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Ministro Barroso: início com o pé esquerdo

Em sua “estreia” no Supremo Tribunal Federal, o Ministro Luís Roberto Barroso


começou com o pé esquerdo, ao analisar a legalidade tributária num caso de
reajuste do IPTU. Como um constitucionalista, a legalidade deveria ser-lhe um
tema mais caro – infelizmente, a sua primeira impressão como ministro não foi
muito boa.

Ainda como estudante, conheci o então professor carioca Luís Roberto Barroso
no Congresso de Direito Constitucional realizado na Universidade Federal do
Paraná, em 1993, onde fui apresentar o que seria o meu primeiro trabalho
acadêmico. Lembro que fiquei impressionado com a palestra do professor
Barroso, motivo pelo qual passei a acompanhar, ainda que à certa distância, o seu
trabalho como jurista. Nos últimos tempos, acompanhei, pela imprensa, a
especulação sobre sua indicação para o Supremo Tribunal Federal e, finalmente,
sua confirmação e, confesso, estava torcendo por ele.

Acontece que, conforme matéria publicada no Valor Econômico, de 2 de agosto,


assinada por Bárbara Pombo, o Ministro Barroso justificou seu posicionamento
sobre a legalidade tributária nos seguintes termos: “A questão é buscar equilíbrio
para proteger o contribuinte. O prefeito fica refém da Câmara de Vereadores.
Pode ficar privado da sua maior fonte de receita por animosidade política ou
populismo”; além disso, afirmou que precisaria “ser repensada a tese de que
sempre será necessária uma lei formal” para modificar a relação tributária.

Considerar a legalidade como a “necessidade de uma lei formal” para tratar da


matéria tributária é como o pecado original no âmbito do constitucionalismo.

A legalidade, como a conhecemos hoje, surge em 1215, no confronto entre o rei


João Sem Terra e os lordes ingleses, do que resultou a Carta Magna (origem da
constituição moderna). Para ilustrar esse momento histórico, recomendo o filme
“Robin Hood”, na versão mais recente com Russell Crowe (direção de Ridley
Scott), especialmente a cena em que se desenrola o debate do Rei João com os
lordes ingleses (1h50min até 1h56min do filme). Deve ser prestada atenção nos
gritos de ordem ao fundo: “sem impostos!” – a questão tributária discutida nesse
episódio também aparece na versão da Disney, na qual o Robin Hood é uma
simpática raposa, em versão muito mais colorida.

Num determinado momento da cena, um dos lordes diz: “não aceitaremos mais
leis sem a nossa aprovação”; transpondo para a matéria tributária, cunhou-se a
expressão: non taxation without representation. Note-se que a legalidade não é o
cumprimento de um requisito formal, mas, sim, a garantia de participação do
contribuinte no processo de elaboração da norma tributária.

Se o Executivo fica “refém” do Legislativo ou se, como vem sendo difundido nos
recentes protestos nacionais, “eles não nos representam”, a solução não virá,
absoluta e definitivamente, do relaxamento da legalidade. No resultado final da
votação no STF, tal relaxamento não foi confirmado.

Além da sua posição no julgamento do IPTU de Belo Horizonte, chama a atenção


também o raciocínio apresentado pelo calouro Ministro Barroso na questão da
condenação de um senador, ao defender a competência do Senado para cassá-lo –
e não a cassação automática, pelo fato de ele ter sido criminalmente condenado
(Valor Econômico, edição de 9 de agosto, em matéria assinada por Yvna Souza).

Felizmente, não é sempre que se confirma o dito popular “a primeira impressão é


a que fica” (ou, aqui no caso, “as primeiras impressões são as que ficam”). É o
que espero do meu admirado professor Barroso, atualmente ministro do Supremo
Tribunal Federal.

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