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MÍDIAS
Por Mark Fisher, via The North Star, traduzido por Rodrigo Gonsalves
POSTS RECENTES
Na sexta-feira do dia 13 de janeiro de 2017, Mark Fisher (k-punk) – escritor, » Mariátegui e as táticas de
frente única 18 de outubro de 2019
teórico, crítico, professor faleceu. Mark Fisher é o autor da obra “Realismo
» As Características Formais da
Capitalista” (ainda sem tradução em português) e da obra “Fantasmas da minha Segunda Natureza 17 de outubro de
2019
vida: escritos sobre a depressão, Hauntology (Assombrologia) e Futuros Perdido
» A resistência na carne: aborto,
(ambos publicados pela Zer0 Books, onde o autor era editor – também sem capitalismo e a colonização do
tradução em português). Seus artigos foram publicados em uma grande corpo feminino 16 de outubro de
2019
variedade de revistas, incluindo Film Quarterly, The Wire, The Guardian e Frieze.
» O Retorno do Político 15 de outubro
Foi líder do programa do mestrado em Culturas Aurais e Visuais pela Goldsmiths, de 2019
O twitter daqueles de “esquerda” pode por vezes ser uma zona miserável e Antonio Gramsci Arte Austeridade
desanimadora. No começo do ano, haviam algumas “tempestades” no twitter Bernard Edelman Brasil
bem high-pro le, onde certas guras particulares que se identi cam com a Capital Financeiro Capitalismo
esquerda eram “convocadas” e condenadas. O que essas guras disseram era China Cinema Comunismo
por vezes censurável; mas ainda assim, o modo como estes foram Conjuntura Contra-Revolução
pessoalmente vilipendiado e perseguidos deixou um resíduo horrível: o fedor Crise Crise Financeira Crítica
da má consciência e a caça às bruxas morais. A razão pela qual eu não me Cultura democracia
pronunciei em nenhum desses incidentes, envergonho-me em dizer, foi o medo. Democracia burguesa Dialética
Os bullies estavam em outra parte do playground. Eu não quis atrair a atenção Direito Douglas Rodrigues Barros
Uma das coisas que me retirou deste torpor depressivo foi ir à Assembleia do Lacan Lenin leninismo
Povo (People’s Assembly) em Ipswich, perto de onde moro. A Assembleia do
Literatura Luta de classes Marx
Povo tem sido recebida com escárnio e rosnados. Isso era, como nos fora dito,
Marxismo Movimento Negro
uma façanha inútil onde a mídia esquerdista, incluindo Jones nesta, estavam
Movimento Sindical Neoliberalismo
se engrandecendo em mais outra demonstração “top-down” da cultura das
Ontologia Organização
celebridades. O que realmente ocorreu na Assembleia em Ipswich foi bem
Oriente Médio Pachukanis Partido
diferente desta caricatura. A primeira metade da tarde – culminando num
Partido Comunista Poder Popular
despertante discurso de Owen Jones – fora certamente conduzido pelos
Politica Proletariado Psicanalise
convidados do alto escalão. Mas a segunda metade da reunião viu ativistas da
Psicologia racismo Rancière
classe trabalhadora de todo Suffolk falando uns com os outros, apoiando uns
Raça religião Resenha
aos outros, compartilhando experiências e estratégias. Longe de ser mais um
Revolução Revolução Digital
exemplo de esquerdismo hierárquico, a Assembleia do Povo foi um exemplo de
Revolução Russa Sindicato
como a vertical pode ser combinada com a horizontal: o poder midiático e o
Slavoj Zizek Social-democracia
carisma poderiam atrair pessoas que não haviam estado em uma reunião
Socialismo Sociedade Stalin
política na sala, onde poderiam conversar e fazer estratégias com ativistas
Sujeito de direito Trabalho Trotsky
experientes. A atmosfera era antirracista e antissexista, mas refrescantemente
Tática União Soviética Zizek
livre do sentimento paralisante de culpa e suspeita que paira sobre o Twitter de
Ásia
esquerda como uma névoa acre e sufocante.
Depois, veio Russell Brand. Eu há tempos tenho sido um admirador de Brand – Anúncios
um dos poucos comediantes de grande nome na cena atual que veio de uma
classe trabalhadora. Nos últimos anos, tem havido um gradual
“emburguecimento”, sem remorsos, da comédia na televisão, com absurdo
ultra-esnobes (“ultra-posh”) nincompoop Michael McIntyre e uma mistura
chorosa lúgubre de incapazes gradualmente dominando o palco.
O dia anterior à agora, famosa entrevista da Brand com Jeremy Paxman que
fora transmitida no Newsnight, eu o tinha visto num show de stand-up no
Messiah Complex em Ipswich. O show foi desa adoramente pró-imigrantes,
pró-comunismo, anti-homofóbico, saturado de inteligência da classe
trabalhadora e sem medo de mostrá-la, e ‘queer’ no sentido como a cultura
popular costumava ser (ou seja, nada a ver com a cara azeda de piedade
identitária impingida sobre nós pelos moralistas da “esquerda” pós-
estruturalista). Malcolm X, Che, a política como um desmantelamento
psicodélico da realidade existente: este era o comunismo como algo legal, sexy
e proletário, em vez de um sermão de sacudir os dedos.
da última vez que uma pessoa advinda da classe trabalhadora havia sido dado
o espaço para destruir tão consumadamente uma classe “superior” usando a
inteligência e a razão. Este não foi Johnny Rotten xingando o Bill Grundy – um
ato de antagonismo que con rmou, em vez de desa ar os estereótipos de
classe. Brand tinha ultrapassado Paxman – e o uso do humor foi o que
separava Brand da rigidez de tanto “esquerdismo”. Brand faz com que as
pessoas se sintam bem consigo mesmas; enquanto a esquerda moralizante se
especializa em fazer as pessoas se alimentarem mal, e que não se dá por feliz
até que as suas cabeças estejam dobradas em culpa e em auto-aversão.
A intervenção de Brand não era uma tentativa pela liderança; foi uma
inspiração, um chamado por pegar em armas. E eu me senti inspirado. Há
alguns meses antes, eu caria em silêncio enquanto os moralistas da
‘PoshLeft’ (da Esquerda Esnobe) sujeitaram Brand a seus tribunais kafkaescos
e assassinatos de caráter – com “evidência” geralmente recolhida da imprensa
de direita, sempre disponível para dar uma mão – mas desta vez eu estava
preparado para enfrentá-los. A resposta a Brand rapidamente tornou-se tão
signi cativa quanto a troca com Paxman. Como Laura Old eld Ford apontou,
este foi um momento de esclarecimento. E uma das coisas que foi esclarecida
para mim foi a maneira em que, nos últimos anos, tanto da auto-denominada
“esquerda” suprimiu a questão da classe.
Porém, uma vez que a classe ousou reaparecer, era impossível não vê-la por
todas as partes nas respostas dadas ao caso de Brand. O mesmo foi
rapidamente julgado e/ou interrogado por pelo menos três ex-alunos de
esquerda de escola privada. Outros nos disseram que Brand não podia
realmente ser da classe trabalhadora, porque ele era um milionário. É
alarmante o número de “esquerdistas” que pareciam concordar
fundamentalmente com o movimento atrás da pergunta de Paxman: “O que dá
a essa pessoa da classe trabalhadora a autoridade para falar?” É alarmante,
realmente angustiante, que parecem pensar que a classe trabalhadora deve
permanecer na pobreza, na obscuridade e na impotência, para que não percam
a sua “autenticidade”.
Alguém me passou um post escrito sobre Brand no Facebook. Eu não sei quem
foi o indivíduo que escreveu, e eu não gostaria de nomeá-los. O que é
importante é que o post foi sintomático em relação a um conjunto de atitudes
esnobes e condescendentes que, aparentemente são boas de se exibir quando
uma pessoa se classi ca como alguém de esquerda. O tom inteiro era
horrorosamente despótico, como se fossem um professor que marcasse o
trabalho de uma criança, ou de um psiquiatra avaliando um paciente. Brand,
aparentemente, é “extremamente instável … um relacionamento ruim ou um
revés pro ssional o afastam do colapso para voltar à toxicodependência ou
algo pior”. Embora a pessoa a rme que eles “realmente gostam bastante dele
[Brand]”, talvez nunca lhes ocorrera que, uma das razões pelas quais Brand
poderia ser “instável” é justamente por conta desse tipo de “avaliação” faux-
transcendente (“falso”-transcendente) paternalista da burguesia de “esquerda”.
Há também um chocante, mas revelador lado, onde o indivíduo casualmente
refere-se à “educação cheia de remendos” de Brand que “muitas vezes induz a
deslizes de vocabulário característicos do autodidata”- que, estes indivíduos
generosamente dizem: “Eu não tenho problema algum com isto” – que ótimo
da parte deles! Este não é um burocrata colonial escrevendo sobre suas
tentativas de ensinar alguns “nativos” a língua inglesa no século XIX, ou um
mestre de ensino vitoriano em alguma instituição privada descrevendo o que é
um menino de bolsista, trata-se da escrita de um “esquerdista” de algumas
semanas atrás.
O problema que o Castelo dos Vampiros foi criado para resolver é o seguinte:
como você mantém uma imensa riqueza e poder enquanto também mantém a
aparência de vítima, de marginal e oposicionista? A solução já estava lá – na
Igreja Cristã. Assim, o C.V. recorre a todas as estratégias infernais, patologias
obscuras e instrumentos psicológicos de tortura inventados pelo cristianismo,
e que Nietzsche descreveu em A Genealogia da Moral. Este sacerdócio da má
consciência, este ninho de culpados piadosos, é exatamente o que Nietzsche
predisse quando disse que algo pior do que o cristianismo já estava a caminho.
Agora, aqui está …
A terceira lei do Castelo dos Vampiros é: propagar tanta culpa quanto puder.
Quanto mais culpa, melhor. As pessoas devem se sentir mal: é um sinal de que
eles entendem a gravidade das coisas. NÃO HÁ PROBLEMA ALGUM ser de
classe privilegiada se você sentir culpa pelos privilégios e se você colocar
outros em uma posição de classe subordinada para sentirem-se culpados
também. Você faz algumas boas ações para os pobres, também, não é
mesmo?
A quinta lei do Castelo dos Vampiros: pense como liberal (porque você é um).
O trabalho do C.V. de constantemente in amar o ultraje reativo, consiste em
apontar sem parar e gritantemente, o óbvio: o capital se comporta como
capital (não é muito bacana!), os aparelhos de estado repressivos são
repressivos. Devemos protestar!
Eles são também esmagadoramente jovens: nos seus vinte anos ou, no
máximo, nos seus trinta e poucos anos, e o que lhes informa a posição neo-
anarquista é um estreito horizonte histórico. Os neo-anarquistas não
experimentaram nada senão o realismo capitalista. No momento em que os
neo-anarquistas alcançaram à consciência política – e muitos deles chegaram
à consciência política assustadoramente recentemente, dado ao nível de
arrogância otimista que algumas vezes exibem – o Partido Trabalhista tornou-
se uma concha Blairista, implementando o neoliberalismo, com um pequena
dose de justiça social logo ao lado. Mas o problema com o neo-anarquismo é
que re ete impensadamente esse momento histórico, ao invés de oferecer
qualquer fuga dele. Ele esquece ou talvez, seja realmente inconsciente, do
papel do Partido Trabalhista na nacionalização de grandes indústrias e de
utilidades, ou na fundação do Serviço Nacional de Saúde. Os neo-anarquistas
a rmarão que “a política parlamentar nunca mudou nada”, ou que o “Partido
Trabalhista era sempre inútil” enquanto participam de protestos pela S.N.S., ou
‘retweeting’ queixas sobre o desmantelamento do que resta do Estado de bem-
estar social. Há uma estranha regra implícita aqui: é “OK” protestar contra o
que o parlamento tem feito, mas não é “OK” entrar no parlamento ou na mídia
de massa, para tentar desenvolver a mudança a partir daí. A mídia tradicional
deve ser desprezada, mas o “Momento das perguntas da BBC” deve ser visto e
reclamado pelo Twitter. O purismo obscurece ao fatalismo; é melhor não ser de
modo algum corrompido pela corrupção do mainstream, melhor para “resistir”
inutilmente do que arriscar sujar suas mãos.
Por que essas duas con gurações vieram à tona? A primeira razão é que eles
foram autorizados a prosperar pelo capital porque servem aos seus interesses.
O capital subjugou a classe trabalhadora organizada, decompondo a
consciência de classe, subjugando viciosamente os sindicatos e seduzindo as
“famílias de trabalhadores” a se identi carem com seus interesses
estreitamente de nidos, ao invés dos interesses da classe mais ampla; mas
por que o capital se preocupa com uma “esquerda” que substitua a política de
classe por um individualismo moralizante e que, longe de construir
solidariedade, espalha medo e insegurança?
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20 Anos da morte de
Chico Science
2 comentários em “Deixando o
Castelo Vampiro”
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Daniel Fabbri
1 de fevereiro de 2017 às 17:05
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Estela
4 de fevereiro de 2017 às 14:15
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