Você está na página 1de 48

INSTITUTO POLITÉCNICO DO CÁVADO E DO AVE

ESCOLA SUPERIOR DE GESTÃO


LICENCIATURA EM FISCALIDADE

16. Periodização do lucro tributável


TRIBUTAÇÃO DO RENDIMENTO DAS PESSOAS COLETIVAS (IRC)

Luís Filipe Esteves


Barcelos, 2023/2024
1
Periodização do lucro tributável

✓ Matéria regulada no artigo 18.º do Código do IRC (e no artigo 19.º no que se


refere a contratos de construção).
✓ Normas legais com uma forte ligação à normalização contabilística (SNC) →
Periodização económica, gastos/rendimentos de exercícios anteriores,
imputação do rédito/gastos em vendas e prestações de serviços, contratos de
construção, justo valor, equivalência patrimonial, benefícios pós-emprego aos
empregados.
✓ O período de tributação encontra-se definido no artigo 8.º, tratando-se agora
de regular o modo como deverá ser feita a imputação dos
gastos/rendimentos a cada período, isto é, o modo de apuramento dos
resultados em cada período de tributação (periodização do lucro).
2
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável

3
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Artigo 18.º do Código do IRC
1 - Os rendimentos e os gastos, assim como as outras componentes positivas ou
negativas do lucro tributável, são imputáveis ao período de tributação em que
sejam obtidos ou suportados, independentemente do seu recebimento ou
pagamento, de acordo com o Regime de Periodização Económica*.

* Ou Regime do Acréscimo (POC: Especialização dos Exercícios)

4
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Pode haver necessidade de efetuar estimativas na mensuração do gasto ou do
rendimento a reconhecer. Se foi feita uma aquisição (ou transmissão), mas à data
da elaboração das demonstrações financeiras ainda não é conhecido exatamente o
valor total do gasto (ou do rendimento), o registo será feito por um valor que seja
estimado, com base nos dados disponíveis. No período em que o montante final é
conhecido, será feita a respetiva correção à estimativa.

Exemplo: Desconto comercial ("rappel") → Ainda que a nota de crédito seja


emitida pelo fornecedor numa data posterior à da elaboração das DF, havendo
elementos que permitam fazer uma estimativa fiável do valor do desconto,
então este deve ser considerado como redução ao valor dos inventários do ano
em que se deu a correspondente aquisição.
5
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Rendimentos e gastos de anos anteriores
2 - As componentes positivas ou negativas consideradas como respeitando a
períodos anteriores só são imputáveis ao período de tributação quando na data de
encerramento das contas daquele a que deviam ser imputadas eram imprevisíveis
ou manifestamente desconhecidas.

Não se verificando as condições:


✓ Gastos de anos anteriores: Se contabilizados na classe 6 → acréscimo no Q07; Se
contabilizados na classe 5 (valores materialmente relevantes) → não se deduz a VP negativa.
✓ Rendimentos de anos anteriores: Se contabilizados na classe 7 → substituição da DR22 do
ano anterior (acréscimo no Q07) e dedução no Q07; Se contabilizados na classe 5 →
substituição da DR22 do ano anterior (acréscimo no Q07) e não se acresce no Q07.
6
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável

GASTOS, RENDIMENTOS E VARIAÇÕES PATRIMONIAIS DE


PERÍODOS ANTERIORES

SÃO IMPREVISÍVEIS E MANIFESTAMENTE


DESCONHECIDOS?

NÃO
SIM

NÃO SÃO ACEITES NO PERÍODO EM QUE FORAM


CONTABILIZADOS, MAS NO PERÍODO A QUE DIZEM
SÃO ACEITES COMO GASTO NO PERÍODO EM QUE
RESPEITO
FORAM CONTABILIZADOS

GC ≠ GF ► ↑ Q07 (CF+)
7
RC ≠ RF ► ↓ Q07 (CF-) + substituição DR22 “n-1”: RF ≠ RC ► ↑ Q07 (CF+)
Periodização do lucro tributável
Correções efetuadas pela Inspeção Tributária (IT):
✓ Gastos de anos anteriores: Acréscimo no Q07 e não faz a imputação ao ano
respetivo… (caducidade do direito à liquidação: 4 anos) (dupla tributação);
✓ Rendimentos de anos anteriores: i) Inspeção ao ano da contabilização - Dedução
no Q07 e imputação ao ano respetivo (acréscimo no Q07); Inspeção ao ano a que
se refere o rendimento - acréscimo no Q07 e não faz a dedução no ano da
contabilização… (dupla tributação).

Supremo Tribunal Administrativo (STA): Periodização económica versus princípio


da justiça (tributação pelo lucro real)
Caso não exista intencionalidade de poupança fiscal, a AT deve abster-se de efetuar
as correções (especialmente se não proceder ao ajustamento em sentido inverso).
8
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável

Princípio da period. Princípio da


económica Justiça

Ofício-Circulado n.º 14/93,


da DSIRC, 23-11-1993.

Deve a IT “(…) fazer as correcções adequadas ao RLE a que os custos ou proveitos digam
respeito, quando, nos termos do art.º 18.º do CIRC, não sejam consideradas componentes
negativas ou positivas do lucro tributável do exercício da sua contabilização. Excetuam-se
deste procedimento as provisões, reintegrações e amortizações quando não contabilizadas
como custos ou perdas do exercício a que respeitam.”
9
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
O princípio da especialização dos exercícios (acréscimo), incorporado para efeitos
fiscais, tem vindo a ser delimitado pela jurisprudência pelo próprio princípio da justiça
material (há dezenas de acórdãos sobre o tema…)
Sendo que, na verdade, ainda que respeitante à abolida Contribuição Industrial, onde
vigoravam princípios e normas semelhantes, a rigidez da aplicação do referido princípio
já havia sido flexibilizada pela AT, através do Ofício-Circular C-1/84, de 18 de junho.

Não aceitação dos custos e dos proveitos resultantes de omissões voluntárias ou


intencionais no exercício em que são contabilizados, considerando-se, em princípio,
como tais as que forem praticados com intenção de poupança fiscal.
Nota: Acórdão do CAAD, processo n.º 233/2017 – ENVC: Gasto de 15M€ contabilizado em 2011
(VP-), mas apenas deduzido na DR22/2012; Em 2012, rendimento de 25M€…
10
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Acórdão do STA, processo 0716/13, de 14-03-2018:
• “Contudo esse princípio deve tendencialmente conformar-se e ser interpretado de
acordo com o princípio da justiça, com conformação constitucional e legal (artigos
266.º, n.º 2 da CRP e 55.º da LGT), por forma a permitir a imputação a um exercício
de custos referentes a exercícios anteriores, desde que não resulte de omissões
voluntárias e intencionais, com vista a operar a transferência de resultados entre
exercícios.”
✓ Os casos em que o STA tem admitido que deve prevalecer o princípio da justiça
sobre a legalidade estrita relativa ao princípio da especialização dos exercícios têm,
em geral, subjacentes situações em que da não observância deste princípio não
advém qualquer prejuízo para o erário público, nomeadamente situações em que o
SP não obteve vantagens ou até foi prejudicado pelo erro que praticou na aplicação
do princípio da especialização dos exercícios.
11
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Exemplo
Gasóleo consumido por navio de pesca
Período do consumo: de 15-11-2014 a 14-02-2015

1) Reconhecimento do gasto a 100% no ano da emissão da fatura (2015) e não fez


a periodização… (corretamente: acréscimo de gastos em 2014 → 50%)
2) Reconhecimento do gasto a 100% no ano da emissão da fatura (2014) e não fez
a periodização… (corretamente: gastos diferidos em 2014 → 50%)
3) Contabilizou a fatura no ano da emissão (2014) e fez o diferimento (gastos
diferidos) para 2015 de 100% do gasto... (corretamente: gastos diferidos em
2014 → 50%)
12
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Correções efetuadas pela Inspeção Tributária (IT):
✓ Empresa de transportes que teve que pagar indemnização a cliente (danos nas
mercadorias durante o transporte): A empresa, embora tenha pago
imediatamente ao cliente, apenas reconheceu o gasto no ano seguinte quando
resolveu o problema com a seguradora (reconheceu o gasto e o rendimento).
▪ IT corrigiu e disse que era um gasto de exercícios anteriores, não aceite porque
não era imprevisível ou desconhecido no período anterior.
✓ Empresa teve que fazer um depósito (caução) à ordem do tribunal,
perspetivando não reaver o dinheiro ou recebê-lo apenas muitos anos depois: a
empresa reconheceu o gasto no início do processo (embora não como provisão).
▪ IT corrigiu afirmando que não é um gasto, mas sim um ativo e que apenas será
gasto quando se confirmar, no futuro, que o dinheiro se perdeu… 13
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
✓ Fatura de venda emitida no ano “n” mas contabilizada em “n+1”
Nada fazer? Possibilidade de correções posteriores…
Como fazer?
✓ Se contabilizada na classe 7: Substituir a DR22 do ano “n” e acrescer o
rendimento; Deduzir o rendimento na DR22 do ano “n+1”.
✓ Se contabilizada na classe 5: Substituir a DR22 do ano “n” e acrescer a variação
patrimonial positiva (VP+); Não acrescer a VP+ na DR22 do ano “n+1”.

❖ Nota: Poderá não ser necessário substituir a DR22 do ano “n” se, no momento da
deteção do erro, a mesma ainda não foi apresentada (antes de maio de n+1).

14
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
✓ Fatura de compra (gasto) emitida no ano “n” mas contabilizada em “n+1”
✓ Nada fazer? Possibilidade de correções posteriores…
✓ Como fazer?
✓ Se contabilizada na classe 6: Acrescer o gasto na DR22 do ano “n+1”; Substituir a
DR22 do ano “n” para deduzir o gasto (prazo 1 ano) ou apresentar reclamação
graciosa (prazo 2 anos).
✓ Se contabilizada na classe 5: Não deduzir a variação patrimonial negativa na
DR22 do ano “n+1”; Substituir a DR22 do ano “n” para deduzir a variação
patrimonial negativa (prazo 1 ano) ou apresentar reclam. graciosa (prazo 2 anos).
❖ Nota: Poderá não ser necessário substituir a DR22 do ano “n” se, no momento da
deteção do erro, a mesma ainda não foi apresentada (antes de maio de n+1).
15
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
✓ Constata-se alguma ambiguidade na atuação da AT…
✓ O princípio da prudência é seguido de forma escrupulosa no que se refere a
gastos, mas já não no que toca a rendimentos.
✓ Ou seja, de acordo com a AT os gastos devem ser reconhecidos o quanto antes
(logo que conhecidos ou previsíveis), sob pena de não serem aceites
posteriormente.
✓ Quanto aos rendimentos, de acordo com a AT, devem também ser reconhecidos
o quanto antes, mesmo que incertos quanto ao direito ao recebimento e/ou
quanto ao seu quantitativo…
✓ Consideração como rendimento de uma indemnização devida pela rescisão
unilateral de um contrato de arrendamento antes de ser proferida a decisão
judicial onde se discute o direito à mesma? (Ativo Contingente…).
16
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Artigo 18.º do Código do IRC
3 - Para efeitos de aplicação do disposto no n.º 1:
a) Os réditos relativos a vendas consideram-se em geral realizados, e os
correspondentes gastos suportados, na data da entrega ou expedição dos bens
correspondentes ou, se anterior, na data em que se opera a transferência de
propriedade; (venda de frações urbanas – n.º 6)
b) Os réditos relativos a prestações de serviços consideram-se em geral realizados,
e os correspondentes gastos suportados, na data em que o serviço é concluído,
exceto tratando-se de serviços que consistam na prestação de mais de um ato ou
numa prestação continuada ou sucessiva, que são imputáveis proporcionalmente à
sua execução;
c) Os réditos e os gastos de contratos de construção devem ser periodizados tendo
em consideração o disposto no artigo 19.º. 17
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Artigo 18.º do Código do IRC
5 - Os réditos relativos a vendas e a prestações de serviços, bem como os gastos
referentes a inventários e a fornecimentos e serviços externos, são imputáveis ao
período de tributação a que respeitam pela quantia nominal da contraprestação.

Conclusão: Não é aceite, para efeitos fiscais, a aplicação contabilística da NCRF 20


na parte em que permite, quando haja diferimento do rédito, determinar um justo
valor menor do que a quantia nominal do dinheiro recebido ou a receber.

Em “n” RF ≠ RC ► ↑ Q07 (CF+)


Em “n+1” RC ≠ RF ► ↓ Q07 (CF-)

18
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Caso prático
O valor das vendas a crédito ascenderam no período de tributação de 2023 a
650.000, tendo a empresa reconhecido como rédito apenas o valor de 600.000
correspondente ao valor atual da importância a receber em 31.12.2023.
✓ Quais os ajustamentos fiscais a efetuar em 2023?

19
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Caso prático
Em dezembro de 2023, uma empresa vendeu um determinado bem dos seus
inventários, cujo recebimento irá ocorrer no prazo de dois anos, sem juros, por
500.000.
Sabe-se que o justo valor da contraprestação é de 450.000 e que nos anos 2024 e
2025 a empresa vai reconhecer, em partes iguais, o rédito de juros,
✓ Quais os ajustamentos fiscais a efetuar em 2023, 2024 e 2025?

20
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Artigo 18.º do Código do IRC
6 - A determinação de resultados nas obras efetuadas por conta própria vendidas
fracionadamente é efetuada à medida que forem sendo concluídas e entregues aos
adquirentes, ainda que não sejam conhecidos exatamente os custos totais das
mesmas.
❖ Regra fiscal coincide com a normalização contabilística (NCRF 18)
✓ Exemplo: Promoção imobiliária / construção para venda – Construção de um
prédio com 20 frações (15 apartamentos e 5 lojas).
▪ Período da construção: de janeiro de 2021 a dezembro de 2022.
▪ Período das vendas: de janeiro de 2023 a dezembro de 2023. 21
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Artigo 18.º do Código do IRC
✓ Materiais de construção: São gasto à medida que forem sendo consumidos
(incorporação em obra) – conta 61.
✓ Outros gastos relacionados direta ou indiretamente com a produção/construção:
São gasto à medida que forem sendo incorridos (contas 62, 63, 64…)
✓ No final do ano é necessário apurar o custo de produção, logo, deverá estar
implementado um sistema de contabilidade analítica.
✓ Custo de produção é contabilizado a débito na conta 36 (produtos e trabalhos em
curso) e a crédito na conta 73 (variação nos inventários da produção), logo,
resultado nulo (custos de construção foram gasto).
✓ Variação da produção: Ef - Ei (é positiva durante a construção…)
22
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Artigo 18.º do Código do IRC
✓ Terminada a construção transita o saldo da conta 36 para a conta 34.
Quando se iniciar a venda das frações:
✓ Reconhecimento do rédito/vendas (conta 71), por contrapartida de clientes.
✓ Débito da conta 73 (variação da produção negativa: Ef - Ei), por contrapartida a
crédito da conta 34 (desreconhecimento do ativo).

❖ Logo, o rendimento é tributado à medida das vendas, tal como estipula o n.º 6 do
artigo 18.º do CIRC.

Nota: Possibilidade de existir a correção do art.º 64.º do CIRC, se VPT > Valor da
Escritura: RF ≠ RC (acréscimo no Q07). 23
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Exemplo: Promoção imobiliária / construção para venda – Construção de um prédio
com 20 frações (15 apartamentos e 5 lojas).
▪ Período da construção: de janeiro de 2021 a dezembro de 2022.
▪ Período das vendas: de janeiro de 2023 a dezembro de 2023.

2021: Variação da produção positiva (valor igual aos gastos/custos produção);


2022: Variação da produção positiva (valor igual aos gastos/custos produção);
2023: Variação da produção negativa (valor igual à totalidade dos custos produção)
e reconhecimento do rédito inerente à venda dos apartamentos e lojas.
✓ Imputação do custo de produção às frações: de acordo com a permilagem que
consta na escritura de propriedade horizontal…
✓ Se VPT < Valor da escritura: Não há qualquer correção a fazer; Caso contrário…
24
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Artigo 18.º do Código do IRC
8 - Os rendimentos e gastos, assim como quaisquer outras variações patrimoniais,
relevados em consequência da utilização do método da equivalência patrimonial
(MEP) ou, no caso de empreendimentos conjuntos que sejam sujeitos passivos de
IRC, do método de consolidação proporcional, não concorrem para a determinação
do lucro tributável, devendo os rendimentos provenientes dos lucros distribuídos
ser imputados ao período de tributação em que se adquire o direito aos mesmos.
❖ Rendimentos e gastos (e variações patrimoniais + e -) relevados na contabilidade
derivados da aplicação do MEP não podem influenciar o lucro tributável:
❖ Rendimentos → deduzidos; Gastos → acrescidos; Variações patrimoniais
(positivas e negativas) → Não se faz nada (não estão a influenciar o RLP).
25
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Método da Equivalência Patrimonial
❖ O MEP consiste em refletir no ativo da participante as variações verificadas nos
capitais próprios da participada.
❖ Assim, a participação é inicialmente registada pelo custo de aquisição, sendo
posteriormente ajustada face às variações ocorridas nos capitais próprios da
participada (MEP: NCRF 13; Influência significativa…).
❖ Se o modo de contabilização (MEP) implicar o reconhecimento de gastos ou
rendimentos, devem os mesmos ser acrescidos e deduzidos para efeitos fiscais
(Q07) (VP+ e VP- não se faz nada).
❖ MEP: Reconhecimento como rendimento da quota-parte do resultado da
participada (independentemente de distribuição de lucros) (↓ Q07).
26
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Método da Equivalência Patrimonial
❖ Distribuição do lucro pela participada (MEP: não é rendimento), logo, acréscimo
ao RLP [RF ≠ RC (↑ Q07)]
✓ Possibilidade de aplicação do art.º 51.º (eliminação da DTE: ≥ 10% e + 1 ano),
logo, dedução ao RLP [RC/RF ≠ RF (↓ Q07)]
✓ Faz sentido acrescer e deduzir o mesmo valor? Sim! Linhas distintas no Q07
(campos 712/752 e 771), para além de que a correção que resulta da parte final
do n.º 8 do art.º 18.º é obrigatória (norma imperativa).
❖ Venda das ações ou quotas: Mais e menos valias contabilísticas são anuladas no
Q07 (deduzidas e acrescidas) e calculadas as mais e menos valias fiscais
(acrescidas e deduzidas) pela diferença entre V. Realização e V. Aquisição…
(possibilidade de aplicação do art.º 51.º-C).
27
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Método da Equivalência Patrimonial
❖ Venda das ações ou quotas de sociedade participada:
Mais ou menos valia fiscal = V. Realização - V. Aquisição (…)
✓ N.º 2 do art.º 46.º (…), como se fosse aplicável o método do custo (o mesmo se
passa com os lucros distribuídos), ou seja, o MEP não tem relevância fiscal.
✓ Possibilidade de aplicação do art.º 51.º-C (≥ 10% e + 1 ano), logo, não se
acrescem, nem se deduzem, as mais ou menos valias fiscais (mais e menos valias
de partes sociais não concorrem para a determinação do LT…).

28
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Método do custo

✓ Lucros distribuídos: São rendimento contabilístico e fiscal. Possibilidade de


aplicação do art.º 51.º (eliminação da DTE: ≥ 10% e + 1 ano), logo, dedução ao
RLP [RC ≠ RF (↓ Q07)].
✓ Mais e menos valias com a venda das ações/quotas: Anulação do efeito
contabilístico (acréscimo da menos valia e dedução da mais valia) e imputação no
Q07 do efeito fiscal (dedução da menos-valia e acréscimo da mais-valia).
Possibilidade de aplicação do art.º 51.º-C (≥ 10% e + 1 ano), logo, não se
acrescem, nem se deduzem, as mais e menos valias fiscais.

29
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Caso prático
A sociedade ABC SA adquiriu uma participação de 30% da sociedade XYZ SA, em
janeiro de 2022, por 500.000.
No exercício de 2022, o resultado líquido apurado pela XYZ SA, foi de 100.000.
Em março de 2023, foi deliberado em assembleia geral de acionistas da XYZ SA a
distribuição de lucros à sociedade ABC SA no valor de 20.000 respeitante ao
exercício de 2022.
❖ Refira quais as consequências da situação descrita no lucro tributável da
sociedade ABC SA relativo a 2022 e 2023, sabendo-se que a empresa adota o
MEP.

30
Luís Filipe Esteves
Caso prático

Pelo método da equivalência patrimonial, a sociedade ABC procede aos


seguintes registos contabilísticos:
Ano 2022
1. Pela aquisição da parte de capital de XYZ:
• 41 a 26 → 500.000
2. Pelo lucro imputável à sua participação (100.000 x 30%):
• 41 a 785 → 30.000

✓ Correções fiscais: Dedução de 30.000 no C758/Q07/DR22

31
Luís Filipe Esteves
Caso prático
Ano 2023
A sociedade ABC regista os lucros atribuídos, bem como a parte restante:
3. Pelos lucros atribuídos:
• 26 a 41 → 20.000
4. Pelos lucros não atribuídos (30.000 - 20.000):
• 56 a 5712 → 10.000

✓ Correções fiscais: A empresa ABC não corrige no Q07/DR22 a VP- (porque é apenas
qualitativa ou permutativa) de 10.000. Deve acrescer o valor de 20.000 (correção
MEP, C712), podendo simultaneamente deduzi-lo (eliminação da DTE, C771).
✓ NOTA: Não há lugar a retenção na fonte [art.º 97.º, n.º 1, alínea c)]
32
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Artigo 18.º do Código do IRC
9 - Os ajustamentos decorrentes da aplicação do justo valor não concorrem para a
formação do lucro tributável, sendo imputados como rendimentos ou gastos no
período de tributação em que os elementos ou direitos que lhes deram origem
sejam alienados, exercidos, extintos ou liquidados, exceto quando:
a) Respeitem a instrumentos financeiros reconhecidos pelo justo valor através de
resultados, desde que, quando se trate de instrumentos de capital próprio,
tenham um preço formado num mercado regulamentado e o sujeito passivo não
detenha, direta ou indiretamente, uma participação no capital igual ou superior
a 5% do respetivo capital social; ou
b) Tal se encontre expressamente previsto neste Código.
33
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Método do justo valor
▪ Rendimentos e gastos reconhecidos na contabilidade por aplicação deste
método devem ser, respetivamente, deduzidos e acrescidos no Q07.
▪ Método do justo valor não é, em geral, reconhecido pela fiscalidade (CIRC), salvo
as exceções previstas nas alíneas a) e b) do n.º 9:
✓ Ações de empresas cotadas em bolsa, se a participação for inferior a 5%
(ajustamentos em função da cotação das ações: RC = RF; GC = GF);
❖ Caso não se verifiquem estas condições → Ajustamentos fiscais…
RC ≠ RF ► ↓ Q07 (CF-) (C759)
GC ≠ GF ► ↑ Q07 (CF+) (C713)
34
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Método do justo valor
▪ (…) exceções previstas nas alíneas a) e b) do n.º 9:
✓ Quando tal se encontre previsto no CIRC…
Artigo 20.º, n.º 1
f) Ganhos por aumentos de justo valor em instrumentos financeiros (1);
g) Ganhos por aumentos de justo valor em ativos biológicos consumíveis (…);
Artigo 23.º, n.º 2
j) Perdas por reduções de justo valor em instrumentos financeiros (1);
k) Perdas por reduções de justo valor em ativos biológicos consumíveis (…);
(1) Com as limitações impostas pela alínea a), n.º 9, art.º 18.º, CIRC.
35
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
✓ Como referido, em regra, o CIRC não aceita os ajustamentos decorrentes da
aplicação do justo valor, pelo que os mesmos não concorrem para a formação do
lucro tributável.
✓ Ajustamentos reconhecidos em resultados do período são:
▪ Acrescidos no Q07 (C713) (redução de JV - conta 66) ou
▪ Deduzidos no Q07 (C759) (aumento de JV - conta 77)
✓ Ajustamentos reconhecidos em capital próprio (classe 5) - são variações
patrimoniais (+ ou -) não relevantes (não vão ao Q07).

36
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
✓ Caso prático: A empresa XPTO adquiriu em 2023 um conjunto de ações:

Entidade Data de aquisição Observações % Participação


Detida
A 01/12/2023 Empresa sediada nas Ilhas Fiji e
3%
cotada em Amesterdão
B 01/10/2023 Empresa cotada 4%
C 01/01/2023 Empresa cotada 12%
D 01/10/2023 Empresa não cotada 4%

❖ Concorrem para a formação do lucro tributável de 2023 os ajustamentos do justo


valor (variação da cotação) de quais empresas?
37
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
✓ Caso prático: A empresa XPTO, detém uma participação num fundo de
investimento (cotado), que contratou numa instituição financeira.
Informação relativa à posição no fundo a 31/12/2023:
- % de participação - 12%
- Quantia escriturada - 400.000
- Valor de cotação - 320.000
- Perda de JV contabilidade (gasto) - 80.000
❖ Consequências em IRC?

38
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
✓ Caso prático: A sociedade XPTO adquiriu em bolsa de valores, em novembro de
2023, um lote de 10.000 ações da empresa B SA, detidas para negociação,
representativas de 0,2% do capital social desta, ao preço unitário de 1 euro.
Em 31/12/2023 a cotação das ações ascendia a 2 euros.
❖ Para efeitos fiscais, que ajustamento deve a sociedade XPTO efetuar?

39
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Artigo 18.º do Código do IRC
12 - Exceto quando estejam abrangidos pelo disposto no artigo 43.º, os gastos
relativos a benefícios de cessação de emprego, benefícios de reforma e outros
benefícios pós emprego ou a longo prazo dos empregados que não sejam
considerados rendimentos de trabalho dependente, nos termos da primeira parte
do n.º 3) da alínea b) do n.º 3 do artigo 2.º do Código do IRS, são imputáveis ao
período de tributação em que as importâncias sejam pagas ou colocadas à
disposição dos respetivos beneficiários.
✓ Por regra o gasto só é considerado para efeitos de IRC, no período em que as
importâncias são pagas ou colocadas à disposição dos respetivos beneficiários
(tributação em IRS…), exceto situações abrangidas pelo art.º 43º (Realizações de
utilidade social) ou se consideradas rendimentos de trabalho dependente.
40
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Benefícios de cessação de emprego, benefícios de reforma e outros benefícios pós
emprego ou a longo prazo dos empregados
✓ Caso prático: Em 2023, foi determinada a atribuição de uma indemnização a um
trabalhador, no montante de 4.000 em virtude da cessação do contrato de
trabalho. Só em 2024 é que tal quantia foi paga ao trabalhador.
❖ Quais as correções para apuramento do lucro tributável em 2023 e 2024?

41
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Artigo 19.º do Código do IRC – Contratos de construção
1 - A determinação dos resultados de contratos de construção é efetuada segundo
o critério da percentagem de acabamento.
2 - Para efeitos do disposto no número anterior, a percentagem de acabamento no
final de cada período de tributação corresponde à proporção entre os gastos
suportados até essa data e a soma desses gastos com os estimados para a
conclusão do contrato.
3 - Quando, de acordo com a normalização contabilística, o desfecho de um
contrato de construção não possa ser estimado de forma fiável, considera-se que o
rédito do contrato corresponde aos gastos totais do contrato.
4 - Não são dedutíveis as perdas esperadas relativas a contratos de construção
correspondentes a gastos ainda não suportados. (§36, NCRF19 → Provisão não
aceite – GC ≠ GF: C721/Q07; Reversão da provisão → RC ≠ RF: C764/Q07)
42
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Artigo 19.º do Código do IRC – Contratos de construção
✓ NCRF 19: Tratamento contabilístico de réditos e custos associados a contratos de
construção (empreitadas: ponte, edifício, barragem, estrada, navio…).
✓ Por força da natureza da atividade subjacente aos contratos de construção, a
data em que a atividade do contrato é iniciada e a data em que a atividade é
concluída caem geralmente em períodos contabilísticos diferentes.
❖ Aspeto essencial na contabilização dos contratos de construção → imputação do
rédito do contrato e dos custos do contrato aos períodos em que o trabalho de
construção seja executado.
❖ O que comanda é a % acabamento (Grau Acabamento – GA) e não a % faturação
(Grau Faturação – GF), logo, antecipação ou diferimento do rédito, consoante
esta (% faturação) seja inferior ou superior à % de acabamento, respetivamente.
43
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Artigo 19.º do Código do IRC – Contratos de construção
✓ O que releva não é a duração da obra ser inferior ou superior a um ano, mas sim
a obra transitar de um período de tributação para outro.
✓ Apuramento de resultados à medida que a obra avança…
✓ Mas, quando, de acordo com a normalização contabilística, o desfecho de um
contrato de construção não possa ser estimado de forma fiável (situação, em
princípio, pouco frequente), considera-se que o rédito do contrato corresponde
aos gastos totais do contrato (critério/método do lucro nulo – prudência…).
✓ Não abarca as obras efetuadas por conta própria vendidas em frações,
abrangidas pelo n.º 6, art.º 18.º (apuramento de resultados apenas no momento
da venda… Variação da produção…).

44
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Artigo 19.º do Código do IRC – Contratos de construção
✓ Em 2023, a sociedade X, Lda celebra um contrato com uma Câmara Municipal
para a construção de uma escola. A construção vai ser efetuada durante o
período de 2 anos. O preço de venda estabelecido com o cliente foi de 1.000.000
e os custos estimados são de 800.000
Hipótese 1: Em 2023 os gastos incorridos ascenderam a 400.000 e o montante
faturado foi de 400.000.
Hipótese 2: Em 2023 os gastos incorridos ascenderam a 200.000 e o montante
faturado foi de 300.000.
❖ Qual o rédito e os gastos fiscalmente imputáveis ao período de tributação
iniciado em 2023?
❖ E no caso do método do lucro nulo (estimativa não fiável)?
45
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Artigo 19.º do Código do IRC – Contratos de construção
❖ Qual o rédito e os gastos fiscalmente imputáveis ao período de tributação
iniciado em 2023?
Hipótese 1
✓ GA = 400.000 / 800.000 = 50%
✓ GF = 400.000 / 1.000.000 = 40%
✓ GA ˃ GF, logo, acréscimo de rendimentos no valor de 100.000 (1.000.000 x 10%)
(Débito da conta 28 e crédito da conta 72)
✓ Gastos – OK!
✓ Não há correções fiscais (contabilidade = fiscalidade).

46
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Artigo 19.º do Código do IRC – Contratos de construção
❖ Qual o rédito e os gastos fiscalmente imputáveis ao período de tributação
iniciado em 2023?
Hipótese 2
✓ GA = 200.000 / 800.000 = 25%
✓ GF = 300.000 / 1.000.000 = 30%
✓ GA ˂ GF, logo, diferimento de rendimentos no valor de 50.000 (1.000.000 x 5%)
(Débito da conta 72 e crédito da conta 28)
✓ Gastos – OK!
✓ Não há correções fiscais (contabilidade = fiscalidade).

47
Luís Filipe Esteves
Periodização do lucro tributável
Artigo 19.º do Código do IRC – Contratos de construção
❖ E no caso do método do lucro nulo (estimativa não fiável)?
Hipótese 1
✓ Gastos = 400.000; Rendimentos = 400.000.
✓ Rendimentos = Gastos, logo, não há ajustamentos, nem na contabilidade, nem
para efeitos fiscais (caso se verifiquem os pressupostos de aplicação deste
método).
Hipótese 2
✓ Gastos = 200.000; Rendimentos = 300.000.
✓ Rendimentos ˃ Gastos, logo, diferimento de rendimentos no valor de 100.000 (na
contabilidade: débito da conta 72 e crédito da conta 28).
✓ Não há correções fiscais (contabilidade = fiscalidade; caso se verifiquem os
pressupostos de aplicação deste método).
48
Luís Filipe Esteves

Você também pode gostar