Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EDITORIAL
Em torno da Corona
Gutemberg Medeiros consenso que todas as edi- Como a editoria de Saúde, familiar, recebendo produ- A quarta capa é a cara
torias tratariam sobre a pan- que traz matéria com den- tos da legião de entregado- desse jornal, com os rostos
Em meados de março de demia sob óticas específi- sa reportagem participan- res que não param de rodar dos que o fizeram tal qual
2020 boa parte do mundo cas. Além disso, buscou-se te sobre a linha de frente pela cidade. A originalida- se viu na plataforma que é a
foi tomado pela Covid-19. um olhar original, seja com do atendimento hospitalar. de também se evidencia na redação virtual. Diversida-
Distanciamento social, uso histórias e personagens até Já em termos de inovação, editoria de Cultura, com re- de na Unicidade. Estes no-
de máscaras, protocolos sa- saídas para as extremas li- esta editoria palmilhou to- cursos de linguagem virtu- vos jornalistas conseguem
nitários e álcool gel entra- mitações impostas. Inclusi- das as regiões do país de al para o texto jornalístico. ter suas próprias vozes ao
ram no cotidiano de quase ve a apuração jornalística, como profissionais se rein- Com sensibilidade retoma buscar formas de expres-
todos. As mudanças se es- priorizando-se não o ato de ventaram em seu cotidia- Clarice Lispector sobre o sar a realidade cada qual à
tenderam aos mais diferen- ir pessoalmente entrevistar no, aliando determinação e quanto a vida surpreende sua maneira sobre o mes-
tes ofícios e o jornalismo as fontes, mas via Internet. criatividade. a todos e a reportagem re- mo tema. Ideias na cabeça
não foi diferente. O mesmo O que não comprometeu a Também vai na encontrar vela como como é possível e Internet nas mãos. Traba-
aconteceu com este jornal qualidade do que o leitor na editoria de Economia, ao surpreender a vida. Enfei- lharam lembrando Eric Ne-
laboratório. tem na tela de seu PC ou se deparar com empreende- xando-se com uma crônica pomuceno e a sua antiaula
Da construção da pauta mobile. dores talhando espaços sob dialogando com João do inaugural. Jornalismo é
na segunda semana de mar- Originalidade em relação as condições do novo nor- Rio, um de seus principais contar histórias. Falar de
ço à retomada via Internet ao jornalismo informativo mal. Como o som do esca- artífices nesta tradição bra- gente viva no cotidiano. Li-
a realidade se impôs. Foi o leitor vai encontrar aqui. pamento de moto ficou tão sileira. teratura de não ficção.
Jornal Laboratório produzido pelo 4º ano noturno do Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Estadual
de Londrina, para a disciplina de Edição de Jornal Laboratório, sob orientação do Professor Doutor Gutemberg Medeiros.
3
saúde
CORONAVÍRUS
Londrina, 9 de Outubro de 2020
Medo e ansiedade:
cotidiano da linha de
frente da Covid-19
Conheça a rotina e os desafios de uma profissional do Hospital
Vida durante a pandemia
Óbvio que, com o comércio fechado e as pes- pados com o trabalho. As máscaras já pareciam
Isabela Albano Buriola soas em casa, não tinha corrida e, consequente- normais, como se fossem até um novo membro
O começo de 2020 foi difícil para minha mente, não tinha dinheiro em casa. do nosso corpo. Quando tirávamos para almo-
família. A pandemia veio para nos assustar e, Nosso desespero estava enorme e eu come- çar, algumas pessoas até falavam: “nossa, colo-
mais que isso, complicar muito a nossa situação cei a procurar emprego em tudo quanto é lugar. ca a máscara, é muito estranho ver vocês sem”.
financeira. Em maio vi uma publicação no Facebook mos- O problema veio em julho, junto com os
Meu irmão estava morando em Florianópolis trando que o Hospital Vida precisava de uma profissionais que foram efetuar o teste da Co-
há um ano. Perdeu o emprego e, sem condições recepcionista. Enviei meu currículo pelo e-mail vid-19 em todos os funcionários e pacientes do
para se bancar, precisou voltar para Londrina fornecido e, uma semana mais tarde, fui chama- hospital. Lembro da sensação horrível daquele
e trabalhar como Uber. Meu pai mora em São da para fazer a entrevista. cotonete enorme entrando em meu nariz. Lem-
Paulo há sete anos e, desde então, abriu cinco Fui contratada e um misto de sentimentos me bro-me mais ainda do péssimo sentimento que
lojas no Brás – aquele bairro conhecido por veio à mente. Ao mesmo tempo em que me sen- apareceu uma semana mais tarde, quando vá-
concentrar compradores e revendedores de todo tia feliz e aliviada por conseguir um trabalho, rios funcionários foram afastados por testarem
o Brasil. Nem preciso falar que a pandemia pensava constantemente que aquilo podia colo- positivo. Uma recepcionista que fizera plantão
complicou tudo, né?! car a minha vida e a de minha mãe em risco, já comigo um dia antes também foi confirmada.
Meu pai e os demais comerciantes tiveram que o local é um hospital psiquiátrico que com- Eu só conseguia pensar: “meu teste deu negati-
de fechar as portas das lojas por dois meses. porta quase 300 pacientes e 200 funcionários. vo, mas isso já faz uma semana. E se eu estiver
Os alugueis das lojas continuaram vindo e os com o vírus agora? Como vou pegar ônibus?
funcionários – com toda a razão – precisaram Mundo de máscaras Como vou chegar perto da minha mãe? Como
do salário. Como garantir que essas despesas vou almoçar com essas pessoas sem me arris-
fossem pagas se as lojas não estavam abertas? Confesso que, com o tempo, meu sentimento car?”.
Impossível. Meu pai fechou três das suas cinco foi mudando. O medo deu lugar ao comodis- Vários pacientes também tiveram o vírus de-
lojas e até agora (mesmo com o comércio rea- mo e, mesmo com todos os cuidados tomados, tectado. Difícil saber quem estava mais tenso:
berto) precisa tomar vários calmantes para con- é como se o problema do vírus tivesse ficado eles ou seus familiares, que nos ligavam o dia
seguir dormir e gerenciar as únicas duas lojas para trás. Já não tinha tempo para assistir aos todo buscando por notícias.
que sobraram. jornais e me sentia confortável em um mundo Com o surto, o hospital ficou quase um mês
Eu e minha mãe moramos juntas. Só nós tão normal quanto antes – embora estivesse co- sem receber novas internações. Os pacientes
duas. No começo da pandemia foi muito difí- berto por máscaras. saíam, mas não entravam. Além do medo de
cil, pois meu pai não conseguiu mais nos ajudar Percebi que muitas pessoas que trabalhavam arriscarmos a saúde, havia o receio de sermos
financeiramente. Meu contrato de estágio foi fi- comigo estavam como eu. Nossa rotina não ti- demitidos por falta de verba.
nalizado e a renda da casa vinha do trabalho de nha parado e, no momento que muitos estavam Todos os dias recolhíamos atestados de fun-
motorista de aplicativo que minha mãe realiza. aflitos e ansiosos em casa, nós estávamos ocu- cionários que acabavam de chegar da UPA (Uni-
44
dade de Pronto Atendimento) por apresentarem A situação dos funcionários que trabalham trabalhar no hospital e sabia que aquilo era ar-
sintomas do novo coronavírus. Colocávamos os no isolamento também não é fácil. Eles preci- riscado. Meu problema não era com a minha
atestados na pasta azul do setor de RH (Recur- sam se equipar com avental, máscara, luvas e própria saúde, era com a saúde daqueles que eu
sos Humanos) e imediatamente nos “banháva- óculos. Depois que saem de lá, tudo é descarta- não sei viver sem.
mos” de álcool em gel. do. As marmitas que entram no isolamento não Minha mãe já passou dos 50 anos e não tem
Com tantos afastamentos, percebi que muitos saem de lá. Caso alguém não tenha comido, por a imunidade tão alta. Meu pai, além da idade,
funcionários ficaram sobrecarregados. Alguns exemplo, a comida precisa ir toda para o lixo. fumou por mais de 20 anos. Meu irmão teve
que eram do período do dia, por exemplo, apa- Fato é que, independente de os funcionários bronquite. Minha tia mais próxima não tem um
reciam à noite para trabalhar. Ficavam mais de estarem no isolamento ou nas demais alas, nin- dos pulmões. Como dormir tranquila? Se al-
12 horas tratando dos pacientes. guém sai totalmente imune do estresse e da so- guém tiver a resposta, eu juro que compro.
A situação melhorou no decorrer de agosto. brecarga que o momento proporciona. Médicos, Apesar de minhas fortes crises de ansiedade,
Aos poucos, os funcionários afastados volta- enfermeiros, técnicos, psicólogos, assistentes esse foi o único dia em que chorei por medo.
ram, e as internações também. Apesar disso, sociais, cozinheiros, equipe de limpeza, recep- Recordo de ter visto uma reportagem na TV so-
as internações não voltaram da mesma forma cionistas, todo mundo. Todos, de alguma forma, bre uma menina que perdeu a mãe devido à do-
de antes. Agora, os pacientes chegam todos no estão na linha de frente. Todos são essenciais ença. Ela estava desolada. E, por alguns minu-
mesmo dia – o que nos deixa loucos e tensos para que o trabalho com qualidade continue. E tos, mesmo sem conhecê-la, era como se aquela
de tantos afazeres – e são encaminhados para o todos possuem pessoas importantes em casa. dor também fosse minha. Pensei em como seria
isolamento. Não é fácil sair sem a certeza de que vai vol- perder, de uma hora para outra, as pessoas mais
O isolamento é um lugar separado para aten- tar bem. A gente tenta não pensar no pior, nem importantes da minha vida.
der apenas os novos pacientes. Eles ficam lá por bagunçar a mente por um turbilhão de senti- Esse sentimento machuca. É triste saber que,
sete dias, sem sair para o pátio, para verificar se mentos, mas tudo o que podemos fazer é nos mesmo fazendo o máximo possível, nós não
apresentam algum sintoma da Covid-19. Depois cuidar e torcer para que nada de ruim aconteça. estamos imunes aos riscos. Para quem sofre de
disso, são encaminhados para as demais alas do ansiedade, isso é como enfiar aos poucos uma
hospital (com acesso ao pátio) e o isolamento é Ansiedade me destrói aos poucos faca no peito e torcer para que o socorro não
ocupado por outros novos pacientes. tarde.
Você consegue imaginar como é ficar sete Sempre sofri com ataques de ansiedade e Hoje tento pensar positivo, me cuidar e man-
dias em um local isolado? Muitos ali estão lu- isso ficou mais intenso com a pandemia. Lem- ter a minha fé. Acho que a esperança por um
tando contra a dependência química, a ansie- bro que, quando o vírus chegou em Londrina, momento melhor não pode morrer jamais. A
dade, a depressão... Muitos, além de lutarem eu assistia ao jornal diariamente e em vários fase não é boa, mas isso não vai durar para sem-
contra seus transtornos psiquiátricos, também horários. pre. Digo-lhes uma frase que ouvi e nunca mais
lutam contra a saudade dos familiares que, de- Um dia despenquei a chorar pensando na esqueci: “tenha calma e respire. Os dias ruins
vido à pandemia, não podem visitá-los. minha família. Eu estava prestes a começar a também terminam”.
Foto:Ana Flávia Gomes
“A gente tenta
não pensar
no pior, nem
bagunçar a mente
por um turbilhão
de sentimentos,
mas tudo o que
podemos fazer
é nos cuidar e
torcer para que
nada de ruim
aconteça ”
Isabela Buriola
“Hoje tento pensar positivo, me cuidar e manter a minha fé”
5
SAÚDE MENTAL
PAUSA NA FORMAÇÃO
Foto:Arquivo pessoal
Até fevereiro de 2020, Vilma Apesar de todas as mudanças ra, a técnica de enfermagem foi Mesmo que seja funcionária do bilidade de levar o vírus para casa
de Fátima dos Reis, técnica de en- na rotina da técnica de enferma- à DASC (Divisão de Assistên- HU, hospital de referência para o era seu maior incômodo.
fermagem, chegava ao HU (Hos- gem, a maior surpresa aconteceu cia à Saúde da Comunidade), da tratamento da Covid-19 em Lon- Isolada em casa com o marido,
pital Universitário) de Londrina, em um sábado, durante o plantão. UEL (Universidade Estadual de drina, Vilma não pode afirmar Vilma tomou todos os cuidados
vestia o jaleco e ia conhecer o Com fortes dores de cabeça que Londrina). Lá, foi atendida por categoricamente que foi infecta- necessários. Durante duas sema-
paciente. Hoje, chega ao local de não davam trégua mesmo com um médico que realizou a coleta da pelo novo coronavírus no tra- nas, dormiu em quartos separa-
trabalho e gasta vários minutos medicamentos, Vilma percebeu do exame swab. No mesmo dia, balho. Assim como em todos os dos e teve um banheiro exclu-
na paramentação: máscara, tou- que havia algo errado. Somado veio o diagnóstico: positivo para casos, os profissionais da linha de sivo. Nos primeiros dias após o
ca, capacete, luvas, face shield. à provável enxaqueca, notou um o novo coronavírus. frente não podem afirmar se con- diagnóstico, decidiu não contar
Todos os EPIs (Equipamentos de mal-estar no corpo. Neste mo- No momento em que recebeu traíram o vírus no hospital ou no aos pais para não preocupá-los.
Proteção Individual) são necessá- mento, pegou o celular e infor- o resultado do exame, Vilma teve supermercado, por exemplo. A notícia só foi dada à mãe de
rios para prevenir a contamina- mou à equipe do hospital que não de ouvir o médico dizer: “você Mesmo assim, essa não era Vilma nos últimos dias do isola-
ção pelo novo coronavírus. estava se sentindo bem. está bem, mas precisa ficar aten- uma questão importante para Vil- mento. A técnica de enfermagem
E os equipamentos de prote- Mesmo que os sintomas não ta. Na maioria dos casos, os sin- ma. Neste momento, sua maior conta que os pais não desconfia-
ção não são a única barreira. Para fossem os mais comuns quando tomas da Covid-19 pioram no dé- preocupação estava em casa: seu ram, já que as conversas por vi-
Vilma, a maior mudança pôde fala-se em Covid-19 – como tos- cimo dia, que é o mais crucial”. marido, que é diabético, fator de deochamada eram rotina antes do
ser observada na comunicação se, espirro, coriza e falta de alta Surpresa, a técnica de enferma- risco para a Covid-19. Com o re- diagnóstico positivo.
com o paciente. Se antes o con- – a técnica de enfermagem ficou gem se sentiu frustrada, pois, sultado positivo para a doença, Hoje, curada da doença, Vilma
tato era bem visto e incentivado, em alerta. Com o passar das ho- apesar de estar bem, sabia que seu maior medo era transmitir o voltou ao trabalho. Contudo, os
hoje é totalmente proibido. Não é ras, os sintomas foram passando poderia ter uma piora no décimo vírus e comprometer a vida de impactos não ficaram no passado:
possível tocar, apertar a mão, dar e, na noite de domingo, já não dia. Somada a essa sensação, se quem tanto ama. Para a técnica de a cada dia, percebe que os casos
um abraço de despedida. Com a sentia incômodo algum. lembrou de alguns colegas de tra- enfermagem, os profissionais da só aumentam e que a população
pandemia, a forma de atender e Apesar da melhora, Vilma foi balho que testaram positivo para saúde escolhem suas profissões não tem tomado consciência da
de se comunicar com os colegas orientada pelos profissionais do a doença e se encontram interna- sabendo dos riscos. Contudo, gravidade da doença.
e com os pacientes foi totalmente HU a procurar um profissional dos na UTI (Unidade de Terapia seus familiares não participaram
afetada. de saúde. Assim, na segunda-fei- Intensiva). dessa escolha e, por isso, a possi- Por: Caroline Knup Tonzar
8
Inovação
5 REGIÕES
Londrina, 9 de Outubro de 2020
Banco de imagens
O Brasil ocupa a 62 posição no ranking de 131 países da IGI (Índice Global de Inovação). Diulgação da WIPO (Organização Mundial da Propriedade Intelectual) no dia 2 de setembro de 2020
Gabrieli Chanthe lhões de pessoas foram infec- de 135 mil mortos. Em meio a so de abrir novos horizontes. nam outros aspectos, também
Hiury Pereira tadas pelo coronavírus em todo essa realidade, muitos esforços Nesta viagem pelas inovações muito necessários, em um mo-
Maria Caroline Monteiro o mundo até setembro de 2020. se voltaram para inovar na área nas cinco regiões do país, volta- mento tão caótico. Conheça as
Segundo a Universidade Desse número, 4,5 milhões só da saúde. Porém, não foi só essa -se a atenção para as que fogem inovações do Sul, Sudeste, Nor-
Johns Hopkins mais de 30 mi- no Brasil. O país já soma mais área que passou por esse proces- do âmbito da saúde e proporcio- te, Nordeste e Centro-Oeste.
SUDESTE
CENTRO-OESTE
Cultura e alegria em meio a pandemia
Gabrieli Chanthe
Site oficial/Divulgação
É possível misturar apresenta-
ção de orquestra, arraial, pales-
tras, teatro, sessões de cinema e
Stand Up Comedy em um único
evento, em meio a pandemia do
coronavírus? Esse foi o desafio
que Nina Rocha, Luiz Augusto
Jabour (Guto), Renato de Luca
e Paulo Victor Jabour se propu-
seram a enfrentar em maio de
2020 na cidade de Brasília-DF.
O que no início parecia lou-
cura, como relata Guto, se
transformou em um dos maio-
res festivais do Brasil durante a
pandemia. O Festival Drive-In
aconteceu por 74 dias no Aero-
porto Internacional de Brasília -
Presidente Juscelino Kubitschek
e reuniu mais de 25 mil carros.
Foram 420 horas de muito en-
tretenimento.
Os quatro amigos tinham
como objetivo fazer um evento
que pudesse fomentar a cultura
da cidade, apoiar os artistas lo-
cais e gerar empregos para os
brasilienses. “Tivemos só três
semanas de preparação, conse-
guimos divulgar previamente
apenas duas semanas de apre-
sentações, depois fomos cor-
rendo atrás e trazendo mais ses-
sões”, conta Guto.
“Nós não queríamos propor-
cionar shows de sertanejo, funk,
já tem muito disso, nosso maior
O Festival Drive-in aconteceu do dia 20 de junho até 2 de setembro. O “palco” foi o Aeroporto Internacional de Brasília - Presidente Juscelino Kubitschek
desejo era colocar apresenta-
ções de música clássica. Estre- também marcaram presença. da cidade, que estão sem traba- mos que mesmo com as limita-
amos com uma orquestra daqui “Nossa grande preocupação lho desde o início da pandemia. ções foi possível uma interação
de Brasília, 25 músicos no pal- era manter todos em segurança. Além dessa colaboração, do público com os artistas”.
co, e encerramos também com Desenvolvemos um aplicativo Guto afirma que a maior recom- Guto diz que todo o festival
a orquestra, tocando a quinta para as pessoas fazerem os pe- Nossa grande pensa foi ver os artistas agrade- foi organizado por uma equipe
sinfonia de Beethoven, didos na bomboniere. O pedido cidos por terem a oportunida- de oito pessoas, que ele fez des-
em uma sessão gratuita. era entregue na vaga que o carro preocupação era de de sair de casa e fazer tanta de o contato com os artistas, até
Tinha estava estacionado”, diz Guto. manter todos em gente feliz. “Tiveram idosos que
vieram agradecer, dizendo que
a pintura das vagas “Que por si-
nal foi a parte mais difícil, tinha
Pelo aplicativo também era pos-
sível agendar um horário para segurança não aguentavam mais ficar em que ser alinhado para as pessoas
ir ao banheiro, para não casa. Teve um comediante que conseguirem ver o palco cer-
gerar filas. “Vendemos os falou - Se vocês estão emocio- tinho”. Para o organizador, a
ingressos por carro e não nados, joga uma aguinha no pa- lição que ficou é sobre superar
pela quantia de pessoas, Nina Rocha ra-brisa pra mim-, fizemos ola as dificuldades, que mesmo em
dessa forma evitamos uma de faróis (movimento tradicio- um momento tão difícil existe
aproximação para a checa- nalmente feito em plateias, com espaço para a criatividade e a
gem”, ressalta Nina. Apesar os braços), foi muito legal, vi- diversão.
de todo o esforço, ela conta que
gen-
Aeroporto Internacional de Brasília/Divulgação
NORDESTE
Na pandemia tem!
O site foi um trabalho voluntário produzido por estudantes de graduação e do mestrado dos cursos de Gestão da informação e Biblioteconomia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Maria Caroline Monteiro tes de graduação e do mestrado, somente a compra em si, mas na, o objetivo não era apenas Próximos passos
em conjunto com professores também a forma como esses pe- dar oportunidade de venda e
Têm ideias novas, tem infor- da UFPE (Universidade Fede- quenos comerciantes poderiam sim, garantir que esses comer- “Nós estamos pensando em
mação, têm boas notícias, tem ral de Pernambuco) se reuniu encontrar de alternativa para ciantes fossem reconhecidos abrir plataformas para oferecer
inovação, tem empatia e tem para tentar diminuir o impacto esse período não atenuar as di- pela população que poderia pre- minicursos para esses pequenos
muita solidariedade também! da pandemia na vida de peque- ficuldades nas vendas deles” é o cisar deles. Por esse motivo, as comerciantes. Desde como eles
Essa é a “parte boa” da nova re- nos comerciantes. Eles perce- que relata o professor do Depar- evoluções do “No bairro tem!” ingressam nesse universo digital
alidade que o coronavírus trou- beram que os donos dos comér- tamento de Ciência da Informa- não pararam na plataforma. até em como eles podem criar
xe para a socie. O projeto NO cios criavam movimentos em ção envolvido no projeto, Fábio Os responsáveis pela inovação um catálogo de produtos”,
BAIRRO TEM!, idealizado e grupos de whatsapp, instagram Mascarenhas. aproveitaram da interação que conta o professor.
estruturado na região Nordeste e facebook para vender os pro- A plataforma é muito fácil de mantiveram com os comercian-
do país, vem para provar cada dutos, mas que faziam isso de usar e demorou cerca de 10 dias tes, desde a criação da platafor-
um desses itens. forma muito desestruturada e para ficar pronta. No início era ma, e começaram, por meio
Em março deste ano, logo que não tinham retorno. aberta apenas para cadastros de do instagram, a oferecer lives
o Brasil entrou em estado de Diante dessas dificuldades, comércios da região metropo- informativas. As lives acon-
emergência, muitos negócios ti- o grupo elaborou a plataforma litana de Recife. Mascarenhas tecem todas as quintas-fei-
veram que interromper o atendi- “No Bairro tem!”, tudo foi fei- conta que com a ajuda de estu- ras, às 19h, no instagram
mento ao público. Isso fez com to de forma online e voluntária, dantes de comunicação, a pla- @nobairrotem e depois
que os comerciantes perdessem já que as atividades presenciais taforma foi bem divulgada em são disponibilizadas no
seus clientes e tivessem que re- da universidade estão suspen- meios de Comunicação como perfil. Contam com
pensar todo o seu empreendi- sas. O site nobairrotem.com. TV, rádio e jornais locais. Essa convidados diferentes
mento. Alguns, por instabilidade br é útil para os comerciantes boa repercussão garantiu que a dando dicas de como
e verbas insuficientes, tiveram porque eles podem cadastrar de plataforma fosse aberta para ca- usar o instagram
que fechar as portas. Segundo forma gratuita todas as infor- dastros de comerciantes do esta- para venda, como
dados divulgados pelo IBGE mações do seu negócio como: do de Pernambuco inteiro! divulgar o negó-
(Instituto Brasileiro de Geogra- local, telefone, tipo de serviço, O sucesso foi tanto que, hoje cio no google,
fia e Estatística) o Nordeste foi a redes sociais e outros. Por ou- em dia, são mais de 300 serviços no facebook,
terceira região do país que mais tro lado, a plataforma também cadastrados em mais de 20 cate- whatsapp e
fechou comércios, ao todo fo- é essencial para os clientes, gorias diferentes. As categorias até informa-
ram 206.511 mil empresas até a que nesse período ficaram um com mais cadastros são as do ções sobre
primeira quinzena de junho. No pouco perdidos sobre a abertu- ramo alimentício, mas existem gerencia-
Brasil o número foi de 1,3 mi- ra dos comércios e não sabem outras como: manutenção resi- mento do
lhão de empresas. para onde correr quando pre- dencial, psicólogos, farmácias, negócio.
Foi dentro desse cenário que, cisam de um serviço. “A gran- decoração e muito mais.
em março, um grupo de estudan- de preocupação nossa não era Como Mascarenhas mencio-
11
NORTE
A chuva boa do Norte e o seu gotejar
Hiury Pereira doamos um para famílias de
Portal Cultura/Divulgação
baixa renda sem acesso à água
Noel Orlet é sócio-fundador
de qualidade, nem condições de
do Amana Katu. O projeto, com
pagar por um sistema”, detalha
sede em Belém-PA, tem como
Orlet. “Apesar de oferecermos
objetivo buscar a universaliza-
um dos sistemas mais baratos
ção do acesso e o uso sustentável
do mercado, entendemos que,
da água potável na Amazônia.
ainda sim, muita gente não tem
Sistemas de captação de água da
o recurso financeiro. O objetivo
chuva, instalados em residências
é tornar nosso impacto social
e na agricultura familiar, são uti-
mais sustentável”. O Amana
lizados para oferecer o serviço.
Katu também vende o serviço
Amana Katu, em tupi-guarani,
para empresas, ONGs e para o
significa “chuva boa”.
poder público.
O projeto teve início há três
O modelo produzido é aco-
anos, durante o torneio Desafio
plado na calha da residência. A
Inove+ 2017 – maior competi-
água da chuva escorre até che-
ção de empreendedorismo do
gar ao sistema. A primeira bar-
Pará. A ideia foi incubada como
reira sanitária depois da calha
um projeto de empreendedoris-
é um filtro grosseiro, para im-
mo social pela ENACTUS da
pedir impurezas maiores, como
UFPA (Universidade Federal do
folhas, galhos e pedras. O se-
Pará) . O Amana Katu permane-
gundo passo é o separador das
ceu por dois anos como progra-
águas – a ferramenta tem a fun-
ma da organização. Em 2019,
ção de separar e descartar os pri-
passou a trabalhar como um ne-
meiros milímetros da chuva. O
gócio autônomo e independente.
resto da água entra no sistema,
Como traz o nome de ba-
passa por um processo de dosa-
tismo, 1.3 milhões de litros da gem de cloro por gotejamento e,
Premiação do Amana Katu. Conquistaram o segundo lugar no World Water Race, competição no Vale do Silício (EUA)
“chuva” aproveitada pela inicia- por último, escorre por um filtro
tiva abasteceu 8,4 mil pessoas, COVID-19. 16,38% da população brasileira população: 40,10% e 36,67%, industrial de carvão aditivado,
até o momento, de água limpa O Brasil possua cerca de 12% não tem acesso ao abastecimen- respectivamente. para finalizar o tratamento físico
e de qualidade. Clientes e usu- da água doce disponível do pla- to de água. Em Belém do Pará, Em todas as ações, o grupo químico da água.
ários economizaram mais de neta. Apenas na região Norte sede do Amana Katu, apenas do Amana Katu acompanha os Em 2019 essa inovação con-
R$300.000 em contas de água, se encontra aproximadamente 70,9% da população é atendida indicadores sociais, ambientais quistou o segundo lugar no
energia e medicamentos. A im- 80% da água do país. Dados do pelo serviço. Na região Norte, e econômicos. “Os nossos siste- World Water Eace, competição
portância do acesso à água des- ranking do saneamento básico as capitais Macapá-AP e Por- mas de captação de água da chu- que premia todo ano as melho-
taca-se ainda mais em uma crise 2020, elaborados pelo Institu- to Velho-RO prestam o serviço va são vendidos no modelo 5/1. res iniciativas do mundo na te-
sanitária como a pandemia de to Trata Brasil, informam que essencial a menos da metade da A cada cinco modelos vendidos, mática água e saneamento.
Divulgação
A meta é levar a tecnologia criada para 25% da Amazônia brasileira até 2030, impactando a vida de 2 milhões de pessoas que, com acesso a água de mais qualidade, terão melhores condições de saúde
12
SUL
Uma porção de África em Maringá
Hiury Pereira em que exercia a atuação pro-
Divulgação
fissional, o bissau-guineense se
“Em 14 anos no Brasil, fre-
organizava para montar um res-
quentei vários bares e restau-
taurante com temática e raízes
rantes. Aqui tem de todos os
africanas.
tipos: japonês, italianos, chinês,
Em setembro de 2020, o Ta-
tailandês, mexicano, árabe. Po-
banka Restaurante abriu as por-
rém, não tinha nada que reme-
tas, em meio a pandemia do co-
tesse à África”. A declaração de
ronavírus. A proposta do local
Ronelson Furtado Balde destaca
é trazer a África ao Brasil, por
a falta de representação da co-
meio da cozinha, em um am-
zinha africana ofertada no co-
biente que se relaciona ao con-
mércio gastronômico do Brasil
tinente. “O nome faz alusão às
– mesmo com toda a influência
vilas e aldeias de casas simples,
do continente em terras tupini-
cobertas de palha e com chão
quins.
de terra. Onde as pessoas no
quesito financeiro podem não
ter quase nada, mas são muito
felizes em relação à alegria, à
harmonia com a natureza e ao
respeito com os mais velhos. O
lugar busca trazer essa sensa-
ção: tanto na decoração, quan-
to na apresentaçãoe na comi-
da”, relata o proprietário.
As expectativas do local são
as melhores. Os clientes gosta-
ram da temática e da comida.
Pouco tempo após a inaugu-
ração, o restaurante já alcança
clientes até de fora da região
em suas redes sociais. Regis-
tros dos visitantes são constan-
tes, toda noite, no Instagram.
“É animador. Embora a gente
saiba que trabalhar com músi-
Ronelson nasceu em Guiné-
ca, comida e decoração africana
-Bissau e se mudou para Marin-
seja algo desafiador, o resultado
gá-PR, com 21 anos, para fazer
até agora tem sido incrível”.
a faculdade de Direito. Após a
O cardápio do restauran-
graduação, teve grande atuação
te tem a missão de ser o mais
na discussão sobre imigrantes e
abrangente possível com os 54
refugiados. O advogado foi pre-
países da África. Um dos pratos
sidente da comissão dos estran- mais populares do Tabanka é a
geiros, imigrantes e refugiados cachupa – uma feijoada típica
da OAB Maringá. Atualmente, da Guiné-Bissau e de Cabo Ver- Na conta do instagram @tabankarestaurante eles costumam publicar o cardápio e os pratos mais servidos
é presidente da AERM (Asso- de. A iguaria foi servida no sá-
ciação dos Estrangeiros Resi- bado de inauguração do restau- de semana. Porém, o restauran- dos clientes, a queridinha cabo- O menu conta com pratos fi-
dentes na Região Metropolitana rante. A intenção de Ronelson te recebeu muitos pedidos pela -verdense estará disponível no- xos e as alterações serão feitas
de Maringá). Ao mesmo tempo era variar o cardápio a cada fim volta da cachupa e, para alegria vamente. ao passar dos meses. No primei-
ro mês, a cozinha se encontra
na região da África Ocidental
– Guiné-Bissau, Cabo Verde,
Quênia, Senegal, entre outros
países. “Também é uma viagem
gastronômica e cultural, porque
a África tem uma riqueza imen-
sa para ser exibida. Nossa pro-
posta é percorrer o continente
inteiro, para que o maringaense
possa viajar e conhecer a África
sem sair de Maringá.”
Drinks e aperitivos do conti-
nente também são servidos no
restaurante. A próxima meta é
entrar nos aplicativos de entrega
e produzir pizzas com sabores
africanos. Em pouco menos de
uma semana de funcionamen-
to, o restaurante de Ronelson
já marca presença e exerce pa-
pel representativo da culinária
africana, tão rica, mas esqueci-
Arquivo pessoal
PANDEMIA
Rodrigo Dourado
MUDANÇAS RÁPIDAS
EMPREENDEDORISMO
ao desafio do isolamento social um negócio autônomo de enco- tem dado certo e que sua situa-
e reinventar a forma como cum- mendas de massas pré-finaliza- ção financeira já está um pouco Adaptar, resistir e reinventar
primos com as nossas responsa- das. “A gente projetou e colocou mais estável. A demanda de pe-
bilidades diárias. Em Londrina, tudo em prática em menos de 1 didos tem sido satisfatória, mas Em meio a empresas fechan-
desde que a quarentena foi de- mês porque a necessidade era ainda não o suficiente para se do as portas e pessoas perdendo
cretada em março, surgiram di- grande. Por mais que o projeto tornar a principal fonte de renda seus empregos, Rúbia, Gabrielly
versos negócios autônomos de esteja crescendo devagar, já es- da estudante, que também é bol- e Kawana são grandes exemplos
sista em um projeto de Iniciação da resiliência humana. Mulhe-
pessoas que viram no empreen- tamos conseguindo um retorno
Científica na UEL. No entanto, res de força e de coragem que
dedorismo a chance de sobrevi- que tem ajudado no dia a dia”,
ela quer continuar se aprimoran- enxergaram oportunidades em
verem à crise financeira do mo- comenta Rúbia. No entanto, o
do e divulgando o seu trabalho meio a crise e se apropriaram,
mento. auxílio emergencial continua
nas redes sociais. da forma mais positiva possível,
As jovens Gabrielly Vargas, sendo a principal fonte de renda
dos meios remotos disponíveis
21 e Rúbia Letícia, 25, enxer- das sócias no momento.
hoje para se reinventarem.
Maria Alice / Arquivo pessoal
O “Breque dos app” iniciou em julho deste ano, após a alta dos pedidos, aumento de novos entregadores e a queda do valor oferecido pelos aplicativos para R$ 0,53 por cada quilômetro rodado.
Partindo dessa marginaliza- se tem o conhecimento dos bas- a taxa mínima pelo quilômetro pou da manifestação, porque partida para uma futura regulari-
ção da atividade de entregas, tidores. Através de grupos em rodado era de R$1,50. Depois, não faz uso dos apps e precisa- zação de um trabalho que coloca
manifestações surgiram no país. redes sociais, são marcados dias caiu para R$0,93, chegando até va trabalhar no dia para o seu a saúde dos envolvidos em risco
O “Breque dos app” iniciou em específicos para a suspensão dos a R$0,53. Uma entrega de 10 restaurante fixo. “Como futuro todos os dias.
julho deste ano, após a alta dos serviços. A intenção é de que as km de distância geraria uma mé- assistente social, tive que pas- Jorge prefere trabalhar longe
pedidos, aumento de novos en- ruas sejam tomadas não mais dia de 8 reais. Até o fechamento sar lá para ver como estava [...]. das telas dos celulares. Ele gos-
tregadores e a queda do valor pela moto cortando o trânsito, desta matéria, o litro da gaso- Em Londrina, a categoria é bem ta de ver a rua e quem preenche
de cada quilômetro rodado que mas por cada vida que precisa lina no Brasil gira em torno de fragmentada fato que fez ter ela. Estar no dia a dia e fazer
os aplicativos oferecem. O mo- do seu sustento. R$4,234, de acordo com o site uma baixa adesão do no ‘bre- parte da cidade. Ele aguarda,
vimento consiste na paralisação Para entender a situação des- Global Petrol Interprices. O pa- que’”, explicou. Embora seg- porém, poder fazer tudo isso de
nacional dos deliveries e ir às se “breque”, a Revista Ópera cote de arroz, em um supermer- mentado, o movimento ganhou novo sem temer tanto pelo ama-
ruas mostrar para a população a entrevistou um motoboy inscri- cado, atualmente pode chegar a páginas de jornais da cidade e nhã.
verdadeira face do trabalho que to nessas plataformas. Ele ex- R$40,00. do país. A discussão foi iniciada,
só chega até eles, mas que não plicou que, antes da pandemia, Jorge conta que não partici- isso é fato. Pode ser o ponto de Por: Bruna Melo
Jair Segundo
Se você se debruçar em sua janela, é possível escutar ao fundo o motor de uma moto. Não importa a hora, esse som preenche as ruas de Londrina, do norte ao sul. É o som do novo serviço essencial.
CULTURA
18
QUEDA LIVRE
Lucas Petinatti
O prejuízo do setor de produção de eventos durante a pandemia fez milhares de profissionais dos bastidores perderem seus empregos e os forçou a buscar alternativas para sobreviver à crise.
Lucas Petinatti
Toda virada de ano nos dá a tudo ao redor parece que vai semana estava lotada até no- alguém para gravar, né?
sensação de algo novo surgindo piorando de forma tão gradu- “E quando você vembro. Todos os sábados e E aí veio março. E eu per-
magicamente com a mudança do al que só percebemos quando domingos recheados de casa- cebi como 2020 seria mesmo
numeral em nossos calendários. chegamos ao final dele. Porém,
menos espera, a mentos para registrar, noivados, diferente.
Dezembro de 2019 não foi dife- desta vez, finalmente estávamos vida vai lá e te aniversários e eventos de lança- Estava novamente com a
rente nesse quesito, todos achá- certos! As coisas mudaram pra mento de marcas. agenda livre, caso alguém qui-
vamos que 2020 seria especial. valer! surpreende!” Já não tinha mais com que sesse me chamar para sair. Só
Havia até um certo misticismo, Olhe como começou diferen- me preocupar, e era só janei- que agora não dava nem pra sair.
2020. te: pela primeira vez na minha ro. Sempre soube que trabalhar Apesar de todos os meus traba-
A verdade é que todo ano carreira como produtor audio- Clarice Lispector com eventos era uma boa, muita lhos terem sidos desmarcados,
acaba sendo praticamente igual, visual, a agenda nos finais de gente junta sempre precisa de alguns compromissos não muda-
19
Tiago Bueno
tas e as parcelas do apartamento des normais liberadas. A in-
A quebradeira em números continuam chegando como se
nada tivesse acontecido. A espe-
dústria vai voltar, o comércio
também, mas os casamentos
rança do diploma de jornalismo não. Nem os shows. Por isso
No início da pandemia, o Sebrae estudou os im- no final do ano se foi, e o que o Gusttavo veio tanto a ca-
veio em troca foi o sentimento lhar. Para quem odiava ouvir
pactos das prmeiras medidas de isolamento so- de inutilidade. A solidão. o Tchetcherere na balada, foi
cial sobre o setor de eventos: Já dizia Clarice Lispector que como um canto angelical. O
“quando você menos espera, a que uma situação adversa faz
vida vai lá e te surpreende“. Pois com nossos padrões de qua-
é Lice, quem diria que o Gust- lidade, não é mesmo? Estava
98% das empresas do setor tavo Lima ia salvar o meu dia! decidido. Vamos fazer lives.
foram afetadas por adiamentos e Nunca fui fã de sertanejo, mas Se você me perguntasse al-
cancelamentos de trabalhos nada contra quem gosta. Só não guns meses atrás, eu não sa-
consigo me imaginar de botas e beria nem dar um exemplo de
chapéu, tocando berrante para a live de sucesso. Porém, mais
boiada, ouvindo uma viola. Não rápido que pós-graduação
sou muito simpatizante desse EaD e miojo instantâneo (que
65% dos entrevistados esperava gado atual. não é tão instantâneo), eu tive
perder ao menos 78% no fatura- Depois dele vieram Jorge e que me especializar em produ-
mento em relação a abril de 2019 Mateus; Matheus e Kauan; só o ção de lives. Não tinha curso
Kauan; Bruno e Marrone; e to- para isso, nem incentivo para
dos os outros artistas existentes tal. Somente o dia 10 do outro
no país. Nunca pensei que fosse mês chegando faminto e mi-
dizer isso, mas, obrigado Gust- nha conta já bem magrinha.
tavo! Foi através desse boom de Eu me preparava para mais
64% das empresas esperava não lives que tive a chance de fazer uma live, mas ainda tinha
ter que demitir funcionários pelo algo durante esse momento. algo importante a resolver
menos até julho Imagine só, trabalhar no úl- no WhatsApp.
517
é o número de setores correlatos
que o mercado de eventos
movimenta em condições
normais, segundo a ABEOC
20
A manifestação em Curitiba
É comum a gente ficar mais frente à Praça Dezenove de De-
Isabelle Marina
reflexivo quando está ocioso. zembro, em Curitiba – também
Não que eu esteja tão ociosa conhecida como “praça do ho-
nessa pandemia – àqueles que mem nu”. Logo de cara, algo me
esqueceram: sim, nós ainda es- chama a atenção: uns caminhões
tamos em uma pandemia, viu? gigantescos estacionados. Eles
Mas, querendo ou não, a mi- traziam as cases. Sabe cases?
nha rotina (ou suposta rotina) Aquelas em que os produtores
começou há pouco tempo, no fi- levam algumas coisas de ilumi-
nal de julho. Até então eu estava nação, umas caixas pretas bem
mergulhada em um mar de dúvi- grandes, com rodinhas?
das, de pensamentos sobre o eu, Então, eram essas cases que
sobre o coletivo, e esgotada das estavam espaçadas uma da outra
mais de mil e uma peripécias perfeitamente, como se estives-
que um período quarentenado sem construindo um monumen-
me obrigara a fazer. to em homenagem a arquitetura
Fiquei mais atenta aos deta- pós-modernista soviética. E não
lhes da rua - mais do já era an- eram poucas. Do que eu e meu
tes. Via artistas no semáforo e cérebro conseguimos contar,
me lembrava da classe artística uns 200 metros só de cases. Per-
desse país, dos produtores de guntei a uma das organizadoras
eventos, etc., que foram absur- do evento, “todo pessoal, cada
damente afetados pela pande- um, tem uma case?”. E ela, mui-
mia. Indo mais direto ao ponto: to simpática, respondeu: “não, a
os que se foderam. maioria vai ter case, mas os sem
É, my champs, a vida nunca case vão estar no final da fila, lá
é justa, realmente. Decidi, nesse atrás”. Ou seja, o tamanho da
meio tempo, ir à casa dos meus passeata era maior que do eu
pais na capital paranaense. Lon- imaginava!
drina se torna uma cidade detes- Eu cá me pergunto como ta-
tável entre o final de agosto e o manha movimentação simbó-
começo de setembro. É um ca- lica não chamou a atenção dos
lor infernal. Por que não ir para governantes. Qualquer cidadão
minha querida Curitiba, sem- que andasse na rua ou visse isso
pre fresca, chuvosa até demais, no jornal, na internet, na TV,
onde antimofo vale mais que sabe Deus, ia ter sua atenção di-
qualquer coisa? recionada.
É feriado... nada muito con- Os pacotinhos dados a cada
tagiante em voltar para a casa participante da manifestação
de uma família bem barulhenta também eram chamativos. Eu
(não há dúvidas que meus ances- nunca tinha visto uma distribui-
trais sejam sicilianos). Já perto ção tão boa de lanchinhos aos
de voltar ao calor londrinense, colaboradores de uma manifes-
soube que ia acontecer uma ma- tação. Nunca tinha visto lanchi-
nifestação dos profissionais do nhos para manifestantes, para
setor de eventos na terça-feira ser bem sincera. A manifestação
após o Sete de Setembro. E eu dos organizadores de eventos
pensei, por que não? Eu não era bem organizada.
estava exatamente escrevendo Pergunto mais uma vez para
sobre isso para uma matéria da uma das organizadoras sobre
faculdade? tudo isso. Sandriane Fantinato,
Então lá fui eu, como boa jor- ela me diz seu nome. E conta
nalista que sou. Sete e meia, em que todos os que ali estivessem Profissionais de eventos bloquearam rua com seus cases para chamar a atenção das autoridades.
Isabelle Marina
Para realizar a manifestação na Praça Dezenove de Dezembro, em Curitiba, os organizadores tomaram precauções quanto ao distanciamento social e mediram a temperatura dos participantes.
21
Isabelle Marina
O lado B da passeata
Eu sou Paulo Ricardo Giolando e trabalho para uma
empresa de áudio, de eventos, que atende com equi-
pamentos de iluminação também. Antes da pandemia,
eu estava exercendo a função de técnico em um projeto
que a empresa atende, era um projeto de Lei Rouanet.
que eu seja. leiro nem tivesse mais a pulsão para a Nova Londres. Recebo
Conheci o Batata em um deli- de quem só toma no #@. uma mensagem. É do Lucas,
very de chopp na minha rua. Eu O desânimo está na face dos meu colega de produção jorna-
- como os que ainda estão ten- que se encontram em situação lística, Ele comentou que talvez
tando manter a quarentena, po- crítica, de quase desespero. O tivéssemos perdido a oportuni-
rém sedentos por uma cerveja, trabalhador e empresário da área dade de aprofundar nosso con-
vulgo breja - vou até o delivery de produção está demasiado teúdo indo até uma manifesta-
pegar meu litrinho de chopp e cansado de tentar fazer com que ção da galera de eventos. Eu ri
levar para casa e beber em paz, o governo preste atenção neles. e disse: “seu mané, eu estou em
sem peso na consciência. Antes de partir, troco ideia Curitiba e acabei de sair da pas-
Na fila e com distanciamento com o fotógrafo José Luiz Ka- seata, logo lhe passo as infor-
social, troco ideia com o rapaz. ran, um dos porta vozes da passe- mações quentinhas para o nosso
Batata me conta que é técnico ata. E ele ressalta que “colabora- material”.
Paulo Giolando discorda de alguns pontos defendidos na passeata.
de som e trabalha com eventos dores e profissionais autônomos
grandes. Sua vantagem é ser estão passando fome. FOME! Por: Isabelle Marina
22
Divulgação
conseguindo enxergar solu- ximo ano será melhor.
ções em meio à pandemia. Lembra de 2009? A gente
E é dos influencers que eu já sabiam. pensava que o vírus do Tche-
tô ganhando o pão de cada dia. tcherere nunca ia sair da nossa
Eles fazem suas lives com mui- Eu não desisti de fazer o que cabeça? Pois é, passou.
tas frases de sabedoria e intera- gosto e isso acabou me colo- E, pelo menos pra mim, aca-
ção com seus amorecos, e isso cando em outros trabalhos, com bou ensinando muita coisa de-
me salva durante a pandemia. pessoas que eu nunca imaginei pois.
A maior que eu fiz foi a do conviver.
Rezende, um youtuber de Lon- Obrigado de novo, Gusttavo Por: Lucas Petinatti
Tiago Bueno
A influencer Mikaely Lopes aposta nas lives para divulgar seu trabalho.
O espaço virtual ganha força
Em março, no começo da
quarentena, o Instagram registrou
aumento de 70% no uso das lives
2,7
milhões
É o número de acessos
simultâneos que o cantor
Gusttavo Lima obteve em live
do dia 12 de abril
Queria ter o vírus da observação, João. Mas o único que esta tendo não me
deixa sair. Sei que prometi à você acompanhar o menino da gaitinha, mas
não vai rolar. Essas rodas da populaça vão ter que esperar, eu vou ter que es-
perar, de dia à noite aqui em casa, para assim então poder flanar como você.
“Andar sem rumo, de modo ocioso, sem coisas com as quais se preocu-
par”
Vish, João. Se sair por ai sem rumo, vou ter muito com o que me
preocupar depois. Mas acho que sei de um lugar onde posso ficar
bem ocioso e não pegar nenhum, vírus. Bom....
lá também posso pegar vírus, mas não ESSE vírus. Pelo me-
ENCANTADORA
Vamos começar novamente então?