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Guerra dos Seis Dias

A Guerra dos Seis Dias, também conhecida como Guerra de 1967 ou Guerra de


junho de 1967 ou ainda Terceira Guerra Árabe-Israelense, foi o conflito que
envolveu Israel, Síria, Egito, Jordânia e Iraque. Ocorreu entre 05 e 10 de junho de 1967,
e foi a mais consistente resposta árabe à fundação do Estado de Israel, apesar do estado
sionista ter saído como grande vencedor.

Antecedentes
Pouco antes do conflito, o Egito estava enfraquecido econômica e militarmente. O
presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, fervoroso pan-arabista nacionalista, defensor
do não-alinhamento e da proeminência do Egito no seio da Liga Árabe, estimulava os
outros países a não entrarem em conflito com Israel.

Apesar dos constantes avisos de Nasser, a Síria estava envolvida em um embate com
Israel por conta da água. A Síria tinha um plano para obstruir um dos afluentes do Rio
Jordão e desviá-lo para irrigar suas plantações. Contudo, o Jordão era de suma
importância também para Israel, e o avanço sírio ameaçava não só Israel como outros
países árabes.

As origens da guerra dos Seis Dias costumam ser traçadas na conferencia da Liga Árabe
realizada no Cairo, em 1964, onde foi debatido o desvio das águas do Jordão, questão de
suma importância para aqueles ali presentes. Ficou decidido então que o
estabelecimento de Israel era uma ameaça que a nação árabe em sua totalidade deveria
impedir. Assim, já que a existência de Israel era uma ameaça, o desvio das águas do
Jordão multiplicaria os perigos à existência árabe. Logo, os estados árabes estavam
elaborando planos para a liquidação final de Israel.

Preparações
Aparentemente, nenhum lado desejava a guerra, mas o desejo israelense de realizar
operações preventivas e o aval dos Estados Unidos selaram o confronto.

Às vésperas da celebração do seu vigésimo aniversário (em 1968), Israel encontra-se


numa posição bastante confortável face aos seus vizinhos árabes, que ainda lutavam
para construir um estado centralizado forte e que não caísse nas mãos de radicais locais,
sedentos por reavivar a doutrina islâmica tradicional como forma de contestar as elites
responsáveis pela independência das potências europeus.

Previamente humilhados tanto na guerra da independência israelense, como durante a


crise de Suez, o mundo árabe pretendia fazer jus àquela que considerava ser uma
ocupação indesejada por um vizinho incômodo.

Com isso, no ano de 1967, Egito e Síria iniciam um conjunto de ofensivas diplomáticas
entre as nações árabes para obter o apoio necessário para a batalha que seria decisiva
contra Israel.

O movimento palestino Fatah passa a realizar pequenas rebeliões ao longo da fronteira


israelense, cujo resultado é uma resposta contra a Jordânia e um combate aéreo com a
Síria. Com isso, inicia-se a contagem regressiva para a Guerra dos Seis Dias.
Nasser é pressionado a agir contra Israel, mesmo com o Egito exaurido
economicamente, devido a um conflito recente com o Iêmen. Apesar de não desejar a
guerra naquele momento, o líder egípcio toma três medidas: o envio de tropas para a
península do Sinai (ocupada por forças da ONU), um pedido para a retirada da força de
defesa da ONU na Síria e o fechamento do estreito de Tiran à navegação israelense.

O conflito
Israel não vê outra alternativa que não seja um ataque preventivo. Os principais
objetivos eram abrir o estreito de Tiran e neutralizar o exército egípcio no Sinai.
Objetivos políticos e territoriais não foram definidos pelo governo quando da ordem de
ataque para. Os objetivos da guerra só surgiram, de forma confusa e contraditória,
durante o combate.

Apesar dos acordos de Israel com a Jordânia, ela decide se juntado ao Egito. Esta união
foi fundamental para que Israel decidisse anexar a região de Jerusalém oriental.

A 18 de Maio, Nasser emite um pedido a U Thant, o secretário-geral das Nações


Unidas, para que retirasse imediatamente todos os capacetes azuis do Golfo de Ácaba,
enquanto procedia à interdição de todo o tráfego israelita, pretendendo mantê-lo isolado
dentro da península. Após um ataque israelita à aviação síria, aliada por tratado ao
Egito, era óbvio que em breve as tensões resultariam numa guerra.

De fato, no dia 5 de junho de 1967, as primeiras batalhas ocorrem próximo à cidade de


Charm-el-Cheikh, a Leste do Sinai, no Golfo de Ácaba, onde as tropas das Nações
Unidas são incapazes de conter a violência. Essa cidade estava sob administração
internacional desde a crise de Suez de 1956.

O resultado é amplamente favorável a Israel. Sua força aérea destrói a homóloga egípcia
juntamente com aeroportos e instalações anexas, incapacitando totalmente o braço aéreo
do vizinho a sudoeste. O Sinai é ocupado militarmente por Israel,  que apodera-se
também de Gaza e do Golfo de Ácaba.

A 7 de junho, temendo a aliança sírio-egípcia, Israel avança em novo ataque preventivo,


desta vez contra a Síria, conquistando a Cisjordânia e as colinas de Golã.

No dia 8 de junho, o Egito aceita o cessar-fogo proposto, e a Síria faz o mesmo no dia
10, terminando assim com a guerra dos Seis Dias. A sensação inicial foi de triunfo. O
país de apenas 19 anos, rodeado de inimigos vencera não apenas o poderoso Egito, mas
também a Jordânia e a Síria, tudo em cerca de 132 horas.

Consequências

Territórios Israelenses antes e depois da Guerra dos Seis Dias. Ilustração: Wikimedia.
Israel começara a guerra com apenas 20.300 km2 de área sob sua administração, mas
depois do dia 10 contava com cerca de 102.400 km2, um aumento de cerca de cinco
vezes em seu território. As conquistas consolidavam o projeto da Grande Israel que
havia sido, outrora, um dos projetos de algumas escolas sionistas.
A Guerra dos Seis Dias deu a Israel o controle das colinas de Golã, o deserto do Sinai, a
faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Mais que territórios, Israel
conquistou em 1967 problemas que, quatro décadas depois, continuam tão vívidos
quanto a memória da guerra entre os que sobreviveram a ela.

Outro resultado da guerra foi a proclamação por parte do Knesset, o parlamento


israelita, da anexação da parte árabe de Jerusalém, o que suspendeu todas as
recomendações do Conselho de Segurança e Assembleia Geral das Nações Unidas.

O caráter meticuloso, planejamento e a audácia israelita tiveram uma grande


repercussão nos inimigos aliados. A cooperação com os norte-americanos finalmente
traduzia-se numa impressionante superioridade militar face aos restantes vizinhos, numa
região de grande hostilidade.

Apenas no dia 22 de novembro de 1967 as Nações Unidas emitiriam a Resolução 242


que, entre outros pontos, buscava persuadir Israel a abandonar os territórios ocupados,
assim como a reconhecer o direito de todas as nações vizinhas à paz e estabilidade como
povos livres. Até hoje, a Resolução 242 não foi cumprida em grande parte.

Terras por paz


Por outro lado, a guerra teve o efeito de tolerância (mas nunca aceitação) do Estado de
Israel, e levou a uma proposta de paz árabe. De certo modo, a guerra deu a Israel algo
para oferecer em troca da paz.

A devolução dos territórios ocupados na guerra dos Seis Dias sempre se mostrou
complicada. A península do Sinai foi devolvida ao Egito em 1979, resultado de uma
inédita oferta de paz do sucessor de Nasser, Anwar Sadat. Infelizmente, isso selou o
destino de Sadat, morto por extremistas islâmicos em 1982. A questão das colinas de
Golã, aparentemente, ainda se arrastará por anos, devido à corrente guerra civil na Síria
e os entraves que Israel cria para a devolução da área.

Já os territórios de Gaza e Cisjordânia são alvo de complicadíssimos arranjos entre


israelenses e representantes da autoridade palestina, que pretendem administrá-los e
neles erigir o futuro estado palestino. Para Israel, a manutenção dos territórios
representa, sem dúvida, mais uma ameaça do que uma vantagem.

Efeito colateral
A guerra dos Seis Dias teve o efeito colateral de trazer a questão palestina para a agenda
global. A ocupação de um território três vezes maior do que o inicialmente previsto
favoreceu a criação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que manteve
firme a ideia de criação de um estado para seu povo. Apenas em 1968 Iasser Arafat e
seus companheiros puderam assumir a liderança e reformular o movimento.

Desdobramentos recentes
Nos últimos anos, o governo israelense tentou retirar-se unilateralmente de Gaza em
2005. Com uma plataforma de decisões unilaterais, o atual partido no poder, o Kadima,
foi eleito. Mas essa idéia fracassou no verão de 2006, com a guerra com o Líbano e
novos conflitos com os palestinos. Para a população, os territórios que começavam a ser
desocupados se mostraram perigosos e povoados por ferrenhos adversários. A maioria
dos israelenses ainda apoia a ocupação de Jerusalém oriental, mas o mesmo não
acontece com outros territórios, incluindo Gaza, por acreditarem que a tendência é a de
separação do estado israelense.

Assentamentos
Por outro lado, ainda há significativa presença de fundamentalistas judeus contrários à
devolução dos locais de onde Israel já retirou suas forças, como nos antigos
assentamentos judaicos em Gaza e, em menor escala, na Cisjordânia. Os ex-colonos
formaram até mesmo associações para buscar o retorno aos assentamentos, e a partir
delas consegue exercer grande pressão sobre o governo.

A razão principal para is colonos defenderem os assentamentos é que a conquista dos


territórios ocupados confirma um direito divino dos judeus de voltarem a seu lar
histórico.

Enquanto o governo aplicava inúmeros benefícios econômicos aos assentamentos e os


estimulava, a vida nas grandes cidades israelenses ficava cada vez mais cara.

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