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CRÍTICA E
CRIATIVA NOS
TEMPOS DA
PANDEMIA DO
COVID-19
Oficina Cândido Portinari: A Ciência e a Arte do Cotidiano
Título
Neurociência Crítica e Criativa nos Tempos da Pandemia do Covid-19
Coordenação
Prof. Dr. Norberto Garcia-Cairasco
Colaboração
Dra. Itiana Castro Menezes.
Enfatizamos que esse conteúdo é para fins educacionais e que, não tem o
objetivo de arrecadação, transação ou atividade comercial.
Colaboração
Dra. Itiana Castro Menezes
Edição e Revisão
Carlos Germano Souza Palú (Turma 68)
Claudio Luiz da Silva (Pós Graduação)
Jociany Lopes de Vasconcelos (Turma 67)
Lara Teles Moreira (Turma 67)
Letícia Chagas Rocha (Turma 68)
Luísa Sampaio Onofri (Turma 68)
Lucas Flores Sartori (Turma 68)
Lucas Sato (Turma 68)
Luciana Mami Kiam (Turma 68)
Pedro Pereira Prado Bagnola (Turma 68)
Raquel Assumpção Sodré Matias de Lima (Turma 68)
Revisão Geral
Prof. Dr. Norberto Garcia-Cairasco
Ribeirão Preto
2021
Sumário
Prefácio .................................................................................................................. 10
Introdução ............................................................................................................. 12
Material introdutório disponibilizado no Moodle-FMRP-USP aos alunos do segundo ano
(Turma 68) da FMRP em 09/04/2020 ..................................................................................... 12
Atividades da “Oficina Cândido Portinari: A Ciência e a Arte do Cotidiano” ...................... 16
Dicas e sugestões para a execução das atividades ............................................................. 17
Material introdutório disponibilizado no Moodle-FMRP-USP aos alunos do Cursão-Neuro em
06 de junho de 2020 ............................................................................................................... 25
Atividades da “Oficina Cândido Portinari: A Ciência e a Arte do Cotidiano” ...................... 30
Dicas e sugestões para a execução das atividades ............................................................. 31
Distribuição dos alunos durante o projeto .............................................................. 39
Leituras Sugeridas .................................................................................................. 43
Sentidos ................................................................................................................. 44
No ritmo da música ................................................................................................................. 45
Sons ......................................................................................................................................... 48
A ciência por trás dos sons ...................................................................................................... 51
Percepção dos sons: ciência e quarentena ............................................................................. 58
Nossa integração ao ambiente por meio do som ................................................................... 60
Pavlov - Releitura .................................................................................................................... 62
Audição e Audiometria............................................................................................................ 65
Audição no Contexto da Pandemia ......................................................................................... 68
Linguagem da música .............................................................................................................. 71
Aquiles ..................................................................................................................................... 74
Abrindo a porta de madrugada… ............................................................................................ 77
Reflexões sobre a surdez......................................................................................................... 79
A audição no dia a dia ............................................................................................................. 81
O sistema auditivo e a interação com o meio externo ........................................................... 84
A audição na vida rotineira ..................................................................................................... 88
A audição e a história humana ................................................................................................ 91
A importância da musicalidade ............................................................................................... 93
As Aventuras de Jojo parte 1 - Jojo e os sentidos ................................................................... 95
Música e memória................................................................................................................... 98
Os meios e as percepções do som ........................................................................................ 101
Sons do cotidiano .................................................................................................................. 105
Memória através do som ...................................................................................................... 108
A interpretação de sons durante a quarentena .................................................................... 112
Novos horizontes para a música ........................................................................................... 114
Os sons (des) percebidos no dia a dia ................................................................................... 117
Almoço em Família ................................................................................................................ 120
Audição e Imagens: diversas combinações ........................................................................... 123
A audição como um importante sistema sensorial ............................................................... 126
Movimento .......................................................................................................... 129
6
Brincadeira de criança ........................................................................................................... 130
Luna ....................................................................................................................................... 133
Movimento: aquilo que nos permite transformar o mundo ................................................ 136
Locomoção ............................................................................................................................ 140
Marcha Humana: ciência e humanidade .............................................................................. 142
Aprendizagem motora .......................................................................................................... 144
Atividade cerebral ao violão.................................................................................................. 146
Adaptação do Movimento à Nova Realidade ....................................................................... 149
Tênis de Mesa, um esporte democrático .............................................................................. 151
Mantendo a postura ............................................................................................................. 154
Aprendendo algo novo .......................................................................................................... 157
“A Neurofisiologia do Thor” .................................................................................................. 160
A neurofisiologia do exercício físico: a ciência da dança ...................................................... 163
ON e OFF............................................................................................................................... 165
A arte do movimento humano .............................................................................................. 167
A modulação da marcha no cotidiano .................................................................................. 170
Aprendizado, prática e movimento....................................................................................... 173
As aventuras de Jojo parte 2: Jojo, o sono e os controles dos movimentos ......................... 175
A imaginação do exercício físico ........................................................................................... 178
As nuances do aprendizado motor e do sono....................................................................... 180
A marcha ............................................................................................................................... 183
A marcha das espécies e a rotina .......................................................................................... 186
O controle do movimento ..................................................................................................... 190
Marcha automática e consciente em cães ............................................................................ 192
O elo entre cérebro, yoga e coordenação............................................................................. 195
A construção do Movimento................................................................................................. 198
Comparando a execução de tarefas simples e complexas de acordo com a idade .............. 201
Desafio: vigília e coordenação............................................................................................... 204
A coordenação do movimento dos seres .............................................................................. 206
Comportamento ................................................................................................... 209
Atividade em Família ............................................................................................................. 210
Café com pão......................................................................................................................... 213
Como usamos o cérebro para interagir com o meio? ........................................................... 216
Percepção Emocional ............................................................................................................ 219
Qual o valor da memória? ..................................................................................................... 221
Relações interpessoais da quarentena ................................................................................. 223
O mau perdedor .................................................................................................................... 227
Castelo de cartas ................................................................................................................... 229
Arte e neurobiologia de comportamento ............................................................................. 231
Associações no Comportamento .......................................................................................... 234
Neurobiologia Comportamental e Atividades Cotidianas ..................................................... 237
Córtices associativos no combate a doenças psiquiátricas ................................................... 240
Gatilho ................................................................................................................................... 243
Ano de vestibular, quarentena e expressão artística............................................................ 246
Um almoço de domingo e a neurofisiologia ......................................................................... 248
O futebol e as emoções ......................................................................................................... 252
Distúrbios do sono EaD ......................................................................................................... 254
7
Neurobiologia do Isolamento................................................................................................ 256
Os Córtices e os processos sociais humanos ......................................................................... 260
As aventuras de Jojo parte 3: Jojo e lesões cerebrais ........................................................... 262
Seleção natural e expressões faciais ..................................................................................... 265
O córtex, a Pandemia e o Governo ....................................................................................... 267
Atividades e habilidades........................................................................................................ 270
O efeito cortical no comportamento em atividades à distância ........................................... 274
Levi tocando flauta doce ....................................................................................................... 276
Movimentos e recompensas ................................................................................................. 278
Poema desconstruído............................................................................................................ 282
Córtices associativos e neurobiologia do comportamento: reinventando-se na quarentena
............................................................................................................................................... 285
React às diferentes imagens ................................................................................................. 287
Bloco II ................................................................................................................. 290
Sentidos & movimento - PG .................................................................................. 290
Ser Humano: The Good, The Bad and The Ugly .................................................................... 291
Sistemas sensoriais: emoções e sentimentos ....................................................................... 294
Integração sociomotora em tempos de pandemia ............................................................... 296
Repertórios sensoriais e os desafios de adaptação na pandemia ........................................ 300
Percepção sensorial em uma situação de isolamento social ................................................ 303
Sistemas Sensoriais & Integração Motora ............................................................................ 305
Equilíbrio e visão sobre rodas e neurônios ........................................................................... 308
A estimulação sensorial e a integração do comportamento ................................................ 311
O conjunto polissensorial em nossa rotina ........................................................................... 314
Os sentidos e o sentir-se seguro em meio ao isolamento social .......................................... 317
O que aprender com o distanciamento social durante a pandemia da COVID-19? ............. 320
Saudade sensorial: o despertar ............................................................................................. 323
O dia a dia de um cérebro enclausurado .............................................................................. 326
Solitude, empatia e resiliência em tempos de pandemia COVID-19 .................................... 330
Sentidos especiais em meio à pandemia: O olhar para o interior ........................................ 333
Á mesa com os sentidos aguçados em tempos de pandemia .............................................. 336
As respostas a estímulos sensoriais no cenário da pandemia COVID-19 ............................. 338
Comportamento _ PG ........................................................................................... 342
Velhos hábitos versus novas rotinas, o novo comportamento no isolamento social........... 343
Um pedaço de carne bovina ou humana? ............................................................................ 345
Do piloto automático às percepções conscientes................................................................. 349
O processamento neural complexo e a produção do comportamento em tempos de pandemia
............................................................................................................................................... 351
Estresse, emoções e a percepção do mundo ........................................................................ 354
Ansiedade no isolamento social ............................................................................................ 356
Integração sensório motora e cognitiva nas artes marciais.................................................. 359
Sorrisos sob máscaras e alegrias, socialmente, isoladas....................................................... 361
Córtices associativos, isolamento social e a pandemia do COVID-19 ................................... 363
A busca pelo equilíbrio emocional e comportamental na pandemia ................................... 367
Refletir ou não refletir? Eis a questão ................................................................................... 369
O isolamento social e a saúde mental de idosos durante a pandemia da COVID-19 ........... 373
Associações: o despertar continua........................................................................................ 376
8
Quarentena: tomografia das emoções, comportamento e cognição ................................... 378
Comportamento, cognição e isolamento.............................................................................. 381
O desafio das multitarefas em tempo de pandemia COVID-19 ............................................ 385
Mecanismos comuns, identidades distintas ......................................................................... 387
Como mudamos nossa forma de estudar durante a pandemia da COVID-19? .................... 391
O sentir físico e psíquico em tempos da pandemia do covid-19 ............................. 394
Projeto de pesquisa ............................................................................................................... 395
O sentir físico e subjetivo em período de distanciamento/isolamento social durante pandemia
de covid-19. Análise qualitativa e quantitativa ..................................................................... 395
Pósfacio ............................................................................................................... 406
Projeto Gráfico e Capa .......................................................................................... 407
ANEXOS ............................................................................................................... 410
Anexo 1 – Tabela de localidades nos mapas do Brasil e de São Paulo ................................. 410
Anexo 2 – Termo de Consentimento .................................................................................... 413
Anexo 3 – Direitos do uso de imagem/copyrights ................................................................ 415
Anexo 4 - Direitos do uso de imagem/copyrights ................................................................. 416
Agradecimentos ................................................................................................... 417
9
Prefácio
A implementação de aulas remotas na USP a partir de março de 2020, como
consequência da pandemia de Covid-19, trouxe à tona a possibilidade de modificar
drasticamente os métodos de ensino e aprendizado em todos os níveis de Educação, do
Ensino Básico/Fundamental, ao Ensino Médio, de Graduação e Pós-Graduação. No
cenário da FMRP, imediatamente após a comunicação de que deveríamos
ministrar/fornecer aos alunos aulas, recursos, conteúdos, avaliações, sem prejuízo de
conteúdos e da grade curricular, mas em cenário virtual/remoto, pensei em oferecer
uma versão diferente, muito mais humana do que acadêmica. Afinal estávamos todos
começando uma jornada que de entrada gerou muita apreensão, ansiedade e não
poucas vezes, depressão.
10
De fato, os indivíduos que preencheram planilhas, escores, escalas relacionadas
com Saúde Mental são, inicialmente, os alunos que tiveram aulas de Graduação e Pós-
Graduação mencionados acima. Este, denominado estudo piloto, atualmente em fase
de análise estatística, servirá de base para aplicar este Projeto também em escala
nacional.
***
11
Introdução
Projeto idealizado, criado e coordenado no primeiro semestre de 2020 pelo Prof.
Dr. Norberto Garcia-Cairasco, executado com 100 alunos do segundo ano de Graduação
em Medicina da FMRP-USP (Turma 68), que cursaram a Disciplina “RCG-0212 Estrutura
e Função do Sistema Nervoso”, e de 30 alunos (vários PPGs do Brasil) que cursaram a
Disciplina de Pós-Graduação “RFI5774 Integração Sensorial e Motora: Comportamento”
no Programa de Pós-Graduação em Fisiologia do Departamento de Fisiologia da FMRP-
USP.
1b. Atividade Elétrica de vias Sensoriais (Tf13) & Integração Polissensorial (Tf14);
12
como materiais complementares de estudo. Entendo claramente que não poderemos
ter uma aula convencional, mas enviarei perguntas ou receberei elas de vocês.
13
Detalhes e dicas passarei a seguir para cada aula. Para cada tema, o nível de
complexidade, questões estéticas, narração ou legendas, privilegiarão os conceitos, a
narrativa que possa ser entendida no contexto científico geral, mas ao mesmo tempo
de divulgação, esclarecimento para a Família, por exemplo, ou para a Sociedade em
geral. Entendendo que no ambiente familiar há, por exemplo, diferenças
de background educativo, idades (crianças, adultos, idosos), poderá haver restrições de
entendimento, ou pessoas com deficiências específicas sensoriais ou cognitivas. Dessa
maneira é interessante considerar também (embora não obrigatória) a confecção de
versões dos vídeos que incorporem inclusão (pelos motivos acima), quando
explicitamente detalhadas. A título de exemplo, surdez, de nascença ou por
envelhecimento, poderá estar presente na mesma família, com matizes diversos,
criança com surdez pós-tratamento com antibiótico (ototóxico), com zumbido
ou tinitus como consequência, e idoso com surdez de envelhecimento (presbiacusia).
De novo, pensem que estes vídeos poderão ser publicados na “Oficina Cândido
Portinari: A Ciência e Arte do Cotidiano”. Com isto, além de termos contribuído com o
aprendizado, do pensar crítico e criativo, de alunos de Medicina da FMRP-USP,
contribuiremos para a Divulgação Científica, desmistificação do conhecimento
científico. Isto é particularmente importante, num momento em que,
independentemente da origem geográfica, o hemisfério do planeta onde os países se
situem, sua riqueza comercial ou em biodiversidade, seu histórico de educação ou
patrimônio econômico, uma pandemia (Covid-19), produzida por uma nanopartícula
viral (Sars-CoV-2), nos lembrou que somos iguais e removeu a nossa arrogância. Nesse
cenário a Ciência e a Educação se mostram como os grandes alicerces para enfrentar o
maior desafio da Saúde Pública da Humanidade na Sociedade Contemporânea.
Tenho plena certeza de que não é o momento ideal para solicitar de vocês
concentração total, aproveitamento máximo, dadas as circunstâncias de estresse, em
alguns casos de pânico, ou dificuldade de concentração, porém a mudança de
paradigma que esta pandemia solicita inclui nossa maneira presente e futura de
enxergar o mundo e por consequência o ensino geral e o da Medicina. Não creio que
seja apenas fazermos aulas virtuais, num exercício potencialmente bem-sucedido de
educação à distância!
14
O registro das ações que aqui proponho, além de fazerem parte da Disciplina
RCG-212, poderão ser apresentadas também posteriormente na IX Semana Nacional do
Cérebro, que infelizmente e pelas mesmas circunstâncias (Covid-19) foi
cancelada/adiada neste ano. Durante vários anos (desde 2012) alunos da Liga de Neuro
da FMRP-USP, sob a minha coordenação, já participaram desta semana, que faz parte
da versão mundial da “Brain Awareness Week”, com enorme sucesso.
15
Agradeço muito que em situação tão delicada para a humanidade, possamos ter,
apesar de não estarmos cara a cara, um contato bem próximo. Contem comigo, de
verdade!
Justificativa: Com o fortuito isolamento pelo que todos estamos passando, como
consequência da Pandemia da Covid-19, percebemos o quanto a Ciência é fundamental
nas nossas vidas, ora para explicar quem somos, em que ambiente vivemos e como as
interações bidirecionais entre o homem (individual e social) e a natureza permitem que
a qualidade de vida de ambos o homem e o planeta em que ele habita, seja equilibrada,
harmonizada. Nesse contexto definimos também Saúde e Doença, de ambos, do
Planeta e do Homem!
16
nossas experiências pessoais, propomos nas Aulas que ministro na Disciplina RCG-212
Estrutura e Função do Sistema Nervoso (listadas acima) atividades didáticas
complementares que no seio das casas/famílias (circunstância única e fortuita) visem
detectar, ilustrar, explicar conceitos, conforme a sequência das aulas (7), que deverão
ser registrados em vídeos (3, conforme agrupamento abaixo) de duração de 2
minutos, e em textos (1 que acompanha cada vídeo, com extensão máxima de 2
páginas) explicativos.
Inicie fazendo uma lista de todos os tipos de sons que podem ser detectados
durante o dia e a noite estando dentro de sua casa. Classifique estes sons como naturais,
dentro destes os provenientes do homem ou de animais. Dos sons humanos consegue
classificar variações? Relação com a idade das pessoas, com o contexto cognitivo ou
emocional? Sons como agentes de comunicação? Voz, linguagem, relação com
gênero? Sem usar equipamentos ou ferramentas sofisticadas, sugira como mediria a
audição das pessoas que convivem com você.
17
aspectos emocionais, cognitivos? O que são os sons enquanto parte de sistemas de
defesa do organismo?
Uma vez que sejam identificadas todas as possíveis variações de sons, as suas
características e impacto em nossas vidas, dependendo da idade e de estados
emocionais, faça um vídeo de 2 minutos (anexe texto descritivo de até 2 páginas)
que resuma o que você acha seria a melhor representação desta experiência.
18
Enfatizo que vocês devem utilizar os slides e vídeos das Aulas “Neurofisiologia
da Audição” & “Atividade Elétrica de Vias Sensoriais – Integração Polissensorial” como
as referências acadêmicas e científicas que dão suporte as atividades complementares
em pauta.
20
de MOR). Paradoxalmente no sono MOR a atividade onírica (sonhos) é intensa (com EEG
semelhante ao da vigília).
Com toda essa retaguarda conceitual, faça um vídeo de 2 minutos (anexe texto
descritivo de até 2 páginas) que resuma o que você acha seria a melhor representação
desta experiência.
Enfatizo que vocês devem utilizar os slides e vídeos das Aulas “Controle da
Postura e do Movimento - Integração Motora” & “Regulação da Atividade Elétrica
Cerebral” como as referências acadêmicas e científicas que dão suporte as atividades
complementares em pauta.
21
elaboração de pensamento reflexivo, inibição consciente de hábitos com impacto
negativo, a percepção consciente de nosso papel e responsabilidades sociais. De
maneira genérica, o córtex frontal, agindo em conjunto com os córtices sensoriais e
motores, e os córtices associativos parietal e temporal, informam ao indivíduo
de si próprio em relação ao mundo externo. O paciente Phineas Gage é um exemplo
clássico na literatura neurológica de lesão frontal, com perda de filtro social.
22
perceber (prestar atenção) em objetos ou partes do próprio corpo ou se orientar em
relação a estímulos apresentados no campo visual contralateral à lesão, particularmente
do lobo parietal direito.
O paradoxo é que esse mesmo encéfalo e cérebro descritos acima podem ser
usados também pela nossa espécie o Homo sapiens, para executar tarefas e condutas
nada nobres, como a violência, no trabalho ou a doméstica, agressão ou desprezo no
campo individual ou social, todas elas vistas como rejeições injustificadas, tais como a
homofobia, o racismo, a misoginia, a xenofobia e o bullying, entre muitas outras.
23
Novamente o cenário atual vem à tona. O recolhimento obrigatório pela
pandemia facilita a reflexão, mas por outro lado aumenta chances de distúrbios
alimentares, aumento da ingesta de álcool (que pode potenciar violência e depressão),
incremento de dependência cibernética ou de videogames. Como utilizar essa mistura
de reflexão com atividades culturais para bem do aprendizado, sobretudo de quem
somos? Eis o desafio maior, não apenas para cada um de nós, mas para a Humanidade
como um todo.
Enfatizo que vocês devem utilizar os slides e vídeos das Aulas “Córtex
Associativo” & “Neurobiologia do Comportamento” como as referências acadêmicas e
científicas que dão suporte as atividades complementares em pauta.
Ótimas atividades complementares.
Novamente contem comigo para a sua construção!
Professor Norberto Garcia Cairasco
ngcairas@usp.br
Ribeirão Preto, 09 de abril de 2020
***
24
Material introdutório disponibilizado no Moodle-FMRP-USP
aos alunos do Cursão-Neuro em 06 de junho de 2020
Observação: Pequenas modificações foram feitas ao material original, como produto
dos acordos com os alunos ao longo do Curso.
Observação: Por favor, leiam com atenção o programa abaixo que foi adaptado
à nova modalidade, mantendo as minhas aulas, com leve mudança da sequência,
mas respeitando as datas. De fatos estas não foram modificadas, por isto deixei
essa sequência e não fiz nova numeração das aulas para não confundir!
25
Discussão: Estruturas Subcorticais: Núcleos da Base,
22.06.20
Tronco Cerebral e Cerebelo 14:00 h
2a. feira
Perguntas-Resolução de dúvidas (NGC)
22.06.20 Discussão: Integração Motora I
16:00 h
2a. feira Perguntas-Resolução de dúvidas (NGC)
23.06.20 Aula: Comportamento. Córtex
8:00 h
3a. feira Associativo & Neurobiologia do Comportamento (NGC)
Discussão: Integração Sensório-Motora
25.06.20 Apresentação de Vídeos e entrega de textos: “Sistemas
10:00 h
5ª. Feira Sensoriais & Integração Motora” –
Veja Contexto e Instruções abaixo (NGC)
26.06.20
Discussão Geral 1 (NGC, GAL, EC) 14:00 h
6ª. Feira
Discussão:
03.07.20
Apresentação de Vídeos e entrega de textos: “Córtex 10:00 h
6ª feira Associativo & Neurobiologia do Comportamento” –
Veja Contexto e Instruções abaixo (NGC)
03.07.20
Discussão Geral 2 (NGC, GAL, EC) 14:00 h
6ª. Feira
26
claramente que não poderemos ter uma aula convencional, mas enviarei perguntas ou
receberei elas de vocês.
Tenho plena certeza de que não é o momento ideal para solicitar de vocês
concentração total, aproveitamento máximo, dadas as circunstâncias de estresse, em
alguns casos de pânico, ou dificuldade de concentração, porém a mudança de
paradigma que esta pandemia solicita/inclui à nossa maneira presente e futura de
enxergar o mundo e por consequência o ensino geral e o das Ciências, entre elas a
Fisiologia. Não creio que seja apenas fazermos aulas virtuais, num exercício
potencialmente bem-sucedido de educação à distância!
28
O registro das ações que aqui proponho, além de fazer parte da Disciplina RFI-
5774, poderá ser apresentado também posteriormente em eventos de divulgação
científica, de caráter nacional ou internacional, como a IX Semana Nacional do Cérebro,
que infelizmente e pelas mesmas circunstâncias (Covid-19) foi cancelada/adiada neste
ano. Durante vários anos (desde 2012), alunos da Liga de Neuro da FMRP-USP e cada
vez mais alunos de vários Laboratórios de nosso PPG em Fisiologia, com o nosso
constante incentivo e coordenação, já participaram com enorme sucesso, desta semana
que faz parte da versão mundial da “Brain Awareness Week”.
29
conhecermos melhor. Por isso, certamente esta experiência será muito mais valiosa
que a memorização de eventuais conteúdos, com potencial obsolescência rápida, mas
que muitas vezes representam pouco aprendizado da nossa natureza humana, da qual
não poderemos prescindir! Agradeço muito que em situação tão delicada para a
humanidade, possamos ter, apesar de não estarmos cara a cara, um contato bem
próximo. Contem comigo, de verdade!
30
Objetivos: Tendo o contexto acima mencionado como o gatilho para a
criatividade e o aprendizado, nos melhores laboratórios que são: nosso organismo,
nosso cotidiano e nossas experiências pessoais, propomos nas Aulas que ministro na
Disciplina RFI-5774 INTEGRAÇÃO SENSORIAL E MOTORA - COMPORTAMENTO (listadas
acima) atividades didáticas complementares que no seio das casas/famílias
(circunstância única e fortuita) visem detectar, ilustrar, explicar conceitos, conforme a
sequência das aulas (7), que deverão ser registrados em vídeos (2, conforme
agrupamentos abaixo) de duração 2 minutos, e em textos (2, que acompanham cada
vídeo, com extensão máxima de 2 páginas) explicativos.
31
consequências intratáveis? Relação entre presença de sons naturais e artificiais e
aspectos emocionais, cognitivos? O que são os sons enquanto parte de sistemas de
defesa do organismo?
32
Complementando todos os aspectos sensoriais acima mencionados, seu
processamento e controle com aqueles do controle da postura e do movimento, faça a
seguinte reflexão inicial: Você reconhece que em nosso dia a dia andamos/vivemos em
proporção muito alta (perto de 70-80%) no piloto automático? Seria isto uma
exageração? Mas o que é mesmo o piloto automático? Pensem, no momento desta
leitura quantos de vocês estão respirando? Espero que 100%! Antes da minha
pergunta, quantos de vocês, de fato, estavam cientes de que estavam respirando? A
diferença é o piloto automático! Que ótimo que tenhamos Sistema Nervoso Autônomo,
Marcapassos Cerebrais, Respiratórios, Cardíacos, mas que sabidamente são modulados
pelo nosso Cérebro Cognitivo (Córtex Frontal)!
33
do tronco cerebral, do cerebelo, dos núcleos da base e do córtex cerebral. Esses sistemas
sofrem as influências do ambiente, respondem com plasticidade à sua execução
repetida, tem memória. Em diferentes circunstâncias vários desses sistemas falham e as
manifestações neurológicas poderão ir de atonias, simples tremores,
quadros distônicos, marchas atáxicas, compulsões, até crises convulsivas, entre tantas
outras.
Com toda essa retaguarda conceitual, façam o Vídeo I (nem mais, nem menos 2
minutos) e o Texto I (nem mais, nem menos que 2 páginas) que resuma o que você
acha ser a melhor representação desta experiência. Enfatizo que vocês devem utilizar
os slides e vídeos e discussões das Aulas “Audição” & “Olfação e Sistema Límbico”;
todas as aulas associadas com “Controle da Postura e do Movimento” como as
referências acadêmicas e científicas que dão suporte as atividades complementares
(Vídeo I e Texto I) em pauta.
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No caso do córtex associativo parietal é importante lembrar, quando se pensa
em procurar estes aspectos no cotidiano, no ambiente familiar, que estes circuitos ou
redes estão envolvidos em processos de atenção. Embora suas lesões se reflitam nos
déficits das síndromes de negligência contralateral, curiosamente não há déficits
primários sensoriais nem motores que impeçam que estes indivíduos vejam ou sintam
seus corpos ou objetos em volta. Por outro lado, eles podem apresentar dificuldade em
perceber (prestar atenção) em objetos ou partes do próprio corpo ou se orientar em
relação a estímulos apresentados no campo visual contralateral à lesão, particularmente
do lobo parietal direito.
O paradoxo é que esse mesmo encéfalo e cérebro descritos acima podem ser
usados também pela nossa espécie o Homo sapiens, para executar tarefas e condutas
nada nobres, como a violência, no trabalho ou a doméstica, agressão ou desprezo no
campo individual ou social, todas elas vistas como rejeições injustificadas, tais como a
homofobia, o racismo, a misoginia, a xenofobia e o bullying, entre muitas outras.
36
epigenéticos, a Neurobiologia do Comportamento como evento multifatorial,
certamente nos permite refletir sobre quem somos e quanto do que decidimos ser
depende ou não de nós (e quanto podemos mudar ativamente), e de ambientes para o
desenvolvimento, enriquecidos ou não. As Artes e a Neuro(Ciência) conjugadas nos
auxiliam nesta avaliação.
Com toda essa retaguarda conceitual, façam o Vídeo II (nem mais, nem menos
que 2 minutos) e o Texto II (nem mais, nem menos que 2 páginas) que resuma o que
você acha seria a melhor representação desta experiência. Enfatizo que vocês devem
utilizar os slides e vídeos das Aulas “Córtex Associativo” & “Neurobiologia do
Comportamento” como as referências acadêmicas e científicas que dão suporte as
atividades complementares (Vídeo II e Texto II) em pauta.
***
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Observação final válida para a programação dos alunos da Medicina e da PG. Todos as
aulas e todos os vídeos foram apresentados em atividade síncrona para as duas classes.
As apresentações dos vídeos também fizeram parte da avaliação que incluiu
comentários e diálogo entre o Docente e os alunos responsáveis. Experiência de
intercâmbio e aprendizado para todos, fora de série!
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DISTRIBUIÇÃO DOS ALUNOS DURANTE O
PROJETO
Mapas de distribuição dos lugares onde se encontravam no primeiro semestre
de 2020 os alunos da Turma 68 da FMRP-USP (azul) e os alunos da PPG-
Fisiologia (vermelho) no Brasil e no Estado de São Paulo, durante as aulas das
disciplinas objeto deste Projeto.
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Figura 1 Distribuição dos alunos de Graduação (Turma 68 da Medicina) e Pós-Graduação (Curso de Neurofisiologia) da FMRP-USP no ano de 2020 pelo
Brasil
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Figura 2 Mapa de calor (heat map) do Brasil e do Estado de São Paulo referente aos alunos de Graduação (Turma 68 da Medicina) e Pós-Graduação (Curso de
Neurofisiologia) da FMRP-USP no ano de 2020.
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Figura 3 Detalhamento da distribuição dos alunos de Graduação (Turma 68 da Medicina) e Pós-Graduação (Curso de Neurofisiologia) da FMRP-USP no ano de
2020 no Estado de São Paulo e Região.
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Leituras Sugeridas
BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: Desvendando o
sistema nervoso. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
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No ritmo da música
Vídeo disponível neste hiperlink
Alexia Viegas
Passando a quarentena na Serra de São Pedro, região rural e bucólica de uma
pequena cidade no interior de São Paulo, tenho a oportunidade de desfrutar de sons
muito distintos daqueles que me rodeavam na cidade de Ribeirão Preto. Aqui, a
convivência com a natureza e a presença da família, além da distância de um centro
urbano, parece diminuir a ansiedade e a angústia proporcionadas pelo desenvolvimento
e pelos desdobramentos da pandemia de Covid-19.
Uma vez que os centros urbanos têm se mostrado como o principal palco do
desenrolar das tragédias causadas pela disseminação de coronavírus, acredito que a
vida no campo possa ser muito benéfica, seja pela menor probabilidade de contágio,
devido à menor densidade populacional, seja pelos elementos naturais que se opõem à
poluição e à artificialidade das grandes cidades e que nos transportam para um estado
de calmaria.
Os sons da natureza são, certamente, um dos fatores que mais a caracteriza, pois
são muito diferentes dos sons presentes na cidade. Dentre os sons naturais percebidos
durante o dia, é marcante a presença do canto dos pássaros, do barulho do vento entre
as folhagens das plantas e de latidos dos cachorros, fora da casa. Dentro da casa, há
também sons naturais como a interação entre as pessoas da família (minha mãe, meu
irmão e meu padrasto) e o barulho das brincadeiras do meu irmão.
Dentro da casa e durante o dia também há sons artificiais, como uma caixa de
som ligada, eletrodomésticos como o liquidificador e o aspirador de pó. Fora da casa,
certas vezes o cortador de grama também ajuda a compor os barulhos do dia.
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Dentre os sons artificiais e noturnos, existem os sons da televisão, sons da
atividade na cozinha, como o barulho da manipulação de talheres, pratos, etc.
Entretanto, o som que está presente ao longo do dia em maior quantidade vem
do meu irmão, um divertido garotinho de seis anos de idade que está sempre
inventando algo para fazer. Para ele, e com ele, os problemas atualmente enfrentados
pela humanidade se sublimam e eu aprendo com sua mente infantil a me concentrar no
presente.
Além de meu irmão, tenho convivido com minha mãe e meu padrasto. Este
período em casa tem sido a primeira oportunidade para conviver com ele e conhecê-lo
melhor. Por ter trabalhado durante muitos anos como piloto de helicóptero, meu
padrasto desenvolveu uma leve perda auditiva e um zumbido devido a uma
hiperexposição aos barulhos da aeronave.
Tendo em vista que a capacidade auditiva entre os membros da casa difere, seria
possível medir a audição de cada pessoa através de um simples teste: posicionada ao
lado da pessoa a ser testada, eu estalaria os dedos para produzir um som e,
progressivamente, me afastaria da pessoa estalando os dedos novamente a cada passo.
Dessa forma, me afastaria da pessoa até que os estalos não fossem mais audíveis. A
pessoa que fosse capaz de ouvir os estalos por mais tempo, ou seja, que fosse capaz de
ouvir o som a uma distância maior, seria aquela com a maior capacidade auditiva,
enquanto a pessoa que parar de ouvir os estalos a uma distância menor, seria aquela
com menor capacidade auditiva, que, no caso, mais provavelmente seria meu padrasto.
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externo, encontra-se o tímpano, ou membrana timpânica, que vibra com a chegada da
onda sonora. A membrana timpânica se encontra posicionada entre o meato acústico
externo e a orelha média.
A orelha média é uma cavidade aérea dentro do osso temporal, e em seu interior
há uma cadeia de três ossículos: martelo, bigorna e estribo. O martelo se encontra fixado
na face interna da membrana timpânica e o estribo se situa encostado na janela oval,
também chamada de janela vestibular da cóclea. A música que meu irmão escuta produz
uma vibração na membrana timpânica, o que provoca deslocamentos na cadeia
articulada de ossículos. Ao se deslocar, o estribo desloca a coluna líquida no interior da
orelha interna, onde está a cóclea.
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envia informações sobre como segurá-la e informações proprioceptivas permitem a
manutenção de sua postura sentada sobre o banco. As áreas de integração
plurissensorial no córtex cerebral são as áreas 7a, 7b, 39 e 40 de Brodmann. Isso tudo
auxilia no planejamento motor que culmina na movimentação voluntária de seu braço
e de sua mão, para que ele consiga bater no prato da bateria aproximadamente no
mesmo momento em que a música emitida pela caixa de som atinge os sons mais
intensos.
Concluindo, no meu dia a dia durante o isolamento social tenho vivenciado sons
diversos, que podem ser desde o calmo barulho do vento do campo até a mais intensa
música de rock tocada pelo meu irmão na bateria. Os sons são parte muito importante
para nossa percepção do ambiente e estão intimamente relacionados com nosso estado
de espírito.
Sons
Vídeo indisponível
Inajara Mills Siqueira Shimizu
Um apartamento localizado no nono andar que fica defronte a uma rua
localizada no centro da cidade de Campinas (SP) é costumeiramente movimentada, com
muita circulação de carros e pessoas no horário do “rush”, por volta das 18 horas. No
entanto, no contexto da pandemia mundial devido ao COVID-19, algumas mudanças
podem ser observadas com relação ao som circundante e à movimentação de pessoas.
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Deste modo, ao se deparar com a primeira parte do referido vídeo, tem-se o
registro dos sons dos automóveis ao pôr-do-sol, no entanto, os mesmos são rompidos
por um som pouco comum em um dia normal, na hora do “rush”, e ouvido geralmente
aos domingos ou feriados, tal som é a cantoria de pássaros se despedindo do dia. O
canto dos pássaros, por sua vez, me leva a questionar: estaríamos vivendo um eterno
feriado? Os pássaros cantando, me incomoda, me preocupa, me intriga? Não era para
estar ouvindo pássaros cantando num dia como hoje. Tal pensamento é então invadido
por um alarme ao longe (uma campainha de garagem que indica que tem alguém
entrando ou saindo de algum lugar), penso: que bom, existe movimento, existe vida! E
ao mesmo tempo: por que essas pessoas estão nas ruas? Elas deveriam estar em casa!
Estamos em isolamento social! E um misto de sentimentos rompe novamente e neste
instante vejo carros passando, pessoas caminhando, alguém passeando com o
cachorro… Me surpreendo novamente, desta vez enquanto edito o vídeo, reparo o som
de alguém digitando em um teclado. Recordo que meu marido estava trabalhando neste
dia, sentado a poucos metros de onde eu estava filmando e de onde fica minha
escrivaninha, local onde tenho passado a maior parte dos meus dias estudando. Recordo
que, apesar do vírus, a vida não parou, temos que seguir, temos que trabalhar, estudar,
comer, dormir, cumprir tarefas, entregar trabalhos, produzir, produzir e produzir: não
podemos parar. Passa das 18 h, o expediente aqui em casa não termina, ele segue seu
fluxo de horários bagunçados e rotina restrita a alguns poucos metros quadrados de um
apartamento, de um quarto. Penso, hoje, enquanto revejo o vídeo e escrevo, estamos
parados, restritos, mas será que podemos parar?
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Para mim, os sons que chegavam aos meus ouvidos foram interpretados pelo meu
coração como uma marcha fúnebre, como uma despedida a todos os mortos pelo
COVID-19 aos quais as famílias, que não puderam, de forma digna, dizer as últimas
palavras ou se despedir de seus entes queridos. Percebe-se que os músicos desafinam,
retomam, se ajustam, se comunicam entre si por meio da música. Ao final, uma chuva
de aplausos, gritos e assovios… percebo que tem muito mais gente em isolamento,
muito mais pessoas vivenciando essa pandemia, muito mais do que sou capaz de prever
e imaginar. Os aplausos trazem uma certa alegria, no entanto, não me sinto feliz, nem
no dia, nem hoje que estou aqui descrevendo este vídeo. Há algo triste no ar, difícil de
nomear, o coração não cabe no peito e acelera, desejando que tudo volte ao normal,
que os velhos sons voltem aos seus lugares e que a vida se desenhe como estava
acostumada ao que era.
Neste sentido, os sons captados por esse registro, comunicam e confirmam que
algo está diferente, comunicam que as pessoas estão em casa, não porque querem, mas
sim por necessidade. Nos falam sobre a falta, no caso, do movimento, do barulho, das
freadas, das buzinas, do “zum zum zum” das conversas. Nos falam de um silêncio que
não tem dia nem hora para acabar.
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Já com relação à avaliação da audição dentro do contexto familiar, pode-se
chamar por quem está perto quando a pessoa está de costas para ver se ela responde,
utilizando diferentes intensidades na voz. Além disso, pode-se perguntar se ela
consegue perceber determinado som, como os pássaros cantando, o carro passando, a
conversa no apartamento vizinho. No contexto da clínica, em uma avaliação formal, no
caso de uma criança, pode-se tocar um chocalho quando ela não está olhando a uma
distância específica e avaliar se ela vira o rosto em direção ao som. Ademais, podem-se
utilizar equipamentos específicos, em testes realizados por fonoaudiólogos, como a
audiometria que avalia não só se a pessoa ouve, mas também as frequências,
intensidades e a acuidade de sua audição. Com relação às diferenças entre a audição de
crianças, adultos e idosos, é possível identificar a perda da acuidade auditiva ao longo
dos anos.
Por fim, os sons que nos circundam podem alterar nossa percepção sobre o
mundo, nos alertam das mudanças e se algo está errado, auxiliando na nossa
compreensão sobre nós mesmos.
O som captado pelo pavilhão auditivo percorre o meato acústico externo até a
membrana timpânica, cuja superfície medial está conectada aos ossículos da orelha
média, que amplificam e transferem a pressão para a membrana que cobre a janela oval.
O músculo tensor do tímpano está ligado ao martelo, enquanto o músculo estapédio se
liga ao estribo. A contração desses músculos enrijece a cadeia de ossículos e o impacto
da condução do som, agora transduzido, ao ouvido interno diminui. Isso ocorre quando
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um som barulhento dispara uma resposta neural, denominada reflexo de atenuação,
maior para frequências baixas e cuja função é adaptar o ouvido ao som contínuo de alta
intensidade, evitando a saturação dos receptores no ouvido interno, além de proteger
o ouvido de sons que poderiam danificá-lo. Isso, porém, é ineficiente contra sons
intensos e repentinos (o reflexo tem um retardo). A movimentação da membrana sobre
a janela oval empurra a perilinfa na escala vestibular, aumentando a pressão do fluido.
Como a membrana de Reissner é muito flexível, isso causa deslocamento da endolinfa
na escala média, fazendo a membrana basilar movimentar-se próximo à sua base, mais
rígida, e iniciando a propagação de uma onda em direção ao seu ápice, menos rígido. A
distância que a onda percorre na membrana basilar depende da frequência do som. Se
for alta, a base da membrana vibrará muito, dissipando a maior parte da energia. Se for
baixa, gera ondas que se propagarão até o ápice flexível da membrana antes que a maior
parte da energia tenha se dissipado. Assim, a membrana basilar estabelece um código
de localização, pois suas diferentes posições estão deformadas ao máximo para
diferentes frequências do som.
A maior parte da informação que deixa a cóclea pelo nervo auditivo provém de
células ciliadas internas. A função das células ciliadas externas é a amplificação do
movimento da membrana basilar durante os estímulos sonoros de baixa intensidade.
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Isso é possibilitado por proteínas motoras na membrana dessas células, capazes de
alterar seu comprimento de modo que a membrana basilar é aproximada ou afastada
da membrana tectorial, permitindo maior deslocamento dos estereocílios das células
ciliadas internas. Esse efeito pode ser modificado por fibras provenientes do tronco
encefálico, que regulam, assim, a sensibilidade auditiva. Cada neurônio do nervo coclear
é mais responsivo a uma frequência característica, pois a maioria recebe aferência de
uma única célula ciliada. A frequência também é codificada (além dos
mapas tonotópicos) pela sincronia de fase, isto é, o disparo consistente de uma célula
na mesma fase de uma onda sonora, de forma que a frequência sonora deve ser igual à
frequência dos potenciais de ação do neurônio. Isso é particularmente importante para
frequências baixas e irrelevante para frequências muito altas. A informação sobre a
intensidade do som é codificada pela frequência de disparos e número de neurônios
ativos, pois, para estímulos intensos, a membrana basilar vibra com maior amplitude,
causando uma maior resposta das células ciliadas. Esses estímulos também produzem
movimentos da membrana basilar que se propagam mais, levando à ativação de mais
células ciliadas.
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NGM também recebem influxos visuais e somatossensoriais, para integração sensorial,
despertar de interesse e sentimentos.
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comportamentais (respostas espontâneas como sorriso, choro, vocalização, cessações
de atividades e localização da fonte sonora) e neurológicas (presença do reflexo cócleo-
palpebral) a instrumentos musicais com diferentes frequências e intensidades. Em outro
exame, a audiometria, são apresentados estímulos sonoros de tons puros em diferentes
frequências e intensidades para identificação do paciente (audiometria tonal), além de
palavras simples para avaliar o reconhecimento da fala (audiometria vocal). Avaliações
objetivas incluem a timpanometria, na qual se introduz uma sonda de vedação no meato
acústico externo, capaz de emitir um tom puro de 220 Hz e cria-se pressão negativa e
positiva em direção à membrana timpânica, a fim de avaliar sua complacência.
Na impedanciometria pesquisa-se o reflexo estapediano em diversas frequências para
determinação do seu limiar. O teste de “potenciais auditivos evocados no tronco
encefálico” representa graficamente a sucessão dos potenciais elétricos gerados no
nervo coclear e tronco encefálico a partir de um estímulo acústico, podendo identificar
o tipo e o nível de perda auditiva e em quais frequências ela ocorre.
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É possível observar que a percepção dos sons ocorre de maneira distinta de dia
e de noite, principalmente porque os sons naturais que ocorrem ao longo do dia, como
o cantar de pássaros ou o latido de cães são reduzidos ou cessados à noite. No que diz
respeito aos sons artificiais, esses são percebidos mais facilmente devido à maior
produção pelos seres humanos e por serem sons com características mais intensas. Por
exemplo, sons de utensílios domésticos (microondas, máquinas de lavar,
liquidificadores, etc) ou ainda ferramentas (martelos, furadeiras, entre outros) ou
automóveis, são percebidos mais facilmente que os sons naturais. A permanência
prolongada e intensidade desses sons são as principais causas da poluição sonora, que
pode ter um efeito deletério sobre a audição humana, causando surdez. A percepção
auditiva dos diversos sons propagados no ambiente é responsável por desencadear
ações no sistema límbico, provocando respostas comportamentais e emocionais àquilo
que é ouvido. Do ponto de vista da defesa do organismo, o sistema auditivo já teve uma
importância maior quando o ser humano era um ser caçador/coletor, sendo muito
importante para a percepção de presas ou para a fuga de predadores. Atualmente, ainda
tem sua importância em determinadas situações, por exemplo, na percepção de um
carro prosseguindo na direção de uma pessoa, capacitando-a de desviar do automóvel.
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intensos. Isso ocorre devido à penetração de fibras auditivas na formação reticular,
ativando vias que culminam nesses movimentos. No ambiente familiar, é possível citar
um exemplo dessa integração relacionando-a com o sistema límbico. Por exemplo, ao
ouvir ou ver o portão de casa sendo fechado, um filho é capaz de sentir o saudosismo
de quando saiu da casa de seus pais e passou a morar sozinho; ou ainda, a redução do
barulho nas ruas na atual fase lembra da situação de isolamento social vivida.
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Percepção dos sons: ciência e quarentena
Vídeo indisponível
Otávio Monteferrante
Ronaldo P. Brito Filho
A ciência define os sons como variações audíveis na pressão do ar. Essa definição
simples e racional possui enorme relevância para as ciências exatas e biológicas,
permitindo o entendimento de distintos fenômenos naturais. Entretanto, tamanha
simplicidade e racionalidade acabam por acobertar, para não dizer negligenciar, o real
e verdadeiro valor de mundo que os sons possuem. Para o ser humano, as reverberações
da audição transcenderam os aspectos da pura sobrevivência. Por meio da fala e da
audição, amores são jurados para sempre, amigos podem contar como foram seus dias,
médicos podem trazer conforto ao paciente e a seus familiares, e sociedades se
organizam. Do mesmo modo e infelizmente, discursos podem desencadear conflitos e
segregações sociais, ofensas pessoais e fake news; fenômenos esses que ganharam
amplitudes ainda maiores com a disseminação dos meios de comunicação em massa, e
que pioram o estresse mental, coletivo e individual, no cenário da pandemia da COVID-
19.
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abertura de canais de cálcio dependentes de voltagem. O influxo de cálcio leva à
liberação de neurotransmissor das vesículas sinápticas, fenômeno que culmina com a
geração de potenciais de ação na divisão coclear do VIII par de nervos cranianos.
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por exemplo, a intensidade do som do tráfego de veículos, que é maior nos horários de
pico, como o início da manhã e o finalzinho da tarde.
Ademais, um aspecto importante dos sons é que eles podem significar coisas
totalmente diferentes, a depender do momento, local e background de quem os
está ouvindo, pois o sistema auditivo se articula com os sistemas límbico e de memória
no córtex, permitindo a geração de memórias afetivas relacionadas aos sons. O fato de
que um simples despertador pode nos trazer diferentes sentimentos, a depender
apenas do dia, é um grande exemplo de nossas rotinas. Assim também, o silêncio pode
ter diferentes significados a depender do contexto, podendo ser desde aliviador a
até mesmo desesperador, ensurdecedor e arrasador. E esses são apenas alguns
exemplos de como esse sentido ao qual estamos tão acostumados é extremamente
importante e presente no nosso dia a dia, de modo que a perda ou mesmo o menor
dano no complexo sistema que nos permite ouvir é algo que nem mesmo passa na nossa
cabeça, mas pode mudar completamente o modo como vivemos.
61
para isso é que os humanos não possuem regeneração de células ciliares da cóclea, que
se desgastam ao longo de toda vida e vão se tornando cada vez menos eficientes.
Assim, ao longo deste texto, destacamos apenas algumas das mais diversas
formas em que a audição se torna presente e imprescindível no nosso dia a dia,
um sentido tão importante quanto qualquer outro para que sejamos capazes de manter
nosso estilo de vida.
Pavlov - Releitura
Vídeo disponível neste hiperlink
Gabriel Karia Araújo
Gabriel Rodrigues Pinheiro França
O primeiro clipe do vídeo demonstra a perda da capacidade auditiva com a idade.
Mediante o barulho feito pelo pacote de ração, a cachorra mais nova vira o rosto
imediatamente para a fonte de estímulo sonoro, enquanto a cachorra mais velha
62
apresenta dificuldade, inicialmente, de ouvir o som, e, depois, de localizar a fonte
sonora.
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interna, visto que a exposição prolongada a sons pode danificar as células ciliadas da
cóclea, que realizam a transdução de estímulos sonoros em sinais elétricos.
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A confirmação visual da presença do gato intensificou ainda mais essa resposta.
Assim como estímulos auditivos geram ondas chamadas PEA no córtex, o estímulo visual
gerou ondas denominadas potenciais visuais evocados (também detectáveis por um
EEG). As informações visuais, por sua vez, foram captadas pela retina e transportadas
através do nervo óptico, passando pelo quiasma óptico, pelo corpo geniculado lateral,
e depois pelo trato óptico até chegarem no lobo occipital, onde ocorreu o
processamento e a formação da imagem do gato. A integração dos estímulos auditivos
e visuais, portanto, foi necessária para a resposta de ataque da cachorra.
Audição e Audiometria
Vídeo disponível neste link
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vivíamos, era inimaginável um dia em que a Terra realmente parasse, como dizia Raul
Seixas em sua canção. Entretanto, esse dia chegou.
Podemos evidenciar que a expressão “a cidade pulsa” está certa, e ela pulsa sim
ao som dos carros, motos, caminhões, construções, alarmes, ferramentas, buzinas e,
também, aos sons da natureza, que por muitas vezes não são notados na correria do
nosso dia a dia, mas que renasceram nesses dias de isolamento.
O silenciamento dos sons dos carros e do homem trouxe uma renascença dos
sons advindos da natureza, como o canto dos pássaros, o latido dos cachorros, o barulho
de água em matas, entre outros. Esses sons trouxeram consigo um misto de calmaria da
natureza, em meio ao caos instaurado por conta do Coronavírus, com mudanças bruscas
na rotina de todos, ocasionando em muitos, o afloramento de problemas que ficavam
encobertos com a intensa rotina das nossas vidas.
67
e não oferece risco para o nosso Sistema Auditivo. Já quando o “volume” da televisão é
de 35 u.a., tem-se uma condição de aproximadamente, 75 db, sendo próximo ao som
de fábricas e de processadores de alimentos, podendo, assim, causar danos à acuidade
auditiva.
Por fim, é válido reforçar que se trata de um teste com um conjunto de variáveis
e que é apenas uma alternativa simplória para a audiometria, sendo que em
momento alguma dispensa o acompanhamento com um profissional. Além disso, fica
como lição para o nosso futuro o que esse isolamento nos propõe, um momento de
reflexão sobre o estilo de vida que vivemos, quando podemos aprender que os sons da
natureza podem sim sobrepujar os sons da vida urbana, basta nós fazermos a nossa
parte, adotando medidas que diminuem a poluição auditiva, propondo, assim, uma vida
mais sustentável.
68
mundo, nosso cotidiano e aspectos rotineiros de nossa vida, mas também de como o
sentimos, em seu sentido mais literal.
Assim, notamos que a complexidade das vias sensoriais se torna ainda mais
evidente, especialmente no que tange aos mecanismos de seu funcionamento. Os
poderosos e numerosos sistemas de captação, transdução, transmissão, processamento
e integração das informações sensoriais foram de importância fundamental durante
toda a jornada evolutiva humana, não apenas no que se refere aos aspectos de
sobrevivência - como a percepção da presença de predadores, seja por estímulos
sonoros ou visuais, pela sensação de dor ao ter a mão queimada pelo fogo - mas também
no que tange à contemplação da natureza. Imaginemos o maravilhamento do primeiro
homem que observou as Cataratas do Iguaçu ou o Grand Canyon; no que tange a
contemplação de nossa própria criação, lembremos de um monumento cuja
grandiosidade é de tirar nosso fôlego, obra de arte que entorpece nossos sentidos por
sua beleza ou complexidade, e música que nos leva a profundas alterações de humor.
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nos deleitávamos (e. g uma mesma música ouvida inúmeras vezes ao longo da
quarentena). Ou seja, começamos a ouvir o mundo de forma nova. Ao analisarmos de
forma mais profunda essa questão, obtemos que o cenário inédito propiciado pelo
isolamento tornou alterações na percepção auditiva não pela ampliação dos canais de
potássio de nossas células ciliadas ou pela queda do limiar de excitabilidade da porção
coclear do nervo vestibulococlear, mas, muito provavelmente, pela forma com que
nosso encéfalo processa e integra essas informações que, embora há muito tempo
recebamos, começamos a sentir de forma distinta.
70
responsável por criar um ritmo festivo são responsáveis por causar no espectador um
estado de paz e bem estar, como observado nas personagens.
Dessa forma, observamos que o áudio somado à imagem, com notável distinção
de sua atividade elétrica entre situações diferentes e modulado por meio de nossas
memórias (e. g. correlação de uma paisagem campestre a algo agradável e a observação
de uma matilha de lobos se aproximando ferozmente a algo desagradável) são
responsáveis por proporcionar ao espectador respostas involuntárias distintas, de forma
que, durante o filme, estes sejam colocados, não só psicologicamente no lugar do
personagem devido à narrativa, mas também em certo ponto de forma fisiológica,
embora em intensidades menores em parte dos casos. Ressaltamos também a
importância dos sentidos e as variações de sua atividade em nosso cotidiano, tornando
a reflexão, possibilitada por esse período distinto de nossas vidas, igualmente única.
Linguagem da música
Vídeo disponível neste hiperlink
71
possível devido ao modo como o aparelho auditivo funciona, mas especificamente, na
habilidade e sensibilidade de diferenciar as frequências sonoras. Primeiramente, a onda
mecânica chega no pavilhão externo e se encaminha pelo meato acústico externo até
chegar no tímpano, que divide o ouvido externo e ouvido médio. O choque mecânico faz
o tímpano vibrar, que por consequência, transmite o sinal para, nessa sequência,
martelo, bigorna, estribo e janela oval, amplificar o sinal para o ouvido interno. Atrás da
janela oval está a cóclea preenchida por fluido (endolinfa), a qual contém o
mecanismo que transforma o movimento físico da membrana da janela oval em um
movimento da endolinfa. O movimento da endolinfa, faz a membrana basilar
movimentar-se próximo a sua base e inicia a propagação de uma onda em direção ao
ápice. A distância que a onda percorre na membrana basilar depende da frequência do
som. Se a frequência for alta, a base mais rígida da membrana vibrará muito, dissipando
a maior parte da energia, e a onda não se propagará para muito longe. Sons de baixa
frequência, geram ondas que se propagarão até o ápice flexível da membrana antes que
a maior parte da energia tenha se dissipado. Essa organização da cóclea gera um
mecanismo de decomposição do som em diferentes frequências, que se traduz em
sinais que caminham pelo ramo coclear do nervo vestíbulo-coclear (VIII) até os núcleos
cocleares. Todo esse mecanismo é responsável pela habilidade de afinar instrumentos
apenas com os ouvidos, pois quando se toca uma corda, a pessoa bem treinada, pode
identificar qual a frequência daquele som e, assim, através da afinação, fazer o som da
corda se igualar à de determinada frequência de uma nota específica, como mostrado
no início do vídeo, com a afinação do baixo elétrico.
72
geram modificações no registro do EEG. Contudo, as ondas de registro de PEA são muito
menores que o registro final do EEG e são invisíveis. Analogamente, o registro de PEA
são como ondas geradas por uma pedra jogada num corpo d’água, facilmente
percebidas em um lago; no mar, porém, cheio de ondas, a informação do movimento
das águas causada pela pedra torna-se imperceptível, mascarada pelo movimento
natural do mar. Assim, é necessário que tal informação passe por um filtro na
medição do eletroencefalograma, chamada de promediação do EEG, que identifica
padrões de estímulos similares, uma vez que o PEA será constante para todos os
estímulos, pois é sincronizado com o estímulo, enquanto o ruído de fundo varia
completamente no exame e pode ser anulado por esse processo.
73
Aquiles
Vídeo disponível neste link
Athos Ferroni
Joaquim Miranda
Sendo desenvolvido pela evolução ao longo de milhares de anos, o sistema
auditivo é um dos mais elegantes sensores corporais dos metazoários (animais). Ele
conecta as energias e vibrações do meio externo para o reconhecimento neural por um
método muito gracioso e único.
Mas não nos enganemos, não se pode deixar, por um momento sequer, que a
arrogância humana suba à cabeça. A audição e a compreensão respectiva não são
74
restritas aos humanos, diversos outros seres, com os quais compartilhamos a biosfera,
têm tais capacidades. Pois é quando se esquece do meio holístico que as maiores
desgraças que a humanidade presenciou ocorreram. O holocausto ocorreu quando nos
esquecemos que etnias diferentes são tão importantes quanto a nossa, quando são
vistas como inferiores; o mesmo vale para a escravidão passada, para o racismo
presente, para a destruição ambiental e extinção em massa de espécies que se reserva
no futuro.
O Canis familiares é uma espécie que acompanha o ser humano desde os seus
primórdios. E para a coexistência deles conosco, foram capazes de estabelecer
uma linha de comunicação e compreensão única de sons e até mesmo palavras!
75
em seu ápice, em baixas frequências (sons graves). Tal movimento da membrana basilar
segue-se de um movimento diferenciado da membrana tectorial, local de inserção dos
estereocílios das células ciliadas; tal movimentação diferenciada promove a abertura
mecânica de canais de potássio (K+) e cálcio (Ca+) que resultam na despolarização
da célula sensorial e potencial de ação.
Assim, é muito claro que Aquiles possui um sistema auditivo muito parecido
com o nosso, e pode, como nós, aprender, ouvir e ensinar. Ele também sente emoções
e é capaz de demonstrar seu carinho e confiança ao obedecer, bem como expressar
seu amor incondicional por petiscos.
76
Abrindo a porta de madrugada…
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Gabriel de Araújo Torres
Thiago Oliveira da Silva
Vitoria Correa Dias Vernalha
77
contudo se essa movimentação se der na direção contrária, há inibição e não provoca
escuta; no caso da excitação, abrem-se os canais de K+ e Ca2+, levando à transdução do
sinal e transformação da energia mecânica em elétrica, seguindo então as fibras até o
gânglio espiral, de onde as fibras ascendentes (da parte auditiva do nervo vestíbulo-
coclear) partem para os núcleos cocleares no tronco encefálico, dirigindo-se, por
fim, para a oliva superior e para as regiões do córtex auditivo, onde há a percepção
consciente do som e a interpretação do som ouvido, respectivamente, bem como para
áreas do sistema límbico e de memória no córtex, onde há a formação de memórias
afetivas em relação a esses sons.
78
Reflexões sobre a surdez
Vídeo disponível neste hiperlink
79
Há descritos dois tipos de surdez: a “surdez nervosa”, causada por algum
comprometimento da cóclea, ou nervos auditivos, ou dos circuitos do sistema nervoso
central do ouvido e a “surdez de condução”, causada por comprometimento de
estruturas físicas da orelha condutoras do som. Assim, caso haja comprometimento da
cóclea e do nervo coclear há também uma surdez permanente. Outro ponto
interessante a se pensar sobre a surdez é que ela pode ser hereditária, pode ser
desenvolvida com a velhice ou ainda com a exposição excessiva e prolongada a sons
intensos, fazendo dessa condição multifatorial.
80
Além disso, isso também levanta o provável porquê de muitas pessoas surdas não se
adaptarem aos implantes cocleares e aos aparelhos, principalmente se são surdas há
muitos anos, uma vez que a região cortical que desenvolveria a audição é agora utilizada
para outros sentidos. Por outro lado, há dados da literatura que explicam, como no caso
do zumbido ou tinnitus, o que acontece é exatamente o oposto, as áreas corticais
auditivas (de indivíduos com lesões auditivas severas) ficam hipererrepresentadas,
fenômeno que dá origem ao “som fantasma”, por analogia com os amputados
fisicamente (“membro fantasma”) e o processo de plasticidade para retorno da
utilização pelo sistema auditivo é mais complexo (BATES, 2012)
REFERÊNCIA:
BATES, M. Super Powers for the Blind and Deaf: The brain rewires itself to boost the remaining senses.
Disponível em: <https://www.scientificamerican.com/article/superpowers-for-the-blind-and-deaf/>.
81
durante uma aula no curso de Medicina. Apenas algumas situações da vida, como as
citadas, são suficientes para exemplificar o grande papel que a audição representa e a
sua importância na relação do ser humano no lugar onde está.
82
não naturais produzidos pelo ser humano. Vale ressaltar que essa memória auditiva
ocorre ao ouvir um som pela primeira vez, sendo identificado como algo novo no córtex
auditivo. Com a sua repetição torna-se algo característico o seu timbre e a sua
associação a uma fonte específica. Como exemplo disso, podemos falar sobre as
imitações do apresentador Silvio Santos: após ouvir a sua voz diversas vezes, ela é
diretamente associada à pessoa quando ouvida e processada no córtex auditivo. Logo,
quando alguém a reproduz em uma imitação, ocorre o humor pela quebra de
expectativa, já que a pessoa associada àquele timbre é o apresentador.
Vale ressaltar também que, como falado no vídeo, há a conexão entre o córtex
auditivo e as estruturas encefálicas associadas à memória e aos sentimentos, fazendo
com que estímulos sonoros específicos possam evocar memórias e trazer determinados
sentimentos à tona. Por exemplo, se uma pessoa ouve uma música específica em um
funeral de um ente querido, há a associação dessa trilha sonora ao funeral e ao
sentimento de luto. Desta maneira, todas as vezes que o indivíduo ouve a canção,
começa a sentir-se triste e há a lembrança do momento vivido. Sendo assim, o mesmo
efeito pode acontecer com o sentimento de alegria quando a música é tocada em um
casamento, raiva em um momento de conflito, entre outros diversos sentimentos, tais
como os da paixão, quando alguém toca uma música de amor para outra pessoa,
marcando então a música com tal lembrança e pelo sentimento amoroso.
83
Para que ocorra a comunicação entre surdos, há a Linguagem Brasileira de Sinais
(Libras), que consiste em movimentos gestuais que representam palavras ou conjuntos
de palavras específicos, permitindo que a ausência do sentido da audição não seja uma
barreira para a integração social. Além dessa linguagem, a escrita também é um meio
usado para a comunicação, fazendo com que haja a integração entre surdos ou surdos
e ouvintes.
Haja vista o que foi falado no texto e no vídeo, podemos concluir sobre a
importância da audição na vida humana, seja para ouvir músicas, gerar alerta - como no
caso de buzinas de carros - ou para ouvir o latido do animal de estimação. Dessa forma,
ela gera a integração entre o ser humano e o ambiente à sua volta, gerando eficiência
na comunicação, na identificação e na caracterização dos sons emitidos. Além disso, vale
ressaltar que, assim como o sentido da audição, as outras formas de comunicação para
aqueles que não possuem o sentido auditivo fazem-se essenciais, gerando comunicação
efetiva, bem como a inclusão e estímulo à integração de deficientes auditivos.
84
para guiar o comportamento, tais como orientação dos movimentos frente aos
estímulos acústicos e comunicação intraespecífica.
As palavras e sons falados são interpretados como sons diferentes pelo cérebro
devido às suas diferentes frequências e à captação delas pelo sistema auditivo. As
sílabas humanas consistem em combinações determinadas de períodos de
frequência constante (FC), sequências de frequência modulada (FM), pausas breves e
“explosões” de ruídos.
Como forma de ilustrar, a sílaba “ca” difere de “pa” porque suas varreduras
iniciais em FM desviam para diferentes direções (gráfico). O som “a” longo difere do
“i” longo porque cada um utiliza combinações diferentes de FC.
Foi esse conceito que foi exposto no vídeo, ao mostrar as diferenças do som que
chega ao cérebro ao se falar de sílabas diferentes, como “ca”, “pa”, “ra” e “ga”, e vogais
‘longas’ diferentes, como “a”, “i” e “o”.
86
Os sons de alta frequência (de 3 mil a 8 mil hertz ou mais) em geral ressoam
no cérebro e afetam funções cognitivas, como o raciocínio, a percepção espacial e a
memória. Sons de média frequência (750 a 3 mil hertz), tendem a estimular o coração,
os pulmões e as emoções; e sons baixos (125 e 750 hertz) afetam o movimento
físico. Exemplos usados no vídeo para ilustrar essa concepção: ao ouvir um bom
orador ou cantor, o indivíduo respira mais fundo, seus músculos relaxam e há
liberação de endorfina, o que aumenta o contentamento e a serenidade. Por outro lado,
quando um orador ou cantor ruim se apresenta, essa situação deixa os indivíduos
tensos, dessa forma o corpo se contrai na tentativa de proteger-se dos sons irritantes
ou desagradáveis.
REFERÊNCIAS
JORGE NETO,. Voice Design: elementos essenciais da audição humana. Elementos Essenciais da Audição
Humana. 2013. Disponível em: https://admnistradores.com.br/artigos/voice-design-elementos-
essenciais-da-audicao humana. Acesso em: 28 mai. 2020
PLOURDE, G.. Auditory evoked potentials. Best Practice & Research Clinical Anaesthesiology, [s.l.], v. 20,
n. 1, p. 129-139, mar. 2006. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.bpa.2005.07.012.
87
A audição na vida rotineira
Vídeo indisponível
Podemos agrupar esses sons de acordo com a sua fonte sonora, sendo o primeiro
grupo os sons naturais, ou seja, não produzidos por máquinas ou objetos. Como
exemplos temos o vento e o balançar das árvores. Dentro do subgrupo daqueles
oriundos dos animais temos latidos e miados. Já, aos humanos, cabe a fala e o barulho
do caminhar. Podemos ainda subdividir o grupo dos sons humanos, especialmente
quando nos referimos à fala, que pode indicar emoções, idade e gênero. Em especial
podemos expressar emoções por mudanças no tom de voz e volume. A idade reflete
mudanças também, com a voz de pessoas mais jovens sendo mais agudas, enquanto em
idosos a voz é mais grave. Dentro do gênero também vemos que a voz feminina é mais
aguda e a masculina mais grave.
88
Por mais que seja possível ouvir a maioria dos sons listados a qualquer hora,
alguns se destacam em determinados períodos do dia. O dia, por ser mais agitado,
encobre muitos sons de menor intensidade, que só acabam por serem percebidos à
noite, período mais calmo. Sons como latidos, uivos e miados acabam sendo sons
tipicamente noturnos nas grandes cidades, como a maioria dos sons que não tenham
relação antrópica. Durante o dia imperam os sons de automóveis, equipamentos,
pessoas falando, a maioria sons de alta intensidade.
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Como vimos, ouvir tem um significado muito grande no dia a dia e, assim sendo,
a surdez pode ser avassaladora, pois pode afetar o psicológico e as relações sociais.
Muitas vezes, pessoas que perdem a audição se sentem inseguras pois, muitas vezes,
não captam as mudanças no ambiente. Isso porque evoluímos com a audição nos
servindo como um sistema de alerta para perigos ou como ferramenta para a caça, um
exemplo disso é o reflexo de sobressalto acústico. Ele funciona da seguinte maneira: ao
ouvirmos um barulho alto e repentino voltamos nossa atenção para a fonte do som, de
modo que essa ação é potencializada pelo medo. De forma simples, podemos testar a
audição percutindo um banco (grave), usando a voz (médio) ou um apito (agudo), com
a voz podendo emitir os sons graves também e até mesmo substituir o apito pelo
assovio. Assim, começando por um volume mais baixo até um mais alto, podemos
detectar se há alguma perda auditiva verificando o limiar de audição para cada
frequência. Também é possível detectar perdas observando comportamentos como:
atraso na fala, aumento excessivo de volume da televisão ou outros aparelhos de áudio,
dores nos ouvidos ou zumbidos, dificuldades de compreensão. Esses comportamentos
podem ser observados tanto em crianças como em adultos. Essas técnicas, por mais que
sejam boas para levantar suspeitas, não substituem um exame clínico feito por um
profissional.
90
Em suma, verificamos o papel importante da audição na vida rotineira e na
percepção das sutilezas do nosso cotidiano. No decorrer da nossa evolução seu papel
foi alterado, mas não perdeu destaque. O som, além do seu sentido físico de onda
sonora, nos transmite sensações que nos permitem rememorar algo da nossa história
pregressa, podendo ter um significado positivo ou negativo, de acordo com as próprias
vivências. Dessa forma, podemos também ter uma dimensão do que é o papel da surdez
para o indivíduo e da diversidade de formas que existem para diagnosticá-la,
especialmente de forma precoce. O tratamento correto para as condições que geram a
surdez, pode, e muito, melhorar a qualidade de vida do indivíduo.
Betina Franco
Lia Teixeira
Natalia Bonafini
A audição constitui um dos principais meios de percepção do ambiente à nossa
volta. Além de sua função na comunicação - que permite ouvir a fala de outro - por meio
dela somos capazes de identificar ambientes, períodos do dia, pessoas, animais, objetos,
e, ainda, perceber sua distância, movimentação e trajetória.
91
Outro aspecto da audição em relação ao meio é o fenômeno da identificação de
vozes. Por meio da percepção de timbre, altura, intensidade e ritmo, somos capazes de
identificar as vozes de familiares, amigos e figuras públicas, permitindo reconhecimento
de pessoas somente com o uso de um sentido.
92
nome dado ao chamado para o início das orações dos muçulmanos. Além do aspecto
religioso, há músicas comerciais, que movimentam uma indústria bilionária; há a música
como publicidade, popularizada nos “jingles” de comerciais (poucos não se lembram de
“dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles, num pão com
gergelim”). Enfim, a música é um fator intrínseco à história humana.
A importância da musicalidade
Vídeo disponível neste hiperlink
93
estruturada. O movimento preciso requerido pelas performances musicais é
minuciosamente coordenado por sistemas de feedback de diversas partes do corpo,
alguns exemplos: o córtex auditivo, que está relacionado com o reconhecimento da
melodia e de sons simultâneos; o córtex frontal, relacionado com a integração motor-
auditiva; e o córtex somatossensorial, relacionado com o controle fino dos dedos ao
tocar um instrumento e com o controle de movimentos balísticos. Além disso, estudos
apontam para uma relação entre o treinamento musical e o desenvolvimento de regiões
do cérebro específicas, por vias de neuroplasticidade.
Isto dito, podemos notar que, no atual contexto da pandemia, a música surge
tanto como um subterfúgio introspectivo, quanto como uma forma intrínseca de
expressar a angústia e a incerteza desse período. No vídeo, faço um cover da linha de
baixo da canção “Can’t Stop” (2002), do grupo californiano Red Hot Chilli Peppers. No
início da faixa, cria-se uma escalada nos instrumentos que engendra um sentimento de
expectativa, que logo atinge seu ápice do riff da guitarra. O ritmo violento da voz e as
notas bem-marcadas do baixo e da bateria criam um ambiente de dureza, o que está
relacionado com a vida urbana nas ruas de Los Angeles – tema principal desta e de
outras canções do grupo. Por fim, no final do vídeo, temos o refrão da música que cria
94
um ambiente onírico e de leveza, em contraste com o da estrofe anterior, talvez como
uma alusão ao uso de drogas alucinógenas como uma válvula de escape da aspereza do
cotidiano urbano (“The world I love / The tears I drop / To be part of /
The wave, can’t stop / Ever wonder if it’s all for you?”). Há ainda a apresentação de
parte do clipe oficial da música, que nada mais é do que uma representação visual do
sentimento da música pela banda.
Felipe Reis
Karen Vaz Henriques Kawase
Letícia Yumi Okamura
A audição é uma parte crucial de nossa vida consciente. Quando não podemos
ver um objeto, podemos frequentemente detectar sua presença, identificar sua origem
e até mesmo receber uma mensagem sua, exatamente por podermos ouvi-lo. Além
disso, também, somos capazes de perceber e interpretar suas nuances. O som possui
capacidade de ativar outras áreas corticais, evocando, por exemplo, memórias e
emoções, devido à sua associação com o sistema límbico.
95
Nesse sentido, para tratar de neurofisiologia da audição é fundamental ter uma
conceituação de como é o som, que é o estímulo da via. Os sons são variações audíveis
na pressão do ar. A frequência do som é o número de trechos de ar comprimidos ou
rarefeitos que atingem os nossos ouvidos a cada segundo. A intensidade de som
determina o volume que nós percebemos. Por exemplo, sons altos, ou de maior volume,
têm maiores intensidades, que são captados pelo pavilhão da orelha ou aurícula.
Após sua captação, o som chega à membrana timpânica, que é conectada à uma
série de ossos –ouvido médio-, conhecidos como ossículos (martelo, bigorna, estribo,
respectivamente de externo para interno), que são localizados em uma pequena câmara
preenchida de ar. Eles transferem os movimentos da membrana timpânica para uma
segunda membrana que cobre um orifício no osso do crânio, chamado de janela oval.
Os ossículos são importantes na amplificação da pressão exercida pelo som.
Atrás da janela oval, está a cóclea que é preenchida por fluido e que contém o
mecanismo que transforma o movimento físico da membrana da janela oval em uma
resposta neural. Essa captação do estímulo se dá pelo órgão de Corti, que se encontra
apoiado na membrana basilar. Ele possui neurônios receptores auditivos (células ciliadas
externas e internas) sendo que a deflexão de seus estereocílios gera o sinal neural,
despolarizando ou hiperpolarizando as células dependendo da direção em que se
deslocam. Assim, modifica-se a forma como proteínas motoras agem, abrindo ou
ocluindo mais canais iônicos (primeiro de potássio, e depois de cálcio, e, então a possível
liberação de neurotransmissores).
A informação, então, é levada pelos axônios dessas células até o gânglio espiral,
e dele até o nervo vestíbulo-coclear se projetando aos núcleos cocleares (dorsal e
ventral ipsilaterais à cóclea, de onde os axônios se originam) no tronco encefálico, no
bulbo. A partir daí, eles projetam seus axônios à oliva superior de ambos os lados do
tronco encefálico. Depois, ascendem pelo lemnisco lateral e inervam o colículo inferior
no mesencéfalo. Muitos axônios eferentes do núcleo coclear dorsal seguem por uma
rota similar à via do núcleo coclear ventral, mas a via dorsal segue diretamente, sem
parar na oliva superior. Todas as vias auditivas ascendentes convergem para
o colículo inferior. Os neurônios do colículo inferior enviam seus axônios ao núcleo
96
geniculado medial (NGM) do tálamo, o qual projeta-se ao córtex auditivo primário –A1,
no lobo temporal. Nele, o som (já decodificado nas vias caudais) será processado e
entendido (percepção consciente). Somado a isso, estruturas secundárias que se
conectam com o córtex associativo, como a área de Wernicke, servem de link para a
palavra ouvida e a palavra falada. E, determinam a percepção artística e emocional dos
caráteres do som, como o apreciar de uma música que evoca sentimentos, graças às
relações do córtex auditivo com o córtex límbico, atuando na modulação do processo
auditivo.
Uma situação que parece paradoxal é que em nossos sentidos, não há irradiação
de luz pela retina, ou emissão de algum odor no sistema olfatório, porém nossos ouvidos
podem definitivamente gerar sons, de fato a contração das células ciliadas que pode ser
detectada por microfones de alta impedância: são as emissões otoacústicas, úteis no
diagnóstico de função auditiva. Pode haver lesão na cóclea devido à exposição a sons
extremamente altos (quando ficamos dançando perto da caixa de som, por exemplo) ou
devido ao uso de drogas ou doenças, pode-se ocasionar perda auditiva que se manifesta
como um zumbido (tinido auditivo). Nesse caso, a hiperatividade compensatória
produzida pela resposta à lesão pode gerar efeitos deletérios.
97
Ainda com relação às lesões, quando temos um comprometimento dos núcleos
auditivos no tronco encefálico, com exceção dos núcleos cocleares (que recebem
aferência de ambos os ouvidos), temos comprometimento da audição em ambos os
ouvidos. Para surdez unilateral, temos que ter a lesão nos núcleos cocleares.
Outro ponto abordado pelo vídeo é a integração das vias sensoriais, já que tanto
a audição, quanto o olfato, a gustação e o próprio tato impactam na maneira como
percebemos o mundo. Os sentidos nos dão a percepção dos estímulos do mundo
externo, mas também fazem conexão com nosso mundo interno, nossas experiências
passadas, nossos aprendizados e nossas memórias.
Tudo isso faz com que haja a evocação de sentimentos e emoções que podem
nos fazer transcender nossa atual realidade, e achar momentos de paz, em meio ao
caos.
Música e memória
Vídeo disponível neste hiperlink
98
seu inconsciente. Cada uma delas está ligada às memórias, às emoções e aos
aprendizados. Interessantemente, todas essas características ocorreram e ocorrem de
modo espontâneo, em diferentes grupos e tribos, até nos mais isolados. Isso deixa claro,
que a música não é um fenômeno/construção social aleatório que surgiu em algum
momento da história, ela faz parte da essência humana. Tal como essência e complexa
que é (em mesmas medidas), a música ainda possui muitos mistérios, quanto às suas
interações e importância no cérebro.
O que isso implica no ato de ouvir música? Essas interações com outros sentidos
permitem interpretações diferentes e altamente plásticas. Se você estiver sentindo uma
emoção específica com alta intensidade quando ouve determinada música pelas
primeiras vezes, você apresentará altas probabilidades de que quando ouvir
futuramente a mesma música, sentir as mesmas emoções e lembrar dos eventos que
lhe levaram a essas emoções. A plasticidade disso tudo está no fato de que não são
processos necessariamente definitivos. Experiências posteriores repetidas e/ou de
carga emocional maior que a situação inicial podem alterar sua percepção acerca dessa
música. Outro aspecto importante de ser citado na experiência musical é que nosso
cérebro não só caracteriza uma música entre “gostar” e “não gostar” ou “deixar feliz” e
“deixar triste”, mas também avalia ela segundo seu contexto atual. Isso se evidencia
muito em estilos musicais mais tristes e melancólicos, que, ainda assim, são apreciados
em alguns momentos e situações da vida. Também é válido para estilos animados e
felizes, os quais não são necessariamente os mais desejados em todos os
momentos. Esse conjunto de variáveis mostra parte da complexidade subjetiva que é a
música no cérebro humano.
99
Até agora evidenciou-se a capacidade do contexto e ambiente influenciarem a
percepção e interpretação que se dá a música. Entretanto, o processo inverso também
ocorre e é muitas vezes utilizado de modo consciente por nós. Ouvir músicas que nos
agradam pode alterar nossas sensações e emoções de uma situação geralmente
estressante e/ou desagradável. Isso permite que contextos desagradáveis se tornem
melhores e por vezes até agradáveis, apenas pelo fato de se estar ouvindo uma música
em específico. Analogamente, momentos inicialmente aprazíveis podem adquirir
aspecto negativo, caso músicas desagradáveis sejam ouvidas nesse momento.
100
Os meios e as percepções do som
Vídeo disponível neste hiperlink
Nesse sentido, as causas mais comuns de perda auditiva são idade ou sobre-
exposição ao ruído alto. Porém, ela também pode ser causada por infecção, perfuração
do tímpano, ferimento na cabeça, tratamentos contra o câncer ou efeito colateral de
certas drogas, neuro ou ototóxicas.
101
distintas, o que é denominado tonotopia. No ápice, a membrana basilar analisa baixas
frequências e, na base, analisa altas frequências.
102
O sistema auditivo se articula com os sistemas límbico e de memória no córtex
permitindo a formação de memórias afetivas em relação aos sons. Ele ganha muita
complexidade conforme permite compreendermos vários tipos de sons e distinguirmos
os significados dos discursos.
A perda auditiva pode ser causada por problemas na orelha externa e média
(condutiva) ou por células ou fibras danificadas no ouvido interno (neurossensorial). Ou
pode ser uma combinação de ambos (mista). A condição pode ser tratada e passageira
ou permanente.
103
Dessa forma, para complementar essa reflexão buscamos relatos de pessoas
com perdas auditivas pós-natais e pós-linguais (que já tinham a linguagem desenvolvida
antes da perda) de moderadas a profundas. O objetivo era tentar compreender melhor
como foi a alteração da percepção do mundo a partir desse ponto de vista, como seria
viver sem os muitos sons com os quais lidamos no nosso dia a dia.
Assim, na nossa busca por relatos, um dos que mais nos chamou atenção foi o
da Mary H. Heiner, que foi presidente do Centro de Audição e de Dicção de Cleveland,
EUA: “Quando os nossos ouvidos passaram quase 19 anos empenhados em trazer-nos o
mundo do som, a ausência abrupta dessa parte da consciência é tão espantosa, tão
desnorteante e tão apavorante que não é possível resumi-la nessa única palavra: surda.
Fui dormir em um mundo sólido, cheio de som e acordei num silêncio tão amortecido e
arrasador quanto a neve profunda do campo.” (COSTA, 1999). Nele, a mulher que
sofreu perda auditiva na juventude destaca a importância dos ruídos de fundo que,
normalmente, não produzem reação em nós ouvintes desde o nascimento, mas, quando
extintos, deram-lhe, inicialmente, uma sensação de ausência de vida.
REFERÊNCIA
COSTA, S. S. Audiçäo, comunicaçäo e linguagem: um convite à reflexäo. Rev. HCPA & Fac. Med. Univ.
Fed. Rio Gd. do Sul, v. 19, n. 2, p. 147–66, 1999.
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Sons do cotidiano
Vídeo indisponível
Júlio da Paz
Lucas Yuya Oki
Lucas Odon
O sistema auditivo consiste em um dos mais importantes do ser humano. Nesse
vídeo, mostramos uma série de estímulos diferentes que são capazes de ativá-lo, e
também, como tal estimulação ocorre. A audição é uma ferramenta importante
do sistema de defesa, podemos usá-la, assim como os animais, para detectar
predadores. O barulho de alguém se aproximando até hoje é um reflexo natural de
defesa, que nos desperta para ficarmos atentos diante de uma possível ameaça. No
vídeo, aparecem sons naturais produzidos por um cachorro e uma calopsita; assim como
sons artificiais, os quais são produzidos por equipamentos que usamos no nosso
cotidiano, como o teclado de um computador, uma impressora e uma TV.
105
No vídeo gravado, entre os sons humanos, eu gravei parte da fala da
apresentadora de um canal de notícias. Trata-se da voz de uma mulher que aparenta já
ter uma idade avançada, e por estar em um canal de televisão, ela utiliza uma linguagem
de acordo com a norma culta. A função da fala nesse caso é muito importante, uma vez
que se trata de um canal de comunicação que transmite notícias para a população. Para
ouvirmos e detectarmos a mensagem, o som deve estar adequado de acordo com um
nível mínimo para que todos sejam capazes de ouvir. Para medir a audição das pessoas
que convivem comigo eu tentaria pedir para alguém falar cada vez mais baixo uma frase
até o nível em que eu não possa mais ouvir. Ou então tentaria um aplicativo de celular
que pudesse me ajudar nesse experimento. Por fim, eu estabeleceria comparações
entre cada pessoa da casa. Mas ainda assim, seria um método muito impreciso. Existem
técnicas avançadas para medir o funcionamento do sistema auditivo, por exemplo,
a promediação, uma técnica que isola os potenciais evocados, os quais são potenciais
elétricos registrados depois de um estímulo. Para isolar esses potenciais, calcula-se a
média da atividade cerebral por um período, a fim de evitar outras ondas que não as
evocadas.
Além disso, nesse vídeo também podemos tentar estabelecer uma relação com
a integração polissensorial. Podemos citar outros sistemas que compartilham áreas
associativas espalhadas pelo córtex. No vídeo da apresentadora, por exemplo, além da
audição, a visão fornece um entendimento maior da comunicação que não se restringe
apenas à audição. Por meio do vídeo, podemos ver a feição corporal, a expressão no
rosto da apresentadora e tentar até mesmo entender a fala pelos lábios estarem se
movendo. Essa integração facilita a compreensão.
106
naturais. Durante a noite, o silêncio nos permite ouvir melhor e reparar em sons que
muitas vezes passam despercebidos durante o dia. Isso também ocorre com barulhos
artificiais, os quais são potenciados durante a noite devido ao silêncio. O barulho de
apenas um carro ou moto que passa na rua durante a noite também pode ser
distinguido, ao contrário do que acontece durante o dia, quando o tráfego de veículos é
grande.
107
Memória através do som
Vídeo indisponível
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Taís- Mil poemas: Sempre que escuto essa música me lembro do mar e da
viagem que fiz para a Bahia, primeiro porque a música fala sobre isso “navegarei, vou
navegar, sei ser marinheiro sei seguir estrelas” (capacidade de interpretar a palavra
ouvida pela área de Wernicke, o centro sensorial da linguagem); e segundo porque
escutei essa música várias vezes enquanto arrumava a mala para viajar para Porto
Seguro, uma viagem que foi muito alegre e prazerosa, feita em família (associação da
música à lembrança). Assim, sempre me sinto muito feliz e em tranquilidade quando
escuto essa música. Por vezes, além de me recordar da viagem e da paisagem do mar,
consigo sentir o cheiro do mar, com um grande frescor produzido pela brisa, como
costumava ser nos dias em que estive na praia.
109
introduzir a serenata. A capacidade de interpretar a palavra falada é realizada na área
de Wernicke.
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Para conseguirmos identificar a fonte dos estímulos sonoros, nosso organismo
utiliza estratégias: se as frequências sonoras forem abaixo de 3 kHZ, são utilizadas
diferenças de tempo interauriculares, já para frequências acima desse valor são
utilizadas as diferenças de intensidade interauriculares. O NGM é a principal “estação”
responsável pela combinação das diferentes frequências, não somente pelas diferenças
de vibrações, mas também pelo intervalo de tempo entre as aferências de duas
frequências distintas, o que nos dá uma noção de distância entre duas fontes sonoras
(uma ouvindo música mais próxima ao celular e a outra ouvindo a música a partir de
outro cômodo da casa, por exemplo).
111
No tocante específico às músicas, tem-se que a compreensão real delas no
sistema nervoso central depende muito mais do que apenas do córtex auditivo primário
ou da área de Broca para as áreas faladas: ouvir uma música é um processo complexo,
multifatorial e densamente interconectado. A função geral do córtex auditivo em si, é
de extrair da música suas características constitutivas como timbre, afinação,
intensidade e rugosidade. A compreensão mais profunda da música ouvida é bilateral,
porém assimétrica, isto é, diferentes alturas da área do córtex identificam ritmo,
semântica, processamento temporal e sequencial, etc. Além disso, experimentos
apontam uma influência ativa da música na neuroplasticidade devido às
diferenças somatotópicas das áreas ativas de córtex entre indivíduos com “ouvidos
treinados” e “não treinados”, como músicos e não músicos.
112
da fonte, ainda com detalhes, como a espécie de pássaro e sua cor, assim como a raça
canina e, para quem gosta do estilo musical, imaginou a coreografia da música.
Assim, no caso específico do vídeo, nosso sistema auditivo permitiu, mesmo sem
uma imagem visual, projetar uma imagem mental das fontes sonoras. Foi possível
perceber uma distância grosseira por meio da intensidade sonora com que o som chega
até nós. Além disso, também é possível ter uma noção da posição das fontes sonoras,
113
se estão à frente, ao lado ou atrás de nós. Ademais, esses sons podem estimular uma
memória visual e formar uma imagem detalhada das fontes, como formar a imagem de
um pardal no galho de uma árvore cantando em uma manhã de céu azul, ou a imagem
de um cachorro sem raça definida, caramelo, latindo atrás de um portão, ou então a
imagem de um aparelho de som que toca a música.
114
Sabe-se que a audição ocorre na orelha (ela pode distinguir entre 7.000
diferentes sons), a qual capta o som e transmite para o tímpano pelo canal auditivo e,
em seguida, as vibrações geradas pelo som se propagam pelos ossículos, onde são
convertidos em sinais elétricos pela cóclea. O processo segue para o nervo auditivo, que
transmite os sinais para o cérebro.
Além disso, pela voz em questão (dos vocalistas principais) podemos aferir, sem
instrumentos sofisticados, que seus donos são do sexo masculino e sugestivamente que
são adultos. Contudo, com uma ajuda mais especializada poderíamos chegar a
conclusões ainda mais precisas, como o timbre dos cantores e as notas musicais da
canção. Ao ouvirmos a música com atenção, podemos ainda, através de nossos
aparelhos auditivos pessoais, discernir os sons dos instrumentos e assim deduzir quais
estão presentes nesse contexto sonoro da música, como a guitarra elétrica, a bateria, o
teclado entre outros.
Por meio de nossa audição podemos perceber que se trata de um rock. Vale
lembrar que a música foi composta por Roberto e Erasmo Carlos, grandes artistas da
Jovem Guarda. A canção foi gravada pelos Titãs em 1998, no álbum "Volume Dois".
Assim, após essa reflexão sobre o sistema auditivo e seus impactos na vida
humana, podemos aprender sobre a importância de discernir os diferentes sons que
compõem a vida e sobre suas funções diversas nos cenários em que estão inseridos.
Poder escutar nos abre uma gama de novas possibilidades sensoriais e, apesar de ser
totalmente natural e possível viver sem essa capacidade, é compreensível o quanto isso
exigiria de outras cognições humanas e mudaria completamente a forma de perceber a
vida.
REFERÊNCIA
GONCALVES, Cláudia Giglio de Oliveira et al. Percepção e o impacto da música na audição de integrantes
de banda militar. Rev. soc. bras. fonoaudiol. [online]. 2009, vol.14, n.4 [cited 2020-11-19], pp.515-520.
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sons e em outros não? Antes de destrincharmos os aspectos cognitivos e psicológicos
relacionados à percepção do som, é importante entendermos o que é o som, e como
nosso sistema auditivo é capaz de transformá-lo em informação que possa ser
processada pelo cérebro.
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A cóclea, presente na orelha interna, é um verdadeiro decompositor de
frequências sonoras. Assim como um prisma decompõe a luz branca nas cores do arco-
íris, as células presentes na cóclea atuam de forma a decompor o som em várias ondas
de frequências distintas - cada célula é responsável pela sensibilidade a determinado
espectro de frequência sonora. Essa incrível propriedade é chamada de tonotopia, e se
estende até o córtex cerebral. Pode parecer estranho, mas as informações acerca das
ondas sonoras decompostas são detectadas pelas células da cóclea e transmitidas até o
cérebro, onde são processadas de modo que ocorra a percepção consciente dos sons.
As informações acerca dos sons são transmitidas, portanto, pelo nervo coclear,
o qual conecta as células da cóclea ao sistema nervoso central. Os circuitos neurais
relacionados ao sistema auditivo são complexos, sendo compostos por estruturas
presentes em diversas partes do sistema nervoso central, como bulbo, tálamo e córtex.
De maneira simplificada, pode-se dizer que o córtex auditivo, presente no hemisfério
temporal do cérebro, é responsável pelo processamento das informações sonoras. Além
disso, há várias conexões entre diferentes áreas do cérebro responsáveis pela
interpretação dos sons, correlação dos sons que ouvimos com eventos que vivemos,
interpretação da palavra ouvida, além de mecanismos que elaboram emoções a partir
dos sons que ouvimos.
Como foi indagado anteriormente, por que prestamos atenção em alguns sons e
em outros não? Existem dois mecanismos responsáveis por esse comportamento: a
ativação diferencial das áreas corticais auditivas mediante diferentes tipos de sons, e o
controle auditivo eferente.
Desse modo, podemos concluir que as experiências que estamos vivendo nesse
período atípico, de isolamento social, podem modular a maneira pela qual ouvimos e
interpretamos os sons. Ademais, talvez, a quarentena esteja até alterando o modo como
ouvimos e interpretamos o mundo. Um som que antes passaria despercebido,
atualmente pode provocar uma avalanche de emoções e pensamentos. Há quanto
tempo você não se incomoda com a buzina de um carro?
Almoço em Família
Vídeo disponível neste hiperlink
Carlos Germano Souza Palú
Laura Santana Costa
Vitor de Moura Arrais
O vídeo apresentado reflete uma cena do cotidiano: um almoço em família. Nele,
a audição se mostra extremamente importante, uma vez que a cena está repleta dos
mais variados sons (tanto em relação à intensidade, quanto à frequência e timbre), os
quais necessitam ser decompostos e interpretados. Também é possível perceber uma
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integração entre diversas modalidades sensoriais, bem como uma mistura entre
assuntos triviais e assuntos únicos do atual momento de pandemia. Todos os aspectos
apresentados estão relacionados ao tema das aulas, serviram de justificativa para a
escolha do vídeo e serão mais bem detalhados no decorrer do texto.
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na cena. Todas as modalidades citadas, e tantas outras existentes, são de extrema
importância para que se tenha um total aproveitamento de um almoço. A visão, por
exemplo, fornece um ganho sensorial imenso à audição, por meio de dicas visuais (como
a leitura labial), as quais facilitam a compreensão do que se foi dito e a manutenção de
um diálogo. Essa integração polissensorial se concretiza nas áreas associativas
espalhadas pelo córtex. Nas áreas de associação do lobo parietal, estão presentes as
informações somatossensoriais, resultantes de estímulos vindos da pele, músculos,
tendões e articulações, bem como aquelas referentes à postura corporal e aos
movimentos. A integração dessas informações com outras, provenientes de centros
visuais e auditivos, permite formular um pensamento consciente sobre a exata posição
de nosso corpo (sentado a uma mesa de almoço, por exemplo). Já nas áreas de
associação do córtex frontal, ocorre a fusão de informações sensoriais recentes com
mensagens vindas da memória, notificando prévias experiências, o que permite um
sentido exato e consciente de visões, sons, cheiros, tato e paladar (durante uma
refeição, por exemplo). Além disso, tais áreas também mediam decisões, estabelecem
prioridades, planejam o futuro (quanto de comida se vai ingerir, quais engordam mais,
entre outros planos) e diferenciam o certo do errado (não é educado falar enquanto
mastiga, por exemplo).
Assim sendo, é evidente que uma cena tão corriqueira quanto um almoço em
família proporciona uma infinidade de estímulos simultâneos e de diferentes naturezas
ao nosso sistema nervoso. Tais estímulos provocam modificações na atividade elétrica
do cérebro, os chamados potenciais evocados. Cada via sensitiva tem sua assinatura de
potenciais evocados, os quais não podem ser medidos por eletroencefalogramas
comuns, uma vez que são muito pequenos quando comparados à atividade elétrica
basal do cérebro. Dessa forma, necessitam ser isolados por uma técnica especial
conhecida como promediação, na qual calcula-se a média da atividade cerebral por um
período, o que acaba por anular ondas esporádicas. Apesar disso, não é garantido que
essa técnica conseguiria medir todos os potenciais evocados das pessoas que almoçam
no vídeo, por exemplo, pois essa detecção depende, além da idade e do grau de
mielinização dos axônios, do número de células ativadas, do grau de sincronismo, da
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geometria da estrutura ativada e da capacidade dos tecidos adjacentes em conduzir
eletricidade.
Por fim, é possível notar no vídeo uma sobreposição entre assuntos de naturezas
distintas. Brindar, conversar sobre a comida e perguntar sobre o dia dos familiares são
atitudes já institucionalizadas como comuns, presentes em almoços de diferentes
famílias, em diferentes locais e períodos da história. Já os relatos da proibição do
trânsito de veículos na praça principal da cidade, da existência de guardas policiais
parando os civis para alertá-los sobre os riscos do Covid-19 e aconselhá-los a ficar em
casa, bem como das aulas ministradas online e/ou gravadas são oriundos do atual
momento de pandemia que vivemos. Tais relatos que, há alguns meses seriam
impensáveis e absurdos, passam a fazer sentido no contexto do isolamento social.
Também é interessante notar que os assuntos relativos à pandemia não se
sobrepuseram totalmente aos demais, mas sim, se integraram ao repertório. Isso é uma
forma de nós, humanos, nos adaptarmos à situação, sem que haja a perda de nossa
essência, uma vez que buscamos a conciliação das necessidades atuais aos hábitos
antigos.
Lais Passinho
Luiz Gustavo Silva Cesarino
Raquel Farias Barreto Silva
Esse vídeo foi desenvolvido com a proposta de analisar como estímulos auditivos
e visuais se relacionam e modulam a percepção e interpretação de uma mensagem ao
ativarem suas respectivas vias sensoriais de modo simultâneo. Nesse contexto, dois
voluntários visualizaram uma série de fotos – de modo que, individualmente, as imagens
deveriam remeter a um sentimento de felicidade, bem-estar e satisfação. Ao mesmo
tempo, uma música em idioma desconhecido e não compreendido pelos voluntários é
tocada, sendo essa em tom triste (tanto em melodia e ritmo, quanto sua letra), ou seja,
remetendo a um sentimento oposto ao das imagens.
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Ao final da visualização das imagens e apreciação da música, foi perguntado aos
voluntários o sentimento que prevaleceu em relação à atividade sensorial
presenciada. De modo simplista, isso foi um método de análise de como os estímulos
sensoriais são percebidos pelo córtex cerebral e modulados a partir do sistema límbico
para gerar uma emoção, uma sensação no indivíduo, conforme a sobreposição de
sentimentos gerados a partir de estímulos auditivos e visuais opostos.
A partir da análise dos resultados, pode-se induzir que para a primeira voluntária
(mulher de 51 anos) os estímulos visuais são mais preponderantes quando ocorre
integração polissensorial. Isso é evidenciado por meio de suas reações durante o
experimento em relação às imagens apresentadas, sendo que ela se mostrou animada e
reativa de acordo com o tipo de imagem visualizada. Em relação à percepção dos
estímulos auditivos que evocam um sentimento oposto ao das imagens, a voluntária
inferiu que a música não combinou com os estímulos visuais, pois remete a
um sentimento triste (como esperado). Porém, mesmo assim, a percepção visual foi
muito mais importante para a voluntária, uma vez que sua interpretação da mensagem
como um todo foi positiva, ou seja, sua experiência pessoal selecionou a via visual como
mais importante no cotidiano quando comparamos à audição.
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Já para o segundo voluntário (menino de 8 anos) o estímulo auditivo
foi preponderante, uma vez que mesmo com a apresentação das imagens, que
deveriam remeter a um sentimento agradável, o indivíduo infere que a música é
“sentimental” e que a induz a “ficar com dó dos animais”, sugerindo que a via auditiva
tem papel fundamental na sua interpretação de estímulos polissensoriais.
Por fim, a partir de uma abordagem científica, podemos dizer que ambos
os voluntários do trabalho tiveram a via auditiva e visual (em especial a das fibras retino-
geniculadas) estimuladas simultaneamente. Como os dois mantiveram a atenção sobre
o que foi apresentado, pode-se dizer, também, que seu córtex associativo teve papel
fundamental (tendo em vista que analisaram a expressão facial dos animais e pessoas
que apareceram no vídeo, além de refletir acerca das informações apresentadas para
chegar a uma conclusão. Ainda, pode-se dizer que a análise das informações se deu de
modo diferencial entre os indivíduos, fato que pode ser explicado tanto pelas
experiências pessoais que determinam a via sensorial preponderante ao cotidiano
vivido quanto pela diferença de idade dos participantes. Enquanto que adultos têm uma
visão muito bem desenvolvida, tendo em vista a sua importância para a realização das
mais variadas tarefas no dia-a-dia (trabalho, tarefas domésticas, leitura etc), as crianças
dependem muito da audição para o desenvolvimento da fala, escrita e aprendizagem,
o que explicaria o voluntário se atentar mais à música e buscar uma função para ela
para analisar as imagens apresentadas (conforme texto publicado pelo fonoaudióloga
Gabriela Bandoni na plataforma digital Direito de ouvir) – link de acesso:
https://www.direitodeouvir.com.br/blog/por-que-audicao importante-para-fala
REFERÊNCIAS
Bandoni, Gabriela. Por quê a audição é importante para a fala? Direito de Ouvir, 2019. Disponível em:
<https://www.direitodeouvir.com.br/blog/por-que-audicao-importante-para-fala>. Acesso em: 15 de
abril de 2020.
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A audição como um importante sistema
sensorial
Vídeo indisponível
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Mais adiante no vídeo é explorada a capacidade do sentido auditivo de localizar
a origem do som com um experimento simples: uma pessoa com os olhos vendados
posiciona-se corretamente de modo a ficar de frente à outra pessoa que a chama. Essa
habilidade de localizar espacialmente uma fonte sonora a partir da audição é um
processo que se desenvolve nos núcleos do complexo olivar superior por meio de dois
mecanismos. Para sons com frequência maior que 3 KHz, a localização espacial de sons
ocorre nas olivas superiores laterais por diferença de intensidade sonora interaural, por
um mecanismo no qual o estímulo advindo do nervo auditivo em cada oliva superior
lateral (LSO na sigla em inglês) provoca uma inibição da LSO contralateral pela ação de
interneurônios MNTB, de modo que os neurônios da orelha mais próxima à fonte sonora
estimularam com maior intensidade o seu LSO ipsilateral, inibindo com maior
intensidade o LSO contralateral; enquanto os neurônios da orelha mais distante da fonte
sonora estimulam com menor intensidade o seu LSO ipsilateral, inibindo, assim, com
menor intensidade o LSO contralateral, o que fará com que a excitação seja maior que
a inibição no LSO ipsilateral à orelha mais próxima à fonte sonora e que a inibição seja
maior que a excitação no LSO ipsilateral à orelha mais distante da fonte sonora;
causando, pois, uma sinalização aos centros superiores apenas a partir do LSO ipsilateral
à orelha mais próxima à fonte sonora. Por outro lado, para sons com frequência menor
que 3 KHz, a localização espacial de sons ocorre nas olivas superiores mediais (MSO na
sigla em Inglês) por diferença de frequência, em um mecanismo pelo qual é analisada a
chegada de potenciais de ação advindos de ambas as orelhas em neurônios da MSO.
Nesse mecanismo, quando um som atinge primeiro uma orelha, essa começa
primeiramente a enviar potenciais de ação (PA) a neurônios da MSO, os quais
respondem mais intensamente quando os PAs de ambas orelhas chegam ao mesmo
tempo nele, sendo que os neurônios no MSO que estão relacionados à sinalização de
informações advindos de uma orelha encontram-se mais distantes dessa orelha e mais
próximos da outra, de tal forma a facilitar a chegada simultânea, nos neurônios
relacionados à sinalização de informação auditiva da orelha mais próxima à fonte
sonora, de PAs advindos de receptores das duas orelhas mesmo que uma comece a
transportar o PA antes da outra, já que o PA gerado primeiro terá que percorrer um
caminho maior; em contrapartida, a chegada simultânea de PAs nos neurônios
relacionados à sinalização de informação auditiva da orelha mais distante da fonte
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sonora é dificultada, uma vez que o PA gerado primeiro terá um caminho menor a
percorrer que o PA gerado por último, o que resulta em uma sinalização aos centros
superiores apenas a partir dos neurônios relacionados à sinalização de informação
auditiva da orelha mais próxima à fonte sonora.
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Brincadeira de criança
Vídeo disponível neste hiperlink
Alexia Viegas
Neste vídeo, meu irmão pratica uma série de movimentos em estado de vigília,
como correr, andar de bicicleta, andar de skate e caminhar. Tais atividades requerem
múltiplas interações entre componentes do sistema nervoso e diferentes padrões de
controle.
Quando meu irmão anda de bicicleta, ele realiza uma atividade que
foi aprendida, memorizada e que, atualmente, aos seis anos de idade, já executa
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perfeitamente e sem o auxílio das rodinhas. Andar de bicicleta sem rodinhas requer um
aprendizado postural para o controle do equilíbrio.
Por fim, quando meu irmão pega seu skate, ele realiza movimentos mais
complexos e que requerem maior habilidade conferida pelo aprendizado motor, o qual
requer a repetição do movimento, para que o plano motor elaborado se torne preciso e
eficiente na realização da tarefa, o estabelecimento de relações de memória e o
aprendizado anterior. Depois que o reconhecimento ocorre, pode-se elaborar a
execução da tarefa. Essa execução será tão melhor quanto mais vezes a atividade for
repetida (memória motora).
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biológicos” responsáveis pela coordenação dos estados de sono e vigília (estado
acordado e conectado com o ambiente) ao longo do dia.
Após se movimentar intensamente durante o dia, meu irmão deve dormir para
que haja reposição das reservas energéticas, restabelecimento da homeostasia e
remoção de metabólitos produzidos na vigília, além da consolidação da memória. O
sono é importante para a aprendizagem, pois possibilita a consolidação de conexões
fortes nos circuitos formadores de memória.
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Luna
Vídeo indisponível
Inajara Mills Siqueira Shimizu
Neste segundo vídeo há a construção de vários momentos que representam um
pouco da vida de minha cachorra Luna. No entanto, é impossível descrever os eventos
capturados sem antes a apresentar.
O tempo foi passando e, a partir dos 2 anos, ela começou a ter pequenas crises
convulsivas que se resolviam espontaneamente e em poucos minutos, sem necessidade
de medicação, em uma frequência de 4 a 5 vezes no ano. No entanto, com 4 anos, à
véspera do Carnaval, em 2018, ela teve uma crise que não passou, corremos para o
hospital veterinário e ela chegou lá em parada cardíaca e mesmo sedada a convulsão
não cedia. Nos disseram que talvez ela não passasse daquela noite. Porém, ela
sobreviveu e, em 3 dias, já estava de alta e com medicação para crises convulsivas; nos
disseram que ela poderia ficar com sequelas, e, do mesmo modo, nos surpreendeu,
voltando a fazer tudo que fazia antes, dentro de 2 semanas, apesar de ficar bastante
incoordenada nos primeiros dias.
Desde então, ela tem crises que duram entre 3 e 4 minutos, na frequência de
aproximadamente 5 vezes no ano. Contudo, na primeira semana que fomos mandados
ficar em casa, devido à pandemia, ela teve, novamente, uma crise que não cessou, sendo
necessário ser sedada, porém, se recuperou na mesma noite tendo alta no dia seguinte
e, igualmente, sem sequelas. A única associação que temos feito com suas crises são
pisca-piscas.
Deste modo, após esta apresentação, início a descrição do vídeo proposto. Como
tínhamos o registro de uma de suas convulsões que ocorreu antes do Natal do ano
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passado, decidi começar por ele. Assim, principia-se apresentando a Luna com 5 anos
de idade tendo uma crise convulsiva, em seguida, tem-se um vídeo recente dela fazendo
truques e, por fim, um vídeo dela dormindo.
Continuando o registro, tem-se a cena que ela está dormindo no meu colo.
Tentei montar vários cenários para registrar ela dormindo, contudo, sempre que eu ia
filmar, ela acordava, e os momentos que realmente ela adormecia eram como esse, fora
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daquele que eu havia planejado. Nesta sequência, é possível observar os movimentos
oculares rápidos (ou rapid eye movements, REM, do Inglês), que caracterizam essa fase
do sono, apresentando também alguns movimentos involuntários como se estivesse
sonhando. Enquanto ela está no meu colo, faço pequenos movimentos com os pés e os
sons ambientes continuam, porém enquanto ela está na fase REM ela não desperta.
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Movimento: aquilo que nos permite
transformar o mundo
Vídeo indisponível
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A base para a locomoção é o reflexo extensor cruzado, no qual a flexão de um
membro leva à ativação dos músculos extensores e à inibição dos flexores no lado
oposto. O ritmo dessa atividade é conferido pelos geradores centrais de padrão. Dentre
estes estão interneurônios espinhais com atividade de marcapasso intrínseca, em
especial pela ativação de receptores NMDA, cuja ativação por glutamato associada à
despolarização da membrana leva ao influxo de Ca++ e abertura de canais de potássio
dependentes de Ca++, hiperpolarizando a membrana celular. Isso permite que íons Mg++
entrem e bloqueiem o canal NMDA, inativando o fluxo de Ca++ e fechando canais de K+.
Assim, a membrana despolariza-se e o ciclo se repete. Há também interconexões
sinápticas como geradores de padrão. Um possível circuito consiste em uma entrada
constante que excita dois interneurônios excitatórios conectados a neurônios motores
para músculos flexores e extensores, respectivamente. Os interneurônios respondem a
uma entrada aferente contínua que gera rajadas de atividade de saída que se alternam,
pois eles se inibem reciprocamente através de outros interneurônios. Conexões entre
segmentos espinhais lombares e cervicais explicam o balançar dos braços que
acompanha a locomoção.
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inervam unidades motoras proximais. No córtex parietal posterior, a área 5, um alvo de
aferências das áreas somatossensoriais primárias, e a área 7, um alvo de áreas visuais,
fornecem informações acerca da atual posição do corpo no espaço. Estas, junto de
regiões do lobo frontal anterior (importantes para o pensamento abstrato, capacidade
de tomada de decisão e a antecipação das consequências de ações) decidem quais ações
serão tomadas e suas possíveis consequências, enviando axônios que convergem para a
área 6. Esta também recebe aferência do núcleo ventrolateral (VL) do tálamo, que, por
sua vez, é ligado aos núcleos da base, alvo do córtex cerebral. No repouso, neurônios no
globo pálido estão ativos espontaneamente e inibem o VL. A ativação cortical excita
neurônios do putâmen, que inibem neurônios do globo pálido, os quais retiram a
inibição das células do VL, cuja atividade excita a AMS. Essa parte do circuito atua como
uma alça de retroalimentação positiva, facilitando a iniciação de movimentos
voluntários. Aumento da inibição do tálamo pelos núcleos da base é o mecanismo da
hipocinesia (diminuição do movimento), enquanto uma diminuição leva à hipercinesia
(excesso de movimento).
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Essas instruções baseiam-se em predições (aprendidas com a experiência) e
retroalimentação. Assim, o cerebelo é outro local importante para o aprendizado motor,
comparando o objetivo com o resultado. Quando essa comparação falha em atingir as
expectativas, modificações compensatórias são feitas em certos circuitos cerebelares.
Deste modo, o início do aprendizado motor requer concentração nos movimentos,
executados de modo descoordenado, mas, com o aperfeiçoamento, tornam-se suaves
e quase inconscientes. Lesão cerebelar causa movimentos descoordenados e imprecisos
(ataxia). O padrão desajeitado ligado ao abuso de álcool decorre da depressão dos
circuitos cerebelares.
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digestivos aceleram. O encéfalo também parece repousar, com queda na taxa de uso de
energia e nas frequências de disparo de seus neurônios. No sono REM predomina
atividade simpática e as frequências cardíaca e respiratória aumentam e tornam-se
irregulares, com alto consumo de oxigênio pelo encéfalo.
Locomoção
Vídeo indisponível
Filipe Comba Gomes
Guilherme Nobre de Oliveira
Para que descrevamos os padrões motores normais e anormais presentes no
cotidiano de uma família normal, além de identificar como funciona a atividade cerebral
na execução de movimentos delicados e complexos, temos que primeiramente
identificar três coisas: o mecanismo responsável por executar movimentos autônomos
do dia a dia, como marcha e agachamento do corpo; os mecanismos corticais
responsáveis por executar movimentos delicados; e a forma com a qual esses dois
mecanismos conseguem associar experiências à memória de longo prazo.
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Quando algum exercício é repetido algumas vezes, é formada uma memória de
curta duração, na estrutura do córtex cerebelar; porém, se a prática desse determinado
movimento é feita de forma sucessiva e repetitiva, temos a formação de uma memória
de longa duração, ou a longo prazo, de forma que as informações de circuitos neurais
responsáveis por tal movimento migram para o núcleo vestibular para executar tal ação.
Podemos associar essas diferentes formas de aprendizagem e execução com o ciclo da
vida representada pelo vídeo. Nos primeiros anos de vida temos um córtex com poucos
circuitos neurais, os quais serão formados de acordo com a vida do indivíduo, uma vez
que a cada experiência, devido à enorme capacidade associativa do bebê, vão se
formando cada vez mais circuitos neurais responsáveis por executar a ação em questão;
e é por isso, além dos problemas musculares, que a criança tem muitas dificuldades em
executar todo tipo de movimento durante os primeiros períodos de vida. Ao decorrer
do nosso envelhecimento, temos também o envelhecimento gradativo do nosso sistema
nervoso, de forma que diversas estruturas vão sendo afetadas. Podemos ter como
exemplo qualquer lesão ou envelhecimento de tecidos nas vias vestibulares, que irão
gerar problemas de equilíbrio, de movimentação e de postura, que são extremamente
comuns nos idosos, e isso é demonstrado no vídeo no corte que mostra o andar
vagaroso e trêmulo do idoso.
141
memórias de longo prazo, e facilitar cada vez mais o caminho das sinapses, de forma
que elas ocorram da forma mais rápida possível, e é isso que chamamos de plasticidade
neural. Isso explica o fato de idosos conseguirem executar tarefas complexas mesmo
com o decorrer da idade; temos diversos vídeos na internet de idosos tocando piano,
por exemplo, mesmo em situações de doenças neurais.
Tudo que foi descrito até o momento gira em torno de uma coisa, a memória,
responsável pela simples execução da maioria das tarefas diárias sem que haja nenhum
esforço excessivo, ou seja, tudo é feito de forma automática. Porém, para que toda a
atividade aprendida durante o dia seja fixada pelo nosso córtex, o sono é extremamente
necessário, ou seja, o sono é fundamental para a fixação dos circuitos neurais, e isso
explica o fato dos bebês terem muitas horas de sono.
Otávio Monteferrante
Ronaldo P. Brito Filho
Acordo às 06:00, aquela indisposição recorrente de todos os dias me vem como
uma oração ao padre, levanto como se carregasse a pedra de Sísifo, faço um café,
amargo, o corpo acorda num lapso, brevemente, a ducha ajuda a levantar a pedra até o
ápice da montanha, não por muito tempo, um ou dois pães de queijo, nem me lembro
ao certo, escovo os dentes e pronto, vou para a faculdade com a mesma relutância que
a criança é levada à força a tomar vacina. É bem possível que boa parte dos meus caros
companheiros de classe se identifiquem com essa rotina, não importa o palco principal
onde ela ocorra, seja nos apartamentos ou repúblicas, é quase imperativo que essa
sequência de eventos ocorra diariamente. Isso, graças a um circuito fino neural que por
meio de diversas e complexas interações dão ao indivíduo a capacidade de se
locomover, pensar e agir. Destacando acima de tudo o sistema nervoso autônomo,
marcapassos cerebrais, respiratórios, cardíacos e que sabidamente são modulados pelo
nosso córtex frontal.
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A partir desses complexos circuitos são definidos padrões motores presentes no
ciclo vigília-sono que podem fugir da normalidade e gerar disfunções no sistema do
indivíduo como um todo. Desde a simples execução da marcha, por exemplo, temos
diversas variações que estão condicionadas a múltiplos fatores e intempéries, por assim
dizer, como a idade do indivíduo, o solo no qual é realizada a atividade e até o estado
de concentração durante a execução. Tudo isso, apesar de nos passar despercebidos no
esvair do tempo, durante uma pandemia em que devemos ficar reclusos dentro de
nossos lares e acabamos por ficar reclusos dentro de nós mesmos, começamos a pensar
de formas diferentes o que nos sempre foi servido de forma automática.
Nesse sentido, antes de tudo, devemos entender a marcha como uma sequência
de movimentos:
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Além disso, tal capacidade é possível através dos centros geradores de padrão
que estão na medula espinhal e que atuam no controle dos músculos extensores e
flexores sem necessidade de componentes sensoriais. Embora a maior parte das vezes
seja automático, há situações em que os componentes sensoriais indicam para o córtex
motor, tronco cerebral ou cerebelo que uma atividade motora deve ser realizada para
garantir a integridade do organismo.
Nesse sentido, por meio de uma análise superficial sobre a marcha humana,
temos que esta conduz a humanidade; mesmo que um gesto realizado de maneira tão
irracional, por vezes, já que se tornou automático, é ele quem nos faz únicos e indivíduos
ainda mais racionais; a marcha do indivíduo coincide com a marcha evolutiva da
humanidade numa simbiose indissociável e maravilhosa!
Aprendizagem motora
Vídeo disponível neste hiperlink
Gabriel Coura Dias
Miguel Vianna de Souza
Desde o nosso primeiro momento de vida, estamos
constantemente aprendendo através da prática, da observação e do erro. No vídeo,
tentamos evidenciar, de forma descontraída, como a prática está relacionada à
capacidade de realizar atividades com mais facilidade e, em certos níveis, até de forma
“automática”. Em um primeiro momento, é representado um idoso, com pouca ou
nenhuma afinidade pela digitação em teclado de notebook, que apresenta dificuldade
em encontrar o posicionamento de cada letra. Em um segundo momento, é
representado um jovem de 20 anos, com mais prática na utilização de um computador.
Ele já adquiriu a noção espacial de como é a disposição das teclas e a posição de suas
mãos sobre o teclado, sem precisar conferir visualmente, utilizando-se do sistema visual
para acompanhar o que está sendo digitado e realizar as devidas alterações no
posicionamento dos membros em relação ao teclado. Por fim, satirizamos a imagem de
uma criança que passa grande parte do seu dia jogando em um notebook, a qual não
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somente é capaz de digitar em alta velocidade sem olhar para o teclado, mas também
consegue realizar outras atividades simultaneamente.
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Um dos principais componentes de todo esse processo é o cerebelo, tendo
como sua função principal a de detectar diferenças ou “erros motores”
entre o movimento pretendido e o movimento apresentado. Ele integra, por
exemplo, o sistema auditivo, visual e sensitivo ao sistema motor para que possamos
desviar de objetos, nos afastar de substâncias perigosas, nos posicionar
tridimensionalmente no nosso cérebro para nos proteger de diversas situações. Essa
característica é reforçada pelo sistema de feedback, que nós desenvolvemos
involuntariamente ao queimarmos a mão pelo calor quando cozinhamos ou pelo frio ao
segurar uma garrafa gelada ou por exposição direta ao gelo em países de clima gélido.
Conseguimos, portanto, assimilar horas do dia ou épocas do ano a
determinadas temperaturas. Sabemos que temos menos energia quando está frio,
devido à queima de energia para manutenção da temperatura corporal, mas em
nenhum momento precisamos parar para realizar a atividade de queima de ATP por via
respiratória para então regular a temperatura do corpo. Isso é um dos pontos que
mostra o quanto o corpo humano é complexo e, ao mesmo tempo, funciona de forma
simples devido à adaptação pelo meio ambiente durante milhões de anos de evolução.
O isolamento social e, também, o maior tempo em casa, fez com que as pessoas
buscassem se conhecer melhor, sendo necessário, para isso, mergulhar em águas
obscuras na imensidão da nossa mente e, muitas vezes, se redescobrir. Há relatos
de muitas pessoas que buscaram ocupar o tempo antes ocupado no trânsito ou nas
compras com atividades que eram sempre adiadas por não se ter tempo para realizá-
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las, como ler um livro que foi tão bem recomendado, assistir aquela série nova ou
aprender a tocar algum instrumento musical.
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as mãos, há uma ativação das redes envolvidas com a memória para que a harmonia da
música possa ser recordada e possa caminhar em conjunto com os eventos motores.
Como dito acima, a música carrega consigo uma grande carga emocional, e
momentos na nossa vida são marcados na nossa memória com trilha sonora, como a
música que sua mãe ficava cantarolando durante o dia quando você era criança, a
música que descreve a história de um casal ou a música que te remete a um ente
querido falecido. Com isso, podemos imaginar que o sistema límbico é muito ativado
quando estamos ouvindo o que tocamos, atuando na associação das memórias afetivas
que tínhamos anteriormente àquele momento, invocando inúmeras emoções.
Tocar um instrumento pode ser entendido como uma forma de recompensa pelo
nosso encéfalo, onde o Sistema de recompensa é ativado e descargas de dopamina
são liberadas quando estamos praticando essa ação.
Além dessas diversas ações, podemos citar algumas que funcionam de forma
automática durante o nosso dia a dia, não sendo diferente do músico
que está interpretando a canção, que é a ativação dos centros respiratórios,
desencadeando e controlando os movimentos de inspiração e expiração. E ainda, o
controle da frequência cardíaca, que está continuamente sendo modulada pelas
divisões do Sistema Nervoso Autônomo, ocorrendo a todo momento no nosso
organismo.
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ferramenta terapêutica e também como forma de integração e aumento da precisão
dos movimentos. Caso uma tomografia por emissão de pósitrons pudesse ser realizada
em um músico que estivesse tocando um instrumento durante o exame, como o violão
no vídeo, veríamos que há grande parte do cérebro em alta atividade e de forma
integrada durante a ação.
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interagir e comandar por meio de teclados físicos ou virtuais. Assim, adaptamos nosso
uso muscular para movimentos diferentes daqueles que executávamos no cotidiano
pré-COVID-19: a escrita com caneta e papel que demanda movimentos temporalmente
contínuos e espacialmente diversos (vide as diferentes configurações das letras do
alfabeto e o tempo que levamos para desenhar uma letra) cede lugar aos apertos
discretos (isto é, espacialmente bem localizados e temporalmente quase instantâneos)
de botões de mouses e teclados. Isso provoca perda de coordenação motora quando
tentamos voltar à escrita manual (com caneta e papel, digo), requerendo maior atenção,
concentração e esforço do sistema nervoso para atingirmos resultados desejáveis e
esperados.
150
frequência. Esse sinal evidencia o poder de adaptação dos circuitos neurais que afetam
a propriocepção e os mecanismos de manutenção do equilíbrio.
151
modo, a informação vestibular aferente com os dados sobre o sistema motor e de outras
modalidades sensoriais. Após isso, o núcleo vestibular se projeta para vários alvos
rostrais a esse, no tronco encefálico, e caudais, na medula espinhal. Por exemplo, se
projetam para o núcleo vestibular lateral, o qual se projeta, então, via trato vestíbulo-
espinhal, aos neurônios motores espinhais que controlam os
músculos dos membros posteriores, auxiliando na manutenção da postura.
152
musculares específicos, com um determinado grau de força para a execução do
movimento.
153
Mantendo a postura
Vídeo disponível neste hiperlink
Gabriel de Araújo Torres
Thiago Oliveira da Silva
Vitoria Correa Dias Vernalha
Os complexos sistemas que modulam a movimentação do corpo humano
permitem que esse se adapte a quase qualquer situação ambiental que produza um
modo de vida sob esse corpo. Ou seja, a modulação do movimento não só é realizada a
partir de um sistema isolado, como o telencefálico, o qual é responsável por modular a
movimentação voluntária, mas por uma conexão entre diferentes sistemas que, por
exemplo, transformam movimentos repetitivos do dia a dia, em algum momento
produzidos de maneira voluntária, em movimentos automáticos, em razão dessa
tendência a adaptação e a formação de padrões que beneficiem o bem-estar do corpo
em questão.
154
de formação de movimentos caracterizados pelo aparecimento de frequências
previsíveis, envolvendo ações estabilizadoras e tarefas manipulativas. Essa fase possui
as primeiras aparições dos movimentos voluntários e raciocinados, porém longe
de uma complexidade alta, e ainda rudimentares em termos de memória.
A terceira fase ocorre em crianças de 2 a 3 anos até por volta dos 6 a 7 anos. Tal
período se caracteriza pelo aparecimento dos movimentos fundamentais nos quais as
crianças pequenas estão envolvidas ativamente na exploração e na experimentação das
capacidades motoras de seus corpos, com uma precisão e complexidade mais maduros.
A última fase se dá a partir dos 7 anos, e é nomeada
fase de movimentos especializados, em que as habilidades estabilizadoras, locomotoras
e manipulativas fundamentais são progressivamente refinadas, combinadas e
elaboradas para o uso em situações crescentemente exigentes
Esse mesmo mecanismo é usado quando, por exemplo, vamos subir ou descer
uma escada, momento no qual podemos olhar e programar a subida, sendo até
automático quando já calculamos o quanto temos de levantar os pés, a distância entre
os degraus. Chega-se a um ponto em que não precisamos mais olhar para a escada para
subir ou descer. Além disso, vale ressaltar a importância do cerebelo para a modulação,
em que sinais descendentes do tronco cerebral e do córtex motor iniciam a locomoção e
ajustam os movimentos da marcha às necessidades de locomoção do indivíduo.
O cerebelo recebe essas informações, processa as sinalizações corretivas e as envia a
vários núcleos do tronco encefálico. Acredita-se ainda que o cerebelo possa estar
associado ao movimento de “navegação”, ou seja, o movimento espacial.
A respeito do vídeo produzido por nós, tivemos como inspiração o próprio corpo
como um laboratório, para que se fossem estudados os aspectos do controle do
movimento. Em decorrência disso, quisemos representar o cotidiano de trabalho de
uma pessoa em situação de quarentena, fazendo home-office ou trabalhando com
temas acadêmicos, tentando manter uma postura saudável, para evitar futuras
dores nas costas, por exemplo. No entanto esse controle específico da postura não se
trata de um movimento automático, mas de uma ação executada de maneira
consciente, o que exige uma constante manutenção da postura. Dessa forma, esse
controle da postura não consegue ser mantido durante todo o tempo de atividade. O
que ocorre de maneira automática é o posicionamento do corpo de
maneira mais confortável e menos saudável – a qual é representada no fim do vídeo,
quando o Gabriel finalmente não consegue manter o controle do corpo e se entrega ao
conforto.
156
Aprendendo algo novo
Vídeo disponível neste hiperlink
Já no sétimo dia de treinamento diário, cerca de 3 vezes por dia, reparei que eu
não falhava mais em lembrar-me da sequência de movimentos que deveriam ser
realizados, e o ritmo estava mais adequado. Além disso, durante esses dias, comecei a
notar que algumas notas extras harmonizavam com a melodia, então introduzi-as na
música, tornando-a um tanto mais complexa, mais refinada do que no dia em que a
aprendi. O resultado é esse que você pode conferir no vídeo.”
157
Com relação ao planejamento e execução dos movimentos dos membros
superiores e mãos para tocar o ukulele, o córtex pré-frontal e o parietal posterior estão
relacionados à decisão de realizar cada movimento, de tocar cada nota. Ambos córtices
projetam-se para a área 6 de Brodmann, enquanto o comando motor, de fato, é dado
pelo córtex motor primário (área 4), que ativará determinadas regiões (de acordo com
o homúnculo de Penfield), levando a um movimento de braços, mãos e dedos, de modo
a realizar um controle fino dessas estruturas. Mais especificamente, o córtex pré-motor
pode ser dividido em AMS (área motora suplementar) e em área pré-motora. A área pré-
motora é condicionada por estímulos externos, sensoriais, como observar a posição dos
dedos e escutar a música, e a AMS é condicionada por estímulos internos, como a
memória do vídeo-tutorial assistido.
158
predições do cerebelo são geradas pela retroalimentação sensorial e, portanto, pela
experiência da execução dos movimentos. Por isso, logo no início da aprendizagem de
uma nova música, os novos movimentos são realizados de forma descoordenada, sem
ritmo, e, à medida em que se aperfeiçoam os movimentos pretendidos, eles tornam-se
mais suaves, até chegar o momento em que é possível tocar uma música quase
inconscientemente, isto é, de forma automática. Esse é um processo que exemplifica a
geração de um programa motor, que gera as sequências de movimentos necessárias e
apropriadas sem a necessidade de um controle consciente.
159
REFERÊNCIAS
1. Ray WJ, Cole HW. EEG alpha activity reflects attentional demands, and beta activity reflects emotional
and cognitive processes. Science. 1985;228(4700):750-752. doi:10.1126/science.3992243
2. Babiloni C, Vecchio F, Infarinato F, Buffo P, Marzano N, Spada D, Rossi S, Bruni I, Rossini PM, Perani D.
Simultaneous recording of electroencephalographic data in musicians playing in ensemble. Cortex. 2011
Oct;47(9):1082-90. doi: 10.1016/j.cortex.2011.05.006. Epub 2011 May 19. PMID: 21664610.
“A Neurofisiologia do Thor”
Vídeo disponível neste hiperlink
Thor acorda ao reconhecer que foi chamado pelo dono. O despertar ocorreu por
estimulação da via sensorial aferente auditiva. O som produzido pelo assobio gerou
ondas sonoras, que atingiram a membrana timpânica através da orelha externa e a
fizeram vibrar. Esse movimento gerou também a vibração dos ossículos da orelha média
160
(o martelo, a bigorna e o estribo, responsáveis pela amplificação do som) transmitindo
as informações de frequência e amplitude para a membrana oval, que faz conexão com
a orelha interna. O movimento do estribo desloca a perilinfa da escala vestibular e,
depois, da escala timpânica. O movimento da perilinfa gera movimento na endolinfa, o
que estimula as células ciliadas do Órgão de Corti a movimentarem seus cílios,
transformando energia vibracional em sinal elétrico. Seus axônios enviam impulsos
nervosos, pelo nervo coclear, aos núcleos cocleares, que enviam projeções bilaterais ao
colículo inferior, através do lemnisco lateral, podendo antes realizar sinapse na oliva
superior (pelo complexo olivar). O colículo inferior é o centro auditivo do mesencéfalo
e seus axônios podem se projetar ao corpo geniculado medial (tálamo) e depois para a
área auditiva primária (41) localizada no giro temporal superior, ou diretamente para
ela e depois para áreas auditivas secundária e terciária para a percepção consciente do
som.
Então, depois do som ser processado por toda essa via e ativar o córtex auditivo
primário, projeções são enviadas ao Sistema Ativador Reticular Ascendente, localizado
na formação reticular no tronco encefálico. Há projeções ao tronco cerebral,
provenientes, por exemplo, dos núcleos cocleares, muito antes de qualquer atividade
cortical acontecer. Os neurônios desse local, estimulados, aumentam sua taxa de
disparo em antecipação ao momento de acordar. Eles incluem células do locus
coeruleus, as quais contêm noradrenalina, células contendo serotonina dos núcleos da
rafe, células contendo acetilcolina do tronco encefálico (aumenta os sinais de ativação
cortical) e prosencéfalo basal e neurônios do mesencéfalo que utilizam histamina como
neurotransmissor. Todos esses neurônios estabelecem sinapses diretamente em todo o
tálamo, córtex cerebral e encéfalo, aumentando sua excitabilidade e a supressão de
formas rítmicas de disparo. Essas sinapses são responsáveis pelo ato de “acordar” do
Thor, como no vídeo, e dos humanos também.
Depois de acordar, meu pai brinca com o Thor. Ele foi educado, por anos, a
realizar certas ações em resposta a comandos, que ativam vias sensoriais do Sistema
Nervoso e acabam por ativar a via mesocorticolímbica, a “Via de Recompensa”, assim
como ocorre nos humanos. Comandos como “senta” e “deita”, ativam, por exemplo, a
via auditiva descrita acima.
161
Além disso, a visão do biscoito ativa o córtex visual primário, pois a imagem da
comida projeta-se na retina e os axônios das células ganglionares realizam sinapses no
núcleo geniculado lateral, que projetam seus axônios para a Área 17, (podendo haver
uma sinapse intermediária no colículo superior). Por conta disso, há o processamento
da imagem e pode haver integração com o Sistema Límbico.
Nesse sentido, podem haver interações entre os colículos superior e inferior com
o objetivo de integrar a informação visual à auditiva. Outro estímulo sensorial é o cheiro
do biscoito, um estímulo para a sensibilização das células olfatórias. Elas projetam-se
para o núcleo do trato solitário e depois para a amígdala e para o córtex cingulado,
ativando o sistema límbico e a via de memória do Thor, que lembra que, se responder
adequadamente aos comandos, poderá ganhar o biscoito.
162
esfíncteres e glicogenogênese. Todas essas modificações no corpo favorecem a
alimentação e digestão. Além disso, há o desencadeamento do processo de mastigação,
resultado da estimulação pelo Córtex Motor Primário (giro pré central, Área 4) dos
músculos da mastigação. Isso ocorre por uma via que envolve os núcleos da base e o
cerebelo, que conferem precisão ao movimento, e relês intermediários talâmicos como
os núcleos ventral anterior e ventral lateral. Essa via é estimulada pelo cheiro do
biscoito, visão do alimento e memória (sistema límbico) de que aquele alimento tem um
bom gosto.
163
meio de me exercitar em casa, me divertir e ficar um pouco mais calmo diante do cenário
imposto pelo COVID 19, arrisquei-me a treinar passos de dança com os meninos da
república em que moro. Começamos do zero, confesso que o começo não foi fácil, mas
com a prática repetitiva conseguimos alcançar um nível satisfatório de movimentos e
aprender a coreografia. Dessa maneira, resolvi utilizar desse meu hobbie neste trabalho
uma vez que ele me diverte, se relaciona com o meu cotidiano e pode ser analisado com
os olhos da neurofisiologia.
ON e OFF
Vídeo disponível neste hiperlink
165
completamente a sincronização temporal e coordenação de alguns movimentos. Esses
circuitos são denominados geradores centrais de padrão.
166
A atividade elétrica cerebral é diferente entre a vigília e cada um dos estágios do
sono. Quando o indivíduo está acordado e com os olhos abertos, o eletroencefalograma
(EEG) apresenta atividade de baixa voltagem e alta frequência. Por outro lado, o estágio
1 do sono é caracterizado por frequências um pouco lentas, enquanto os estágios 2 e 3
são caracterizados por fusos do sono e complexos K, bem como aumento dos fusos
lentos. No estágio 4, os ritmos lentos tornam-se proeminentes. Durante o sono REM, o
traçado é semelhante ao da vigília.
Então, acredita-se que o sono REM, e talvez os próprios sonhos, tenham papel
importante na memória. Estudos indicam que durante o sono de movimentos oculares
rápidos (rapid eye movements, REM, do Inglês) há ativação da amígdala, do
parahipocampo, do tegmento mesencefálico e do córtex cingulado anterior.
167
No entanto, esses padrões motores presentes no nosso ciclo vigília-sono nem
sempre estão dentro da normalidade, dificultando a execução de tarefas não só
motoras, mas sociais. Veja: o nosso convívio social é pautado também no
comportamento motor, tanto que a leitura da linguagem corporal é uma habilidade de
grande utilidade. Logo, indivíduos que apresentam descompassos motores, como
veremos neste texto, apresentam certa dificuldade social que podem levá-los a quadros
de depressão.
Algo notável da marcha é o fato dela ser rítmica, ou seja, muitas vezes não
percebemos que estamos andando, ou o fazemos de forma automática. Quem
possibilita tal capacidade são os centros geradores de padrão presentes na medula
espinal que atuam no controle dos músculos extensores e flexores sem necessidade de
componentes sensoriais. Bom, mas não é sempre automático, diante de determinadas
situações, os componentes sensoriais indicam para o córtex motor, cerebelo ou tronco
cerebral que uma atividade motora deve ser realizada para garantir a integridade do
organismo. Um exemplo simples disso é a atividade muscular diante do chão molhado.
Facilmente nota-se o aumento do tônus muscular da musculatura da perna a fim de
conservar o equilíbrio, além do agachamento para aproximar o centro gravitacional do
168
chão, diminuindo o risco de quedas graves. Podemos perceber o aumento do tônus
abdominal, fundamental para o equilíbrio, além da atuação presente dos núcleos da
base e do cerebelo para as correções posturais e de movimento.
169
sintomas a marcha alterada, o automatismo da cabeça e das extremidades. Esses
movimentos repentinos e explosivos chegam a lembrar uma coreografia, explicando a
origem do nome.
170
maior parte do vídeo. Como ocorre o processo de caminhar? Até onde vai a
automaticidade do movimento e a partir de onde entra o nosso controle sobre ele?
Tomamos consciência da informação sensorial que nos chega a fim de calibrar nossos
movimentos?
171
baixo é observado. O caminhar até o obstáculo é semelhante ao da primeira cena,
contudo, a visualização do obstáculo ao longo do percurso até sua chegada permite
programar o padrão da marcha a fim de ultrapassá-lo sem grande esforço. No caso de
subir uma escada, a aferência sensorial é ainda mais usada: a cada degrau são usadas
informações visuais da altura do próximo degrau e informações táteis referentes à sola
do pé para checar a distribuição do peso corporal no pé em contato com o solo e para
checar a chegada do pé em ascensão ao próximo nível da escada. São ainda
fundamentais as informações do aparelho vestibular para manutenção do equilíbrio ao
longo dos movimentos, principalmente por grande parte do percurso ser realizado com
apoio de apenas uma das pernas no solo; a propriocepção também é essencial para a
programação desse movimento.
Por sermos muito dependentes da visão para nos guiarmos, é interessante ainda
experimentar subir uma escada sem o uso desse recurso. O processo é facilitado ao ser
realizado em uma escada familiar ao indivíduo e com o uso de um corrimão, que permite
tanto o indivíduo se guiar e tomar noção mais precisa de seu posicionamento, quanto
ele usá-lo para facilitar o seu equilíbrio. Tentar realizar esse processo em um ambiente
desconhecido e sem o uso do corrimão pode ser um grande desafio, porém, ainda
possível, mostrando a nossa grande dependência do sistema visual para refino dos
movimentos, mas também a participação dos outros sentidos para programar esse
movimento.
172
quais haverá interação, tudo isso se alterando ao longo do processo e com o uso de
informação momentânea para ajuste e realização do movimento.
173
No material disponibilizado para o aprendizado da neurofisiologia temos um
texto que diz que “a função primária do cerebelo é detectar a diferença, ou o ‘erro
motor’, entre um movimento pretendido e o movimento de fato apresentado, e através
de suas projeções aos neurônios motores superiores, reduzir o erro. Estas correções
poderão ser feitas durante o curso do movimento ou como uma forma de aprendizado
motor, quando a correção é armazenada”. Um malabarista, com o treino, sabe quando
ele arremessa para cima uma bola se a força empregada foi insuficiente, boa ou
exagerada. Além disso, quando arremessa, a posição em que a mão se encontra também
é fundamental para saber onde a bola cairá. Tais fatos se encaixam à citação acima, pois
um erro motor é percebido e correções são feitas (a mão que vai pegar a bola muda de
posição devido ao erro), visto que as informações sobre as diferenças já foram
armazenadas no cerebelo.
Felipe Reis
Karen Vaz Henriques Kawase
Letícia Yumi Okamura
"Pro Ronaldinho no meio campo. Passou pelo marcador, vai embora o
Ronaldinho. Ronaldinho entrou na área, levou pro pé direito, buscou o drible... no
canto!!! GOOOOOOOL!".
175
informações motoras e até mesmo a maneira de segurar a xícara, acontecem o tempo
todo e são incríveis. Os circuitos neurais permitem que o organismo possa executar
movimentos simples ou complexos, em função de objetivos internos relacionados ao
seu estado motivacional, controlar a execução de um plano motor, auxiliado pelas
aferências sensoriais e aperfeiçoar a elaboração desse plano em função de um processo
de aprendizado.
176
Após um dia cansativo de treino, em um estado de vigília, Jojo precisa dormir. O
sono é um processo importante de homeostasia, para a conservação de energia
(reposição de estoques energéticos do encéfalo, os quais diminuem durante as horas de
vigília), para a memória, cognição, remoção de moléculas que se acumulam no
parênquima cerebral, entre outras funções. Ele é regulado por processos circadianos e
homeostáticos. O sistema circadiano está relacionado ao fotoperiodismo decorrente da
alternância entre dia e noite. A retina possui células neurais que apresentam um
fotopigmento denominado melanopsina, sensível à luminosidade. A informação chega
ao Núcleo Supraquiasmático, que é o principal "relógio biológico" do ser humano por
meio do trato retino-hipotalâmico. Quando escurece, o Núcleo Supraquiasmático deixa
de enviar projeções GABAérgicas ao núcleo paraventricular e começa a enviar projeções
glutamatérgicas, ativando-o. Esse núcleo, então, estimula a glândula pineal a produzir e
secretar melatonina, que é um hormônio importante para o início e manutenção do
sono. A adenosina acumulada no prosencéfalo basal, durante o estado de vigília, pelo
consumo de glicogênio também atua no processo de sonolência.
Quando Jojo dorme, ele entra no ciclo do sono, que é dividido em duas fases: a
fase de sono não-REM e a fase de sono REM. A fase de sono não-REM, por sua vez, é
dividida em 4 estágios: 1, 2, 3 e 4. Já o sono REM é caracterizado pelo processo de
movimentação rápida dos olhos, em que todo o corpo é imobilizado -atonia-, exceto os
músculos dos olhos. Nesta fase também há evocações de ilusões detalhadas e vividas
chamadas sonhos; o sistema de controle é dominado pelo simpático e há grande
consumo de oxigênio. Vale ressaltar que o sono REM apresenta EEG com frequências
elevadas e amplitudes baixas, o que se assemelha mais ao estado de vigília, do que ao
estado de sono. Quanto ao sono não-REM, ele é caracterizado pela tensão muscular
reduzida em todo o corpo; movimentos do corpo para ajustes de posição corporal e
pelas aferências sensoriais não alcançam o córtex. Somado a isso, o sistema de controle
é dominado pelo parassimpático e possui um EEG com ondas lentas, de baixa frequência
e elevada amplitude, que oscilam em sincronia dos neurônios corticais. Quando Jojo
sonha com o coronavírus, ele está, então, na fase de sono REM de um ciclo do sono.
O estado de vigília, por sua vez, é um estado de conexão com o ambiente. Ele é
mantido pelos componentes do Sistema Ativador Reticular Ascendente (SARA). O SARA
177
apresenta diversos núcleos com projeções difusas e que apresentam seus respectivos
neurotransmissores, como o núcleo locus coerúleus (noradrenalina), núcleo da Rafe
(serotonina) e núcleos colinérgicos da junção ponte-mesencéfalo . Esses núcleos, assim
como os neurônios histaminérgicos no núcleo tuberomamilar, os neurônios
orexinérgicos no hipotálamo lateral e o prosencéfalo basal estão envolvidos na
manutenção da vigília. Quando eles estão ativados, Jojo consegue ficar acordado e
treinar muitas "embaixadinhas".
178
registro é irregular. Enquanto as frequências menores são associadas ao sono, em que
as ondas são lentas e os neurônios estão todos disparados, logo o registro é
sincronizado. Paradoxalmente, ondas rápidas também acontecem no sono dos
movimentos oculares rápidos (rapid eye movements, REM, do Inglês), e nele acontecem
os sonhos.
Em relação à função da AEC, aponta-se para que ela seja capaz de alterar a
excitabilidade dos neurônios corticais. Com isso, entende-se que para cada comando do
Sistema Nervoso, bem como para cada estímulo sensorial, tem-se a presença da AEC em
uma determinada região cortical específica para determinadas funções. Assim, o
controle motor está relacionado a uma específica frequência da AEC que determinou
sua funcionalidade. Em outras palavras, para mover o braço, por exemplo, o nosso
cérebro processa a ideia e por meio de ondas cerebrais estimula a área motora, dando
início à cascata de informações que resulta no movimento inicialmente imaginado.
179
REFERÊNCIAS
CLARK, B.C. et al. The power of the mind: the cortex as a critical determinant of muscle
strength/weakness. Journal of neurophysiology. American Physiological Society Dezembro. 2014
Disponível em : https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4269707/
180
motores e interneurônios cuja atividade cíclica regula o grau de atividade da
musculatura flexora e extensora do quadril, de forma rítmica. A marcha é iniciada por
circuitos descendentes supraespinais, os quais excitam um interneurônio localizado nos
centros geradores de padrão. Esse interneurônio, então, ativa o neurônio motor que
inerva a musculatura flexora do quadril e inibe o interneurônio que faz sinapse com o
neurônio motor da musculatura posterior da coxa. Ao mesmo tempo, no membro
contralateral, o mesmo interneurônio excitado provoca inibição dos flexores e ativação
dos extensores. Em seguida, o interneurônio inicial se hiperpolariza causando os efeitos
opostos nos membros contra e ipsilateral. Assim, o membro de apoio passa para fase de
balanço, enquanto o membro que estava em balanço se apoia no chão e sofre flexão de
quadril.
181
relacionada aos movimentos em curso, ainda não citados: os núcleos da base.
Localizados no telencéfalo, são divididos em corpo estriado (núcleo caudado e
putâmen), globo pálido, substância negra (reticulada e compacta) e núcleo subtalâmico.
O corpo estriado é considerado o principal componente receptivo, recebendo projeções
de quase todas as áreas neocorticais. Esses núcleos estabelecem conexões entre si,
influenciando o córtex cerebral através de duas vias: direta (resulta na excitação do
tálamo, que então excita o córtex) e indireta (leva à inibição tônica do tálamo, o qual
deixa de ativar o córtex). Através dessas vias, esses núcleos atuam no planejamento
motor, na modulação e no controle dos movimentos, além de permitir que eles sejam
iniciados.
É possível notar que, com as mãos ocupadas por uma carga pesada, o botijão de
gás, diversos aspectos da locomoção das personagens são alterados: a velocidade da
marcha e da corrida diminui e há um esforço involuntário da musculatura em manter a
postura e o equilíbrio. Isso é proporcionado pelos reflexos posturais, organizados no
tronco encefálico. A partir de informações recebidas do cerebelo, do aparato vestibular,
dos olhos e de órgãos proprioceptivos, tais reflexos regulam o tônus dos músculos do
tronco, dos membros e do pescoço, propiciando estabilidade ao corpo.
182
lentas (não há movimentos oculares rápidos, rapid eye movements, REM do Inglês, por
isto esta fase é denominada não-REM), o EEG registra ondas alfa, de menor frequência
e maior amplitude, representando um estado de relaxamento. No estágio II, de
adormecimento, são observadas ondas tetas. No estágio III, que representa o sono leve,
são registradas ondas de fuso. Por fim, no estágio IV, as ondas produzidas, denominadas
delta, são lentas e apresentam elevada amplitude, revelando um estado de sono
profundo. A situação se reverte na transição do estágio IV do sono não-REM para o sono
REM: são geradas ondas de baixa intensidade e alta frequência, semelhantes ao padrão
beta. O sono REM, por sua vez, é caracterizado como mencionado pelos movimentos
rápidos dos olhos e pela ocorrência dos sons.
A marcha
Vídeo disponível neste hiperlink
Júlio da Paz
Lucas Yuya Oki
Lucas Odon
No início do vídeo, é mostrada a marcha de um cachorro doméstico e logo depois
uma comparação entre sua marcha lenta e o galope. Os movimentos rítmicos das pernas
durante a marcha são realizados por contrações de muitos músculos em conjunto. Em
geral, as contrações dos músculos flexores ocorrem durante a fase de flexão, já as
contrações dos músculos extensores ocorrem durante uma ou mais fases de extensão.
Porém, o ritmo e o nível de atividade são diferentes entre os diversos músculos.
Por exemplo, um músculo flexor do quadril (iliopsoas) contrai continuamente durante
as fases de flexão e a primeira fase de extensão, enquanto um músculo flexor do joelho
(semitendíneo) contrai brevemente no início da fase de flexão e a segunda fase de
extensão. Outra complexidade é que alguns músculos contraem tanto no balanço como
no apoio. Assim, o padrão motor para a marcha não é meramente uma alternância
entre flexão e extensão em cada articulação, mas uma sequência complexa de
contrações musculares, cada uma acontecendo no tempo preciso e na proporção
correta para atingir uma tarefa específica na locomoção.
183
A marcha é um processo automático, mas não é necessariamente estereotipada.
Os mamíferos usam com constância a aferência de nervos sensoriais com o intuito de
ajustar os padrões de passadas, levando em conta as variações no terreno e as
condições inesperadas ou antecipadas. Tal aferência vem de forma predominante de
três sistemas sensoriais: visual, vestibular e somatossensorial. Os proprioceptores nos
músculos e nas articulações fornecem informações sobre os movimentos do corpo e
participam da regulação automática dos passos. Os receptores cutâneos da pele,
referidos como exteroceptores, ajustam os passos aos estímulos externos e também
podem fornecer retroalimentação importante sobre os movimentos corporais.
184
espinal porque persiste após a completa transecção da medula espinal. As vias
polissinápticas da medula espinal medeiam os reflexos de flexão. Uma via excitatória
ativa os neurônios motores que inervam os músculos flexores ipsilaterais, os quais
fazem a retirada do membro dos estímulos nocivos. Outra via excita simultaneamente
os neurônios motores que inervam os músculos extensores contralaterais,
proporcionando a sustentação durante a retirada do membro. Interneurônios inibitórios
asseguram que os neurônios motores que suprem os músculos antagonistas estejam
inativos durante a resposta reflexa.
185
hiperpolarizados e mudem para o estado basal, ocorrendo assim a geração dos ritmos
lentos, que seriam observados no eletroencefalograma (EEG) durante o sono não REM.
Uma vez que a atividade desses neurônios torna-se lenta e sincronizada, a função
cognitiva é reduzida ou abolida: o indivíduo isola-se dos estímulos e relaxa em um
estado de repouso.
186
sistema sensorial e motor capaz de desenvolver um conjunto repetitivo de comandos
de controle motor que permitem o andar. Em adultos, o padrão da marcha é definido,
e nos idosos diversos fatores como perda da atividade muscular, de tecido articular e do
processamento de informações levam a um quadro em que o padrão de marcha se
encontra alterado, resultando muitas vezes em quedas.
Neste ano, nos deparamos com uma distopia mundial causada pelo coronavírus,
a qual nos obrigou a mudar radicalmente nosso estilo de vida, nossa rotina e nossos
costumes. Sabe-se que a forma como nos movimentamos, como interagimos -
conscientes ou não -, faz parte de nossa cultura e de nossa identidade. Sendo assim, as
nossas vivências foram alteradas pelo advento da quarentena, e isso afeta nossas
movimentações no dia a dia.
Outro aspecto interessante que se alterou foi o sono; sem rotina, ele é melhor
ou pior conforme o sentimento no dia: cansada, ansiosa, estressada ou alegre. Isso
evidencia claramente como as emoções – centralizadas na formação parahipocampal
encefálica do sistema límbico – interferem em nossa atividade elétrica cerebral. O
tronco encefálico é a porção encefálica responsável pelo automatismo do sono,
mediando seus sinais por noradrenalina (quando excitatória) e serotonina (quando
187
inibitória). Ademais, as áreas reticulares excitatórias e inibitórias nas estruturas
encefálicas superiores são responsáveis pela regulação eletrofisiológica das funções
cerebrais alteradas durante o sono e vigília (com maior e menor limiar de disparo do
potencial de ação, respectivamente).
188
A marcha é um padrão motor resultante da interação e organização de sistemas
neurais e mecânicos, com destaque especial para a dinâmica músculo - esquelética, que
é controlada por um programa central: o Gerador de Padrão Central (GPC). Suas
principais características são a ritmicidade, gerada a partir de redes de neurônios na
medula espinhal, e os movimentos alternados. Vale ressaltar, ainda, que os padrões de
marcha são modulados por centros nervosos superiores e pela modulação aferente.
Analisando de maneira detalhada o GPC, vemos que ele é composto por redes
espinhais as quais geram padrões de atividade rítmica, mesmo em ausência de feedback
externo ou controle supraespinhal. A partir da geração de padrões locomotores básicos
e se utilizando de vias descendentes, ele é capaz de controlar a marcha. O GPC é
constituído de um centro gerador rítmico e de uma rede geradora de padrão. O centro
gerador rítmico define o ritmo da locomoção, a duração das fases flexoras e extensoras
e apresenta papel fundamental no controle da atividade da rede geradora de padrão. Já
a rede geradora de padrão é composta por populações de interneurônios, os quais
promovem a excitação de motoneurônios sinergistas múltiplos - a ativação de uma
população de neurônios geradora de padrão ativa a sinergia muscular correspondente.
189
da intensidade de funcionamento do GPC, na manutenção do equilíbrio, na adaptação
dos movimentos às condições externas e na coordenação da locomoção com outros atos
motores.
O controle do movimento
Vídeo disponível neste hiperlink
Lucas Flores Sartori
Maria Fernanda Império Pereira
Ranielle Lara Silva
O controle do movimento, quando em condições normais e ausência de
processos patológicos, é finamente regulado por circuitos neurais especializados. No
vídeo gravado, podemos analisar que esses movimentos podem dar-se de forma
consciente e voluntária, ou de forma involuntária.
190
apendicular). Entre esse importante trajeto, há circuitos que modulam a atividade, como
o Cerebelo, o qual regula os movimentos para que haja a menor discrepância entre o
planejamento e a execução; e como os Núcleos da Base, que são importantes para o
início do movimento, uma vez que recebem projeções Cortico-Estriatais, sendo que a
ativação dessa via resulta na liberação do Córtex Motor Primário para realizar o
movimento, o qual, por sua vez, é inibido tonicamente pelo Tálamo.
191
Marcha automática e consciente em cães
Vídeo indisponível
192
Em ambos os casos, o indivíduo precisa realizar o controle do movimento. Para
tal, as vias (e atividades) que saem do giro pré central, antes de deixarem o encéfalo,
originam ramos colaterais que enviam uma cópia da ordem motora (cópia de eferência)
aos núcleos da ponte e daí ao cerebelo, o qual compara com a informação
proprioceptiva que recebe; isto é: informação relativa ao estado do aparelho locomotor,
posição, pressão, dor, etc. Seguidamente (se necessário), origina um estímulo corretivo
que atinge o córtex alterando a ordem motora de acordo com as necessidades do
aparelho locomotor. Além disso, o mecanismo de feedback é fundamental, pois é
desencadeado quando há ocorrência de perturbações do equilíbrio decorrentes de
forças externas inesperadas. Nesse caso, os sistemas sensoriais fornecem informações
acerca da natureza do distúrbio que são utilizadas para que uma resposta apropriada
seja desencadeada. Dessa forma, esses mecanismos permitem a correção de
movimentos durante o curso e é por isso que pessoas de idade mais avançada, como a
minha avó que mora comigo, costumam ter movimentos menos precisos, pois o cérebro
tem menor sincronia entre as regiões cerebrais, além de redução da densidade neural,
depósito de proteína amilóide e achados microvasculares. Tudo isso compromete a
integração entre as informações sensoriais e a realização do movimento.
Tudo abordado acima, trata-se de como agimos durante nossa vigília, ou seja,
quando estamos acordados. Contudo, durante o sono, um estado de consciência menor,
ainda somos capazes de nos movimentarmos (como o SNA) e de detectarmos alguns
estímulos sensoriais (como altos barulhos).
Um bom exemplo para ser abordado são os espasmos durante o sono. Esses
movimentos involuntários e repentinos são mais comuns em bebês, uma vez que eles
ainda estão em processo de maturação do cérebro, estão aprendendo a distinguir o
sono da vigília; aos poucos, o bebê começa a diferenciar, permitindo-no o bloqueio dos
movimentos corporais durante o sono. No adulto, esse processo, em tese, já está
desenvolvido, e mesmo assim, pode ocorrer o espasmo: quando o estado de vigília
(estresse, fadiga, excesso de cafeína) está muito elevado, prolonga-se a transição com o
sono, o que causa esses movimentos.
193
Outro aspecto fundamental do movimento é o do aprendizado das tarefas
motoras. Esse aprendizado pode ser dividido em três estágios:
Por fim, há várias doenças motoras como crises convulsivas nas epilepsias, Coreia
de Huntington e a doença de Parkinson. Esse último exemplo, apresenta dados da
Organização Mundial de Saúde (OMS) que mostram que aproximadamente 1% da
população mundial com idade superior a 65 anos tem a doença. Embora ela seja mais
comum em idosos, também pode ocorrer em pessoas jovens e adultos. De modo geral,
é causada pela degeneração da substância negra, região responsável pela produção de
dopamina. Essa carência de dopamina acaba alterando os movimentos do corpo,
tornando-os descoordenados, principal sintoma da doença.
194
O elo entre cérebro, yoga e coordenação
Vídeo disponível neste hiperlink
Brenda Cristina Nava
Lucas Sato
Sthefany Santos Araujo
O controle do movimento é um processo que envolve diversas circuitarias que
permitem uma regulação fina. Essa regulação vai desde o próprio planejamento do
movimento motor, que envolve o córtex motor primário, córtex pré-motor e área
motora suplementar, até os circuitos motores. Esses agem tanto na manutenção dos
ajustes motores do movimento durante sua realização, quanto na elaboração de uma
memória motora, permitindo ao ser humano o desenvolvimento, aperfeiçoamento e
realização das mais complexas e variadas atividades motoras.
Ao mesmo tempo que o córtex motor primário envia os sinais para as vias
córtico-espinais, o cerebelo é ativado pelas vias córtico-ponto-cerebelares e utiliza as
informações provenientes do córtex para realizar seu papel como regulador do
movimento, efetuando ajustes temporais e espaciais, baseados em memória motora e
ajustando novas informações para posteriores movimentos. Podemos usar como
exemplo o arremesso de uma bola de basquete, pois o movimento necessário para que
atinja o seu alvo (no caso, a cesta) precisa ser estritamente regulado. Assim, as
experiências anteriores que constituirão a memória motora cerebelar permitem uma
195
maior taxa de acertos ao longo das tentativas, por conta do ajuste que esse órgão
realiza.
196
No primeiro exemplo, vemos o exercício da yoga que se baseia, além das
estratégias que envolvem a meditação e a mente, na prática de diferentes posições e
técnicas que, não só melhoram o condicionamento físico, como também proporcionam
um melhor controle postural. Sendo ainda uma atividade que necessita de uma
importante regulação, em especial, do cerebelo vestibular. Nesse exemplo, ilustrado no
vídeo, podemos ver que ao longo do tempo, com a contínua prática dessas diferentes
posições, ocorrem ajustes posturais, de modo que o praticante consegue fazer até os
movimentos mais complexos com menor dificuldade e mais leveza. Esse fato é um ótimo
exemplo do aprendizado motor pelos circuitos e da regulação do equilíbrio e postura
pelo cerebelo, permitindo que o indivíduo evolua suas capacidades nesse exercício para
corpo e mente.
O segundo exemplo escolhido pelos alunos foi a prática do crochê pela dona
Iolanda (avó de uma das alunas do grupo), uma atividade realizada por essa senhora há
cerca de 35 anos. Assim, a prática ao longo dos anos, permitiu um aprendizado de um
padrão motor, que corresponde a própria execução desse processo criativo, um
desenvolvimento e um aprimoramento dessa técnica. O aprendizado motor
proporcionado pela neuroplasticidade da adequação às tarefas e condições, as quais o
indivíduo está subordinado, permite tanto a realização mais precisa e aprimorada das
posturas de yoga, ou de qualquer exercício, esporte ou dança, quanto a execução dos
complexos movimentos que se traduzem em padrões motores para bordar um tecido,
que com a prática ficam mais fluidos e rápidos, quase como se fossem automatizados ,
como seria o exemplo dos movimentos aprendidos para tocar um instrumento musical.
Esse processo permite a criação de diversos padrões de bordados a partir da perícia
aperfeiçoada, traduzida na habilidade de movimentos precisos e eficientes pelos dedos.
197
ser humano possui, o que torna cada um único, uma vez que cada um participa de
diferentes experiências e distintos estímulos, proporcionando aprendizados e
habilidades desenvolvidas variadas, assim como as próprias idiossincrasias dos
indivíduos.
A construção do Movimento
Vídeo disponível neste hiperlink
198
exemplo. O cerebelo, que auxilia na postura e no equilíbrio, é requisitado na
coordenação, por mais automática que seja a manutenção da postura e do equilíbrio.
Tal estrutura atua na regulação da contração e do relaxamento de diversos músculos
esqueléticos.
199
Quando se fala sobre a atividade motora, a associação é feita, geralmente, com
movimentos como os envolvidos nos esportes. No entanto, deve-se lembrar dos
movimentos táteis delicados, como no bordado, na costura, na pintura e até em jogos.
No vídeo, o jogo “pega-varetas” constitui um claro exemplo do que foi discutido até o
momento. Os movimentos rápidos e precisos exigem cada vez mais estratégias com a
finalidade de retirar todas as varetas coloridas, uma de cada vez, sem tocar na vareta de
cor preta ou outra adicional, pois a cada vez que isso ocorre, o jogador perde a vez. Cada
cor da vareta vale uma pontuação e vence quem tiver a maior pontuação. Em síntese,
nesse jogo os movimentos são planejados pela ativação do córtex pré-frontal,
recrutando as áreas pré-motora e motora suplementar, e executados pelo córtex motor
e de suas vias descendentes.
200
Assim, diversos circuitos são requisitados para a realização do movimento. Tais
circuitos envolvem não somente as áreas motoras cerebrais, como também áreas
relacionadas à memória, à percepção do ambiente e dos próprios segmentos corporais
(propriocepção). Nesse contexto, cabe o questionamento: nossos movimentos são
reflexos do nosso meio interno, ou nosso meio interno é um reflexo dos nossos
movimentos? Movimentos e sensações que nos conectam com o mundo exterior são
capazes de alterar nossos pensamentos, nossos desejos, nossos sonhos?
201
acordes que ele pode tocar no violão, e cada um deles exige um movimento diferente
em seus dedos. Essas alternativas disponíveis são “filtradas” através dos núcleos da base
e seguem de volta ao córtex, até que a decisão seja tomada, com base em sua
experiência (aprendizado motor). Quando a decisão é tomada, as áreas motoras do
córtex e do cerebelo enviam instruções para o tronco encefálico e a medula espinal;
ocorre, então, a ativação de neurônios no tronco e na medula, levando à execução do
movimento. A ativação, em tempo apropriado, de neurônios motores na região cervical
da medula, gera um movimento coordenado do ombro, do cotovelo, do pulso e dos
dedos. Simultaneamente, eferências do tronco à medula espinal comandam
ajustamentos apropriados para evitar um posicionamento errado dos dedos, por
exemplo. Durante toda a música, o cerebelo compara as características do movimento
em execução com o plano motor prévio e promove as correções necessárias.
202
Quando analisamos o terceiro indivíduo, uma criança de 6 anos de idade,
notamos que ela não apresenta dificuldades motoras para subir, isto é, seus músculos
são suficientes para suportar o seu peso. Porém, os seus olhos se mantêm fixos na
escada, já que ele não está habituado a subi-la e, neste caso, o sistema visual provê
informações sobre a posição do corpo em relação ao meio externo, auxiliando na
manutenção postural. O sistema visual está ativo nos três indivíduos, mas é notável a
sua maior utilização na criança, que inclusive mantém a sua cabeça levemente inclinada
em direção ao chão.
Então, podemos concluir este texto afirmando que o cerebelo aprende com os
nossos erros. Quando o movimento não ocorre como o planejado, o circuito cerebelar
básico se reorganiza, por meio de alterações na excitabilidade de neurônios cerebelares.
203
Assim, após um ato motor ter sido realizado várias vezes, ele se torna cada vez mais
preciso, seja ele subir uma escada ou tocar violão.
Lais Passinho
Luiz Gustavo Silva Cesarino
Raquel Farias Barreto Silva
Tendo em vista os conteúdos abordados nas aulas “Controle da Postura e
Movimento - Integração Motora” e “Regulação da Atividade Elétrica Cerebral”, o
objetivo do vídeo é analisar como o nível de atenção de um indivíduo é alterado em
diferentes momentos do ciclo de vigília, com a remoção de uma informação sensorial
(visão). O nível de atenção foi observado a partir da marcha em um percurso com
obstáculos, sendo que uma única chance de memorização visual foi dada ao participante
(percurso realizado com olhos abertos, duração aproximada de 15 segundos). Logo em
seguida, o percurso foi realizado com olhos vendados, sem qualquer ajuda ou instrução
(duração aproximada de 33 segundos). Essas duas situações ocorreram por volta das 17
h, período ativo do dia. No dia seguinte, o indivíduo foi despertado no horário de
costume e teve menos de 5 minutos de intervalo entre levantar da cama e realizar o
percurso pela última vez, com olhos vendados e sem instruções (duração aproximada
de 48 segundos). Seu desempenho foi nitidamente pior na última tentativa, tanto pela
maior duração, quanto pela falta de precisão nos movimentos. Essa diferença pode ser
atribuída a alguns fatores: no 1º dia, o indivíduo teve a chance de fazer o percurso com
olhos abertos imediatamente antes de fazê-lo com olhos vendados. O evento estava
fresco em sua memória e o período do dia escolhido era ativo. No 2º dia, o indivíduo
não teve a chance de realizar o percurso com os olhos abertos. O evento estava
registrado há algumas horas em sua memória e o período do dia escolhido era menos
ativo. Nessa análise, o foco estará sobre o período em que o experimento ocorreu,
embora ele não seja a única influência nos resultados obtidos.
204
No primeiro trajeto, podemos salientar o papel dos geradores centrais de padrão
medular na marcha. Esses motoneurônios possuem relativa autonomia, porém recebem
influências das informações sensoriais e de áreas corticais e subcorticais e estão
envolvidos no aprendizado de tarefas complexas. A marcha deve ser adaptada às
demandas do ambiente (obstáculos), o que se dá pela atividade do sistema visual na
modulação dos neurônios do córtex motor, criando uma memória a curto prazo para
orientar as ações. Dele e do tronco encefálico partem sinais descendentes que farão o
ajuste dos movimentos. A região locomotora mesencefálica, por sua vez, enviará sinais
para ativar o sistema locomotor medular. O cerebelo recebe sinais através de vias
espino-cerebelares, de receptores periféricos e do gerador central de padrão medular e
tem a função primária de controlar a postura e o movimento, armazenando o
aprendizado motor e a correção de erros (diferença entre ação real e ação pretendida).
Ele também é associado à memória espacial. Em sequência, o padrão locomotor é
ajustado através dos núcleos do tronco cerebral. Por fim, a ativação de neurônios no
tronco e na medula leva à execução do movimento.
205
dos ciclos sono-vigília, assim como do aprendizado e da memória. Seus axônios se
projetam difusamente a várias partes do encéfalo. Dados obtidos de macacos em vigília
mostram que os neurônios do locus coeruleus são mais bem ativados por estímulos
sensoriais novos e inesperados, como aqueles verificados no 1º dia do experimento aqui
proposto. Quando o animal está repousando calmamente (menos vigilante), eles são
menos ativos. Podemos comparar essa última situação com a do participante no 2º dia,
pela influência do momento do ciclo de vigília, em que a capacidade cerebral de
processar as informações sensoriais e motoras está reduzida, justificando o pior
desempenho.
206
Assim, o movimento seguinte de planejamento da ação é beneficiado pela atenção que,
no caso do vídeo, consiste no cachorro planejando a maneira de pegar a bolinha. O
reconhecimento do objeto precede a atenção e o planejamento, captando o interesse
do animal em prestar atenção à bolinha. Esse reconhecimento é realizado por um feixe
de processamento das áreas extra-estriatais chamado feixe ventral, que também está
envolvido na percepção do mundo visual.
207
controlam os músculos posturais. Além disso, a postura corporal é ajustada pelo sistema
vestibular, que informa sobre a posição e o movimento da cabeça, dando o sentido do
equilíbrio, e auxiliando na coordenação dos movimentos.
208
Atividade em Família
Vídeo disponível neste hiperlink
Alexia Viegas
Para o ser humano, espécie profundamente sociável, o reconhecimento de faces,
a interpretação do outro e o planejamento da tomada de decisões em relação ao próprio
comportamento consistem em mecanismos evolutivos que propiciaram e fomentaram
a organização da vida em grandes comunidades. O pensamento cognitivo complexo foi
capaz de inventar e estabelecer ideias concebidas como entidades sólidas, tais como o
conceito de Estado, de capital, de nação. Dessa forma, o desenvolvimento do córtex
cerebral associativo do ser humano foi o responsável por criar as relações interpessoais
e o mundo globalizado como conhecemos hoje, ou como conhecíamos até então, uma
vez que a pandemia do novo coronavírus põe em xeque o modo de vida criado pela
humanidade e abre caminho para dúvidas e reflexões sobre nossas práticas e valores.
Embora esteja na mesma cidade onde morei parte considerável da minha vida,
ou seja, ainda que eu esteja em um ambiente reconhecido pelo meu córtex temporal
associativo, que possui a capacidade de identificar um local e associá-lo a emoções, o
contexto familiar no qual eu me insiro já não é mais o mesmo. Após o divórcio dos meus
pais, minha mãe casou-se novamente e, devido à distância entre São Pedro e Ribeirão
Preto e à falta de tempo e razão, até então nunca tive a oportunidade de conviver por
muitos dias seguidos com meu padrasto.
210
direcionamento político foram, sim, ingredientes que propiciaram diversos embates e
discussões entre todos os membros da casa. Tudo isso durante uma fase em que
ainda buscávamos uma adaptação entre nós mesmos em um contexto novo, tanto em
relação à composição da família, quanto em relação aos acontecimentos ao redor do
globo.
211
que permite que eu reconheça o rosto de meus familiares, é primordial para que o ser
humano consiga estabelecer uma vida em sociedade, para que consiga interagir com
outros membros adequadamente e, assim, cooperar em uma atividade ou objetivo em
comum. Dessa forma, o córtex temporal associativo influencia em muito o modo de vida
e de organização social do ser humano.
Refletindo sobre isso, acredito que a quarentena imposta como medida protetiva
em relação à pandemia de coronavírus ofereceu uma oportunidade para que eu
conhecesse melhor meu padrasto e para que eu me tornasse sua amiga, ainda que
sejamos pessoas muito diferentes. Além disso, poder desfrutar de momentos na
companhia da minha mãe e do meu irmão foi uma experiência maravilhosa. Houve
também uma oportunidade para que nós nos adequássemos à nova dinâmica familiar e
aprendêssemos um pouco mais sobre controlar a raiva e as reações explosivas
processadas na amígdala.
Deste modo, essa receita foi escolhida com base no processamento cortical
cognitivo necessário para sua interpretação e execução, e, especialmente, pelo
conteúdo emocional que ela representa. Tal receita chama-se Pão de Cristo, que se trata
de um pão de fermentação natural, que no início do outono as famílias, vizinhas nossas
quando eu era criança, compartilhavam o fermento. Ninguém sabe exatamente de onde
ele vinha, só me recordo que recebíamos uma parte, deixávamos ele crescer por 24
horas e depois de mais 2 dias tínhamos um pão delicioso. Me recordo do carinho, do
conforto e da felicidade de comer este pão sentado à mesa com a minha família, era
como se não houvesse nenhum problema no mundo. Assim, nós só comíamos este pão
quando recebíamos o fermento, e, minha mãe, de tanto eu pedir, ao longo de todos
esses anos, aprendeu como fazê-lo e me ensinou. E esta tem sido nossa ligação, mesmo
que a distância, fazendo pão juntas durante a pandemia. Assim, caso não tenha ficado
claro, essa foi a primeira vez que fiz pão em minha vida e os pontinhos pretos são
linhaça, que coloquei para substituir o ovo.
A motivação para realizar essa receita foi em parte pelo afeto, abraço e colo de
minha mãe representado por ele, exatamente aquilo que tenho necessitado nesse
momento, mas também pelo desafio de fazer algo difícil que nunca havia feito e que, se
não fosse pela pandemia, talvez nunca faria.
213
Consequentemente, o vídeo inicia-se apresentando a receita, anotada em meu
caderno de receitas, e em que momento estou nela (6ª etapa). Há um pequeno atraso
na minha apresentação pois minha cachorrinha tira minha atenção daquilo que estou
fazendo, levando alguns poucos segundos para retornar e acabo acelerando a
apresentação, demonstrando como nosso cérebro reage em diferentes situações e
como nossa atenção é flutuante. Neste momento do vídeo, toca um trecho da música
“Vagalumes cegos” do Cícero. Todas as músicas e seus respectivos trechos foram
escolhidas de forma intuitiva, como forma de complementar a aura deste momento e
representar como é minha rotina quando não estou estudando ou realizando outras
obrigações.
E, por fim, ocorre a cena em que o pão está pronto e sendo servido à mesa
especialmente preparada para receber a minha família (no caso, eu e meu marido); a
Luna também participa da cena e a música que toca é a “Café com pão”, também do
Maglore.
214
Realizar o preparo deste pão me aproximou de minha mãe, das lembranças boas
da infância e trouxe alegria, conforto e felicidade para mim, para minha mãe e
demonstrou todo o meu carinho e amor pela família que agora eu estou construindo
com meu marido. Tudo isso exigiu que fossem ativados os meus córtices: associativo,
cognitivo, motor, e sensorial, além de áreas límbicas relacionadas pelo sentido de
recompensa, prazer e memória. Tal atividade ganhou espaço dentro do contexto do
Covid-19 justamente por ser significativa e por proporcionar uma pausa frente ao piloto
automático do dia a dia.
215
Como usamos o cérebro para interagir com o
meio?
Vídeo indisponível
A principal fonte de inervação dos córtices associativos são outras áreas corticais,
sendo também importante o tálamo, particularmente o núcleo pulvinar (para o córtex
associativo parietal) e núcleos mediodorsais (para córtex associativo frontal), dentre
outros, como os núcleos anterior e anterior-ventral. São também relevantes conexões
com os núcleos dopaminérgicos do mesencéfalo, núcleos noradrenérgicos e
serotoninérgicos da formação reticular do tronco encefálico e núcleos colinérgicos do
tronco encefálico e do prosencéfalo basal. Esses sinais difusos contribuem para o
aprendizado, motivação e grau de alerta. Uma variedade de transtornos
comportamentais e psiquiátricos, como dependência química, depressão e déficit de
atenção, estão associados a disfunções em um ou mais desses circuitos
neuromodulatórios. Atividades ligadas ao prazer, incluindo apreciação musical e
literária, dança e esporte são capazes de modular o comportamento, constituindo
“ferramentas de tratamento de ansiedade ou depressão, de geração de empatia,
generosidade, pensamento coletivo ou solidário”. Um importante fator nesse contexto
é a via dopaminérgica mesolímbica, com ação na regulação dos fenômenos emocionais.
Dessa forma, a amígdala, subículo (da formação hipocampal) e córtex pré-frontal
orbitomedial retransmitem sinais relevantes ao reforço emocional para divisões ventrais
do estriado anterior, cujo maior componente é o núcleo accumbens, que integra sinais
excitatórios do telencéfalo sob a influência modulatória da dopamina. Essas projeções
216
dopaminérgicas provêm da área tegmentar ventral do mesencéfalo e, sob condições
normais, estão apenas fasicamente ativas. Quando disparam uma rajada de potenciais
de ação, a dopamina é liberada no núcleo accumbens, cujos neurônios espinhosos
médios tornam-se muito mais responsivos a sinais de entrada excitatórios coincidentes
de estruturas telencefálicas. Esses neurônios estriatais ativados, por sua vez, projetam
para neurônios do pálido e os inibem. A supressão da atividade tônica no pálido
desinibe, dessa forma, o alvo talâmico da alça límbica, que é o núcleo mediodorsal, cuja
ação é reforçada por projeções corticais diretas dos neurônios dopaminérgicos da área
tegmentar ventral e por projeções glutamatérgicas do grupo basolateral de núcleos da
amígdala. Assim, o núcleo accumbens é considerado um elemento chave na integração
das emoções envolvendo recompensa e prazer com as ações motoras voluntárias.
217
nível de atenção direcionado a um objeto, torna-se facilitada a percepção daquele
estímulo e a produção de respostas comportamentais adequadas, mais rápidas e
precisas. A maior responsividade de neurônios do córtex sensorial a estímulos aos quais
se dispensa atenção é estimulada por sinais oriundos, além do córtex parietal, do córtex
pré-frontal.
218
de planejamento e de contenção social têm localização mais ventromedial. Além disso,
neurônios do córtex pré-frontal participam diretamente do planejamento de sequências
de movimentos, através de neurônios seletivos para cada posição na sequência motora
aprendida.
Percepção Emocional
Vídeo indisponível
219
execução de um trabalho, ou de uma determinada atividade física ou ainda coibir
determinadas atitudes consideradas “feias” ou “erradas” pela sociedade.
Por fim, vale ainda destacar como a depressão, uma doença tão comum, que tem
seus índices aumentados no período de isolamento, afeta o córtex associativo. No que
diz respeito ao córtex frontal, as alterações clínicas indicam redução da
psicomotricidade e da capacidade de tomar decisões, além de comprometimento das
vias associadas ao sistema límbico. Através de ressonâncias e PET scan foi observada
redução do metabolismo e do suprimento sanguíneo para essas áreas, assemelhando
tais quadros ao de pacientes com distúrbios bipolares. Em relação às conexões dessa
região, foram observadas alterações nas vias de manutenção da vigília, sendo essas
suprimidas em detrimento de vias de processamento interno, como emoções e
pensamentos.
220
Ao falar do córtex associativo temporal, há estudos relacionando lesões nessa
região a disfunções no hipotálamo, hipófise, adrenal, hipocampo e amígdala, regiões de
diversos sistemas e fundamentais para diversas funções, dentre elas, o processamento
dos sentimentos e a expressão das emoções.
Assim, visto tudo o que foi retratado, é possível concluir que os córtices
associativos têm importância fundamental na vida de um indivíduo, seja para a vida em
sociedade, a vida em isolamento (visto que uma sempre está atrelada à outra) ou à vida
íntima de uma pessoa. Tais regiões são necessárias para o bom funcionamento em
diversos sentidos, afetando a sensibilidade, motricidade e diversos outros sistemas
indiretamente relacionados ao sistema nervoso central. Logo, o comportamento de um
indivíduo é fundamentalmente dependente dessas áreas, influenciando suas ações e a
influência destas sobre os demais ou sobre o próprio indivíduo, sendo que
anormalidades causam depressão, o mal do século XXI, muito recorrente na atual
situação de isolamento.
Otávio Monteferrante
Ronaldo P. Brito Filho
Qual o valor da memória? Talvez tudo e até mesmo nada. Talvez déssemos tudo
para relembrar os nossos primeiros passos, o sentimento insólito do primeiro dia de
aula, das nossas primeiras amizades, o descompasso do nosso primeiro beijo, a mágica
do nosso primeiro amor, a inocência e a brilhante descoberta de tudo. E é bem possível
também que as brigas com os pais, a primeira desilusão amorosa, os erros que
cometemos por falta de maturidade e sabedoria não nos valha nada e seria melhor
esquecê-las. Dito isto, a memória é o pilar do que somos e sem ela não seríamos nada.
Sendo positivos ou não, os acontecimentos contidos no nosso “HD” interno são
fundamentais e únicos para a constituição da singularidade que somos nos dias atuais.
221
A fim de compreender o mundo que o cerca, bem como de dominá-lo, o ser
humano tratou de dividir. Dividiu as espécies em reinos, dividiu a literatura da
matemática, a razão da emoção, até mesmo dividiu-se em classes sociais, religiões e
etnias. No estudo do organismo humano a divisão também se mostrou ser uma
ferramenta importante na compreensão dos processos fisiológicos. Entretanto, sabe-se
muito bem que o organismo não é composto por um conjunto de sistemas
individualizados. Pelo contrário, o organismo, por definição, é o conjunto de estruturas
que interagem fisiologicamente, executando os diversos processos necessários à vida.
223
Por algum motivo que nenhum dos 99 alunos da turma 68 conhece, os
professores estão passando uma grande quantidade de trabalhos e provas, e poucas
aulas online, o que tem sobrecarregado ainda mais nossos estudos rotineiros pois, além
de aprendermos sozinhos, ainda temos que entregar “resultados”. Nossos dias têm sido
longos, enquanto ficamos sentados tentando cumprir todos os prazos.
224
medial, tais como: sempre fechar a porta do quarto ao entrar para que a Maria não fuja,
deixar a janela aberta durante o meio-dia e no final da tarde, para cumprimentar meus
pais quando chegam e sempre trazer uma garrafa de água bem grande, pois a cozinha é
longe.
De forma leiga, seria como dizer que o córtex parietal é responsável pela
inteligência cinética e espacial. Por isso, somos capazes de manter a postura durante o
estudo, bem como equilibrar a caneta.
225
Sem dúvida, estudar a neurobiologia no meu contexto cotidiano deu cor ao
aprendizado. Meus hobbies como tocar piano, desenhar, pintar e me exercitar
ganharam a complexidade de seus mecanismos de forma empolgante. Além disso, os
atos de discorrer sobre eles evocam alegria e satisfação.
Consigo, a partir de agora, entender o ser humano primitivo que habita em mim
e que se manifesta quando ouço e toco música, quando me expresso através das
expressões faciais em desenhos e quando sinto a necessidade de correr, me
movimentar.
Após sua morte no jogo, ele naturalmente tem uma reação de enorme
insatisfação, que o leva a pegar um martelo e, impulsivamente, ameaçar quebrar seu
próprio computador. Entretanto, ele é capaz de reprimir seu impulso violento, graças à
ação do córtex pré-frontal, responsável por garantir o filtro social, e, dessa forma, torná-
lo capaz de antecipar as possíveis consequências que resultariam desse ato impulsivo, o
que o impede de concretizá-lo. O córtex pré-frontal é uma região cerebral associada a
um freio, devido à sua capacidade de suprimir impulsos de áreas cerebrais que medeiam
o medo ou, como nesse caso, a agressividade. O estresse gerado pela insatisfação do
jovem com o jogo, somado ao estresse do cotidiano, pode gerar consequências para a
vida adulta. Estresse precoce, afinal, está associado a uma propensão ao
desenvolvimento de depressão na vida adulta.
Apesar de o jovem ter se contido para não quebrar o computador, sua raiva
permanece e, após sua saída do quarto, ele tenta amenizar sua frustração com um ato
de violência injustificável sobre um animal inocente, mostrando uma falha no filtro
imposto pelo córtex pré-frontal. Esse ato demonstra uma propensão à violência, mais
227
comum em jovens, que possivelmente teve origem em algum trauma vivenciado pelo
indivíduo durante a infância em associação com uma predisposição genética própria.
Soma-se a isso também talvez uma insensibilização promovida justamente pela mídia
violenta ao qual ele é exposto, como o jogo que ele joga. É interessante notar que a
escolha dessa mídia de entretenimento violenta reflete uma inclinação maior que os
jovens possuem para atividades perigosas, mesmo que simuladas, a qual geralmente é
refletida em atos violentos e belicosos.
Ele senta-se, então, para comer, ainda mantendo claramente, uma expressão de
raiva em seu rosto. A expressão facial é a principal forma de comunicação de
sentimentos nos humanos. O irmão do jovem, portanto, ao chegar na cozinha, a partir
simplesmente da identificação dessa expressão, é capaz de perceber o que ele está
sentindo, graças ao córtex associativo temporal, que permite esse reconhecimento, e à
ativação da amígdala. A falha na identificação da emoção sentida pelo outro a partir da
expressão facial indicaria um funcionamento indevido dessas áreas do cérebro,
podendo apontar a existência de transtornos do espectro do autismo. Como houve uma
ativação adequada do córtex associativo temporal e da amígdala, contudo, o irmão do
jovem apresentou uma resposta neurobiológica do comportamento, caracterizada pela
empatia típica da relação fraternal, expressa pela tentativa de aliviar a raiva do seu
irmão. Inicialmente, ele mostra algo engraçado em seu celular, em uma primeira
tentativa de aproximação. O jovem, em resposta à piada, ri, demonstrando ativação do
lobo frontal, relacionado também à compreensão de piadas.
Percebemos que a raiva já começa a passar, mas isso só se consolida de fato com
o ato seguinte, em que o irmão toca na gaita a música favorita do jovem nervoso, e,
finalmente, consegue quebrar de forma total a tensão. Esse ato de tocar gaita somado
à dança alegre do jovem não mais raivoso se contrapõem diretamente à raiva e à
violência expressas anteriormente, como manifestações sublimes da arte possibilitadas
pelo encéfalo, apresentadas aqui como uma válvula de escape dos estresses cotidianos
e como um convite à interação entre indivíduos.
228
observado na primeira reação não tão amigável do jovem raivoso à aproximação de seu
irmão. Entretanto, também nos é apresentada a oportunidade de buscar um
estreitamento de laços com familiares com quem talvez não tivéssemos tanto tempo de
convivência e sair um pouco do “piloto automático”, uma vez que temos mais tempo
para refletir sobre nossas ações e seus impactos. Isso pode ser alcançado por pequenas
manifestações de doçura e gentileza, como na manifestação de empatia entre um jovem
e seu irmão retratada no vídeo, que em situações normais não ocorreria, já que o
contato deles é significativamente reduzido em decorrência do fato de morarem em
cidades distintas. Essa gentileza e seu efeito positivo sobre seu ânimo é percebida pelo
próprio jovem, que, sentindo gratidão, é capaz de realizar um pensamento reflexivo
possibilitado pelo córtex associativo frontal, e, assim, perceber sua responsabilidade em
retribuir o ato de solidariedade. Dessa forma, ao final, quando seu irmão lava as louças,
ele se oferece para tomar para si essa atividade, gerando em seu irmão a mesma
gratidão que ele havia sentido anteriormente.
Castelo de cartas
Vídeo indisponível
229
sensoriais. Todavia, no que tange ao córtex associativo, o Homo sapiens apresenta uma
clara vantagem, sendo essa área majoritariamente responsável por interpretar a
situação do ambiente à nossa volta e de nosso ambiente interno, integrá-las com
memórias e com as emoções anexas (aferências límbicas), e, a partir disso, formular as
soluções mais condizentes com o momento, além de planejar as ações futuras por
antecipação baseadas nas experiências passadas. Assim, pode-se afirmar que nessas
áreas surge a cognição e o pensamento abstrato/contemplativo tão característicos da
nossa espécie.
230
antecipar as consequências mais prováveis de cada ato. De certa forma, a construção do
castelo de cartas é análoga a essa vivência, pois sabemos como devem ser empilhadas
as cartas, prevemos com certa assertividade as possíveis fraquezas estruturais, mas
sempre acontece algo de inesperado, e devemos compreender a situação para não
deixar toda a obra desmoronar, o que acaba ocorrendo eventualmente.
231
envolvido na atenção e na percepção (consciência) do corpo e dos estímulos que atuam
sobre ele; o córtex associativo temporal está envolvido no reconhecimento e na
identificação de informação sensorial altamente processada; e o córtex associativo
frontal está envolvido na orientação de comportamentos complexos, pelo planejamento
de respostas a uma estimulação em andamento (ou informação lembrada), levando em
conta a avaliação de si próprio em relação ao mundo externo, em especial em contextos
sociais. A amígdala, por exemplo, é a região do cérebro que se ativa quando visualizamos
expressões faciais, sendo um dos princípios da empatia.
232
sentimento de liberdade. Além disso, a música pode representar muitos sentimentos,
como pode ser observado na música Pumped up Kicks, da banda Foster the People, que
representa os sentimentos e o ponto de vista de um atirador. Essa música relembra o
atentado de 1999 na cidade de Columbine, nos Estados Unidos, quando dois alunos
mataram diversas crianças em uma escola e depois se suicidaram, e tantos outros
atentados desse tipo que ocorrem ainda nos dias de hoje. Por fim, podemos destacar as
expressões artísticas geradas em momentos de grande repressão e censura, como visto
no Brasil e em países da Europa, quando compositores escreviam músicas com letras
que expressavam sua indignação com o cenário sociopolítico da época, além de
sentimentos de esperança para transmitir calma e confiança em dias melhores para a
população.
233
vida do paciente, promovendo sua inclusão social, aumentando sua auto-estima e
promovendo uma vida mais gratificante e feliz.
Associações no Comportamento
Vídeo disponível neste hiperlink
234
crucialmente, de análises de pacientes com lesões em determinadas áreas. Assim,
conclui-se que determinado córtex está relacionado com uma função específica não
pelas conexões conhecidas, mas sim porque essa função foi prejudicada quando houve
lesão do córtex estudado.
Em nosso vídeo, o objetivo foi tentar associar diferentes funções a cada córtex,
respeitando sempre o conhecimento de que essa associação é feita por meio de estudo
com pacientes lesados, não por meio de pacientes saudáveis.
235
colocamos vídeos de alguns utensílios diários e de pessoas e memórias familiares que
perderiam seu reconhecimento em pessoas cujo córtex temporal foi lesado.
Além das pesquisas acerca dos córtices associativos, também temos o estudo do
comportamento humano, chamado etologia (estudo do comportamento social e dos
costumes humanos). Comportamento é todo e qualquer procedimento de alguém face
a estímulos sociais ou a sentimentos e necessidades íntimos ou uma combinação de
ambos, e o objetivo desses estudos é entender e criar padrões de acordo com os eventos
neurofisiológicos em situações específicas.
237
significado e serão enviadas à área de Broca que, por sua vez, será responsável por
coordenar o alistamento dos músculos para o ato de proferir as palavras em questão.
238
alterações e de modulações comportamentais em quem tem a possibilidade de realizar
a atividade. Como pode ser observado nas seguintes situações: a observação de uma
foto de um momento alegre (e. g. uma festa de aniversário ou um dia de sol durante
uma viagem à praia) pode ser responsável pela associação das informações obtida do
córtex associativo com os engramas relacionados às memórias relativas à situação
observada evocando alterações comportamentais relativas à expressão de alegria e
felicidade, demonstradas pela atividade motora (e .g. atuações dos músculos da mímica
para esboço de um sorriso) e outras atividades neurais responsáveis pela promoção de
bem estar. Também temos que a observação de uma foto de uma pessoa querida com
a qual não se tem mais contato (e. g. entes queridos que perdemos ou amigos cujo
contato teve sua frequência diminuída) pode ser responsável pelo esboço de uma
expressão de tristeza ou saudade (e. g. depressão dos lábios e incremento na produção
de lágrimas).
239
associação de memória e sentimento - permite a interpretação de um momento
marcante de nossas vidas, fato que envolve muitos circuitos neurais, como: visão,
sistema límbico e circuitos formadores de memória. Situação que, por sua vez, é
responsável por extensas modificações comportamentais, esboçando reações que
trafegam entre a alegria, a tristeza e a dor. Portanto, o simples ato de olhar uma foto
pode dar início a processos diversos: pessoas podem rir ou chorar, querer compartilhar
ou não querer lembrar ou, até mesmo, sentir dor, por meio da complexa ação dos
sistemas associativos e comportamentais existentes na constituição do nosso sistema
nervoso.
240
alinhados de forma radial que atingem todas as camadas corticais e recebem sinais que
são segregados em bandas radiais ou colunares; e interneurônios dentro de camadas
corticais específicas originam axônios locais que se estendem horizontalmente no
córtex, ligando grupos de neurônios com funções semelhantes.
Dessa forma, o córtex associativo pode ser dividido em três regiões: parietal,
temporal e frontal. O primeiro é responsável, entre outras funções, pela capacidade
de atenção. Conforme estudos feitos em encéfalos com o córtex associativo
parietal lesionados, confirmados por achados em técnicas de imageamento,
evidenciaram-se déficits de atenção denominados síndrome de negligência
contralateral, caracterizados pela negligência total ou parcial de um ou dos dois lados
do espaço externo. É importante ressaltar que a função de atenção não é
simetricamente distribuída no córtex parietal direito e esquerdo. O lado direito é
responsável pela atenção total do lado esquerdo e parcial do lado direito, enquanto o
lado esquerdo somente pela atenção parcial do lado esquerdo. Desse modo, uma lesão
no hemisfério direito gera grave negligência do lado esquerdo, enquanto uma lesão no
hemisfério esquerdo apenas gera negligência mínima para o lado direito.
241
temporal inferior, normalmente no lado direito, podem desenvolver prosopagnosia e
não conseguem mais identificar indivíduos por características faciais. Contudo, nota-se
que o reconhecimento de indivíduos ainda é possível através de outros meios, como
voz, forma corporal, sexo. Nos Homo sapiens, a região associativa que mais se destaca
é o córtex associativo frontal. Esse é responsável por derivar funções como a
personalidade individual, planejamento, avaliação de si próprio em relação ao mundo
externo e integra informações complexas dos demais córtices. Dessa forma, uma lesão
no córtex frontal pode levar à mudança drástica na personalidade do indivíduo, como
visto no caso famoso de Phineas Gage, trabalhador de uma ferrovia, em Vermort, EUA,
que, após uma explosão acidental, teve seu crânio e córtex frontal perfurados por um
bastão de metal. Mesmo com a gravidade do acidente, Gage não perdeu a consciência,
contudo, após sua recuperação não pode voltar a trabalhar. Além disso, diversos relatos
indicam que a personalidade de Phineas Gage mudou radicalmente. O sujeito
moderado, disciplinado e decente passou a se comportar com grosseria, sem
moderação ou consideração por uma adequada convivência social.
Como um animal com medo de seu predador, que ativa seu sistema de
fuga, preparando-se para correr e fugir para o mais longe possível com o objetivo claro
de autopreservação, nós, seres humanos, analogamente, possuímos sistemas
de sobrevivência e de defesa ainda vistos na vida urbana. Chamado de mecanismo da
luta ou fuga, é uma resposta fisiológica que ocorre diante da percepção de ataque,
ameaça ou potencial prejuízo que prepara o animal para o combate ou para fugir. Mais
especificamente, a medula suprarrenal produz uma cascata hormonal que resulta na
secreção de catecolaminas, especialmente norepinefrina e epinefrina. Tal reação
242
fisiológica provoca respostas como aceleração da ação do coração e da respiração,
diminuição do peristaltismo, dilatação dos vasos sanguíneos para os músculos, midríase,
relaxamento da bexiga etc.
Gatilho
Vídeo disponível neste hiperlink
243
tais como imagiologia por ressonância magnética (IRM) e eletroencefalografia (EEG),
tem permitido avanços significativos na compreensão da base neuronal do controle
cognitivo.
244
e são interconectadas. Essas áreas associativas recebem informação acerca da visão, do
som e do tato, de áreas visuais, auditivas e somatossensoriais de ordem inferior. O
córtex associativo temporal utiliza essas informações recebidas para mediar o
reconhecimento de rostos e objetos no ambiente e, através de projeções para o córtex
frontal ventral, disparar respostas emocionais adequadas a eles; como, por exemplo, o
reconhecimento de rostos familiares, que possuem conteúdo emocional. Dessa forma,
além de receber aferências de múltiplos sistemas sensoriais, essa região cerebral
também está fortemente ligada a áreas envolvidas com a emoção e a cognição no lobo
frontal ventral. Em seres humanos, lesões no lobo temporal determinam agnosias
(distúrbios de reconhecimento), afasia de Wernicke (distúrbio da compreensão da fala)
e degradação da memória semântica. Portanto, as funções do córtex temporal
envolvem os processos de aprendizado e memória, de forma que a solicitação de
evocação de memórias em várias idades auxilia nesta tarefa. Em macacos, neurônios
temporais disparam em resposta a estímulos sensoriais, e seus disparos são seletivos
para características dos objetos e de faces que são importantes para seu
reconhecimento.
Inicialmente, tem-se que características dos objetos observados por Gabriel, tais
como elementos visuais e somatossensoriais, chegam ao córtex associativo temporal, o
qual integra essas informações advindas de diversas áreas (visual, somatossensorial etc.)
e medeia o reconhecimento desses itens. Subsequentemente, o córtex associativo
temporal dispara, através de projeções ao córtex frontal ventral, respostas emocionais
adequadas a eles. O córtex frontal ventral, por sua vez, apresenta projeções para o
hipocampo, cuja principal função é formar e evocar memórias e/ou induzir o resto do
córtex cerebral a fazer o mesmo, e para a substância cinzenta periaquedutal,
245
relacionada com o controle autonômico dos processos ligados às emoções. Essas
regiões, então, direcionam respostas emocionais e/ou afetivas referentes aos objetos
reconhecidos. Dessa forma, essas respostas fazem com que Gabriel evoque lembranças
relativas aos bons momentos de seu ano de calouro, associado a esses itens, deixando-
o saudoso.
Escolhemos esse tema, dentre os demais propostos, pelo fato de que a todo
momento nos deparamos com diferentes objetos, desde meros utensílios existentes em
nossa casa até objetos que nos remetem a bons momentos e evocam
memórias/emoções relacionadas a eles; e rostos, desconhecidos ou familiares, que
também podem estar associados às emoções. Julgamos, também, de suma importância
a nostalgia e a lembrança de bons momentos durante o momento difícil pelo qual
estamos passando, dando-nos motivo e perspectiva para enfrentá-lo.
246
São os grandes responsáveis pela cognição e cada córtex possui funções
principais distintas: o córtex parietal associativo está relacionado com o processo de
atenção, o temporal com o reconhecimento de faces e objetos e o frontal com o
planejamento de respostas comportamentais e pensamento reflexivo. Além disso, a
conexão entre as áreas associativas e núcleos dopaminérgicos do mesencéfalo
contribuem para a motivação, tendo relação com o sistema de recompensa.
Na segunda parte, a relação com o estresse é explorada por meio do uso da arte
como forma de terapia e extravasamento de emoções. É possível observar, que a pessoa
em questão, ao se manifestar artisticamente por meio de desenhos consegue extravasar
a ansiedade. Os desenhos também servem como uma espécie de espelho, em que é
possível tentar perceber os sentimentos da artista por meio dos elementos de suas
obras. Para se expressar por meio deles, foi feito um planejamento: escolha dos traços,
das cores, da técnica, das feições, que ajudaram na identificação das emoções. Para isso,
ocorreu a atuação não só do sistema límbico como também das vias motoras e
sensoriais, como a visão, como também houve a participação do córtex frontal
associativo.
247
A arte explora as experiências emocionais, motoras e sensitivas para estabelecer
uma comunicação, já que possui a capacidade de influenciar tanto o
executor/elaborador quanto o espectador. Ao ser produzida, a arte pode ser uma forma
do artista exteriorizar sentimentos como raiva, medo, ansiedade e até mesmo ativar o
sistema de recompensa, se apresentando como uma tarefa prazerosa. Somado a isso,
por meio da ativação de circuitos neuronais nos córtices associativos e conexões com
estruturas do sistema límbico, o espectador não só consegue identificar a mensagem da
obra (por meio de elementos sensoriais, emocionais etc.) como também pode estimular
sentimentos e reflexões no espectador que podem ser consoantes com o dono da obra
ou não, a depender das experiências individuais de cada um.
248
e de planejar respostas apropriadas para eles. Em função da complexidade dessas
tarefas, os córtices associativos recebem e integram informação de uma variedade de
fontes e influenciem uma ampla gama de alvos corticais e subcorticais.
249
Nesse sentido, no vídeo, em que vemos pai, mãe e filho observando álbuns de
fotos antigas após o almoço de domingo, podemos identificar a atuação do córtex
associativo frontal em diversos momentos. Por exemplo, quando a mãe, na primeira
cena, faz planos de futuras operações - uma viagem a Maceió nas próximas férias - após
a elaboração de um pensamento reflexivo - a percepção da beleza da cidade, que
provoca nela a vontade de voltar logo para lá. Podemos identificar também um
pensamento reflexivo quando, a partir da observação de uma foto dele mais jovem,
Sandro (o pai), tenta concluir quantos anos apresentava, na segunda cena, concluindo
que “...uns dezesseis”.
Além disso, na última cena do vídeo, há um diálogo entre pai e filho, em que este
aponta uma foto, dizendo “Nossa, pai... ó esse celular!”, e após pedir para olhar a foto,
o pai diz “O pior não é o celular”, “É o que?”, "A sunga”, "Eu não ia falar da sunga, mas...”.
Nessa última fala, há um claro exemplo do filtro social realizado no córtex associativo
frontal - Rafael, o filho, antecipa o efeito de um comentário desagradável em relação à
sunga e inibe conscientemente a fala de possível impacto negativo, reconhecendo a sua
responsabilidade social.
250
No vídeo, podemos identificar a atuação do córtex associativo temporal na
identificação de faces, objetos e até animais. Na segunda cena, o filho indica para o pai
uma foto do mesmo quando mais jovem; ainda que ele não explicite verbalmente,
percebemos que o filho foi capaz de reconhecer e identificar o pai na foto. A mãe, por
sua vez, é capaz de reconhecer o já falecido cão que pertencia ao pai e que está presente
na foto, e explicita o reconhecimento, dizendo “Como se chamava esse cachorro?”, ao
passo que o pai responde “Sherlock Holmes”, evidenciando que também é capaz de
reconhecer o animal. Na última cena, o filho reconhece ainda um objeto na foto - um
celular por se diferenciar muito dos celulares atuais, o surpreende, como podemos
perceber na fala “Nossa pai, ó esse celular”. Todos esses eventos são possíveis graças à
ação dessa área do encéfalo.
Por fim, o córtex associativo parietal tem seus circuitos e redes envolvidos em
processos de atenção. Existe um elo entre lesões no lobo parietal e déficits de atenção
ou de faculdade de percepção. Essas lesões muitas vezes se refletem em síndromes de
negligência contralateral, cuja característica mais notável é uma incapacidade de
perceber ou de prestar atenção em objetos, ou mesmo em partes do próprio corpo, em
uma parte do espaço, apesar do fato de que a acuidade visual, as sensações somáticas
e a capacidade motora permanecem intactas. Indivíduos afetados não são capazes de
relatar, de responder ou mesmo de se orientar com relação a estímulos apresentados
no lado do corpo (ou do espaço visual) oposto à lesão. Esses indivíduos podem também
apresentar dificuldades para realizar tarefas motoras complexas no lado negligenciado,
incluindo vestir-se, pegar objetos, escrever, desenhar e, em menor grau, orientar-se em
resposta a sons. Esses déficits motores são denominados apraxias. Os sinais da síndrome
podem ser muito sutis, como uma falha temporária na atenção contralateral que
melhora rapidamente à medida que o paciente se recupera, ou podem ser muito
profundos, como a negação permanente da existência do lado do corpo e do espaço
extrapessoal oposto ao lado da lesão.
251
quando a mãe diz ao pai “Olha aqui, San, Maceió”, e este olha a foto apontada por sua
mulher. Com relação aos álbuns segurados em suas próprias mãos, percebe-se também
a capacidade dos indivíduos de passar as suas páginas, ou para buscar determinado
álbum entre outros na caixa. Ou seja, não há dificuldades para realizar tarefas motoras
complexas, o que não aconteceria na ausência de um córtex associativo parietal intacto.
O futebol e as emoções
Vídeo disponível neste hiperlink
252
No atual cenário, o futebol está paralisado, mas isso não paralisa o amor ao
esporte que grande parte da população cultiva. Ele ainda é vivido, seja nas lembranças,
ao ver uma reprise de jogo passado, ou ao tentar praticar o esporte no quintal de casa
com seus familiares e companheiros de quarentena... Esse misto de sentimentos e
exigências físicas faz uso de distintas estruturas do nosso Sistema Nervoso.
O esporte exige muito da parte física, o corpo humano é levado ao seu limite
durante os tradicionais 90 minutos de jogo. O córtex motor do lobo frontal é o grande
responsável por gerir os sistemas eferentes do corpo, realizando atos e ações motoras
voluntárias, além de planejar, executar e transmitir ordens aos músculos, o que é
essencial para as jogadas coletivas, dribles e chutes do futebol. O córtex frontal, que
processa pensamento complexo, é plenamente necessário na prática do esporte, exige-
se do jogador o entendimento das condições de jogo, as jogadas necessárias, a
velocidade que se deve correr, etc. que são “pensados” na área pré-motora e então
executados pela área motora primária, aliados ao lobo parietal, estrutura que regula a
atenção, o senso de velocidade, a coordenação dos movimentos dos olhos e a
identificação de faces.
A parte emocional, tanto de quem assiste quanto de quem joga, está ligada ao
córtex associativo temporal. Este capta informações da visão, som e tato, reconhece os
objetos e estímulos ambientais e executa, através do córtex frontal, respostas
emocionais adequadas e a evocação de memórias relacionadas, extraídas do
hipocampo.
254
familiar pode ser observado nos dados sobre a violência da mulher. Mesmo que os
dados divulgados digam que as denúncias vêm diminuindo com a quarentena, é preciso
considerar outro dado relevante: a omissão de casos por conta da dificuldade em
denunciar o agressor que está todos as horas do dia ao lado da vítima.
Além disso, outros novos hábitos foram inseridos na vida das pessoas durante a
quarentena: home-office e o Ensino à distância (EaD) para os estudantes. No vídeo,
existe uma crítica a essas práticas tomando como referência o estudante brasileiro.
Muitos deles estão entendendo o período de quarentena como um período de férias. A
prova disso é uma hashtag que estava em tendência na rede social Twitter
“#Coronaférias”, e, na maioria dos casos, por conta da falta de interesse desses
estudantes em manter suas aulas em dia. O sistema educacional brasileiro, em situações
normais, já é considerado precário e com a quarentena surgiu mais um agravante: o
despreparo de muitos profissionais da educação frente ao novo modelo das aulas.
Assim, muitos não possuem treinamento para manter um certo nível mínimo de
qualidade o que dificulta a adesão e o interesse de alguns alunos fazendo com que
muitos acabam por ignorar ou negligenciar as aulas no EaD.
Por fim, o sono foi extremamente alterado com o isolamento social. A rotina pré-
pandemia era o que ditava o sono de modo automático, o estado de vigília estava
programado para efetivar suas atividades diárias e o sono programado para as horas
corretas da noite. Com a quarentena, situações de sono de movimentos oculares rápidos
(eye rapid movements, REM, do Inglês), como a vista na mesma cena de crítica ao EaD,
255
tornaram-se mais frequentes. Assim, o sono regular ganhou um novo horário para
muitas pessoas, principalmente as que estão com dificuldades em manter suas horas de
sono em dia.
Neurobiologia do Isolamento
Vídeo disponível neste hiperlink
256
sobrevivência de nossa espécie no começo de sua história, bem como foi fundamental
a existência da água ao surgimento da própria vida. Dessa forma, assim como a falta
d’água nos impõe sérios riscos fisiológicos, o impacto da solidão no desenvolvimento e
na adequada função dos mais diversos processos biológicos pode ser tão agressivo
quanto.
257
sinaptofisina (Varty et al., 1999) e ao encurtamento de dendritos bem como a redução
do número de espinhas dendríticas das células piramidais (Silva-Gomez et al., 2003). Tais
mudanças na estrutura microscópica hipocampal estão também ligadas a prejuízos à
formação das memórias de longo prazo a partir de memórias de curto prazo, assim como
à construção da memória espacial.
258
Os efeitos provocados ao ser humano por esse período recluso não são,
portanto, os mais otimistas. Ao que tudo indica, ainda será necessário um longo período
de afastamento para que ainda possamos mitigar da melhor maneira possível, os
lamentáveis prejuízos da infecção pelo novo coronavírus ao indivíduo, a sua família e ao
resto da sociedade. Novas pesquisas ainda deverão ser feitas para poder compreender
os verdadeiros impactos de tal drástica mudança no estilo de vida de uma sociedade em
seu ápice produtivo, científico e comunicativo, mas, ao mesmo tempo, cada vez
mais abandonada na própria psique. Muito provavelmente, com o avançar do tempo,
os impactos psicológicos e psiquiátricos da pandemia provocada pelo SARS-CoV-2
serão superados. Todavia, nunca antes, na história recente, a humanidade teve
maior oportunidade para refletir, questionar e entender o que nos faz tão sozinhos, e o
que nos permite contornar isso.
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Iorque: W. W. Norton & Company, 2008. 336 p.
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259
VARTY, Geoffrey B; A MARSDEN, Charles; A HIGGINS, Guy. Reduced synaptophysin immunoreactivity in
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260
área do córtex, o que causa um aumento da memória operacional. Outra bebida que
tem ação nessa região é o álcool, muito associado com seu consumo para o indivíduo
relaxar após o trabalho. A ação do álcool é inibitória, devido a potencialização dos
receptores do neurotransmissor Ácido Gama Amino Butírico, GABA, do Inglês, tipo A,
tendo uma ação antagonista aos receptores do neurotransmissor N-Metil-D-Aspartato,
NMDA, do Inglês. O alto consumo de café e de álcool mostra uma sociedade
extremamente estressante, que causa extrema ansiedade ao indivíduo, devido à busca
incessante pela alta produtividade, em que os indivíduos, ditados pelo mito do self-
made man, sentem-se os únicos responsáveis por não conseguirem acumular dinheiro,
o sucesso do mundo atual. Assim, recorrem ao café para render e ao álcool como um
escape do estresse cotidiano.
Por último, é importante ressaltar o papel da leitura visto que engloba todo o
Córtex Associativo. Para ler, é necessário reconhecer o valor semântico (Lobo Occipital
261
e Temporal Associativos). A leitura também desperta tanto memórias pela interpretação
do que foi lido (hipocampo e Lobo Temporal medial) quanto raciocínio sobre o que se
está lendo, emoções secundárias (Lobo Frontal Associativo). Além disso, ela também
invoca conteúdos sentimentais nas narrativas (amígdalas) e desperta imaginação e
empatia pelas personagens.
Felipe Reis
Karen Vaz Henriques Kawase
Letícia Yumi Okamura
O córtex associativo representa 75% de todo córtex humano, sendo que 25% são
referentes ao córtex motor e sensorial. Essa vasta porcentagem de córtex associativo, é
responsável pelas características que fazem de nós seres humanos e nos diferenciam
dos demais animais do planeta Terra, tais como raciocínio lógico, pensamento crítico,
reconhecimento de emoções e a nossa capacidade de produzir Arte e Ciência.
262
O córtex associativo é organizado em três grandes regiões: lobo temporal, lobo
parietal e lobo frontal, sendo que cada um deles possui uma função específica para a
nossa interpretação do mundo e a compreensão do nosso corpo/organismo em relação
ao meio.
Acreditamos que a melhor forma de explorar essa noção é por meio de lesões
que acometem a região, de modo que a pessoa deixa de perceber, contralateralmente
a lesão, faces e objetos. Assim, foi exposto pelo pintor Anton Raedercheidt, que em um
263
período de 9 meses, nos quais ele se recuperava de uma lesão no lobo parietal direito,
pintou 4 autorretratos mostrando como ele se percebia. Ao longo do processo, vê-se
claramente que ele não pinta a porção esquerda da tela, a qual acaba sendo preenchida
conforme a lesão vai melhorando. O grande valor do conjunto de obras é passar para
uma pessoa que não sofreu a lesão o quão alterada fica a percepção de mundo do
indivíduo. Isso porque mesmo o artista, sabendo da existência dos dois hemisférios de
seu rosto, ele pinta somente o lado direito, pois não percebe o lado esquerdo. Em outras
palavras, ele assume a perspectiva de estar olhando no espelho e pinta aquilo que ele
“vê” e mesmo que, fisicamente, os raios de luz de toda sua face atinjam sua retina, ele
não é capaz de perceber seu rosto por completo. Em nosso vídeo, isso foi explorado de
forma bem literal, em que nossa personagem desenha um relógio por completo e após
a lesão desenha-o só pela metade.
264
Procuramos em nosso cotidiano realizar tarefas que nos sejam prazerosas como
praticar um esporte, tocar um instrumento ou ouvir música, sendo que essas atividades
mostram a integração de nossos córtices motor e associativo. Fascinante como nosso
córtex, nos permite realizar atividades tão proveitosas e que nos fazem sentir humanos
de verdade. Porém, também é paradoxal e triste como um instrumento que pode gerar
a Arte e a Ciência também é capaz de gerar a guerra e a destruição, em grande ou
pequena escala. Isso pode ser exemplificado com a perpetuação da violência e
comportamentos sociais herdados, como pais que batem em seus filhos tendem a criar
futuros pais que, por mimese, agirão da mesma forma. Ou seja, o agredido busca a
posição de agressor, como vemos na famosa passagem de “Memórias póstumas de Brás
Cubas” de Machado de Assis, em que o antigo escravo de Brás Cubas, o qual Brás
agredia, agora bate em um escravo comprado por ele.
265
individuais ou biológicos. Contudo, existem certas coisas que, independentemente do
período, cultura ou experiência de vida, permanecem como padrões universais do
comportamento humano, tais como interpretar as expressões faciais de alegria, medo
e angústia.
266
em certas circunstâncias, de sudorese e palidez, por exemplo, que podem servir de
indicativos para os indivíduos próximos da situação do organismo que demonstra esses
sinais.
268
Nesse contexto, temos a acentuação de sentimentos e condutas divergentes. Se
por um lado intensificam-se a solidariedade, afeto, união e sentimentos de coletividade
para o enfrentamento conjunto da doença, também se aumenta a apatia, egoísmo e
falta de humanidade.
Atividades e habilidades
Vídeo disponível neste hiperlink
270
E assim as pessoas seguem, imersas em problemas e trabalhos. O olhar para o
outro é uma raridade: as necessidades do próximo passam despercebidas, a percepção
do sofrimento alheio é rara e o exercício da solidariedade se faz praticamente
inexistente. O mundo tornou-se um local pouco empático. Ademais, as próprias
necessidades sentimentais e espirituais são renunciadas em prol da produtividade: não
há tempo para o "eu". Dessa forma, o olhar para si e para o próximo não cabe no mundo
contemporâneo. Ou ao menos não cabia: a emergência de uma pandemia trouxe
consigo novas necessidades e atitudes.
Durante a correria do dia a dia, muitas vezes não nos atentamos aos nossos atos
e às consequências que nossas ações podem ter, não nos planejamos de forma
adequada e com calma. Em contrapartida, na quarentena, podemos refletir com mais
calma sobre os nossos atos, em suas consequências, e conseguimos planejar melhor
nossas ações. Todas essas funções são exercidas pelo córtex associativo pré-frontal em
conjunto com os córtices motores, sensoriais e associativos temporais e parietais.
273
O efeito cortical no comportamento em
atividades à distância
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274
Assim que ligaram suas câmeras e viram seus colegas do outro lado da tela,
reconheceram seus amigos, os quais estavam com muita saudade. Então, durante o
planejamento do que seria feito no trabalho, perceberam que já estavam usando os
córtices associativos. No início da videoconferência, ao realizarem o reconhecimento
facial dos colegas e, consequentemente, as suas expressões faciais indicando saudade,
utilizaram o córtex associativo temporal, envolvido no reconhecimento e na
identificação de informação sensorial altamente processada.
275
percepção de como vivemos no piloto automático, sem praticamente nenhuma reflexão
e apreciação das pequenas coisas, além de ter feito os colegas pensarem sobre como
podem melhorar tais atitudes.
276
Com base nessas considerações e diante do terrível cenário da pandemia do
novo coronavírus atualmente vivenciada, propõe-se a utilização dos “Laboratórios do
nosso corpo e do cotidiano” para aplicar os conceitos apresentados, buscando uma
expansiva reflexão sobre assuntos concernentes à neurobiologia do comportamento e
ao córtex associativo.
277
compreensão da fala, para o armazenamento de fatos e para o reconhecimento de
objetos e faces, principalmente ligadas às emoções. Nesse sentido, voltando ao exemplo
do garoto Levi tocando sua flauta doce, o reconhecimento do instrumento em questão
e o armazenamento das notas musicais tocadas à cada sopro coordenado só são
possíveis graças à funcionalidade do córtex associativo temporal, que, juntamente com
os outros componentes do córtex associativo, possibilita a cognição.
Outra importante fonte de inervação das áreas associativas são sinais oriundos
de núcleos dopaminérgicos do mesencéfalo, núcleos noradrenérgicos e
serotoninérgicos da formação reticular do tronco encefálico, assim como núcleos
colinérgicos do tronco encefálico e do prosencéfalo basal. Esses sinais difusos projetam-
se a diferentes camadas corticais e, entre outras funções, contribuem para o
aprendizado, a motivação e o grau de alerta.
Movimentos e recompensas
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278
aprendizado, em que o animal aprende os movimentos comandados, e memoriza-os
para que sejam usados num futuro. Nesse caso, há vários tipos diferentes de memória.
No exemplo apresentado, é possível associar a memória de procedimentos, um tipo de
memória implícita, isto é, a memória para habilidades, hábitos e comportamentos, no
caso, o hábito de alimentação do cão, associado às habilidades motoras necessárias,
consideradas como memórias de procedimentos, para que esse comportamento
específico seja associado à alimentação que funciona como a “recompensa”. Nesse tipo
de memória, sua formação requer uma repetição e prática por períodos longos e, graças
a isso, têm menor probabilidade de ser esquecida. Logo, com esse objetivo, longos
períodos de prática desse movimento, feitos repetidamente em vários dias da
quarentena, fazendo parte da rotina, possibilitaram o treinamento para essas atividades
motoras específicas.
279
comportamentos definidos, iniciados simultaneamente ao comando. Na filmagem, os
movimentos determinados, quando ainda em treinamento, eram feitos com maiores
dificuldades e demandava maior tempo de prática. Posteriormente aos vários treinos, o
animal apresentou melhora na execução do movimento, realizando-o de modo mais
automático e rápido, e, também, associando os movimentos com a recompensa após a
execução.
280
demonstrando o papel desse neurotransmissor no processo de recompensa e,
possivelmente, levando ao vício do indivíduo por essa liberação exagerada desse
neurotransmissor, forçando-o a buscar pelo composto químico causador da sensação.
281
Poema desconstruído
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No vídeo, a importância deste córtex surge nos segundos iniciais, quando uma
das participantes necessita se realojar no sofá para se enquadrar ao foco da gravação.
Obedecer aos comandos de “ir para direita ou para esquerda” inclui aspectos sensoriais
na recepção do estímulo auditivo e na propriocepção, aspectos motores na
movimentação do corpo em direção ao lugar desejado e aspectos comportamentais em
resposta às ordens dadas. Todas estas características estão relacionadas ao córtex
associativo parietal.
282
Lesões no lobo parietal podem causar déficits nessas ações que demandam
atenção, como na Síndrome de Gerstmann, em que o indivíduo tem tantas dificuldades
de localização espacial que não consegue nomear os próprios dedos, por exemplo. Além
disso, uma lesão aguda no lobo parietal não predominante pode causar certa
negligência espacial ao lado oposto à lesão, o que resulta na perda de percepção
daquela parte do corpo, incluindo confusão para realizar tarefas motoras cotidianas,
como vestir-se (apraxia), ou dificuldade em reconhecer lesões e traumas (anosognosia),
por negar a existência do outro lado.
No vídeo, fica nítido o filtro social entendido muitas vezes como um “erro de
gravação”. O que não pode ser dito diante das câmeras? É o medo de não obter
aprovação social pelo que dizemos? A essas perguntas, cabe somente a reflexão. O que
sabemos é que o córtex associativo frontal está relacionado com esse componente que
conduz diferentes comportamentos nas mais diversas situações, nas tomadas de
decisões e no nosso juízo sobre o que podemos fazer e o que não devemos fazer.
283
a lesão tenha sido em uma região grande, o que impede de ser usada como exemplo
teórico adequado (fato que é criticado por diversos neurocientistas, tais como David
Ferrier e Oliver Sacks), esse é um exemplo de como possíveis lesões no lóbulo frontal
podem interferir no comportamento de um indivíduo.
284
Córtices associativos e neurobiologia do
comportamento: reinventando-se na
quarentena
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285
O córtex associativo parietal, por sua vez, é importante no processo de
informações táteis, percepção espacial, processos visuoespaciais e consciência do
espaço extracorporal, além de ser muito importante em processos de atenção. Lesões
nesse córtex estão relacionadas com déficits de atenção e síndromes de negligência
contralateral (não havendo déficits primários sensoriais nem motores que impeçam que
estes indivíduos vejam ou sintam seus corpos ou objetos em volta). No vídeo elaborado,
o indivíduo está desenhando utilizando pincéis e tintas. Nesse processo, para o desenho
ser formado, é necessário que o indivíduo perceba o espaço destinado para o processo
artístico. Dessa forma, a consciência do espaço através da percepção visuoespacial,
assim como a utilização dos materiais de forma correta e coordenada, dependem do
córtex associativo parietal. Ademais, a ação de desenhar exige extremo grau de
atenção/concentração, ativando esse mesmo córtex.
286
Como estamos diante de uma pandemia grave do COVID-19, resolvemos abordar
no vídeo atividades simples do cotidiano, porém que auxiliam o comportamento
humano durante a quarentena. Nesse contexto, foram apresentadas no vídeo
manifestações artísticas relacionadas à música, que permitiram a reunião da família em
um ambiente pacífico, feliz e generoso. Através dos sons produzidos, os diversos
circuitos neurais são ativados proporcionando comportamentos positivos que auxiliam
o enfrentamento da quarentena. Além do ambiente musical, é interessante notar no
vídeo como o convívio dos familiares (relações sociais) ajuda no dia a dia durante a
pandemia, visto que as pessoas podem se auxiliar através de conversas, risadas e
brincadeiras, evitando assim comportamentos negativos que podem ser observados em
algumas famílias durante a pandemia, como depressão, alcoolismo e distúrbios
alimentares.
Para finalizar, podemos concluir esse texto afirmando a importância dos córtices
associativos em nossas vidas, visto que eles são ativados em diversas situações do
cotidiano, sendo utilizados em tarefas simples ou complexas. Além disso, foi visto como
o comportamento humano é modulado pelas atividades que realizamos, como tocar
uma música. Durante a pandemia do novo coronavírus, o ser humano está sujeito a
diversos estados emocionais negativos, como depressão e ansiedade. Dessa maneira, é
necessário refletirmos para criarmos maneiras para contornar esses estados emocionais
desfavoráveis. Nesse cenário, o uso da Arte e da Ciência (uso de instrumentos musicais,
dança, leitura, prática esportiva, pinturas) apresenta-se como uma ferramenta que pode
auxiliar muito os indivíduos.
Lais Passinho
Luiz Gustavo Silva Cesarino
Raquel Farias Barreto Silva
Com a proposta de analisar como as experiências individuais moldam as
percepções sobre determinadas situações, foi feita uma experiência com duas pessoas,
na qual essas pessoas com experiências de vida distintas observaram imagens de
diferentes situações que não remetem a percepções óbvias. Como, por exemplo, na foto
287
de uma mulher olhando para um doce, um dos voluntários associou a situação a desejo
(da mulher pelo doce), o outro voluntário associou à delícia (focou sua atenção no doce),
os pesquisadores do estudo, ao selecionarem a foto, pensaram em fome e gula. Como
uma mesma foto vista por pessoas diferentes pode remeter a percepções e
interpretações tão distintas?
REFERÊNCIAS
Brockmyer JF. Playing violent video games and desensitization to violence. Child Adolesc
Psychiatr Clin N Am. 2015 Jan;24(1):65-77. doi: 10.1016/j.chc.2014.08.001. Epub 2014 Oct 3. PMID:
25455576.
289
Ser Humano: The Good, The Bad and The Ugly
Vídeo disponível neste hiperlink
Talvez a natureza fosse ainda mais exuberante, com outras mil cores e seus
contrastes; os pássaros com seus sons em várias escalas e tonotopias; se houvesse frutas
com tantos sabores diversificados, as flores pudessem exalar os seus perfumes e o
contato, o tato, fosse algo mais sublime e eufemista para presentear os receptores
somáticos e sensoriais do ser humano, também um animal, em harmonia com os outros.
291
Como diferenciar os desbalanços fisiológicos ocorridos no interior do encéfalo
humano com a sua ação predatória na natureza? O ser humano, nós, possuímos o
encéfalo mais fisio e morfologicamente rebuscado, capazes de desenvolver raciocínio
lógico. Entretanto, se voltarmos a olhar por entre a janela, veremos uma sociedade
altamente deturpada em comportamento e na falha em desenvolver conceitos óbvios,
como a coletividade, extremamente eficaz em nossos parentes vegetais e animais.
292
Degradando a natureza, o homem vai perdendo duplamente a capacidade de
senti-la. Primeiro porque ela, de fato, vai se reduzindo devido à ação humana e,
segundo, porque a obsessão do homem em acumular capital aumenta. E aí depara-se
com uma Pandemia, com o fato do homem ser obrigado a ficar em casa, em isolamento
social, por conta de um ser (vivo?) que mede nanômetros.
Não é à toa que a beleza restante e que ainda conseguimos ver de nossas janelas
se torna admirável. Re-aprendemos a visitar os nossos sentidos, a exercitar a nossa
cognição e descobrimos ser capazes de realizar tarefas - cozinhar, costurar, admirar,
escrever, pintar, tocar e tantas outras. Reaprendemos a ter satisfação com tudo isso,
principalmente pela ativação da via mesolímbica, dopaminérgica, de recompensa.
Por outro lado, sem interferência humana, nada teria um nome e nem uma
simbologia. Não conseguiríamos enxergar as menores estrelas ou, se quer, os neurônios
de nosso próprio sistema nervoso. A dizer do fantástico Santiago Ramón y Cajal. É o ser
humano também o responsável pela arte, ramificada nas menores descobertas, porém
com um amplo significado, como o alfabeto e os traços feitos na caverna, em nanquim.
As portas que foram e se mantém abertas pela ciência. Os mitos que foram
quebrados pelas comprovações, ainda que outros, estúpidos (?), disseminem em pleno
século XXI. E, impossivelmente mais atual, a conduta científica para estudos sobre o
293
Coronavírus e a frente de liderança para a criação de uma vacina, este Santo Graal que
os cientistas arduamente procuram elucidar.
A retina é caracterizada por ser uma região mais interna, diferente da córnea,
mais externa. A retina contém neurônios que são sensíveis à luz e transmitem sinais para
estruturas centrais. A luz penetra o olho através da córnea, que em conjunto com outras
estruturas, são responsáveis pela refração da luz para a formação da imagem nos
fotorreceptores da retina. Uma vez que este estímulo visual chega à retina, ele incide
294
sobre os fotorreceptores, sejam eles cones ou bastonetes, que vão direcionar a imagem
para diferentes células e, posteriormente, por meio da propagação de potencial de ação,
para o nervo óptico e para o encéfalo, onde será integrado e processado.
A cóclea, por sua vez, localizada no ouvido interno, capta e transmite essa
vibração a estruturas localizadas no órgão de Corti, como as células ciliadas que irão
potencializar a transdução deste estímulo em impulsos nervosos. Através da interação
destes diferentes sistemas sensoriais, podemos captar informações que irão ser
transformadas em memórias e em sentimentos nas estruturas adjacentes e, assim, fazer
parte da nossa vida.
Dentre esta vasta gama de estruturas, a amígdala é evidenciada pelo seu papel
no processamento de emoções. A amígdala é formada por um conjunto de núcleos
localizados no prosencéfalo que podem ser divididos em região basolateral e região
corticomedial. A esta estrutura frequentemente é atribuído o processamento de
295
informações emocionais temerárias e positivas. Além disso, possui um importante papel
na consolidação de memórias com forte cunho emocional.
296
nossa volta. E não só isso, o ambiente dramático que envolve o isolamento social afeta
a nossa reação aos estímulos sensoriais.
Começando pelo período da manhã, o despertar pode ser induzido pelo som de
um despertador, por exemplo. Esse som refere-se às ondas de pressão geradas pela
vibração das moléculas do ar, e somos capazes de captar, amplificar e processar as
ondas sonoras graças ao sistema auditivo. Células ciliadas localizadas no ouvido interno
são as responsáveis por transduzir essa energia sonora em padrões específicos de
atividade neural, os quais são integrados com informações de outros sistemas sensoriais
para guiar respostas motoras comportamentais.
297
buscar a origem desse som, e esse processo envolve a participação de outro sistema
sensorial, a visão, que nos fornece informações acerca da localização, tamanho e forma
dos objetos. A fototransdução se dá nos fotorreceptores localizados na retina, e a
informação gerada é processada em diversas regiões do encéfalo que permitem a
percepção da cena visual.
Esta situação adversa na qual estamos vivendo também nos levou a transformar
o ambiente de nossas casas, que idealmente nos remete a conforto e relaxamento, em
um ambiente de trabalho, o qual convencionalmente é descrito como um ambiente
estressante. Diante disso, um outro desafio introduzido no nosso cotidiano é a
capacidade de se concentrar e trabalhar em um local que originalmente é para ser de
descanso.
298
Diversos estímulos sensoriais podem ser responsáveis por tirar nossa atenção ao
longo do dia, levando-nos a uma sensação de angústia e estresse por não estarmos
sendo produtivos o suficiente. Por exemplo, um cheiro de algum alimento é capaz de
nos tirar a atenção, as moléculas químicas presentes naquele aroma adentram as nossas
narinas e estimulam as células presentes no epitélio olfativo, por receptores químicos
presentes na sua membrana.
No córtex, esses sinais são integrados com diversos outros sentidos, gerando
respostas que vão desde uma salivação, se o cheiro for prazeroso, até uma resposta
motora, via neurônios da medula. Esses neurônios medulares estimulam a contração
muscular, que também recebem interferências do cerebelo e núcleos da base. Nessa
situação, uma resposta motora típica seria a busca do alimento em questão, que atua
como um escape para o estresse ocasionado pela falta de atenção.
299
Um alimento ou um cheiro podem nos remeter a uma memória de saudade, de
alguém ou de algum lugar específico. Dessa forma, muitas vezes apresentamos uma
resposta motora, devido a um aroma ou a algum tipo de inquietação, que nos faz buscar
comida, e não necessariamente porque estamos com fome, mas simplesmente para
fugir desse ambiente social que estamos vivendo.
O cenário atual nos fez perceber diversos estímulos de forma diferente, como o
som de uma campainha ou algum cheiro específico e, consequentemente, apresentar
respostas motoras relacionadas com esses estímulos.
300
No decorrer da evolução, o homem tem modificado seu habitat,
constantemente adaptando-o e adaptando-se a ele. Como consequência dessas
modificações, o repertório sensorial com o qual interage também tem sido alterado,
permitindo ao homem expressar diferentes comportamentos ao longo de sua evolução.
Ao fazermos uma chamada ou ouvirmos uma ‘live’, tão populares nesse período,
o som é captado pela orelha externa, atingindo a membrana do tímpano, que
transforma os sons em movimentos. Esses movimentos são transmitidos à cóclea onde
ocorre a separação do som em diferentes frequências ao longo de sua extensão. É na
cóclea também que o som é transduzido em potenciais de ação, a linguagem do sistema
nervoso. Assim, a informação auditiva é transferida para o sistema nervoso central,
onde pode ser processada e interpretada.
Ao nos prepararmos para assistir às aulas online, nos guiamos até a cadeira por
meio do estímulo visual e da memória espacial do ambiente de estudo, que auxiliam no
controle motor, para que possamos nos sentar. Além da visão, o cerebelo e os sistemas
vestibular e proprioceptivo são de extrema importância para manutenção do equilíbrio
e postura, até mesmo em uma ação tão simples como sentar-se. Durante a aula,
informações auditivas e visuais são integradas em diferentes regiões corticais.
301
As informações são comparadas em circuitos neuronais existentes e novas
informações podem ser enviadas a estruturas como o hipocampo, para eventualmente
serem armazenadas em novos circuitos que se formarão. Nossa cognição nos permite
questionar as informações recebidas e, no caso de uma dúvida, nos permite escolher
entre perguntar ou não.
303
durante o isolamento social desligou o nosso modo automático e nos fez perceber um
mundo completamente diferente?
A visão é um sentido notável. É captada pelos nossos olhos, nos quais são
encontrados os fotorreceptores capazes de responder a estímulos luminosos. Os
estímulos luminosos são convertidos em sinais elétricos e conduzidos até o córtex para
serem processados, organizados e interpretados. Além disso, a visão é responsável por
75% da nossa percepção. No isolamento social, observamos que nossa percepção ficou
mais aguçada e essa modalidade sensorial passou a ser mais valorizada, especialmente
quando nos referimos à natureza.
A gustação é mediada pelos botões gustativos que estão presentes nas papilas
gustativas e permite a um indivíduo escolher alimentos específicos conforme os seus
304
desejos e as necessidades metabólicas do organismo. O ato de comer é considerado por
muitos como um dos maiores prazeres da vida, mas a rotina atribulada faz com que não
percebamos o sabor dos alimentos que ingerimos. Em uma situação de isolamento
social, nós conseguimos nos alimentar com mais calma e tempo, e isso proporciona uma
percepção maior dos sabores em nossos botões gustativos.
305
passavam despercebidas. Em particular, o isolamento causou um aumento do estresse,
bem como sintomas relacionados.
O meu dia começa com o som do despertador me alertando que está na hora de
iniciar as atividades do dia. Esse som estimula meu sistema auditivo, que gera uma
rápida resposta motora reflexa, fazendo com que eu me levante e siga até a janela. Ao
abrir a janela, grande parte dos meus sentidos são estimulados, como: minha visão pelos
raios solares, minha audição pelo barulho dos automóveis e meu olfato pelo ar fresco
da manhã.
306
têm alta acuidade visual e participam da visão de cores, porém não são sensíveis à luz
de baixa intensidade.
307
contraste, flexibilidade cognitiva, memória operacional e diminuição do tempo de
processamento de informações. Os jogadores adquirem precisão no controle de
determinados movimentos, possuem uma coordenação motora desenvolvida, bons
reflexos e tempo de reação.
308
O trajeto percorrido pelo ônibus foi o Campus da USP Ribeirão Preto, com ruas
de paralelepípedo, praças rotatórias, dezenas de pontos de paradas, paisagem natural,
edificações e pouquíssimo tráfego. Este trajeto foi escolhido pela ideia predominante de
que haveria poucos obstáculos ao propósito de executar uma filmagem de 1 minuto e
30 segundos, sem ruídos sonoros.
309
decisão do fazer, ou seja, passear, capturar imagem, viver o “self”, uma flutuante
produção de dados.
Quando se tem uma cena que, curiosamente, anda fora dessa linha isso significa
que o trem do passado já não mais faz a viagem para o destino que se pensou para o
futuro. Isto se parece muito com as lições que estamos tendo nesta pandemia, todos
atolados nas próprias pernas e repousados sobre a plataforma das mesmas ideias, que
se encontram nas nossas cabeças, tentando evitar o aprendizado que a pandemia
trouxe. Curiosidade é tempo filosófico em tempo duro, é sujeito neurociente.
311
de adaptação e tentativa de melhorar o sabor das refeições foi de fundamental
importância. Esse contexto ressalta o importante papel da estimulação gustativa e
olfativa na elaboração de um comportamento integrado, como por exemplo nos
métodos de preparo de alimentos.
Além do sabor, o cheiro dos alimentos é sentido próximo à cavidade oral, o que
facilita uma convergência da percepção entre os sentidos da gustação e olfação. Dentre
as estruturas desse sentido, tem-se a membrana olfativa, constituída principalmente
por um conjunto de células que captam os sinais sensoriais no olfato e transmitem por
meio de impulsos. Essas células receptoras para a sensação do olfato são abundantes
no epitélio olfatório, e se comunicam com o Sistema Nervoso Central através da
interação via nervo cranial I, que se comunica por sinapses com o bulbo olfatório, que
por sua vez se comunica com o córtex olfatório.
312
O desempenho de todas essas atividades, requer que um mecanismo motor
associado ao Sistema Nervoso Central impulsione a realização destas tarefas. Os
movimentos voluntários (planejamento) desempenhados pelo nosso corpo para a
execução de diversas ações do nosso cotidiano são produto da interação entre córtex
cerebral, o cerebelo e os núcleos da base.
Embora alguns estudantes tenham permanecido nas cidades nas quais estudam,
outros optaram, por diferentes razões, pelo retorno à terra natal resultando em um
maior convívio diário familiar. Possivelmente, um complexo sonoro mais intenso, o qual
envolveu sons naturais ou artificiais, se intensificou com o convívio. Maravilhosamente,
o nosso cérebro possui um sistema que nos permite diferenciar cada um dos diferentes
sons.
No entanto, já paramos para pensar como isso acontece? Tal mecanismo tem
seu início com a captação das ondas mecânicas pelo ouvido médio que percorrem o
canal auditivo e, ao atingir a membrana timpânica provocam diferentes vibrações a
diferentes frequências. Como resultado, vibrações de um sistema de “alavancas”
formadas por ossículos do ouvido médio resultam em vibrações da janela oval que
desencadeará a formação de ondas na perilinfa (líquido que preenche a cóclea),
responsável por gerar oscilações na membrana basilar bem como na membrana
tectorial.
313
Com isso, células ciliadas serão responsáveis pela conversão da energia mecânica
em sinais elétricos que serão conduzidas pelo nervo vestibulococlear (direito ou
esquerdo) ao córtex auditivo. Sons de frequências mais altas percorrerão distâncias
menores enquanto os de frequências mais baixas percorrerão distâncias maiores ao
longo da membrana sendo processadas em diferentes áreas do córtex auditivo primário,
em um processo denominado tonotopia (discriminação de sons por frequência; de fato
este fenômeno acontece ao longo de toda a via auditiva!).
314
Sabendo que há variações com ondas de alta ou baixa frequência, estamos
expostos diariamente a diversas frequências sonoras, sendo que valores entre 20 e
20.000 Hz são os consideráveis saudáveis e acima disso poderá ser prejudicial ao nosso
sistema auditivo. Além disso, no próprio decorrer da vida nossa faixa audível diminui.
315
Um exemplo simples dessa associação de estruturas e centros de planejamento
e regulação está no controle postural e equilíbrio do movimento durante a marcha,
devendo haver uma integração motora para que tal processo ocorra. Uma pessoa
andando pela sua casa requer um determinado planejamento/interação, ao mesmo
tempo que a mesma pessoa, ao resolver tocar um instrumento enquanto caminha,
requer também determinado planejamento/interação, mais complexo, saindo dessa vez
do modo automático.
316
Os sentidos e o sentir-se seguro em meio ao
isolamento social
Claudio Quintino
Rodrigo Martins
Tendo em vista o cenário atual de isolamento social devido à pandemia de
COVID-19 a rotina de vários brasileiros privilegiados foi de certa forma modificada. Em
alguns casos essa modificação trouxe novas perspectivas no sentido de convivência com
as famílias e nos padrões do dia a dia. Há, por outro lado, aqueles que por motivos
maiores não puderam e não podem se isolar. Mesmo nestes casos houve diferenças
significativas nas rotinas destes brasileiros. Assim sendo, a forma como percebemos o
mundo, isolados ou não, mudou.
Nós reconhecemos e interagimos com o mundo graças aos nossos sentidos, que
trabalhando de forma integrada e fisiologicamente complexa traduzem os estímulos
externos em sinais reconhecidos pelo nosso sistema nervoso. Assim acontece com todos
os sentidos, desde visão e audição até a nossa capacidade de nos orientarmos no
espaço.
317
urbanos como grandes cidades para o interior, na esperança de uma maior sensação de
segurança. Nestes casos estímulos auditivos, visuais, olfativos e gustatórios podem ser
completamente modificados. Levando em consideração o som ambiente, antes em uma
grande cidade o mais provável seria que nossos ouvidos estivessem tomados por sons
de carros, buzinas, ruídos de construção, já em um ambiente menos urbanizado são
mais comuns estímulos sonoros como sons de pássaros ou no máximo um carro
passando anunciando em autofalantes verduras e legumes frescos.
318
Partindo do contexto de percepção dos tons e a condição social atual, uma vez
que essa discriminação é necessária para a comunicação e identificação racional da fala
e consequentemente tem interferência na aprendizagem, nos atentar aos estímulos
sonoros é uma necessidade de vida. Além de nos proporcionar emoções significativas o
reconhecimento dos sons e a percepção dos tons nos faz reconhecer onde estamos e o
que faremos, é um estímulo ao nosso comportamento, seja voluntário ou involuntário.
O que nos faz pensar em outro ponto de mudança: nosso convívio social.
Agora nosso convívio social está restrito aos familiares e em alguns casos o
completo isolamento, como os casos de quem vive sozinho. Sem dúvida, uma grande
mudança que gera novas perspectivas e novos estímulos.
319
Com base no que foi exposto é viável acreditar que nos receptores como papilas
gustativas, células especializadas do sistema auditivo, estão neste momento de
pandemia trabalhando no processamento de novos estímulos, traduzindo-os de forma
diferente e gerando novas experiências, novas memorias e novas emoções, tudo
integrado num grande sistema. Portanto, tendo em vista a pluralidade de situações e
formas de isolamento, e interpretação do mundo para alguns, ao receber certo estímulo
visual, auditivo, lembrarão deste período com angústia, raiva ou medo. Outros ao
receberem estímulos semelhantes, os relacionarão apenas com nostalgia.
Fernando Vieira
Isabella Dias
O momento que estamos passando é singular em nossa geração. Contudo, não
é a primeira pandemia assistida pelo homem desde a invenção da roda, mas talvez seja
a primeira onde há esforços múltiplos para o enfrentamento da mesma.
320
Sons que passavam despercebidos como de aves cantando no fundo do quintal,
começaram a ser descobertos, estes sons nos instigam a procurar que aves estão
cantando, e acabamos por descobrir que apesar de estarmos todos dias neste ambiente,
nossos sentidos são ludibriados pela correria do dia a dia. Muitas vezes até percebemos
estes estímulos, mas, parar para ouvir estes sons, sentir o cheiro da horta ou de pão
novinho saindo do forno, visualizar uma ave que você nem sabia que existia, ou observar
uma árvore florescer e encher o ambiente de cor, são processos totalmente diferentes.
É, assim, como se começássemos a perceber o mundo ao nosso redor novamente.
Estes sons que antes poderiam ser irrelevantes pela própria natureza de
estímulos sonoros que nos cercam, como sons de automóveis, motocicletas, caminhões,
buzinas, alarmes e muitas pessoas falando ao mesmo tempo... eram imperceptíveis. Isso
ocorre porque o nosso cérebro entende que devemos nos concentrar em sons de alta
intensidade e volume para nossa autopreservação.
Estes ditos “novos sons” que passamos a perceber, chegam até nossos ouvidos
sem a concorrência de outros estímulos competitivos. Estas ondas sonoras são
detectadas pelos tímpanos como um estímulo mecânico que é transferido pelos
ossículos internos da orelha até a cóclea que decodifica esses estímulos em sinais
elétricos que ascendem até o nosso cérebro que, por sua vez, reconhece este estímulo,
nos dizendo se é algo agradável ou algo nocivo.
Estes aromas são moléculas voláteis de odor que são capturadas pelo muco
produzido pela mucosa nasal e difundidas nela. Estas moléculas se ligam a receptores
de células especializadas que enviam sinais elétricos até o cérebro, e este por sua vez
faz várias associações com áreas diferentes que identificam estes odores dizendo se são
agradáveis ou não. Ao mesmo tempo, também fazem conexão com áreas límbicas e de
321
memórias, fazendo assim, com que estes odores sejam lembrados de formas prazerosas
ou repulsivas.
322
percebermos que existem muitas coisas além da correria do dia a dia como a família,
amigos, comunhão com a natureza, reflexões de humanismo.
Que este momento que a humanidade está passando nos faça mais humanos.
323
Porém, o que mudou no gosto da cerveja? O que mudou no cheiro que agora
sentimos ou apenas lembramos? O que mudou na música que ouvimos durante as
YouTube lives dos artistas famosos? Todos esses sentidos dependem de células
receptoras, que traduzem substâncias e ondas sonoras em padrões de potenciais de
ação em vias neuronais específicas. E esses potenciais de ação são induzidos em uma
série de neurônios até chegarem nas respectivas regiões corticais, preludiando a
integração com as diversas sensações e a subsequente interpretação da realidade.
324
Esses, emitem eferências para o núcleo mediodorsal talâmico e, neste, há outros
neurônios com projeções eferentes sobre o córtex orbitofrontal e olfatório, e demais
regiões do lobo temporal, ocorrendo a integração das informações, a qual nos dá o
significado emotivo com o cheiro insuportável da ureia.
E o som que nos rodeia no dia a dia, na faculdade, na rua, e mais memorável
ainda, o som das festas ao lado dos nossos amigos?! Esse repercute em saudade
também, combinado com os cheiros e sabores desses momentos, que hoje estão apenas
na memória. Com esse sentido não é diferente, mas dessa vez o sinal (sonoro) age
mecanicamente sobre a membrana timpânica, que transfere a frequência de
compressões do ar para a perilinfa, e essas compressões levam à vibração da membrana
basilar, que fica mais espessa no sentido da base para o ápice da cóclea. Isso nos ajuda
a distinguir as frequências.
325
A diferença de intensidades, de tempos de cada estímulo e da fase em que as
ondas sonoras se encontram são comparados por neurônios desses núcleos
bilateralmente. Como a música 3D consegue alternar a faixa de intensidade sonora entre
os dois fones, há a impressão de que a música está navegando em volta da nossa cabeça.
Cria uma sensação muito boa! Faz sentir a realidade que presenciamos em festas!
Neste sentido, o cérebro, usado neste texto como sinônimo para representar o
SN como um todo, se encontra duplamente fechado, tanto dentro de seu espaço, o
crânio, como isolado do mundo exterior, a sociedade, na qual o indivíduo, portador
deste cérebro, se encontra. O isolamento social para nós tem uma finalidade
semelhante à dos ossos que envolvem o SNC, proteção.
326
As modalidades sensoriais (visão, audição, tato, olfato e paladar) nos conectam
ao meio externo, logo, o cérebro se constitui num grande centro integrador que
processa e recebe estas informações através de circuitos específicos para cada
modalidade. Pode parecer estranho, mas o funcionamento do cérebro é bastante
simples, o que o torna complexo é a sua capacidade de se conectar com diversas áreas
ao mesmo tempo de uma forma extremamente ágil (tempos menores que um segundo).
A linguagem usada pelo cérebro é única, potenciais de ação (PA). Sendo assim,
todas as modalidades sensoriais devem ser convertidas em PA’s para que o cérebro
entenda a informação, logo, cada PA possui padrões, vias e áreas cerebrais muito
específicas para cada modalidade sensorial.
A pandemia tem nos envolvido num mar de angústia, tédio, medo e estresse. As
notícias desagradáveis diárias, vistas ou ouvidas na TV e jornais, nos fazem pensar que
o ponto final disso tudo ainda está longe, de certo, estando o cérebro e o indivíduo
confinados em um espaço limitado, nada podem fazer além de receber informações e
refletir sobre elas, logo, a incapacidade de ação torna a situação ainda mais difícil. A
pandemia não só trouxe novos problemas como também acentuou tantos outros que já
existiam, como, por exemplo, a desigualdade social, fome, desemprego, crises políticas,
a decadência do sistema público de saúde, etc.
Tendo como exemplo a situação vista na primeira cena do vídeo, onde um filho
sente um cheiro bom, mas quando descobre o que era, não o acha mais tão bom assim,
fica evidente que nossos receptores olfatórios às vezes erram quanto ao cheiro que
sentimos. Não os culpo por seus erros, pois como podem apenas 350 genes codificarem
proteínas de receptores específicos para os milhares de odores existentes?
327
É incabível não gostar de fígado de vaca quando paramos para pensar em
situações extremas causadas pela pandemia, mas que já estavam escancaradamente
presentes antes dela, a fome. Acha que uma pessoa com fome ligaria se o cheiro não
fosse de carne de panela e sim de fígado de vaca? Acha que ela se importaria se o
alimento que é encontrado no lixo não possui um odor bom? Nestas situações, a
plasticidade do cérebro, junto à fome e ao medo, torna qualquer coisa saborosa.
A audição, junto à visão, orienta o olhar e a atenção para um ponto, logo isso
permite uma melhor compreensão do contexto da situação, reconhecer expressões
faciais, observar o movimento da fonte em relação ao indivíduo e promover ajustes
posturais precisos, caso seja necessário. A separação tonotópica das ondas complexas
que compõem o som é mantida até a chegada no córtex auditivo primário.
328
Já a segunda acontece quando o filho resolve fazer exercícios físicos, pois
acredita estar gordo. A produção de movimentos é um evento complexo que envolve
múltiplas regiões do cérebro, além do próprio sistema músculo esquelético ao qual é o
efetor da ação.
O cerebelo e os núcleos da base não fazem contato direto com o circuito local
(1), todavia essas áreas são de extrema importância para a correção de movimentos e
preparação dos circuitos motores superiores (2) para o movimento pretendido.
Portanto sua influência sobre o movimento se dá através da modulação da atividade de
neurônios motores superiores.
Já movimentos que não exigem tanta precisão, como, por exemplo, correr, fazer
polichinelos, flexões ou abdominais, não necessitam da participação direta do córtex
motor sobre o circuito local. Entretanto, múltiplas áreas são recrutadas para que o
movimento seja coordenado, como, por exemplo, o cerebelo, atuando na correção de
erros de informações vindas de neurônios motores superiores, e núcleos da base,
suprimindo movimentos indesejáveis e facilitando a iniciação e término do movimento.
329
A quarentena nos proporcionou um momento único onde passamos mais tempo
conosco, logo começamos a refletir sobre nossa vida, escolhas e projetos. Algumas vezes
nos sentimos ociosos por passarmos horas e horas em frente as redes sociais, talvez esse
ato influencie nossa busca constante por estar dentro de “padrões estéticos” e de
sermos felizes o tempo todo.
Nossos olhos, através dos feixes de luz, pela córnea e retina, transforma estes
em imagem; nossos ouvidos transforma vibrações no ar em sons pela membrana
timpânica, os ossículos internos e a cóclea; nossas narinas e língua transforma moléculas
e partículas em olfato e paladar, respectivamente; nossa pele, por meio de receptores
de dor, pressão, vibração e temperatura, detecta estímulos físicos. Enfim, todas essas
sensações são evocadas, por estímulos específicos, diariamente uma infinidade de
vezes.
330
Nos acostumamos, até, por um certo ponto, de maneira monótona, a ter nosso
cotidiano: acordar, ir ao trabalho, estudar, certos dias da semana ter algum momento
de lazer, e recomeçar tudo isso novamente. Mas tudo isso que vivenciamos,
rotineiramente, teve uma “brusca” mudança nesse ano. Estamos há quase 100 dias
presos dentro de nossas casas. Não há mais idas ao laboratório, apresentações,
conversas com os amigos na hora do almoço ou café, não há mais mesas de bares cheias,
a falta daquela “pelada” na cidade natal, ou o abraço e o beijo da mãe e da avó.
Vivemos hoje em uma situação ímpar, que jamais (ao menos em nossa geração)
havíamos passado anteriormente. Isolados! Em alguns casos, solidão. Em outros,
solitude. Você tenta buscar um meio de se adaptar a ter parte de todas aquelas
sensações que você estava acostumado a vivenciar quase diariamente, muitas vezes
prazerosas, outras nem tanto. O que você vê hoje que não via antes? Quais os cheiros,
gostos, sons que hoje você percebe que não percebia antes? Ou melhor, que talvez você
poderia sentir, mas nunca deu devida atenção sobre?
Hoje, dentro de casa, pode-se dizer que muitas dessas sensações ficaram
“limitadas”, apesar de sua ampla diversidade. Mas, ao mesmo tempo, começamos a
perceber essas sensações e sentidos que antes passavam despercebidos. Exemplos
disso: sentir o sol pela manhã (calor captado pelos termorreceptores), ver o céu limpo
e azulado (essa pelos fotorreceptores na retina), até mesmo conhecer visitantes que
você mal sabia que estavam na sua casa, como um ninho de pombos em sua calha.
Você percebe, por seu sistema auditivo, com mais tempo dentro de casa, como
você reside em uma localização muito mais movimentada do que achava que era,
percebendo a grande quantidade de automóveis que por ali passam e todo o ruído por
eles realizado, o que em certos momentos chegam a ser incômodos. Contudo, ao
mesmo tempo, tal solidão é, momentânea, silêncio, nos ajudam na leitura dos artigos
através de uma calmaria que nem sempre era constante em nossos laboratórios.
Recriar uma simples porção com uma cerveja gelada, por exemplo, o cheiro da
fritura pelo nariz, o gosto salgado da porção e o amargor da cerveja, detectadas em
diferentes pontos da língua, nos fazem lembrar de momentos felizes e descontraídos
com as pessoas que tínhamos contato social. Por meio dos aplicativos de músicas,
presentes todos os dias em nossa vida, lembramos de momentos que nos alegraram ou
nos entristeceram: músicas nos estimulam e nos consolam.
E o que nos aguarda para o futuro? Qual será o “novo normal”? Será que as
sensações descritas anteriormente serão as mesmas? Poderão ser repetidas? Algumas
serão comprometidas? Poderemos entrar em uma sala de cinema lotada para vivenciar
as belas imagens de um filme? Poderemos abraçar alguém desconhecido no estádio
quando for gol do seu time do coração? Ou ir ao restaurante favorito para saborear o
prato que você mais gosta? Ir a um show da sua banda favorita?
Além disso, e as novidades que serão (e já estão sendo) implantadas, como o uso
de máscaras, o isolamento social funcionando como um vai-e-volta em diversas cidades,
o cuidado redobrado com a higiene? Isso mostra como nós, seres humanos, somos
dotados de percepções, memória, ações, aprendizados e emoções, e como somos
capazes de nos adaptar às dificuldades que estamos sujeitos no ambiente em que
vivemos. A chamada resiliência.
332
as vezes que vemos os noticiários com as reportagens sobre aqueles que realmente
sentem o que toda essa situação atual atinge.
É uma dor que você não precisa sentir na questão física da coisa. Mas que seu
cérebro consegue interpretar, com base em tudo aquilo que você está tristemente
acompanhando e se colocando no lugar. Esse sentimento, a empatia, pode ser algo que
nos faça “mais humanos”, que nos permita aprender a lidar melhor com essas situações
extremas.
Essa pandemia é mais uma que, em nossa história, passamos, dentre outras que
ainda, provavelmente, futuras gerações passarão. Que com toda essa situação, nossa
mente seja capaz de aprender um pouco mais com as adversidades. De pensar, se
adaptar, criticar, responder e agir melhor do que “antes”. Que possamos aproveitar
cada momento da forma mais intensa e prazerosa possível, para que a maioria das
nossas sensações percebidas diariamente sejam armazenadas como algo bom.
Como compreende a fala dos indivíduos que estão à sua volta? Como sabe qual
pássaro está a cantar somente pelo som? Qual o veículo está a passar na rua ao lado
somente pelo barulho do seu motor? Porque seus avós têm um padrão de marcha mais
lenta, bem como uma audição mais reduzida que a sua? Essas são perguntas que a
neurociência e a neurofisiologia esclarecem.
333
Abordaremos, primeiramente, neste texto a respeito da audição. Se trata de uma
modalidade sensorial caracterizada pela transdução de estímulos mecânicos (ondas
sonoras) em estímulos elétricos a serem interpretados pelo córtex auditivo. Mas como
um estímulo externo que é propagado pelo ar consegue alcançar o nosso cérebro e lá
ser interpretado? E como conseguimos perceber diferentes tons de sons?
Com essa perspectiva, faz sentido que possamos identificar uma espécie de
pássaro apenas pelo seu canto, visto que cada espécie emite sons em uma determinada
frequência e tom. Além disso, nosso ouvido também se relaciona com outras estruturas
e se integra com outras sensações.
Por exemplo, você não conseguiria saber qual o canto do bem-te-vi se nunca
tivesse visto e escutado um. Portanto, a primeira vez que você tivesse acesso a esse
estímulo, ele seria arquivado como uma memória. Contudo, nas situações posteriores
em que você é exposto ao mesmo som, acontece a evocação daquela memória
associada a um determinado ruído e a imagem do pássaro.
334
Outro aspecto a ser abordado poderia ser no contexto dos cheiros, ou seja,
nenhum odor é classificado como bom ou ruim, as moléculas odorantes se dissolvem no
interior do nosso nariz transduzindo um sinal que será integrado no córtex olfatório.
Tomemos por exemplo, uma situação em que você está a caminhar na rua e
sente o cheiro de pão francês saindo do forno da padaria, alguns de nós imediatamente
podemos quase sentir o gosto do alimento, ou até mesmo associar a um café da tarde
na casa dos nossos pais ou avós com todos reunidos. Isso acontece em razão da
integração e evocação de memórias associadas àquele odor que produz uma sensação
boa.
O objetivo deste texto é mostrar que a cada segundo somos bombardeados com
milhares de informações sensoriais e estas estão a todo momento sendo conduzidas e
realocadas para fornecer a melhor resposta ao ambiente em que se encontra. Portanto,
seu cérebro e demais órgãos do sistema nervoso estão a todo momento trabalhando a
todo vapor. Mesmo as situações que você pode interpretar como “monótonas”, estão a
acontecer mil coisas.
335
Somos o reflexo do mundo exterior, ou seja, dentro de nós, interpretamos de
maneira única o universo e por esse motivo o corpo humano é incrível.
Ela integra e desencadeia sensações de prazer para nosso corpo e mente, afinal,
comer também é um ato cognitivo, envolve atenção, percepção, memória, raciocínio,
imaginação, pensamento e juízo. Desta forma, em contexto social integrativo, é
importante, em uma conversa saber escutar, mas é preciso atenção aos outros sentidos
também para que todo o contexto seja percebido e interpretado.
É válido lembrar que nunca percebemos um estímulo de cada vez, mas sim, um
conjunto de estímulos que são interpretados em nosso cérebro. Assim, podemos ver,
sentir, cheirar, escutar, além de formar nossas percepções como a memória, nossos
pensamentos, emoções e sentimentos.
Por vez, em um mundo tão agitado, quase sempre não prestamos atenção nas
conversas nem na alimentação. Vivemos sob a influência do nosso sistema autônomo,
que atua predominantemente no nosso dia a dia, quando realizamos as atividades
rotineiras, seja ir ao trabalho, navegar na internet, escovar os dentes ou nos alimentar.
Nosso corpo é inteligente e poupa energia, fazendo com que soframos, então,
da chamada “avareza cognitiva”: somos preguiçosos para pensar, raciocinar de verdade,
336
visto que é mais agradável seguir o que o processamento automático propõe com
menos exigência de energia.
Em seguida, nosso olfato consegue sentir o odor dos alimentos, podemos sentir
se o cheiro do prato nos agrada ou não, através do nosso epitélio olfativo. Esse epitélio
é composto por neurônios especializados, dotados de cílios que ficam mergulhados em
uma camada de muco que reveste as cavidades nasais. Nossos neurônios especializados
levam as informações para o bulbo olfatório que encaminha os estímulos olfativos até
lobo frontal do cérebro, onde são percebidos e entendidos.
A audição, por sua vez, pode ser ativada, por exemplo, quando ouvimos os sons
da comida na panela. O barulho gerado pode ser percebido, ainda que internamente,
pelos nossos ouvidos, por meio da vibração emanada, que movimentam a membrana
timpânica e consequentemente permite a movimentação da cadeia ossicular. A
percepção auditiva segue até o ouvido interno e é processada por meio da cóclea, onde
a energia mecânica do som é convertida em sinais elétricos que são levados ao cérebro.
Em nosso córtex auditivo, esses sinais elétricos são interpretados como sons.
Perceber os sons quando estamos comendo ou cozinhando é fundamental, pois permite
um alcance do ápice máximo de satisfação que uma boa refeição proporciona. Já o
paladar é o sentido que identifica os gostos primários e o tato nos diz sobre as texturas
e as temperaturas dos alimentos.
337
encontra em atividade nas áreas pré-frontais do córtex, regiões responsáveis por
desenvolver a intenção do movimento.
338
Por exemplo, desde que nascemos, somos expostos a uma infinidade de
estímulos, que podem ser sonoros, visuais, táteis e conforme crescemos, eles
permanecem conosco.
Outros sentidos também podem ser afetados com a falta de visão. A audição por
exemplo, em indivíduos com deficiência congênita, por muitas vezes é considerada mais
aprimorada se comparada à de indivíduos videntes (Gougoux et al., 2004; Wan et al.,
2010; Voss e Zatorre, 2012), porém, não foram encontrados referenciais para as bases
neurais desse aprimoramento.
339
Alguns autores buscam explicar esse aprimoramento com a fala de que o córtex
occipital (que processa os estímulos visuais) em indivíduos cegos de nascença auxilia nos
processamentos auditivos, não sabendo se através de mediação de estímulos auditivos
ou simplesmente aumentando as respostas dentro de outras áreas sensoriais (Jiang et
al., 2014).
REFERÊNCIAS
340
HUBER, E., CHANG, K., ALVAREZ, I., HUNDLE, A., BRIDGE, H., & FINE, --I. Early blindness shapes cortical
representations of auditory frequency within auditory cortex. The Journal of Neuroscience, 2896–18,
2019.
JIANG F, STECKER GC, FINE I. Auditory motion processing after early blindness. J Vis 14:4.
doi:10.1167/14.13.4 pmid:25378368, 2014.
WAN CY, WOOD AG, REUTENS DC, WILSON SJ, Early but not late-blindness leads to enhanced auditory
perception. Neuropsychologia 48:344–348. doi:10.1016/j.neuropsychologia.2009.08.016
pmid:19703481, 2010.
VOSS P, ZATORRE RJ. Occipital cortical thickness predicts performance on pitch and musical tasks in
blind individuals. Cereb Cortex 22:2455–2465. doi:10.1093/cercor/bhr311 pmid:22095215, 2012.
341
Velhos hábitos versus novas rotinas, o novo
comportamento no isolamento social
Vídeo indisponível
343
isso pode provocar alterações físicas no cérebro, incluindo a atrofia do hipocampo. Por
último, temos a ação do córtex pré-frontal medial, que está envolvido na regulação de
quão fortemente reagimos a estímulos (LOBO, 2019).
Alguns trabalhos vêm mostrando os benefícios da atividade física, que pode ser
realizada em casa para combater os sintomas da depressão. Alguns benefícios são: a
distração dos estímulos estressores, melhor qualidade de vida, maior controle sobre o
seu corpo e sua vida, melhora da capacidade respiratória e aumento de estímulos ao
sistema nervoso central, à memória recente e às funções motoras. Além disso, durante
a realização de exercícios físicos, o organismo libera dois hormônios essenciais para
auxiliar no tratamento da depressão: a endorfina e a dopamina. Ambos têm influência
principalmente sobre o humor e emoções (GUARIENTE,2003).
REFERÊNCIAS:
LOBO, Madalena. Dentro de um cérebro deprimido. 2019. Elaborado pela Oficina de psicologia.
Disponível em: https://www.oficinadepsicologia.com/dentro-de-um-cerebro-deprimido/. Acesso em: 30
jun. 2020.
POWELL, Vania Bitencourt; ABREU, Neander; OLIVEIRA, Irismar Reis de; SUDAK, Donna. Terapia cognitivo-
comportamental da depressão. Revista Brasileira de Psiquiatria, [s.l.], v. 30, n. 2, p. 73-80, out. 2008.
FapUNIFESP (SciELO).
GUARIENTE, J. C. A. Depressão: dos sintomas ao tratamento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002. In:
KURITZA, Adriane Martinez; GONÇALVES, Andréa Kruguer. Atividade física orientada para pacientes
depressivos: lançando um novo olhar sobre o corpo. Boletim da Saúde, 2003.
345
prejuízo social (incluindo as mortes) possível. Além de nos dedicarmos às atividades
diárias e às descobertas de funções e experiências nunca antes, por nós, praticadas,
nossos olhos acabaram, também, por ficarem mais atentos às notícias do dia a dia. Uma,
em especial, ganhou a atenção da mídia global, sendo publicada originalmente pela NBC
News, em Nova Iorque.
O hábito de comer carne, sabemos, não é novo. O Homem Paleolítico, há, pelo
menos, 1.5 milhão de anos, agregou uma dieta rica em gordura, proteínas e ferro através
do consumo dos animais que caçava, além das fibras e nutrientes já existentes da prática
agrícola.
346
da mandíbula e pescoço, necessário para que o predador desfira a mordida fatal (Han
et al., 2017), normalmente na jugular do animal predado. É o córtex associativo que
integra essas informações e planeja o comportamento e a execução.
Com o avanço das Eras Geológicas, a caça, dominada pelo Homem, se refinou,
especificou-se e se tornou não mais uma obrigação pela sobrevivência, mas um hábito
comum, passível de escolha, entre nós. Ter a carne em nossos pratos, compradas nos
supermercados, fruto do abate de toneladas de animais, nos tirou a responsabilidade
de caçar, ainda que o possamos, mesmo que de forma indireta.
347
de Melhor Filme (1991) e “Dragão Vermelho” (2002), é o expoente mais cool. Quadros
como “Saturno devorando um filho”, de Francisco Goya (1819-1823) e estátuas, tal qual
“Mulher Canibal”, de Leonhard Kern (1650) também representam a prática. Ainda, o
movimento Modernista brasileiro (1920), referenciando rituais indígenas canibais,
publicou o Manifesto Antropofágico.
REFERÊNCIAS
DONDICI FILHO, José e Barroso. MENDONÇA, Camille. Dieta e dislipidemia: visão antropológica e
recomendações atuais. HU rev., Juiz de Fora, v.33, n.3, p.81-98, jul/set. 2007.
WENFEI HAN, Luis A. TELLEZ, Miguel J. RANGEL, Simone C. MOTTA, Xiaobing Zhang, Isaac O. PEREZ,
Newton S. CANTERAS, Sara J. SHAMMAH-LAGNADO, Anthony N. VAN DEN POL, Ivan E. de Araujo,
Integrated Control of Predatory Hunting by the Central Nucleus of the Amygdala, Cell, Volume 168,
Issues 1–2, 2017, Pages 311-324.e18, ISSN 0092-8674, https://doi.org/10.1016/j.cell.2016.12.027.
348
Do piloto automático às percepções
conscientes
Vídeo disponível neste hiperlink
Não sabíamos que o vizinho idoso não tinha ninguém para ajudá-lo com as
atividades que precisava fazer fora de casa. O casal que se via apenas no final do dia não
percebia que não davam atenção um ao outro. O pai não percebia que as más criações
do filho eram um pedido de atenção. As notícias sobre corrupção já não eram novidade.
Não prestávamos atenção em aspectos fundamentais da nossa vida e acontecimentos
ao nosso redor, até que a pandemia veio e nos deu tempo para refletir.
A maioria de nós percebeu que é mortal e que precisamos cuidar de nós mesmos
e dos outros. E com isso, uma série de comportamentos foram mudando. Passamos a
prestar maior atenção em nossa alimentação, qualidade de nosso sono, conhecer
melhor nosso corpo. Percebemos a falta que a família faz, queríamos visitar e não
podíamos, e assim começamos a usar a tecnologia para nos aproximar. Passamos a
ajudar mais o próximo, nos oferecer para fazer compras aos que não podiam sair de
casa, fazer shows para os vizinhos na sacada, dar aula de ginástica por “live”, doar
349
alimentos e produtos de higiene, qualquer coisa que estivesse ao nosso alcance e
pudesse, de alguma forma, auxiliar os outros a passarem por esse momento.
O casal que não convivia mais, começou a olhar mais um para o outro e ter tempo
de qualidade para eles. O pai teve tempo para o filho. Começamos a cobrar daqueles
que ainda não perceberam a gravidade da situação que tomassem os cuidados
necessários. Não toleramos quando ouvimos que a corrupção chegou à verba destinada
para pandemia, como pode alguém ser capaz de uma atitude dessas?!
Começamos a perceber que coisas comuns e simples fazem muita falta no nosso
dia a dia. Por exemplo, o uso da máscara. Quando que iríamos perceber a importância
que é conseguir ver o rosto da pessoa? Como faz falta conseguir ver aquele sorriso o
perceber se a pessoa está preocupada, triste, ansiosa e precisa de ajuda. Não
percebíamos a importância da expressão facial, algo que era tão comum a nós. Ficamos
angustiados pelas pessoas que têm familiares que estão internados em hospitais com
Covid-19 e não podem ser visitados. Imagina não poder ver seu ente querido, como está
a feição dele. Imagina se o pior vier acontecer e não for possível mais vê-lo. Impossível
não ficar tocado com a situação do próximo.
350
Os córtices associativos, anatomicamente, são divididos em três estruturas.
Córtex associativo frontal, parietal e temporal. O córtex associativo parietal está
envolvido com os processos de atenção e na percepção de estímulos, o córtex
associativo temporal está envolvido no reconhecimento de faces e objetos e o córtex
associativo frontal está envolvido com comportamento e personalidade.
351
associativos recebem diversas vias de entrada vindas de outras regiões corticais (como
o córtex sensorial) e subcorticais (informações vindas do tálamo e tronco encefálico),
processam esses estímulos e emitem sinais de saída para outras regiões do SNC, como
o córtex motor, resultando na execução das diversas tarefas motoras que somos
capazes de desempenhar.
352
Um exemplo interessante de uma habilidade nobre, envolvendo a participação
dos córtices associativos, capaz de ser desenvolvida dentro do ambiente de nossas casas
é o xadrez. A prática do xadrez desenvolve habilidades cognitivas como a memória,
concentração, planejamento e tomadas de decisões. O córtex associativo frontal, por
exemplo, é importante para a seleção e planejamento, elaboração de pensamento
reflexivo.
Com isso, podemos perceber a importância que os córtex associativos têm nas
diversas situações do nosso dia a dia, sendo responsáveis pela nossa personalidade,
memória, empatia e percepção do ambiente à nossa volta. Quando nos encontramos
353
em uma situação tão atípica como a do momento, a resposta comportamental que esses
córtex enviam é diferente, pois o ambiente à nossa volta está diferente, gerando
diversos casos de estresse e ansiedade.
Um bom exemplo de como nossas funções cognitivas têm sido alteradas é nossa
atenção. Muitos estão tendo que adaptar seus lares para um ambiente de trabalho ou
de estudo. A grande dificuldade disso é conseguir manter o grau de atenção no local de
trabalho ou da escola, já que esse novo ambiente é repleto de estímulos visuais ou
sonoros que tendem a distrair a nossa atenção. A atenção seletiva é uma função
importante que nos permite concentrar em um estímulo externo, como a leitura deste
texto — um estímulo visual e verbal complexo — ou interno, como o pensamento do
que vai ser feito no fim de semana ou a percepção de que você está com sede.
354
Em uma situação normal, nossa atenção constantemente oscila de um estímulo
para outro, o que nos permite fazer mais do que uma única atividade por vez e mudar o
foco rapidamente quando surge um novo estímulo. Mas nossa atenção é limitada e só
podemos dividi-la um certo número de vezes antes que percamos o foco. Por isso, se
estamos preocupados ou com coisas demais em nossas mentes, nos perdemos na linha
de raciocínio e no planejamento de nossas ações.
355
frontal nos auxilia no julgamento de nossas ações, o que deveria nos permitir agir de
forma mais virtuosa, mas ainda assim, violência e agressão ocorrem com frequência.
356
tremores e espasmos musculares, náusea, diarreia, respiração superficial etc. Assim, a
ansiedade pode interferir na forma como você se sente, pensa e age.
Ler um livro, por exemplo, tem um dom de nos conduzir para outras realidades.
Sendo assim, os livros são excelentes para este período de isolamento social. Buscar se
desligar um pouco da realidade, sair do modo automático, afundar em novas histórias,
é uma ótima maneira de acalmar a mente por alguns minutos, horas e até mesmo dias.
Ler um livro pode ser muito útil e eficaz.
Tocar um instrumento musical também pode ser algo capaz de ajudar a reduzir
a ansiedade. Essa atividade complexa proporciona uma quantidade maior de conexões
neuronais: utilizar as mãos para tocar um instrumento permite um aprimoramento da
coordenação motora e, além disso, uma relação mais íntima com a música influencia o
estado emocional. Ela ajuda o corpo a relaxar e acalmar, levando a uma produção maior,
por exemplo, de serotonina.
358
Integração sensório motora e cognitiva nas
artes marciais
Vídeo disponível neste hiperlink
Além disso, todas essas percepções têm gerado diferentes respostas nas
pessoas: enquanto uns têm utilizado esse momento para respostas nobres, como
empatia, solidariedade e generosidade, outros têm tido respostas completamente
diferentes, como violência e bullying.
359
Vistas as diversas funções relacionadas ao córtex associativo e respostas
comportamentais, e sabendo dos efeitos positivos das artes marciais sobre a mente e
corpo, essa atividade é considerada pela cultura asiática como um modo de vida,
promovendo disciplina e valores maiores. A mesma tem sido utilizada como uma
ferramenta eficaz na modulação cortical e comportamental.
O Jiu-Jitsu Brasileiro (BJJ), uma das artes marciais mais praticadas no Brasil, tem
como principal objetivo proporcionar aos praticantes a compreensão de valores
essenciais e formação do caráter através de oito importantes códigos de conduta os
quais envolvem: família, cooperação, disciplina, respeito, evolução/crescimento,
liderança, inspiração e alegria.
O Jiu Jitsu, por meio de sua base moral, junto com os seus benefícios para o corpo
e mente, torna-se um aliado para melhores relações sociais, tornando-as mais
harmônicas, aumentando os vínculos sociais nelas presentes. Além disso, proporciona
um maior respeito por parte das pessoas mais experientes, devido ao aprendizado que
eles têm na relação entre aluno e mestre, presente nas artes marciais.
Diante de todos os benefícios apresentados, as artes marciais hoje são uma das
principais ferramentas para que sejam ensinados desde a infância os valores éticos da
vida. Assim, em um momento de apreensão como o que estamos vivendo, as atitudes
nobres que desde cedo foram apreendidas prevalecem sobre qualquer pensamento
ruim.
360
Sorrisos sob máscaras e alegrias, socialmente,
isoladas
Vídeo disponível neste hiperlink
361
O sentimento de nulidade do sorriso nas relações durante o Covid 19 é
assombroso, por alguns motivos. Primeiro, a sensação de estar perdendo a
oportunidade de sorrir para alguém e com isso receber outro sorriso. Segundo, a
sensação de ser estranho e ver tudo e todos estranhamente, deturpando a identidade
de si e da pessoa mascarada. E o terceiro e mais grave de todos é o julgamento moral
sobre a ausência de empatia dos rostos velados que se fitam sem um sorriso estampado.
É sabido que estamos sob decreto em outras variadas formas de viver, quase
todas envolvem ou inibem a progressividade da empatia, mas dentre elas a que nos
estimula ao imediato aprendizado de outros caminhos de ver o sorriso é a condição de
mascarados. Não há corpo que se revele mascarado, nem ideia que se evidencie na
expressão abafada, pouco se escuta atentamente estando sufocado e menos se alcança
o outro sem a compreensão do seu semblante. Acima do sorriso, não por ordem de
importância, e abaixo do córtex frontal, os olhos são a janela que nos resta para enxergar
o sorriso. Seremos capazes de aprender a detectar o sorriso só pelo olhar?
Precisamos aprender que, quando um sorriso nos chega, o nosso corpo sorri de
volta e em qualquer lugar do corpo pode estar este sorriso, é a resposta planejada a um
estímulo dado no cotidiano. De tantos que recebemos e respondemos pela nossa
maquinaria neurofisiológica, este é o desafio que nos resta a ser superado neste interim
de quarentena.
362
A boca selada por decreto, não pode ser a única via de expressividade da
empatia, o olhar que precisamos, urgentemente, aprender a ver neste tempo, será o
mundo que queremos no pós-Covid 19.
O córtex associativo, por sua vez, pode ser divido em 3 principais áreas: córtex
associativo frontal, córtex associativo temporal e córtex associativo parietal, que
determinam as relações entre si e a comunicação para o desenvolvimento de uma
resposta cognitiva de caráter aprimorado aos diferentes estímulos ambientais externos.
As atividades neuronais corticais referentes a esta área, são comumente deflagradas em
tarefas em que seja necessário realizar funções executivas, envolvendo um pensamento
e planejamento das ações.
363
Com o avançar do isolamento social, retornamos ao nosso convívio com
familiares. Em função disso, passamos a encarar as saídas do nosso lar como algo que
não apenas traria um risco para nós como para as pessoas que amamos. Começamos a
realizar uma série de análises (incluindo a identificação de expressões emocionais na
face de pessoas) acerca do ambiente ao nosso redor, bem como as possíveis
consequências que nossos atos trariam sendo comum a realização de questionamentos
como “Será que preciso sair?”, “Se sim, esse é o melhor horário?”, “Qual o risco de
contaminação nesse horário?”, “Caso contaminado, posso transmitir o vírus para meus
pais que se enquadram em grupo de risco?”; “Se eu for assintomático posso me deslocar
para outros locais e transmitir para outras pessoas?”.
365
Aparentemente, os conceitos acima mencionados parecem se aplicar, também,
às imagens de objetos evocados da memória. Além do próprio córtex parietal, outras
áreas do sistema nervoso podem atuar no estabelecimento da atenção como regiões do
tronco encefálico, que recebem informações sensoriais visuais (via trato óptico) que
poderiam auxiliar no controle atencional. Devemos entender que a chamada atenção
endógena (relacionada à atenção voluntária baseada em metas e expectativas, por
exemplo) e exógena (causada por alterações involuntárias de atenção mediante
mudanças no ambiente) provocam ativação de diferentes regiões corticais.
366
auxiliar na tomada de decisões. Ademais, outras regiões corticais envolvidas em
processos sociais regulam o impacto das ações no contexto individual e em grupo.
367
e processo de aprendizagem e memória. Como exemplo, ao vermos uma foto
conseguimos identificar o que essa apresenta, de modo que tal ato nos evoca emoções
(ente querido já falecido – tristeza/saudade, uma viagem marcante – prazer/felicidade,
comemoração familiar – amor/acolhimento, entre outros). Lesões no lobo direito dessa
área cortical levam à agnosia (perda da capacidade de reconhecimento facial e de
objetos), já lesões no lobo esquerdo levam a problemas na linguagem.
Por outro lado, o córtex associativo parietal é o responsável pela nossa atenção
e consciência perceptual, como exemplo, ao estarmos sentados no sofá da sala ou na
cadeira do escritório, estamos cientes de nossa posição (se nossas pernas estão
cruzadas, esticadas, uma sobre outra, ou se nossos braços estão paralelos ou cruzados).
Uma lesão nessa região irá comprometer nossa capacidade de manter
atenção/percepção frente a objetos (como móveis de nossa casa), bem como de nosso
próprio corpo.
368
Em suma, perante o atual cenário mundial preocupante, tais aspectos
associativos e comportamentais estão sobrecarregados. A população tende a tomar
ciência de que precisa ser a mais inteligente possível, planejando, organizando e
objetivando se manter frente à possível catástrofe socioeconômica. Empresários,
investidores, autônomos, empregados e até mesmo estudantes tiveram de enaltecer
tais capacidades, da mesma forma que aspectos comportamentais como a
solidariedade, empatia, generosidade e compaixão pelo próximo também se
enalteceram.
De certa forma, tal cenário nos coloca em estado de alerta, ao mesmo tempo
que nosso equilíbrio emocional/comportamental também deve ser preciosamente
preservado, evitando comportamento catastrófico consigo ou com a sociedade.
Claudio Quintino
Rodrigo Martins
No cenário da pandemia do novo coronavírus, fomos obrigados a nos manter em
isolamento social a fim de prevenir a contaminação e desafogar o sistema público de
saúde. Nesse sentido, nossa percepção de mundo mudou de forma bastante
significativa de um dia para o outro. Antes nosso dia a dia era repleto de atividades e
369
momentos de socialização, agora fomos restritos a atividades em home-office e ao
convívio restrito aos parentes mais próximos.
É sabido que a forma como interagimos com o mundo ocorre por meio dos
nossos sentidos: tato, paladar, visão, audição e olfato. Porém, esses sentidos não
trabalham de forma dissociada uns dos outros. No encéfalo, onde os sinais recebidos
são interpretados, há associação entre os sentidos e outras áreas responsáveis por
funções como memórias, sentimentos e motricidade.
A comunicação entre todas essas regiões é o que nos faz perceber o mundo e
reagir a ele de forma tão precisa. Sabe-se que 75% do nosso córtex cerebral é composto
por áreas associativas que se comunicam com córtices sensoriais primários e córtices
motores, os quais juntos trabalham na execução de tarefas, como respostas a estímulos.
Nós temos três tipos de córtex associativos, cada um com suas funções, sendo eles:
córtex associativo frontal, temporal e parietal.
No momento atual, onde várias mazelas sociais vieram ainda mais à tona, é
comum nos pegarmos preocupados com os acontecimentos, pensarmos como podemos
ajudar a melhorar ou pelo menos não piorar ainda mais a situação. De certa forma,
mantermo-nos em isolamento social é uma prova de como estamos conscientes do
papel importante desse ato para o bem-estar social. Todas estas preocupações e o fato
do isolamento em si podem causar quadros de depressão e ansiedade. De fato, estas
doenças tomaram proporções preocupantes devido ao isolamento.
370
sociedade e responsabilidade social, sendo de grande importância no período de
pandemia atual. Além disso, essa região é responsável pela inibição consciente de
hábitos com impactos negativos.
372
O isolamento social e a saúde mental de
idosos durante a pandemia da COVID-19
Vídeo disponível neste hiperlink
Fernando Vieira
Isabella Dias
O isolamento social é um mal necessário principalmente para uma parcela da
população que é mais vulnerável neste momento, a idosa. Parcela esta, que vem
crescendo todo ano com o aumento da expectativa de vida e melhora nas condições de
saúde. Todavia, quanto mais velha torna-se esta população, maiores são as
comorbidades associadas a ela.
Por conta disso, muitas vezes o idoso é tratado como um fardo a ser carregado
dentro da família. O isolamento força a interrelação entre familiares que vivem sobre o
mesmo teto. Por vezes essa interrelação é conflitante, principalmente para os idosos,
que, em sua maioria, passaram boa parte da vida trabalhando longos períodos e agora
373
encontram-se ociosos e “presos” dentro de casa. Assim, estes indivíduos que eram
extremamente ativos e produtivos de uma hora para outra tornam-se dependentes de
terceiros.
Muitas dessas pessoas tendem a sofrer com depressão e ansiedade por não
conseguirem se encaixar nos padrões atuais da sociedade e por acreditarem ser um
“peso” para as famílias. Esta situação costuma fomentar e desencadear tais transtornos.
Além disso, muitos indivíduos com estas doenças não têm um tratamento
adequado, são indivíduos, que muitas vezes não têm família presente, ou uma família
compreensiva ou foram simplesmente entregues aos cuidados de um asilo.
O momento COVID faz com que olhemos de uma forma diferente para estes
indivíduos. Não só para os que estão no conforto de seu lar, com o carinho de sua família
e que podem ter um tratamento adequado, mas para estes outros indivíduos que estão
em isolamento social há muito mais tempo. Como, os que estão em isolamento
constante por terem sido abandonados por suas famílias nesses asilos, e que muitas
vezes sofrem não somente com as doenças degenerativas, mas também com
transtornos de humor, depressão, ansiedade, além da solidão e falta de afeto.
374
apetite e de sono. Vários fatores podem desencadear este transtorno, como traumas na
infância, estresse psicológico dentre outros. É um distúrbio que requer cuidado
multiprofissional e que pode evoluir para suicídio.
Desse modo, muitos idosos são acometidos por esse distúrbio por estarem fora
do mercado de trabalho, por estarem longe dos familiares ou até mesmo pelo fato de
se acharem inúteis e não se adequarem ao cenário de mudança do mundo moderno.
A atual conjuntura vivida pela sociedade é um desafio a ser superado por todos.
Esperemos que a nossa sociedade não precise passar por pandemias para entender o
valor da empatia humana. E que sirva, então, de aprendizado para que possamos olhar
com mais carinho para os nossos idosos, enxergando além das nossas dificuldades e
375
problemas individuais, vislumbrando as necessidades e aflições deste grupo, que
seremos NÓS amanhã.
Ainda ontem, terminamos os afazeres do dia com a angústia de não saber como
seria o próximo, nem quais as notícias ele nos traria. Como o tempo passou rápido!
Quantas situações novas pudemos vivenciar: novos sons, novos odores, novos sabores.
Um novo toque. Um novo olhar. Novos medos. Novas saudades.
Por outro lado, parece que estamos vivenciando esses acontecimentos há muito
mais tempo que apenas esses 100 dias. Há anos, talvez? Um ciclo infinito de dias iguais
que nos deixa perdidos perante o relógio e o calendário. Uma pandemia que foi capaz
de voltar nosso olhar para dentro: para dentro de nossas casas, para dentro de nós
mesmos!
376
capaz de nos enviar para um local seguro - mesmo que dentro de nossa própria mente
- onde podemos nos sentirmos mais calmos e aptos a controlar nossas emoções. Ora,
perder o direito de ir e vir, assim, tão de repente e de forma inesperada, não é algo fácil.
Todo o contexto atual, vivenciado por cada indivíduo singular, sofre uma mesma
integralização de informações entre os Córtices Associativos (75% da área total do
Córtex): Frontal, Parietal e Temporal; os quais, por sua vez, interagem com o Córtex
Motor e o Córtex Sensorial (25% da área total). No primeiro (Frontal), pode-se destacar
a função de “filtro social”, no qual indivíduos de um mesmo núcleo familiar, passando
pelo mesmo contexto de isolamento, podem vir a agir de formas diferentes, visto que o
planejamento de ações é algo distinto: uns agem de forma mais agressiva enquanto
outros, de forma mais tranquila e passiva.
Só nos resta reorganizar nosso dia a dia, reorganizar nossa vida para essa nova
realidade que bateu à porta inesperadamente. No entanto, para que nosso entorno
esteja organizado é preciso, antes de tudo, organizar nosso interior, nosso
comportamento, nossos atos e palavras, nossos pensamentos. Como será o dia de
amanhã? Descobriremos ao acordar. Como será o futuro? “Só sei que nada sei”.
378
Vale lembrar que o encéfalo possui dois hemisférios, sendo um deles o
dominante, todavia, ambos trocam informações (sensoriais, motoras e cognitivas) entre
si através de conexões inter-hemisféricas via corpo caloso e comissura anterior.
379
logo, a amígdala é ativada. A amígdala recebe diversos sinais de entrada sensoriais como
visão e audição, por conseguinte os sinais de saída vão para locais como o tronco
encefálico, especificamente para o núcleo do trato solitário (NTS), o qual é um
importante centro de modulação do sistema neurovegetativo. O NTS recruta outras
áreas do tronco, aumenta a frequência cardíaca e também estimula a liberação de suor.
Quando a mãe chega e observa que o filho tem uma expressão facial de que fez
algo errado e, em seguida, vê a taça quebrada, há ativação do córtex associativo
temporal responsável pelo reconhecimento de objetos e faces. Após entender o
contexto da situação, através da orientação da atenção para o filho e para a taça (córtex
associativo parietal), a mãe fica com raiva pelo acontecido. A raiva também envolve a
ativação da amígdala e do sistema límbico, logo também haveria aumento do simpático
resultando em aumento da frequência cardíaca e avermelhamento da face devido à
vasodilatação.
Ainda neste mesmo momento, a mãe se lembra de que a taça que foi quebrada
pertencia a sua tataravó, logo a memória também seria um componente desta ação
recrutando assim áreas como o hipocampo. Enquanto a mãe pensa sobre o que fazer a
respeito do ocorrido, é cogitado agir com agressividade extrema, entretanto, o córtex
associativo frontal, que funciona como um “filtro”, planeja e julga qual decisão é a mais
adequada para responder a determinado estímulo.
381
podendo ser explicada como a capacidade de tomarmos conhecimento e prestar
atenção em algum estímulo externo, ou em alguma motivação interna, tem
responsabilidade dos córtices associativos (áreas convolutas em nosso cérebro nas
regiões frontal, parietal e temporal) atuarem quanto a isso.
Contudo, não nos comparemos a ele: talvez grande parte da população tenha
aproveitado esse tempo para atualizar suas séries, ver filmes, ler livros. Muitos desses
meios artísticos são utilizados para demonstrar como diversos fatores podem afetar
nossos comportamentos, ações e emoções.
382
Com isso, várias tentativas são realizadas para o controle das crises, como terapia
e medicamentos. Além disso, estratégias comportamentais também podem ser
tomadas como coadjuvantes: ouvir músicas que nos confortam, praticar exercícios,
leituras, meditação, jogos onde buscamos nos distrair. Contraditoriamente, os jogos
podem nos deixar mais nervosos com eventual derrota. Tanto que muito é falado sobre
um possível efeito na agressividade das pessoas através dos jogos e o vício sobre eles.
Mas isso não chega a ser meu caso, longe disso.
383
nos posicionar sobre determinado assunto. Isso se deve à ação do córtex associativo
frontal, responsável por essa ação de planejamento e “filtro social”.
Além disso, via essas redes sociais, certos momentos de ansiedade acabam nos
atingindo, principalmente em meio a essa situação de isolamento. Alguém mandou
mensagem? Alguém visualizou o que postei? Alguém respondeu? O filtro que fazemos
através desses aplicativos busca nós termos somente algo que queremos consumir,
amigos mais próximos, sites e páginas de preferência a seguir, buscando evitar qualquer
lado negativo. Essa questão de bom ou ruim, certo ou errado, possui dois lados: o
subjetivo e o social. Isso passa pelo processo de julgamento, onde a amígdala (junto com
o córtex frontal) é a área responsável.
Outra coisa muito bem executada durante todo esse isolamento são os estudos:
algo que a todos nós causa medo, raiva, angústia e estresse, mas que é o que
escolhemos para nossa vida e nosso futuro e, sim, apesar de tudo, amamos fazer. Leitura
de vários livros e artigos exigindo nossa atenção e motivação, criatividade e
planejamento na elaboração de uma atividade importante na nossa avaliação.
Enfim, tudo isso é algo que passamos durante todo esse período de quarentena,
e continuaremos passando mesmo após ela acabar. E com o final dessa matéria, um
misto de alívio e felicidade. Desde o início do ano estresse com prazos e atividades,
medo da reprovação, ansiedade, a adição da pandemia em meio a tudo isso...
Mas, ao mesmo tempo, pode-se dizer que todo esse estresse foi uma forma de
distração e muito aprendizado durante esse período. E, com o fechamento desse ciclo
da nossa pós-graduação, marca-se o início (ou recomeço) de outra fase, que também
nos fará sentir todas essas sensações novamente: é inevitável.
Todavia, toda essa “salada de emoções” faz parte de nossas vidas, até o seu fim.
Que possamos, nesse futuro próximo, comportarmos da forma correta, termos uma
superioridade de emoções e sensações boas, e que planejemos o melhor para nossas
vidas, e que possamos influenciar da melhor maneira a sociedade em que vivemos e
aqueles que amamos.
384
O desafio das multitarefas em tempo de
pandemia COVID-19
Vídeo disponível neste hiperlink
Além da tela do celular, computador e televisão, você tem observado o que está
a sua volta? Já parou para perceber o quão complexa é a execução de uma simples
tarefa, por exemplo, perceber que o telefone está a tocar e você deve se locomover até
a sala e pegá-lo com as mãos para atender? Todo esse processo é regulado pelo nosso
córtex associativo.
385
papel e responsabilidades sociais. Um exemplo disso, é o de pessoas que possuem um
distúrbio conhecido como apraxia, causado por um tumor ou trauma na região frontal
do córtex. Dessa forma, portadores deste distúrbio são incapazes de planejar e realizar
movimentos familiares, tal como, o de utilizar suas mãos para pegar o telefone ou
simplesmente conseguir amarrar os cadarços de seu tênis.
Outros exemplos podem ser dados, como o do paciente Phineas Gage, o qual foi
vítima de um acidente em que um barra de aço acabou perfurando seu crânio e
atingindo o lobo frontal. Mesmo sobrevivendo ao acidente, Phineas apresentou grandes
prejuízos em suas habilidades de convívio social e acabou se tornando uma pessoa
agressiva e impulsiva, chegando a perder seu emprego e tendo comprometimento das
relações sociais próximas, logo, pode-se dizer então que sua vida nunca mais foi a
mesma.
386
de mudar o ambiente ao nosso redor, sentir empatia, felicidade, generosidade,
solidariedade. Embora, como parte das experiências vividas por cada um, alguns
indivíduos busquem essas características. Não somos uma “geração Star-Wars” em que
temos ausência de sentimentos e não vivemos mais no mundo onde é caçar ou ser
caçado. Nós evoluímos e prezamos pelos seres vivos que estão à nossa volta, sejam
humanos ou animais.
387
Segundo o neurofisiologista António Damásio, a consciência, tratada em seu livro
sobre a neurobiologia da consciência, é a responsável por todas as ordens de criações
humanas tais como: “a consciência moral, a religião, a organização social e política, as
artes, as ciências e a tecnologia; considerando-a como a função biológica crítica que nos
permite conhecer a tristeza ou a alegria, sentir a dor ou o prazer, sentir a vergonha ou o
orgulho, chorar a morte ou o amor que se perdeu, o pathos ou o desejo.
Ela é a chave para uma vida examinada, para o melhor e para o pior; é certidão
que nos permite tudo conhecer sobre a fome, a sede, o sexo, as lágrimas, o riso, os
murros e os pontapés, o fluxo de imagens a que chamamos pensamento, os sentimentos,
as palavras, as histórias, as crenças a música e a poesia, a felicidade e o êxtase.
Reconhecer o impulso irresistível para conservar a vida e o interesse por si mesmo e
cultivar a arte de viver”
Desta forma, temos o cérebro com o centro das nossas ações, desejos,
subjetividades, enfim, da nossa identidade. Com isso, devemos então ressaltar a
importância do córtex associativo frontal, do córtex associativo temporal e do córtex
associativo parietal nesses processos.
388
Portanto, nossa identidade é formada por uma série de experiências
socioambientais vivenciadas que, elaboradas por circuitos e processos cerebrais,
produzem a representação do mundo à nossa volta e quem nós somos.
Nossa percepção de mundo e nossa interação com ele também está vinculada
com a ação e realização de diversas atividades. A motivação à ação resulta da integração
das informações sobre a situação ambiental, fornecida pelos córtices associativos dos
lobos occipital, parietal, insular, temporal e das informações sobre a situação
motivacional/emocional do sujeito, fornecidas pelo córtex límbico.
389
Quando praticamos pela primeira vez um novo movimento as áreas de
associação do lobo parietal processam as informações somatossensoriais (provenientes
dos músculos, por exemplo) integrando-as às regiões terciárias dos lobos occipital,
temporal e frontal, proporcionando a consciência sobre o estado do nosso corpo. As
células nervosas recrutadas em um novo circuito disparam glutamato ativando áreas
cerebrais relacionadas ao aprendizado.
390
Mas, quando a empatia é acompanhada por despertar mais angústia do que
compaixão, ativam outras regiões do cérebro, como o córtex pré-motor nos lobos
frontais e o córtex somatossensorial primário nos lobos parietais. A semelhança nisso é
que ambas são conhecidas por participar dos processos chamados de espelho, onde há
atuação dos chamados neurônios-espelho ou de ação-reação.
391
links das aulas ou reuniões, ou buscarmos livros, artigos e outros materiais de estudos
na internet.
Em sala de aula, onde estamos todos reunidos para focar a atenção na aula é
diferente da atenção que temos na aula virtual, algumas coisas corriqueiras podem nos
dispersar, como uma notificação em outra aba do computador ou até mesmo sons
externos, como um carro de som na rua ou uma reforma na casa do vizinho.
392
durante um intervalo das aulas, quem nunca sentiu os efeitos de dopamina fabricada na
área tegmental ventral e ser liberada no estriado ventral (núcleo accumbens),
provocando aquele sentimento de prazer ou recompensa? Ou ainda, durante aqueles
momentos que você se reunia com seus colegas compartilhando o sentimento de medo
originado na amígdala, antes de fazer uma prova, ou então após a aula ir para o ginásio
praticar atividades como, por exemplo, jogar uma partida de voleibol, que traz tantos
benefícios à saúde e bem-estar.
Assim, essas adaptações nos trazem inicialmente estranheza, por ser algo não
tão realizado em ocasiões anteriores, mas é algo necessário para que possamos voltar a
nossa rotina, frequentar a Universidade e estudar com os colegas reunidos da maneira
que a pandemia nos impediu.
393
Projeto de pesquisa
O sentir físico e subjetivo em período de
distanciamento/isolamento social durante pandemia
de covid-19. Análise qualitativa e quantitativa
Coordenação: Prof. Dr. Norberto Garcia-Cairasco
Colaboradora: Dra. Itiana Castro Menezes
Este estudo foi composto de duas partes. A primeira parte consistiu em uma
análise retrospectiva e qualitativa de texto e vídeos já entregues pelos alunos ao Prof.
Norberto Garcia-Cairasco durante as Disciplinas RCG-0212 Estrutura e Função do
Sistema Nervoso - Graduação de Medicina (Bloco I) e RFI-5774 Integração Sensorial e
Motora - Comportamento - Programa de Pós-Graduação em Fisiologia (Bloco II),
quando ministradas em 2020 na FMRP/USP. Na segunda parte do projeto (Bloco III,
presente) foram coletados dados, de forma transversal, por meio de escalas
autoaplicáveis traduzidas e/ou validadas para o Português Brasileiro. Concluídas ambas
as fases, a participação do sujeito na pesquisa estará concluída.
Quando este projeto de pesquisa foi proposto, os óbitos por COVID-19, em 2020,
contabilizavam 34 mil no Brasil e mais de 380 mil no mundo. Atualmente, o cenário da
pandemia e do isolamento social continua e, no Brasil, já somaram 434.715 óbitos pela
doença (16/05/2021). Com a “segunda onda” da pandemia do vírus COVID-19,
superlotação de leitos de unidade de terapia intensiva e baixíssima disponibilidade de
vacina para a população brasileira - ainda lenta e gradual-, o distanciamento social,
utilização de máscaras e cuidados com higiene continuam sendo as medidas mais
eficazes contra a contaminação pelo vírus e agravamento do cenário da pandemia.
395
quem têm convivência. Neste período, também, os sentimentos de solitude e/ou
solidão, estresse/ansiedade frente ao novo cenário, desenvolvimento de estratégias de
coping, entre outros, puderam ser despertados.
Foi possível observar uma pior qualidade de vida dos pós-graduandos em relação
aos alunos de graduação em relação à qualidade de vida geral (t=2,460; p=0,016) e em
aspectos relativos à influência do meio (domínio ambiental; t=4,322; p<0,001) por meio
da aplicação da World Health Organization Quality of Life instrument - Brief: WHOQOL
397
– Brief; Fleck et al., 2000). Também, quando avaliados com a Speech, Spatial and
Qualities of Hearing Scale (SSQ; Miranda-Gonsalez e Almeida, 2017), os pós-graduandos
apresentaram uma pior qualidade na audição que os graduandos, tanto na pontuação
geral (t=3,218; p=0,002; Figura 6), quanto em questões relacionadas à audição para a
fala (questões 1 a 5; p<0,05) e necessidade de maior esforço para escuta (t=2,043;
p=0,048).
398
CONCLUSÃO
399
Figura 2. Número de sujeitos por grupo, divididos por faixa de renda salarial
mensal.
400
Figura 3. Número de sujeitos por grupo divididos por sexo.
401
Figura 4. Comparação entre grupos, da qualidade da interação presencial com
pessoas que residem na mesma casa.
402
Figura 5. Comparação entre grupos, da qualidade da interação presencial com os
amigos.
403
Figura 6. Pontuação total da escala “Qualidade da interação presencial dos
sujeitos com pessoas ou amigos”. SSQ: Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale
(Miranda-Gonsalez & Almeida, 2017).
REFERÊNCIAS
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and Hearing Research. v. 58, n.5, p.1592-1600, 2015. doi: 10.1044/2015_JSLHR-H-14-0288. PMID:
26161899.
Fleck, M.P.A.; Louzada, S.; Xavier, M.; Chachamovich, E.; Vieira, G.; Santos, L.; Pinzon, V. Aplicação da
versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida "WHOQOL-
brief". Revista de Saúde Pública, v.34, n.2, p. 178-183, 2000.
Gharzai, L.A.; Beele,r W.H.; Jagsi, R. Playing Into Stereotypes: Engaging Millennials and Generation Z in the
COVID-19 Pandemic Response. Advances in Radiation Oncology. v. 5, n. 4, p. 679-681, 2020. doi:
10.1016/j.adro.2020.04.009. PMID: 32363242; PMCID: PMC7194602.
Jiang, X.-R., Du, J.-J., & Dong, R.-Y. Coping Style, Job Burnout and Mental Health of University Teachers of
the Millennial Generation. Eurasia Journal of Mathematics, Science and Technology Education. v.13, n.7,
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404
Miranda-Gonsalez, E.; Almeida K. Incapacidade auditiva medida por meio do questionário Speech, Spatial
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Matijasevich, A. Sensibilidade e especificidade do Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9) entre adultos
da população geral. Cadernos de Saúde Pública, v.2
405
Pósfacio
Os elementos da “Oficina Cândido Portinari: A Ciência e a Arte do Cotidiano” e
seus desdobramentos no formato deste e-book “Neurociência Crítica e Criativa nos
tempos da Pandemia de Covid-19”, com os seus componentes: Bloco I, Graduação,
Bloco II, Pós-Graduação e Bloco III Projeto “Sentir Físico e Subjetivo em Período de
Distanciamento/Isolamento Social durante a Pandemia de Covid-19. Análise Qualitativa
e Quantitativa” constituem, um exercício único, de reflexão, num momento inusitado,
trágico, mas grande desafio para a criação/fortalecimento de resiliência, para a derrota
de nossa arrogância e para a expressão de empatia e solidariedade.
406
Projeto Gráfico e Capa
Projeto geral e texto descritivo:
Imagem em 3D do coronavírus
Com a pandemia de Covid-19, nossos olhares se voltaram para as mais variadas
janelas, em especial as abas de nossos computadores com diversas atividades não
presenciais. O presente e-book representa mais uma janela aberta, um local de respiro
e identificação. Sendo assim, na composição de seus aspectos visuais buscamos integrar
os mais diversos sentimentos advindos do nosso atual contexto.
407
celebração, com as cores mais apagadas da frustração. A composição ficou mais
complexa ao somar desenhos de neurônios (com e sem o coronavirus no seu núcleo),
feitos com lápis e canetas de cores (Stabilo) e guache, alusão à Neurofisiologia e à
importância da Ciência para entender o modo de ação do vírus e como enfrentá-lo.
O processo foi marcado por diversas versões, com diferentes cores, até que
vimos que a simbologia da cor azul era a que melhor representava os nossos desejos
frente a pandemia, que eram os de harmonia, tranquilidade, estabilidade e por isso foi
utilizada de forma tão intensa em nossas composições.
408
prosperidade e criatividade. Neurônios nesses dois cenários representam a dualidade
de sentimentos desencadeados por todo esse processo de transformação que temos
passado em virtude da pandemia e que foram retratados intensamente nos textos e
vídeos do e-book.
Esperamos que muito em breve, as janelas que abriremos sejam para um mundo
livre dessa pandemia, com um céu vertiginosamente azul e um sol intenso a iluminar
nossa caminhada, que como consequência das obvias reflexões, gerou e certamente
gerará, muito aprendizado na era pós-Covid.
409
ANEXOS
Anexo 1 – Tabela de localidades nos mapas do Brasil e de
São Paulo
Id Estado Cidade Latitude (S) Longitude (W) Escolaridade
1 SP Ribeirão Preto -2.117.302.778 -4.786.683.333 Graduação
2 SP Carapicuíba -2.354.183.333 -4.683.802.778 Graduação
3 SP Atibaia -2.311.738.889 -4.656.347.222 Graduação
4 SP Itu -2.326.791.667 -4.729.005.556 Graduação
5 SP Cajamar -2.335.641.667 -4.687.922.222 Graduação
Ferraz de
6 SP Vasconcelos -2.354.816.667 -4.637.483.333 Graduação
7 SP São Paulo -2.354.666.667 -4.664.502.778 Graduação
8 SP Itapira -2.243.716.667 -4.682.383.333 Graduação
9 SP Santa Gertrudes -2.245.608.333 -4.753.091.667 Graduação
10 SP Franca -2.054.066.667 -4.740.208.333 Graduação
11 SP São Pedro -2.254.669.444 -4.791.172.222 Graduação
12 SP Botucatu -2.288.969.444 -4.844.269.444 Graduação
13 SP Americana -2.274.530.556 -4.733.130.556 Graduação
14 SP Peruíbe -24.312 -4.699.138.889 Graduação
15 SP Cotia -2.359.688.889 -4.691.227.778 Graduação
16 SP Osasco -2.353.741.667 -4.679.797.222 Graduação
17 SP Guarulhos -2.343.811.111 -4.646.041.667 Graduação
18 SP Campinas -2.287.911.111 -4.704.908.333 Graduação
19 SP Sertãozinho -2.112.927.778 -4.798.222.222 Graduação
20 SP Igaraí -2.140.722.222 -46.811 Graduação
21 SP Indaiatuba -2.308.383.333 -4.721.430.556 Graduação
22 SP Divinolândia -2.165.922.222 -4.673.688.889 Graduação
23 SP Bragança Paulista -2.294.355.556 -4.653.291.667 Graduação
24 SP Marília -2.220.269.444 -4.995.591.667 Graduação
São José do Rio
25 SP Preto -2.079.297.222 -4.939.513.889 Graduação
26 SP Sorocaba -2.347.780.556 -4.746.794.444 Graduação
27 SP Lorena -2.273.763.889 -4.511.313.889 Graduação
28 SP Aparecida -2.284.372.222 -4.523.208.333 Graduação
29 SP Pilar do Sul -2.381.263.889 -4.772.025 Graduação
30 SP Santos -2.395.833.333 -4.633.263.889 Graduação
410
31 SP Rio Claro -2.239.769.444 -4.755.705.556 Graduação
São José dos
32 SP Campos -2.318.005.556 -4.588.602.778 Graduação
33 SP Mogi-Guaçu -2.237.341.667 -4.693.786.111 Graduação
34 SP Limeira -2.257.255.556 -4.740.486.111 Graduação
35 SP Bauru -2.233.011.111 -4.907.363.889 Graduação
36 SP Poá -2.352.366.667 -4.634.716.667 Graduação
37 MG Varginha -2.156.872.222 -4.544.241.667 Graduação
38 MG Andradas -2.207.136.111 -4.657.005.556 Graduação
39 MG Passos -2.071.044.444 -4.662.091.667 Graduação
40 MG Muzambinho -213.675 -4.652.388.889 Graduação
41 RO Porto Velho -8.759.833.333 -6.386.725 Graduação
42 AM Manaus -3.122.944.444 -6.001.763.889 Graduação
43 RJ Nova Friburgo -2.224.388.889 -4.252.422.222 Graduação
44 PI Teresina -5.086.416.667 -4.280.033.333 Graduação
45 DF Brasília -1.582.483.333 -4.811.116.667 Graduação
46 GO Buriti Alegre -1.813.177.778 -4.904.083.333 Graduação
47 GO Goiânia -1.671.505.556 -4.928.936.111 Graduação
48 SC Florianópolis -2.760.002.778 -4.854.833.333 Graduação
49 PR Foz do Iguaçu -2.553.072.222 -5.455.394.444 Graduação
50 PR Francisco Beltrão -2.608.072.222 -530.575 Graduação
51 SC Itapema -2.709.308.333 -4.861.419.444 Graduação
52 PE Bonito -84.705 -3.572.955.556 Graduação
53 MA Imperatriz -5.504.416.667 -4.745.938.889 Graduação
São Sebastião do
54 MG Paraíso -2.091.580.556 -4.698.277.778 Graduação
55 GO Santa Terezinha -267.822 -500.063 Graduação
56 RS Porto Alegre -300.277 -512.287 Graduação
57 RJ Rio de Janeiro -2.117.302.778 -432.096 Graduação
58 MG Dom Silvério -20.14 -432.096 Graduação
59 MG Ponte Nova -2.311.738.889 -4.786.666.667 Graduação
60 MG Barbacena -2.326.791.667 -4.786.666.667 Graduação
61 GO Itumbiara -2.335.641.667 -4.786.666.667 Graduação
62 SP Ribeirão Preto -2.117.666.667 -4.782.083.333 Pós-Graduação
63 GO Anápolis -16.349 -4.893.180.556 Pós-Graduação
64 SP Araçatuba -2.122.472.222 -5.040.916.667 Pós-graduação
411
65 SP Ribeirão Preto -2.136.602.778 -4.838.708.333 Pós-Graduação
66 GO Firminopolis -1.658.194.444 -50.305 Pós-Graduação
67 SP Ribeirão Preto -2.116.677.778 -4.782.888.889 Pós-Graduação
68 RJ Macaé -2.233.152.778 -4.174.083.333 Pós-Graduação
69 PB João Pessoa -7.115 -3.486.305.556 Pós-Graduação
Vitória da
70 BA Conquista -1.486.472.222 -4.083.694.444 Pós-Graduação
71 MG Alfenas -2.142.888.889 -4.594.694.444 Pós-Graduação
72 GO Goiania -1.667.861.111 -4.925.388.889 Pós-Graduação
73 SP Ribeirão Preto -2.136.602.778 -4.838.708.333 Pós-Graduação
74 MG Diamantina -1.824.142 -4.360.568 Pós-Graduação
75 SP Ribeirão Preto -2.136.602.778 -4.838.708.333 Pós-Graduação
76 SP Guarulhos -23.413 -464.445 Pós-Graduação
77 GO Catalão -1.816.583.333 -4.794.638.889 Pós-Graduação
78 SP Ribeirão Preto -2.136.602.778 -4.838.708.333 Pós-Graduação
79 RS Uruguaiana -2.976.258.333 -5.707.555.556 Pós-Graduação
80 RS Uruguaiana -2.975.080.556 -57.09 Pós-Graduação
81 SP Ribeirão Preto -2.117.666.667 -4.782.083.333 Pós-Graduação
82 SP Ribeirão Preto -2.117.666.667 -4.782.083.333 Pós-Graduação
83 SP Areiópolis -2.268.375 -4.866.986.111 Pós-Graduação
84 SP Leme -2.218.916.667 -4.739.805.556 Pós-Graduação
85 RJ Macaé -2.238.227.778 -4.177.222.222 Pós-Graduação
86 SP Ribeirão Preto -2.136.602.778 -4.838.708.333 Pós-Graduação
87 PB João Pessoa -7.115 -3.486.305.556 Pós-Graduação
88 SP Americana -2.273.916.667 -4.733.138.889 Pós-Graduação
89 RS Uruguaiana -297.495 -570.882 Pós-Graduação
90 GO Goianésia -153.285 -4.910.716.667 Pós-Graduação
91 SP Birigui -2.130.888.889 -5.034.361.111 Pós-Graduação
92 RS Uruguaiana -297.495 -570.882 Pós-Graduação
412
Anexo 2 – Termo de Consentimento
413
414
Anexo 3 – Direitos do uso de imagem/copyrights
415
Anexo 4 - Direitos do uso de imagem/copyrights
416
AGRADECIMENTOS