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ORIENTAÇÕES PARA APLICAÇÃO DA


TÉCNICA DO DESENHO LIVRE
O desenho e o contato com material gráfico normalmente faz parte do
repertório de interesse de crianças em idade escolar. Sendo assim, esta
técnica pode auxiliar o psicopedagogo no levantamento de possíveis pontos
que mereçam atenção especial em tratamento ou até mesmo, em uma
avaliação mais detalhada.

A técnica do desenho livre tem por objetivos verificar como a criança


utilizada o material gráfico, como se coloca no desenho, qual o tipo desenho
realizado, como organiza o espaço da folha, resistência à atividade, auto
estima, tempo de atenção e motivação para a tarefa.

Aplicação: Individual

Tempo de aplicação: depende do sujeito. (Em média, 20 minutos)

Material: uma caixa, 3 folhas de papel sulfite branco A-4, lápis de cor
apontados, borracha, lápis preto número 02 e lápis nas cores vermelho,
verde, amarelo, azul, marrom, preto, violeta e laranja.

Procedimentos: apresente este material disposto em uma caixa encapada


com todos os itens dentro dela e dê a ordem:

“Dentro desta caixa nós temos materiais de desenho. Vou pedir para que você
faça um desenho, pode ser o que você quiser. Quando você terminar, por favor,
escreva o seu nome (para as crianças maiores) e me avise”.

Não abra a caixa e aguarde a reação do aprendente. Se mostrar


insegurança quanto ao desenho, dizendo que não sabe desenhar, estimule-
a e incentive a fazer o melhor que pode. Se ele solicitar a opinião sobre o que
fazer, procure não responder de imediato. Tente fazê-lo pensar sobre algo
que goste, que queira desenhar por livre e espontânea vontade. Se mesmo
assim, não houver resposta, você poderá sugerir algum tipo específico de
desenho. Se o aprendente não abrir a caixa prontamente, dê uma dica:

“O que você acha que tem que fazer agora?”

Assim que o aprendente pegar a folha, observe se esta está


posicionada horizontalmente. Se estiver na vertical, inverta a posição para a
horizontal e sinalize que o papel deverá ficar daquele jeito. Observe a reação
do aprendente.

A folha deverá estar na posição horizontal

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Evite ficar supervisionando o trabalho da criança, permanecendo


apenas olhando. O fato do aprendente estar realizando uma atividade e você
não, pode sugerir um incômodo emocional e aumentar a ansiedade frente
ao desempenho. Então, assim que ele começar a desenhar, pegue uma
revista, comece a escrever algo, leia um livro, enfim, desvie a sua atenção
parcialmente (mas vá observando o que ele faz).

Quando ele terminar, peça para que comente sobre o desenho,


contando uma pequena história sobre ele. Escreva as palavras ou texto da
em um canto da folha. Faça perguntas, se achar conveniente. Preste atenção
nos itens desenhados, tipo de desenho, por qual figura começou, etc.

O que observar?

Tempo inicial da atividade: demorou muito para começar? Começou a


desenhar logo após a ordem dada?

Tempo de dedicação ao desenho: quanto tempo o aprendente demorou para


concluir a atividade?

Material usado: usou todos os materiais disponíveis? Usou somente lápis


preto? Usou mais cores?

Localização do desenho na página: o desenho teve um arranjo expansivo ou


diminuído? Localiza-se em qual (s) quadrante (s) da folha?

Pressão do traçado: o traçado do desenho está: forte, fraco, médio, fortíssimo


(a ponto de rasgar a folha), fraquíssimo (a ponto de quase não
enxergarmos)?

Uso da borracha: adequado, exagerado, ausente?

Expressão ao longo do trabalho: o aprendente trabalhou em silêncio? Se não,


sobre o que falava? Solicitava sua atenção? Pedia elogios? Depreciava seu
próprio desenho?

Criatividade: o desenho realizado expressa criatividade?

Expressão Escrita: o aprendente escreveu algo em seu desenho sem que


você tenha pedido? Se sim, o que foi? Escreveu corretamente?

Tema do desenho: a produção do aprendente está relacionada com


paisagens, família, escola, personagens, histórias, animais, punição,
sentimentos, etc?

Qual a história produzida pelo aprendente? Sobre o que ela comentou?

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ANÁLISE QUALITATIVA DO DESENHO:

1) Resistência: são casos de rejeição à tarefa proposta em graus


diferentes de intensidade, podendo ocorrer, em um extremo, a
negação para desenhar e, no outro, a execução adequada dos
desenhos.

• Não apresenta: confiança no desempenho


• Negação: intenso sentimento de inferioridade, atitude de negativismo,
sensação de ser inadequado para o cumprimento da tarefa.

2) Tempo consumido: a psicopedagoga deve relacionar o tempo


consumido com o resultado da tarefa. Alguns aprendentes desenham
e apagam várias vezes, perdendo muito tempo; outros consomem a
mesma quantidade de tempo, mas desenham livremente e colocam
muitos detalhes.

• Tempo de latência inicial: a maioria dos aprendente começa a desenhar


mais ou menos 30 segundos depois das instruções.
• Pausas durante o desenho: depois de iniciado o desenho, qualquer
pausa superior a mais ou menos que 5 segundos sugere conflitos com
o que acabou de desenhar ou com o que ainda será desenhado.

3) Pressão no desenho: analisa o nível de energia do indivíduo, ansiedade


e insegurança.

• Pressão média: boa energia, equilíbrio e vitalidade.


• Pouca pressão, traço leve: baixo nível de energia, insegurança, timidez,
sentimento de incapacidade, falta de confiança.
• Muita pressão: excesso de energia, vitalidade, iniciativa, decisão,
confiança em si mesmo, tensão, traços agressivos e hostis.
• Variação na pressão: flexibilidade, capacidade de adaptação, labilidade
de humor, instabilidade e impulsividade.

4) Indicadores de conflito: o tratamento dado a qualquer área do


desenho indica, na maioria das vezes, conflitos nessa determinada
área.

• Reforços suaves: brandura, passividade de temperamento


• Correções e retoques: insatisfação com a produção, incerteza,
insegurança, ansiedade, pode sugerir agressividade.
• Rasuras ou borrões resultantes de correções: insegurança, falta de
autoconfiança, desejo de perfeição.
• Recobrir uma linha já traçada com riscos mais intensos: ansiedade,
insegurança, falta de confiança, medo de situações novas, sentimento
de perda afetiva, angústia.
• Sombreamento: ansiedade, conflitos, medo, insegurança,
descontentamento.

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5) Localização no papel: reflete a posição do sujeito no mundo e sua


adaptação ao meio ambiente.

• Meio da página ou centro: comportamento emocional e adaptativo em


equilíbrio e segurança. Os aprendentes cujo trabalho não é
centralizado tendem a apresentar pouco controle e maior
dependência.
• Metade superior da página: quanto mais para cima o desenho, maior a
tendência de buscar satisfação na fantasia e não na realidade. Mostra
também insegurança frente ao potencial, sem contato com a realidade
“no mundo da lua”.
• Metade inferior: quanto mais para baixo o desenho, maior a tendência
ao materialismo, gosta de coisas mais concretas e racionais.
• Figuras presas à margem do papel: falta de confiança, medo de ações
independentes e necessidade de apoio.

6) Tamanho das figuras:

• Tamanho médio: inteligência, boa auto-estima, adequação ao meio,


equilíbrio emocional.
• Figuras grandes: podem indicar tanto expansividade quanto inibição,
ideias de grandeza, encobrimento de sentimento de inferioridade, falta
de controle.

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• Figuras pequenas: sentimento de inferioridade, inibição, timidez,


repressão de agressividade, comportamento ansioso, baixa auto
estima, excesso de auto controle.

7) Uso da borracha:

• Normal: autocrítica
• Não usa: falta de crítica ou autoconfiança no desempenho
• Uso exagerado: insegurança, excesso de autocrítica, indecisão,
insatisfação consigo mesmo, falta de controle.

8) Uso das cores:

• A escolha: quanto mais vagarosa e indecisa a escolha das cores, maior


é a possibilidade do item que será desenhado ter significado especial
para o sujeito.
• Emprego da cor somente para contorno: timidez emocional.
• Número de cores: o esperado é de 3 a 5 cores. Quando o número é
inferior e esta média, sugere-se timidez emocional. Quanto mais nova
a criança, mais cores parece usar.

Considerações Finais:

Lembre-se sempre que nosso objetivo ao usar esta técnica é


compreender como o aprendente se expressa e como isso pode interferir
nas dificuldades de aprendizagem que ele apresenta.

Não somos psicólogos e, nosso olhar sobre o desenho precisa estar


sempre ligado à queixa e ao processo de aprender e não tentar entender o
aprendente ou tentar rotular comportamentos ou traços de personalidade.

Referências Bibliográficas:

ANDRADE, Márcia Siqueira de. Psicopedagogia Clínica - Manual de Aplicação


Prática para Diagnóstico de Distúrbios de Aprendizado. São Paulo: Póluss Editorial,
1998.

CHAMAT, Leila Sara José. Técnicas de diagnóstico psicopedagógico: o diagnóstico


clínico na abordagem interacionista. 1.ed. São Paulo: Vetor, 2004.

CAMPOS, Dinah Martins de Souza. O Teste do Desenho como Instrumento de


Diagnóstico da Personalidade. 37a. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2005.

DI LEO, Joseph H. A interpretação do desenho infantil. Porto Alegre, Artes Médicas:


1985.

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