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Lucro e dividendo na contabilidade de “hedge”

Vicky, Cristina e Barcelona: duas mulheres bonitas em uma cidade charmosa.


Lucro, dividendos e contabilidade de hedge: duas belas situações, para acionistas,
investidores e demais stakeholders da empresa em um ambiente contábil
aparentemente insólito.

Ao que parece, o grande impacto da contabilidade de hedge, implementada, com


suporte no direito contábil, por algumas empresas exportadoras brasileiras nesse
momento de instabilidade do câmbio, encontra-se no registro do lucro. Em
apertada síntese, essa prática contábil permite que haja a proteção do resultado
(lucro ou prejuízo) frente à variação cambial, por meio da existência de
exportações a faturar, reconhecendo, em conta do patrimônio líquido – e não de
despesa – o aumento da dívida em moeda estrangeira.

Conquanto seja um efeito temporal, é certo que a empresa que adota essa
proteção contábil preserva a apresentação de um resultado melhor durante o
período da variação cambial; mas, a possibilidade de esse lucro atingir o clímax
como dividendo, dependerá da avaliação sobre o tratamento tributário dessa
mesma variação cambial.

Em primeiro lugar, é necessário verificar qual a forma de reconhecimento da


variação cambial para fins tributários: se pelo regime de competência (regra
geral) ou se pelo regime de caixa (faculdade disciplinada pela lei).

Em sendo adotada esta última opção, o efeito na apuração dos tributos sobre a
receita (Contribuição para o PIS e COFINS) e sobre o lucro (Imposto sobre a
Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido –
CSLL) seriam, praticamente, os mesmos da contabilidade de hedge, ou seja, a
despesa não seria reconhecida e o resultado seria maior. Com isso, seriam
devidos os tributos sobre o lucro e o resultado líquido final poderia ser
distribuído como dividendos, isentos de nova incidência tributária.

Por outro lado, em sendo adotado o regime de competência também para fins
tributários, a questão da possibilidade de distribuição de dividendos passaria a
depender de outro fator: o entendimento da autoridade fiscal sobre a isenção dos
dividendos no contexto do Regime Tributário de Transição – RTT.

A adoção da contabilidade de hedge combinada com o regime de competência da


variação cambial para efeito tributário acarreta o seguinte: apuração de lucro
contábil, para efeito societário, com redução do “lucro fiscal”, isto é, do lucro
sujeito à incidência do IRPJ e da CSLL, tendo em vista a neutralidade prevista no
Regime Tributário de Transição – RTT.

Nessa situação, por não haver tributação de IRPJ e CSLL sobre o “resultado
positivo” da variação cambial (na verdade, da omissão do seu registro como
despesa), e com respaldo no Parecer PGFN n° 202/2013, o auditor fiscal poderá
questionar a isenção dos dividendos distribuídos com base nesse lucro.

Quanto à outra forma de remuneração dos sócios (acionistas ou quotistas), que é


a remuneração de juros sobre o capital próprio – JCP, a situação é bastante
semelhante, se considerado válido o entendimento das autoridades fiscais
exarado na Solução de Consulta n° 103/2013.

Enfim, a plenitude da felicidade na relação entre lucro, dividendo e contabilidade


de hedge passa pela posição e pela ação da Secretaria da Receita Federal do
Brasil.

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