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Bonifácio Andrada

História política do Brasil:


de Pedro Álvares Cabral a Jair Bolsonaro

Barbacena
Bonifácio José Tamm de Andrada
2019
Ficha Técnica
Autor da Obra
Bonifácio Andrada

Transcrição e Revisão
Maria do Carmo Pedro e Edson Brandão

Projeto Gráfico
Wuallen Leandro José Dornelles Ribeiro

Capa
Caravana Grupo Editorial

Ano de Publicação
Set./2019

A553h Andrada, Bonifácio

História política do Brasil: de Pedro Álvares Cabral a Jair


Bolsonaro. – Barbacena: o autor, 2019.

70p. il. color.

ISBN: 978-65-901254-0-8

1. Brasil - História 2. Ciência política I. Título.

CDD – 981

Catalogação na fonte: Rosy Mara Oliveira – CRB6/2083


SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................................................... 6
Capítulo I – O Descobrimento - ORIGEM PORTUGUESA................................................................................ 8
Capítulo II – Brasil Colônia - O INÍCIO DA ADMINISTRAÇÃOCOLONIAL...................................................... 10
O TRATADO DE TORDESILHAS E OS CONFLITOS COM A ESPANHA........................................................ 11
O TRATADO DE MADRID E AS FRONTEIRAS DO BRASIL........................................................................... 12
A EXPANSÃO DA RIQUEZA E A ESCRAVIDÃO............................................................................................. 12
A INCONFIDÊNCIA MINEIRA E OUTROS CONFLITOS................................................................................. 14
UNIÃO DAS COROAS DE PORTUGAL E ESPANHA E A INVASÃO HOLANDESA....................................... 15
NAPOLEÃO E A VINDA DE D. JOÃO VI.......................................................................................................... 16
Capítulo III – Brasil Império - AS CORTES PORTUGUESAS CONTRA A INDEPENDÊNCIA........................ 20
Primeiro Reinado - D. PEDRO COROADO IMPERADOR............................................................................... 20
A PRIMEIRA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE............................................................................... 21
A DISSOLUÇÃO DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE E O EXÍLIO DOS DEPUTADOS............... 21
A GUERRA DA CISPLATINA............................................................................................................................ 22
A OUTORGA DA CONSTITUIÇÃO DE 1824................................................................................................... 22
Período Regencial - O INÍCIO DAS REGÊNCIAS E AS REAÇÕES POPULARES......................................... 23
Segundo Reinado - A MAIORIDADE DE D. PEDRO II E ALGUMAS REVOLTAS POLÍTICAS ...................... 25
GUERRA DO PARAGUAI E ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA......................................................................... 26
Capítulo IV – Brasil República - O SURGIMENTO DO PARTIDO REPUBLICANO
E A QUEDA DA MONARQUIA.......................................................................................................................... 28
Primeira República - OS GENERAIS DEODORO DA FONSECA E FLORIANO PEIXOTO............................ 30
GOVERNOS DE PRUDENTE DE MORAES E CAMPOS SALES................................................................... 32
GOVERNOS DE RODRIGUES ALVES E AFONSO PENA.............................................................................. 33
GOVERNOS DE NILO PEÇANHA E HERMES DA FONSECA ...................................................................... 34
GOVERNOS WENCESLAU BRAZ E EPITÁCIO PESSOA............................................................................. 36
GOVERNOS ARTHUR BERNARDES E WASHINGTON LUÍS........................................................................ 37
DESENTENDIMENTOS POLÍTICOS COM MINAS GERAIS.......................................................................... 39
A REVOLUÇÃO DE 1930 E A JUNTA MILITAR............................................................................................... 41
Segunda República - GOVERNO VARGAS E A REVOLUÇÃO DE 1932........................................................ 42
CRISE POLÍTICA E O GOLPE DE ESTADO DE 1937.................................................................................... 43
A QUEDA DE VARGAS E A NOVA ASSEMBLEIA NACIONALCONSTITUINTE............................................. 44
O GOVERNO DE EURICO DUTRA E O RETORNO DE VARGAS................................................................. 45
CARLOS LACERDA E O SUICÍDIO DE VARGAS........................................................................................... 46
CAFÉ FILHO E O GOLPE DO GENERAL LOTT............................................................................................. 47
A ELEIÇÃO DE KUBISTCHEK E SUA SUCESSÃO POR JÂNIO QUADROS................................................ 48
O GOVERNO DE JOÃO GOULART................................................................................................................ 49
O BRASIL DURANTE A CRISE INTERNACIONAL.......................................................................................... 50
GOVERNOS MILITARES E O ENFRENTAMENTO AOS GRUPOS ESQUERDISTAS .................................. 51
A REVOLUÇÃO DE 1964 E A JUNTA MILITAR NO GOVERNO..................................................................... 51
O GOVERNO DO GENERAL CASTELO BRANCO
E A CONVOCAÇÃO DO CONGRESSO CONSTITUINTE............................................................................... 52
GOVERNO DO GENERAL ARTUR DA COSTA E SILVA................................................................................. 53
A MORTE DE COSTA E SILVA E A NOVA JUNTA MILITAR............................................................................ 54
GENERAL MÉDICI ASSUME A PRESIDÊNCIA............................................................................................... 54
O GOVERNO DE GEISEL E A DEMOCRATIZAÇÃO...................................................................................... 55
O GOVERNO DE JOÃO BATISTA FIGUEIREDO............................................................................................ 56
ELEIÇÃO DE TANCREDO NO COLÉGIO ELEITORAL E SEU FALECIMENTO............................................... 57
O GOVERNO DE JOSÉ SARNEY................................................................................................................... 58
A ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE E A CONSTITUIÇÃO DE 1988............................................... 58
FERNANDO COLLOR É AFASTADO E ASSUME ITAMAR FRANCO............................................................ 59
OS MANDATOS DE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO............................................................................. 60
AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2002 E 2006
LULA E AS CAMPANHAS DO PT.................................................................................................................... 61
A ELEIÇÃO DE DILMA ROUSSEFF E O PROCESSO DE IMPEACHMENT.................................................. 62
O GOVERNO DE MICHEL TEMER................................................................................................................. 63
JAIR BOLSONARO VENCE AS ELEIÇÕES DE 2018 E ASSUME O GOVERNO.......................................... 64
REFERÊNCIAS................................................................................................................................................ 65
SOBRE O AUTOR............................................................................................................................................ 67
OBRAS DO AUTOR......................................................................................................................................... 68
História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo focalizar os principais fatos históricos da evolução po-

lítica do nosso país, inclusive os últimos anos que foram influenciados por poderosas tendências

políticas que recaíram sobre o governo brasileiro após a Constituição de 1988.

Os capítulos deste livro buscam descrever momentos históricos de forma sintética sem ig-

norar os principais fatos que revelam os respectivos cenários de nosso desenvolvimento político.

Na verdade, a Ciência da História indica, através das análises dos séculos, que os melhores

historiadores se esforçam por mostrar isenção, mas se esquecem muitas vezes das ocorrências

magnas que se encontram no fundo dos cenários humanos. Em contrapartida, negativamente,

muitos se valem em suas observações do vestiário político partidário que adotam.

Por outro lado, o leitor ou estudioso fica impedido, em alguns casos, de analisar com cla-

reza os aspectos da realidade devido ao posicionamento ditado pelas emoções no modo de se

interpretar certos acontecimentos históricos.

Na linguagem de alguns autores brasileiros é interessante constatar a influência marxista

que predomina em suas conceituações, como também pela compreensão weberiana que se faz

sentir em muitos instantes. Exemplo curioso entre nós é a simbolização da palavra “coronelismo”

geralmente mal analisada, mas útil ao palavreado dos historiadores esquerdistas, ou por eles

influenciados.

Por isto, entre nós há que se identificar determinados conceitos com os quais a técnica

marxista, em vários momentos, procura fixar ocorrências de acordo com as suas premissas dou-

trinárias.

Este trabalho, quer na visão que se tem dos primeiros dias do aparecimento da Nação ou

no Brasil Colonial, ou na fase do Império, ou no período republicano, tem em vista os fatos histó-

ricos significativos, fugindo das afirmações panfletárias que visam doutrinar o leitor ao invés de

informá-lo.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

Sendo assim, o posicionamento do historiador, que tem por objetivo descrever, mostrar e

analisar da melhor forma os fatos da realidade, deve ser o de promover um esforço que seja

capaz de localizar a verdade histórica, proporcionando ao estudioso a melhor compreensão das

ocorrências ao longo da evolução humana ou de suas áreas sociais.

As linhas do presente trabalho, uma modesta contribuição ao estudo histórico, se fixam

nesta última conceituação visando informar e esclarecer o que verdadeiramente vem ocorrendo

ao longo dos acontecimentos que começaram com Pedro Álvares Cabral e seguem até os dias

de hoje, com a presidência de Jair Bolsonaro.

O Autor

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Capítulo I – O Descobrimento
ORIGEM PORTUGUESA

A expansão ultramarina portuguesa se deve, em

parte, a D. Henrique de Sagres que, através de uma

espécie de instituto, orientou Portugal a se expandir

pelos mares e conquistar Colônias. A grande obra de

Portugal foi a descoberta do Brasil que ocorreu prati-

camente ao mesmo tempo que a descoberta da Amé-

rica, ombreando com Cristóvão Colombo a conquista

de terras no Atlântico.

Os portugueses tiveram notícias de que havia

outras terras ao longo dos mares, perto de Portugal.

Com isso fora organizada a grande esquadra dirigida

por Pedro Álvares Cabral que, atravessando o Atlân-

tico, chegou a regiões desconhecidas, mas que ao

Norte foram exploradas por Colombo, navegador es-

panhol. Nestas terras, Cabral encontrou o território que mais tarde seria o Brasil. Pedro Álvares

Cabral entrou em contato com os índios, habitantes do lugar, e deixou os primeiros laços para a

criação de feitorias e depois a Colônia.

Possuindo terras nessa região, chamada pelos espanhóis de América1, que era o nome

do escrevente da embarcação de Colombo, os portugueses iniciaram o conhecido sistema de

exploração do território mantendo contato com os índios e verificando a riqueza da respectiva

Terra. Depois de certo tempo foi montado o primeiro sistema colonial, quando os portugueses

criaram as Capitanias Hereditárias, faixa do Território doada aos nobres de Portugal.

1 Américo Vespúcio (1454-1512). Nascido na Itália. Navegador e mercador, foi o primeiro a afirmar que ao contrário do que acreditava Colombo,
as Américas não eram parte da Ásia, mas sim uma nova massa continental desconhecida.

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As terras portuguesas foram identificadas e se confundiam com as dos espanhóis, daí os

conflitos entre os dois países. Desse fato decorreu, após entendimentos, a assinatura entre os

dois países do Tratado de Tordesilhas que dividia o mundo em duas partes, entre portugueses

e espanhóis. Ao que o rei da França se pronunciou criticando: “que Deus não dividiu o mundo

entre Portugal e Espanha”.

É de 1530 a importante expedição de Martim Afonso de Sousa2 que praticamente deu início

ao domínio português sobre as terras brasileiras. Martim Afonso partiu de Lisboa para criar a

primeira Vila no Brasil, sendo esta São Vicente, no Sul do país.

Após a expedição de Martim Afonso de Sousa, Portugal criou as Capitanias Hereditárias,

isto é, a divisão das terras brasileiras em quatorze faixas, que foram doadas a membros da elite

portuguesa para desenvolver o território. Porém, as Capitanias não deram o resultado esperado,

apesar da presença de alguns de seus donatários, o que fez com que a Coroa portuguesa con-

siderasse que a solução seria a criação da administração central, de modo a coordenar todo o

território brasileiro.

2 Martim Afonso de Sousa (c.1490-1564). Nascido em Portugal. A partir de 1531 navegou do atual litoral de Pernambuco até o Rio da Prata, no
Sul do continente.

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Capítulo II – Brasil Colônia


O INÍCIO DA ADMINISTRAÇÃO COLONIAL

A Administração Colonial portuguesa começou a se situar, aos poucos, em alguns luga-

res fundamentais do Brasil, parte em Pernambuco outra parte na Bahia e outra parte no Rio de

Janeiro. A parte da Bahia ficou sendo realmente o governo central dos portugueses no Brasil,

nomeando assim os primeiros governadores do país que foram Tomé de Sousa – 1549, Duarte

da Costa – 1553, e Mem de Sá – 1558, acompanhados dos Jesuítas, entre os quais José de An-

chieta e o Padre Manuel da Nóbrega, que criaram o Colégio São Paulo que deu origem à cidade

de São Paulo.

Com a implantação dos governos teve início no Brasil uma administração colonial que se

organizou, procurando, aos poucos, dominar todo o território brasileiro. Assim, Portugal iniciou

suas atividades administrativas no Brasil criando a Administração Colonial que sucedeu as Capi-

tanias, concentrando todo o governo em Salvador, na Bahia.

Tempos depois foram instaladas as primeiras Câmaras Municipais nas vilas que iam sur-

gindo, sendo estas o órgão representativo da população dos respectivos povoados que foram

inseridos na vida colonial.


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O TRATADO DE TORDESILHAS E
OS CONFLITOS COM A ESPANHA

Com a presença do governo português se iniciaram as tributações em nosso território, em

busca de riquezas. Esta fase é marcada pela chamada economia açucareira com plantações

de açúcar em todo o Nordeste do país, principalmente em Pernambuco. A América do Sul ficou

dividida ao meio pelo Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, cuja linha passava em cima do

território brasileiro, fronteiriço com o território que pertencia à Espanha. Nesse momento, em que

os portugueses se interessavam pela importância dos territórios, sobretudo os paulistas, tiveram

início as chamadas Bandeiras, que atuaram por toda a região das Américas. As Bandeiras, or-

ganizadas por grupos de indivíduos em São Paulo, não davam importância às linhas do Tratado

de Tordesilhas e ultrapassavam as mesmas alcançando várias partes do Oeste da América, o

que resultou em conflitos entre os portugueses e algumas autoridades espanholas, embora os

portugueses, durante muito tempo, tivessem tomado conta da maior parte desta área do Oeste

sul-americano, fora da linha do Tratado de Tordesilhas.

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O TRATADO DE MADRID E AS FRONTEIRAS DO BRASIL

Depois de muitas discussões e procura de

soluções sob a liderança de Alexandre de Gus-

mão, jurista e homem público brasileiro, chegou-se

à conclusão da feitura do Tratado de Madrid entre Portugal

e Espanha, em 1750, que teve como base o chamado uti

possidetis, quer dizer, aquelas terras onde havia portugue-

ses vivendo e morando passavam para Portugal, já as ter-

ras onde havia espanhóis ficariam com a Espanha. Ocor-

re que os portugueses tinham avançado praticamente por

todo o território da América do Sul com o movimento das

Bandeiras, e quase chegaram ao Pacífico. Com isso, o Tra-

tado de Madrid permitiu que o Brasil tivesse, praticamente

no seu todo, a configuração de hoje, graças, mais tarde, à

sua consolidação com o trabalho do Barão do Rio Branco, ministro das Relações Exteriores dos

primeiros governos republicanos.

A EXPANSÃO DA RIQUEZA
E A ESCRAVIDÃO

Com a presença dos portugueses no Brasil, nas

amplas terras do Tratado de Madrid já devidamente for-

malizado, tiveram início as explorações mais regulari-

zadas, como a ocorrida em Minas Gerais com a desco-

berta do ouro e o surgimento, em toda essa região do

país, de uma atividade aurífera que fora fundamental

para nossa história e para a história de Portugal.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

A base da produção do ouro no Brasil teve como sede a cidade de Ouro Preto3 e seus

arredores, expandindo-se também para outras cidades como São João Del-Rei e, sobretudo

Diamantina, onde foram encontradas preciosas pedras que se tornaram de muito interesse para

Portugal. Podemos dizer que essa fase é o Ciclo do Ouro e Diamantes no país, e que provocou uma

situação com dois ângulos: primeiro, a criação do governo de Ouro Preto para defender a produção au-

rífera de Portugal, porque todos aqueles que exploravam o ouro eram obrigados a pagar um imposto;

e segundo, o surgimento de uma elite de homens mais cultos que se valeram de viagens a Portugal e

retornaram ao Brasil neste período.

Outro dado importante é que o Ciclo do Ouro fez com que a Administração Colonial saísse do

Nordeste (Bahia) e se instalasse no Rio de Janeiro, no Sudeste brasileiro.

Ao lado da expansão das riquezas foi estabelecida a escravidão de índios, nativos do próprio

país, e negros, vindos da África. Os índios conseguiram superar a escravidão devido a sua cultura e

seu temperamento, não se integrando de forma sistemática como os negros, pois estes, acostumados

às práticas de escravidão na própria África, se submeteram ao sistema que perdurou por muitos anos

no nosso país.

A presença de escravos é uma página triste de nossa história, porém foi fundamental à

formação da população brasileira com marcas altamente significativas.

Os negros escravos tiveram posicionamentos de reação em busca de sua liberdade, o que

faziam através de organizações pelo interior do país nos quilombos, onde se reuniam e se de-

fendiam contra a perseguição que ocorria por parte dos governantes, sendo célebres o Quilom-

bo dos Palmares e do Campo Grande, sobretudo aquele que deixou a lembrança de seu líder,

Zumbi.

3 Em 1720, tornou-se a capital da Capitania de Minas Gerais desmembrada de São Paulo. Era chamada Vila Rica. O arraial de Nossa Senhora
do Ribeirão do Carmo (hoje Mariana) foi fundado em 1696, sendo posteriormente a primeira vila da Capitania de Minas Gerais. Depois surgiram
Sabará e Vila Rica, depois Ouro Preto. O nome atual é devido à presença do óxido de ferro no ouro.

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A INCONFIDÊNCIA MINEIRA E OUTROS CONFLITOS

À medida em que aumentava a renda com a mi-

neração aurífera e o desenvolvimento agrícola também

cresciam as taxações fiscais e a antipatia para com o

governo de Portugal. Tais fatos resultaram em atitudes

de rebeldia e mesmo no movimento da Inconfidência

Mineira que nada mais foi que uma tentativa de lide-

ranças com ideias liberais, e também com interesse

político, de transformar Minas Gerais num país inde-

pendente de Portugal. Houve alguns exageros nas in-

formações históricas a esse respeito.

Embora focalizado nas figuras significativas dessa

movimentação da região da mineração, as lideranças

da Inconfidência em Ouro Preto eram em sua maioria

de formação literária, não sendo muito ativas. Daí o destaque de Tiradentes4, alferes da polícia

da época, que era indiscutivelmente uma personalidade atuante e destemida.

A chamada Inconfidência Mineira foi organizada com base em reuniões secretas e, como

se sabe, foi destroçada pelo Visconde de Barbacena5, o governante português da província.

Com isso, todos os conhecidos literários de alto valor que participaram das conversações, des-

tacando-se Cláudio Manuel da Costa, Tomás Gonzaga, os Resende Costa, pai e filho, Alvarenga

Peixoto, Padre Rolim, e outros, passaram a ser objeto de duras perseguições.

Cláudio Manuel da Costa, talvez a principal figura, foi assassinado em Ouro Preto e os

demais foram presos e mandados para o Rio de Janeiro, exilados como sentença dos inquéritos

que tiveram andamento em Ouro Preto, a respeito desse levante considerado revolucionário.

Na história do Brasil, indiscutivelmente, a Inconfidência Mineira é um ponto significativo,

pois teve repercussão no país e em Portugal. Como é de conhecimento, os inconfidentes sofre-

4 Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, (1746-1792). Nascido em Minas Gerais. Militar, comerciante, minerador, único condenado à morte
na chamada Inconfidência Mineira.
5 Luís Antônio Furtado de Castro do Rio de Mendonça e Faro (1754-1830). Nascido em Portugal. Foi o 6º Visconde de Barbacena e governador
da Capitania de Minas Gerais, entre 1788 e 1797.

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ram consequências do governo português. Vários brasileiros foram mandados para o exterior,

para a África, e lá sofreram as decisões jurídicas penais. Sobressaiu a figura de Tiradentes, que

passou a ser o principal foco das preocupações da Corte Portuguesa, sendo o único a sofrer as

principais consequências penais. Tiradentes foi enforcado, atitude que o transformou em mártir

e em herói que lutava pela independência do Brasil.

Além da Inconfidência Mineira, outros movimentos nativistas tiveram repercussão no país,

como a Revolta de Beckman em 1684, no Maranhão; Os Mascates em Pernambuco, 1711; a

Conjuração Fluminense em 1795, no Rio de Janeiro; a Conjuração Baiana, 1798; a Revolução

Pernambucana em 1817, além daquelas de menor repercussão como a Revolta dos Alfaiates em

1798, na Bahia, e Filipe dos Santos em Minas Gerais, 1720, entre outras.

UNIÃO DAS COROAS DE PORTUGAL E ESPANHA


E A INVASÃO HOLANDESA

Na vigência do Sistema Colonial várias crises ocor-

reram, sendo um dos momentos graves a luta contra os

holandeses, em Pernambuco, e mais tarde os problemas

decorrentes da política portuguesa em relação ao Bra-

sil. Mas, houve um instante em que Espanha e Portugal

se transformaram em um país unificado, e o Brasil pas-

sou a pertencer à Organização Ibérica. Quando a União

das duas Coroas se estabeleceu, por volta de 1580, até

aproximadamente 1640, houve repercussões na vida

brasileira, e logo depois, alguns problemas inerentes à

própria história de Portugal com reflexo no Brasil.

Neste momento histórico, como já observado, os

paulistas, empreendendo suas Bandeiras e desconside-

rando a linha de Tordesilhas, ocuparam grandes territórios depois formalmente reconhecidos

como do Brasil pelo Tratado de Madrid, já mencionado.

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As incursões das Bandeiras pelo país tiveram como seus principais desbravadores Barto-

lomeu Bueno da Silva (conhecido como Anhanguera), Antônio Raposo Tavares e Fernão Dias

Paes Leme, sendo este último dos mais destacados dos bandeirantes.

Nessa mesma época aconteceu a invasão dos holandeses no Norte do país, quando con-

seguiram criar quase um estado independente de Portugal, em cuja organização é preciso desta-

car a figura do Conde Maurício de Nassau que, por volta de 1644, dominou o Nordeste brasileiro

submetido, em parte, à presença holandesa. Graças às suas qualidades como administrador

adquiriu apoio na região e promoveu várias obras de interesse para a população. Todavia, de-

sentendimentos entre os holandeses e a célebre Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais

fizeram com que Maurício de Nassau se afastasse e o estado holandês ali instalado fosse enfra-

quecido.

Na luta com os brasileiros, os holandeses foram derrotados, o que deu àquela região plena

liberdade, destacando-se nos embates três figuras significativas, o senhor de engenho João Fer-

nandes Vieira, o índio Felipe Camarão e o negro Henrique Dias, todos liderados pelo paraibano

André Vidal de Negreiros. Cada um daqueles comandou indivíduos de sua própria raça.

NAPOLEÃO E A VINDA DE D. JOÃO VI

Superada a unificação das Coroas Ibéricas, com a re-

ação dos portugueses, e assumindo o governo português D.

João IV de Bragança, iniciou-se nova fase em Portugal até o

reinado de Dona Maria, a rainha, que, ao ficar viúva, implan-

tou um reinado absolutista e enérgico, sendo ela quem iniciou

as decisões contra a Inconfidência Mineira. Com a morte de

D. Maria, assumiu seu filho D. João VI, cujo reinado é de vital

importância para os destinos do Brasil.

Napoleão, dominando vários países nas áreas mais vitais da Europa, resolveu tomar a Espa-

nha e, em seguida, invadir Portugal. D. João VI, tendo conhecimento dos ataques de Napoleão e

sabedor de que ele, com grande poder militar, dominaria Portugal que, por sua vez, mantinha inten-

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

sas relações com os ingleses – adversários da França – resolveu, então, defender-se de maneira

inédita: deixou Portugal e se deslocou, com grande embarcação, para o Brasil, para o Rio de Janeiro,

onde teria condições para continuar a conduzir o Império português. É célebre o episódio do des-

locamento de Dom João Vl e sua Corte de Lisboa para Salvador e, em seguida, ao Rio de Janeiro.

Pouco tempo depois, com Napoleão derrotado em Waterloo, os ingleses passaram a influir inten-

samente na América Portuguesa.

A partir de 1815, com sua Corte instalada na Colônia, D. João realizou feitos relevantes

para o desenvolvimento brasileiro. Foi criada a escola militar, museus que influenciaram a vinda

de cientistas da Europa para conhecer nosso país e, finalmente, a Biblioteca Nacional. No Rio

de Janeiro se construiu importantes obras. Nesta época o Brasil foi elevado à categoria de Reino

Unido à Portugal.

Entre 1817 e 1818, embora com a presença de D. João VI no Brasil, houve uma atuação

de forças revolucionárias contra Portugal, sendo articulada em Pernambuco, sob o comando

de Domingos José Martins, comerciante de expressão da região, a República Pernambucana.

Apesar de bem estruturada, tal experiência republicana foi derrotada pelas forças portuguesas e

presos vários de seus líderes e figuras expressivas que participaram do movimento, entre elas,

os religiosos Padre João Ribeiro e Padre Miguelinho, e Antônio Carlos de Andrada e Silva (irmão

de José Bonifácio), entre outros.

Com a queda de Napoleão na Europa, os países que estavam subordinados ao invasor

francês passaram a ter liberdade, e Portugal, em 1820, iniciou movimentos em favor das ideias

liberais. Neste mesmo momento, também começaram as articulações favoráveis ao retorno de

Dom João Vl. Assim, o nobre português foi obrigado a se decidir entre o Rio de Janeiro e Lisboa.

Se decidiu pela ida para Portugal, deixando no Brasil seu filho, Dom Pedro6, como príncipe re-

gente, para dirigir todo o país, que seria mantido como Reino Unido.

As forças políticas portuguesas eram descontentes com a criação do Reino do Brasil, na

verdade, uma manobra dos ingleses para seus interesses internacionais. Assim, os portugueses

discordavam da presença de Dom Pedro no país. D. João VI, no entanto, percebeu como seria

6 Pedro I do Brasil ou Pedro IV de Portugal (1798-1834). Nascido em Portugal. Foi o primeiro Imperador do Brasil.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

estratégico manter seu filho no comando do Brasil. Esta visão do monarca é prova de sua habi-

lidade como governante. Dom Pedro permaneceu subordinado a Portugal, mas com poderes de

Regente.

D. PEDRO CONVIDA JOSÉ BONIFÁCIO

Nesse período, os portugueses, residentes no Brasil, rodeavam Dom Pedro e não admitiam

a independência, mas teve início um movimento, com apoio dos maçons, para que este se des-

ligasse de Portugal.

D. Pedro sentiu a necessidade de fortalecer mais sua presença no país e foi buscar em

Santos, na província de São Paulo, uma peça fundamental para seus planos: um cientista de

renome internacional, com vasta cultura e ampla visão administrativa. Este homem era José

Bonifácio de Andrada e Silva7, que logo passou a atuar na direção do governo brasileiro. José

Bonifácio se aliou à Imperatriz D. Leopoldina, filha de Francisco José, Imperador da Áustria, que

era uma liderança dominante em todo o mundo ocidental. A esposa de Dom Pedro I, sendo mui-

to favorável ao Brasil, facilitou a Independência que não era desejada por lideranças europeias.

Apesar da posição de seu pai, D. Leopoldina deu apoio ao processo da independência e influiu

para que D. Pedro também assumisse o compromisso de libertar o Brasil do jugo português.

7 José Bonifácio de Andrada e Silva (Santos, 1763 – 1838). Nascido em Santos. Naturalista, estadista e poeta luso-brasileiro, conhecido pelo
epíteto de Patriarca da Independência por seu papel decisivo na Independência do Brasil.

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As Cortes Portuguesas já haviam criado as juntas governativas em diversas partes do país,

visando com isso enfraquecer o Regente, exigindo seu retorno a Portugal, o que provocou o pri-

meiro movimento de apoio em favor do futuro Imperador no chamado “Dia do Fico”8, contra as

forças militares portuguesas que estavam no Rio de Janeiro. Este episódio resultou da determi-

nação expressa para que D. Pedro voltasse a Portugal. No entanto, cerca de 8 mil brasileiros, em

um abaixo-assinado remetido ao Príncipe, o convenceram de que ele ficaria. Além disso, Pedro

I consolidou a sua presença com nomes fortes na sua equipe, entre eles Gonçalves Ledo, líder

maçon.

Em 7 de setembro de 1822, em São Paulo, no local conhecido como Ipiranga, D. Pedro

proclamou a Independência contra os portugueses, sob os dizeres “Independência ou Morte”,

momento decisivo para o início do Brasil como Nação.

É conhecido o episódio em que D. Pedro, próximo daquele riacho, recebeu cartas de José

Bonifácio e de D. Leopoldina relatando que não havia mais como manter a submissão do Brasil

a Portugal.

8 Dia 9 de janeiro de 1822. Quando D. Pedro disse a célebre frase: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam
ao povo que fico”.

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Capítulo III – Brasil Império


AS CORTES PORTUGUESAS
CONTRA A INDEPENDÊNCIA

As investidas dos portugueses contra a Independência do Brasil foram enfrentadas por

José Bonifácio com habilidade: contratou dois militares estrangeiros, o almirante Cochrane, in-

glês, experiente dirigente de navios de guerra com êxito marítimo em países sul-americanos;

e o general Pedro Labatut, francês, ex-oficial de Napoleão que atuou na independência de al-

guns países da América Latina. Ambos vieram para o Brasil, e na Bahia teve início a formação

do Exército Brasileiro para enfrentar as forças portuguesas comandadas pelo general Madeira,

militar de alta eficiência, que manteve por alguns anos a guerra contra os brasileiros na Bahia.

Primeiro Reinado
D. PEDRO COROADO IMPERADOR

Com elaboradas solenidades no Rio de Janeiro, D. Pedro I foi aclamado Imperador9, e após

sua coroação, momento fundamental para a vida brasileira, assumiu o governo, mas, logicamen-

te, enfrentou resistências, sobretudo na Bahia, porque o projeto português para manter influência

no país seria dividir o Brasil ao meio. O Norte ficaria com Portugal e o Sul, independente, com

o Rio de Janeiro. A figura marcante nesta luta foi o português general Madeira, que comandou

forças militares leais a Portugal, mas que foram derrotadas, pois a esta altura o Brasil já possuía

as forças de defesa do novo Império, o Exército e Marinha brasileira criados sob a orientação de

José Bonifácio.

9 No dia 12 de outubro de 1822, no Campo de Santana, região central da cidade do Rio de Janeiro.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

A PRIMEIRA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE

As ideias liberais cresceram e agitaram o Rio de Janeiro e o resto do país para que se con-

vocasse uma Assembleia Nacional Constituinte capaz de votar uma Constituição para o país. José

Bonifácio, a princípio, não era muito favorável, mas, posteriormente, concordou e, em 1823, foi

instalada em nosso país a primeira Assembleia Nacional Constituinte. Esta teve representantes de

todas as províncias do Brasil então existentes, sendo os seus deputados, aqueles que iriam elaborar

a Constituição do país. A Assembleia Nacional fora liderada principalmente pela figura de Antônio

Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva, com apoio de seus irmãos José Bonifácio e Martim

Francisco Ribeiro de Andrada, tendo aquele elaborado o projeto de Carta Magna que fortalecia os

representantes do povo.

A DISSOLUÇÃO DA ASSEMBLEIA NACIONAL


CONSTITUINTE E O EXÍLIO DOS DEPUTADOS

Surgiram debates dentro da Assembleia Constituinte, que mais tarde passaram a ser objeto de

agitação popular, ao que Dom Pedro I entrou em conflito com José Bonifácio, os irmãos dele e com

os deputados que lhe seguiam. O Imperador decidiu dissolver a Assembleia Nacional Constituinte e,

ao mesmo tempo, prender a maioria dos deputados, promovendo a ida deles para exílio no exterior,

entre eles, os irmãos Andradas.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

Dom Pedro I ficou com poderes absolutos, situação que não repercutiu bem no país. No Nor-

deste houve duras reações muito ativas que sacudiram o país, como a chamada Confederação

do Equador10 que visava a criação de uma República independente e refletiu em várias províncias

nordestinas, além de outras partes da Nação onde também as reações contra a dissolução da As-

sembleia foram sentidas.

A GUERRA DA CISPLATINA

Pertencia ao Brasil, a antiga Colônia de Sacramento, território da divisa com a Argentina, isto

é, com o mundo espanhol, a qual se transformou na Província Cisplatina, graças à invasão luso-bra-

sileira. Tal província tinha uma posição de destaque, com representantes inclusive na Assembleia

Nacional Constituinte. Com a dissolução desta, as lideranças da Cisplatina consideraram que vários

compromissos assumidos em favor de sua comunidade não seriam mais respeitados e, com apoio

da Argentina, declararam guerra ao Imperador para alcançar a sua Independência por volta de 1825.

Na Guerra da Cisplatina o Brasil foi derrotado por aqueles que defendiam a liberdade da pro-

víncia para se tornar um novo país, hoje o Uruguai. Os cisplatinos tiveram o apoio dos ingleses, por

seus interesses comerciais no mercado internacional.

A OUTORGA DA CONSTITUIÇÃO DE 1824

Para fazer face às reações liberais, D. Pedro outorgou, em 1824, uma Constituição para o

país com base no projeto de Antônio Carlos, e que havia sido discutido na Assembleia Constituinte,

porém com alterações, atitude que deu início à fase constitucional que se estendeu até a Repúbli-

ca. A principal figura deste trabalho foi Carneiro de Campos, o Marquês de Caravelas11, redator da

Constituição de 1824.

A estrutura do país continuava com suas respectivas câmaras municipais, criando, indiscuti-

velmente, uma nova organização também de tendências liberais, com as províncias semiautôno-

mas. Mas, D. Pedro se envolveu em fatos negativos, inclusive pessoais, até mesmo em relação à

10 Eclodiu no dia 2 de julho de 1824, em Pernambuco. Os principais líderes foram Manuel de Carvalho Pais de Andrade e Frei Caneca.
11 José Joaquim Carneiro de Campos, Marquês de Caravelas (1768-1836). Nascido na Bahia. Advogado, diplomata e professor. Sucedeu José
Bonifácio de Andrada e Silva no ministério do Império e dos Negócios Estrangeiros, quando o ministério dos Andradas foi exonerado.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

D. Leopoldina12, nossa imperatriz de origem austríaca, que era muito querida dos brasileiros. Vale

lembrar que ela muito contribuiu para a Independência. Tudo isso fez com que o Imperador se

enfraquecesse dentro da vida brasileira, passando a dar apoio aos portugueses e nomeando um

ministério impopular, a sua rejeição foi crescendo de tal forma que, em 1831, renunciou ao governo

brasileiro e o entregou ao seu filho, que nessa época tinha seis anos, o qual mais tarde se tornaria

o Imperador Dom Pedro II13.

Período Regencial
O INÍCIO DAS REGÊNCIAS E AS REAÇÕES POPULARES

Embora afastado de seu antigo ministro, D. Pedro I nomeou José Bonifácio tutor do pequeno

D. Pedro II, por considerá-lo o único brasileiro que poderia conduzir a educação de seu filho. Nesse

momento se iniciou nova fase em nossa história, o período das Regências14, inicialmente, composto

por três líderes políticos, general Lima e Silva, Joaquim Carneiro de Campos e Nicolau Campos

Vergueiro.

Em 1834, com o Ato Adicional, foi feita uma reforma da Constituição que permitiu que a Re-

gência fosse exercida através de eleição geral, por um só membro, para a qual foi escolhido o Padre

Feijó. Terminado o mandato de Feijó, Araújo Lima, o Marquês de Olinda, assumiu como Regente

único, quando dois grandes partidos disputavam o poder, o Partido Liberal e o Partido Conserva-

dor. Foram estes dois grupos que alimentaram a vida pública do país até a República. Em 1840 foi

votada a Lei de Interpretação do Ato Adicional de 1834 com alterações que atingiram a autonomia

provincial.

Neste período houve insurreições separatistas em algumas províncias. A Cabanagem, no

Pará, que aconteceu de 1835 a 1840, foi uma revolta popular dos cabanos, índios e mestiços que

moravam em cabanas às margens dos rios, mas que obtiveram apoio dos fazendeiros e comercian-

tes que estavam insatisfeitos com o governo regencial, o qual os combateu ao final de cinco anos

de lutas.

12 Caroline Josepha Leopoldine Franziska Ferdinanda, ou Leopoldina da Áustria (1797-1826). Nascida na Áustria. Foi arquiduquesa da Áustria, a
primeira esposa de D. Pedro I e Imperatriz Consorte. Os rumorosos casos extraconjugais do Imperador, em especial com a Marquesa de Santos,
são fatos que afetaram a relação do casal imperial.
13 Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga, D. Pedro II
(1825 -1891). Nascido no Rio de Janeiro. O segundo e último imperador do Império do Brasil durante 58 anos.
14 Duração: de 1831 a 1840.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

Também nesta fase se destacou a Sabinada, revolta ocorrida na Bahia entre 1837/1838,

comandada pelo jornalista e médico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira. Esta revolta tinha

como objetivo tornar a Bahia um país independente até que D. Pedro II atingisse a maioridade.

O movimento teve algum êxito e chegou a defender a criação da República Bahiense, até que o

herdeiro do trono brasileiro chegasse à maioridade. O governo regencial combateu a insurreição

um ano depois e seus líderes foram julgados e condenados.

No Maranhão se destacou a Balaiada, entre 1838 e 1841, insurreição das camadas popula-
res daquela província que estavam insatisfeitas com o governo regencial e que originou a disputa

política entre “bem-te-vis” (liberais) e “cabanos” (conservadores), os quais se uniram contra os

balaios. A revolta se expandiu até o Piauí, liderada por Raimundo Gomes e Manoel Francisco dos

Anjos Ferreira, mas foi combatida por Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias, que foi

convidado pelo governo para pacificar aquela Província. Caxias conteve as revoltas sufocando as

agitações e restabelecendo a ordem pública naquelas regiões.

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Segundo Reinado
A MAIORIDADE DE D. PEDRO II
E ALGUMAS REVOLTAS POLÍTICAS

Em 1840, D. Pedro II, com 15 anos, assumiu a

Coroa brasileira em decorrência de um golpe parla-

mentar chefiado por Antônio Carlos e Martim Fran-

cisco, irmãos de José Bonifácio, que conseguiram

apoio do Senado, extiguindo as Regências. Era o

início da segunda fase monárquica no Brasil.

Inicialmente, Dom Pedro II organizou seu mi-

nistério com os líderes liberais da Independência, os

irmãos de José Bonifácio, Antônio Carlos15, Martim

Francisco16 e os Holanda Cavalcanti. Mais tarde, hou-

ve conflitos políticos que resultaram na entrega do

governo aos Conservadores. Esta posição de Dom

Pedro provocou a Revolução de 1842, pois anulara

a eleição vencida pelos liberais, que teve base forte

em Minas Gerais, sob a liderança de Teófilo Otoni, e também em São Paulo, sendo debelada,

após algumas lutas, pela figura de Duque de Caxias, que ainda não tinha este título, mas que já

era uma liderança dentro da vida militar brasileira.

Antes da Revolução Liberal de 1842, houve a violenta Revolução dos Farrapos no Rio

Grande do Sul, que teve início em 1835 e se estendeu até 1845. O objetivo era tornar aquela

província uma República independente como foi a Cisplatina, posteriormente Uruguai.

A Guerra dos Farrapos acumulou várias batalhas. Os revolucionários eram comandados

por Bento Gonçalves e, após dez anos de luta contra os governantes do Império, os brasileiros,

comandados por Duque de Caxias, conseguiram vencer os revoltosos republicanos.

15 Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva (1773-1845). Nascido em Santos. Formado em Direito e Filosofia pela Universidade de
Coimbra, Portugal.
16 Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1775-1844). Nascido em Santos. Formado em Matemática e Filosofia pela Universidade de Coimbra,
Portugal.

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Ao perceber o risco em que se encontrava o Império com tais conflitos, D. Pedro II implan-

tou um tipo especial de parlamentarismo inspirado no modelo inglês. Por volta de 1845, nomeou

Manuel Alves Branco com o título de presidente do Conselho de Ministros, semelhante a primei-

ro-ministro. Este foi um novo período da vida brasileira que se desenvolveu praticamente com a

disputa política entre o Partido Conservador e o Partido Liberal. Surgiram figuras ilustres, e as

disputas partidárias dominaram o país.

D. Pedro II ainda vivenciou em seu reinado a Revolução Praieira, em Pernambuco, entre

1848 e 1850, que se desenvolveu pela disputa política entre liberais, chamados de “Praieiros”,

e conservadores, chamados “Guabirus” (ratos). A revolta comandada pelos Praieiros, sob a lide-

rança de Pedro Ivo Veloso da Silveira, recebeu apoio da população e se espalhou pela província

de Pernambuco. Seus confrontos se concentravam principalmente em Olinda e Recife e foi com-

batida pelo capitão Antônio de Sampaio, enviado do governo imperial que derrotou os insurretos.

Durante o governo de Pedro II também houve a célebre Questão Christie decorrente de

conflitos de navios da Inglaterra com brasileiros, o que resultou numa longa crise diplomática

ocorrida entre 1862 e 1865. Envolvia o comércio de escravos, o saque a um navio inglês naufra-

gado na costa brasileira e a prisão de oficiais ingleses por desacato. O nome da crise se refere

ao embaixador William Christie, inglês que protestou contra os fatos.

GUERRA DO PARAGUAI
E ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

A Monarquia brasileira, aliada à Argentina e Uruguai, formando a Tríplice Aliança, teve que

enfrentar a guerra do Paraguai que atingiu todo o país, e em cujas batalhas se destacaram, entre

outros, o general Osório, almirante Barroso e Duque de Caxias, que deram a vitória ao Brasil, além

da figura de Bartolomeu Mitre, presidente da Argentina nesse período.

Todavia, esta guerra atingiu o prestígio da Monarquia e o poder imperial, que já enfrentava vá-

rias críticas de setores nacionais contrários à escravidão dos negros. Na realidade, a partir do início

da colonização, os negros vieram da África para o nosso país e continuaram através do chamado

tráfico negreiro, que os ingleses combatiam, o que o Brasil suspendeu em 1850. Tudo isso causou

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

o enfraquecimento da Monarquia que foi agravado com as repercussões da Guerra do Paraguai, e

também com a célebre Questão Religiosa17. Desta forma, alguns liberais mais avançados criaram

em 1870 o Partido Republicano, tendo à frente a figura de Quintino Bocaiúva e outros líderes que

defendiam novos rumos para o governo brasileiro.

17 Foi um conflito na década de 1870, entre a Igreja Católica e a Maçonaria, afetando a estabilidade da Monarquia brasileira. Os bispos, de
grande expressão no país, assumiram posição contra a maçonaria que estava atingindo as atividades religiosas, contrariando determinadas
decisões da Santa Sé, o que resultou na prisão de dois arcebispos, Dom Vital, de Olinda, e Dom Macedo Costa, do Pará. O fato causou grande
repercussão e desgastes ao governo imperial.

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Capítulo IV – Brasil República


O SURGIMENTO DO PARTIDO REPUBLICANO E A
QUEDA DA MONARQUIA

Por volta de 1870 foi lançado o Manifesto Repu-

blicano que, na realidade, era formado por dissiden-

tes do Partido Liberal e que muito influenciou a vida

do país em crescente movimento, adquirindo simpa-

tia à medida em que o governo imperial experimen-

tava sucessivos desgastes.

A Monarquia era forte, mas o Partido Repu-

blicano começou a influir no país. A princesa Isa-

bel18, no exercício do governo em substituição a

Dom Pedro II, seu pai, promoveu a Abolição da

Escravatura, em 1888, com a promulgação da Lei

Áurea, a qual deu liberdade aos negros após mani-

festações nacionais contrárias à escravidão, e que

ocorriam desde a Independência do país. A Questão

Religiosa, da Igreja contra a maçonaria, também influiu muito contra a Monarquia e, finalmente,

o agravamento da própria dificuldade de ordem econômica e financeira que havia no país, com

as guerras e rebeliões.

Na realidade, a queda da Monarquia também se deveu aos grupos militares que vieram da

Guerra do Paraguai, foram se organizando e, aos poucos, conquistaram grande prestígio na vida

política brasileira.

É interessante relembrar um episódio significativo desse momento histórico. Logo após a

assinatura da Abolição da Escravatura, o Barão de Cotegipe aproximou-se da Princesa Isabel,

que dirigia o país no lugar de seu pai, que estava em viagem, e lhe disse: – “Vossa Majestade

redimiu uma raça, mas perdeu o trono”.

18 Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon-Duas Sicílias e Bragança, Princesa Isabel (1846 -1921).
Nascida no Rio de Janeiro, foi a segunda filha de Pedro II e Teresa Cristina.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

Todos esses episódios fizeram com que o país se

movimentasse no apoio aos republicanos que, apesar

de politicamente fracos, foram liderados por militares

de formação positivista como Benjamin Constant e o

próprio Deodoro da Fonseca, além de lideranças civis,

como Quintino Bocaiúva e Rui Barbosa. Estes líderes

históricos foram se afastando das ideias monarquistas

e aderiram aos princípios republicanos. Nesse movi-

mento, conseguiram mudar o regime político brasilei-

ro e substituí-lo, da Monarquia para a República, em

1889.

O último presidente do Conselho de Ministros da

Monarquia foi o Visconde de Ouro Preto, que tentou

um programa avançado, porém sem êxito, declinado

de seu posto às vésperas da República.

Na realidade, a população aceitou a Proclamação da República, porém sem manifestações

efusivas porque, de fato, não tinha muita eperança com aquele movimento.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

Primeira República
OS GENERAIS DEODORO DA
FONSECA E FLORIANO PEIXOTO

Com o grito de “Viva a República” do general Deodoro teve início outra fase da história do

Brasil, pois que, logo depois foi instalada uma Assembleia Constituinte para votar a Constituição

Republicana de 1891.

A Assembleia Nacional Constituinte convocada pelo governo republicano promoveu vários

debates destacando-se entre eles a discussão entre os sistemas presidencialista e parlamen-

tarista. Os parlamentaristas eram minoria, e os defensores do presidencialismo, inclusive Rui

Barbosa e outros, foram vitoriosos, influenciados pelo sistema norte-americano.

Os parlamentaristas defendiam o sistema francês que adotava a República após a guerra

de 1870, mas adaptada ao regime parlamentarista. Na prática, a Constituinte adotou o texto do

projeto apresentado pelo Executivo e aprovou o novo texto Constitucional, dentro de claras li-

nhas presidencialistas.

Essa fase republicana foi de transição e, por isso mesmo, provocou uma série de atri-

tos que resultaram na atitude do general Deodoro da Fonseca19 que, na presidência do país,

19 Manuel Deodoro da Fonseca (1827-1892). Nascido em Alagoas. Militar e político, foi o primeiro presidente do Brasil.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

tentou, à moda do Império, dissolver o Congresso Nacional, obedecendo aos princípios

parlamentaristas, que aliás não foram aceitos pelos republicanos de então. Foi uma crise muito

séria que resultou no afastamento do general Deodoro que, doente, renunciou ao governo fede-

ral.

Floriano Peixoto, que era seu vice-presidente, assumiu o poder. Este marcou outra época

na política brasileira com seu temperamento ditatorial havendo o risco de se iniciar um regime

autocrático como nos outros países sul-americanos, literalmente dominados por ditadores. Ten-

do o governo de Floriano Peixoto todas as características autoritárias, vários conflitos foram en-

frentados, inclusive com o Poder Legislativo, mas sua presença era forte dentro da vida política

brasileira, com muitos adeptos.

Durante o seu governo houve a Revolta da Armada que foi comandada pelo almirante

Custódio Ribeiro de Melo que, sem êxito, foi abatido pelos grupos militares que tiveram apoio do

governo de São Paulo.

Ainda, no governo de Floriano Peixoto, ocorreu a Revolução Federalista, no Rio Grande do

Sul envolvendo dois grandes partidos: o Federalista, popularmente chamado de Maragatos, e

os Republicanos, chamados Chimangos. Esta luta ocorreu de 1893 a 1895, com a participação

de diversas figuras expressivas, tendo entre os federalistas, Silveira Martins, personalidade da

mais alta expressão e valor no Império, contra Júlio de Castilhos, jovem liderança republicana

que mais tarde iria ocupar o governo do Rio Grande do Sul. Esta Revolução foi de caráter local,

mas teve também muita repercussão no governo federal, que precisou intervir para pacificar as

lutas rio-grandenses.

Floriano foi acometido por grave doença ao fim de seu governo, e novas eleições para a

presidência da República foram convocadas de acordo com a Constituição. Foi eleito, então, o

primeiro presidente civil do país na República, Prudente de Moraes20, paulista ilustre e de for-

mação democrática. A sua história mostra o seu temperamento, inclusive quando ele deixou de

agredir o assassino de seu pai, levando-o preso.

20 Prudente José de Moraes Barros (1841-1902). Nascido em São Paulo. Advogado e político, foi o terceiro presidente do Brasil.

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GOVERNOS DE PRUDENTE DE
MORAES E CAMPOS SALES

Prudente de Moraes seguiu para o Rio de Janeiro para tomar posse na qualidade de pre-

sidente da República. Oficialmente, ninguém o aguardava, nenhuma personalidade governa-

mental. Mesmo assim, assumiu o governo e o país inaugurou novo período administrativo, em

ambiente de equilíbrio político. Nesta época, porém, enfrentou na Bahia a célebre Rebelião de

Canudos, liderada pelo messiânico Antônio Conselheiro. A revolta popular baiana foi interpretada

na época como uma reação monarquista, tendo sido derrotada por forças do Exército.

Prudente de Moraes teve como sucessor Campos Sales, paulista, com temperamento to-

talmente diferente daquele, e que passou a governar de maneira enérgica se aliando aos go-

vernadores e criando uma política de aliança com os chefes dos diversos Estados. Assim, se

estabeleceu no Brasil uma aliança das forças políticas locais e regionais de modo que, com essa

situação, os Partidos Republicanos estaduais se uniram, o que resultou na criação de uma rede

republicana nacional de pleno apoio ao presidente da República. Este sistema perdurou até a

Revolução de 1930.
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  GOVERNOS DE RODRIGUES ALVES E AFONSO PENA

Depois de Campos Sales, assumiu Rodrigues Alves, outro paulista também de reconhecido

valor que realizou obras notáveis para o país, sobretudo no Rio de Janeiro, combatendo a febre

amarela e outras doenças então existentes. Patrocinou importantes construções, prestigiou a

figura do médico sanitarista Oswaldo Cruz. Porém, a população, insatisfeita com a obrigação de

se vacinar e sem o devido esclarecimento sobre a importância da vacina, reagiu contra os agen-

tes de saúde e a polícia teve que agir. Esse movimento é conhecido como a Revolta da Vacina,

que foi combatida e dominada pelo governo.

Ainda neste governo, foi nomeado ministro das Relações Exteriores o Barão do Rio Bran-

co21, que iniciou as negociações para a consolidação definitiva das atuais fronteiras do Brasil.

Rodrigues Alves teve como seu sucessor o mineiro Afonso Pena, figura ilustre da vida bra-

sileira que tinha participado do governo nos tempos da Monarquia, mas que pela sua importância

e sua respeitabilidade fora bem aceito pelos republicanos, sendo eleito presidente da República.

21 José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco (1845-1912). Nascido no Rio de Janeiro. Advogado, diplomata, geógrafo, professor,
jornalista e historiador brasileiro.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

Afonso Pena tinha temperamento equilibrado, muito sensato, e tentou, aos poucos, influir

para que seu sucessor fosse o ministro da Fazenda, David Campista, prestigioso financista, o

qual não contava com o apoio das forças políticas do país então organizadas, que preferiram o

ministro da Guerra, general Hermes da Fonseca, sobrinho de Deodoro da Fonseca. Minas Ge-

rais e São Paulo se opuseram ao nome de David Campista, por ser estranho ao meio político.

GOVERNOS DE NILO PEÇANHA E HERMES DA FONSECA

Afonso Pena adoeceu, vindo a falecer, e quem assumiu o governo do país foi Nilo Peça-

nha, que atuou de forma democrática e manteve os planos do governo anterior. O presidente

em exercício fortaleceu o nome de Hermes da Fonseca que, eleito, assumiu o país, tendo como

vice-presidente o mineiro Wenceslau Braz. Hermes da Fonseca venceu Rui Barbosa em uma

campanha de alcance nacional.

O governo Hermes da Fonseca prosseguiu apoiando as lideranças republicanas, mas não

realizou grandes feitos. Enfrentou, porém, movimentos populares e a célebre Revolta da Chiba-

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

ta, quando marinheiros se revoltaram contra as violências e castigos físicos dentro dos navios

brasileiros. Neste período ainda houve a chamada Guerra do Contestado que, na realidade, era

o conflito de vários fazendeiros poderosos do estado de Santa Catarina e do estado do Paraná

que disputavam terras na divisa entre as duas unidades federadas. A disputa provocou uma cri-

se que se transformou numa luta dentro dos dois estados, sendo necessária a intervenção do

governo federal para, aos poucos, pacificar e resolver o conflito.

O governo Hermes da Fonseca interferiu em vários estados e teve sérios problemas no

Ceará contra a liderança do padre Cícero e do deputado Floro Bartolomeu devido a intervenção

contra o presidente do estado, Antônio Pinto Nogueira Accioly, que voltou ao poder com a sus-

pensão da intervenção.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

GOVERNOS WENCESLAU BRAZ E EPITÁCIO PESSOA

Ao término do governo Hermes da Fonseca foi eleito Wenceslau Braz, anteriormente vice-

-presidente, cujo mandato à época da Primeira Guerra Mundial viveu certa crise política porque

predominava no Senado a figura de Pinheiro Machado, gaúcho de prestígio, que, no fundo, não

tinha boa relação com o presidente.

No episódio da eleição do presidente do estado do Rio de Janeiro houve sério conflito políti-

co que resultou na posse de Nilo Peçanha como dirigente do Estado. Nesta fase foi assassinado

o senador Pinheiro Machado, o que abalou o país porque era uma liderança poderosa, chefe do

Partido Republicano Conservador e senador pelo Rio Grande do Sul.

Findo o governo Wenceslau Braz, Rodrigues Alves deveria ser o seu sucessor, porém,

impossibilitado por estar doente, quem lhe sucedeu foi o vice, Delfim Moreira, que ficou pouco

tempo à frente do país, indicando, nas eleições, como seu sucessor Epitácio Pessoa que, embo-

ra fora do país, num Congresso Internacional, pelo seu grande prestígio, mesmo no exterior, foi

escolhido dirigente do governo brasileiro, nomeando um ministério só de civis, como Raul Soares

e Pandiá Calógeras, na Marinha e na Guerra, entre outros titulares.


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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

GOVERNOS ARTHUR BERNARDES E WASHINGTON LUÍS

Houve uma crise na sucessão de Epitácio Pessoa, quando Arthur Bernardes, candidato ofi-

cial indicado pelos mineiros, entrou em conflito com seus adversários de outros estados, e uma

série de intrigas os levou também a antipatia de setores do Exército. Seu adversário, candidato

derrotado, foi Nilo Peçanha, ex-vice-presidente da República do governo Afonso Pena.

Arthur Bernardes, eleito, assumiu a direção do país

dentro de um ambiente de agitação e conflitos promovidos

pela oposição. Incentivou maior aproximação com a Santa

Sé, iniciou as bases do sistema previdenciário e fortaleceu o

ensino criando a Universidade de Viçosa, em Minas Gerais,

além de manter a ordem com certa energia.

Neste período ocorreu em São Paulo, em 1922, a cé-

lebre Semana de Arte Moderna, com efeitos diretos na vida

intelectual e artística brasileira, que buscava identidade na-

cional e repercutiu na cultura de todo o país.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

É de se registrar ainda a insurreição dos 14 tenentes no Forte de Copacabana, que foram

derrotados violentamente estando entre eles o então tenente Eduardo Gomes, que foi ferido.

Também no governo Bernardes houve grave desentendimento político no Rio Grande do

Sul entre os adeptos de Borges de Medeiros e os de Assis Brasil, aquele sustentando sua quarta

reeleição como presidente rio-grandense, o que foi contestado e provocou choques armados.

Convém assinalar ainda a Revolução de 1924, em São Paulo, comandada pelo general

Isidoro Dias Lopes que, derrotada, deixou consequências conhecidas, como a criação da Coluna

Prestes22, chefiada por Luís Carlos Prestes, chefe comunista.

Como seu sucessor, elegeu-se presidente da República o paulista Washington Luís, que

era representativo das poderosas forças econômicas e políticas de São Paulo e trazia consigo

forte apoio do Partido Republicano Paulista que dominava literalmente o Estado bandeirante

com reflexos na política nacional.

Em Minas Gerais, fora eleito presidente do Estado o líder do governo Arthur Bernardes na

Câmara dos Deputados, a figura de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, muito influente em Mi-

nas, e que alcançou expressivo prestígio durante o seu mandato.

É interessante mencionar nesta época a política internacional e seus reflexos no mundo

todo. Após a Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, o Brasil se articulou com as lideranças

inglesas e se ajustou a todos aqueles que foram os vitoriosos na Primeira Guerra, momento fun-

damental para a história mundial, porém é de se registrar a crise na Alemanha e na Itália, quando

surgiram as figuras de Hitler e Mussolini, com repercussão em alguns setores do país.

O governo de Washington Luís enfrentou problemas socioeconômicos, mas defendeu o

princípio de que governar era abrir estradas. No seu governo houve alguns problemas políticos

no Rio Grande do Sul, os quais procurou superar. O ministério de Washington Luís tinha Getúlio

Vargas como ministro da Fazenda, representando o Rio Grande do Sul.

22 A Coluna foi um movimento revoltoso organizado por tenentistas que percorreu 25 mil quilômetros no Brasil, entre 1925 e 1927, combatendo
as tropas dos governos de Arthur Bernardes e Washington Luís. Tinha a inspiração revolucionária marxista de seu líder, Luiz Carlos Prestes
(1898-1990).

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

DESENTENDIMENTOS POLÍTICOS COM MINAS GERAIS

Nesta fase de tendências ditatoriais, Antônio Car-

los Ribeiro de Andrada23, eleito presidente de Minas

Gerais e se revelando um democrata no governo do

Estado e, numa ação governamental que até hoje é

elogiada por todos os historiadores, se voltou para o

progresso educacional, sendo dele a criação da Uni-

versidade de Minas Gerais, indiscutivelmente a pri-

meira do país. Também desenvolveu um programa

de criação de escolas primárias no interior do Estado.

Ainda elevou Minas Gerais a uma posição de muito

prestígio nos meios liberais do Brasil, pelo respeito às

liberdades públicas, pois tais ideias dominavam real-

mente o seu pensamento, de sua equipe e do Partido

Republicano Mineiro.

O nome de Antônio Carlos passou a percorrer todos os estados do país como uma figura

de alta visão para a vida republicana. Contrário à política de Minas, o presidente Washington

Luís tentou algumas medidas que atingiam a autonomia mineira. Nessa fase também, em todo

o país, tiveram início movimentos de reação liberal e democrática, contrários à estrutura republi-

cana representada por Washington Luís, homem de comportamento um tanto violento e avesso

à autonomia dos diversos Estados. Esta é uma fase de crises.

Washington Luís lançou como seu candidato à presidência da República o paulista Júlio

Prestes, fugindo à tradição política existente, pois deveria sucedê-lo um mineiro, quando todo o

país esperava que fosse o nome de Antônio Carlos, dado o prestígio que ele adquiriu e as práti-

cas governamentais de sua administração.

23 Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (1870-1946). Nascido em Barbacena, Minas Gerais, foi um político brasileiro, prefeito de Belo Horizonte,
presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, senador da República, presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1932-1933, ministro
e governador do estado de Minas Gerais. Na época o cargo era de presidente do estado, daí ser conhecido nacionalmente como Presidente
Antônio Carlos.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

Em face desta atitude discriminatória com Minas, pressionado pelas lideranças de seu Es-

tado, Antônio Carlos criou, com os líderes mineiros, gaúchos, paraibanos e de outros Estados,

a Aliança Liberal, que lançou como candidato à presidência da República, Getúlio Vargas24, o

presidente do Rio Grande do Sul, e João Pessoa, presidente da Paraíba, como vice. Antônio

Carlos julgava que o nome do presidente gaúcho vinha constituir um candidato de oposição à

Júlio Prestes, capaz de ter apoio de fortes grupos políticos em toda Nação.

Essas eleições ocorreram num ambiente de muitos desentendimentos e muitas incompreen-

sões, porém a campanha da Aliança Liberal em favor de Getúlio se desenvolveu forte em todo o

Brasil. Grupos políticos se reuniam nas capitais com a presença de líderes de expressão nacional

que se dispuseram a viajar por todo o interior brasileiro apoiando a Aliança Liberal. O país foi sacu-

dido por uma disputa de enorme repercussão. Na Câmara dos Deputados, o deputado José Bonifá-

cio, irmão do Presidente Antônio Carlos, líder da Aliança Liberal, enfrentou agressivos debates com

o líder do governo, o deputado paulista Manuel Villaboim.

Os candidatos da Aliança Liberal, principalmente em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e o estado

da Paraíba, alcançaram elevado prestígio nacional. Washington Luís, com atitudes antidemocráticas,

24 Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954). Nascido no Rio Grande do Sul. Foi advogado, militar e político brasileiro, líder da Revolução de 1930,
que pôs fim à República Velha. Foi presidente do Brasil em dois períodos.

40
História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

interveio, inclusive na Paraíba, dando força a grupos regionais para combater a governança naquele

Estado. Em Minas criou a Concentração Conservadora, um partido de oposição ao presidente Antônio

Carlos e de apoio a Júlio Prestes, candidato presidencial. Esta era a situação nacional quando os re-

sultados das eleições, através de meios fraudulentos, logicamente esperados, deram a vitória a Júlio

Prestes, no início de 1930.

A REVOLUÇÃO DE 1930 E A JUNTA MILITAR

O país entrou inteiramente em um ambiente de confusão política. As lideranças gaúchas e as

lideranças mineiras, como também os paraibanos e líderes de diversas partes do Brasil, começaram

a criticar o governo de Washington Luís e a vitória de Júlio Prestes. Este era o cenário quando em

junho de 1931, João Pessoa foi assassinado em Recife ao visitar o estado de Pernambuco. Tal fato

provocou no Brasil inteiro uma enorme exaltação e revolta.

As forças políticas contrárias a Júlio Prestes e Washington Luís passaram a ter apoio popular

com vocações revolucionárias. A escolha de Júlio Prestes era considerada uma eleição falsa, resul-

tado da imposição do governo de Washington Luís. Dentro desse ambiente, o governo de Minas, do

Rio Grande do Sul e as poucas forças políticas existentes na Paraíba se reuniram e provocaram a

Revolução, o que resultou na queda do governo de Washington Luís que foi afastado por uma Junta

Militar, composta pelos generais Menna Barreto e Tasso Fragoso e pelo almirante Isaías de Noronha,

que assumiu a direção do país, mais tarde transferida a Getúlio Vargas, considerado o candidato

aprovado pelo povo.

A revolução teve repercussões militares, e Minas Gerais foi decisiva para a vitória com sua

Força Pública e grupos atuantes em diversas cidades, como a célebre Cavalaria da Mantiqueira25 de

Barbacena que colaborou para a vitória revolucionária em Juiz de Fora, sede da Região Militar, cujo

comandante, general Azevedo Costa, se deslocou para o Rio de Janeiro. Este fato foi uma das razões

do enfraquecimento de Washington Luís e seu afastamento do governo, com a criação da Junta Mi-

litar, que, após consolidar o triunfo da Revolução, teve de se afastar da direção do país, passando o

poder a Getúlio Vargas.

25 Organizada por José Bonifácio Lafayette de Andrada (1904-1986), conhecido como Zezinho Bonifácio. A Cavalaria da Mantiqueira teve atu-
ação sob o comando do então Tenente Eduardo Gomes e foi base para a formação do Batalhão de Polícia de Barbacena, sendo formada por
voluntários, e os cavalos tomados da tropa do Exército que se rendeu em Carandaí, durante a Revolução de 30.

41
História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

Segunda República
GOVERNO VARGAS E A REVOLUÇÃO DE 1932

O governo de Getúlio Vargas se desdobrou em algu-

mas fases. A primeira foi a provisória, como chefe da Re-

volução, quando baixou decretos e fez nomeações contra

os grupos políticos que não lhe deram apoio. Todavia, teve

que enfrentar a Revolução de 1932 que, organizada por

líderes paulistas, com valorosa estruturação, prestígio e

apoio geral em São Paulo, provocou diversas lutas, mas foi

derrotada. Com Vargas no poder começaram a surgir sé-

rias divergências, a principal delas com Flores da Cunha,

que era presidente do Rio Grande do Sul.

Foi um período de conflitos, inclusive na escolha

de interventores para assumirem o governo dos estados,

porque todos os presidentes de Estado foram afastados.

Também em Minas Gerais ocorreram sérios desentendimentos quando faleceu o presidente do

Estado, Olegário Maciel, figura fundamental para a vitória da Revolução de 30. A sua sucessão

temporária foi, na realidade, disputada por forças políticas de expressão. Para resolver a ques-

tão, Vargas nomeou um contraparente como interventor, o deputado Benedito Valadares, o que

trouxe sérios descontentamentos, mas assumiu o governo e se manteve até o fim do exercício

de Getúlio.

42
História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

CRISE POLÍTICA E O GOLPE DE ESTADO DE 1937

A segunda fase de Getúlio Vargas se vincula à eleição

para a Assembleia Constituinte e votação da Carta Cons-

titucional de 1934, que foi o segundo documento político

da República. Porém, logo depois da Assembleia Nacional

Constituinte o país se preparou para a disputa para a su-

cessão de Vargas, sendo os candidatos, Armando Sales,

experiente governante paulista, pela União Democrática

Brasileira – UDB, e José Américo, ministro de Vargas.

Em 1935, houve a Intentona Comunista, liderada por

Luís Carlos Prestes que, embora repercutindo no país, na

prática, foi um movimento de fragilidade política. Também,

com grande repercussão em todo o país, se desenvolveu o Movimento Integralista, de tendên-

cias fascistas que, liderado por Plínio Salgado, apesar de derrotados pelas forças militares, foi

uma tentativa de afastar Vargas e implantar no país o governo dos adeptos daquela doutrina

política.

Getúlio Vargas, no poder, iniciou seu processo para o Golpe de Estado. Começou a se mo-

vimentar objetivando afastar Antônio Carlos da presidência da Câmara para conseguir, o que não

alcançou sem o seu apoio, a aprovação do “Estado de Guerra” para ascender a ditadura. Com

dificuldade, o jovem deputado Pedro Aleixo venceu Antônio Carlos na disputa pela presidência

da Câmara, por poucos votos, apoiado pelo presidente da República, no início de 1937.

Vargas conseguiu, na Câmara, a aprovação do “Estado de Guerra”, apesar de forte oposi-

ção. Como resultado alcançou o poder necessário para fazer com que o Exército depusesse o

governador do Rio Grande do Sul, Flores da Cunha, aquele que era considerado o seu principal

opositor, seu principal adversário, que poderia impedir o golpe de estado que pretendia.

Com tais atitudes, o ambiente estava preparado para o golpe que implantou no Brasil o

“Estado Novo”, o qual compreendeu o período de 10 de novembro de 1937 a 1945, trazendo um

sistema ditatorial fascista para o país. As eleições presidenciais não ocorreram e a Câmara dos
43
História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

Deputados e o Senado foram fechados, e promulgada a Constituição em 1937, que nunca foi

colocada em execução, pois o país ficou sob a plena ditadura de Vargas.

O Estado Novo, aparentemente, era uma cópia das organizações políticas dominantes dos

países fascistas da Europa. Durante o período de 1937 a 1945, Vargas governou, mas não obede-

cia à Constituição que ele mesmo elaborou, pois agia ditatorialmente, se voltando sobretudo para o

populismo, junto às classes trabalhadoras, inclusive criando o sindicalismo dominado pelo Estado.

A QUEDA DE VARGAS E A
NOVA ASSEMBLEIA NACIONALCONSTITUINTE

Em 1945, os democratas venceram a Segunda

Guerra Mundial na Europa e, assim, os aliados saíram

vitoriosos, derrotando os governos ditatoriais. O mundo

inteiro se entregou ao início de uma fase democrática,

o que repercutiu no Brasil. Aqui, as lideranças militares,

com apoio das agitações populares, afastaram Vargas

do poder, entregando o governo provisoriamente ao mi-

nistro José Linhares, presidente do Supremo Tribunal

Federal, que assumiu a direção do país e convocou elei-

ções presidenciais e uma Assembleia Nacional Consti-

tuinte, visando uma reorganização política para a Nação.

Os deputados da Assembleia Constituinte foram eleitos

pelos partidos PSD – Partido Social Democrático, UDN

– União Democrática Nacional, PTB – Partido Trabalhista Brasileiro, PCB – Partido Comunista

do Brasil – e outros. Disputaram as eleições para a presidência da República, Eduardo Gomes,

brigadeiro da Aeronáutica, apoiado pela UDN e outros grupos liberais, e o general Eurico Dutra,

do Exército, apoiado pelas forças que tinham sido os restos políticos do governo Vargas nas in-

terventorias estaduais. O Partido Comunista lançou Yedo Fiúza, o menos votado.

44
História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

Houve uma disputa acirrada no período eleitoral, porém, na última hora, Vargas decidiu

apoiar Eurico Dutra que, com as forças organizadas do PTB, saiu vitorioso. Desta forma, iniciou-

-se novo período na vida brasileira, com a eleição da Câmara e do Senado e novo presidente da

República.

O GOVERNO DE EURICO DUTRA


E O RETORNO DE VARGAS

Com o governo de Eurico Dutra26, depois do governo

de José Linhares, o país passou a ter um ambiente político

razoavelmente regular. As forças políticas que disputavam

eram principalmente do PSD, UDN e PTB, partidos presen-

tes no governo de Eurico Dutra. Seu ministério se alimentou

do PSD, e foi esse partido que governou o país com a maio-

ria na Câmara dos Deputados e com base em governado-

res que elegeu, mas a figura de Vargas novamente cresceu

dentro do país com adesões generalizadas e das classes

trabalhistas.

26 Eurico Gaspar Dutra (1883-1974). Nascido em Mato Grosso. Militar, 16º Presidente do
Brasil, entre 1946 e 1951.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

Com o fim do mandato de Eurico Dutra, Eduardo Gomes novamente foi candidato, mas

Getúlio Vargas, disputando o pleito, ainda com Cristiano Machado, político mineiro, candidato

do PSD, venceu as eleições, reassumindo a direção do país com participação de um grupo de

tendências esquerdistas e populistas. Todavia, o novo governo de Vargas, voltado para deter-

minadas iniciativas escusas, inclusive de seus familiares, criou um ambiente de muitas críticas,

alargando as oposições contra ele27.

Neste momento surgiu dentro da UDN a figura do jornalista Carlos Lacerda, uma liderança

poderosa, que iniciou campanha muito forte contra Vargas, apoiado por toda a bancada da UDN

na Câmara e no Senado.

CARLOS LACERDA E O SUICÍDIO DE VARGAS

Neste cenário de conflitos, a tentativa de as-

sassinato de Carlos Lacerda28 provocou crise cres-

cente, e os setores militares começaram a ter certa

inquietação, além do episódio ocorrido contra o filho

do presidente, que teria cometido desvios no campo

financeiro.

O Brasil vivia uma situação tal que Vargas não

conseguiu superar. Nessas circunstâncias o país foi

realmente surpreendido com a notícia de seu suicí-

dio29, o que trouxe para a Nação um quadro de sérias

dificuldades. O vice-presidente Café Filho30, assumiu

o governo no lugar de Getúlio e o país sofreu mais

um momento de séria turbulência política.

27 O segundo governo do ex-ditador foi marcado pelo desenvolvimentismo-nacionalista com a criação da Petrobras e BNDES, mas com alta
inflação o que gerou greves e inquietação entre os trabalhadores.
28 Carlos Frederico Werneck de Lacerda (1914-1977). Nascido no estado do Rio de Janeiro. Jornalista e polemista. Fundador do jornal Tribuna
da Imprensa e da editora Nova Fronteira.
29 Suicídio no Palácio do Catete, sede do governo federal, Rio de janeiro em 24 de agosto de 1954.
30 João Fernandes Campos Café Filho (1899-1970). Nascido no Rio Grande do Norte. Advogado, foi presidente por um ano e três meses.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

Novos problemas políticos ocorreram no país com a eleição para a sucessão de Café Filho,

pois boatos circulavam de que haveria intervenção na posse de Juscelino Kubistchek, candidato

do PSD, que disputava com Juarez Távora, pela UDN e fora vitorioso, preparando-se para assu-

mir a Presidência.

CAFÉ FILHO E O GOLPE DO GENERAL LOTT

A crise política aumentou de tal maneira que


cresceu a falsa notícia de que o presidente eleito
não assumiria porque os setores militares e popu-
lares iriam impedir sua posse. O país vivia esse
ambiente e Café Filho foi internado por grave do-
ença. O ministro da Guerra, Henrique Lott, enten-
deu que havia a preparação de um golpe contra
Kubistchek. O substituto de Café Filho, deputado
Carlos Luz, presidente da Câmara, foi afastado
por um golpe militar do general Lott, e a presi-
dência foi entregue a Nereu Ramos, presidente
do Senado. Lott tomou tal atitude golpista porque
Carlos Luz, como substituto de Café Filho, tentou
demiti-lo do governo. Também houve violenta atitude contra o presidente Café Filho
que, impedido de retornar ao governo pelo General Lott, ficou praticamente preso em
sua residência.

47
História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

A ELEIÇÃO DE KUBISTCHEK
E SUA SUCESSÃO POR JÂNIO QUADROS

Terminado o interstício de Nereu Ramos, o presi-

dente eleito, Juscelino Kubistchek31, e seu vice, João

Goulart, assumiram a direção do país em janeiro de

1956.

A administração de Juscelino foi democrática e

coube a ele transferir a capital do país do Rio de Janei-

ro para Brasília. Desenvolveu a malha rodoviária brasi-

leira, mas abandonou as ferrovias. Indicou, espantosa-

mente, o general Henrique Lott como candidato para a

sua sucessão, o qual foi derrotado pela grande maioria

dos votos de Jânio Quadros32.

Vitorioso, Jânio Quadros, figura muito popular

que teve apoio no país inteiro, estranhamente acabou

renunciando ao poder, e quem lhe sucedeu foi João

Goulart, seu vice.

31 Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976). Nascido em Minas Gerais. Médico, foi o 21º presidente do Brasil.
32 Jânio da Silva Quadros (1917-1992). Nascido em Mato Grosso do Sul. Professor e Advogado foi o 22º presidente do Brasil.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

O GOVERNO DE JOÃO GOULART

João Goulart33, de claras tendências esquerdistas,

deveria, de imediato, assumir o governo, mas, estando no

exterior, teve dificuldades de alcançar a presidência em

face da pressão dos militares e da opinião pública. Outro

mal-estar tomou conta do país porque os grupos milita-

res e democráticos se surpreenderam com a renúncia do

presidente eleito e com a posse de João Goulart, apoia-

do pelas esferas esquerdistas e pelo Partido Comunista

com apoios internacionais. Tudo isso levou o país a um

perigoso momento político que resultou numa atitude de

reação popular contra o presidente em exercício. O qua-

dro internacional provocava inquietação, com atuação in-

fluente dos Partidos Comunistas em diversos países da

América Latina.

Depois de várias negociações João Goulart, conhecido como Jango, concordou com a

introdução do regime parlamentarista, do qual seria presidente com funções bem limitadas dife-

rentes do regime presidencialista, obedecendo às técnicas adotadas em vários países europeus.

Entre os primeiros-ministros que nomeou, sobressaiu-se Tancredo Neves que, juntamente

com outros, articulou a volta do presidencialismo, o que aconteceu estranhamente com apoio das

oposições através de um plebiscito em que o sistema de governo parlamentarista foi rejeitado.

Jango, com plenos poderes, iniciou o governo presidencial e reuniu ao seu redor lideranças

esquerdistas e de ideias identificadas com o marxismo pregado pela União Soviética, o que pro-

vocou uma radical oposição por parte dos anticomunistas do país.

Com tendências de fortalecimento no poder, o presidente tentou implantar o “Estado de

Sítio”, consultando as principais lideranças do país que lhe negaram apoio.

33 João Belchior Marques Goulart (1918-1976). Nascido no Rio Grande do Sul. Advogado e polítco brasileiro, foi o 24º presidente do Brasil.
Estava em viagem à República Popular da China quando Jânio renunciou.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

A notícia de que Jango pretendia conseguir do Congresso o “Estado de Sítio”, segundo mui-

tos, para dar um Golpe de Estado e implantar uma ditadura de esquerda ao estilo de Cuba, acar-

retou reações das forças democráticas e das forças militares que julgavam que a sua presidência

seria o caminho para o comunismo. O cenário internacional era inquietador com o alarmante

desentendimento entre os Estados Unidos e a União Soviética, apoiada, em vários países, pela

ação do Partido Comunista e seus aliados.

O BRASIL DURANTE A CRISE INTERNACIONAL

Com o fim da Segunda Guerra Mundial surgiu o conflito político entre os Estados Unidos e

a União Soviética, situação que se agravou quando os americanos lançaram a bomba atômica

no Japão. Os russos também fizeram suas armas atômicas e o mundo ficou sob o risco de peri-

gosos conflitos atômicos.

Com a morte de Stalin34, pouco depois Nikita Khrushchev assumiu o governo da União

Soviética como primeiro-secretário do Comitê Central do Partido Comunista, e ocorreu um fato

que alarmou o mundo. A União Soviética conseguiu, sem conhecimento dos norte-americanos,

implantar perigosos mísseis em Cuba com a intenção de atingir a América do Norte. Os Estados

Unidos eram governados pelo então presidente John Kennedy35, cuja polícia secreta não conse-

guiu descobrir a presença de tais armas atômicas em Cuba. Houve negociações com os russos,

porém com desequilíbrio para os americanos. Tais fatos ocorreram no meio da década de 1960,

o que produziu para os sul-americanos generalizado temor decorrente dos graves conflitos entre

as duas Nações. Assim, países anticomunistas se prepararam para uma guerra global, havendo

ascensão das forças militares que se resguardavam contra o Partido Comunista, atuante em

todos os países. Este contexto ficou conhecido historicamente como “Guerra Fria”.

34 Ioseb Besarionis dze Jughashvili ou Josef Stalin (1878-1953). Nascido na Geórgia. Líder comunista da União Soviética, que governou de
forma ditatorial de 1920 a 1953.
35 John Fitzgerald Kennedy (1917-1963). Nascido no estado Massachusetts. Foi o 35° presidente dos Estados Unidos. Assassinado em Dallas,
no dia 22 de novembro.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

GOVERNOS MILITARES E O ENFRENTAMENTO


AOS GRUPOS ESQUERDISTAS

Devido ao cenário mundial de então, surgiram em di-

versas nações os governos militares que temiam os conflitos

anunciados, como também se desenvolveram ações das for-

ças militares de diversos países, que contaram com o apoio

popular que também reagia contra às ameaças comunistas,

assim como ocorreu no Brasil.

Em decorrência desse ambiente de generalizada cri-

se, as forças militares e civis se articularam politicamente

no país com inúmeros movimentos populares contra Jango,

havendo algumas concentrações favoráveis ao presidente,

o que levava a população ao risco de uma guerra civil.

A REVOLUÇÃO DE 1964 E A JUNTA MILITAR NO GOVERNO

A Revolução de 1964 foi um amplo movimento que envolveu o país inteiro, pois se temia a

tomada do poder por grupos de extrema-esquerda. Teve início em Minas Gerais com o governa-

dor Magalhães Pinto, e apoio das forças do Exército Brasileiro e da Polícia Militar mineira, que

pressionaram Jango a se afastar do governo com decisiva repercussão em Brasília. Jango foi

afastado do poder e substituído por uma Junta Militar composta por líderes das três forças, o

general Costa e Silva, do Exército; o vice-almirante Augusto Rademaker Grünewald, da Marinha;

e o tenente-brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo, da Aeronáutica.

A Junta Militar assinou e publicou o conhecido Ato Institucional nº 1, que regulamentava a

sucessão presidencial no momento, dando ao Congresso Nacional o poder de eleger de imedia-

to o novo presidente da República. Houve certa influência dos militares e apoio político para a

eleição do general Castelo Branco, nome de muito prestígio dentro do Exército, para a direção

do país.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

O GOVERNO DO GENERAL CASTELO BRANCO


E A CONVOCAÇÃO DO CONGRESSO CONSTITUINTE

Castelo Branco36 convocou para membros de seu

ministério figuras de alta expressão, como Milton Cam-

pos37 para a Justiça e, para ministro da Fazenda, o pro-

fessor Otávio Bulhões, dando um novo ritmo à vida eco-

nômica do país e recuperando as dificuldades financeiras

então existentes.

O país começou a viver um clima democrático, mas

sem dar espaço para grupos extremistas. Castelo Branco

criou o partido ARENA38, mas o próprio presidente achou

necessário, para revigorar a democracia, criar também

um partido de oposição e apelou ao general Oscar Pas-

sos para que fosse instituído um agrupamento de oposi-

ção, surgindo aí o MDB39. Castelo Branco iniciou seu governo com base no Ato nº 1, mas baixou

um Ato Complementar nº 4 para permitir a criação dos partidos.

Iniciou-se um período que revelou novas tendências para a vida pública nacional. Como ha-

via um clima de possível reação esquerdista, as pressões dos militares mais autoritários fizeram

recair sobre o presidente da República graves críticas devido a movimentação da esquerda em

todo o país, e Castelo Branco foi obrigado a baixar o Ato nº 2, que inclusive prorrogou seu man-

dato para 1976, trazendo ao país certo pessimismo. Tal fato ocorreu, mas Milton Campos não

aceitou esta decisão institucional e se afastou do governo. O país viveu nesse momento outro

contexto de generalizada inquietação.

36 Humberto de Alencar Castello Branco (1900-1967). Nascido no Ceará. Militar, foi o 26º presidente do Brasil e primeiro do Regime Militar.
37 Milton Soares Campos (1900-1972). Nascido em Minas Gerais. Advogado, jornalista, professor e político brasileiro, foi o 23º governador de
Minas Gerais, deputado federal, senador e ministro da Justiça. Um dos signatários do Manifesto dos Mineiros, documento dos setores liberais
contra o Estado Novo de Vargas. Foi um dos articuladores civis do Movimento Revolucionário de 1964.
38 Aliança Renovadora Nacional, depois tornou-se o Partido Democrático Social (PDS) e um grupo dissidente formou o Partido da Frente Liberal
(PFL), atual DEM. O PDS hoje é o Partido Progressista (PP).
39 Movimento Democrático Brasileiro, depois do chamando bipartidarismo em 1980 tornou-se o PMDB. De seus quadros iniciais depois saíram
membros de novos partidos como PT, PDT e PSDB.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

Antes do término do mandato, Castelo Branco convocou um Congresso Constituinte para

votar a nova Constituição de 1967, revogando a anterior, de 1946. Logo depois, de acordo com

a nova Constituição, elegeu pelo processo indireto seu sucessor, o general Arthur da Costa e Sil-

va40, ministro da Guerra do governo, o qual assumiu a direção do país e teve como seu principal

auxiliar o general Jaime Portela, de formação autocrática militarista, e como seu vice o deputado

Pedro Aleixo, conhecido líder democrata.

GOVERNO DO GENERAL ARTUR DA COSTA E SILVA

Após a eleição do novo presidente, o país voltou

a viver um ambiente de crise, com pressão internacio-

nal, porque o Partido Comunista se fortalecia no mundo

inteiro, tendo em vista que Khrushchev41 assumira a di-

reção da União Soviética com ação política atuante em

todos os países.

Nesta situação internacional, o Brasil assistiu a

uma crise política ocorrida quando o deputado oposi-

cionista Márcio Moreira Alves, na Câmara dos Deputa-

dos, discursou com muitos insultos aos setores milita-

res. A repercussão foi grande e imediata, e com isso,

Costa e Silva se viu obrigado a submeter-se a pressão

dos grupos militantes mais radicais e baixou o Ato Insti-

tucional nº 542, que foi praticamente a implantação do regime ditatorial em todo o país.

40 Artur da Costa e Silva (1899-1969). Nascido no Rio Grande do Sul. Militar, foi o 27º presidente do Brasil e segundo do Regime Militar.
41 Nikita Serguêievitch Khrushchev (1894-1971). Nascido na Rússia. Foi secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética entre 1953
e 1964.
42 Decretado em 13 de dezembro de 1968. Estabelecia o recesso do Congresso Nacional, intervenções em órgãos públicos, a censura prévia
aos meios de comunicação e repressão direta aos movimentos armados da esquerda revolucionária.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

A MORTE DE COSTA E SILVA E A NOVA JUNTA MILITAR

Um outro período se inicia na vida brasileira. Costa e Silva, posteriormente, começou a tra-

balhar em favor de uma modificação democrática através da Constituição de 1967, para alterar o

AI-5, porém veio a falecer em 1969. Ao contrário de seu vice, Pedro Aleixo, assumir o governo, as

forças militares criaram nova Junta Militar, composta do general Aurélio de Lira Tavares, brigadei-

ro Márcio de Sousa e Melo e almirante Augusto Rademaker, que se apossou do poder para pre-

parar a eleição de um novo presidente, de acordo com a Constituição de 1969, elaborada pela

própria Junta, que revogou a Constituição de 1967 com uma série de alterações autocráticas. O

novo presidente eleito foi o general Emílio Garrastazu Médici43 escolhido após uma crise interna

dentro das Forças Armadas, que se dividiram para a escolha do novo presidente.

GENERAL MÉDICI ASSUME A PRESIDÊNCIA

Com o governo de Médici o país ficou sob a

influência das forças militares autocráticas e de ten-

dências ditatoriais, entrando num período difícil e com

graves ocorrências, como o assassinato do líder co-

munista, Marighella, na Bahia; o agressivo movimen-

to de ação contra o governo, na região do Araguaia,

além do sequestro dos embaixadores da Alemanha,

da Suíça e do Japão e longos conflitos armados entre

subversivos e forças legais em vários lugares.

Findo o mandato do general Médici, o Congres-

so elegeu para presidente da República o general

Ernesto Geisel44, personalidade de tendências demo-

cráticas e favorável a soluções pacíficas para os con-

flitos que ainda ocorriam em todo o país.

43 Emílio Garrastazu Médici (1905-1985). Nascido no Rio Grande do Sul. Militar, foi o 28º presidente do Brasil e terceiro do Regime Militar.
44 Ernesto Beckmann Geisel (1907-1996). Nascido no Rio Grande do Sul. Militar, foi o 29º presidente do Brasil e quarto do Regime Militar. Era
irmão do general Orlando Geisel, ministro do Exército do governo Médici.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

O GOVERNO DE GEISEL E A DEMOCRATIZAÇÃO

Geisel deu início a um importante período da

vida brasileira, governando o país em um ambien-

te, conforme se comprometera, de abertura política

para a redemocratização do Brasil dentro de determi-

nado período, o que na realidade ocorreu, em 1978,

quando encaminhou para a Câmara dos Deputados

a Proposta de Emenda Constitucional nº 11, de 14

de outubro, na qual restabelecia as normas demo-

cráticas, dando ao Congresso brasileiro o poder de

reorganizar a vida do país.

A Nação entrou em outra fase, pois o artigo 3º

dessa PEC revogou todos os ditatoriais Atos Institu-

cionais e Complementares anteriores, respeitados

seus efeitos já ocorridos. O documento previa a restauração do habeas corpus, além de es-

tabelecer que o presidente da República não poderia mais colocar o Congresso em recesso

nem cassar deputados, nem privar cidadãos de seus direitos políticos e, ainda, acabava com a

censura prévia da imprensa. Tal atitude fez com que o país iniciasse a democratização política

e o seu equilíbrio social.

Geisel, todavia, enfrentou problemas no seu mandato, sendo o mais grave o conflito com

o general Sílvio Frota, ministro do Exército de seu governo que promovia dura oposição às li-

deranças militares de tendências democráticas, e tentou um golpe militar para assumir o poder

ditatorialmente, o que foi repelido pelo presidente e pelas forças que o apoiavam.

Durante o governo Geisel a Constituição vigente era aquela produzida pela Junta Militar

que sucedera a Costa e Silva, mas que foi plenamente substituída pela Emenda Constitucional

nº 11, que promoveu a abertura política para a eleição de seu sucessor.

É importante relembrar dois episódios de alta significação vividos pelo presidente Geisel

em seu período governamental. O primeiro, ocorrido em 1978, quando os grupos sindicais do


55
História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

país se organizaram em torno da figura do líder Luiz Inácio da Silva, o Lula, presidente do Sin-

dicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, que começou a se destacar e alcançou

apoio de grande parcela dos sindicalistas brasileiros. E o segundo, quando seu governo superou

as agitações dos grupos de esquerda com repercussão sistemática da imprensa, tendo como

seu líder parlamentar o deputado José Bonifácio45, que enfrentou duros debates com o PT na

Câmara dos Deputados.

Fortalecida sua posição, Geisel encaminhou o país para sua sucessão, articulando o nome

do general João Batista Figueiredo, personalidade influente entre os militares e que já havia

prestado serviços ao Movimento Revolucionário de 1964, além de ter ocupado diversos postos

significativos nas Forças Armadas. O nome de Aureliano Chaves, ex-governador de Minas Ge-

rais, foi apontado como vice-presidente civil.

O GOVERNO DE JOÃO BATISTA FIGUEIREDO

O general João Figueiredo assumiu a presidência em

1979 e, em agosto do mesmo ano, sancionou a Lei da Anis-

tia em favor dos acusados ou condenados políticos, o que

permitiu a líderes como Leonel Brizola e outros retornarem

ao país.

Com o mandato de 6 anos, o presidente Figueiredo con-

seguiu manter plena disciplina na área militar, e foi o único

dirigente militar que não sofreu crises nos quartéis. Ao final de

seu mandato, João Figueiredo enfrentou ainda problemas no

país, como o episódio do Riocentro46, para os quais tomou as

devidas providências com pleno êxito.

45 José Bonifácio Lafayette de Andrada (1904-1986). Nascido em Barbacena, Minas Gerais. Advogado e político, foi prefeito de Barbacena,
deputado estadual e federal, presidente da Câmara dos Deputados (1968-1970).
46 No Centro de Convenções do Riocentro, no Rio de Janeiro, na noite de 30 de abril de 1981, ocorria um evento alusivo ao Dia do Trabalhador,
quando duas bombas explodiram no que seria um atentado frustrado.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

A partir de 1983, tiveram início as disputas e discussões para a sucessão de Figueiredo e sur-

giram outras situações como a ARENA que se transformou em PDS, o MDB que se transformou em

PMDB, e outros partidos que surgiram, como o PDC, PTB, além de outras agremiações com plena

liberdade de atuação política.

Nessa fase, André Franco Montoro, governador de São Paulo, com apoio de lideranças po-
líticas do antigo MDB em seu Estado, lançou a tese das eleições diretas para a escolha do futuro

presidente da República. Até mesmo alguns elementos vinculados ao governo apoiaram a tese de

Montoro, o que não se concretizou naquele ano, porém esta ideia política ficou bem marcada.

ELEIÇÃO DE TANCREDO NO COLÉGIO


ELEITORAL E SEU FALECIMENTO

Em 1984, o país assistiu a disputa de dois no-

mes como candidatos à presidência registrados no

Colégio Eleitoral, órgão constitucional de escolha

do presidente de forma indireta, e disputaram Pau-

lo Maluf e Tancredo Neves. O presidente eleito foi

Tancredo Neves, pois conseguira o apoio de forças

que se afastaram da antiga ARENA, o PDS de então,

para apoiá-lo.

À véspera de sua posse, Tancredo Neves47 fi-

cou doente e veio a falecer, e o seu vice, José Sar-

ney, assumiu a presidência, embora muitos consi-

derassem que o presidente da Câmara era quem

deveria tomar posse como presidente, segundo a

Constituição.

47 Tancredo foi internado em 14 de março de 1985, véspera da posse. Em 21 de abril, morreu de infecção generalizada, em São Paulo.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

O GOVERNO DE JOSÉ SARNEY

O presidente, José Sarney48, organizou seu ministério

com base nos partidos que lhe apoiavam. Pressionado pela

opinião pública, convocou um Congresso Constituinte para

uma reforma da Constituição vigente com o estabelecimento

de normas constitucionais que alterariam, em parte, a Carta

Magna. Encaminhada ao Congresso, a proposta do presidente

sofreu alterações pelas forças do Partido Democrático Social

– PDS, que se juntou a outras agremiações que desejavam

mudanças e transformaram a convocação em favor de uma

Assembleia Constituinte soberana.

A ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE


E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

Instalada no país, a Assembleia Nacional Constituinte passou a debater as questões na-

cionais e decidir sobre o futuro da Nação através de um projeto para uma nova Constituição,

cuja discussão se desenvolveu em 1987 e a votação em 1988. No plenário da Assembleia três

grupos de parlamentares promoveram a Constituição, sendo de tendências de esquerda, outros

de centro, e alguns de direita.

A Carta Magna de 198849 assegurou a todos os cidadãos os direitos individuais, mas ainda

permaneceram algumas deficiências sérias, sobretudo a instituição da Medida Provisória que,

inspirada no Decreto Lei dos governos militares, dá ao presidente da República amplos poderes

sobre qualquer matéria. A Medida Provisória é bem mais ampla que o Decreto Lei, pois este só

alcançava três áreas legais. Sua amplitude a transforma em um instrumento autocrático da pre-

sidência da República, que influi na legislação do país de forma predominante, com um proces-

48 José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, José Sarney (1930). Advogado e escritor. Nascido no Maranhão, foi o 31º presidente do Brasil.
49 Promulgada em 5 de outubro de 1988.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

so rápido de aprovação dentro do Legislativo, visto como proposição com prazo certo para ser

aprovada.

FERNANDO COLLOR É AFASTADO


E ASSUME ITAMAR FRANCO

Ao fim do governo Sarney foi eleito seu sucessor Fernando Collor de Mello50, nome
desconhecido, mas que alcançou prestígio nacional em eficiente campanha eleitoral,
conseguindo ser um candidato vitorioso numa eleição disputada por Ulisses Guimarães
(PMDB), Aureliano Chaves (PFL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dentre outros. Lula
foi derrotado no segundo turno das eleições. Teve início então o governo de Fernando
Collor com ministério muito específico, pois contava com destacadas figuras do cenário
político da época, mas deu demonstrações de conduzir um governo com vocação auto-
crática e personalista, embora dentro dos textos constitucionais. Ao mesmo tempo, po-
rém, dentro de seu governo houve sérios conflitos com elementos de sua própria família
e com referência a desvios de dinheiro público, o que provocou indignação em todo o
país, pois sua imagem pública foi construída no combate a corrupção e aos privilégios
públicos.

50 Fernando Affonso Collor de Mello (1949). Nascido no Rio de Janeiro. Economista. Foi o 32º presidente do Brasil, cargo ao qual renunciou em
29 de dezembro de 1992.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

O conflito pessoal de Collor de Mello com seu irmão51, e mesmo com fortes lideran-
ças, como também com a oposição muito ativa, causou profunda revolta na Câmara dos
Deputados, o que resultou no seu impeachment, que o afastou do poder.

Com tais ocorrências, assumiu o governo o seu vice-presidente, Itamar Franco52, ex-go-
vernador de Minas Gerais, que manteve o país com as diretrizes governamentais conheci-
das, se esforçando para manter o ambiente democrático.

OS MANDATOS DE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Em 1994, ocorreram novas eleições para a sucessão do

quatriênio de Fernando Collor e Itamar, sendo eleito Fernan-

do Henrique Cardoso53, do PSDB, com maioria expressiva e

muito fortalecido para assumir a direção do país.

O governo de Fernando Henrique foi todo voltado para

a consolidação dos textos constitucionais e algumas refor-

mas de significação na área econômica, na área financeira

e na área administrativa. Antes do término de seu mandato

foi votada no Congresso Nacional a emenda à Constituição

que permite ao presidente da República candidatar-se à re-

eleição. Fernando Henrique Cardoso foi reeleito para novo

mandato e assumiu o comando do país por mais quatro anos.

O mesmo ambiente político se manteve, porém, havendo algumas tendências e influência

do Partido dos Trabalhadores – PT no próprio governo, ao mesmo tempo em que o presidente

da República atuava com isenção, respeitando a esquerda, o que ficou claro no final de seu

mandato.

51 Pedro Collor de Mello (1952-1994). Denunciou um esquema de corrupção política envolvendo Paulo César Farias, tesoureiro de Fernando
Collor.
52 Itamar Augusto Cautiero Franco (1930-2011). Engenheiro. Nascido na Bahia. Foi 33º presidente do Brasil e governador de Minas Gerais
(1999-2003).
53 Fernando Henrique Cardoso (1931). Sociólogo. Nascido no Rio de Janeiro. Foi 34º presidente do Brasil em dois mandatos sucessivos.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2002 E 2006


LULA E AS CAMPANHAS DO PT

No final do governo de Fernando Henrique Cardoso

foi lançada a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva54

pelo PT, contra José Serra pelo PSDB. Depois de uma

intensa disputa entre os respectivos nomes, Lula foi elei-

to presidente da República com expressiva votação. Teve

como seu vice, José Alencar, dissidente das antigas bases

do MDB. O país inicia uma outra caminhada política, em

que os elementos esquerdistas e adeptos marxistas, vin-

culados ao espectro ideológico do PT, começaram a influir

na vida nacional.

O PT, um partido bem organizado, inspirado nas téc-

nicas do Partido Comunista, embora com algumas áreas

que se opuseram a este posicionamento, se infiltrou em todos os setores da vida brasileira e,

sobretudo, dominou a área educacional, centralizando as decisões do funcionamento universi-

tário e introduzindo as ideias marxistas pouco a pouco. Na área econômico-financeira, em arti-

culações com os meios internacionais, fez com que o país conseguisse equilíbrio durante certo

período, apesar das relações afetivas e apoio dado a Cuba.

Lula dirigiu o país com domínio dos setores sindicais, forte oposição do PSDB e de outros

partidos mais conservadores, inclusive o próprio MDB. Desta maneira comandou a vida nacional

até o fim de seu primeiro quatriênio, quando novamente se lançou à reeleição.

Com seu governo populista e atuação do PT, Lula conseguiu se reeleger presidente, ven-

cendo seu opositor Geraldo Alckmin, do PSDB. Manteve-se na direção do país, preservando seu

estilo de governo voltado para as camadas populares, habilmente tomou várias atitudes autori-

tárias, porém foi acusado de desvios do dinheiro público, prestigiando o chefe da sua Casa Civil,

o ministro José Dirceu, posteriormente condenado e preso por uso indevido do dinheiro público.

54 Luiz Inácio da Silva. Depois, Luiz Inácio Lula da Silva (1945). Metalúrgico e sindicalista. Nascido em Pernambuco. Foi 35º presidente do Brasil
em dois mandatos sucessivos.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

A ELEIÇÃO DE DILMA ROUSSEFF


E O PROCESSO DE IMPEACHMENT

Ao final de seu segundo mandato, Lula indicou

como sua sucessora o nome de Dilma Rousseff55, sua

antiga auxiliar em quem muito confiava.

Dilma foi eleita e assumiu a presidência da Repú-

blica, após a derrota de José Serra, candidato do PSDB.

O pai de Dilma veio para o Brasil fugindo de seu

país por razões políticas, pois era do Partido Comunis-

ta Búlgaro. Fixou residência em Belo Horizonte, onde

se casou com uma professora de família mineira, mãe

de Dilma Rousseff. Desde jovem, Dilma fora muito

influenciada pelo pensamento marxista do pai e, na sua

juventude, foi uma ativa líder de esquerda com várias

ações e forte militância contra os governos militares.

Ao assumir a presidência da República implantou um governo ao estilo de Lula, porém com

aspectos próprios porque seu temperamento radical e enérgico, com clara vocação autocrática,

não admitia dúvidas a respeito de suas decisões.

Ao final de seu mandato, Dilma Rousseff, em 2014, novamente concorreu à presidência e

foi reeleita, sendo seu principal opositor Aécio Neves, candidato do PSDB. Esta eleição repre-

sentou uma vitória dos grupos esquerdistas radicais, sob ambiente de intensa disputa ideológica

e com a economia nacional em crise crescente.

As denúncias dos desvios de dinheiro público durante o governo anterior, de Lula, foram se

multiplicando, o que enfraqueceu a imagem da “presidenta austera” diante da opinião pública,

em vista de suas atitudes favoráveis aos radicais do PT.

55 Dilma Vana Rousseff (1947). Economista. Nascida em Minas Gerais. Foi a 36ª presidente do Brasil em dois mandatos sucessivos e primeira
mulher a ocupar o cargo máximo da República. O segundo mandato foi interrompido quando, em 31 de agosto de 2016, o Senado Federal apro-
vou o pedido de impeachment e a afastou do cargo.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

Dilma Rousseff governou o país sob fortes críticas, o que provocou contra ela oposição po-

lítica muito efetiva de vários partidos e das forças democráticas do país, além das pressões dos

setores produtivos. Com isto, em seu segundo mandato, sofreu o impeachment, o que a afastou

da presidência da República. Seu impedimento ocorreu dentro de um ambiente de pressão po-

pular e do mercado, porém realmente alcançado através da operação de homens públicos que

lideravam os principais grupos partidários do país.

O GOVERNO DE MICHEL TEMER

Com o afastamento de Dilma, assumiu a presidência

da República o seu vice, Michel Temer, que trouxe novo

clima para o país, pois com uma administração equilibra-

da conseguiu algumas reformas significativas, como na

área trabalhista e em outros setores. Ainda tentou a Re-

forma Previdenciária, mas não houve ambiente propício

para efetivá-la.

O governo de Temer sofreu acusações e duas tenta-

tivas de impeachment, que não obtiveram êxito porque a

maioria da Câmara se negou a apoiar tais pedidos, o que

o permitiu ir até o fim de seu governo, sob dura oposição

dos petistas, seus partidos satélites e oposicionistas no

Congresso. Bastante afetado por crise política e econômica simultâneas, o mercado também

apoiou, ainda que com reservas, a permanência de Temer até a chegada das eleições presiden-

ciais, em nome da estabilidade política ameaçada no país.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

JAIR BOLSONARO VENCE AS ELEIÇÕES DE 2018


E ASSUME O GOVERNO

Com o fim do mandato de Temer houve nova elei-

ção no país e foi eleito um candidato inteiramente fora

dos grupos partidários e políticos, o deputado Jair Bol-

sonaro, de formação militar, mas que adquiriu grande

prestígio no país inteiro, graças, sobretudo, às novas

metodologias das redes sociais, utilizando celulares e a

técnica de informação direta aos eleitores, o que trouxe

para o povo uma visão diferente dos outros candidatos

que tinham tendências conservadoras ou esquerdistas.

Bolsonaro defendeu uma mensagem de desenvol-

vimento e independência política. O novo presidente é

uma personalidade que traz consigo certo veio de mo-

dernidade e, ao mesmo tempo, de esperança para mui-

tos brasileiros, dando início a outra época política, embora enfrentando dura oposição do PT e

outros grupos políticos, inclusive de setores de telecomunicação social.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

REFERÊNCIAS
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MOOG, Vianna. Bandeirantes e Pioneiros: Paralelo Entre Duas Culturas. Porto Alegre:
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MORAES, Aurino. Minas na Aliança Liberal e na Revolução. Belo Horizonte: Edições


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Belo Horizonte, Fundação Ulysses Guimarães - Editora Libertas - Del Rey Livraria,
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

SOBRE O AUTOR

Bonifácio José Tamm de Andrada

Bonifácio José Tamm de Andrada, professor e advogado, nascido em Barbacena/MG, onde

foi vereador, por um mandato. Eleito deputado estadual em Minas Gerais por 4 legislaturas, onde

foi também Presidente da Assembleia Legislativa; secretário do Estado e deputado federal por 10

mandatos consecutivos até 2019. É professor de Direito Constitucional, tendo lecionado na PUC

Minas e na UNB em Brasília, de onde é professor aposentado. Também é Reitor da UNIPAC e

presidente da FUPAC, fundação de Ensino Superior criada por ele em Barbacena, em 1963, que

chegou a ter mais de 200 escolas de Ensino Superior em cidades mineiras.

Ao longo de sua carreira, seja pública ou acadêmica, foi homenageado por diversas institui-

ções. É membro da Academia Mineira de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico Mineiro e da

Academia Brasileira de Ciências Morais e Políticas, dentre outras entidades das quais faz parte.

Participou ativamente da Assembleia Nacional Constituinte de 1987/1988, onde foi um dos líderes

no Centrão Democrático, tendo papel decisivo em vários temas constitucionais. Ainda, na Câmara

dos Deputados, exerceu as funções de relator da concordata Brasil-Santa Sé e relator da segunda

denúncia contra o presidente Michel Temer, que poderia resultar em um processo de impeach-

ment, também exerceu o cargo de Procurador da Câmara dos Deputados.

Como escritor é autor de vários livros sobre temas jurídicos, políticos, sociais e literários.

Bonifácio Andrada é filho do antigo deputado federal José Bonifácio Lafayette de Andrada

e de D. Vera Tamm de Andrada; casado com Amália Borges Andrada, de cujo consórcio tem oito

filhos. É pai do atual deputado federal Lafayette Andrada, eleito em 2018 para a 56ª legislatura da

Câmara dos Deputados.


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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

OBRAS DO AUTOR
Parlamentarismo e a Evolução Brasileira. Belo Horizonte: Ed. Bernardo Álvares,1962.

Jornada Parlamentar. Brasília: Ed. Centro de Documentação e Informação e Coordena-


ção da Câmara dos Deputados, 1983.

Direito Constitucional - Estudos e Pronunciamentos. Brasília: Ed. Centro de Documenta-


ção e Informação e Coordenação da Câmara dos Deputados, 1984.

O que é Assembleia Nacional Constituinte? Juiz de fora: Ed. Saman, 1986.

Atuação parlamentar: pronunciamento na Constituinte. Brasília: Câmara dos Deputados,


1988.

Constituição, Regime Democrático e Revisão Constitucional. Belo Horizonte: Ed. Edu-


car Editora Gráfica,1993.

A Revolução de 1930, marco histórico. Belo Horizonte: Ed. Rona, 1995.

Parlamento Brasileiro e a sua Crise no Fim do Século. Brasília: Ed. Centro de Docu-
mentação e Informação e Coordenação da Câmara dos Deputados, 1995.

Estudos de Direito Constitucional e Ciência Política. Brasília: Ed. Centro de Documenta-


ção e Informação e Coordenação da Câmara dos Deputados,1996.
Direito Partidário - Comentários à Legislação em Vigor. Brasília: Ed. Centro de Documenta-
ção e Informação e Coordenação da Câmara dos Deputados, 1997.

Ciência Política e Ciência do Poder. São Paulo: Ed. LTR, 1998.

Da necessidade dos Políticos reagirem contra os tecnocratas que infelicitam o povo. Brasí-
lia: Ed. Centro de Documentação e Informação e Coordenação da Câmara dos Deputados,
1998.

Ciência Política e seus Aspectos Atuais (Engenharia Política e Policometria). Brasília: Ed.
Centro de Documentação e Informação e Coordenação da Câmara dos Deputados, 2000.

Parlamentarismo e Realidade Nacional. Brasília: Ed. Centro de Documentação e Informação


e Coordenação da Câmara dos Deputados, 2000.

Análise da Realidade Brasileira (necessidade de reformas e retificações). Brasília: Ed. Cen-


tro de Documentação e Informação e Coordenação da Câmara dos Deputados, 2003.

Elementos de Ciência Política. Brasília: Ed. Centro de Documentação e Informação e Coor-


denação da Câmara dos Deputados, 2003.

68
História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

A Educação e as Constituições Latino-Americanas. Brasília: Ed. Centro de Documentação e


Informação e Coordenação da Câmara dos Deputados, 2005.

A Universidade e o Ensino Superior (Observações sobre o ensino universitário). Barba-


cena: Ed. FUPAC - Centro de Publicação Científica e Tecnológica da UNIPAC, 2005.

A Crise dos Partidos Políticos, do Sistema Eleitoral e a Militância Política. Ed. FUPAC -
Centro de Publicação Científica e Tecnológica da UNIPAC, 2007.

Fundamentos gnosiológicos do método descritivo-referencial. Juiz de Fora: Alexandria,


2007.

Acordo do Brasil com a Santa Sé sobre a Igreja Católica. Texto do Parecer do Deputado
Bonifácio de Andrada na Câmara dos Deputados e documentos oficiais. Belo Horizonte:
Editora Del Rey, 2009.

A Perda do Mandato. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2013.

Vultos e fatos históricos. Brasília: Câmara dos Deputados. Centro de Documentação e


Informação, 2013.

Direito Constitucional Moderno e a Nova Revisão da Constituição. Brasília: Ed. Centro


de Documentação e Informação e Coordenação da Câmara dos Deputados, 2014.

Observações sobre a Realidade Brasileira. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2014.

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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada

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