Você está na página 1de 2

COMO ERA O CASAMENTO EM ISRAEL?

Infelizmente, a maioria dos leitores da Bíblia não lembram que a cerimônia de casamento
no Brasil difere radicalmente de Israel, especialmente, nos tempos de Jesus. Com isso o
entendimento do texto de Mateus 25:1-13 fica prejudicado.
A ordem mesmo naqueles tempos podia variar, mas, em geral:
1) O noivo identificava uma pretendente. Era normal casamentos arranjados com base
em parentesco, condições financeiras e virilidade do rapaz. Muitos casamentos eram
arranjados desde a tenra idade dos futuros nubentes. Não era incomum que um rei se
casasse com uma princesa, para então aumentar seu poder, encampando a herança de
outro reino;
2) Se a família aceitasse a pretensão, estabelecia o dote, que tanto podia ser em moeda,
como em outros bens móveis e imóveis e celebrava o noivado. Podia também ser
serviço para o pai da noiva (Gn 29:18). Não se sabe o que se fazia com o dote, se o
casamento não se concretizasse. Geralmente, o dote era pago pela família do noivo ou
por ele mesmo, se tivesse condições para tal;
3) Em alguns momentos da história de Israel havia o contrato nupcial (ketubá) que
desposava oficialmente a moça. É o que chamamos de noivado e era levado muito a
sério. Ela não poderia casar com mais ninguém, se assim quisesse deveria se divorciar;
4) Desse momento em diante o noivo tinha cerca de um ano para construir sua casa (ou
um cômodo na casa do pai) e prepará-la para receber a futura esposa. Quem ditava o
tempo que durava o noivado até o casamento era o pai do noivo;
5) Era comum o pai da noiva lhe dar um presente, não raro uma parte do próprio dote.
Pais generosos davam todo o dote para a filha;
6) Via de regra, o pai da noiva não gastava nada com ela. Todos os custos ficavam com a
família do noivo;
7) No dia do casamento a festa não era realizada na casa da moça, mas na casa do rapaz
ou, mais frequentemente, na própria casa dos pombinhos, onde todos os convidados se
reuniam;
8) O noivo saía com muita pompa para ir buscar a moça no local onde morasse. Os
atalaias sobre os muros ficavam alertas para avisar alguém que acompanhasse a noiva
e a ela mesma de que o noivo estava chegando. Essa chegada podia acontecer a
qualquer hora do dia ou da noite;
9) Um grupo de amigas ficava de prontidão para acompanhar a moça até o local da
cerimônia. As da parábola se dividiram entre aquelas que levaram azeite de reserva e
as que confiaram que o noivo não tardaria e não levaram nada. Restaram sem
condições de acompanhar o cortejo, nem de ajudar no deslocamento da noiva, muito
menos participar da festa. Lembrem que não havia energia;
10) A noiva recebia o noivo banhada e com o cabelo adornado com as joias da família. Ela
era coberta com um véu. Durante o trajeto tirava esse véu e o depositava sobre o
ombro do noivo, enquanto recitava: “O governo está sobre os seus ombros!”;
11) Até chegar na casa do noivo o cortejo cantava e tocava alegremente;
12) A depender da condição financeira da família os noivos poderiam estabelecer vestes
específicas para a festa, que eram emprestadas a cada convidado. Era um modo de
burlar os penetras (aqueles que entravam na festa sem serem convidados). Quem
fosse achado sem as vestes adequadas era expulso (Mt 22:11-13);
13) Organizado o encontro nupcial, o pai da noiva celebrava a cerimônia. Outra pessoa
importante da comunidade poderia fazer a celebração, somente na história recente é
que o sacerdote ou o rabino vieram a dirigi-la;
14) As comemorações duravam de sete (Jz 14:12) a quinze dias;
15) O noivo e a noiva se sentavam sob uma chupá, um pequeno dossel, na presença de
duas testemunhas válidas conforme a Lei. Ali eles recebiam seus convidados. A festa se
resumia a comer e beber fartamente.
Outras curiosidades sobre o casamento em Israel:
1) A água das talhas que Jesus usou para transformar em vinho de excelente qualidade
era a que fora utilizada para limpar os pés sujos da caminhada até o casamento, ou
seja, água suja pelo manuseio! Os convidados dispunham dessa água para poder
limpar-se antes de entrar no recinto do banquete;
2) Por volta do ano 67 a.C. os fariseus, que então eram dominantes sobre os demais
partidos judaicos, estabeleceram que não mais seria pago o dote, ele estaria escrito no
contrato de casamento e seria pago pelo marido à esposa se houvesse divórcio. À
época o valor girava em torno de 100 ;
3) Quanto o dote era em moedas, tornou-se costume em algumas épocas que fossem
colocadas sobre a cabeça da noiva. A perda de uma delas era motivo de preocupação,
dado seu valor simbólico (Lc 15:8-10);
4) A partir do século VII o presente que o noivo dava à noiva foi substituído por um anel
sem pedras preciosas;
5) A partir de séculos mais recentes, na conclusão da cerimônia é costume o noivo
quebrar um copo envolto em um pano. Este gesto serve para recordar a destruição do
Templo de Israel, que ocorreu em 70 d.C.;
6) O homem ficava isento do serviço militar durante o noivado (Dt 20:7);
7) Não havia certidão de casamento, nem cartórios, apenas a ketubá, que é o contrato de
casamento (vide imagem em anexo).
Bibliografia
1) https://www.myjewishlearning.com/article/ancient-jewish-marriage, acessado em 25
de outubro de 2021
2) http://www.morasha.com.br/leis-costumes-e-tradicoes/o-casamento.html, acessado
em 25 de outubro de 2021
3) Gower, Ralph, Usos e costumes dos tempos bíblicos, CPAD, 1ª edicção, 2002

Você também pode gostar