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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO

INSTITUTO DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
NEUROPSICOLOGIA
DOCENTE: VANISA VIAPIANA
DISCENTE: VICTÓRIA VAZ RODRIGUES

RESENHA CRÍTICA: PARA SEMPRE ALICE

A doença de Alzheimer está dentro dos Transtornos Neurocognitivos que segundo o


DSM-V são transtornos caracterizados pelo déficit clínico primário na função cognitiva, onde
esse prejuízo não está presente no nascimento ou início da vida, com um declínio no nível de
funcionamento anterior, sendo assim uma questão adquirida e não um transtorno do
desenvolvimento, podendo ser classificado ainda como maior ou leve. Seu principal critério
diferencial para os demais transtornos neurocognitivos é o declínio na memória e na
aprendizagem (e em pelo menos outro domínio cognitivo, no caso de TNC maior), sendo esse
declínio constante e pregresso, e não possuindo cura ou tratamento definido (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION; 2014).
O paciente acometido de Alzheimer chega a perder a consciência sobre espaço e
tempo, devido ao seu atrofiamento cerebral. São atingidos por lapsos de memória, que pioram
conforme o desenvolvimento da doença, comprometendo de forma definitiva a memória, a
linguagem e o comportamento, o indivíduo esquece coisas que acabaram de acontecer ou que
acabou de realizar, podendo muitas vezes repetir suas ações (NOBRE; ALVEZ; 2008).
No caso de Alice, personagem principal do filme, podemos observar que seu caso
inicia com pequenas perdas de memória, que a própria Alice percebe, como esquecer uma
palavra durante uma palestra, ou trocar o sentido de uma conversa. O episódio determinante
para que ela busque auxílio médico é quando sai para correr e acaba se perdendo em um lugar
muito conhecido para ela, a universidade onde ministrava aulas.
Um dos critérios relevantes para a compreensão do Alzheimer é a ausência de outra
patologia que possa justificar esse prejuízo cognitivo, isso se deve principalmente pelo
Alzheimer possuir dificuldades em seu diagnóstico (AMERICAN PSYCHIATRIC
ASSOCIATION; 2014). Assim, se faz necessário uma série de avaliações diagnósticas, lugar
onde a Neurociência e seus instrumentos tem importante ação, como é o exemplo do
Miniexame de Estado Mental (MEM), que é utilizado pelo médico procurado por Alice em
seu diagnóstico, esse teste procura observar a orientação, memória imediata, cálculo,
evocação, linguagem, linguagem e nomeação, comando em três estágios, leitura, escrita e
cópia de desenho. Apesar disso, o MEM não é conclusivo e é necessário outras avaliações
para um diagnóstico preciso, tanto na questão de testes como exames clínicos (NOBRE;
ALVEZ; 2008).
A DA, segundo Caldeira e Ribeiro (2004, apud NOBRE; ALVEZ; 2008), pode ser
compreendida em quatro fases, sendo elas:
- Inicial: onde há principalmente o declínio da memória recente;
- Intermediário: linguagem, noção de tempo e espaço são prejudicadas;
- Final: a capacidade mental é deteriorada e os movimentos físicos também são
alcançados, tornando-se cada vez mais deteriorados.
Após buscar o médico e ter seu diagnóstico concluído, Alice começa a apresentar
sintomas mais visíveis, principalmente para seus familiares e aos poucos perde a noção de
sua real condição mental, quando julga-se capaz de continuar dando suas aulas enquanto seus
alunos percebem o déficit em seu aprendizado. Aos poucos é perceptível a variação comum
na doença, em que a personagem apresenta dias bons e dias ruins, como seus familiares
relatam, até se perder no espaço, não se encontrando mais em lugares conhecidos e também
perdendo a noção de tempo, nessa altura sua linguagem já está indo embora e o último ato
consciente que podemos ver da personagem é seu discurso numa conferência onde falava
sobre a sua condição. Já nos últimos momentos da trama, Alice mal pronuncia palavras e seus
movimentos estão bem deteriorados.
Aos familiares cabe o papel de formar uma rede de proteção, sendo seu principal
sistema de suporte, isso se deve principalmente pelo fato de que as pessoas vão diminuindo
sua rede social conforme envelhecem, se recolhendo nas relações familiares, assim esses
cuidadores devem reconfigurar seus papéis a fim de suprir as necessidades do indivíduo
acometido de DA. Existe uma sobrecarga superior no cuidado de pessoas com Alzheimer,
principalmente por ser uma mazela que evolui severamente e adicionando constantes desafios
para esse processo, tanto para cuidador como pessoa cuidada (NEUMANN; 2010).
Conforme a doença de Alice vai evoluindo, fica muito claro esses desafios
encontrados por seus familiares, a dificuldade em observar a personalidade e características
únicas da mãe e mulher indo embora, são sofridas por seu marido e filhos. Os cuidados
necessários com ela vão aumentando gradativamente conforme sua doença evolui, passam de
apenas um apoio e cuidado simples, até não ser mais possível deixá-la sozinha. Assim como a
influência de conflitos que já existiam entre os membros repercutindo com a doença,
divergência entre os filhos, assim como questões da própria personagem com seus parentes,
como quando Alice tenta usar sua condição para convencer a filha de entrar na faculdade. A
sobrecarga e a tristeza ficam muito evidentes quando John, seu marido, acaba optando por
seguir sua carreira em outra cidade, deixando seus cuidados com a filha mais nova Lydia,
principalmente em sua cena de despedida, pode-se perceber nitidamente seu sentimento de
insuficiência e cansaço em relação à situação.
Cabe a Neurociência, além do diagnóstico, o papel de compreender o funcionamento
da doença e como reabilitar da melhor forma possível os indivíduos com DA. Nesse
pensamento, para Sayer (2009; apud DA SILVA; SA SILVA; 2014) as principais táticas
terapêuticas estão relacionadas a “três pilares fundamentais: retardar a evolução, tratar os
sintomas e controlar as alterações de comportamento”, esses objetivos do tratamento de
pessoas com DA está compartilhado nas diversas campos dentro das Neurociências, partindo
de fatores mais fisiológicos, como investigações de como suas funções cerebrais estão sendo
atingidas, até questões comportamentais e subjetivas que podem facilitar o manejo da doença.
Compreendendo-se então, que a Neuropsicologia é uma área, também dentro das
Neurociências, que busca entender a relação entre o comportamento do indivíduo e suas
funções cerebrais, tem papel importante na aplicação de técnicas que podem vir a ajudar,
tanto paciente como familiares (DA SILVA; DA SILVA; 2014), como:
- Treino Cognitivo: técnicas que visam propiciar ao paciente o melhor manejo e
aproveitamento possível de suas funções cognitivas disponíveis, além de
potencializar essas funções;
- Técnicas Compensatórias: tem como objetivo remanejar comportamentos que
possam facilitar o cotidiano, tanto substituindo como modificando atividades
diárias e utilizando de ferramentas como calendários, agendas, celulares.
Exemplo disso é o que Alice faz com seu celular, marcando tarefas e criando
alarmes.
- Outras possibilidades: ludoterapia, arteterapia, musicoterapia, etc.
Ao fim de todo esse entendimento, compreendendo aspectos do desenvolvimento da
doença, suas fases, tratamento e como atinge paciente e familiares, é possível assimilar como
a Doença de Alzheimer é um grande desafio, tanto nos quesitos científicos como no meio
social, afrontando questões desde a compreensão de sua origem até o manejo de pessoas
envolvidas. Desse modo confirmando a importância dessa discussão para nós, estudantes
dentro da área da Psicologia que iremos encarar situações semelhantes em nossas atividades
práticas.
REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e


estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.

DA SILVA, C. B.; DA SILVA, E. M. A demência de Alzheimer e suas terapêuticas não


farmacológicas: um estudo sobre as estratégias e intervenções em reabilitação
neuropsicológica. Caderno Discente, v. 1, n. 1, 2014.

NEUMANN, S. M. F. et al. Doença de Alzheimer na família: repercurssões sobre o seu


funcionamento. 2010.

NOBRE, M. J. F.; ALVES, R. M.. Contribuições da neuropsicologia para o rastreio do


Alzheimer. Editora científica, 2008.

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