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Ouvidoria-Geral da União
PARECER
Referência: 99902.002140/2013-49
Assunto: Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação.
Restrição de
Não há restrição de acesso.
acesso:
Laudos de avaliação produzidos pelo Comitê de Investimento do FI-FGTS – a
Ementa: regra é a publicidade, o sigilo exceção – Caixa Econômica Federal (CEF) –
informação de caráter confidencial – conhecido e desprovido.
Órgão ou
entidade Caixa Econômica Federal – CEF.
recorrido (a):
Recorrente: A.R.J.
1. O presente parecer trata de solicitação de acesso à informação pública, com base na Lei nº
12.527/2011, conforme resumo descritivo abaixo apresentado:
Recurso à 15/01/201
Autoridade 4 A Caixa indeferiu o meu pedido dos laudos de avaliação que
Máxima subsidiaram investimentos do FI-FGTS na compra de ações
das companhias listadas por mim alegando que as propostas
“foram instruídas com os referidos laudos de avaliação
elaborados por auditoria externa independente” e que o
artigo 46 do regulamento do FI-FGTS estabelece que “todos
os documentos e assuntos analisados nas reuniões do Comitê
de Investimento têm caráter absolutamente confidencial,
sendo impedida a sua divulgação”. No entanto reitero o meu
requerimento ao entender que esse artigo do regulamento do
FI-FGTS contraria o princípio básico do controle e
transparência na alocação dos recursos públicos, fundamento
principal da Lei de Acesso à Informação. Não basta informar
que as propostas foram aprovadas com os laudos de
avaliação, é obrigação da Caixa dar ao cidadão acesso às
cópias, até mesmo como forma de comprovar a veracidade
dessa informação. Não é possível que dinheiro público
(lembro que o FI-FGTS investe recursos de poupança
compulsória dos trabalhadores) seja destinado a empresas
privadas sem qualquer espécie de controle externo,
justificativa pública e amplo acesso do contribuinte/mutuário
aos documentos que fundamentaram as decisões de
investimentos. O argumento de que informações
confidenciais das empresas investidas estão contidas nesses
documentos também não é válido, já que ao buscar
financiamento/capitalização com recursos públicos essas
companhias devem pressupor a transparência total sobre os
negócios viabilizados com dinheiro dos trabalhadores e
contribuintes. Dessa forma, recorro mais uma vez reiterando
a minha requisição de cópias dos laudos de avaliação que
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subsidiaram a aquisição de ações pelo FI-FGTS das
empresas Alupar Investimento S.A., Odebrecht Transport
S.A., Brado Logística e Participações S.A., Cone S.A.,
Energia Renováveis do Brasil S.A. (ERB), Foz do Brasil
S.A. (Odebrecht Ambiental), Energimp S.A., J Malucelli
Energia S.A., Logbras Participações S.A. e MDC Par S.A.
É o relatório.
Análise
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2. Registre-se que o recurso foi apresentado perante a CGU de forma tempestiva e recebido na
esteira do disposto no caput e §1º, do art. 16, da Lei nº 12.527/2011, bem como em respeito ao
prazo de 10 (dez) dias previsto no art. 23, do Decreto nº 7.724/2012, in verbis:
Lei nº 12.527/2011
Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou entidades do Poder
Executivo Federal, o requerente poderá recorrer à Controladoria-Geral da
União, que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias se:
[...]
§ 1o O recurso previsto neste artigo somente poderá ser dirigido à Controladoria
Geral da União depois de submetido à apreciação de pelo menos uma autoridade
hierarquicamente superior àquela que exarou a decisão impugnada, que deliberará
no prazo de 5 (cinco) dias.
Decreto nº 7.724/2012
Art. 23. Desprovido o recurso de que trata o parágrafo único do art. 21 ou
infrutífera a reclamação de que trata o art. 22, poderá o requerente apresentar
recurso no prazo de dez dias, contado da ciência da decisão, à
Controladoria-Geral da União, que deverá se manifestar no prazo de cinco dias,
contado do recebimento do recurso.
3. Quanto ao mérito do pedido, registra-se que o artigo 22, da Lei de Acesso à Informação,
discorre sobre os casos em que o poder público poderá restringir o acesso à informação, nos
seguintes termos:
Lei nº 12.527/2011
Art. 22. O disposto nesta Lei não exclui as demais hipóteses legais de sigilo e de
segredo de justiça nem as hipóteses de segredo industrial decorrentes da exploração
direta de atividade econômica pelo Estado ou por pessoa física ou entidade privada
que tenha qualquer vínculo com o poder público.
4. Impõe-se dizer que “segredo industrial”, por definição, consiste na informação que não é
nem pode se tornar uma informação de domínio geral, caso contrário não seria “segredo”. Tendo em
vista o quesito da exploração da atividade econômica, o segredo industrial encontra guarida na
necessidade de não informar à concorrência o “know-how de negócios” ou o “business intelligence”
que norteia, in casu, o processo de tomada de decisões de uma empresa estatal. Uma vez que a
aplicação financeira de recursos do FGTS é a exploração direta de uma atividade econômica da
Caixa Econômica Federal – CEF, os laudos de avaliação que subsidiaram as decisões do Comitê de
Investimento merecem a devida restrição de acesso. Caso contrário, eventuais investidores e
especuladores, conhecendo os pressupostos que afetaram o Comitê de Investimento no passado,
poderiam se antecipar aos seus movimentos, vez que esses mesmos pressupostos tenderão a afetá-lo
novamente em decisões futuras. Tendo em vista o volume financeiro que compõe o FI-FGTS (cerca
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de 28 bilhões de reais), esse arcabouço certamente impactaria o mercado acionário brasileiro. Desta
forma, ao contrário do que o recorrente alega, as informações confidenciais são críticas antes e
também depois de os negócios estarem concretizados.
5. Por outro lado, há de se proteger inclusive a competitividade da recorrida no mercado
financeiro. O disposto no artigo 5º, § 1º, do Decreto nº 7.724/2012, que regulamenta a Lei de
Acesso à Informação, corrobora com a necessidade de resguardo das informações de empresas
públicas que estão submetidas às normas pertinentes da CVM, com o intuito de não prejudicar a
competitividade das entidades públicas, conforme abaixo transcrito:
Decreto nº 7.724/2012
Art. 5o Sujeitam-se ao disposto neste Decreto os órgãos da administração direta, as
autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de
economia mista e as demais entidades controladas direta ou indiretamente pela
União.
§ 1o A divulgação de informações de empresas públicas, sociedade de economia mista
e demais entidades controladas pela União que atuem em regime de concorrência,
sujeitas ao disposto no art. 173 da Constituição, estará submetida às normas
pertinentes da Comissão de Valores Mobiliários, a fim de assegurar sua
competitividade, governança corporativa e, quando houver, os interesses de acionistas
minoritários.
6. Neste sentido, há de se destacar que existe também um dispositivo infralegal que estabelece
confidencialidade aos documentos solicitados pelo recorrente, que consiste no artigo 46, do
Regulamento do FI-FGTS, in verbis:
Regulamento do FI-FGTS
Artigo 46 Todos os documentos e assuntos analisados nas reuniões
do Comitê de Investimento tem caráter absolutamente confidencial,
sendo impedida a sua divulgação, pelos membros do Comitê de Inves-
timento, sob qualquer pretexto.
Lei nº 11.491/2007
Art. 1o Fica criado o Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço - FI-FGTS, caracterizado pela aplicação de recursos do FGTS, destinado a
investimentos em empreendimentos dos setores de aeroportos, energia, rodovia,
ferrovia, hidrovia, porto e saneamento, de acordo com as diretrizes, critérios e
condições que dispuser o Conselho Curador do FGTS.
§ 1o O FI-FGTS terá patrimônio próprio, segregado do patrimônio do FGTS, e será
disciplinado por instrução da Comissão de Valores Mobiliários - CVM.
11. Desta forma, resta claro que não há de se falar em ilegalidade do artigo 46, do Regulamento
do FI-FTGS, mesmo diante da Lei de Acesso à Informação, tendo em vista a inteligência do artigo
22, do mesmo diploma legal, bem como do artigo 5º, § 1º, do Decreto nº 7.724/2012, além do artigo
1º, da Lei Complementar nº 105/2001, e dos normativos da CVM citados no presente Parecer.
Conclusão
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GABRIEL CALEFFI ESTIVALET
Analista de Finanças e Controle
DECISÃO
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PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Controladoria-Geral da União
Folha de Assinaturas
Signatário(s):
JOSE EDUARDO ELIAS ROMAO
Ouvidor
Assinado Digitalmente em 11/07/2014
Este despacho foi expedido eletronicamente pelo SGI. O c ódigo para verificação da autenticidade deste
documento é: 326c70a0_8d16b5befb92a41