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Estudo de Caso - Os artigos abaixo relatam fatos, ocorridos com a CVM e Previc no

caso Postalis. Esses fatos afetaram diretamente a contabilidade e os investidores do


fundo. Portanto, faça uma análise crítica sobre os acontecimentos, associando-os a
alguns pontos discutidos na aula sobre Teoria da Regulação.

1 - MPF investiga CVM e Previc no Postalis

O ESTADO DE SÃO PAULO - 19/2/18

O Ministério Público Federal investiga se a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a


Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) falharam ao não
conseguir impedir o rombo bilionário no fundo de pensão dos Correios, o Postalis.
Segundo a PF e MPF, o rombo no fundo dos funcionários dos Correios seria de, pelo
menos, R$ 5,6 bilhões.

Ainda em estágio inicial, a apuração foi confirmada pelo procurador federal Ivan Cláudio
Marx. Embora o investigador seja responsável pela operação Pausare, deflagrada há duas
semanas para apurar fraudes em investimentos do fundo, a averiguação sobre os órgãos
fiscalizadores é conduzida em outro procedimento.

A CVM fiscaliza e normatiza o mercado de capitais e tem como uma das funções proteger
investidores. Nessa função, deve acompanhar instituições financeiras e entidades
relacionadas, como as agências de classificação de risco. Com o aval de agências de
rating, o Postalis aplicou recursos de seus cotistas em fundos de investimentos. Por causa
dessas operações no mercado de capitais, a CVM virou também objeto da investigação
do MPF.

O Ministério Público atua em situações que envolvam o interesse público. Neste caso, o
interesse dos cotistas dos fundos de pensão. A suspeita é de que os prejuízos, que irão
pesar para os participantes do fundo de previdência, tenham ocorrido também por
negligência dos órgãos reguladores: a CVM da parte das agências de rating e fundos de
investimentos; e a Previc, que fiscaliza e supervisiona o mercado de previdência
complementar, como os fundos de pensão.

O procurador Marx explicou ao ESTADO que a investigação dos órgãos que regulam e
fiscalizam o mercado financeiro é resposta a uma representação que chegou ao MPF.
Além dessa suspeita sobre a efetividade da fiscalização de CVM e Previc, o procurador
também indica que, no âmbito da operação Pausare, vai se debruçar sobre as agências de
classificação de risco e consultorias usadas pelos gestores do Postalis.

“A suspeita é que foram envolvidas no esquema. Acabaram validando isso, possibilitando


que o esquema criminoso prosperasse”, disse, ao citar três projetos que receberam mais
de R$ 600 milhões dos empregados dos Correios. “Para os negócios fracassados que
saíram, todo mundo tinha que estar envolvido. Caso contrário, alguém ia dizer que (o
investimento) não tinha o menor fundamento”, afirmou Marx ao explicar que as análises
econômico-financeiras dos investimentos são uma das etapas do esquema investigado.
Agências

A decisão de avançar sobre as agências de risco e consultorias acontece diante das


investigações indicarem que avaliações superestimadas do potencial de novos projetos e
da capacidade de pagamento de devedores foram peça-chave em esquemas que geraram
prejuízos em fundos de pensão, como dos Correios.

“De uma forma geral, foi verificado que as análises de risco de mercado e de crédito dos
investimentos, quando realizadas, eram conduzidas de forma superficial e sem qualquer
técnica”, cita relatório da investigação no fundo de pensão dos Correios.

O documento produzido pela PF e MPF cita que avaliações sobre o potencial dos
investimentos eram produzidas com base em “informações repassadas pelas próprias
empresas investidas, as quais, invariavelmente, indicavam dados inverídicos”.

Operações que descobriram rombos indicam expediente semelhante com três fases em
fundos que aplicaram em empresas que deram calote ou fracassaram: 1) gestores
contratam agências de classificação ou consultorias para avaliar o potencial investimento;
2) uma análise é produzida com dados fornecidos pela própria empresa candidata a
receber o dinheiro e 3) relatório favorável ao investimento é usado para que gestor aplique
o dinheiro.

Investigadores citam que as fraudes usam dados falsos sobre fluxo de caixa de empresas,
taxa de retorno de projetos, saúde financeira dos empreendimentos e projeções sobre o
potencial do negócio. Apesar dessa constatação, agências de classificação e consultorias
não foram punidas por eventuais avaliações incorretas.

Um exemplo aconteceu com a compra de títulos de dívida da empresa Canabrava


Energética. O fundo dos empregados dos Correios emprestou R$ 66 milhões à empresa
após a LF Rating emitir parecer positivo com o argumento de que a dívida tinha lastro na
receita oriunda de contratos de venda de eletricidade. O problema é que não havia nenhum
contrato de comercialização de energia. Aliás, o dinheiro emprestado pelo fundo de
previdência dos carteiros era justamente para financiar equipamentos e instalações que
permitiriam, no futuro, a geração de energia.

Situações semelhantes foram descobertas pela Operação Greenfield e geraram prejuízo


aos fundos de pensão dos funcionários da Petrobrás e da Caixa. “Depender de consultorias
privadas e das agências de classificação de risco poderia significar ‘depender da raposa
para tomar conta do galinheiro”, cita o documento da operação Pausare, que investiga o
Postalis.

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,mpf-investiga-cvm-e-previc-no-postalis,70002194525

2 - Sem fiscalização, rombo no fundo seria ainda maior, defende Previc

O ESTADO DE SÃO PAULO - 19/2/18

A Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) rejeita a hipótese de


falha na atuação no caso Postalis e defende que, sem o trabalho de fiscalização e
acompanhamento, o rombo desse e de outros fundos de pensão seria ainda maior. Já a
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) argumenta que não faz parte de suas atribuições
a fiscalização dos fundos de pensão.

O diretor de fiscalização da Previc, Sérgio Taniguchi, diz que o órgão ainda não foi
notificado. O diretor rejeita a percepção de que houve falha. “Essa possibilidade de
omissão, especialmente no Postalis, foi levantada na CPI dos Fundos de Pensão e pelo
Tribunal de Contas da União e não há apontamento de omissão”, diz, ao argumentar que,
ao contrário, o trabalho da Previc permitiu à PF deflagrar ações para investigar o tema.

“Diria que, se não tivesse o trabalho da Previc, o rombo não só no Postalis como em
outras fundações seria muito maior”, diz. Taniguchi argumenta que a Superintendência
fez diversas autuações no fundo e a intervenção foi decidida após percepção de que
gestores “flertavam com novas operações inadequadas ou de maior risco”.

Já a CVM explicou em nota que a fiscalização dos fundos de previdência complementar


não está entre as responsabilidades do órgão. A Comissão lembra ainda que há interação
do órgão com o MPF desde 2008, quando foi firmado um termo de cooperação.

Citado como uma das entidades que avaliou o investimento do fundo dos carteiros no
projeto Mudar Master, o escritório Bocater, Camargo Costa e Silva Advogados explica
em nota que foi contratado “para a análise exclusivamente dos aspectos legais de
propostas de investimentos”. A empresa cita que “não externou qualquer opinião sobre a
adequação valores ou riscos financeiros”.

Já a SR Rating diz em nota que “aplicou rigorosamente a metodologia à época


estabelecida” para avaliação do investimento do Postalis. O rating atribuído em 2010 e
2011 era considerado “mediano”. A partir de setembro de 2012, a agência rebaixou a nota
em vários patamares. “A SR Rating afirma que atuou com total rigor técnico na avaliação
da empresa e os resultados foram amplamente conhecidos pelos gestores do Postalis”.

Mencionada como consultora para o investimento no FIP Bioenergia do Grupo


Canabrava, a Apsis Consultoria afirmou em nota que realiza “com regularidade laudos
que suportam diversas operações societárias”. “Apresentamos tudo que nos foi solicitado
pelas entidades governamentais e reguladoras para as investigações em curso.”

As consultorias Baker Tilly Brasil e LF Rating – também citadas pela PF e MPF – foram
procuradas, mas não se pronunciaram até o fechamento desta reportagem.

http://www.estadao.com.br/noticias/geral,sem-fiscalizacao-rombo-no-fundo-seria-ainda-maior-defende-
previc,70002194526

DECISÃO JUDICIAL RESTABELECE OS EFEITOS DA INTERVENÇÃO NO POSTALIS

27/12/2017 - O Tribunal Regional Federal da 3ª Região concedeu, nesta quarta-feira (27/12), decisão
liminar favorável à Previc e restabeleceu os efeitos originais das Portarias nº 955/2017 e 956/2017,
relacionadas à intervenção no Postalis. Segundo a decisão, a suspensão da tutela provisória nº 5024905-
66.2017.403.000 evita grave lesão à ordem social e econômica.

A intervenção no Postalis foi decretada em 4/10/2017 devido, dentre outros motivos, ao descumprimento
de normas relacionadas à contabilização de reservas técnicas e aplicação de recursos.
http://www.previc.gov.br/central-de-conteudos/Noticias/decisao-judicial-restabelece-os-efeitos-da-intervencao-no-postalis
Questões:

1. Qual das 5 vertentes sobre a Teoria da Regulação melhor explica o fenômeno e porquê?

2. Que ações poderiam ter sido tomadas para mitigar os prejuízos?

3. Quais as principais consequências, para a contabilidade, a partir dos acontecimentos desses fatos?

4. Quais os usuários mais afetados nesse caso?

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