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Bonifácio Andrada
Barbacena
Bonifácio José Tamm de Andrada
2019
Ficha Técnica
Autor da Obra
Bonifácio Andrada
Transcrição e Revisão
Maria do Carmo Pedro e Edson Brandão
Projeto Gráfico
Wuallen Leandro José Dornelles Ribeiro
Capa
Caravana Grupo Editorial
Ano de Publicação
Set./2019
ISBN: 978-65-901254-0-8
CDD – 981
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo focalizar os principais fatos históricos da evolução po-
lítica do nosso país, inclusive os últimos anos que foram influenciados por poderosas tendências
Os capítulos deste livro buscam descrever momentos históricos de forma sintética sem ig-
norar os principais fatos que revelam os respectivos cenários de nosso desenvolvimento político.
Na verdade, a Ciência da História indica, através das análises dos séculos, que os melhores
historiadores se esforçam por mostrar isenção, mas se esquecem muitas vezes das ocorrências
Por outro lado, o leitor ou estudioso fica impedido, em alguns casos, de analisar com cla-
que predomina em suas conceituações, como também pela compreensão weberiana que se faz
sentir em muitos instantes. Exemplo curioso entre nós é a simbolização da palavra “coronelismo”
geralmente mal analisada, mas útil ao palavreado dos historiadores esquerdistas, ou por eles
influenciados.
Por isto, entre nós há que se identificar determinados conceitos com os quais a técnica
marxista, em vários momentos, procura fixar ocorrências de acordo com as suas premissas dou-
trinárias.
Este trabalho, quer na visão que se tem dos primeiros dias do aparecimento da Nação ou
no Brasil Colonial, ou na fase do Império, ou no período republicano, tem em vista os fatos histó-
ricos significativos, fugindo das afirmações panfletárias que visam doutrinar o leitor ao invés de
informá-lo.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
Sendo assim, o posicionamento do historiador, que tem por objetivo descrever, mostrar e
analisar da melhor forma os fatos da realidade, deve ser o de promover um esforço que seja
nesta última conceituação visando informar e esclarecer o que verdadeiramente vem ocorrendo
ao longo dos acontecimentos que começaram com Pedro Álvares Cabral e seguem até os dias
O Autor
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
Capítulo I – O Descobrimento
ORIGEM PORTUGUESA
de terras no Atlântico.
panhol. Nestas terras, Cabral encontrou o território que mais tarde seria o Brasil. Pedro Álvares
Cabral entrou em contato com os índios, habitantes do lugar, e deixou os primeiros laços para a
Possuindo terras nessa região, chamada pelos espanhóis de América1, que era o nome
Terra. Depois de certo tempo foi montado o primeiro sistema colonial, quando os portugueses
1 Américo Vespúcio (1454-1512). Nascido na Itália. Navegador e mercador, foi o primeiro a afirmar que ao contrário do que acreditava Colombo,
as Américas não eram parte da Ásia, mas sim uma nova massa continental desconhecida.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
conflitos entre os dois países. Desse fato decorreu, após entendimentos, a assinatura entre os
dois países do Tratado de Tordesilhas que dividia o mundo em duas partes, entre portugueses
e espanhóis. Ao que o rei da França se pronunciou criticando: “que Deus não dividiu o mundo
É de 1530 a importante expedição de Martim Afonso de Sousa2 que praticamente deu início
ao domínio português sobre as terras brasileiras. Martim Afonso partiu de Lisboa para criar a
isto é, a divisão das terras brasileiras em quatorze faixas, que foram doadas a membros da elite
portuguesa para desenvolver o território. Porém, as Capitanias não deram o resultado esperado,
apesar da presença de alguns de seus donatários, o que fez com que a Coroa portuguesa con-
siderasse que a solução seria a criação da administração central, de modo a coordenar todo o
território brasileiro.
2 Martim Afonso de Sousa (c.1490-1564). Nascido em Portugal. A partir de 1531 navegou do atual litoral de Pernambuco até o Rio da Prata, no
Sul do continente.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
res fundamentais do Brasil, parte em Pernambuco outra parte na Bahia e outra parte no Rio de
Janeiro. A parte da Bahia ficou sendo realmente o governo central dos portugueses no Brasil,
nomeando assim os primeiros governadores do país que foram Tomé de Sousa – 1549, Duarte
da Costa – 1553, e Mem de Sá – 1558, acompanhados dos Jesuítas, entre os quais José de An-
chieta e o Padre Manuel da Nóbrega, que criaram o Colégio São Paulo que deu origem à cidade
de São Paulo.
Com a implantação dos governos teve início no Brasil uma administração colonial que se
organizou, procurando, aos poucos, dominar todo o território brasileiro. Assim, Portugal iniciou
suas atividades administrativas no Brasil criando a Administração Colonial que sucedeu as Capi-
Tempos depois foram instaladas as primeiras Câmaras Municipais nas vilas que iam sur-
gindo, sendo estas o órgão representativo da população dos respectivos povoados que foram
O TRATADO DE TORDESILHAS E
OS CONFLITOS COM A ESPANHA
busca de riquezas. Esta fase é marcada pela chamada economia açucareira com plantações
dividida ao meio pelo Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, cuja linha passava em cima do
território brasileiro, fronteiriço com o território que pertencia à Espanha. Nesse momento, em que
início as chamadas Bandeiras, que atuaram por toda a região das Américas. As Bandeiras, or-
ganizadas por grupos de indivíduos em São Paulo, não davam importância às linhas do Tratado
portugueses, durante muito tempo, tivessem tomado conta da maior parte desta área do Oeste
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
sua consolidação com o trabalho do Barão do Rio Branco, ministro das Relações Exteriores dos
A EXPANSÃO DA RIQUEZA
E A ESCRAVIDÃO
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
A base da produção do ouro no Brasil teve como sede a cidade de Ouro Preto3 e seus
arredores, expandindo-se também para outras cidades como São João Del-Rei e, sobretudo
Diamantina, onde foram encontradas preciosas pedras que se tornaram de muito interesse para
Portugal. Podemos dizer que essa fase é o Ciclo do Ouro e Diamantes no país, e que provocou uma
situação com dois ângulos: primeiro, a criação do governo de Ouro Preto para defender a produção au-
rífera de Portugal, porque todos aqueles que exploravam o ouro eram obrigados a pagar um imposto;
e segundo, o surgimento de uma elite de homens mais cultos que se valeram de viagens a Portugal e
Outro dado importante é que o Ciclo do Ouro fez com que a Administração Colonial saísse do
Ao lado da expansão das riquezas foi estabelecida a escravidão de índios, nativos do próprio
país, e negros, vindos da África. Os índios conseguiram superar a escravidão devido a sua cultura e
seu temperamento, não se integrando de forma sistemática como os negros, pois estes, acostumados
às práticas de escravidão na própria África, se submeteram ao sistema que perdurou por muitos anos
no nosso país.
A presença de escravos é uma página triste de nossa história, porém foi fundamental à
faziam através de organizações pelo interior do país nos quilombos, onde se reuniam e se de-
fendiam contra a perseguição que ocorria por parte dos governantes, sendo célebres o Quilom-
bo dos Palmares e do Campo Grande, sobretudo aquele que deixou a lembrança de seu líder,
Zumbi.
3 Em 1720, tornou-se a capital da Capitania de Minas Gerais desmembrada de São Paulo. Era chamada Vila Rica. O arraial de Nossa Senhora
do Ribeirão do Carmo (hoje Mariana) foi fundado em 1696, sendo posteriormente a primeira vila da Capitania de Minas Gerais. Depois surgiram
Sabará e Vila Rica, depois Ouro Preto. O nome atual é devido à presença do óxido de ferro no ouro.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
de formação literária, não sendo muito ativas. Daí o destaque de Tiradentes4, alferes da polícia
A chamada Inconfidência Mineira foi organizada com base em reuniões secretas e, como
Com isso, todos os conhecidos literários de alto valor que participaram das conversações, des-
tacando-se Cláudio Manuel da Costa, Tomás Gonzaga, os Resende Costa, pai e filho, Alvarenga
Cláudio Manuel da Costa, talvez a principal figura, foi assassinado em Ouro Preto e os
demais foram presos e mandados para o Rio de Janeiro, exilados como sentença dos inquéritos
que tiveram andamento em Ouro Preto, a respeito desse levante considerado revolucionário.
4 Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, (1746-1792). Nascido em Minas Gerais. Militar, comerciante, minerador, único condenado à morte
na chamada Inconfidência Mineira.
5 Luís Antônio Furtado de Castro do Rio de Mendonça e Faro (1754-1830). Nascido em Portugal. Foi o 6º Visconde de Barbacena e governador
da Capitania de Minas Gerais, entre 1788 e 1797.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
ram consequências do governo português. Vários brasileiros foram mandados para o exterior,
para a África, e lá sofreram as decisões jurídicas penais. Sobressaiu a figura de Tiradentes, que
passou a ser o principal foco das preocupações da Corte Portuguesa, sendo o único a sofrer as
principais consequências penais. Tiradentes foi enforcado, atitude que o transformou em mártir
Pernambucana em 1817, além daquelas de menor repercussão como a Revolta dos Alfaiates em
1798, na Bahia, e Filipe dos Santos em Minas Gerais, 1720, entre outras.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
As incursões das Bandeiras pelo país tiveram como seus principais desbravadores Barto-
lomeu Bueno da Silva (conhecido como Anhanguera), Antônio Raposo Tavares e Fernão Dias
Paes Leme, sendo este último dos mais destacados dos bandeirantes.
Nessa mesma época aconteceu a invasão dos holandeses no Norte do país, quando con-
seguiram criar quase um estado independente de Portugal, em cuja organização é preciso desta-
car a figura do Conde Maurício de Nassau que, por volta de 1644, dominou o Nordeste brasileiro
adquiriu apoio na região e promoveu várias obras de interesse para a população. Todavia, de-
fizeram com que Maurício de Nassau se afastasse e o estado holandês ali instalado fosse enfra-
quecido.
Na luta com os brasileiros, os holandeses foram derrotados, o que deu àquela região plena
liberdade, destacando-se nos embates três figuras significativas, o senhor de engenho João Fer-
nandes Vieira, o índio Felipe Camarão e o negro Henrique Dias, todos liderados pelo paraibano
André Vidal de Negreiros. Cada um daqueles comandou indivíduos de sua própria raça.
Napoleão, dominando vários países nas áreas mais vitais da Europa, resolveu tomar a Espa-
nha e, em seguida, invadir Portugal. D. João VI, tendo conhecimento dos ataques de Napoleão e
sabedor de que ele, com grande poder militar, dominaria Portugal que, por sua vez, mantinha inten-
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
sas relações com os ingleses – adversários da França – resolveu, então, defender-se de maneira
inédita: deixou Portugal e se deslocou, com grande embarcação, para o Brasil, para o Rio de Janeiro,
onde teria condições para continuar a conduzir o Império português. É célebre o episódio do des-
locamento de Dom João Vl e sua Corte de Lisboa para Salvador e, em seguida, ao Rio de Janeiro.
Pouco tempo depois, com Napoleão derrotado em Waterloo, os ingleses passaram a influir inten-
A partir de 1815, com sua Corte instalada na Colônia, D. João realizou feitos relevantes
para o desenvolvimento brasileiro. Foi criada a escola militar, museus que influenciaram a vinda
de cientistas da Europa para conhecer nosso país e, finalmente, a Biblioteca Nacional. No Rio
de Janeiro se construiu importantes obras. Nesta época o Brasil foi elevado à categoria de Reino
Unido à Portugal.
Entre 1817 e 1818, embora com a presença de D. João VI no Brasil, houve uma atuação
Apesar de bem estruturada, tal experiência republicana foi derrotada pelas forças portuguesas e
presos vários de seus líderes e figuras expressivas que participaram do movimento, entre elas,
os religiosos Padre João Ribeiro e Padre Miguelinho, e Antônio Carlos de Andrada e Silva (irmão
francês passaram a ter liberdade, e Portugal, em 1820, iniciou movimentos em favor das ideias
Dom João Vl. Assim, o nobre português foi obrigado a se decidir entre o Rio de Janeiro e Lisboa.
Se decidiu pela ida para Portugal, deixando no Brasil seu filho, Dom Pedro6, como príncipe re-
gente, para dirigir todo o país, que seria mantido como Reino Unido.
verdade, uma manobra dos ingleses para seus interesses internacionais. Assim, os portugueses
discordavam da presença de Dom Pedro no país. D. João VI, no entanto, percebeu como seria
6 Pedro I do Brasil ou Pedro IV de Portugal (1798-1834). Nascido em Portugal. Foi o primeiro Imperador do Brasil.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
estratégico manter seu filho no comando do Brasil. Esta visão do monarca é prova de sua habi-
lidade como governante. Dom Pedro permaneceu subordinado a Portugal, mas com poderes de
Regente.
Nesse período, os portugueses, residentes no Brasil, rodeavam Dom Pedro e não admitiam
a independência, mas teve início um movimento, com apoio dos maçons, para que este se des-
ligasse de Portugal.
D. Pedro sentiu a necessidade de fortalecer mais sua presença no país e foi buscar em
Santos, na província de São Paulo, uma peça fundamental para seus planos: um cientista de
renome internacional, com vasta cultura e ampla visão administrativa. Este homem era José
Bonifácio de Andrada e Silva7, que logo passou a atuar na direção do governo brasileiro. José
Bonifácio se aliou à Imperatriz D. Leopoldina, filha de Francisco José, Imperador da Áustria, que
era uma liderança dominante em todo o mundo ocidental. A esposa de Dom Pedro I, sendo mui-
to favorável ao Brasil, facilitou a Independência que não era desejada por lideranças europeias.
Apesar da posição de seu pai, D. Leopoldina deu apoio ao processo da independência e influiu
para que D. Pedro também assumisse o compromisso de libertar o Brasil do jugo português.
7 José Bonifácio de Andrada e Silva (Santos, 1763 – 1838). Nascido em Santos. Naturalista, estadista e poeta luso-brasileiro, conhecido pelo
epíteto de Patriarca da Independência por seu papel decisivo na Independência do Brasil.
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visando com isso enfraquecer o Regente, exigindo seu retorno a Portugal, o que provocou o pri-
meiro movimento de apoio em favor do futuro Imperador no chamado “Dia do Fico”8, contra as
forças militares portuguesas que estavam no Rio de Janeiro. Este episódio resultou da determi-
nação expressa para que D. Pedro voltasse a Portugal. No entanto, cerca de 8 mil brasileiros, em
um abaixo-assinado remetido ao Príncipe, o convenceram de que ele ficaria. Além disso, Pedro
I consolidou a sua presença com nomes fortes na sua equipe, entre eles Gonçalves Ledo, líder
maçon.
É conhecido o episódio em que D. Pedro, próximo daquele riacho, recebeu cartas de José
Bonifácio e de D. Leopoldina relatando que não havia mais como manter a submissão do Brasil
a Portugal.
8 Dia 9 de janeiro de 1822. Quando D. Pedro disse a célebre frase: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam
ao povo que fico”.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
José Bonifácio com habilidade: contratou dois militares estrangeiros, o almirante Cochrane, in-
glês, experiente dirigente de navios de guerra com êxito marítimo em países sul-americanos;
e o general Pedro Labatut, francês, ex-oficial de Napoleão que atuou na independência de al-
guns países da América Latina. Ambos vieram para o Brasil, e na Bahia teve início a formação
do Exército Brasileiro para enfrentar as forças portuguesas comandadas pelo general Madeira,
militar de alta eficiência, que manteve por alguns anos a guerra contra os brasileiros na Bahia.
Primeiro Reinado
D. PEDRO COROADO IMPERADOR
Com elaboradas solenidades no Rio de Janeiro, D. Pedro I foi aclamado Imperador9, e após
sua coroação, momento fundamental para a vida brasileira, assumiu o governo, mas, logicamen-
te, enfrentou resistências, sobretudo na Bahia, porque o projeto português para manter influência
no país seria dividir o Brasil ao meio. O Norte ficaria com Portugal e o Sul, independente, com
o Rio de Janeiro. A figura marcante nesta luta foi o português general Madeira, que comandou
forças militares leais a Portugal, mas que foram derrotadas, pois a esta altura o Brasil já possuía
as forças de defesa do novo Império, o Exército e Marinha brasileira criados sob a orientação de
José Bonifácio.
9 No dia 12 de outubro de 1822, no Campo de Santana, região central da cidade do Rio de Janeiro.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
As ideias liberais cresceram e agitaram o Rio de Janeiro e o resto do país para que se con-
vocasse uma Assembleia Nacional Constituinte capaz de votar uma Constituição para o país. José
Bonifácio, a princípio, não era muito favorável, mas, posteriormente, concordou e, em 1823, foi
instalada em nosso país a primeira Assembleia Nacional Constituinte. Esta teve representantes de
todas as províncias do Brasil então existentes, sendo os seus deputados, aqueles que iriam elaborar
a Constituição do país. A Assembleia Nacional fora liderada principalmente pela figura de Antônio
Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva, com apoio de seus irmãos José Bonifácio e Martim
Francisco Ribeiro de Andrada, tendo aquele elaborado o projeto de Carta Magna que fortalecia os
representantes do povo.
Surgiram debates dentro da Assembleia Constituinte, que mais tarde passaram a ser objeto de
agitação popular, ao que Dom Pedro I entrou em conflito com José Bonifácio, os irmãos dele e com
os deputados que lhe seguiam. O Imperador decidiu dissolver a Assembleia Nacional Constituinte e,
ao mesmo tempo, prender a maioria dos deputados, promovendo a ida deles para exílio no exterior,
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Dom Pedro I ficou com poderes absolutos, situação que não repercutiu bem no país. No Nor-
deste houve duras reações muito ativas que sacudiram o país, como a chamada Confederação
do Equador10 que visava a criação de uma República independente e refletiu em várias províncias
nordestinas, além de outras partes da Nação onde também as reações contra a dissolução da As-
A GUERRA DA CISPLATINA
Pertencia ao Brasil, a antiga Colônia de Sacramento, território da divisa com a Argentina, isto
é, com o mundo espanhol, a qual se transformou na Província Cisplatina, graças à invasão luso-bra-
sileira. Tal província tinha uma posição de destaque, com representantes inclusive na Assembleia
Nacional Constituinte. Com a dissolução desta, as lideranças da Cisplatina consideraram que vários
compromissos assumidos em favor de sua comunidade não seriam mais respeitados e, com apoio
da Argentina, declararam guerra ao Imperador para alcançar a sua Independência por volta de 1825.
Na Guerra da Cisplatina o Brasil foi derrotado por aqueles que defendiam a liberdade da pro-
víncia para se tornar um novo país, hoje o Uruguai. Os cisplatinos tiveram o apoio dos ingleses, por
Para fazer face às reações liberais, D. Pedro outorgou, em 1824, uma Constituição para o
país com base no projeto de Antônio Carlos, e que havia sido discutido na Assembleia Constituinte,
porém com alterações, atitude que deu início à fase constitucional que se estendeu até a Repúbli-
ca. A principal figura deste trabalho foi Carneiro de Campos, o Marquês de Caravelas11, redator da
Constituição de 1824.
A estrutura do país continuava com suas respectivas câmaras municipais, criando, indiscuti-
velmente, uma nova organização também de tendências liberais, com as províncias semiautôno-
mas. Mas, D. Pedro se envolveu em fatos negativos, inclusive pessoais, até mesmo em relação à
10 Eclodiu no dia 2 de julho de 1824, em Pernambuco. Os principais líderes foram Manuel de Carvalho Pais de Andrade e Frei Caneca.
11 José Joaquim Carneiro de Campos, Marquês de Caravelas (1768-1836). Nascido na Bahia. Advogado, diplomata e professor. Sucedeu José
Bonifácio de Andrada e Silva no ministério do Império e dos Negócios Estrangeiros, quando o ministério dos Andradas foi exonerado.
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D. Leopoldina12, nossa imperatriz de origem austríaca, que era muito querida dos brasileiros. Vale
lembrar que ela muito contribuiu para a Independência. Tudo isso fez com que o Imperador se
enfraquecesse dentro da vida brasileira, passando a dar apoio aos portugueses e nomeando um
ministério impopular, a sua rejeição foi crescendo de tal forma que, em 1831, renunciou ao governo
brasileiro e o entregou ao seu filho, que nessa época tinha seis anos, o qual mais tarde se tornaria
Período Regencial
O INÍCIO DAS REGÊNCIAS E AS REAÇÕES POPULARES
Embora afastado de seu antigo ministro, D. Pedro I nomeou José Bonifácio tutor do pequeno
D. Pedro II, por considerá-lo o único brasileiro que poderia conduzir a educação de seu filho. Nesse
momento se iniciou nova fase em nossa história, o período das Regências14, inicialmente, composto
por três líderes políticos, general Lima e Silva, Joaquim Carneiro de Campos e Nicolau Campos
Vergueiro.
Em 1834, com o Ato Adicional, foi feita uma reforma da Constituição que permitiu que a Re-
gência fosse exercida através de eleição geral, por um só membro, para a qual foi escolhido o Padre
Feijó. Terminado o mandato de Feijó, Araújo Lima, o Marquês de Olinda, assumiu como Regente
único, quando dois grandes partidos disputavam o poder, o Partido Liberal e o Partido Conserva-
dor. Foram estes dois grupos que alimentaram a vida pública do país até a República. Em 1840 foi
votada a Lei de Interpretação do Ato Adicional de 1834 com alterações que atingiram a autonomia
provincial.
Pará, que aconteceu de 1835 a 1840, foi uma revolta popular dos cabanos, índios e mestiços que
moravam em cabanas às margens dos rios, mas que obtiveram apoio dos fazendeiros e comercian-
tes que estavam insatisfeitos com o governo regencial, o qual os combateu ao final de cinco anos
de lutas.
12 Caroline Josepha Leopoldine Franziska Ferdinanda, ou Leopoldina da Áustria (1797-1826). Nascida na Áustria. Foi arquiduquesa da Áustria, a
primeira esposa de D. Pedro I e Imperatriz Consorte. Os rumorosos casos extraconjugais do Imperador, em especial com a Marquesa de Santos,
são fatos que afetaram a relação do casal imperial.
13 Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga, D. Pedro II
(1825 -1891). Nascido no Rio de Janeiro. O segundo e último imperador do Império do Brasil durante 58 anos.
14 Duração: de 1831 a 1840.
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Também nesta fase se destacou a Sabinada, revolta ocorrida na Bahia entre 1837/1838,
comandada pelo jornalista e médico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira. Esta revolta tinha
como objetivo tornar a Bahia um país independente até que D. Pedro II atingisse a maioridade.
O movimento teve algum êxito e chegou a defender a criação da República Bahiense, até que o
No Maranhão se destacou a Balaiada, entre 1838 e 1841, insurreição das camadas popula-
res daquela província que estavam insatisfeitas com o governo regencial e que originou a disputa
balaios. A revolta se expandiu até o Piauí, liderada por Raimundo Gomes e Manoel Francisco dos
Anjos Ferreira, mas foi combatida por Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias, que foi
convidado pelo governo para pacificar aquela Província. Caxias conteve as revoltas sufocando as
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Segundo Reinado
A MAIORIDADE DE D. PEDRO II
E ALGUMAS REVOLTAS POLÍTICAS
em Minas Gerais, sob a liderança de Teófilo Otoni, e também em São Paulo, sendo debelada,
após algumas lutas, pela figura de Duque de Caxias, que ainda não tinha este título, mas que já
Antes da Revolução Liberal de 1842, houve a violenta Revolução dos Farrapos no Rio
Grande do Sul, que teve início em 1835 e se estendeu até 1845. O objetivo era tornar aquela
por Bento Gonçalves e, após dez anos de luta contra os governantes do Império, os brasileiros,
15 Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva (1773-1845). Nascido em Santos. Formado em Direito e Filosofia pela Universidade de
Coimbra, Portugal.
16 Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1775-1844). Nascido em Santos. Formado em Matemática e Filosofia pela Universidade de Coimbra,
Portugal.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
Ao perceber o risco em que se encontrava o Império com tais conflitos, D. Pedro II implan-
tou um tipo especial de parlamentarismo inspirado no modelo inglês. Por volta de 1845, nomeou
Manuel Alves Branco com o título de presidente do Conselho de Ministros, semelhante a primei-
ro-ministro. Este foi um novo período da vida brasileira que se desenvolveu praticamente com a
disputa política entre o Partido Conservador e o Partido Liberal. Surgiram figuras ilustres, e as
1848 e 1850, que se desenvolveu pela disputa política entre liberais, chamados de “Praieiros”,
e conservadores, chamados “Guabirus” (ratos). A revolta comandada pelos Praieiros, sob a lide-
rança de Pedro Ivo Veloso da Silveira, recebeu apoio da população e se espalhou pela província
batida pelo capitão Antônio de Sampaio, enviado do governo imperial que derrotou os insurretos.
conflitos de navios da Inglaterra com brasileiros, o que resultou numa longa crise diplomática
ocorrida entre 1862 e 1865. Envolvia o comércio de escravos, o saque a um navio inglês naufra-
gado na costa brasileira e a prisão de oficiais ingleses por desacato. O nome da crise se refere
GUERRA DO PARAGUAI
E ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA
A Monarquia brasileira, aliada à Argentina e Uruguai, formando a Tríplice Aliança, teve que
enfrentar a guerra do Paraguai que atingiu todo o país, e em cujas batalhas se destacaram, entre
outros, o general Osório, almirante Barroso e Duque de Caxias, que deram a vitória ao Brasil, além
Todavia, esta guerra atingiu o prestígio da Monarquia e o poder imperial, que já enfrentava vá-
rias críticas de setores nacionais contrários à escravidão dos negros. Na realidade, a partir do início
da colonização, os negros vieram da África para o nosso país e continuaram através do chamado
tráfico negreiro, que os ingleses combatiam, o que o Brasil suspendeu em 1850. Tudo isso causou
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também com a célebre Questão Religiosa17. Desta forma, alguns liberais mais avançados criaram
em 1870 o Partido Republicano, tendo à frente a figura de Quintino Bocaiúva e outros líderes que
17 Foi um conflito na década de 1870, entre a Igreja Católica e a Maçonaria, afetando a estabilidade da Monarquia brasileira. Os bispos, de
grande expressão no país, assumiram posição contra a maçonaria que estava atingindo as atividades religiosas, contrariando determinadas
decisões da Santa Sé, o que resultou na prisão de dois arcebispos, Dom Vital, de Olinda, e Dom Macedo Costa, do Pará. O fato causou grande
repercussão e desgastes ao governo imperial.
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Religiosa, da Igreja contra a maçonaria, também influiu muito contra a Monarquia e, finalmente,
o agravamento da própria dificuldade de ordem econômica e financeira que havia no país, com
as guerras e rebeliões.
Na realidade, a queda da Monarquia também se deveu aos grupos militares que vieram da
Guerra do Paraguai, foram se organizando e, aos poucos, conquistaram grande prestígio na vida
política brasileira.
que dirigia o país no lugar de seu pai, que estava em viagem, e lhe disse: – “Vossa Majestade
18 Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon-Duas Sicílias e Bragança, Princesa Isabel (1846 -1921).
Nascida no Rio de Janeiro, foi a segunda filha de Pedro II e Teresa Cristina.
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1889.
efusivas porque, de fato, não tinha muita eperança com aquele movimento.
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Primeira República
OS GENERAIS DEODORO DA
FONSECA E FLORIANO PEIXOTO
Com o grito de “Viva a República” do general Deodoro teve início outra fase da história do
Brasil, pois que, logo depois foi instalada uma Assembleia Constituinte para votar a Constituição
Republicana de 1891.
projeto apresentado pelo Executivo e aprovou o novo texto Constitucional, dentro de claras li-
nhas presidencialistas.
Essa fase republicana foi de transição e, por isso mesmo, provocou uma série de atri-
tos que resultaram na atitude do general Deodoro da Fonseca19 que, na presidência do país,
19 Manuel Deodoro da Fonseca (1827-1892). Nascido em Alagoas. Militar e político, foi o primeiro presidente do Brasil.
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parlamentaristas, que aliás não foram aceitos pelos republicanos de então. Foi uma crise muito
séria que resultou no afastamento do general Deodoro que, doente, renunciou ao governo fede-
ral.
Floriano Peixoto, que era seu vice-presidente, assumiu o poder. Este marcou outra época
na política brasileira com seu temperamento ditatorial havendo o risco de se iniciar um regime
autocrático como nos outros países sul-americanos, literalmente dominados por ditadores. Ten-
do o governo de Floriano Peixoto todas as características autoritárias, vários conflitos foram en-
frentados, inclusive com o Poder Legislativo, mas sua presença era forte dentro da vida política
Durante o seu governo houve a Revolta da Armada que foi comandada pelo almirante
Custódio Ribeiro de Melo que, sem êxito, foi abatido pelos grupos militares que tiveram apoio do
os Republicanos, chamados Chimangos. Esta luta ocorreu de 1893 a 1895, com a participação
mais alta expressão e valor no Império, contra Júlio de Castilhos, jovem liderança republicana
que mais tarde iria ocupar o governo do Rio Grande do Sul. Esta Revolução foi de caráter local,
mas teve também muita repercussão no governo federal, que precisou intervir para pacificar as
lutas rio-grandenses.
Floriano foi acometido por grave doença ao fim de seu governo, e novas eleições para a
presidência da República foram convocadas de acordo com a Constituição. Foi eleito, então, o
primeiro presidente civil do país na República, Prudente de Moraes20, paulista ilustre e de for-
mação democrática. A sua história mostra o seu temperamento, inclusive quando ele deixou de
20 Prudente José de Moraes Barros (1841-1902). Nascido em São Paulo. Advogado e político, foi o terceiro presidente do Brasil.
31
História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
GOVERNOS DE PRUDENTE DE
MORAES E CAMPOS SALES
Prudente de Moraes seguiu para o Rio de Janeiro para tomar posse na qualidade de pre-
mental. Mesmo assim, assumiu o governo e o país inaugurou novo período administrativo, em
ambiente de equilíbrio político. Nesta época, porém, enfrentou na Bahia a célebre Rebelião de
Canudos, liderada pelo messiânico Antônio Conselheiro. A revolta popular baiana foi interpretada
na época como uma reação monarquista, tendo sido derrotada por forças do Exército.
Prudente de Moraes teve como sucessor Campos Sales, paulista, com temperamento to-
talmente diferente daquele, e que passou a governar de maneira enérgica se aliando aos go-
vernadores e criando uma política de aliança com os chefes dos diversos Estados. Assim, se
estabeleceu no Brasil uma aliança das forças políticas locais e regionais de modo que, com essa
situação, os Partidos Republicanos estaduais se uniram, o que resultou na criação de uma rede
republicana nacional de pleno apoio ao presidente da República. Este sistema perdurou até a
Revolução de 1930.
32
História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
Depois de Campos Sales, assumiu Rodrigues Alves, outro paulista também de reconhecido
valor que realizou obras notáveis para o país, sobretudo no Rio de Janeiro, combatendo a febre
figura do médico sanitarista Oswaldo Cruz. Porém, a população, insatisfeita com a obrigação de
se vacinar e sem o devido esclarecimento sobre a importância da vacina, reagiu contra os agen-
tes de saúde e a polícia teve que agir. Esse movimento é conhecido como a Revolta da Vacina,
Ainda neste governo, foi nomeado ministro das Relações Exteriores o Barão do Rio Bran-
co21, que iniciou as negociações para a consolidação definitiva das atuais fronteiras do Brasil.
Rodrigues Alves teve como seu sucessor o mineiro Afonso Pena, figura ilustre da vida bra-
sileira que tinha participado do governo nos tempos da Monarquia, mas que pela sua importância
e sua respeitabilidade fora bem aceito pelos republicanos, sendo eleito presidente da República.
21 José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco (1845-1912). Nascido no Rio de Janeiro. Advogado, diplomata, geógrafo, professor,
jornalista e historiador brasileiro.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
Afonso Pena tinha temperamento equilibrado, muito sensato, e tentou, aos poucos, influir
para que seu sucessor fosse o ministro da Fazenda, David Campista, prestigioso financista, o
qual não contava com o apoio das forças políticas do país então organizadas, que preferiram o
ministro da Guerra, general Hermes da Fonseca, sobrinho de Deodoro da Fonseca. Minas Ge-
rais e São Paulo se opuseram ao nome de David Campista, por ser estranho ao meio político.
Afonso Pena adoeceu, vindo a falecer, e quem assumiu o governo do país foi Nilo Peça-
nha, que atuou de forma democrática e manteve os planos do governo anterior. O presidente
em exercício fortaleceu o nome de Hermes da Fonseca que, eleito, assumiu o país, tendo como
vice-presidente o mineiro Wenceslau Braz. Hermes da Fonseca venceu Rui Barbosa em uma
realizou grandes feitos. Enfrentou, porém, movimentos populares e a célebre Revolta da Chiba-
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
ta, quando marinheiros se revoltaram contra as violências e castigos físicos dentro dos navios
brasileiros. Neste período ainda houve a chamada Guerra do Contestado que, na realidade, era
que disputavam terras na divisa entre as duas unidades federadas. A disputa provocou uma cri-
se que se transformou numa luta dentro dos dois estados, sendo necessária a intervenção do
Ceará contra a liderança do padre Cícero e do deputado Floro Bartolomeu devido a intervenção
contra o presidente do estado, Antônio Pinto Nogueira Accioly, que voltou ao poder com a sus-
pensão da intervenção.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
Ao término do governo Hermes da Fonseca foi eleito Wenceslau Braz, anteriormente vice-
-presidente, cujo mandato à época da Primeira Guerra Mundial viveu certa crise política porque
predominava no Senado a figura de Pinheiro Machado, gaúcho de prestígio, que, no fundo, não
No episódio da eleição do presidente do estado do Rio de Janeiro houve sério conflito políti-
co que resultou na posse de Nilo Peçanha como dirigente do Estado. Nesta fase foi assassinado
o senador Pinheiro Machado, o que abalou o país porque era uma liderança poderosa, chefe do
Findo o governo Wenceslau Braz, Rodrigues Alves deveria ser o seu sucessor, porém,
impossibilitado por estar doente, quem lhe sucedeu foi o vice, Delfim Moreira, que ficou pouco
tempo à frente do país, indicando, nas eleições, como seu sucessor Epitácio Pessoa que, embo-
ra fora do país, num Congresso Internacional, pelo seu grande prestígio, mesmo no exterior, foi
escolhido dirigente do governo brasileiro, nomeando um ministério só de civis, como Raul Soares
Houve uma crise na sucessão de Epitácio Pessoa, quando Arthur Bernardes, candidato ofi-
cial indicado pelos mineiros, entrou em conflito com seus adversários de outros estados, e uma
série de intrigas os levou também a antipatia de setores do Exército. Seu adversário, candidato
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
derrotados violentamente estando entre eles o então tenente Eduardo Gomes, que foi ferido.
Sul entre os adeptos de Borges de Medeiros e os de Assis Brasil, aquele sustentando sua quarta
reeleição como presidente rio-grandense, o que foi contestado e provocou choques armados.
Convém assinalar ainda a Revolução de 1924, em São Paulo, comandada pelo general
Isidoro Dias Lopes que, derrotada, deixou consequências conhecidas, como a criação da Coluna
Como seu sucessor, elegeu-se presidente da República o paulista Washington Luís, que
era representativo das poderosas forças econômicas e políticas de São Paulo e trazia consigo
forte apoio do Partido Republicano Paulista que dominava literalmente o Estado bandeirante
Em Minas Gerais, fora eleito presidente do Estado o líder do governo Arthur Bernardes na
Câmara dos Deputados, a figura de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, muito influente em Mi-
todo. Após a Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, o Brasil se articulou com as lideranças
inglesas e se ajustou a todos aqueles que foram os vitoriosos na Primeira Guerra, momento fun-
damental para a história mundial, porém é de se registrar a crise na Alemanha e na Itália, quando
princípio de que governar era abrir estradas. No seu governo houve alguns problemas políticos
no Rio Grande do Sul, os quais procurou superar. O ministério de Washington Luís tinha Getúlio
22 A Coluna foi um movimento revoltoso organizado por tenentistas que percorreu 25 mil quilômetros no Brasil, entre 1925 e 1927, combatendo
as tropas dos governos de Arthur Bernardes e Washington Luís. Tinha a inspiração revolucionária marxista de seu líder, Luiz Carlos Prestes
(1898-1990).
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
Republicano Mineiro.
O nome de Antônio Carlos passou a percorrer todos os estados do país como uma figura
de alta visão para a vida republicana. Contrário à política de Minas, o presidente Washington
Luís tentou algumas medidas que atingiam a autonomia mineira. Nessa fase também, em todo
o país, tiveram início movimentos de reação liberal e democrática, contrários à estrutura republi-
cana representada por Washington Luís, homem de comportamento um tanto violento e avesso
Washington Luís lançou como seu candidato à presidência da República o paulista Júlio
Prestes, fugindo à tradição política existente, pois deveria sucedê-lo um mineiro, quando todo o
país esperava que fosse o nome de Antônio Carlos, dado o prestígio que ele adquiriu e as práti-
23 Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (1870-1946). Nascido em Barbacena, Minas Gerais, foi um político brasileiro, prefeito de Belo Horizonte,
presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, senador da República, presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1932-1933, ministro
e governador do estado de Minas Gerais. Na época o cargo era de presidente do estado, daí ser conhecido nacionalmente como Presidente
Antônio Carlos.
39
História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
Em face desta atitude discriminatória com Minas, pressionado pelas lideranças de seu Es-
tado, Antônio Carlos criou, com os líderes mineiros, gaúchos, paraibanos e de outros Estados,
a Aliança Liberal, que lançou como candidato à presidência da República, Getúlio Vargas24, o
presidente do Rio Grande do Sul, e João Pessoa, presidente da Paraíba, como vice. Antônio
Carlos julgava que o nome do presidente gaúcho vinha constituir um candidato de oposição à
Júlio Prestes, capaz de ter apoio de fortes grupos políticos em toda Nação.
sões, porém a campanha da Aliança Liberal em favor de Getúlio se desenvolveu forte em todo o
Brasil. Grupos políticos se reuniam nas capitais com a presença de líderes de expressão nacional
que se dispuseram a viajar por todo o interior brasileiro apoiando a Aliança Liberal. O país foi sacu-
dido por uma disputa de enorme repercussão. Na Câmara dos Deputados, o deputado José Bonifá-
cio, irmão do Presidente Antônio Carlos, líder da Aliança Liberal, enfrentou agressivos debates com
Os candidatos da Aliança Liberal, principalmente em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e o estado
da Paraíba, alcançaram elevado prestígio nacional. Washington Luís, com atitudes antidemocráticas,
24 Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954). Nascido no Rio Grande do Sul. Foi advogado, militar e político brasileiro, líder da Revolução de 1930,
que pôs fim à República Velha. Foi presidente do Brasil em dois períodos.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
interveio, inclusive na Paraíba, dando força a grupos regionais para combater a governança naquele
Carlos e de apoio a Júlio Prestes, candidato presidencial. Esta era a situação nacional quando os re-
sultados das eleições, através de meios fraudulentos, logicamente esperados, deram a vitória a Júlio
lideranças mineiras, como também os paraibanos e líderes de diversas partes do Brasil, começaram
a criticar o governo de Washington Luís e a vitória de Júlio Prestes. Este era o cenário quando em
junho de 1931, João Pessoa foi assassinado em Recife ao visitar o estado de Pernambuco. Tal fato
As forças políticas contrárias a Júlio Prestes e Washington Luís passaram a ter apoio popular
com vocações revolucionárias. A escolha de Júlio Prestes era considerada uma eleição falsa, resul-
tado da imposição do governo de Washington Luís. Dentro desse ambiente, o governo de Minas, do
Rio Grande do Sul e as poucas forças políticas existentes na Paraíba se reuniram e provocaram a
Revolução, o que resultou na queda do governo de Washington Luís que foi afastado por uma Junta
Militar, composta pelos generais Menna Barreto e Tasso Fragoso e pelo almirante Isaías de Noronha,
que assumiu a direção do país, mais tarde transferida a Getúlio Vargas, considerado o candidato
A revolução teve repercussões militares, e Minas Gerais foi decisiva para a vitória com sua
Força Pública e grupos atuantes em diversas cidades, como a célebre Cavalaria da Mantiqueira25 de
Barbacena que colaborou para a vitória revolucionária em Juiz de Fora, sede da Região Militar, cujo
comandante, general Azevedo Costa, se deslocou para o Rio de Janeiro. Este fato foi uma das razões
do enfraquecimento de Washington Luís e seu afastamento do governo, com a criação da Junta Mi-
litar, que, após consolidar o triunfo da Revolução, teve de se afastar da direção do país, passando o
25 Organizada por José Bonifácio Lafayette de Andrada (1904-1986), conhecido como Zezinho Bonifácio. A Cavalaria da Mantiqueira teve atu-
ação sob o comando do então Tenente Eduardo Gomes e foi base para a formação do Batalhão de Polícia de Barbacena, sendo formada por
voluntários, e os cavalos tomados da tropa do Exército que se rendeu em Carandaí, durante a Revolução de 30.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
Segunda República
GOVERNO VARGAS E A REVOLUÇÃO DE 1932
Estado, Olegário Maciel, figura fundamental para a vitória da Revolução de 30. A sua sucessão
temporária foi, na realidade, disputada por forças políticas de expressão. Para resolver a ques-
tão, Vargas nomeou um contraparente como interventor, o deputado Benedito Valadares, o que
trouxe sérios descontentamentos, mas assumiu o governo e se manteve até o fim do exercício
de Getúlio.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
cias fascistas que, liderado por Plínio Salgado, apesar de derrotados pelas forças militares, foi
uma tentativa de afastar Vargas e implantar no país o governo dos adeptos daquela doutrina
política.
Getúlio Vargas, no poder, iniciou seu processo para o Golpe de Estado. Começou a se mo-
vimentar objetivando afastar Antônio Carlos da presidência da Câmara para conseguir, o que não
alcançou sem o seu apoio, a aprovação do “Estado de Guerra” para ascender a ditadura. Com
dificuldade, o jovem deputado Pedro Aleixo venceu Antônio Carlos na disputa pela presidência
da Câmara, por poucos votos, apoiado pelo presidente da República, no início de 1937.
ção. Como resultado alcançou o poder necessário para fazer com que o Exército depusesse o
governador do Rio Grande do Sul, Flores da Cunha, aquele que era considerado o seu principal
opositor, seu principal adversário, que poderia impedir o golpe de estado que pretendia.
Com tais atitudes, o ambiente estava preparado para o golpe que implantou no Brasil o
sistema ditatorial fascista para o país. As eleições presidenciais não ocorreram e a Câmara dos
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
Deputados e o Senado foram fechados, e promulgada a Constituição em 1937, que nunca foi
O Estado Novo, aparentemente, era uma cópia das organizações políticas dominantes dos
países fascistas da Europa. Durante o período de 1937 a 1945, Vargas governou, mas não obede-
cia à Constituição que ele mesmo elaborou, pois agia ditatorialmente, se voltando sobretudo para o
populismo, junto às classes trabalhadoras, inclusive criando o sindicalismo dominado pelo Estado.
A QUEDA DE VARGAS E A
NOVA ASSEMBLEIA NACIONALCONSTITUINTE
– União Democrática Nacional, PTB – Partido Trabalhista Brasileiro, PCB – Partido Comunista
brigadeiro da Aeronáutica, apoiado pela UDN e outros grupos liberais, e o general Eurico Dutra,
do Exército, apoiado pelas forças que tinham sido os restos políticos do governo Vargas nas in-
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
Houve uma disputa acirrada no período eleitoral, porém, na última hora, Vargas decidiu
apoiar Eurico Dutra que, com as forças organizadas do PTB, saiu vitorioso. Desta forma, iniciou-
-se novo período na vida brasileira, com a eleição da Câmara e do Senado e novo presidente da
República.
trabalhistas.
26 Eurico Gaspar Dutra (1883-1974). Nascido em Mato Grosso. Militar, 16º Presidente do
Brasil, entre 1946 e 1951.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
Com o fim do mandato de Eurico Dutra, Eduardo Gomes novamente foi candidato, mas
Getúlio Vargas, disputando o pleito, ainda com Cristiano Machado, político mineiro, candidato
tendências esquerdistas e populistas. Todavia, o novo governo de Vargas, voltado para deter-
minadas iniciativas escusas, inclusive de seus familiares, criou um ambiente de muitas críticas,
Neste momento surgiu dentro da UDN a figura do jornalista Carlos Lacerda, uma liderança
poderosa, que iniciou campanha muito forte contra Vargas, apoiado por toda a bancada da UDN
na Câmara e no Senado.
financeiro.
27 O segundo governo do ex-ditador foi marcado pelo desenvolvimentismo-nacionalista com a criação da Petrobras e BNDES, mas com alta
inflação o que gerou greves e inquietação entre os trabalhadores.
28 Carlos Frederico Werneck de Lacerda (1914-1977). Nascido no estado do Rio de Janeiro. Jornalista e polemista. Fundador do jornal Tribuna
da Imprensa e da editora Nova Fronteira.
29 Suicídio no Palácio do Catete, sede do governo federal, Rio de janeiro em 24 de agosto de 1954.
30 João Fernandes Campos Café Filho (1899-1970). Nascido no Rio Grande do Norte. Advogado, foi presidente por um ano e três meses.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
Novos problemas políticos ocorreram no país com a eleição para a sucessão de Café Filho,
pois boatos circulavam de que haveria intervenção na posse de Juscelino Kubistchek, candidato
do PSD, que disputava com Juarez Távora, pela UDN e fora vitorioso, preparando-se para assu-
mir a Presidência.
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A ELEIÇÃO DE KUBISTCHEK
E SUA SUCESSÃO POR JÂNIO QUADROS
1956.
31 Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976). Nascido em Minas Gerais. Médico, foi o 21º presidente do Brasil.
32 Jânio da Silva Quadros (1917-1992). Nascido em Mato Grosso do Sul. Professor e Advogado foi o 22º presidente do Brasil.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
América Latina.
Depois de várias negociações João Goulart, conhecido como Jango, concordou com a
introdução do regime parlamentarista, do qual seria presidente com funções bem limitadas dife-
com outros, articulou a volta do presidencialismo, o que aconteceu estranhamente com apoio das
Jango, com plenos poderes, iniciou o governo presidencial e reuniu ao seu redor lideranças
esquerdistas e de ideias identificadas com o marxismo pregado pela União Soviética, o que pro-
33 João Belchior Marques Goulart (1918-1976). Nascido no Rio Grande do Sul. Advogado e polítco brasileiro, foi o 24º presidente do Brasil.
Estava em viagem à República Popular da China quando Jânio renunciou.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
A notícia de que Jango pretendia conseguir do Congresso o “Estado de Sítio”, segundo mui-
tos, para dar um Golpe de Estado e implantar uma ditadura de esquerda ao estilo de Cuba, acar-
retou reações das forças democráticas e das forças militares que julgavam que a sua presidência
seria o caminho para o comunismo. O cenário internacional era inquietador com o alarmante
desentendimento entre os Estados Unidos e a União Soviética, apoiada, em vários países, pela
Com o fim da Segunda Guerra Mundial surgiu o conflito político entre os Estados Unidos e
a União Soviética, situação que se agravou quando os americanos lançaram a bomba atômica
no Japão. Os russos também fizeram suas armas atômicas e o mundo ficou sob o risco de peri-
Com a morte de Stalin34, pouco depois Nikita Khrushchev assumiu o governo da União
que alarmou o mundo. A União Soviética conseguiu, sem conhecimento dos norte-americanos,
implantar perigosos mísseis em Cuba com a intenção de atingir a América do Norte. Os Estados
Unidos eram governados pelo então presidente John Kennedy35, cuja polícia secreta não conse-
guiu descobrir a presença de tais armas atômicas em Cuba. Houve negociações com os russos,
porém com desequilíbrio para os americanos. Tais fatos ocorreram no meio da década de 1960,
o que produziu para os sul-americanos generalizado temor decorrente dos graves conflitos entre
as duas Nações. Assim, países anticomunistas se prepararam para uma guerra global, havendo
ascensão das forças militares que se resguardavam contra o Partido Comunista, atuante em
todos os países. Este contexto ficou conhecido historicamente como “Guerra Fria”.
34 Ioseb Besarionis dze Jughashvili ou Josef Stalin (1878-1953). Nascido na Geórgia. Líder comunista da União Soviética, que governou de
forma ditatorial de 1920 a 1953.
35 John Fitzgerald Kennedy (1917-1963). Nascido no estado Massachusetts. Foi o 35° presidente dos Estados Unidos. Assassinado em Dallas,
no dia 22 de novembro.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
A Revolução de 1964 foi um amplo movimento que envolveu o país inteiro, pois se temia a
tomada do poder por grupos de extrema-esquerda. Teve início em Minas Gerais com o governa-
dor Magalhães Pinto, e apoio das forças do Exército Brasileiro e da Polícia Militar mineira, que
pressionaram Jango a se afastar do governo com decisiva repercussão em Brasília. Jango foi
afastado do poder e substituído por uma Junta Militar composta por líderes das três forças, o
to o novo presidente da República. Houve certa influência dos militares e apoio político para a
eleição do general Castelo Branco, nome de muito prestígio dentro do Exército, para a direção
do país.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
então existentes.
ção, surgindo aí o MDB39. Castelo Branco iniciou seu governo com base no Ato nº 1, mas baixou
Iniciou-se um período que revelou novas tendências para a vida pública nacional. Como ha-
via um clima de possível reação esquerdista, as pressões dos militares mais autoritários fizeram
todo o país, e Castelo Branco foi obrigado a baixar o Ato nº 2, que inclusive prorrogou seu man-
dato para 1976, trazendo ao país certo pessimismo. Tal fato ocorreu, mas Milton Campos não
aceitou esta decisão institucional e se afastou do governo. O país viveu nesse momento outro
36 Humberto de Alencar Castello Branco (1900-1967). Nascido no Ceará. Militar, foi o 26º presidente do Brasil e primeiro do Regime Militar.
37 Milton Soares Campos (1900-1972). Nascido em Minas Gerais. Advogado, jornalista, professor e político brasileiro, foi o 23º governador de
Minas Gerais, deputado federal, senador e ministro da Justiça. Um dos signatários do Manifesto dos Mineiros, documento dos setores liberais
contra o Estado Novo de Vargas. Foi um dos articuladores civis do Movimento Revolucionário de 1964.
38 Aliança Renovadora Nacional, depois tornou-se o Partido Democrático Social (PDS) e um grupo dissidente formou o Partido da Frente Liberal
(PFL), atual DEM. O PDS hoje é o Partido Progressista (PP).
39 Movimento Democrático Brasileiro, depois do chamando bipartidarismo em 1980 tornou-se o PMDB. De seus quadros iniciais depois saíram
membros de novos partidos como PT, PDT e PSDB.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
votar a nova Constituição de 1967, revogando a anterior, de 1946. Logo depois, de acordo com
a nova Constituição, elegeu pelo processo indireto seu sucessor, o general Arthur da Costa e Sil-
va40, ministro da Guerra do governo, o qual assumiu a direção do país e teve como seu principal
auxiliar o general Jaime Portela, de formação autocrática militarista, e como seu vice o deputado
todos os países.
tucional nº 542, que foi praticamente a implantação do regime ditatorial em todo o país.
40 Artur da Costa e Silva (1899-1969). Nascido no Rio Grande do Sul. Militar, foi o 27º presidente do Brasil e segundo do Regime Militar.
41 Nikita Serguêievitch Khrushchev (1894-1971). Nascido na Rússia. Foi secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética entre 1953
e 1964.
42 Decretado em 13 de dezembro de 1968. Estabelecia o recesso do Congresso Nacional, intervenções em órgãos públicos, a censura prévia
aos meios de comunicação e repressão direta aos movimentos armados da esquerda revolucionária.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
Um outro período se inicia na vida brasileira. Costa e Silva, posteriormente, começou a tra-
balhar em favor de uma modificação democrática através da Constituição de 1967, para alterar o
AI-5, porém veio a falecer em 1969. Ao contrário de seu vice, Pedro Aleixo, assumir o governo, as
forças militares criaram nova Junta Militar, composta do general Aurélio de Lira Tavares, brigadei-
ro Márcio de Sousa e Melo e almirante Augusto Rademaker, que se apossou do poder para pre-
parar a eleição de um novo presidente, de acordo com a Constituição de 1969, elaborada pela
própria Junta, que revogou a Constituição de 1967 com uma série de alterações autocráticas. O
novo presidente eleito foi o general Emílio Garrastazu Médici43 escolhido após uma crise interna
dentro das Forças Armadas, que se dividiram para a escolha do novo presidente.
43 Emílio Garrastazu Médici (1905-1985). Nascido no Rio Grande do Sul. Militar, foi o 28º presidente do Brasil e terceiro do Regime Militar.
44 Ernesto Beckmann Geisel (1907-1996). Nascido no Rio Grande do Sul. Militar, foi o 29º presidente do Brasil e quarto do Regime Militar. Era
irmão do general Orlando Geisel, ministro do Exército do governo Médici.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
seus efeitos já ocorridos. O documento previa a restauração do habeas corpus, além de es-
tabelecer que o presidente da República não poderia mais colocar o Congresso em recesso
nem cassar deputados, nem privar cidadãos de seus direitos políticos e, ainda, acabava com a
censura prévia da imprensa. Tal atitude fez com que o país iniciasse a democratização política
Geisel, todavia, enfrentou problemas no seu mandato, sendo o mais grave o conflito com
o general Sílvio Frota, ministro do Exército de seu governo que promovia dura oposição às li-
deranças militares de tendências democráticas, e tentou um golpe militar para assumir o poder
ditatorialmente, o que foi repelido pelo presidente e pelas forças que o apoiavam.
Durante o governo Geisel a Constituição vigente era aquela produzida pela Junta Militar
que sucedera a Costa e Silva, mas que foi plenamente substituída pela Emenda Constitucional
É importante relembrar dois episódios de alta significação vividos pelo presidente Geisel
país se organizaram em torno da figura do líder Luiz Inácio da Silva, o Lula, presidente do Sin-
dicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, que começou a se destacar e alcançou
apoio de grande parcela dos sindicalistas brasileiros. E o segundo, quando seu governo superou
as agitações dos grupos de esquerda com repercussão sistemática da imprensa, tendo como
seu líder parlamentar o deputado José Bonifácio45, que enfrentou duros debates com o PT na
Fortalecida sua posição, Geisel encaminhou o país para sua sucessão, articulando o nome
do general João Batista Figueiredo, personalidade influente entre os militares e que já havia
prestado serviços ao Movimento Revolucionário de 1964, além de ter ocupado diversos postos
significativos nas Forças Armadas. O nome de Aureliano Chaves, ex-governador de Minas Ge-
ao país.
45 José Bonifácio Lafayette de Andrada (1904-1986). Nascido em Barbacena, Minas Gerais. Advogado e político, foi prefeito de Barbacena,
deputado estadual e federal, presidente da Câmara dos Deputados (1968-1970).
46 No Centro de Convenções do Riocentro, no Rio de Janeiro, na noite de 30 de abril de 1981, ocorria um evento alusivo ao Dia do Trabalhador,
quando duas bombas explodiram no que seria um atentado frustrado.
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A partir de 1983, tiveram início as disputas e discussões para a sucessão de Figueiredo e sur-
giram outras situações como a ARENA que se transformou em PDS, o MDB que se transformou em
PMDB, e outros partidos que surgiram, como o PDC, PTB, além de outras agremiações com plena
Nessa fase, André Franco Montoro, governador de São Paulo, com apoio de lideranças po-
líticas do antigo MDB em seu Estado, lançou a tese das eleições diretas para a escolha do futuro
presidente da República. Até mesmo alguns elementos vinculados ao governo apoiaram a tese de
Montoro, o que não se concretizou naquele ano, porém esta ideia política ficou bem marcada.
para apoiá-lo.
Constituição.
47 Tancredo foi internado em 14 de março de 1985, véspera da posse. Em 21 de abril, morreu de infecção generalizada, em São Paulo.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
cionais e decidir sobre o futuro da Nação através de um projeto para uma nova Constituição,
A Carta Magna de 198849 assegurou a todos os cidadãos os direitos individuais, mas ainda
inspirada no Decreto Lei dos governos militares, dá ao presidente da República amplos poderes
sobre qualquer matéria. A Medida Provisória é bem mais ampla que o Decreto Lei, pois este só
alcançava três áreas legais. Sua amplitude a transforma em um instrumento autocrático da pre-
sidência da República, que influi na legislação do país de forma predominante, com um proces-
48 José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, José Sarney (1930). Advogado e escritor. Nascido no Maranhão, foi o 31º presidente do Brasil.
49 Promulgada em 5 de outubro de 1988.
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História Política do Brasil – Prof. Bonifácio Andrada
so rápido de aprovação dentro do Legislativo, visto como proposição com prazo certo para ser
aprovada.
Ao fim do governo Sarney foi eleito seu sucessor Fernando Collor de Mello50, nome
desconhecido, mas que alcançou prestígio nacional em eficiente campanha eleitoral,
conseguindo ser um candidato vitorioso numa eleição disputada por Ulisses Guimarães
(PMDB), Aureliano Chaves (PFL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dentre outros. Lula
foi derrotado no segundo turno das eleições. Teve início então o governo de Fernando
Collor com ministério muito específico, pois contava com destacadas figuras do cenário
político da época, mas deu demonstrações de conduzir um governo com vocação auto-
crática e personalista, embora dentro dos textos constitucionais. Ao mesmo tempo, po-
rém, dentro de seu governo houve sérios conflitos com elementos de sua própria família
e com referência a desvios de dinheiro público, o que provocou indignação em todo o
país, pois sua imagem pública foi construída no combate a corrupção e aos privilégios
públicos.
50 Fernando Affonso Collor de Mello (1949). Nascido no Rio de Janeiro. Economista. Foi o 32º presidente do Brasil, cargo ao qual renunciou em
29 de dezembro de 1992.
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O conflito pessoal de Collor de Mello com seu irmão51, e mesmo com fortes lideran-
ças, como também com a oposição muito ativa, causou profunda revolta na Câmara dos
Deputados, o que resultou no seu impeachment, que o afastou do poder.
Com tais ocorrências, assumiu o governo o seu vice-presidente, Itamar Franco52, ex-go-
vernador de Minas Gerais, que manteve o país com as diretrizes governamentais conheci-
das, se esforçando para manter o ambiente democrático.
da República atuava com isenção, respeitando a esquerda, o que ficou claro no final de seu
mandato.
51 Pedro Collor de Mello (1952-1994). Denunciou um esquema de corrupção política envolvendo Paulo César Farias, tesoureiro de Fernando
Collor.
52 Itamar Augusto Cautiero Franco (1930-2011). Engenheiro. Nascido na Bahia. Foi 33º presidente do Brasil e governador de Minas Gerais
(1999-2003).
53 Fernando Henrique Cardoso (1931). Sociólogo. Nascido no Rio de Janeiro. Foi 34º presidente do Brasil em dois mandatos sucessivos.
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na vida nacional.
culações com os meios internacionais, fez com que o país conseguisse equilíbrio durante certo
Lula dirigiu o país com domínio dos setores sindicais, forte oposição do PSDB e de outros
partidos mais conservadores, inclusive o próprio MDB. Desta maneira comandou a vida nacional
Com seu governo populista e atuação do PT, Lula conseguiu se reeleger presidente, ven-
cendo seu opositor Geraldo Alckmin, do PSDB. Manteve-se na direção do país, preservando seu
estilo de governo voltado para as camadas populares, habilmente tomou várias atitudes autori-
tárias, porém foi acusado de desvios do dinheiro público, prestigiando o chefe da sua Casa Civil,
o ministro José Dirceu, posteriormente condenado e preso por uso indevido do dinheiro público.
54 Luiz Inácio da Silva. Depois, Luiz Inácio Lula da Silva (1945). Metalúrgico e sindicalista. Nascido em Pernambuco. Foi 35º presidente do Brasil
em dois mandatos sucessivos.
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aspectos próprios porque seu temperamento radical e enérgico, com clara vocação autocrática,
foi reeleita, sendo seu principal opositor Aécio Neves, candidato do PSDB. Esta eleição repre-
sentou uma vitória dos grupos esquerdistas radicais, sob ambiente de intensa disputa ideológica
As denúncias dos desvios de dinheiro público durante o governo anterior, de Lula, foram se
55 Dilma Vana Rousseff (1947). Economista. Nascida em Minas Gerais. Foi a 36ª presidente do Brasil em dois mandatos sucessivos e primeira
mulher a ocupar o cargo máximo da República. O segundo mandato foi interrompido quando, em 31 de agosto de 2016, o Senado Federal apro-
vou o pedido de impeachment e a afastou do cargo.
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Dilma Rousseff governou o país sob fortes críticas, o que provocou contra ela oposição po-
lítica muito efetiva de vários partidos e das forças democráticas do país, além das pressões dos
setores produtivos. Com isto, em seu segundo mandato, sofreu o impeachment, o que a afastou
pular e do mercado, porém realmente alcançado através da operação de homens públicos que
para efetivá-la.
Congresso. Bastante afetado por crise política e econômica simultâneas, o mercado também
apoiou, ainda que com reservas, a permanência de Temer até a chegada das eleições presiden-
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tos brasileiros, dando início a outra época política, embora enfrentando dura oposição do PT e
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REFERÊNCIAS
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Deputados, 2013.
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Editora Record, 2019.
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Andrada da República: o arquiteto da Revolução de 30. Rio de Janeiro. Editora Nova
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VARGAS, Getúlio Dorneles. Diário 1930 – 1942. 2 vol. Rio de Janeiro: Siciliano/FGV,
1995.
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SOBRE O AUTOR
foi vereador, por um mandato. Eleito deputado estadual em Minas Gerais por 4 legislaturas, onde
foi também Presidente da Assembleia Legislativa; secretário do Estado e deputado federal por 10
mandatos consecutivos até 2019. É professor de Direito Constitucional, tendo lecionado na PUC
presidente da FUPAC, fundação de Ensino Superior criada por ele em Barbacena, em 1963, que
Ao longo de sua carreira, seja pública ou acadêmica, foi homenageado por diversas institui-
Academia Brasileira de Ciências Morais e Políticas, dentre outras entidades das quais faz parte.
Participou ativamente da Assembleia Nacional Constituinte de 1987/1988, onde foi um dos líderes
no Centrão Democrático, tendo papel decisivo em vários temas constitucionais. Ainda, na Câmara
denúncia contra o presidente Michel Temer, que poderia resultar em um processo de impeach-
Como escritor é autor de vários livros sobre temas jurídicos, políticos, sociais e literários.
Bonifácio Andrada é filho do antigo deputado federal José Bonifácio Lafayette de Andrada
e de D. Vera Tamm de Andrada; casado com Amália Borges Andrada, de cujo consórcio tem oito
filhos. É pai do atual deputado federal Lafayette Andrada, eleito em 2018 para a 56ª legislatura da
OBRAS DO AUTOR
Parlamentarismo e a Evolução Brasileira. Belo Horizonte: Ed. Bernardo Álvares,1962.
Parlamento Brasileiro e a sua Crise no Fim do Século. Brasília: Ed. Centro de Docu-
mentação e Informação e Coordenação da Câmara dos Deputados, 1995.
Da necessidade dos Políticos reagirem contra os tecnocratas que infelicitam o povo. Brasí-
lia: Ed. Centro de Documentação e Informação e Coordenação da Câmara dos Deputados,
1998.
Ciência Política e seus Aspectos Atuais (Engenharia Política e Policometria). Brasília: Ed.
Centro de Documentação e Informação e Coordenação da Câmara dos Deputados, 2000.
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A Crise dos Partidos Políticos, do Sistema Eleitoral e a Militância Política. Ed. FUPAC -
Centro de Publicação Científica e Tecnológica da UNIPAC, 2007.
Acordo do Brasil com a Santa Sé sobre a Igreja Católica. Texto do Parecer do Deputado
Bonifácio de Andrada na Câmara dos Deputados e documentos oficiais. Belo Horizonte:
Editora Del Rey, 2009.
Observações sobre a Realidade Brasileira. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2014.
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