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FICHA DE APRENDIZAGEM

(Parte A)

Leia atentamente os poemas seguintes.

Texto A Texto B

D. Filipa de Lencastre O Mostrengo


Que enigma havia em teu seio O mostrengo que está no fim do mar
Que só génios concebia? Na noite de breu ergueu-se a voar;
Que arcanjo teus sonhos veio À roda da nau voou três vezes,
Velar, maternos, um dia? Voou três vezes a chiar,
5 E disse: «Quem é que ousou entrar
5 Volve a nós teu rosto sério, Nas minhas cavernas que não desvendo,
Princesa do Santo graal, Meus tectos negros do fim do mundo?»
Humano ventre do Império, E o homem do leme disse, tremendo:
Madrinha de Portugal! «El-Rei D. João Segundo!»
Fernando Pessoa, Mensagem
10 «De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
15 Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»

Três vezes do leme as mãos ergueu,


20 Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
25 E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
Fernando Pessoa, Mensagem

Responda agora, de forma bem estruturada e completa, às questões que se seguem.


1. Situe na estrutura de Mensagem, justificando, os dois poemas apresentados.
2. Atente no Texto A.
2.1. Refira a expressividade do uso dos termos “enigma” e “arcanjo” para caracterizar D.
Filipa de Lencastre.
2.2. Identificando e exemplificando os dois recursos estilísticos que permitem dizer que a
segunda estrofe é uma invocação, interprete o sentido da expressão “Humano ventre do
Império”.
3. Atente no Texto B.
3.1. Prove que este texto apresenta uma matriz narrativa e uma matriz épica.
3.2. Aluda à conceção de herói presente no poema “O Mostrengo”, sobretudo à luz da terceira
estrofe.
PARTE B

Leia o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulte o glossário apresentado a


seguir ao texto.

Com os Voadores tenho também uma palavra, e não é pequena a queixa. Dizei-me,
Voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves? O mar fê-lo Deus
para vós, e o ar para elas. Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois
peixes. Se acaso vos não conheceis, olhai para as vossas espinhas e para as vossas escamas, e
conhecereis que não sois ave, senão peixe, e ainda entre os peixes não dos melhores. Dir-me-
eis, Voador, que vos deu Deus maiores barbatanas que aos outros do vosso tamanho. Pois
porque tivestes maiores barbatanas, por isso haveis de fazer das barbatanas
asas? Mas ainda mal, porque tantas vezes vos desengana o vosso castigo. Quisestes ser melhor
que os outros peixes, e por isso sois mais mofino que todos. Aos outros peixes do alto, mata-os
o anzol ou a fisga, a vós sem fisga nem anzol, mata-vos a vossa presunção e o vosso capricho.
Vai o navio navegando e o Marinheiro dormindo, e o Voador toca na vela ou na corda, e cai
palpitando. Aos outros peixes mata-os a fome e engana-os a isca, ao Voador mata-o a vaidade
de voar, e a sua isca é o vento. Quanto melhor lhe fora mergulhar por baixo da quilha e viver,
que voar por cima das entenas e cair morto.
Padre António Vieira, Sermão de Santo António (aos peixes) e Sermão da Sexagésima,
edição de Margarida Vieira Mendes, Lisboa, Seara Nova, 1978, pp. 102-103

Glossário:
entenas (linha 12) – antena, verga fixa a um mastro na qual se prende uma vela triangular ou
vela latina.
mofino (linha 8) – infeliz, desgraçado.

Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

4. Caracterize o tipo humano que o peixe voador simboliza, tendo por base o excerto
transcrito.

5. Explicite as consequências do comportamento do peixe voador, fundamentando a resposta


com citações textuais pertinentes.

II
1. Leia atentamente o texto que se segue.
A imagem que os portugueses têm do mar já passou por vários sentidos privilegiados e
diferentes equilíbrios. A generalidade dos países que contam com fronteira marítima terá passado por
um processo semelhante, mas em poucos deles esta relação tem um tão profundo significado
histórico.
5 Ainda antes do alvor da nossa nacionalidade, e nos séculos que imediatamente se lhe
seguiram, os povos ibéricos teriam com o mar uma relação de desconfiança, de medo, uma provável
noção de fim do Mundo que também lhes despertaria sentimentos místicos; contudo, a proximidade
do Mediterrâneo proporcionou o ambiente seguro que cedo lhes facultou a aprendizagem das
técnicas de navegação, as quais, depois de juntas a uma enorme coragem e espírito de aventura, os
10 empurraram para arrojados projetos transatlânticos. A imagem do mar medonho, obstáculo,
começava a transformar-se numa referência de esperança e ambição.
Na medida em que as grandes viagens marítimas foram abrindo «novos mundos», o oceano
passou sobretudo a ser percebido como o meio útil que, devidamente controlado, possibilitava a
expansão económica e religiosa do país. Com um pequeno território e escassa população, Portugal
15 abria uma janela grandiosa.
A importância das riquezas, que o mar tinha e fez gerar, rapidamente despoletou a vontade
de o controlar, não já apenas no sentido estrito das técnicas de navegação mas também no domínio
militar das principais rotas de navegação e portos comerciais. Da primitiva pirataria aos modernos
navios, aviões de combate e sistemas de telecomunicações, esta «vontade» foi mudando de
20 instrumentos e vencedores, mas nunca mais desapareceu. A imagem utilitária do mar ganhou novos
contornos, cada vez mais ligados à sua importância estratégica na geopolítica mundial.
O mais recente enfoque da imagem do mar atingiu rapidamente uma grande relevância no
nosso país: a sua perceção como elemento privilegiado de qualidade ambiental e bem-estar,
associado a padrões muito elevados da função residencial e a várias atividades de recreio e lazer.
http://run.unl.pt/bitstream/10362/7428/1/RFCSH11_327_335.pdf (acedido em janeiro de 2016)
Jorge Umbelino e João Figueira de Sousa, “Os Portugueses e o Mar: roteiro de imagens e usos”,
Revista da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, n.º 11, Lisboa, Edições Colibri, 1998.

1.1. Selecione a única opção que permite obter uma afirmação adequada ao sentido do texto.
a) No primeiro parágrafo destaca-se
A. a similitude de atitudes dos portugueses e dos outros países com fronteira marítima.
B. a vocação marítima dos povos peninsulares e a sua relação histórica com o mar.
C. o significado histórico do mar como marca distintiva dos portugueses.
D. a imagem que o mar tem para todos os povos com fronteiras marítimas.
b) A relação dos povos ibéricos com o mar
A. tem-se mantido inalterada. B. foi-se alterando com o passar do tempo.
C. esteve sempre envolta em desconfiança e medo. D. continua a despertar sentimentos místicos.
c) No contexto em que surge, o vocábulo “alvor” (l. 5) é sinónimo de
A. início. B. apogeu. C. culminar. D. fim.
d) O primeiro período do texto integra
A. uma frase complexa por recurso à coordenação copulativa.
B. uma frase simples mas com grupos nominais coordenados.
C. uma frase complexa que integra uma oração coordenada adversativa.
D. uma frase complexa com recurso à subordinação.
e) A oração “que contam com fronteira marítima” (l. 2) é subordinad a
A. adverbial B. adjetiva relativa C. substantiva D. substantiva
consecutiva. restritiva. completiva. relativa.
f) Os pronomes “lhes” (ll. 7 e 8) e “os” (l. 9) recuperam o referente
A. “os povos ibéricos” através de uma B. “nos séculos” através de uma catáfora.
catáfora.
C. “os povos ibéricos” através de uma D. “nos séculos” através de uma anáfora.
anáfora.
g) O grupo preposicional “do mar medonho” (l. 10) desempenha a função sintática de
A. modificador restritivo do nome.
B. complemento oblíquo.
C. modificador apositivo do nome.
D. complemento do nome.
Versão B
2. Responda corretamente aos itens que se seguem.
2.1. Conjugue no pretérito perfeito do conjuntivo a forma verbal ‘despoletou’ (l. 16).
2.2. Indique o valor aspetual do complexo verbal usado na passagem “esta «vontade» foi
mudando de instrumentos e vencedores” (ll. 19-20).
2.3. Identifique a função sintática desempenhada pela oração subordinada “que o mar tinha e
fez gerar” (ll. 16).
III
“O sebastianismo não diz necessariamente respeito apenas a D. Sebastião, pois que,
numa perspetiva mais vasta, se trata de um mito messiânico, isto é, de um mito que se
funda na esperança da vinda de um Salvador, que virá libertar o povo e restaurar o
prestígio nacional.”
Artur Veríssimo, Dicionário da Mensagem, Porto, Areal, 2000
Num texto bem estruturado, com o mínimo de duzentas e o máximo de trezentas palavras,
apresente uma reflexão pessoal sobre os fatores ou os “salvadores” que contribuem para o
desenvolvimento cultural e económico de um país.
Para fundamentar a sua exposição, recorra, no mínimo, a dois argumentos, ilustrando cada um
deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
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