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Andréia De Luca H. de Sá
Cládice N. Diniz
Edirlane C. de Souza
Fernando S. Mota
Horácio C. Ribeiro
Márcia M. Freire
Márcio A. Vianna
Márcio F. Campos
Marcos P. Monteiro
Regina C. de Souza
Ronaldo R. Goldschmidt
Sibele Calazans
Themis A. C. dos Santos
Vasco M. M. do Amaral
ESCOLA MANDALA:
uma nova concepção para o ensino
tecnológico na rede Faetec
2ª Edição
2007
© 2006 por autores
ISBN 85-98931-03-9
978-85-98931-03-6
CDD 370
Aos alunos e professores da
área tecnológica e a todos
que acreditam no ensino
público de qualidade.
SUMÁRIO
Apresentação.............................................................................................09
A mandala e a concepção pedagógica do ISTCC
Regina Célia de Souza e Andréia De Luca Heredia de Sá .......................13
O jogo dos termos mandala e rede
Cládice Nóbile Diniz.................................................................................21
O poder da identidade: uma leitura da obra de Manuel Castells
Marcos Paulo Monteiro ............................................................................41
O homem e a imagem mandala no círculo pedagógico
Sibele Calazans .........................................................................................49
Repensando o contexto educacional
Márcia Marques Freire .............................................................................53
Estrutura Organizacional Mandala: uma nova forma de trabalhar
em equipe.
Fernando da Silva Mota ...........................................................................67
Integração Ensino-Pesquisa-Extensão no ISTCC-RJ: perspectivas
e ações
Ronaldo Ribeiro Goldschmidt...................................................................73
Célula de desenvolvimento de competência: uma proposta
pedagógica para substituição da sala de aula em cursos tecnológicos.
Horácio Ribeiro, Gloria Maria Dias de Oliveira e
Rafael Dias Ribeiro...................................................................................87
Salas de aulas híbridas: o movimento dialético no uso da matemática
e a da informática no cotidiano do ISTCC-RJ
Márcio de Albuquerque Vianna.................................................................95
Um novo olhar sobre a Biblioteca do Inovador Instituto Superior
em Ciência da Computação do Rio de Janeiro.
Edirlane Carvalho de Souza ...................................................................103
O ambiente virtual e a qualidade de vida
Vasco Manuel Martins do Amaral...........................................................109
O direito numa perspectiva holística
Themis Aline Calcavecchia dos Santos...................................................113
Dimensões da avaliação e o portfólio avaliativo em base tecnológica
Márcio F. Campos e Fernando S. Mota ..................................................131
Conclusão................................................................................................139
APRESENTAÇÃO
Educar tem sido uma tarefa difícil nos últimos anos. O mundo mudou
radicalmente: uma nova configuração de países emergiu, novas forças políticas
se estabeleceram, novas demandas sociais afloraram, novas formas de se
organizar o trabalho emergiram. Apesar de tantas mudanças a nossa volta,
quando olhamos a escola, esta permanece a mesma. Pedro Demo em seu artigo
Ensino Superior no Século XXI: Direito de Aprender Reflexões 2005 PUCRS,
citando Duderstadt destaca a seguinte passagem “Imagine as reações de um
médico do século XIX, de repente transportado para frente no tempo dentro de
uma sala moderna de cirurgia, repleta de todos os avanços tecnológicos da
medicina moderna. O médico de ontem reconheceria muito pouco talvez nem
sequer o paciente e certamente não seria capaz de funcionar em nenhum modo
significativo. Contraste isso com um professor do século XIX, transportado
para uma sala de aula da universidade contemporânea. Aí tudo seria familiar os
mesmos púlpitos para preleção, quadros negros e estudantes prontos para tomar
notas. Mesmo os assuntos literatura, história, línguas seriam familiares e
ensinados precisamente dos mesmos modos”.
Apesar deste contraste, vemos na literatura várias tentativas de se tornar a
escola alinhada a seu tempo. Entretanto, a realidade continua sendo dura e as
práticas continuam sendo aquelas do século XIX. Em algum ponto, a passagem
das concepções contemporâneas às práticas cotidianas é falha. Tentamos
importar modelos, mas nossa realidade de alunos, de cultura e de dimensão de
país é muito diferente. Temos que buscar alternativas próprias e valorizar a
experiência local.
Talvez uma das razões para este fracasso seja a adoção de práticas
pontuais que acabam por serem superadas pela força da tradição conservadora
de se fazer escola. Assim, mesmo mudando a forma de se avaliar, as práticas de
relação entre aluno e professor permanecem, o enfoque centrado no programa
da disciplina se impõe, entre outras ações.
Este livro apresenta uma alternativa de se conceber a escola. Não se trata
de apontar práticas isoladas, mas de, antes de tudo, apresentar uma concepção
de escola onde todos os seus pontos se inter-relacionam e colaboram, em igual
importância, para o resultado final, caracterizando um rizoma de ações: uma
mandala. Além da concepção, este livro apresenta o que tem sido a prática desta
concepção com seus defeitos e qualidades.
Assim para apresentar a concepção proposta e a sua prática, segue uma
visão geral da estrutura e organização do texto.
O primeiro capítulo (Profª Regina Célia de Souza e Andréia De Luca
Heredia de Sá) trata da apresentação do conceito e simbologia de mandala e sua
relação com o mundo contemporâneo em que real e virtual são combinados e
transformados por meio de modernas tecnologias. Fornece, portanto, as bases
9
para a compreensão dos demais capítulos, fundamentando idéias para a
construção do projeto pedagógico do ISTCC-RJ.
Em complemento ao capítulo anterior, o segundo capítulo (Profª Cládice
Nóbile Diniz) apresenta o significado do símbolo Mandala como uma rede
fortemente interconectada e dinâmica de informações e conhecimento. Desde o
surgimento das redes de computadores, diversos significados foram atribuídos
ao termo rede. Estes são apresentados ao longo do texto e discutidos. Sob a
óptica da concepção Mandala, a autora explica como os diversos setores
institucionais e pessoas se apresentam como elos de uma grande teia em busca
de seus objetivos, desfazendo desvios, conflitos e humanizando idéias.
O terceiro capítulo (Profº Marcos Paulo Monteiro) descreve como a
evolução da área da Tecnologia da Informação vem desencadeando uma crise
de legitimidade nas instituições da era industrial, que, no novo contexto, se
ressentem de forte esvaziamento de sentido e de funções. Em seguida, o autor
discorre sobre como o ISTCC-RJ, por meio de seu projeto Mandala, unem
conceitos, conteúdos, práticas acadêmicas e profissionalizantes,
relacionamentos humanos, sociais e ambientais para enfrentar essa crise e
construir uma forte identidade institucional plenamente inserida na rede virtual
da informação e do conhecimento.
Em complemento ao exposto no capítulo anterior, o capítulo quatro
(Profª Sibele Calazans) enfatiza a importância da qualidade dos
relacionamentos em locais de trabalho e sua influência no desenvolvimento do
ser humano como indivíduo e da equipe como uma rede produtiva de
conhecimento. A autora relata sua experiência, sua inserção e ações no contexto
da concepção mandala adotada pelo instituto. Em uma perspectiva mais geral, o
capítulo reflete a importância da união da equipe para o sucesso e
desenvolvimento da proposta do projeto Mandala.
Também como reforço ao capítulo três, o quinto capítulo (Profª Márcia
Marques Freire) busca destacar a importância de se repensar a relação
professor, alunos e o processo de ensino-aprendizagem. Apresenta abordagens
sócio-interacionais e o afeto como instrumentos facilitadores e coerentes com a
concepção Mandala para criar um ambiente favorável para maior participação e
colaboração dos alunos na construção de identidades, relações e significados.
No sexto capítulo (Profº Fernando da Silva Mota), o diretor do ISTCC-
RJ relata inicialmente como a proposta de gestão institucional participativa se
enquadra na concepção Mandala, viabilizando uma maior agilidade e dinâmica
das ações gestoras. Em seguida descreve a realidade do instituto na prática das
células de competência e sua relevante importância no projeto pedagógico
institucional. Nesse cenário, apresenta como todos os espaços do ISTCC-RJ se
integram em uma grande rede de informação e conhecimento.
10
O sétimo capítulo (Profº Ronaldo Ribeiro Goldschmidt) destaca a
importância da integração das dimensões de ensino, pesquisa e extensão para o
desenvolvimento institucional. Nele, o autor descreve um conjunto de ações em
desenvolvimento pelo ISTCC-RJ que, norteadas pela concepção do Projeto
Mandala, favorecem a integração efetiva e harmoniosa das referidas dimensões.
Como exposto no quarto capítulo, as células de desenvolvimento de
competência têm papel de grande importância na prática pedagógica do ISTCC-
RJ. Em sintonia com a concepção mandala e à semelhança da Escola de Sagres, as
células de competência são descritas no oitavo capítulo (Profº Horácio da Cunha e
Souza Ribeiro) como agentes de um processo de construção de conhecimento por
meio da solução de problemas práticos em uma perspectiva interdisciplinar,
necessária ao tratamento de problemas, e de trabalho cooperativo, importante na
formação de profissionais para o trabalho em equipes.
O capítulo nove (Profº Marcio de Albuquerque Vianna) relata a
experiência do autor com a utilização das chamadas salas híbridas, nas
disciplinas “Matemática Aplicada” e “Álgebra Linear” do Curso de Análise de
Sistemas Informatizados do ISTCC-RJ. Uma sala híbrida é um espaço dotado
de equipamentos multimídia em que aulas teóricas, atividades práticas e
desenvolvimento de projetos são mesclados em ações de ensino e
aprendizagem. No caso da matemática, os alunos são levados a perceber e
construir a própria estrutura do conceito matemático, formando, assim, um
movimento dialético entre o geral e o particular na formação do saber. Em
consonância com a concepção Mandala e as células de competência descritas
no sétimo capítulo, esse capítulo apresenta o modelo aplicado no ISTCC-RJ.
Ao longo dos anos, o homem vem preservando um acelerado aumento no
volume de informações em todas as áreas do conhecimento humano. Por outro
lado, inúmeras tecnologias têm surgido e contribuído não somente para o
armazenamento dessas informações mas também para sua disseminação e
facilidade de recuperação.
As Bibliotecas, tradicionais e importantes centros de informação, vêm
procurando continuamente se adaptar a esse novo cenário.
O capítulo dez (a Bibliotecária Edirlane Carvalho de Souza) tem como
principal objetivo descrever, sob a perspectiva da concepção mandala, as
mudanças ocorridas na Biblioteca do ISTCC-RJ, com ênfase sobretudo nas
tecnologias e nos novos serviços prestados às comunidades do Instituto.
A utilização de computadores na vida moderna vem se tornando uma
prática cada mais freqüente e popular em diversos segmentos da sociedade.
Apesar dos benefícios proporcionados pela tecnologia, alguns cuidados com a
saúde e o bem-estar devem ser tomados quando essa utilização se prolonga por
longos e contínuos períodos de tempo. O décimo primeiro capítulo (Profº Vasco
Manuel Martins do Amaral) procura orientar quanto aos problemas de saúde
11
física e mental decorrentes dessa exposição excessiva. A concepção Mandala
enfatiza a preocupação com a saúde e com o bem-estar, como importantes
elementos no desenvolvimento do ser humano e na contribuição desse em
ambientes sociais, sejam eles reais ou virtuais.
No décimo segundo capítulo (Profª Themis Aline Calcavecchia dos
Santos), a autora descreve sua experiência no ISTCC-RJ em que apresenta a
disciplina de Direito em uma abordagem holística, em consonância com a
concepção Mandala, como contraponto à abordagem de ensino tradicional.
Para tanto, apresenta a origem do Direito, sua função social no paradigma da
modernidade vigente.
Toda ação pedagógica requer reflexão quanto aos resultados produzidos. O
décimo terceiro capítulo (Profs. Márcio Francisco Campos e Fernando da Silva
Mota) discute a necessidade de se melhorar o processo de avaliação continuada,
tendo como base referências existentes e relatando a experiência dos portfólios
avaliativos no ISTCC-RJ, segunda prática pedagógica do projeto Mandala.
Em resumo, este livro representa o plantio de idéias para que a escola se
torne “contemporânea” de seu tempo e que seja um modelo para reflexão e de
ação educativa da gestão escolar. Boa leitura!
12
A MANDALA E A CONCEPÇÃO PEDAGÓGICA DO ISTCC
Introdução
13
Por isso, integrando os conceitos da Psicologia Analítica de JUNG , dos
conceitos de auto-conhecimento e elevação da MANDALA e de ciberespaço de
,
JANE LOVATO este capítulo pretende apresentar a concepção pedagógica do
ISTCC.
A Mandala
14
A Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung
15
O Ciberespaço
17
Também Jung declarou, quando descobriu que pintar, desenhar e sonhar
com mandalas nos conduz a um equilíbrio já transformado, que cada
aprendizagem sentida nos transforma, reforçando a ousadia do ISTCC-RJ em
pensar numa concepção pedagógica estruturada a partir de mudanças, de
integração e utilização do cyber espaço atingido pela tecnologia da informação.
Se estamos conduzindo nosso raciocínio através das nuances da magia,
podemos, mais uma vez, citando Rubem Alves, afirmar que “feiticeiras sabem
que os banquetes não se iniciam com a comida que se serve. Eles se iniciam com
a fome. A verdadeira cozinheira é aquela que sabe a arte de produzir fome.”
(2004 p.52)
Agora, a analogia é nossa: buscamos incessantemente, como
educadores, que nossos alunos tenham fome de saber, fome de informação,
fome de partilha, fome de construção. Por isso, nós, os educadores do ISTCC-
RJ, acreditamos numa concepção pedagógica inspirada na mandala. Porque
para saciar toda essa fome, não é possível seguir apenas numa direção fixa, nem
caminhos já desenhados, mas, sobretudo, buscar no afeto, representado por esse
movimento da alma na busca do objeto de sua fome, vários caminhos, muitas
intercessões, enfim, para provocar em nossos alunos muitos tipos de fome
porque temos certeza de que conhecimentos são extensões do corpo para
realização do desejo e uma dessas extensões é, sem dúvida, o pensamento. Não
existe nada mais aprisionador, mais mortal para o pensamento do que o ensino
das respostas certas. Por isso, queremos que os nossos alunos sejam capazes de
“lançar-se” em todas as direções da mandala, numa constante troca de afetos com
seus professores, equipe gestora, funcionários, para que possam locomover-se e
ocupar os cyber espaços desenvolvendo e utilizando a Integração Multipolar, a
Valorização do Percurso e o Equilíbrio do Intelecto e da Emoção.
Conclusão
18
Referências
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2004.
DAHLKE, Rüdiger. Mandalas: formas que representam a harmonia do
cosmos e a energia divina. São Paulo: Pensamento, 1995.
LOVATO, Jane Muller. O ciberespaço: uma mandala virtual. Revista de
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SILVEIRA, Nise da. Jung: vida e obra. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1968.
WINTHER, Marcos. Mandalas dos nove caminhos do eneagrama. São
Paulo: Pensamento, 2003.
19
O JOGO DOS TERMOS MANDALA E REDE
Introdução
* Doutora em Ciências da Informação (UFRJ), Mestre em Administração Pública (FGV) e Engenheira Naval
(USP). Atuou na pesquisa, no projeto e na construção naval, em que é especialista pelo IRI-Itália, e na gestão
de empresas na área tecnológica, especializando-se em Engenharia de Produção, pelo COPPE. Docente no
ensino superior, onde pesquisa a aprendizagem da tecnologia da informação.
21
disponível.[...] A imagem é pois um esquema já
anteriormente acomodado e se põe a serviço de uma
assimilação atual igualmente interiorizada, enquanto
“signo” em relação às coisas designadas ou aos
significados. A imagem é, portanto, (mais do que o
indício) um suporte diferenciado do significado [...].
(ISER, 1996, p. 309)
22
O Modelo Conceitual de Rede pela Imagem
23
ocorrem a fim de solucionar os problemas causados à comunicação pela
distância física entre a informação e os usuários e a pouca disponibilidade de
tempo para se acessar, ou se distribuir informações. Para superar a excessiva
distância e o tempo escasso, a rede de comunicação eletrônica anulou todas
formas prévias existentes de vinculação gnosiológica da informação, passando
a fazer valer apenas o “saber socialmente legitimado e auto-referente” existente
naquela rede e naquele momento, como base para o conhecimento. Com isso,
criou novos modelos conceituais para a informação, para a linguagem e o
conhecimento, seja em suas unidades, seja em suas totalidades.
Para essa autora acima referenciada (1997), esses modelos conceituais se
contrapõem àquele da sociedade moderna, em voga até a década de 60, na qual,
o Estado era o observador privilegiado que realizava diversas formas de
sínteses e totalizações intelectuais e discursivas, como oficializando linguagens
e formatos padronizados e normas técnicas, que agiam como códigos
unificadores, orientando a sociedade. A partir das redes de comunicação
eletrônica, os pólos geradores das unidades e das totalidades do conhecimento,
da linguagem e da informação foram sendo transferidos para a sociedade,
levando à criação dos códigos unificadores da comunicação humana de uma
forma difusa, por forças que agem na sociedade a partir dessas redes.
A importância dessas forças fortaleceu o modelo conceitual estabelecido
a partir das redes de comunicação eletrônica o modelo conceitual de rede para
o conhecimento, para a linguagem e para a informação, e que passou a ser
utilizado intensamente para pensar e explicar inúmeros fenômenos sociais.
Por exemplo, Bochi e Cerruti (1999, p. 162), falando de Edgard Morin e da
complexidade do devir humano, usam termos como “rede de sabedorias”, “rede
de conhecimentos” e “tecer”. Castells (1999) trata da “sociedade em rede”. Até
quando a imagem da rede não é diretamente apresentada pelos teóricos mais
recentes, em seus escritos encontram-se referências que remetem às
características e às propriedades da rede. Em alguns, a imagem da rede é especial
referência, como destaque ou à guisa de conclusão.
Refletindo-se sobre os modelos mentais de redes, comentam-se a seguir
aqueles, para os quais, notou-se uma significativa presença na pesquisa
bibliográfica e no uso por organizações a partir dos anos setenta.
São eles: (a) a rede estrutural da Engenharia; (b) a rede de pesca; (c) a
rede das malhas metálicas das roupas de combate medievais; (d) a rede
determinada pelas linhas de uma matriz, e (e) a rede da aranha, a teia.
25
os primeiros softwares de rede eram chamados por “transport system” ou
“transmisssion systems”, conforme se encontra em Tanenbaum (1981, p. 7,
grifo do autor).
Nesse modelo mental originado na Engenharia, o cálculo das suas
características se vale de matrizes, uma vez que, nos cálculos de vigas, os
cálculos das equações para determinação das tensões, obtidas, então,
manualmente, como pode ser verificado em Feodosiev (1972, p. 45), foram
sendo substituídas por cálculos matriciais computadorizados, pelo método dos
elementos finitos.
Pesquisando-se em Tanenbaum (1981, p. 2), encontra-se que o alerta de
que o velho modelo de um único computador servindo às necessidades
organizacionais, com os usuários levando seus trabalhos a ele, ao invés de
levarem o computador para si, estava sendo trocado por um novo modelo no
qual um grande número de computadores separados, mas interconectados,
fazem o trabalho, sendo esse sistema de trabalho denominado de redes de
computador. Ele relata o início das redes de computadores.
26
A taxionomia das redes, quanto à estrutura física, foi motivo de uma
revisão técnica por parte de Jensen e outros (1976), segundo relata Tanenbaum
(1981. p. 10).
A publicação oficial da Rede Nacional de Pacotes (Rede, 1994), para redes
locais, de 1994, em plena febre da instalação da rede Internet no Brasil, também,
em nenhum momento referencia a imagem da teia de aranha, buscando um
referencial terminológico cuidado para ser independente de imagens. Mesmo
assim, usa os termos “camadas da rede” e explica que a disposição física dos
computadores a topologia física onde topologia é palavra de origem na
Engenharia Militar, que recebe classificação conforme a forma física que assume,
por exemplo, estrela, anel, barramento e árvore, diferindo da disposição lógica,
que, no entanto, continua a receber a terminologia assemelhada ao modelo físico
correspondente a que se modela. Então, pode haver uma rede fisicamente em
estrela, mas, logicamente em anel. (LAN, 1994).
Por sua vez, Tanenbaum (1994), na edição revista de seu livro sobre
projeto e instalação de redes, referencia as camadas físicas das redes e trata da
instalação de redes conectáveis à rede Internet, abandona o ensino dos grafos e
deixa de citar Jensen. Nessa obra, originalmente escrita em 1992, atualmente
básica e mundialmente adotada no ensino de redes de computadores, assim
como, o foi a sua publicação de 1981, encontra-se citada uma única vez a
palavra “tecido”; poucas vezes, as palavras “balde”, “árvore”, “tronco”,
“codificação em treliça” e “ponte”, e em nenhum momento foi encontrado
nessa publicação o termo teia para a rede de computadores. Verifica-se dessa
explicação que, nas origens do hardware e do software da Internet, não houve
sequer referências longínquas ao atual símbolo da rede Internet.
Mais tarde, a palavra “aranhas” (spiders, grifo do autor) aparece uma única
vez Tanenbaum (1994. p. 824), junto aos termos “crawlers”, “worms” e
“knowbots”, referenciando os dispositivos de pesquisa (“search engines”, grifo
do autor), os quais, explica o autor serem programas comercializados para a
localização das páginas na Internet, e que funcionam como índices para a WEB;
orientando, também, para que se procure dois autores, ambos de 1994, caso se
queira saber mais sobre os dispositivos de pesquisa.
Pesquisando no livro de Soares, Lemos e Colcher (1995), também, sobre
projeto e instalação de redes computadores, não se encontraram os termos teia e
aranha, sugerindo que a hipótese da imagem da teia ter-se originado no
mecanismo de busca spider, seja verdadeira.
A teia surge do sucesso de um dispositivo de busca de informação,
spinders, com a datação do fenômeno a 1994. É essa, também, a provável forte
ligação da Ciência da Informação com a imagem da teia, provavelmente se
originando do nome spider do dispositivo de busca da informação.
Pesquisando-se nessa área, verifica-se que, em 1993, Gomez (1993. p. 221,
grifo nosso) usa a idéia de arcabouço social de transferência da informação. Em
27
1995, Gomez (1995. p. 78, grifo nosso) cita a tessitura de redes sociais.
Nesse interregno, entre 1993 e 95, o esquema mental da teia vence o jogo
dos termos. E, apesar de que, em seu início, sequer seu inventor, Berners-Lee
(1999), relacionava Word Wide Web (WWW) à uma teia de aranha, o final da
década de noventa vai encontrar a maioria dos usuários associando “rede” à
essa imagem.
29
Já, no modelo mental de rede que se reporta à imagem das redes formadas
por elos de malhas metálicas das roupas de combate medievais, usadas para
proteção contra flechas nos combates, a rede é determinada pelos elos, nos
quais se confundem linhas e nós, pois é o elo todo participando da união.
Qualquer ponto de suas linhas sendo nó, o elo em si participa da união:
tem-se que o todo da rede, apesar de resultar de elos e linhas inflexíveis, tem
alguma flexibilidade. A sua forma é determinada pela forma do que deve
proteger, devendo ser suportada pelo que lhe dá forma. Esta imagem remete a
proteção vital nos embates do mundo, apoiando-se na própria forma que deve
ser protegida.
No caso da rede determinada pelas linhas de uma matriz, os pontos e as
linhas são apenas suportes determinantes de um espaço, as casas ou caselas, ao
qual se atribuem propriedades.
Esses dois últimos esquemas mentais são pouco usados. Não é essa a
situação do esquema da teia. Na idéia de rede que remete às teias de aranha, as
linhas que determinam os nós com seus cruzamentos, são muito flexíveis no
sentido de seu comprimento, os nós recebem as propriedades de todas as linhas,
sendo muito flexíveis, também. A rede total resultante é muito flexível, móvel
em qualquer direção. Apóia-se minimamente no mundo, resistindo muito
pouco às forças externas, prendendo nela pequenas coisas do mundo e
enredando-as, as obriga a integrar a rede. E, caso não queiram dela participar,
por ter vida própria, por exemplo, ao debater-se para tentar se desprender, o
enredado tem esses seus movimentos comunicados através das linhas, à rede
toda, alertando a aranha.
O uso desta última imagem requer que se defina, se é do ponto de vista do
enredado, preso à rede, tomando parte dela e definhando nela, ou do ponto de
vista da aranha, com a rede determinada e fabricada por ela, sustentando-a no
mundo e alimentando-a do mundo que vem a ela.
A imagem da teia não é citada uma única vez por Johnson (2001), apesar
dele tratar exaustivamente dos símbolos utilizados nas interfaces gráficas da
Internet. É uma situação que aponta além da metáfora, na direção de uma
natureza mítica na idéia da teia, tendo-se em vista a seguinte consideração de
Balandier (1999. p.18) sobre o mito: “Por natureza o mito não possui evidência,
o que resulta na incerteza de sua identificação [...] o discurso mítico impõe-se
pela autoridade, dispensa a hermenêutica (interpretação) e a exegese
(explicação)”.
32
identificáveis e localmente modelizáveis” - porque as representações de ações,
memorizáveis por símbolos, generalizadas, estariam cobertas de equívocos e
ambigüidades, razão pela qual alerta sobre o uso da Internet:
Trata-se da ação de navegar em um arquipélago de símbolos diversamente
conectados, apoiando-se num pequeno numero de ações arquetipicas (comparar,
ramificar, etc...) e respeitando algumas “regras de navegação” que as lógicas
utilizadas determinam. (LE MOIGNE in PENA-VEGA e NASCIMENTO,1999,
p. 67-68)
33
O mito está ligado a fatos primordiais que “modificaram a condição
humana como tal”, segundo Eliade (op. cit., p.15), isto é, não se tem sido como
se é desde os primórdios da humanidade, certos fatos ocorreram para isso,
produtos preciosos e exemplares da cultura, hoje contados pelos mitos. Esses
fatos referenciam o problema mítico, que, para Diel (1986. p. 56-57), está
oculto no mito e trata-se do esforço sensato para vencer o terror ante o
desconhecido, pela sublimação, incorporando-o à imaginação com um
significado simbólico e verídico, mas não real.
A Mandala da Teia
CONCLUSÕES
35
projeto de escola como Projeto-Mandala, pesquisou-se o sentido da mandala
como rede e os significados dados ao termo “rede” desde o surgimento das redes
de computadores.
Verificou-se que foram mantidas a mesma designação “rede” para
imagens diferentes, de origens diversas, que se sucederam no tempo, algumas
sobrevivendo, em espaços específicos, concomitantemente às que as
sucederam e que foram mais empregadas.
Atualmente, encontrou-se o uso do termo remetendo a um modelo mítico, o
da da teia da aranha, propagado pelos usuários e pelos estudos da Internet. Na
comunicação da informação em redes políticas, observou-se que prevalece o
modelo metafórico estrutural, oriundo da Engenharia. Na Administração, ora se
encontra a metáfora estrutural e, em outras vezes, o mito da teia de aranha.
A importância do mito da teia da aranha em um projeto-escola na área da
Ciência da Computação, é que ele revela a rede Internet como uma heterotopia,
pela qual se é excluído do espaço e tempo real, permitindo uma ruptura absoluta
com o tempo tradicional, criando um espaço próprio de percepção, em
contraponto aos espaços reais públicos e privados.
É nessa heterotopia que parece se inserirem certas redes de pessoas e
organizações que buscavam novos espaços coletivos sócio-culturais para
transferência de conhecimentos e comunicação organizada, buscando
conseguir maior legitimação social para seus conhecimentos e informações, o
que é um caminho para o Projeto-Escola Mandala explorar.
Outro caminho que se apresenta, para soluções de um problema é o de
“fazer uma viagem no mito”, trabalhando-se sobre dimensões determinadas de
um problema, a partir do mito, como se fossem categorias estruturais. Nessa
situação, sugere-se uma viagem ao mito da mandala para se buscar soluções
para os problemas que podem advir ao projeto-escola. E, no campo da
Educação, a pesquisa urge em ser continuada.
Referências
36
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______Redes de computadores. 3.ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997. 923 p.
WELLMAN, B. e BERKOWITZ S.D. Structural Analysis: from Method and
Metaphor to Theory and Substance In: Social Structures a Network
Approach. Cambridge: Cambridge University Press, 1988. p.19-61.
39
O PODER DA IDENTIDADE
UMA LEITURA DA OBRA DE MANUEL CASTELLS
O autor
A construção da identidade
41
nosso projeto de identidade e do nosso projeto pedagógico, Mandala e, no
aspecto social, os diversos movimentos atualmente em ação juntos às
comunidades carentes, como exemplo, podemos citar o Grupo Afro-Reggae;
É obvio que uma sociedade de resistência pode acabar como de projeto
ou até mesmo legitimadora, foi o que aconteceu no Vietnã, legitimando sua
dominação. No nosso caso específico, devemos empregar uma metodologia
para identificar nosso egresso, como detentor dos conhecimentos que venham a
torná-lo destaque no mundo do trabalho. Assim, cada tipo de identidade leva a
resultados distintos: a identidade legitimadora dá origem à uma sociedade, com
organizações e instituições; a de resistência forma comunidades, formas de
resistência coletiva à alguma opressão; e as de projeto produzem sujeitos,
atingindo seu significado e objetivos pela sua experiência, fica claro que nosso
Projeto de Identidade, Mandala, deve procurar romper com as identidades
opressoras, que moldam perfis de profissionais da área de informática, com
base em suas instituições de origem, tradicionais e consagradas.
A proposta envolve o surgimento da identidade e entidade do ISTCC do
Rio de Janeiro, que com um projeto totalmente inovador de formação, trará um
novo foco para o nosso aluno. As identidades, em relação a como foram
construídas, devem ser vistas dependentes do contexto social. Em nosso caso,
está inserida no surgimento da sociedade em rede, que reforça novas formas de
transformações sociais.
A etnia é uma base para surgimento de revoltas por justiça social. Ela e a
raça são questões fulcrais e sua forma de manifestação são alteradas pela atual
42
tendência social, sendo também, uma forma de identidade. Os problemas de
classe também são importantes, pois eles provêm grande parte de diferentes
raças e são responsáveis por muitos movimentos em defesa de uma vida melhor.
Apesar de serem fatores muito importantes, ainda é dificil dizer que possam
constituir significados que construam uma identidade capaz de produzir
grandes mudanças. Não serão, nem a etnia nem a origem social, obstáculos para
implantação de um plano de metas a ser atingido pelo nosso projeto, visto que o
mesmo está acima de quaisquer diferenças, pois a Mandala, vista como um
círculo, põe todos há “cabeceira” e, assim será dada a todos, a mesma
oportunidade e, com certeza faremos vários expoentes, o que , como já disse
anteriormente, individualizará nosso aluno frente aos das demais instituições de
ensino similares, possibilitando uma participação igual na disputa por uma vaga
no mundo do trabalho.
Os movimentos feitos por uma comunidade local são voltados para três
conjuntos de metas principais: coletivismo, identidade cultural local e maior
autonomia política local. Esses três unidos e diferenciados em cada caso
chegam a produzir algum significado para a comunidade, e esses movimentos
são a principal resistência ao unilateralismo dado pelo capitalismo, estatismo e
informalismo. Assim, o que pretendemos é promover nossa maior participação
na sociedade, participação no desenvolvimento da comunidade, a conservação
de nosso próprio espaço em um processo de sobrevivência coletiva de
comunidades. No nosso caso específico, como bem definiram as professoras
Regina Célia e Andréia De Luca, a nossa procura é a manutenção da
impermanência típica do círculo, da transformação, do mimetismo, oferecendo
o nosso conhecimento tecnológico benefício real para a sociedade. Como
estamos em uma Mandala, todos somos atores e partícipes nesse projeto de
transmutação do conhecimento. As comunidades locais, que montam seu
próprio movimento, constituem fontes específicas de identidades, que se
defendem em ordem global construindo não um paraíso, mas sim um bom
abrigo. E é o nosso caso.
44
nós faz parte dos problemas do mundo, e que também fazemos parte da solução.
Os perigos e as perspectivas de cura não estão apenas no meio que nos cerca.
Começamos a atuar onde estamos. Não há necessidade de esperar até que as
condições se tornem ideais. Podemos simplificar nossas vidas e viver em
harmonia com valores humanos e ecológicos. Haverá melhores condições de
vida porque nos permitimos começar... Portanto, podemos dizer que o principal
objetivo da política verde é uma revolução interior, “o verdejar do ser”: Petra
Kelly, Pensando Verde.
O movimento ambientalista do último quarto deste século conquistou, se
considerarmos seu impacto em valores culturais e instituições da sociedade,
uma posição de destaque no cenário da aventura humana. No século XXI, mais
de 80% da população mundial, que compartilha seu conhecimento na rede
mundial, considera-se ambientalista. Daí, nós, em nosso projeto, além de
claramente, através de plantas e jardins em nosso Espaço Identidade, devemos
incorporar ações que liguem a tecnologia ao meio ambiente, socializando com a
“sociedade verde”, pois, no fundo todos dependemos do meio ambiente e se
pudermos contribuir com nossa inteligência, além de ser um ponto de destaque
para o ISTCC, será um marco diferencial nas escolas de tecnologia, servindo
assim, ao nosso propósito de criarmos uma identidade única.
45
Tipologia dos Movimentos Ambientalistas
Tipo (exemplo) Identidade Adversário Objetivo
Preservação da Amantes da natureza Desenvolvimento Vida selvagem
natureza (Grupos não-controlado
do Dez, EUA)
Defesa do próprio Comunidade local Agentes Qualidade de
espaço (Não no poluidores vida / saúde
seu quintal
Contracultura, O ser "verde" Industrialismo, "Ecotopia"
ecologia profunda tecnologia e
(Earth First!, patriarcalismo
ecofeminismo
Save the planet Internacionalistas na Desenvolvimento Sustentabilidade
(Greenpeace) luta pela causa global
ecológica desenfreado
"Política verde" Cidadãos Estabelecimento Oposição ao
(Die Grünen) preocupados com a político Poder
proteção do meio
ambiente
46
demonstrar notável capacidade de adaptação às condições de comunicação e
mobilização apresentadas pelo novo paradigma tecnológico, e aqui está um
bom modelo para seguirmos. Embora boa parte do movimento dependa de
organizações de base, suas ações ocorrem em razão de eventos que sejam
apropriados para a divulgação na mídia. Ao criar eventos que chamam a atenção
da mídia, os ambientalistas conseguem transmitir sua mensagem à uma
audiência bem maior do que a representada por suas bases diretas. Além disso, a
presença constante de temas ambientais na mídia dotou-lhe de uma
legitimidade bem maior que a atribuída a outras causas.
Mas o ambientalismo não pode ser considerado meramente um
movimento de conscientização. Desde o início, procurou exercer influência na
legislação e nas atitudes tomadas pelos governos. Na verdade, as principais
organizações ambientalistas concentram seus esforços na formação de
“lobbies” para obter conquistas na legislação, e no apoio ou oposição a
candidatos a cargos eletivos com base em sua postura política em relação a
determinadas questões. Em alguns países, principalmente na Europa, os
ambientalistas entraram na disputa por cargos políticos, tendo logrado algum
sucesso.
Referências
CASTELLS, Manuel. O poder da identidade: economia, sociedade e cultura.
São Paulo: Paz e Terra, 2001. (Coleção a Era da Informação, v.2.)
48
O HOMEM E A IMAGEM MANDALA NO CÍRCULO PEDAGÓGICO
Sibele Calazans*
Introdução
Ambiente Mandala
Imagem Mandala
Concepção Mandala
Grupo Mandala
Espaço Mandala
50
único? Como posso integrar meu saber com os outros saberes?
As pessoas criativas, que atuam em busca de fazer o melhor em suas
tarefas são satisfeitas e capazes de compartilhar suas experiências positivas
com todos.
A secretaria do ISTCC-RJ, trabalha de forma integrada, ciente das
diferenças, que são discutidas e respeitadas, dissolvendo os hiatos, com o
principal objetivo de converter e desenvolver suas tarefas para as diferentes
sessões dentro e fora do ISTCC-RJ.
Ação Mandala
Qualidade Mandala
Conclusão
51
processo educativo, promove um melhor desenvolvimento em sua estrutura
visando a todos.
Referências
52
REPENSANDO O CONTEXTO EDUCACIONAL
Introdução
A sala de aula pode ser explicada por muitos apenas como um espaço
caracterizado por relações assimétricas, mecânicas e ritualísticas entre
professores, alunos e o processo de ensino-aprendizagem. Nesse contexto, o
professor detém todo o saber e o aluno deve apenas assimilar este saber e
devolvê-lo ao professor por meio das avaliações periódicas. Essa visão tem
levado muitos aprendizes a uma atitude passiva, desinteressada e pouco
participativa em sala de aula. Esse não-envolvimento dos participantes acaba
gerando o baixo aproveitamento e, até mesmo, um alto índice de evasão escolar.
Diante dessa atitude tão negativa, é quase impossível não nos
indagarmos:
O que é o aluno para mim? Objeto que observo e sobre o qual derrubo o
“meu saber” ou um sujeito com o qual compartilho experiências? Alguém a quem
não concedo o direito de se expressar, o direito da autoria? Ou quem sabe, apenas
reconheço sua voz quando ela é um espelho da minha? Aceito o seu discurso
apenas quando reproduz o meu? O que acontece em minha sala de aula? Ela é um
espaço para monólogos ou o lugar onde muitas vozes diferentes intercruzam? Que
tipos de interações aí transcorrem? Falo para um aluno abstrato ou ele existe para
mim marcado pelo tempo e espaço em que vive? Conheço o seu contexto, os seus
valores culturais? O conteúdo das disciplinas tem a ver com esse meio cultural,
com a vida dos alunos? Minha sala de aula é um espaço de vida ou apenas um
espaço assepticamente pedagógico? FREITAS (1996. p.172)
Desse modo, o professor se envolve em um processo reflexivo sobre a
sua própria prática, a fim de compreender se a sua abordagem de ensinar é
compatível ou conivente com a abordagem de aprender desses alunos.
Considero, portanto, que esse desencontro seja a fonte básica de problemas,
resistências, dificuldades, fracasso e desânimo no ensino e na aprendizagem em
diversos contextos pedagógicos.
Adotando esta perspectiva, o educador percebe, então, a necessidade de
uma releitura da relação entre professor e alunos e da implementação de uma
mudança na sala de aula. Para encaminhar tal processo de mudança, é
necessário repensar o padrão interacional na sala de aula com base nas
premissas sócio-interacionistas, na visão sócio-política de letramento e em
53
estudos sobre afetividade que possibilitam a co-construção do sentido através
de tensões, negociações e da valorização da voz dos alunos.
O sócio-interacionismo
55
de desenvolvimento cognitivo do aluno, a crescente retirada do suporte pelo
professor e a ação do aluno para assumir cada vez mais o trabalho antes realizado
pelo professor até tornar-se autônomo MAGALHÃES (1990).
O que parece subjazer ao pensamento destes pesquisadores é o
distanciamento de um tipo de psicologia do indivíduo, que trata os processos
psicológicos dentro de um vácuo social, e a aproximação com a uma psicologia
que tenta explicar como a aprendizagem/cognição é entendida como sendo
socialmente constituída.
Assim, o ponto de partida são as concepções prévias já construídas e o
ponto de chegada são estas mesmas concepções ressignificadas pelo aluno, que
possui uma vivência que lhe permite construir estruturas cognitivas que são
projeções do senso comum do meio social e das representações que ele mesmo
constrói em função de experiências próprias e da experiência em sala de aula.
Os princípios delineados por BAKHTIN (1981), VYGOSTKY (1978.
1984) e BRUNER (1985. 1986) atribuem um papel de destaque à interação
entre alunos e entre professor-alunos, ou seja, a co-participação social tomando
a concepção de que é através dos outros que as relações entre sujeito e objeto de
conhecimento são estabelecidas e o conhecimento construído. A partir do
momento em que professor e aluno tornam-se sujeitos ativos na construção do
saber, a noção de conhecimento é reestruturada, passando a ser entendido como
“uma construção social” (MOITA LOPES, 1996. p.96). Contudo, o conceito de
sala de aula também é reformulado, visto que, estimulando o aluno à maior
participação, o professor permite que o espaço da sala de aula torne-se um
espaço para a socialização do conhecimento (cf. DEMO, 1996. p. 54) e não
mais um espaço para as certezas e verdades pré-concebidas (cf. MOITA
LOPES, 1996. p. 184) dentro de um modelo aristotélico de categorização.
Esta proposta aponta para uma escola que se pretende democrática, onde os
alunos são introduzidos no exercício da cidadania, constituindo-se em sujeitos do
saber, ou seja, para uma escola que procura aguçar a visão crítica dos alunos.
O Processo de Letramento
57
KERN (2000), JOHNS (1997), CELANI (1997), HEATH (1983) e
FREIRE (1974) acreditam que professores e alunos vão para a sala de aula com
crenças sobre como desenvolver o letramento, e também apontam para a
necessidade de refletirmos sobre tais crenças, sobre como estas crenças tomam
a forma de práticas pedagógicas e como encorajar os alunos a verem o
letramento como um processo capaz de torná-los sujeitos do discurso.
Trabalhando com a produção de textos acadêmicos na universidade,
JOHNS (1997) contrapõe a perspectiva tradicional de letramento, na qual o
professor é visto como fonte do saber e o aprendiz como um recipiente passivo
de conhecimento, à perspectiva contemporânea, centrada na interação através
de contextos onde o professor é um facilitador do processo de produção de
textos e os alunos participantes ativos. Propõe o que chama de “Orientação
Social” para o desenvolvimento do letramento (The socioliterate classroom).
Segundo ela, uma sala de aula com orientação social para o letramento leva os
aprendizes a trabalharem com uma variedade de textos, exemplares de diversos
gêneros, criando hipóteses sobre os tipos de conhecimento que leitores e
escritores precisam adotar para criar significado. Os aprendizes também
discutem como leram cada um dos textos e porque e como responderam a cada
um deles, conversam sobre experiências passadas e hábitos do presente em suas
comunidades de discurso e acabam desenvolvendo intuitivamente uma teoria
abrangente sobre gêneros e estratégias de processamento de discurso. Em
suma, são encorajados a refletir sobre o conteúdo e as dificuldades para
processá-lo, questionando valores e crenças de diversas comunidades de
discurso e vivenciando a interatividade inerente ao processo de ler e escrever.
Se o letramento é uma forma de prática social, então ele também é um
meio de crítica à prática social. KERN (2000), FREIRE (1974) e CELANI
(1997) argumentam que um importante aspecto do letramento é a reflexão
crítica sobre como a língua dá formas às representações de nossas experiências
e do mundo. Ao contrário de JOHNS (1997) e HEATH (1983), assumem uma
visão política de letramento, destacando que se trata não somente de um
processo de adquirir e compartilhar informação, mas um estado de consciência
social e política, que permite um exame crítico de ordem social FREIRE
(1974); CELANI (1997). Envolve a relação dinâmica e dialetal entre palavras e
mundos.
Para FREIRE (1974), por exemplo, o ato de ensinar deve sempre iniciar
com a própria vida e cultura dos alunos. Nisto, alinha-se com Heath e os outros
estudos revisados. Mas enfatiza o papel do letramento na transformação social e
pessoal dos cidadãos de cada comunidade, como o faz GIROUX (1992) e
FAIRCLOUGH (1992).
Parece claro que a literatura recente elegeu um novo papel para o
letramento e vem assinalando por conseqüência inúmeras implicações para o
ensino. O letramento passou a ser visto como um conjunto dinâmico de
58
processos lingüísticos, sociais e cognitivos que são culturalmente motivados e
politicamente guiados.
Ao adotarmos esta visão de letramento, estamos destacando a
necessidade do professor estar ciente de que letramento é mais do que um
conjunto de habilidades acadêmicas, mais do que codificar e decodificar
palavras, e mais do que prescrever padrões de pensamento. Envolve também
uma consciência crítica de como os usos da linguagem são pistas para sentidos
sócio-culturalmente situados e instrumentos de transformação. Portanto,
assumo que o ensino de deve ser visto como um instrumento para o
desenvolvimento do letramento do aprendiz, um processo intimamente
amarrado às práticas socioculturais e aos usos da língua em sociedade.
A dimensão afetiva
59
Durante muito tempo, as civilizações ocidentais concentraram seus
estudos e observações nas funções cognitivas e racionais da mente humana,
geralmente abandonando a área das emoções e das funções não-racionais. Isto
acabou de gerar o que GOLEMAN (1995) caracteriza como ignorância
emocional. Como forma de reverter esta situação, este autor propõe que as
escolas eduquem o aluno como um todo, trazendo para a aula “mente e
coração”.
Apesar de freqüentemente merecerem um olhar privilegiado por parte de
diversos profissionais e pesquisadores, as atividades cognitivas não podem
caminhar sozinhas, visto que cada participante de um determinado contexto
pedagógico é um agente social que carrega para o ambiente pedagógico
expectativas, crenças, valores, anseios, etc. e que atua de forma ativa e integral
na construção do conhecimento pedagógico, bem como na construção de seus
significados de mundo.
Tais fatos apontam para que é pouco provável que os objetivos finais do
ensino sejam atingido, caso os aspectos afetivos inerentes aos participantes da
interação (professor e aluno) não sejam considerados. Os estados emocionais
são um suporte necessário à construção do conhecimento, fazendo com que o
professor não apenas atue como mediador do conhecimento, mas que
igualmente assuma o papel de mediador no desenvolvimento afetivo dos alunos
ALMEIDA (2001).
Essa perspectiva aponta para o ambiente de sala de aula como uma
manifestação de uma variedade de discursos que convivem em harmonia, fazendo
deste contexto uma unidade sistêmica, composta pela relação de interdependência
entre as dimensões social, afetiva e cognitiva. Estas três dimensões são
evidenciadas durante o processo de construção de conhecimento, quando os
participantes da interação escolar carregam para a sala de aula o que vivem fora da
mesma: seus sentimentos, emoções, identidades, etc.
Portanto, é necessário reconhecermos que a sala de aula não existe
isolada do mundo que a cerca, encontra-se inserida em uma determinada
sociedade, não existindo fronteiras entre o ambiente escolar e o mundo externo.
Assim, este contexto deve ser entendido como qualquer outro ambiente de
interação social, com suas características particulares, sem dúvida, mas não
dissociado da sociedade que o cerca.
61
para oferecerem sugestões de atividades para outras aulas.
Durante esse processo reflexivo, os alunos apresentaram colocações que
indicaram uma atitude positiva diante do material instrucional desenvolvido.
Por exemplo, quando questionados sobre a atividade que estava exposta no
mural, muitos alunos demonstraram um sentimento de orgulho por terem
participado de uma atividade que havia modificado o mural que se encontrava
até então freqüentemente abandonado, pichado e, até mesmo, rasgado.
Colocações como “Que bonito!”, “O mural está lindo, professora!” e “A gente
fez esse mural com a professora de inglês... ficou lindo!” revelam um forte
sentimento de orgulho e confirmam a existência de uma importante relação
afetiva entre professora e alunos.
Um outro momento que também merece ser destacado foi a premiação
das atividades lúdicas. Ao serem premiados com chocolate, os alunos pareciam
estar maravilhados com a surpresa. O segmento a seguir ilustra a percepção
desses alunos diante da atitude da professora:
Segmento
(140) Eliana: professora, foi uma demonstração de carinho.
(141) Alunos: eh:: ((aplausos))
(142) José: repete que eu não ouvi.
(143) Eliana: é porque ela gosta da gente.
Para esses aprendizes, as mudanças estabelecidas em sala de aula eram
demonstrações de que como professora eu me importava por eles e cuidava
deles. Percebi, então, que entre todos os resultados de minha pesquisa, o mais
importante podia ser resumido na frase “porque ela gosta da gente”.
Aparentemente, ao dar voz aos aprendizes, consegui desestabilizar a
atitude negativa em relação à minha aula e fazer com que os alunos participassem
ativamente de todas as atividades propostas. O elo afetivo instalado entre
professora e alunos acionou a motivação, a participação, a aprendizagem e a auto-
estima em cadeia. Entretanto, é importante destacar que essa relação de afeto só
foi possível graças ao clima de confiança estabelecido em sala de aula. Os alunos
encontraram uma oportunidade de dialogar e alguém para escutá-los, ao contrário
do que normalmente acontece nas comunidades de discurso onde são
socializados. Mostrando-me sempre disposta a ouvir, valorizando opiniões nas
atividades reflexivas, acabei estabelecendo com os sujeitos uma relação de
confiança, palavra que gostaria de destacar, pois nas comunidades onde o grupo de
alunos vive trata-se de ingrediente raro.
Essa experiência foi essencial para minha compreensão da palavra afeto
como “fórmula mágica” capaz de desencadear um processo de reconstrução de
conceitos sobre o que é ensinar e aprender.
62
Conclusão
63
Referências
64
University, 1990. (Tese de doutorado)
MOITA LOPES, L. P. Oficina de lingüística aplicada. Campinas: Mercado de
Letras, 1996.
______What is this class about? Topic formulation in a L1 reading
comprehension classroom. In: G. Cook, B. Seidlhofer. Principle and practice
in applied linguistics. Oxford: Oxford University Press, 1995. p.349-362.
TANNEN, D. Conversational style: analyzing talk among friends. Norwood:
Ablex, 1984.
TAYLOR, J. R. Linguistic categorization: prototypes in linguistic theory.
Oxford: Clarendon Press, 1989.
VYGOTSKY, L. S. Interação entre aprendizado e desenvolvimento. In: M.
Cole et al. Mind in society. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1930.
______. Mind in society. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1978.
______. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
65
ESTRUTURA ORGANIZACIONAL MANDALA: UMA NOVA FORMA
DE TRABALHAR EM EQUIPE.
Introdução
67
Nossa proposta de gestão democrática e participativa pretende, antes de
mais nada:
! Promover o diálogo e a participação de toda a comunidade escolar no
processo educativo;
! Buscar o envolvimento e a integração de todos os agentes responsáveis
pelo desenvolvimento das atividades propostas no processo ensino-
aprendizagem;
! Respeitar princípios estabelecidos nas bases epistemológicas,
metodológicas e institucionais;
! Articular-se com agentes externos à comunidade acadêmica, buscando
parcerias com os organismos vinculados à Fundação de Apoio a Escola Técnica
do Estado do Rio de Janeiro, em especial com os sediados no Campus do
CETEP de Quintino, e em outras dimensões com organismos da Comunidade
Tecnológica do Estado do Rio de Janeiro e o comprometimento da sociedade;
! Promover uma articulação entre a administração da Rede
FAETEC/Diretoria de Desenvolvimento do Ensino/Coordenação dos Institutos
Superiores, tendo em vista os princípios da identidade única, unidade de ação e
determinação para o alcance dos objetivos institucionais.
Educar é criar espaços. Essa afirmação nos remete à visão do educador
como um criador de condições para que a educação aconteça de forma plena e
significativa. Criar espaços, nesse sentido, não é apenas a atuação do educador
na escolha e estruturação do lugar em que o processo educativo vai se
desenvolver. Criar espaços é criar acontecimentos. É articular o espaço, tempo,
recursos humanos e tecnológicos para produzir momentos que possibilitem ao
educando ir, cada vez mais, assumindo-se como sujeito, ou seja, como fonte de
iniciativa, responsabilidade e compromisso.
Atendendo esta concepção assumimos a gestão Mandala,
descentralizada, participativa. Uma gestão que sabe ouvir, que sabe decidir de
forma colegiada que dá autonomia e que descentraliza as ações. Não podemos
mais conceber alunos solitários, escola “silenciosa” e “organizada”. Situado
organicamente no mundo, o aluno que busca ser tecnólogo, não pode e não deve
ser enquadrado, encaixado no encadeamento do processo social como dente na
engrenagem, um elo a mais na concatenação dos acontecimentos.
Ao contrário, devemos possibilitar que ele se contextualize, que
compreenda e que adquira um nível de distanciamento crítico em relação às
determinações de sua circunstância pessoal e social de modo a não ser conduzido
por elas como um “cachorro morto na correnteza”. Empreender, ele próprio a
construção de seu ser. Este é o momento da afirmação da subjetividade do
educando. É aqui que ele troca a condição de ator de um roteiro determinado por
vontades alheias à sua vontade, pela condição de autor, em medida progressiva, do
seu próprio destino. É por isso que, em nossa visão do processo educativo, o papel
68
do educando é educar-se e do educador é ajudá-lo nesta tarefa.
A nova tendência de gestão neste início de século está voltada para a
construção de uma organização que aprende. Isso supõe uma quebra da
dicotomia entre o processo pedagógico e os administrativos e uma
reformulação da hierarquia vertical de gerência.
Segundo MOTTA (2003) o poder no sentido positivo muda ambos os
lados, visto que pressupõe liberdade e participação para o alcance de objetivos
comuns. Assim, a organização que aprende pretende encontrar formas mais
democráticas de administrar a busca do aumento de eficácia na gerência do
poder e do conflito.
A figura 1 nos apresenta as bases sociais da participação, introduzidas
por Paulo Roberto Motta em seu livro Gestão Contemporânea: A Ciência e a
arte de ser dirigente.
Bases Sociais da Participação
Causa Conseqüência
Democratização das relações sociais Novo relacionamento social mando-
subordinação
Desenvolvimento da consciência de classe Agregação mais acentuada de interesses
e do agrupamento profissional entre
trabalhadores
Aumento do nível educacional Novas aspirações profissionais
Velocidade das mudanças Desatualização mais rápida das estruturas
estabelecidas
Intensidade da comunicação Acentuação dos mimetismos e pressões
ideológicas
Figura 1.
69
Este novo modelo coloca todas as pessoas num mesmo barco: o de que
somos todos falíveis porque somos prisioneiros de um modo particular de ver os
fatos; por conseguinte, dependemos uns dos outros para discutirmos nossos
pontos de vista e é assim, com essa colaboração mútua, que podemos nos
enriquecer em diversos aspectos do desenvolvimento: pessoal, organizacional,
social, cultural e econômico. É preciso que nos esforcemos na busca da
cooperação de todos os níveis organizacionais não só na identificação de
problemas, na formulação de soluções tentativas e na sua implementação, como
também no que diz respeito ao comprometimento com o acompanhamento do
processo, detectando-lhe as falhas e corrigindo-as, no interesse de melhoria
constante da qualidade.
Nossa proposta evidenciou a energia das competências existentes no
grupo e canalizou-a para a estrutura gerencial Mandala (ver figura 2) que traz
uma ação circular que envolve os profissionais que desempenham funções de
grande importância na estrutura organizacional de nosso Instituto Superior:
Direção, Direção-adjunta, Coordenação Acadêmica, Coordenação de Extensão
e Pesquisa, Coordenação de Estágios, Secretaria Acadêmica, Bibliotecária,
Responsável pelos Recursos e Laboratórios.
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Figura 2
70
Estrutura Organizacional “Mandala”
Considerações Finais
71
Referências
72
INTEGRAÇÃO ENSINO-PESQUISA-EXTENSÃO NO ISTCC-RJ:
PERSPECTIVAS E AÇÕES
Introdução
Considerações Gerais
73
símbolo mandala, base para o projeto pedagógico do instituto. A integração
decorre de um processo intenso e contínuo envolvendo várias perspectivas de
ação que se realimentam, promovendo o desenvolvimento institucional e os
movimentos de colaboração atuante junto às comunidades acadêmica,
científica e social.
É importante ressaltar que a missão do ISTCC-RJ serve de base para
nortear, de forma geral, as ações em andamento em quaisquer das três
dimensões institucionais.
Uma das premissas básicas de atuação do instituto reside na intenção de
otimizar o aproveitamento dos espaços físicos. Atualmente as instalações do
ISTCC-RJ são intensamente ocupadas nos turnos da manhã e da noite com
atividades acadêmicas no ensino de graduação. No turno da tarde concentram-
se as atividades de pesquisa e extensão, procurando eliminar a ociosidade em
termos de ocupação física dos espaços.
! Considerando o tamanho, a juventude e a intenção do instituto em
evitar dispersão de esforços, a equipe vem procurando concentrar suas ações
em eixos temáticos de atuação. Um eixo temático é uma área na qual o ISTCC-
RJ tenha interesse em atuar por meio do desenvolvimento e da aplicação de
recursos computacionais. São exemplos de eixos temáticos: Educação, Saúde,
Entretenimento, Tecnologia Assistiva, dentre inúmeros outros. Foram adotados
pelo ISTCC-RJ, em um primeiro momento (2006.1), três eixos temáticos inter-
relacionados:
! Educação - Nesse eixo temático encontram-se inseridos o
desenvolvimento e a aplicação de recursos computacionais que apóiem direta
ou indiretamente o processo de ensino-aprendizagem.
! Tecnologia Assistiva - Compreende a pesquisa, a criação e a
operacionalização de ferramentas que auxiliem pessoas portadoras de
necessidades especiais.
! Inclusão Digital - Ações de desenvolvimento de aplicações e prestação
de serviços que estimulem ou viabilizem o uso da informática, contribuindo
para a redução do número de pessoas sem acesso a recursos computacionais.
Um aspecto de extrema relevância na atual concepção mandala do ISTCC-
RJ refere-se à socialização das informações sobre as ações em andamento no
instituto. A divulgação exaustiva dessas informações proporciona o surgimento
de novas idéias, estimulando o desenvolvimento da escola. É a percepção de
que a criatividade pode atuar como mola propulsora para ações integradoras e
de que idéias discutidas em equipe de forma harmoniosa tendem a evoluir mais
rapidamente. São exemplos de iniciativas que têm como um de seus objetivos a
disseminação das informações sobre as ações do instituto:
! Publicação das informações do site oficial do ISTCC-RJ no endereço:
www.faetec.rj.gov.br/istquintino. A internet apresenta-se, indiscutivelmente,
74
como um excelente recurso para compartilhamento e divulgação de dados.
! O envio periódico de informativos eletrônicos por e-mail para a
comunidade do ISTCC-RJ e da FAETEC, relatando as principais ocorrências
relacionadas ao instituto.
! A divulgação das informações em quadros de aviso fisicamente
espalhados pelas instalações do instituto.
! A realização de reuniões periódicas nas seguintes instâncias: Conselho
Diretor, Conselho Acadêmico, Equipe Gestora, Representação de Turmas,
diretamente com as próprias turmas e com a Comunidade do Instituto.
Encontra-se atualmente em análise a discussão pela comunidade do ISTCC-RJ
o projeto pedagógico institucional, incluindo as definições de missão e visão do
próprio instituto.
! A realização de palestras dentro e fora do instituto. Estão incluídas
entre as últimas, as participações em feiras de profissões, conferências
acadêmicas e científicas, sempre com o objetivo principal de projetar o instituto
e suas ações junto à comunidade de uma forma geral.
Um aspecto importante para viabilizar a atuação institucional integrada é
a formalização de intenções. No ISTCC-RJ todas as ações devem, na medida do
possível, ser formalizadas. Nessa formalização, são indicadas quais
contribuições devem ser esperadas em cada dimensão. Assim, o planejamento
de cada ação deve estimular a reflexão de forma a especificar, quando aplicável,
as contribuições acadêmicas (no ensino), as contribuições científicas (na
pesquisa) e as contribuições sociais (na extensão).
De forma a sistematizar e melhor atender à demanda da comunidade
junto ao ISTCC-RJ no que se refere às ações institucionais, convencionou-se
que toda demanda deverá ser analisada, discutida, formalizada e conduzida,
sempre que possível, de forma integrada nas dimensões de ensino, pesquisa e
extensão.
Vale a pena ressaltar que grandes projetos a serem desenvolvidos no
âmbito do ISTCC-RJ recebem o status de macro-projetos. Um macro-projeto é
um projeto que, dada sua complexidade e porte, subdivide-se em vários projetos
menores que sejam desenvolvidos e integrados de forma coordenada pelos
diversos setores do instituto.
Todo projeto a ser desenvolvido pelo ISTCC-RJ deverá ser enquadrado
em uma das seguintes modalidades:
! Projeto de Iniciação Científica (PIC)
! Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
! Trabalho de Disciplina (TDD)
! Projeto de Infra-Estrutura (INF)
! Projeto da Empresa Júnior (EMP)
! Projeto de Imagem e Divulgação Institucional (IDI)
75
Os procedimentos internos de acompanhamento e apoio ao
desenvolvimento de cada projeto são definidos previamente para cada
modalidade de projeto. Estimula-se no instituto a realização de projetos
integrados em que os resultados de um projeto possam ser utilizados em outros.
O Ensino
77
desenvolvimento e à aplicação de sistemas de informação em situações reais do
mercado. Tratam-se das disciplinas “Projeto de Software” e “Trabalho de
Conclusão de Curso”, posicionadas no 4o. e no 5o. períodos da matriz,
respectivamente. Os temas são propostos pelos alunos e validados pelos
docentes no início do período letivo. Todos os temas devem ter aplicação em
instituições (empresas, escolas, órgãos públicos e privados), cuja existência
deve ser comprovada como requisito básico para a aceitação dos temas.
Pretende-se, portanto, que os sistemas de informação elaborados nestas
disciplinas tenham assegurada a sua aplicabilidade na sociedade. Espera-se que
uma boa parcela destes sistemas possa ser trabalhada junto à Empresa Júnior do
ISTCC-RJ, de forma a disponibilizar produtos com boa penetração no mercado.
Além disso, a Empresa Júnior pode sugerir temas de projetos a serem
desenvolvidos nas referidas disciplinas. As sugestões de temas devem surgir a
partir de demandas reais solicitadas à Empresa Junior que não tenham sido
atendidas por falta de recursos.
Diversos temas de trabalhos de conclusão de curso (TCC) estão situados
nos eixos temáticos de interesse atual do instituto. Abaixo encontram-se indicados
alguns exemplos de temas de TCC no eixo temático de apoio à educação:
! SIAPE Sistema de Apoio a Eventos no ISTCC-RJ
! e-RevISTa Revista eletrônica do ISTCC-RJ
! e-Journal Jornal eletrônico do ISTCC-RJ
! Diário on-Line
! Ferramenta de Integração Professor-Aluno
! Sistema Acadêmico
! Biblioteca On-Line
! Livro de Ocorrências On-line do Laboratório de Informática
! Sistema de Apoio ao Projeto Pedagógico do ISTCC-RJ
! Secretaria Escolar na WEB
A carga horária de estágio prevista na matriz curricular pode ser
cumprida pelo aluno junto a empresas credenciadas. Para tanto, o aluno deverá
realizar atividades de desenvolvimento, avaliação e implantação de sistemas
em situações reais do mercado de trabalho. Periodicamente, o aluno apresenta
um relato das atividades de estágio realizadas sob a supervisão de um
profissional indicado pela empresa. A coordenação de estágios valida as
atividades desenvolvidas e recomenda, sempre que necessário, ajustes quanto
aos tipos de ação que o aluno deverá atuar a partir de então.
Cada aluno pode cumprir a carga horária de extensão prevista na matriz
curricular em função dos seus interesses específicos de formação. Nesse contexto,
as atividades de extensão oferecidas pelo instituto se integram ao ensino como
fontes alternativas para promover as especificidades de formação discente.
Uma importante contribuição do ensino para a pesquisa atualmente em
desenvolvimento no instituto é a oferta de disciplinas extras na matriz curricular
78
que preparem os discentes que tenham interesse para futuros programas de pós-
graduação strictu sensu. São disciplinas não obrigatórias com conteúdos
importantes para a formação de alunos que pretendam seguir carreira
acadêmica na área da computação. Temas como Teoria da Computação,
Cálculo Diferencial e Integral, Estruturas de Dados Avançadas e Análise
Combinatória estão incluídos nessas disciplinas.
O Programa de Monitoria do ISTCC-RJ tem como objetivo principal
apoiar as atividades de ensino em determinadas disciplinas curriculares.
Procura, assim, melhorar o desempenho acadêmico dos alunos nestas
disciplinas onde, em geral, há maior dificuldade de aprendizagem. No entanto,
o Programa de Monitoria contribui também para promover uma maior
integração discente, além de despertar e desenvolver nos monitores um perfil
docente e investigativo na busca de soluções de problemas. Percebe-se,
portanto, que o Programa de Monitoria também atua como instrumento de
integração entre as dimensões de ensino, pesquisa e extensão.
A Pesquisa
80
É importante destacar a preocupação do ISTCC-RJ em desenvolver
projetos de pesquisa que possam ser aplicados, revertendo-se em contribuições
sociais e acadêmicas de real utilidade prática. Daí a ênfase no desenvolvimento
de pesquisa aplicada e direcionada segundo perspectivas empreendedoras que
possam produzir renda. Dessa forma, trabalhos desenvolvidos no âmbito de
projetos de pesquisa podem e devem ser revertidos em projetos conduzidos pela
Empresa Júnior na formulação de produtos e na efetiva aplicação desses
produtos junto à sociedade.
Um outro aspecto que demonstra a integração das ações de pesquisa ao
ensino é a possibilidade que o aluno do instituto possui de formalizar suas
atividades de pesquisa no ISTCC-RJ para integralização de horas de estágio e
de extensão, previstas na matriz curricular do curso. Estimula-se com isso que
alunos com interesse em carreira acadêmica possam iniciar suas atividades de
pesquisa sob a forma de estágio desenvolvido no próprio instituto.
O processo seletivo para o PIC do ISTCC-RJ requer a comprovação do
desempenho acadêmico dos discentes. Alunos com melhores resultados nas
disciplinas cursadas têm preferência para absorção nos projetos de pesquisa do
instituto.
Os melhores trabalhos desenvolvidos nos projetos de iniciação científica
do instituto são recomendados para publicação na RevISTa publicação técnico-
científica do ISTCC-RJ. Tal indicação é considerada pela comunidade do instituto
como uma premiação pelo desenvolvimento de trabalhos bem qualificados.
O ISTCC-RJ dispõe do NUPE (Núcleo de Pesquisa), que tem como
objetivo principal apoiar o desenvolvimento de projetos no instituto.
Atualmente o NUPE dispõe de três projetos de iniciação científica voltados à
organização e ao desenvolvimento de recursos computacionais que auxiliem o
ensino nas disciplinas de Redes de Computadores, Banco de Dados e Tópicos
Avançados. Um desses projetos, o NUPE - IC, promoveu em 2006.1 a oferta de
um curso de extensão denominado “Inteligência Computacional” em conjunto
com a disciplina de graduação Tópicos Avançados. A idéia foi oferecer tanto
para alunos do instituto quanto para a comunidade em geral, uma capacitação
para o desenvolvimento de sistemas de apoio à decisão com recursos de
Inteligência Computacional.
O projeto de iniciação científica denominado “Data Warehouse e
Mineração de Dados nos Institutos Superiores da FAETEC”, tem como
objetivos a criação e a implantação de um data warehouse que auxilie na
identificação de práticas institucionais que promovam o desenvolvimento do
ISTCC-RJ e da própria FAETEC. Para tanto, está sendo desenvolvido um Data
Mart para o ISTCC-RJ como projeto piloto. Esse projeto situa-se no eixo
temático de apoio à educação e exemplifica como o ISTCC-RJ pode apoiar o
próprio desenvolvimento institucional.
81
A Extensão
82
STCs, encontros marcados, workshops e visitas técnicas também
procuram envolver assuntos que possam ser explorados em ações de pesquisa e
estímulo à iniciação científica, complementando temas e discutindo tópicos
mais avançados, estimulando a reflexão, a formulação e aplicação de novas
soluções computacionais.
Diversas das ações mencionadas acima são apoiadas pela Empresa
Júnior do ISTCC-RJ. Um exemplo disso foi o desenvolvimento e implantação
de um sistema na ABEn Associação Brasileira de Enfermagem. Esse mesmo
sistema, situado no eixo temático da saúde, serve como exemplo apresentado
em sala de aula nas disciplinas relacionadas à análise e ao projeto de sistemas.
Também de forma análoga às STCs, a chamada Semana Um ocorre no
início de cada período letivo e tem como objetivo principal receber e integrar os
calouros do instituto. Nesta oportunidade, cada novo aluno é apresentado ao seu
“Personal Mentor”. Um “Personal Mentor” é um aluno antigo do ISTCC-RJ
cuja missão é promover a inserção do novo aluno na comunidade do instituto.
Cada personal mentor assessora, no máximo, 5 calouros, fornecendo-lhes
orientações, de forma personalizada, sobre a estrutura, a equipe e o
funcionamento da instituição. Também durante a Semana Um são realizadas
palestras e atividades sobre a profissão o instituto, outros temas.
Os laboratórios pedagógicos atualmente disponíveis no ISTCC-RJ são
os Laboratórios de Texto (Português e Inglês) e de Matemática. Ambos servem
à comunidade de uma maneira geral, mas também apóiam as dimensões de
ensino e pesquisa.
A Biblioteca do ISTCC-RJ promove periodicamente passeios e
atividades culturais, além do espaço aberto. O espaço aberto é uma
oportunidade em que convidados falam de temas de interesse (não apenas de
cunho tecnológico), para a comunidade. O planejamento e operacionalização
desses tipos de evento pela Biblioteca são realizados em conjunto com a
Coordenação de Extensão e Pesquisa do instituto.
Também de forma periódica, o ISTCC-RJ promove confraternizações
envolvendo a comunidade de forma a estreitar os laços e relacionamentos entre
seus membros.
A participação dos alunos em quaisquer dos eventos mencionados acima
pode ser convertida em horas de atividades de extensão necessárias à
integralização curricular pelo discente.
As parcerias promovidas pelo ISTCC-RJ têm um papel muito importante
no processo pedagógico do instituto. Algumas delas têm como um dos objetivos
aproximar o aluno de graduação de cursos de pós-graduação de qualidade. Um
exemplo é a parceria com o Instituto Militar de Engenharia e com o Centro
Universitário da Cidade do Rio de Janeiro, que prevê o desenvolvimento e a
aplicação de projetos conjuntos. Outras parcerias procuram situar o ISTCC-RJ
83
como um provedor de soluções de tecnologia em informática em determinadas
áreas. É o caso da parceria com a GPI Gerência do Programa de Inclusão da
rede FAETEC. Nessa parceria o instituto busca desenvolver recursos voltados à
Tecnologia Assistiva, em ações de extensão fortemente integradas com as ações
de pesquisa na área.
A própria publicação desse livro reflete o espírito de integração de ações
de extensão que podem se refletir em sala de aula e nos projetos de pesquisa.
Nele, os autores, todos membros da equipe do ISTCC-RJ, buscam contribuir
com suas visões e experiências na democratização da filosofia de atuação
segundo a concepção mandala.
De uma maneira geral, o ISTCC-RJ percebe as ações em extensão como
possíveis laboratórios para experimentação e avaliação de novas ferramentas
computacionais, metodologias, práticas e produtos. Nessa perspectiva, as ações
de extensão podem fornecer valiosos subsídios para a avaliação e
direcionamento dos esforços na dimensão da pesquisa.
Referências
85
CÉLULA DE DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIA: UMA
PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA SUBSTITUIÇÃO DA SALA DE
AULA EM CURSOS TECNOLÓGICOS.
Horácio Ribeiro*
Gloria Maria Dias de Oliveira**
Rafael Dias Ribeiro***
Contextualização
87
Temos assistido especialistas da área de educação proporem a
modernização do ensino através de teorias construtivistas, interdisciplinares,
transdisciplinares, dialéticas, e outras. Porém, quando suas propostas são
implementadas, professores e instituições de ensino limitam-se a introduzir
modernas tecnologias de apresentação ou comunicação associados aos trabalhos
em grupos. Assim, telões, computadores e software de apoio à apresentação,
televisores de tela plana acoplada com câmeras e toda uma parafernália eletrônica
são introduzidos na sala de aula. Entretanto, o ensino é feito da mesma forma,
apenas com modernização ou substituição do antigo quadro de giz e a troca da aula
expositiva do professor pela apresentação de seminários por grupos de alunos. Os
hábitos e os problemas continuam os mesmos. O conhecimento continua sendo
fragmentado em disciplinas com problemas de continuidade FRAGA (1992);
aulas expositivas com os seus já conhecidos males VASCONCELLOS (1972)
continuam sendo ministradas tratando os alunos de forma homogênea. O modelo
que se perpetua considera o aluno como um banco de dados que precisa ser
completado. Entretanto, no modelo de qualificação profissional flexível, o aluno
deve ser considerado como uma CPU (unidade central de processamento) capaz
de descobrir novas formas de usar e desenvolver o conhecimento. Alguns
exemplos de modelos, como a escola de Sagres, em que grupos de pessoas se
reuniam para estudar e discutir problemas inerentes à época, buscam responder
aos desafios do futuro. O sucesso deste modelo é inegável, pois de lá saíram os
grandes navegadores, novos métodos foram desenvolvidos. Eram pessoas
reunidas em grupos que trocavam informações, raciocinavam em grupo, faziam
novas propostas e as testavam. Estavam em constante busca de novas formas.
As experiências, mais modernas, como escola de garçons, em que o
aprendiz serve em uma escola restaurante, e outras oficinas têm se mostrado
mais eficientes do que as escolas profissionais tradicionais.
Objetivos e justificativas.
88
contexto de mudanças constantes, ampliando os seus horizontes e a partir de maior
domínio sobre o processo produtivo e sobre o desenvolvimento da consciência
individual e coletiva, atender às necessidades humanas de realização e
emancipação.
A experiência em coordenação e criação de cursos nas áreas de
tecnologia de informação levou-nos a fazer uma revisão em todo o processo de
elaboração de um curso. Para exemplificar, a título de ilustração, vamos mostrar
o processo de elaboração da grade curricular de um curso cujo objetivo é
ensinar as pessoas a andar de bicicleta.
Para andar de bicicleta a pessoa deve conhecer as partes de uma bicicleta e
assim especifica-se a primeira disciplina: Bicicleta I. O objetivo desta cadeira é
permitir identificar as partes de uma bicicleta e suas características físicas e
mecânicas. Como existem bicicletas especiais surge a segunda cadeira: Bicicleta
II. O objetivo, agora, é identificar bicicletas especiais do tipo: monociclos,
triciclos, velocípedes, para enduro, para corridas, etc... Estas disciplinas usam
conceitos de mecânica (freios, amortecedores, transmissões, etc...) surge à terceira
disciplina: Mecânica, com o objetivo de apresentarem-se os conceitos de
mecânica usados em bicicletas. Esta última cadeira exige uma nova disciplina que
lhe antecede: Física, onde se apresentam os conceitos da mecânica clássica:
velocidade da partícula, velocidade angular, aceleração, etc..., que por sua vez
exige o conhecimento de matemática. Assim, sucessivamente, na forma
tradicional, para se formar ciclistas tem-se um curso com no mínimo cinco
disciplinas, a saber: Bicicleta I, Bicicleta II, Física, Mecânica e Matemática. Um
bom aluno do curso saberá exatamente de quantos centímetros é a bitola do pneu
da bicicleta, saberá calcular com exatidão o número de pedaladas para andar cem
metros em dois minutos, entre outras questões. Então pergunta-se: Se entregarmos
uma bicicleta ao melhor aluno do curso ele saberá andar de bicicleta?
Qualquer um, pelo menos que já andou de bicicleta, sabe que a resposta é
não. Este aprendizado é feito na prática com desenvolvimento de pequenas
habilidades: equilibrar, pedalar em linha reta; parar; fazer curvas; etc...
Adquirindo competência para cada nível de dificuldade.
Tradicionalmente, por uma questão de hábito, ou facilidade sempre
elabora-se cursos grupando saberes em disciplinas (tendência Taylorista),
esquecendo-se a natureza dos problemas em que os saberes estão inseridos.
Conseqüentemente, perdem-se os objetivos iniciais dos cursos da área
tecnológica: resolução de problemas, em um determinado contexto.
As disciplinas de um curso tecnológico têm seus saberes discriminados
detalhadamente enquanto nenhum tratamento e dado ao nível da competência
que o futuro profissional deverá ter.
A idéia subjacente é que saberes implica em competência, sendo
considerado no âmbito deste texto:
89
Saberes: conhecimentos teóricos e práticos que hoje são segmentados e
agrupados logicamente em formas de disciplinas.
Competência: capacidade de solucionar problemas, principalmente em
ambientes complexos.
Esta abordagem exacerba-se quando o conhecimento já está formatado
em grupos, bastando selecionar tópicos e dar nome às disciplinas. Assim, da
matemática, cria-se matemática I, matemática II... Apresentam-se saberes
absolutamente desnecessários aos objetivos da disciplina e do curso, que, por
sua vez, na grande maioria, não são claros, mascarando os verdadeiros
objetivos com frases evasivas como, por exemplo: “o profissional terá
competência para resolver os problemas da prática e da ação social” que são
comuns nos projetos pedagógicos, quando se referem a competências.
Em particular, algumas abordagens feitas em sala de aula cobram a
aprovação dos alunos como uma maratona, no sentido de se buscar apenas a
aprovação final, reforçando a Indústria do Diploma.
O que propomos na célula de desenvolvimento de competências é uma
estrutura pautada na idéia de que competência implica em saberes, no
desenvolvimento natural de uma competência em um ambiente análogo ao
ambiente de trabalho de uma empresa. O aluno aprende o saber necessário, e a
sua utilização na medida necessária para o desenvolvimento de sua atual
competência. A competências e saberes se fundem e o aluno passa a almejar
novas competências e, portanto, novos saberes.
90
ii) Grau de dificuldade: determina o grau de complexidade do problema.
Iniciando-se com problemas concretos, do tipo como executar tarefas de forma
mecânica por memorização de etapas. Segue-se apresentando problemas que
começam a envolver a criação de modelos até a elaboração de meta-modelos.
Para cada grau de dificuldade são apresentados os saberes necessários.
Quando o aluno consegue resolver os problemas de um nível, atingiu o grau de
competência na solução de problemas e, portanto, deve evoluir para outro nível.
Muitas empresas já vislumbraram este novo modelo de certificação para
a solução de problemas. Esta prática é comum entre os fabricantes de software
que fazem a certificação de profissionais em seus produtos independente da
formação escolar (embora de forma pouco clara, com relação aos objetivos).
Organização da célula
Fontes de
Grupo Grupo Grupo Grupo
1 3 5 7 conhecimento:
Biblioteca,
Grupo Grupo Grupo Grupo
2 4 6 8 Vídeos...
91
Em uma célula, os alunos devem trocar informações, de modo que os de
maior competência ajudem os de menor competência da mesma forma que
acontece em um ambiente de trabalho.
Os alunos iniciantes fazem um rodízio percorrendo todas as células de
modo a formarem uma visão contextual e abrangente dos tipos de problemas.
Recomenda-se um período de três semanas em cada célula. Estes alunos devem
resolver problemas de apoio (mecânicos), que não comprometam o trabalho,
sob orientação dos mais experientes. Os alunos mais experientes devem ser
estabilizados, isto é, ter um período maior de permanência em um tipo de célula
ou mesmo fixado por opção destes.
Todo trabalho na célula deve ser orçado, planejado e feito pelos
componentes do grupo usando-se padrões aceitos pelos principais órgãos de
normalização, autores ou mesmo pelos professores. Sempre se deverá fazer um
memorial descritivo do trabalho, incluindo as referências bibliográficas e
citando trabalhos anteriormente desenvolvidos.
Avaliação da competência
Implantação do modelo
Quando uma célula está funcionando de forma completa vai abrindo novas
vagas para os iniciantes substituírem os participantes que são certificados (para
cada nível). O problema é como iniciar um grupo. Esta implantação exige um
maior esforço por parte dos professores. Neste momento, os professores
“participam” do grupo como os elementos de maior experiência e saem à medida
que possam ser substituídos em cada nível de competência pelos alunos.
Para receber os alunos, os problemas de nível concreto já devem estar
formulados, bem como, a sua forma de apresentação. Os serviços devem ser
orçados pelos professores. As novas categorias de problema podem ser
92
desenvolvidas e à medida que os alunos forem se tornando experientes, os
professores vão assumindo o papel de facilitadores destes grupos.
Conclusão
Referências
Introdução
95
O geral e o particular: o movimento dialético do saber matemático
96
uma generalização mais abstrata e consciente dos conceitos, fornecendo
subsídios para compreensão mais sólida e significativa do todo o
conhecimento matemático.
6
4
2
0
-4 -2 0 2 4
-2
-4
97
A B
1 X Y = -2x + 3
2 -2 = -2*A2 + 3
3 -1 = -2*A3 + 3
4 0 = -2*A4 + 3
5 1 = -2*A5 + 3
6 2 = -2*A6 + 3
O aluno irá perceber que o gráfico agora será decrescente, que ele não
terá valores suficientes no domínio para obter o zero da função a sua raiz que o
deslocamento vertical da reta é de 3 pontos acima do eixo x, etc.
0
-4 -2 0 2 4
98
Casos particulares
f(x) = x+1
f(x) = x f(x) = x-3
f(x) = -2x
Geral
Função
Casos particulares
exponencial
f(x)=ax x
f(x) = 2
x
f(x) = (1/2)
Figura 1
99
Estrutura Exemplo
matemática específico
Composição do
verificação exemplo no
da estrutura EXCEL comparação
entre os
resultados
Alteração dos numéricos
Manutenção valores e e gráficos
ou mudança da formatos
estrutura
Figura 2
100
consciente, nesse movimento de (re)organização do pensamento, não visando a
sobreposição de idéias, mas, sobretudo, na análise e na integração entre as
partes que compõem o todo, dialeticamente, utilizando as ferramentas
tecnológicas disponíveis na atualidade.
Considerações finais
Referências
Introdução
A Biblioteca
103
disseminação à luz das discussões e filosofias profissionais contemporâneas.
Entretanto, durante as últimas décadas, compreendeu-se que, assim como a
indústria produtiva teve que avançar do progresso de fábricas isoladas em
direção a padrões de crescimento determinados pela estrutura da economia
nacional, também as necessidades educacionais, informativas e culturais das
comunidades têm que ser estudadas, e os serviços destinados a atendê-las
organizados. Desta maneira, devem ser encarados como partes integrantes de
sistemas maiores, e não como operações unitárias relacionadas tão somente
com seus ambientes imediatos, por mais importantes que estes sejam.
A mudança na própria função da Biblioteca acrescentou uma nova
dimensão em seu planejamento de serviços deixando de ser mero depósito. A
palavra Biblioteca na antiguidade em grego significava “caixa para guardar
livros” e, por extensão, um local onde os livros seriam colocados, de forma
organizada, para consultas e leituras.
Infelizmente ainda nos dias de hoje em algumas instituições, a Biblioteca
é vista “ainda” como “depósito”, não somente para a provisão de livros
destinados a atender às necessidades expressas ou presumidas dos usuários
conforme forem surgindo, mas também são usadas para guardar móveis
quebrados, aparelhos eletrônicos com defeitos, funcionários impossibilitados
de exercerem suas funções seriam transferidos para a Biblioteca, a fim de,
cumprirem com suas respectivas cargas horárias de trabalho.
O profissional Bibliotecário era visto como mal humorado e de poucas
palavras. Com o passar dos anos, pelo menos o perfil do bibliotecário mudou,
infelizmente algumas direções institucionais vêem a Biblioteca com a mesma
visão retrógada e em algumas instituições como sendo “à parte” da educação. A
Biblioteca não desenvolve seu papel em conjunto com docentes, pedagogos e
coordenadores. E por esse motivo falamos aqui do Instituto Superior de
Tecnologia em Ciência da Computação do Rio de Janeiro/FAETEC (daqui em
diante designadas abreviadamente por ISTCC) cuja direção, comandada pelo
Prof. Fernando da Silva Mota, tomou a iniciativa de fazer uma educação
modernizada, aliada aos recursos informatizados disponíveis.
A Biblioteca do ISTCC desempenha funções de integração,
receptividade, lazer, entretenimento e completa o aprendizado com seu acervo
impresso. Não vivenciamos em nossa realidade o perfil de “depósito” para
nossa Biblioteca.
Tratando-se de uma instituição tecnológica, o desafio é ainda maior, com
o aprimoramento da tecnologia aliada à velocidade da informação, a Biblioteca
precisou atualizar seu perfil e modernizar-se. O tradicional “silêncio” é visto
com outros olhos, não somos uma Biblioteca tradicional que não se deve sequer
sussurrar em seu interior, sussurremos em prol do conhecimento, do
desenvolvimento científico e intelectual, utilizando seus recursos eletrônicos e
impressos. Mantemos características de Biblioteca, com suas normas de boa
104
utilização, porém, acoplada ao fantástico mundo da tecnologia que é deveras
dinâmico, interativo e expansivo o que se torna um desafio de toda Biblioteca
eletrônica e o verdadeiro desafio não diferirá grandemente daquele que as
Bibliotecas hoje enfrentam: administrar um acervo multimídia para a sua
comunidade ou usuários.
TROLLEY (1995) define Biblioteca eletrônica como “a visão comum
que bibliotecários, editores, tecnólogos e pesquisadores têm a cerca do acesso a
todas as informações, em qualquer lugar, a qualquer instante”.
Esse conceito de universalidade de acesso é compartilhado.
BECKMAN (1993) argumenta que a diferença entre Biblioteca
eletrônica e Biblioteca virtual está em que a eletrônica ainda pode ter uma
presença física, enquanto a Biblioteca virtual, posto que é percebida como
transparente, possuirá instalações físicas transparentes e bibliotecários
transparentes.
Mantenhamos a visão de uma Biblioteca multimídia que reflita as
diferentes formas e formatos que a comunidade de usuários julgue conveniente
para comunicação e armazenamento de informações.
Provavelmente com essa visão dinâmica, interativa e expansiva que o
matemático e cientista da computação Vinton Cerf em meados dos anos 70
ajudou a desenvolver o “protocolo de controle de transferência/protocolo de
internet TCP/IP”.
Essa mesma visão de partilhar, contribuir, interagir com os grupos,
independente de onde se encontram, contribui para repensar em uma “mandala”
que segundo DAHLE (1999) “formas que representam à harmonia do cosmos e
a energia divina”.
Projeto Mandala
Conclusão
106
Referências
107
O AMBIENTE VIRTUAL E A QUALIDADE DE VIDA
109
O ambiente virtual é formado na tela do monitor do computador ou
aparelho digital, criando a impressão, para a mente humana, de que as figuras e
os objetos ali contidos interagem com o indivíduo.
Todo esse desenvolvimento tornou a informática mais eficiente e
dinâmica, vinculando-a às mais diversas áreas do conhecimento e da sociedade.
A medicina, a engenharia, a educação, a agricultura, a comunicação, o lazer e
outros conjugaram os seus conteúdos às possibilidades proporcionadas pelos
sistemas informatizados, adquirindo mais eficiência e precisão nos resultados.
Alguém que utiliza um computador, em qualquer situação, o faz por
variados períodos de tempo, os quais, podem ocorrer em pequenas ou grandes
sessões de envolvimento. Tais circunstâncias nos levam a um questionamento.
Será que uma pessoa ao utilizar um computador por várias horas trabalhando, se
comunicando ou envolvido com algum tipo de entretenimento pode ter algum
prejuízo na sua saúde?
O tempo ininterrupto de permanência diante da tela do computador,
sendo longo ou extremamente longo, pode provocar alguns distúrbios,
interferindo na qualidade de vida do indivíduo, principalmente no que diz
respeito à saúde psíquica e física.
No que concerne aos aspectos psíquicos, pode ser verificado mudança de
comportamento do indivíduo, eficiência da percepção e interação com o meio e
as relações interpessoais, devido ao isolamento por diversas horas diante da tela
do computador.
Sabe-se que atualmente os psicólogos já definem o excesso de
permanência no ambiente virtual por algumas pessoas como uma dependência
a ser tratada clinicamente, visto que, o ser humano necessita do convívio social
e interação com o meio físico desde o nascimento, para formar, desenvolver e
manter sua identidade e personalidade.
Os longos períodos de permanência, inerte, jogando vídeo games,
utilizando a Internet, ou trabalhando em computador, reduzem as possibilidades
de estímulos e reações que exijam movimentos contínuos e de coordenação geral.
O corpo humano foi desenvolvido para estar em movimento
constantemente. A nossa locomoção apresenta um esquema sofisticado. Para
um simples passo, acionam-se diversos sistemas de alavancas, organizadas no
esqueleto, movimentados pelos músculos e tendões, no momento em que nosso
cérebro decide a ação.
Além disso, nosso cérebro recebe informações do aparelho vestibular,
que é um analisador cinestésico, conduzindo informações constantes aos
centros superiores sobre a posição da cabeça no campo gravitacional da Terra.
Também obtém informação da propriocepção, o que envolve a identificação
senso-receptora das características dos movimentos do corpo e dos membros,
permite a orientação, localização espacial, velocidade e ativação muscular.
110
A carência na estimulação dessas áreas através dos movimentos
contínuos e da manutenção da coordenação geral, podem causar deficiências na
percepção e reação a estímulos provindos do ambiente, visto que, essas áreas,
devem ser ativadas durante toda a nossa vida, contribuindo para maior
autonomia de locomoção na idade mais avançada.
Podemos notar que a automação proporcionada pela tecnologia reduziu
significativamente as exigências de movimentos e atividade física,
principalmente entre usuários do computador, que pela comodidade na
interação com o ambiente virtual, reduzem cada vez mais a execução dos
movimentos amplos e coordenados.
A redução do período de atividade física diária pode levar também o
sujeito à obesidade, visto que, com pouca atividade, o consumo das calorias
pelo organismo diminui, ampliando as possibilidades de elevação do colesterol,
pressão arterial, risco de infarto, do diabetes, e acidente vascular cerebral.
A obesidade contribui para a baixa da auto-estima do indivíduo obeso,
que muitas vezes se isola ou é discriminado socialmente.
Atento a estes fatores, o Instituto Tecnológico em Ciências da
Computação (ISTCC-RJ) incluiu na sua grade curricular a disciplina
Desenvolvimento Humano e Qualidade de Vida (DHQ), na intenção de
conscientizar seus alunos, por meio estudos de debates, sobre as possíveis
implicações na qualidade de vida, causadas pelo uso contínuo e excessivo do
computador. Com isso, espera-se que eles busquem alternativas para manterem
equilibrados a sua saúde e o bem estar.
O conteúdo programático se integra também aos conteúdos da disciplina
Relações Interpessoais (TRI), visto que, trata principalmente da
conscientização da manutenção da saúde do sujeito e a relação com ele e o
outro, levando-o a compreensão do conceito Ser Humano e a relação social.
A disciplina DHQ aborda inicialmente a concepção de consciência,
identidade e percepção, enfocando as influências ambientais, culturais e da
mídia, no desenvolvimento do sujeito e na sua relação social.
Outra abordagem da disciplina é o desenvolvimento humano sob os
aspectos filogenético/histórico e ontogenético/fisiológico, ampliando a
compreensão do aluno sobre as causas e os efeitos do comportamento.
O conteúdo envolve também a compreensão das conseqüências da má
alimentação, da preocupação no controle da pressão arterial, dos males
causados pelo fumo, álcool e drogas, dos cuidados com a postura e da
organização postural. O mesmo refere-se a elaboração de atividades físicas e de
convívio, alternativas.
Atualmente os alunos do ISTCC-RJ desde o primeiro período,
participam e desenvolvem atividades culturais, sociais e esportivas,
envolvendo turmas e turnos, professores e funcionários.
111
Isto prova que é possível formar pessoas que conciliem ciência,
tecnologia, desenvolvimento e humanidade.
Certamente a tecnologia sempre trouxe benefícios para a humanidade.
Em alguns momentos do desenvolvimento Humano, ela, quando apresentava
soluções, também apresentava seqüelas.
Sempre o Homem se preocupou, uns mais que outros, em equilibrar as
descobertas tecnológicas com o meio ambiente e ele próprio. Muitas vezes essa
preocupação só surgia quando uma das partes apresentava alguma deficiência.
Com as possibilidades tecnológicas atuais, é possível que o homem dê
passos bem calculados, respeite sua natureza e a própria Natureza. Enfim, que
ele possa caminhar com a certeza de que cada passo dado, não o fará tropeçar.
Referências
112
O DIREITO NUMA PERSPECTIVA HOLÍSTICA
Introdução
113
Neste contexto, temos o enorme desafio de responder a pergunta
formulada anteriormente. Como falar em direitos, deveres, cidadania,
soberania, num mundo que parece ter se esquecido de toda a sua história?
Neste trabalho, procuraremos tratar do ensino do Direito à luz de uma
visão holística, tendo como base o paradigma da modernidade que,
paradoxalmente, na atualidade, mostra-se contraditório aos seus princípios,
colocando-nos diante de um enorme desafio, qual seja: como ensinar Direito
nos dias de hoje?
O Direito
115
elaborar as leis, ao segundo executá-las e ao terceiro solucionar os conflitos,
aplicando a lei. Trata-se do Estado como juiz imparcial, assim definido pelos
contratualistas. Ainda, foi destacada a Escola Sociológica que considera que o
Direito é fato social.
A importância da Escola Histórica, como já assinalado, reside no fato de
ter desviado o eixo de análise da origem do Direito, direcionando-o para a sua
dimensão social, o Direito consuetudinário. Como afirmou Savigny, o Direito
revela o “espírito do povo”. Tal mudança de eixo vai ser refletida, também, na
Escola Sociológica.
Então, temos que: o Direito é norma positivada, elaborada pelo Estado,
que é o poder constituído e, portanto, competente para tal; o Direito é fato
social. Através destas premissas pode-se perceber uma dualidade no Direito. De
um lado, a norma posta, imposta, de caráter hipotético, de outro, a sociedade,
através das condutas humanas, das práticas reiteradas de determinados atos que
se transformam em costumes, gerando a necessidade de ordenar as relações
sociais. Entretanto, resta, ainda, um outro aspecto que vai ser expresso na norma
posta, nos fatos sociais e nos costumes, que é o valor que cada sociedade atribui
a cada conduta humana. É esta combinação de fato, valor e norma, que estão
inseridos no Direito, que fundamenta a chamada Teoria Tridimensional do
Direito, que Miguel Reale aprimorou, dando o significado atual à proposição
acerca dos elementos que compõem o Direito fato, valor e norma.
REALE afirma que:
a) onde quer que haja um fenômeno jurídico, há, sempre e
necessariamente, um fato subjacente (fato econômico, geográfico,
demográfico, de ordem técnica, etc.); um valor, que confere determinada
significação a esse fato, inclinando e determinando a ação dos homens no
sentido de atingir ou preservar certa finalidade ou objetivo; e, finalmente, uma
regra ou norma, que representa a relação ou medida que integra um daqueles
elementos ao outro, o fato ao valor;
b) tais elementos ou fatores (fato, valor e norma) não existem separados
um dos outros, mas coexistem numa unidade concreta;
c) mais ainda, esses elementos ou fatores não só se exigem
reciprocamente, mas atuam como elos de um processo (já vimos que o Direito é
uma realidade histórico-cultural) de tal modo que a vida do Direito resulta da
interação dinâmica e dialética dos três elementos que a integram.
Ao analisarmos o Direito sob os três elementos que o compõem, estamos
diante de três perspectivas diferentes que serão estudadas pelas diferentes áreas
do conhecimento, a saber: “um aspecto normativo (o Direito como
ordenamento e sua respectiva ciência), um aspecto fático (o direito como fato,
ou em sua efetividade social e histórica) e um aspecto axiológico (o Direito
como valor de Justiça)”. REALE (2004) completa, ainda, afirmando:
116
“cada vez mais me parecia necessário ir além de Radbruch, não
me limitando a vislumbrar na experiência jurídica a existência de
três perspectivas: a do fato (objeto por excelência da Sociologia
Jurídica), a do valor do justo (objeto da Filosofia do Direito) e a
da norma (objeto essencial da Ciência do Direito), tal como ainda
pensava ao redigir Fundamentos do Direito, em 1940.
O que ocorreu foi minha progressiva convicção de que o
tridimensionalismo deve ser por inteiro o mesmo para o jurista, o
sociólogo e o jusfilósofo, com mudança apenas no enfoque do
tema em apreço, ou, por outras palavras, que o jurista, examina a
norma jurídica em função do fato e do valor; o sociólogo, o fato
social em função dos dois outros fatores; e o filósofo do Direito o
valor tendo em vista o fato e a norma.
A solução para essa forma de entendimento só encontrei quando
tive a idéia de que fato, valor e norma se dialetizam, a meu ver
segundo a dialética de complementaridade, e não a de oposição
aplicada por Hegel. Segundo o jusfilósofo espanhol Sanchéz De
La Torre, antes dessa idéia de dialetização dos três apontados
fatores, não se poderia falar, apropriadamente, em ‘Teoria
Tridimensional do Direito’”.
117
Direito ao estabelecer valores (moral) às condutas humanas (fatos) e
estabelecer os limites (norma) tem a finalidade de prevenir e compor os
conflitos oriundos das relações entre indivíduos e entre grupos de indivíduos.
O Direito seria, então, um conjunto de normas de conduta abstratas,
universais, obrigatórias e mutáveis, que tem a função de prevenir e compor os
conflitos oriundos das relações entre os indivíduos e entre grupos de indivíduos,
num dado momento histórico e seguindo a uma ideologia dominante. Daqui
podemos extrair a função social do Direito, que é a de exercer o controle social,
através da prevenção e da composição de conflitos.
Se o Direito é condicionado pelo fato social, pelos costumes, pela
sociedade, também exerce um papel condicionante. As normas de conduta, de
tão repetidas aplicações, acabam por introjetar nos indivíduos os conceitos de
certo ou errado, de bem ou mal, enfim, a dicotomia que permeia as condutas
humanas, seja estabelecida por valores morais ou religiosos, seja estabelecida
pela própria lei. Isto não ocorre, necessariamente, pelo caráter coercivo das
normas de conduta, mas pelos valores, estrutura axiológica, que estão presentes
nas mesmas.
O caráter condicionante da norma pode ser observado, também, quando
uma norma deixa de vigorar e a população continua agindo como se ainda
existisse a regra, ignorando que ela já foi revogada. Um exemplo é o caso do
Afeganistão, que com a queda do regime Talibã as mulheres foram dispensadas
de usarem a burka (vestimenta que cobre totalmente o rosto e o corpo),
entretanto, observa-se, nas reportagens sobre este país, que muitas mulheres
ainda a usam. Neste caso, percebe-se a força coerciva do Direito como fator
fundamental de controle social e, conseqüentemente, a manutenção de uma
ideologia dominante.
Segundo Castro,
“controle social é um conjunto de dispositivos sociais usos,
costumes, leis, instituições e sanções que objetivam a integração
social dos indivíduos, o estabelecimento da ordem, a preservação
da estrutura social, alicerçado nos valores e expresso na
imposição de vontade dos líderes, da classe dominante ou do
consenso grupal.
O Controle social pode ser formal ou informal. Os usos, os
costumes e a opinião pública são expressões do controle informal,
enquanto a lei define o controle formal. Em todas as sociedades, o
direito encontra-se coligado com noções morais e mesmo com
usos.”
Existem vários tipos de controle social exercidos por diferentes
instituições existentes dentro de uma sociedade, como a família, a escola, a
religião, o Estado, a Justiça e as instituições econômicas.
118
Dentre os diferentes tipos de controle social existentes nas sociedades
complexas, o Direito é o que se caracteriza como o de maior poder em
conseqüência da coerção, ou seja, a sanção que inibe que as condutas sejam
contrárias às determinações legais.
Uma das funções sociais do Direito é prevenir os conflitos. As normas de
conduta, de caráter obrigatório, portanto coercivas, visam estabelecer as regras
que devem ser observadas por todos os seus destinatários. Assim, a
bilateralidade do Direito atribui direitos e deveres a cada uma das partes
envolvidas na relação jurídica.
Dentro da função social preventiva, citada por ROSA (2001), podemos
destacar as funções educativa, conservadora e transformadora do Direito.
A função educativa é manifesta através do condicionamento que o
Direito exerce em determinados grupos sociais que introjetam as noções de bem
e mal, justo e injusto etc., que orientam os indivíduos a agirem de acordo com as
determinações legais, fazendo com que acreditem ser a melhor, a mais justa,
forma de agir. Muitas vezes, não é a sanção a maior responsável pela
observância da norma, mas, sim, o seu conteúdo axiológico. Entretanto, nem
sempre o que determina a lei é justo. Inúmeros são os casos em que a lei é
injusta, como por exemplo, quando procura manter os interesses das classes
dominantes, contrariando princípios fundamentais do Direito, desconsiderando
as desigualdades sociais dela decorrentes. O salário mínimo, por exemplo,
como estipulado em lei ordinária não atende ao prescrito no art. 7°. da nossa
Carta Magna.
Ao manter os interesses das classes dominantes, o Direito assume a sua
função conservadora, que pode ser associada, algumas vezes, à função
educativa. O poder legiferante atua para a manutenção de valores, instituições,
que deseja ver preservados. Com o fenômeno da Globalização, cada vez mais os
poderes soberanos estão sendo influenciados a legislar no sentido de assegurar
uma hegemonia global. A atuação do FMI (Fundo Monetário Internacional),
determinando as diretrizes que as economias dos países do Terceiro Mundo têm
que seguir para atingir as metas por ele estabelecidas, é um exemplo dessa
hegemonia global, dessa manutenção de interesses dominantes. CASTRO
(1969) Confirma essa perspectiva:
“as pessoas que desfrutam de uma posição privilegiada escreve
Recaséns Siches procuram conservá-la e se convertem em
sustentáculos da ordem existente mediante a defesa dos direitos
que lhe confere o sistema em vigor. Dizem necessária a situação
presente da sociedade e perigosa qualquer reforma. Pregam
resignação aos desafortunados, procuram socorrer aos
desfavorecidos, pondo em prática um paternalismo protetor, que
não exclui sentimentos de caridade, mas que contém também o
medo à exasperação provocada pela miséria”.
119
Outra função social do Direito é a função transformadora. A nosso ver, a
mais importante das funções do Direito, à medida em que o direito material é
um mecanismo de garantia de Direitos e manutenção de princípios
fundamentais, principalmente quando governos progressistas assumem o
poder. UNGER (2004) refere-se a países que possuem um Direito forte e países
que possuem um Direito fraco. Os primeiros seriam as grandes democracias
existentes, os segundos são paises em que a democracia ainda está se
consolidando e, em razão disto, produzem um Direito fraco, levando à crença
de que efetivamente há uma garantia de direitos, vez que integram o direito
material, mas é camuflado, pois este direito não se materializa em ações. A
existência do direito material nessas democracias incipientes dá a ilusão de ser
efetivamente um Direito.
A função transformadora também está associada ao desenvolvimento
tecnológico das sociedades, às transformações culturais, às normas reguladoras
da economia.
Os “Novos Direitos” são exemplos da função transformadora do Direito.
Muitas vezes, para se modificar comportamentos, conscientizar a população
acerca da necessidade de uma mudança de conduta, há a necessidade de se criar
leis para que tal objetivo seja atendido. Para que houvesse uma mudança de
atitude em relação ao meio ambiente, por exemplo, foram elaboradas leis para a
sua preservação, dando origem ao Direito Ambiental. A conscientização para a
importância de se preservar a natureza vem aumentando graças à existência da
lei, apesar de estar longe do ideal. Também podemos citar o Biodireito, que é
conseqüência das transformações tecnológicas da medicina, biologia e da
agroindústria, e que está gerando uma grande polêmica, principalmente no
tocante aos alimentos geneticamente modificados.
Um outro exemplo é o Código de Defesa do Consumidor, que mudou
as relações de consumo, gerando, no consumidor, uma maior conscientização
acerca dos seus direitos e, conseqüentemente, por parte dos fornecedores
uma maior atenção em relação aos produtos a serem comercializados.
Exigências como a informação da data de fabricação, data de validade do
produto, da composição, etc. contribuíram para a conscientização do
consumidor acerca da qualidade do produto que está consumindo, por
exemplo. A crescente utilização da informática e o desenvolvimento da
chamada Tecnologia da Informação, estão obrigando ao legislador a elaborar
leis que regulem a atividade. Pode-se, também, citar as Ações Afirmativas
que são produto de leis elaboradas para modificar situações de injustiça
social, gerando direitos àqueles que, por algum motivo, estavam relegados a
um segundo plano nas ações do Estado. Tais Ações visam a inclusão das
chamadas minorias e originaram, por exemplo, os Direitos da Mulher e uma
maior inserção de negros e índios no sistema educacional de terceiro grau, no
caso brasileiro.
120
SABADELL (2002) aponta duas esferas de manifestação do Direito
Moderno. Uma interna e outra externa. No que tange às transformações sociais,
a autora afirma que estas podem ocorrer em ambas esferas. No âmbito da esfera
interna, tais transformações podem ser decorrentes tanto da constatação, por
parte do governo, de um problema social, ou por pressões de grupos
desfavorecidos. Quanto às transformações na esfera externa, estas podem ser
conseqüência de pressões internacionais para que haja mudanças. Neste caso,
trata-se de uma transferência de direito, que pode ocorrer sob duas formas, a
saber: o empréstimo jurídico, que consiste na assimilação voluntária de normas
provenientes de outros Estados; e a aculturação jurídica, que é “o processo de
recepção de um direito alienígena que provoca alterações globais no direito do
país receptor”.
Todavia, existe a possibilidade de resistência ao cumprimento das
obrigações, gerando, naquele que tem o seu interesse resistido, uma frustração.
A fim de distribuir a Justiça, o Estado, através da sua função judiciária, é
chamado para exercer o seu dever jurisdicional, solucionar o conflito. É o juiz
imparcial que julga de acordo com a lei, como afirma AMADO (2004):
“O Direito não é, na concepção de Luhmann, tanto um meio de
evitar conflitos quanto de prevê-los e prepará-los, porém
processados. Na própria estrutura de suas normas está implícita a
previsão do conflito, pois sempre se coloca como alternativa de
cumprimento e descumprimento.”
Tomemos, por exemplo, os direitos autorais. O autor recebe os direitos
autorias patrimoniais de sua obra toda vez que ela é comercializada, exibida ou
reproduzida. Não sendo satisfeita a prestação pela editora, pela gravadora ou
pelo exibidor da obra, portanto, resistindo ao interesse do autor, este tem o
direito de chamar o Estado, o juiz imparcial, ou seja, provocá-lo para solucionar
o conflito, exercer o seu dever jurisdicional. É o Direito de Ação, que expressa a
função compositiva do Direito.
Importante observar que, muitas das transformações do Direito ocorrem
no seio do Poder Judiciário, desempenhando o papel de atualizador da lei. Isto
ocorre porque a sociedade transforma-se a uma velocidade que nem sempre o
Direito é capaz de acompanhar. Assim sendo, existem leis que acabam por
tornar-se obsoletas, em desacordo com a realidade. Quando isto ocorre estamos
diante de uma lei que perdeu a sua eficácia.
124
destacamos o caso do PC Farias, braço direito do ex-Presidente Fernando
Collor, que foi denunciado por corrupção e outros crimes, no início dos anos 90,
ficou pouco tempo preso e nunca teve os seus bens confiscados. De outro lado, a
omissão da autoridade fez com que o tráfico de drogas e, conseqüentemente, a
violência que gira em torno desta atividade, aumentasse consideravelmente e, o
conluio entre alguns membros da polícia e os traficantes, gerasse um total
desrespeito por parte destes em relação àqueles. As recentes manifestações de
violência (ataques de metralhadoras) perpetradas pelos traficantes contra
policiais, delegacias de polícia, a sede administrativa da Prefeitura e o Palácio
do Governo do Estado são conseqüência desta omissão.
Por fim, a inexistência de estrutura adequada à aplicação das leis pode ser
verificada nos aparelhos repressivos do Estado. As Delegacias de Polícia estão
praticamente sucateadas, apesar de terem sido criadas as Delegacias Legais,
que prestam um melhor serviço à comunidade, ainda não são em número
suficiente. A polícia ainda está pouco equipada em comparação aos criminosos,
principalmente em relação àqueles que vivem do tráfico de drogas e do
contrabando de armas. Neste caso, mesmo que as leis sejam eficazes, sem o
aparelhamento adequado para a sua aplicação, elas não atingirão os seus
objetivos sociais.
É cada vez maior o número de cursos não jurídicos que incluem em seu
Projeto Pedagógico o ensino de disciplinas jurídicas pertinentes as suas áreas de
atuação, como é o caso do curso de Tecnólogo em Análise de Sistemas do
IST/FAETEC (Instituto Superior de Tecnologia). Diante do exposto até o
momento, pode-se ter uma noção da dificuldade em se ministrar as disciplinas
jurídicas para um alunado que não está diretamente interessado neste tipo de
conhecimento. Todavia, como ficou claro ao longo do presente trabalho, o
Direito permeia o nosso cotidiano, as nossas atividades, enfim, a nossa vida.
Como mobilizar o aluno para um tema de vital importância, quando a
realidade mostrada, diariamente, nos jornais é completamente contraditória ao
que se fala em sala de aula e, pior, ao que está escrito nas próprias leis?
No início deste trabalho mencionamos a crise de paradigma, do
paradigma da modernidade, onde o tripé liberdade, igualdade e fraternidade,
atualmente, não vem sendo observado, seja do ponto de vista interno do país,
seja do ponto de vista das relações internacionais.
Para Rouanet (1993),
o projeto civilizatório da modernidade tem como ingredientes
principais os conceitos de universalidade, individualidade e
autonomia. A universalidade significa que ele visa todos os seres
125
humanos, independentemente de barreiras nacionais, étnicas ou
culturais. A individualidade significa que esses seres humanos são
considerados como pessoas concretas e não como integrantes de
uma coletividade e que se atribui valor ético positivo à sua
crescente individualização. A autonomia significa que esses seres
humanos individualizados são aptos a pensarem por si mesmos,
sem a tutela da religião ou da ideologia a agirem no espaço
público e a adquirirem pelo seu trabalho os bens e serviços
necessários à sobrevivência material.
Para a modernidade, as paixões combatidas até então, principalmente
pela Igreja como sendo fruto do insano, tem lugar assegurado ao lado da razão,
consistindo no que se poderia chamar de "fiel da balança", na medida em que, de
acordo com ROUANET (1993), o ser racional é aquele cujas paixões,
interagindo com a razão, o levam ao saber imparcial - razão sábia.
A razão sábia, interagindo com a paixão, produz a autonomia.
Isto significa que o ego é suficientemente maduro para
administrar sua vida passional sem levar em conta nem os
imperativos irracionais da moralidade externa, nem os
imperativos muito mais irracionais da moralidade interiorizada
no superego. Ele é o seu próprio tribunal, e só ele julga que
impulsos podem ser atendidos, como e quando, ignorando as
tutelas, internas ou externas. A razão louca regula a vida moral
pela defesa inconsciente, a razão sábia pelo julgamento
intencional.
O modelo econômico burguês, o capitalismo, distanciou-se dos
pressupostos da igualdade, reforçando a desigualdade da distribuição da
riqueza. O Estado não intervencionista deixa de atender a finalidade precípua
para o qual foi criado, qual seja, a garantia do bem-comum.
A Declaração dos Direitos do Homem, resultado da Revolução Francesa,
estabelece que todo homem tem direito à vida e que todos são iguais.
Entretanto, estas máximas adotadas em quase todas as nações do mundo,
parecem ser esquecidas, entrando, apenas, no direito formal.
O ideário da modernidade, em voga até os dias atuais, ressalvadas as
proporções históricas, parece sustentar a própria destruição de seus valores
intrínsecos (liberdade, igualdade e bem-comum), na medida em que dá lugar à
desenfreada "corrida do ouro", desprezando os "meios" em favor dos "fins". É a
máxima de que "os fins justificam os meios".
Do pensamento da modernidade foi confundida a idéia de individualidade
com individualismo, preponderando o segundo, que significa a exacerbação do
narcisismo, do culto ao Eu em detrimento do sujeito coletivo, da organicidade. Isto
pode ser, facilmente, observado nas salas de aula, através do comportamento dos
126
alunos. Hoje, tem-se a “ditadura do alunado”. Se, de um lado, os métodos didático-
pedagógicos necessitam ser revistos, como têm alertado grandes nomes da área,
de outro, é imperioso o cuidado para não repetir o equívoco através da liberalidade
sem propósito. O aluno é o centro do processo de aprendizagem e não o senhor a
quem o professor tem que se submeter. As pseudo-práticas construtivistas,
equivocadas, pois são aplicadas por pessoas desconhecedoras dos fundamentos
destes métodos (virou moda), transformam o aluno num verdadeiro ditador em
sala de aula, desrespeitando de todas as maneiras a figura do professor, seja através
de atitudes, seja através do descumprimento das atividades exigidas.
Entendemos que a universalidade e a individualidade não estão
dissociadas, ao contrário, andam juntas, principalmente quando se trata de
educação. É imperioso observar o aluno em seu contexto e na sua relação com a
disciplina. É preciso ler as entrelinhas do texto falado, corporal, que o aluno
transmite em sala de aula.
Como mobilizar o aluno para o exercício da cidadania quando o que ele
vê a sua volta é um total abandono por parte daqueles que deveriam protegê-lo?
Falamos do Estado, da família, da própria escola etc.
O fundamental, ao contrário de se trabalhar com a noção dogmática,
essencialmente com a letra da lei, é fazer com que o aluno tenha uma visão
crítica da lei e da sociedade em que ele vive. Trata-se de fazer com que ele
conheça o que está escrito na lei, mas, principalmente, os princípios que
nortearam a elaboração de determinada lei, visto que as leis mudam, como
vimos, são produto, na maioria das vezes, de uma transformação social e da
ideologia dominante num dado momento, mas os princípios são a base sobre a
qual será erigida a legislação.
Não podemos reduzir o ensino do Direito a uma mera repetição decorada de
normas/leis como se as relações sociais fossem reduzidas a um sem número de
artigos inseridos em diferentes Códigos. Lamentavelmente, esta tem sido a prática
na maioria das Escolas de Direito. Não se trabalha com a reflexão acerca da norma,
mas, tão somente, com o exercício da memorização mecânica. A relação professor
x aluno, ou como querem alguns professor x aprendiz, traduz-se numa relação de
poder onde a moeda de troca é a repetição de um conteúdo maçante e frio, livre de
qualquer reflexão ou crítica, transforma-se num “cabo de guerra”, de um lado, o
professor e de outro, o aluno puxando para ver quem vai cair primeiro. O resultado
é a formação de maus profissionais, desprovidos de ética e, como se tem visto nos
noticiários recentes, associados ao crime. O importante dever de defender inerente
a função do advogado foi confundido com trabalhar incondicionalmente para o
cliente, criando todo tipo de “expediente” para evitar que a Justiça seja realizada.
De outro lado, uma prática dialética, privilegiando o diálogo, a crítica e a
reflexão, possibilita uma apreensão muito mais eficaz do conteúdo pretendido,
majormente, considerando-se a contradição vivenciada entre o ideal (o
conteúdo programático) e o real (as práticas cotidianas apresentadas nos
127
jornais).
Considerações Finais
128
Referências
Márcio F. Campos*
Fernando S. Mota**
Introdução
131
Todas estas mudanças são provenientes da forma extrema de como a
sociedade tem aproveitado as oportunidades disponibilizadas pelo
conhecimento científico e tecnológico. Já é hora da escola oportunizar estas
mudanças, apesar das mudanças estruturais necessárias, podemos começar esta
mudança no cerne da escola: o processo de avaliação em sala de aula.
Nesse contexto a avaliação deve considerar as incertezas do
conhecimento volátil, do processo de aprendizado permanente, da colaboração
efetiva entre os pares e pensar criticamente.
Dimensão do Ensino:
! Aulas expositivas: para introduzir assuntos do contexto
conhecimento.
! Trabalho de conclusão de curso: como forma de integração com as
demais disciplinas do curso.
! Eixos temáticos: os eixos temáticos propiciam o desenvolvimento de
casos e de trabalhos conjuntos ao longo de diversas disciplinas.
Programa de Iniciação Científica:
! Participação em eventos científicos e de inciação científica:
familiarizar o aluno com a ciência e as descobertas científicas e
compartilhamento de conhecimento com seus pares. Aprofundamento
de estudos e técnicas.
Programa de Orientação e Apoio ao Discente:
! Acompanhar o aluno: conhecer sua origem, suas potencialidades e
suas deficiências.
Programa de Formação Continuada:
! Prática de laboratórios: com o enfoque no desenvolvimento de
competências técnicas e sociais; trabalho em equipe quando apropriado.
Programa de Práticas Acadêmicas:
! Seminários: para aprofundar estudos realizados através de leitura
dirigida e de pesquisas. Desenvolvimento de habilidades de estudo em
grupo e à distância. Desenvolver a capacidade de comunicação e
expressão dos alunos;
! Participação em programas de monitoria: com enfoque no
desenvolvimento de liderança, responsabilidade, iniciativa e
cooperação.
Programa de Extensão:
! Participação em atividades de extensão: propiciar ao aluno o
enriquecimento social e a aplicação prática de seus conhecimentos.
Todas estas ações podem ser empregadas ao longo da disciplina servindo
para a avaliação multifacetada do discente. Assim, ao final do período letivo o
aluno possuirá um conjunto de avaliações e de produções construídas ao longo
do período letivo, criando condições de avaliações globais e contínuas.
134
Instrumento de registro das atividades em suas várias dimensões:
o portfólio.
135
Disciplinas tais como: Metodologia da Pesquisa, Inglês Instrumental e Língua
Português realizam atividades em conjunto, por exemplo.
Ações fora de sala de aula têm sido incentivadas. Disciplinas, tais como:
de Empreendedorismo e Administração realizam trabalhos de campo.
Práticas de laboratório avaliam não apenas o conteúdo lecionado em
sala, como também servem para avaliar posturas profissionais.
Foi criado o Núcleo de Apoio Docente e Discente que atenderá e
aproximará a necessidades e premências tanto de alunos como de professores.
Estas ações fazem parte do dia-a-dia das ações do Instituto Superior de
Tecnologia do Rio de Janeiro.
Conclusão.
Referências
ANASTASIOU, L. G. C.; ALVES, L. P. Processos de Ensinagem na
Universidade: pressupostos para estratégias do trabalho em aula. Joinville:
Editora Univilla, 2003.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS (INEP). Avaliação
Institucional, Legislação e Normas. [s.l.;s.n.], 2006. Disponível em
136
<http://www.inep.gov.br/superior/avaliacao_institucional/legislacao.htm>
Acesso em: 24 jul. 2006.
MOTA, Fernando S. As Tecnologias Aplicadas a Avaliação. In:
SEMINÁRIO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL, 37,
Rio de Janeiro, 2006.
SANTOS, Regina C. F.; et al. Inovando a Dimensão Estratégica do Ensino de
Ciência da Computação. In: Workshop de Educação Informática.
Congresso da Sociedade Brasileira de Computação. [s.l.; s.n.] 2003.
SISTÊLOS, Antônio J.C.M.; Schiel, Ulrich; Dominguez, Arturo Hernandez.
Um sistema de Apoio ao Método de Avaliação Autêntica. XIV Simpósio
Brasileiro de Informática na Educação SBIE. NCE/UFRJ, Rio de Janeiro,
2003.
137
Conclusão
139
! É relevante considerar o processo tecnológico: a tecnologia tem
oferecido novas alternativas nos processos organizacionais das escolas e novas
formas de atender as necessidades da sociedade. Entretanto, a resistência à
adoção de tecnologias em sala de aula é grande, e, mesmo quando se possui
tecnologia disponível, não se considera a tecnologia como parceira. Percebe-se
o quanto esta vem nos auxiliando nas ações do dia a dia. É hora de trazê-la com
todo o seu potencial para a escola.
! É preciso estar ciente das novas formas de gestão: as formas de gestão
estão cada vez mais voltadas para a participação e a autonomia, na busca do
aproveitamento das potencialidades individuais, em todos os níveis. É
necessário deixar o modelo compartimentalizado de escola e adotar outros mais
integrados e autônomos.
! É necessário maior interação com a sociedade: A escola deve estar
integrada com sua comunidade e não sendo vista como um objeto distante e
apenas um espaço de pesquisa.
Essa proposta oferece uma visão que unifica estes conceitos e que pode
servir de rumo para o processo de transformação. Pedro Demo, ainda no artigo
supracitado, afirma “Agora sei: perdi-me nas certezas ilusórias da universidade
perdida!”. Essa concepção de escola é uma tentativa de nos encontrarmos com
as nossas trajetórias de professores transformadores, de nos encontrarmos com
uma escola pública de qualidade, de nos encontrarmos com os nossos ideais e
com nós mesmos em nosso ambiente de trabalho, como cidadãos do século XXI
em uma Escola Mandala.
140