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- Excelentíssima senhora Juíza presidente, Ilustre promotora, diletos colegas de

defesa, primorosos servidores da Justiça, gloriosa polícia militar, familiares da


vítima, familiares do réu, (cumprimento ao réu e por último os jurados
sorteados) venho por meio deste mostrar-lhes que minha cliente, a senhora
Maria Capitolina Santiago. É inteiramente inocente, uma vez que não há
nenhuma prova contra ela e todos os depoimentos foram baseados em
especulações. Como advogada de defesa constituído pela senhora Capitu,
pretendo aqui elucidar, com o auxílio de um laudo psicológico, que Bento
Santiago foi acometido de uma crise de ciúme doentia, conhecida na medicina
psiquiátrica de Síndrome de Otelo.O próprio sr. Bento assume diversas vezes
que é ciumento. Quem garante que
o ciúme não o fez imaginar todas essas situações? Ele mesmo assume isso no
capítulo ―UMA PONTA DE IAGO‖, página 113
-114 e no capítulo ―EMBARGOS DE TERCEIRO‖, pág. 186.
(ler o grifo do livro)

Bento Santiago, em suas memórias intituladas “Dom Casmurro[3]”, deixa


explicito que possui uma imaginação fértil. “A imaginação foi a companheira de
toda a minha existência, viva, rápida, inquieta…[4]” (p. 96). Não obstante,
descrevendo a infância e a adolescência de ambos, Bentinho pinta Capitu com
relevos distorcidos. “Capitu, aos quatorze anos, tinha já ideias atrevidas, muito
menos que outras que lhe vieram depois; mas eram só atrevidas em si, na
prática faziam-se hábeis, sinuosas, surdas, e alcançavam o fim proposto, não
de salto, mas aos saltinhos.” (p. 45).

Ao longo de sua narrativa, Bentinho prossegue denegrindo a imagem de


Capitu, mas cai em contradição em vários momentos, comprovando seu estado
mental perturbado. Bentinho chega inclusive a admitir que sua obra é falha.
“Nada se emenda bem nos livros confusos, mas tudo se pode meter nos livros
omissos. Eu, quando leio algum desta outra casta, não me aflijo nunca. O que
faço, em chegando ao fim, é cerrar os olhos e evocar todas as cousas que não
achei nele. (…) Assim preencho as lacunas alheias; assim podes também
preencher as minhas.” (p. 135).

- Quanto à insistência de minha cliente, ainda durante a infância, de que eles


ficassem juntos era completamente válida, uma vez que o próprio Bento tenha
confessado a ela que não queria ser padre, que não queria ir para o seminário,
como ele assumiu no cap. 18, pág. 38. (ler grifo na pág.) –
Quanto ao comportamento de Ezequiel, por favor, já nos foi revelado em
diversas partes do texto que a criança parecia-se muito com os demais
parentes de ambas as famílias: os olhos claros como de dona Capitolina, assim
descrito, a princípio pelo próprio Bento, e depois mudado, provavelmente
devido ao seu ciúme; o espírito animado tal qual o do avô, o Tartaruga. - Além
disso, o próprio Bento acreditava que o filho era dado a imitações. E todos
sabemos que existem pessoas que nascem com esse dom, sabem imitar os
outros com perfeição. Não o bastante, o pai também já considerou o fato de
Ezequiel e a pequena Capitolina formarem um casal e virem a casar-se. Como
nos é
mostrado no cap. ―AMIGOS PRÓXIMOS‖, PÁG. 193. Se ele duvidava de sua
paternidade porque levanta
ria tal ideia? Que ser monstruoso levantaria a hipótese de ver dois irmãos
casados? - Senhores, espero ter sido clara quanto a posição humilhante da
minha cliente e sobre como esse homem é possessivo, dominador, inseguro e
manipulador, porque ele manipula os fatos a seu favor, distorcendo a
mensagem e criando uma personalidade para a minha cliente que não faz jus a
quem ela realmente é. Espero que os senhores tomem a decisão correta

. Quero deixar claro que em nenhum momento, aqui nesse júri foram
apresentadas provas de quaisquer traições de minha cliente, ao contrário do
acusado, o qual ele mesmo já assumiu ter, em certo momento, olhado para a
senhora Sancha com olhos desejosos, só porque ele imaginava, repito
IMAGINAVA que ela estava se
oferecendo a ele. Como nos é mostrado no capítulo 118, no qual o próprio
Casmurro nos diz que ―
Assim devia ser, mas um fluido particular que me correu todo o corpo desviou
de mim a conclusão que deixo escrita. Senti ainda os dedos de Sancha entre
os meus, apertando uns aos outros. Foi um instante de vertigem e de pecado.
‖ E ainda trouxe à mente a frase: ―Uma senhora deliciosíssima‖, fazendo
apologia ao
um discurso do José Dias, amante dos superlativos. Embora tenha tentado
mascarar seus sentimentos atribuindo o adjetivo a noite estrelada. - O próprio
Casmurro já assumiu que muitas vezes agia em desvario, por puro ciúme,
como posso provar com um trecho do capítulo 126:

Concluí de mim para mim que era a antiga paixão que me ofuscava ainda e me
fazia desvairar como sempre
‖.
- E em relação ao choro de minha cliente, quero deixar claro que o próprio
Bento também chorou, todos choraram, eram amigos. Acredito que qualquer
um nesse tribunal choraria diante da morte de um amigo considerado um irmão

Isso é tudo Meritíssimo.

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