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COMPLIANCE BANCÁRIO NO BRASIL

E OS DESDOBRAMENTOS DA
OPERAÇÃO LAVA JATO
Prof. Fábio Galvão, M.Sc.
Galvão Advocacia Empresarial
fabiogalvao@pgassociados.com
CORRUPÇÃO NO MUNDO

Ranking da Organização Transparência


Internacional
• O Brasil ocupa a 96ª posição do ranking,
com 37 pontos.
• A Nova Zelândia é o melhor colocado no
ranking com 89 pontos.
OPERAÇÃO LAVA JATO

• Em 17 de março de 2014, foi deflagrada a primeira fase ostensiva da


operação que viria a ser conhecida como Lava Jato, unificando quatro
investigações que apuravam a prática de crimes financeiros e desvio de
recursos públicos. Foram cumpridos 81 mandados de busca e
apreensão, 18 mandados de prisão preventiva, 10 mandados de prisão
temporária e 19 mandados de condução coercitiva, em 17 cidades de 6
estados e no Distrito Federal.
• O nome Lava Jato faz referência a uma rede de lavanderias e um posto
de combustíveis de Brasília que era utilizado por uma das organizações
criminosas investigadas inicialmente para movimentar dinheiro ilícito.
• A Operação Lava Jato completou 4 anos em 2018. Desde março de
2014, foram deflagradas 49 fases, 160 pessoas foram condenadas em 1ª
Instância e 77 em 2ª Instância e cerca de R$ 12 bilhões devem ser
recuperados por meio de acordos de delação premiada. Em torno de R$
1,9 bilhão já foi devolvido. (números divulgados pelo Ministério Público
Federal)
OPERAÇÃO LAVA JATO
E A TRANSFORMAÇÃO DA CULTURA CORPORATIVA

• Lei Anticorrupção (12.846/13) e Operação Lava Jato como estímulos


para adoção de programas de compliance.
• Pesquisa da AMCHAM aponta que para 60% dos empresários, as ações
anticorrupção em curso no País trouxeram impacto direto no
investimento em programas integridade da organização. A mesma
porcentagem de empresários (61%) avaliou que a entrada em vigor da
Lei Anticorrupção mudou a conscientização sobre as questões
referentes ao tema.¹
• “Só a Odebrecht pretende gastar R$ 64 milhões em compliance neste
ano [2017], quase 6 vezes mais que o valor destinado para essa área
dois anos atrás.” – Matéria do site G1 sobre o investimento das
empresas investigadas na Lava Jato em programas de integridade.²
1 - https://www.amcham.com.br/noticias/competitividade/lava-jato-e-lei-anticorrupcao-
acelerou-compliance-em-60-das-empresas-aponta-pesquisa-amcham-3525.html
2 - https://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/para-virar-a-pagina-empresas-da-lava-jato-
investem-em-planos-anticorrupcao.ghtml
OPERAÇÃO LAVA JATO
E A TRANSFORMAÇÃO DA CULTURA CORPORATIVA

• A Lei Anticorrupção (12.846/13) ao tratar das sanções aplicáveis às


pessoas jurídicas prevê expressamente que será levado em
consideração “a existência de mecanismos e procedimentos internos de
integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a
aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa
jurídica”;
• O Decreto nº 8.420/15 estabelece que “O programa de integridade deve
ser estruturado, aplicado e atualizado de acordo com as características e
riscos atuais das atividades de cada pessoa jurídica”;
• Além disso, o Decreto dispõe que o programa será avaliado de acordo
com vários parâmetros objetivos, quanto à sua efetividade, entre eles:
registros contábeis que reflitam de forma completa e precisa as
transações da pessoa jurídica, controles internos que assegurem a
pronta elaboração e confiabilidade de relatórios e demonstrações
financeiros da pessoa jurídica e a  existência de vulnerabilidades nas
pessoas jurídicas envolvidas.
COMPLIANCE EFETIVO
• O programa deve, de fato, demonstrar efetividade. A adoção de um
“compliance de fachada” será facilmente detectado; não basta um
programa de integridade meramente formal; ele tem de valer na
prática, inclusive com mecanismos claros e documentados, conforme
seguem:
a) Envolvimento da alta direção ("Tone from the top").
b) Todos que trabalhem direta ou indiretamente com a empresa deverão
ter conhecimento, obediência e uma clara noção do programa de
integridade.
c) Treinamento periódico sobre o programa de integridade, além do
constante aprimoramento do programa.
d) Criação de um departamento com independência e autonomia para
aplicar o programa e fiscalizar seu cumprimento.
e) Rigorosas medidas: para seleção e contratação de pessoal e de
terceiros (pessoa física ou jurídica); medidas disciplinares a quem
infringir o código de conduta; avaliação atenta nas modificações
societárias (fusões, incorporações, etc.); dentre outros.
COMPLIANCE BANCÁRIO
• Não chega a ser uma novidade no setor bancário, pois desde a
Resolução CMN nº 2.554/98 incorporou a adoção de regras de
Compliance para as instituições financeiras, determinando a
implantação e a implementação de controles internos voltados para as
atividades do mercado financeiro;
• Os parâmetros de efetividades utilizados pela Resolução CMN nº
2.554/98 basicamente são os mesmos, ou seja, aplicabilidade para
todos os níveis de negócios da instituição, análise da complexidade e
risco das operações realizadas e o monitoramento sistemático dos riscos
e do cumprimento dos procedimentos de controles internos;
• A Lei º 9.613/98 também trouxe uma série de princípios aplicáveis ao
Compliance bancário e formalizou no §5º do art. 1º o estímulo do
combate aos crimes de lavagem de dinheiro através da colaboração
espontânea do regulado autoridades, “prestando esclarecimentos que
conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores,
coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores
objeto do crime”;
COMPLIANCE BANCÁRIO
• Posteriormente, a Resolução CMN nº 4.595/17 trouxe orientações mais
claras sobre a forma de adoção de uma política de conformidade
(compliance) das instituições financeiras;
• A política de conformidade deve ser aprovada pelo conselho de
administração;
• Deve definir, no mínimo:
a) o objetivo e o escopo da função de conformidade;
b) a divisão clara das responsabilidades das pessoas envolvidas na função de
conformidade, de modo a evitar possíveis conflitos de interesses;
c) a alocação de pessoal em quantidade suficiente e adequadamente treinado para
assumir a função de conformidade;
d) uma unidade específica responsável pela função de conformidade;
e) as medidas necessárias para garantir independência e adequada autoridade aos
responsáveis pela função de conformidade;
f) os canais de comunicação com a diretoria, com o conselho de administração e com
o comitê de auditoria para relatar possíveis desvios e falhas de controles internos;
g) a coordenação das atividades relativas à função de conformidade com funções de
gerenciamento de risco e com a auditoria interna.
COMPLIANCE BANCÁRIO
• No entanto, foi somente após o advento da Lei nº 13.506/17 que tanto
o Banco Central quanto a CVM passaram a ter um tratamento uniforme
a respeito da possibilidade de concessão de benefícios às instituições
financeiras que adotarem um programa de Compliance efetivo;
• A CVM já dispunha da possibilidade de firmar termos de compromissos
com seus regulados, estabelecida no art. 9º da Lei nº 6.385/76:
§ 5º  A Comissão de Valores Mobiliários, após análise de conveniência e oportunidade, com vistas a
atender ao interesse público, poderá deixar de instaurar ou suspender, em qualquer fase que preceda a
tomada da decisão de primeira instância, o procedimento administrativo destinado à apuração de infração
prevista nas normas legais e regulamentares cujo cumprimento lhe caiba fiscalizar, se o investigado assinar
termo de compromisso no qual se obrigue a:   (Redação dada pela Lei nº 13.506, de 2017)
I - cessar a prática de atividades ou atos considerados ilícitos pela Comissão de Valores Mobiliários; e
II - corrigir as irregularidades apontadas, inclusive indenizando os prejuízos.
§ 6º O compromisso a que se refere o parágrafo anterior não importará confissão quanto à matéria de
fato, nem reconhecimento de ilicitude da conduta analisada.         

• A Deliberação CVM nº 390/01 prevê que a proposta completa de termo


de compromisso deverá ser encaminhada à Coordenação de Controle
de Processos Administrativos – CCP até 30 (trinta) dias após a
apresentação de defesa.
COMPLIANCE BANCÁRIO
• Porém, o §4º do art. 7º excepciona essa regra dizendo que “Em casos
excepcionais, nos quais se entenda que o interesse público determina a
análise de proposta de celebração de termo de compromisso
apresentada fora do prazo a que se refere o § 2º, tais como os de oferta
de indenização substancial aos lesados pela conduta objeto do processo
e de modificação da situação de fato existente quando do término do
referido prazo (....)”.
• A CVM também já havia regulamentado em algumas Instruções a
necessidade de adoção de um programa de Compliance nas entidades
por ela fiscalizadas;
• A Instrução CVM nº 558/15 aplicável aos administradores de carteira
previu a necessidade de designação de um diretor responsável pela área
de controles internos, reafirmando, tal como a Resolução CMN nº
2.554/98, a obrigatoriedade de serem controles efetivos e consistentes
com a natureza, complexidade e risco das operações realizadas;
COMPLIANCE BANCÁRIO
• A Instrução CVM nº 586/17 alterou dispositivos da Instrução CVM nº
480/09 (registro de emissores), para acrescentar no Anexo A
importantes referências ao Código Brasileiro de Governança
Corporativa, entre elas:
a) A necessidade de avaliar periodicamente a exposição da companhia a
riscos e a eficácia dos sistemas de gerenciamento de riscos, dos
controles internos e do sistema de integridade/conformidade
(compliance);
b) A recomendação de implantação de comitê de auditoria com
atribuições no gerenciamento de riscos e compliance;
c) A supervisão do Conselho de Administração sobre as atividades do
Programa de Compliance;
d) A avaliação anual da diretoria a respeito da efetividade do Programa
de Compliance.
COMPLIANCE BANCÁRIO
• Por sua vez, a Instrução CVM nº 598/18 que dispõe sobre a atividade do
analista de valores mobiliários enfatizou:

a) A necessidade de atribuição da responsabilidade pela implementação


e cumprimento de regras, procedimentos e controles internos a um
diretor estatutário (no caso de PJ);
b) A obrigatoriedade de obediência das regras, procedimentos e
controles internos pelo analista;
c) A identificação de situação de conflito de interesses e sua mitigação;
d) A aplicação de penalidades no caso de inobservância de tais regras,
procedimentos e controles internos.
INOVAÇÕES DA LEI Nº 13.506/17
• O art. 13 introduziu pela primeira vez a possibilidade de o Banco Central
firmar termos de compromisso, observando exatamente as mesmas
condições que a Lei nº 6.385/76 já dispunha, com as alterações da Lei
nº 9.457/97;
• A lei prevê que o Banco Central não poderá firmar TC nos casos de
infrações grave:
I - dano à liquidez, à solvência ou à higidez ou assumir risco incompatível
com a estrutura patrimonial;
II - contribuir para gerar indisciplina no mercado financeiro ou para afetar
a estabilidade ou o funcionamento regular do Sistema Financeiro
Nacional;
III - dificultar o conhecimento da real situação patrimonial ou financeira;
IV - afetar severamente a finalidade e a continuidade das atividades ou
das operações no âmbito do Sistema Financeiro Nacional.
INOVAÇÕES DA LEI Nº 13.506/17
• Tanto o Banco Central (art. 30) quanto a CVM (art. 34) passaram a
dispor da possibilidade de firmar “Acordo Administrativo em Processo
de Supervisão”,  com extinção da ação punitiva ou redução de 1/3 (um
terço) a 2/3 (dois terços) da penalidade aplicável, mediante cooperação
na apuração dos fatos que possibilite:

I - a identificação dos demais envolvidos na prática da infração, quando


couber;

II - a obtenção de informações e de documentos que comprovem a


infração noticiada ou sob investigação.
INOVAÇÕES DA LEI Nº 13.506/17

• Na CVM, a regulamentação da Lei está sendo feita através da discussão


de minuta de alteração da Deliberação CVM nº 538/08, considerando
entre outros parâmetros para fins de avaliação da relevância da conduta
ou da expressividade da ameaça ou lesão ao bem jurídico tutelado:

I – o grau de reprovabilidade ou da repercussão da conduta;


II – a expressividade de valores associados ou relacionados à conduta;
III – a expressividade de prejuízos, ainda que potenciais, a investidores e
demais participantes do mercado;
IV – o impacto da conduta na credibilidade do mercado de capitais;
V – os antecedentes das pessoas envolvidas; e
VI – a boa-fé das pessoas envolvidas.
COMPLIANCE NÃO EFETIVO
• Entidades podem adotar programas superficiais e/ou sem preocupação
alguma com a manutenção do ambiente competitivo, apenas com a
intenção de se valerem deles como circunstância atenuante em caso de
condenação. Podem também adotar programas extremamente
complexos e em teoria bem estruturados mas que não encontram
qualquer eco na cultura corporativa e são sistematicamente ignorados
por colaboradores.
• Por esses motivos, um conjunto de medidas concretas deve
complementar a implementação de um programa para que ele não seja
considerado “de fachada”.
• Portaria nº 909/15 – CGU: a atenuação das penas só ocorrerá se
comprovada documentalmente a efetividade do programa de
integridade. A propósito do tema, o programa de compliance deve ter
aplicação preventiva e suas normas deverão ser hábeis a evitar, detectar
e remediar o ato lesivo. Sendo assim, criar o programa de integridade
após a prática do ato ilícito, de nada adiantará ou ajudará muito pouco
na redução das sanções.
COMPLIANCE EFETIVO

EXCLUDENTE DA RESPONSABILIDADE DAS EMPRESAS E DE DIRETORES,


GERENTES, EMPREGADOS, CONTRATADOS, FORNECEDORES: EXISTÊNCIA
DE PROGRAMAS EFETIVOS DE COMPLIANCE (INTEGRIDADE
CORPORATIVA)
• LEI 12.846/13 (regulamentada pelo Decreto nº 8.420/2015)
Art. 7o Serão levados em consideração na aplicação das sanções:
(...)
VII - a cooperação da pessoa jurídica para a apuração das infrações;
VIII - a existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e
incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de
conduta no âmbito da pessoa jurídica;
Parágrafo único. Os parâmetros de avaliação de mecanismos e procedimentos previstos
no inciso VIII do caput serão estabelecidos em regulamento do Poder Executivo
federal.
CONSEQUÊNCIAS DE UM COMPLIANCE NÃO EFETIVO

• SANÇÕES NA ESFERA DA IMPROBIDADE EMPRESARIAL LEI 12.846/13

Art. 6º Na esfera administrativa, serão aplicadas às pessoas jurídicas


consideradas responsáveis pelos atos lesivos previstos nesta Lei as
seguintes sanções:
I - multa, no valor de 0,1% (um décimo por cento) a 20% (vinte por cento)
do faturamento bruto do último exercício anterior ao da instauração do
processo administrativo, excluídos os tributos, a qual nunca será inferior à
vantagem auferida, quando for possível sua estimação; e
II - publicação extraordinária da decisão condenatória
CONSEQUÊNCIAS DE UM COMPLIANCE NÃO EFETIVO

• SANÇÕES NA ESFERA DA IMPROBIDADE EMPRESARIAL LEI 12.846/13

Art. 19. Em razão da prática de atos previstos no art. 5º desta Lei, a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por meio das respectivas
Advocacias Públicas ou órgãos de representação judicial, ou equivalentes,
e o Ministério Público, poderão ajuizar ação com vistas à aplicação das
seguintes sanções às pessoas jurídicas infratoras:
I - perdimento dos bens, direitos ou valores que representem vantagem
ou proveito direta ou indiretamente obtidos da infração, ressalvado o
direito do lesado ou de terceiro de boa-fé;
II - suspensão ou interdição parcial de suas atividades;
III - dissolução compulsória da pessoa jurídica;
(continua)
CONSEQUÊNCIAS DE UM COMPLIANCE NÃO EFETIVO

• SANÇÕES NA ESFERA DA IMPROBIDADE EMPRESARIAL LEI 12.846/13

IV - proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou


empréstimos de órgãos ou entidades públicas e de instituições financeiras
públicas ou controladas pelo poder público, pelo prazo mínimo de 1 (um)
e máximo de 5 (cinco) anos.
§ 1º A dissolução compulsória da pessoa jurídica será determinada
quando comprovado:
I - ter sido a personalidade jurídica utilizada de forma habitual para
facilitar ou promover a prática de atos ilícitos; ou
II - ter sido constituída para ocultar ou dissimular interesses ilícitos ou a
identidade dos beneficiários dos atos praticados.
CONSEQUÊNCIAS DE UM COMPLIANCE NÃO EFETIVO

• A aplicação das sanções previstas na nova Lei não exclui, em qualquer


hipótese, a obrigação da reparação integral do dano causado, nem a
incidência de outras sanções, como as disciplinadas na Lei de
Improbidade Administrativa ou na legislação penal aplicável à matéria.
• A partir da edição da “Lei Anticorrupção”, portanto, instalou-se uma
nova era regulatória no Brasil, no contexto de uma onda de operações
fiscalizatórias, em que a regra é atuação conjunta de diversos órgãos de
controle, como Receita Federal, Tribunais de Contas, Ministério Público,
Advocacias Públicas e outros.
• Nesse cenário, é necessária a implementação e o monitoramento de um
programa de compliance efetivo nas empresas que contratam com os
Poderes Públicos, de forma a servir de proteção a elas, internalizando a
conscientização em torno das práticas anticorrupção e de probidade
empresarial.
CONSEQUÊNCIAS DE UM COMPLIANCE NÃO EFETIVO

PROCESSO ADMINISTRATIVO – PAR (IN Nº 909/2015 – CGU)


A “Lei Anticorrupção” se revela inovadora ao ampliar o espectro
sancionatório na esfera administrativa stricto sensu, alargando a atuação
das autoridades administrativas.
Na esfera administrativa, serão aplicadas as seguintes sanções às
empresas consideradas responsáveis por atos lesivos previstos nesta Lei:
a) multa, no valor de 0,1% (um décimo por cento) a 20% (vinte por
cento) do faturamento bruto do último exercício anterior ao da
instauração do processo administrativo, excluídos os tributos, a qual
nunca será inferior à vantagem auferida, quando for possível sua
estimação;
b) publicação extraordinária da decisão condenatória.
CONSEQUÊNCIAS DE UM COMPLIANCE NÃO EFETIVO

PROCESSO JUDICIAL
Relativamente à esfera judicial, prevê o art. 19 que a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, por meio das respectivas Advocacias
Públicas ou órgãos de representação judicial, ou equivalentes, bem como
o Ministério Público, poderão ajuizar ação com vistas à aplicação das
seguintes sanções às empresas infratoras:
a) perdimento dos bens, direitos ou valores que representem vantagem
ou proveito direta ou indiretamente obtidos da infração, ressalvado o
direito do lesado ou de terceiro de boa-fé;
b) suspensão ou interdição parcial de suas atividades;
c) dissolução compulsória da pessoa jurídica;
d) proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou
empréstimos de órgãos ou entidades públicas e de instituições
financeiras públicas ou controladas pelo poder público, pelo prazo
mínimo de 1 (um) e máximo de 5 (cinco) anos.
CONSEQUÊNCIAS DE UM COMPLIANCE NÃO EFETIVO

PROCESSO JUDICIAL - REGIME JURÍDICO DAS AÇÕES DE IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA E EMPRESARIAL

• Ações civis públicas anticorrupção (Lei 12.846/13)

• Ações de improbidade administrativa (Lei 8.429/92)

• Ações penais contra dirigentes de empresas (Lei 2.848/40)


CONSEQUÊNCIAS DE UM COMPLIANCE NÃO EFETIVO

MODELO DE RESPONSABILIDADE DA PESSOA JURÍDICA NAS AÇÕES DE


IMPROBIDADE EMPRESARIAL
“Culpabilidade das pessoas jurídicas remete à evitabilidade do fato e aos deveres
de cuidado objetivos que se apresentam encadeados na relação causal. Pensamos
que o mais correto seria dizer que as decisões das pessoas jurídicas podem ser
valoradas à luz de critérios objetivos próprios da análise das condutas culposas:
atuou razoavelmente a pessoa jurídica, observando todos os deveres objetivos de
cuidado? Tal indagação poderia expressar no fundo uma exigência de mínima
culpabilidade (...). Nada impede que a lei ou as normas contratuais estabeleçam
sistemas de responsabilidade fundados na teoria do risco da atividade ou de
outros critérios que embasam a responsabilidade objetiva, especialmente dentro
da liberdade de configuração legislativa, com fundamento na proteção de
interesses coletivos, ajustando-se ao princípio da proporcionalidade. Se há
obrigações da pessoa jurídica alcançar determinados resultados ou evitar certos
efeitos ou atos, resulta possível sancionar as omissões ou ações violadoras desses
preceitos de forma objetiva, desde que tal perspectiva derive, explícita ou
implicitamente, da norma aplicável ao caso concreto”

MEDINA OSÓRIO, Fabio. Direito Administrativo Sancionador. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 48
SOLUÇÕES CONSENSUAIS
ACORDOS JUDICIAIS EM IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E
EMPRESARIAL
ACORDOS DE LENIÊNCIA NA LEI ANTICORRUPÇÃO
Art. 16. A autoridade máxima de cada órgão ou entidade pública poderá celebrar
acordo de leniência com as pessoas jurídicas responsáveis pela prática dos atos
previstos nesta Lei que colaborem efetivamente com as investigações e o processo
administrativo, sendo que dessa colaboração resulte: (...)
§ 2o A celebração do acordo de leniência isentará a pessoa jurídica das sanções
previstas no inciso II do art. 6o e no inciso IV do art. 19 e reduzirá em até 2/3
(dois terços) o valor da multa aplicável. (...)
§ 10. A Controladoria-Geral da União - CGU é o órgão competente para celebrar
os acordos de leniência no âmbito do Poder Executivo federal, bem como no caso
de atos lesivos praticados contra a administração pública estrangeira.(...)
Art. 17. A administração pública poderá também celebrar acordo de leniência
com a pessoa jurídica responsável pela prática de ilícitos previstos na Lei no
8.666, de 21 de junho de 1993, com vistas à isenção ou atenuação das sanções
administrativas estabelecidas em seus arts. 86 a 88.
SOLUÇÕES CONSENSUAIS
ACORDOS JUDICIAIS EM IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E
EMPRESARIAL
ACORDOS EM AÇÕES DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
O artigo 17, § 1º, da Lei nº. 8.429/1992, que regula a matéria, vede expressamente
a transação, acordo ou conciliação em ações de improbidade administrativa.
Contudo, com os recentes desdobramentos da Operação Lava Jato, em especial a
celebração de acordos de leniência e de colaboração premiada, passou-se a
questionar a extensão e efetiva aplicabilidade desse dispositivo legal.
• VEDAÇÃO DE ACORDOS E A LEI 8.429/92. POSIÇÃO LITERAL E RESTRITIVA DA
NORMA
• POSIÇÃO MODERADA, TEMPERADA, CONTEMPORÂNEA. INFLUÊNCIA POSITIVA
DA LEI ANTICORRUPÇÃO (PROBIDADE EMPRESARIAL)
• Entendimento pela interpretação restritiva do art. 17 da LIA – cabimento de acordo durante o
Inquérito civil público.
• POSIÇÃO REFRATÁRIA À LEI, FINALÍSTICA, CONTEMPORÂNEA. INFLUÊNCIA
POSITIVA DA LEI ANTICORRUPÇÃO (PROBIDADE EMPRESARIAL)
• Resolução CNMP Nº 179 de 26 de julho de 2017
“Art. 3º O compromisso de ajustamento de conduta será tomado em qualquer fase da investigação,
nos autos de inquérito civil ou procedimento correlato, ou no curso da ação judicial (...)”.
SOLUÇÕES CONSENSUAIS
ACORDOS JUDICIAIS EM IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E
EMPRESARIAL
COLABORAÇÕES E DELAÇÕES PREMIADAS
Para incentivar os criminosos a colaborar com a Justiça, várias leis trouxeram a
possibilidade de se conceder benefícios àqueles acusados que cooperam com a
investigação. Esses benefícios podem ser a diminuição da pena, a alteração do
regime de seu cumprimento ou mesmo, em casos excepcionais, isenção penal.
Há duas formas de colaboração premiada. Na primeira, o criminoso revela
informações na expectativa de, no futuro, tal cooperação ser tomada em
consideração pelo juiz quando da aplicação da pena. Na segunda, o criminoso
entra em acordo com o Ministério Público, celebrando, após negociação, um
contrato escrito. No contrato são estipulados os benefícios que serão concedidos e
as condições para que a cooperação seja premiada.
• A colaboração deve ser efetiva;
• Não é um meio de prova propriamente dito. A colaboração premiada não prova
nada (ela não é uma prova). A colaboração premiada é um meio, uma técnica,
um instrumento para se obter as provas;

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