. ria à tipificação.

Objeto material: droga. d) Aquele que, para consumo pessoal, “seme-


ar”, “cultivar” ou “colher” plantas destinadas

28
Direito Penal Aplicado à Saúde

à preparação de pequena quantidade de b) Prestação de serviços à comunidade: na


droga estará sujeito às mesmas penas. sistemática da Lei nº 11.343/06, a prestação de
serviços à comunidade foi erigida à categoria de
e) A mera posse de sementes não configura o pena principal, perdendo o caráter substitutivo
delito se inexistente o princípio ativo da dro- que lhe é imposto pelo Código Penal. Pode ser
ga. aplicada em audiência preliminar, nos moldes
descritos no item anterior. Essa prestação terá
o prazo máximo de cinco meses, devendo ser
gratuita e seguir as regras do art. 46, § 3º, do
Código Penal, sendo atribuída conforme as apti-
dões do autor do fato e cumprida à razão de uma
hora de tarefa por dia da semana, de modo a não
prejudicar a jornada normal de trabalho. A pres-
tação de serviços à comunidade será cumprida
em programas comunitários, entidades educa-
cionais ou assistenciais, hospitais, estabeleci-
As modalidades de sanção penal mentos congêneres, públicos ou privados, sem
fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmen-
a) Advertência: a primeira pena estipulada pelo te, da prevenção do consumo ou da recuperação
legislador é de advertência. Ela não tem, de de usuários e dependentes de drogas (art. 28, §
rigor, a natureza de sanção penal, seja por- 5º). Em caso de não cumprimento, a prestação
que não preenche as características dela, que de serviços à comunidade poderá ser substituída
são retribuição e prevenção, seja porque não por admoestação verbal ou multa.
guarda relação com nenhuma pena do art.
c) Comparecimento a programa ou curso
5º, XLVI, da Constituição Federal. Mas a Lei
educativo: essa modalidade de sanção tam-
nº 11.343/06 considera-a como pena, muito
bém é novidade no nosso sistema jurídico pe-
embora possa ser tida como uma espécie de
nal, tendo sido instituída pela Lei de Drogas
sanção sui generis, podendo gerar, inclusive,
como medida educativa. É considerada pena e
reincidência. O juiz deverá aplicá-la na própria
gera reincidência. Tem duração máxima de cin-
audiência preliminar, já que o rito processual,
co meses (art. 28, § 3º). Essa medida também
nesses casos, segue o disposto nos arts. 60 e
poderá ser determinada em audiência prelimi-
seguintes da Lei nº 9.099/95, conforme deter-
nar, nos moldes da advertência. Em caso de
mina seu art. 48. Na audiência preliminar, ha-
não cumprimento, poderá ser substituída por
vendo a proposta de transação pelo Ministério admoestação verbal ou multa.
Público, consistente em advertência sobre os
efeitos da droga, sido aceita pela defesa, de- d) Admoestação verbal: cuida-se de nova
verá o juiz censurar levemente o autor do fato, modalidade de pena instituída pela Lei nº
esclarecendo-o acerca dos efeitos nocivos (não 11.343/06, com as ressalvas feitas à adver-
somente para ele próprio, mas também para tência. É aplicável ao agente que, injustifi-
toda a sociedade), de tudo lavrando-se termo, cadamente, se recuse a cumprir as medidas
que deverá ser subscrito pelos presentes (juiz, educativas de prestação de serviços à comuni-
promotor de justiça, autor do fato e defensor). dade e comparecimento a programa ou curso
Caso não seja aplicada em audiência prelimi- educativo. Deve consistir em censura verbal
nar, deve o juiz designar audiência para tal fim, feita pelo juiz, concitando o agente a cumprir a
nos moldes da admonitória da suspensão con- medida que lhe foi aplicada. O agente deve ser
dicional da pena. submetido a admoestação verbal em audiência

29
Direito Penal Aplicado à Saúde

para esse fim designada, de tudo lavrando-se Art. 33. Importar, exportar, remeter, pre-
termo, por todos assinado (juiz, promotor de parar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
justiça, autor do fato e defensor). expor à venda, oferecer, ter em depósito,
transportar, trazer consigo, guardar, pres-
e) Multa: consiste em sanção pecuniária aplicável crever, ministrar, entregar a consumo ou
ao agente que, injustificadamente, se recuse fornecer drogas, ainda que gratuitamente,
a cumprir as medidas educativas de prestação sem autorização ou em desacordo com de-
de serviços à comunidade e comparecimento terminação legal ou regulamentar:
a programa ou curso educativo. Deve suceder
a admoestação verbal. Será imposta pelo juiz Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze)
atendendo à reprovabilidade da conduta e fixa- anos e pagamento de 500 (quinhentos) a
da em dias-multa. Consistirá, no mínimo, em 40 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
e, no máximo, em 100 dias-multa. O valor do
dia-multa, segundo a capacidade econômica do § 1o Nas mesmas penas incorre quem:
agente, será de, no mínimo, 1/30 do salário-
I - importa, exporta, remete, produz, fa-
-mínimo e, no máximo, três vezes o maior salá-
brica, adquire, vende, expõe à venda, ofe-
rio-mínimo. Os valores decorrentes dessa multa
serão creditados ao Fundo Nacional Antidrogas. rece, fornece, tem em depósito, transporta,
traz consigo ou guarda, ainda que gratuita-
mente, sem autorização ou em desacordo
Reincidência
com determinação legal ou regulamentar,
matéria-prima, insumo ou produto químico
Considera-se reincidente o agente que destinado à preparação de drogas;
pratica novo crime após o trânsito em julgado
de sentença definitiva (quando não cabe mais II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem
autorização ou em desacordo com determi-
recurso) que o tenha condenado por crime
nação legal ou regulamentar, de plantas que
anterior (art. 63 do Código Penal). Assim,
se constituam em matéria-prima para a pre-
consoante o disposto no art. 28, § 4º, em caso paração de drogas;
de reincidência, as penas de prestação de
serviços à comunidade e comparecimento a III - utiliza local ou bem de qualquer
natureza de que tem a propriedade, pos-
programa ou curso educativo serão aplicadas
se, administração, guarda ou vigilância, ou
pelo prazo máximo de 10 meses. consente que outrem dele se utilize, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em
Tráfico de drogas desacordo com determinação legal ou regu-
lamentar, para o tráfico ilícito de drogas.

§ 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao


uso indevido de droga: (Vide ADI nº 4.274)

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três)


anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezen-
tos) dias-multa.

§ 3o Oferecer droga, eventualmente e


Fonte: http://www.blogsoestado.com/danielmatos/2013/10/08/ sem objetivo de lucro, a pessoa de seu rela-
trafico-maioria-dos-processos-envolve-avioes/. cionamento, para juntos a consumirem:

30
Direito Penal Aplicado à Saúde

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 considerados drogas (Portaria nº 344/98 da


(um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) ANVISA).
a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem
prejuízo das penas previstas no art. 28. Elemento normativo: traduz-se pela ex-
§ 4o Nos delitos definidos no caput e no
pressão “sem autorização ou em desacordo
§ 1o deste artigo, as penas poderão ser re- com determinação legal ou regulamentar”.
duzidas de um sexto a dois terços, vedada a
conversão em penas restritivas de direitos , Elemento subjetivo: dolo.
desde que o agente seja primário, de bons
Consumação: com a prática de qualquer
antecedentes, não se dedique às atividades
criminosas nem integre organização crimi-
das ações constantes da figura típica, inde-
nosa.
pendentemente de qualquer outro resultado.
Há modalidades de condutas que constituem
Objeto jurídico: a proteção da saúde pú-
crimes instantâneos, por exemplo, “adquirir”,
blica. Secundariamente, a vida e a saúde de
“fornecer”, “vender”, e outras que consti-
cada cidadão.
tuem crimes permanentes (“ter em depósi-
Sujeito ativo: qualquer pessoa. to”, “guardar”, “expor a venda” etc.).

Sujeito passivo: o Estado e, secundaria- Forma tentada: admite-se nos crimes


mente, o consumidor da droga. instantâneos, mas não nos permanentes.

Conduta: vem representada por 18 verbos Causa de diminuição de pena: nos cri-
(importar, exportar, remeter, preparar, produ- mes previstos no caput e no § 1º, poderá ha-
zir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, ver diminuição de pena de um sexto a dois ter-
oferecer, fornecer, ter em depósito, transpor- ços, vedada a conversão em penas restritivas
tar, trazer consigo, guardar, guardar, prescre- de direitos, se o agente for primário, de bons
ver, ministrar e entregar). Trata-se de tipo pe- antecedentes, não se dedique às atividades
nal misto, em que a prática de mais de uma criminosas nem integre organização criminosa.
conduta não implica concurso de crimes.
Observações:
Objeto material: droga.
a) Incorre nas mesmas penas aquele que importar,
exportar, remeter, produzir, fabricar, adquirir,
Norma penal em branco: consideram-
vender, expor à venda, oferecer, fornecer, ter
-se drogas as substâncias ou os produtos em depósito, transportar, trazer consigo ou
capazes de causar dependência, assim es- guardar matéria-prima, insumo ou produto
pecificados em lei ou relacionados em lis- químico destinado à preparação de drogas.
tas atualizadas periodicamente pelo Poder
b) Aquele que semear, cultivar ou colher plantas
Executivo da União. Assim, cabe ao Ministé- que se constituam em matéria-prima para a
rio da Saúde publicar periodicamente listas preparação de drogas estará sujeito às mesmas
atualizadas sobre as substâncias e produtos penas.

31
Direito Penal Aplicado à Saúde

c) Nas mesmas penas incorre aquele que utilizar de liberdade ser cumprida inicialmente em
local ou bem de qualquer natureza de que te- regime fechado, conforme recente alteração
nha propriedade, posse, administração, guarda introduzida pela Lei nº 11.464/07. Portanto, todo
ou vigilância, ou que consinta que outrem dele o rigor imposto pela Lei dos Crimes Hediondos
se utilize, para a prática de tráfico de drogas. não se coadunava com a substituição da pena
privativa de liberdade por restritivas de direitos
d) Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso in- (denominadas penas alternativas – art. 44 do
devido de drogas sujeita o agente à pena de CP), até porque a Lei de Drogas é especial
detenção de um a três anos e multa de 100 a em relação a esse diploma. Porém, com o HC
300 dias-multa. 97.256, julgado em 1.mai.10, o STF admitiu a
substituição de pena privativa de liberdade por
e) Aquele que oferecer droga, eventualmente e restritivas.
sem objetivo de lucro, a pessoa de seu rela-
cionamento para juntos a consumirem estará i) O processo e o julgamento dos crimes de tráfico
sujeito à pena de detenção de seis meses a de drogas, aparelhagem para a produção de
um ano e ao pagamento de 700 a 1.500 dias- drogas, associação para o tráfico, financiamento
-multa. ou custeio do tráfico e colaboração para o
tráfico caberão à Justiça Federal, como regra
f) Tem-se entendido que a grande quantidade de
(art. 70 da Lei nº 11.343/06), se caracterizado
droga apreendida com o agente, em qualquer
ilícito transnacional. Se o lugar em que tiverem
das hipóteses de conduta previstas no artigo
sido praticados tais crimes não for sede de vara
em comento, embora por si só não seja evi-
federal, serão processados e julgados na da
dência inequívoca de tráfico, contribui para a
circunscrição respectiva.
caracterização do delito. No caso de pequena
quantidade de droga, deve ser analisada a in-
j) O lança-perfume, por conter a substância
tenção do agente, apenas se configurando o
ativa cloreto de etila, substância relacionada
tráfico se for destinada a entrega para consu-
pela Portaria SVS/MS nº. 344, de 12 de maio
mo de terceiros. Nada impede que o traficante
de 1998, é considerado droga, e, portanto,
exerça a mercancia em pequenas quantidades,
proibida sua utilização, comércio, entrega a
ou mesmo que, fisicamente não tenha consigo
consumo de terceiros etc.
nenhuma porção da droga.

g) Erro de proibição é aquele que recai sobre a Aparelhagem para a produção de substân-
ilicitude do fato, excluindo a culpabilidade do cia entorpecente
agente. O agente supõe que inexiste a regra
de proibição. O erro de proibição não exclui o
dolo. Exclui a culpabilidade quando o erro for
escusável. Quando inescusável, a culpabilidade
fica atenuada, reduzindo-se a pena de um
sexto a um terço. Apenas o erro de proibição
escusável afasta a culpabilidade do agente. Já
o erro de proibição inescusável enseja somente
diminuição de pena.

h) O crime de tráfico ilícito de drogas é


assemelhado ao hediondo (art. 2º, caput, da Fonte: http://www.alunosonline.com.br/quimica/
Lei nº 8.072/90), devendo a pena privativa extracao-oleos-essenciais-das-plantas.html.

32
Direito Penal Aplicado à Saúde

Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, trans- Forma tentada: admite-se apenas nas mo-
portar, oferecer, vender, distribuir, entregar a dalidades de conduta fabricar, adquirir, ven-
qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, der, fornecer, transportar e distribuir.
ainda que gratuitamente, maquinário, apa-
relho, instrumento ou qualquer objeto desti- Associação para o tráfico
nado à fabricação, preparação, produção ou
transformação de drogas, sem autorização
ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez)


anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos)
a 2.000 (dois mil) dias-multa.

Objeto jurídico: a proteção da saúde Fonte: http://aconteceunovale.com.br/portal/?p=21677.

pública. Secundariamente, a vida e a saúde


Art. 35. Associarem-se duas ou mais pes-
de cada cidadão. soas para o fim de praticar, reiteradamente
ou não, qualquer dos crimes previstos nos
Sujeito ativo: qualquer pessoa. arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:

Sujeito passivo: o Estado e, secundaria- Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez)


anos, e pagamento de 700 (setecentos) a
mente, o consumidor da droga.
1.200 (mil e duzentos) dias-multa.

Conduta: vem representada por 11 ver- Parágrafo único. Nas mesmas penas do
bos (fabricar, adquirir, utilizar, transportar, caput deste artigo incorre quem se associa
oferecer, vender, distribuir, entregar, possuir, para a prática reiterada do crime definido no
art. 36 desta Lei.
guardar e fornecer). Trata-se de tipo misto
alternativo, em que a prática de mais de uma
Objeto jurídico: a proteção da saúde
conduta não implica concurso de crimes, mas
pública. Secundariamente, a vida e a saúde
a prática de um único delito. de cada cidadão.

Objeto material: maquinário, aparelho, Sujeito ativo: qualquer pessoa.


instrumento ou objeto destinado à fabrica-
ção, preparação, produção ou transformação Sujeito passivo: o Estado e, secundaria-
de drogas. mente, o consumidor da droga.

Elemento subjetivo: dolo. Conduta: vem representada pelo verbo


“associar(-se)”. Requer que duas ou mais
Consumação: com a prática de qualquer pessoas se associem para, de forma reite-
das condutas incriminadas. rada ou não, praticar os crimes de tráfico de

33
Direito Penal Aplicado à Saúde

drogas e ou o de aparelhagem para a produ- Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte)


ção de substância entorpecente. anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhen-
tos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.

Elemento subjetivo: dolo, além da fina- Objeto jurídico: a proteção da saúde pú-
lidade específica de praticar, reiteradamen- blica. Secundariamente, a vida e a saúde de
te ou não, qualquer dos crimes previstos cada cidadão.
nos arts. 33, caput, e § 1º, e 34 da Lei nº
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
11.343/06.
Sujeito passivo: o Estado e, secundaria-
Consumação: com a efetiva associação,
mente, o consumidor da droga.
independentemente da prática dos delitos
associados. Conduta: vem representada pelos ver-
bos financiar e custear. O financiamento ou
Forma tentada: não se admite. o custeio deve ser da prática dos crimes de
tráfico de drogas e/ou de aparelhagem para
Observação: incorre nas mesmas penas a produção de drogas.
aquele que se associar para a prática reitera-
Elemento subjetivo: dolo.
da do crime de financiamento ou custeio do
tráfico de drogas. Consumação: com o efetivo financia-
mento ou custeio da atividade ilícita.
Financiamento ou custeio do tráfico
de drogas Forma tentada: admite-se.

Observação: se o financiador participar


do tráfico de drogas, sendo financiador e tra-
ficante, estará configurado um único crime,
o de tráfico, com a causa de aumento do art.
40, VII, da Lei nº 11.343/06.

Colaboração ao tráfico

Fonte: http://gilsonsampaio.blogspot.com.br/2013/02/
o-complo-do-narcotrafico-e-da-cia-na.html.

Art. 36. Financiar ou custear a prática de


Fonte: http://www.clickcamboriu.com.br/geral/2013/11/soltar-
qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, pipa-em-camboriu-agora-sera-regulamentado-em-lei-100944.
caput e § 1o, e 34 desta Lei: html.

34
Direito Penal Aplicado à Saúde

Art. 37. Colaborar, como informante, com quebra de sigilo bancário, interceptações te-
grupo, organização ou associação destina- lefônicas, escutas ambientais etc.
dos à prática de qualquer dos crimes previstos
nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Forma tentada: admite-se.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis)
anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 Observações:
(setecentos) dias-multa.
a) Se o informante participar do crime de al-
guma forma, será partícipe ou coautor do
Objeto jurídico: a proteção da saúde pú-
tráfico.
blica. Secundariamente, a vida e a saúde de
cada cidadão. b) Se o informante for funcionário público, es-
tará incurso na causa de aumento de pena
Sujeito ativo: qualquer pessoa. do art. 40, II, da Lei nº 11.343/06. Se o in-
formante, na qualidade de funcionário públi-
Sujeito passivo: o Estado e, secundaria- co (art. 327, CP), solicitar, receber ou aceitar
vantagem indevida para prestar a colabora-
mente, o consumidor da droga.
ção, estará caracterizado o crime de corrup-
ção passiva (art. 317, CP), crime formal, em
Conduta: vem representada pelo verbo concurso material com o do art. 36 da Lei de
“colaborar”. O agente deve colaborar na qua- Drogas.
lidade de informante de grupo, organização
ou associação destinado à prática dos crimes c) A colaboração com traficante individual não
caracteriza o crime em comento, mas, se
previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 da
puder ser considerada ato de participação
Lei nº 11.343/06. no crime de tráfico, o agente “colaborador”
será considerado como partícipe ou coautor.
Elemento subjetivo: dolo.
Prescrição culposa
Consumação: com a efetiva colaboração
como informante, independentemente da prá-
tica de qualquer ato pelo grupo, associação
ou organização criminosa. Ressalte-se que
uma única informação já caracteriza o crime,
por não se tratar de crime habitual.

Informante: é aquele que presta as infor-


mações ao grupo, associação ou organização
Fonte: http://www.correioburitiense.com/2013/09/
criminosa voltada à prática do tráfico. Pode farmaceutico-podera-prescrever-remedio.html.
o agente, por exemplo, fornecer informações
sobre diligências policiais de que tem conhe- Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposa-
mente, drogas, sem que delas necessite o
cimento, sobre a existência ou identidade de
paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou
agentes infiltrados, sobre outras providências em desacordo com determinação legal ou
visando à persecução ao tráfico, tais como regulamentar:

35
Direito Penal Aplicado à Saúde

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 deral da categoria profissional a que perten-


(dois) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) cer.
a 200 (duzentos) dias-multa.
Condução de embarcação ou aeronave
Parágrafo único. O juiz comunicará
após o consumo de drogas
a condenação ao Conselho Federal da
categoria profissional a que pertença o
agente.

Objeto jurídico: a proteção da saúde


pública. Secundariamente, a vida e a saúde
de cada cidadão.

Sujeito ativo: trata-se de crime próprio,


em que só podem ser sujeitos ativos o médi-
co, o farmacêutico, o dentista ou o profissio-
nal de enfermagem.
Fonte: http://itajaiagora.blogspot.com.
Sujeito passivo: o Estado e, secundaria- br/2011_03_20_archive.html.

mente, aquele a quem a droga é prescrita ou


Art. 39. Conduzir embarcação ou aerona-
ministrada.
ve após o consumo de drogas, expondo a
dano potencial a incolumidade de outrem:
Conduta: vem representada pelos verbos
“prescrever” e “ministrar”. A droga deve ser Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3
prescrita ou ministrada sem que dela precise (três) anos, além da apreensão do veículo,
cassação da habilitação respectiva ou proi-
o paciente, ou em doses excessivas ou, ain-
bição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena
da, em desacordo com determinação legal
privativa de liberdade aplicada, e pagamen-
ou regulamentar. to de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos)
dias-multa.
Elemento subjetivo: culpa (negligência,
imprudência ou imperícia). Se a conduta for Parágrafo único. As penas de prisão e
multa, aplicadas cumulativamente com as
dolosa, estará caracterizado o crime de trá-
demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos
fico. e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos)
dias-multa, se o veículo referido no caput
Consumação: com a prática de uma das deste artigo for de transporte coletivo de
condutas incriminadas. passageiros.

Forma tentada: não se admite. Objeto jurídico: a proteção da incolumi-


dade pública.
Observações: se o agente for condena-
do, o juiz comunicará o fato ao Conselho Fe- Sujeito ativo: qualquer pessoa.

36
Direito Penal Aplicado à Saúde

Sujeito passivo: a coletividade. b) O agente praticar o crime prevalecendo-se de


função pública ou no desempenho de missão
Conduta: vem representada pelo verbo de educação, poder familiar, guarda ou vigilân-
“conduzir”. Deve o condutor ter consumido cia.
drogas, e a sua conduta deve expor a dano
c) A infração tiver sido cometida nas dependên-
potencial a incolumidade de outrem.
cias ou imediações de estabelecimentos prisio-
nais, de ensino ou hospitalares, de sedes de
Elemento subjetivo: dolo.
entidades estudantis, sociais, culturais, recrea-
tivas, esportivas ou beneficentes, de locais de
Consumação: com a efetiva condução de
trabalho coletivo, de recintos onde se realizem
embarcação ou aeronave após o consumo de espetáculos ou diversões de qualquer nature-
drogas. Trata-se de crime formal e de peri- za, de serviços de tratamento de dependentes
go concreto, que deve ser demonstrado em de drogas ou de reinserção social, de unidades
cada caso. militares ou policiais ou em transportes públi-
cos.
Forma tentada: não se admite.
d) O crime tiver sido praticado com violência,
Observações: grave ameaça, emprego de arma de fogo ou
qualquer processo de intimidação difusa ou co-
a) Se o veículo (embarcação ou aeronave) for letiva.
destinado ao transporte coletivo de passa-
geiros, a pena de prisão e multa, aplicada e) For caracterizado o tráfico entre estados da Fe-
cumulativamente com a apreensão do ve- deração ou entre eles e o Distrito Federal.
ículo e com a cassação da habilitação res-
pectiva ou a proibição de obtê-la, será de f) Sua prática envolver ou visar atingir criança ou
quatro a seis anos de detenção e 400 a 600 adolescente ou quem tenha, por qualquer mo-
dias-multa. tivo, diminuída ou suprimida a capacidade de
entendimento e determinação.
b) O tipo penal restringe o veículo conduzido
pelo agente a aeronave ou embarcação.
g) O agente financiar ou custear a prática do cri-
Caso se trate de veículo automotor (carro,
me.
moto etc.), estará configurado o crime do
art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro.
Colaboração voluntária
Causas especiais de aumento de pena
– art. 40 O art. 41 da Lei nº 11.343/06 estabelece
que o acusado ou indiciado que colaborar,
As penas para os crimes previstos nos arts. voluntariamente, com a investigação policial
33 a 37 da Lei nº 11.343/06 serão aumenta- e o processo criminal na identificação dos
das de um sexto a dois terços se: demais coautores e partícipes do crime e na
recuperação total ou parcial do produto dele,
a) A natureza, a procedência da substância ou do
produto apreendido e as circunstâncias do fato em caso de condenação, terá sua pena dimi-
evidenciarem a transnacionalidade do delito. nuída de um terço a dois terços.

37
Direito Penal Aplicado à Saúde

Trata-se da figura da delação premiada, considerando as circunstâncias do art. 59 do


em que o agente colaborador tem sua pena CP. Em seguida, deve considerar as circuns-
reduzida quando possibilita essas hipóteses. tâncias atenuantes e agravantes, se houver.
A colaboração poderá ocorrer na fase de in- E, por fim, deve aplicar as causas de diminui-
quérito policial ou no curso do processo cri- ção e aumento de pena, se existentes.
minal. Ressalte-se que o dispositivo não per-
mite o perdão judicial, mas tão somente a
redução da pena, em caso de condenação,
de um a dois terços, desde que cumpridos os
seguintes requisitos:

a) Colaboração voluntária do indiciado ou acu-


sado.

b) Identificação dos demais coautores ou partí-


cipes do crime.

c) Recuperação total ou parcial do produto do O artigo analisado prevê que deve o juiz,
crime. na fixação da pena, considerar com prepon-
derância sobre as demais circunstâncias do
Por fim, a redução da pena deve ser apli-
art. 59:
cada na sentença condenatória, pois o arti-
go é expresso em determinar “em caso de a) A natureza da substância ou do produto.
condenação”. Portanto, fica vedada, em tese,
antes da condenação, para a obtenção de b) A quantidade da substância ou do produto.

benefícios legais, tais como os previstos na


c) A personalidade do agente.
Lei nº 9.099/95.
d) A conduta social do agente.
Circunstâncias preponderantes
Fixação da pena de multa
O art. 42 da Lei nº 11.343/06 estabelece
que o juiz, na fixação das penas, considera- O art. 43 da Lei nº 11.343/06 estabelece
rá, sobre o previsto no art. 59 do Código Pe- que o juiz, na fixação da multa a que se refe-
nal, a natureza e a quantidade da substância
rem os seus arts. 33 a 39, atendendo ao que
ou do produto, a personalidade e a conduta
dispõe o art. 42, determinará o número de
social do agente.
dias-multa, atribuindo a cada um, segundo
Como é cediço, na fixação da pena, o juiz as condições econômicas dos acusados, va-
deve seguir o sistema trifásico, previsto no lor não inferior a 1/30 nem superior a cinco
art. 68 do Código Penal. Na primeira fase, vezes o maior salário-mínimo, segundo o art.
deve o julgador fixar a pena-base do crime 49 do Código Penal.

38
Direito Penal Aplicado à Saúde

Nos crimes apenados com multa, o legis- Fiança, sursis, graça, indulto, anistia,
lador já incluiu, no preceito secundário da liberdade provisória e penas restritivas
norma, a quantidade mínima e máxima de de direitos
dias-multa.
O art. 44 da Lei nº 11.343/06 estabelece
Na fixação desse número, entretanto, que os crimes previstos em seus arts. 33, ca-
put e § 1º, e 34 a 37 são inafiançáveis e in-
deve o juiz considerar as circunstâncias do
suscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e
art. 42 da Lei de Drogas, ou seja, a natureza
liberdade provisória, vedada a conversão de
e a quantidade da substância ou do produto, suas penas em restritivas de direitos, dando-
a personalidade e a conduta social agente. -se o livramento condicional após o cumpri-
Fixada a quantidade de dias-multa, deve o mento de dois terços dela, vedada sua con-
juiz atribuir valor a cada um. cessão ao reincidente.

Prevê a lei, ainda, que, no caso de con- Aos crimes de tráfico de drogas, aparelha-
curso de crimes, as penas de multa serão gem para a produção de drogas, associação
para o tráfico, financiamento ou custeio do
impostas sempre cumulativamente e que se,
tráfico e colaboração para o tráfico, não ca-
em virtude da situação econômica do acusa-
bem:
do, o juiz considerar a pena de multa inefi-
caz, ainda que aplicada no máximo, poderá a) Fiança.

aumentá-la até o décuplo. b) Sursis.

c) Graça.

d) Indulto.

e) Anistia.

f) Conversão da pena privativa de liberdade


em restritiva de direitos. Atenção ao HC STF
97.256, que declarou inconstitucional a veda-
ção da conversão.

Entretanto, com a recente alteração da Lei


dos Crimes Hediondos pela Lei nº 11.464/07,
os crimes hediondos e assemelhados, dentre
eles o de tráfico, passaram a comportar a
concessão de liberdade provisória sem fiança
(art. 2º, II), sendo alterado, por consequên-
cia, o teor do art. 44 da Lei nº 11.343/06.

39
Direito Penal Aplicado à Saúde

Por outro lado, essa posição não é pacífica, Dependência e inimputabilidade


havendo recentes decisões do Supremo Tri-
bunal Federal entendendo que o art. 44 da
Lei nº 11.343/06, por ser norma especial, pre-
pondera sobre o disposto no art. 2º, II, da Lei
nº 8.072/90, com a nova redação que lhe foi
dada pela Lei nº 11.464/07.

Em maio de 2012, pelo HC 104.339, o STF


declarou inconstitucional a vedação da liber-
dade provisória no art. 44 da Lei de Drogas Fonte: http://www.indike.com.br/dicas/2013/01/psicologo-
(Lei nº 11.343/06). da-dicas-para-lidar-com-dependente-de-drogas/.

Destaque-se que a pena pelo crime de trá- O art. 45 da Lei nº 11.343/06 estabelece
fico de drogas será cumprida inicialmente em ser isento de pena o agente que, em razão
da dependência ou sob o efeito, provenien-
regime fechado, admitindo-se, portanto, a
te de caso fortuito ou força maior, de droga,
progressão após o cumprimento de dois quin-
era, ao tempo da ação ou omissão, qualquer
tos dela, se o criminoso for primário, ou três
que tenha sido a infração penal praticada,
quintos, se reincidente (art. 2º, §§ 1º e 2º, Lei
inteiramente incapaz de entender o caráter
nº 8.072/90, com a redação que lhe foi dada
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
pela Lei nº 11.464/07).
com esse sentimento. O juiz poderá, na sen-
tença que absolver o agente, reconhecendo,
O livramento condicional somente poderá por força pericial, que este se encontrava ao
ser concedido se o condenado, além de pre- tempo do delito sob as circunstâncias previs-
encher os demais requisitos legais para a ob- tas no caput deste artigo, determinar o seu
tenção do benefício (art. 83, Código Penal), encaminhamento para tratamento médico
tiver cumprido mais de dois terços da pena e adequado.
não for reincidente específico.
A dependência prevista no artigo em co-
mento pode ser definida como a intoxicação
Ressalte-se que a Lei nº 11.343/06, ao re-
crônica por uso repetido de drogas que de-
ferir-se à reincidência específica, restringiu-a
termina doença mental supressora da capa-
aos casos dos crimes previstos em seus arts.
cidade de entendimento e de determinação
33, caput e § 1º, e 34 a 37. no momento do fato criminoso.

Portanto, não pode ser vedado o livramen- É importante destacar que a dependência
to condicional se o condenado for reincidente é diferente do vício. Este se caracteriza pela
em outro crime hediondo ou assemelhado. mera compulsão no uso do entorpecente,

40
Direito Penal Aplicado à Saúde

sem qualquer consequência na liberdade de determinará que a tal se proceda, observa-


querer do agente. O vício não retira deste a do o disposto no artigo 26 desta Lei.

consciência da ilicitude do crime, mantendo


preservada a capacidade de entender e de Dos crimes contra a saúde previstos
querer. Já a dependência integra o conceito na Lei de Crimes Ambientais – Lei nº
de doença mental, de modo que retira to- 9.605/98
talmente a responsabilidade do agente, sub-
vertendo-lhe a consciência e a vontade, bem Dos crimes previstos nos arts. 54 e 56
como a capacidade de autodeterminação. da Lei 9.605/98

Semi-imputabilidade

O art. 46 da Lei nº 11.343/06 estabelece


que as penas podem ser reduzidas de um
terço a dois terços se, por força das circuns-
tâncias previstas em seu art. 45 , o agente
não possuía, ao tempo da ação ou omissão,
a plena capacidade de entender o caráter ilí-
cito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento. Fonte: http://noticias.band.uol.com.br/
mundo/noticia/100000639182/nuvem-de-
poluicao-cobre-cidade-chinesa.html.
Esse artigo estabelece a redução de pena
ao agente semi-imputável, assim conside- Art. 54. Causar poluição de qualquer na-
rado aquele que, ao tempo da ação ou da tureza em níveis tais que resultem ou pos-
omissão, em razão da dependência ou sob o sam resultar em danos à saúde humana, ou
efeito da droga, proveniente de caso fortuito que provoquem a mortandade de animais
ou força maior, não possuía a plena capaci- ou a destruição significativa da flora:
dade de entender o caráter ilícito do fato ou
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro)
de determinar-se de acordo com esse enten-
anos, e multa. § 1 ° Se o crime é culposo:
dimento. Ressalte-se que não se aplicam as
normas referentes às medidas de segurança Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1
ao semi-imputável, que deverá receber pena (um) ano, e multa. § 2° Se o crime:
reduzida, podendo ser encaminhado a trata-
I - tornar uma área, urbana ou rural, im-
mento por força do disposto no art. 47:
própria para a ocupação humana;
Na sentença condenatória, o juiz, com
base em avaliação que ateste a necessidade II - causar poluição atmosférica que pro-
de encaminhamento do agente para trata- voque a retirada, ainda que momentânea,
mento, realizada por profissional de saúde dos habitantes das áreas afetadas, ou que
com competência específica na forma da lei, cause danos diretos à saúde da população;

41
Direito Penal Aplicado à Saúde

III- causar poluição hídrica que torne ne- (art. 158 do CPP) para a formação da mate-
cessária a interrupção do abastecimento pú- rialidade.
blico de água de uma comunidade;

Tipo subjetivo: o dolo. É punível a for-


IV - dificultar ou impedir o uso público
das praias;
ma culposa, conforme expressa previsão no
§ 1º.
V - ocorrer por lançamento de resíduos
sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, Consumação e forma tentada: consu-
óleos ou substâncias oleosas, em desacordo ma-se com a prática da conduta de “causar”
com as exigências estabelecidas em leis ou
poluição em níveis de que resultem danos à
regulamentos:
saúde, admitindo-se a forma tentada.

Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco)


anos. Crime qualificado pelo resultado: se o
resultado assumido originalmente pelo agen-
§ 3° Incorre nas mesmas penas previstas te, direta ou indiretamente, ultrapassar o
no parágrafo anterior quem deixar de ado- programado e amoldar-se aos casos previs-
tar, quando assim o exigir a autoridade com- tos no § 2º, as penas serão mais elevadas,
petente, medidas de precaução em caso de
qualificando o ilícito.
risco de dano ambiental grave ou irreversí-
vel.
Quanto ao § 3º, a conduta é de “deixar
Objeto jurídico: a proteção ao meio am- de adotar” (não colocar em prática) medi-
biente e à qualidade de vida, sendo que o das de prevenção (precaução, acautelatória)
objeto material será o homem, o animal ou em situação de risco de dano, somente sen-
a vegetação. do praticado dolosamente por quem tem a
obrigação de agir, segundo disposição legal.
Por tratar-se de crime omissivo, não admite
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
a forma tentada.

Sujeito passivo: a coletividade; secun-


Art. 56. Produzir, processar, embalar,
dariamente, a pessoa que sofreu os efeitos importar, exportar, comercializar, fornecer,
da poluição ou o dono dos animais mortos e transportar, armazenar, guardar, ter em
das plantas destruídas. depósito ou usar produto ou substância
tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana
ou ao meio ambiente, em desacordo com as
Tipo objetivo: a conduta incriminada
exigências estabelecidas em leis ou nos seus
será a de causar (provocar o surgimento) regulamentos:
relevante poluição (prejudicial à saúde) ou
que possa causar mortandade de animais ou Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro)
destruição de vegetais. É necessária perícia anos, e multa.

42
Direito Penal Aplicado à Saúde

§ 1° Nas mesmas penas incorre quem: lesões à saúde ou à integridade física de se-
res vivos) sem autorização legal.
I - abandona os produtos ou substâncias
referidos no caput ou os utiliza em desacordo
com as normas ambientais ou de segurança. O ilícito presente diferencia-se dos previs-
tos nos arts. 15 e 16 da Lei nº 7.802/89 (Lei
II – manipula, acondiciona, armazena, de Agrotóxicos) por ser específica, prevale-
coleta, transporta, reutiliza, recicla ou dá
cendo sobre o meio ambiente.
destinação final a resíduos perigosos de for-
ma diversa da estabelecida em lei ou regu-
lamento.
Quanto ao § 1º, “abandonar” (largar em
algum lugar) e “utilizar” (fazer uso), o pri-
§ 2° Se o produto ou a substância for nu-
clear ou radioativa, a pena é aumentada de meiro refere-se a lugares inapropriados, em
1/6 ( um sexto) a 1/3 (um terço). razão do perigo que representam, e o segun-
do associa-se às normas de segurança im-
§ 3° Se o crime é culposo: postas por leis e regulamentos (norma penal
em branco), tornando-a criminosa.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1
(um) ano, e multa.
Quanto ao § 2º, refere-se à substância tó-
Objeto jurídico: a proteção ao meio am- xica nuclear (capaz de produzir energia) ou
biente, sendo o objeto material a substância radioativa (capazes de emissão de partículas
tóxica. ou radiações eletromagnéticas).

Sujeito ativo: qualquer pessoa.


A Lei de Atividades Nucleares (Lei nº
6.453/77) é especial e prevalece sobre esse
Sujeito passivo: a coletividade.
dispositivo, só se aplicando a lei ambiental
quando a conduta não estiver prevista nela,
Tipo objetivo: a conduta incriminada será como abandonar produto nuclear.
a de “produzir (dar origem, criar), processar
(manipular), embalar (acondicionar em pa-
Tipo subjetivo: o dolo.
cotes, caixas etc.), importar (trazer para o
território), exportar (levar do território), co-
mercializar (inserir no mercado para vender É punível a forma culposa, expressamente
ou comprar), transportar (levar de um lugar prevista no § 3º.
para outro), armazenar (guardar em esto-
que), guardar (manter sob vigilância), ter Consumação e forma tentada: consu-
em depósito (possuir à disposição em lugar ma-se com a prática de uma das condutas
definitivo) e usar (servir-se) substância ou elencadas no tipo, admitindo-se, embora di-
produto tóxico (venenosa) que possa causar fícil, a forma tentada.

43
Direito Penal Aplicado à Saúde

Espécies de ritos processuais Até 2008, o que definia o procedimento


era a qualidade da pena prevista no tipo pe-
nal. Assim, se o crime fosse apenado com
reclusão, o procedimento seria o ordinário,
e, se o fosse com detenção, seria o sumário.
De 2008 em diante, o que passou a definir a
qualidade da pena foi a sua quantidade, não
mais a qualidade.

Por não se prever um procedimento espe-


cial para apuração dos crimes relacionados
ao consumo, adota-se o procedimento co-
mum, previsto no art. 394 do Código de Pro-
cesso Penal. Uma vez que na Lei nº 8.137/90
incidirá um procedimento (ordinário) e na
Lei nº 8.078/90 incidirá outro (sumaríssimo),
ambos serão expostos.

Define-se o procedimento como:

1. Comum ordinário (art. 394, § 1º, I, e


396 a 405, CPP) – pena privativa de
liberdade igual ou superior a quatro
anos.

2. Comum sumário (art. 394, § 1º, II, e


O tema agora desenvolvido visa a uma
531 a 536, CPP) – pena privativa de
melhor compreensão quanto ao procedimen-
liberdade inferior a quatro anos.
to aplicado para apuração e eventual con-
denação quando da prática de uma conduta 3. Comum sumaríssimo (art. 394, §
ilícita versando sobre consumo. 1º, III, e art. 61, Lei nº 9.099/95)
– todas as contravenções penais,
Levando em conta que não se permite independente do quantum da pena,
fazer justiça com as próprias mãos pelo ci- bem como os crimes cuja pena
dadão, direito esse pertencente ao Estado, máxima em abstrato não ultrapasse
deve-se lembrar que a ação penal é o direito dois anos.
de se invocar a prestação da tutela jurisdi-
cional ao Estado-Juiz, que se valerá de um 4. Especiais – no CPP:
conjunto de atos (processo) que obedecerá a. Júri – arts. 406 a 497, CPP
uma sequência chamada de procedimento. (vide Lei nº 11.689/08).

44
Direito Penal Aplicado à Saúde

b. Responsabilidade de funcionário público – arts. 513 a 518, CPP.

c. Contra a honra – arts. 519 a 523, CPP (vide Lei nº 9.099/95).

d. Contra a propriedade imaterial – arts. 524 a 530, CPP.

Procedimento comum ordinário

Fonte: http://entendeudireito.blogspot.com.br/2011/09/procedimento-ordinario-processo-penal_18.html.

Há um procedimento em regra para os crimes com pena igual ou superior a quatro anos
de privativa de liberdade.
• Oferecimento da denúncia (46 CPP – cinco dias).

Nos termos do art. 401 do CPP, serão arroladas até oito testemunhas pela acusação e pela
defesa. Pelo art. 401, § 1º, do CPP não se compreendem as que não prestam compromisso
e referidas.

45
Direito Penal Aplicado à Saúde

Nota: até oito testemunhas por parte, po- nº 11.900/09, no qual o requerente
rém há julgados permitindo até oito teste- arca com custas do envio).
munhas por fato (TJSP, Apel. 203.161-3, 2ª
Câmara, 1.jun.1998), e não por parte no pro- d) Por hora certa, nos termos dos arts.
cesso. 227 a 229 CPC, se o acusado se
oculta – art. 362, CPP. Nos termos
Caso não seja recebida a denúncia/quei- do parágrafo único desse artigo, se
xa: RESE – art. 581, I, CPP. o acusado não comparecer, ser-lhe-á
nomeado defensor dativo.
• Rejeição da denúncia/queixa – art.
395, CPP, dispositivo que revogou o e) Edital:
art. 43 do CPP.
a. Não encontrado, prazo de 15
dias – art. 361, CPP.
Ocorre se:
b. Art. 366, caput, do CPP quanto
I. For manifestamente inepta.
ao não comparecimento e nem
II. Faltar pressuposto processual constituição de defensor. Ver
ou condição para a ação. súmula 415 do STJ.

III. Faltar justa causa. f) Militar, por intermédio do chefe – art.


358, CPP.
• Recebimento da denúncia/queixa
g) Para réu preso, a citação é pessoal –
art. 360, CPP.
Se não for rejeitada liminarmente (art. 396,
CPP), determinando a citação do acusado Prazo para resposta (defesa) da acusação:
para responder à acusação, por escrito, no 10 dias.
prazo de 10 dias.
Conta-se o prazo, para quem foi citado por
• Citação edital, a partir do comparecimento pessoal
do acusado ou do defensor constituído – art.
Art. 351 e seguintes do CPP: 396, § único, CPP. Prazo para demais casos:
art. 798, CPP, e Súmula 310 do STF. A súmu-
a) Por mandado – art. 351, CPP. la 710 do STF diz que se conta da intimação,
não da juntada aos autos do mandado ou da
b) Precatória – art. 353, CPP.
carta precatória ou de ordem.
c) Rogatória – art. 368, CPP: suspende
Na resposta à acusação, o acusado pode-
prazo de prescrição até seu cumpri-
rá arguir preliminares, alegar o que interessa
mento (observar o art. 222-A – Lei
à defesa, juntar documentos e justificações,

46
Direito Penal Aplicado à Saúde

especificar provas e arrolar testemunhas – • Diligências cuja necessidade se origine


art. 396-A, CPP. na instrução – art. 402, CPP (embora
não previsto no art. 404, pode o assis-
Oferecida a resposta (art. 397, CPP), o juiz tente do MP requerer diligências).
absolve sumariamente (julgamento anteci-
pado da lide quando comprova situação fáti- • Debates: 20 minutos, prorrogáveis por
ca ou jurídica) se: mais 10 – art. 403, CPP. Havendo mais
de um acusado, o prazo será individu-
I) Houver excludente de ilicitude.
al – § 1º.
II) Houver excludente de culpabili-
• Havendo assistente do MP, após a ma-
dade, exceto inimputável.
nifestação deste, serão concedidos 10
III) O fato não constituir crime. minutos, prorrogando por igual perío-
do o tempo da defesa.
IV) Estiver extinta a punibilidade.

Recebida a denúncia/queixa, determina-


-se audiência – art. 399, CPP. Pelo parágrafo
1º, acusado preso deve ser requisitado para
interrogatório. O parágrafo 2º determina que
o juiz que presidiu a instrução deverá proferir
a sentença.

A audiência de instrução e julgamento


deve ser realizada no prazo máximo de 60
dias – art. 400, CPP. Princípio da concentra-
ção dos atos processuais:
Observação: art. 405, § 1º, CPP – reali-
• Ofendido. zação de registro, sempre que possível, por
gravação magnética, estenotipia, digital ou
• Testemunha de acusação. similar, inclusive audiovisual – neste caso,
com cópia às partes sem necessidade de
• Testemunha de defesa. transcrição (§ 2º).

• Peritos Sendo caso complexo ou de acordo com o


número de acusados, concede-se às partes o
• Acareações e reconhecimentos. prazo de cinco dias para memoriais.

• Interrogatório (art. 474, § 1º, CPP: Tendo havido diligências, as partes


pergunta direta ao acusado). apresentarão alegações finais no prazo de

47
Direito Penal Aplicado à Saúde

cinco dias, sendo a sentença proferida em o) Dativo: intimação pessoal de precató-


dez dias – art. 404, § único, CPP. ria – art. 370, § 4º, CPP.

Dispositivos gerais quanto à instrução: p) Redesignação de audiência por ausên-


cia justificada de advogado – art. 265,
a) Procuração apud acta, independente
§ 1º, CPP.
de instrumento – art. 266, CPP.
q) Testemunha por precatória – art. 222,
b) Defensor ad hoc – art. 265, § 2º, CPP.
CPP – no local onde ela mora, poden-
c) Quem não presta compromisso não é do ser por videoconferência (§ 3º).
testemunha – art. 401, § 1º, CPP.
Nulidades: art. 571, II, CPP.
d) Contradita – art. 214, CPP.
Falta de alegações finais (hoje debates ou
e) Perguntas diretas das partes – art. memoriais – nulidade – RT 604/384).
212, CPP.
Sentença: requisitos formais no art. 381
f) Retirada do réu da sala – art. 217, CPP do CPP:
– no caso de não ser possível por vide-
oconferência. I) Relatório/resumo dos atos do processo
(I e II).
g) Condução coercitiva – arts. 218 e 535,
CPP. II) Fundamentação ou motivação (III).

h) Desistência de inquirição – art. 401, § III) Decisum, conclusão do processo (IV e


2º, CPP. V).

i) Enfermidade de pessoa intimada para IV) Autenticação – data e assinatura do


depor – art. 220, CPP. juiz (VI).

m) Funcionário público pelo chefe – art. Prazo: na audiência de debates, art. 403
221, § 3º, CPP. do CPP. Se não for na audiência, em 10 dias,
segundo o § 3º, com mais 10 no caso do art.
n) Autoridades – art. 221, § 1º, CPP.
800, I e § 3º.

o) Antecipação – art. 225, CPP.


Ementatio libelli (correção da acusação):
p) Juntada de documentos em qualquer art. 383, CPP. O juiz poderá dar capitulação
fase – art. 231, CPP. diversa da denúncia, ainda que aplique pena
mais severa, desde que os fatos tenham sido
n) Acareação – art. 229, CPP. narrados.

48
Direito Penal Aplicado à Saúde

Princípio da correlação na sentença penal: Em caso de absolvição – art. 386, CPP.


garantia da ampla defesa, sob pena de nu-
lidade. Isso significa correlação entre a sen- Publicação e intimação da sentença – arts.
tença e o fato descrito na denúncia ou quei- 391 e 392, CPP.
xa.
Aspectos do procedimento sumaríssi-
Princípio da jura novit curia (livre convic- mo (Lei nº 9.099/95)
ção do Direito), consubstanciada no narra
mihi factum dabo tibi jus (narra-me os fatos
que lhe darei o Direito), que significa que o
réu não se defende da capitulação, mas da
descrição fática narrada.

Mutatio libelli (mudança da acusação): art.


384, CPP. Ocorre quando o fato narrado é di-
ferente do fato provado, não podendo o juiz
sentenciar de imediato, respeitando o direito
de defesa.
Haja vista que o art. 394 do Código de
Há aditamento da acusação caso tenha
Processo Penal estabelece o procedimento
restado provado fato não contido na denún-
comum sumaríssimo, sendo certo que será
cia/queixa (somente na privada subsidiária
aplicado em crimes contra a saúde pública
da pública, princípio/essência é da pública.
pela quantidade de sua pena, passamos à
Se for privada exclusiva, cabe ao particular).
análise da referida lei em alguns de seus ins-
O MP aditará em cinco dias a denúncia ou
titutos.
queixa se, em virtude desta, houver sido ins-
taurado o processo em crime de ação pública A Constituição Federal, em seu art. 98, I,
(art. 384, CPP). Não procedendo o aditamen- criou uma nova categoria de infração penal
to, aplica-se o art. 28 do CPP (art. 384, § 1º).
em Direito Penal (infração penal de menor
potencial ofensivo) e estabeleceu a compe-
O defensor terá cinco dias para manifes-
tência dos JECRIM (Juizados Especiais Crimi-
tação, seguido de audiência com inquirição nais) para sua análise e julgamento no âmbi-
de testemunhas, interrogatório e debates to da Justiça Estadual.
(art. 384, § 2º, CPP). No caso de rejeição do
aditamento, caberá RESE; acolhendo, caberá Quantos aos princípios que regem a Lei nº
HC. Cada parte poderá arrolar até três teste- 9.099/95, cumpre destacar que, etimologica-
munhas no prazo de cinco dias (art. 384, § mente, o termo princípio possui alguns sig-
4º, CPP). Isso, no entanto, não pode ocorrer nificados, dentre os quais o de momento em
em segunda instância (Súmula 453 do STF). que algo tem origem, causa primária, pre-

49
Direito Penal Aplicado à Saúde

ceito, fonte ou causa de uma ação (NUCCI, Já quanto ao conceito de infração de me-
2010, p. 62). nor potencial ofensivo, devido à divergência
entre doutrina e jurisprudência, ele foi unifi-
Para Edilson Mougenot Bonfim (2010, p. cado pela Lei nº 11.313/06, sendo a redação
66), tem-se que “princípio é considerar algo do art. 61 da Lei nº 9.099/95: “contravenção
do começo, ou compreender (tomar) o que penal e crime cuja pena máxima cominada
vem primeiro”, já que vem do latim deri- em abstrato seja até dois anos”. Assim, con-
vando de primus, que quer dizer primeiro, clui-se que todas as contravenções são infra-
e cipium, que provém de capio, significando ções penais de menor potencial ofensivo.
considerar.
A Lei nº 9.099/95 veio para delimitar o
conceito de crime de menor potencial ofen-
sivo previsto na Constituição para o âmbito
estadual, sendo na esfera federal o mesmo
tema tratado pela Lei nº 10.259/01, com ex-
ceção de contravenção penal.

Deve ser levado em consideração para


a definição de infração de menor potencial
ofensivo que a pena máxima não pode ser
superior a dois anos, incluindo casos de di-
Nesse diapasão, Guilherme de Souza Nucci
minuição e aumento, bem como de concurso
(2010, p. 62) retrata que o conceito de prin-
de crimes. No caso de crime em sua forma
cípio jurídico indica uma ordenação que se
tentada, há necessidade de diminuir a san-
irradia e imanta os sistemas de normas, ser- ção à fração mínima correspondente a um
vindo de alicerce para a interpretação, para terço (art. 14, CP) da duração da pena má-
a integração, para o conhecimento e para a xima cominada abstratamente para que se
aplicação do Direito. observe se o fato ilícito estará ou não sujeito
ao procedimento da Lei nº 9.099/95.
Assim, observa-se que a ciência jurídica
processual contemporânea fixou preceitos Mirabete (1998, p. 33) menciona que, tra-
basilares que dão forma e caráter aos siste- tando-se de crime qualificado, o limite má-
mas processuais do ordenamento jurídico, os ximo a se considerar é aquele previsto abs-
princípios. tratamente na lei penal. Ainda comenta que
serão sempre computadas, para a aferição
Tem-se como princípios dos Juizados Es- do limite máximo estabelecido na lei, as cau-
peciais a oralidade, a informalidade, a eco- sas de aumento de pena previstas no Códi-
nomia processual e a celeridade (art. 62, Lei go Penal e em lei extravagante. Ressalta, no
nº 9.099/95). entanto, que, na aferição da pena máxima

50
Direito Penal Aplicado à Saúde

em abstrato, não se deve computar eventual Também não serão apreciados pelos Jui-
aumento por circunstância judicial ou agra- zados Especiais crimes de menor potencial
vante (arts. 59, 61 e seguintes, CP). Pelo ofensivo quando praticados em concurso com
mesmo motivo, não há que se computar as outros que estão excluídos de tal competên-
atenuantes (arts. 65 e 66, CP), isso pelo fato cia. São os chamados “crimes conexos”, em
de circunstância judiciais, atenuantes e agra- que a competência é determinada pelo juízo
vantes não terem força para ultrapassarem a competente para processar e julgar o crime
pena mínima e máxima. mais grave (art. 78, CPP). A exceção está no
art. 79 do Código de Processo Penal, que tra-
Quanto ao concurso de crimes, se o agen-
ta da ocorrência de separação obrigatória de
te praticar dois ou mais em concurso, será
processos. Com a alteração sofrida pela Lei
considerada a soma das penas como limite
nº 9.099/95 em função da Lei nº 11.313/06,
para a competência do Juizado Especial Cri-
traz o art. 60, § único, da Lei dos Juizados
minal (ANDREUCCI, 2011, p. 446). Se a pena
Especiais: “Na reunião de processos, perante
ultrapassar o montante de dois anos, afasta-
o juízo comum ou o tribunal do júri, decor-
-se a competência dos Juizados Especiais, e,
rentes da aplicação das regras de conexão e
por consequência, o procedimento previsto
continência, observar-se-ão os institutos da
nela.
transação penal e da composição dos danos
Note-se que existem súmulas dos órgãos civis”.
superiores que versam sobre o tema ao ex-
Já em benefício do agente, prevê a Sú-
cluírem benefícios previstos na lei. Quanto ao
mula 337 do STJ que “é cabível a suspensão
sursis processual, a Súmula 243 do Superior
condicional do processo na desclassificação
Tribunal de Justiça dispõe:
do crime e na procedência parcial da preten-
O benefício da suspensão do proces- são punitiva”. Da mesma forma, o art. 383,
so não é aplicável em relação às infrações § 1º, do CPP admite a proposta da suspen-
penais cometidas em concurso material, são condicional do processo quando ocorrer
concurso formal ou continuidade delitiva
emendatio libelli.
quando a pena mínima cominada, seja pelo
somatório, seja pela incidência majorante,
Conforme Ada Pellegrini Grinover et al.
ultrapassar o limite de 1 (um) ano.
(2005, p. 79), no que concerne aos crimes
Já o Supremo Tribunal Federal, na Súmu- continuados e em concurso formal, não se
la 723, traduz: “Não se admite a suspensão deve considerar o acréscimo, mas somente
condicional do processo por crime continua- o tempo de pena previsto para cada ilícito
do, se a soma da pena mínima da infração isoladamente, sendo que a mesma solução
mais grave com o aumento mínimo de um pode ser aplicada à suspensão condicional
sexto for superior a um ano”. do processo.

51
Direito Penal Aplicado à Saúde

Superado o alcance do conceito de infração ou não cominada multa isolada, alternada


de menor potencial ofensivo, cumpre agora ou cumulativamente, assim como não tem
destacar que a referida Lei nº 9.099/95 nenhuma relevância qual procedimento,
comporta quatro medidas despenalizadoras, salvo algumas exceções:
e não descriminalizadoras, a ser aplicadas
imediatamente para substituir a persecução 1. Não se aplica aos crimes militares (art.
penal do Estado. 90–A, Lei nº 9.099/95).

Essa lei não cuidou de nenhum processo 2. Na Lei Maria da Penha (Lei nº
de descriminalização, isto é, não retirou o 11.340/06), no art. 41, expressamen-
caráter ilícito de nenhuma infração penal. te é afastada a aplicação da Lei nº
Mas disciplinou, isso sim, quatro medidas 9.099/95.
despenalizadoras (que são medidas penais
3. O art. 28 da Lei de Drogas (Lei nº
ou processuais alternativas que procuram
11.343/06) expressamente admite o
evitar a pena de prisão):
JECRIM (Juizado Especial Criminal) e a
1ª) Nas infrações de menor potencial transação penal.
ofensivo de iniciativa privada ou pú-
4.
No Estatuto do Idoso (Lei nº
blica condicionada, havendo a com-
posição civil, resulta extinta a punibi- 10.741/03), o art. 94 determina a apli-
lidade (art. 74 § único). cação do procedimento sumaríssimo
aos crimes nele previstos cuja pena
2ª) Não havendo composição civil ou tra- máxima seja de até quatro anos, em
tando-se de ação pública incondicio- razão de sua maior celeridade.
nada, a lei prevê a aplicação imediata
de pena alternativa (restritiva ou mul- 5. Não se admite no JECRIM citação por
ta) (transação penal, art. 76). edital. Se o réu estiver em local incerto
ou não sabido, os autos serão encami-
3ª) As lesões corporais culposas ou leves nhados ao Juízo comum.
passaram a exigir representação da
vítima (art. 88). 6. Em se tratando de continência ou
conexão com crime comum, a Lei
4ª) Os crimes cuja pena mínima não seja nº 9.099/95, alterada pela Lei nº
superior a um ano permitem a sus- 11.313/2006, determina que os autos
pensão condicional do processo (art. sejam encaminhados ao juízo comum.
89).
7. Os ilícitos tratados pela Lei nº 9.099/95
Vale ressaltar que a referida lei é aplicada não admitem prisão preventiva, ainda
tanto para crime como para contravenção, que se fale na necessidade de garan-
diante da pena imposta, independente de ser tia da ordem pública ou da ordem eco-

52
Direito Penal Aplicado à Saúde

nômica, na conveniência da instrução Em juízo, ocorre tentativa de conciliação


criminal ou para assegurar a aplicação no âmbito civil e penal. A conciliação civil é
da lei penal quando houver prova da chamada de composição de danos (art. 74,
existência do crime e indício suficiente Lei nº 9.099/95), estabelecida entre autor
de autoria (art. 312, CPP) e, eventu- e vítima. A conciliação penal é chamada de
almente, os autos sigam para o juízo transação penal e é oferecida pelo represen-
comum. Isso pois o CPP, em seu art. tante do Ministério Público, conforme o art.
313, I, é claro em dizer que a decreta- 76 da referida lei.
ção da prisão preventiva será admitida
Art. 74 - A composição dos danos civis
nos crimes dolosos punidos com pena
será reduzida a escrito e, homologada pelo
privativa de liberdade máxima superior Juiz mediante sentença irrecorrível, terá efi-
a quatro anos. cácia de título a ser executado no juízo civil
competente.
Quanto ao procedimento na atuação poli-
cial, diante um crime que contemple essa lei, Art. 76 - Havendo representação ou tra-
é lavrado termo circunstanciado ao invés de tando-se de crime de ação penal pública
incondicionada, não sendo caso de arquiva-
auto de prisão em flagrante, como diz Grino-
mento, o Ministério Público poderá propor
ver (2012, p. 99): “O termo circunstanciado a aplicação imediata de pena restritiva de
a que alude o dispositivo nada mais é do que direitos ou multas, a ser especificada na
um boletim de ocorrência mais detalhado”. proposta.

Não será lavrado auto de prisão em fla- A composição civil de danos é um “acor-
grante em duas hipóteses: se o agente for do” entre o autor do fato e a vítima, a qual
imediatamente encaminhado ao Juizado ou posteriormente, homologada pelo juiz, se
se assumir o compromisso de comparecer a transformará em um título executivo judicial,
ele na data marcada. Trata-se de um direto transformando a punição em dívida de valor,
público subjetivo do autuado. como entende Grinover (2012, p. 121): “A
homologação do acordo civil pelo juiz con-
O benefício de responder ao processo em figura sentença à qual a lei confere eficácia
liberdade, mesmo no caso de flagrante, é o de título executivo judicial”. Ainda, havendo a
incentivo que a lei oferece para o compare- composição dos danos, estará extinta a puni-
cimento do autuado ao juízo. Trata-se de um bilidade do agente.
direito público subjetivo do autuado, que não
pode ser negado pela autoridade competen- Não havendo composição dos danos entre
te (GRINOVER, 2002, p. 102-3). autor dos fatos e vítima na ação pública con-
dicionada, ou tratando-se de ação pública
O art. 28 da Lei de Drogas prevê que não incondicionada, será possível outro instituto
se lavra auto de prisão em flagrante em ne- benéfico, a transação penal, entendido como
nhuma hipótese, por não mais haver previ- uma mitigação do princípio da obrigatorieda-
são de pena de prisão. de da ação penal, cuja aceite pelo autor dos

53
Direito Penal Aplicado à Saúde

fatos provocará sentença de caráter homolo- Em síntese, tratando-se de ação penal pú-
gatório. blica incondicionada, ou havendo represen-
tação na condicionada, e não sendo o caso
Deve ser levado em consideração que a de arquivamento, o Ministério Público propo-
sentença não poderá ser classificada como rá a transação penal, aplicando-se, de plano,
absolutória, uma vez que é imposta uma pena restritiva de direitos ou multa que será
sanção de natureza penal. especificada na proposta. É o que estabelece
o art. 76 da Lei nº 9.099/95 em seu caput.
Mas também não poderá ser considerada
condenatória, uma vez que não houve acu- Se o autor dos fatos preencher os requi-
sação, e a aceitação da imposição da pena sitos estabelecidos, a oferta de transacionar
não tem consequências no campo criminal deverá ser, e não poderá ser, proposta pelo
(salvo para impedir novo beneficio no prazo órgão ministerial. Fernando da Costa Touri-
de cinco anos, conforme art. 76 da Lei nº nho Neto e Joel Dias Figueira Júnior (2011,
9.099/95). p. 630) afirmam que “estamos diante de um
poder-dever”.
A transação proposta pelo Ministério Públi-
co, nos termos do art. 76, precisa de alguns Fernando da Costa Tourinho Filho (2011,
requisitos: p. 135-6) firma como deve ser feita a pro-
posta. Segundo seus escritos, o membro do
1. A ação deve ser pública incondicio- Parquet, ao formular a proposta, deve proce-
nada ou, se for condicionada, deve der de maneira clara e bem especificada, de
estar presente a representação. modo a não gerar a menor dúvida sobre ela.
“Se se tratar de multa, torna-se necessária a
2. Não ter sido caso de arquivamento. indicação do seu valor. Se medida restritiva
de direito, dizer qual delas.”
3. Não ter sido o agente condenado por
crime com pena privativa de liberda- No que se refere às penas restritivas de
de. direitos, elas serão propostas dentro do que
estabelece o art. 43 do CP:
4. Suficiência da medida, observadas as
Art. 43. As penas restritivas de direitos
circunstâncias judiciais do art. 59 do
são:
Código Penal Brasileiro, devendo ser
adequada a aplicação da medida. I - prestação pecuniária;

5. Não ter sido beneficiado pela transa- II - perda de bens e valores;

ção nos últimos cinco anos.


III - (VETADO)

6. Aceitação da transação pelo denun- IV - prestação de serviço à comunidade


ciado. ou a entidades públicas;

54
Direito Penal Aplicado à Saúde

V - interdição temporária de direitos; sido condenado por outro crime, presentes


os demais requisitos que autorizariam a sus-
VI - limitação de fim de semana. pensão condicional da pena (art. 77 do Có-
digo Penal Brasileiro).
Descumprida a pena alternativa imposta
pela transação penal, surgem dois entendi- A suspensão condicional do processo (sur-
mentos pelos tribunais superiores. O Supre- sis processual), assim como a da pena (art.
mo Tribunal Federal entende que se desfaz 77, CP, sursis penal), é uma forma de políti-
o acordo da transação penal e assim se en- ca criminal para não impor ao acusado uma
caminha os autos ao Ministério Público para pena privativa de liberdade em face de seu
providências quanto à ação penal, uma vez menor grau de periculosidade criminal. São
que entende que a sentença homologatória requisitos para obtenção desse benefício:
não faz coisa julgada. Já o Superior Tribunal
1. Crime cuja pena mínima cominada em
de Justiça entende que a sentença homolo-
abstrato seja igual ou inferior a um
gatória faz coisa julgada formal e material,
ano.
portanto, não pode ser desfeita e deve ser
executada, mas não diz como.
2. Não estar o agente sendo processado
por crime.
Em termos práticos, magistrados condicio-
nam a homologação da sentença à compro-
3. Não ter sido o agente condenado por
vação do cumprimento da pena alternativa
crime, exceto se este já foi depurado
nos autos.
em relação à reincidência.
Outra peculiaridade da Lei é o que diz
4. Suficiência da medida: as circunstân-
respeito à suspensão do processo. O art. 89
cias judiciais devem apontar que a
da Lei nº 9.099/95 cuida desse benefício,
medida é adequada.
que acarreta a suspensão do processo por
um período de prova de dois a quatro anos, 5. Aceitação pelo beneficiário da medida.
durante o qual serão impostas condições.
Transcorrido esse período sem a revogação O referido benefício possui efeitos de não
do benefício, é declarada extinta a punibili- reconhecer culpa, não gerar nenhum efeito
dade do agente. Conforme disposto no arti- civil, não gerar reincidência, não constar da
go: folha de antecedentes.

Art. 89. Nos crimes em que a pena mí- Já que a decisão do juiz que decreta a
nima cominada for igual ou inferior a um suspensão do processo não julga o mérito
ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Mi-
(não absolve ou condena, nem julga extinta
nistério Público, ao oferecer a denúncia, po-
derá propor a suspensão do processo, por
a punibilidade), não há de se falar sentença.
dois a quatro anos, desde que o acusado Trata-se, então, de uma decisão interlocutó-
não esteja sendo processado ou não tenha ria (decisão que não encerra o processo).

55
Direito Penal Aplicado à Saúde

Observa-se no art. 89 da Lei nº 9.099/95 nas lesões corporais culposas e leves (art.
um período de provas, no qual são impostas 88) e a suspensão condicional do processo
condições, que podem ser legais, previstas (art. 89). Estes últimos gozam de autonomia
no § 1º, ou judiciais, previstas no § 2,º que frente aos juizados.
são as fixadas pelo juiz, no caso concreto,
desde que adequadas: Serão aplicados também neles, não há
duvida, mas, em virtude dessa autonomia, é
Art. 89 § 1º Aceita a proposta pelo acusa- evidente que serão aplicados pelos juízos co-
do e seu defensor, na presença do Juiz, este, muns, desde logo. Não são institutos neces-
recebendo a denúncia, poderá suspender o
sariamente atrelados aos juizados (GOMES,
processo, submetendo o acusado a período
de prova, sob as seguintes condições:
1997, p. 194).

I - Reparação do dano, salvo impossibili- Terminado o período de prova, sem revo-


dade de fazê-lo; gação, é extinta a punibilidade.

II - Proibição de freqüentar determinados O art. 28, I a V, da Lei dos Crimes Ambien-


lugares; tais (Lei nº 9.605/98), ainda exige para a ex-
III - Proibição de ausentar-se da comarca
tinção da punibilidade o laudo de constata-
onde reside, sem autorização do Juiz; ção de reparação integral do dano ambiental.

IV - Comparecimento pessoal e obriga- Art. 28 - As disposições do art. 89 da Lei


tório a juízo, mensalmente, para informar e n.º. 9099, de 26 de setembro de 1995, apli-
justificar suas atividades. cam-se aos crimes de menor potencial ofen-
sivo definidos nesta Lei, com as seguintes
§ 2º O Juiz poderá especificar outras con- modificações:
dições a que fica subordinada a suspensão,
desde que adequadas ao fato e à situação I - A declaração de extinção de punibilidade, de
pessoal do acusado. que trata o Parágrafo 5º do artigo referido
no caput, dependerá de laudo de constata-
ção de reparação do dano ambiental, ressal-
É certo que esse instituto da suspensão
vada a impossibilidade prevista no inciso I
condicional do processo é autônomo, apli- do parágrafo 1º do mesmo artigo;
cando-se até em outros juízos que não o es-
pecial, conforme entendimento de Luiz Flavio II - Na hipótese de o laudo de constatação com-
provar não ter sido completa a reparação, o
Gomes (1997). Ele assevera que uma primei-
prazo de suspensão do processo será pror-
ra confusão que se deve evitar, quando enfo- rogado, até o período máximo previsto no
camos a suspensão condicional do processo artigo referido no caput, acrescido de mais
e o Juizado Especial Criminal, consiste no se- um ano, com suspensão do prazo de pres-
guinte. A Lei nº 9.099 cuidou primordialmen- crição;

te dos juizados especiais cíveis e criminais e


III - No período de prorrogação, não se aplicarão
aproveitou a ocasião para disciplinar dois ou- às condições dos incisos II, III e IV do Pará-
tros assuntos: a exigência de representação grafo 1º do artigo mencionado no caput;

56
Direito Penal Aplicado à Saúde

IV - Findo o prazo de prorrogação, proceder-se- BENJAMIN, Antonio Herman; MARQUES,


-á à lavratura de novo laudo de constatação Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Ma-
de reparação do dano ambiental, podendo,
nual de Direito do Consumidor. 4ª ed.
conforme seu resultado, ser novamente
prorrogado o período de suspensão, até o São Paulo: RT, 2012.
máximo previsto no inciso II deste artigo,
observado o disposto no inciso III; BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de
Direito Penal – parte geral. 16ª ed. São
V - Esgotado o prazo máximo de prorrogação, a Paulo: Saraiva, 2011.
declaração de extinção de punibilidade de-
penderá de laudo de constatação que com-
________. Responsabilidade penal da
prove ter o acusado tomado as providências
pessoa jurídica à luz da Constituição
necessárias à reparação integral do dano.
Federal. Boletim IBCCrim, São Paulo, nº 65,
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