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Qual é a disputa política em torno da reserva mineral da Amazônia Paulo Flores 01 Set

2017 (atualizado 02/Set 12h40) Decreto do presidente abriu espaço para exploração
privada de área entre Pará e Amapá. Medida recebeu críticas, foi suspensa por decisão
judicial e obrigou o governo a recuar FOTO: FABIO RODRIGUES
POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL O MINISTRO DO MEIO AMBIENTE, SARNEY
FILHO, E O MINISTRO DE MINAS E ENERGIA, FERNANDO COELHO,
DURANTE ENTREVISTA O presidente Michel Temer decretou extinção da Reserva
Nacional de Cobre e Associados (Renca) em 22 de agosto. A medida gerou reações em
série de personalidades, movimentos ambientais e políticos, inclusive aliados do
governo. Na segunda-feira (28), o governo reeditou o decreto, incluindo explicitamente
salvaguardas ambientais, mas mantendo o projeto de explorar a área. No mesmo dia, um
juiz federal suspendeu provisoriamente a extinção da reserva. Na quinta-feira (31), o
próprio governo anunciou que nada fará antes de uma ampla discussão sobre o tema. Ou
seja, por ora, está tudo parado.

O que é a Renca

A Renca é uma reserva com 47 mil km² que fica localizada entre os estados do Pará e
do Amapá. Trata-se de uma área rica em minérios que interessam a iniciativa privada,
como ouro e cobre. Dentro da reserva mineral há unidades de conservação e terras
indígenas. De acordo com dados da ONG ambientalista WWF-Brasil, desde a década de
80 as empresas apresentaram 551 pedidos de pesquisa ou exploração mineral na área da
reserva.

MAPA DE PEDIDOS

A reserva foi criada no último ano de governo militar, em 1984, para proteger o estoque
nacional de minérios estratégicos. Na época, empresas estrangeiras faziam ofensiva para
extração mineral na região Norte do país. Atualmente, apenas a CPRM (Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais), ligada ao Ministério de Minas e Energia, pode realizar
pesquisas para extração mineral na área. O decreto que põe fim à reserva permite que o
setor privado também passe a pesquisar a existência de depósitos minerais.
Os argumentos na mesa

A FAVOR DA EXPLORAÇÃO DA ÁREA A exploração da área geraria


desenvolvimento e empregos, além de combater o garimpo ilegal já existente na região.
O decreto do governo foi reeditado para garantir salvaguardas ambientais: “a proteção
da vegetação nativa, unidades de conservação da natureza, terras indígenas e áreas em
faixa de fronteira”, portanto, continuam protegidas. CONTRA A EXPLORAÇÃO DA
ÁREA Mesmo sem extração direta em áreas protegidas, a migração de mão de obra e o
desmatamento necessário para a criação de uma infraestrutura básica de exploração
podem comprometer a biodiverisdade e os recursos hídricos na região. Há também o
temor de que o garimpo ilegal invada as áreas de proteção ambiental e terras indígenas.

Como está o debate entre os políticos

O caso da reserva levou políticos a se posicionarem publicamente. Entre os contrários à


extinção estão até membros do governo Michel Temer, além de aliados no Congresso.
Temer tem trabalhado para amenizar críticas. Além de reeditar o decreto original, o
presidente reforçou nesta quinta-feira (31) que a medida não causará impactos sociais
ou ambientais negativos. “Vocês verificaram pelo decreto expedido que há preservação
absoluta de toda e qualquer área ambiental e qualquer área indígena” Michel Temer
Presidente da República, em declaração dada quinta-feira (31) na China O Ministério do
Meio Ambiente foi consultado em junho de 2017 e deu parecer contra a extinção da
Renca. Titular da pasta, Sarney Filho (PV) disse que foi pego de surpresa pela
publicação do decreto porque o governo não tinha tocado mais no assunto com ele.
“Seria um desserviço à política ambiental se não fizéssemos um novo decreto para
deixar nítido para as pessoas que esse decreto não iria afrouxar regras ambientais nem
interferir nas unidades de conservação” Sarney Filho Ministro do Meio Ambiente, em
declaração de 28 de agosto Aliado fundamental de Temer no Congresso, o líder do
PSDB na Câmara, deputado Ricardo Tripoli, pediu para o governo revogar o decreto.
Tripoli fez o pedido oficialmente ao governo alegando que a medida exige estudos
técnicos antes de ser implementada e defendeu que o debate seja feito pelo Congresso.
“Com base na própria competência legislativa atribuída ao Congresso Nacional, é
imperioso que esse debate seja travado no âmbito do Poder Legislativo, sendo realizado
pelos representantes do povo e dos Estados envolvidos” Ricardo Tripoli Líder do PSDB
na Câmara Ricardo Tripoli, em ofício entregue ao governo em 25 de agosto A pré-
candidata à presidência da República pela Rede Marina Silva também atacou o decreto
do governo. Marina disse que, além de ter liberado emendas e de distribuir cargos para
se livrar de denúncia do Ministério Público, Temer negociou a entrega do patrimônio
público e terras para atender interesses privados. “Havia uma negociata para entregar as
terras da Amazônia para a grilagem. O presidente Temer, vergonhosamente e com uma
canetada, faz um decreto e extingue a Reserva Nacional do Cobre” Marina Silva Pré-
candidata à presidência pela Rede, em vídeo publicado na internet dia 25 de agosto A
repercussão também foi grande entre personalidades e celebridades. Em meio às
críticas, o Ministério de Minas e Energia anunciou na noite de quinta-feira (31) que não
autorizará qualquer exploração da reserva mineral até que se faça um debate mais
aprofundado sobre o tema. “A partir de agora o ministério dará início a um amplo
debate com a sociedade sobre as alternativas para a proteção da região” Ministério de
Minas e Energia em nota divulgada na noite de quinta-feira (31)

Como está a disputa jurídica

As disputas pela preservação ou extinção da Renca avançaram para o sistema Judiciário


no dia 29 de agosto. Foram movidas três ações, uma popular e outras duas pelos
partidos PSOL e Rede. A ação popular afirma que mudanças em leis de proteção
ambiental que atinjam a Amazônia precisam ser aprovadas pelo Legislativo. O juiz
federal Rolando Spanholo, que recebeu o caso, concordou com o argumento e
suspendeu “todo e qualquer ato administrativo tendente a extinguir a Reserva Nacional
do Cobre e Associados (Renca)”. Já PSOL e Rede entraram com mandados de
segurança no Supremo pedindo suspensão do decreto. O ministro Gilmar Mendes foi
sorteado relator da ação movida pelo PSOL e deu 10 dias para que o governo dê
explicações sobre o decreto. Horas depois o partido pediu cancelamento da ação. O
deputado Ivan Valente (PSOL) explicou que o partido decidiu retirar a ação porque
considera Gilmar Mendes aliado a Temer e não quer “arriscar que uma Corte superior
crie jurisprudência contra as decisões de primeira instância". A ação do PSOL, porém,
ainda não foi encerrada. Como o relator já havia sido sorteado e o governo notificado, a
palavra final de dar andamento ou cancelar a ação é de Gilmar Mendes. A Rede também
desistiu da ação. O pedido do partido alegava que o decreto de Temer era
inconstitucional e que a mudança precisa ser votada no Congresso.

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