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Kirsten Lopez

FCH 301
21/1/14

Le Merveilleux et les Lais de Marie de France

O uso do maravilhoso nos Lais de Maria da Françai é em grande parte feito em uma

capacidade simbó lica, para representar alguns desejos humanos mais fundamentais,

mas de uma forma que os suavize. Os lais de "Bisclavret", "Lanval" e "Yonec"

apresentam o sobrenatural de tal forma que lidam com a luz e o escuro nas relaçõ es

humanas. O desejo de escapar ou estar livre de algo ou alguém é muito prevalente

nesses leigos e é frequentemente visto em uma comparaçã o entre humanos e

animais. Há também um retrato bastante româ ntico de circunstâ ncias tã o

desesperadas que é possível graças ao maravilhoso elemento que define a

separaçã o entre os lais e os dilemas do mundo real.

O lais de "Bisclavret" é talvez o mais ó bvio no uso do maravilhoso no fato de

que há um lobisomem. A ligaçã o entre o homem e a besta, também a conotaçã o

negativa do uso astuto da inteligência de sua esposa, sã o fundamentais para torná -la

a ligaçã o entre os temas dos lais. Primeiro, o fato de Bisclavret ser um lobisomem

deve significar que ele será violento, descontrolado, mesmo entre as pessoas que ele

ama. No entanto, sua humanidade é preservada e é evidente em vá rios casos:

quando seus tristes olhos convencem o rei a deixá -lo vivo; quando os outros

cavaleiros o defendem dizendo: "Esta besta viveu perto de você; / todos nó s, / ... ela

nunca tocou em ninguém, / nunca foi cruel"; e em sua hesitaçã o em revelar onde ele

escondeu suas roupas (129:241-246)." Se Bisclavret estivesse completamente

envolvido por ser um animal, ele nunca seria redimido no final dos lais. Mas, por
causa de sua louvá vel solidez em manter seu espírito humano, Bisclavret é um heró i

nã o apenas forte, mas tenaz e virtuoso – duas características preciosas para um

cavaleiro. Sua esposa, por outro lado, contrasta com ele porque ela representa tudo

o que é mau, falso e egoísta. O pú blico é capaz de sentir a tristeza do Bisclavret ainda

mais porque os lais começam com as palavras: "Ele tinha uma esposa nobre / cheia

de ternura / Eles se amavam" (119:21-23). A senhora é verdadeiramente má em

fingir seu amor pelo marido. A senhora é nobre, inteligente e bonita, mas ser uma

mulher, também vaidosa, ambiciosa e desleal. É a antítese de Bisclavret. Mas ambos

os personagens simbolizam a necessidade de liberdade. Ele quer ser livre de seus

amaldiçoados e ela quer ser livre de seu casamento. Sem o lobisomem este

paradoxo, querer a mesma coisa, mas terminá -lo de maneiras inimigas, seria muito

sutil. Ter algo maravilhoso exagera a situaçã o para tornar a moral mais clara. Isso é

tã o verdadeiro quanto lobisomens sans, nada neste leigo seria possível, entã o o

maravilhoso é essencial para a realidade existir.

"Lanval" também é um leigo que usa o merveilleux para notar uma

moralidade, agora especificamente para as mulheres. Os dois personagens

contrastantes aqui sã o o amigo de Lanval e a rainha de Artur. Ambos vêm da

nobreza, têm riqueza, e sã o bonitos, mas o amigo de Lanval é criado a ponto de ser

uma criatura maravilhosa. Essa diferença torna a vaidade e o ciú me da Rainha de

Artur tã o ridículos porque nó s, o pú blico, sabemos que ela nunca será capaz de

conquistá -la a uma mulher fantá stica com quem, "nem a Rainha Semiramis, /... nem

o imperador Augusto" pode competir. Assim, a moralidade deste lais é feita e

vaidade e ciú me sã o condenados. O tema da fuga também é visível, pois o pró prio
Lanval precisa de ajuda para convencer os barõ es e salvar sua vida. Aqui está a

sabedoria e o amor da maravilhosa amiga que a salva. Assim, o maravilhoso e nobre

amor que ainda é importante para desenvolver a histó ria e resgatar o heró i.

O "Yonec" lais retorna ao simbolismo de animais maravilhosos, e com uma

comparaçã o entre duas mulheres. O animal neste caso é um pá ssaro que se

transforma em um homem, Muldumarec, que se apaixona por uma senhora em

cativeiro. As duas mulheres sã o a dama e sua cunhada. A senhora é, naturalmente,

uma personagem impecá vel, que personifica tudo o que é virtuoso e inocente. É o

paralelo entre beleza e virtude que muitas vezes é feito na literatura medieval, e

que separa o bem do ruim também do mundo como na histó ria. A mesma

abordagem é usada em Lanval para comparar a rainha e o amigo de Lanval. Mas em

"Yonec" nã o é apenas uma comparaçã o entre as pessoas, mas, como em

"Bisclavret", entre os humanos e a natureza em geral. Aqui é onde o maravilhoso é

usado porque, embora os lais mostrem todas as faces negativas das pessoas,

Muldumarec ainda prefere ser humano do que ser um pá ssaro. Neste caso, ele nã o

quer estar livre de algo, mas livre para fazer algo - para amar sua senhora. Entã o

ainda vemos o tema do amor que triunfa sobre tudo.

Todos esses lais se relacionam com o comportamento fundamental dos

humanos e seus sentimentos. Entã o, os grandes temas sã o os da moralidade e o

desejo intransponível de ter amor puro, verdadeiro e eterno. Ambas as coisas sã o

afetadas pelos elementos maravilhosos de cada leigo. Muitas vezes sã o os animais

que nos chamam a atençã o para nossas características bizarras. Por exemplo, o

lobisomem simboliza a violência, raiva e selvageria que devem ser combatidas para
conter nossa humanidade. Outro exemplo é o pá ssaro que simboliza a liberdade

sem os benefícios do amor humano – uma liberdade vazia. Sã o dois animais, e

alguns outros nos lais, mostram que mesmo que ser humano nem sempre seja fá cil,

deve ser melhor ser outra criatura porque temos a escolha do que fazer com nossas

vidas. Moralidade e também um grande tema porque é isso que o maravilhoso

ilustra com as comparaçõ es dos personagens tocados pelo má gico. O má gico é nosso

ideal de perfeiçã o, com o qual nos comparamos todos os dias. Mas é exatamente

isso: um ideal, nã o a realidade. É necessá rio ter algo completamente impossível para

primeiro mostrar a insignificâ ncia de nossos problemas e fazer o amor como a ú nica

coisa que talvez possa se comparar.

Estes lais eram para mim, no início, documentos histó ricos que devem ser

examinados através de uma perspectiva histó rica para aprender com essas pessoas

naquele tempo. Mas a cada novo lais eu descobri que, embora os contos fossem

bastante dramá ticos e imprová veis, todos eles sã o baseados nas emoçõ es de pessoas

que nã o mudaram por mais de seiscentos anos. Entã o eu comecei a apreciar os lais

de um ponto de vista mais autêntico. Na minha opiniã o, esse entendimento me

permitiu ler os lais mais como alguém na Idade Média teria feito. Também refleti

sobre os costumes modernos quase idênticos que as pessoas fizeram para o amor, e

descobri que tais cenas dos lais permanecem relevantes.


i
Lancner, Laurence. Lais De Marie De France. Paris: Librairie Générale Française, 1990.

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