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História da Matemática
Sociedade Brasileira de
História da Matemática
Resumo
Este trabalho é parte de uma pesquisa mais ampla de doutorado, que tem como objetivo elaborar uma trajetória histórica, sócio-política e
econômica dos primeiros censos demográficos brasileiros, iniciados no século XIX. Como referenciais teóricos utilizamos autores como
Bloch, Le Goff, Ginzburg, De Certeau que nos faz refletir, sobre o método histórico, a partir da análise da história da estatística como
ciência, buscando examinar as ferramentas estatísticas que foram utilizadas na realização destes censos. As fontes, encontradas em arquivos,
livros, artigos, teses ou outras em geral, estão sendo rastreadas de forma que o tema seja cercado e análises produzidas. A metodologia
utilizada é de uma pesquisa histórica, bibliográfica e documental. Com o Renascimento, observamos historicamente o despertar de um maior
interesse pela coleta de dados estatísticos, principalmente por suas aplicações na administração pública. A Escola Biométrica nasceu na
Inglaterra somente no final do século XIX, em um dos grandes períodos formativos da história da Estatística, impulsionando o estudo da
estatística e o desenvolvimento de métodos estatísticos. Nesse mesmo século, a Lei do Censo foi instituída no Brasil Império em 1870.
Focaremos, de modo mais específico, o primeiro censo geral da população brasileira (1872) que foi realizado por José Maria da Silva
Paranhos, conhecido como Visconde do Rio Branco. Este censo geral foi complexo devido a extensão geográfica, a dispersão da população,
às condições limitadas de comunicação e à falta de prática ou experiência. As ideias e os métodos da Estatística desenvolveram-se ao longo
da história, à medida que a sociedade mostrava-se interessada em coletar e usar dados para variadas aplicações Devido a grande necessidade
da utilização da Estatística, cada vez maior, torna-se importante aprofundar conhecimentos de sua história e examinar os reflexos culturais
dela para o desenvolvimento da Estatística no Brasil e, nessa direção, temos ainda um longo caminho a percorrer.
Palavras-chave: História da Estatística. Métodos Estatísticos. Censos Demográficos.
Abstract
This work is part of a doctorate wider research, that has as objective to elaborate a historical trajectory, social political and economic of the
first brazilians demographics censuses, started in XIX century. As theoretical we use authors as Bloch, Le Goff, Ginzburg, De Certeau, that
make us to reflect, on the historical method, from statistics history analysis as science, searching to examine statistical tools that have been
used in the accomplishment of these censuses. The sources, found in archives, books, articles, theses or others in general, are being tracked
for produced form that the subject is surrounded and analyses. The methodology used is a historical, bibliographical research and
documentary. In the Renaissance, we historically observe the wakening of a bigger interest for the collection of statistical data, mainly for its
applications in public administration. The Biometric School was born in England in late XIX century, in one of the greatest formative periods
of statistics history, stimulating study of statistics and the development of statistics methods. In this exactly century, the Census Law was
instituted in Brazil Empire in 1870. We are going to focus, in more specific way, the first general census of population (1872) which was
directed by José Maria da Silva Paranhos, known as Viscount of Rio Branco. This general census was complex because the geographical
extent, dispersion of population, limited communication conditions and practical lack or experience. The statistics ideas and methods have
been developed throughout history, as society revealed interested in collecting and using various applications datas. Due the great necessity
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Doutoranda PPGE/CE/UFES. E-mail: mwpoubel@terra.com.br
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statistics use, each bigger time, become important to deepen knowledges of its history and to examine cultural consequences of it for
development statistics in Brazil and, we have still a long way to go.
Keywords: Statistics History. Statistical Methods. Demographics Censuses.
Introdução
O desejo dos políticos, governantes e parlamentares brasileiros e portugueses, por
estatísticas marca a importância do campo da Estatística a partir da segunda metade do século
XVII. Estas solicitações têm como argumento a divulgação da nação, suas riquezas e seus
registros administrativos, extremamente valorizados nas argumentações políticas, servindo
aos governos nas suas ações diretas e indiretas, revelando tecnologia e poder (SENRA, 2006,
p. 63).
Mesmo nos anos iniciais do Brasil Colônia podemos encontrar um começo de
levantamentos estatísticos. Os primeiros dados que se tem notícia são de 1585, quando o
Padre José de Anchieta registrou os habitantes de algumas capitanias, e em outras apenas o
número de habitações. As contagens iniciais eram realizadas, via domínio religioso, pelas
autoridades eclesiásticas, nas áreas de sua atuação, em obediência às ordens de Portugal. Para
estas contagens eram elaboradas listas de frequentadores de uma paróquia ou de católicos que
comungavam, sendo que estas listas não incluíam as crianças. (GONÇALVES, 1995).
Nos séculos seguintes, XVII e XVIII, esses tipos de registros continuaram
acontecendo. No entanto, no início do século XIX, com o marco da fundação do positivismo
pelo filósofo francês Auguste Comte (1798-1857), surgiram ações mais determinadas na
construção do saber estatístico e de um sistema de registro estatístico no país, uma vez que o
positivismo defende a ideia da cientificidade dos registros e dados numéricos, considerando o
quantitativo um subsídio definidor da certeza do conhecimento científico. Esta tarefa não foi
fácil e nem imediata, mas construída lentamente e, até mesmo, várias ações armadas do povo
foram travadas em repúdio aos registros (SENRA, 2006). Para os positivistas o progresso da
humanidade depende única e exclusivamente dos avanços científicos, que são evidenciados
historicamente. Por isso, mesmo sem qualquer pretensão de uma defesa ao positivismo,
concordamos com a afirmativa de Comte sobre a importância do conhecimento histórico:
“Não se conhece completamente uma ciência, a menos que se saiba sua história”.
Nesse sentido fomos instigados a refletir e investigar como e para que foram
realizados os primeiros levantamentos estatísticos brasileiros, e que tipos de fundamentos
matemáticos e estatísticos foram utilizados. No entanto, devido a limitação deste trabalho, o
objetivo específico é, nesta oportunidade, elaborar um estudo analítico inicial da trajetória
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D. Pedro II, com o objetivo de elaborar a estatística geral do Império. Isso ocorre antes
mesmo, por exemplo, de ter sido criada na França, em 1860, a Societé Stastitique de Paris.
Apesar da orientação do Imperador da retomada da realização do censo geral
brasileiro, que havia sido cancelado dois anos antes, ele não se realizou neste ano de 1855
devido a questões políticas e econômicas. Sem o censo, as estatísticas populacionais eram
feitas através de registros administrativos sobre instrução, justiça, e saúde, de forma incorreta,
sem método e com grande dificuldade, porque eram realizados por iniciativas pessoais e
eventuais. Estes registros também não eram realizados de forma contínua e sistemática.
Finalmente em 1863, a implementação do campo da estatística traduziu-se também em
termos acadêmicos, com a criação, na Escola Central, da cadeira de “Economia Política,
Estatística e Princípios de Direito Administrativo”, lecionada por José Maria da Silva
Paranhos, futuro Visconde do Rio Branco, e autor do programa desta disciplina. As bases
acadêmicas vinham da França, tendo sido adotado o livro “Élements de Statistique” de
Moreau de Jonnés.
Crescia a demanda por registros de aspectos da realidade do país, principalmente para
evidenciar externamente as referências políticas, culturais, sociais e econômicas. Mesmo antes
do 1º Censo Geral (1872) foram obtidas estatísticas através de produções independentes por
solicitações do Governo Imperial, envolvendo pessoalmente o Imperador D. Pedro II – grande
interessado e participante em todos os assuntos relacionados com a ciência, a tecnologia e a
educação. Dessas produções independentes foram obtidos importantes indicadores
econômicos, políticos e culturais, apresentados em Exposições Internacionais, quase sempre
precedidas de Exposições Nacionais, em que o Império do Brasil fez-se representar desde os
primeiros eventos: 1862 (Londres), 1867 (Paris), 1873 (Viena), 1876 (Filadélfia) e 1889
(Paris). As estatísticas eram expostas em tabelas, gráficos e cartogramas. Nessas exposições
as nações distantes eram oficialmente reveladas através das suas estatísticas.
Em 1862 foi apresentado o relatório “Bases apresentadas para a organização da
estatística geral do Império” elaborado por José Cândido Gomes. Nesse relatório não fica
claro se foi uma iniciativa pessoal ou um encargo para a formulação das bases do serviço
estatístico no Império. O relatório apresenta boa visão da vida nacional relacionada à
existência das estatísticas, evidencia conhecimento cultural do autor e mostra consciência das
dificuldades nas condições das estatísticas brasileiras. Contudo, simplifica resultados devido à
falta de prática e vivência relacionadas à apresentação e interpretação das estatísticas
realizadas, não tendo obtido grandes efeitos naquela época.
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