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Tendência da publicação corporativa

Nestas férias de final de ano, presenciei, ao vivo, uma cena que só havia visto em
reportagens sobre as novas gerações: quatro crianças, de quatro a dez anos,
sentadas no sofá, lado a lado, todas com seu tablete na mão. Isoladas?
absolutamente não, pois elas estavam jogando e trocando e informações entre si.

Se bem aplicados e com utilização bem dosada, os aparelhos eletrônicos e a


tecnologia podem contribuir para o desenvolvimento cultural, desde a infância
até a terceira idade (ou, como alguns dizem, a “feliz idade”). E essa é uma
tendência também das comunicações corporativas.

Desde o final de 2013, a Comissão de Valores Mobiliários – CVM vem buscando


disciplinar o uso da internet como plataforma para a publicação dos atos
corporativos. Primeiro, foi a vez dos fatos relevantes (Audiência Pública n°
08/2013 – já encerrada); agora, está em pauta as ofertas públicas iniciais de ações
(Audiência Pública n° 12/2013 – ainda aberta).

Sem dúvida, a internet, como uma maneira de democratizar as comunicações e a


oferta de informações, é uma tendência nas publicações corporativas, assim como
é na mídia e nos demais meios de comunicação de uma maneira geral. No âmbito
do mercado de capitais, a internet pode proporcionar que as informações sobre as
companhias abertas sejam imediatas e completas (integrais).

Por outro lado, o excesso de liberdade que a internet também proporciona pode
ser uma ameaça à adequada comunicação das empresas com os acionistas, com
os investidores e com o mercado. Desde o perigo de invasão de “hackers” e a
divulgação de informações falsas até a proliferação de ruídos que podem acabar
por esconder ou dificultar o acesso às informações relevantes.
Em razão dessas ameaças, a CVM precisa estar diligente na disciplina da
publicação por meio da internet, assim como nós ditamos as regras para que
nossas crianças, filhos ou não, possam se deleitar da tecnologia atual.

Seguem alguns exemplos:

Com relação à informação de fatos relevantes, a CVM propôs que eles pudessem
ser divulgados em três portais de notícias na internet, em substituição à
publicação em jornal impresso. Tal divulgação pode ser o suficiente, desde que
haja uma regulamentação sobre a forma de publicação nos portais de notícias
(padrão mínimo de apresentação, como existe hoje para o jornal impresso) e que
esses portais sejam devidamente cadastrados na própria CVM, como acontece,
por exemplo, com os auditores independentes. Esse cadastro é importante por
existirem milhares de “portais de notícias”, o que pode fazer com que
informações relevantes se percam no oceano da internet.

Quanto à oferta inicial de ações, a CVM substitui a publicação em jornal


impresso pela divulgação nos portais da emissora, do ofertante, da instituição
intermediária responsável pela oferta ou, se for o caso, das instituições
intermediárias integrantes do consórcio de distribuição, das entidades
administradoras de mercado organizado de valores mobiliários onde os valores
mobiliários da emissora sejam admitidos à negociação da CVM. Da mesma
forma, a divulgação nesses meios, ainda que virtuais, podem ser o suficiente,
sendo necessário, contudo, regulamentar formato da informação e o devido
destaque que a essa informação deve ser dado nos portais.

No caso específico da oferta inicial de ações, como forma de incrementar a


participação dos investidores individuais no mercado de capitais, seria
conveniente que um aviso de início de oferta de distribuição de ações, ao menos
um sumário, fosse mantido em jornal impresso de grande circulação. Com isso, a
informação seria a mais ampla possível.
De qualquer forma, a proposta da CVM deve ser apoiada, especialmente porque,
por um lado, capta a tendência da comunicação de uma maneira geral e, também,
porque iniciou a mudança por informações cuja publicação em jornal impresso
não é exigida por lei, como acontece, por exemplo, no caso das demonstrações
financeiras.

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