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Crônica de uma morte anunciada: a da empresa brasileira

A empresa brasileira está sendo asfixiada. O que acontecerá se ela morrer?

Em uma terra não tão distante, um empresário começou a sentir os efeitos da


crise econômica que se agravava. Essa crise era internacional, mas várias outras
terras já estavam superando as agruras. A sua terra não; ainda sofria e a
situação tinha a tendência de se agravar.

Em meio ao delicado momento econômico, ele foi obrigado a fazer diversos


investimentos em sua empresa para cumprir as exigências tributárias
eletrônicas que passaram a ser impostas. E não se tratava de pagamento de
imposto efetivamente, com o que já havia se adaptado de alguma maneira, mas
com as formalidades para propiciar o pagamento dos impostos. Muitas vezes ele
sentiu que sua empresa desempenhava o papel das autoridades fiscais, sem
contar com qualquer contrapartida do governo para isso.

Naquela terra, os nativos tinham a fama de serem extremamente adaptáveis, em


especial às intempéries, fossem elas naturais ou burocráticas. O povo era muito
cordial. Em sendo assim, mais uma vez, o tal empresário já estava se
conformando com o controle eletrônico dos tributos e manteve o funcionamento
da sua empresa, apesar da inflação, provocada em grande parte pelos preços do
governo, do aumento dos custos locais e, principalmente, dos bens importados,
da elevação da inadimplência e da pressão pela manutenção ou pela redução dos
preços. Tudo isso, contribuiu para a redução da sua margem de lucro; no
entanto, mesmo assim, ele acreditava do futuro.

Foi quando o inesperado aconteceu.

Encampando a proposta de um instituto público que se destinava a pesquisas


econômicas (acho que aplicadas), o governo propôs o aumento dos tributos
incidentes sobre o lucro das empresas, quando distribuídos aos seus sócios, a
título de dividendos. “Que lucro?”, ele perguntou, já que a situação econômica
de sua terra comprimiu a atividade empresarial e, como dito, a remuneração do
investimento desse empresário, isto é, o resultado da empresa.

Depois de algumas noites insones, veio a decisão: nosso amigo empresário


fechou as portas da empresa, encerrando a sua atividade, enquanto ainda havia
patrimônio para saldar as dívidas que possuía, podendo, então, preservar o seu
patrimônio pessoal, formado por décadas de trabalho árduo – porém, prazeroso
– e diuturno na condução do seu negócio. Dispensou todos, isso mesmo, todos
os seus funcionários, pagamento religiosamente os respectivos direitos
trabalhistas. Acabou assumindo, na sua pessoa física, algumas discussões na
área tributária, fruto de desgoverno das autoridades fiscais, para conseguir
extinguir a pessoa jurídica.

Transformou parte do seu patrimônio em dinheiro e aplicou no mercado


financeiro. Foi curtir sua aposentadoria com o rendimento dos juros que o
governo da sua terra pagava, próximos a 15% ao ano. Aproveitou o tempo livre
para ler, ler muito, pois está era sua grande paixão. E começou a diversão pela
leitura de “Tempo Comprado”, de Wolfgang Streeck – em versão eletrônica, pois
não havia versão traduzida para sua terra.

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