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Controladoria-Geral da União

Ouvidoria-Geral da União

PARECER

Referência: 99902.002140/2013-49
Assunto: Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação.
Restrição de
Não há restrição de acesso.
acesso:
Laudos de avaliação produzidos pelo Comitê de Investimento do FI-FGTS – a
Ementa: regra é a publicidade, o sigilo exceção – Caixa Econômica Federal (CEF) –
informação de caráter confidencial – conhecido e desprovido.
Órgão ou
entidade Caixa Econômica Federal – CEF.
recorrido (a):
Recorrente: A.R.J.

Senhor Ouvidor-Geral da União,

1. O presente parecer trata de solicitação de acesso à informação pública, com base na Lei nº
12.527/2011, conforme resumo descritivo abaixo apresentado:

Relatório Data Teor

Requisito cópia dos laudos de avaliação que subsidiaram de-


cisão de aquisição de ações pelo FI-FGTS (Fundo de Investi-
mentos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) das
19/12/201 empresas: Alupar Investimento S.A., Odebrecht Transport
Pedido
3 S.A., Brado Logística e Participações S.A., Cone S.A., Ener-
gia Renováveis do Brasil S.A. (ERB), Foz do Brasil S.A.
(Odebrecht Ambiental), Energimp S.A., J Malucelli Energia
S.A., Logbras Participações S.A., MDC Par S.A.

Resposta Inicial 08/01/201


4 Em atenção a sua solicitação, registrada através do E-SIC,
site CGU, acerca da disponibilização dos laudos de
avaliação que subsidiaram a decisão de aquisição de ações
pelo FI-FGTS de determinadas companhias apresentamos as
seguintes considerações. Preliminarmente esclarecemos que,
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nos termos do Regulamento do FI-FGTS, cabe ao Comitê de
Investimento, após a análise, aprovar ou reprovar as
Propostas de Investimento e Desinvestimento do FI-FGTS
apresentadas pela Administradora, conforme art. 30. Nesse
sentido, uma vez a CAIXA, na qualidade de Administradora
do FI-FGTS, elaborou as Propostas de Investimento e as
submeteu ao Comitê de Investimento do FI-FGTS (CI FI-
FGTS) que deliberou por sua aprovação. As Propostas de
Investimento das companhias listadas foram instruídas com
os referidos laudos de avaliação elaborado por auditoria
externa independente. Considerado que, nos termos do art.
46 do Regulamento do FI-FGTS, ficou estabelecido que “
Todos os documentos e assuntos analisados nas reuniões do
Comitê de Investimento têm caráter absolutamente
confidencial, sendo impedida a sua divulgação, pelos
membros do Comitê de Investimento, sob qualquer
pretexto”. Ademais, os referidos relatórios trazem
informações tratadas sob compromisso de confidencialidade
a respeito dos aspectos empresariais, financeiros e negociais
das companhias investidas pelo FI-FGTS, sendo que a
divulgação acarretaria em quebra de tal compromisso.
Assim, diante do exposto, em razão de impedimentos
normativos, não será possível a disponibilização das cópias
dos laudos de avaliação.

A Caixa argumenta que os laudos de avaliação que


subsidiaram a aquisição de ações pelo FI-FGTS contém
informações tratadas sobre compromisso de
confidencialidade. Isso vai contra o princípio de
transparência e controle sobre a alocação de recursos
públicos. Os recursos do FI-FGTS são oriundos de poupança
compulsória que pertence aos trabalhadores. Eles têm o
direito de receber uma justificativa técnica para os
Recurso à investimentos feitos pelo FI-FGTS e conhecer todos os
09/01/201
Autoridade elementos usados pelo comitê de investimento para tomar tal
4
Superior decisão. As empresas investidas, ao contarem com
capitalização de recursos públicos, devem ter como princípio
a transparência total. Para evitar isso, têm como alternativa
recusar a sociedade do FI-FGTS. A transparência é exigida
de empresas de capital aberto, por que não é exigido para um
fundo que investe recursos públicos em empresas privadas?
O motivo para o indeferimento do meu pedido fere o
princípio básico da Lei de Acesso a Informação e reitero à
comissão recursal o meu pedido.

Resposta do 14/01/201 Em atenção ao recurso apresentado relativo a não disponibilização “dos


Recurso à 4 laudos de avaliação que subsidiaram decisão de aquisição de ações pelo
FI-FGTS (Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia por Tempo de
Autoridade Serviço) das empresas: Alupar Investimento S.A.; Odebrecht Transport
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Superior S.A.; Brado Logística e Participações S.A.; Cone S.A.; Energia
Renováveis do Brasil S.A. (ERB); Foz do Brasil S.A. (Odebrecht
Ambiental); Energimp S.A.; J Malucelli Energia S.A.; Logbras
Participações S.A. e MDC Par S.A”, ratificamos que os referidos Laudos
estão protegidos pelo dever de confidencialidade estabelecidos tanto na
esfera do Comitê de Investimento nos termos do seu Regulamento
quanto nos termos de confidencialidade celebrados entre o FI-FGTS e as
Empresas investidas. Sem prejuízo do impedimento ora mencionado,
ainda que fora estabelecido na Lei nº 12.527/2011 que o acesso a
informação às pessoas físicas e jurídicas deve ser fornecido mediante
procedimentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e em
linguagem de fácil compreensão, ficaram resguardados ainda as
hipóteses de sigilo estabelecidas em lei (Art. 22 da LAI c/c o Art. 6º, I,
do Dec. nº 7724/2012). Preliminarmente cumpre esclarecer que o FI-
FGTS é um instrumento do mercado financeiro criado para ser um
agente facilitador das políticas públicas de investimentos em
infraestrutura no Brasil, concebido no âmbito do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC). O referido Fundo de Investimento foi
criado por autorização da Lei no 11.491, de 20/06/2007, e é
regulamentado nos termos da Instrução da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) no 462, de 26/11/2007, e por resoluções do Conselho
Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (CCFGTS), tendo
como único cotista o FGTS; além disso, trata-se de um Fundo de
Investimento que possui todas as características técnicas, como
condomínio aberto, com prazo de duração indeterminado, regido por um
regulamento e pelas disposições legais e regulamentares da CVM. A
CAIXA na qualidade de empresa pública de natureza de direito privado,
além dos serviços públicos prestados, compete em igualdade com as
outras instituições financeiras de mercado, realizando inúmeras
operações comerciais, bancárias e de mercado de capitais, bem como as
que compõem a carteira de investimentos do FI-FGTS. Desta forma,
podemos inferir que as informações atinentes aos assuntos de cunho
negocial relacionados FI-FGTS estão abrigadas pelas disposições da Lei
Complementar nº105, de 10 de janeiro de 2001 (“LC 105”), que regula
sobre o sigilo das operações de instituições financeiras. Não obstante tais
disposições legais, instanos destacar que a ICVM nº 462, de 26 de
novembro de 2007, versa sobre a administração, o funcionamento e a
divulgação de informações FI-FGTS, que estabeleceu, dentre outras, as
obrigações da Administradora a respeito da divulgação de informações e
fatos relevantes sobre o Fundo e sobre os ativos integrantes de sua
carteira. Esse diploma regulatório traz no parágrafo 2º do Artigo 27 a
disposição que não serão incluídas às obrigações de divulgação de
informações e fatos relevantes, as informações sigilosas referentes às
companhias emissoras de títulos e valores mobiliários integrantes da
carteira do fundo, obtidas pelo Administrador sob compromisso de
confiden-cialidade. Assim sendo, as informações tratadas sob
compromisso de confidencialidade a respeito dos aspectos empresariais,
financeiros, negociais e, precipuamente questões estratégicas das
companhias investidas pelo FI-FGTS, acarretará em quebra de tal
compromisso e direito de indenização por parte de terceiros, o que trará
consequências financeiras negativas ao Fundo e à CAIXA, na qualidade
de sua Administradora, além de prejuízo a imagem do próprio FI-FGTS e
desta Instituição Financeira. Portanto, todo documento/relatório utilizado
como insumo de decisão dos investimentos nas companhias investidas
pelo FI-FGTS são documentos que incluem informações orais e/ou
escritas, reveladas, transmitidas e/ou divulgadas pela Companhia
Investida ao Fundo durante o período de investimento, devendo ser
considerada confidencial, restrita e de propriedade da parte que
transmitiu a informação, neste caso a Companhia Investida. Sem prejuízo
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do que fora estabelecido na ICVM nº 462, importante ressaltar que a
Administradora do Fundo deve adotar a diligência necessária quanto aos
procedimentos relacionados ao tratamento dado às informações dos
investimentos do FI-FGTS, em observância ao que dispõe a ICVM nº
409. Nesse sentido, pelo fato da CAIXA se configurar como agente de
mercado, todas as informações que afetem direta ou indiretamente os
interesses dos recursos de terceiros devem ser tratados com redobrado
cuidado, já que fazem referência ao conteúdo de documentos os quais
contemplam estratégias, análises, negociações, avaliações, informações
sobre as companhias investidas, sendo mais que certo que tratam-se de
informações referentes à documentos sigilosos. Ainda que assim não
fosse, a disponibilização dos documentos caracterizar-se-ia a abertura da
própria estratégia de negócios comerciais desta instituição financeira. A
CAIXA é empresa pública mas, como tal, tem natureza de direito privado
e, além dos serviços públicos prestados, compete em pé de igualdade
com as outras instituições financeiras, realizando operações comerciais
como elas. Não se pode olvidar, assim, o dever de sigilo que lhe é
imposto quanto à comunicação dos dados sob sua guarda envolvendo
pessoas de direito privado, sejam elas físicas ou jurídicas, bem como de
sua estratégia de negócios, considerando que atua no mercado sob as
mesmas condições de sua concorrência.

Recurso à 15/01/201
Autoridade 4 A Caixa indeferiu o meu pedido dos laudos de avaliação que
Máxima subsidiaram investimentos do FI-FGTS na compra de ações
das companhias listadas por mim alegando que as propostas
“foram instruídas com os referidos laudos de avaliação
elaborados por auditoria externa independente” e que o
artigo 46 do regulamento do FI-FGTS estabelece que “todos
os documentos e assuntos analisados nas reuniões do Comitê
de Investimento têm caráter absolutamente confidencial,
sendo impedida a sua divulgação”. No entanto reitero o meu
requerimento ao entender que esse artigo do regulamento do
FI-FGTS contraria o princípio básico do controle e
transparência na alocação dos recursos públicos, fundamento
principal da Lei de Acesso à Informação. Não basta informar
que as propostas foram aprovadas com os laudos de
avaliação, é obrigação da Caixa dar ao cidadão acesso às
cópias, até mesmo como forma de comprovar a veracidade
dessa informação. Não é possível que dinheiro público
(lembro que o FI-FGTS investe recursos de poupança
compulsória dos trabalhadores) seja destinado a empresas
privadas sem qualquer espécie de controle externo,
justificativa pública e amplo acesso do contribuinte/mutuário
aos documentos que fundamentaram as decisões de
investimentos. O argumento de que informações
confidenciais das empresas investidas estão contidas nesses
documentos também não é válido, já que ao buscar
financiamento/capitalização com recursos públicos essas
companhias devem pressupor a transparência total sobre os
negócios viabilizados com dinheiro dos trabalhadores e
contribuintes. Dessa forma, recorro mais uma vez reiterando
a minha requisição de cópias dos laudos de avaliação que
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subsidiaram a aquisição de ações pelo FI-FGTS das
empresas Alupar Investimento S.A., Odebrecht Transport
S.A., Brado Logística e Participações S.A., Cone S.A.,
Energia Renováveis do Brasil S.A. (ERB), Foz do Brasil
S.A. (Odebrecht Ambiental), Energimp S.A., J Malucelli
Energia S.A., Logbras Participações S.A. e MDC Par S.A.

Em atenção ao recurso em 2º Instância apresentado por


V.Sa., ratificamos que os laudos de avaliação das empresas
citadas estão protegidos pelo dever de sigilo bancário nos
Resposta do termos da Lei Complementar nº 105 além do dever de confi-
Recurso à 20/01/201 dencialidade, nos exatos termos da resposta consignada no
Autoridade 4 recurso de 1ª instância. Adicionalmente, esclarecemos que o
Máxima FI-FGTS, além de ser controlado e fiscalizado pela Comis-
são de Valores Mobiliários, está sujeito à esfera de controles
internos (Auditoria CAIXA) bem como ao controle externo
(TCU e CGU).

Recurso à CGU 20/01/201


4 A Caixa Econômica Federal indeferiu o meu pedido de
acesso aos laudos de avaliação que subsidiaram a aquisição
pelo FI-FGTS de ações de companhias sob a alegação de as
propostas de investimento “foram instruídas com os
referidos laudos de avaliação elaborados por auditoria
externa independente”, que o artigo 46 do regulamento do
FI-FGTS estabelece que “todos os documentos e assuntos
analisados nas reuniões do Comitê de Investimento têm
caráter absolutamente confidencial, sendo impedida a sua
divulgação” e por fim por “dever de guardar o sigilo
bancário”. No entanto reitero o meu requerimento ao
entender que estas alegações contrariam o princípio básico
do controle e transparência na alocação dos recursos
públicos, fundamento principal da Lei de Acesso à
Informação. Não basta informar que as propostas foram
aprovadas com os laudos de avaliação, é obrigação da Caixa
dar ao cidadão acesso às cópias, até mesmo como forma de
comprovar a veracidade dessa informação. Não é possível
que dinheiro público (lembro que o FI-FGTS investe
recursos de poupança compulsória dos trabalhadores) seja
destinado a empresas privadas sem qualquer possibilidade de
controle civil e de aferição das justificativas com amplo
acesso ao contribuinte/mutuário aos documentos que
fundamentaram as decisões de investimentos. O argumento
de que informações confidenciais das empresas investidas
estão contidas nesses documentos também não é válido, já
que ao buscar financiamento/capitalização com recursos
públicos essas companhias devem pressupor a transparência
total sobre os negócios viabilizados com dinheiro dos
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trabalhadores e contribuintes. As informações confidenciais
são críticas ANTES de se fechar um negócio, não DEPOIS,
quando devem imperar todas as possibilidades de
fiscalização. Dessa forma, recorro mais uma vez reiterando a
minha requisição de cópias dos laudos de avaliação que
subsidiaram a aquisição de ações pelo FI-FGTS das
empresas Alupar Investimento S.A., Odebrecht Transport
S.A., Brado Logística e Participações S.A., Cone S.A.,
Energia Renováveis do Brasil S.A. (ERB), Foz do Brasil
S.A. (Odebrecht Ambiental), Energimp S.A., J Malucelli
Energia S.A., Logbras Participações S.A. e MDC Par S.A.

A CGU solicitou à recorrida: encaminhamento de e-mail ao cidadão – no


prazo máximo de cinco dias – contendo a informação por ele solicitada.
Reservando-se à CEF o direito de obliterar (tarjar) as informações consi-
Solicitação de deradas sigilosas. E que comprove este encaminhamento, enviando cópia
06/06/201
Esclarecimentos da mensagem (enviada ao cidadão) para ogu.instrucao@cgu.gov.br, para
4 que possamos avaliar eventual perda do objeto do recurso. Ou, alternati-
Adicionais
vamente, caso a CEF opte por não encaminhar a informação ao cidadão,
solicita-se – no prazo máximo de cinco dias – que tal decisão seja devi-
damente fundamentada.

Em atenção ao pedido de esclarecimentos referente ao regis-


tro no e-SIC realizado pelo Sr. A.R.J., seguem abaixo nossas
considerações: Em atenção ao teor do recurso apresentado,
ratificamos os termos em que as informações contidas nos
laudos de avaliação elaborados pelos assessores financeiros
externos e independentes que fundamentaram a aquisição
Alupar Investimento S.A.; Odebrecht Transport S.A.; Brado
Esclarecimentos 27/06/201
Logística e Participações S.A.; Cone S.A.; Energia Renová-
Adicionais 4
veis do Brasil S.A. (ERB); Foz do Brasil S.A. (Odebrecht
Ambiental); Energimp S.A.; J Malucelli Energia S.A.; Log-
bras Participações S.A. e MDC Par S.A, se encontram abar-
cadas por hipótese de sigilo bancário (Lei Complementar
105/01; art. 1º), bem como de sigilo fiscal e concorrencial.
Nesse sentido, ratificamos a impossibilidade de disponibili-
zação do material.

É o relatório.

Análise

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2. Registre-se que o recurso foi apresentado perante a CGU de forma tempestiva e recebido na
esteira do disposto no caput e §1º, do art. 16, da Lei nº 12.527/2011, bem como em respeito ao
prazo de 10 (dez) dias previsto no art. 23, do Decreto nº 7.724/2012, in verbis:

Lei nº 12.527/2011
Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou entidades do Poder
Executivo Federal, o requerente poderá recorrer à Controladoria-Geral da
União, que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias se:
[...]
§ 1o O recurso previsto neste artigo somente poderá ser dirigido à Controladoria
Geral da União depois de submetido à apreciação de pelo menos uma autoridade
hierarquicamente superior àquela que exarou a decisão impugnada, que deliberará
no prazo de 5 (cinco) dias.

Decreto nº 7.724/2012
Art. 23. Desprovido o recurso de que trata o parágrafo único do art. 21 ou
infrutífera a reclamação de que trata o art. 22, poderá o requerente apresentar
recurso no prazo de dez dias, contado da ciência da decisão, à
Controladoria-Geral da União, que deverá se manifestar no prazo de cinco dias,
contado do recebimento do recurso.

3. Quanto ao mérito do pedido, registra-se que o artigo 22, da Lei de Acesso à Informação,
discorre sobre os casos em que o poder público poderá restringir o acesso à informação, nos
seguintes termos:

Lei nº 12.527/2011
Art. 22. O disposto nesta Lei não exclui as demais hipóteses legais de sigilo e de
segredo de justiça nem as hipóteses de segredo industrial decorrentes da exploração
direta de atividade econômica pelo Estado ou por pessoa física ou entidade privada
que tenha qualquer vínculo com o poder público.

4. Impõe-se dizer que “segredo industrial”, por definição, consiste na informação que não é
nem pode se tornar uma informação de domínio geral, caso contrário não seria “segredo”. Tendo em
vista o quesito da exploração da atividade econômica, o segredo industrial encontra guarida na
necessidade de não informar à concorrência o “know-how de negócios” ou o “business intelligence”
que norteia, in casu, o processo de tomada de decisões de uma empresa estatal. Uma vez que a
aplicação financeira de recursos do FGTS é a exploração direta de uma atividade econômica da
Caixa Econômica Federal – CEF, os laudos de avaliação que subsidiaram as decisões do Comitê de
Investimento merecem a devida restrição de acesso. Caso contrário, eventuais investidores e
especuladores, conhecendo os pressupostos que afetaram o Comitê de Investimento no passado,
poderiam se antecipar aos seus movimentos, vez que esses mesmos pressupostos tenderão a afetá-lo
novamente em decisões futuras. Tendo em vista o volume financeiro que compõe o FI-FGTS (cerca

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de 28 bilhões de reais), esse arcabouço certamente impactaria o mercado acionário brasileiro. Desta
forma, ao contrário do que o recorrente alega, as informações confidenciais são críticas antes e
também depois de os negócios estarem concretizados.
5. Por outro lado, há de se proteger inclusive a competitividade da recorrida no mercado
financeiro. O disposto no artigo 5º, § 1º, do Decreto nº 7.724/2012, que regulamenta a Lei de
Acesso à Informação, corrobora com a necessidade de resguardo das informações de empresas
públicas que estão submetidas às normas pertinentes da CVM, com o intuito de não prejudicar a
competitividade das entidades públicas, conforme abaixo transcrito:

Decreto nº 7.724/2012
Art. 5o Sujeitam-se ao disposto neste Decreto os órgãos da administração direta, as
autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de
economia mista e as demais entidades controladas direta ou indiretamente pela
União.
§ 1o A divulgação de informações de empresas públicas, sociedade de economia mista
e demais entidades controladas pela União que atuem em regime de concorrência,
sujeitas ao disposto no art. 173 da Constituição, estará submetida às normas
pertinentes da Comissão de Valores Mobiliários, a fim de assegurar sua
competitividade, governança corporativa e, quando houver, os interesses de acionistas
minoritários.

6. Neste sentido, há de se destacar que existe também um dispositivo infralegal que estabelece
confidencialidade aos documentos solicitados pelo recorrente, que consiste no artigo 46, do
Regulamento do FI-FGTS, in verbis:

Regulamento do FI-FGTS
Artigo 46 Todos os documentos e assuntos analisados nas reuniões
do Comitê de Investimento tem caráter absolutamente confidencial,
sendo impedida a sua divulgação, pelos membros do Comitê de Inves-
timento, sob qualquer pretexto.

7. Tal dispositivo infralegal encontra amparo em normativos da entidade reguladora do


mercado financeiro brasileiro, pois o conteúdo obrigatório do Regulamento do fundo FI-FGTS está
expressamente previsto na Instrução Normativa da Comissão de Valores Mobiliários – CVM nº
462/2007. Destaca-se o art. 12, XIV e § 2º, conforme segue:

Instrução Normativa CVM nº 462/2007


Art. 12. O regulamento deverá, obrigatoriamente, dispor sobre:
[...]
XIV política de divulgação de informações a interessados, inclusive as relativas à
composição de carteira, que deverá ser idêntica para todos que solicitarem.
[...]
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§ 2º. A política de divulgação de informações exigida no inciso XIV do caput deve
obedecer ao disposto nos §§ 2º a 4º do art. 41 da Instrução CVM nº 409, de 18 de
agosto de 2004.

8. Não obstante, em observância ao princípio constitucional da legalidade, a Instrução


Normativa CVM nº 462/2007 encontra amparo na Lei nº 11.491/2007, em especial no art. 1º, § 1º,
conforme segue:

Lei nº 11.491/2007
Art. 1o Fica criado o Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço - FI-FGTS, caracterizado pela aplicação de recursos do FGTS, destinado a
investimentos em empreendimentos dos setores de aeroportos, energia, rodovia,
ferrovia, hidrovia, porto e saneamento, de acordo com as diretrizes, critérios e
condições que dispuser o Conselho Curador do FGTS.
§ 1o O FI-FGTS terá patrimônio próprio, segregado do patrimônio do FGTS, e será
disciplinado por instrução da Comissão de Valores Mobiliários - CVM.

9. Assim, a Lei autoriza a CVM a disciplinar a gestão do patrimônio do FI-FGTS. E a CVM,


por sua vez, confere competência para disciplinar a política de divulgação de informações do fundo
ao Regulamento, devendo este, conforme já mencionado, respeitar as disposições da Instrução
CVM nº 409/2004.

10. Por derradeiro, a recorrida, em esclarecimentos adicionais prestado à esta Controladoria,


destaca que tais informações encontram-se abarcadas por hipótese de sigilo bancário, conforme Lei
Complementar nº 105/2001, art. 1º. Fato que, por si só, já seria suficiente para negar acesso à
informação requerida pelo recorrente.

11. Desta forma, resta claro que não há de se falar em ilegalidade do artigo 46, do Regulamento
do FI-FTGS, mesmo diante da Lei de Acesso à Informação, tendo em vista a inteligência do artigo
22, do mesmo diploma legal, bem como do artigo 5º, § 1º, do Decreto nº 7.724/2012, além do artigo
1º, da Lei Complementar nº 105/2001, e dos normativos da CVM citados no presente Parecer.

Conclusão

12. Do exposto, opino pelo conhecimento do recurso interposto e, no mérito, pelo


desprovimento, haja vista que a informação requerida pelo cidadão é de caráter sigiloso.

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GABRIEL CALEFFI ESTIVALET
Analista de Finanças e Controle

DECISÃO

No exercício das atribuições a mim conferidas pela Portaria n. 1.567 da Controladoria-Geral da


União, de 22 de agosto de 2013, adoto, como fundamento deste ato, o parecer acima, para decidir
pelo desprovimento do recurso interposto, nos termos do art. 23 do referido Decreto, no âmbito do
pedido de informação nº 99902.002140/2013-49, direcionado à Caixa Econômica Federal – CEF.

JOSÉ EDUARDO ROMÃO


Ouvidor-Geral da União

210
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Controladoria-Geral da União
Folha de Assinaturas

Documento: PARECER nº 2842 de 11/07/2014

Referência: PROCESSO nº 99902.002140/2013-49

Assunto: Parecer sobre acesso à informação.

Signatário(s):
JOSE EDUARDO ELIAS ROMAO
Ouvidor
Assinado Digitalmente em 11/07/2014

Este despacho foi expedido eletronicamente pelo SGI. O c ódigo para verificação da autenticidade deste
documento é: 326c70a0_8d16b5befb92a41

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