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está vinculado ao nome de Jack Kerouac e Allen Ginsberg. Essencialmente o conceito traz
uma démarche deleuziana – o cuidado e inventividade no trato com a literatura. Depois
Deleuze e Guattari seguirão adiante com o conceito em sua segunda obra conjunta: Kafka –
Por Uma Literatura Menor, movimento que culminará com a nomadologia exposta em
Mille Plateaux. Essencialmente uma linha de fuga é um investimento molecular no plano
social. O conceito também está vinculado inicialmente ao conceito de grupo sujeito, o que
requer uma explicitação à parte. A tendência é, numa leitura mais aligeirada, atribuir a
Deleuze e Guattari a voz oficiosa do individualismo yuppie da década de 80. Isto se dissipa
com um olhar mais cauteloso sobre o texto barroco dos dois autores. Quando se fala no par
molar/molecular, Deleuze e Guattari têm em mente o que isto significa em termos próprios
da física. Estruturas molares obedecem a leis estatísticas próprias de um entorno dado pela
macrofísica, enquanto estruturas moleculares são próprias de fenômenos da microfísica, ou
seja, de relações que escapam as grandes generalizações – em outros termos, das
singularidades. Há aqui uma tendência a transferir sem nenhum rebatimento a noção para
um contexto sócio-político assimilando coletivo a molar e individual a molecular. É aí que
Deleuze e Guattari executam um salto conceitual –
1
DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O Anti-Édipo. Rio de Janeiro, Imago, 1976. p.355
política em termos deleuzoguattarianos é colocar-se em convergência com movimentos que
levam à formação de singularidades. Não há como deixar aqui de aproximar essa noção de
singularidade com a de diferença. Uma linha de fuga é um movimento de diferenciação
pelo qual o singular se afirma. O inclassificável segundo as axiologias vigentes. Garrincha
é uma linha de fuga. Mas também Jimmi Hendrix, o Impressionismo, os Provos da
Holanda, a música de Hermeto Pascoal e todos os outros nomes de pessoas, de grupos, de
fenômenos que não se deixam esmagar pelo peso do comum, do mediano, do estabelecido e
comprovado e legitimado por maiorias estatísticas. Nesse sentido toda linha de fuga é um
movimento menor, em direção do menor, do molecular em sua essência. A linha de fuga é
o princípio pelo qual se elabora o incomum. Nada é mais avesso à comunicação de massa,
portanto, do que uma linha de fuga.
Temos então que por princípio toda comunicação de massa é dada por uma
orientação molar. É possível então entender a aversão de Deleuze pela mídia em geral – o
que ele expressa em outra obra escrita a quatro mãos com a jornalista Claire Parnet:
Diálogos. Parnet foi quem realizou o longo conjunto de entrevistas que divulgadas somente
depois da morte de Deleuze, o Abecedário Deleuziano. Tanto no livro com Parnet, quanto
na série de entrevistas, Deleuze expõe num raro momento em que considera o problema da
comunicação de massa na contemporaneidade sua maneira peculiar de entender o que se
passa nesse campo.