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ISSN 2527-1091

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EXPEDIENTE
Foto: Rayudu NVS

Série MPT em Quadrinhos


“e vendo que a jogadora
ISSN 2527-1091 havia perdido o seu hijab, as
integrantes do outro time fizeram
uma barreira para que ela pudesse
arrumar esse item tão importante
pra sua cultura e religião”.
Coordenação: Ministério Público do
Trabalho no Estado do Espírito Santo

Gerência: Wendell Luís Táboas (MPT/ES)

Sinopse e Roteiro: Estevão Ribeiro

Ilustrações, Cor, Balões, Revisão


Ortográfica, Diagramação e
Editoração: DF Marketing Direto

Colaboraram: Dra. Adriane Reis de Araújo


(MPT-PRT São Paulo/SP), Dra. Ana Lúcia fala, otavão! não vai se fumaça?
levantar pra falar comigo, não? haha! que isso,
Stumpf González (MPT-PTM de Pelotas/RS) fala, chico fumaça! seu time é só jurandir?
desgraça! ih, até rimou!
e Liege Nunes Nogueira Labuto (MPT/ES).
Ah, é brincadeira!
Apoio: Coordenadoria Nacional de Você tem que ficar
chateado com o seu time,
que só contrata velhos
Promoção de Igualdade de Oportunidades caquéticos!
e Eliminação da Discriminação no
Trabalho – COORDIGUALDADE.

Contato: quadrinhos@mpt.mp.br

Website: www.quadrinhos.mpt.mp.br oi???

Facebook: www.facebook.com/
MPT-em-Quadrinhos
ih, lá vem você
A série “MPT em Quadrinhos” teve início ih, darinha!
com esse mimimi! é só
modo de falar, darinha!
em junho de 2012 dentro do projeto “O nem te vi aí! aqui a gente usa a
linguagem do
MPT, a Sociedade e o Cidadão”, vinculado à povão!

Coordenadoria Nacional de Estágio do MPT,


defina “povão”,
coordenada, à época, pelas Dras. Guadalupe ademar!

Louro Turos Couto (MPT/RJ) e Daniele


Corrêa Santa Catarina (MPT/ES). Esta edição
foi publicada na gestão do Procurador-Geral Jurandir!
Você sabe que o
do Trabalho Dr. Alberto Bastos Balazeiro. que você fez é um
tipo de preconceito
com pessoas mais
Esta obra poderá ser reproduzida velhas? Chama-se
etarismo.
ou utilizada mediante comunicação
ao Ministério Público do Trabalho
e citação da fonte.

Vitória/ES - maio/2021
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a galera que
lê nosso jornal, “sororidade*
odara! que quer saber no futebol: rivais
da nova dancinha do fazem cerco para que ai, que
gabigol, quem neymar tá jogadora muçulmana ódio!
namorando, coisas que ajeitar o hijab”
rendem cliques, e
não isso daí!

o que tem
de errado no
meu artigo? bate na madeira, odara! um
chefe racista como aquele
calma,
tá, é? ninguém merece!*
prima!
ninguém
merece, mesmo!
calma nada, tanto, que ele
larissa! você sabe como foi demitido.
eu ralei pra conseguir
esse emprego. o meu
editor é tão preconcei-
somos a editoria ...mas é nesta tuoso que quase me deu
de esportes, darinha! editoria que eu fico saudades da loja
guerra e terrorismo horrorizada com tanto de sapatos!
são na editoria de preconceito. e é
internacional! odara, não nossa,
darinha! o banheiro tá tão
organizado! nem
parece ter um
cara morando
aqui com
você!

guerra
e terror podem
ser na outra
editoria...

ei, calma,
é uma brinca-
não tem um cara deira só!
morando aqui, joão! é
uma mulher trans e o
nome dela é tainá!
mas é assim
que começa. né,
joão?

ah eu sei,
mas o fato dele,
digo, dela ter sido
um homem devia
fazer dela uma
pessoa desor- é!
eu falei que com uma
ganizada, né?
mulher numa editoria de brincadeira
esportes não dá certo! preconcei-
chega essa época do tuosa.
mês dá nisso...

ai, joão...
que vergonha!

*Sororidade: relação de irmandade, união, afeto ou amizade entre mulheres, assemelhando-se àquela estabelecida entre irmãs. *Ver MPT em Quadrinhos nº 40 – Racismo x Igualdade
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preconceituosa? é só uma piada ah, mas eu


inocente, gente! nunca falaria isso
na frente dele.
nada pessoal!
eu vou chamar só não acho que
dela, um enfermeiro ou algumas coisas
não é não, amor! enfermeira cis para estejam certas.
querido! o seu pai.

desculpa mesmo,
viu? meu pai é meio
temperamental.
você emitiu
uma opinião sem isso! dela!
exame crítico. desculpe.
mas não
adianta essa atitu- o que o seu pai tem é
de de não falar se outro nome, querida. ele
você pensa dessa é um preconceituoso, que
forma, joão! não sabe o quanto dói ser
discriminada por ser uma
pessoa trans.

mas é que
ele é de outro
tempo e não
entende as
escolhas de
vocês...
“temperamental?” escolha?

o preconceito,
como o próprio nome diz,
é um pré-julgamento, uma eu não escolhi ser uma mulher trans,
opinião concebida sem pro- camila! eu nasci com uma identidade de gê-
fundidade. uma pessoa como a nero diferente para qual corpo que nasci.
tainá, por exemplo, que é uma escolha tem o seu pai, cliente de um plano
mulher trans atuante na área pronto! de saúde, aproveita do privilégio para
da saúde, sofre com está pronto escolher quem o atende, sem a menor
o preconceito pra tomar sua vergonha na cara!
diariamente. injeção?
não vai
doer nada, seu
gerson!

olha,
entendo sua
indignação, mas
respeite o meu
o que? eu nem sei
pai!
ah não, pai! não vou como te dizer isso,
falar isso com ela. enfermeira...
tá doido?

E o que
você quer dizer
com isso?

A seu pai não


hm... nem devo respeito
algum precisa dizer, querida. algum, minha senhora!
problema? eu estou reconhecendo Quero lembrar que
o olhar do seu pai. transfobia é crime.
Agora vou chamar
outra pessoa para
salvá-lo. Algo que eu
já estava fazendo.
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No outro dia... ai, tô até com


peso na consciência
tô adorando
poder me abrir
...ele vai entrar em de você usar a
Que se eu não convulsão. e pensar que para vocês, ainda
chamar alguém sua folga pra mais para algo
ele não precisava correr isso, tainá!
para administrar esse risco, mas já que tão importante!
o medicamento que não sou digna de salvar
seu pai precisa... a vida dele...

que nada, e eu não


amiga! poderia começar
com outra pes-
eu não soa. você é um
acredito nesse exemplo de pro-
absurdo! fissional e tão
criticada. vamos
começar?

pessoas trans
são vítimas de precon-
ceito diariamente, joão. acho que a primeira
e não só as pessoas vez que eu percebi que ser
trans, mas negras, gor- quem eu sou traria a mim
das, mulheres, velhos... algumas dificuldades, foi
o preconceito é praticado quando meu pai me pediu
de diversas formas. para eu me “sentar
como homem”.

NO caso da Tainá,
ela até já levou isso para a
quando eu ainda usava o
administração do hospital, mas
nome de batismo, questio-
é sempre orientada a RELE-
navam tudo em mim.
VAR, porque o cliente
sempre tem razão.

mas eu vou pelo menos na minha


as pessoas precisar da época, ninguém ensinava às
precisam saber o ajuda de pessoas a respeitar quem
quanto o precon- vocês! parecia ser diferente.
ceito afeta a vida
das pessoas...
“nem sempre dava para aguentar o preconceito e as
provocações, que poderiam ser evitados se as pessoas
fossem educadas desde cedo para respeitar o outro,
independentemente da sua natureza.”

“mas e esse precon-


ceito, de que alguém
que não se encaixa
e eu no padrão cisgênero
acho que pode – pessoa que se iden-
já sei como contar com tifica em todos os
fazer a gente, aspectos com gênero
isso! prima! com o qual nasceu
– muitas vezes
sofre consequências
gravíssimas!”
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“...e sei de uma forma de isso fazer diferente.”


eu acho que
tem muito a ver
“já tentou não com os valores
ser assim?” me eu que ao longo
agradeço por eu tô besta! estruturados na dos séculos, a so-
perguntou minha como pode haver que nossa sociedade. ciedade brasileira foi
mãe uma vez. foi a poder falar de forte, odara!
um assunto tão tanta gente precon- construída em cima
mesma coisa que me ceituosa em posição emocionante!
perguntar... importante para dos padrões euro-
mim. de privilégio? peus de pensamento,
“... já que privilegiam um
pensou tipo de ser humano:
em não o homem branco
viver?” hétero.

não só
obrigado para você,
pelo seu querida... numa sociedade que
depoimento, privilegia o homem branco
nossa, hétero, a pessoa que tiver
tainá. que forte! mais elementos compatíveis
com essas especificidades é
mais amparada pela sociedade.

pessoas maricas! preto!


com deficiência Assim que sapatão! aleijada!
são vistas como ouvem minha voz, balofo!
incapacitadas e, rola a pergunta:
muitas vezes, não você é gay? O que tem
conseguimos subir na a ver o fato de eu
carreira, mesmo com ser gay com a limpeza
vaga disponível. em bucal que ele tem
geral, as vagas que que fazer? já me carvão!
nos oferecem estão perguntaram se macho
muito aquém de nossa eu tenho alguma babaca!
capacidade, é quase doença,
uma ofensa. acredita?

se tiver menos elementos, a


pessoa pode sofrer diversas
violências, inclusive daqueles que
tiverem alguma especificidade com- promíscua!
patível, mas que possuam outras caminhoneira! favelado!
sendo advogado, há quando eu mais conciliáveis com o “padrão perneta!
cores de terno que eu incapacitada!
entrei no escritório, estrutural”. gorda!
não posso usar. uma vez, percebi que tinha uma
um juiz passou por mim pessoa muito precon-
e estranhou que eu não ceituosa e machista por
o estava seguindo. ele causa das piadinhas e
achou que eu fosse o brincadeiras, sempre você chico, por
segurança dele. sendo ríspido comigo. exemplo, pode se achar
era meu primeiro empre- melhor que otavio por-
go e eu não sabia que é um homem hétero
como agir. sem deficiência. otávio
pode se achar melhor
que você por ser um
homem branco
hétero.

o que estamos
primeiro fazendo aqui é muito mas pensando
implicaram com o meu importante, gente... assim, uma pessoa
cabelo, depois provoca- com deficiência,
vam que eu não tinha com- negra e lésbica, por se juntarmos
petência para trabalhar exemplo, sofreria todos os homens brancos
com a empilhadeira. dez um combo de pre- empregados e tirarmos uma média
anos de experiência e te- conceitos! de rendimentos e comparamos com os
nho que ouvir isso de um das mulheres pretas, chegamos a um
colega de trabalho! nossa, ficou número alarmante*: a mulher preta
ótimo. quer dizer, ganha o equivalente a 44,4% salário
é triste, mas... de um homem branco, sendo
é verdade! a menos remunerada em
todas as comparações.
é exatamente
esta a sensação,
amor.
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vendo os
números... há e você, odara,
uma diferença parabéns pela coragem
real, chega a ser de não abaixar a cabeça
vergonhosa. diante das adversidades.
alguns campos de traba-
lhos são carregados
de preconceitos.

certo!
a mulher preta quem fez
fica atrás do homem preto/ isso?
pardo e da mulher branca, a senhora é uma
nesta ordem. meritocracia inspiração. mesmo numa
ou preconceito? sociedade racista e misógina,
conquistou um cargo de diretora
executiva do jornal.

nesta sala temos um exemplo de pluralidade


o ministério que gostaria de ver em mais lugares. temos que
é verdade, querida. se lutar por um ambiente de trabalho que respeite
público do trabalho você pensar que pessoas pretas
recebeu uma denúncia de as nossas diferenças, para que cada ideia
e pardas ocupam cerca de 10% dos cargos possa crescer sem inibição.
preconceito contra mim, dizendo de chefia e que a pobreza no país é
que eu estava assediando majoritariamente feminina e negra,
funcionários, e isso só dá para imaginar o custo
pode ter vindo de chegar aqui. falou
de você! tudo, doutora
marlene!

fez o que?
por que você está
apontando esse
dedo pra mim? foi uma
denúncia anôni-
ma, senhor
jurandir!

doutora
marlene?
eu tenho
orgulho deste
time!
usaram o aplicativo
pardal do mpt e denun-
ciaram a forma racista
e capacitista* como você
trata, não só a sua única
jornalista mulher e preta,
mas também os dois eu
repórteres de também!
sua equipe.

pelo jeito a denúncia e por falar só


era verdadeira. sabe que em ideias, você não vai se for
o jornal foi intimado a dar me mostrar o que tra- agora!
esclarecimentos por sua balho que seus colegas
conduta, não? elogiaram?

guarde suas
explicações para o mpt,
doutora senhor jurandir. o senhor
marlene, eu vai ter que prestar
não imaginava esclarecimentos por lá
que... também. depois conversa-
mos sobre o seu futuro
neste jornal.

*Discriminação e preconceito social contra portadores de alguma deficiência.


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No final de Além do racismo, que é o preconceito contra pessoas de etnias


semana... diferentes, do qual no Brasil se destaca o ódio contra pessoas
quer dizer que
você vai comandar um
canal do jornal, na pretas, há diversos tipos de preconceitos que comprometem o
web? que massa,
odara! convívio social e afetivo que precisam ter um fim já:

» Machismo, sexismo e misoginia: Promover a ideia de que


diferenças qualitativas do homem em relação à mulher, através da
é! o jornal já
tinha um projeto de
diferença de tratamento em diversos campos sociais. Esta afirmação vem
fazer mini documentários
e esse também mudou a muitas vezes associada a palavras e atos de violência contra a mulher.
ideia que tinham de cha-
mar os nossos leitores
de “povão”, como se o
adjetivo os
desmerecessem!
eu estou
orgulhosíssima » Gordofobia: Ofender através de falas ou atos pessoas gordas.
da minha
prima!

» LGBTfobia: Ofender através falas e atos pessoas em virtude da


sua orientação sexual, como Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e
outros gêneros.
desenhada,
né joão? gasp!
desculp a,

» Capacitismo: Ofender PcDs (Pessoas com Deficiências) ou usar


tain... cof!
cof! tainá:

termos relacionados a PcDs como xingamento.


joão:

larissa: joão, meu amor...


» Preconceito Social: Geralmente associado à condição financeira,
e eu? graças
onde ricos acham-se superiores aos pobres.
quadro 5: joão, sem jeito, filmado pela
a ela conversei com larissa. tainá e odara riem.
a empresa sobre os
abusos que eu sofria
por parte dos clientes e o larissa:

»joão:
Precionceito Cultural: Associados a etnocentrismo – uma etnia
hospital está fazendo
uma revista em quadrinhos
para conscientizá-los! ...quer me dar uma tainá e odara:
entrevista falando da
sua dificuldade de ser predominante, geralmente a branca – e a xenofobia – preconceito contra
um homem em
pessoas de outros países ou regiões.
e você vai .
desconstrução?
ser desenhado
na cartilha,
tainá?

» Preconceito Linguístico: Relacionado a idiomas e ao modo de


há! há!
falar, desde gírias e abreviações a sotaques.
há! hã...

» Preconceito Religioso: No Brasil são registrados atos de violência


contra centros religiosos de matriz africana muitas vezes atribuídos
a movimentos cristãos. Esta forma de discriminação é uma das mais
há! há! sérias em nosso país, por englobar vários tipos de preconceitos, como o
há!
cultural e racial.

FIM
www.quadrinhos.mpt.mp.br

Realização

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