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ENDRYA DE JESUS RODRIGUES FERREIRA

SERVIÇO SOCIAL E O ENCARCERAMENTO


FEMININO: UMA ANÁLISE NA PERSPECTIVA DOS
DIREITOS HUMANOS

São Luís
2022
ENDRYA DE JESUS RODRIGUES FERREIRA

SERVIÇO SOCIAL E O ENCARCERAMENTO


FEMININO: UMA ANÁLISE NA PERSPECTIVA DOS
DIREITOS HUMANOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Faculdade Pitágoras, como requisito parcial
para a obtenção do título de graduado em
Serviço Social.

Orientador: Nilza Fontana

São
São Luís
Luís
2022
2022
ENDRYA DE JESUS RODRIGUES FERREIRA

SERVIÇO SOCIAL E O ENCARCERAMENTO FEMININO: UMA


ANÁLISE NA PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Instituição Pitágoras, como requisito parcial para
a obtenção do título de graduado em Serviço
Social.

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

São Luís, 04 de Junho de 2022


Dedico este trabalho a todas as mulheres,
que se encontram privadas de sua
liberdade no sistema penitenciário
brasileiro, na qual as mesmas tem seus
direitos sociais mais básicos violados
diariamente e sofrem de forma mais bruta
simplesmente por serem mulheres.
AGRADECIMENTOS

Eu me sinto abençoada, quero iniciar agradecendo a Deus. Ele foi meu alicerce
durante toda essa caminhada, foi com ele que desabafei em todos os momentos que
pensei em desistir por me sentir impotente e sentir o quanto era desafiador o caminho
a percorrer, com ele podia demonstrar fraqueza e ter respostas em forma de força,
alegria, sabedoria e esperança, sem ele na direção da minha vida nada teria
acontecido.
Agradeço a minha mãe Antonia que sonhou este sonho junto comigo e sempre
acreditou em mim. Ela é a minha maior inspiração de força, garra e perseverança.
Durante estes anos mesmo com a distancia (residimos em cidades diferentes) ela se
fez presente, partilhou comigo dos meus piores momentos até a comemoração das
minhas vitorias. Amo-te mãe, obrigada por tudo, sem você eu nada seria. Você é o
meu siônimo de amor.
Ao meu irmão Eryson, por qual tenho um amor infinito. Ele é o meu gás pra
lutar por um futuro melhor.
Em seguida agradeço ao meu pai Erasmo e a minha avó Mariana que dos seus
jeitinhos se fizeram presentes e contribuíram na minha graduação, apoiando a minha
ideia de sair de casa para lutar pelos meus sonhos.
Agradeço a minha tia Rosa, prima Rafisa e minha amiga Nicolle, que me
receberam de braços abertos, me acolheram e nunca fizeram eu me sentir indiferente
e desconfortável. Em todos os momentos partilhados me despuseram amor e
acreditaram em mim.
Também agradeço ao restante da minha família em especial ao meu padastro
Claudiomar, meu avô Evangelista, minha avó Maria e minha madrinha Maria
Raimunda ao qual chamo carinhosamente por didica, sei que as orações de vocês me
guardaram durante esses quatro anos. Agradeço ao restante da minha família não
citarei nomes pois a família é enorme, agradeço as duas partes envolvidas. Obrigada
por sempre acreditarem em mim e no meu sonho de me formar em uma faculdade,
sou muito grata por todo incentivo e confiança.
Gostaria de agradecer imensamente as minhas duas melhores amigas, Alyce
e Lucianne, sem vocês tudo teria sido mais difícil. Obrigada por cada momento, desde
as escutas aos momentos de descontração. Foram colo e abrigo, meu regozijo.
Nossos dias de gloria viram. Amo muito vocês.
As minhas amigas de graduação, turma 2018.2 Em especial Sthefanny e
Francyanne, que passaram comigo todos dias de graduação, na qual muitas das
vezes nos amamos e nos odiamos em frações de segundos, vou leva-las pra vida. E
todas as pessoas que tive o prazer de conhecer como Ana Teresa, Dayane e Juliane.
A minha amiga Thaís que ganhei em um belo dia de palestra e assim ela se
tornou importantíssima me ajudando inclusive nesse processo de elaboração/surto
que é escrever o tcc, saiba que suas mensagens de incentivo e carinho foram
essenciais.
Deixo aqui meus agradecimentos aos meus queridos professores, que foram e
são meus principais influenciadores nessa trajetória que é a graduação e o exemplo
de profissionais.
Por fim agradeço a mim, por ter saído de casa apenas com o desejo de vencer,
acreditando em um sonho, apenas com a certeza de que lutaria pelo meu futuro.
Escrevendo tudo isso, tenho orgulho do que me tornei, por ter evoluído e crescido,
independente das lutas que passei. Gratidão.
“Não adianta lamentar o passado,
Mas sim aguardar com esperança
O fruto da semente do bem que hoje plantamos”

(Bruna Martins, no livro Mulheres Poéticas - A Poesia


no Cárcere)
FERREIRA, Endrya de Jesus Rodrigues.Serviço Social e o encarceiramento
feminino: Uma análise na perspectiva dos direitos humano. 13-44. Trabalho de
Conclusão de Curso de Serviço Social – Faculdade Pitagoras, São Luís, 2022.

RESUMO

Neste trabalho de conclusão de curso, tratamos de analisar o serviço social e o


encarceramento feminino, partindo de um olhar voltado a perspectiva dos direitos
humano. De modo a ressaltarmos as consequências e efeitos da questão social dentro
da realidade, população carceraria feminina, frisando na violação de direitos e trabalho
do assistente social. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivos: analisar
as particularidades da mulher no cárcere, as condições dos sistemas penitenciários
femininos, a população que nele se encontram, direitos humanos e a atuação do
Assistente Social. Evidenciando a invisibilidade, a violência e o abandono sofrido
pelas mulheres no sistema prisional. Tendo em vista que o sistema jurídico um espaço
sócio-ocupacional do Serviço Social e, portanto, é necessário frisar sua práxis diante
do atendimento à essa população e no enfrentamento dos reflexos da questão social,
no que se refere a socialização dos direitos sociais, refletindo sobre as condições do
encarceramento feminino e analisando questões relacionadas à dignidade humana,
legislação e políticas pública. A metodologia utilizada foi revisão bibliográfica
pertinentes ao tema e o uso do método descritivo e o materialismo histórico, com
materiais oriundos de sites, revistas, livros, artigos. Portanto, a partir da leitura
bibliográfica, possibilitou uma reflexão acerca do sistema penitenciário feminino e a
vivencia das mulheres inseridas nos presídios, possibilitando uma análise sobre os
direitos que são garantidos por lei as detentas, a viabilização e socialização de
políticas sociais, analisando pratica do assistente social e processo de
democratização dos direitos das detentas sob a ótica do seu agir profissional em
conhecer o idoso em todos aspectos, para que clarifique que a pessoa idosa é sujeitas
de direito.

Palavras chaves: Serviço Social; Encarceramento Feminino; Sistema Penitenciário;


Mulheres.
FERREIRA, Endrya de Jesus Rodrigues. Social work and female incarceration:
from a perspective focused on human. 13-44. Trabalho de Conclusão de Curso de
Serviço Social – Faculdade Pitagoras, São Luís, 2022.

ABSTRACT

The present academic Work seeks to analyze social work and female incarceration
from a perspective focused on human rights. In order to emphasize the consequences
and effects of the social issue within reality, the female prison population, emphasizing
the violation of rights and work of the social worker. In that regard, the present work
aims to: analyze the particularities of women in prision, the conditions of the fenale
penitentiary system, the population in It, humano rights and the role of the social
worker. Demostrating the invisibility, the violence and abandonment suffered by
women in the prison system.Considering that the legal system is a socio-occupational
space of Social Work, therefore, it is necessary to emphasize their practices in the face
of the service to this population and in the confrontation of the reflexes of the social
question, with regard to the socialization of social rights reflecting on the conditions of
demais incarceration and analyzing issues related tô humano dignity, legistation and
public policies.The methodology used erre bibliographic reviews relevante tô the topic
and the use of the descriptive method and historical materialism, as much as materials
from websites, magazines, books, articles and among others. Therefore, from the
bibliographic reading, it allowed a reflection about the female penitentiary system and
the experience of women inserted in prisons, enabling an analysis of the rights that are
guaranteed by law to the inmates, the feasibility and socialization of social policies,
analyzing the practice of the social worker and the process of democratization of the
rights of the inmates from the perspective of their professional action in knowing the
women incarcerated in all aspects, in order to clarify that these are subject by law.

Key-words: Social Work, female encarceration, penintentiary female, women.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CF Constituição Federal
CFESS Conselho Federal de Serviço Social
CP Código Penal
CNPCP Conselho Nacional de Politica Criminal e Penitenciária
DEPEN Departamento Penitenciário Nacional
INFOPEN Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias
LEP Lei de Execução Penal
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 13

2. A REALIDADE BRASILEIRA DO CÁRCERE FEMENINO: AS CONDIÇÕES DO


PRESIDIO E A POPULAÇÃO PRISIONAL .............................................................. 15

2.1 POPULAÇÃO PRISIONAL FEMENINA BRASILEIRA ......................................... 15

2.2 POPULAÇÃO CARCERARIA FEMENINA, QUESTÕES DE GÊNERO ............... 17

2.3 CONDIÇÕES DOS PRESÍDIOS FEMENINOS .................................................... 20

3. OS DIREITOS DAS MULHERES NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO25

4. A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA LUTA PELOS


DIREITOS DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA FEMENINA ....................................... 35

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 40

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 42
13

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos a população carcerária feminina teve um aumento


significativo no Brasil, de modo que é necessário frisar que historicamente há uma
ausência de políticas públicas que levam em consideração a mulher encarcerada
como sujeito de direitos, não levando em conta as particularidades relacionadas ao
gênero. O processo de encarceramento é seletivo e obedece a uma ideologia
classista, racista e machista, as mulheres costumam ficar menos visíveis a todos. A
perspectiva ligada ao gênero mostra que o olhar masculinizante pesa até mesmo
sobre as usuárias inseridas no sistema carcerário.
Quando são detidas pelo sistema penitenciário são cotidianamente ignoradas,
e isso tem um peso maior, pois são criticadas pelo seu gênero. As mesmas tem uma
vida excluída, privadas tanto da sua liberdade quanto dos seus direitos básicos. A
invisibilidade é tamanha que perpassa por âmbitos culturais, sociais e políticos e isso
faz com que, frequentemente, seus direitos sejam violados e não sejam cumpridos
pelo Estado, visto que são essenciais como saúde, educação, trabalho entre outros.
Consideraremos as condições do encarceramento feminino, será analisado
questões relacionadas à dignidade humana, legislação e políticas públicas que
promovam o desenvolvimento humano no sistema prisional brasileiro feminino.
Mostrando as diferentes características do sistema prisional, principalmente a
singularidade das mulheres, com características como: maternidade, menstruação,
fatores sociais e étnicos, destacando o expressivo aumento do número de mulheres
presas no sistema prisional brasileiro, invisibilidade, violência e o abandono sofrido
por essas mulheres.
Diante desse contexto o presente trabalho de conclusão de curso é movido pelo
seguinte problema de pesquisa: Quais são as consequências e efeitos na população
carcerária feminina diante do não cumprimento e efetividade dos direitos humanos,
diante disso quais são os desafios e as possibilidades da atuação profissional do
Assistente Social? Perante essa problemática é notório que ainda há falhas no que se
refere a situação da mulher no sistema prisional, por isso, é de extrema importância
que se tenha uma compreensão a respeito do trabalho do Assistente Social dentro do
14

sistema penitenciário feminino, assim como seu processo na luta pela viabilização e
garantia de direitos das usuárias detentas.
Portanto o presente trabalho tem como objetivo geral: compreender quais são
os desafios e as possibilidades da atuação profissional do assistente social na luta
pelos direitos da população carcerária feminina. E os seguintes objetivos específicos:
compreender a realidade brasileira do cárcere feminino, as condições do presidio e a
população prisional; conhecer os direitos das mulheres no sistema penitenciário
brasileiro; analisar acerca da atuação profissional do Assistente Social na luta pelos
direitos da população carcerária feminina.
A presente pesquisa tratar-se-á de um estudo tendo como base revisão
bibliográfica, utilizando materialismo histórico e o método descritivo. Portanto serão
revisados artigos científicos oriundos das bases de dados: Scientific Eletronic Library
Online (Scielo), Google Acadêmico, Revista Eletrônica Serviço Social (RESS), Google
Acadêmico e Scribd. Pretende-se consultar ainda diferentes documentos como:
Livros, Teses, Artigos, Periódico Eletrônicos, Revistas e Monografias dos últimos 10
anos.
15

2. A REALIDADE BRASILEIRA DO CÁRCERE FEMENINO: AS CONDIÇÕES DO


PRESIDIO E A POPULAÇÃO PRISIONAL

Neste capítulo, será apresentado um levantamento do atual sistema prisional,


partindo de um olhar sob uma perspectiva de gênero, analisando o crescimento
populacional e o perfil das mulheres que hoje se encontram presas. Trazendo também
um pouco do contexto em que foram criados e construídos os estabelecimentos
prisionais, demonstrando também como são as estruturas desses presídios até o
momento presente. Portanto, todos esses conceitos são apresentados para que
informações possam ser obtidas e possa se traçar um público feminino carcerário e
compreender suas condições e estruturas de vida.

2.1 POPULAÇÃO PRISIONAL FEMININA BRASILEIRA

De acordo com o INFOPEN (2018), é certo que a população carcerária feminina


é jovem, composta principalmente por mulheres de 18 a 29 anos. Em relação à raça,
cor ou etnia, de modo que o sistema prisional, tanto feminino quanto masculino, é
composto principalmente por negros. No que se refere à escolaridade das mulheres
privadas de liberdade no Brasil, pode-se observar que 45% das mulheres não
concluíram o ensino fundamental e as outras 55% se dividem desde o analfabetismo,
ao ensino superior. Também foi discutido que há muitas mulheres com filhos e 57%
das mulheres têm mais de dois filhos.
Contudo muitas delas não são casadas e ficam completamente sozinhas antes
de entrar no sistema prisional, ou permanecem sozinhos depois de entrar no sistema
prisional. “[...] Em geral, é gente esmagada pela penúria, de áreas urbanas, que
buscam o tráfico como sustento. São, na maioria, negras e pardas, mães
abandonadas pelo companheiro e com ensino fundamental incompleto. (QUEIROZ,
2015, p.36).
A partir do perfil das presas, há indícios da associação a fatores
socioeconômicos, mulheres sem acesso à cultura, educação, saúde, lazer, etc.
16

Tendem a se concentrar e se envolver com o que acontece primeiro, que geralmente


é o mundo do crime.

Junta-se a esses fatores escolas de baixa qualidade, deficiências de moradia,


do ambiente cultural, do espaço público, das relações comunitárias e a
convivência com familiares e vizinhos que não estudaram, e teremos as
condições que levam ao uso de drogas ilícitas, ao envolvimento com o tráfico
e às cadeias. (VARELLA,2017, p.179)

Onde não há alcance das políticas pública, muitas vezes há atividade


criminosa, principalmente o tráfico de drogas, por sua vez muitas mulheres se
associam a este por serem chefes de família e responsáveis pela criação dos filhos,
algumas começam o comportamento criminoso por conta de seus parceiros, repetindo
então os estereótipos que as mulheres são vulneráveis, influenciáveis, frágeis e tem
necessidade de proteção, desqualificando-as e não reconhecendo-as como sujeitos.

“[...] Uma tese em voga entre ativistas da área é a de que a emancipação da


mulher como chefe da casa, sem a equiparação de seus salários com os
masculinos, tem aumentado a pressão financeira sobre elas e levado mais
mulheres ao crime no decorrer dos anos. (QUEIROZ, 2015, p.36).

O aumento da criminalidade feminina também é ligado ao mercado de trabalho,


juntamente com os seguintes fatores: desemprego, baixos salários, desamparo
familiar. Pois, o abandono, poder, filhos, status e dinheiro colaboram com as relações
que ajudam as mulheres a escolher uma vida de crime. Por fim, há um enorme quadro
de vulnerabilidade pessoal e social, que faz com elas escolham este caminho, “[...] o
desemprego, a falta de oportunidades para os mais jovens, a desagregação familiar e
as sucessivas crises econômicas enfrentadas pelo país só vão agravá-los.”
(VARELLA,2017, p.94)
Há um grande número de mulheres envolvidas no tráfico de drogas, que é a
maior razão pela qual as mulheres estão detidas hoje, muitas delas tem como
entendimento o tráfico de drogas não sendo apenas um local de trabalho, mas o
principal local de inserção profissional e social.
17

Dados comprovam a teoria. Os delitos mais comuns entre mulheres são


aqueles que podem funcionar como complemento de renda. Como mostra
Ieda e Marta, tráfico de entorpecentes lidera o ranking de crimes femininos
todos os Censo Penitenciário. Os próximos da lista, e para os quais vale o
mesmo raciocínio, são os crimes contra o patrimônio, como furtos e assaltos.
(QUEIROZ, 2015, p.36).

Assim, vemos que a maioria das mulheres que ingressam no sistema prisional
são vítimas das múltiplas expressões da questão social, incluídas dentro do quadro
de vulnerabilidade social, o que vemos claramente como uma imagem de extrema
pobreza. As diferenças na composição cultural se manifestam nos sistemas prisionais,
mostrando grandes diferenças, nos grupos mais vulneráveis da sociedade.
Como resultado, rastreou-se a identidade da mulher carcerária no Brasil, como
sendo de mulheres negras, jovens, solteiras, com baixa escolaridade e mães, estando
presas principalmente por tráfico de drogas. Reafirmando que a desigualdade social,
discriminação e seletividade no sistema de justiça criminal acaba por punir os mais
vulneráveis nas categorias de raça, renda e gênero.

2.2 POPULAÇÃO CARCERARIA FEMININA, QUESTÕES DE GÊNERO

Santos e Rezende (2020) apontam que embora a taxa de reclusão feminina


tenha aumentado nos últimos anos, ainda não há uma visão mais ampla para a
construção de políticas públicas que incorporem uma perspectiva de gênero. O que
vem acentuando o encarceramento feminino são os diversos tipos de violência, que
marcam claramente a vida das mulheres. Embora tenha havido avanços
consideráveis, levando em consideração a particularidade das penitenciárias
femininas, a incorporação da questão de gênero na formulação das políticas de
segurança pública só começou recentemente.

O aumento da população carcerária feminina é um fenômeno observado em


todos os continentes: existem mais de 714 mil mulheres em prisões no
mundo, o que representa um crescimento de 53% desde 2000 (World Female
18

Imprisonment List, 2017). Contudo, a situação no Brasil é ainda mais grave:


o número de mulheres em situação de cárcere aumentou aproximadamente
675% desde o começo do milênio, considerando o número de 37.828
detentas no fim de 2017. Os números representam um crescimento na taxa
de aprisionamento feminino 5,4 vezes maior que os dados de 2000.
(OBSERVATORIO, 2020)

Ainda nessa perspectiva de aumento na população carcerária feminina Santos


e Rezende (2020) salientam que esse fenômeno repercute nas políticas públicas de
segurança e também em políticas direcionadas ao combate a desigualdade de
gênero. Por mais que a taxa de mulheres no mundo do crime seja menor, a taxa de
encarceradas teve uma elevação significante no país, sendo:

[...] A população absoluta de mulheres encarceradas cresceu 656% entre os


anos de 2000 e 2016, chegando ao patamar de 42.355 mulheres presas, ao
passo que a população de homens encarcerados cresceu 293% no mesmo
período. Em relação à taxa de aprisionamento de mulheres por 100 mil
habitantes, o Brasil ocupa o terceiro lugar, atrás somente dos Estados Unidos
e da Tailândia (BRASIL, 2017a; FBSP, 2018).” (Apud SANTOS; REZENDE,
2020, p.584)

O Brasil é um país desigual, da mesma forma, o sistema prisional também é


desproporcional em termos de serviços prestados a homens e mulheres. Portanto
levando em conta que o processo de universalização desse sistema em sua gênese
criada por homens e para homens, de modo que a construção do sistema prisional
brasileiro está pautada na discriminação de gênero e no entendimento patriarcal,
ignorando as necessidades específicas das mulheres presas e aprofundando ainda
mais sua exclusão social e opressão (CEE, 2019).
Então, levando em consideração a questão da pobreza, que pode ser um dos
percursores que levam a entrada dessas mulheres a atividades consideradas ilegais
e muitas das vezes o resultado dessas atividades levam ao encarceramento. O
desemprego das mulheres também é um fator importante no envolvimento dessas
19

individuas em atividades ilícitas. De modo que contam com tráfico para terem uma
maneira de subsistência.

A maior parte das que aderem à criminalidade o faz pelo caminho do uso de
drogas ilícitas, por relacionamentos afetivos com usuários, ladrões e
traficantes ou como parte da estratégia para manter a família ou para fugir da
violência doméstica. Na hierarquia do crime, elas ocupam a base que deve
subserviência aos chefes; poucas conseguem chegar aos escalões
intermediários. Como vimos, na penitenciária as irmãs do Comando têm
autonomia para resolver brigas de namoradas, furtos, desentendimentos,
cobrança de dívidas e outros conflitos da mesma ordem de gravidade; casos
mais controversos devem ser levados à Torre, constituída por juízes homens.
(VARELLA,2017, p.182)

O encarceramento feminino faz parte de todo um ciclo no qual inclui a


discriminação de gênero e a exclusão social, a pobreza e a opressão em uma
sociedade de exclusão. A partir disso, as mulheres em posição de subordinação na
sociedade buscam soluções para seus problemas financeiros no crime e no tráfico de
drogas. Uma vez no sistema prisional, o Estado não se preocupa em adequar o
sistema às necessidades das mulheres, pelo contrário, as mulheres recebem o
mesmo tratamento que os homens, ignorando assim a adequação da classificação de
gênero (ROSA, 2019).

De todos os tormentos do cárcere, o abandono é o que mais aflige as


detentas. Cumprem suas penas esquecidas pelos familiares, amigos,
maridos, namorados e até pelos filhos. A sociedade é capaz de encarar com
alguma complacência a prisão de um parente homem, mas a da mulher
envergonha a família inteira. Enquanto estiver preso, o homem contará com
a visita de uma mulher, seja a mãe, esposa, namorada, prima ou a vizinha,
esteja ele num presídio de São Paulo ou a centenas de quilômetros. A mulher
é esquecida. (VARELLA,2017, p 27)

A criminalidade feminina sempre foi permeada por estereótipos sociais e de


gênero e, quando associados ao crime, acabam por impedir a aceitação da mulher
20

pela sociedade, refletindo sua dupla determinação. As pessoas esperam que eles
tenham um certo padrão de comportamento e, quando esse padrão é quebrado, o
estigma contra o grupo aumenta.

“[...] Quando um homem é preso, comumente sua família continua em casa,


aguardando seu regresso. Quando uma mulher é presa a história corriqueira
é: ela perde o marido e a casa, os filhos são distribuídos entre familiares e
abrigos. Enquanto o homem volta para um mundo que já o espera, ela sai e
tem que reconstruir seu mundo. (QUEIROZ, 2015, p.44)

A sociedade sustenta a ideia que a participação das mulheres na prática


criminosa faz com que elas não desempenhem seu papel social, e esse julgamento
faz com que haja maiores implicações de invisibilidade nas prisões femininas. Sobre
a questão delas no crime, pode-se afirmar que, por meio do crime, as mulheres
acabam ficando em desacordo com a sociedade porque ainda não se espera que elas
se comportem dessa maneira, “talvez porque a prisão de filha ou mãe envergonhe
mais do que a de um filho ou do pai, já que a expectativa da sociedade é ver as
mulheres no ``seu lugar``, obedientes e recatadas.” (VARELLA,2017, p.183)
Então fica claro que as mulheres, no que diz respeito ao gênero, sempre foram
desvalorizadas e frágeis, tudo isso por preceitos que foram sendo desenvolvidos ao
longo dos anos. As prisões femininas são baseadas em preceitos de como a mulher
deveria ser, e a avaliação da sociedade sobre elas é cruel. Assim, o mundo do crime
explora essa imagem social da mulher enquanto se aproveita dela. Portanto, pode-se
dizer que esses papéis desempenhados pelas mulheres nada têm a ver com sua
condição física, mas com a estrutura sociocultural em que vivem.

2.3 CONDIÇÕES DOS PRESÍDIOS FEMININOS

Queiroz (2015) salienta, que as primeiras prisões foram criadas no século XX,
sob modelos patriarcais e laicos. Já que o Estado é laico, mas naquela época a gestão
dos presídios femininos era feita por freiras.
21

A Penitenciária Madre Pelletier, de Porto Alegre, foi a primeira penitenciária


feminina do Brasil. O dado curioso não é este, mas sim que ela foi fundada
apenas em 1937, e não pelo Estado, mas por freiras da Igreja Católica. Até
então, mulheres condenadas do Brasil inteiro cumpriam pena em cadeias
mistas, onde frequentemente dividiam celas com homens, eram estupradas
pelos detentos e forçadas à prostituição para sobreviver. Depois de muitas
denúncias e discussões de penitenciaristas, o Brasil, tardiamente, passou a
construir presídios apenas para mulheres, começando pelo Rio Grande do
Sul e espalhando-se pelo resto do país. (QUEIROZ, 2015, p.73)

As primeiras prisões femininas do século XX foram mistas e criadas sob a égide


do "dever ser”. As prisões eram vistas como espaços de reconstrução moral e
ressocialização. Na época, as mulheres eram presas por terem opiniões, recusarem
casar com pretendentes escolhidos por seus pais, e até mesmo por serem ruins ao
realizarem afazeres domésticos (QUEIROZ, 2015).

Era um processo de “domesticação”. Eram mulheres que não cometiam


crimes necessariamente, mas que deixaram maridos ou eram refeitas pela
família – conta Maria José Diniz, assessora de Direitos Humanos da
Secretaria de Segurança Pública do governo do Rio Grande do Sul – Lá, as
ensinavam a bordar, cozinhar e depois as mandavam de volta para a
sociedade, para arrumar um bom partido para casar (QUEIROZ, 2015, p.73)

Desta forma a ideia que predominava era que essas mulheres necessitavam
de uma “domesticação”, sendo assim quando detidas, elas eram obrigadas a aprender
fazer trabalhos domésticos, bordar, cozinhar, tudo isso para que pudessem estar
prontas para voltar para casa, porque já haviam aprendido a fazer as coisas que
devem ser feitas por mulheres.

O processo de criação deste piloto, porém, foi muito longe do ideal. Liderado
pela Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, irmandade
religiosa fundada em 1835 por Maria Eufrásia Pelletier, com sede em Angers
(França), o presídio nasceu com o nome Instituto Feminino de Readaptação
Social. Era uma casa destinada a criminosas, mas também a prostitutas,
moradoras de rua e mulheres “desajustadas”. E “desajustadas”, naquela
22

época, podia significar uma série de coisas muito distantes do desajuste.


Eram mandadas para lá, por exemplo, mulheres “metidas a ter opinião”,
moças que se recusavam a casar com os pretendentes escolhidos pelos pais
ou até “encalhadas” que, por falta de destreza nas tarefas do lar, tinham
dificuldades em arrumar marido. (QUEIROZ, 2015, p.73)

Todas as leis, políticas e instituições foram feitas, desenvolvidas e projetadas


para aprisionar homens, ignorando completamente o fato de que as mulheres também
cometem crimes. As estruturas prisionais são projetadas para os homens e, portanto,
quando destinadas as mulheres elas são improvisadas. De acordo com o INFOPEN
(2016) Mulheres 2016, 74% das prisões no Brasil são masculinas, 7% femininas e
16% mistas.
Assim, se tem em vista a desigualdade nas taxas de vagas em presídios
masculinos e femininos, o sistema não disponibiliza metade do número de vagas
masculinas para as carceragens femininas e isso faz com que ocorra uma taxa de
ocupação muito alta nas prisões.

[...] O que eles chamam de presídios mistos são, na verdade, presídios


masculinamente mistos – opina Diniz. – Se não tem onde colocar mulheres,
as botam de castigo, ou seja, o pior lugar da cadeira. Até a estrutura dos
prédios é feita para homens. Os banheiros, por exemplo, são os chamados
“bois”, ou seja, buracos no chão. Imagine uma grávida se agachando num
lugar destes? Num presídio com trezentos homens e dez mulheres, quem
vocês acham que vai trabalhar e estudar? Quem vai ter horário de banho de
sol? A minoria? Os espelhos são uma lâmina onde elas se veem
completamente deformadas. Imagine passar cinco ou seis anos se vendo
assim e sem nunca observar seu corpo inteiro? Como você vai se imaginar?
(QUEIROZ, 2015, p.74)

Portanto, percebe-se que por mais que o Estado enxergue a realidade dos
presídios femininos e que há uma necessidade de melhoria, ainda assim tende a
ignorar a protege-las, garantir os direitos garantidos por lei, como segurança, saúde,
a ter o mínimo de salubridade nas celas, tornando uma preocupação a ausência do
Estado na garantia de dignidade na cadeia dessas mulheres.
23

“[...] Isso porque as cadeias públicas e distritos policiais não têm estrutura de
saneamento básico para manter muitas pessoas e, na maioria dos casos,
tampouco têm camas, produtos de higiene, atendimento médico ou trabalho
disponível para ocupar a mente, ajudar na ressocialização e na remissão da
pena. (QUEIROZ, 2015, p. 103)

Além de terem um cotidiano complicado nas prisões, o Estado e as estruturas


disponíveis para essas mulheres são horríveis e secundários, tudo isso em grande
parte acontece devido às consequências sociais e históricas atribuídas às mulheres.

“[...] Oito dormiam num colchão e meio. Era de dar câimbra no corpo inteiro.
A gente não conseguia se mexer pra lado nenhum. Às vezes, tinha que
acordar a do lado para poder levantar porque não podia mexer a perna. E eu
olhava aquilo e pensava: “Meu Deus, eu nunca mais vou sair daqui.”
(QUEIROZ, 2015, p. 57)

O Relatório Mulheres Encarceradas no Brasil (2007) levanta questões do


sistema prisional brasileiro, tais como: prisões e cadeias com condições físicas
precárias; encarceramento em massa, falta de saneamento básico, como aponta
Queiroz (2015):

“[...] A infraestrutura é precária, há vazamentos, infiltrações, problemas de


ventilação e um cheiro insuportável dos excrementos que vazam das privadas
ou buracos no chão destinados a receber as necessidades do corpo. Insetos,
baratas, sapos e ratos são companheiros comuns das moradoras do local.”
(QUEIROZ, 2015, p. 108)

Pode-se, portanto, concluir que o número de mulheres vem aumentando


vertiginosamente ao longo dos anos, e mesmo assim, o sistema prisional não alterou
sua estrutura para atender a capacidade populacional que chega até ele. Os presídios
ainda não possuem modelos pensados para mulheres ou pessoas que menstruam,
ou seja, não entende e não atende as necessidades daquelas que o ocupam, muitas
delas já passaram por diversos presídios, e trazem consigo relatórios comparativos
24

de suas vidas e vivências, porque muitas dessas prisões ainda vivem da mesma
forma, o sistema continua o mesmo, um sistema machista.
25

3. OS DIREITOS DAS MULHERES NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

De acordo com a Lei nº 7.210 – (Lei de Execução Penal) em seu art. 3º dissertar
acerca dos indivíduos condenados e ao internado, que são assegurados os direitos
que não atingidos pela sentença ou pela Lei, assegurando o princípio da dignidade da
pessoa humana. Ainda nessa perspectiva a Constituição Federal de 1988 define no
art. 5º no inciso XLVIII “a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de
acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado” (BRASIL, 1988). E no
que se refere ao cumprimento de pena feminino o Código penal disserta em seu art.
7, que essa lei estabelece “As mulheres cumprem pena em estabelecimento próprio,
observando-se os deveres e direitos inerentes à sua condição pessoal [...]” (LEI 1949,
p.1940).
No entanto é notório que as prisões femininas ainda são negligenciadas e os
prédios das prisões começaram a ter problemas, porque banheiros, creches e
espaços de convivência familiar não atendem às necessidades das detidas, esse
descaso também permeou superlotação, falta de iluminação e saneamento.

[...] os banheiros, por exemplo, são os chamados “bois”, ou seja, buracos no


chão. Imagine uma grávida se agachando num lugar destes? Num presídio
com trezentos homens e dez mulheres, quem você acha que vai trabalhar e
estudar? Quem vai ter horário de banho de sol? A minoria? Os espelhos são
uma lâmina onde elas se veem completamente deformadas. Imagine passar
cinco ou seis anos se vendo assim e sem nunca observar seu corpo inteiro?
Como você vai se imaginar? Não havia exames médicos, o kit de higiene era
insuficiente (QUEIROZ, 2015, p. 74).

Portanto, as mulheres não conseguem obter condições sanitárias dignas, nem


mesmo para suas particularidades mais simples, de modo que ainda há a necessidade
de melhorias no cumprimento dos direitos das detentas enquanto cidadãs de direito,
que se encontram no cárcere têm seus direitos violados, como a garantia de sua
saúde, mesmo este sendo esse um direito social básico, garantido
constitucionalmente.
As mulheres reclusas sofrem com as mais severas condições de vida,
deficiências e falhas do sistema penitenciário. Além de perderem sua liberdade, as
mulheres encarceradas, perdem seus direitos. O sistema prisional que deveria cumprir
26

sua função de penalizar, na observância da lei, acaba inviabilizando a humanização,


fazendo com que as apenadas clamem por justiça.

De acordo com o Relatório sobre Mulheres Encarceradas no Brasil (2007,


p.5): há toda a uma ordem de direito das mulheres presas que são violados
de modo acentuado pelo Estado brasileiro, que vão desde a desatenção a
direitos essenciais como à saúde e, em última análise, à vida, até aqueles
implicados numa política de reintegração social, como a educação, o
trabalho, a preservação de vínculos e relações familiares. (GONÇALVES,el
at, 2017 p. 27)

O sistema carcerário porta uma serie de defeitos que acabam inviabilizando


muitos direitos sociais, dentre eles pode-se citar a escassez educacional,
precariedade das condições e encarceramento em massa.
A Carta Magna de 88 estabelece, “[...] que todo e qualquer cidadão
encarcerado deve ter plenamente o direito à vida, à dignidade e à privacidade no
momento em que se cumpre a sua pena no sistema penitenciário”. No entanto o que
vemos são violação de direitos, violência institucional, um ambiente com superlotação
e péssimas condições, um sistema onde há uma grande quantidade de mulheres
presas aguardando por julgamento ( BRASIL,1988).
O sistema prisional deveria ser um sistema de correção e mudança de vida,
onde democracia e direitos humanos deviam caminhar juntos, implementando
métodos que atendessem as necessidades das apenados dentro do limite possível de
dignidade humana, criando condições efetivas de recuperação e ressocialização, no
entanto o que se tem um grande é um grande descaso com os direitos humanos.
Está posto na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 6º que "são direitos
sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição". A constituição cidadã
estabelece os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais para todo
cidadão.
Os direitos contidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Proclamada em 1948 estabelecem obrigações, como respeito a dignidade, aos
direitos civis (direito a vida, segurança, justiça, liberdade e igualdade) direitos políticos
27

(participação nas decisões políticas) econômicos (direito ao trabalho) culturais


(participação na vida cultural) e ambientais como (direito ao ambiente saudável.)
O Inciso XLVIII do artigo 5º da Constituição Federal de 1988, define que a pena
tem que ser cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do
delito, a idade e o sexo do apenado. De modo que o Código penal em seu artigo 37º
reforça que as mulheres tem que cumprir pena em estabelecimento próprio,
observando-se os deveres e direitos inerentes à sua condição pessoal.
No entanto, as estruturas carcerárias não suprem as necessidades femininas a
ponto de se garantir um mínimo de dignidade da pessoa humana, posto que, as
estruturas são de carceragens masculinas, que foram apenas adaptadas sem muito
esforço.
O acesso a serviços médicos é quase sempre restrito e insuficiente as
apenadas. Elas não têm acesso aos resultados com a urgência e prontidão
necessária, o que provoca complicações clinicas quando há necessidade urgente de
medicação ou tratamento, essa carência pra saber do diagnostico acaba
desencadeando ou agravando a ansiedade. Soma-se a isso o uso abusivo de
psicofármacos, onde o uso é feito de forma errada, gerando consequências para a
saúde mental e física das que usam.

Detenta: Eu fiz um também que eu nem sei o que deu também.


Detenta: Me passaram uns exames pra fazer já tem três meses eu nem sei
de nada. (GONÇALVES,el at, 2017 p. 101)

Há um quadro de desatenção nas questões relacionadas a equipe de saúde,


equipamentos necessários nas unidades prisionais, atendimento à vacinação, à saúde
mental, dentre outros. De acordo com o INFOPEN (2016), com relação a distribuição
de profissionais de saúde em atividades nas unidades prisionais femininas e mistas,
há apenas 28 médicos ginecologistas no Brasil, sendo que foram observadas
unidades que constavam com 34.543 mulheres no total, e assim, presume-se a
insuficiência de atendimento especializado para essas mulheres e a consequente falta
de saúde dentro das carcerárias femininas. E, o número total de profissionais de saúde
é de 1.493 para essas mulheres, logo, o direito em questão não é garantido
efetivamente, no mínimo.
28

Quando você está passando mal tem que esperar você passar pelo médico
para você ir para o hospital. Até você passar pelo médico, você já morreu
dentro da cadeia. Eu acho que isso também é uma coisa que falta. Só tem
um médico na sexta-feira pra atender, se eu passar mal na segunda eu fico
até a sexta esperando o médico pra me atender. (GONÇALVES,el at, 2017
p. 74)

O Relatório sobre a Situação das Mulheres Encarceradas no Brasil (2008)


revela que: [...] as condições das edificações das unidades prisionais afetam
diretamente a saúde física e mental das mulheres presas. Mais uma vez, as
más condições de habitabilidade, a superpopulação e a insalubridade são
fatores fomentadores de doenças infectocontagiosas, como tuberculose,
micose, leptospirose, pediculose e sarna. O ambiente degradante contribui
com o cenário de baixa estima alimentando doenças de âmbito emocional
como a depressão, melancolia, angústia e pânico. Apud (GONÇALVES,el at,
2017 p. 104)

Cabe ressaltar que, além da insuficiência de médicos especializados, ainda há


uma carência com relação as suas singularidades de mulher, lhes faltam itens
indispensáveis para sua dignidade física, como absorventes, remédios de cólica
menstrual, entre outros.

[...] Eu, por exemplo, estava grávida. Perdi meu filho faz dez dias, sangrei
feito porco e ninguém fez nada, não vi um médico. Agora, tô aqui cheia de
febres. Vai ver o corpinho tá apodrecendo dentro de mim. (QUEIROZ, 2015,
p.107)

Para Gardênia, “não teve essas mordomias de Lula não”. Ela teve que voltar
à cadeia e se reacostumar a dormir no chão de higiene duvidosa da
delegacia. Em pouco tempo, seus pontos inflamaram. Doíam tanto que não
conseguia andar direito. Chegou a ir ao hospital, onde lhe receitaram vinte
injeções de anti-inflamatório. Levaram-na pra tomar duas delas e depois não
levaram mais. Não tinha viatura, não tinha policial, sempre havia uma
desculpa. Concluiu que era má vontade e não adiantava insistir. Teve que
sarar com as duas que tomou mesmo. (QUEIROZ, 2015, p.43)

Nas penitenciárias, a situação é um pouco melhor, mas, ainda assim, está


longe da ideal. Em geral, cada mulher recebe por mês dois papéis higiênicos
(o que pode ser suficiente para um homem, mas jamais para uma mulher,
que o usa para duas necessidades distintas) e dois pacotes com oito
absorventes cada. Ou seja, uma mulher com um período menstrual de quatro
dias tem que se virar dois absorventes ao dia; uma mulher com um período
de cinco, com menos que isso. (QUEIROZ, 2015, p.103)

Como citado anteriormente, à alimentação saudável e de qualidade é um direito


de todo cidadão garantido pela constituição federal de 1988, onde a mesma se
encontra estreitamente ligada a saúde, uma vez que esse direito não é posto em
29

pratica, temos agravos no quadro de saúde e precariedade em uma série de


condições.

Contar com o poder público para alimentar-se é um pesadelo. Comida


estragada e fora da validade é servida, sem dó, para as detentas. Não existe,
tampouco, esforço por tornar o alimento servido mais nutritivo ou apetecível.
(QUEIROZ, 2015, p.104)

[...] Falam dos horrores da comida que é entregue crua, fria e, às vezes, com
cabelos e insetos. Quando olho a quentinha do dia, não tenho coragem de
comer. (QUEIROZ, 2015, p.51)

A Constituição Federal de 1988 no Artigo 5° inciso L fala que "às presidiárias


serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante
o período de amamentação". (BRASIL, 1998, p.69)

[...] Só em 28 de maio de 2009, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva


sancionou a Lei 11.942, que assegurava às presidiárias o direito de um
período de amamentação de no mínimo seis meses e cuidados médicos aos
bebês e a elas. A lei não foi, no entanto, acompanhada de meios para seu
cumprimento. Existem apenas cerca de sessenta berçários e creches em
todo o sistema carcerário feminino brasileiro. (QUEIROZ, 2015, p.43)
— O berçário tinha 110 mulheres num espaço de quarenta e poucas. Tinha
mãe que havia acabado de chegar do hospital, assim, pariu hoje de manhã,
já recebeu alta no mesmo dia, e estava ali, dormindo no chão. E o bebê no
chão junto com ela, claro. (QUEIROZ, 2015, p.42)

[...]Falam das grávidas que viveram as angústias do parto em celas úmidas e


depois viram seus bebês nascerem presos porque ninguém se importou de
levá-las a um hospital para dar à luz.[...] (QUEIROZ, 2015, p.51)

A despeito da pequena parcela de presídios que contam com berçários no


Brasil, 33%, é necessário estabelecer um debate profundo acerca da necessidade ou
não de encarceramento mulheres grávidas e no puerpério (ITCC,2017; BOITEUX et
al., 2015, p.23).
Segundo o artigo 126 da lei de execução penal- LEP, o condenado que cumpre
a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo,
parte do tempo de execução da pena.

[...] as mulheres presas elencam em relação à frequência à escola: a


incompatibilidade das atividades de trabalho e educação, em função dos
horários destinados às atividades pela administração prisional, o fato de as
30

mulheres terem de escolher entre, por exemplo, jantar e tomar banho ou


assistir às aulas. [...](GONÇALVES,el at, 2017 p.86 )

Portanto há uma discordância, o que é um descaso com a educação, pois a


colocam como benesse enquanto a mesma devia ser posta enquanto direito já que
consta na Constituição Federal de 1988.

O artigo 28 da Lei de Execução Penal dispõe que: o trabalho do condenado,


como dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade educativa
e produtiva.
§ 1º Aplicam-se à organização e aos métodos de trabalho as precauções
relativas à segurança e à higiene.
Com base no artigo 29 da Lei de Execução Penal ´´o trabalho do preso será
remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser inferior a 3/4 (três
quartos) do salário mínimo´´.
§ 1° O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender:
a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados
judicialmente e não reparados por outros meios;
b) à assistência à família;
c) a pequenas despesas pessoais (BRASIL, 2008).

O ponto central do trabalho é dar as presas, a oportunidade de aprender algo


novo, onde elas poderão gerar renda, adquirir seus produtos de higiene pessoal,
ajudar a família e usar como fonte de sustento após sua saída.

O que poucos sabem é que o trabalho constitui uma das principais aspirações
da massa carcerária, menos por amor a ele do que por razões fáceis de
compreender: além de combater a ociosidade das horas, dos meses e anos
que se arrastam — um dos flagelos mais angustiantes da vida carcerária —,
a cada três dias trabalhados descontam um da pena a cumprir.
(VARELLA,2017, p.53)

Há penitenciarias, em que o trabalho atualmente não é remunerado e isso


acarreta dificuldade de acesso a produtos de uso.

- É, no (regime) fechado eles passam jogando um kit na cela, independente


de visita – diz Júlia. – no semiaberto, se eu for lá hoje, a mulher vai falar:
´´Toma vergonha na sua cara.” E se tiver dinheiro no pecúlio elas também
não dão, só dão pra que não tem dinheiro. E o fato de alguém trabalhar no
presídio não significa que não precise. De repente, está juntando aquele
dinheiro para fazer não sei o quê pro filho. (QUEIROZ, 2015, p.125 )

[...] Falam das jovens meninas que vão e voltam com frequência da cadeia,
por não acharem outra vida possível quando saem livres.[...] (QUEIROZ,
2015, p.51)
31

“Heidi, eu passo em qualquer teste de emprego. Mas assim que eles veem
meus antecedentes, ninguém me dá trabalho.” [...] (QUEIROZ, 2015, p.85)

Verificasse uma ineficiência na interseção profissional após cumprimento de


pena, falta oportunidade, educação e profissionalização, com a junção destas coisas
e ainda mais a discriminação da sociedade, as egressas acabam fazendo a
reprodução da mesma atividade que executavam antes da prisão.
A realidade é cruel com as egressas, as condições econômicas tornam-se
ainda menos favoráveis, porque não se tem formalizado um ingresso profissional, por
serem ex presidiarias sofrem diariamente nas seleções profissionais, a sociedade
insiste em as discriminar fazendo as mesmas reincidirem ao sistema prisional.
A Lei de Execução Penal no artigo 16 fala que "as Unidades da Federação
deverão ter serviços de assistência jurídica, integral e gratuita, pela Defensoria
Pública, dentro e fora dos estabelecimentos penais" (BRASIL, 2008, p.73).

[...] Eu tenho vários processos, e já cumpri a metade de quase todos, mas eu


quero saber o que está acontecendo. Eu estava lá presa em Bicas e chegou
na minha casa uma carta de audiência, se não fosse por uma amiga eu não
saberia, e estaria presa com um [novo] mandado de prisão. [Há falta de
controle também do sistema penitenciário em relação as pessoas que têm
mais de um processo]. É, eu tive uma audiência em Bicas eu não fui (pois
estava presa), eu nem sei o que aconteceu. (GONÇALVES,el at, 2017 p.73 )

De acordo com a Constituição Federal, o artigo 5°, inciso X, "são invioláveis a


intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação" (BRASIL, 1988).
A violência institucional, é uma das formas de violência as quais as mulheres
encarceradas são mais coagidas, os abusos físicos e psicológicos são as mais reais
expressões do poder prisional.

[...] Perguntei quem ali havia sido presa grávida e sofrido algum tipo de
tortura. A metade delas levantou a mão — e algumas riram um riso amargo.
— Bater em grávida é algo normal para a polícia — respondeu Aline. — Eu
apanhei horrores e tava grávida de seis meses. Um polícia pegou uma ripa e
ficou batendo na minha barriga. Nem sei qual foi a intenção desse doido, se
era matar o bebê ou eu. A casa penal me mandou pro IML para fazer corpo
delito, mas não deu nada. (QUEIROZ, 2015, p.66)

Abusam do poder, agridem de forma psíquica e fisicamente, provocando um


sentimento constante de humilhação nas mulheres privadas de liberdade. Nota-se o
32

despreparo e o não cumprimento dos direitos humanos por parte dos funcionários,
estes deveriam garantir a ordem e a segurança, no entanto são os primeiros a
transgredir as normas e direitos das que ali se encontram reclusas.

De acordo com o Relatório sobre a Situação das Mulheres Encarceradas no


Brasil (2007): A violência institucional, praticada por agentes do Estado contra
as mulheres encarceradas é frequentemente relatada às organizações da
sociedade civil a que elas têm acesso. Apud (GONÇALVES,el at,2017 p.99 )

A constituição Cidadã em seu no artigo 5° inciso IX afirma que "é livre a


expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença" (BRASIL,1988, p.71).

— E não deixaram marcas para você fazer queixa depois?


— A gente faz, mas a polícia tende a ficar com a polícia, não adianta. Fui no
IML pra fazer corpo de delito quando eu fui pro presídio, mas eles nunca põem
lá no papel o que você tem mesmo. Eu tinha hematoma pra todo lado, não
tava conseguindo andar de tanto chute que tomei na perna, ela tava toda
roxa, não sei como não quebraram [...] (QUEIROZ, 2015, p.68)

O artigo 5°, inciso XLIX, da Constituição Federal, fala que é "assegurado aos
presos o respeito à integridade física e moral" (BRASIL,1988, p.72).

As agentes uai, porque ficam duas do lado de fora, e vai tirando a roupa de
duas em duas. Vira de frente e vira de costas aí veste a roupa, levanta o
cabelo e abre a boca... e as agentes sempre comentam as coisas, porque
mulher tem dessas coisas de comentar as coisas da outra, aí é chato né?
(GONÇALVES,el at, 2017 p.93 )

Estas questões são de ordem complexa, por conseguinte vemos que a


realidade do sistema prisional está um tanto distante daquilo que está determinado
nas leis.
Outra coisa que eu acho ruim é que se a gente tem atendimento no advogado
a gente tem que ir algemada. [...] Tem [que encontrar o advogado algemada],
todo procedimento é algemado, tudo que a gente faz é algemada. A gente
reclama, mas não adianta. Igual nossa visita, o horário de começar a vista é
nove horas, mas eles demoram tanto que às vezes a visita só começa as dez.
Aí a visita ficar lá até a gente acabar o procedimento. Uma vez a família de
uma presa ficou aí até... a menina ficou esquecida, quando já era lá pras
quatro da tarde é que foram ver que tinham esquecido de chamar a menina.
(GONÇALVES,el at, 2017 p.93 )
33

De acordo com o artigo 41, da Lei de Execução Penal, é direito do preso


receber visitas do cônjuge, da companheira, de parentes e de amigos. No entanto
muitos motivos dificultam a visita das pessoas próximas das detentas, entre eles
podemos citar o fato de algumas detentas terem família em outro estado e também o
constrangimento da revista vexatória.
O Relatório sobre as mulheres encarceradas no Brasil (2007) aponta que
muito dos familiares das presas não fazem visitas, devido o constrangimento
da revista, também tem aqueles que pagam uma quantia aos agentes
penitenciários para se verem livres desse exame. Acrescenta-se que a revista
vexatória é feita de modo geral o procedimento é adotado para todos os
visitantes inclusive em crianças. A revista não é apenas para aqueles que são
suspeitos aos olhos da segurança carcerária. (GONÇALVES,el at, 2017 p.91
)

Devido o desconforto desse procedimento, a um questionamento se é por


segurança ou se já não é um tipo de violência desnecessária dá para as presas e seus
familiares, uma vez que viola os direitos humanos. Algumas unidades prisionais já se
encontram com um sistema de raio x que permita revista, diminuindo o
constrangimento, infelizmente muitas dessas unidades são prisões masculinas, que
tem um maior índice de visitação.
— Eu tirei minhas irmãs, que vinham de vez em quando me visitar, pra minha
mulher vim me ver. E ela entrou três vezes só. Daqui a três meses, se eu
quiser tirar ela e pôr minha família de volta, eu até posso. Mas tenho que
opinar: ou ela ou minha família. E tá ela no meu rol (mesmo que não pode
entrar) porque é ela que me manda Sedex. A minha filha quem cuida é uma
amiga minha — como eu passei a guarda pra ela, só ela pode me visitar. Mas,
lá no semiaberto, minha filha foi me visitar três vezes só, não quero que ela
vá muito não. A visita lá é muito ruim. Precisa ver em dia de chuva, só tem
uma coberturazinha assim, mas tá caindo aos pedaços. Cheio de cocô de
gato, pombo pra todo lado. Tem que forrar o chão pra sentar com a família.
Então ela veio três vezes e eu já falei “não vem mais, quando for minha
saidinha eu vou pra casa”. (QUEIROZ, 2015, p.156)

A Resolução nº 01 de 30 de março de 1999 do Conselho Nacional de Política


Criminal e Penitenciário- recomenda aos Departamentos Penitenciários Estaduais ou
órgãos congêneres, que seja assegurado o direito à visita íntima aos presos de ambos
os sexos.
— Não podia namorar, mas nós dava um jeitinho — e ri mais um pouco. —
No
feminino, aqui em São Paulo, só tem visita íntima é na Penitenciária da
Capital e Tremembé. O restante não tem. Aí a gente tem que improvisar. Tem
que fugir pra um cantinho, porque se as guarda pegar, você vai de castigo.
(QUEIROZ, 2015, p.131)
34

O direito ao sexo nos presídios é uma história bem singular (e revoltante).


Desde 1984, a Lei de Execução Penal garante como um direito “dos
condenados e dos presos provisórios” a visita de seu cônjuge. Existe alguma
discussão sobre o texto, se de fato a “visita do cônjuge” pressupõe a
continuidade da vida sexual ou não. Mas, nos presídios masculinos,
entendeu-se que, direito ou benefício, a visita íntima deveria ser concedida
— afinal, não pensavam em maneiras mais eficientes de conter o “natural
instinto violento
masculino” do que saciando “o incontrolável impulso sexual intrinsecamente
masculino”.
Curiosamente, mesmo que a lei não fale de gêneros em nenhum momento
desse artigo, a administração penitenciária entendeu que esse era somente
um direito dos “condenados e presos provisórios” homens.
Até março de 1991, quando o Ministério da Justiça publicou uma resolução
que
recomendava que o direito fosse assegurado aos presos de ambos os sexos,
a visita íntima foi ignorada nas prisões femininas. Em 2001, houve o primeiro
encontro do Grupo de Estudos e Trabalhos Mulheres Encarceradas, em que
as ativistas conseguiram um compromisso dos diretores de unidades
femininas de proporcionar a visita íntima. Fizeram levantamentos, separaram
o local, traçaram as regras.
— Quando se conseguiu esse direito: cadê os homens? — conta Sônia Drigo,
advogada que estava envolvida com o trabalho à época. — A gente achou
que teria muito mais interessados, mas não existe companheiro pra isso. Não
existe parceiro que se submeta à vergonha da revista íntima, que vá e
mantenha a relação afetiva. Nossa sociedade é simplesmente (ainda) assim:
a mulher é fiel ao homem e ele não é fiel à mulher. Logo, arruma outra lá fora
e deixa de ir. (QUEIROZ, 2015, p.132)

Contudo é nítido que ainda há muitos os desafios as quais as presas passam


em seus períodos de reclusão, onde nota-se a falta de comprometimento do Estado
com essas mulheres sob privação de liberdade. Pois quando detidas elas acabam
perdendo muito mais que a liberdade, se degeneram o pleno acesso aos direitos
fundamentais, à justiça, a recuperação de sua autoestima, a formação educacional, a
qualificação profissional. Portanto conclui-se que as trajetórias das mulheres em
situação de prisão, são cheias de impasses, onde infelizmente não se tem êxito no
sistema penitenciário, suas necessidades seus direitos e perspectivas nem sempre
são garantidos.
35

4. A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA LUTA PELOS


DIREITOS DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA FEMENINA

O Assistente Social em sua práxis profissional dentro do sistema penitenciário


está alicerçado ao projeto ético-político, teórico-metodológico e técnico-operativo do
Serviço Social. Agindo sempre de forma ética, levando em consideração os princípios
da categoria profissional e do sistema jurídico. Em seu cotidiano analisa as demandas
que chegam ao seu setor de forma crítica e coesa, sem deixar que as análises da
sociedade perpassem sobre seu exercício da profissão. Atuando somente em relação
com os direitos humanos, código de ética profissional vigente e Projeto Ético-Político
Brasileiro (DE OLIVEIRA, 2018).

Tal panorama coloca o assistente social diante de um público alijado da


maioria de seus direitos sociais, todavia altivo na produção de violência. O
assistente social lida continuamente com indivíduos que têm suas vidas
assinaladas pelo mínimo acesso às benesses sociais, são pessoas marcadas
pela exclusão pobreza e discriminação, portanto é preciso conhecer, de forma
lúcida, os valores impressos na vida social dessas pessoas que compõem o
grupo mais majoritário da população carcerária. (SILVA E COUTINHO, 2019,
p.48)

[...] É com tal compreensão que ao assistente social cabe considerável


desafio de materializar, no universo do Direito positivado e da bárbarie, os
elementos sociais do humano, eis a tarefa e a legitimidade social dessa
profissão. (SILVA E COUTINHO, 2019, p.54)

Segundo Silva e Coutinho (2019, p.30), “O público que chega ao sistema


prisional é formado por pessoas que vivenciam as mais diversas formas de expressão
da ‘questão social’, em que os direitos sociais e cidadania encontram-se mitigados
[...]”. A questão social é uma série de questões que afetam diretamente a sociedade,
suas diversas manifestações resultam em múltiplas formas de desigualdade social.

A inexistência de uma sociedade mais igualitária e mais justa na distribuição


de sua riqueza retira da população as "condições mínimas" para subsistência
e proporciona a mitigação de direitos elementares, contribuindo para a prática
de atos de objurgação ao atual modelo societário, no qual acaba por ser
definido como o comportamento criminoso. Nesse momento, esses
indivíduos que já se encontram excluídos do acesso aos bens sociais são
expelidos do convívio social e colocados em condições comumente
"desumanas". Tão evidente é esse nexo que nos surpreende quem por puro
romantismo, ou equivocada análise, pretende fazer da custódia o objeto do
36

assistente social no trabalho prisional intramuros. (SILVA E COUTINHO,


2019, p.42)

No debate do Serviço Social, podemos identificar tal conjectura em Martinelli


(2006, p. 11), ao referendar que, "em uma sociedade, como a nossa que se
organiza por esta lógica de mercado, as pessoas são importantes enquanto
são produtivas e quando não produzem, é como se já não fossem seres
humanos". Apud (SILVA E COUTINHO, 2019, p.44)

O assistente social é o profissional responsável por mediar diretamente os


conflitos causados pelas expressões da questão social, tentando promover o bem-
estar físico, psicológico e social aos usuários. Como afirma Iamamoto (2009, p.31),
“Os (as) assistentes sociais trabalham com as mais diversas expressões da questão
social, esclarecendo à população seus direitos e os meios de ter acesso aos mesmos”.

A prisão é um lugar onde se perpetuam o trabalho mais que explorado, a falta


de políticas de saúde, educação, seguridade social, elevados índices de
violência e etc., portanto, nessa realidade, a atuação do Serviço Social, à luz
de sua deontologia vigente, deve desenvolver uma práxis interventiva
profissional que interpele pensar em novas formas de efetivação do trabalho,
lutar contra as barreiras da barbáries próprias da enxovia para a recuperação
da pessoa presa e utilizar seus instrumentais técnicos e opinativos como
ferramentas que busquem, de alguma forma, a garantia de direitos para os
homens e as mulheres no cárcere. (SILVA E COUTINHO, 2019, p.66)

O profissional do Serviço Social para garantir um atendimento com eficácia e


efetividade, deve atuar de forma crítica e coesa e não se deixar levar pelo senso
comum, valorizando sempre os valores e princípios dispostos no Código de Ética da
profissão e se embasando em recursos normativos que venham a acrescentar nas
questões de luta coletiva, para se ter liberdade, equidade, democracia, justiça social
e defesa dos direitos humanos, como são norteados os princípios da profissão.

O Serviço Social como profissão que compõe a divisão social e técnica do


trabalho é possível de inserção nos diversos espaços socio ocupacionais; por
ora, o mote é o terreno de atuação que corresponde o sistema prisional,
especialmente o brasileiro. Nesse espaço, por sua vez, a assistência
encontra uma cadeia de contradições inerentes tanto da sociabilidade vigente
quanto ao referido universo; a título de exemplo destacamos a proposta de
afirmação de Direitos Humanos inerentes à atuação do assistente social, em
ambiente de nexo retributivista. (SILVA E COUTINHO, 2019, p.29)
37

A política do encarceramento sustenta uma cultura de punir e assim não


garante o mínimo necessário para a sobrevivência das presas, onde os recursos
humanos são desqualificados e assim desafiam o trabalho dos assistentes sociais. “A
problemática do encarceramento é uma das mais prementes e complexas expressões
da questão social que impacta em várias esferas do trabalho de assistentes sociais.”
(SILVA E COUTINHO, 2019, p.12)
O Assistente social começa a intervir nesse espaço, entendendo como o
sistema penitenciário funciona, buscando a partir disso, ter domínio sobre suas
atribuições e competências sempre se guiando pela lei que regulamenta a sua
profissão e outras legislações como a LEP - Lei de Execução Penal.

[...] Dramas humanos e dilemas encontrados pelos/as assistentes sociais em


espaços de trabalho onde imperam a violência, total desrespeito pelos
Direitos Humanos, nos quais se vivenciam situações que explicitam a
degenerescência do sistema, nos convocando a sermos o último respiro de
humanidade [...] (SILVA E COUTINHO, 2019, p.18)

Esta área de atuação do Assistente Social, pode vir abalar sua autonomia
profissional devido os dilemas e conflitos presentes, assim este precisa construir
respostas qualificadas.

É preciso fazer a distinção entre posturas messiânicas, voluntaristas,


fatalistas e desvelar o significado do sistema carcerário na qual atuamos, cuja
a retórica é de ser um sistema de garantias de direitos numa sociedade em
que direitos são tomados como privilégios de "bandidos". [...] (SILVA E
COUTINHO, 2019, p.19)

O Assistente social analisa a sociedade numa perspectiva de totalidade da


realidade, sem que haja violações de direitos. As suas análises precisam transcender
o senso comum, por isso conta com suas dimensões políticas, sociais e culturais. A
profissão não pode ser desarticulada pois, luta pela garantia e defesa de direitos
fundamentais.

Encontramos na prisão um sítio que ao assistente social apresenta as


múltiplas formas de expressões da "questão social", que no Serviço Social,
em linhas gerais, é entendida, segundo Iamamoto (2005), como a
manifestação das múltiplas expressões da desigualdade social, realidade que
compreende um espaço sócio-ocupacional que coloca o profissional diante
de um vultoso desafio de buscar garantir à pessoa presa condições para que
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ela possa ter assegurado o certo nível de dignidade humana. (SILVA E


COUTINHO, 2019, p.25)

Os Assistentes Sociais trabalham com o foco na efetivação da emancipação


humana no sistema penitenciário, direcionando as apenadas a sociabilidade, como
salienta Silva e Coutinho (2019) é um profissional que deve lutar pela defesa dos
Direitos Humanos e na consolidação da cidadania, democracia, tendo a liberdade
como valor ético central.

Um dos pressupostos para reintegração Social é a afirmação da cidadania


em termos de uma sociedade que busca a efetivação da democracia,
inclusive como se encontram nos princípios do Código de Ética dos
assistentes sociais de 1993: "ampliação e consolidação da cidadania,
considerada tarefa primordial de toda a sociedade, com vistas às garantias
dos direitos civis, sociais e políticos das classes trabalhadoras". Apud
(CFESS,2012, p.21)

[...] Todavia, há de se tomar cuidado para não cairmos na visão simplista e


determinista de que unicamente a pobreza é que gera a criminalidade e que
somente pobres se tornam criminosos, no entanto, é incontendívil a juntura
entre criminalidade e exclusão social. Igualmente, não devemos cair no
romantismo de que a população carcerária é formada por vítimas incontestes
e, desse modo, o diálogo será o único elemento a ser utilizado na enxovia
para os "coitadinhos" [...] (SILVA E COUTINHO, 2019, p.38)

O profissional atua garantindo efetividade, emancipação nas ações


desenvolvidas, luta com prudência, montando estratégias para ter possibilidades a
oferecer aos seus usuários.

No sistema prisional, os serviços de assistência são realizados por uma


equipe multidisciplinar, em que opera o assistente social - o fato de o
profissional atuar em uma equipe dessa natureza não retira dele a atenção
às prerrogativas deontológicas da profissão, como que preconiza a lei de
regulamentação da profissão, além das resoluções do Conselho Federal de
Serviço Social (CFESS) -, que atua na defesa da cidadania e nas ações de
reintegração social, visando garantir ao egresso condições para o retorno ao
convívio social extramuros. É nesse Norte que a LEP agrega um conjunto de
ações denominadas de assistência à pessoa em "privação de liberdade".
(SILVA E COUTINHO, 2019, p.27).

Essa equipe multidisciplinar, trabalha com articulação entre si, elencando então
os desafios que são postos as suas profissões, abrangendo todas as mediações e
totalidades, estabelecendo alianças nas suas atividades profissionais.

Tal concepção sopesa que o trabalho multidisciplinar no sistema prisional se


supõe somente a partir da reunião de várias disciplinas em busca do mesmo
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objetivo, qual seja, o de promover as condições adequadas para o reingresso


do preso na sociedade extramuros. Nesse sentido, não necessariamente
haverá uma intersecção entre as áreas do conhecimento. Ou seja, a
multidisciplinaridade ocorre por meio de um grupo de trabalho intelectual,
atuando em determinada demanda, de maneira não linear, de forma a
construir uma ação sólida, porém não correlata entre as diversas áreas
profissionais, portanto não há uma unidade do saber. (SILVA E COUTINHO,
2019, p.133).

O Assistente Social desenvolve uma série de atividades, de modo particular ou


coletiva com outros profissionais. Tendo diversas funções e atividades que são
desenvolvidas no espaço socio ocupacional em que estiver inserido, assim como os
processos formativo da equipe de trabalho. “Cabe ao profissional identificar perante
as demandas os objetos de atuação e formular sua intervenção, tendo em vista as
atribuições e as competências profissionais e, por meio de seus instrumentais de
trabalho, elaborar sua proposta de intervenção.” (SILVA E COUTINHO, 2019, p.138).

O Marco que regulamenta a profissão - Lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993 -


dedica em suas linhas a tarefa de delimitar ao assistente social suas
competências profissionais e suas atribuições privadas, no entanto, no
sistema prisional, há a presença da LEP que estabelece, entre outras coisas,
um rol de prerrogativas para o profissional em Serviço Social. [...] (SILVA E
COUTINHO, 2019, p.136).

Um dos grandes desafios na realidade prisional é aliar a prática ao


desenvolvimento de propostas que visem garantir alguma condição em
relação à garantia da dignidade humana e à ampliação de direitos dos
usuários do sistema, mas não só; é necessário efetivar os fundamentos da
profissão nessa prática, concretizar elementos que tragam em si os princípios
de sua deontologia, oportunizar possibilidades para pessoa em situação de
prisão e enfibrar condições para a valorização do humano num espaço de
reprodução de barbárie e autoritarismo. (SILVA E COUTINHO, 2019, p.141).

Portanto, é notório que atuação profissional do assistente social no sistema


penitenciário, possibilita uma reflexão sobre a análise da realidade social da
população encarcerada, viabilizando a efetividade das leis e dos direitos, assegurando
os direitos das apenadas, pois o mesmo luta em disposição da equidade e da justiça
social. O Assistente Social tem como atribuição privativa defender a garantia e
ampliação dos direitos dos seus usuários, nesse sentido, ele vai garantir a efetivação
dos direitos da população carcerária, construir práticas humanas ao tratamento dos
presos, e viabilizar a concretização da defesa dos direitos humanos.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa buscou demonstrar uma análise acerca do encarceramento


feminino e todos os embates que envolve uma mulher na prisão, visto que há falhas
resultantes da sociedade com base patriarca, assim como violações de direitos das
detentas. Com tantas falhas ainda existentes no sistema prisional feminino é notório
a ausência do Estado como provedor de direitos mante falhas em sua atuação.
Diante desse contexto, é notório o abandono de muitas dessas mulheres,
quando se encontram aprisionadas, de modo que há uma dupla penalização, uma por
parte da sociedade que as discrimina e outra por parte do Estado falhando em garantir
os direitos dessas mulheres a dignidade enquanto encarceradas. Mesmo com um
crescimento no sistema penitenciário feminino, as localidades onde elas cumprem
pena ainda não são criadas exclusivamente necessidades dessas mulheres, elas
acabam ocupando antigos recintos masculinos, dificultando tudo no dia a dia delas.
A ausência da pratica das legislações, acaba atingindo os direitos sociais mais
básicos como saúde, alimentação e educação, assim sendo, cotidianamente elas
sofrem com negligencias que poderiam ser evitadas, com atendimento as suas
necessidades e seus direitos que são previstos nas leis. As mulheres reclusas sofrem
com as mais severas condições de vida, deficiências e falhas do Estado, o que acaba
tornando seus dias de comprimentos de penas uma completa desumanização.
No entanto o assistente social diante dessa realidade de despolitização das
políticas públicas, deve manter firmeza e confiança com os desafios presentes em seu
cotidiano, atentando ao seu profissionalismo e ética diante da legislação que deve
garantir e contribuir na melhoria das mazelas no âmbito acometidos por falhas no
Sistema Jurídico.
Nesse sentido o principal desafio dos profissionais do Serviço Social é a
viabilização e socialização do acesso ao usuárias as políticas públicas direcionadas a
essa população, portanto, sua atuação profissional deve ser voltada aos preceitos
ético-político da profissão, desenvolvendo ações, estratégias diante das demandas da
população carceraria feminina, na luta coletiva pela efetivação dos seus direitos.
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Enfim, levando em consideração todo exposto, o Assistente Social em seu fazer


profissional, no sistema prisional, deve sempre atuar na viabilização e/ou
asseguramento da garantia dos direitos das apenadas, que são violados
constantemente, além de contribuir para um cumprimento de pena com a
humanização e um processo de ressocialização adequado, todavia, uma vez que as
encarceradas tem os seus direitos violados, há dificuldade no processo de
ressocialização da mesma, desta forma, frisa-se que, não deve se limitar diante dos
obstáculos encontrados em seu cotidiano, trabalhando na defesa da democracia,
fortalecimento de políticas públicas direcionados a população carceraria feminina.
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REFERÊNCIAS

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originalmente masculino, de acordo com o INFOPEN Mulheres de 2016. 2⁰ Edição. P
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