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1. Prótese
POR ADIÇÃO 2. Epêntese
3. Paragoge
1. Aférese
2. Síncope
POR SUBTRAÇÃO
(1) Sinalefa
3. Apócope (2) Ectilipse
(3) Crase
1. Assimilação
2. Dissimilação
3. Sonorização
4. Degeneração
5. Palatalização
6. Semivocalização
7. Consonantização
8. Nasalização
POR SUBSTITUIÇÃO 9. Desnasalização
10. Assibilação
11. Ditongação
12. Monotongação
13. Apofonia
1. Hipértese
2. Metátese
POR TRANSPOSIÇÃO
(1) Sístole
3. Hiperbibasmo
(2) Diástole
1
a) Por Adição
2. Epêntese – é o acréscimo de fonema NO MEIO do vocábulo ou, nas palavras de Xavier &
Mateus2 (1990:146), “acrescentamento de um segmento fonético em posição medial de
palavra”.
Epêntese4
Se o tédio
te der sono,
aproveita
pra sonhar!
Se não sabe
que fazer:
Depois do n
o h.
1
A expressão a par de indica que ambas as formas são aceitas; a preposição por indica que a forma
apresentada, com asterisco, não é aceita por ser agramatical; o sinal < indica que a palavra foi originária do
latim.
2
XAVIER, M. F. & M. H. M. MATEUS (1990) (orgs.) Dicionário de termos lingüísticos. Volume 1. Lisboa:
Cosmos.
3
Nesta palavra ocorreram três fenômenos: prótese (acréscimo da vogal e no início), epêntese (acréscimo do r
no meio da palavra) e fechamento do e da tônica, que antes era aberto, por metafonia. Ocorre a epêntese
(acréscimo do /r/ medial) por causa da analogia com astro. O mesmo com veruclu > ferrolho (analogia com
ferro), foresta (arc.) > floresta (analogia com flor).
4
Poema de Géber Romano Accioly, copiado do site http://www.usinadeletras.com.br
2
planu > prão > porão
Blatta > brata > barata
Grupa (do germânico Kruppa) > garupa
Para eliminação do hiato, a bem da eufonia, também ocorre a epêntese (chamada neste caso
de suarabácti) do fonema / i / nas flexões verbais, em verbos terminados por EAR:
O mesmo acontece com cinco verbos terminados em IAR, a saber: Ansiar, Incendiar, Mediar,
Odiar, Remediar.
Ex. ANSIAR
Presente do indicativo: anseio, anseias, anseia, ansiamos, ansiais, anseiam.
Presente do subjuntivo: anseie, anseies, anseie, ansiemos, ansieis, anseiem.
Imperativo afirmativo: anseia, anseie, ansiemos, ansiai, anseiem.
Imperativo negativo: não anseies, não anseie, não ansiemos, não ansieis, não anseiem.
5
O caminho é: 1º redução do ditongo latino oe em e; 2º intervalação de vogal i após vogal e, para evitar-se o
hiato.
6
P1,2,3,6, ou seja, 1ª pessoa, 2ª, 3ª e 6ª (3ª do plural).
7
Consoante o ensino do professor Otelo Reis, Breviário da Conjugação dos Verbos da Língua Portuguesa. Rio
de Janeiro: Francisco Alves, 1974, 35ª edição, p. 59.
8
Entre as diferenças observadas entre a epêntese e a paragoge, a principal é de motivação: enquanto a epêntese
busca estruturas silábicas possíveis dentro da língua, a paragoge mexe com a estrutura de uma palavra já bem
formada, em termos de estrutura silábica. (Lição de Gladis Massini-Cagliari – UESP).
3
b) Por Subtração
até > té
José > Zé
ainda > inda
obrigado > brigado
acume > gume
atonitu > tonto
episcopo > bispo10
Haplologia13
A Síncope possui uma modalidade denominada haplologia, que consiste não na simples
supressão de um fonema em interior de palavra mas na redução da primeira de duas sílabas sucessivas
iniciadas pela mesma consoante:
piedadoso > piedoso
bondadoso > bondoso
Tragicocomédia > tragicomédia
Formicicida > formicida
Idolólatra > idólatra
Saudadoso > saudoso
(1) Sinalefa – fusão de duas palavras, mediante a supressão da última vogal da primeira
palavra:
de + o = do
este + outro = estoutro
em + um = num14
de + um = dum
de + algum = dalgum
deixa estar = d’está15
com +o = co
com + um = cum
com + a = coa > ca (esta forma é uma assimilação o-a)
12
Ocorre aqui a perda da consoante [ k ], que se assimila à seguinte [ t ], e após isso cai.
13
É a haplologia que explica o verbo brasileiro dedurar, proveniente da expressão dedo-duro. Lição da
professora Barbara Weedwood (História concisa da língüística. São Paulo, Parábola, 2002. p.112)
14
Este é um caso de sinalefa porque o em é pronunciado [ẽy], perdendo na fusão o seu fonema semivocal,
mantendo a nasalização, que se funde com a palavra seguinte, que se inicia por vogal.
15
Este caso de sinalefa é formado por síncope de vogais iniciais e junção da vogal final de uma palavra com a
vogal inicial de outra, na formação da expressão composta. Ocorre também a apócope na palavra final estar >
está. O s do verbo estar é pronunciado chiante (palatal), porque o exemplo é tirado do sul do Estado de
Pernambuco. Lição e exemplo do professor João Constantino Gomes Ferreira.
5
(3) Crase – fusão escrita e oral de duas vogais idênticas.
Crase é o nome dado à fusão de duas vogais em uma única. Em Fonética Histórica, podemos
observar o processo fonológico (fato diacrônico) da crase das vogais e, o e u em:
legere > leer > ler; pede > pee > pé (crase do e)
dolor > door > dor; palomba > paomba > poomba > pomba (crase do o)16
crudu > cruu > cru; nudu > nuu > nu (crase do u).
Como se pode notar, as formas vendi e parti foram simplificadas pela crase do i.
Resta-nos agora analisar os casos em que há crase na vogal a. Esses casos merecem análise
mais pormenorizada, vez que a crase do a recebe acento próprio (grave).
Crase do "a"
"Tão nobre resposta encheu de admiração tanto aos sábios como aos
principais e À mesma plebe."
(Machado de Assis, idem, ibidem).
c) Por Substituição
16
Palomba > paomba (síncope do l intervocálico) > poomba (assimilação vocálica do a pelo o) > pomba (crase
dos oo).
6
1. Assimilação – é a influência exercida de um fonema sobre outro, a ponto de substituí-lo.
É a “assemelhação” de um som a outro. A assimilação pode ser vocálica e consonantal,
total e parcial, progressiva e regressiva:
auru > oro > ouro (o ditongo latino /au/ passa a /o/, porque /a/ – vogal baixa – por
influência de /u/ – vogal alta – passa a /o/ – vogal média). Também um caso de
assimilação parcial. Mesmo caso para paucu (pouco) e lauru (louro).
auricula > oricla > orec’la > oreyla > orelya > orelha (/au/ passa a /o/, pelas razões de
auru > oro)
paomba > poomba > pomba (/a/ tornou-se /o/ pela presença desse fonema já
existente). Há assimilação seguida de crase.
caente > queente > quente (/a/ passou a /e/ pela ação do /ẽ/ preexistente, estes dois
últimos, vogais médias).
Há os casos de pronúncia popular de verbos no gerúndio (-NDO), onde o fonema “d”, por ser
consoante dental, é assimilado pela consoante dental “n”: falando > falano; vendendo > vendeno;
dirigindo > dirigino.
Há o caso das bilabilais “m” e “b”, com assimilação desta última: também > tammém >
tamém; um bocado > um mucado.
mirabilia > maravilha (/i/ passou a /a/ por influência de outro /a/)
persicu > pêssego (o fonema /s/ assimilou o fonema /R/ anterior, tornando-o igual a si
(assimilação total, regressiva, consonantal).
persona > pessoa (caso igual ao anterior).
Per + lo > pello > pelo
ouro > oro (na fala popular do Brasil e Portugal). Também é um caso de monotongação.
(4) Parcial – O fonema assimilado não se identifica, mas aproxima seus traços dos do
assimilador:
assibilare > assibiar > assobiar (em razão da presença de /a/ – vogal baixa –, /i/ – alta –
passa a /o/ – média)
lacte > laite > leite (/a/ – vogal baixa – passou a /e/ – média – por influência de /y/ – alta) ( 17)
auru > ouro.
amaramlo > amaram-no (/ã/ – fonema nasal – faz /l/ tornar-se /n/, igualmente nasal),
molnario > mollairo > moleiro
salnitre > sallitre > salitre
17
Quer dizer: o fonema /i/, de menor grau de abertura, influiu no /a/, anterior, de maior grau, fechando-o num
grau intermediário /ë/ assimilação parcial, regressiva, vocálica. A assimilação só ocorre no caminho da
evolução, /layte/, não do latim para a forma atual.
7
en + lo = enno > no
nostro > nosso assimilação t > s
“O fenômeno continua a ocorrer na língua oral: perigo > *pirigu (/i/ faz com que /e/ se
identifique com ele e também influencia /o/, que passa a vogal alta, /u/, da mesma forma que /i/
também é alta), menino > *mininu (caso idêntico), polícia > *pulícia (/i/ – vogal alta – faz /o/ – média
– passar a /u/ – igualmente alta). Se a vogal é tônica, mais provavelmente ela pode-se tornar
assimiladora”. (Lição do professor Paulo Hernandes)
A sequência ei > ii, ocorrrente em menino > minino, também é chamada dilação.
calamellu > caramelo aqui, o falante põe um /r/ no lugar de /l/, para bem da eufonia.
Liliu > lírio
Memorare > membrar > lembrar
Rotundu > rodondo > redondo
Menhã (por manhã) o falante, normalmente o não-culto, evita a assimilação da vogal nasal
ã da segunda sílaba com a vogal nasal ã da primeira sílaba. Ocorrência
atestada no português arcaico e em variedades populares modernas.
A Dissimilação, às vezes, pode levar à supressão de fonemas. Quando isto acontece, recebe o
nome de dissimilação eliminadora:
aratru > arado ocorreu a eliminação do /r/ e a sonorização /t/ > /d/.
cribru > cribo > crivo (degeneração)
rostru > rosto
8
capio > caibo18 civiate > cidade
lupu > lobo citu > cedo
sapui > soube19 maritu > marido
de p para b: sapore > sabor de t para d: totu > todo
aprile > abril petra > pedra
vita > vida
rota > roda
4. Degeneração. É a passagem de b para v. 21
18
Ocorre também a hipértese formada pela atração do i pelo a, gerando uma ditongação na primeira sílaba.
19
Mesma observação feita para caibo.
20
Sonorização da oclusiva surda intervocálica. Este evento é regular.
21
b para v em posição intervocálica, ao passo que se mantém em posição inicial. A evolução fonética segue,
com alguma regularidade o seguinte quadro:
P>B>V
T>D
K>G
9
5. Palatalização. A Palatalização consiste na transformação de um ou mais fonemas numa
palatal. Geralmente isto acontece com:
vinea > vinia > vinya > vinha
n + vogal (e, i) aranea > arania > aranya > aranha
> NH: seniore > senyor > senhor
unio > junyo > junho
palea > palha
l + vogal (e, i) folia > folha
> LH: juliu > julho
óleo > olho (verbo)22
Ocorrendo (na fala de certas regiões do País) o contato da vogal alta / i /, chamada palatal por ser
pronunciada na região mais alta do céu da boca, com as consoantes anteriores /t/, /d/, // e /n/ e
velares /k/ e /g/, estas consoantes se palatalizam. Daí, a pronúncia carioca do /t/ de tio, diferente dos
/t/ de tonta – o primeiro chamado consoante africada [tš]; e a pronúncia do /d/ de dia, a par dos /d/ de
dado – o primeiro a africada [dž].
A palatalização do // diante do /i/ neutraliza a oposição entre // e //, como em óleo e olho
(verbo olhar).
A palatalização do /n/ ocorre na palavra vineo (latim), foneticamente [‘viniw], que pela
proximidade /i/ - /u/ passa a nh na pronúncia e na escrita: vineo > vinho.
A palatalização do /k/ ocorre em clave (latim), que passa a ciave [ki‘avi] e em seguida a
chave [´šavi]. O processo foi semivocalização kl > ky seguida de palatalização ky > š.
22
Ocorre na fala.
23
Ocorre na fala atual do Rio de Janeiro. É um caso de metaplasmo.
24
A evolução é a seguinte: Pluvia > pyuvia (semivocalização pl > py) > pyuva (monotongação vya > va) >
chuva (palatalização py > š).
1
A palatalização do /g/ ocorre em tegula (latim), que evolui teyla > telha. Processo de
semivocalização e palatalização.
O caso da palavra oito, pronunciada por pessoas incultas como [oytšu] é a mesma palatalização por
aproximação do espanhol ocho [otšu], sendo que no primeiro caso há um ditongo.
O exemplo típico é a realização do / ł / pós-vocálico como [ w ]: papel, lençol, sol, maldade, selva.
Este tipo de desnasalização (virgem > virge) é comum na língua e tem muitos representantes oficiais:
25
No século XVI, coube a Pedro de la Ramée, latinizado Petrus Ramus (1515-1572), filósofo e humanista
francês, nascido em Cuth, Vermandois , Picardia, em sua gramática editada em 1559, uniformizar o uso do U e
V, do I e do J. O V e o J passaram a representar as consoantes, respectivamente, lábio-dental e palatal, e o I e o
U as vogais e semivogais. Daí serem essas letras V e J conhecidas até hoje como letras ramistas, em
homenagem a Petros Ramos.
26
É comum na língua não-padrão a desnasalização das vogais postônicas como homem > home, ontem > onte,
garagem > garage.
27
Os casos de ilegal e irreal sao casos de desnasalização histórica, que alguns falantes não-cultos ainda o usam
na forma primitiva, como um processo de arcaização da linguagem.
1
regimen > regime volumen > volume.
velamen > velame
O n final desapareceu dessas palavras, mas ainda é encontrado em palavras derivadas como
abdominal, betuminoso, examinar, luminária, nominal. Algumas palavras conservaram a dupla
grafia: abdome/abdômen, certame/certâmen, cerume/cerúmen, germe/gérmen, regime/regímen,
velame/velâmen. (Ensino do professor Marcos Bagno).
malo > mao > mau o hiato a-o torna-se ditongo /aw/
sto > estou
do > dou
arena > area > areia
Houve o acréscimo de uma semivogal nas palavras abaixo, formando uma ditongação:
caranguejo (carangueijo)
bandeja (bandeija)
prazeroso (prazeiroso)
Este tipo de ocorrência, apenas com respeito aos hiatos, é chamado de epêntese ou
suarabácti. Outros exemplos: caranguejo > carangueijo; bandeja > bandeija; prazeroso > prazeiroso.
Redução:
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() Auricula > orec´la (monotongação au > o) > oreyla (semivocalização c > y) > orelya (hipértese yl > ly) > orelha (palatalização
ly > λ) > orêia (na língua não-padrão. Assimilação da líquida / λ/ para a semivogal /y/). A assimilação gera a semivocalização.
1
do ditongo ou em o: pouco > poço; roupa > ropa; louro > loro.
do ditongo ai em a: baixo > baxo; caixa > caxa; faixa > faxa.
do ditongo ei em e: beijo > bejo; brasileiro > brasilero; cheiro > chero; deixa > dexa;
primeiro > primero. Nestes casos, só ocorre monotongação (redução) do ei em e quando o
ei aparece diante das consoantes j, x, r.
Redução (observação):
Nem toda redução será necessariamente também uma monotongação, como nos casos das
vogais postônicas e e o que se reduzem para i e u respectivamente:
Sede [´sedi]
Verde [´veRdi]
Ele [´eli]
Ovo [´ovu]
Medo [´medu]
Cavalo [ka´valu]
Exemplos de harmonização vocálica (por redução sonora de vogal alta para média) em e e o:
Em E:
mentira > mintira; alegria > aligria; avenida > avinida; bebida > bibida; feliz > filiz;
ferido > firido; pedido > pidido; pepino > pipino; preguiça > priguiça; Severino >
Sivirino. Também: cabeludo > cabiludu; segundo > sigundo; seguro > siguro; veludo
> viludo.
Em O:
Assobio > assubiu; chovia > chuvia; comida > cumida; cozinha > cuzinha; corria > curria;
colégio > culégio; domingo > dumingo; folia > fulia; gorila > gurila; harmonia > harmunia; notícia >
nutícia; possível > pussível; Sofia > Sufia. coruja > curuja; costume > custume; fortuna > furtuna;
gordura > gurdura. (Lição de Marcos Bagno in A língua de Eulália, p. 97)
Em suma:
1
Modernamente se tem chamado a atenção para a influência do contexto fonológico na
pronúncia (e apenas nela) de certos vocábulos – a chamada harmonização vocálica:
1. a vogal pretônica dos verbos crescer [kre’seR] e morder [moR’deR] passa respectivamente
a [ i ] e [ u ] nas formas cuja vogal tônica é / i /: crescíamos /kri’siamus/, crescido /kri’sidu/, cresci
/kri’si/, mordíamos /muR’diamus/, mordida /muR’dida/, mordi /muR’di/.
2. ocorre também quando a vogal tônica é /u/: costura /kus’tura/, coruja /ku’ruža/, veludo
/vi’udu/, peruca /pi’ruka/.
3. ocorre a harmonização nas vogais átonas de peteca /pε’tεka/ e bodoque /bσ’dσki/, onde as vogais
pretônicas tornam-se abertas por influência do timbre aberto da vogal tônica.
13. Apofonia. É o nome que se dá à mudança do timbre de uma vogal por influência de um
prefixo:
14. Metafonia. Consiste na mudança de timbre de uma vogal tônica por influência de outra
vogal, geralmente i ou u:
A metafonia, por ser uma ocorrência meramente de mudança de timbre (de fechado para
aberto), não havendo mudança na elevação da língua, como na assimilação, é apresentada aqui em
lugar próprio.
A metafonia ocorre também em plurais de palavras com o fechado, em sílaba paroxítona
tônica, como nos casos abaixo:
Todas as palavras com a tônica na sílaba paroxítona com o fechado (ô), com o plural na
mesma sílaba com o aberto:
Nos exemplos abaixo a sílaba tônica permanece com o fechado (ô), inclusive nos plurais:
Acordo, adorno, almoço, arroto, boda, bolo, bolso, cachorro, caolho, coco, colosso,
conforto, contorno, dorso, encosto, endosso, engodo, esboço, esgoto, esposo, estojo,
ferrolho, forro, gafanhoto, globo, gosto, gozo, horto, jorro, logro, morro, polvo,
repolho, rolo, sogro, soldo, soro, toco, toldo, topo, torno, transtorno.
d) Por Transposição
1
1. Hipértese – deslocação do som de uma sílaba para outra:
Há dois problemas apresentados por alguns falantes com respeito às consoantes líquidas e
r:
a) Rotacismo (nome derivado da letra grega r “rô”) – consiste em se empregar o /R/ forte no
lugar do / ł / velar – como em carma (por calma), animar (por animal) – ou do // dental –
como praca (por placa).
É bom frisar que, afora o problema físico, o rotacismo tem um ror de ocorrências tidas como
normais e aceitas pela gramática:29
Daí, o desejo do falante de corrigir a pronúncia que pensa estar errada em calvão (por carvão)
e galfo (por garfo) – a chamada HIPERCORREÇÃO.
1
Sobre a hipercorreção, nada melhor do que o ensino do Professor Cláudio Moreno:
28) HIPERCORREÇÃO
Não é qualquer pessoa que comete erros de hipercorreção; paradoxalmente, eles só atacam os falantes
que têm certo grau de estudo, preocupados honestamente com o correto uso do idioma. Não deixa de ser uma
ironia linguística: eu fico tão ansioso por evitar um erro para o qual fui alertado, que termino aplicando a regra
onde não devia aplicar. Por exemplo: na fala popular de algumas regiões do Brasil, as pessoas mais simples
trocam o /l/ pelo /r/, dizendo *carça, *sordado, *marvada, em lugar de calça, soldado e malvada. Imaginemos
que eu falasse assim e que me desse conta, num determinado momento, que essa troca é um desvio da norma
culta, extremamente prejudicial à minha imagem (em nosso país, todos sabem, a linguagem é um dos mais
terríveis intrumentos de discriminação social). Consciente agora do meu erro e dos prejuízos que ele acarreta,
passo então a evitá-lo a todo custo, mas com tal empenho que termino exagerando: eu, que dizia corretamente
disfarça e armário, passo a dizer *disfalça e *almário. No fundo, estou cometendo um erro novo ao tentar
evitar um erro velho. O que me levou a errar foi um esforço desmesurado de correção, que foi além dos limites
em que a regra deve atuar - daí o nome de ultracorreção, que alguns linguistas dão ao mesmo fenômeno.
Por sua forte motivação sociolinguística, as hipercorreções são mais encontradas na linguagem dos
indivíduos em ascensão cultural, pois essa mudança de lugar na pirâmide social implica uma inevitável tomada
de consciência, por parte do falante, dos traços linguísticos que caracterizavam a posição que ele ocupava
anteriormente. Essa reavaliação de como eu era antes e de como quero ser (ou parecer) agora é frequente na
sociedade moderna (não discuto aqui se isso é bom ou não; apenas registro o fato). Em termos de linguagem,
esse processo é benéfico, pois termina levando o falante a expressar-se cada vez mais de acordo com aquilo que
chamamos de Português Padrão. A hipercorreção só vai aparecer quando o falante faz uma avaliação
incorreta dos dados linguísticos que chamaram sua atenção, corrigindo ali onde não há nada a corrigir.
Esse é o tipo de erro que me faz rir. Devido à minha formação, jamais pude achar graça nos erros de
Português que alguém comete - ou por respeito a quem não teve a oportunidade de estudar, ou por entender que
ali está atuando algum processo linguístico que deve ser investigado. Não zombo, nem sinto piedade de quem
erra na minha frente: honestamente, fico é interessado, porque cada erro me desafia a encontrar as suas causas
(e, não poucas vezes, a reformular os meus conceitos de "erro"). Agora, confesso que acho os casos de
hipercorreção simpaticamente cômicos, próprios para um anedotário da linguagem. Meu grande mestre Luft,
por exemplo, que não era de muitos risos, dá-nos um bom exemplo:
"Caboclo, quando pega de ficar instruído, sabe que deve melhorar sua linguagem. Aprende que, entre
mais coisas, não deve falar paia, veia, reio, mio, oio e baruio. Deve é dizer palha, velha, relho, milho, olho e
barulho. Pois lá um dia o jeca-tatu vai à cidade falar com doutor. Claro, não se esqueceu de miorar, aliás,
melhorar a linguagem. O doutor logo viu o esforço: não só o jeca aprimorou o velho e o barulho, mas ainda as
telhas de aranha e as arelhas da pralha. Isto é o que se chama exceder-se. Saltou no cavalo tão bem, que caiu
no outro lado."
Um caso exemplar de hipercorreção ocorreu, muito adequadamente, diante do grande mestre de nosso
folclore, Luís da Câmara Cascudo, culto e engraçado como poucos. Quem conta é Diógenes da Cunha Lima, no
seu "Câmara Cascudo: um Brasileiro Feliz":
"Luís da Câmara Cascudo é convidado por um amigo, velho mestre de fandango, para assistir a um
ensaio. Estão compostas as duas alas de marujos e, ao som de instrumentos de corda, marinheiros e oficiais
começam a cantar:
– Nas ôndias do mar ...
Pára, pára! - ordena o mestre. - Respeitem o professor Cascudo! Eu já disse mais de mil vezes que a
palavra não é ôndias. A palavra certa é ôndegas.
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