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Imposto sobre a “vaquinha”

Quem de nós não participou de uma “vaquinha”? Lembro que, quando criança,
isso era muito comum: arrecadávamos dinheiro da turma para comprar uma bola
de capotão para nosso futebol, para comprar algumas revistas que eram
compartilhadas por todos, para alugar vídeos, na época, ainda VCR.

Em recentes páginas políticas (ou será policiais?) dos principais jornais do País,
encontramos a notícia de uma “vaquinha” para fins diferentes, embora o conceito
seja o mesmo: militantes e simpatizantes do Partido dos Trabalhadores estão
arrecadando dinheiro em conjunto para pagar a multa devida pelo ex-deputado
mensaleiro José Genuíno em razão do julgamento da Ação Penal 470 pelo
Supremo Tribunal Federal – STF.

Há dois elementos interessantes nessa coleta coletiva de recursos financeiros,


também conhecida como a “vaquinha” mencionada acima. Primeiro, é a
polêmica gerada nas mídias sociais entre os favoráveis e os contrários a tal
medida. Particularmente, não tenho posição a respeito, e não porque estou em
dúvida; simplesmente, minha opinião em nada importa. Se os amigos do senhor
Genuíno querem ajudá-lo, eles que façam o que quiserem com os respectivos
dinheiros. Desde que a decisão judicial seja respeitada e cumprida, a mim não
importa quem pagou a multa ou se há alguma relação com o aluguel pago pelo
ex-deputado e ex-guerrilheiro.

O segundo elemento é a natureza jurídica da “vaquinha”. Trata-se, naturalmente,


de uma doação coletiva, em que os doadores são vários, e pulverizados, e o
donatário (beneficiário que recebe o dinheiro) é uma única pessoa.

Em razão dos valores envolvidos, a “vaquinha” de meninos para comprar uma


revista, que não podia ser pedida aos pais, não tem maiores repercussões. Fica
tudo entre os amigos e ninguém precisa saber de nada. No caso do senhor
Genuíno, a multa supera dos R$ 450 mil, valor expressivo.

Pois bem; por se tratar de doação, estaria essa “vaquinha” sujeita ao Imposto
sobre Doações – ITCMD? Afinal de contas, de acordo com a legislação paulista
(pois o ex-deputado tem domicílio em São Paulo), o contribuinte e o donatário,
ou seja, quem recebe os valores doados.

É certo que, para efeito do cálculo do ITCMD, conquanto seja coletiva, as


doações devem ser consideradas de maneira individual: a relação específica do
donatário, no caso o senhor Genuíno, e cada um dos doadores. Com isso, o valor
de cada doação é reduzido, possibilitando, eventualmente, o gozo da isenção em
razão do diminuto valor.

Então, é conveniente que os coordenadores dessa “vaquinha” realizem um


planejamento tributário, atentando para o limite de isenção individual a cada
doação. No estado de São Paulo, o ITCMD não incide sobre doações até 2.500
Ufesp, o que, em valores de janeiro de 2014 (Ufesp = R$ 20,41), monta R$
50.350,00.

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