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Jornal do 4° Ano de Jornalismo Noturno • Londrina, 9 de Outubro de 2020 • Edição n° 1

SAÚDE INOVAÇÃO EMPREENDEDORISMO CULTURA

Medo e Viagem Novo cenário A pandemia


ansiedade: de norte a causado eo
cotidiano da sul pelas pelo covid-19 interminável
linha de frente inovações do desafia clima de fim
da Covid-19 Brasil londrinenses de festa
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CULTURA ECONOMIA INOVAÇÃO SAÚDE


Gabriel Silveira Bruna Melo Gabrieli Chanthe Caroline Knup
EXPEDIENTE: Isabelle Marina Jair Segundo Hiury Pereira Isabela Buriola
Lucas Petinatti Rodrigo Dourado Maria Caroline Monteiro Juliana Felis
Tiago Bueno

EDITORIAL
Em torno da Corona
Gutemberg Medeiros consenso que todas as edi- Como a editoria de Saúde, familiar, recebendo produ- A quarta capa é a cara
torias tratariam sobre a pan- que traz matéria com den- tos da legião de entregado- desse jornal, com os rostos
Em meados de março de demia sob óticas específi- sa reportagem participan- res que não param de rodar dos que o fizeram tal qual
2020 boa parte do mundo cas. Além disso, buscou-se te sobre a linha de frente pela cidade. A originalida- se viu na plataforma que é a
foi tomado pela Covid-19. um olhar original, seja com do atendimento hospitalar. de também se evidencia na redação virtual. Diversida-
Distanciamento social, uso histórias e personagens até Já em termos de inovação, editoria de Cultura, com re- de na Unicidade. Estes no-
de máscaras, protocolos sa- saídas para as extremas li- esta editoria palmilhou to- cursos de linguagem virtu- vos jornalistas conseguem
nitários e álcool gel entra- mitações impostas. Inclusi- das as regiões do país de al para o texto jornalístico. ter suas próprias vozes ao
ram no cotidiano de quase ve a apuração jornalística, como profissionais se rein- Com sensibilidade retoma buscar formas de expres-
todos. As mudanças se es- priorizando-se não o ato de ventaram em seu cotidia- Clarice Lispector sobre o sar a realidade cada qual à
tenderam aos mais diferen- ir pessoalmente entrevistar no, aliando determinação e quanto a vida surpreende sua maneira sobre o mes-
tes ofícios e o jornalismo as fontes, mas via Internet. criatividade. a todos e a reportagem re- mo tema. Ideias na cabeça
não foi diferente. O mesmo O que não comprometeu a Também vai na encontrar vela como como é possível e Internet nas mãos. Traba-
aconteceu com este jornal qualidade do que o leitor na editoria de Economia, ao surpreender a vida. Enfei- lharam lembrando Eric Ne-
laboratório. tem na tela de seu PC ou se deparar com empreende- xando-se com uma crônica pomuceno e a sua antiaula
Da construção da pauta mobile. dores talhando espaços sob dialogando com João do inaugural. Jornalismo é
na segunda semana de mar- Originalidade em relação as condições do novo nor- Rio, um de seus principais contar histórias. Falar de
ço à retomada via Internet ao jornalismo informativo mal. Como o som do esca- artífices nesta tradição bra- gente viva no cotidiano. Li-
a realidade se impôs. Foi o leitor vai encontrar aqui. pamento de moto ficou tão sileira. teratura de não ficção.

Jornal Laboratório produzido pelo 4º ano noturno do Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Estadual
de Londrina, para a disciplina de Edição de Jornal Laboratório, sob orientação do Professor Doutor Gutemberg Medeiros.
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saúde
CORONAVÍRUS
Londrina, 9 de Outubro de 2020

Medo e ansiedade:
cotidiano da linha de
frente da Covid-19
Conheça a rotina e os desafios de uma profissional do Hospital
Vida durante a pandemia

Óbvio que, com o comércio fechado e as pes- pados com o trabalho. As máscaras já pareciam
Isabela Albano Buriola soas em casa, não tinha corrida e, consequente- normais, como se fossem até um novo membro
O começo de 2020 foi difícil para minha mente, não tinha dinheiro em casa. do nosso corpo. Quando tirávamos para almo-
família. A pandemia veio para nos assustar e, Nosso desespero estava enorme e eu come- çar, algumas pessoas até falavam: “nossa, colo-
mais que isso, complicar muito a nossa situação cei a procurar emprego em tudo quanto é lugar. ca a máscara, é muito estranho ver vocês sem”.
financeira. Em maio vi uma publicação no Facebook mos- O problema veio em julho, junto com os
Meu irmão estava morando em Florianópolis trando que o Hospital Vida precisava de uma profissionais que foram efetuar o teste da Co-
há um ano. Perdeu o emprego e, sem condições recepcionista. Enviei meu currículo pelo e-mail vid-19 em todos os funcionários e pacientes do
para se bancar, precisou voltar para Londrina fornecido e, uma semana mais tarde, fui chama- hospital. Lembro da sensação horrível daquele
e trabalhar como Uber. Meu pai mora em São da para fazer a entrevista. cotonete enorme entrando em meu nariz. Lem-
Paulo há sete anos e, desde então, abriu cinco Fui contratada e um misto de sentimentos me bro-me mais ainda do péssimo sentimento que
lojas no Brás – aquele bairro conhecido por veio à mente. Ao mesmo tempo em que me sen- apareceu uma semana mais tarde, quando vá-
concentrar compradores e revendedores de todo tia feliz e aliviada por conseguir um trabalho, rios funcionários foram afastados por testarem
o Brasil. Nem preciso falar que a pandemia pensava constantemente que aquilo podia colo- positivo. Uma recepcionista que fizera plantão
complicou tudo, né?! car a minha vida e a de minha mãe em risco, já comigo um dia antes também foi confirmada.
Meu pai e os demais comerciantes tiveram que o local é um hospital psiquiátrico que com- Eu só conseguia pensar: “meu teste deu negati-
de fechar as portas das lojas por dois meses. porta quase 300 pacientes e 200 funcionários. vo, mas isso já faz uma semana. E se eu estiver
Os alugueis das lojas continuaram vindo e os com o vírus agora? Como vou pegar ônibus?
funcionários – com toda a razão – precisaram Mundo de máscaras Como vou chegar perto da minha mãe? Como
do salário. Como garantir que essas despesas vou almoçar com essas pessoas sem me arris-
fossem pagas se as lojas não estavam abertas? Confesso que, com o tempo, meu sentimento car?”.
Impossível. Meu pai fechou três das suas cinco foi mudando. O medo deu lugar ao comodis- Vários pacientes também tiveram o vírus de-
lojas e até agora (mesmo com o comércio rea- mo e, mesmo com todos os cuidados tomados, tectado. Difícil saber quem estava mais tenso:
berto) precisa tomar vários calmantes para con- é como se o problema do vírus tivesse ficado eles ou seus familiares, que nos ligavam o dia
seguir dormir e gerenciar as únicas duas lojas para trás. Já não tinha tempo para assistir aos todo buscando por notícias.
que sobraram. jornais e me sentia confortável em um mundo Com o surto, o hospital ficou quase um mês
Eu e minha mãe moramos juntas. Só nós tão normal quanto antes – embora estivesse co- sem receber novas internações. Os pacientes
duas. No começo da pandemia foi muito difí- berto por máscaras. saíam, mas não entravam. Além do medo de
cil, pois meu pai não conseguiu mais nos ajudar Percebi que muitas pessoas que trabalhavam arriscarmos a saúde, havia o receio de sermos
financeiramente. Meu contrato de estágio foi fi- comigo estavam como eu. Nossa rotina não ti- demitidos por falta de verba.
nalizado e a renda da casa vinha do trabalho de nha parado e, no momento que muitos estavam Todos os dias recolhíamos atestados de fun-
motorista de aplicativo que minha mãe realiza. aflitos e ansiosos em casa, nós estávamos ocu- cionários que acabavam de chegar da UPA (Uni-
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SAÚDE Londrina, 9 de Outubro de 2020

dade de Pronto Atendimento) por apresentarem A situação dos funcionários que trabalham trabalhar no hospital e sabia que aquilo era ar-
sintomas do novo coronavírus. Colocávamos os no isolamento também não é fácil. Eles preci- riscado. Meu problema não era com a minha
atestados na pasta azul do setor de RH (Recur- sam se equipar com avental, máscara, luvas e própria saúde, era com a saúde daqueles que eu
sos Humanos) e imediatamente nos “banháva- óculos. Depois que saem de lá, tudo é descarta- não sei viver sem.
mos” de álcool em gel. do. As marmitas que entram no isolamento não Minha mãe já passou dos 50 anos e não tem
Com tantos afastamentos, percebi que muitos saem de lá. Caso alguém não tenha comido, por a imunidade tão alta. Meu pai, além da idade,
funcionários ficaram sobrecarregados. Alguns exemplo, a comida precisa ir toda para o lixo. fumou por mais de 20 anos. Meu irmão teve
que eram do período do dia, por exemplo, apa- Fato é que, independente de os funcionários bronquite. Minha tia mais próxima não tem um
reciam à noite para trabalhar. Ficavam mais de estarem no isolamento ou nas demais alas, nin- dos pulmões. Como dormir tranquila? Se al-
12 horas tratando dos pacientes. guém sai totalmente imune do estresse e da so- guém tiver a resposta, eu juro que compro.
A situação melhorou no decorrer de agosto. brecarga que o momento proporciona. Médicos, Apesar de minhas fortes crises de ansiedade,
Aos poucos, os funcionários afastados volta- enfermeiros, técnicos, psicólogos, assistentes esse foi o único dia em que chorei por medo.
ram, e as internações também. Apesar disso, sociais, cozinheiros, equipe de limpeza, recep- Recordo de ter visto uma reportagem na TV so-
as internações não voltaram da mesma forma cionistas, todo mundo. Todos, de alguma forma, bre uma menina que perdeu a mãe devido à do-
de antes. Agora, os pacientes chegam todos no estão na linha de frente. Todos são essenciais ença. Ela estava desolada. E, por alguns minu-
mesmo dia – o que nos deixa loucos e tensos para que o trabalho com qualidade continue. E tos, mesmo sem conhecê-la, era como se aquela
de tantos afazeres – e são encaminhados para o todos possuem pessoas importantes em casa. dor também fosse minha. Pensei em como seria
isolamento. Não é fácil sair sem a certeza de que vai vol- perder, de uma hora para outra, as pessoas mais
O isolamento é um lugar separado para aten- tar bem. A gente tenta não pensar no pior, nem importantes da minha vida.
der apenas os novos pacientes. Eles ficam lá por bagunçar a mente por um turbilhão de senti- Esse sentimento machuca. É triste saber que,
sete dias, sem sair para o pátio, para verificar se mentos, mas tudo o que podemos fazer é nos mesmo fazendo o máximo possível, nós não
apresentam algum sintoma da Covid-19. Depois cuidar e torcer para que nada de ruim aconteça. estamos imunes aos riscos. Para quem sofre de
disso, são encaminhados para as demais alas do ansiedade, isso é como enfiar aos poucos uma
hospital (com acesso ao pátio) e o isolamento é Ansiedade me destrói aos poucos faca no peito e torcer para que o socorro não
ocupado por outros novos pacientes. tarde.
Você consegue imaginar como é ficar sete Sempre sofri com ataques de ansiedade e Hoje tento pensar positivo, me cuidar e man-
dias em um local isolado? Muitos ali estão lu- isso ficou mais intenso com a pandemia. Lem- ter a minha fé. Acho que a esperança por um
tando contra a dependência química, a ansie- bro que, quando o vírus chegou em Londrina, momento melhor não pode morrer jamais. A
dade, a depressão... Muitos, além de lutarem eu assistia ao jornal diariamente e em vários fase não é boa, mas isso não vai durar para sem-
contra seus transtornos psiquiátricos, também horários. pre. Digo-lhes uma frase que ouvi e nunca mais
lutam contra a saudade dos familiares que, de- Um dia despenquei a chorar pensando na esqueci: “tenha calma e respire. Os dias ruins
vido à pandemia, não podem visitá-los. minha família. Eu estava prestes a começar a também terminam”.
Foto:Ana Flávia Gomes

“A gente tenta
não pensar
no pior, nem
bagunçar a mente
por um turbilhão
de sentimentos,
mas tudo o que
podemos fazer
é nos cuidar e
torcer para que
nada de ruim
aconteça ”
Isabela Buriola
“Hoje tento pensar positivo, me cuidar e manter a minha fé”
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SAÚDE Londrina, 9 de Outubro de 2020

SAÚDE MENTAL

Trabalho e pandemia: os impactos na


saúde mental
A Covid-19 alterou o cotidiano da sociedade, trazendo prejuízos para a saúde física e emocional de todos,
principalmente de profissionais da saúde

Em maio, Tedros Adhanom


Ghebreyesus, diretor-geral da
demia trouxe mudanças radicais
na rotina de todos que estão na
“Apreensão, transtornos psiquiátricos, os
profissionais têm buscado ajuda
“A gente teve muito medo
no começo da pandemia, mas
OMS (Organização Mundial da linha de frente. “Tudo começou medo, estresse, médica especializada e, por ve- eu ainda tenho medo agora. O
Saúde), afirmou: “o impacto da com os EPIs (Equipamentos de zes, têm se afastado do trabalho contágio ainda está aí, a gente
pandemia na saúde mental das Proteção Individual). O objeti- crises de com mais frequência. “No meu ainda convive direta e indireta-
pessoas já é extremamente pre-
ocupante”. Atualmente, quase
vo era evitar que nós, profissio-
nais, trouxéssemos o vírus para
ansiedade: tudo caso, o nível de estresse tem
sido gigantesco. Além de me
mente com o vírus, seja dentro
ou fora do ambiente de trabalho.
cinco meses após a declaração, o hospital”, afirma. Além dos isso aumentou preocupar com a minha saúde e Mesmo com todas as medidas
a realidade não é diferente. profissionais, todos os pacien- com as minhas obrigações pro- de prevenção, não consigo dizer
Para a sociedade como um tes devem usar máscaras para nesse período” fissionais, eu, como superviso- que a gente fica tranquilo. Inde-
todo, o isolamento social, o garantir a própria segurança e a Ivanessa Guilherme ra, tenho de me preocupar com pendente dos EPIs e das outras
medo do contágio e a possibi- dos demais, especialmente dos todos que estão trabalhando medidas, a gente ainda corre
lidade da perda de membros da técnicos de enfermagem, que acaba tendo um estresse maior”, dentro do hospital. Mais do que muito risco”, afirma a zeladora.
família e de amigos são fatores têm contato mais próximo dia- explica Denise Mattoso, psicó- isso: tenho de suprir cada fun- Para auxiliar os profissionais
que desencadeiam sofrimento riamente. loga do Hospital Vida. cionário que se afastou”, conta que estão na linha de frente da
e, em muitos casos, sintomas de E a paramentação não é o úni- Ivanessa Guilherme, enfer- a profissional. Covid-19, a Secretaria de Saúde
transtornos psiquiátricos, espe- co desafio. Segundo Bernardes, meira supervisora da instituição, Bernardes e Guilherme con- do Distrito Federal lançou a car-
cialmente ansiedade, depressão todos os profissionais do hos- considera que a pandemia trouxe sideram que, mesmo com os tilha A saúde mental em meio à
e síndrome do pânico. pital receberam treinamentos, impactos severos à saúde men- esforços, os profissionais da ins- pandemia de Covid-19. O docu-
E, se para a população a Co- inclusive, sobre como retirar tal dos profissionais que estão tituição estão sobrecarregados. mento reforça as declarações das
vid-19 é uma ameaça à saúde os EPIs. “Eu percebi profun- na linha de frente. “Apreensão, Além do uso de EPIs e da cons- funcionárias do Hospital Vida
mental, os impactos são ainda do desespero nos profissionais, medo, estresse, crises de ansie- tante higienização das mãos, e pontua que algumas atitudes
maiores nos profissionais que principalmente no início, quan- dade: tudo isso aumentou nes- roupas e superfícies, o hospital podem ajudar os profissionais a
estão na linha de frente da pan- do ainda não tínhamos muitas se período. Isso porque a gente tem promovido o isolamento to- lidar melhor com este momento,
demia. Médicos, enfermeiros, respostas. Hoje ainda temos vive uma incerteza. Nós esta- tal de novos pacientes por sete tais como: reservar um tempo
psicólogos, fisioterapeutas, téc- perguntas, mas já existem pro- mos em um ambiente que rece- dias. Neste período, são aten- para reflexão e descanso; per-
nicos de enfermagem, profissio- tocolos montados que visam à be pessoas de diferentes lugares didos por profissionais especí- manecer conectado com pessoas
nais da limpeza: todos têm de prevenção”, conta a psicóloga. e, assim, temos medo de levar o ficos, que precisam ficar ainda queridas por meio de videocha-
lidar com rotinas estressantes, “Os profissionais que são vírus para casa. Além disso, tem mais atentos às medidas de pre- madas e ligações; compartilhar
cercadas pelo medo e, ao mes- mais ansiosos, que são mais toda a questão do isolamento, venção. Para Luzia Fernandes, os sentimentos com pessoas
mo tempo, pela coragem. preocupados se preocupam ain- que já é um fator de risco para a zeladora do hospital há cinco confiáveis e, se necessário, bus-
Para Jéssica Mastrangele Ber- da mais em um momento como saúde mental”, pontua. anos, a nova rotina e os novos car ajuda especializada.
nardes, psicóloga do Hospital esse. Quem tem idosos na famí- A enfermeira observou que, procedimentos têm causado im-
Vida há mais de um ano, a pan- lia e filhos pequenos em casa com o aumento de sintomas de pactos em sua saúde mental. Por: Caroline Knup Tonzar
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SAÚDE Londrina, 9 de Outubro de 2020

PAUSA NA FORMAÇÃO

Internos de medicina: sinal vermelho


para os estudantes no HU de Londrina
Quando a pandemia eclodiu, os estudantes do curso de medicina da UEL dos dois últimos anos foram afastados;
só não imaginavam que ficariam quatro meses longe do hospital

Em março, quando foram têm recebido outras demandas.


afastados de suas atividades no “Quando o plano de retorno foi
HU (Hospital Universitário) de elaborado, ficou acordado que
Londrina, que pertence à UEL os internos não poderiam aten-
(Universidade Estadual de Lon- der casos suspeitos e/ou confir-
drina), os internos de medicina – mados para o novo coronavírus.
estudantes dos dois últimos anos Nós não podemos atender esses
do curso – não imaginavam que pacientes e, como essa é a maior
ficariam quatro meses fora da demanda, nossos atendimentos
instituição. Amanda Lima, 24, ficaram bem reduzidos. Hoje,
conta que, no HU, em especial, com a suspensão das cirurgias
os internos costumam trabalhar eletivas, só podemos atender
bastante e, por isso, todos sa- pacientes de cirurgias de urgên-
biam como os estudantes fariam cia. Com isso, eu acho que nós
falta e, em algum momento, se- acabamos sendo prejudicados
riam chamados novamente. quanto ao aprendizado”, pontua
“Tudo foi muito imprevisível. Lima.
As semanas foram passando e A impossibilidade de atender
nós continuávamos parados. A pacientes suspeitos ou confirma-
maioria de nós ficou bastante dos para a Covid-19 deixa Lima
ansiosa. Mesmo assim, sabía- e seus colegas do último ano de
mos que, na época, o hospital medicina apreensivos. Com a
estava totalmente despreparado formatura prevista para janeiro
em relação à pandemia, tudo era de 2021, os estudantes acredi-
muito novo”, conta. tam que serão profissionais for-
Com a passagem dos dias, mados em um momento em que
que viraram meses, os internos a pandemia do novo coronavírus
tomaram a decisão de, em maio, ainda será uma realidade. “Nós
lidar com a burocracia para con- vamos atender casos de Co-
seguir voltar ao trabalho no hos- vid-19 quando sairmos do curso.
pital. Além do desejo de querer Só que, enquanto internos, não
ajudar e aprender, os estudantes podemos atender os pacientes

“Na teoria, nós


tinham muitas perguntas quan- com a doença. Então eu acho
to à formação e às aulas. Lima que, talvez, essa restrição nos
sabemos o que e conta que, diante da situação, a
Secretaria Estadual de Educação
prejudique um pouco. Na teoria,
nós sabemos o que e como fazer,
como fazer, mas sinalizou que os internos pode- mas ainda não temos o contato

ainda não temos riam se formar desde que cum-


prissem 75% da carga horária
físico, a prática”, conta a estu-
dante do último ano.
o contato físico, total do internato.
“Nesse momento, minha sala
Assim como na população em
geral, a pandemia trouxe impac-
a prática” se dividiu. Alguns se sentiam se-
guros, outros não. Só que, como
tos à saúde mental dos internos
de medicina. Lima conta que,
a determinação dependia de em março, se viu angustiada por
Amanda Lima cada instituição, a UEL optou
por não aderir em um primeiro
ter de deixar sua rotina de lado.
Com o calendário suspenso, as
momento. Somente em maio expectativas da estudante foram
começamos a mexer com a pa- frustradas e, por quatro meses,
pelada e chegamos até a propor ela não pôde fazer o que mais
uma nova grade curricular para gosta: praticar a medicina, sua
o colegiado. De cara, o colegia- profissão dos sonhos.
do não se sentiu seguro, mas de- “Eu senti saudade do hospi-
pois começou a nos apoiar. Com tal, saudade de atender. Agora
todas as burocracias da universi- que eu voltei pode parecer bobo,
dade, o processo foi bem demo- mas a primeira sutura que fiz,
rado e nós só conseguimos vol- falei: ‘é isso que quero fazer.
tar para o internato em julho”, Por que fiquei em casa esses
explica. quatro meses?’. Quando atendi
Quanto aos impactos na gra- o primeiro paciente depois de
duação, a estudante explica todo esse tempo, soube que é
que, como o HU foi escolhido exatamente isso que quero para
como o hospital de referência o meu futuro.”
para o tratamento de Covid-19
em Londrina, os internos não Por: Caroline Knup Tonzar
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SAÚDE Londrina, 9 de Outubro de 2020

Foto:Arquivo pessoal

Vilma de Fátima dos Reis, técnica de enfermagem do HU

SÓ QUEM VIVEU SABE

As fronteiras entre o hospital e a


residência: como a enfermeira Vilma
viveu a infecção
Na linha de frente de enfrentamento à pandemia em Londrina, Vilma conta suas experiências com a Covid-19

Até fevereiro de 2020, Vilma Apesar de todas as mudanças ra, a técnica de enfermagem foi Mesmo que seja funcionária do bilidade de levar o vírus para casa
de Fátima dos Reis, técnica de en- na rotina da técnica de enferma- à DASC (Divisão de Assistên- HU, hospital de referência para o era seu maior incômodo.
fermagem, chegava ao HU (Hos- gem, a maior surpresa aconteceu cia à Saúde da Comunidade), da tratamento da Covid-19 em Lon- Isolada em casa com o marido,
pital Universitário) de Londrina, em um sábado, durante o plantão. UEL (Universidade Estadual de drina, Vilma não pode afirmar Vilma tomou todos os cuidados
vestia o jaleco e ia conhecer o Com fortes dores de cabeça que Londrina). Lá, foi atendida por categoricamente que foi infecta- necessários. Durante duas sema-
paciente. Hoje, chega ao local de não davam trégua mesmo com um médico que realizou a coleta da pelo novo coronavírus no tra- nas, dormiu em quartos separa-
trabalho e gasta vários minutos medicamentos, Vilma percebeu do exame swab. No mesmo dia, balho. Assim como em todos os dos e teve um banheiro exclu-
na paramentação: máscara, tou- que havia algo errado. Somado veio o diagnóstico: positivo para casos, os profissionais da linha de sivo. Nos primeiros dias após o
ca, capacete, luvas, face shield. à provável enxaqueca, notou um o novo coronavírus. frente não podem afirmar se con- diagnóstico, decidiu não contar
Todos os EPIs (Equipamentos de mal-estar no corpo. Neste mo- No momento em que recebeu traíram o vírus no hospital ou no aos pais para não preocupá-los.
Proteção Individual) são necessá- mento, pegou o celular e infor- o resultado do exame, Vilma teve supermercado, por exemplo. A notícia só foi dada à mãe de
rios para prevenir a contamina- mou à equipe do hospital que não de ouvir o médico dizer: “você Mesmo assim, essa não era Vilma nos últimos dias do isola-
ção pelo novo coronavírus. estava se sentindo bem. está bem, mas precisa ficar aten- uma questão importante para Vil- mento. A técnica de enfermagem
E os equipamentos de prote- Mesmo que os sintomas não ta. Na maioria dos casos, os sin- ma. Neste momento, sua maior conta que os pais não desconfia-
ção não são a única barreira. Para fossem os mais comuns quando tomas da Covid-19 pioram no dé- preocupação estava em casa: seu ram, já que as conversas por vi-
Vilma, a maior mudança pôde fala-se em Covid-19 – como tos- cimo dia, que é o mais crucial”. marido, que é diabético, fator de deochamada eram rotina antes do
ser observada na comunicação se, espirro, coriza e falta de alta Surpresa, a técnica de enferma- risco para a Covid-19. Com o re- diagnóstico positivo.
com o paciente. Se antes o con- – a técnica de enfermagem ficou gem se sentiu frustrada, pois, sultado positivo para a doença, Hoje, curada da doença, Vilma
tato era bem visto e incentivado, em alerta. Com o passar das ho- apesar de estar bem, sabia que seu maior medo era transmitir o voltou ao trabalho. Contudo, os
hoje é totalmente proibido. Não é ras, os sintomas foram passando poderia ter uma piora no décimo vírus e comprometer a vida de impactos não ficaram no passado:
possível tocar, apertar a mão, dar e, na noite de domingo, já não dia. Somada a essa sensação, se quem tanto ama. Para a técnica de a cada dia, percebe que os casos
um abraço de despedida. Com a sentia incômodo algum. lembrou de alguns colegas de tra- enfermagem, os profissionais da só aumentam e que a população
pandemia, a forma de atender e Apesar da melhora, Vilma foi balho que testaram positivo para saúde escolhem suas profissões não tem tomado consciência da
de se comunicar com os colegas orientada pelos profissionais do a doença e se encontram interna- sabendo dos riscos. Contudo, gravidade da doença.
e com os pacientes foi totalmente HU a procurar um profissional dos na UTI (Unidade de Terapia seus familiares não participaram
afetada. de saúde. Assim, na segunda-fei- Intensiva). dessa escolha e, por isso, a possi- Por: Caroline Knup Tonzar
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Inovação
5 REGIÕES
Londrina, 9 de Outubro de 2020

Viagem pelas inovações no Brasil


Alternativas para garantir sobrevivência, entretenimento e sustentabilidade durante a pandemia

Banco de imagens
O Brasil ocupa a 62 posição no ranking de 131 países da IGI (Índice Global de Inovação). Diulgação da WIPO (Organização Mundial da Propriedade Intelectual) no dia 2 de setembro de 2020

Gabrieli Chanthe lhões de pessoas foram infec- de 135 mil mortos. Em meio a so de abrir novos horizontes. nam outros aspectos, também
Hiury Pereira tadas pelo coronavírus em todo essa realidade, muitos esforços Nesta viagem pelas inovações muito necessários, em um mo-
Maria Caroline Monteiro o mundo até setembro de 2020. se voltaram para inovar na área nas cinco regiões do país, volta- mento tão caótico. Conheça as
Segundo a Universidade Desse número, 4,5 milhões só da saúde. Porém, não foi só essa -se a atenção para as que fogem inovações do Sul, Sudeste, Nor-
Johns Hopkins mais de 30 mi- no Brasil. O país já soma mais área que passou por esse proces- do âmbito da saúde e proporcio- te, Nordeste e Centro-Oeste.

SUDESTE

TQ Real e o tequeño à brasileira


Jorge Luis Reyes Flores diminuiu o pessoal. Eu sabia que Jorge começou a postar as fotos Não encontramos a além de muito
nasceu em Oriente, no estado também aconteceria comigo. da iguaria no Instagram do bicicleta, apenas divertida, o
de Anzoátegui, na Venezuela. Antes do momento chegar, negócio – criado pela esposa. muita solidariedade motivo de tanta
Permaneceu em seu país natal falei com a minha esposa e nos O interesse pelo prato surgiu. O e pessoas dispostas a aprovação dos
durante 28 anos. No ano de 2018, preparamos. Precisava ser algo venezuelano fez uma dívida de ajudar”. A rede social do TQ nossos clientes”, declara.
durante a crise política e social que tínhamos experiência para R$ 4.000,00 no cartão de crédito Real recebeu muitas mensagens A fábrica hoje distribui o
venezuelana, o engenheiro que pudéssemos oferecer um para investir na produção. de clientes interessados em tequeño congelado para bares
de sistemas se despediu de serviço de qualidade. Decidimos, Comprou uma bicicleta e oferecer apoio e o episódio e restaurante, com transporte
sua esposa Ysabel Gúzman então, fazer o plano de negócios começou as entregas de tequeño despertou até o interesse de realizado pela nova bicicleta
Camacho grávida, e das filhas da TQ Real, uma fábrica de pela região. jornalistas. A divulgação do caso do venezuelano. Para o
de quatro e seis anos. Decidiu tequeños”. O prato é um quitute O negócio do casal sofreu fez com que mais consumidores consumidor, são entregues, por
tentar melhores condições, venezuelano, presente em outro baque sete dias após a chegassem ao tequeño do casal. dois motociclistas contratados,
para ajudar a família, em um comemorações do país latino. compra da bicicleta. Jorge, às Uma cliente doou uma bicicleta os quitutes fritos.
vizinho latino-americano. É uma massa de farinha de 10h, se preparava para realizar e Jorge voltou com as entregas. A meta de Jorge e Ysabel é
O venezuelano encontrou trigo frita, enrolada no recheio entregas, mas quando foi sair O tequeño da família leva o criar uma empresa grande, levar
emprego na área de formação – geralmente, queijo. Jorge e de casa, percebeu que o veículo tempo de preparação de 48 horas. tequeños aos lares brasileiros
no Brasil, em uma empresa de a esposa Ysabel apostaram na de entregas havia sido furtado. Além do recheio tradicional de e, principalmente, gerar
serviços na capital de São Paulo. receita de família para começar “Foi um momento muito difícil, queijo, a tabela Venezuela-Brasil empregos – diretos e indiretos
Após alguns meses, conseguiu o negócio: o tequeño foi a rota mas tentamos não nos abalar. proporcionou recheios com – que consigam garantir renda e
alugar um lar e trouxe a família de fuga em meio à crise. Postamos em nossas redes calabresa, carne seca, toucinho, comida para outras famílias.
para morar junto. “Saí da “Já sabíamos que o prato era sociais que fomos roubados. São presunto defumado, goiabada,
Venezuela sem conhecer minha muito saboroso, nossa missão Vicente é uma cidade pequena doce de leite e chocolate com
filha. Só conheci aqui no Brasil, era mostrar para os brasileiros”. e todo mundo se conhece, avelã. “Essa combinação de
quando ela tinha cinco meses de A TQ Real nasceu nas redes. então tínhamos esperanças. tradições e culturas tem sido, Por: Hiury Pereira
nascida. Hoje estamos aqui nós
Arquivo pessoal

quatro juntos.”, disse.


Pouco tempo após a chegada
da esposa e filhas, a empresa
teve que fechar as portas da
sede em São Paulo. Os chefes
ofereceram emprego para Jorge
no escritório de São Vicente-SP.
A família adorou o litoral e o
empregado aceitou a mudança,
em fevereiro de 2020. Um
mês depois, a pandemia da
COVID-19 se alastrou pelo
Brasil. A firma quebrou e o
funcionário ficou sem emprego. Segundo relatado no instagram @tqreal o melhor do tequeño é a praticidade. É uma comida, um lanche, um aperitivo que vai surpreender o paladar de todos
“Pouco a pouco, a empresa
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INOVAÇÃO Londrina, 9 de Outubro de 2020

CENTRO-OESTE
Cultura e alegria em meio a pandemia
Gabrieli Chanthe

Site oficial/Divulgação
É possível misturar apresenta-
ção de orquestra, arraial, pales-
tras, teatro, sessões de cinema e
Stand Up Comedy em um único
evento, em meio a pandemia do
coronavírus? Esse foi o desafio
que Nina Rocha, Luiz Augusto
Jabour (Guto), Renato de Luca
e Paulo Victor Jabour se propu-
seram a enfrentar em maio de
2020 na cidade de Brasília-DF.
O que no início parecia lou-
cura, como relata Guto, se
transformou em um dos maio-
res festivais do Brasil durante a
pandemia. O Festival Drive-In
aconteceu por 74 dias no Aero-
porto Internacional de Brasília -
Presidente Juscelino Kubitschek
e reuniu mais de 25 mil carros.
Foram 420 horas de muito en-
tretenimento.
Os quatro amigos tinham
como objetivo fazer um evento
que pudesse fomentar a cultura
da cidade, apoiar os artistas lo-
cais e gerar empregos para os
brasilienses. “Tivemos só três
semanas de preparação, conse-
guimos divulgar previamente
apenas duas semanas de apre-
sentações, depois fomos cor-
rendo atrás e trazendo mais ses-
sões”, conta Guto.
“Nós não queríamos propor-
cionar shows de sertanejo, funk,
já tem muito disso, nosso maior
O Festival Drive-in aconteceu do dia 20 de junho até 2 de setembro. O “palco” foi o Aeroporto Internacional de Brasília - Presidente Juscelino Kubitschek
desejo era colocar apresenta-
ções de música clássica. Estre- também marcaram presença. da cidade, que estão sem traba- mos que mesmo com as limita-
amos com uma orquestra daqui “Nossa grande preocupação lho desde o início da pandemia. ções foi possível uma interação
de Brasília, 25 músicos no pal- era manter todos em segurança. Além dessa colaboração, do público com os artistas”.
co, e encerramos também com Desenvolvemos um aplicativo Guto afirma que a maior recom- Guto diz que todo o festival
a orquestra, tocando a quinta para as pessoas fazerem os pe- Nossa grande pensa foi ver os artistas agrade- foi organizado por uma equipe
sinfonia de Beethoven, didos na bomboniere. O pedido cidos por terem a oportunida- de oito pessoas, que ele fez des-
em uma sessão gratuita. era entregue na vaga que o carro preocupação era de de sair de casa e fazer tanta de o contato com os artistas, até
Tinha estava estacionado”, diz Guto. manter todos em gente feliz. “Tiveram idosos que
vieram agradecer, dizendo que
a pintura das vagas “Que por si-
nal foi a parte mais difícil, tinha
Pelo aplicativo também era pos-
sível agendar um horário para segurança não aguentavam mais ficar em que ser alinhado para as pessoas
ir ao banheiro, para não casa. Teve um comediante que conseguirem ver o palco cer-
gerar filas. “Vendemos os falou - Se vocês estão emocio- tinho”. Para o organizador, a
ingressos por carro e não nados, joga uma aguinha no pa- lição que ficou é sobre superar
pela quantia de pessoas, Nina Rocha ra-brisa pra mim-, fizemos ola as dificuldades, que mesmo em
dessa forma evitamos uma de faróis (movimento tradicio- um momento tão difícil existe
aproximação para a checa- nalmente feito em plateias, com espaço para a criatividade e a
gem”, ressalta Nina. Apesar os braços), foi muito legal, vi- diversão.
de todo o esforço, ela conta que
gen-
Aeroporto Internacional de Brasília/Divulgação

no dia da apresentação de sam-


te jo- ba algumas pessoas não respei-
vem as- taram a instrução e saíram do
sistindo, carro para sambar.
idosos, crian- No Brasil, segundo a Pnad
ças, foi muito (Pesquisa Nacional por Amos-
bom ver que ainda existe espa- tra de Domicílio), até a quarta
ço para esse tipo de música. O semana de julho de 2020, fo-
arraial que fizemos também foi ram registradas 12,9 milhões de
incrível, colocamos a Estação brasileiros sem emprego. Nina
do Choro no palco e vendemos Rocha afirma que desde o início
comidinhas típicas”, relata a jor- eles fizeram de tudo para ajudar
nalista Nina Rocha. Para Guto e
nesse sentido. “Foram gerados
Nina, o evento foi uma inovação
mais de 500 empregos, tenta-
não por ser drive-in, mas por
unir essa diversidade de entre- mos oferecer o máximo de ser-
tenimento e principalmente por viços possível”. Relata também
apoiar os artistas locais. Adria- que destinaram parte da verba
na Samartini, Cátia Damasce- do evento para doar em cestas Imagem área em que os carros estacionavam do Festival. Os ingressos variaram de R$60 a R$330, por carro
no, Luiza Possi e Jorge Vercillo básicas, para os guias turísticos
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INOVAÇÃO Londrina, 9 de Outubro de 2020

NORDESTE
Na pandemia tem!

Site oficial/Maria Caroline Monteiro

O site foi um trabalho voluntário produzido por estudantes de graduação e do mestrado dos cursos de Gestão da informação e Biblioteconomia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Maria Caroline Monteiro tes de graduação e do mestrado, somente a compra em si, mas na, o objetivo não era apenas Próximos passos
em conjunto com professores também a forma como esses pe- dar oportunidade de venda e
Têm ideias novas, tem infor- da UFPE (Universidade Fede- quenos comerciantes poderiam sim, garantir que esses comer- “Nós estamos pensando em
mação, têm boas notícias, tem ral de Pernambuco) se reuniu encontrar de alternativa para ciantes fossem reconhecidos abrir plataformas para oferecer
inovação, tem empatia e tem para tentar diminuir o impacto esse período não atenuar as di- pela população que poderia pre- minicursos para esses pequenos
muita solidariedade também! da pandemia na vida de peque- ficuldades nas vendas deles” é o cisar deles. Por esse motivo, as comerciantes. Desde como eles
Essa é a “parte boa” da nova re- nos comerciantes. Eles perce- que relata o professor do Depar- evoluções do “No bairro tem!” ingressam nesse universo digital
alidade que o coronavírus trou- beram que os donos dos comér- tamento de Ciência da Informa- não pararam na plataforma. até em como eles podem criar
xe para a socie. O projeto NO cios criavam movimentos em ção envolvido no projeto, Fábio Os responsáveis pela inovação um catálogo de produtos”,
BAIRRO TEM!, idealizado e grupos de whatsapp, instagram Mascarenhas. aproveitaram da interação que conta o professor.
estruturado na região Nordeste e facebook para vender os pro- A plataforma é muito fácil de mantiveram com os comercian-
do país, vem para provar cada dutos, mas que faziam isso de usar e demorou cerca de 10 dias tes, desde a criação da platafor-
um desses itens. forma muito desestruturada e para ficar pronta. No início era ma, e começaram, por meio
Em março deste ano, logo que não tinham retorno. aberta apenas para cadastros de do instagram, a oferecer lives
o Brasil entrou em estado de Diante dessas dificuldades, comércios da região metropo- informativas. As lives acon-
emergência, muitos negócios ti- o grupo elaborou a plataforma litana de Recife. Mascarenhas tecem todas as quintas-fei-
veram que interromper o atendi- “No Bairro tem!”, tudo foi fei- conta que com a ajuda de estu- ras, às 19h, no instagram
mento ao público. Isso fez com to de forma online e voluntária, dantes de comunicação, a pla- @nobairrotem e depois
que os comerciantes perdessem já que as atividades presenciais taforma foi bem divulgada em são disponibilizadas no
seus clientes e tivessem que re- da universidade estão suspen- meios de Comunicação como perfil. Contam com
pensar todo o seu empreendi- sas. O site nobairrotem.com. TV, rádio e jornais locais. Essa convidados diferentes
mento. Alguns, por instabilidade br é útil para os comerciantes boa repercussão garantiu que a dando dicas de como
e verbas insuficientes, tiveram porque eles podem cadastrar de plataforma fosse aberta para ca- usar o instagram
que fechar as portas. Segundo forma gratuita todas as infor- dastros de comerciantes do esta- para venda, como
dados divulgados pelo IBGE mações do seu negócio como: do de Pernambuco inteiro! divulgar o negó-
(Instituto Brasileiro de Geogra- local, telefone, tipo de serviço, O sucesso foi tanto que, hoje cio no google,
fia e Estatística) o Nordeste foi a redes sociais e outros. Por ou- em dia, são mais de 300 serviços no facebook,
terceira região do país que mais tro lado, a plataforma também cadastrados em mais de 20 cate- whatsapp e
fechou comércios, ao todo fo- é essencial para os clientes, gorias diferentes. As categorias até informa-
ram 206.511 mil empresas até a que nesse período ficaram um com mais cadastros são as do ções sobre
primeira quinzena de junho. No pouco perdidos sobre a abertu- ramo alimentício, mas existem gerencia-
Brasil o número foi de 1,3 mi- ra dos comércios e não sabem outras como: manutenção resi- mento do
lhão de empresas. para onde correr quando pre- dencial, psicólogos, farmácias, negócio.
Foi dentro desse cenário que, cisam de um serviço. “A gran- decoração e muito mais.
em março, um grupo de estudan- de preocupação nossa não era Como Mascarenhas mencio-
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INOVAÇÃO Londrina, 9 de Outubro de 2020

NORTE
A chuva boa do Norte e o seu gotejar
Hiury Pereira doamos um para famílias de
Portal Cultura/Divulgação
baixa renda sem acesso à água
Noel Orlet é sócio-fundador
de qualidade, nem condições de
do Amana Katu. O projeto, com
pagar por um sistema”, detalha
sede em Belém-PA, tem como
Orlet. “Apesar de oferecermos
objetivo buscar a universaliza-
um dos sistemas mais baratos
ção do acesso e o uso sustentável
do mercado, entendemos que,
da água potável na Amazônia.
ainda sim, muita gente não tem
Sistemas de captação de água da
o recurso financeiro. O objetivo
chuva, instalados em residências
é tornar nosso impacto social
e na agricultura familiar, são uti-
mais sustentável”. O Amana
lizados para oferecer o serviço.
Katu também vende o serviço
Amana Katu, em tupi-guarani,
para empresas, ONGs e para o
significa “chuva boa”.
poder público.
O projeto teve início há três
O modelo produzido é aco-
anos, durante o torneio Desafio
plado na calha da residência. A
Inove+ 2017 – maior competi-
água da chuva escorre até che-
ção de empreendedorismo do
gar ao sistema. A primeira bar-
Pará. A ideia foi incubada como
reira sanitária depois da calha
um projeto de empreendedoris-
é um filtro grosseiro, para im-
mo social pela ENACTUS da
pedir impurezas maiores, como
UFPA (Universidade Federal do
folhas, galhos e pedras. O se-
Pará) . O Amana Katu permane-
gundo passo é o separador das
ceu por dois anos como progra-
águas – a ferramenta tem a fun-
ma da organização. Em 2019,
ção de separar e descartar os pri-
passou a trabalhar como um ne-
meiros milímetros da chuva. O
gócio autônomo e independente.
resto da água entra no sistema,
Como traz o nome de ba-
passa por um processo de dosa-
tismo, 1.3 milhões de litros da gem de cloro por gotejamento e,
Premiação do Amana Katu. Conquistaram o segundo lugar no World Water Race, competição no Vale do Silício (EUA)
“chuva” aproveitada pela inicia- por último, escorre por um filtro
tiva abasteceu 8,4 mil pessoas, COVID-19. 16,38% da população brasileira população: 40,10% e 36,67%, industrial de carvão aditivado,
até o momento, de água limpa O Brasil possua cerca de 12% não tem acesso ao abastecimen- respectivamente. para finalizar o tratamento físico
e de qualidade. Clientes e usu- da água doce disponível do pla- to de água. Em Belém do Pará, Em todas as ações, o grupo químico da água.
ários economizaram mais de neta. Apenas na região Norte sede do Amana Katu, apenas do Amana Katu acompanha os Em 2019 essa inovação con-
R$300.000 em contas de água, se encontra aproximadamente 70,9% da população é atendida indicadores sociais, ambientais quistou o segundo lugar no
energia e medicamentos. A im- 80% da água do país. Dados do pelo serviço. Na região Norte, e econômicos. “Os nossos siste- World Water Eace, competição
portância do acesso à água des- ranking do saneamento básico as capitais Macapá-AP e Por- mas de captação de água da chu- que premia todo ano as melho-
taca-se ainda mais em uma crise 2020, elaborados pelo Institu- to Velho-RO prestam o serviço va são vendidos no modelo 5/1. res iniciativas do mundo na te-
sanitária como a pandemia de to Trata Brasil, informam que essencial a menos da metade da A cada cinco modelos vendidos, mática água e saneamento.
Divulgação

A meta é levar a tecnologia criada para 25% da Amazônia brasileira até 2030, impactando a vida de 2 milhões de pessoas que, com acesso a água de mais qualidade, terão melhores condições de saúde
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INOVAÇÃO Londrina, 9 de Outubro de 2020

SUL
Uma porção de África em Maringá
Hiury Pereira em que exercia a atuação pro-

Divulgação
fissional, o bissau-guineense se
“Em 14 anos no Brasil, fre-
organizava para montar um res-
quentei vários bares e restau-
taurante com temática e raízes
rantes. Aqui tem de todos os
africanas.
tipos: japonês, italianos, chinês,
Em setembro de 2020, o Ta-
tailandês, mexicano, árabe. Po-
banka Restaurante abriu as por-
rém, não tinha nada que reme-
tas, em meio a pandemia do co-
tesse à África”. A declaração de
ronavírus. A proposta do local
Ronelson Furtado Balde destaca
é trazer a África ao Brasil, por
a falta de representação da co-
meio da cozinha, em um am-
zinha africana ofertada no co-
biente que se relaciona ao con-
mércio gastronômico do Brasil
tinente. “O nome faz alusão às
– mesmo com toda a influência
vilas e aldeias de casas simples,
do continente em terras tupini-
cobertas de palha e com chão
quins.
de terra. Onde as pessoas no
quesito financeiro podem não
ter quase nada, mas são muito
felizes em relação à alegria, à
harmonia com a natureza e ao
respeito com os mais velhos. O
lugar busca trazer essa sensa-
ção: tanto na decoração, quan-
to na apresentaçãoe na comi-
da”, relata o proprietário.
As expectativas do local são
as melhores. Os clientes gosta-
ram da temática e da comida.
Pouco tempo após a inaugu-
ração, o restaurante já alcança
clientes até de fora da região
em suas redes sociais. Regis-
tros dos visitantes são constan-
tes, toda noite, no Instagram.
“É animador. Embora a gente
saiba que trabalhar com músi-
Ronelson nasceu em Guiné-
ca, comida e decoração africana
-Bissau e se mudou para Marin-
seja algo desafiador, o resultado
gá-PR, com 21 anos, para fazer
até agora tem sido incrível”.
a faculdade de Direito. Após a
O cardápio do restauran-
graduação, teve grande atuação
te tem a missão de ser o mais
na discussão sobre imigrantes e
abrangente possível com os 54
refugiados. O advogado foi pre-
países da África. Um dos pratos
sidente da comissão dos estran- mais populares do Tabanka é a
geiros, imigrantes e refugiados cachupa – uma feijoada típica
da OAB Maringá. Atualmente, da Guiné-Bissau e de Cabo Ver- Na conta do instagram @tabankarestaurante eles costumam publicar o cardápio e os pratos mais servidos
é presidente da AERM (Asso- de. A iguaria foi servida no sá-
ciação dos Estrangeiros Resi- bado de inauguração do restau- de semana. Porém, o restauran- dos clientes, a queridinha cabo- O menu conta com pratos fi-
dentes na Região Metropolitana rante. A intenção de Ronelson te recebeu muitos pedidos pela -verdense estará disponível no- xos e as alterações serão feitas
de Maringá). Ao mesmo tempo era variar o cardápio a cada fim volta da cachupa e, para alegria vamente. ao passar dos meses. No primei-
ro mês, a cozinha se encontra
na região da África Ocidental
– Guiné-Bissau, Cabo Verde,
Quênia, Senegal, entre outros
países. “Também é uma viagem
gastronômica e cultural, porque
a África tem uma riqueza imen-
sa para ser exibida. Nossa pro-
posta é percorrer o continente
inteiro, para que o maringaense
possa viajar e conhecer a África
sem sair de Maringá.”
Drinks e aperitivos do conti-
nente também são servidos no
restaurante. A próxima meta é
entrar nos aplicativos de entrega
e produzir pizzas com sabores
africanos. Em pouco menos de
uma semana de funcionamen-
to, o restaurante de Ronelson
já marca presença e exerce pa-
pel representativo da culinária
africana, tão rica, mas esqueci-
Arquivo pessoal

da por especialistas e chefs que


ditam a tendência gastronômica
do Brasil, com olhos e paladar
Alguns dos pratos oferecidos no Tabanka Restaurante são: caldo de peixe com a banana verde, guizado de carne com grão de bico, croquete de peixe e outros
guiados pelo eurocentrismo.
Economia
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Londrina, 9 de Outubro de 2020

PANDEMIA

Novo cenário desafia londrinenses


Isolamento, desemprego e protocolos de higiene causam mudanças na economia de Londrina
Jair Segundo
Rodrigo Dourado

Rodrigo Dourado

A pandemia da Covid-19 pe-


gou os brasileiros de surpresa no
início deste ano. Além do medo
e da insegurança em questões
relacionadas à saúde, as pes-
soas precisaram lidar com um
cenário de crise nos empregos.
Segundo dados divulgados pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), cerca
de 9 milhões de brasileiros fica-
ram desempregados no primeiro
trimestre da pandemia, o que
elevou a taxa de desemprego
para 13,3% no país. O Instituto
apontou ainda que o comércio
foi o setor mais atingido, com
mais de 2 milhões de postos de
trabalho fechados devido às difi-
culdades encontradas pelos em-
presários.
Além da desaceleração, a
economia passa por mudanças
nas formas de consumo e traba-
lho. Segundo a Fecomércio-SP
(Federação do Comércio do Es-
tado de São Paulo) e Ebit, em-
presa que monitora lojas de co-
mércio online, o setor avançou
seis anos em seis meses, tanto Entre as principais mudanças na rotina dos brasileiro está o uso constante de álcool em gel para higienização das mãos e líquido para limpeza de outras superfícies.
na oferta quanto na demanda,
de novos MEI (Microempreen- tou com longos períodos de fe- office ganhou força nesse perí- dores com registro na carteira
em São Paulo, estado que sedia
dedores Individuais) durante a chamento do comércio e outros odo. Segundo um levantamento de trabalho, portanto, na prática,
o maior número de empresas de
pandemia. A modalidade de for- setores da economia. A maioria realizado pelo Diesse (Departa- o número é muito maior.
e-commerce.
malização de empreendedores das cidades seguem protocolos mento Intersindical de Estatísti-
Segundo a a Pnad Contínua
foi a que mais cresceu e conta de abertura desde abril, o que cas e Estudos Socioeconômicos) Reflexos em Londrina
(Pesquisa Nacional por Amos-
com incentivo do governo fede- divida as opiniões entre aqueles e divulgado pelo portal Londrina
tra de Domicílios Contínua), o
ral, que retirou a obrigatorieda- que defendem o funcionamento TV, até julho deste ano, mais de Em Londrina, a nova realida-
número de entregadores cres-
de de alvarás de funcionamento normal do comércio e os que 500 mil paranaenses já tinham de refletiu em mudanças e adap-
ceu 104,2% em uma sincronia
para os MEI. temem pelas consequências que adotado o trabalho remoto. Esse tações exigidas pelos órgãos
entre alta demanda pelo serviço
O Paraná foi um dos estados as aglomerações podem causar. total representa cerca de 10% oficiais do munícipio, como a
e crescimento de 27% no de-
menos afetados pela pandemia No entanto, mesmo com a da força de trabalho do estado. adoção do distanciamento so-
semprego. Isso refletiu também
no Brasil, em números relativos possibilidade de funcionamento Vale ressaltar que esse número cial, da limitação de público e da
no aumento da venda de motos,
à população, por isso não con- presencial, a dinâmica de home considerou apenas os trabalha- higienização constante das lojas,
em 16%, um dos poucos setores
restaurantes e demais locais de
industriais aquecidos durante o
Jair Segundo

convivência pública. O comér-


período de isolamento social,
cio também passou a funcionar
visto que uma série de serviços
com horário reduzido, das 10h
e empresas que não contavam
às 16h e os Shoppings tiveram
com o delievery passaram a
uma série de mudanças em seus
adotar este serviço.
horários de funcionamento con-
Uma pesquisa da Nielsen
forme os decretos municipais .
Media Research também apon-
Os que comerciantes que sobre-
tou uma mudança em escala
viveram à crise, precisaram se
global na demanda por bens de
readaptar.
consumo. A venda de alimentos
Mas o “novo normal” não
e produtos de higiene no vare-
atingiu apenas as empresas. Os
jo cresceu, principalmente itens
londrinenses precisaram colocar
de manutenção geral da saúde e
a criatividade em prática para
do bem-estar. Itens armazená-
encontrarem novas alternati-
veis por longos períodos, como
vas de renda e contornarem às
grãos, leite, alimentos prontos
dificuldades financeiras. Nesta
congelados e carnes foram os
editoria, você conhece jovens
principais responsáveis pelo
que sentiram na pele e no bolso
crescimento na receita dos su-
a necessidade de se reinventar,
permercados.
assim como o restaurante que,
após mais de uma década de fun-
Empreender para viver
cionamento e de ter presenciado
diversos cenários econômicos
O empreendedorismo se tor-
e políticos, precisou readaptar
nou uma alternativa ao desem-
todo o seu funcionamento para
prego e às novas demandas. O
continuar servindo os londrinen-
país registrou quase um milhão
O município decretou como obrigatório o uso de máscaras em locais públicos da cidade, como praças e áreas de lazer. ses.
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Economia Londrina, 9 de Outubro de 2020

MUDANÇAS RÁPIDAS

Do aplicativo à vitrine no buffet: restaurantes são


afetados pela pandemia e precisam se reinventar
Quando a família Shen veio
Rodrigo Dourado

tentar a vida no Brasil, em 1998,


abrir um restaurante não era uma
opção. A matriarca Liu Hsiu Ha-
siang cozinhava e vendia suas
comidas em feiras de Taiwan,
seu país natal, mas junto com o
marido Shen Chao Chi Chi ten-
tou empreender em diferentes
setores, em São Paulo e Londri-
na, como venda de galões água,
botijões de gás e flores. Apenas
em 5 de junho de 2004 um imó-
vel da família na Rua Pio XII,
centro de Londrina, deu lugar
ao restaurante vegetariano Tchin
Min.
Não é de se estranhar que
essa família esteja habituada às
adversidades. Com a quaren-
tena causada pela pandemia de
Covid-19 não foi diferente. O
Tchin Min funciona no almoço e
tradicionalmente com buffet por
quilo, mas esse modelo mudou
rapidamente. O delivery passou
a concentrar os esforços dos
Shen enquanto o restaurante es-
tava fechado e a reabertura exi-
giu uma adaptação ainda maior,
com mudanças no tradicional
buffet e cuidados sanitários.
Haydn Shen, gerente do esta-
Durante o horário de almoço no Tchin Min, a maior parte dos colaboradores é deslocada para atendimento no buffet, onde foi instalada uma cortina transparente.
belecimento, conta que perdeu
noites para repensar o modo “absurdo”. anos, advogada e bancária, é ram testes para covid-19. Entre criadouro de porcos.
funcionamento do restauran- O aplicativo próprio, lança- cliente do restaurante há anos e os clientes, as mudanças foram Equilíbrio nas contas
te. Uma das principais medidas do em junho, possibilita maior aprovou as mudanças, mas con- de perfil e produtos mais vendi-
foi criar um aplicativo próprio, contato com os clientes, reduz o ta que antes mesmo da pande- dos. “Aqui vinham muitas famí- Mesmo com a criatividade e
em alternativa aos tradicionais preço final dos produtos e me- mia costumava pedir marmitas, lias e idosos, que têm dificulda- o sucesso das medidas imple-
aplicativos de delivery, como lhora a qualidade, através de para retirada ou entrega. de de acesso às redes sociais e mentadas no restaurante, a arre-
Ifood, Rappi e Uber Eats. “O uma parceria com um aplicativo As adaptações resultaram em muitos nem sabem que estamos cadação não voltou ao normal e
lado negativo dos aplicativos local de entregas. Haydn con- alterações no fluxo de trabalho abertos”, conta Haydn. As ven- no melhor dia de vendas na pan-
começa com a taxa de até 27%. ta que a quantidade de pedidos e das demandas. No horário de das de marmitas dispararam e se demia chegou a 60% do obtido
Além disso, os dados dos meus pelo aplicativo próprio é muita funcionamento do restaurante, tornaram também uma solução em períodos comuns. Mesmo
clientes ficam nas mãos deles. pequena, por isso envia pan- quase todos os colaboradores se para evitar desperdício. As mar- assim, nenhum funcionário foi
‘Quem é esse cliente? Quando fletos. junto aos pedido feitos concentram na montagem dos mitas são montadas com os itens demitido, alguns apenas tiveram
é o aniversário desse cliente’. por outros aplicativos, com QR pratos no buffet, função inexis- do buffet antes do fim do horário contratos suspensos, e as contas
Os motoqueiros deles também Code para direcionar os clientes tente antes da pandemia. de funcionamento do restauran- seguem sendo pagas.
apresentam mais -problemas. à plataforma do restaurante. Na cozinha cada funcionário te. A comida não aproveitada Haydn Shen conta como foi
Muitos clientes receberam mar- Quando o restaurante reabriu tem sua bancada e todos realiza- em marmitas é enviada para um possível equilibrar as contas
mitas reviradas”, pontua a ge- para consumo nas mesas, em sem demissões: “alguns anos
Rodrigo Dourado

rente. abril, houve a necessidade de atrás eu comecei uma poupança,


O Ifood, aplicativo mais po- mais adaptações e para isso foi mas [com a pandemia] acabou
pular de delivery, não conta necessário conversar com gesto- todo meu fundo. O que entra
mais com número de telefone res de restaurantes vegetarianos agora é o suficiente para pagar
para suporte aos lojistas e clien- parceiros e chegar às melhores os gastos e, mesmo assim, foi
tes. Sobre o mecanismo de co- soluções. A principal alteração necessário cortar investimentos
municação entre plataforma, foi no buffet, agora coberto por em equipamentos e renegociar
restaurantes e consumidores, uma capa transparente, pela qual pagamentos de fornecedores”.
Haydn se queixa e exemplifi- os clientes escolhem as porções Apesar das dificuldades, a ge-
ca com uma situação recente: e um funcionário do restaurante rente se mantém otimista para
“Eu recebi uma classificação de monta o prato e pesa. A capaci- o futuro do restaurante e acredi-
três estrelas porque um clien- dade do salão foi reduzida em ta que a absorção público con-
te não recebeu talheres, porém mais da metade, para apenas 30 quistado com o delivery possa
este cliente não pediu. Eu não clientes e recipientes com álcool se manter fiel, já que em uma
tenho nem o contato direto des- em gel foram distribuídos pelas das plataformas a classificação
se cliente, nem o e-mail”. Por mesas. do restaurante é de 4,8 estrelas,
outro lado, a plataforma criou A adaptação que inibe a tra- numa escala de até cinco estre-
um clube de recompensas, no dicional liberdade do buffet foi las. “É realmente muito gratifi-
qual lojistas com boas reputa- controversa: “tem gente que cante saber que nosso trabalho
ções podem trocar pontos por não gosta e vai embora. Mas a tem gerado resultados positi-
benefícios, como prioridade de maioria gosta porque se sentem vos”, complementa.
atendimento, o que a gerente seguros”, conta Haydn Shen. É
do Tchin Min classificou como o caso de Loriane Fedato, 44 Para economizar, restaurante tenta tornar aplicativo popular entre os clientes. Por: Rodrigo Dourado
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Economia Londrina, 9 de outubro de 2020

EMPREENDEDORISMO

Empreender de casa: mulheres que se adaptaram ao


novo normal para contornarem a crise financeira
As jovens afirmam que para elas

Maria Alice / Arquivo pessoal


Arquivo pessoal

é importante poder contar com


alguém de confiança, que leve
as encomendas com o mesmo
carinho e cuidado que elas fo-
ram feitas. “Além disso, a gente
quer ajudar pessoas que também
estão lutando para contornar as
dificuldades financeiras de ago-
ra, por isso contratamos o Jorge,
nosso colega que estuda Serviço
Social na UEL”, complemen-
tam.
Gabrielly e Rúbia seguem
a procura de um trabalho, mas
não pretendem deixar a Casa
Sabô de lado, já que ambas são
grandes entusiastas da culinária.
A expectativa é de expandir o
cardápio e as regiões de entrega.
Enquanto isso, a Casa Sabô con-
tinua sendo, segundo Gabrielly,
um step para ajudar nas difi-
culdades financeiras, mas ainda
não conseguiu cobrir a renda
A panqueca de frango com molho vermelho é uma das delícias da Casa Sabô. que faltou nos primeiros meses
A designer acredita que a moda expressa a personalidade de cada pessoa.
da pandemia. As jovens empre-
Adaptar. Resistir. Reinventar. tena, as duas se viram em uma endedoras seguem investindo
Esses verbos viraram quase pa- situação desesperadora financei- na divulgação do cardápio por Por mais que seja um trabalho da no projeto, mesmo diante de
lavras de ordem para os mais de ramente. que exija um investimento cons- todas as dificuldades. No perfil
meio do Instagram @casasabo tante em materiais, visto que @kawmisetas é possível encon-
200 milhões de brasileiros que Após 2 meses de espera pelo e aceitando encomendas pela
estão vivenciando a pandemia auxílio emergencial do gover- cada peça é única e personaliza- trar alguns estilos já feitos pela
mesma rede social. da conforme o pedido do clien- designer e encomendar uma
da Covid-19. Precisamos nos no e com as contas apertando,
adaptar ao novo normal, resistir as jovens criaram a Casa Sabô, te, Kawana afirma que o projeto customização personalizada.
Maria Alice / Arquivo pessoal

ao desafio do isolamento social um negócio autônomo de enco- tem dado certo e que sua situa-
e reinventar a forma como cum- mendas de massas pré-finaliza- ção financeira já está um pouco Adaptar, resistir e reinventar
primos com as nossas responsa- das. “A gente projetou e colocou mais estável. A demanda de pe-
bilidades diárias. Em Londrina, tudo em prática em menos de 1 didos tem sido satisfatória, mas Em meio a empresas fechan-
desde que a quarentena foi de- mês porque a necessidade era ainda não o suficiente para se do as portas e pessoas perdendo
cretada em março, surgiram di- grande. Por mais que o projeto tornar a principal fonte de renda seus empregos, Rúbia, Gabrielly
versos negócios autônomos de esteja crescendo devagar, já es- da estudante, que também é bol- e Kawana são grandes exemplos
sista em um projeto de Iniciação da resiliência humana. Mulhe-
pessoas que viram no empreen- tamos conseguindo um retorno
Científica na UEL. No entanto, res de força e de coragem que
dedorismo a chance de sobrevi- que tem ajudado no dia a dia”,
ela quer continuar se aprimoran- enxergaram oportunidades em
verem à crise financeira do mo- comenta Rúbia. No entanto, o
do e divulgando o seu trabalho meio a crise e se apropriaram,
mento. auxílio emergencial continua
nas redes sociais. da forma mais positiva possível,
As jovens Gabrielly Vargas, sendo a principal fonte de renda
dos meios remotos disponíveis
21 e Rúbia Letícia, 25, enxer- das sócias no momento.
hoje para se reinventarem.
Maria Alice / Arquivo pessoal

garam a possibilidade de renda Além do desafio de ini-


Por meio das redes sociais,
financeira no ramo alimentício ciar um novo negócio, Gabrielly
elas conseguiram fazer com que
e resolveram colocar a mão na e Rúbia afirmam que as medidas Kawana é a designer do KawMisetas.
mais pessoas conhecessem seus
massa. “A gente organizava uma de higiene contra o Coronavírus
trabalhos. Até o fechamento
festa mensal e vendia coxinhas têm sido norteadoras de todo o Empreendedorismo criativo
desta reportagem, a Casa Sabô
na UEL (Universidade Estadual processo de produção da Casa e a KawMisetas contavam com
de Londrina) como fontes prin- Sabô, desde a higienização in- Porém, alimentos não são a 414 e 299 seguidores no Insta-
cipais de renda, mas com a pan- tensa dos alimentos e dos uten- única solução de empreendedo- gram, respectivamente. Núme-
demia tivemos que parar tudo e sílios até o cuidado na hora de rismo para quem precisa de uma ros estes que têm potencial para
nos vimos diante de uma grande embalar e entregar as marmitas. nova fonte de renda nesse perío- continuarem crescendo e con-
dificuldade financeira”, conta Quanto às entregas, as empresas do de pandemia. A necessidade vertendos-se em lucro para as
Gabrielly. Ela relata ainda que, de delivery nunca foram uma de ajudar a família em casa foi o jovens empreendedoras. Mes-
nos primeiros meses de quaren- opção para as empreendedoras. que levou a estudante de design mo quando a pandemia acabar,
gráfico Kawana Constancio, 21, a marca dessas mulheres estará
Arquivo pessoal

a iniciar o projeto KawMisetas, cravada no empreendedorismo


no qual oferece customizações Camisa estampada pela KawMisetas. londrinense.
em peças de roupas usadas ou Seja produzindo alimentos
novas. A jovem conta que o Ins- Mais do que uma fonte de para entrega ou se envolvendo
tagram foi essencial para iniciar renda, Kawana encontrou nas com trabalhos artísticos, essas
o projeto: “Eu pintei uma cami- customizações uma forma de jovens londrinenses fazem jus
seta para dar de presente para se ocupar e de se expressar ar- aos três verbos pontuados no
uma amiga e depois que publi- tisticamente. Além disso, a es- início dessa reportagem. E, en-
quei as fotos nas minhas redes, tudante enxerga a moda e a for- quanto for necessário, afirmam
algumas pessoas vieram per- ma como as pessoas se vestem que seguirão se adaptando, re-
guntar se eu estava fazendo para como manifestações de suas sistindo e se reinventando.
vender e disseram que estavam personalidades e afirma que isso
Gabrielly (esquerda) e Rúbia (direita) são as idealizadoras da Casa Sabô. interessadas.” também a faz se manter motiva- Por: Jair Segundo
16

Economia Londrina, 9 de outubro de 2020

NOVO SERVIÇO ESSENCIAL


Em duas rodas, entregador faz a diferença na pandemia
e leva serviços essenciais aos lares londrinenses
Talvez adaptação seja a pa- troca do mesmo valor de quando motoboy nas 1 mil cidades que Este termo “uberização” co- tes que precisam de deslocar
lavra mais usada nessas linhas. o mundo era “normal”. A forma o aplicativo opera. Parece ser a meçou a ser aplicado a partir de um local para o outro. Sem
Com as medidas mais rigorosas mais comum de pagamento des- opção mais simples e moderna do crescimento da moderni- tantos trâmites, a pessoa pode
de contato entre comerciante e ses profissionais é oferecer um para quem quer entrar zação. Ele varia passar a gerar certa renda, que
consumidor, aumentou a pre- valor fixo e alimentação. Atu- no ramo, mas do nome da parte vai para a empresa. Po-
sença de um intermediador des- almente, são eles que fazem o Jorge alerta empresa rém, como não há um vínculo
sa relação: o entregador. Mesmo mundo continuar na ativa e o di- para a tão Uber, empregatício e a profissão é ir-
que entregadores já existissem nheiro circular através das suas discu- e m regular, as jornadas podem pas-
antes da pandemia, eles precisa- entregas, mas a marginalização tida que sar de 10 horas e o montante
ram se adequar às novas deman- da profissão continua alarman- “ube- mo- de dinheiro arrecadado incerto.
das e ao risco à própria saúde, te. Além disso, estão em con- riza- to- Os motoboys vivem com fre-
que já era grande. tato direto com a possibilidade ção” ris- quência com a incerteza do dia
Um levantamento feito pela de contrair a Covid-19. Nessas d o tas seguinte. Para os entregadores
Quero Bolsa, baseado nos mi- condições, em um cenário ideal, tra- re- que usam da mesma técnica de
crodados da Pnad-Covid, mos- os motoboys passariam a rece- b a - ce- aplicativos, o cenário não é di-
trou que 42 mil brasileiros ber tanta renda quanto eles ge- lho. bem ferente. “Ela [empresa] cadas-
cursando ensino superior se de- ram. Porém, mesmo delivery se usan- tra a pessoa no app com o MEI
clararam como “entregador de tornando uma opção para várias do um e diz que a pessoa é empreen-
mercadorias”, seja de restauran- pessoas em busca de emprego, a aplicativo dedora. Mas, na real, é uma
tes, farmácias, lojas, aplicativos, profissão continua às margens. conforme forma da pessoa trabalhar para
etc. Jorge William é um deles. De acordo com um le- for a deman- você sem que você tenha que
Aos 24 anos, Jorge cursa ser- vantamento do iFood, em da dos pagar os direitos dela, como
viço social na UEL (Universida- entrevista concedida à clien- FGTS, férias, PIS e afins”, ex-
de Estadual de Londrina) e tra- Reuters, foram mais de plica Jorge.
balha com delivery. O principal 175 mil inscrições
instrumento de trabalho é sua para trabalhar
moto. De uma hora para outra, como
se viu na linha de frente de um
dos trabalhos mais arriscados, e
ao mesmo tempo demandados,
na pandemia do novo corona-
vírus. Consumidores que iam
a restaurantes, bares e lan-
chonetes para se alimentar,
passaram a ficar em casa.
Quem vai até eles são os
milhares de “Jorges”.
Se você se debruçar em
sua janela, é possível es-
cutar ao fundo o motor de
uma moto. Não importa a
hora, esse som preenche as
ruas de Londrina. Jorge,
que trabalha fixo para um
restaurante durante o al-
moço, conta que percebeu
o aumento de colegas de la-
bor e o aumento no núme-
ro dos pedidos que entrega
após março de 2020. O ser-
viço que o atraiu pela possi-
bilidade de equilibrar estudo
e trabalho, acabou pesan-
do em um lado dessa ba-
lança. Ele começou a
trabalhar mais pelo
mesmo salário.
Entregadores
do Brasil todo
passaram a
rodar mais
quilôme-
tros por
dia em
17

Economia Londrina, 9 de outubro de 2020


Rodrigo Dourado

O “Breque dos app” iniciou em julho deste ano, após a alta dos pedidos, aumento de novos entregadores e a queda do valor oferecido pelos aplicativos para R$ 0,53 por cada quilômetro rodado.

Partindo dessa marginaliza- se tem o conhecimento dos bas- a taxa mínima pelo quilômetro pou da manifestação, porque partida para uma futura regulari-
ção da atividade de entregas, tidores. Através de grupos em rodado era de R$1,50. Depois, não faz uso dos apps e precisa- zação de um trabalho que coloca
manifestações surgiram no país. redes sociais, são marcados dias caiu para R$0,93, chegando até va trabalhar no dia para o seu a saúde dos envolvidos em risco
O “Breque dos app” iniciou em específicos para a suspensão dos a R$0,53. Uma entrega de 10 restaurante fixo. “Como futuro todos os dias.
julho deste ano, após a alta dos serviços. A intenção é de que as km de distância geraria uma mé- assistente social, tive que pas- Jorge prefere trabalhar longe
pedidos, aumento de novos en- ruas sejam tomadas não mais dia de 8 reais. Até o fechamento sar lá para ver como estava [...]. das telas dos celulares. Ele gos-
tregadores e a queda do valor pela moto cortando o trânsito, desta matéria, o litro da gaso- Em Londrina, a categoria é bem ta de ver a rua e quem preenche
de cada quilômetro rodado que mas por cada vida que precisa lina no Brasil gira em torno de fragmentada fato que fez ter ela. Estar no dia a dia e fazer
os aplicativos oferecem. O mo- do seu sustento. R$4,234, de acordo com o site uma baixa adesão do no ‘bre- parte da cidade. Ele aguarda,
vimento consiste na paralisação Para entender a situação des- Global Petrol Interprices. O pa- que’”, explicou. Embora seg- porém, poder fazer tudo isso de
nacional dos deliveries e ir às se “breque”, a Revista Ópera cote de arroz, em um supermer- mentado, o movimento ganhou novo sem temer tanto pelo ama-
ruas mostrar para a população a entrevistou um motoboy inscri- cado, atualmente pode chegar a páginas de jornais da cidade e nhã.
verdadeira face do trabalho que to nessas plataformas. Ele ex- R$40,00. do país. A discussão foi iniciada,
só chega até eles, mas que não plicou que, antes da pandemia, Jorge conta que não partici- isso é fato. Pode ser o ponto de Por: Bruna Melo
Jair Segundo

Se você se debruçar em sua janela, é possível escutar ao fundo o motor de uma moto. Não importa a hora, esse som preenche as ruas de Londrina, do norte ao sul. É o som do novo serviço essencial.
CULTURA
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Londrina, 9 de Outubro de 2020

QUEDA LIVRE

“Evento é cultura”: a pandemia e o


interminável clima de fim de festa
Crise quebrou empresas, causou demissões e obrigou profissionais a procurar alternativas
Como a maior parte das atividades, o jornalismo precisou se adaptar aos tempos
de pandemia. A equipe responsável por essa reportagem fez todo o material das
próximas cinco páginas sem poder se reunir presencialmente. Para mostrar
um pouco do impacto disso, optamos por incluir elementos que retratam certas
situações de bastidores.

Lucas Petinatti

O prejuízo do setor de produção de eventos durante a pandemia fez milhares de profissionais dos bastidores perderem seus empregos e os forçou a buscar alternativas para sobreviver à crise.

Lucas Petinatti
Toda virada de ano nos dá a tudo ao redor parece que vai semana estava lotada até no- alguém para gravar, né?
sensação de algo novo surgindo piorando de forma tão gradu- “E quando você vembro. Todos os sábados e E aí veio março. E eu per-
magicamente com a mudança do al que só percebemos quando domingos recheados de casa- cebi como 2020 seria mesmo
numeral em nossos calendários. chegamos ao final dele. Porém,
menos espera, a mentos para registrar, noivados, diferente.
Dezembro de 2019 não foi dife- desta vez, finalmente estávamos vida vai lá e te aniversários e eventos de lança- Estava novamente com a
rente nesse quesito, todos achá- certos! As coisas mudaram pra mento de marcas. agenda livre, caso alguém qui-
vamos que 2020 seria especial. valer! surpreende!” Já não tinha mais com que sesse me chamar para sair. Só
Havia até um certo misticismo, Olhe como começou diferen- me preocupar, e era só janei- que agora não dava nem pra sair.
2020. te: pela primeira vez na minha ro. Sempre soube que trabalhar Apesar de todos os meus traba-
A verdade é que todo ano carreira como produtor audio- Clarice Lispector com eventos era uma boa, muita lhos terem sidos desmarcados,
acaba sendo praticamente igual, visual, a agenda nos finais de gente junta sempre precisa de alguns compromissos não muda-
19

CULTURA Londrina, 9 de Outubro de 2020

ram de data. O aluguel, as con- timo ramo a ter suas ativida-

Tiago Bueno
tas e as parcelas do apartamento des normais liberadas. A in-
A quebradeira em números continuam chegando como se
nada tivesse acontecido. A espe-
dústria vai voltar, o comércio
também, mas os casamentos
rança do diploma de jornalismo não. Nem os shows. Por isso
No início da pandemia, o Sebrae estudou os im- no final do ano se foi, e o que o Gusttavo veio tanto a ca-
veio em troca foi o sentimento lhar. Para quem odiava ouvir
pactos das prmeiras medidas de isolamento so- de inutilidade. A solidão. o Tchetcherere na balada, foi
cial sobre o setor de eventos: Já dizia Clarice Lispector que como um canto angelical. O
“quando você menos espera, a que uma situação adversa faz
vida vai lá e te surpreende“. Pois com nossos padrões de qua-
é Lice, quem diria que o Gust- lidade, não é mesmo? Estava
98% das empresas do setor tavo Lima ia salvar o meu dia! decidido. Vamos fazer lives.
foram afetadas por adiamentos e Nunca fui fã de sertanejo, mas Se você me perguntasse al-
cancelamentos de trabalhos nada contra quem gosta. Só não guns meses atrás, eu não sa-
consigo me imaginar de botas e beria nem dar um exemplo de
chapéu, tocando berrante para a live de sucesso. Porém, mais
boiada, ouvindo uma viola. Não rápido que pós-graduação
sou muito simpatizante desse EaD e miojo instantâneo (que
65% dos entrevistados esperava gado atual. não é tão instantâneo), eu tive
perder ao menos 78% no fatura- Depois dele vieram Jorge e que me especializar em produ-
mento em relação a abril de 2019 Mateus; Matheus e Kauan; só o ção de lives. Não tinha curso
Kauan; Bruno e Marrone; e to- para isso, nem incentivo para
dos os outros artistas existentes tal. Somente o dia 10 do outro
no país. Nunca pensei que fosse mês chegando faminto e mi-
dizer isso, mas, obrigado Gust- nha conta já bem magrinha.
tavo! Foi através desse boom de Eu me preparava para mais
64% das empresas esperava não lives que tive a chance de fazer uma live, mas ainda tinha
ter que demitir funcionários pelo algo durante esse momento. algo importante a resolver
menos até julho Imagine só, trabalhar no úl- no WhatsApp.

Em agosto, pesquisa da Associação Brasileira de


Empresas de Eventos (ABEOC) mostrava
o tamanho do estrago:

Mais de 580 mil vagas de


empregos diretos já tinham
desaparecido

O número de eventos cancelados


ou adiados no país ultrapassava
300 mil

O prejuízo estimado já era de R$


90 bilhões

517
é o número de setores correlatos
que o mercado de eventos
movimenta em condições
normais, segundo a ABEOC
20

CULTURA Londrina, 9 de Outubro de 2020

A manifestação em Curitiba
É comum a gente ficar mais frente à Praça Dezenove de De-

Isabelle Marina
reflexivo quando está ocioso. zembro, em Curitiba – também
Não que eu esteja tão ociosa conhecida como “praça do ho-
nessa pandemia – àqueles que mem nu”. Logo de cara, algo me
esqueceram: sim, nós ainda es- chama a atenção: uns caminhões
tamos em uma pandemia, viu? gigantescos estacionados. Eles
Mas, querendo ou não, a mi- traziam as cases. Sabe cases?
nha rotina (ou suposta rotina) Aquelas em que os produtores
começou há pouco tempo, no fi- levam algumas coisas de ilumi-
nal de julho. Até então eu estava nação, umas caixas pretas bem
mergulhada em um mar de dúvi- grandes, com rodinhas?
das, de pensamentos sobre o eu, Então, eram essas cases que
sobre o coletivo, e esgotada das estavam espaçadas uma da outra
mais de mil e uma peripécias perfeitamente, como se estives-
que um período quarentenado sem construindo um monumen-
me obrigara a fazer. to em homenagem a arquitetura
Fiquei mais atenta aos deta- pós-modernista soviética. E não
lhes da rua - mais do já era an- eram poucas. Do que eu e meu
tes. Via artistas no semáforo e cérebro conseguimos contar,
me lembrava da classe artística uns 200 metros só de cases. Per-
desse país, dos produtores de guntei a uma das organizadoras
eventos, etc., que foram absur- do evento, “todo pessoal, cada
damente afetados pela pande- um, tem uma case?”. E ela, mui-
mia. Indo mais direto ao ponto: to simpática, respondeu: “não, a
os que se foderam. maioria vai ter case, mas os sem
É, my champs, a vida nunca case vão estar no final da fila, lá
é justa, realmente. Decidi, nesse atrás”. Ou seja, o tamanho da
meio tempo, ir à casa dos meus passeata era maior que do eu
pais na capital paranaense. Lon- imaginava!
drina se torna uma cidade detes- Eu cá me pergunto como ta-
tável entre o final de agosto e o manha movimentação simbó-
começo de setembro. É um ca- lica não chamou a atenção dos
lor infernal. Por que não ir para governantes. Qualquer cidadão
minha querida Curitiba, sem- que andasse na rua ou visse isso
pre fresca, chuvosa até demais, no jornal, na internet, na TV,
onde antimofo vale mais que sabe Deus, ia ter sua atenção di-
qualquer coisa? recionada.
É feriado... nada muito con- Os pacotinhos dados a cada
tagiante em voltar para a casa participante da manifestação
de uma família bem barulhenta também eram chamativos. Eu
(não há dúvidas que meus ances- nunca tinha visto uma distribui-
trais sejam sicilianos). Já perto ção tão boa de lanchinhos aos
de voltar ao calor londrinense, colaboradores de uma manifes-
soube que ia acontecer uma ma- tação. Nunca tinha visto lanchi-
nifestação dos profissionais do nhos para manifestantes, para
setor de eventos na terça-feira ser bem sincera. A manifestação
após o Sete de Setembro. E eu dos organizadores de eventos
pensei, por que não? Eu não era bem organizada.
estava exatamente escrevendo Pergunto mais uma vez para
sobre isso para uma matéria da uma das organizadoras sobre
faculdade? tudo isso. Sandriane Fantinato,
Então lá fui eu, como boa jor- ela me diz seu nome. E conta
nalista que sou. Sete e meia, em que todos os que ali estivessem Profissionais de eventos bloquearam rua com seus cases para chamar a atenção das autoridades.
Isabelle Marina

Para realizar a manifestação na Praça Dezenove de Dezembro, em Curitiba, os organizadores tomaram precauções quanto ao distanciamento social e mediram a temperatura dos participantes.
21

CULTURA Londrina, 9 de Outubro de 2020

Isabelle Marina
O lado B da passeata
Eu sou Paulo Ricardo Giolando e trabalho para uma
empresa de áudio, de eventos, que atende com equi-
pamentos de iluminação também. Antes da pandemia,
eu estava exercendo a função de técnico em um projeto
que a empresa atende, era um projeto de Lei Rouanet.

Tá tudo parado. A gente tem feito muito pouco trabalho


em algumas lives, mas são bem poucas mesmo! Em cinco
meses eu fiz seis lives, por aí. A empresa tem um envolvi-
mento muito forte com o pessoal da cultura, a galera bicho
grilo da cidade, que continua fazendo arte sem dinhei-
ro. E a gente é a galera que vai executar a parte técnica.

Então, o que a gente recebeu de renda foi algo dos pro-


jetos culturais já aprovados - que foi repassado antecipa-
damente - e teremos que executar quando puder. E é essa
renda que tá mantendo a gente vivo ainda. Além de coisas
do tipo, um vende o carro; o outro, a guitarra. Cê sabe, né?!

A gente é basicamente como um artista. O artis-


ta depende de estar trabalhando para ter uma qua-
O presidente da Associação Brasileira de Empresas de Eventos, Fábio Skraba, e a gerente comercial Sandriane Fantinatto. lidade de vida melhor. Tem sido bem difícil para
mim e para todos os meus colegas de profissão.
tinham que ter se registrado e novo e saber mexer bem com Realmente fome! Os que con-
medido a temperatura antes de tecnologia, então tem trabalha- seguem atrasam contas para não Tem o pessoal que tá mexendo com entrega de aplica-
ir para a passeata. E, obviamen- do com uma ou duas lives por passar fome. Eu fui atrás de doa- tivos, outros fazendo pão caseiro e vendendo. Cada um se
te, sempre com máscara. “Ma- mês e mais algumas coisinhas ções de cestas básicas para essas vira do jeito que pode. O auxílio emergencial tem ajudado
nifestação pós contemporânea”, que estão dando pra bancar as pessoas. Mas cesta básica não muito, inclusive a mim, mas agora já vai cair pela metade.
penso eu. dívidas “no limite”, como ele paga conta, não vem remédios,
É interessante como o pessoal disse. não vem fraldas e por aí vai...” Mas sabe o interessante nisso tudo? É que existe al-
de eventos é diverso. Pessoas de Papo vai, papo vem, Batata Karan é um sujeito que por guma sorte, porque, em geral, a galera da área é muito
todo tipo se concentravam numa solta uma informação impor- sorte não está passando pelo severino, entende? O cara faz som e luz, o cara mon-
manhã de terça-feira no centro tante: a maior parte das pessoas mesmo que alguns colegas de ta e desmonta, sobe no ground, a galera se pendura. O
da cidade. de eventos são freelas e ganham área. Mas está sem trabalhar. cara tem curso de eletricista. A galera tá se virando por
A manifestação começa e eu por evento, por noite, por apre- “Para os empresários e algumas ser multifunção... não todos, é claro, mas os que são.
decido ficar um pouco na passe- sentação. Nem todos têm alvará outras pessoas, é a quebradeira. Bico de lá e cá. Mas, mesmo assim, tá muito difícil.
ata. Alguns cartazes me chocam de autônomo e/ou MEI, e pou- Infelizmente, já tem empresas
– talvez por até então eu não quíssimos tem carteira assinada. fechando e falindo”, conta. Já a galera de camisa preta, pelo menos em grande parte
ter assimilado a dimensão do “As aglomerações estão das capitais, se juntou, conseguiu arrecadar alimentos. Eu
problema. Leio coisas do tipo acontecendo e os governos não
“fomos esquecidos pelo nosso
“Colaboradores estão fazendo nada. Os únicos
não sou muito envolvido com a galera dos cases, por di-
vergências políticas mesmo. O teor do grupo camisa preta
governo”, “nos ajude a sobrevi- e profissionais proibidos de retornar ao traba- não é algo que eu me identifique. Comecei a ver que tava
ver”, “somos 12% do PIB e fo- lho são os profissionais de even- virando uma questão política. E assim acabei me afastan-
mos esquecidos”, “180 dias sem autônomos tos e cultura. E estão passando do. A forma que eu tive de me envolver agora na pandemia
trabalho, sem faturamento, sem
renda”. Então, paro pra refletir e
estão necessidades básicas”, ele expli-
ca. Então o que ele pede é que
foi fazendo algumas doações para meus colegas, ainda
mais porque, no primeiro mês da pandemia, eu acabei re-
começo a colocar os pingos nos passando fome! algo seja feito, porque “nós que- cebendo. Tinha bastante coisa pra receber, eu estava bem
“i”s. Seis meses é muito tempo remos acabar com isso. Quere- melhor que alguns outros indivíduos naquele momento.
mesmo. FOME!” mos que as pessoas façam suas
Lembro de ter conversado festas, mas com o protocolo de Sabe... eu acho que tem o “ideal” e a realidade. Eu não
com um sujeito em Londrina, segurança”. sou aquela pessoa que apressa calendário. Que vai lá pedir
que atende pelo nome de “Ba- José Luiz Karan Essa informação casa com para as músicas voltarem a tocar em bar. Não concordo
tata”. Não, eu não vou citar seu outra observação do Batata. “O com isso. A gente tem que fazer tudo o que for possível para
nome civil. Acho que não há cidadão que tá no bar e no res- evitar que as pessoas saiam de casa. A gente se ferrou, infe-
necessidade. “Batata” engloba Retornemos a passeata. Es- taurante não fica de máscara. lizmente. Se a gente tinha dez trampos, agora, temos zero.
bem quem ele é. As pessoas mal cuto as frases de guerra: “que- Só coloca quando levanta da
sabem o nome real dele, mas remos trabalhar, evento é cultu- mesa... complicado, complica- Minha reivindicação seria que a gente tivesse segui-
todo mundo conhece o Batata! ra”. Frases que não são entoadas do... é muito injusto com a gen- do um lockdown de verdade. Se a gente tivesse sido
Por favor, caros leitores, des- como normalmente se espera te. Tudo lotadão e só a gente que um país com comandantes mais inteligentes, né, pro-
culpem-me as delongas, mas é em uma manifestação. Os gritos não tá podendo trabalhar”. vavelmente, a gente já estaria conseguindo trabalhar.
isso que um cérebro ansioso faz eram poucos. As vozes não mui- É com essa que encerro a mi- Eu acredito que agora essa galera que está protestando
com você: tenho dificuldades to acaloradas. Acredito que isso nha jornada de passeata e retor- quer se arriscar mais para sobreviver mesmo. Não tem
em seguir uma linha de raciocí- se deve à realidade em que nos no à casa de meus pais para ter- como esperar. O cara tem que ganhar o pão de cada dia.
nio e ser objetiva como esperam encontramos. É como se o brasi- minar de organizar minha volta
Acervo Pessoal

que eu seja. leiro nem tivesse mais a pulsão para a Nova Londres. Recebo
Conheci o Batata em um deli- de quem só toma no #@. uma mensagem. É do Lucas,
very de chopp na minha rua. Eu O desânimo está na face dos meu colega de produção jorna-
- como os que ainda estão ten- que se encontram em situação lística, Ele comentou que talvez
tando manter a quarentena, po- crítica, de quase desespero. O tivéssemos perdido a oportuni-
rém sedentos por uma cerveja, trabalhador e empresário da área dade de aprofundar nosso con-
vulgo breja - vou até o delivery de produção está demasiado teúdo indo até uma manifesta-
pegar meu litrinho de chopp e cansado de tentar fazer com que ção da galera de eventos. Eu ri
levar para casa e beber em paz, o governo preste atenção neles. e disse: “seu mané, eu estou em
sem peso na consciência. Antes de partir, troco ideia Curitiba e acabei de sair da pas-
Na fila e com distanciamento com o fotógrafo José Luiz Ka- seata, logo lhe passo as infor-
social, troco ideia com o rapaz. ran, um dos porta vozes da passe- mações quentinhas para o nosso
Batata me conta que é técnico ata. E ele ressalta que “colabora- material”.
Paulo Giolando discorda de alguns pontos defendidos na passeata.
de som e trabalha com eventos dores e profissionais autônomos
grandes. Sua vantagem é ser estão passando fome. FOME! Por: Isabelle Marina
22

CULTURA Londrina, 9 de Outubro de 2020

A crise é a hora de reinventar


Depois dessa mega crise que drina que é conhecido no país Lima! E, por mais bizarro que
se abateu sobre a minha profis- inteiro. Na noite daquela live, isso possa parecer, obrigado co-
são, comecei a ver, por outra eu percebi que precisave de de- rona! Oportunidade em meio ao caos
perspectiva, as possíveis saídas terminação para me reinventar. Não por ter feito coisas boas, A blogueira Mikaely Lopes mora em Assis, no interior de
para esse momento. As empre- mas por ter me tirado da zona São Paulo, e percebeu que dava pra ganhar uma grana dando
sas estão mais interessadas em
lives.
Os artistas estão de conforto. Sei que para a
maioria das pessoas a realidade
dicas de beleza e vida saudável no Instagram. Aos 21 anos,
a influencer soma mais de 3 mil seguidores na rede social e
Os artistas estão descobrindo descobrindo da pandemia não foi a mesma, tem parcerias com empresas da área de cosméticos. A internet
aquilo que os famosos influen- mas acredito que tudo - de uma
cers já sabiam. O Gabriel Silvei- aquilo que forma ou de outra - passa. Esse
também foi a maneira que ela encontrou para divulgar sua
própria clínica de estética, na qual atende presencialmente.
ra, mais um dos meus colegas de
pauta, descobriu que tem gente
os famosos transtorno vai passar e a gente
vai continuar tendo fé que o pró-
influencers

Divulgação
conseguindo enxergar solu- ximo ano será melhor.
ções em meio à pandemia. Lembra de 2009? A gente
E é dos influencers que eu já sabiam. pensava que o vírus do Tche-
tô ganhando o pão de cada dia. tcherere nunca ia sair da nossa
Eles fazem suas lives com mui- Eu não desisti de fazer o que cabeça? Pois é, passou.
tas frases de sabedoria e intera- gosto e isso acabou me colo- E, pelo menos pra mim, aca-
ção com seus amorecos, e isso cando em outros trabalhos, com bou ensinando muita coisa de-
me salva durante a pandemia. pessoas que eu nunca imaginei pois.
A maior que eu fiz foi a do conviver.
Rezende, um youtuber de Lon- Obrigado de novo, Gusttavo Por: Lucas Petinatti

Tiago Bueno

A influencer Mikaely Lopes aposta nas lives para divulgar seu trabalho.
O espaço virtual ganha força

Quando a pandemia chegou e nos obrigou a ficar


mais tempo em casa, as redes sociais fortaleceram
seu papel na vida em sociedade.

Em março, no começo da
quarentena, o Instagram registrou
aumento de 70% no uso das lives

Segundo o YouTube, a procura


por conteúdo ao vivo no Brasil
cresceu 4.900% na quarentena

Estudo da consultoria Forrester


e da IBM mostra que a audiência
das lives pode ser até 20 vezes
maior que a de vídeos gravados.
Divulgação

2,7
milhões
É o número de acessos
simultâneos que o cantor
Gusttavo Lima obteve em live
do dia 12 de abril

Por: Gabriel Silveira


23

crônica Londrina, 9 de Outubro de 2020

Acordo inspirado. 07 da manhã, meu café na mão e


um João do Rio na mesa.

“Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar,


ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem. Flanar é ir por aí,
de manhã, de dia, à noite, meter-se nas rodas da populaça, admirar o
menino da gaitinha ali à esquina.”

Queria ter o vírus da observação, João. Mas o único que esta tendo não me
deixa sair. Sei que prometi à você acompanhar o menino da gaitinha, mas
não vai rolar. Essas rodas da populaça vão ter que esperar, eu vou ter que es-
perar, de dia à noite aqui em casa, para assim então poder flanar como você.

Afinal de contas, o que é flanar?

“Andar sem rumo, de modo ocioso, sem coisas com as quais se preocu-
par”

Vish, João. Se sair por ai sem rumo, vou ter muito com o que me
preocupar depois. Mas acho que sei de um lugar onde posso ficar
bem ocioso e não pegar nenhum, vírus. Bom....
lá também posso pegar vírus, mas não ESSE vírus. Pelo me-

A ALMA nos para esse já existe uma


vacina.

ENCANTADORA
Vamos começar novamente então?

Acordo inspirado. 08 da manhã, meu café na


mão e um Instagram na mesa.

DO INSTA Começo a deslizar o dedo, sem rumo,


sem coisas com as quais me preocupar.
Lucas Petinatti A Live das 05:30 dos motivados já
acabou e agora não passa tanta gente
no insta como no almoço ou de
noite. Alguns gatos pingados de
tias mandando bom dia com gifs
animados coloridos até demais;
uma propaganda de tênis e um
cara vendendo um curso qual-
quer.

Depois que essas publicações


mais recentes passam, começo
a adentrar em um submundo
não muito visitado, as postagens
remanescentes do dia de ontem.
Os Stories dos bêbados camba-
leando nas ruas da madrugada; a
festinha que o João me chamou
mas não fui, ainda bem que não
fui; a população toda junta come-
morando. Só não sei o que comemo-
rar ainda, os 100 mil?

Seu João do Rio, sei que você era meio


contra esse processo de higienização, mas
acho que aqui no meu Insta, vou ter que
aderir.

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