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Sobre livros, cinema e em defesa da cultura no Brasil

Victória Vischi da Cruz

A proposta de reforma tributária sobre o livro apresentada pelo governo federal no


mês de agosto, prevê um tributo de 12% sobre os livros, se aprovada pelo
Congresso. A notícia causou revolta por parte do mercado editorial, que estima que
os livros devam ficar 20% mais caros com o imposto. Essa medida pode quebrar
editoras menores que já têm menos lucro.

Também em agosto, a Ancine (Agência Nacional do Cinema) abriu uma consulta


pública sobre ser obrigatória a meia-entrada nos cinemas e o Ministério da
Economia declarou que é contrário ao benefício. O acesso ao cinema já é limitado
no Brasil, segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), realizada em 2014, apenas 10,4%
(461 municípios) dos municípios brasileiros possuem salas de cinema.

Se aprovadas ambas as medidas serão dificultadores do acesso da população a


cultura. Consumir cultura vai ficar mais caro. Muitos já enxergam o livro como artigo
de luxo no Brasil e o tema da redação do ENEM de 2019 sobre “democratização do
acesso ao cinema no Brasil” parece não ter passado de proposta de redação.

Ainda que o preço dos livros ou da entrada para o cinema não sejam as únicas
variáveis sobre o consumo desses produtos, entendemos que são pontos
importantes. Segundo a Ancine, em 2019, 80% dos ingressos de cinema vendidos
foram com o preço de meia-entrada. Encarecer esses produtos é quase o mesmo
que dizer que eles são destinados às classes mais ricas da população, pois dificulta
o acesso de quem tem menos poder de consumo.

E essas não são as únicas ações governamentais que colocam em questionamento


a importância que o governo atribui a cultura no país. Tomando como ponto de
partida o ano de 2019, para não dizer que se trata apenas de um momento de
exceção devido a pandemia, foram diversas as ações governamentais que tiveram
repercussões polêmicas e geraram indignação no setor cultural. Foram ações como
o cancelamento de editais, redução dos chamamentos para a ocupação de cargos
na Ancine, redução de orçamento para a Lei Rouanet.

Além da redução de investimentos outro problema é a o risco de interferência do


governo a liberdade de expressão, como é o caso do pedido da Prefeitura do Rio de
Janeiro de recolher livros com temática LGBT na Bienal do Livro do Rio, em 2019.
Também merece ser destacada a extinção do Ministério da Cultura, transformado
em Secretaria Especial de Cultura parte do Ministério do Turismo e a escolha de
nomes não qualificados para liderar pastas, escalados com base em seu
posicionamento político e a troca frequente de pessoas nesses cargos.

Defender a cultura não é só investir dinheiro para que ela seja produzida, mas
também garantir a liberdade de expressão e a diversidade cultural, dar voz às
minorias sociais e garantir que a população como um todo possa consumir cultura.
Para isso, não podemos ter um governo que acredita que as minorias precisam se
curvar para as maiorias.

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